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RÁDIO MACAU AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEGUNDA-FEIRA 26 DE MAIO DE 2014 ANO XIII Nº 3096 hojemacau SEM GARANTIAS MANIFESTAÇÃO CONTRA REGIME LEVA MILHARES À RUA As ruas encheram-se como há muito não se via por estas bandas, num protesto contra o regime que dá garantias às elites. TRABALHO Macau sob pressão internacional POLÍTICA PÁGINA 5 VINCENT PIKET O valor das PMEs europeias ELEIÇÕES Macau manda 192 votos para a Europa PUB ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3 POLÍTICA PÁGINA 4 O Chefe do Gabinete da UE para Macau e Hong Kong fala da cooperação da RAEM com a Europa e do comprometimento europeu cada vez maior com a Ásia e a China. RELATÓRIO - ITUC põe a China, Taiwan e Hong Kong como dos piores sítios do mundo para trabalhar. A Macau é pedido uma lei sindical e maior liberdade de associação. PÁGINA 5

Hoje Macau 26 MAI 2014 #3096

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Hoje Macau N.º3096 de 26 de Maio de 2014

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Page 1: Hoje Macau 26 MAI 2014 #3096

RÁDI

O M

ACAU

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E G U N DA - F E I R A 2 6 D E M A I O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 9 6

hojemacau

SEM GARANTIASMANIFESTAÇÃO CONTRA REGIME LEVA MILHARES À RUA

As ruas encheram-se como há muito não se via por estas bandas, num protesto contra o regime que dá garantias às elites.

TRABALHOMacau sob pressão internacional

POLÍTICA PÁGINA 5

VINCENT PIKETO valor das PMEs europeias

ELEIÇÕESMacau manda192 votospara a Europa

PUB

ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3 POLÍTICA PÁGINA 4

O Chefe do Gabinete da UE para Macau e Hong Kong fala da cooperaçãoda RAEM com a Europa e do comprometimento europeu cada vez maiorcom a Ásia e a China.

RELATÓRIO - ITUC põe a China, Taiwan e Hong Kongcomo dos piores sítios do mundo para trabalhar. A Macau é pedido uma lei sindical e maior liberdade de associação.

PÁGINA 5

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2 hoje macau segunda-feira 26.5.2014ENTREVISTA

JOANA [email protected]

Há quase dois anos assumiu a direcção do Gabinete da União Europeia (UE) para Macau e Hong Kong. Qual o balanço que faz?Tem sido uma temporada bastante positiva. Macau e Hong Kong são lugares muito bons para trabalhar, cada um, claro, com as suas dife-rentes características... diferente economia, diferente tamanho. Tem sido uma experiência muito boa, que tem sido muito agradável. Mas, é um trabalho que podemos dizer que nunca acaba, porque tenho visto cada vez mais oportunida-des para levar ainda mais longe as relações entre Macau e a UE e Hong Kong e a UE, em muitas áreas diferentes. Há bastante interesse na cooperação com a UE, porque Macau e os países europeus sen-tem-se próximos, têm uma relação especial não só devido à história, mas à forma como se estrutura a sociedade. Eu pessoalmente estou desejoso de trabalhar cada vez mais nestas relações. A crise financeira na UE não está a afectar a relação com Macau, em termos de negócios. Correcto?De facto, não está. Nos últimos anos, mesmo com a economia do Euro a cair, tivemos uma fantástica performance ao nível das trocas comerciais com Macau, espe-cialmente por causa do tremendo ‘boom’ na economia de Macau. Com a indústria do jogo e do tu-rismo a crescerem tão rápido, tem

A necessidade de tradutores bilingues não é exclusiva de Macau, mas também da UE. Quem o diz é Vincent Piket, que assegura que a cooperação é o ponto forte entre o território e a Europa. Esta passa não só por trocas comerciais, como de realização de eventos - como é o caso do Festival de Curtas Metragens que arranca já este ano. O Chefe do Gabinete da UE para Macau e Hong Kong diz acreditar no valor do sufrágio universal e quer ver Macau a caminhar para esse sistema, mas afirma que esse é um assunto da China

VINCENT PIKET, DIRECTOR DO GABINETE DA UNIÃO EUROPEIA PARA MACAU E HONG KONG

“PMEs europeias podem ajudar a diversificar economia de Macau”

havido mais turismo, mais dinhei-ro em Macau e vimos as nossas trocas comerciais no ano passado a subirem 28%, a nível global. E isso não é único de Macau. Tam-bém em Hong Kong se tem visto este crescimento. No ano passado, conseguimos um novo recorde, foi de 66 mil milhões de euros, mais 4% do que no ano anterior. O que é que isso significa? Que temos uma muito boa cooperação na área das trocas comerciais com Macau, aberta, com muito poucos problemas... É possível comparar essa coo-peração entre Macau e a UE e a de Hong Kong com a UE? É possível dizer que uma é melhor do que a outra?Bem, as trocas com Hong Kong são maiores, mas isso também é porque Hong Kong é um lugar muito maior que Macau e fun-ciona como um ‘hub’ de trocas comerciais e investimento para toda a região, o que Macau não tem. Mas, se olharmos para os números, 600 mil pessoas a viver cá, neste pequeno território de 30 quilómetros quadrados, fazemos muito e, claramente, as pessoas gostam dos produtos europeus. E esses produtos têm de ser compe-titivos, se não as pessoas não os vão comprar. Em Novembro de 2013, Durão Barroso disse ser necessário desenvolver ainda mais as re-lações entre a UE e Macau. Ele apelidou as actuais relações de “muito produtivas” , gostaria de saber em que sentido e quais são

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3 entrevistahoje macau segunda-feira 26.5.2014

VINCENT PIKET, DIRECTOR DO GABINETE DA UNIÃO EUROPEIA PARA MACAU E HONG KONG

“PMEs europeias podem ajudar a diversificar economia de Macau”as futuras áreas de cooperação?Primeiro, a que já falámos, ao nível das trocas comerciais, onde faze-mos muito juntos. Depois, temos visto nos últimos anos uma grande expansão na área da cooperação além das trocas comerciais, com Macau. A cooperação legal, onde a UE partilha com Macau o ‘know--how’ em tópicos e áreas legais que Macau quer desenvolver - novas iniciativas, novas propostas de lei. Macau procura por inspiração e ideias e a UE fica satisfeita em fornecer informações a Macau. De-pois, na área do treino de intérprete/tradutor, uma vez que Macau, ao ter um sistema bilingue, precisa de profissionais bem treinados para a área da Administração, da Justiça... e isso é um pedido de Macau, mas é também uma necessidade do nosso lado, da UE, porque como Macau, também nós precisamos de tradutores de português e chinês em Bruxelas.

O último relatório da UE men-cionava que, este ano, haveria cooperação na área legal, da protecção ambiental, académica e cultural. Como é que funciona exactamente esta cooperação? Ao nível de trocas nestas áreas ou de aprendizagem um com o outro?Temos algumas plataformas para que isso aconteça. Uma delas é a reunião anual do Comité sobre o Acordo Bilateral de Cooperação entre a UE e Macau e outra é a cooperação através de actividades de intercâmbio, quer seja na forma de seminários, quer seja na forma de visitas bilaterais ou troca de documentos. É uma forma mais pragmática, não tão espectacular – não tem destaque nas manchetes de jornais -, mas é bastante útil para as pessoas em termos da realidade do trabalho diário. E, depois, mais ao nível da educação e da cultura, vamos ter bastantes eventos e intercâmbios: por exemplo, espe-ramos ter um Festival de Curtas Metragens no Outono deste ano e outro Festival de Cinema, no pró-ximo ano. Tivemos, recentemente, um evento de culinária europeia, que vai ser provavelmente feito novamente no próximo ano. Na área da educação, fazemos inter-câmbio de estudantes, através do programa global de Erasmus, e intercâmbio de professores, por meio ano, um ano. Também temos um programa UE – Macau bastante dinâmico, que organiza diversos seminários para diferentes audi-ências, estudantes, professores,

mas também a sociedade no geral, estudos europeus, etc. Ao mesmo tempo, organizamos ainda visitas de estudantes às instalações da UE, em Bruxelas, algo muito prático ao nível da educação. A ideia é atrair mais pessoas à UE e à sua cultura?A ideia é mais apresentar um pouco da diversidade cultural europeia às pessoas de Macau e à sociedade, aos turistas que cá vêm, por exemplo, que não conseguem tão facilmente visitar a Europa e, assim, podem sentir um pouquinho dela por cá. Também no último relatório foi dito que a democracia de Macau deu um passo positivo, ainda que

modesto, e que a UE concordava com a necessidade de haver um calendário para a implementa-ção do sufrágio universal. Qual é a sua opinião sobre isto, tendo em conta a sua experiência em Macau considera que as pessoas estão prontas para escolher um Chefe do Executivo?Do lado da UE, queremos muito ver a continuação desse progresso de eleger um governo democrático. O relatório não sugere um calendário e penso que esse é um processo soberano que deve ser Macau e o Governo Central, de Pequim, a considerar. A Lei Básica de Macau é diferente da de Hong Kong, uma vez que não específica como é que a região deve ser governada num determinado prazo, por isso pro-voca um debate. É um bom debate. Sabemos, da experiência da UE, que os governos democráticos à volta do mundo têm uma bastante boa estabilidade e é por isso que acreditamos nesse valor.

O último relatório da UE frisa ainda que Macau ainda não tem um salário mínimo e aponta para a necessidade de diversifi-car a economia. De que forma consegue a UE ajudar Macau a diversificar a sua economia?Primeiro de tudo, o relatório não é para ensinar as pessoas sobre como é que as coisas devem ser feitas, é apenas a posição da UE devido à sua proximidade com Macau e estamos bastante comprometidos com mais desenvolvimento do território em todos os aspectos. A diversificação económica é um assunto de muito interesse e eu percebo que o Governo tem-no na agenda, mas é também um assunto difícil por óbvias razões: o espaço limitado de Macau, a limitação da população, a força tremenda da indústria do jogo e dos secto-res que lhe estão ligados... Mas, diversificação é bom e qualquer investidor quer dividir riscos e diversificar, por isso, os governos querem fazer a mesma coisa. O que podemos fazer? Trocar ideias com o Governo de Macau sobre como podemos estruturar a economia, como fortalecer as leis no que diz respeito a fazer negócios e como

“Estamos bastante comprometidos com a Ásia, por razões diversas e óbvias. O centro financeiro mundial está a encaminhar-se para a Ásia, aliás já o fez um bom bocado, e o peso político da Ásia, particularmente da China, está a crescer.”

atrair investidores. Estes, particu-larmente as Pequenas e Médias Empresas europeias, podem fazer a diferença, anexar algo à economia de Macau que ainda não existe cá. E isso pode ajudar a diversificar. É um bocadinho da nossa oferta para essa diversificação.

Em Agosto de 2012, Maria João Podgorny da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu afirmou ao jornal Ponto Final que as relações entre a UE e Macau

são «pouco substanciais» e que o Acordo Bilateral entre a UE e Macau funcionava apenas como «um mecanismo de diálogo». Qual a sua opinião sobre isso? O acordo tem um peso significativo ou é realmente mero incentivo ao diálogo?Primeiro, o diálogo é excelente, precisamos de dialogar. Por isso, se isso é um comentário, tomo-o apenas como positivo. Segundo, não é só diálogo, como já tinha dito temos muito a acontecer e estamos a expandir ao nível da cooperação. Temos ideias sobre o que fazer a seguir e o que é bom é que o Acordo torna tudo isso possível. Para nós, UE, é muito valioso e tenho a impressão de que Macau sente o mesmo. E estamos felizes. Tivemos o 20º aniversário, Durão Barroso esteve cá com o Chefe do Executivo... acho que isso deu às pessoas bastantes ideias sobre o que se pode fazer na área da cooperação. Há alguma companhia aérea que já tenha expressado intenções

“Do lado da UE, queremos muito ver a continuação desse progresso de eleger um governo democrático. O relatório não sugere um calendário e penso que esse é um processo soberano que deve ser Macau e o Governo Central, de Pequim, a considerar”

de fazer as ligações entre a UE e Macau?Não tenho informações sobre isso. Fizemos uma reportagem recen-temente sobre as eleições euro-peias e a maioria dos portugueses que nos responderam disseram que não iam votar. Considera que, por as pessoas deixarem a Europa por força de não terem trabalho, por emigrarem, per-dem o interesse na UE?Bem, isso deve ser perguntado às pessoas. (risos) Mas, há um ditado que diz “longe da vista, longe do coração”, presumo que pessoas que vivam em Macau ou Hong Kong por uma, duas décadas, têm uma motivação mais limitada para sair e ir votar. Podem não ter interesse nas listas de candidatos, nos partidos... É, de certa forma, compreensível. Penso que depende de quanto contacto pessoal ainda mantêm com o seu país de origem, se lá têm familia-res ou interesses económicos ou

culturais... penso que isso é o que decide se as pessoas vão votar ou não. Mas, obviamente, a situação muda consoante a pessoa. A Ásia é uma prioridade para a UE?Absolutamente. Sem dúvida. Esta-mos bastante comprometidos com a Ásia, por razões diversas e óbvias. O centro financeiro mundial está a encaminhar-se para a Ásia, aliás já o fez um bom bocado, e o peso político da Ásia, particularmente da China, está a crescer. Por isso, temos de colaborar com os parcei-ros asiáticos em muitas áreas, onde não tínhamos essa colaboração. E, além disso, o desenvolvimento económico e as trocas comerciais estão de tal forma num crescimen-to contínuo, que aconteça o que acontecer nas eleições europeias e para o parlamento europeu, sejam quais forem os resultados, todos os grupos políticos vão querer continuar esta relação com a Ásia, nomeadamente a China, incluindo Macau e Hong Kong.

