21
3 1 INTRODUÇÃO Este trabalho possui o objetivo de evidenciar parâmetros como humanização e sustentabilidade,que norteiam o desenvolvimento de projetos de habitação coletiva de baixa densidade.Para tanto,discorre acerca de conceitos de humanização e sustentabilidade aplicados ao projeto de habitação coletiva de baixa densidade,além de citar exemplos,como uma habitação coletiva para menores desabrigados na Dinamarca.

ESTUDO DE CASO PAHC EDITADO CORPO.docx

Embed Size (px)

Citation preview

3

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho possui o objetivo de evidenciar parâmetros como

humanização e sustentabilidade,que norteiam o desenvolvimento de projetos

de habitação coletiva de baixa densidade.Para tanto,discorre acerca de

conceitos de humanização e sustentabilidade aplicados ao projeto de habitação

coletiva de baixa densidade,além de citar exemplos,como uma habitação

coletiva para menores desabrigados na Dinamarca.

4

2 A HUMANIZAÇÃO NO PROJETO DA HABITAÇÃO COLETIVA

O desenvolvimento sustentável compreende o acesso global à qualidade

de vida e a questão dos impactos relacionados ao ambiente.Isso nos revela os

segmentos crescentes da população que vivem às margens da cidade,sem

acesso à infraestrutura urbana,equipamentos comunitários e moradia.Demanda

o aprimoramento da técnica,a harmonia com o espírito do lugar,uma relação

saudável entre os habitantes,a comunidade e o meio ambiente.A arquitetura

possui,portanto,a missão de superar os efeitos negativos do

empreendedorismo de larga escala,motivados por interesses imobiliários,em

detrimento do acesso democrático à moradia.

Afim de melhorar as condições habitacionais,os projetos urbanísticos

devem propiciar condições ambientais,sanitárias,de lazer e cultura e de

acessibilidade aos seus moradores.Torna-se necessário pensar a cidade como

extensão do habitar,para além das paredes e do lote de cada um.

Benedikt (2008) adapta as necessidades para a ação da

Arquitetura,considerando:

a) Sobrevivência: desempenho estrutural; proteção contra

intempéries,efeitos climáticos,animais e projéteis.

b) Segurança: proteção contra intrusão,contra confisco de

propriedade;privacidade e controle de espaços.

c) Legitimidade: identidade social; determinação de autoridade;

exigência do direito de propriedade; consideração especial às

pessoas;associação a diferentes instituições e grupos.

d) Aprovação: valores legais e positivos –

estéticos,sociais,econômicos,integração com a

vizinhança,promoção do belo,da saúde; valorização dos

ocupantes.

e) Confiança: espontaneidade; novas formas; segurança nos

propósitos; substituição de menos por mais valor.

5

f) Liberdade: de deslocamento,opinião,espaço,flexibilidade,de

exclusão e privacidade.

2.1 Parâmetros De Projeto Para A Habitação Coletiva

Entre os parâmetros projetuais relacionados ao tema habitacional

identificados em Alexander,Ishikawa e Silverstein (1977),foram

caracterizados,para fundamentação teórico-conceitual,os mais significativos

para o projeto de habitação coletiva,com enfoque para as escalas da

implantação e habitação,e,em perspectiva complementar,pensando a cidade

como uma extensão do habitar.

Pode-se estabelecer uma relação entre os parâmetros projetuais

relacionados à escala da habitação e os princípios propostos por Kowaltowski

(1980): o sentido do lugar e de habitar relaciona-se aos princípios da

domesticidade e do porte reduzido das construções;a dimensão expressiva do

conforto ambiental,ao princípio da estética; e aspectos do conforto luminoso e

térmico e o respeito ao ambiente natural,ao princípio da natureza.

Segundo Alexander (1979),a ação e o espaço seriam indivisíveis: o

espaço suporta a ação e os dois formam uma unidade,um padrão de eventos

no espaço.

Muitos dos parâmetros projetuais em Alexander,Ishikawa e Silverstein

(1977) enfocam os elementos de diferenciação física que,para além de sua

adequação ao uso,podem contribuir seja para a interação social,seja para o

senso de proteção dentro do gradiente de intimidade doméstico,e encontram

respaldo nos conceitos de espaço pessoal e privacidade.

