Nossa Terra

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    Nossa TerraUma viagem s origens da vida

    As mais antigas civilizaes observaram o cuem busca de respostas s suas inquietaes.Assim o homem notou que alm do Sol e da

    Lua, havia inmeros pontos de luz no cu. E que de vez

    em quando surgiam outros objetos luminosos. quelesque pareceriam possuir uma nuvem de luz, os antigoschamaram de cometas estrelas com cabeleiras,do grego. E aos cinco objetos (ou pontos de luz) que semoviam em relao aos outros e a si mesmos deram onome de planetas (errantes, do grego). Eram eles:Mercrio, Vnus, Marte, Jpiter e Saturno.

    Mas como surgiu a Terra? Esta talvez seja a perguntaque mais inquieta o homem ao longo de sua histria. Aesse respeito, muitas teorias oram deendidas. A maisaceita a de que h quase 5 bilhes de anos, a exploso deuma estrela na Via Lctea espalhou poeira pelo espao. Agravidade ez com que essas partculas ossem se juntandoe transormando-se em pedaos cada vez maiores, dandoorigem ao Planeta Terra.

    E a vida no planeta, os animais, as rvores, o homem?Como a cincia explica o comeo de tudo? Essas soalgumas das perguntas que esta publicao, procuraresponder. um convite s dvidas e inquietaes mais

    antigas do homem: uma viagem que comea com os grosde poeira no espao, passa pelas primeiras ormas de vidado planeta, as espcies que oram extintas e as mudanasque desenharam o mundo que conhecemos hoje. Umaproposta que comeou com a Exposio Nossa Terra,organizada pela Biblioteca da Floresta em 2007, e agorachega s suas mos. Boa leitura!

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    Nossa TerraUma viagem s origens da vi

    Sumrio

    O cu o limite........................................................................................... 0

    Dana Celestial ........................................................................................... 1

    A Face dos Planetas ................................................................................ 1

    Sob o Brilho da Lua ................................................................................. 1

    Terra, a Nossa Casa ................................................................................. 2

    Deriva Continental .................................................................................. 2

    Por Trs da Megafauna ......................................................................... 3

    Mistrios da Terra ou do Cu? .......................................................... 3

    Biodiversidade Amaznica ....................................................................... 4

    Parte II - Povos do Acre ........................................................................ 4

    Senhores da Mata .................................................................................... 4

    Aos Ps das Seringueiras ...................................................................... 5

    Cuidar do que Nosso .......................................................................... 6

    Para Saber Mais ............................................................................................ 7

    Governo do Estado do Acre

    Fundao de Cultura e Comunicao Elias Mansour - FEMDepartamentoda Diversidade Socioambiental

    Bibliotecada Floresta Ministra Marina Silva

    Arnbio Marques de Almeida Jnior

    Governador

    Carlos Csar Correia de Messias

    Vice-Governador

    Daniel Queiroz de Santana

    Diretor Presidente da FEM

    Helena Carloni Camargo

    Chee do Dept Estadual de Bibliotecas Pblicas

    Carlos Edegard de Deus

    Chee do Dept Estadual da Diversidade Socioambiental

    Coordenador da Biblioteca da Floresta Ministra Marina Silva

    Elaborao da Revista

    Vssia Vanessa Silveira Redao

    ([email protected])

    Aurlia Hbner- Reviso

    ([email protected])

    Maurcio de Lara Galvo Projeto Grfco, capa e ilustraes([email protected])

    FotografasSecretaria de de Comunicao do Estado do Acre (SECOM/AC)

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    Desde a Pr-histria, a observao docu vem colaborando para que o homemdescubra mais sobre os mistrios davida no planeta. Sabe-se, por exemplo, que anoo da passagem do tempo (dia e noite) e

    dos ciclos da natureza undamental para odesenvolvimento da agricultura e, portanto daevoluo humana surgiu graas s observaesque o homem das cavernas ez do cu.

    Na tentativa de desvendar o universo edescobrir um pouco sobre si mesmo o homemconstruiu, ao longo da histria da humanidade,

    vrias teorias. Primeiroacreditou que o cu abrigava osdeuses, associando alguns enmenosnaturais a castigos divinos; mais tardedeendeu a idia de que o sol era uma bola de

    ogo e, por muito tempo, sustentou a crena deque a Terra no se movia.

    Com a teoria de que o Sol (e no a Terra) erao centro do universo, o homem undou a basedo pensamento moderno, criando condiespara que a produo do conhecimento tomassepropores cada vez maiores. A inveno do

    O cu o limite

    Nicolau CoprnicoCoprnico (1473-1543)

    provocou uma revoluono pensamento ocidental

    ao armar que a Terragirava em tornodo sol: o homemdeixava de ser o

    centro do universo.

    Tales de MiletoTudo indica que os

    egpcios, os chinesese os babilnios foram

    os primeiros povosa observar o cu

    sistematicamente. Noentanto, foi o lsofo

    grego Tales deMileto (640-560

    A.C.) quem deu incios observaes astronmicascientcas. Atribui-se a ele apreviso de um eclipse solar

    em 585 A.C.

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    GalileuO astrnomo e fsico

    italiano Galileu Galilei(1564-1642) foi o

    primeiro a observar ocu com o auxlio de umtelescpio (sculo XVII).Foi ele quem identicou

    as fases de Vnus e ossatlites de Jpiter.

    telescpio, no sculo XVII, permitiu aproximar

    os corpos celestes e inaugurou uma novarelao entre o homem e o universo.

    Hoje, a cincia e a tecnologia avanarama tal ponto que os cientistas so capazes deidenticar corpos muito pequenos e cada vezmais distantes do sistema solar; conrmara existncia de buracos negros ou descobrir

    planetas extra-solares que orbitam em

    uma estrela que no o sol.

    Com tantas e surpreendentesdescobertas, dicil imaginar que por umlongo perodo a humanidade acreditouque a Terra, alm de imvel, era o centrodo universo!

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    E no entanto, ela gira...Durante a Idade Mdia, astrnomos com

    Galileu e Coprnico desaaram a crende que a Terra fosse o centro do universcontrariando a interpretao que a Igreja fazdos textos sagrados. Isso bastava para anula infalibilidade da instituio, baseada ndogma e na f, no no conhecimento empricCoprnico foi queimado como herege e Galileobrigado a se retratar diante de um tribunda Inquisio. famosa a frase atribuda ele logo aps negar seus estudos e conclusediante dos juzes da f: e no entanto, ela (Terra) gira.

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    Adenio mais comum de SisteSolar diz que ele o conjunto corpos (planetas, satlites natur

    asterides, planetas anes, cometas)matria (gases e poeira) que gravitamredor do Sol. Vrias teorias tentam explisua origem. A mais aceita atualmente pecientistas tem como base a Hiptese NebuE diz que o sistema solar surgiu a partir de ugrande nuvem de gases (oxignio, nitroghidrognio, hlio) e poeira csmica ormpor elementos qumicos como erro, ouro, urEsta nuvem, em algum momento, comeose contrair, acumulando matria e enero que acabou dando origem ao Sol e planetas. Isso ocorreu h mais de 4,5 bilh

    de anos.

    Alm da Terra, outros sete planetas azparte do sistema solar: Mercrio, MaJpiter, Vnus, Saturno, Urano e Netuno. Pluque oi descoberto em 1930 e at 2006 considerado um planeta, hoje apontado pcomunidade acadmica como um planeta a

    Dana

    CelestiaQuem so e como se movem principais corpos celestes Sistema Sol

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    (pequeno corpo do sistema solar). A mudanaocorreu em 2006, quando a Unio AstronmicaInternacional alterou os critrios que at entoserviam para denir um planeta.

    Como organizador desse sistema, est oSol. Muitas civilizaes politestas acreditavamque o Sol era uma divindade os gregos ochamavam de Hlio, os persas de Mitras eos egpcios de R. Hoje sabemos que ele a

    estrela central do nosso sistema planetrio etambm a principal onte de energia da Terra(99,98%). Sua distncia em relao ao nossoplaneta de aproximadamente 150 milhesde quilmetros (ou uma unidade astronmica UA). Isso signica que a luz solar demora oitominutos e 18 segundos para chegar aqui. Aindaassim, o sol a estrela que se encontra mais

    perto da gente. Depois dele vem a ProximaCentauri, localizada a uma distncia 270.000vezes maior: sua luz demora mais de 4 anos

    para chegar at ns.

    A temperatura do Sol impressionante:mais de cinco mil graus Celsius na superciee 15 milhes de graus no ncleo central.Sua massa 333.000 vezes maior que a daTerra, e seu volume, mais de 1 milho. Apesardo tamanho, o Sol na verdade uma esera

    gasosa com massa composta basicamente porhidrognio (73%) e hlio. At agora, sabe-seque em torno dele gravitam pelo menos oitoplanetas, trs planetas-anes, 138 satlites,centenas de asterides e um grande nmero decometas.

    Dentro do crculoacima podemosobservar um pontoazul-acinzentado:trata-se da Terraem suas dimensesnormais, quandocomparada ao Sol.

    Em sua viagem orbitalem torno do centro dagalxia (Via Lctea), oSol percorre 250 km porsegundo, obrigando quetodos os demais corposdo Sistema Solar oacompanhem. Acredita-se que ele tenharealizado cerca de 250revolues.

    Cada ano galcticodo Sol representa,aproximadamente,230 milhes de anosterrestres. Estima-seque sua idade seja de4,5 bilhes de anos.

    R (acima) e Mitraforam divindadessolares cultuadas poregpcios e persas.

    Posio de nosso sol em relaoao centro da via lctea.

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    Mercrio, Vnus, Marte, Jpiter eSaturno so os cinco planetasmais brilhantes do

    Sistema Solar. Visveis a olho nu,eles oram identicados ainda naAntiguidade enquanto Uranos oi reconhecido como umplaneta em 1781, e Netuno, nosculo 19.

    Os cientistas costumam dividi-

    los em dois grupos, a partir do Sol:

    os quatro primeiros so os planetasinteriores, tambm chamados de

    terrestres ou telricos (Mercrio, Vnus,

    Terra e Marte) e os outros quatro, os jovianos

    ou exteriores (Jpiter, Saturno, Urano e Netuno).

    Essa diviso foi feita aps a constatao de que os

    quatro planetas mais prximos ao Sol apresentam

    caractersticas semelhantes entre si, assim como os

    jovianos.

