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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho possui o objetivo de evidenciar parâmetros como
humanização e sustentabilidade,que norteiam o desenvolvimento de projetos
de habitação coletiva de baixa densidade.Para tanto,discorre acerca de
conceitos de humanização e sustentabilidade aplicados ao projeto de habitação
coletiva de baixa densidade,além de citar exemplos,como uma habitação
coletiva para menores desabrigados na Dinamarca.
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2 A HUMANIZAÇÃO NO PROJETO DA HABITAÇÃO COLETIVA
O desenvolvimento sustentável compreende o acesso global à qualidade
de vida e a questão dos impactos relacionados ao ambiente.Isso nos revela os
segmentos crescentes da população que vivem às margens da cidade,sem
acesso à infraestrutura urbana,equipamentos comunitários e moradia.Demanda
o aprimoramento da técnica,a harmonia com o espírito do lugar,uma relação
saudável entre os habitantes,a comunidade e o meio ambiente.A arquitetura
possui,portanto,a missão de superar os efeitos negativos do
empreendedorismo de larga escala,motivados por interesses imobiliários,em
detrimento do acesso democrático à moradia.
Afim de melhorar as condições habitacionais,os projetos urbanísticos
devem propiciar condições ambientais,sanitárias,de lazer e cultura e de
acessibilidade aos seus moradores.Torna-se necessário pensar a cidade como
extensão do habitar,para além das paredes e do lote de cada um.
Benedikt (2008) adapta as necessidades para a ação da
Arquitetura,considerando:
a) Sobrevivência: desempenho estrutural; proteção contra
intempéries,efeitos climáticos,animais e projéteis.
b) Segurança: proteção contra intrusão,contra confisco de
propriedade;privacidade e controle de espaços.
c) Legitimidade: identidade social; determinação de autoridade;
exigência do direito de propriedade; consideração especial às
pessoas;associação a diferentes instituições e grupos.
d) Aprovação: valores legais e positivos –
estéticos,sociais,econômicos,integração com a
vizinhança,promoção do belo,da saúde; valorização dos
ocupantes.
e) Confiança: espontaneidade; novas formas; segurança nos
propósitos; substituição de menos por mais valor.
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f) Liberdade: de deslocamento,opinião,espaço,flexibilidade,de
exclusão e privacidade.
2.1 Parâmetros De Projeto Para A Habitação Coletiva
Entre os parâmetros projetuais relacionados ao tema habitacional
identificados em Alexander,Ishikawa e Silverstein (1977),foram
caracterizados,para fundamentação teórico-conceitual,os mais significativos
para o projeto de habitação coletiva,com enfoque para as escalas da
implantação e habitação,e,em perspectiva complementar,pensando a cidade
como uma extensão do habitar.
Pode-se estabelecer uma relação entre os parâmetros projetuais
relacionados à escala da habitação e os princípios propostos por Kowaltowski
(1980): o sentido do lugar e de habitar relaciona-se aos princípios da
domesticidade e do porte reduzido das construções;a dimensão expressiva do
conforto ambiental,ao princípio da estética; e aspectos do conforto luminoso e
térmico e o respeito ao ambiente natural,ao princípio da natureza.
Segundo Alexander (1979),a ação e o espaço seriam indivisíveis: o
espaço suporta a ação e os dois formam uma unidade,um padrão de eventos
no espaço.
Muitos dos parâmetros projetuais em Alexander,Ishikawa e Silverstein
(1977) enfocam os elementos de diferenciação física que,para além de sua
adequação ao uso,podem contribuir seja para a interação social,seja para o
senso de proteção dentro do gradiente de intimidade doméstico,e encontram
respaldo nos conceitos de espaço pessoal e privacidade.
Ao longo dos séculos,novos significados foram adicionados a conforto
doméstico: intimidade, privacidade,domesticidade,comodidade,encanto,bem-
estar,tecnologias da iluminação,ventilação e saneamento,e eficiência,para
combinar sensações físicas,emocionais e intelectuais.
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O ato arquetípico de construir seria o confinamento,e o habitar é definido
como estar em paz num lugar protegido (Norberg-Schulz,1976).
