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Trabalho final para a disciplina Sociologia da Educação, ministrada na FFLCH-USP pela Profª. Dra. Sylvia Gemignani Garcia.
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Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Visões e divisões – trabalho para a disciplina Sociologia da Educação
Professora: Sylvia Gemignani Garcia
Aluno: Rafael Monteiro Tannus
Nº USP: 7586146
São Paulo
2014
1
1.
A família constitui-se enquanto instituição pela qual se transmitem as heranças
ao longo das gerações, heranças que não podem ser pensadas apenas como os
patrimônios materiais e econômicos de um grupo, mas também, e especialmente, seus
atributos culturais, maneiras de ver e estar no mundo, formas pelas quais se recebe e se
relaciona com a cultura – e que estão em estreita dependência do meio e da socialização
familiares e, ao mesmo tempo, são determinantes nos resultados escolares dos
indivíduos. O capital configura-se como o mecanismo pelo qual essa perpetuação se faz
possível, uma vez que “permite, pela apropriação dos meios coletivamente produzidos e
acumulados, superar realmente os limites antropológicos” (Bourdieu, 2013:71), de
forma a permitir que um grupo acumule tais “excedentes” e os passe para seus
descendentes.
As teorias econômicas, no entanto, ao tratar da produção e reprodução do
capital, fazem-no tomando-o apenas em sua dimensão econômica, enquanto acumulação
monetária, numa economia que enxerga exclusivamente as trocas mercantis. Pierre
Bourdieu, todavia, ao desdobrar o conceito de capital para outros campos, em especial o
das trocas simbólicas, reintroduz a noção em todas as suas formas – capital cultural,
social, simbólico, escolar etc. – expandindo assim a capacidade de análise das estruturas
de distribuição de capitais entre as classes e frações de classe, bem como suas dinâmicas
de reprodução. A tradição do pensamento econômico, ao reduzir o universo das trocas à
sua forma mercantil, objetiva e subjetivamente orientada pela maximização do lucro
monetário e, portanto, pelo auto-interesse, implica uma definição das outras formas de
troca como desinteressadas e, consequentemente, pouco relevantes para explicar as
desigualdades entre as camadas sociais (desigualdade que também serão concebidas
apenas ou em função das desigualdades econômicas)1.
Um dos eixos centrais da construção das análises de Bourdieu é a articulação
entre a reprodução social e a reprodução cultural. Para ele, “existe uma correspondência
entre as estruturas sociais e as estruturas mentais, entre as divisões objetivas do mundo
social – principalmente em dominantes e dominados nos diferentes campos – e os
princípios de visão e divisão que os agentes lhes aplicam” (Bourdieu, 1991:113), donde
a escola desempenha papel fundamental, ao lado da família, para a formação e
1 Notas da aula do dia 10/11.
2
perpetuação de tais estruturas, já que “as necessidades culturais são o produto da
educação” (Bourdieu, 2013:9). Segundo ele, só é possível compreender as estruturas de
diferenças pelas quais se apresentam as sociedades “construindo o princípio gerador que
funda essas diferenças na objetividade”, princípio este “que é o da estrutura da
distribuição das formas de poder ou dos tipos de capital eficientes no universo
considerado – e que variam, portanto, de acordo com os lugares e os momentos”
(Bourdieu, 2011:50). O mundo aparece de formas diferentes para pessoas socializadas
de formas diferentes2.
Em seu esforço teórico de organizar e compreender tais distribuições e as
maneiras pelas quais elas operam, Bourdieu procura se deter sobre funcionamento dos
diferentes campos do mundo social, os quais, para ele, constituem-se enquanto
relativamente autônomos. Autonomia no sentido de que possuem uma lógica específica,
porém relativa na medida em estão inseridos nas relações com outros campos, ou seja,
não pairam enquanto produtores independentes de significado. Utiliza-se, assim, da
noção de campo enquanto um operador relacional, capaz de articular as práticas dos
indivíduos, as instituições onde essas práticas se dão e as “estruturas invisíveis” da
sociedade3.
Empreende, dessa forma, um afastamento teórico tanto de um “estruturalismo
mecanicista”, quanto de um “materialismo positivista”, na medida em que afirma que
reconhecer a dupla determinação das ideologias “é possuir o meio de evitar a redução
brutal dos produtos ideológicos aos interesses das classes que eles servem (efeito de
‘curto-circuito’ frequente na crítica marxista)”, sem, no entanto, “cair na ilusão idealista
a qual consiste em tratar as produções ideológicas como totalidades autossuficientes e
autogeradas, passíveis de uma análise pura e puramente interna (semiologia)”
(Bourdieu, 1989:13).