“O que podemos fazer? Trocar ideias com o Governo de Macau sobre como podemos estruturar a economia, como fortalecer as leis no que diz respeito a fazer negócios e como atrair investidores.”

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4 hoje macau segunda-feira 26.5.2014POLÍTICA

ANDREIA SOFIA [email protected]

C HINA, Hong Kong e Tai- wan surgem no mais recente índice da Confe-deração Internacional de

União Sindical (ITUC, na sigla inglesa) como sendo três países do mundo onde os direitos laborais não são respeitados plenamente.

A China foi classificada como sendo o pior país para trabalhar, onde os direitos dos trabalhadores não são respeitados e onde estes são sujeitos a “regimes autocráticos”. Hong Kong é tida como uma região onde esses direitos são “sistematica-mente violados”, com necessidade de maior esforços governamentais e empresariais. Já Taiwan é a região onde os direitos laborais são apenas violados “regularmente”.

Macau não aparece neste índice, mas nem por isso a ITUC deixa de fazer reparos. Desde o ano passado que a ITUC tem vindo a enviar recomendações à Organização Internacional do Trabalho (ILO).

“Com base nesses relatórios, a comissão de especialistas da ILO tem vindo a pressionar o Governo de Macau a promover um quadro legal contra a interferência nas orga-nizações sindicais, pela liberdade de associação e contra a discriminação sindical, tendo em conta também os trabalhadores emigrantes”, explicou ao HM, por e-mail, Simona Wong, responsável pelo escritório da ITUC em Hong Kong.

POUCAS OU NENHUMAS RESPOSTAS Uma das notas enviadas pela ITUC à ILO, em Agosto de 2013, diz

“Dada a natureza e composição deste Governo, completamente identificado com os interesses dos capitalistas, é de presumir que uma proposta de lei por ele apresentada se destinasse a prejudicar esses direitos (organização sindical). É necessário que as organizações representativas dos trabalhadores se mobilizem massivamente”ANTÓNIO KATCHI

O mais recente relatório da Confederação Internacional de União Sindical inclui a China, Hong Kong e Taiwan na lista dos piores países para trabalhar. Macau não é classificada, mas a ITUC pede um novo quadro legal para trabalhadores a part-time e uma lei sindical, exigindo mais informações do Governo

TRABALHO ITUC PEDE LEI SINDICAL E MAIS LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO PARA MACAU

Vozes ao altorespeito à liberdade de associa-ção, “alegando interferência do Governo nas actividades sindicais e dificuldades da aplicação da con-venção ao nível dos trabalhadores emigrantes”. As entidades lem-bram que “o Governo foi chamado a responder de forma detalhada a estes comentários em 2014”.

Ao nível da negociação colec-tiva, a ITUC enviou outra nota, em Setembro do mesmo ano, exigindo “medidas para a criação de um qua-dro legal para trabalhadores a part--time e trabalhadores marítimos”. “O Governo indicou que está em estudo a criação de um regime es-pecial. O comité considera que um novo quadro legal vai permitir a este

tipo de trabalhadores o exercício dos seus direitos para a organização colectiva”, pode ainda ler-se.

A ITUC fez ainda recomen-dações exigindo uma “protecção

adequada para actos discriminató-rios que vão contra a organização sindical”. “As sanções previstas na lei, entre 20 mil a 50 mil pata-cas, podem não ser suficientemen-te dissuasivas, principalmente para as grandes empresas” refere a nota. Contudo, “nenhuma in-formação foi providenciada pelo Governo”.

Para além disso, “o Gover-no não providenciou qualquer

informação em relação às medi-das tomadas para reconhecer o direito de organização sindical no sector público. O comité frisa que o Governo comprometeu-se a trabalhar, dentro da actual le-gislação, no sentido de proteger os direitos dos trabalhadores e promover a implementação das convenções”.

CROUPIERS SEM DIREITOS José Pereira Coutinho, deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pú-blica (ATFPM), diz que nunca foi contactado pela ITUC, mas concorda com as suas recomen-dações. “Existe uma falta de regulamentação, e isso causa enormes prejuízos aos direitos dos trabalhadores, como a falta de uma lei sindical e de organização colec-tiva. Os trabalhadores de Macau são sistematicamente explorados e violados nos seus direitos devido à falta dessa regulamentação que permita que eles possam defender--se”, disse ao HM.

Coutinho dá o exemplo dos trabalhadores dos casinos, “ex-plorados no não pagamento dos trabalhos por turnos e nocturno”. “Os contratos são firmados, mas a má interpretação da lei e das lacunas da lei laboral faz com que eles não tenham direito a receber

subsídios de turnos e nocturnos, aos quais todos os trabalhadores têm direito. Os trabalhadores da Função Pública já os recebem desde os anos 80”, lembrou ainda o deputado.

Coutinho lembra ainda que “a falta de legislação colectiva faz com que o salário mínimo não es-teja ainda instituído”, e pede cinco dias de licença de paternidade, ainda não legislados.

António Katchi, jurista, ex-plica que o direito à organização sindical já está consagrado na Lei Básica e nas convenções assinadas por Macau. Contudo, “parece-me óbvio que a falta de regulamentação legislativa desses direitos tem impedido, na prática, o seu exercício”, lembrando os cinco chumbos no hemiciclo à lei sindical de Pereira Coutinho.

“Dada a natureza e compo-sição deste Governo, comple-tamente identificado com os interesses dos capitalistas, é de presumir que uma proposta de lei por ele apresentada se destinasse a prejudicar esses direitos. É necessário que as organizações representativas dos trabalhado-res se mobilizem massivamente”, disse ao HM.

António Katchi falou ainda da licença de paternidade, materni-dade, tempo semanal de trabalho e férias como pontos que deve-riam melhorar na lei em vigor, lembrando ainda a questão do salário mínimo. “Um verdadeiro salário mínimo é inteprofissio-nal, e não aquilo que o Governo tem propalado como um salário mínimo que apenas é aplicável a duas categorias de trabalhadores: pessoal de segurança e pessoal de limpeza”, referiu ao HM.

O Governo já garantiu que a revisão da lei das relações laborais está em fase de auscultação, mas Pereira Coutinho duvida de gran-des mudanças no futuro.

“Não sei até que ponto o Conselho Permanente de Con-certação Social (CPCS) pretende fazer as devidas alterações. Mas também não vejo vontade do sec-tor laboral, e dos representantes das associações com assento no CPCS para modificar a situação”, disse ao HM.

“(...) a comissão de especialistas da ILO tem vindo a pressionar o Governo de Macau a promover um quadro legal contra a interferência nas organizações sindicais, pela liberdade de associação e contra a discriminação sindical, tendo em conta também os trabalhadores emigrantes”SIMONA WONG Responsável pelo escritório da ITUC em Hong Kong

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RÁDI

O M

ACAU

hoje macau segunda-feira 26.5.2014 5 política

A maior desde 1999. Entre 15 a 20 mil pessoas terão par-ticipado ontem na

manifestação contra o Regime de Garantias dos Titulares dos Principais Cargos, acção de protesto que decorreu sem incidentes, avança a Rádio Macau.

Estes números são dados pela organização, enquanto a PSP diz que foram oito mil os manifestantes.

Segundo a rádio, em declarações aos jornalistas, Jason Chao, líder da associa-ção Consciência de Macau, foi taxativo: “Temos 20 mil pessoas. É a maior manifes-tação desde a transferência de Administração em 1999”.

No cortejo que encheu as ruas entre a Tap Seac e os Lagos Nam Van desta-cavam-se os jovens. Para Ng Kuok Cheong, Macau tem uma “nova geração com mais habilitações e com uma maior educação cívica”. Há mudanças e o Governo deve acompanhá-las, diz o deputado, citado pela Rá-dio: “Espero que o Chefe do Executivo descubra que Macau está a mudar e por isso as suas políticas também devem mudar”.

Uma das mudanças que Ng Kuok Cheong e os mi-lhares que se manifestaram pedem é que a Proposta de Lei sobre o Regime de Garantias seja retirada, algo que tem vindo a ser reivindicado por outros deputados, como é o caso de Leong Veng Chai e José Pereira Coutinho. Tam-bém académicos como Agnes Lam e activistas como Jason Chao já se mostraram contra a lei, que vai a votos na espe-cialidade na terça-feira.

Segundo a rádio, Pereira Coutinho, que também se juntou ao protesto com o seu número dois, o depu-tado Leong Veng Chai, diz que é essa a conclusão que Chui Sai On deve reter: “As

Eleições Europeias Quase 200 votaram no Consulado

“As pessoas estão revoltadas e eu acho que o Governo e o Chefe do Executivo devem tirar as devidas ilações desta mega- -manifestação”LEONG VENG CHAI

20mil manifestantes (organização)

REGIME DE GARANTIAS PROVOCA A MAIOR MANIFESTAÇÃO DESDE 1999

Saíram à rua num domingo assim

pessoas estão revoltadas e eu acho que o Governo e o Chefe do Executivo devem tirar as devidas ilações desta mega-manifestação”.

Os manifestantes acu-sam o Governo de legislar em proveito próprio e além das compensações financei-ras também merece oposição

“Espero que o Chefe do Executivo descubra que Macau está a mudar e por isso as suas políticas também devem mudar”NG KUOK CHEONG

o facto de o regime garantir imunidade ao Chefe do Executivo relativamente a eventuais crimes cometidos durante o exercício do man-

dato, como notou Wong, um dos muitos jovens que saiu à rua em protesto: “Não estamos apenas contra as compensações financeiras,

mas também contra o facto de o Chefe do Executivo ficar imune a acusações em casos criminais durante o mandato. Esta questão é muito séria”, disse, citado pela rádio.

Além da manifestação contra esta proposta, houve também uma a favor da lei, organizada pela Associação de Conterrâneos de Jiang-men, que tem como vice--presidente o deputado Mak Soi Kun. Terão participado nesta acção cerca de mil pessoas.

Segundo a PSP, durante o decurso, seis participantes ficaram feridos e uma mulher foi transferida para o Hospital Conde de São Januário devi-do a indisposição.

NO total, 10.955 eleitores estavam registados em

Macau para poder exercer o direito de voto para as Elei-ções Europeias, que decor-reram no Consulado-Geral de Portugal em Macau no sábado e no domingo.

As duas assembleias de voto instaladas no Consula-do receberam, no entanto, 192 pessoas, segundo con-firmou Vítor Sereno ao HM.

Para o cônsul-geral, o número foi baixo relativa-mente aos inscritos para votar, mas não apanhou Sereno de surpresa, uma

vez que o ano passado a quantidade de votantes foi semelhante.

Nas últimas eleições europeias, em 2009, com um total de 11.272 eleito-res inscritos, votaram em Macau apenas 223 pessoas, cerca de 2%.

De acordo com o que disse à Lusa o chanceler do consulado, Ricardo Silva, a contagem dos votos será efectuada em dois períodos distintos.

“Macau é uma assem-bleia de apuramento in-termédio e vai receber os

votos de Pequim, Xangai, Seul e Tóquio e, por isso, no domingo (ontem) será apenas apurada uma das urnas, sendo que os votos depositados na segunda urna deverão ser contados apenas na quarta-feira quando estiverem reunidos os boletins das outras cida-des”, explicou.

Até ao fecho desta edi-ção, ainda não era possível saber os resultados.

As eleições europeias decorreram até ontem em 28 países da União Europeia. - J.F. com Lusa

DEPUTADOS JUNTAM-SEÀ POPULAÇÃOLeonel Alves, Chan Meng Kam e Cheang Chi Keong pediram ontem ao presidente da Assembleia Legislativa (AL) que a Proposta de Lei do Regime de Garantias fosse novamente analisada. Numa reunião marcada à última hora, na AL ontem à noite, os deputados entregaram um documento a Ho Ion Sang. No documento a que o HM teve acesso, pode ler-se que os três deputados propõem que a lei “seja enviada a uma

Comissão [Permanente] para ser novamente analisada na especialidade num prazo designado pelo plenário”. Alves, Chan e Cheang consideram que a “proposta tem suscitado diversas dúvidas sobre a razoabilidade das normas contidas” e pedem, por isso, uma reapreciação do diploma porque, dizem, tem de haver uma discussão aprofundada sobre as opiniões apresentadas sobre a proposta. Esta, recorde-se, é votada na terça-feira. - J.F.

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Ao HM, Francis Nwachukwu, presidente da CCAM, garantiu que uma das finalidades da entidade, criada em Fevereiro, é precisamente facilitar os processos burocráticos para quem quer investir em Macau e China, sobretudo países africanos onde o português não é língua oficial.

