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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA PROPOSTA DE UM NOVO MODELO PARA ANÁLISE DOS COMPORTAMENTOS TRANSITÓRIO E ESTACIONÁRIO DE SISTEMAS DE ATERRAMENTO, USANDO-SE O MÉTODO FDTD EDUARDO TANNUS TUMA DM ____/_____ UFPA / CT / PPGEE Campus Universitário do Guamá Belém-Pará-Brasil 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

PROPOSTA DE UM NOVO MODELO PARA ANÁLISE DOS COMPORTAMENTOS TRANSITÓRIO E ESTACIONÁRIO DE SISTEMAS DE ATERRAMENTO, USANDO-SE

O MÉTODO FDTD

EDUARDO TANNUS TUMA

DM ____/_____

UFPA / CT / PPGEE Campus Universitário do Guamá

Belém-Pará-Brasil 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CENTRO TECNOLÓGICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

EDUARDO TANNUS TUMA

PROPOSTA DE UM NOVO MODELO PARA ANÁLISE DOS COMPORTAMENTOS TRANSITÓRIO E ESTACIONÁRIO DE SISTEMAS DE ATERRAMENTO, USANDO-SE

O MÉTODO FDTD

DM ____/______

UFPA / CT / PPGEE Campus Universitário do Guamá

Belém-Pará-Brasil 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

EDUARDO TANNUS TUMA

PROPOSTA DE UM NOVO MODELO PARA ANÁLISE DOS COMPORTAMENTOS TRANSITÓRIO E ESTACIONÁRIO DE SISTEMAS DE ATERRAMENTO, USANDO-SE

O MÉTODO FDTD

Dissertação submetida à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFPA para a obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Elétrica

UFPA / CT / PPGEE Campus Universitário do Guamá

Belém-Pará-Brasil 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

PROPOSTA DE UM NOVO MODELO PARA ANÁLISE DOS COMPORTAMENTOS TRANSITÓRIO E ESTACIONÁRIO DE SISTEMAS DE ATERRAMENTO, USANDO-SE

O MÉTODO FDTD

AUTOR: EDUARDO TANNUS TUMA DISSERTAÇÃO DE DOUTORADO SUBMETIDA À AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA APROVADA PELO COLEGIADO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ E JULGADA ADEQUADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM ENGENHARIA ELÉTRICA NA ÁREA DE SISTEMAS DE POTÊNCIA APROVADA EM ____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Carlos Leonidas da S. S. Sobrinho (ORIENTADOR – UFPA)

Prof. Dr. Silvério Visacro Filho (MEMBRO – UFMG)

Prof. Dr. Antonio Manoel Ferreira Frasson (MEMBRO – UFES )

Prof. Dr. Ronaldo Oliveira dos Santos (MEMBRO – IESAN )

Prof. Dr. Victor Alexandrovich Dimitriev (MEMBRO – UFPA )

Prof. Dr. Ubiratan Holanda Bezerra (MEMBRO – UFPA ) VISTO:_____________________________________________________________________

Prof. Dr. Evaldo Gonçalves Pelaes (COORDENADOR DO PPGEE/CT/UFPA)

UFPA / CT / PPGEE

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Aos meus pais José e Altair Tuma, minha esposa Kiânia e minhas filhas Karla, Kelly e Kamille pelo apoio e incentivo ao longo de minha vida

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AGRADECIMENTOS

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vii

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................ x

LISTA DE TABELAS ....................................................................................... xiv

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ....................................................... xv

LISTA DE SÍMBOLOS ..................................................................................... xvi

RESUMO ............................................................................................................ xviii

ABSTRACT ........................................................................................................ xix

1.0 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 001

2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 008

2.1 ONDAS PADRONIZADAS PARA SURTOS ATMOSFÉRICOS 008

2.1.1 Representação de um pulso atmosférico pela curva dupla exponencial ....... 012

2.1.2 Representação da onda de um pulso atmosférico pela função de Heidler ... 015

2.2 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE SISTEMAS DE ATERRAMENTO EM BAIXAS FREQUÊNCIAS .................................................................................. 015

2.2.1 Resistividade do solo .......................................................................................... 017

2.2.2 Resistência de aterramento ............................................................................... 024

2.2.3 Métodos de medição de resistência de aterramento ....................................... 030

2.2.3.1 Método da queda de potêncial ............................................................................. 030

2.2.3.2 Método da regra dos 62% ................................................................................... 033

2.2.4 Método de medição de resistividade do solo .................................................... 033

2.2.4.1 Medição por amostragem ..................................................................................... 033

2.2.4.2 Medição pelo método de Wenner ........................................................................ 034

2.2.5 Conceitos básicos de segurança em aterramento ............................................ 035

2.2.5.1 Efeito da corrente no organismo humano ............................................................ 036

2.2.5.2 Potencial de passo e de toque .............................................................................. 037

2.2.5.3 Resistência do corpo humano .............................................................................. 039

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2.3 COMPORTAMENTO DO ATERRAMENTO FRENTE ÀS DESCARGAS ATMOSFÉRICAS ............................................................................................... 040