Contra um atomismo substancialista, que supõe uma abstração igualitária dos
indivíduos, e contra um determinismo estrutural, que vê a cultura como um reflexo das
condições objetivas, Bourdieu afirma que “os agentes sociais, alunos que escolhem uma
escola ou disciplina, famílias que escolhem uma instituição para seus filhos etc., não são
partículas submetidas a forças mecânicas, agindo sob a pressão de causas, nem
tampouco sujeitos conscientes e conhecedores, obedecendo a razões e agindo com pleno
2 Notas de aula do dia 17/11.3 Notas da aula do dia 17/11.
3
conhecimento de causa” (Bourdieu, 2011:42). Uma das perguntas que embasam toda a
sua reflexão no campo da educação – que, na verdade, transborda os limites desse
campo para mostrá-lo intrincado ao do conhecimento e ao do poder – é a de quais são as
condições sociais de produção dos produtores e consumidores de bens (materiais e
simbólicos), quais mundos fazem aparecer quais outros mundos e de que forma.
A sociedade capitalista – complexa e diferenciada em função, sobretudo, da
divisão do trabalho – organiza-se em classes, as quais podem ser definidas como
posições decorrentes das configurações de repartição desigual do produto do trabalho,
sob as formas de capital econômico e social; de maneira que estrutura refere-se ao
conjunto hierarquizado dessas posições4. Tais posições na estrutura social retraduzem-se
em disposições incorporadas, uma “retradução simbólica de diferenças objetivamente
inscritas nas condições de existência” (Bourdieu, 1983:82). Assim, retomando a
problemática teórica acima, não há dúvida, afirma Bourdieu, de que “os agentes
constroem a realidade social”, nem de que “entram nas lutas e nas transações visando
impor sua visão, mas eles o fazem sempre com os pontos de vista, os interesses e os
princípios de visão determinados pela posição que ocupam no próprio mundo que visam
transformar ou conservar” (Bourdieu, 1991:114).
Essa incorporação de conjuntos de elementos dentro de um leque possível dado
pela posição na estrutura, dito de outra forma, esse processo contínuo de interiorização
da exterioridade – bem como sua contrapartida dialética de exteriorização da
interioridade – é o que configura propriamente o habitus, definido enquanto “sistema de
disposições duráveis e transponíveis que exprime, sob a forma de preferências
sistemáticas, as necessidades objetivas das quais ele é o produto”; e mesmo originando-
se de posições semelhantes, poderá engendrar uma multiplicidade de práticas distintas,
“sempre encerradas”, entretanto, “nos limites inerentes às condições objetivas das quais
elas são o produto e às quais estão objetivamente adaptadas” (Bourdieu, 1983:82).
Tendo uma origem objetiva clara, ainda que não rigidamente determinista, o habitus
constitui “esquemas geradores de classificações e de práticas classificáveis [...] que são
o produto da incorporação, sob forma de disposições, duma posição diferencial no
espaço social” (Bourdieu, 1991:114); que define ainda unidades de estilo, as quais
vinculam as práticas de consumo cultural de um agente ou uma classe de agentes: “ser
4 Notas da aula do dia 10/11.
4
um ponto é diferir”5. Dessa forma, tem-se que uma posição configura possibilidades
limitadas de disposições, as quais, por sua vez, definem conjuntos de tomadas de
posição dos agentes e, mais importante, dos agentes enquanto classe.
O gosto, assim, é dado pela “propensão e aptidão à apropriação (material ou
simbólica) de uma determinada categoria de objetos ou práticas classificadas e
classificadoras” (Bourdieu, 1983:83), refere-se, portanto, a tendências comuns a um
determinado grupo de pessoas que partilham características em comum em relação a
suas respectivas posições na estrutura social. Nesse sentido, Bourdieu empreende um
movimento semelhante àquele de Durkheim em relação ao suicídio, uma vez que toma
um elemento tido como pessoal e irredutivelmente subjetivo – “aquilo que não se
discute” – e demonstra sua vinculação coletiva enquanto fenômeno social6.