“O Fórum Macau tem vindo a realizar um trabalho de coor-denação nas áreas do turismo e investimento para os países de língua portuguesa. Para além de apoiarmos esse trabalho, também queremos promover a compre-ensão por parte de Macau face a mais países de África. Macau está a apostar nas relações com os países de língua portuguesa porque esse é um desejo do Governo Central. Mas isso não significa que não podemos promover outros países africanos”, garantiu o responsável.

Um dos papéis que a CCAM pretende desenvolver mais, segun-do Francis Nwachukwu, é “criar mais pontes para empresários que queiram investir em Macau e nos países africanos. Queremos pro-mover uma espécie de lobby junto do Governo”, disse o presidente da CCAM, garantindo que o maior investimento de outros países africanos pode ir de encontro à diversificação económica que está na agenda do actual Executivo.

“A nossa câmara de comércio está virada para os negócios, mas também queremos promover a cul-tura africana em Macau. Quando as pessoas começarem a compreendê--la melhor, então podem começar a investir em África”, disse Francis Nwachukwu.

6 hoje macau segunda-feira 26.5.2014SOCIEDADE

Com poucos meses de duração, a Câmara de Comércio Africana organizou um evento para chamar mais a atenção de Macau ao continente e aos países que não falam português, mas que também podem investir na China

ANDREIA SOFIA [email protected]

M OSTRAR um pouco de África a Macau e à China. Foi este o objectivo que levou

a recém-criada Câmara de Comér-cio Africana em Macau (CCAM) a promover o “Dia de África” no fim-de-semana, com uma série de eventos culturais e virados

O Tribunal de Se-gunda Instância (TSI) deu nega a

um recurso de um agente da Policia Judiciária (PJ), que foi condenado por caluniar o seu director e subdirector. O homem pensava que, por estar aposentado, não poderia ser demitido, mas o tribunal assegura que não há qualquer impedi-mento na lei para que isto aconteça.

O caso remonta a 2009, quando o agente – inspector de primeira classe da PJ – foi sancionado com um processo disciplinar pelo Secretário para a Seguran-ça, tendo sido obrigado, segundo o acórdão do tri-bunal, a uma aposentação compulsiva.

No mesmo ano, após esta situação, o agente voltou a receber um novo processo por estar, diz o tribunal, a divulgar na internet “diver-sos textos de conteúdo falso e inventado, no intuito de difamar e caluniar” o direc-

“DIA DE ÁFRICA” CELEBROU-SE NO SÁBADO COM DEBATE SOBRE INVESTIMENTO

Para além da lusofonia

“Macau está a apostar nas relações com os países de língua portuguesa porque esse é um desejo do Governo Central. Mas isso não significa que não podemos promover outros países africanos”FRANCIS NWACHUKWU Presidente da CCAM

TRIBUNAL INSPECTOR DA PJ APOSENTADO CONDENADO POR CRIMES CONTRA SUPERIORES

Nem assim escapoutor da PJ, o subdirector e

o chefe de divisão.Em Maio de 2012,

o tribunal condenou o agente pela prática de vários crimes de publicidade e calúnia qualificados aplicando-lhe pena

de prisão de 1 ano e 2 meses, suspensa por

3 anos.Por isto, Cheong Kuok

Va ordenou ao agente a pena de demissão.

O inspector, contudo, considerou que a decisão não estava correcta. O ho-mem acreditava que, por estar aposentado quando o Secretário para a Segurança determinou a sua demissão, não poderia haver lugar a esta decisão de Cheong

Kuok Va. Além disso, evo-cou, os factos por que foi condenado tiveram lugar na sequência de conflitos entre ele e a direcção da PJ e, mesmo assim, “o agente publicou um anúncio nos jornais para pedir desculpa pela sua conduta”.

O inspector dizia não estarem preenchidos os requisitos legais para a apli-cação da pena de demissão. Contudo, o TSI entendeu o assunto de forma bem dife-rente. O tribunal diz que a lei expressa especificamente que a “cessação de funções e a mudança de situação não impedem a punição por infracções cometidas no exercício dessas funções” e, mais ainda, a lei expressa que, para os funcionários e agentes aposentados, “a pena de demissão determina a sus-pensão do abono da pensão pelo período de 4 anos”.

Estando isto previsto na lei, o tribunal considerou que se pode concluir que o facto de o agente se encon-

trar já aposentado não era obstáculo à imposição da pena de demissão.

O TSI não só deu razão a Cheong Kuok Va, como ain-da deu um recado ao agente. “Por mais conflitos que o agente tivesse com a direc-ção da PJ, devia resolvê-los por meios lícitos”, começa por sublinhar o tribunal. “Sendo Macau uma região de Direito e o recorrente um agente de autoridade, devia este cumprir e respeitar a lei com maior rigor, em vez de divulgar, de má fé, informa-ções falseadas ao público através da internet, com o propósito de ofender seus superiores hierárquicos e colegas, prejudicando a reputação destes. A conduta do recorrente, além de em nada ajudar a resolver os conflitos que tinha com a direcção, constitui infrac-ção criminal.”

O tribunal considerou as infracções graves e deu razão à decisão de o agente ser demitido. - J.F.

para o negócio. Para além de um jogo de futebol em Hac-Sá, um jantar com gastronomia africana e um desfile de moda da designer Roselyn Silva, houve espaço para um debate intitulado “comércio, investimento e turismo entre os países africanos, Macau e o continente”.

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CASINOS ATRIBUIÇÃO DE SUBSÍDIO PECUNIÁRIO ATRAI TRABALHADORES PARA SALAS DE FUMO

Ser pago para inalar NÚMEROS

hoje macau segunda-feira 26.5.2014 7 sociedade

LEONOR SÁ [email protected]

T EVE ontem lugar uma conferência de imprensa sobre os resultados de um in-

quérito relativo ao ambiente de trabalhos em superfícies de jogo. Realizado pelo Instituto de Estudos sobre a Indústria do Jogo da Univer-sidade de Macau (UMAC), o estudo foi uma primeira análise sobre a mais recente medida governamental de criar salas específicas para fumadores já a partir do dia 6 de Outubro deste ano, sendo que o restante casino será livre de fumo.

As estatísticas serviram, ainda, para avaliar a perspec-tiva dos funcionários face à melhoria, ou não, do ambien-te de trabalho nos casinos depois de feita a separação de espaços para fumadores e não-fumadores. Metade dos inquiridos consideraram que houve melhorias, enquanto cerca de 45,3% referiu não haver diferenças, menos de 12% afirmando que a sepa-ração de zonas piorou o seu ambiente de trabalho.

As principais justifi-cações para o decréscimo das condições do ambiente laboral são a falta de autodis-ciplina dos jogadores, a insu-ficiência de equipamentos de ventilação e a complacência das autoridades responsá-veis pela execução da lei. O mesmo relatório fez ainda o cruzamento dos hábitos de tabagismo dos funcionários das superfícies de jogo e a sua preocupação em traba-lhar num ambiente livre de fumo, tendo-se constatado que apenas 29,8% são fuma-dores, comparando com os mais de 70% que não são. A grande maioria – 108 pessoas – fuma há já quase 10 anos, havendo apenas sete pessoas com hábitos de fumar há um ano ou menos. Além disso, note-se que, de entre os 37,2% de funcionários que não se importam de trabalhar em zonas com fumo, apenas 15,3% são fumadores.

De entre as várias hipó-teses em cima da mesa do Governo, estão a criação de salas de fumo nas áreas de

PERCENTAGEM DE INQUIRIDOS POR EMPRESA:

• Melco Crown: 14,7%• Sociedade de Jogos de Macau: 31,4%• Venetian: 22%• Wynn: 6,2%• MGM: 5,6%• Galaxy: 19.6%

SEXO DOS INQUIRIDOS (ENTRE OS 21E OS 60 ANOS DE IDADE):

• Mulheres: 54,6%• Homens: 45,4%

CARGOS OCUPADOS PELOS INQUIRIDOS:

• Croupiers: 50%• Servidores: 13%• Gerentes: 20,3%• Trabalhadores de câmbio e fichas: 9%• Outros: 7,8%

OPINIÃO SOBRE A CRIAÇÃO DE SALAS DE FUMO:

• Concordo: 90,4%• Não concordo: 7,9%

DESEJO DE TRABALHAR NAS SALAS DESTINADAS A FUMADORES:

• Não: 58,4%• Sim: 37,2%

Um inquérito efectuado pela Universidade de Macau revelou que de entre mais de mil funcionários de casinos, 58,4% não quer trabalhar nas salas destinadas a fumadores, mas 12,7% deles pondera a sua decisão mediante atribuição de um subsídio pecuniário para trabalhadores de espaços VIP. No estudo encomendado pelos Serviços de Saúde ficou ainda a saber-se que 90,4% dos inquiridos concorda com a criação de salas de fumo dentro dos recintos comuns

tivos saber os hábitos de tabagismo e a opinião dos funcionários do sector do jogo em relação ao ambien-te de trabalho nos casinos, simultaneamente apurando a sua vontade de trabalha-rem em áreas destinadas a fumadores. Foi efectuado de forma aleatória pelas ruas do território e, de acordo com as informações obtidas pelo HM, é apenas

o primeiro de vários inqué-ritos pensados para o resto do ano, até à entrada da lei em vigor. Numa primeira instância, foi possível com-preender que, de um modo geral, os funcionários dos casinos concordam com o programa de criação de salas próprias para fumado-res incorporadas nas áreas comuns e onde não será possível jogar.

jogo comuns ou a proibição total de fumo em todas as zonas do casino, excluindo as áreas VIP.

O estudo realizado pelo UMAC teve como objec-

70%dos trabalhadores não são

fumadores

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FOTO

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8 sociedade hoje macau segunda-feira 26.5.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

O S advogados de defesa de Raymond Tam, ex-presidente

do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) e de mais três arguidos, pres-cindiram dos depoimentos do Secretário para as Obras Pú-blicas e Transportes. Lau Si Io era uma das vinte testemunhas arroladas pela defesa no caso de prevaricação no âmbito da atribuição das dez campas, por ser, à época, um dos membros do conselho de administração do IACM.

Wong Wan, actual direc-tor dos Serviços para os As-suntos de Tráfego (DSAT), ex-chefe os Serviços de Ambiente e Licenciamento (SAL) do IACM, também não será ouvido no Tribunal Judicial de Base (TJB), tal como um conjunto de cerca de dez testemunhas que a defesa prescindiu de ouvir.

A decisão ficou conhe-cida na sessão do julgamen-to da passada sexta-feira, onde quatro testemunhas prestaram depoimento. Ficou ainda a saber-se que o tribunal já tem na sua posse a pasta que faltava de Ng Peng In, com docu-mentos arquivados pelo ex--administrador do IACM.

No TJB, Paulo Wong, antigo secretário de Lei Wai Long, um dos arguidos, confirmou que Ng Peng In nunca esteve afastado do processo de procura dos documentos das dez cam-pas, e que esteve sempre a par dos acontecimentos. Aquando da reunião de Agosto de 2010, esteve presente. Paulo Wong fez a acta desse encontro.

“A ideia que tenho é que havia documentos internos que tinham sido divulgados e foi feita essa reunião para evitar a fuga de informação. Ng Peng In esteve na reunião e nomeou a sua secretária para a entrega e recepção de documentos. Ela iria desempenhar esse papel”, disse Paulo Wong.

O ASSESSOR QUE DEU UMA AJUDA Como técnico-adjunto do gabinete de Lei Wai Long, coube a Paulo Wong orga-nizar os documentos sobre as dez campas, tendo feito contactos com os SAL e gabinete jurídico, locais de origem desses documentos.

Mas a testemunha con-firmou que teve a ajuda de Fung Soi Tong, assessor da

MAIS de 10,3 milhões de visitantes entraram em

Macau nos primeiros quatro meses deste ano, mais 9% do que em igual período do ano passado, indicam dados esta-tísticos oficiais divulgados na semana passada.

Os mesmos dados in-dicam que a maioria dos visitantes - 6.917.237 pessoas ou 66,9% - que entrou na cidade era oriunda da China continental.

A maioria dos visitantes - 53,7% ou 5.547.444 pessoas chegou a Macau integrada em excursões.

Entre Janeiro e Abril, os visitantes da China continental aumentaram 16%, da Coreia do Sul 17% e do Japão 5%.

Já os visitantes de Hong

Kong, o segundo maior mer-cado emissor de visitantes a Macau com 2.153.989 pessoas, diminuíram 5%, a mesma percentagem para os visitantes de Taiwan que nos primeiros quatro meses do ano totalizaram 303.961 pessoas.

Do total de entradas da China continental, os visitan-tes oriundos da província de Guangdong correspondem ao mercado mais importante com 42,1% do total deste grupo, ou 2.914.956 pessoas.

CASO IACM DEFESA OPTOU POR NÃO OUVIR O SECRETÁRIO E WONG WAN

Lau Si Io fora do banco

“À data recebi informações do meu superior de que iria ter um assessor a dar uma ajuda. Depois falei com ele só para saber se faltavam documentos e ficámos de nos encontrar no dia seguinte”PAULO WONG

Secretária para a Adminis-tração e Justiça, Florinda Chan, na organização dos documentos. Algo que levou a dúvidas da parte do juiz.

