8
RETINOPATIA DIABÉTICA ESTE ESPECIAL É DA INTEIRA RESPONSABILIDADE DO DEPARTAMENTO COFINA EVENTOS Consciência A necessidade de consciencializar a população Rastreio A importância de diagnóstico precoce da diabetes ESPECIAL RETINOPATIA DIABÉTICA

RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

RETINOPATIADIABÉTICAES

TEES

PEC

IALÉDAINTEIRARES

PONSA

BILIDADEDODEP

ARTAMEN

TOCOFINAEV

ENTOS

ConsciênciaA necessidade de consciencializara população

RastreioA importância de diagnósticoprecoce da diabetes

ESPECIALRETINOPATIADIABÉTICA

Page 2: RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

“Ao longo dos últimos 30ou 40 anos temos assistido,em Portugal, a uma progres-são assustadora do númerode pessoas com diabetes, oque causou uma grande ad-miração a todos os epide-miologistas e, ainda hoje,não é suficientemente com-preendida por muitas áreasda medicina”, refere JoséManuel Boavida, presidenteda APDP – Associação Pro-tetora dos Diabéticos Portu-gueses.

Recordou que a diabetespassou de uma prevalênciade 3% nos anos 1980 para13%, segundo um estudo de2009 feito pela Direção-Ge-ral da Saúde. São 1,3 milhõesde portugueses com a dia-betes tipo 2, dos quais 40%estão por diagnosticar. Osdados oficiais de 2017 refe-rem que afeta 10% da popu-lação portuguesa entre os 25e os 74 anos, sobretudo oshomens e os grupos etárioscom mais idade, 23,8% dosindivíduos entre os 65 e os74 anos.

Para José Manuel Boavida,médico endocrinologista, háuma mudança radical no

paradigma das doenças napassagem dos anos 1980para 1990. Várias doençasagudas, graças ao avanço damedicina, foram controla-das, e as doenças crónicasque são a mãe, em grandeparte, dessas doenças agu-das, são hoje o grande desa-fio.

Na opinião de José ManuelBoavida, esta mudança im-plica uma nova estruturaçãodos cuidados de saúde, quedeviam deixar de estar foca-dos nos hospitais, e centra-rem-se nos cuidados de pro-ximidade. “Mas estes nãopodem ser considerados desegunda categoria, o que

implicaria que os especialis-tas, como os diabetologistas,endocrinologistas, desces-sem aos cuidados de proxi-midade e trabalhassem emconjunto com os médicos demedicina geral e de família.Apoiarem-se em equipasmultidisciplinares e que seabordassem as complica-ções da diabetes como asdos olhos, dos rins, do cora-ção”, refere José ManuelBoavida.

“O que tem razão de sersão clínicas polivalentes deproximidade”, defende JoséManuel Boavida. Recordaque “quando os centros desaúde foram criados havia

ESPECIALRETINOPATIADIABÉTICA

DIABETESUMA DOENÇAEM BUSCADA VISIBILIDADEHoje, 27 de junho éo dia internacional do diabético e, comoafirma JoséManuel Boavida, atualmente o grande desafioé dar visibilidade à diabetes, que é “a principal causa de cegueira, de amputações, de insuficiência renal,de enfarte em adultos jovens, e de risco de neuropatia emmais de 60 a 70%dos doentes”.Por: Filipe S. Fernandes

200 pessoas, por dia,são diagnosticadascom diabetes

500 pessoas, por dia,são internadascom diabetes

12 pessoas morrempor dia, por causada diabetes.

30 pessoas com diabetestêm um AVC ou umenfarte do miocárdio,por dia.

4 pessoas, por dia,são amputadas

10 do Orçamento da Saúdesão custos com adiabetes, sem contarcom os custos indiretoscomo faltas ao trabalho,reformas antecipadas,baixa produtividade

1,3 milhões de pessoasem Portugaltêm diabetes

Osnúmerosde uma doençasilenciosa

Foi o tema que reuniu em conversa, moderada porEduardo Dâmaso, diretor da revista Sábado, José Ma-nuel Boavida, presidente da APDP – Associação Proteto-ra dos Diabéticos Portugueses, José Carlos Cardoso, op-tometrista, gerente do Centro Ótico Jardins da Parede eGerente do Centro Ótico de Cascais, Maria Paula Mace-do, professora na Nova Medical School, Gabriela Silva,professora auxiliar e coordenadora do Laboratório deTerapia Génetica para retinopatias, da Nova MedicalSchool, e Hugo Machado, informático e doente de reti-nopatia diabética. A conversa decorreu na manhã de30 de maio de 2019, em Lisboa.