    Dos planetas terrestres, Mercrio o queest mais perto do Sol. Ele o menor e tambmo mais rpido de todos os planetas do sistemasolar: seu movimento ao redor do sol duraapenas 88 dias. Em seguida vem Vnus quede to brilhante, h quem o conunda como umaestrela (estrela dalva). Este planeta possuicaractersticas similares a Terra em relao massa, tamanho e composio. Nele seencontram muitos vulces e algumas crateras,alm de nuvens de cido sulrico. O ltimo

    planeta (terrestre) em relao ao Sol Marte.Ele se localiza entre a Terra e o cinturo deasterides, e apresenta vrias anidades como nosso planeta alm do nmero de estaes,a durao do dia em Marte quase igual aoterrestre. Em sua supercie espalham-sevales, desladeiros, cnions, vulces extintos,desertos e calotas polares.

    A Face dos PlanetasSabe tudo!

    As estrelas variam muitode tamanho, algumas somenores e outras maioresque o Sol. A estrela Antares(constelao do escorpio),

    por exemplo, 300 vezesmaior que o Sol.

    Mercrio

    Vnus

    Marte

    Sabe tudo!

    Estudos mostram queVnus e Marte tinhamgua em forma deoceanos. A explicao doscientistas para que a guatenha evaporado e sumidoem ambos os planetassugere a formao de um

    fenmeno semelhante aoefeito estufa

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    No grupo dos planetas jovianosest Jpiter, o quinto a partir do Sol. o maior planeta do Sistema Solar (sua m assa 2,5 vezes superior soma de todos os outros)e possui 63 satlites, os maiores so: Ganimedes,Europa, Io e Calisto. Depois de Jpiter vem Saturno.Famoso por seus anis (uma mistura de poeira,restos de meteoros e cristais de gelo), Saturnovrios satlites e a menor densidade entre osplanetas do sistema solar. Seguindo ele, encontra-

    se Urano. O stimo planeta do Sistema Solarpossui 27 satlites ao seu redor e uma coloraoque mistura tons de azul e verde. Netuno, o oitavoe ltimo planeta do Sistema Solar, recebe poucocalor do Sol: a temperatura mdia de sua superc ie de -218 graus Celsius. Em Netuno encontram-seos ventos mais rpidos de todo o nosso sistema,com mais de 2 mil quilmetros por hora.

    Sabe tudo!

    Em Saturno ocorrem tempestades

    com furaces semelhantes aos daTerra, s que mais violentos, comventos de at 560 quilmetros porhora. Bem superior, por exemplo,aos ventos de um furaco como oKatrina (233 km/h), que destruiua cidade de Nova Orleans, nosEstados Unidos.

    Todos os objetos ou corposcelestes vistos at agora pelohomem se encontram dentrode uma estrutura chamada

    de Galxia. Uma galxia umconjunto de estrelas, planetas,aglomerados, nebulosas,

    poeira e gases, que estoconnados num pedao doespao sideral. So como ilhasno Oceano. A nossa Galxia por vezes chamada de ViaLctea, e estima-se que ela

    tenha cerca de 100.000 anoluz de dimetro, 16.000 anoluz de espessura e 100 bilhede estrelas. Existem milhe

    de galxias no Universo, dtodos os tamanhos, de todaas formas, perto e distantde ns (essas outras galxiase encontram fora da noss

    prpria Galxia, a Via Lctea)

    Fonte: Centro de DivulgaoCientca e Cultural da USP Setorde Astronomia.

    Galaxias so como ilhas no oceano

    Glossrio

    Jovianos so os planetas quese encontram mais distantes

    do Sol. Possuem grande massa,pequena densidade, muitossatlites e so compostos porelementos leves, especialmentehidrognio e hlio. Os terrestres,ao contrrio, esto mais prximos:possuem massa pequena, grandedensidade, poucos ou nenhumsatlite e elementos pesados nacomposio.

    Saturno

    NASA/JPL

    Urano

    Netuno

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    Jpiter e Europa

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    ALua um dos maiores satlites doSistema Solar e o nico da Terra. o corpo celeste mais prximo a ns(apenas 380 mil quilmetros de distncia).Seu interior rochoso, e a supercie rica em

    alumnio e titnio. As amostras colhidas pelohomem na Lua provam que sua composio semelhante a da Terra, apresentandopraticamente os mesmos minerais. Emrelao ao tamanho, ela representa 1/4 donosso planeta.

    Entre as teorias que buscam explicar sua

    Sob o brilho da Lua

    ormao, a mais aceita atualmente diz quTerra soreu o impacto de um objeto de mamuito alta e nesse processo uma parte do noplaneta oi lanada para ora, dando origeLua. Apesar das diversas inormaes que

    cientistas tm da Lua, inclusive amostrasrochas, no h uma resposta denitiva po surgimento desse satlite. O que inegporm, a infuncia que ele exerce nossas vidas: popularmente atribui-se s ada lua, alteraes no somente na natur(como o eeito das mars), mas tambmcomportamento humano.

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    Terra, a nossa casaAs Camadas da Terra

    Ncleo: formado por rochas e por uma lmetlica constituda principalmente de fee nquel, com uma temperatura aproximade 3.500 C. Sua consistncia lquida, msupe-se que mais no interior exista um ncslido de constituio semelhante.

    Manto: uma grossa camada roch(cerca de 2.900 km de espessura) que envoo ncleo e compe a maior parte da materrestre. Possui duas regies bem denid

    denominadas manto superior e maninferior, apresenta consistncia pastoest em constante movimento e forma

    principalmente por silcio e magnsio. temperaturas variam entre 100 a 3500C.

    Crosta terrestre: Fica acima do man constituda principalmente por silcioalumnio. As extensas pores de gua hidrosfera - isolam regies mais elevadas crosta, formando os continentes.

    At agora, as pesquisas cientcasindicam que a Terra o nico planetado Sistema Solar com condies de

    abrigar as ormas de vida que conhecemos: elaest a uma distncia adequada do Sol, possui

    grande quantidade de gua e sua atmosera rica em oxignio. tambm o primeiroplaneta, a partir do Sol, que tem um satlitenatural (Lua).

    As primeiras ormas de vida naTerra surgiramh 3,5 bilhes de anos aproximadamente. Oplaneta enrentava, ento, o comeo da Era

    Arqueozica, termo usado pela Geologia paradesignar o incio de sua ormao: quedaconstante de meteoros, intensa vulcanizaoe ao da radiao solar. Milhares de anosseparam este perodo da Era Proterozica,

    quando o resriamento do planeta, a ormaoda camada de oznio (proteo dos raiossolares mais nocivos) e dos oceanos permitiuo aparecimento de ormas de vida maiscomplexas, como as clulas eucariontese, depois, os primeiros invertebrados organismos multicelulares que se espalharampelos oceanos.

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    Os primeiros vertebrados peixes semmandbula, semelhantes aos de hoje apareceram h cerca de 500 milhes de anos.Foram eles que mais tarde (h 400 milhes deanos aproximadamente) saram do mar dandoorigem aos anbios.

    Entre as eras Paleozica e Mesozica, o nicoe grande bloco (Pangia) onde se encontravamos anbios e plantas primitivas, comeou a seseparar em continentes. Foi neste perodo quesurgiram os primeiros rpteis (h 300 milhesde anos) e os dinossauros.

    Os mameros apareceram h 200 milhes de

    anos aproximadamente (Era Mesozica) e erambem pequenos. Foi somente com a extino dosdinossauros, h 65 milhes de anos, que elesse diversicaram, tornaram-se maiores e se

    espalharam pelos continentes em ormao.

    O Australopithecus afarensis, provvelancestral mais antigo do homem, surgiu h cercade 3 milhes de anos, na rica; o Homo erectus,h 1,5 milho de anos aproximadamente e oHomo sapiens, espcie mais prxima ao homemmoderno, h cerca de 100 mil anos.

    Sabe tudo!

    Em 1969 o britnico James E. Lovelockcontrariou todas as teses sobre osurgimento e a manuteno da vidana Terra ao defender que o nosso

    planeta um organismo vivo. A teoriacou conhecida como a HipteseGaia (Terra viva, do grego) e diz queos fatores biticos teriam o controlesobre os abiticos, proporcionando ascondies ideais de sobrevivncia para osseres vivos. Mas ainda que a comunidadecientca concorde que os organismosinuenciam o ambiente fsico (e por

    ele so inuenciados) a maioriaacha que no h como comprovaro equilbrio do

    planeta a partirda ao dosorganismos.

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    Primeiros MamferosDinossauros

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    Depois de concluir que o nosso planeta no o centro do universo, o homem descobriuque o mundo, ou mais especicamente odesenho que dele conhecemos hoje, resultadode um movimento constante da terra: a DerivaContinental. Segundo a teoria, proposta peloalemo Alred Wegener, no comeo do sculoXX, os continentes no tinham o desenho dehoje. E tampouco sero os mesmos no uturo.

    A Deriva Continental arma que h

    Deriva Continental:a Terra em constante movimento

    Principais placas tectnicas So dez: Amrica doNorte e Caribe (engloba toda a Amrica do Norte eCentral); Euroasitica Ocidental (sustenta a Europa,

    parte da sia, do Atlntico Norte e o Mediterrneo);Euroasitica Oriental (seu choque com outras duas

    placas provoca maior ocorrncia de terremotos evulces na regio onde ca o Japo); Placa das Filipinas( a menor de todas as placas, mas concentra quasemetade dos vulces ativos da Terra); Indo-australiana

    (sustenta a ndia, a Austrlia, a Nova Zelndia maior parte do Oceano ndico); Antrtica (susten

    Antrtida e parte do Atlntico Sul); fricana (situno meio do Oceano Atlntico, ela se afasta cada mais da Placa Sul-Americana); Sul-Americana (o Bse encontra no centro desta placa); Placa do Pac(regio do Hava) e a Placa de Nazca (responsvel pelevao das montanhas dos Andes).

    aproximadamente 200 milhes de anos a Terraera ormada por um nico e grande bloco,chamado de Pangia, e um Oceano, o Pantalassa.

    Milhes de anos depois, uma ragmentaoez surgir dois grandes continentes: Laursiae Gondwana. Esses imensos blocos de terraoram ento se movendo at ormar o desenhoatual dos continentes.

    A idia original de Wegener oi comprovadaem meados do sculo XX, dando origem

    Glossrio

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    Teoria das Placas Tectnicas, os grandes blocosque ormam a crosta terrestre; sustentam osmares e oceanos, e esto sempre em movimento.O estudo do movimento contnuo dessas placasna supercie da Terra (Litosera) mostra queele altera o revelo, mudando as paisagens domundo: todos os anos, as dez principais placas seempurram, aastando-se umas das outras, e se

    Deriva dos Continentes:da Pangia aos dias atuais

    aundam ou se elevam em relao aos oceanos.

    O estudo das placas tectnicas permitetambm explicar a ocorrncia de terremotos,erupes vulcnicas e at mesmo os tsunamis enmenos que podem ser provocadospelo encontro das placas dentro ou ora dosoceanos.

    H 225 milhes de anos

    Toda a terra estava reunida em um nico egrande continente chamado de Pangia.