“Porque é que o gabi-nete da Secretária enviou um assessor? O IACM tem funcionários que entendem

português e sabem interpre-tar as leis”, questionou.

Mas Paulo Wong disse não saber os motivos por detrás dessa decisão, tendo confirmado a entrega dos documentos ao assessor a um Sábado, junto ao edifício do antigo tribunal.

“Ele era um intérprete e ajudou na organização dos documentos, acho isso normal, porque era da tutela. À data recebi informações do meu superior de que iria ter um assessor a dar uma ajuda. Depois falei com ele só para saber se faltavam documentos e ficámos de nos encontrar no dia seguinte”, disse a testemunha depois da pergunta da assistente Paulina Alves dos Santos.

Paulo Wong garantiu ainda que Lei Wai Long, aquando do processo de bus-ca dos documentos, “estava preocupado com o assunto”. “Não vi que quisesse atrasar o processo (de busca)”, disse ainda a testemunha.

Wong Kin, antigo fun-cionário de uma empresa que forneceu equipamentos de escritório ao IACM, foi outra das testemunhas. Es-perava-se mais informação sobre um misterioso fax de documentos desaparecidos do IACM, que chegou à empresa em 2003. A teste-munha disse que o número de telefone do fax poderia ser alterado e que a empre-sa nunca teve na sua posse documentos públicos. Wong Kin garantiu ainda que “clientes e amigos” pediram para utilizar o fax da empresa para enviar documentos.

O Secretário para as Obras Públicas e Transportes não vai mesmo prestar declarações no caso que senta Raymond Tam e mais três arguidos no banco dos réus, tal como o director da DSAT. O tribunal já tem na sua posse a pasta que faltava de Ng Peng In, que será analisada na próxima sessão

Mais turistas a entrar em Macau nos primeiros quatro meses

Raymond Tam

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hoje macau segunda-feira 26.5.2014 9CHINA

ANÚNCIO

O autor de um blogue chi- nês que apelou ao secre-tário de Estado norte--americano, John Kerry,

para impulsionar a liberdade na Internet na China foi despedido.

Zhang Jialong foi um dos quatro autores de blogues que se encontra-ram com John Kerry, em Fevereiro, tendo exortado os Estados Unidos a ajudar a “derrubar a ‘grande muralha’ da Internet”.

A empresa para a qual trabalha – a Tencent – despediu-o na sexta-feira por “divulgar segredos comerciais e outras informações confidenciais e sensíveis”, disse ontem o próprio à agência AFP, para quem o despedimento figura como uma represália pelo seu encontro com o chefe da diplomacia norte-americana.

Zhang Jialong disse que responsá-veis da Tencent – uma das empresas de serviços de Internet mais conhecidas do país – lhe indicaram que o despe-dimento foi motivado pelo encontro e por ter publicado ‘online’ ordens de censura emitidas pelo Governo chinês.

Entre as directivas publicadas

A polícia chinesa identificou cinco suspeitos do atentado que na semana passada matou 39 pessoas e feriu 94 num mercado ao ar livre em Urumqi, a capital do Xinjiang, região autónoma do noroeste da China, de maioria muçulmana. Segundo a agência de notícias oficial Xinhua, quatro dos suspeitos morreram no atentado e um quinto foi detido pela polícia na quinta-feira à noite, dia do atentado. Os cinco homens estiveram referenciados por extremismo religioso e por participação

em actividades religiosas ilegais. Segundo a polícia, citada pela agência de notícias chinesa, os cinco formaram um grupo terrorista no final do ano passado e, com o objectivo de realizar ataques, compraram material para fabricar explosivos e veículos para detonar, como fizeram quinta-feira no mercado em Urumqi. O ataque com explosivos ocorreu cerca das 08:00 num mercado ao ar livre perto do centro de Urumqi, a capital do Xinjiang, região autónoma do noroeste da China, de maioria muçulmana.

MAIS de mil pessoas marcharam ontem em

Banguecoque contra o golpe de Estado, numa mobiliza-ção sem precedentes na Tai-lândia, depois da tomada de poder pelos militares há três dias, constatou um jornalista da AFP no local.

Depois de um tenso im-passe com os soldados num bairro comercial da capital, os manifestantes desfilaram encorajados pelos transeun-tes, apesar da advertência da junta militar que proibiu encontros que reunissem mais de cinco pessoas.

O Conselho Nacional para a Paz e Ordem, nome ofi-cial da junta militar, criou um novo Governo formado por generais, o qual pretende le-var a cabo reformas políticas e económicas, embora, até ao momento, não tenha definido um prazo para ‘devolver’ o poder a um Governo civil.

DESPEDIDO AUTOR DE BLOGUE QUE SE ENCONTROU COM JOHN KERRY

Apelo sai muito caro

GÁS ACORDO RÚSSIA-CHINA PERMITE UNIR GASODUTOS

Um só sistemaHM-1ª vez - 26.05.14ACÇÃO ORDINÁRIA Processo nº. CV3-13-0070-CAO 3º. Juízo Cível

Autores: LEI WENG U (李永裕), e LEI SIO CHENG (李小青), ambos residentes em Macau, na Rua Coelho do Amaral, nº1 D, Edf “Lai Hou”, bloco 2, 1º andar “I” e LAM FAT TANG (林發騰), residente em Macau, na Avenida do Ouvidor de Arriaga, Edf “Hang Wan Kok”, 18º andar “F”.----------------------Ré: TANG CHAO (唐超), ausentes em parte incerta, com última morada conhecida em Macau, na Avenida do Nordeste nº411, Edf “Kam Hoi San”, bloco 6, 15º andar “B”.--

*** FAZ-SE SABER que, por este Juízo e Tribunal, correm éditos de TRINTA (30) DIAS, contados da segunda e última publicação dos respectivos anúncios, CITANDO a Ré acima identificada, para no prazo de TRINTA (30) DIAS, contestarem, querendo, a Acção Ordinária, acima identificada, conforme tudo melhor consta da petição inicial, cujos duplicados se encontram neste 3º Juízo Cível à sua disposição e que poderão ser levantados nesta secretaria, sob pena de não o fazendo no dito prazo, seguir o processo os ulteriores temos até final à sua revelia.--------- Consigna-se que é obrigatória a constituição de advogado, no caso de quererem contestar.----------------------------------------------------------------------------------- Em síntese, a autora, pede que a presente acção deve ser julgada procedente por provada e em consequência:--------------------------------------------------------------- a) ser ordenada a execução específica do contrato promessa de compra e venda da fracção autónoma, para escritório, designada por “S17”, do 17º andar S, do prédio sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos D´Assumpção nº258, Praça Kin Heng Long, Edifício “Kin Fu Kuok” inscrito na matriz sob o nº73019 e na CRP sob o nº71259G, a favor da Ré e descrito na Conservatória do Registo Predial sob o nº21935, através de sentença que produza os efeitos da declaração negocial da Ré, e--- b) ser a Ré condenada a pagar aos Autores a quantia correspondente ao débito garantido ao Banco da China, Limitada no valor de HK$2.600.000,00 e bem assim os juros vencidos e vincendos até integral pagamento; Subsidiariamente, para o caso do cumprimento da promessa não ser possível, que:--------------------------- c) seja o contrato promessa declarado resolvido e a Ré condenada a pagar aos Autores a quantia de HK$1.600.000,00 corresponde ao dobro do sinal.----------

Macau, 15 de Maio de 2014-05-23

REGIÃO

Tailândia Mais de mil manifestantes contra golpe de Estado

por Zhang Jialong estava uma ins-trução para portais na Internet para que apagassem o vídeo de um cantor de Taiwan por mostrar, por breves momentos, “um homem numa am-bulância envergando um lenço com a mensagem ‘Libertem o Tibete’”.

“A Tencent disse-me que tomaram essa decisão depois de consultas com o governo, pelo que se trata de uma decisão política, apontou, acrescen-tando que “a situação da liberdade na Internet na China está cada vez pior”.

A China tem mais de 600 milhões de cibernautas, a maior população ‘online’ do mundo.

A crescente popularidade dos microblogues nos últimos anos de-sencadeou uma campanha apoiada pelo Governo para um maior controlo sobre os ‘media’ sociais.

O Supremo Tribunal da China decretou, no ano passado, que os utilizadores arriscam uma pena de três anos de prisão se informações “caluniosas” divulgadas ‘online’ forem vistas mais de 5.000 vezes e encaminhadas mais de 500.

Centenas de pessoas têm sido detidas ao abrigo das novas regras, de acordo com grupos de defesa dos direitos humanos.

Segundo o chefe do Exército e autoproclamado primeiro-ministro, Prayuth Chan-ocha, o golpe de Estado visa evitar uma escalada de violência entre os manifestan-tes pró e antigovernamentais que estavam concentrados em diversos pontos da cidade.

O golpe de Estado foi condenado por grande parte da comunidade internacional, in-cluindo pelos Estados Unidos, que cancelaram um exercício militar bilateral, as visitas de responsáveis que estavam previstas e a ajuda em matéria de defesa à Tailândia.

O Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou sexta-fei-

ra que o contrato assinado com a China para o forne-cimento de gás russo abre a possibilidade de unir todo o território russo num sistema de gasodutos único.

“O desenvolvimento das infra-estruturas em ambos os extremos vai-nos permitir unir, em determinado mo-mento, o Extremo Oriente, a Sibéria Oriental, a Sibéria Ocidental e a parte europeia.

Teremos um sistema único de fornecimento de gás”, disse Putin num fórum eco-nómico em São Petersburgo.

Segundo o Presidente russo, a China vai investir cerca de 160 mil milhões de patacas na construção de um gasoduto entre os dois países e outras infra--estruturas necessárias.

A Rússia, precisou, “vai investir cerca de 400 mil milhões de patacas nos próximos quatro a seis anos nesse projecto” que,

frisou, “será a maior obra do mundo”.

O sistema a construir “permitirá diversificar os abastecimentos” e redirigir os fluxos de gás, quando for necessário, na direcção ocidental ou oriental.

A empresa de gás russa Gazprom e a Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC) assinaram na quarta-feira um acordo multimilionário para a exportação de gás natural para o país asiático.

O monopólio russo fornecerá à China 38 mil milhões de metros cúbicos de gás natural anualmente a partir de 2018 e nos 30 anos seguintes.

Polícia identifica cinco suspeitos de atentado terroristalevado a cabo na semana passada em Urumqi

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10 hoje macau segunda-feira 26.5.2014EVENTOS

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POESIA DE FERNANDO PESSOA PARA TODOSEsta é uma primeira antologia da poesia de Fernando Pessoa que se pretende ao alcance de todos: crianças e adultos. Nela se reúnem não só os poucos e por vezes divertidos poemas que escreveu para crianças, mas também outros cuja leitura é acessível aos mais jovens.

ROBINSON CRUSOÉ • Daniel DefoeRobinson Crusoé é um náufrago que sobrevive a tempestades e furacões, a piratas ganancio-sos, a selvagens canibais e à vida solitária numa ilha deserta. Com imaginação e habilidade, constrói casas, barcos e ferramentas que lhe permitem viver décadas longe da civilização. Mas é em Sexta-Feira, um nativo que ele salva da escravidão, que encontra a verdadeira humanidade. Descobre todas as aventuras deste herói na mais famosa narrativa de viagens.

Abençoados barcos

O britânico Simon Holliday conseguiu chegar a Hac Sá no

sábado e tornar-se o segundo nadador de longas distâncias a atravessar a foz do Delta do Rio das Pérolas até Macau, batendo por 10 minutos a marca de um nadador chinês.

Em 2005, Zhang Jian foi a primeira e, até hoje, única pessoa a atravessar a foz do Delta do Rio das Pérolas a nado tendo demorado 10 horas e meia, mais dez minutos do tempo gasto por Simon Holliday na travessia de sábado.

A prova, num total de 35 quilómetros e feita em

BRITÂNICO CONSEGUE BATER RECORDE A NADAR DE HONG KONG A MACAU

Pelos oceanose uma cerveja

nome do ambiente, nome-adamente para divulgar e promover a consciência dos problemas ambientais causados pelo plástico nos oceanos, começou às 05:00 na ilha de Lantau, em Hong Kong, tendo terminado na praia de Hac Sá, na ilha de Coloane, em Macau, cerca das 15 horas.

No final da prova, Simon Holliday confessou alguns «momentos difíceis» com muitos barcos na água, alforrecas e «água pouco agradável para nadar». Mas, nem isso o fez desistir.

“Mantive a cabeça em baixo e continuei», disse salientando o «excelente trabalho» da equipa que o acompanhou nesta aventura que permitiu angariar 200 mil dólares de Hong Kong para a associação Ocean Recovery Alliance e para o seu projeto em que oito artistas vão produzir placas para alertarem as pessoas a não atirarem resíduos nos esgotos de rua já que estes, por vezes, fluem para o mar.

Questionado sobre o que pretendia fazer após a prova, Simon Holliday disse que se queria sentar e beber uma cerveja.