Assim sendo, o sujeito – firme crente na ficção da unicidade de sua identidade –
ao empreender uma ordenação tida como singular, íntima, arbitrária e subjetiva, é ele
próprio objeto dessa ordenação, já que o “gosto classifica aquele que procede à
classificação”, de forma que “os sujeitos sociais distinguem-se pelas distinções que eles
operam entre o belo e o feio, o distintivo e o vulgar; por seu intermédio, exprime-se ou
traduz-se a posição desses sujeitos nas classificações objetivas” (Bourdieu, 2013:13),
suas classificações são, portanto, classificáveis. A suposta arbitrariedade de tais
escolhas desmascara-se antes ainda, pois que se definem e se afirmam muito em função
daquilo que foi preterido, ou seja, “em matéria de gosto, mais que em qualquer outro
aspecto, toda determinação é negação, e, sem dúvida, os gostos são, antes de tudo,\
aversão, feita de horror ou intolerância visceral [...], aos outros gostos, aos gostos dos
outros”, eles “são a afirmação prática de uma diferença inevitável” (Bourdieu, 2013:56).
As apropriações eletivas, materiais e simbólicas, atuam, pois, no sentido de
produzir uma identificação entre determinados indivíduos, uma solidariedade no interior
de um grupo, que os aproxima na medida em que os separa de todos os demais.
Constituem assim a dinâmica de distinção, que se desdobra a partir dessa tendência do
habitus a “perpetuar uma identidade que é diferença”; base das “estratégias de
reprodução que tendem a manter as diferenças, as distâncias, as relações de ordem,
concorrendo assim na prática (e não de modo consciente e deliberado) para reproduzir
todo o sistema de diferenças constitutivas da ordem social” (Bourdieu, 1991:114).
5 Notas da aula do dia 10/11.6 Notas da aula do dia 17/11.
5
As disposições estéticas, propensas a se produzir nas diferentes camadas sociais,
apresentam-se como elemento significativo nesse jogo de distâncias objetivamente
conduzido. Para Bourdieu, grosso modo, as classes populares desenvolvem um senso
estético que privilegia o conteúdo, emite julgamentos éticos e espera da obra que
desempenhe uma função, que signifique algo: o “gosto bárbaro” ou uma “‘estética’
antikantiana” (Bourdieu, 2013:43). A “estética pura”, por outro lado, aquela a que as
classes dominantes estariam propensas a desenvolver (mas especificamente as frações
que adquiriram seu capital cultural “familiarmente”), é a que se caracteriza pelo prazer
de fruição do esteta e que valoriza a experimentação formal, dotada de uma indiferença
ética e de um manifesto desprendimento das necessidades materiais (cf. Bourdieu,
2013).
Nessa relação, segundo Bourdieu, “afirma-se a dependência da disposição
estética em relação às condições materiais de existência, passadas e presentes, que são a
condição tanto de sua constituição, quanto de sua implementação, além do acúmulo de
capital cultural (sancionado ou não do ponto de vista escolar) que só pode ser adquirido
mediante uma espécie de retirada para fora da necessidade econômica” (Bourdieu,
2013:54). Tal dependência existe na medida em que as obras para as quais e a partir das
quais essas disposições se desenvolvem exigem a posse prévia de instrumentos de
apropriação, dados pela quantidade de capital cultural acumulado e pela maneira pela
qual ele foi (ou não) adquirido. “O olhar puro”, consoante à articulação entre estruturas
sociais e mentais, implica assim “uma ruptura com a atitude habitual em relação ao
mundo que é, por isso mesmo, uma ruptura social” (Bourdieu, 2013:34).
As diferenças na distribuição do capital cultural necessário para a decifração
desses códigos deveria, em tese, ser corrigida pela escola. Ela, entretanto, opera a
mesma exclusão ao requerer a posse prévia de instrumentos de apropriação para o êxito
escolar, sem, todavia, os fornecer. Assim, o sistema escolar distingue os detentores de
capital cultural herdado dos que não o possuem e, uma vez que “as diferenças de
aptidão [são] inseparáveis das diferenças sociais conforme o capital herdado, ele tende a
manter as diferenças sociais preexistentes” (Bourdieu, 2011:37). Essa reprodução da
distribuição do capital cultural “se dá na relação entre as estratégias das famílias e a
lógica específica da instituição escolar”, de forma que a Sociologia da Educação
pretendida por Bourdieu vai se constituir pela investigação dos mecanismos “pelos
6
quais a instituição escolar contribui para reproduzir a distribuição do capital cultural e,
assim, a estrutura do espaço social” (Bourdieu, 2011:35).
2.
“As poltronas e sofás das grandes salas estavam cobertos com belíssimas tapeçarias que
representavam fábulas ou cenas da mitologia. Minha avó inventava um jogo de perseguição entre
os móveis, de uma poltrona para a outra [...] Mas, durante o percurso, ela dava-me explicações a
respeito das personagens e dos animais dos mitos antigos. Ela conhecia perfeitamente todas essas
histórias dos deuses gregos e romanos” (Pinçon & Pinçon-Charlot, 2002:17).