“Retinopatia Diabética: Prevenir e Cuidar”

II

Page 3: RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

oftalmologistas, pediatras, mé-dicos especializados. Cerca de80% das pessoas que vão aoshospitais estão em ambulató-rio, portanto não têm necessi-dade nenhuma de se deslocaraos hospitais.”

Não está na ordem do diaHoje em dia o grande desa-

fio é dar visibilidade à diabe-tes. “É uma doença extrema-mente incapacitante e dasdoenças que geram maispreocupações, pois a princi-pal causa de cegueira, de am-putações, de insuficiência re-nal de enfarte em adultos jo-vens, e de um risco de neuro-patia em mais de 60 a 70%dos doentes”, conclui JoséManuel Boavida.

“O grande desafio hoje emdia é como combater asdoenças crónicas, mas os po-líticos vão por aquilo que temmais impacto e mais visibili-dade”, acentua José ManuelBoavida. Gabriela Silva, pro-fessora e investigadora naNova Medical School, defen-de que “devia haver ummaior desenvolvimento degrupos de doentes para fazerpressão junto de decisorespolíticos. Todos os que fazem

investigação, o acompanha-mento de pessoas com diabe-tes, podem falar, mas, na ver-dade, acho que a voz dequem tem de viver diaria-mente com estas situaçõespoderá ter muito mais impac-to e mais força”.

“A diabetes não é umadoença na ordem do dia. Háquem compare a diabetes aosincêndios florestais. É um ris-

co de perigo máximo”, refereJosé Manuel Boavida. Adiantaque “do ponto de vista da re-presentação social não existevisibilidade da doença da

diabetes. Tem um grande im-pacto e não mostra tendênciapara diminuir, tanto mais quea obesidade infantil, que é afonte, não tende para dimi-nuição e vai continuar aaquecer este clima diabeto-génico. Como dar visibilidadea esta situação?”, pergunta.Refere que há 10 anos haviamais de cem fármacos em in-vestigação para a diabetolo-gia, praticamente todos foramabandonados. A cardiologiatem previstos cerca de dezoi-to novos medicamentos e ocancro cerca de duzentos.

O papel autárquicoPara o presidente da APDP,

as pessoas com diabetes têmde participar porque são elasque gerem a sua própria si-tuação. É este o trabalho queAssociação Protetora dosDiabéticos Portugueses temvindo a desenvolver, tanto doponto de vista de formação ede educação das pessoas comdiabetes, como da formação eeducação dos profissionais desaúde, e da integração emequipas multidisciplinares.

Neste momento, “o grandedesafio da Associação é sairdas barreiras dos centros de

saúde e dos hospitais, porqueas pessoas com diabetes estãona comunidade, e é na comu-nidade que tentamos encon-trar grupos onde se pode pro-mover a educação, a auto-ajuda, a atividade física, a me-lhoria da alimentação. Istonecessita de um apoio funda-mental que são as autarquias”,sublinha José Manuel Boavida.

Considera que o envolvimen-to das autarquias é uma verten-te fundamental na luta contra adiabetes. “Nessa altura fecha-mos um círculo e percebemosque é a nível do bairro, da fre-guesia que podemos encontraras forças para resolver muitasdestas questões. Não é umaquestão de prescrição, de ras-treio, é depois, é fazer o acom-panhamento, motivar estaspessoas para a luta, que é extre-mamente dura para viver 30,40, 50 anos com a diabetes”,conclui José Manuel Boavida.

A diabetes de tipo 1 surgeempessoasmaisjovenseécaracterizada por umadestruiçãoautoimunedascélulasnopâncreas,oqueconduz a uma deficiênciagrave de insulina. Em ter-mosdevisão,aestesporta-dores da doença deve serfeitaumavigilânciaatentanavertenteisquémica.Po-dem ter uma acuidade vi-sual,comumamáculasau-dável, sem edema, mascomalteraçõesproliferati-vas muito marcadas nasuaretinaperiférica.