A equipa dos barcos-dragãodo HM celebrou ontema cerimónia do Pai San, antes de partir para os campeonatos da modalidade. O Grupo Desportivo do Hoje Macau conduz os barcos 3, 16 e 18,que ontem foram abençoados pelo director do HM, Carlos Morais José. A partir de dia30 de Maio, os barcos-dragão saem para a água, em diversos locais na China. A equipatem mais de duas dezenasde atletas, a comando de Vincent Vong. Boa sorte, HM!

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hoje macau segunda-feira 26.5.2014 11 eventos

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Abençoados barcos O jantar de comemoração da época do Benfica, que decorreu no restaurante

“O Santos”, na passada sexta--feira, juntou mais de uma centena de adeptos do clube encarnado, incluindo a equipa local. Entre garfadas e brindes, fez-se o ba-lanço da temporada (com rigorosa e disciplinada libação em pose celebratória), perspectivou-se o futuro e, claro, foi implementada nalguns momentos rija galhofa a propósito dos clubes adversários.

Com a argúcia e o discerni-mento de quem acompanha o rolar da bola desde tenra idade (caso da esmagadora maioria dos presentes), definiram-se as vendas, os regressos e os que emergirão da equipa B: Nelson Oliveira é, ainda, um dos mais de-sejados; Olá John cada vez mais esquecido. Jesus permanece uma incógnita. Rui Costa e Luís Filipe Vieira têm lugar cativo no altar.

Liga, Taça da Liga e Taça de Portugal. Uma época de ouro, simbolizada pelo número 3, que também aqui por Macau terminou em beleza.

As fotografias foram gentilmente cedidas por José Luís Estorninho

JANTAR DO BENFICA COMEMORA AS TRÊS CONQUISTAS

Uma época em beleza

COMPETIÇÕES26, 27 e 28 Maio Waichau, China29, 30, 31 Maio Xangai1 e 2 Junho Macau6, 7 e 8 Junho Cantão5 de Outubro Hong Kong

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12 hoje macau segunda-feira 26.5.2014

(Continuação da semana passada)

VI

Os olhos de João Junqueiro voltavam à mesa, exibindo uma fixidez esquisita, as-sim que a nossa conversa se esfumava. Olhei à volta: conversáramos como quem vai lá fora fumar um cigarro, exercen-do um vício breve. Na mesa contígua, a não mais de três metros, algo de excitante acontecera: a sala vibrava de exclamações dissonantes. Alguém ganhara, outros per-deram. Muito, em qualquer dos casos.

Ele levantou os olhos, mais por sentir uma mudança na minha atenção, do que por verdadeiramente ter reparado no que lhe devia ser familiar.

– Existe aqui a possibilidade de um mi-lagre, de uma revelação qualquer. Há mais

emoções, mais energias, à volta de uma mesa de jogo do que num altar: concen-tração, decisão, tristeza, euforia, depressão. Se lhe acrescentar a beleza da contenção e o alheamento de todo outro e qualquer interesse, compreende que a mesa de jogo seja o espaço mais sacralizado dos nossos tempos.

O meu conhecimento de jogo era su-ficientemente limitado. Entrara ali sem nenhum interesse especial, que não fosse um passeio pelo casino mais mítico do Ex-tremo Oriente.

– Vem aqui muitas vezes? – perguntei--lhe.

– De vez em quando entro, quase sem-

pre que não tenho mais nada para fazer. Quase sempre… é como ir ao templo ou à igreja.

– Não tem emprego?…– Tenho. Mas deixa-me muito tempo

livre. Continuámos a nossa conversa pelos

corredores do casino. Falámos de quase tudo o que não tem importância. Uma dessas conversas em que se aprecia o tom e as referências do outro, sem nada se dizer de comprometedor. Ficou a saber do meu emprego e do que fazia em Macau, o hotel em que me hospedava. Pelos corredores, abundava o mármore, o ar condicionado e o mau gosto. Chegados à porta, disparou:

– Gostaria de ficar com o seu contacto. Estendi-lhe um cartão e despedimo-

-nos. Pensei ser a última vez que veria tal personagem. É muito fácil encontrar nesta

hARTE

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O IMPÉRIODO FIM (II)

(folhetim do fim de um império)

Carlos Morais José

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13 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 26.5.2014

cidade seres enigmáticos que, procurando muito saber sobre o estrangeiro, pouco ou nada revelam de si próprios.

VII

Os meus negócios concluíram-se com a celeridade esperada. Aliás, tudo fora com-binado anteriormente e de mim só preci-savam de uma assinatura. Nada mais tinha a fazer em Macau e ansiava já pelo estilo upgraded do meu quotidiano em Hong Kong. Os passeios enfastiavam-me, sobre-tudo por causa de um certo cheiro, a prin-cípio dissipado mas depois a intrometer-se devagar na pele. As pessoas que conhece-ra, por intermédio da firma, insistiam em proporcionar-me “um bom bocado”, à noite, por saunas e cabarés. Infelizmente para as suas expectativas, eu não me des-lumbrara com narrativas de banhos de espuma e alguma microscopia do prazer. Em geral, recusava acompanhá-los depois

de jantar, quase exigindo que me deixas-sem no hotel a pretexto de imaginários telefonemas inadiáveis. Deixava passar dez minutos e saía sozinho, calcorreando trajectos já habituais que, inevitavelmente, desaguavam no Casino Lisboa.

Depois daquela noite não deixei de o visitar com uma regularidade excessiva. Felizmente não me sentia verdadeira-mente atraído pelo jogo, talvez porque tivesse consciência das minhas limitações como jogador e não quisesse fazer a figu-ra do pato que para ali vai largar dinhei-ro. Não tanto por razões financeiras mas porque não era esse o papel que ali me via desempenhar. Preferia percorrer os corredores lentamente, ouvindo as pro-postas sussurradas de raparigas recém--chegadas do outro lado da fronteira, ob-servando os peixes nos grandes aquários dos restaurantes, circulando pelas salas, por vezes estacionando perto das mesas de bacará.

Para mim Macau começava a reduzir--se ao Casino, onde sob a frigidez do ar condicionado, escapava ao forno húmido do exterior. Muitas noites por aí andei até de madrugada, assistindo a um coreogra-fado vaivém de pessoas, beneficiando ale-gre da extinção das horas.

Curiosamente, não voltei a encon-trar João Junqueiro. Para dizer a verdade, pensava nesse rapaz estranho, cada vez que franqueava as portas do casino, espe-rando ver a sua figura um pouco curvada perto de uma mesa qualquer. Mas tal não aconteceu. Finalmente, depois de uma madrugada demasiado intensa, decidi par-

tir. Comprei bilhete para depois de jantar, pretendendo usufruir por uma última vez da boa mesa e dos vinhos portugueses.

VIII

Na recepção do hotel esperava-me uma mensagem telegráfica: “Pouca sorte. Às sete e meia no Hotel Bela Vista. Venha, por favor. Preciso da sua ajuda. Destrua este bilhete.” Assinado: João Junqueiro.

Faltavam dez para as sete. De algum modo considerei que este recado — quase súplica — implicasse a minha cumplici-dade num qualquer acto criminoso ou de consequências perigosas. Que teria eu de temer? (Infelizmente, segui as suas instru-ções e deitei fora o bilhete. Sei que inter-rogaram o recepcionista. Este confirmou as minhas palavras. Mas era-lhe impossí-vel lembrar-se da mensagem: não sabia ler português. A Polícia Judiciária não deu como provada a existência de um bilhete,

escrito por João Junqueiro, a convocar-me para aquele encontro no Hotel Bela Vista. E, porque o afirmei, inscreveu este facto no rol de mentiras que me atribui. O ins-pector Lúcio Marques é um homem rigo-roso e metódico. Para ele, se uma história não pode ser confirmada em toda a sua minúcia ignora-a. Parece dar mais impor-tância aos pequenos detalhes que às linhas mestras das narrativas.)

Rapidamente, fiz a mala e deixei-a na recepção do hotel. Tive o cuidado de con-firmar: sim, tinha o passaporte e o bilhete. Dava tempo ainda de jantar e só depois deixar Macau por Hong Kong. Entrei num táxi. O céu estivera baixo e feio du-rante o dia mas agora eram as cores do crepúsculo pintavam-no de um anil pro-fundo e efémero, a dois passos do verme-lho e do negro.

Meditava nas razões que levariam aquele rapaz a convocar-me, assim de for-ma tão repentina e bizarra, depois de se terem passados tantos dias desde o nosso primeiro e último encontro. Que, repito, foi totalmente fortuito. Deixava-me ir, algo excitado por um certo mistério que pressentia aproximar-se da minha vida. Olhava as ruas sem as ver, sem reparar em nada, completamente toldado em re-flexões absurdas. Decidi respirar fundo, recostar-me, refastelar-me na vastidão da-quele assento e dar a importância devida ao acontecimento, ou seja, nenhuma.

Que me poderia querer de importante João Junqueiro? Saberia ele trazer-me de novo, algo que eu não vira, não soubera, não experimentara? Terá era alguma novi-

dade? Nada, por certo. Tratar-se-ia de uma conversa quase corriqueira: na pior das hi-póteses, pedir-me-ia dinheiro emprestado ou desabafaria um amor. O táxi está para-do numa fila que antecede um semáforo. Como estarão os meus amigos de Hong Kong? Richard... Jane... Jasmine... encon-trar-nos-emos hoje por volta da uma, num bar de Wan Chai. A noite será gloriosa. As rodas do táxi voltam a deslizar em silên-cio sobre o alcatrão quente. São doces os frutos das bermas. O que se pode esperar de Macau?

VIII

O Hotel Bela Vista figurava em todos ro-teiros de viagem. A sua varanda sobre a cidade, ao gosto colonial, fora espaço de amores súbitos e de intrigas diversas ao longo dos anos mais interessantes deste século. João esperava-me à porta. Pelos seus gestos mal contidos percebi que es-

tava apressado, isto apesar de fazer um titânico esforço para ocultar — talvez por delicadeza, pensei — o seu estado de ansiedade. Não se alargou em grandes ex-plicações. Mal nos sentámos e pedimos as bebidas, depois de cumprimentos ocasio-nais, olhou-me fixamente. A chama trocis-ta dos seus olhos dera lugar ao medo. O mesmo nevoeiro avermelhado, certamen-te, mas as pupilas eram agora esquivas.

– A minha presença em Macau tor-nou-se impraticável – atirou. – Pensar que tenho de viajar é um enorme aborre-cimento. Apetecia-me tudo menos ter de mudar de cidade, começar de novo noutro sítio qualquer.

E ria-se, emitindo um som roufenho e trágico. A sua mão agarrou o copo sem tremer. Beberricou o uísque com visível satisfação. Depois contou-me uma história inverosímil que me escuso de reproduzir pois não passava claramente de um delírio. Metia um atelier de escultura, um homem de mãos sapudas e vários diagramas. Não lhe prestei muita atenção. Estava habitua-do a ser abordado por numerosas pessoas com histórias e conspirações extraordiná-rias. Aprendera a ouvir sem registar, a não prestar grande atenção. Ele também não se alongou. Rapidamente sorveu o uísque e fez menção de se retirar.

Nesse momento aproximava-se da nossa mesa uma mulher. João, parecendo surpreendido, levantou-se e apresentou-a:

– É a Lara.Ela sentou-se imediatamente na úni-

ca cadeira vaga, que ali estava como se esperasse pela sua chegada. Praticamente

ignorava a presença de João e fazia-me perguntas de rajada sem que os seus olhos denotassem a mais ténue curiosidade. Di-ria mesmo que não ouvia as minhas res-postas. O seu olhar vagueava algures além de mim, de tal forma intenso que me senti um pouco incomodado.

– Suponho que não se deve demorar em Macau… é pena… – disse com um suspiro.

– É pena porquê? – perguntei num tom talvez demasiado susceptível.

Ela não acusou o toque e respondeu--me calmamente com a mesma voz velada:

– Por nada… esta cidade conhece-se devagar, quase sem querer. Foge de quem corre atrás dela.

Resolvi ser contido e não lhes propor-cionar demasiados pormenores.

– Não tenho intenção de me demorar. Estou apenas de passagem.

– Isso é o que dizem todos… –, re-plicou.

– O que quer dizer com isso?Sorriu e respondeu, com olhos agora

muito abertos, insistindo num ponto dis-tante por detrás da minha cabeça:

– Oh... nada… nada… se tivesse tem-po gostava que me levasse a passear pelas ruelas do porto.

– Mas eu não conheço...– Por isso mesmo. Talvez descobrísse-

mos qualquer coisa juntos.Esboçou de novo um sorriso e le-

vantou-se para se ir encostar na varanda. Como nos filmes, soprou uma brisa súbita que lhe fez estremecer o vestido, colando--o suavemente aos contornos magros do seu corpo.

Era uma mulher misteriosa e magnífi-ca, uma dessas personagens sem país defi-nido, que falam todas as línguas com um sotaque infantil e sedutor. Ela acendia um cigarro e soprava o fumo de encontro ao poente. As colunas da varanda perdiam a sua cor baça com o cair da tarde e Lara tornava-se numa silhueta recortada num céu ainda levemente anilado.

Fez-se um grande silêncio, os criados sumiam-se por uma porta esconsa e os clientes esqueciam-se de falar, os olhos enevoados pela luz húmida, embrutecidos de calor e cheiro de álcool frutado. Tom-bava-lhes o lábio inferior sobre os peiti-lhos engomados. Lara voltou-se para mim e olhou-me longamente. Depois afastou--se para o fundo da varanda em passos rápidos, ritmados.