“Eu venho de uma família que a minha avó teve quinze filhos, então eu tenho
uma porrada de primos e eu sou a única na faculdade [...] eu terminando lá o segundo
grau ‘nossa, que maravilha, minha filha terminou a escola!’” (Almeida, 2007:39). Os
trechos reproduzidos referem-se, respectivamente, à infância de uma jovem aristocrata
francesa e a uma jovem proveniente das camadas populares que, exceção em sua
família, foi capaz de ingressar na Universidade de São Paulo. Se a família constitui a
instituição primeira da transmissão de capital cultural, tem-se aqui – de maneira
extremada – uma manifestação clara de posições objetivas na estrutura de classe que
configurarão disposições em relação à cultura dominante e à escola totalmente distintas.
A aquisição da cultura por familiarização, numa “aprendizagem imperceptível
imposta pela educação familiar como modo de aquisição dos instrumentos de
apropriação da cultura dominante” (Bourdieu, 2001:308) fornece à primeira jovem
todas as condições de possibilidade necessárias ao acesso a essa cultura, enquanto a
segunda conseguiu, no máximo e com dificuldade, empreender um caminho incerto
pelo sistema escolar. É certo que as duas situações usadas são excessivamente
distantes, mas servem para ilustrar as diferenças marcadas e objetivamente dadas pelas
quais posições sociais distintas – e consequentemente relações distintas com a cultura –
inserem quase que irremediavelmente uns e, ao contrário, excluem silenciosamente
outros do consumo e participação de certos bens e situações no mercado cultural.
A partir dessas realidades tão díspares – uma em que se é ensinado sobre a
mitologia antiga através das brincadeiras infantis, em que “a cultura erudita entra na
esfera doméstica, encontra-se enrolada aí como o gato no sofá, ronrona aí
completamente à vontade” (Pinçon & Pinçon-Charlot, 2002:18), e outra onde a
7
conclusão do Ensino Médio numa escola pública do Brasil contemporâneo é
considerada uma vitória – é possível compreender sem dificuldades por que “o livre
jogo das leis da transmissão cultural faz com que o capital cultural retorne às mãos do
capital cultural” de forma que se encontre “reproduzida a estrutura de distribuição do
capital cultural entre as classes sociais, isto é, a estrutura de distribuição dos
instrumentos de apropriação dos bens simbólicos que uma formação social seleciona
como dignos de serem desejados e possuídos” (Bourdieu, 2001:297).
Isso posto, pode-se concluir também que grandes quantidades de capital
econômico não bastam para se ocupar uma posição distinta de consumo no campo
cultural, pois que nada, ou muito pouco, adianta ter a posse, o acesso a um bem se não
se sabe consumi-lo, isto é, se está-se desprovido das condições para sua apropriação – a
raridade específica refere-se, pois, ao código de decifração, e não à posse de bens
propriamente. Ainda que, observa Bourdieu, “a estrutura da distribuição das classes ou
frações de classe segundo a parcela reservada aos consumos culturais” corresponda,
“com desnível mínimo, [...] à estrutura de distribuição segundo a hierarquia do capital
econômico e do poder” (Bourdieu, 2001:297).
O Capital, sendo trabalho acumulado (em formas materializadas e incorporadas),
impõe a necessidade de tempo para se acumular. A inculcação de práticas, saberes,
posturas, familiaridades etc., se reproduz na prática cotidiana e contínua dos agentes e
exige, portanto, uma longa duração para que seja realizada, ou melhor, acumulada.
Assim, o “capital cultural incorporado das gerações anteriores”, entre as frações
dominantes das camadas dominantes, “funciona como uma espécie de avanço [...] que,
garantindo-lhe[s] de imediato o exemplo da cultura realizada em modelos familiares,
permite que o recém chegado comece, desde a origem, ou seja, da maneira mais
inconsciente e insensível, a aquisição dos elementos fundamentais da cultura legítima”
(Bourdieu, 2013:70), remetendo-os a um “capital estatutário de origem”. Assim, por
exemplo, no modo de educação tradicional da aristocracia francesa, “a aquisição dos
códigos de decoro faz-se ‘mediante a aprendizagem constante e insistente dos múltiplos
gestos, aparentemente sem importância, mas que produzem uma diferença, estabelecem
uma distinção em relação à massa e assinalam a posição e antiguidade da fortuna’ ou da
linhagem” (Saint Martin, 2002:30).