Na diabetes de tipo 2, osportadores da doença sãomais idosos, têmumaver-tente edomatosa maisagressivadoqueascompli-cações proliferativas, quetambém podem aparecermasque,deumaformage-ral,nãosãotãoagressivas.

Avisãoe a diabetes

III

José Manuel Boavida, Presidente, APDP -Associação Protetora dos Diabéticos Portugueses

Page 4: RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

A retinopatia diabética é umadas principais consequências dadiabetes e pode levar à perda devisão de forma irreversível. Oprincipal problema para osdoentes é que é uma doençaprogressiva e que, quando não évigiada, apenas é sentida quan-do a perda de visão já se encon-tra num grau avançado. Quandoa perda de visão é já avançada, éirreversível e não existe umacura, apenas existem terapêuti-cas, o que tem consequênciasgraves para o doente.

A duração da diabetes é o fatorde risco mais importante para oaparecimento de retinopatiadiabética. O controlo metabólicoda glicemia é o fator chave paraa prevenção e controlo da reti-nopatia diabética. O controlo dahipertensão arterial e da dislipi-demia reduzem a progressão dadoença, uma vez instalada.

Retinopatia diabética designaos problemas de retina causa-dos pelo diabetes, que podemser do tipo não proliferativo,que é o mais comum, e o proli-ferativo.

Na retinopatia diabética nãoproliferativa os capilares (pe-quenos vasos sanguíneos) naparte de trás do olho incham eformam bolsas e que progridede grau ligeiro para moderado,grave e avançado se não for de-tetada e tratada em tempo útil.Pode provocar o edema macu-lar, a visão embaça e pode sertotalmente perdida, pelo que

deve ser tratada para uma recu-peração da visão.

Na retinopatia diabética proli-ferativo os vasos sanguíneos fi-cam totalmente obstruídos enão levam oxigênio à retina. Asua evolução pode ter comoconsequências o descolamentoda retina e glaucoma.

A prevalência da doençaNão há dados definitivos sobre

a prevalência da retinopatia dia-bética em Portugal, e sobre aperda de visão que lhe está as-sociada, mas um estudo recenteavança para a existência de pelomenos 250 mil diabéticos tipo 2com retinopatia diabética, emvários estádios da doença. Nadiabetes de tipo 1, a retinopatia

diabética é muito rara na alturado diagnóstico, mas a sua inci-dência sobe para 90%, após 15anos de evolução. No caso dadiabetes de tipo 2, a retinopatiadiabética está presente em 20%dos casos, aquando do diagnós-tico, e pode atingir uma preva-lência aproximada de 60% aos15 anos de evolução.

A prevalência geral de retino-patia para doentes diabéticosmaiores de 40 anos em todo omundo é de 34,6%. A taxa deRetinopatia avançada ameaçan-do a visão é de 10,2% entre osdoentes diabéticos.

Terapêuticas atuais e futurasAs principais terapias existen-

tes são a administração intra-

ocular de agentes que previ-nam o extravasamento sanguí-neo, que tem como principaldesvantagem a necessidade deadministração frequente.

Numa fase mais tardia dadoença, quando o extravasa-mento sanguíneo atinge níveismuito elevados, há o recurso auma abordagem cirúrgica,mas que tem como efeito se-cundário a diminuição daquantidade de retina funcio-nal, o que reduz a qualidadeda visão. Assim, as terapêuti-cas existentes têm desvanta-gens porque apenas atrasam aprogressão tratando os sinto-mas em vez de curar, defen-dem Maria Paula Macedo eGabriela Silva, da Nova Medi-cal School.

As duas investigadoras refe-rem que as terapias da próxi-ma geração terão como obje-tivo tratar a causa e não asconsequências, e deste modoterão que ser investigados emprofundidade quais os meca-nismos que estão na génese edesenvolvimento da retinopa-tia diabética. Assim, as tera-pias poderão ser direcionadasquer para estádios mais ini-ciais da doença, quer para asespecificidades de cada doen-te, uma vez que a progressãonão é igual em todos os doen-tes. Assim será necessárioexistir uma diversidade deabordagens terapêuticas paradar respostas específicas.