Por meio da transição e diferenciação entre espaços,lugares ou
centralidades expressam diferentes graus de intimidade.As relações entre
interior-exterior e em cima-embaixo qualificam o espaço e embasam a
orientação das pessoas.
O processo de projeto do ambiente construído deve considerar as
sensações fisiológicas e psicológicas de seus usuários,que se traduzem em
reações de apego ou de desprezo pelo lugar.
2.2 Subsídios Ao Desenvolvimento Da Estratégia Projetual
Um projeto arquitetônico-urbanístico sintonizado com os anseios de uma
comunidade e com as qualidades específicas do lugar considera os atributos
humanos e as relações espaciais de associação sociocultural,ambiental e
econômica.O processo projetivo que busca soluções de qualidade requer
conhecimento sólido no campo de atuação e base crítica interna para o
direcionamento do projeto em desenvolvimento,sem mecanizá-lo a ponto de
impossibilitar novas ideias.
2.3 A Construção Dos Conceitos Humanizadores
A pesquisa em Barros (2008) construiu conceitos a partir de uma
seleção de parâmetros projetuais com o intuito de contribuir para a qualidade
espacial do projeto de habitação coletiva com relação ao melhor atendimento
de uma série de necessidades humanas,consideradas como pertencentes às
esferas psicossocial e ambiental no universo da habitação coletiva.
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2.3.1 O Processo De Identificação Dos Parâmetros Nos Projetos
Extraiu-se o significado da seleção preliminar de parâmetros como
fatores para o projeto habitacional conforme segue: relação entre implantação
e entorno construído e natural; relação entre tipologia edilícia e aspectos de
conforto ambiental e privacidade; relação entre estrutura física e espaços de
convívio (dimensões e metragem,variedade de pé-direito,senso de
proteção,ambientes privilegiados,aberturas,sistema construtivo);zonas de
transição entre rua e edificação e entre ambientes internos;encorajamento de
expressividade (qualidade da luz natural e artificial,materiais de
acabamento,cobertura).
2.3.2 Desenvolvimento Da Estrutura Conceitual
Os parâmetros-chave guiaram uma categorização primária em eixos
temáticos que contemplam a relação com o lugar e as pessoas,incluindo suas
necessidades de convívio,proteção e a perspectiva da diversidade,abrangendo
as necessidades humanas e pertinentes,sobretudo,às dimensões psicossociais
e ambientais.
2.3.3 O Senso De Urbanidade
Essa categoria conceitual refere-se à escala da implantação das
edificações e visa proporcionar: a vivacidade urbana como combate à
setorização excessiva de usos,à segregação social e à dificuldade de
locomoção;a percepção de um sentido de lugar,em sintonia com o entorno,a
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partir da conformação e articulação dos espaços externos; e as funções
psicológicas de orientação e identificação.A sensibilidade ao ambiente
construído e natural,aliada a recursos espaciais específicos e a parâmetros
para a sustentabilidade social,contribui para a conectividade espacial,a
legibilidade e a identidade.
Sensibilidade ao ambiente construído e natural: conjuntos organizados
espacialmente de maneiras diversas,ao conformar espaços externos
positivos,atendem a especificidades e a elementos naturais e construídos do
terreno e entorno.
Conectividade,legibilidade e sustentabilidade social: Desenho urbano
que estrutura e estabelece uma hierarquia entre espaços coletivos abertos do
conjunto e entre estes e o sistema maior de espaços coletivos do tecido
urbano.A conexão dentro-fora e a legibilidade são proporcionadas por
fronteiras permeáveis por arcadas,galerias,terraços e escadas de acesso
abertas,com estruturas formais que geram um alto grau de conformação dos
espaços.Quando falta espaço coletivo aberto no conjunto,os mesmos recursos
podem estabelecer a transição público-privado em relação mais direta com a
rua.A diversidade de usuários ajuda a sustentar atividades de lazer,comerciais
e de serviços.