2.3.1 Introdução .......................................................................................................... 040

2.3.2 Variação dos parâmetros do solo em função da freqüência .......................... 044

2.3.3 Distribuição do campo e efeitos de propagação no solo ................................. 045

2.3.4 Efeitos da ionização do solo ............................................................................... 047

3.0 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO E MODELAGEM DO PROBLEMA . 054

3.1 MÉTODO FDTD ................................................................................................. 054

3.1.1 Célula de Yee ..................................................................................................... 054

3.1.2 Dimensões da célula, estabilidade e precisão ................................................... 056

3.1.3 As técnicas de representação de fios finos ....................................................... 057

3.1.3.1 Fio fino pela correção do campo magnético ........................................................ 057

3.1.3.2 Fio fino pela correção dos parâmetros elétricos ε e σ e magnético µ .................. 059

3.1.4 Parede absorvente tipo UPML para meio condutivo ..................................... 065

3.2 PROCESSAMENTO PARALELO ..................................................................... 070

3.3 MODELO ADOTADO PARA SIMULAÇÃO DE HASTES NÃO CONVENCIONAIS ............................................................................................. 072

3.4 MODELO ADOTADO PARA SIMULAÇÃO DE HASTES CONVENCIONAIS ............................................................................................. 080

3.4.1 Técnica utilizada para injeção de corrente ...................................................... 081

3.4.2 Determinação do potencial no ponto A ............................................................ 083

3.5 ESTRUTURA DE PROGRAMAÇÃO ............................................................... 085

4.0 RESULTADOS .................................................................................................. 089

4.1 RESULTADOS OBTIDOS PARA TGR, TENSÃO E CORRENTE EM ELETRODOS DE ATERRAMENTO NÃO CONVENCIONAIS ..................... 089

4.1.1 Aterramento com eletrodo único ...................................................................... 089

4.1.2 Análise da influência do comprimento do eletrodo de aterramento sobre o potencial, corrente e TGR. ................................................................................ 092

4.1.3 Análise da influência de eletrodos de terra paralelos sobre o potencial, corrente e TGR ................................................................................................... 095

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4.1.4 Estudo do comportamento transitório para o potencial, corrente e TGR para uma malha quadrada com 16 eletrodos................................................... 097

4.1.5 Estudo do comportamento transitório para o potencial, corrente e TGR para uma malha quadrada com 25 eletrodos................................................... 098

4.1.6 Estudo do comportamento transitório para o potencial, corrente e TGR para um eletrodo em solo estratificado............................................................. 100

4.1.7 Influência da desconexão de uma haste em um sistema de aterramento que contempla duas hastes ................................................................................ 101

4.1.8 Modelagem do potencial na análise do comportamento transitório dos sistemas de aterramento usando uma haste ................................................... 103

4.1.8.1 Integração do potencial através de caminhos no espaço livre ............................. 104

4.1.8.2 Integração do potencial através de caminhos no meio condutivo (terra) ............ 108

4.2 RESULTADOS OBTIDOS PARA TGR, TENSÃO E CORRENTE EM ELETRODOS DE ATERRAMENTO CONVENCIONAIS (COMERCIAIS) .. 110

4.2.1 Simulação de eletrodo com diâmetros diferentes ............................................ 110

4.2.2 Verificação da influência da permissividade sobre TGR, tensão e corrente 112

4.2.3 Verificação da influência da condutividade sobre TGR, tensão e corrente.. 113

4.2.4 Simulação de eletrodo em solo estratificado em duas camadas ..................... 114

4.2.5 Simulação de eletrodo em presença de falhas geológicas ............................... 116

4.2.6 Simulação de uma malha quadrada 5 x 5 nós sem eletrodos ......................... 118

5.0 CONCLUSÕES ................................................................................................. 124

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LISTA DE FIGURAS

Fig. 2.1 Descargas entre nuvens ............................................................................... 009

Fig. 2.2 Descarga entre nuvem-Terra ....................................................................... 010

Fig. 2.3 Fases de uma descarga atmosférica (a) leader descendente, (b) leader ascendente (c) momento da conexão entre as descargas e (d) Corrente de retorno .........................................................................................................

011

Fig. 2.4 Representação do pulso atmosférico em uma linha de transmissão ........... 012

Fig. 2.5 Onda dupla exponencial como onda de um pulso atmosférico ................... 013

Fig. 2.6 Circuito de geração da onda exponencial ................................................... 013

Fig. 2.7 Forma de onda padronizada para surto atmosférico mostrando a taxa de crescimento ................................................................................................. 014

Fig. 2.8 Oscilogramas obtidos mostrando (a) uma onda completa e (b) uma onda cortada de 1x10 µs ...................................................................................... 014

Fig. 2.9 Circuito equivalente de um aterramento em condições de (a) alta freqüência e (b) baixa freqüência ................................................................ 016

Fig. 2.10 Cubo de 1 m de aresta com duas faces de metal ......................................... 017

Fig. 2.11 Efeito da umidade na resistividade do solo ................................................. 019

Fig. 2.12 Efeito do tipo de concentração de sais e ácido na resistividade do solo ..... 020

Fig. 2.13 Comportamento da resistividade da água em função da temperatura ......... 021

Fig. 2.14 Representação do solo estratificado, a última camada é considerada infinita ......................................................................................................... 023

Fig. 2.15 Fluxo de corrente resultante na terra ........................................................... 024

Fig. 2.16 Fonte de corrente I no interior da terra........................................................ 026

Fig. 2.17 Potencial em um ponto P localizado no interior da terra. Utilização do método das imagens ....................................................................................