ESPECIALRETINOPATIADIABÉTICA

RETINOPATIA DIABÉTICAÉ A PRINCIPAL CAUSADE CEGUEIRA EVITÁVELA retinopatia diabética é ainda a principal causa de cegueira na população ativa. Segundodados de 2015 pelomenos25mil indivíduos têm perda de visão devido à diabetes e 13mil estão cegos devido à Retinopatia Diabética em Portugal.Segundo a Sociedade Portuguesa deOftalmologia, em Portugal, todos os anosmais de 3mil pessoas cegam de formairreversível devido a esta doença.Por: Filipe S. Fernandes

Maria Paula Macedo, Professora na Nova Medical School

IV

Page 5: RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

O DIAGNÓSTICOPRECOCEÉ O FATOR CHAVE

“O diagnóstico precoce permite tirar maisde 80% das pessoas portadoras de diabe-tes de uma observação oftalmológica, doponto de vista da retinopatia diabética,porque podem ter outras necessidadesem termos oftalmológicos e outros tiposde rastreio”, diz José Manuel Boavida.Adianta que os números são de 2015 ecerca de 20% das pessoas com diabetesestavam a ser submetidas aos rastreios daretinopatia diabética ao nível nacional.Este número não conta com as pessoasque já estavam a ser seguidas em oftal-mologia, mas para as quais não há dados.“Teremos 30 a 40% de pessoas a ter umbom acompanhamento e temos 60% quenão têm o acompanhamento como deveser”, conclui José Manuel Boavida.

Os exames de diagnóstico precoce com-preendem a realização de 2 retinografiaspor olho, uma centrada na mácula e outrana papila e devem ser realizados com re-curso a retinógrafo com câmara não mi-driática, com capacidade de efetuar oexame com diâmetro da pupila inferior a3.5 mm, para que não seja necessária adilatação da pupila.Os dados devem ser colocados na plata-forma digital da gestão da retinopatiadiabética, refere a Norma de Rastreio daRetinopatia Diabética de setembro de2018.Devem ser realizados por profissionais desaúde treinados na técnica de retinogra-fia, preferencialmente técnicos de dia-gnóstico e rastreio.

Oactual programa está implemen-tado nas cinco administrações re-gionais de Saúde,e passou de umrastreio de cerca de 30 mil pessoasem 2009 para 158 mil em 2016, anoem que o número de rastreios rea-lizados aumentou 32%. Mas, comorefere o documento de EstratégiaNacional para a Saúde da Visão, pu-blicado em Outubro de 2018, conti-nua a haver vários constrangimen-tos, que passam sobretudo pela fal-ta de uniformização a vários níveis,retirando-lhe eficácia e qualidade.O outro problema está no acessoao sistema dos doentes rastreados.Este mesmo documento revela queem 2016 ficaram pendentes 34 145pedidos de consultas referentes adoentes diabéticos e em 2017, 31405, 95% destes pedidos prove-nientes da Associação Protetorados Diabéticos de Portugal, e ape-nas 5% dos rastreios realizados noâmbito dos cuidados de saúde pri-mários.O tempo de espera médio (tempode resposta) para a consulta de Of-talmologia dos doentes com ras-treio positivo no âmbito da retino-patia diabética era de 189,1 dias em2016, tendo aumentado para 267,3dias em 2017, o que significa umaumento de 29,2%.Segundo a Estratégia Nacional paraa Saúde da Visão, “os programasatuais são muito válidos; no entan-to, encontram-se desatualizados enecessitam de uma restruturaçãoque melhore o seu funcionamentoe permita tratar os doentes atem-padamente e com as melhores te-rapêuticas disponíveis atualmente”.Propõe a criação de um programa“uniforme, de qualidade, que sejaexequível em todo o território na-cional e que permita uma orienta-ção terapêutica adequada e deacordo com as melhores normasde prática clínica internacional”.Sugere, por exemplo, que é funda-mental que, do ponto de vista detecnologias de informação, se utili-ze o mesmo “software” informáti-co em todo o país, nestes progra-mas de diagnóstico precoce emPortugal.