(Continua na próxima semana)

– A MINHA PRESENÇA EM MACAU TORNOU-SE IMPRATICÁVEL – ATIROU. – PENSAR QUE TENHO DE VIAJAR É

UM ENORME ABORRECIMENTO. APETECIA-ME TUDO MENOS TER DE MUDAR DE CIDADE, COMEÇAR DE NOVO

NOUTRO SÍTIO QUALQUER

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hoje macau segunda-feira 26.5.201414 publicidade

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMOANÚNCIO

A Região Administrativa Especial de Macau, através da Direcção dos Serviços de Turismo, faz público que, de acordo com o Despacho do Ex.mo Senhor Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, de 9 de Maio de 2014, se encontra aberto concurso público para adjudicação do serviço de “Transporte de Material Pirotécnico, Morteiros e Materiais Sobressalentes destinados ao 26.º Concurso Internacional de Fogo de Artifício de Macau”.1. Entidade que põe a prestação de serviços a concurso: Direcção dos Serviços de Turismo.2. Modalidade do procedimento: Concurso público.3. Local de execução dos serviços: Locais mencionados no Caderno de Encargos.4. Objecto dos serviços: Transporte de Material Pirotécnico, Morteiros e Materiais Sobressalentes destinados ao 26.º

Concurso Internacional de Fogo de Artifício de Macau.5. Prazo de execução: Cumprimento das datas constantes no Caderno de Encargos.6. Prazo de validade das propostas: Noventa dias, a contar da data do encerramento do acto público do concurso.7. Caução provisória: MOP98.000,00 (noventa e oito mil patacas), a prestar mediante garantia bancária ou depósito em

numerário, em ordem de caixa ou cheque visado, emitidos à ordem da “Direcção de Serviços de Turismo”, efectuado directamente na Divisão Financeira da Direcção dos Serviços de Turismo, ou no Banco Nacional Ultramarino de Macau através de depósito à ordem do Fundo de Turismo, na conta número:「8003911119」 devendo ser especificado o fim a que se destina.

8. Caução definitiva: 4% do preço total da adjudicação.9. Preço base: Não há.10. Local, dia e hora limite para entrega das propostas: Direcção dos Serviços de Turismo, sito em Macau, na Alameda Dr.

Carlos d’ Assumpção, n.os 335-341, Edifício Hotline, 12.º andar até às 17:45 horas do dia 11 de Junho de 2014.11. Local, dia e hora do acto de abertura das propostas: Auditório da Direcção dos Serviços de Turismo, sito no 14.º andar

da sede dos serviços, pelas 10:00 horas do dia 12 de Junho de 2014.Os concorrentes ou os seus representantes legais deverão estar presentes no acto público de abertura das propostas para os efeitos de apresentação de eventuais reclamações e/ou para esclarecimento de eventuais dúvidas dos documentos apresentados a concurso, nos termos do artigo 27.° do Decreto-Lei n.° 63/85/M, de 6 de Julho.Os concorrentes ou os seus representantes legais poderão fazer-se representar por procurador devendo, neste caso, apresentar procuração notarial conferindo-lhe poderes para o acto de abertura das propostas.

12. Adiamento: Em caso de encerramento dos serviços públicos por motivo de força maior, o termo do prazo de entrega das propostas, a data e a hora de abertura de propostas serão adiados para o primeiro dia útil imediatamente seguinte, à mesma hora.

13. Critérios de apreciação das propostas:

Critérios de adjudicação Factores de ponderaçãoPreço 50%Experiência do concorrente 20%

Maior garantia de segurança e eficiência na prestação do serviço 20%

Maior flexibilidade dos prazos da prestação 10% 14. Local, dias, horário para a obtenção da cópia e exame do processo do concurso:

Local: Balcão de Atendimento da Direcção dos Serviços de Turismo, sito em Macau, na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção, n.os 335-341, Edifício Hotline, 12.º andar, além disso ainda se encontra igualmente patente no website da Direcção dos Serviços de Turismo (http://industry.macautourism.gov.mo), podendo os concorrentes fazer “download” do mesmo.Dias e horário: Dias úteis, desde a data da publicação do presente anúncio até ao dia e hora limite para entrega das proposta e durante o horário normal de expediente.

Direcção dos Serviços de Turismo, aos 15 de Maio de 2014.

A Directora dos Serviços, Subst.a

Tse Heng Sai

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15DESPORTOhoje macau segunda-feira 26.5.2014

MARCO [email protected]

O Sporting Clube de Macau não desarma da corrida pelo título e ontem conservou

incólumes as esperanças de poder alcançar o arqui-rival Benfica na liderança da classificação da Liga de Elite. Os leões do território, que têm ainda um jogo em atraso, derrotaram de forma convincente a frágil formação do Lai Chi por quatro bolas a uma, em partida a contar para a 13ª jornada da competição.

Com um futebol mais estru-turado, a formação orientada por Mandinho e por João Maria Pegado inaugurou o marcador antes ainda do primeiro quarto de hora do desafio, com Luis Carlos Ferrei-ra, conhecido dentro das quatro linhas por Jardel, a impulsionar o Sporting para a frente do placard.

O Lai Chi não acusou o toque e esboçou uma resposta seis minutos depois, ao conquistar uma grande penalidade. Inspirado na baliza dos leões do território, o brasileiro Juninho impediu que o adversário fizesse regressar o jogo à estaca zero, ao travar o penalti com uma defesa atenta. Muito influente ao meio-campo, o capitão Bruno Brito voltou a mostrar porque razão é visto como um dos activos mais valiosos do Sporting Clube de Macau, ao apontar o segundo golo do onze verde e branco na cobrança exímia de um livre-directo. Pronto na resposta, o Lai Chi respondeu menos de quatro minutos depois, num lance concluído por Au Ip Nam.

O Sporting acabaria por se despedir da primeira parte na liderança do marcador, mas só na etapa complementar conseguiu liquidar a partida. Aos 63 minutos, os leões voltaram a festejar novo golo. Na sequência de uma boa jogada do ataque da formação de matriz portuguesa, o francês Gas-pard Laplaine fez o 3-1. O quarto e último golo do grupo de trabalho às ordens de Mandinho e de João Maria Pegado materializou-se no derradeiro minuto do tempo regu-lamentar. Bruno Brito levou a bom porto nova boa jogada de ataque dos leões, bisando na partida e encerrando a marcha do marcador.

Com o triunfo, o Sporting de Macau aproximou-se do segundo lugar, ocupado a título provisório pelo Monte Carlo. Os campeões do território têm um ponto de van-tagem sobre o emblema presidido por António Conceição Júnior, mas os leões contabilizam menos

BENFICA ESMAGA LANTERNA-VERMELHA KEI LUN

Leões não arredam na luta pelo título

dois jogos. No sábado, a formação orientada por William Chu não deixou créditos por mãos alheias e derrotou a selecção de Sub-23 por três bolas a uma. O onze “canarinho” operou uma entrada fulgurante no desafio e inaugurou o marcador logo aos três minutos, com Júlio César a responder da melhor forma a um livre directo apontado por Sio Ka Un e a bater de cabeça o guarda-redes adversário.

O início de partida frenético

acabaria por garantir um segundo golo ao Monte Carlo menos de nove minutos depois. Francisco Falcão levou a melhor sobre dois adversários, antes de rematar cru-zado para o fundo das redes da Selecção de Sub-23.

A formação da Associação de Futebol de Macau só na segunda parte conseguiu responder na mes-ma moeda. Aos 70 minutos, Lam Ka Seng bateu Domingos Chan na baliza do Monte Carlo e apontou

o tento de honra dos Sub-23 na sequência de uma jogada de contra--ataque e de uma boa triangulação com um colega de equipa. O golo não beliscou o maior protagonis-mo dos campeões do território, que encerraram a contagem a oito minutos dos noventa. Marcou de cabeça o brasileiro Francisco Carmo após um bom cruzamento de Lo Chin Fong.

Numa jornada parca em sur-presas e em desafios de vulto,

Windsor Arch Ka I e Chao Pak Kei protagonizaram aquele que seria à partida o encontro mais equilibrado da jornada. Melhor posicionado na tabela do que o adversário, o Ka I não deixou créditos por mãos alheias e no espaço de um minuto marcou dois golos. Aos oito minutos, o sul-coreano Kim Young-bin empurra para o fundo da baliza deserta de Lok Ka On, instado por um colega de equipa e coloca os pupilos de Chan Man Kin na frente do marcador. O mesmo atleta bisou menos de um minuto depois, ao não comprometer no frente a frente com o guarda-redes do Chao Pak Kei, depois de se desmarcar na frente de ataque.

O brasileiro Adilson Sousa da Silva também deixou o nome nos anais da partida aos 23 minutos, ao empurrar para o fundo da bali-za adversária, depois de uma boa jogada do defesa Samuel Ramo-soeu. Numa tarde para esquecer, o guarda-redes Lok Ka On acabou por consentir novo golo antes ainda do final da primeira parte, ao não conseguir travar Ho Man Hou. A perder por quatro bolas a zero, o Chao Pak Kei acabou por não conseguir fazer melhor do que apontar um golo de honra. Marcou o substituto Pedro Lopes Pereira, ao bater o guarda-redes Ieong Fong Meng com um remate cruzado.

Imperturbável na liderança da classificação, o Benfica encerrou as contas da 13ª jornada da edição de 2014 da Liga de Elite com uma goleada. As águias do território derrotaram o lanterna vermelha Kei Lun por oito bolas a zero, num desafio em que Nicholas Torrão esteve em alta. O internacional do território inaugurou o marcador aos oito minutos e voltou a fazer o gosto ao pé por duas ocasiões, aos treze e aos 37 minutos. Iuri Capelo apontou à passagem do minuto dez o segundo tento da formação encarnada, antes de Vinício Morais Alves mostrar qua-lidades aos 14 minutos. O dianteiro macaense voltou a fazer o gosto ao pé aos cinco minutos da segunda parte. O brasileiro William Carlos Gomes apontou os dois restantes golos das águias do território, marcando aos 36 e aos 89 minutos.

CLASSIFICAÇÃOJ V E D GM GS P

1 Benfica 13 10 2 1 50 3 32

2 Monte Carlo 13 8 3 2 36 15 27

3 Sporting 11 8 2 1 23 8 26

4 Windsor Arch Ka I 12 6 4 2 33 13 22

5 C.P.K. 12 4 4 4 22 14 16

6 Polícia 11 3 3 5 13 15 12

7 Lai Chi 12 3 1 8 20 35 10

8 MFA Development 12 2 0 10 6 48 6

9 Kei Lun 12 0 1 11 8 60 1

RESULTADOS13ª JORNADA

Chao Pak Kei 1 – 4 Ka I

Sub-23 1 – 3 Monte Carlo

Sporting 4 – 1 Lai Chi

Kei Lun 0 – 8 Benfica

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TEMPO POUCO NUBLADO MIN 27 MAX 32 HUM 70-90% • EURO 10.8 BAHT 0.2 YUAN 1.2

C I N E M ACineteatro

ACONTECEU HOJE 26 DE MAIO

João Corvofonte da inveja

Ainda bem que ninguém vê o elefante. Provavelmente não existe.

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

Os animais não são genteE ainda bem. Se a reencarnação existe, espero que, quando voltar a este mundo, depois de acabadas as minhas sete vidas, apareça mais uma vez em forma de animal. Pode ser gato, cão, leão, porco e até barata, não me importo... mas em forma de gente é que não! As pessoas são muito complicadas e pior do que isso, gostam de complicar. Senão vejamos. Soube recentemente de um caso de um inimigo meu, um cão, uma cadela para ser mais preciso, que estupidamente fugiu do dono e acabou atropelada numa rua de Macau. A pobre bicha ficou paralisada da cintura para baixo, ou para trás, como preferirem. Resultado: as patas traseiras ficaram imobilizadas e a cadela nunca mais vai poder voltar a andar normalmente. Para agravar a situação a bicha não consegue urinar nem evacuar sem a ajuda de alguém. E aí é que está o problema. Lá aparecem as pessoas a meter o bedelho onde não devem. Sob o pretexto de fazer o bem, o que estão a fazer é precisamente o contrário. Então não é que estão a tentar arranjar uma cadeira de rodas para a pobre infeliz que assim continuará a sofrer até que Deus ou o diabo a leve. Será que isto é ajudar os animais? A verdadeira e piedosa ajuda não seria terminar com a tortura de uma vez por todas.