8
Eis, pois que a socialização em tais meios dá-se de forma a exercer um poder
social sobre o tempo, assim “a pessoa é, antes de tudo, o elo de uma linhagem, de uma
cadeia dinástica que mantém a supremacia em relação ao indivíduo” (Pinçon & Pinçon-
Charlot, 2002:14) e, do mesmo modo, “os mortos são constituídos em antepassados,
estatuto que lhes permite sobreviver simbolicamente ao seu desaparecimento” (Pinçon
& Pinçon-Charlot, 2002:16). “Possuir algo ‘antigo’, ou seja, as coisas presentes que são
do passado, da história acumulada, entesourada, cristalizada”, como afirma Bourdieu, “é
dominar o tempo [...] através de todas as coisas que têm em comum o fato de serem
adquiridas, exclusivamente, mediante o tempo [...] graças a disposições que [...]
pressupõe[m] o ócio de tomar seu tempo” (Bourdieu, 2013:70).
Esses indivíduos não estão soltos em trajetórias incertas, à mercê do tempo como
num barco ébrio, eles sabem-se parte de algo maior, que existia antes de nascerem e que
deverá existir após sua morte física. Por isso, suas vidas organizam-se em torno da
perpetuação deste algo maior – “o herdeiro é antes de tudo herdado por uma herança”
(Pinçon & Pinçon-Charlot, 2002:16) – e a antiguidade daquilo que os constitui é sempre
lembrada e ressaltada; pouco espaço, ou nenhum, é deixado ao acaso para essas pessoas,
como ilustra o testemunho de uma mulher oriunda de uma grande família da
aristocracia:
“para nós, o dia começava e terminava, invariavelmente, à mesma hora, exceto nas férias; a
programação era invariável. No domingo, de manhã, a gente ia à missa; em seguida, havia o
almoço familiar; além disso, a gente tinha de fazer os deveres para a segunda-feira; tudo isso era
incrivelmente monótono e durava até o fim do secundário. [...] Monotonia absoluta [...], um
tempo totalmente ritmado, nunca um momento para ficar à toa, em todo o caso, o que é costume
ser considerado ficar à toa [...]. Tive a impressão de um mundo submarino, superprotegido,
incrível, uma total dependência” (Saint Martin, 2002:31).
Aparentemente muito distante das realidades “comuns”, essa monotonia e
previsibilidade não são, entretanto, nada estranhas às vidas de muitas pessoas
pertencentes aos estratos médios por exemplo. Ainda que o controle da rotina diária,
como se dá entre os aristocratas, tenda a ser muito mais relaxado, a pesquisa de Maria
Alice Nogueira com estudantes provenientes de camadas médias intelectualizadas
demonstra, também e a seu modo, regularidades e certezas que, se não emanam de
antepassados, permitem, ao menos, um trajeto no sistema escolar sem qualquer
surpresa. Indivíduos que vivem processos escolares ao longo dos quais “pouco espaço
9
se deixa ao acaso; em que a antecipação e a previdência primam sobre a correlação dos
desvios; em que a formação intelectual e a preparação para a autonomia têm
precedência sobre a formação profissional e a relação pragmática com o conhecimento”,
em suma, “que se desenrolam num horizonte temporal estendido que autoriza o
pressentimento da chegada aos níveis mais altos da pirâmide escolar” (Nogueira,
2000:151).
Frente a trajetórias escolares tais, caracterizadas por fluência, linearidade,
continuidade, “que se faz[em] sem rupturas e que parece[m] desembocar na
universidade como que ‘naturalmente’” (Nogueira, 2000:128), entre as camadas
populares, as crianças não têm a rotina organizada em torno da escola, e as condições
objetivas são tais que geralmente os percursos se dão de modo irregular e acidentado.
Ao investigar o trabalho escolar em famílias populares, ou seja, “todas aquelas ações
[...] empreendidas pela família no sentido de assegurar a entrada e a permanência do
filho no interior do sistema escolar” (Portes, 2000:63), Écio Portes encontra
circunstâncias que se caracterizam “por um planejamento precário, [...] um horizonte
temporal bastante curto, diante da frágil situação material da família que se desestabiliza
frequentemente frente às exigências escolares” e, além disso, essas ações e estratégias
“atuam no decorrer da trajetória, diante das necessidades e questionamentos cotidianos
a serem enfrentados pela família” (Portes, 2000:65).