    H 180 milhes de anos

    O grande bloco (Pangia) comeou ase partir, formando dois continentes:Laursia e Gondwana.

    H 135 milhes de anosNovas fendas deram origem Amrica do Sul, frica e ndia. Os oceanos Atlntico endico comeam a se formar.

    H 65 milhes de anosAs placas da ndia e sia se chocam,dando origem ao Himalaia.

    Hoje em diaA deriva continua: todos

    os anos, Nazca ca 10 cmmenor; a Amrica do Sul seafasta da frica; e o choquedas placas provoca abalosssmicos e alteraes na

    paisagem do globo.

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    Terremoto quedestruiu a cidade de

    Valdvia, no Chile(abaixo) e Tsunmis

    no Sri Lanka:tragdias que podem

    ser evitadas peloestudo das placas

    tectnicas

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    Por milhes de anos a Amrica do Sulpermaneceu um continente isolado,cercado por oceanos. Isso s mudaria

    com o Istmo do Panam, estreita poro deterra que une a Amrica do Sul do Norte eque surgiu do encontro de placas tectnicasocorrido h aproximadamente 2 milhes deanos. Alm de colocar um m no isolamento, a

    criao da ponte terrestre abriu caminho parao deslocamento de espcies animais entre oscontinentes, modicando signicativamente asaunas originais sobretudo na Amrica do Sul.

    No grupo de animais amaznicos originaisencontram-se o tatu, a preguia e os marsupiais.Algumas espcies, como os macacos e roedores(pacas, cutias e capivaras), teriam sado daricae alcanado o continente Sul-Americano emrvores que cruzavam o Atlntico, uncionandocomo uma espcie de balsa. Isso h mais de30 milhes de anos. J os eldeos, candeos,porcos-do-mato, antas, veados e outros sorecentes na auna amaznica: chegaram viaIstmo do Panam.

    A entrada de novas espcies provocou grandesmudanas no espao amaznico. Predadoresat ento desconhecidos (onas, ursos, raposas,cachorros e tigres dentes-de-sabre) tornavam a

    luta pela vida entre as espcies uma competiomuitas vezes desigual: os marsupiais e aspreguias enrentavam grandes predadorescarneros, em especial os elinos.

    Mas nem a orte competio colocou m notrnsito de animais entre os dois continentes.Alguns marsupiais, por exemplo, conseguiram

    chegar Amr ica

    do Norte e lse estabeleceram.Os macacos ocuparamas forestas da Amrica Central. Aspreguias terrestres gigantes chegaram aoatual Alasca e os tatus invadiram a Amrica doNorte tornando-se, na histria recente, smbolodo Estado do Texas.

    Viajantes da Placa Sul-Americana

    Sabe tudo!

    ** O Istmo do Panam permtambm a chegada dos CameldHoje as lhamas, alpacas, vicue guanacos ocupam as te

    frias dos altos dos Andes, deo Equador at a Patagnia.

    poca das glaciaes, as lhase espalharam pela AmricaSul e os seus fsseis tambmencontrados no Acre.

    Vestgios histricos revelam dados

    sobre a formao da biodiversidade acreana

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    A origem das terras acreanas

    H milhares de anos, o deslocamento parao Oeste da placa continental da Amricado Sul ajudava a desenhar os novos

    contornos do globo terrestre. Alm de car cadavez mais distante da rica e alargar o OceanoAtlntico, seu encontro com a Placa de Nazca,situada no undo do Oceano Pacco, deu origem

    aos Andes. E os rios amaznicos comearam aser represados pelo novo obstculo que surgia.

    No Acre, a gua acumulada deu origem aoLago Pebas. Por milhares de anos este grandelago reuniu espcies de animais de gua docee salgada, como arraias, tubares e gigantescosjacars. Estudos comprovam, por exemplo, o

    parentesco entre as arraias que vivem hoje rios do Acre e as originrias do Oceano PacAlm disso, h os sseis de dentes de tubarmarinhos encontrados nos sedimentos Serra do Moa e em regies no Alto Rio Acremunicpio de Assis Brasil e de jacars gigancomo o caso doPurussaurus.

    Com o passar do tempo, os rios amaznoram encontrando seu caminho para o OceAtlntico e o Lago Pebas, desaparecenEstudos indicam que as terras do Acre azparte do undo do Lago Pebas, local onde esas provas sseis da histria natural de nopassado geolgico.

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    Aregio do Acre e Suldo Amazonas guardam

    muitos vestgios daimpressionante auna que habitavao continente Sul-Americano hmilhares de anos. Em seus rios elagos se encontra grande diversidade deanimais extintos. Os principais so roedores ecrocodilomoros, mas h tambm sseis deoutros grupos de mameros como primatas,marsupiais, morcegos e notoungulados alm decrustceos, aves e peixes. Uma explicao paraessa riqueza do passado so as rochas originriasdas ormaes Solimes e Pebas, constitudas emsua maioria de siltitos e argilitos, depositadosnos ambientes fuviais da regio.

    verdade que a extensa vegetao da regiodiculta as escavaes cientcas. Mas comomuitos sseis se encontram nas margens dosrios, possvel procur-los nas estaes secas,quando as guas diminuem seu nvel. Esse ocaso do Rio Acre, onde j oram encontradas

    dezenas de sseis. Uma das localidades demaior concentrao a de Talism, localizadana parte superior do Rio Purus, no Sul doEstado do Amazonas, ronteira com o Acre. Ali,as rochas ormadas predominantemente porsiltitos e argilitos permitiram aos paleontlogosencontrar restos de preguias gigantes, roedores,placas de tatu e muitos outros.

    Ser o Mapinguari?

    Quando pensamos em uma preguia hoje, nosvem mente a imagem de um bicho tranqilo,parecido com um macaco e que vive nos toposdas rvores. Mas h aproximadamente 12 milanos, as preguias que perambulavam pelaAmaznia eram gigantes algumas chegavama ter o tamanho de um eleante andavampelo cho e possuam uma garra a mais que aspreguias atuais.

    Esses animais pesavam cerca de 5toneladas e podiam atingir at seis metros

    de altura. Tinham o corpo recoberto de plose caminhavam lentamente apoiando-se sobreos lados dos ps e das mos. A maioria daspreguias gigante alimentava-se de gramnease olhas; outras usavam a cauda robusta emusculosa, alm dos ps, para ormar um tripe assim alcanar os ramos e brotos mais altosdas rvores.

    O primeiro esque-leto de preguiagigante oi encon-trado em 1787, nacidade argentinade Lujn. Diantedo tamanho dosossos, enviadosao Museu RealGabinete de HistriaNatural de Madri, osespanhis concluram que se tratava de um eleantesulamericano. Mais tarde, porm, o anatomistarancs Georges Cuvier, diretor do Museu de

    Histria Natural de Paris, identicou o esqueletocomo sendo de uma preguia, que recebeu o nomecientco de Megatherium americanum (grandeanimal selvagem americano).

    Estudos comprovam que as preguias giganteseram relativamente comuns no Acre. Seussseis so conhecidos do Alto Rio Juru e muitos

    Por trs da Megafauna

    podem vistos

    Laboratde Pesqu

    Paleontolgicas UFAC, em Rio Branco. T

    indica que esses animais, ascomo os dinossauros, oram extintos. M

    pelo menos uma teoria levanta dvidas soisso: a de que o Mapinguari, gura lend

    que atemoriza os moradores da foresta, verdade uma preguia gigante.

    A explicao sustentada por David O

    ex-diretor de pesquisa no Instituto Goeldi, Belm. Para ele, a lenda do Mapinguari sudo contato que os humanos tiveram comltimos representantes da espcie das pregugigantes. O bilogo americano ez algumexpedies procura do animal, mas como conseguiu encontr-lo, acabou desistindo provar sua existncia.

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    Nossa TerGigantes da Amaznia

    Alm das preguias gigantes pelo menostrs outras espcies impressionam pelotamanho: os toxodontes, os mastodontes

    e os purussaurus. Os primeiros tinham comoprincipal caracterstica o hbito semi-anbio.Eram animais terrestres que dependiam degrandes corpos dgua para sobreviverem,pois alimentavam-se de vegetais aquticose gramneas que cresciam nas margens e noundo das lagoas e rios perenes.

    Tudo indica que os taxodontes passavama maior parte do tempo dentro dgua,

    como azem atualmente os hipoptamosaricanos. Eles azem parte da Ordemdos Notoungulados, grupo primitivo deanimais com casco (ungulados) asespcies deste grupo surgiram e sedesenvolveram exclusivamentena Amrica do Sul, h cerca de50 milhes de anos. Comoltimos representantes

    dessa ordem, os taxodontes tinham o portedos rinocerontes encontrados hoje na rica.Possuam em mdia 2,5 m de comprimento e1,5 m de altura e alguns chegavam a pesar at1 tonelada. Seu corpo era robusto, mas compernas curtas. Tinham cabea grande, ocinhocomprido, com um pescoo atarracado e muitopossante. Eles habitavam, provavelmente,plancies com vegetao rasteira (tipo cerrado)com muita gua perene, ormando manadas.No Brasil, j oram encontrados sseis

    desses animais nos estados do Acre, Roraima,Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Paraba,Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, So Paulo,Paran e Rio Grande do Sul.

    J os Mastodontes eram animais do ramoevolutivo dos eleantes, guardando algumassemelhanas com as espcies de hoje. Tinhampresas, s vezes enormes, de um metro e meiode comprimento, pouco recurvadas. Seus lbiossuperiores oram transormados em tromba de

    m o v im e n to s

    precisos. Eram herbvoros e alimentavamde brotos de arbustos, olhas e capim. Eanimais chegaram Amrica do Sul durao deslocamento de espcies da auna enos continentes. Aqui se diversicaram vrias espcies nenhuma igual aos eleanencontrados somente na sia e na rica.

    O mais assustador de todos, porm, erPurussaurus brasiliensis, rptil gigante cssil oi encontrado na Amaznia: ele chega medir at 15 metros de comprimento. Ascomo outros animais, esse enorme jacar v

    no Lago Pebas, h aproximadamente 8 milhde anos. Sua descrio oi eita em 1892, pnaturalista brasileiro Barbosa Rodrigues.