Identidade: O engajamento sadio com a diversidade sugere parâmetros
que permitam a sua efetiva inclusão e a identificação das pessoas com o
lugar.Espacialmente,a identidade para conjuntos e UHs (Unidades
Habitacionais) que abranjam uma diversidade de moradores e de níveis de
renda familiar se expressa,entre outros,por um gradiente de privacidade no
arranjo geral do conjunto.
2.3.4 O Senso De Habitabilidade
Esta categoria contempla os conceitos da escala da edificação e das
UHs em si,e visa proporcionar,a partir do atendimento de necessidades básicas
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de conforto ambiental e de adequação às atividades domésticas,um sentido de
habitar que atenda às necessidades de refúgio,isolamento,convivência,ordem e
variedade.
Harmonia espacial,conforto ambiental e privacidade:Ao se considerar as
diversas possibilidades de agregação entre UHs,a escolha da melhor
orientação solar na edificação e no espaço circundante e do formato adequado
da edificação para o melhor aproveitamento da luz e ventilação naturais tem
implicações no gradiente de privacidade interno das unidades.
Sentido de lar: Trata-se de criar UHs que proporcionem adequação ao
uso e gradiente de intimidade por meio da diferenciação física (conformação e
dimensões horizontais e verticais) que ofereça senso de proteção.Expressões
de centralidade e verticalidade representam extensões da identidade e
orientação corporal humana no ambiente,e se traduzem por áreas de encontro
centrais,visíveis e ladeadas por fluxos de passagem,e uma eventual escada
que distribui as atividades verticalmente,para fora do centro,gerando uma boa
distribuição entre ambientes.
Opções e flexibilidade: Diversos patterns de Alexander,Ishikawa e
Silverstein (1977) incentivam a multifuncionalidade dos espaços com o uso de
dimensões generosas,acesso visual e iluminação abundante,elementos
construtivos de fácil manuseio,adaptação e reparo pelos construtores e futuros
usuários,numa linha direcionada à autoconstrução gradual e ao uso de
materiais não industrializados.Quanto à flexibilidade para a
expansão,determinadas organizações espaciais de conjunto são mais
apropriadas a projetos que forneçam apenas o embrião da habitação.
3 NOSSA CASA - O LAR DE CRIANÇAS DO FUTURO
O escritório de arquitetura dinamarquês CEBRA completou um projeto
pioneiro de uma nova forma de centro de atenção 24 horas para crianças e
adolescentes marginais, em Kerteminde, Dinamarca. O edifício, revestido de
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azulejos e madeira, brinca com elementos e formas familiares para criar um
ambiente acolhedor e moderno que se centra nas necessidades especiais dos
residentes. A Casa de Acolhimento para Crianças do Futuro combina o
ambiente seguro da moradia tradicional com as novas ideias pedagógicas e
concepções que respondem a existência e função de um lar para crianças.
Fotografia 1 – Fachada posterior da Children´s Home Of The Future,fotografia de Mikkel Frost
Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>
A meta para a nova instituição é estabelecer um centro que fomenta as
relações sociais e um sentido de comunidade, mas também acomoda as
necessidades individuais das crianças - um lugar do qual elas se sintam
orgulhosas em chamar de lar e que os prepara para o futuro da melhor maneira
possível. Os arredores físicos refletem um enfoque pedagógico orientado na
própria arquitetura que apoia ativamente o trabalho diário dos trabalhadores
com as crianças que lutam com problemas de saúde mental e social.
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Fotografia 2 – Fachada anterior da Children´s Home Of The Future, fotografia de Mikkel Frost
Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>
3.1 Sentir-Se Em Casa
Se nos fixarmos nos desenhos infantis ou no ícone estilizado de um
navegador web, reconheceríamos uma casa de duas águas, retangular, com
uma chaminé como signo de "casa". O desenho para o lar das crianças utiliza
as formas básicas da típica casa dinamarquesa como ponto de partida natural:
a clássica moradia com telhado de duas águas e sótão. Os dois elementos são
utilizados na sua forma mais simplificada para criar uma aparência exterior
reconhecível e integrar o edifício na área residencial circuncidante. Eles
conformam o DNA da arquitetura subjacente do projeto, que expressa a
inclusão, a diversidade e um ambiente seguro.