Ao longo dos séculos,novos significados foram adicionados a conforto

doméstico: intimidade, privacidade,domesticidade,comodidade,encanto,bem-

estar,tecnologias da iluminação,ventilação e saneamento,e eficiência,para

combinar sensações físicas,emocionais e intelectuais.

6

O ato arquetípico de construir seria o confinamento,e o habitar é definido

como estar em paz num lugar protegido (Norberg-Schulz,1976).

Por meio da transição e diferenciação entre espaços,lugares ou

centralidades expressam diferentes graus de intimidade.As relações entre

interior-exterior e em cima-embaixo qualificam o espaço e embasam a

orientação das pessoas.

O processo de projeto do ambiente construído deve considerar as

sensações fisiológicas e psicológicas de seus usuários,que se traduzem em

reações de apego ou de desprezo pelo lugar.

2.2 Subsídios Ao Desenvolvimento Da Estratégia Projetual

Um projeto arquitetônico-urbanístico sintonizado com os anseios de uma

comunidade e com as qualidades específicas do lugar considera os atributos

humanos e as relações espaciais de associação sociocultural,ambiental e

econômica.O processo projetivo que busca soluções de qualidade requer

conhecimento sólido no campo de atuação e base crítica interna para o

direcionamento do projeto em desenvolvimento,sem mecanizá-lo a ponto de

impossibilitar novas ideias.

2.3 A Construção Dos Conceitos Humanizadores

A pesquisa em Barros (2008) construiu conceitos a partir de uma

seleção de parâmetros projetuais com o intuito de contribuir para a qualidade

espacial do projeto de habitação coletiva com relação ao melhor atendimento

de uma série de necessidades humanas,consideradas como pertencentes às

esferas psicossocial e ambiental no universo da habitação coletiva.

7

2.3.1 O Processo De Identificação Dos Parâmetros Nos Projetos

Extraiu-se o significado da seleção preliminar de parâmetros como

fatores para o projeto habitacional conforme segue: relação entre implantação

e entorno construído e natural; relação entre tipologia edilícia e aspectos de

conforto ambiental e privacidade; relação entre estrutura física e espaços de

convívio (dimensões e metragem,variedade de pé-direito,senso de

proteção,ambientes privilegiados,aberturas,sistema construtivo);zonas de

transição entre rua e edificação e entre ambientes internos;encorajamento de

expressividade (qualidade da luz natural e artificial,materiais de

acabamento,cobertura).

2.3.2 Desenvolvimento Da Estrutura Conceitual

Os parâmetros-chave guiaram uma categorização primária em eixos

temáticos que contemplam a relação com o lugar e as pessoas,incluindo suas

necessidades de convívio,proteção e a perspectiva da diversidade,abrangendo

as necessidades humanas e pertinentes,sobretudo,às dimensões psicossociais

e ambientais.

2.3.3 O Senso De Urbanidade

Essa categoria conceitual refere-se à escala da implantação das

edificações e visa proporcionar: a vivacidade urbana como combate à

setorização excessiva de usos,à segregação social e à dificuldade de

locomoção;a percepção de um sentido de lugar,em sintonia com o entorno,a

8

partir da conformação e articulação dos espaços externos; e as funções

psicológicas de orientação e identificação.A sensibilidade ao ambiente

construído e natural,aliada a recursos espaciais específicos e a parâmetros

para a sustentabilidade social,contribui para a conectividade espacial,a

legibilidade e a identidade.

Sensibilidade ao ambiente construído e natural: conjuntos organizados

espacialmente de maneiras diversas,ao conformar espaços externos

positivos,atendem a especificidades e a elementos naturais e construídos do

terreno e entorno.

Conectividade,legibilidade e sustentabilidade social: Desenho urbano

que estrutura e estabelece uma hierarquia entre espaços coletivos abertos do

conjunto e entre estes e o sistema maior de espaços coletivos do tecido

urbano.A conexão dentro-fora e a legibilidade são proporcionadas por

fronteiras permeáveis por arcadas,galerias,terraços e escadas de acesso

abertas,com estruturas formais que geram um alto grau de conformação dos

espaços.Quando falta espaço coletivo aberto no conjunto,os mesmos recursos

podem estabelecer a transição público-privado em relação mais direta com a

rua.A diversidade de usuários ajuda a sustentar atividades de lazer,comerciais

e de serviços.