    A descoberta do ssil abriu caminho pestudos mais concretos a respeito

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    H 1,6 milhes de anos,existiu no lugar da orestaequatorial sul-americana umarea de savana que se espalhava

    pela Amaznia ocidental,incluindo toda a oresta do Perue Equador, parte dos territriosda Bolvia e Colmbia, o estadodo Acre e a poro ocidentaldo Estado do Amazonas. Essesespaos surgiam nos perodosde seca, quando as matas se

    reduziam, formando pequenosrefgios em meio s extensasreas de savana e cerrados quedominavam a paisagem servindocomo morada para as espcies damegafauna. A situao mudariana ltima glaciao (que duroude 30 mil a 12 mil anos atrs),quando as orestas voltarama crescer, colocando um mna megafauna. Apenas algunsanimais de pequeno e mdio

    porte sobreviveram extingeneralizada por possuremadaptaes que lhes permitiamviver tanto em orestas pluviais

    ou decduas, cerrados, charcoe caatingas. A anta, o tatu eo porco do mato so exemplode animais que j existiam noPleistoceno (2 milhes a 12 mianos) e ainda so vistos hoje na

    Amaznia.

    Paisagem diversaconstituio e dos hbitos do animal. Uma dasconcluses a que chegaram os pesquisadoresreere-se ameaa que o jacar giganterepresentava para outras espcies. Compoderosa dentio, corpo alongado recobertopor um exoesqueleto bastante resistente, caudagil e o tamanho avantajado, o Purussaurusbrasiliensisganhou o ttulo de maior predadorj existente na Amaznia: h provas de que asgigantes tartarugas Podocnemyseram uma desuas presas.

    O nome Purussaurus signica lagarto

    (jacar) do Rio Purus. A rplica do exemplarmais completo, at agora descoberto,

    foi exibida na exposio Nossa Terra,da Biblioteca da Floresta. Ela foi criadaa partir do crnio encontrado no AltoRio Acre, em 1986, por uma expedioconjunta da Universidade Federal do

    Acre e do Museu de Histria Naturalde Los Angeles. O material original foienviado aos Estados Unidos onde foi feitaa preparao e a confeco de rplicas.Rplicas do crnio de Purussaurus podemser apreciadas em vrios museus dosEstados Unidos, Espanha e Brasil.

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    Voc j imaginou avistar do alto de umavio e no meio da foresta acreanaum gigantesco desenho esculpido na

    terra? Pois no Acre isto possvel. O estado um dos poucos lugares do mundo e o nicodo Brasil onde pesquisadores conseguiramlocalizar Geoglios, vestgios arqueolgicosrepresentados por imensas guras que podemser geomtricas (crculos, quadrados, octgonos,hexgonos), zoomoras (desenhos de animais)ou antropomoras (ormas humanas).

    Os Geoglios do Acre oram registrados pelaprimeira vez no nal da dcada de 70, duranteinventrio realizado por umaequipe de pesquisadores

    coordenada por OndemarFerreira Dias Junior (UFRJ)

    do Programa Nacional de PesquisasArqueolgicas da Bacia Amaznica

    (PRONABA). Em 1977 eles indicaram aocorrncia de estruturas de terra que assumiamormas geomtricas e estavam localizadas

    prximas sede da Fazenda Palmares.Mais tarde essas estruturas seriam

    reconhecidas como Geoglios.

    At o nal dosanos 90, novos

    Mistrios daterra ou do cu?Figuras esculpidas h mais de mil anos em terras acreanas desafiam algica e seguem impressionando pela grandiosidade de suas formas

    Nossa Ter

    Geoglios oram encontrados no Acre. Messas surpreendentes guras s ganharrepercusso a partir de 2000 quandopaleontlogo Alceu Ranzi e o historiaMarcos Vinicius Neves divulgaram imageitas num sobrevo pela regio. Na pooram otograados seis Geoglios geomtr(quadrados e crculos), todos localizadosestrada que leva ao municpio de Boca do Ano Amazonas.

    A repercusso das imagens oi um incen

    para novas pesquisas e a observao de Geoglna regio. At agora, oram localizados mde 100 stios arqueolgicos com gigantesguras geomtricas to grandes que cabmais de seis campos de utebol. Escavadassolo, as estruturas circulares ou retangulatm at 100 metros (algumas mais) dimetro com valas que variam de 1 ametros de proundidade. Ao todo so 1guras, situadas entre os municpios de Xae Boca do Acre, no Sul do Amazonas. Maspesquisadores acreditam que este nmerbem maior, porm dicil de comprovar dev densa vegetao das reas de foresta.

    Segredos do passado

    E qual a explicao para essas imenguras esculpidas na terra? Varias teotentam responder o mistrio dos Geogli

    uma delas levanta a hiptese dos desen

    serem obras de extraterrestresno do homem. A maioria pesquisadores, no entadescarta esta possibilide concorda que os Geogloram produzidos por antcivilizaes. No caso

    guras encontradas no Acre,

    Os Geoglifos encontrados no Acre entraramna lista de tombamento da Organizao dasNaes Unidas para a Educao, a Cinciae a Cultura (Unesco) e podem acabar setransformando em Patrimnio Culturalda Humanidade. A indicao Unesco foi

    feita pelo Instituto Nacional de PatrimnioHistrico e Artstico Nacional (Iphan), emabril de 2009. O fato da Unesco ter aceitadoa indicao um bom sinal, mas a respostadenitiva ainda levar algum tempo: o

    processo de tombamento que reconhece umbem como Patrimnio da Humanidade envolvemuitos debates entre a comunidade cientca,e pode durar mais de dez anos.

    Sabe tudo!

    Patrimnio da humanidade

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    Apesar de tambmexistirem em outros pases(como Austrlia e EstadosUnidos), os Geoglifos maisconhecidos e estudadosse encontram na Amrica

    do Sul, principalmente naregio andina do Chile, Perue Bolvia. O exemplo mais

    famoso so os Geoglifos deNazca, no Peru. Eles foramdescobertos em 1927, com oadvento da aviao comerciale caram famosos aps o

    lanamento do livro Eram osDeuses Astronautas, de ErichVon Daniken.

    Os geoglifos de Nazcarepresentam centenas

    de guras. So desenhosestilizados de animais, plantase at formas humanas que seestendem por uma extensaregio desrtica, conhecidacomo Pampa Colorada.

    Acredita-se que tenham sidodeixados pelo povo Nazca,

    que h 2 mil anos ocupavaesta regio do Peru.

    Tombados pela Unescocomo Patrimnio daHumanidade, essas guras so

    hoje um importantes atrativoturstico do Peru: todos osanos, milhares de turistasviajam cidade de Nazca parasobrevoar o deserto e avistarum dos mais impressionantesmistrios arqueolgicos domundo.

    As fguras de Nazcaexemplo, os estudiosos acreditam se tratar devestgios deixados por ndios que viveram naregio entre 1.000 e 2.500 anos atrs.

    Outra questo intrigante se reere ao

    uso. Aqui no existe consenso entre ospesquisadores: as enormes estruturas podiamuncionar como uma orma de proteo;templos sagrados, canais de irrigao para aagricultura ou at moradia.

    Enquanto no encontram respostasdenitivas para as misteriosas e gigantescas

    guras, pesquisadores do mundo inteiroseguem estudando os stios arqueolgicosonde oram localizados Geoglios. Desde2007, pelo menos um grupo de pesquisadoresvem estudando as guras encontradas no Acre.

    Liderados por Denise Pahl Schaan (UFPA)e com nanciamento do Conselho Nacionalde Desenvolvimento Cientco e Tecnolgico(CNPq), esses pesquisadores acreditam queos Geoglios so a chave para saber maissobre os hbitos, as crenas e a organizaodos antigos habitantes da Amaznia.

    Uma forma de sobrevoar os Geoglifosdo Acre sem sair de casa pesquisar noGoogle Earth, um programa gratuito que

    permite viajar por qualquer parte daTerra, visualizando imagens de satlitee de outras fontes. Pelo menos dez das

    guras localizadas at agora podem servistas desta maneira.

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    Sabe tudo!

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    ORio Amazonas possui a maior baciahidrogrca do mundo. Com uma rea de6.925.674 km2, ele desgua no OceanoAtlntico 68% do total de gua vertida pelosrios do Brasil. Alm disso, apresenta grandevariedade de sistemas naturais, resultandona incrvel biodiversidade que caracteriza oespao amaznico.

    Essa riqueza considerada por pesquisadoresdo mundo inteiro como megadiversidade. E no toa: a Amaznia concentra cerca de 80%das espcies de peixes conhecidas na regioneotropical, que abrange a Amrica do Sul, aAmrica Central e a parte Sul da Amrica doNorte. Registros indicam tambm que a regioconcentra 50% das espcies de aves do Brasil,

    40% dos mameros e 30%dos anbios anuros (sapos, rse pererecas).

    O Acre mostra um pouco desta imensavariedade de espcies. Aqui, as algasmicroscpicas conhecidas somam 463espcies, a vegetao mais de 4 mil, os peixesmais de 270, os anbios 126, as aves 723, e

    os mameros cerca de 210 espcies. Masa riqueza de espcies no Estado pode serainda maior, j que as coletas de organismosainda so numericamente pequenas e seconcentram apenas nas pores extremas doLeste e do Oeste do Estado. Isso signica queh enormes lacunas no conhecimento de suabiodiversidade.

    O potencial de utilizaoda biodiversidade se estendedesde o uso de plantas e animaispara ns ornamentais, at o usodos componentes genticos e qumicos

    nas reas de biotecnologia e armacutica.Algumas das principais indstrias de cosmticosdo Brasil, por exemplo, usam essncias vegetaisda Amaznia como base para suas linhas deprodutos. As comunidades tradicionais tambmtm utilizado tais essncias na abricao deprodutos artesanais, o que tem melhorado aqualidade de vida de amlias moradoras da

    foresta. Alm disso, comum a descobede viajantes e alsos cientistas pirateaanimais e plantas para ornecer matere conhecimentos brasileiros tradicionaisgrandes indstrias estrangeiras.

    Biodiversidade amaznicaNossa Ter

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    Apesar da grande diversidade e desua importncia, a Amaznia est sendoempobrecida pelo avano do desmatamentoque inviabiliza a continuidade da existnciade populaes de diversas espcies, inclusivevrias de interesse comercial, com o caso dacastanheira (Bertholetia excelsa). Outra grandeameaa biodiversidade, que tambm decorredo desmatamento (lanamento de carbonona atmosera), o conjunto de mudanasambientais globais que alteram ciclos naturais

    colocando em risco alm de muitas espcies,a sade do ser humano.

    Origem da BiodiversidadeA vida provavelmente surgiu na Terra a

    partir da evoluo de molculas orgnicasautoreplicantes que oram sendo selecionadasno decorrer da histria do planeta. Desde ento,

    ao longo de cerca de3,5 bilhes de anos, anatureza e o espao vem setransormando mutuamente,o que resulta na criao eextino de espcies. Durante asmudanas do meio ambiente, ocorreuma seleo de padres ecologicamentevantajosos, que se xaram nas populaes enas comunidades naturais.

    No caso da grande biodiversidade amaznica,podemos dizer que ela ruto da existncia deheterogeneidade ambiental e variabilidadegentica: as espcies atuais dependeram deuma srie de mudanas ocorridas ao longo demuitos milhares de anos para que tenham setornado o que so.