Aumento de rastreio

V

O atual programa rastreou 158mil em 2016,mais 32%doque em 2015.Mas,como refere o documento de Estratégia Nacional para a Saúde da Visão, publi-cado emOutubro de 2018, continua a apresentar vários constrangimentos,como falta de uniformização, que lhe retiram eficácia e qualidade.Por: Filipe S. Fernandes

Page 6: RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

As atuais terapêuticas são estra-tégias paratentaratrasar, ou, pelomenos, impedir a progressão rá-pida da doença retinopatia dia-bética. “São terapêuticas que nãoforam desenvolvidas para a reti-nopatia diabética, são terapêuti-cas que foram aproveitadas deoutras patologias e há uma ne-cessidade muito grande de des-envolverterapias específicas paraa retinopatia diabética”, refereGabrielaSilva, professoraauxiliare coordenadora do Laboratóriode Terapia Genética para retino-patias da Nova Medical School.

Refere que na linha de investi-gação da sua equipa procura“trabalhar no desenvolvimentode novas terapias e novas manei-ras de tratar a doença que sejamsimultaneamente mais duradou-ras do que as que existem agoraeque não necessitem de uma ad-ministração tão frequente.

Porque de facto todas as tera-pias que são utilizadas são admi-nistradas de forma intraocular, oque não é muito simpático nem émuito desejável. Tentamos traba-lhar em terapias que sejam delonga duração e que possam im-

pedir a progressão da doençapara tentar salvar a visão daspessoas. Claro que é importantefazer o tratamento mais cedopossível para preservar a maiorquantidade de visão possível”.

O tempo dainvestigaçãoA investigação demora o seu

tempo, e nesta altura o trabalhode laboratório procura provar aeficácia das terapias em desen-volvimento. “Implica muitos me-

canismos, muitas experiências,muito financiamento, que infeliz-mente não é constante e faz par-te da vida de um investigador.

Infelizmente há picos de fi-nanciamento que condicionama investigação”, salienta Gabrie-la Silva.

Segundo a investigadora, “jáconseguimos mostrar, usandomodelos animais com retinopatiadiabética, que temos duas molé-culas que parecem diminuir vá-rios aspetos negativos associadosa esta doença.

Parece que há menos inflama-ção, menos possibilidade de ha-ver o extravasamento sanguí-neo. Mas são estudos prelimina-res em laboratório e em modeloanimal e demorará bastantetempo até termos a certeza deque poderá ser uma alternativaviável”, alerta Gabriela Silva.Acrescenta que “há muitos gru-pos no mundo a trabalhar emdiferentes abordagens e portan-to, concertadamente, chegare-mos a uma nova terapia, masainda é algo que, infelizmente,não progride tão rapidamentecomo nós gostaríamos”.

ESPECIALRETINOPATIADIABÉTICA

EM BUSCADE UMATERAPIADE LONGADURAÇÃONoLaboratório de Terapia Genética para retinopatiasda NovaMedical School procuram-se terapias de longaduração e quepossam impedir a progressão da retinopatiadiabética para tentar salvar a visão das pessoas.Por: Filipe S. Fernandes

Gabriela Silva, Professora Auxiliar na Nova Medical School e Coordenadora do Laboratóriode Genética para retinopatias

VI

“Nolaboratóriotemos alguns projetos a decorrer na área dadiabetes, um dos quais abarca a retinopatia diabética”, assina-la Maria Paula Macedo, professora na Nova Medical School.Um projeto que parte da comunicação entre os órgãos docorpo através de “vesículas, chamadas vesículas extracelula-res nomeadamente exosomas, que são libertadas para a cor-rente sanguínea, e atingem células domesmo ou outro órgão,de certa maneira funcionam como comunicadores”, explicaMaria Paula Macedo.Estas vesículas refletem o estado fisiopatológico do órgão pro-veniente. “Quando avaliamos estas vesículas podemos usa-laspara perceber o estádio da progressão da doença. Assim, po-der-se-á usar os exosomas no âmbito da biopsia líquida, isto é,evitando ter de ir ao órgão biopsar, neste contexto estas vesí-culas são isoladas do sangue ou do plasmo do doente e ca-racterizadas”, acrescenta Maria Paula Macedo.Um dos eixos de investigação está vocacionado para a comu-nicação entre o intestino e o fígado e como é que as vesículaslibertadas pelo intestino afetam a função hepática. “É precisotentar perceber, primeiro mecanismos da doença, e depoiscompreender quais são os indivíduos que irão progredir den-tro da patologia”, conclui Maria Paula Macedo.