16 FUTILIDADES hoje macau segunda-feira 26.5.2014

O Futuro é já ali. Uma sociedade onde as pessoas falam sozinhas na rua, ligadas à tecnologia. Theodore Twombly, (Joaquin Phoenix ) um escritor solitário a recuperar do fim do seu casamento, apaixona-se por um novo sistema operativo que acabou de comprar. A voz é de Scarlett Johansson, o que ajuda. A tecnologia aproxima-nos ou afasta-nos uns dos outros? - José C. Mendes

H O J E H Á F I L M EHER

SPIKE JONZE (2013)

Dois grandes nomes das Artes partilham a data de nascimento• Os norte-americanos John Wayne e Miles Davis, persona-gens incontornáveis do cinema e da música, respectiva-mente, são recordados a 26 de Maio. Chamava-se Marion Michael Morrison, mas detestava o nome e assim que entrou na sétima arte, passou a ‘chamar-se’ John Wayne, nome adorado na história do cinema. Viria a consagrar-se em 1939, no papel de Ringo Kid, em ‘Stagecoach’, clássico de John Ford. O filme de Ford e a personagem de Wayne marcariam para sempre o “faroeste” clássico norte-americano, daí que a ligação entre ambos tenha perdurado, com mais de duas dezenas de películas de tremendo sucesso, no país dos Óscares. Wayne também trabalhou com o realizador Howard Hawks e deu seguimento à sua caminhada triunfal em Hollywood, com filmes como ‘Rio Vermelho’ (1948), ‘El Dorado’ (1967) e o notável ‘Onde Começa o Inferno’ (1959). John Wayne morreria a 11 de Junho de 1979, com 72 anos, em Los Angeles, Califórnia. Já Miles Davis – que nasceu em Alton, neste dia, em 1926 – foi trompetista e compositor. O norte-americano é tido como um dos mais influentes músicos do século XX e marcou um vinco no jazz, desde a II Guerra Mundial, até 1990. Parte de um grupo de trompetistas onde se incluem nomes como Buddy Bolden, Joe Oliver, Louis Armstrong, Roy Eldridge e Dizzy Gillespie. Miles Davis não se notabilizou pela técnica, mas pelo modo como inovou, nos estilos musicais. Miles Davis, capaz de marcar um registo minimalista na sua música, mas também de conseguir alta complexidade com o trompete, viria a morre em Santa Monica, a 28 de Setembro de 1991. Hoje recorda-se um nome eterno na música, particularmente no jazz.

SALA 1X-MEN: DAYSOF FUTURE PAST [B]Um filme de: Bryan SingerCom: Patrick Stewart, Ian McKellen, Hugh Jackman, James McAvoy14.30, 16.45, 21.30

X-MEN: DAYSOF FUTURE PAST [3D] [B]Um filme de: Bryan SingerCom: Patrick Stewart, Ian McKellen, Hugh Jackman, James McAvoy19.15

SALA 2 GODZILLA [B]Um filme de: Gareth EdwardsCom: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen14.30, 16.45, 21.30

GODZILLA [3D] [B]Um filme de: Gareth EdwardsCom: Aaron Taylor-Johnson, Ken Watanabe, Elizabeth Olsen19.15

SALA 3THE AMAZINGSPIDER-MAN 2 [B]Um filme de: Marc WebbCom: A. Garfield, E. Stone, J. Foxx, D. DeHaan14.15, 19.15

THE ETERNAL ZERO [C](FALADO EM JAPONÊS LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Takashi YamazakiCom: Junichi Okada, Haruma Miura, Mao Inoue16.45, 21.45

X-MEN: DAYS OF FUTURE PAST

Page 17: Hoje Macau 26 MAI 2014 #3096

hoje macau segunda-feira 26.5.2014 17OPINIÃO

I MPONENTE no coração de Roma e da cristandade, a moderna Basí-lica de São Pedro ergue-se sobre a inapagável mácula da dissensão. Sem os fundos necessários para erigir o que se considerava ser um sacrário digno da glória de Cristo, o papa Leão X sacou da pontifica mitra a mais genial das estratégias de marketing: garantiu um lugar

cativo no céu a todos quantos se mostrassem disponíveis para financiar a construção da mãe das igrejas do mundo cristão. Quanto maior fosse o estereobato, o estilobato ou a cornija custeada, maior seria o alcance da remissão dos pecados e mais delicado o recanto de céu alcançado. Um capitel lavrado no polido mármore de Carrara abria as portas a um rincão premium de nuvem, alva candura com vista desamparada para a magnificência divina, um coro de querubins por companhia.

Incomodado pela mercantilização do paraíso, Martinho Lutero afixou 95 teses na porta da abadia de Wittenberg e o resto é história, mas também economia: a crise que abalou as fundações da Europa ao longo dos últimos anos afectou com particular violên-cia Portugal, a Irlanda, a Itália, a Grécia e Espanha. Os cinco países têm em comum um défice excessivo, níveis de desemprego alarmantes, perspectivas económicas pouco promissoras e problemas com a dívida so-berana. A tais traços de similitude acresce um outro não menos importante: excepção feita à Grécia, todos são países de maioria católica. As discrepâncias dentro do espaço

Balada dos Indulgentesexpediente c ín icoMARCO CARVALHO

europeu em termos de desenvolvimento ajudou a instituir o anátema sociológico de que o conceito de trabalho do mundo protestante é mais moderno e mais propício à geração de empregos e de um modo geral mais favorável ao enriquecimento.

Longe de resolver os problemas finan-ceiros da Igreja, a venda de indulgências sacramentou a expiação de faltas e de peca-dos e durante séculos a grande preocupação doutrinária do católico temeroso e praticante conjugou-se com a mais egocêntrica das ex-pectativas, a de se apresentar de folha limpa e currículo imaculado no dia do julgamento final. As dores de cabeça do depauperado Vaticano só se resolveram em meados do século XX, quando a Itália de Mussolini se prontificou a colocar um fim à Questão Romana e a ressarcir o papado pelas perdas territoriais sofridas pelos Estados Pontifícios após o Rissorgimento italiano. O Tratado de Latrão definiu o pagamento, por parte do Palácio do Quirinal à Cúria Papal, de uma indemnização no valor de 750 milhões de liras e o trono de São Pedro, mais do que da graça do espírito santo, fez uso de artifícios mais ou menos transparentes de engenharia financeira para multiplicar o montante e escapar à periclitante sorte de ter de zelar pela saúde do rebanho apenas com os proveitos de esmolas, de donativos e da venda de selos, rosários e água benta. Directa e indirectamente, o Vaticano é um dos principais proprietários de Roma, onde possui mais de dez mil unidades hoteleiras de pequena e média dimensão, responsá-

veis por receitas anuais na ordem dos 700 milhões de euros.

Do outro lado do planeta, mesmo sem exibir traços substanciais de espiritualidade ou de particular preponderância divina, uma outra entidade semi-soberana parece ter contado com a graça do Espírito Santo para atingir níveis de prosperidade inimagináveis. Muito do que acontece em Macau em matéria de economia deve mais à incerta palpitação do acaso e ao capricho divino do que à visão de economistas, analistas e planificadores. De uma agilidade quase medieval, a enge-nharia das finanças do território não navega em derivativos incertos, não naufraga no

elevado risco de swaps mal calculados nem se perde na labiríntica e indecifrável mecâ-nica de fundos de cobertura. A excisão de um imposto director de 35 por cento sobre as receitas do sector do jogo é matemática suficiente para que quem decide e quem governa não necessita de mais aritmética nenhuma.

Vivesse agora em Macau, Alberto Caeiro diria que há matemática suficiente em não calcular absolutamente nada. A circunstân-cia de não ter de equacionar um método de multiplicar proveitos, como fez o Vaticano no pós-Tratado de Latrão, facilita a tarefa de quem nos governa e facilita de mais do que uma forma: por um lado porque o combate económico está a partida ganho sem que ninguém tenha de queimar a moleirinha à procura de soluções. Por outro, porque prosperidade económica e sustentabilidade política tendem a confundir-se e casa onde sobeja pão, todos calam e ninguém se arroga ter razão.

Sem uma oposição estruturada e quantita-tivamente significativa, num sistema político ambíguo como é o da Região Administrativa Especial de Macau, o governo sucumbe inexoravelmente à ilusão de que o silêncio e a indiferença legitimam o poder e justifi-cam toda e qualquer tomada de decisão. Se numa democracia funcional, a abrangência do conceito de legitimidade política está directamente dependente do contrapeso da legitimidade eleitoral, num sistema institu-cional onde o voto directo não é a norma e os actos eleitorais não fazem mais do que ratificar uma encenação democrática (num sentido saint-simoniano do termo, de uma utopia igualitária onde uns são mais iguais que outros e como tal mais aptos às lides da governação), um outro barómetro de legitimação se torna necessário.

Num território com as características de Macau, com a pujança económica que tem demonstrado desde que há uma década o sector do jogo se abriu à concorrência, a única forma viável de tomar o pulso ao desempenho do Executivo terá que passar necessariamente por uma avaliação, o mais racional possível, do destino dado pelo governo à riqueza gerada e é neste aspecto particular que a matemática azeda. Justifica--se que ao fim de dez anos de crescimento económico, Macau não tenha ainda um se-gundo complexo hospitalar? Ou um sistema de transportes minimamente funcional? Que o metro ligeiro demore tanto tempo a deixar de ser uma miragem? E que Coloane tenha sucumbido à voragem do imobiliário? Que a febre da construção nos tenha deixado a todos mais pobres e infinitamente mais desesperados? Que um par de pandas me-reça mais consideração que meio milhão de almas? Justifica-se que um Executivo que pouco fez e tanto deixou por fazer queira ser compensado por pouco ter feito e exija para si as garantias e as indulgências que mais ninguém tem? E a nós? Quem nos indulge num melhor futuro?

Justifica-se que ao fim de dez anos de crescimento económico, Macau não tenha ainda um segundo complexo hospitalar? Ou um sistema de transportes minimamente funcional? Que o metro ligeiro demore tanto tempo a deixar de ser uma miragem? E que Coloane tenha sucumbido à voragem do imobiliário?

O JUDOCAcartoonpor Stephff

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hoje macau segunda-feira 26.5.2014

desporto e não sóFERNANDO VINHAIS GUEDES

U MA pessoa amiga enviou-me imagens recentes do torneio internacional de voleibol fe-minino, que a entidade des-portiva da RAEM organiza desde há anos a esta parte.

A qualidade do espectá-culo é de elevado nível, só possível a profissionais, que desde tenra idade, treinam

horas e horas por dia, deixando de lado, etapas do seu desenvolvimento, enquanto crianças, adolescentes e jovens!

É assim em todas as modalidades em todo lado.” De pequenino se torce o pepino” como diz o povo. Quanto ao resto pouco interessa e a componente Humana nada conta!

O importante, o que vale é chegar ao topo, mesmo, que para o conseguir se exijam sacrifícios desumanos a crianças, como de adultos se tratasse!

Voltando ao espectáculo realizado em Macau, a pergunta que se pode fazer é a seguinte: os anos passam e Macau dispõe actualmente de boas instalações desportivas para a prática desta modalidade. Quantas mais edições de alto nível, vão acontecer, sem que haja uma melhoria visível quer na quantidade, quer na qualidade do voleibol praticado em Macau?

Iniciativas deste tipo justificam-se princi-palmente, pelo empurrão que podem dar no desenvolvimento da prática desportiva e na melhoria da sua qualidade competitiva, caso contrário, passada a festa, fica tudo como antes!

É costume dizer-se, que, a casa começa por ser construída pela base e não pelo telhado!

Nesta matéria, a base é naturalmente a iniciação e esta tem, em qualquer parte do mundo, independentemente dos regimes políticos e ideológicos como local privile-giado a Escola!

Sabendo-se da singularidade dos Clubes em Macau, os quais, não passam de meras equipas, sem hábitos nem vocação para desenvolverem essa iniciação e consequente formação, restam como parceiros neste processo, o Instituto do Desporto de Macau (IDM) e os Serviços de Educação, que desde há mais de 35 anos, organizam os Campeo-natos do Desporto Escolar da RAEM!

O diagnóstico do problema/dilema do des-porto desta Terra está feito há muito tempo. Não é pois necessário inventar o que quer que seja.

O que tem faltado ao desporto de Macau, vou repetir-me, é um projecto estratégico de desenvolvimento, que defina os parceiros, distribua tarefas, objectivos a atingir e natu-ralmente a elaboração de programas anuais adaptados à realidade local, com avaliações anuais e respectivas correcções!

Claro está, que para isso, torna-se neces-sário encetar conversações entre parceiros e acima de tudo ter a coragem e a determi-nação de colocar os meios que existem e são muitos, financeiros, materiais, técnicos e humanos, para implementar com sucesso a respectiva programação.

Não creio pois que a simples organização

Grandes eventosde grandes eventos resolva qualquer proble-ma com que se debate o desporto de Macau.

Se assim fosse e porque Macau já orga-nizou grandes eventos, Jogos da Ásia, da Lusofonia e “Indoor” teria existido já, uma melhoria visível no panorama desportivo local.

A estratégia, que sempre defendi, remon-ta já a 1985 ano em que deixei as funções de responsável pelo desporto local, isto depois de quatro anos de experiências e de muita reflexão, quanto a saídas do beco em se encontrava e ainda se encontra o desporto da agora RAEM.

Em carta dirigida ao então Governador Almeida e Costa, com o título” desporto em Macau/ perspectivas futuras” em Maio de 1985, que consta do meu livro publicado em

Macau em 2008 com o título-Desporto em Macau 1981-1985- escrevi:

“ Não sendo defensor de um desporto do Estado, a singularidade do desporto de Macau exige que o Governo do Território entre no desporto, quer na construção de infra-estruturas, sempre necessárias mas nunca suficientes, mas também no aumen-to e na melhoria de organização, apoio à dinamização, principalmente do desporto Escolar e desporto de recreação, sectores que haviam respondido de forma muito positiva aos desafios que lhe foram lançados”.