    A este respeito interessante notar que,na natureza, o surgimento e a extino deespcies guardam certa relao entre si. Assim,novas espcies devem surgir quando uma parteda populao da espcie vivente isolada daoutra parte, no havendo mais reproduoentre as mesmas, num processo chamadode especiao. Por outro lado, quando umaespcie no tem capacidade de garantir asua permanncia no ambiente ao longo deum tempo considervel, por cerca de milanos, por exemplo, ela tende a ser extintano local ou globalmente.

    Um bom exemplo do processo que

    leva ao surgimento de uma novaespcie oi dado porC h a r l e s

    Darwin,

    naturalista autor do livro A origem das espcquando descreveu a evidente especiao tentilhes no Arquiplago de Galpagos,Venezuela. Da mesma maneira, a extindos dinossauros que representou o m

    ase na qual os rpteis gigadominavam as paisagensTerra serve de exemplocomo se d, naturalmea extino de uma esp

    na natureza. No o ocorre, inelizmente, com

    centenas de espcies

    hoje esto em procede extino por codas aes do homem

    Sabe tudo!

    As necessidades dasespcies (alimentos, abri-

    go, reproduo) afetama biodiversidade e sosatisfeitas na medidaem que as mesmas usamrecursos de outras espcies.Indivduos de uma espcie

    predadora, por exemplo, sealimentam de indivduos deuma espcie de presa, numarelao de benefcio para o

    predador e prejuzo para apresa (predao). Por outro

    lado, a espcie presa podeser herbvora e necessitarde uma espcie de planta

    para se alimentar. Issomostra que os organismo,toda vez que se alimentamna natureza, estabelecemuma relao de interaobiolgica.

    Sabe tudo!Cerca de 5% dos

    mamferos e 8% dasespcies de aves do mundoso encontrados no Acre,e das 180 espcies devertebrados ameaadosde extino no Brasil, 16%ocorre nesse Estado.

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    Ameaas Biodiversidade

    O desmatamento, principalmente em reasde forestas densas, uma das grandes ameaas biodiversidade. Essa prtica se intensicou nadcada de 1970, com a expanso da ronteira

    agropecuria no Brasil, mas continua sendousada at hoje uma vez que anualmentese observam aes de desmatamento para aconverso de forestas nativas em sistemasprodutivos agrrios.

    O desmatamento raso altera rapidamenteas condies de reteno e circulao da gua,

    o que resulta em diminuio da gua disponvel

    e comprometimento no uncionamentodos ecossistemas aquticos. Alm disso,provoca aumento dos riscos de inundaes,prejuzos pesca comercial e a diminuioda biodiversidade. A retirada da coberturaforestal acarreta tambm maior evaporaoda gua do solo e o aumento de variaestrmicas na regio.

    Sabe tudo!

    Projees feitas por pesquisadores indicamque o desmatamento e as grandes mudanasambientais globais devem provocar, alm detemperaturas mais altas, o surgimento de extensasreas de savanas. A alterao da paisagem, aliada diminuio do nvel dos rios e da disponibilidadehdrica, pode provocar signicativa perda da

    biodiversidade local.

    Gloss

    Especiao o fenmque mostra a formou a multiplicao

    novas esp

    O Conceito de Biodiversidade

    Segundo a Comisso de Cincia e Tecnoldo Congresso dos Estados Unidos da Am(OTA Ofce of Technology AssessmenBiodiversidade abrange a variedadevariabilidade entre os organismos ve os complexos ecolgicos nos quais ocorrem. Diversidade pode ser decomo o nmero de itens diferente

    sua freqncia relativa. Por diversidbiolgica, esses itens so organizados

    muitos nveis, variando de ecossistecompletos a estruturas qumicas que so a b

    molecular da hereditariedade. Assim, o teengloba diferentes ecossistemas, espcies, ge sua abundncia relativa. Desta conceitua

    formalizada pela OTA em 1987, possdepreender que a biodiversidade no somennmero de espcies, como imagina a maioria

    pessoas. verdade que o nmero de espciesmuitos casos, representa uma idia vaga do a biodiversidade; mas, quando se trata deassunto, devem ser incorporados na anlise

    fenmenos populacionais e os de comunidadefato torna a biodiversidade algo to compquanto de difcil entendimento.

    De maneira resumida, podemos dizer qubiodiversidade signica a variedade da viDo ponto de vista social e poltico o concde biodiversidade est relacionado perdaambientes naturais e seus componentes, dad

    preocupao que permeia diversos segmentosociedade e de governos. o caso, por exemda preocupao (e da necessidade) em cuidarcomplexos sistemas naturais amaznicos e debiodiversidade que requerem ateno espe

    uma vez que o maior remanescente de oretropical chuvosa a Amaznia.

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    PARTE II

    Povos do Acre

    Estudos arqueolgicos e histricosindicam que o povoamentohumano do Acre comeou h 20

    mil e 10 mil anos com a chegada degrupos que saram da sia em direo Amrica Latina. Tais grupos seriam,portanto, os ancestrais mais antigosdos dierentes povos indgenas quehabitavam a regio muito antes da

    vinda dos primeiros exploradores, nosculo XIX.

    Esta herana, no entanto, somenteum o na teia de personagens queajudaram a orjar a identidade dopovo acreano. Porque aqui, dierentesculturas se misturaram ao longo dahistria e da ormao do estado: ndios,seringueiros, ribeirinhos, regates,sulistas. Atores que se relacionam comprocessos histricos tambm distintos,como os ciclos da borracha (nal dosculo XIX e incio do sculo XX) e aexpanso das rentes agropecurias (apartir dos anos 1970).

    Nas pginas seguintes voc vaiconhecer um pouco dessa histria e dosatores sociais que ajudaram a construira sociedade que somos hoje: um povo

    diverso, que mantm uma relaoancestral com a grande foresta.

    Senhores da MataOs povos da foresta e sua relao de respeito com as riquezas da Amaz

    Nossa Ter

    Os ndios so os moradores mais antigosdo Acre. Estudos mostram que no sculoXIX, cerca de 50 grupos dierentesviviam aqui. Esses povos cresceram e sedesenvolveram tendo a foresta como umelemento organizador da vida social, cultural eespiritual de suas populaes: cada um com suaprpria histria, mitos, crenas, modos de vida,tradies, religio e sabedoria; conhecimentosadquiridos ao longo de uma antiga e orterelao com a mata e seus mistrios.

    Mas esse equilbrio soreria granmudanas com a chegada do homem brancessa regio, a partir de 1860. A maior delas

    a violncia com que os exploradores trataos povos indgenas que aqui viviam: mudesapareceram, subjugados pela truculnciabranco e pelas doenas at ento desconheciAlguns, no entanto, resistiram, e hoje lucom a mesma ora e coragem do passado, sua sobrevivncia social e cultural.

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    Tempo das Malocas

    Muito antes da chegada do branco, aspopulaes indgenas dividiam-se em doisgrandes grupos lingusticos (Pano e Aruak)que ocupavam os altos rios Purus e Juru. Essadiviso territorial no signicava, no entanto,a inexistncia de outros idiomas como erao caso da lngua Katukina e Takana. Mas, demaneira geral, os alantes das lnguas Aruane Aruak (ambas do mesmo tronco lingustico)ocupavam o vale do Purus; enquanto gruposde lngua Pano se espalhavam pelo Juru.Este perodo reconhecido pelas populaesindgenas como o tempo das malocas, umareerncia vida sem o contato com o homembranco (cari, para os ndios). Vm da osmitos mais antigos dos dierentes povos:

    um tempo muito longe, que vem desdeo comeo do mundo. Tempo do nascimentodos povos indgenas; tempo das histrias deantigamente, dos mitos; da cultura tradicional(Norberto SalesTene Kaxinaw). As malocas,nesta poca, eram grandes e abrigavam vriasamlias que viviam daquilo que a foresta eos rios oereciam.

    Tempo das correrias

    Os primeiros exploradores chegaram aoAcre em 1860. Vindos de dierentes lugares,eles comearam a subir os rios, atrados pelocomrcio da borracha. A implantao degrandes seringais na regio signicou a invasodas terras tradicionalmente ocupadas pelaspopulaes indgenas. Para esses povos, erao incio de um longo perodo de perseguio,aprisionamento e morte: o tempo das correrias.Os ndios passaram a ser vistos como umgrande obstculo explorao da borracha.

    Inconormados com a presena deles na regio,os donos de seringais contratavam expediesarmadas (as correrias) para exterminar oshabitantes das aldeias, principalmente oshomens, e aprisionar mo de obra para osseringais. As correrias marcam um tempolongo (mais de 3 dcadas) de extrema violnciacontra os povos indgenas no Acre.

    Tempo do cativeiro

    Os ndios que escaparam s correrias comvida eram aprisionados e obrigados a trabalharnos seringais era o primeiro ciclo da borracha(1890 a 1913), a poca de ormao dosgrandes seringais da regio. Alguns gruposindgenas, para no desaparecerem, adotaramhbitos do homem branco: passaram a construircasas caboclas (modelo utilizado pelo branco),a depender de armas e erramentas dierentesdas suas, a alar o portugus e muitas vezeso espanhol (aprendido com os peruanos ebolivianos). A maioria dos patres tratava

    os ndios pior do que tratavam seringueirosnordestinos. Como no sabiam ler e entendiampouco o portugus, eles eram constantementeenganados, desde o peso da borracha at acompra de mercadoria nos barraces. Com isso,acumulavam enormes dividas nos seringais enunca tinham saldo, transormando-se emprisioneiros dos seringalistas.

    Tempo dos direitos

    Durante dcadas de cativeiro os ponativos do Acre soreram uma enordegradao e perda da sua cultura tradicioExpulsos de suas terras e vivendo entrebrancos, eles enrentaram o preconceitosociedade no-ndia e a alta de polticasassistncia sade e educao. Os primeindcios de mudanas comearam em 19com a instalao da Fundao Nacionalndio (Funai) no Acre e Sul da Amazniachegada da Funai na regio marcou o incioprocesso de demarcao das terras indgenae tambm a organizao de grupos indgenade setores da sociedade no-ndia que entrana luta pelos direitos que os povos natitm s suas terras, sua cultura e s stradies. Foi um perodo tenso, marcado

    muitas emboscadas e mortes encomendapelos patres a pistoleiros e jagunos. Mo sentimento de luta e liberdade oi morte: neste perodo, por exemplo, os ndseringueiros e ribeirinhos juntaram suas orpara lutar contra a explorao da foresta, cdestino est entrelaado s suas vidas. Ernascimento da Aliana dos Povos da Flores

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    Jaminawa Pertencem aotronco lingustico Pano e vivemespalhados por diversos valese terras indgenas do Acre.Conseguiram manter a lngua

    indgena e possuem uma ricatradio musical, com cantos

    pouco conhecidas pelos no-ndios. A economia baseadano cultivo de macaxeira ebanana, na caa e na pesca.Cada famlia faz seu prprioroado, mas a carne e o peixeso repartidos e distribudos

    para toda a comunidade.