Identidade: O engajamento sadio com a diversidade sugere parâmetros

que permitam a sua efetiva inclusão e a identificação das pessoas com o

lugar.Espacialmente,a identidade para conjuntos e UHs (Unidades

Habitacionais) que abranjam uma diversidade de moradores e de níveis de

renda familiar se expressa,entre outros,por um gradiente de privacidade no

arranjo geral do conjunto.

2.3.4 O Senso De Habitabilidade

Esta categoria contempla os conceitos da escala da edificação e das

UHs em si,e visa proporcionar,a partir do atendimento de necessidades básicas

9

de conforto ambiental e de adequação às atividades domésticas,um sentido de

habitar que atenda às necessidades de refúgio,isolamento,convivência,ordem e

variedade.

Harmonia espacial,conforto ambiental e privacidade:Ao se considerar as

diversas possibilidades de agregação entre UHs,a escolha da melhor

orientação solar na edificação e no espaço circundante e do formato adequado

da edificação para o melhor aproveitamento da luz e ventilação naturais tem

implicações no gradiente de privacidade interno das unidades.

Sentido de lar: Trata-se de criar UHs que proporcionem adequação ao

uso e gradiente de intimidade por meio da diferenciação física (conformação e

dimensões horizontais e verticais) que ofereça senso de proteção.Expressões

de centralidade e verticalidade representam extensões da identidade e

orientação corporal humana no ambiente,e se traduzem por áreas de encontro

centrais,visíveis e ladeadas por fluxos de passagem,e uma eventual escada

que distribui as atividades verticalmente,para fora do centro,gerando uma boa

distribuição entre ambientes.

Opções e flexibilidade: Diversos patterns de Alexander,Ishikawa e

Silverstein (1977) incentivam a multifuncionalidade dos espaços com o uso de

dimensões generosas,acesso visual e iluminação abundante,elementos

construtivos de fácil manuseio,adaptação e reparo pelos construtores e futuros

usuários,numa linha direcionada à autoconstrução gradual e ao uso de

materiais não industrializados.Quanto à flexibilidade para a

expansão,determinadas organizações espaciais de conjunto são mais

apropriadas a projetos que forneçam apenas o embrião da habitação.

3 NOSSA CASA - O LAR DE CRIANÇAS DO FUTURO

O escritório de arquitetura dinamarquês CEBRA completou um projeto

pioneiro de uma nova forma de centro de atenção 24 horas para crianças e

adolescentes marginais, em Kerteminde, Dinamarca. O edifício, revestido de

10

azulejos e madeira, brinca com elementos e formas familiares para criar um

ambiente acolhedor e moderno que se centra nas necessidades especiais dos

residentes. A Casa de Acolhimento para Crianças do Futuro combina o

ambiente seguro da moradia tradicional com as novas ideias pedagógicas e

concepções que respondem a existência e função de um lar para crianças.

Fotografia 1 – Fachada posterior da Children´s Home Of The Future,fotografia de Mikkel Frost

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>

A meta para a nova instituição é estabelecer um centro que fomenta as

relações sociais e um sentido de comunidade, mas também acomoda as

necessidades individuais das crianças - um lugar do qual elas se sintam

orgulhosas em chamar de lar e que os prepara para o futuro da melhor maneira

possível. Os arredores físicos refletem um enfoque pedagógico orientado na

própria arquitetura que apoia ativamente o trabalho diário dos trabalhadores

com as crianças que lutam com problemas de saúde mental e social.

11

Fotografia 2 – Fachada anterior da Children´s Home Of The Future, fotografia de Mikkel Frost

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>

3.1 Sentir-Se Em Casa

Se nos fixarmos nos desenhos infantis ou no ícone estilizado de um

navegador web, reconheceríamos uma casa de duas águas, retangular, com

uma chaminé como signo de "casa". O desenho para o lar das crianças utiliza

as formas básicas da típica casa dinamarquesa como ponto de partida natural:

a clássica moradia com telhado de duas águas e sótão. Os dois elementos são

utilizados na sua forma mais simplificada para criar uma aparência exterior

reconhecível e integrar o edifício na área residencial circuncidante. Eles

conformam o DNA da arquitetura subjacente do projeto, que expressa a

inclusão, a diversidade e um ambiente seguro.