A relação com os saberes escolares inculcada, bem como os trajetos no interior
do sistema escolar, só podem ser muito distintos daqueles constituídos na e pela certeza
dos desdobramentos temporais. Uma trajetória que se desenrola sem conseguir enxergar
o que a aguarda na esquina seguinte irá, quase que fatalmente, constituir-se como uma
coisa outra em relação àquela que flui sabendo quase exatamente o que a aguarda depois
do horizonte. No caso, as famílias analisadas por Portes “vivenciam uma realidade
material que não conseguem prever (nem controlar)”, são capazes apenas de “ir fazendo
adaptações possíveis para que o filho não jogue por terra o esforço empreendido”
(Portes, 2000:66), por meio de respostas, ações e estratégias que se constituem no
“tempo ‘do possível’” (Zago, 2000:25).
Pensar a dinâmica das classes sociais é entrar nas disputas, oposições e
estratificações no interior dessas classes7; portanto, “compreender a formulação do
itinerário escolar como processo pressupõe o abandono de concepções universalistas
7 Notas da aula do dia 17/11.
10
que tomam as camadas populares [ou quaisquer outras] como um conjunto
indiferenciado” de modo a fazer aparecerem, ao contrário, indivíduos e grupos “datados,
contextualizados, considerando a realidade a partir ‘de dentro’ dos meios sociais
estudados” (Zago, 2000:20); ou, dito de outro modo, atentar-se às lógicas específicas de
espaços sociais e de campos relativamente autônomos. Deve-se “tomar como objeto”,
portanto, “o processo de educação, vale dizer, a produção do sistema de disposições que
é o habitus, mediação entre as estruturas e a prática” (Bourdieu, 2001:296).
Fazendo-o de forma consciente ou não, no controle ou não (mais frequentemente
da segunda maneira), os indivíduos constituem “agentes que atuam e que sabem,
dotados de um senso prático [...], de um sistema adquirido de preferências, de princípios
de visão e de divisão [...], de estruturas cognitivas duradouras (que são essencialmente
produto da incorporação de estruturas objetivas) e de esquemas de ação que orientam a
percepção da situação e a resposta adequada” (Bourdieu, 2011:42). Tomando-se a
constituição desse senso prático como objeto, há que se atentar para os efeitos
produzidos por essa “arte de antecipar o futuro do jogo” (idem) para que se possa
compreender a dinâmica de conformação de certos comportamentos frente a algumas
instituições, mormente a escola.
As estratégias de reprodução (tomadas de posição a partir de disposições
incorporadas), desse modo, mostram-se tão mais propensas a se organizar em função do
sistema escolar, quanto mais dependente do capital cultural for o capital econômico da
família (posição objetiva). Assim é que a família e a escola, conjuntamente,
estabelecem-se enquanto “espaços em que se constituem, pelo próprio uso, as
competências julgadas necessárias em determinado momento” e, além disso, também
enquanto “espaços em que se forma o valor de tais competências”, isto é, “mercados
que, por suas sanções positivas ou negativas, controlam o desempenho, fortalecendo o
que é ‘aceitável’, desincentivando o que não o é, votando ao desfalecimento gradual as
disposições desprovidas de valor” (Bourdieu, 2013:82).
Nenhuma contradição, portanto, no fato de que os filhos de empresários, apesar
de grande quantidade de capital econômico, não estejam entre os quadros discentes das
instituições de ensino com maior prestígio (cf. Nogueira, 2002). Tendo obtido êxito
social – leia-se, alcançado altas posições sociais e se mantido nelas – sem papel
relevante desempenhado pelo capital cultural no processo, esses pais mostram-se céticos
quanto à capacidade da escola de garantir a seus filhos aquilo que conseguiram sem ela.
Envoltos pelo meio empresarial, no qual a boa filiação (pertença a famílias
11
“respeitáveis”), o “empreendedorismo”, as redes de relações (capital social) ou a
experiência profissional contam mais do que o capital escolar, a relação que se constrói
com o conhecimento é utilitária, “onde só fazem sentido e têm valor os saberes que
possibilitam enfrentar situações práticas do dia-a-dia” (Nogueira, 2002:63), na qual a
escola é em parte deslegitimada enquanto espaço de teorias acadêmicas abstratas e
descompassadas com a “realidade”; a escola, para eles, “é pouco”. Dados os espaços em
que estão inseridos e pelos quais constituíram seus respectivos sensos práticos, o
próprio valor que orienta suas ações “se dá em um outro sistema de referência”, i.e., “o
do mundo dos negócios, considerado, por isso mesmo, como a vida ‘real’” (Nogueira,
2002:64). Por isso, conforme Bourdieu, “as frações mais ricas em capital cultural são
propensas a investir mais na educação de seus filhos e, ao mesmo tempo, em práticas
culturais propícias a manter e aumentar sua raridade específica”, enquanto “frações mais
ricas em capital econômico dão primazia aos investimentos econômicos em lugar de
investimentos culturais e educativos” (Bourdieu, 2001:324).