    Apolima Arara Vivem naregio do alto Rio Juru. Falama lngua materna, o portugus eo espanhol. Fabricam diversas

    peas de artesanato, em especialredes. Sua base alimentar amacaxeira, com a qual fazem

    farinha e tambm caiuma bebida que acompanha as festase reunies da aldeia.

    Arara Pertence aotronco lingustico Pano e seautodenominam Shawadawa.Vivem em terras indgenaslocalizadas nos municpios de

    Marechal Thaumaturgo e PortoWalter. Produzem diversos tipos

    de artesanato e criam animais(para o consumo e comrcio).

    Ao nal dos anos 80, muitosArara migraram para cidades,sobretudo Cruzeiro do Sul, embusca de melhores condies devida. Hoje, com uma populao deaproximadamente 280 pessoas,eles procuram fortalecer suacultura e tradies.

    Ashaninka Falam lngua dotronco Aruak. Eles habitam desdeo sculo XIX a regio do Juru,

    entre os rios Amnea, Envira eBreu (local onde predominampovos de origem Pano). umdos povos mais organizados do

    Acre. Eles desenvolvem diversosprojetos, alguns reconhecidosdentro e fora do Brasil o casode alguns vdeos documentriose tambm do CD com msicastradicionais de sua cultura.

    Jaminawa Arara Percem famlia Pano e vivem

    Alto Juru, no municpio Marechal Thaumaturgo. economia baseada na acultura de subsistncia: home mulheres participam

    processo de produo, dividas tarefas. Atualmente, vium processo de retomada deorganizao scio-cultural.

    Apurin Embora no pos-suam mais terras no Estado do

    Acre, so os habitantes originaisdo mdio Rio Purus e Rio Acre eles ocupavam, no nal do sculo

    XIX, as terras que correspondem,hoje, cidade de Rio Branco.So falantes de lngua Aruake em sua cultura destaca-se o

    Xingan uma festa ritualsticaorganizada, normalmente, quan-do morre um cacique.

    Conhecendo as etniasAlm de grupos de ndios isolados (povos que no fazem contato com a

    sociedade no-ndia), vivem na regio do Acre 16 diferentes etnias. Cadaum desses grupos possui suas prprias tradies, hbitos, ritos religiosose idioma a maioria das lnguas de origem Pano ou Aruak. Eles vivem emdiferentes lugares da oresta acreana, mantendo com a mata a mesmarelao de respeito de seus antepassados.

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    Katukina Esto situadosno municpio de Tarauac. Aagricultura a base de suaeconomia: plantam macaxeira,batata-doce, mamo, taioba,abacaxi e outros produtos. Na

    caa, h animais que no comem: o caso da preguia (paraeles, um esprito), da mucurae do tamandu-bandeira,esses ltimos consideradosrepulsivos. Tomam a vacina dosapo (Kampo), falam a lnguamaterna e preservam intactosmuitos de seus conhecimentosmgicos tradicionais.

    Kaxinaw Na lnguaindgena, Huni Kui (quesignica gente verdadeira). o grupo indgena com a maior

    populao no Acre. Pertencemao tronco lingustico Pano eso famosos pela beleza de suatecelagem, feitas com o Ken desenhos geomtricos que,

    segundo uma lenda Kaxinaw,foram ensinados aos ndiospela cobra grande. Em suasaldeias, o trabalho dividido

    por sexo: h atividades que soresponsabilidade dos homens,outras apenas de mulheres ecrianas. Este povo tambmum dos maiores exemplos deorganizao indgena no Estado

    Madija So tambmconhecidos como Kulina.

    Pertencem famlia lingusticaAruak e suas terras estolocalizadas nas bacias dos rios

    Juru e Purus. Esto entre osgrupos que mais preservamsua integridade cultural: oshomens e mulheres quase nose expressam em portuguse ainda praticam seus ritos edanas como antigamente.

    Nawa Habitam a margdireita do Rio Moa, no

    Juru. Fazem parte dos poressurgidos, que nos ltianos voltaram a se identicomo indgenas. Nas fescostumam danar com vetpicas saiotes, chap

    plumas. Tambm fazem usopinturas corporais com urue jenipapo.

    Kaxarari Apesar darelao histrica com o Acre,

    sua reserva est localizada,atualmente, em terras doEstado de Rondnia. OsKaxarari pertencem ao troncolingstico Pano. Possuem

    forte organizao familiar eproduzem peas de artesanatocomo redes de algodo, cestosde cip titica e braceletes com

    penas de carcar e tucano.

    Manchineri No passado,este povo se chamava Yine(segundo contam as lideranas)e no sculo XIX dominavamuma vasta regio que ia do RioPurus s cabeceiras dos rios

    Acre e Iaco. Hoje, eles vivem na

    regio do alto Rio Iaco, entre osmunicpios de Sena Madureirae Assis Brasil. So falantes delngua Aruak e praticam a caa,a pesca e a agricultura. Em suasaldeias, os mais velhos exercema funo de conselheiros. Elestambm so responsveis peloensinamento, aos mais jovens,das tradies de seu povo.

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    Shanenawa Este nome,na lngua indgena, signicaPovo do Pssaro Azul. Elesvivem no municpio de Feij,na comunidade Morada Nova. um povo lutador, que temconscincia de sua identidade,saberes e tradies. Elescultivam diversos produtos ecriam pequenos animais.

    Poyanawa Vivem no Valedo Rio Juru, no municpio deMncio Lima. Sua economiatem como base a agriculturae o extrativismo. Atualmente,a comunidade divididaem famlias nucleares, comcasamentos monogmicos (no

    passado, os homens podiam termais de uma mulher).

    Nukini Vivem em terrasindgenas localizadas no

    municpio de Mncio Lima,na Serra do Moa. Praticam aagricultura de subsistnciae criam pequenos animais.

    A violncia do processo dedominao fez com queabandonassem muitas de suastradies a gura do paj,

    por exemplo, no existe maisentre eles.

    Yawanawa O Povodo Queixada pertence

    famlia lingustica Pano ehabita o Rio Gregrio, nomunicpio de Tarauac. Suas

    festas possuem forte carter

    espiritual e comum entre elesa pajelana (rituais de curaou orientao comandados

    pela liderana da aldeia).Possuem forte organizaosocial e desenvolvem projetosimportantes: desde a gravaode vdeos e CDs at o lanamentode uma grife com suas pinturascorporais.

    Isolados Os isoladosso grupos indgenas que semantm afastados do contatocom o branco e tambm comoutros ndios. Pelo menosquatro grupos distintos deisolados vivem atualmenteno Acre. Trs deles possuemmalocas e roados em terrasindgenas na regio do Envira.

    O quarto grupo formadopelos Mashco Piro, um povonmade que em determinadaspocas do ano atravessa a

    fronteira internacional doPeru com o Brasil e montaacampamentos temporrios nolado brasileiro. Eles j foramvistos nas cabeceiras dos riosIaco e Envira

    Sabe tudo!

    Os Ashaninka,Kaxinaw e Machinerdesenvolvem projetosaudiovisuais coma colaborao daONG Vdeo Nas

    Aldeias e o programaRevelando Brasis,da Secretaria do

    Audiovisual (Ministri

    da Cultura). Algunsvdeos ganharam

    prmios nacionaise internacionais:A gente luta, mascome fruta, criado

    por Valdete e IsaacPinhanta, da etnia

    Ashaninka, ganhou oPrmio Panamaznia2007 de Melhor

    produo audiovisualda Action Aid Amrica

    Sabe tudo!

    O Acre possui,atualmente, 34 terraindgenas reconhecid

    pelo governo federalElas somam mais de 2milhes de hectares,

    equivalente a 14% doterritrio acreano. Asterras esto situadasem 11 municpios,totalizando mais de160 aldeias ondevive uma populaoestimada em 15.130indgenas.

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    Alm dos ndios, os nordestinos que vierampara o Acre poca dos grandes seringaisormaram, ao longo da histria, outrosdois grandes e signicativos grupos de moradoresda foresta: os seringueiros e ribeirinhos.

    Os primeiros nordestinos chegaram aoAcre no nal do sculo XIX, no primeiro cicloda borracha. Fugidos da seca no Nordeste,milhares de homens alimentavam o sonho de

    trabalhar na foresta, juntar dinheiro e voltarpara a terra natal. Mas no oi o que aconteceupara esses homens nem tampouco para osegundo grande grupo que viria trabalhar noAcre durante a 2 Guerra Mundial: os soldadosda borracha. Explorados e enganados pelospatres (proprietrios dos grandes seringais),os seringueiros ormavam, junto com os ndioscapturados, mo-de-obra escrava da empresaseringalista: o ltex extrado nunca erasuciente para saldar suas dvidas no barraco lugar onde compravam pilhas, plvora,querosene, soro.

    A dura vida no seringal ez esmorecer, aolongo dos anos,

    os sonhos dopassado. sombra das

    r vo r e s ,eles oram

    Aos ps das seringueirasOs seringueiros e a luta pela vida na floresta constituindo amlia (alguns trouxeram

    suas de longe) e aprendendo com a matasegredos das plantas, da caa e dos riosforesta, as estradas de seringa e a coletacastanha eram agora peas undamentais suas vidas. E nem a posterior alncia seringais mudaria isso.

    O problema viria a partir da dcada de quando o Governo Federal passou a incenta implantao de azendas para a criaogado no Acre: a Amaznia tinha que creseconomicamente. Os seringais acreanos, j

    processo de alncia desde o m da 2 GueMundial, comearam a ser vendidos e, celes, grandes reas de foresta. Os compradovinham das regies Sul e Sudeste do BraNesta poca, muitos seringueiros, ribeirinhoindgenas oram expulsos de orma violentasuas colocaes.

    As primeiras maniestaes de resistncontra os azendeiros e a derrubada da fore

    oram os empates: dezenas de homenmulheres ormavam (de mos dad

    uma corrente humana p

    impedir desmatamento. Ou

    vezes, os seringueiros cercavam o grupotrabalhadores encarregados do desmatamee os oravam a suspender a derrubada. E

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    perodo viu surgirem importantes lideranas domovimento em avor da vida na foresta, entreas quais Wilson Pinheiro e Chico Mendes.