Lembro contudo, que nesse tempo, em Macau havia o ensino oficial e o ensino privado.

Do primeiro fazia parte apenas um jardim--de-infância, uma Escola primária, duas Luso Chinesas, uma Escola Preparatória e um Liceu! As restantes que representavam mais de 90/% da população escolar, eram privadas.

Defendi sempre que Macau não era Por-tugal e como tal não se obteriam ganhos com

a entrega do desporto escolar aos Serviços de Educação, como haviam feito no País de Camões com os resultados desastrosos que ainda hoje existem. De igual modo a entrega do desporto para todos, ao Leal Senado e à Câmara das Ilhas, não trariam qualquer vantagem, como penso, se veio a verificar.

A meu ver deveria, isso sim, ser reforçada a capacidade da estrutura existente, dando--lhe o nível de uma Direcção de Serviços, dotando-a com meios financeiros matérias e humanos (éramos somente 18 pessoas, incluindo técnicos, administrativos e encar-regados de recintos desportivos).

Não sei quantas pessoas trabalham actualmente, no IDM, no Departamento da Juventude e Desporto Escolar dos Serviços de Educação e no Desporto para Todos do antigo Leal Senados!

Julgo, que talvez mais de cem pessoas! O resultado produzido deve ser bem mais difícil de obter do que se estivesse tudo num só Serviço, sem prejuízo das parcerias, que ao tempo já eram feitas com esses parceiros. Pelo menos poupava-se na elaboração do

tal projecto estratégico de desenvolvimento desportiva coordenação, na avaliação dos resultados e acima de tudo na eficácia da sua aplicação.

Porque comecei a falar de um grande evento, competição de voleibol Feminino, talvez faça sentido lembrar, que por mais publicitados que sejam, a maior parte das vezes, não conseguem disfarçar as carências e a atrofia em que se encontra a real situação do desporto de quem os organiza.

Mesmo quando se trata de eventos à escala mundial, como são por exemplo os Jogos Olímpicos e os campeonatos do Mundo de Futebol, mesmo aí, cada vez mais as pessoas, os cidadãos, o povo se indigna, protestando como está a acontecer no Brasil, pelos gastos faraónicos na construção de estádios luxuosos, reclamando mais e me-lhores hospitais, mais e melhores Escolas, habitações sociais, transportes, em suma, mais e melhor qualidade de vida para aqueles e são muitos carentes de tudo!

Há mais vida para além dos grandes eventos desportivos, cada vez mais mercantilizados onde o dinheiro e o lucro ditam as regras.

Não se pense que sou contra os grandes eventos desportivos, melhor dizendo, con-tra os grandes espectáculos desportivos, que de desporto só têm o nome, uma vez que os seus actores nunca tiveram outra profissão, tal como acontece no espectá-culo circense!

Estou, isso sim, contra a confusão que se estabeleceu, ao chamar desporto ao espectá-culo de profissionais, diria mesmo de super profissionais, que em algumas modalidades, auferem quantias exorbitantes, bastando--lhes o trabalho de uma dúzia de anos para, se tiverem bom senso, viver o resto da vida sem preocupações financeiras!

Estou, isso sim, contra a organização de grandes eventos por países, que gastam centenas de milhões na sua organização, deixando para segundo plano, a resolução de problemas básicos de saúde, de educação, de habitação e de assistência social!

Esses sim, esses devem ter prioridade sobre os grandes eventos desportivos, mui-tos dos quais servem para propaganda dos dirigentes políticos que governam!

A grande bandeira de um país deveria ser, não tanto a corrida ao número de me-dalhinhas, mas muito mais o bem-estar, a qualidade de vida dos seus cidadãos, inclu-sive as percentagens da população, que faz a sua prática desportiva semanal nos seus tempos livres, enquanto meio privilegiado para o seu equilíbrio psico-fisiológico, social e até afectivo!

Se fosse dirigente de um país, seria esse o meu primeiro objectivo. Aí investiria o dinheiro quem é de todos. O resto, o desporto espectáculo, interpretado por profissionais deixava-o para os clubes ou empresas, como já acontece em muitos países, onde é enten-dido como uma indústria rentabilizada pelas receitas da venda de ingressos, publicidade a acima de tudo pelos direitos televisivos.

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19 opiniãohoje macau segunda-feira 26.5.2014

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macau v is to de hong kongDAVID CHAN*[email protected] • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog

*Professor Associadono Instituto Politécnico de Macau

N O dia 16 de Maio de 2014, o “yahoo” dizia que o assassi-no Ng Wai Chiu Tony tinha sido libertado no Estados Unidos e voltado para Hong Kong.

Ng Wai Chiu Tony es-teve preso um por assalto à mão armada há 31 anos. No dia 19 de Fevereiro de

1983, 1983-2-19, Tony e dois cúmplices cometeram um assalto à mão armada numa casa de jogos ilegal na Chinatown de Seattle. Assaltaram a casa de jogo e mataram treze pessoas.

Tony tentou fugir para o Canada mas foi apanhado e condenado a 30 anos de cadeia.

Enquanto esteve preso, Tony deu várias entrevistas à comunicação social e tirou um curso de informática. Voltou para Hong Kong para procurar o pai

A comunicação social entrevistou Tony há alguns dias. Tony disse:

“O que eu fiz foi assustador. Também acho que as vitimas estavam bastante assustadas no momento do crime. Não fui o assassino mas tinha de assumir res-ponsabilidades por aquilo que fiz antes. Espero sinceramente que as famílias das vitimas me perdoem, mas compreendo se não o fizerem. Lamento tudo o que se passou, mas por favor, não me tratem como um assassino”.

Na altura dos crimes, Tony tinha 26 anos. Não havia provas de que Tony te-nha disparado e morto aquelas pessoas. A sua defesa foi coagida e a sua família foi acusada de conspiração e cumplicidade. Tony tem agora 58 anos. Foi um preso exemplar e goza actualmente de liberdade condicional. Voltou para Hong Kong há poucos dias. O promotor americano e as famílias das vitimas opuseram-se à liber-dade condicional. O promotor alegou que o crime de Tony foi o pior cometido em Seattle. Os motivos das vitimas são óbvios. Para eles era impossível que Tony saísse em liberdade.

De acordo com as informações da co-municação social, Tony ainda devia cum-prir mais dois anos de cadeia. Só saiu em liberdade condicional, sob a condição de deixar os Estados Unidos imediatamente.

Como já não é um criminoso, Tony pode andar em Hong Kong livremente como qualquer outro cidadão.

“Parole” (liberdade condicional) vem da palavra francesa “parole”. Era uma expressão que significava libertar proviso-riamente um prisioneiro, antes do fim da sentença, Idade Média. O preso para sair em liberdade condicional tem de preencher

Liberdade condicional

Tenhamos esperança de que o sistema prisional e a reabilitação funcionem para que os criminosos se tornem boas pessoas e não voltem a cometer crimes

alguns requisitos. No caso de Tony teve de concordar em sair dos EUA, senão nunca sairia em liberdade condicional.

As condições da liberdade condicional variam de caso para caso. Não existe uma regra fixa. A segurança é a prioridade, do ponto de vista do governo q, que representa a opinião pública. Por outras palavras, de ser levado em linha de conta a possibilidade de o prisioneiro voltar a cometer um crime. Um dos factores para ser atribuída a liberdade condicional é o comportamento do crimi-noso na prisão. Em Macau, o Código Penal determina as condições para a liberdade condicional. São as seguintes:

“Pressupostos e duração O tribunal coloca o condenado a pena de prisão em liberdade condicional quando se encontrarem cumpridos dois terços da pena e no mínimo 6 meses, se:

a) Para fundadamente de esperar, atentas as circunstâncias do caso, a vida anterior do agente, a sua perso-nalidade e a evolução desta durante a execução da prisão, que o condenado, uma vez em liberdade, conduzirá a sua vida de modo socialmente respon-sável, sem cometer crimes; e b) A libertação se revelar compatível com a defesa da ordem jurídica e da paz social. A liberdade condicional tem duração igual ao tempo de prisão que falte cumprir, mas nunca superior a 5 anos. 3. A aplicação da liberdade condi-cional depende do consentimento do condenado.” Em Hong Kong, a liberdade condi-

cional é regida pela Prisoners (Release under Supervision) Ordinance Cap. 325, Laws of Hong Kong. A secção 7 (1) diz que um nfractor que tenha cumprido três ou mais anos de prisão e que já tenha cumprido mais de metade da sua pena ou que tenha cumprido não menos de 20 meses de cadeia, pode requerer a liber-dade condicional. O período de liberdade condicional não deve ser mais de seis meses. Se fotudo correr bem o criminoso fica sob a alçada da “Supervision Order” até ao fim da pena.

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A secção 7(2) acrescenta uma outra regra. O infractor que já tenha cumprido pelo menos dois anos da sua pena e que será libertado nos próximos seis meses pode requerer a liberdade condicional. Se for bem sucedido fica sob o regime da “Supervision Order”. Pode trabalhar fora da prisão mas tem de ficar na residência indicada pelos serviços prisionais até ao fim do tempo da pena. No caso de a sentença ser de prisão perpétua, o prisioneiro não pode requerer a liberdade condicional.

A reabilitação e as regras do sistema prisional são diferentes em Hong Kong e em Macau. No artigo “A liberdade dos prisioneiros” publicado no dia 27 de Ja-neiro deste ano, falámos que a liberdade dos prisioneiros dependia da lei. A lógica do sistema prisional e da reabilitação é a mesma. Permitimos que um criminoso trabalhe em regime de liberdade condi-cional? Que duração tem a liberdade condicional? Nãp há uma resposta exacta. Depende da lei.

Independentemente de respostas, o mais importante é uma sociedade pacífica. Tenhamos esperança de que o sistema pri-sional e a reabilitação funcionem para que os criminosos se tornem boas pessoas e não voltem a cometer crimes.

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hoje macau segunda-feira 26.5.2014

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C HADE suspendeu todas as operações da Corpora-ção Nacional de Petróleo

da China (CNPC, na sigla em inglês) por alegadamente terem violado as leis ambientais, anun-ciou o Ministério do Petróleo numa carta citada pela agência de notícias AFP.

O ministro acusou a com-panhia estatal chinesa de vio-lar sistematicamente as leis ambientais e de se envolver em práticas poluidoras que são proibidas, não só pela lei do Chade, como também pelos regulamentos internacionais, e afirmou que todas as actividades exploratórias da companhia chinesa no país foram suspensas desde quarta-feira.

Em Agosto do ano passado, o Chade também suspendeu as actividades devido a problemas semelhantes, tendo levantado a suspensão umas semanas mais tarde, de acordo com a AFP.

A China tem recorrido a África para se abastecer de

energia, nomeadamente pe-tróleo, representando cerca de um terço das importações do gigante asiático de petróleo, que totalizam à volta de cinco milhões de barris por dia, mais do dobro, por exemplo, de toda a produção de Angola, o segundo maior produtor africano.

A companhia chinesa anun-ciou no ano passado a compra de 10 por cento dos direitos de exploração do Bloco 31, em Angola, à norte-americana Marathon, por cerca de 11 mil milhões de patacas.

A empresa comprou ainda à italiana Eni 20 por cento dos direitos de exploração no campo de gás Área 4, no offshore de Moçambique, por cerca de 30 mil milhões de patacas.

A Eni manteve 50 por cen-to dos direitos neste campo, que será explorado ainda pela Empresa Nacional de Hidrocar-bonetos de Moçambique, pela Kogas e pela Galp Energia (10 por cento cada).

O Real Madrid voltou a ser campeão europeu, 12 anos depois da última

final. O tão almejado décimo troféu dos merengues na Liga dos Campeões é uma realidade, mas só se concretizou após muito sofri-mento. Numa final imprópria para corações mais frágeis, a equipa de Carlo Ancelotti impôs-se no pro-longamento por 4-1. O Atlético de Madrid sofreu uma acentuada quebra física no tempo extra, que o Real Madrid aproveitou para construir um resultado demasiado penalizador para os colchoneros.

Com todo o realismo, os adeptos pediam à equipa de Diego Simeone que lhes desse algo impossível: o título de campeã europeia. Depois de

vencer, de forma improvável, o campeonato espanhol, o Atlético de Madrid disputava a final da Liga dos Campeões e tentava fechar com chave de ouro uma temporada a todos os títulos memorável.

Godín encheu de esperança os corações dos adeptos, mas, na fase decisiva, os colchoneros pa-garam a factura do esforço físico exigido por uma época tão longa e da falta de pedigree. O Real Madrid, mais habituado a estas andanças, manteve-se vivo na final de forma quase milagrosa, com um golo de Sérgio Ramos no período de compensação, a levar o jogo para prolongamento. E aí as diferenças ficaram bem vincadas.

CHADE SUSPENDE EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NO PAÍS PELA CHINA

Mau ambiente

LA DÉCIMA É UMA REALIDADE

Sofrer valeu a pena