Ovalor dosmediadores da comunicação

Page 7: RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

O optometrista é um profis-sional habilitado a examinare avaliar o sistema visual. “Osoptometristas fazem todos osexames para detetar o déficede acuidade visual da pessoa,a ametropia que a pessoatem, e frequentemente são osprimeiros a detetar proble-mas a nível da retina, como aretinopatia diabética. Somoso primeiro filtro, a primeiraporta e somos nós que enca-minhamos os doentes para omédico de família, para o of-talmologista, e esse é nossopapel, dever e responsabili-dade”, refere o optometrista,gerente do Centro Ótico Jar-dins da Parede e Gerente doCentro Ótico de Cascais.A retinografia não midriática éum exame também realizadopor optometristas, que permi-te captar um conjunto de ima-gens do fundo do olho, e queposteriormente são analisadaspor oftalmologistas. Este tipode exame de diagnóstico ébastante eficaz e dada a capi-laridade da rede de óticas emPortugal, com cerca de trêsmil pontos, poderia apoiar narealização do rastreio da reti-nopatia diabética a toda a po-pulação diabética.

A proximidade e a facilidadecom que se chega a um dos 2mil optometristas ou ópti-co–optometristas para fazerum exame optométrico é gran-de, pois cerca de 20% a 25%dos consultórios de optometriaem Portugal têm retinógrafos,e aproximadamente metadedeste já fazem a avaliação dasimagens obtidas com recurso ainteligência artificial.

O exclusivo do rastreioEm Portugal, a prestação doscuidados primários de saúdevisual realizada pelos Opto-metristas poderia ajudar oSNS a atingir os objectivos dediagnóstico precoce da reti-nopatia diabética, não só pelaproximidade e facilidade deacesso das populações, comopela triagem que executa,uma vez que a acessibilidadeaos serviços especializadoscontinua a ser um grave pro-blema.Apesar disso, por exemplo, aEstratégia Nacional para aSaúde da Visão, publicada emOutubro de 2018, não tem emconta esta rede privada dediagnóstico precoce da reti-nopatia diabética. Isto porqueo Conselho Nacional da Or-

dem dos Médicos, em sintoniacom a direção do seu Colégiode Oftalmologia e a SociedadePortuguesa de Oftalmologia,considera “que o rastreio, aorientação e o tratamento dosdoentes com retinopatia dia-bética são da competência ex-clusiva dos médicos especia-listas em oftalmologia”.Mas José Luís Cardoso, nãodeixa de referir que devia ha-ver um esforço conjunto parao diagnóstico precoce da reti-nopatia diabética. “Os opto-metristas têm uma posiçãogeográfica privilegiada por-que através das óticas esta-mos muito próximos das pes-soas e entram muitas pessoas

pelos gabinetes de optometriae ortóptica que nos dizem queveem mal, têm a visão turva,flashes, moscas volantes, têmperdas súbitas de campo devisão”, refere. Adianta aindaque “podemos também ajudara fazer um follow-up porqueestamos munidos de retinó-grafo, podemos fazer uma fo-tografia e compará-las com asanteriores e fornecer esseselementos ao oftalmologista eao paciente.Nós podemos prestar os pri-meiros cuidados de proximi-dade, e depois encaminhá-lospara os serviços de saúde pri-mários e referenciados”, con-clui José Luís Cardoso.