    Em 1975 os seringueiros undaram oSindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasilia,do qual Wilson Pinheiro oi presidente e ChicoMendes, secretrio geral. A luta comeou aesquentar e as ameaas de morte s lideranasviraram rotina e acabaram se eetivando primeiro com o assassinado de Wilson Pinheiro,

    em 1980; e mais tarde com o de Chico Mendes.Mas no havia como voltar atrs: os povos daforesta, cada vez mais organizados, seguiamlutando pos seus direitos e contra o avano dodesmatamento.

    Em 1981 Chico Mendes assumiu a direodo Sindicato de Xapuri do qual oi presidente

    Chico Mendese a luta dos seringueiros

    A partir da repercusso dos vrios empaliderados por Chico Mendes, em 1987, membrda Organizao das Naes Unidas (ONU) foram

    Xapuri para ver de perto a devastao da orese a expulso de seringueiros, provocadas p

    projetos nanciados por bancos internacionaMais tarde, em viagem aos Estados UnidoChico Mendes conrmou as denncias ao Sena

    norte-americano e direo do BID. Esse baninternacional suspendeu seus nanciamentosnotcia foi como uma bomba para fazendeire polticos do Acre que acusaram o ld

    seringueiro de prejudicar o progresso Estado. Mas Chico no se intimidou. Sua lupelo respeito ao trabalho e vida na oresfoi reconhecida internacionalmente, o qlhe rendeu prmios dentro e fora do BrasChico dava palestras, seminrios e participade congressos falando sobre os seringueirodenunciando a ao predatria contra a ores

    e a violncia dos fazendeiros da regio contos trabalhadores rurais. Seu maior sonho eracriao das reservas extrativistas, coisa que ocorreu aps sua morte: Chico foi assassinaem 22 de dezembro de 1988, em Xapuri.

    Sabe tudo!

    Nas Reservas Extrativistas (RESEX) no ttulos individuais de propriedade. Elas foracriadas respeitando a cultura e as formtradicionais de organizao e de trabaldos seringueiros, que continuam a realiza extrao de produtos de valor comerc

    (borracha, castanha), bem como a caa a pesca no predatrias, juntamente copequenos roados de subsistncia. As RESforam criadas tambm em outras partes Brasil, beneciando milhares de seringueiro

    castanheiros, ribeirinhos, pescadores outras populaes que praticam atividadtradicionais.

    at o momento de sua morte. Nas eleiesde novembro de 1982, ele se candidatou adeputado estadual pelo PT, mas no conseguiuse eleger. Trs anos mais tarde, Chico juntou osseringueiros e conseguiu organizar, em Braslia,o primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros

    que deu origem ao Conselho Nacional dosSeringueiros (CNS). A partir do evento, a lutados seringueiros comeou a ganhar repercussonacional e internacional, principalmente coma proposta da Unio dos Povos da Floresta,uma articulao com os povos indgenas paraunir os interesses de ndios e seringueirosem deesa da foresta amaznica. A proposta

    inclua a criao de uma reserva forestal paraos seringueiros, a Reserva Extrativista.

    O apoio de organizaes nacionais einternacionais ajudou a dar visibilidade lutados seringueiros e dos grupos indgenas para

    manter a foresta em p e regularizar a situaoundiria das populaes remanescentesdo ciclo da borracha. Isso colaborou para oortalecimento do movimento e a posteriorcriao dos Projetos de AssentamentoExtrativistas (1989) e das ReservasExtrativistas (1990).

    Chico Mendes nasceu em 15 de dezembrode 1944, no seringal Porto Rico, em

    Xapuri. Filho de Francisco Alves Mendese Iraci Lopes Mendes, ele aprendeu cedoa lidar com as diculdades da vida de umseringueiro: aos 11 anos j acompanhavao pai no corte da seringa, atividade queexerceria por mais duas dcadas.

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    S abe-se que a chegada dos grandes fazendeirosa partir da dcada de 70 e a converso deextensas reas de oresta em pasto gerouintensos conitos com as populaes tradicionais da

    regio ndios, seringueiros, ribeirinhos. Isso acaboutambm dando origem ao uso do termo paulista

    para se referir aos grandes empresrios sulistas,fazendeiros que derrubaram a oresta e expulsaram

    centenas de famlias de seringueiros das terras que

    antes ocupavam.

    Mas esses empresrios representavam um pequenogrupo em relao s diversas famlias, vindas do Sule Sudeste do Pas, que chegaram ao Acre nas dcadasde 70 e 80 a maioria, na verdade, era formada porcolonos.

    As primeiras 472 famlias (todas sem terras epobres) foram trazidas pela colonizao ocial

    Os paulistas ricos e os pobres

    A t a primeira dcada do sculo 20desembarcaram nas margens dos riosacreanos, alm dos nordestinos, outrosbrasileiros e estrangeiros que vinham com o sonhode enriquecer na regio: srio-libaneses, espanhis,

    portugueses, italianos, judeus.

    Desses, pelo menos dois grupos foram importantesna formao do povo acreano: os srios e oslibaneses. Eles chegaram como mascates (vendedoresambulantes) e aqui caram conhecidos pelo nomede regato, pois faziam o comrcio em barcos quenavegavam pelos rios da regio. Os regates subiamos rios, os parans e os igaraps, negociando suasmercadorias em troca de borracha, castanha, courode caa e outros produtos de valor comercial. Como tempo, e tambm as mudanas na economia dos

    Os seringalistas no gostavam da presena dosregates porque os seringueiros recorriam a eles

    para vender sua produo de borracha geralmenpara conseguir melhor preo do que o oferecido ppatres e escapar das dvidas cada vez maiores co barraco. Por isso, era comum os barcos serem

    proibidos de encostar nos seringais.

    Sabe tudo!

    Os ribeirinhos so populaes que foramse estabelecendo nas margens dos riodo Acre. So comunidades organizadas

    partir de unidade produtivas familiares quse utilizam dos rios como principal meide transporte. Os produtores ribeirinhodesenvolvem uma economia de subsistncibastante diversicada, normalmente emreas de vrzea, dispensando o uso dtcnicas que agridem o meio ambiente comqueima e desmatamento da oresta. Alm dcultivo de frutas, hortalias, razes e groseles criam pequenos animais, como sunos

    aves. Sua economia complementada pelcaa, pesca e pelo extrativismo vegetal.

    no nal da dcada de 70 e assentadas em lotesdos Projetos de Assentamentos Dirigidos (PADs)Boa Esperana e Peixoto. Enquanto aguardavamos trmites burocrticos junto ao Incra (InstitutoNacional de Colonizao e Reforma Agrria), elassobreviviam sob condies precrias, se alojando emtendas de lona cedidas pelo Exrcito brasileiro. Eessa situao era apenas o comeo das diculdadesque os migrantes sulistas enfrentariam nos

    assentamentos com a ausncia de aes nas reasde sade, educao, habitao e produo.

    Mesmo assim, o projeto do governo federalcontinuou trazendo novas famlias de colonos parao Acre: No incio da dcada de 80 foram criados osPADs Humait, Quixad e Santa Luzia; e depoisoutros oitos projetos de assentamentos situadosentre os vales dos rios Juru e Acre.

    seringais, os imigrantes rabes se estabeleceramdiversas cidades acreanas.

    Eles abriram lojas, muitas concentradas uma mesma rua, para a venda de armarintecidos e aviamentos em geral. E logo se tornaralm de varejistas, atacadistas e fornecedores

    outros imigrantes que, recm chegados regnecessitavam de apoio para se estabelecer.

    Com o tempo e a prosperidade proporcionada pcomrcio da borracha os rabes do Acre comeaa participar da maonaria, dos clubes polticos e

    fundao de clubes esportivos. As famlias de se libaneses foram crescendo cada vez mais, ncarazes em solo amaznico e ajudando na forma

    povo acreano.

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    A imigrao srio-libanesa

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    As populaes tradicionais do Acre nunca

    duvidaram de que a foresta precisaser cuidada, assim como suas riquezas.Foram por exemplo os ndios e seringueiros,os primeiros a reivindicar que o estado zesseseu Zoneamento Ecolgico-Econmico (ZEE),uma maneira de mapear as potencialidades doAcre e tambm proteger suas reas de grandebiodiversidade, assim como suas populaes.

    Foram anos ouvindo alar sobre ZEE, atque em 1999, no incio do primeiro mandato doento governador Jorge Viana, oi assinado odecreto n 503 instituindo o Programa Estadual

    de Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acre.Mas este era apenas o comeo de um longopercurso, um trabalho que oi dividido em duasases e deu sociedade acreana e ao governoum conjunto de inormaes sobre os recursosnaturais, as ameaas biodiversidade, asriquezas, as restries de uso dos recursos e aspotencialidades do estado e sua gente.

    O ZEE na primeira aseA primeira ase do ZEE comeou em abril

    de 1999 e oi at 2000. Neste perodo oramproduzidos 48 mapas temticos (na escala de1 para 1 milho) que davam um diagnsticogeral do Acre desde seus recursos naturaisat a realidade scio-econmica da populao,incluindo os povos indgenas. As inormaesajudaram o governo a ortalecer sua polticaambiental, servindo como subsdio para a

    elaborao de programas e projetos estratgcomo o Programa de Desenvolvime

    Sustentvel do Acre, nanciado pelo BaInteramericano de Desenvolvimento (BIDPrograma de Apoio s Populaes IndgenaAcre e o Projeto de Gesto Ambiental Integr(PGAI/SPRN), nanciado pela CooperaAlem /KFW. Os dados levantados tampropiciaram a regularizao de algumas TeIndgenas, alm da criao de importantes

    A importncia do Zoneamento Ecolgico-Econmicopara a definio do uso e ocupao das terras acreanas

    Cuidar do que nosso

    O que escala?A escala usada na Cartograa cinc

    e tcnica de elaborar mapas e permite reduo das dimenses naturais (tamanho rea

    de um espao geogrco. Essa relao matemtiestabelecida pela escala obedece a um valor previamen

    estabelecido. No caso do ZEE, por exemplo, os mapproduzidos na primeira fase obedeceram a uma escala 1 para 1 milho ou seja, os espaos foram reduzidos

    milho de vezes em relao ao seu tamanho real; enquanto nsegunda fase a escala foi menor (de 1 para 250 mil) e permitiu que

    espaos representados fossem reduzidos apenas 250 mil vezes em relas dimenses reais. Nos mapas isso signica tornar mais prxima da realidad

    captando mais detalhes, a representao do espao geogrco.

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    Baixo Acre

    Regionais do Acre

    Alto Acre Tarauac/Envira

    Purus Juru

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    de proteono estado as Unidadesde Conservao, como as l o r e s t a spblicas estaduais docomplexo do rio Gregrio,reservas extrativistas eo Parque Estadual doChandless.