Para os alunos da Escola Técnica Federal de São Paulo pesquisados por Nicolau
Dela Bandeira, por outro lado, a escola aparece como o meio privilegiado pelo qual é
possível empreender a ascensão social ou, ao menos, evitar o declínio. Num cenário de
mudanças no mercado de trabalho, que exigem uma requalificação por parte de seus
pais, o senso prático dos filhos acaba por perceber “ainda que não de forma calculista,
que precisam converter os capitais herdados, investindo mais na escola, para manter a
posição social dos pais e sonhar em dar continuidade às conquistas da família”
(Bandera, 2014). Seguem a tendência das diferentes frações de classe, apontada por
Bourdieu, “no sentido de investir o capital que estão em condições de transmitir no
mercado capaz de lhe assegurar o melhor rendimento” (Bourdieu, 2001:324).
Já outro grupo é representativo daqueles que “podem se beneficiar, através da
família, dos pais, irmãos ou irmãs etc., ou de suas relações, de uma informação sobre os
circuitos de formação e seu rendimento diferenciado, atual e virtual”, informação
privilegiada a partir da qual são capazes de “alocar melhor seus investimentos escolares
e obter melhor lucro de seu capital cultural”, uma das maneiras “através das quais o
sucesso escolar – e social – se vincula à origem social” (Bourdieu, 2011:42). Tratam-se,
novamente, dos filhos de professores universitários pesquisados por Nogueira, os quais
podem se valer dos efeitos da condição específica de suas famílias enquanto produtores
de saber, capaz de fazer de seus pais “pais ‘profissionais’ de estudantes universitários”
(Nogueira, 2000:143). Na contramão dos filhos de empresários, e conforme a posição
12
de “tributários do reconhecimento e da consagração escolares”, esses jovens
“desenvolvem disposições ascéticas face ao saber e investem pesados esforços em sua
aquisição via escola” (Nogueira, 2000:145); por parte deles, “o processo de aquisição do
habitus familiar expressa-se por meio da valorização dessas atividades e [...] de sua
adesão a elas” (idem). Em decorrência de tal conjunto de fatores é que a realidade
objetiva desses indivíduos permite a incorporação de disposições que os fazem ver a
universidade – e, portanto, a escalada no sistema escolar – como destino certo.
Configura-se a propensão ao provável, descrita por Bourdieu como disposição “que
orienta as aspirações e as condutas dos sujeitos”, e que é resultado “da interiorização
das condições objetivas de existência ou, mais precisamente, da confluência entre um
‘agente predisposto e previnido, e um mundo presumido, isto é, pressentido e
prejulgado, o único que lhe é dado a conhecer’” (Bourdieu apud Nogueira, 2000:133).
As ações que orientam os investimentos no mercado escolar exigem uma adesão
– ainda que não consciente – é preciso crer no jogo para agir; o senso prático depende
de uma incorporação, que produz uma interiorização do valor que o mercado escolar
confere a tal ou qual família, bem como uma estimativa inconsciente das probabilidades
de êxito8. Essa dinâmica objetiva e subjetiva entre indivíduos e escola, é claro, não se
produz com o mesmo peso para todos, de modo que “se a escola pode lançar mão de sua
relativa autonomia para propor e impor suas próprias hierarquias”, ela “só conquista
inteiramente a adesão quando prega a convertidos e oblatos, a saber, os filhos de
professores ou jovens das classes médias e populares que dela tudo receberam e dela
tudo esperam” (Bourdieu, 2001:331).
Dessa forma, a instituição escolar tem mais poder para inculcar o valor das
competências daqueles oriundos das camadas populares do que dos dominantes, ainda
que ambos possam estar em “desacordo” em relação às competências escolares. Assim é
que a instituição escolar é capaz de produzir “disposições negativas no tocante à escola
que levam a maioria das crianças das classes e frações de classe mais desfavorecidas
culturalmente à auto-eliminação, como por exemplo a depreciação de si mesmo, a
desvalorização da escola e de suas sanções ou a resignação ao fracasso e à exclusão”,
disposições que “devem ser compreendidas em termos de uma antecipação fundada na
estimativa inconsciente das probabilidades objetivas de êxito viáveis para o conjunto da
categoria social, sanções que a escola reserva objetivamente às classes ou frações de
classe desprovidas de capital cultural” (Bourdieu, 2001:310); mecanismos que levam à
8 Notas da aula do dia 24/11.
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produção da autoimagem, para uns, de “nasci para vencer” e, para outros, de “isto não é
para mim”. É possível lembrar aqui da função criada pela Universidade de São Paulo de
“embaixadores da USP”, pessoas com algum vínculo com a universidade (geralmente
oriundos também do ensino público) que vão a escolas públicas para tentar desconstruir
a “ideia da USP como lugar inatingível [...] hoje enraizada na mentalidade de muitos
jovens”9.