Ao combinar e aplicar os elementos básicos de uma forma nova e lúdica,
a casa de acolhimento se destaca como um lugar extraordinário através da sua
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própria identidade. A base geométrica é modificada pelos diferentes perfis do
sótão, que crescem dentro e fora do volume do edifício, estando ao contrário
ou inclusive erguendo-se para formar um ponto de vista. O conceito agrega a
variação espacial e flexibilidade funcional à organização interior. Os sótãos dão
aos residentes a oportunidade de criar sua própria marca no edifício mediante
sua participação na decoração e no uso destes "espaços de bonificação", QUE
variam de acordo com as diversas necessidades e alterações das atividades.
Os tamanhos e orientações diferentes permitem uma ampla gama de
aplicações tais como leitura, espaços para filmes, uma sala para fazer as
tarefas, áreas de pintura e artesanato, salas grandes para atos festivos, etc.
Fotografia 3 – Perspectiva da Children´s Home Of The Future, fotografia de Mikkel Frost
Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>
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Diagrama 1 – Ilustrações da arquitetura dos telhados dinamarqueses
Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>
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3.2 Mais Lar,Menos Instituição
A organização geral consta de quatro residências conectadas. As alas
alongadas do edifício institucional tradicional se separaram e foram
comprimidas para formar uma edificação compacta com volumes de
compensação. Deste modo, a escala da construção se reduz e torna-se
autônoma, com diferentes unidades criadas para os diferentes grupos de
residentes. Cada grupo, de uma certa idade, possui seu próprio
espaço destinado a um uso flexível em relação a unidade central.
Tal disposição tem como objetivo proporcionar aos residentes um sentimento
de pertencimento - um lugar acolhedor onde podem ficar sozinhos ou em
grupos menores.
Fotografia 4 – Perspectiva interior da Children´s Home Of The Future, fotografia de Mikkel Frost
Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>
As unidades das crianças menores se retraem desde a rua e são
orientadas para o jardim com acesso direto a área de jogos. A unidade central
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contem a entrada principal, diretamente relacionada com o estacionamento, o
que cria uma visão geral das pessoas que estão chegando ou saindo do
edifício, sem afetar as unidades habitacionais. A parte destinada aos
adolescentes é a seção mais extrovertida do edifício e está orientada para a
rua. Os residentes são incentivados a utilizar a cidade e participar das
atividades sociais em igualdade com os seus colegas.
Diagrama 2 – Ilustrações da flexibilidade do uso dos espaços internos na Children´s Home Of The Future.
Fonte: <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>
As típicas funções institucionais como administração, dormitórios e
espaço para os trabalhadores do complexo estão principalmente no sótão e no
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primeiro pavimento para que eles possam obter uma visão "elevada" da vida
cotidiana dos residentes e reduzir ao mínimo a sensação de estar em uma
instituição. A organização racional do edifício assegura distâncias curtas entre
as diferentes unidades para que os trabalhadores sempre estejam próximos a
todos os residentes. Por tanto, os procedimentos de trabalho são incorporados
de maneira efetiva nas rotinas diárias, liberando assim mais tempo para cuidar
e passar tempo com as crianças - mais em um lar e menos em uma instituição.
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4 CONCLUSÃO
Ao término deste trabalho,concluímos que são muito relevantes ao
equilíbrio entre função,conforto e estética do projeto de habitação coletiva de
baixa densidade os conceitos sustentáveis e humanizadores.Não só norteiam o
desenvolvimento do projeto,como estabelecem parâmetros adequados para a
execução do mesmo.Concluí-se também que uma habitação coletiva projetada
para menores pode ser mais do que uma instituição burocrática,onde quando
ocorre a humanização e sustentabilidade,torna-se um lugar de refúgio para os
mais necessitados.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASA DE ACOLHIMENTO PARA MENORES - CEBRA.Archdaily.2014.Disponível em : <http://www.archdaily.com.br/br/760562/casa-de-acolhimento-para-menores-cebra>.Acesso em: 20 de fevereiro de 2014.
KOWALTOWSKI,D.et.al.O processo de projeto em arquitetura da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficina de Textos,2011.