Ao combinar e aplicar os elementos básicos de uma forma nova e lúdica,

a casa de acolhimento se destaca como um lugar extraordinário através da sua

12

própria identidade. A base geométrica é modificada pelos diferentes perfis do

sótão, que crescem dentro e fora do volume do edifício, estando ao contrário

ou inclusive erguendo-se para formar um ponto de vista. O conceito agrega a

variação espacial e flexibilidade funcional à organização interior. Os sótãos dão

aos residentes a oportunidade de criar sua própria marca no edifício mediante

sua participação na decoração e no uso destes "espaços de bonificação", QUE

variam de acordo com as diversas necessidades e alterações das atividades.

Os tamanhos e orientações diferentes permitem uma ampla gama de

aplicações tais como leitura, espaços para filmes, uma sala para fazer as

tarefas, áreas de pintura e artesanato, salas grandes para atos festivos, etc.

Fotografia 3 – Perspectiva da Children´s Home Of The Future, fotografia de Mikkel Frost

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>

13

Diagrama 1 – Ilustrações da arquitetura dos telhados dinamarqueses

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>

14

3.2 Mais Lar,Menos Instituição

A organização geral consta de quatro residências conectadas. As alas

alongadas do edifício institucional tradicional se separaram e foram

comprimidas para formar uma edificação compacta com volumes de

compensação. Deste modo, a escala da construção se reduz e torna-se

autônoma, com diferentes unidades criadas para os diferentes grupos de

residentes. Cada grupo, de uma certa idade, possui seu próprio

espaço destinado a um uso flexível em relação a unidade central.

Tal disposição tem como objetivo proporcionar aos residentes um sentimento

de pertencimento - um lugar acolhedor onde podem ficar sozinhos ou em

grupos menores.

Fotografia 4 – Perspectiva interior da Children´s Home Of The Future, fotografia de Mikkel Frost

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>

As unidades das crianças menores se retraem desde a rua e são

orientadas para o jardim com acesso direto a área de jogos. A unidade central

15

contem a entrada principal, diretamente relacionada com o estacionamento, o

que cria uma visão geral das pessoas que estão chegando ou saindo do

edifício, sem afetar as unidades habitacionais. A parte destinada aos

adolescentes é a seção mais extrovertida do edifício e está orientada para a

rua. Os residentes são incentivados a utilizar a cidade e participar das

atividades sociais em igualdade com os seus colegas.

Diagrama 2 – Ilustrações da flexibilidade do uso dos espaços internos na Children´s Home Of The Future.

Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>

As típicas funções institucionais como administração, dormitórios e

espaço para os trabalhadores do complexo estão principalmente no sótão e no

16

primeiro pavimento para que eles possam obter uma visão "elevada" da vida

cotidiana dos residentes e reduzir ao mínimo a sensação de estar em uma

instituição. A organização racional do edifício assegura distâncias curtas entre

as diferentes unidades para que os trabalhadores sempre estejam próximos a

todos os residentes. Por tanto, os procedimentos de trabalho são incorporados

de maneira efetiva nas rotinas diárias, liberando assim mais tempo para cuidar

e passar tempo com as crianças - mais em um lar e menos em uma instituição.

17

4 CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho,concluímos que são muito relevantes ao

equilíbrio entre função,conforto e estética do projeto de habitação coletiva de

baixa densidade os conceitos sustentáveis e humanizadores.Não só norteiam o

desenvolvimento do projeto,como estabelecem parâmetros adequados para a

execução do mesmo.Concluí-se também que uma habitação coletiva projetada

para menores pode ser mais do que uma instituição burocrática,onde quando

ocorre a humanização e sustentabilidade,torna-se um lugar de refúgio para os

mais necessitados.

18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASA DE ACOLHIMENTO PARA MENORES - CEBRA.Archdaily.2014.Disponível em : <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>.Acesso em: 20 de fevereiro de 2014.

KOWALTOWSKI,D.et.al.O processo de projeto em arquitetura da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficina de Textos,2011.