UMA REDE PRIVADADE APOIOAO DIAGNÓSTICOPRECOCEOdiagnóstico precoce da retinopatia diabética poderiautilizar a rede capilar das óticas equipadas com retinógrafose o saber dos profissionais de optometria e de ortópticapara alargar a sua capacidade de rastreio.Por: Filipe S. Fernandes

José Carlos Cardoso, Optometrista e Gerente do Centro Ótico Jardins da Paredee do Centro Ótico de Cascais

VII

Page 8: RETINOPATIA - Universidade NOVA de Lisboacedoc.unl.pt/wp-content/uploads/2019/07/ESPECIAL_SABADO... · 2019-07-18 · Na retinopatia diabética não proliferativa os capilares (pe-quenos

ESPECIALRETINOPATIADIABÉTICA

UMA VIDACOM ADIABETES

Aos dois anos de idade, aHugo Machado foi diagnosti-cada diabetes, pelo médicoPedro Eurico Lisboa, uma dasfiguras da diabetologia emPortugal, depois de longos in-ternamentos nos hospitais daEstefânia e de Santa Maria. Apartir dos seis anos, passou aser seguido pela APDP – As-sociação Protetora dos Diabé-ticos Portugueses. Fez a suavida, estudou, licenciou-se emEngenharia Informática e lan-çou o seu próprio negócio.

Há cerca de 20 anos, criou aempresa HSI – Help SoluçõesInformáticas, com uma loja naAlameda das Linhas de Tor-res, em Lisboa, que comercia-liza e repara produtos e com-ponentes informáticos, faz as-sistência técnica e reparaçãode hardware e software, redesestruturadas e cablagens.

Por volta dos 28 anos, co-meçou a ter problemas com avisão por causa da retinopatiadiabética. Os primeiros trata-mentos foram feitos na APDP.Mais tarde experimentou tra-tamentos alternativos porque“quando se começa a perder avisão pensamos em encontrarsoluções, fazer alguma coisamais”, confessa Hugo Macha-do. Fez um tratamento comcélulas estaminais no estran-

geiro, mas não resultou, e rea-lizou ainda um tratamento emCoimbra, com o Dr. AntónioTravassos, que falhou.

Quando a cegueira chegouHá cerca de 12 anos, Hugo

Machado cegou, o que teverepercussões na gestão do seunegócio. “O primeiro ano foimais difícil, que foi passar dever tudo a não ver nada. Tivede me habituar porque nãosou pessoa de ficar em casa abater com a cabeça nas pare-des, portanto tive de arranjarsoluções”, revela Hugo Ma-chado.

Por volta dos 39 anos, teveproblemas com um rim, asso-ciados à diabetes, fez diálisedurante dois anos. Era umproblema que tinha sido dete-tado cinco anos antes. Há cer-ca de dois anos foi-lhe feitoum transplante de rim e pân-creas. Com “tudo a funcionar

bem, deixei a insulina há unsmeses e libertei-me das agu-lhas, que detesto”, afirmou.

Como referiu José ManuelBoavida, presidente da APDP,“os doentes acabam por terinformação, sabem, não têmé ajuda para saber lidar comessa informação, como seja ocontrolo da hipertensão, dosaçúcares”. Hugo Machado

esclareceu que, defacto, fazia tudo.“O controlo eratodo feito por mim,meço a tensão demanhã, à tarde, ànoite, aponto elevo ao fim de doismeses ao médico”.

Mas não o ensi-naram a ajustar e a

alterar a medicação, porquea “grande revolução da dia-betes é que ensina as pessoasa gerir a sua própria saúde”,como explica José ManuelBoavida. A frase mais emble-mática da APDP, que é de1925, “na diabetes, mais im-portante do que tratar daspessoas é ensiná-las a trata-rem-se a si próprias”.

Na sua experiência pelo sis-tema de saúde, Hugo Machadoqueixa-se sobretudo do tempoentre a marcação das consul-tas, quando havia greves oupor falta do médico, e depoisdos tempos de espera dasconsultas. “Às vezes estava-sehoras e horas à espera da con-sulta nos hospitais e há pes-soas que depois desistem.”

Vive com a diabetes desde que nasceu, cegou aos 30 anos, jásofreu o transplante dopâncreas e outro do rim. HugoMa-chado gere a empresa que criou quando acabou o curso deEngenharia Informática.Por: Filipe S. Fernandes

HugoMachado, Informático e doente com retinopatia diabética

“Quando se andaneste circuito percebe-seque nos escapaalguma informaçãoe que esta não chegacom facilidade”

HugoMachado

VIII