    A segunda aseNa segunda ase o ZEE trabalhou com uma

    escala geogrca menor (de 1 para 250 mil),mapeando o estado de maneira ainda maisdetalhada. Os estudos permitiram denir reasprioritrias para o uso sustentvel dos recursosnaturais, a partir do diagnstico e anlise daspotencialidades e restries em cada umadestas reas. Alm do olhar mais aproundado,a segunda ase do programa permitiu aparticipao da sociedade no processo dediscusso sobre o uso do territrio: oramrealizadas dezenas de reunies em todos osmunicpios acreanos, incorporando as sugestese comentrios e construindo o consenso entre osdierentes setores.

    O principal resultado do ZEE segunda ase oio Mapa de Gesto Territorial do Estado do Acre.Ele oi elaborado a partir do cruzamento dos

    estudos dos Recursos Naturais, da Socioeconomiae de aspectos Culturais e Polticos do Acre, tendoum carter de atualizao e complementaoda primeira ase.

    Saiba quais as zonas do estadoe conhea suas principais

    caractersticas:

    Zona 1 - Consolidao de sistemas deproduo sustentveis

    So reas de infuncia direta das rodoviasBR-364 e BR-317 tem a ocupao maisantiga do estado, com atividades agropecurias

    O Parque Estadual do Chandless (UnidadConservao de Proteo Integral), as ReserExtrativistas Alto Tarauac, Cazumb-IracemRiozinho da Liberdade; e as Florestas Estad

    Mogno, Rio Gregrio e Rio Liberdforam criadas graas

    informaes levantadaprimeira fase do Z

    Sabe tudo!

    Na primeira fase do ZEE foramproduzidos um vdeo e um resum

    educativo: o Guia para uso da terra acreancom sabedoria. A publicao bem ilustrade rene as informaes mais importantes, duma maneira simples e gostosa de ler. O guiaassim como todas as informaes do ZEE, estdisponvel na internet (www. ac.gov.br).

    Na segunda fase do ZEE, o mapeamentdas terras acreanas incluiu a nova denio dLinha Cunha Gomes, na divisa com o Estaddo Amazonas, agregando mais de 1 milhde hectares ao territrio acreano. Os limitemunicipais denidos pela Assemblia Legislativem 2003 tambm foram considerados.

    Os produtos da segunda fase do ZEE podemser consultados no site www. ac.gov.br. L vocvai encontrar o Mapa de Gesto Territoriado Estado do Acre, os Mapas Temtico

    (Diviso Poltica Administrativa, GeologiaGeomorfologia, Solos, Aptido AgroorestaVegetao, Potencial Florestal MadeireiroPotencial Florestal no Madeireiro, Uso dTerra, Vulnerabilidade Ambiental, EstruturFundiria, Densidade de Pessoas e LocalidadesPatrimnio Histrico e Natural e reaNaturais Protegidas) e o Documento Sntesdo resultado dos estudos.

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    Unidades de Conservao

    Terras Indgenas

    1. Parque Nacional Serra do Divisor2. Reserva Extrativista Alto Juru3. Reserva Extrativista Alto Tarauac4. Reserva Extrativista Riozinho da Liberdade5. Floresta Estadual Rio Liberdade6. Floresta Estadual Mogno7. Floresta Estadual Rio Gregrio8. Floresta Nacional Sta. Rosa do Purus

    9. Parque Estadual Chandles10. Reserva Extrativista Cazumb-Iracema11. Floresta Nacional Macau12. Floresta Nacional So Francisco13. Estao Ecolgica Rio Acre14. Reserva Extrativista Chico Mendes15. rea de Relevante Int. Ecol.Seringal Nova Esperana16. Floresta Estadual Antimary17. rea de Proteo Ambiental So Francisco18. rea de Proteo Ambiental Amap19. rea de Proteo Ambiental Irineu Serra

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    e madeireiras. Tambm esto associadass novas rentes de expanso e converso deforesta para o desenvolvimento de atividadesagropecurias. Nesta Zona se encontramreas ocupadas pela agricultura amiliar emprojetos de assentamento; pequenos produtores;mdios e grandes pecuaristas e reas forestaisde grandes seringais. Parte das terras destazona no tem situao undiria denida. Suasunidades territoriais incluem reas de ReservaLegal e reas de Preservao Permanente(APPs). Concentra a maior proporo depropriedades com passivo forestal.

    Zona 2 - Uso sustentvel dos recursosnaturais e proteo ambientalAqui esto concentradas reas protegidas

    do Acre. So Unidades de Conservao deProteo Integral (Parque Nacional, ParqueEstadual, Reserva Biolgica, Estao Ecolgica,Monumento Natural, Regio de Vida Silvestre),de Uso Sustentvel como Floresta Nacional,Floresta Estadual, Reserva Extrativista, reade Proteo Ambiental, rea de RelevanteInteresse Ecolgico, Reserva de Fauna,Reserva de Desenvolvimento Sustentvel,Reserva Particular do Patrimnio Natural eTerras Indgenas. Tambm engloba os Projetosde Assentamento Dierenciados, voltados paraa populao extrativista e o uso sustentvel dosrecursos naturais. Isso signica que a Zona 2comporta, alm das reas de proteo ambiental,projetos de Assentamento Extrativista (PAE),de Desenvolvimento Sustentvel (PDS) e deAssentamento Florestal (PAF).

    Zona 3 - reas prioritriaspara o ordenamento territorial

    Nesta Zona se encontram lugares ocupadospor populaes tradicionais, como seringueiros,ndios e ribeirinhos. So reas apontadas paraa criao de novas unidades de conservao,terras indgenas e projetos de assentamento

    dierenciados por demandas de populaestradicionais e/ou recomendao dos estudostcnicos do ZEE-Acre. Inclui ainda as terras j

    estabelecidas de produo ribeirinha ao longodos rios do territrio acreano.

    Zona 4 - Cidades forestaisSo as reas municipais caracterizadas por

    espaos urbanos circundados por dierentespaisagens rurais, com predominncia deforestas.

    Sabe tudo!

    O Zoneamento Ecolgico-Econmico do Acrevirou Lei. Com a nalizao da segunda fase do

    ZEE, em dezembro de 2006, os produtos foramencaminhados para a Assemblia Legislativaque aprovou o documento. E no dia 5 de junhde 2007, Dia Mundial do Meio Ambiente, o

    governador Binho Marques sancionou a Lei n1904, que instituiu o Zoneamento EcolgicoEconmico do Acre. Ela foi publicada no DiriOcial do Estado (n 9.571) em 15 de junh

    de 2007.

    Nossa Te

    Zona 1 :atividades agropecurias e madeireias

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    Nossa Te

    O que o ZoneamentoEcolgico Econmico?

    um conjunto de estudos sobre

    o meio ambiente, os recursosnaturais e as relaes entre asociedade e a natureza. Para o

    Acre, um instrumento estratgicode planejamento regional e gestoterritorial.

    Para que serve?Todas as informaes levantadas

    pelo ZEE servem como base para

    O mapade Gesto

    O principal resul-tado da segunda fasedo ZEE o Mapa de GestoTerritorial do Estado do Acre.O documento foi lanado emdezembro de 2006 e funciona

    como um guia de ocupaoe uso de reas urbanas,assentamentos rurais,

    propriedades rurais, unidades deconservao e terras indgenas. O mapa divideo estado em quatro grandes zonas, apresentandoas potencialidades e vulnerabilidades de cadaregio do estado. Tambm fornece subsdios paraa tomada de decises sobre espaos territoriaisainda sem destinao especca, priorizandoreas em situao de maior risco em termosde conitos sociais sobre o acesso aos recursosnaturais e problemas de degradao ambiental.O Acre o primeiro estado brasileiro a ter um

    Mapa de Gesto Territorial.

    negociaes democrticas entreos rgos governamentais, osetor privado e a sociedade civil

    na hora de denir o conjunto depolticas pblicas voltadas parao desenvolvimento sustentvelno estado, assim como o uso daterra e dos recursos naturais, e aocupao territorial.

    Quem faz?O ZEE foi desenvolvido por

    dezenas de tcnicos e prossionais

    da Secretaria de Estado Meio Ambiente e RecuNaturais (Sema), Instituto Meio Ambiente do Acre (Ime Fundao de Tecnologia Estado do Acre (Funtac). Coainda com o apoio de diveinstituies como o IBIBAMA, Embrapa, UniversidFederais de Viosa e do AINCRA, Secretarias Estadu

    Prefeituras e OrganizaNo Governamentais. estudos foram nanciados p

    Cooperao Alem (Banco e GTZ), pelo subprogramaPoltica de Recursos NaturPPG7 (Ministrio do M

    Ambiente) e pelo ProgramaDesenvolvimento Sustentvel

    Acre (PDSA).

    Zona 3 :reas Prioritrias paraOrdenamento Territorial

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    Nossa TerPara saber mais

    ASTRONOMIAhttp://www.astronomia2009.org.brhttp://www.cdcc.usp.br/cda/index.html

    ORIGEM DA VIDA NA TERRAhttp://www.observatorio.umg.br/pas37.htm

    DERIVA CONTINENTAL E FORMAO DO CONTINENTE SUL-AMERICANOhttp://www.brasilescola.comhttp://www.inoescola.com

    MEGAFAUNAhttp://www.sobiologia.com.br

    GEOGLIFOSwww.geoglios.com.br

    BIODIVERSIDADE AMAZNICAhttp://www.museu-goeldi.brhttp://www.comciencia.brhttp://www.mma.gov.brhttp://www.ww.org.br

    Conhea tambm:

    Observatrio Nacionalhttp://www.on.br/

    Academia Brasileira de Cinciashttp://www.abc.org.br

    Arqueologia Brasileirahttp://www.itaucultural.org.br/arqueologia/

    Centro de Divulgao Cientca e Cultural da Universidade de So Paulo (USP)http://www.cdcc.usp.br/

    Laboratrio Nacional de Astrosicahttp://www.lna.br

    POVOS INDGENAS NO BRASILhttp://pib.socioambiental.org/

    APIWTXA - ASSOCIAO ASHANINKA DO RIO AMONEAhttp://apiwtxa.blogspot.com/

    FUNDAO NACIONAL DO NDIO FUNAIhttp://www.unai.gov.br/

    VDEO NAS ALDEIAS

    http://www.videonasaldeias.org.br

    SERINGUEIROS, RIBEIRINHOS, REGATESBiblioteca da Florestawww.bibliotecadaloresta.ac.gov.br

    CONSELHO NACIONAL DOS SERINGUEIROShttp://www.extrativismo.org.br/

    ZEE-ACREwww. ac.gov.br

    Conhea tambm:

    Amazniahttp://www.amazonia.org.br/

    Ambiente Brasilhttp://www.ambientebrasil.com.br

    ndios On Linehttp://www.indiosonline.org.br/

    Histrianethttp://www.historianet.com.br

    Cincia Povos do Ac

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