A função de reprodução social operada pela instituição escolar, torna-se, assim,
clara. É como se a ação escolar “tendesse a duplicar e a consagrar por meio de suas
sanções as desigualdades iniciais”, onde “o que se pretende medir a partir do nível de
instrução é apenas a acumulação dos efeitos resultantes da formação adquirida por meio
da família e da aprendizagem escolar que já supunham tal formação prévia” (Bourdieu,
2001:304). Trata-se aqui da distância entre o capital cultural adquirido no seio familiar
em relação à cultura legítima exigida pela instituição escolar, a qual vai exigir o
“manuseio”, por assim dizer, de tal cultura, sem, no entanto, fornecer as ferramentas
necessárias para que ele seja possível. Pressupõe, dessa forma, a posse prévia de tais
instrumentos de decifração, o que significa que somente os estudantes cujas famílias
puderam fornecê-los poderão operar no interior do sistema escolar. É como se a escola
se dispusesse a ensinar os alunos a ler, mas ensinando somente àqueles que já conhecem
o alfabeto, de forma que, “eximindo-se de oferecer a todos explicitamente o que exige
de todos implicitamente, quer exigir de todos uniformemente que tenham o que não lhes
foi dado, a saber, sobretudo a competência linguística e cultural e a relação de
intimidade com a cultura e com a linguagem, instrumentos que somente a educação
familiar pode produzir quando transmite a cultura dominante” (Bourdieu, 2001:306).
Esse funcionamento do sistema escolar, no entanto, aparece como legítimo, na
medida em que se encontra sob o véu do caráter técnico de suas certificações e seus
modos de avaliação. Conforme Bourdieu, “a função técnica evidente, bem evidente, de
formação e transmissão de uma competência técnica e de seleção dos tecnicamente mais
competentes, mascara uma função social, a saber, a consagração dos detentores
estatutários de competência social, do direito de dirigir [...], uma nobreza escolar
hereditária” (Bourdieu, 2011:39). O que faz com que as ordenações operadas pela
escola apresentarem o efeito de uma separação de essência, pela qual ela designa
aqueles mais aptos a ocupar as posições dirigentes e os legitima para tanto, já que o faz
9 Retirado do portal da Universidade de São Paulo. Disponível em http://www5.usp.br/10443/programa-embaixadores-da-usp-convoca-novos-participantes/
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com base em critérios socialmente reconhecidos como objetivos, racionais e, na medida
do possível, imparciais.
A modernidade operou, por meio de um conjunto de instituições criadas e
fortalecidas, a objetivação das relações – tornadas impessoais e mediadas pelo contrato.
No seio dessas instituições é que vai se desenvolver a modalidade de dominação
simbólica, por meio da qual não será mais necessário, em tão grande escala e de forma
tão explícita, o uso da força bruta. A escola torna-se o “palácio da dominação
simbólica”, e a legitimidade do poder social, um dia proveniente de uma vontade divina,
passa a ser conferida pelo título escolar. A função política de imposição dos sentidos,
das lógicas e de legitimação da violência simbólica dos sistemas simbólicos exerce-se,
pois, não como reflexo das condições objetivas, mas enquanto constituem instrumentos
de dominação e de conhecimento10. Tal violência
“não é bem sucedida senão na medida em que aquele que a sofre contribui para sua eficácia; que
ela não constrange senão na medida em que ele está predisposto por uma aprendizagem prévia a
reconhecê-la. Isto só ocorre quando as categorias de percepção e de ação que ele coloca em ação
nos atos individuais através dos quais se realiza a ‘vontade’ e o poder da instituição [...] estão em
acordo imediato com as estruturas objetivas da organização por serem elas o produto da
incorporação dessas estruturas” (Bourdieu, 1991:115).
Sem tomar suas proposições de forma mecanicista, uma vez que se pretendem
exatamente a uma análise dinâmica das estruturas sociais e subjetivas em toda sua
complexidade, Bourdieu faz, dessa forma, uma Sociologia da educação que é, ao
mesmo tempo, uma Sociologia do conhecimento e uma sociologia da dominação, que
traz à inteligibilidade essa criação moderna que é “a instituição feita homem” (idem).
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10 Notas da aula do dia 01/12.
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