026

Fig. 2.18 Haste de aterramento posicionada na origem ............................................. 027

Fig. 2.19 Esquema de medição da resistência de terra ............................................... 032

Fig. 2.20 Perfil da resistência no método da queda de potencial ............................... 033

Fig. 2.21 Medição da resistividade em laboratório utilizando cuba ........................... 034

Fig. 2.22 Arranjo para medição de resistividade utilizando o método de Wenner .... 035

Fig. 2.23 Tensão de passo (a) e tensão de toque (b) em estrutura aterrada .............. 039

Fig. 2.24 Ligação típica de uma haste de aterramento................................................ 041

Fig. 2.25 Curva tensão-corrente para uma amostra de solo ....................................... 045

Fig. 2.26 Atenuação da onda de propagação em condutor enterrado ........................ 046

Fig. 2.27 Comportamento divergente do campo ........................................................ 047

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Fig. 2.28 a) Eletrodo hemisférico b) Haste de aterramento: Método de Liew .......... 049

Fig. 2.29 Arranjo para teste e medição de corrente .................................................... 049

Fig. 2.30 Pulso de tensão e corrente em solo ionizado a) Solo seco b) solo úmido .. 050

Fig. 3.1 Célula de Yee .............................................................................................. 055

Fig. 3.2 Alocação dos campos e geometria para a técnica de fio fino no plano Z-X .............................................................................................................. 058

Fig. 3.3 Seção transversal de um fio fino envolvido por uma lâmina condutora cilíndrica coaxial com o fio fino ................................................................. 060

Fig. 3.4 Seção transversal de um fio fino envolvido por uma lâmina condutora retangular com seção transversal de 2.5 x 2.5 m2. E1, E2 e E3 são os campos elétricos radiais em 0.5, 1.5 e 2.5∆s a partir do eixo do fio fino. 060

Fig. 3.5 Variação no tempo dos campos E1, E2 e E3 com relação a E2 usando o método FDTD, no caso em que σ = 5 mS/m e ε = 12 ................................ 061

Fig. 3.6 Campo elétrico radial em função da distância radial x do centro de um fio fino, calculado usando (3.18) e o método FDTD (o campo elétrico é normalizado de forma que E2 seja igual a unidade) ................................... 062

Fig. 3.7 Seção transversal de um fio fino tendo um raio de 0.23∆s e suas quatro células adjacentes. (a) Quatro elementos de campo elétrico radial próximo ao fio fino. (b) Quatro elementos de campo magnético radial envolvendo e próximo ao fio fino ............................................................... 063

Fig. 3.8 Atualização das componentes de campo localizadas na interface entre duas regiões (plano Y-Z) ........................................................................... 072

Fig. 3.9 Vista superior, no plano X-Y, do domínio computacional de análise ........ 073

Fig. 3.10 Vista lateral, no plano X-Z, do domínio computacional de análise e sistema de aterramento ................................................................................ 075

Fig. 3.11 Vista lateral, no plano Y-Z, do domínio computacional de análise e sistema de aterramento ................................................................................ 076

Fig. 3.12 Sistema de aterramento usado como protótipo inicial do trabalho ............. 077

Fig. 3.13 Forma de onda do pulso de tensão aplicado ............................................... 077

Fig. 3.14 Integração dos quatro campos magnéticos ao longo dos percursos ∆x e ∆y ................................................................................................................ 079

Fig. 3.15 Layout do esquema proposto ...................................................................... 081

Fig. 3.16 Circuito equivalente da excitação de corrente............................................. 082

Fig. 3.17 Medição de corrente realizada através da média entre I1(t) e I2(t) .............. 082

Fig. 3.18 Vista nos planos X-Y do domínio computacional de análise 084

Fig. 3.19 Vista nos planos X-Z do domínio computacional de análise 085

Fig. 3.20 Lógica de implementação FDTD baseada em algorítimo paralelizado ...... 086

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xii

Fig. 4.1 Sistema de aterramento visto no plano Z-Y com um eletrodo de aterramento e circuito de corrente .............................................................. 090

Fig. 4.2 Trecho do circuito de corrente constituído por eletrodo principal, fonte de tensão e resistência ...................................................................................... 090

Fig. 4.3 Sistema de aterramento visto no plano Z-X mostrando o circuito de potencial de referência ................................................................................ 091

Fig. 4.4 Resultados simulados e experimentais para um eletrodo ........................... 092

Fig. 4.5 Eletrodo vertical longo ................................................................................ 093

Fig. 4.6 Respostas de tensão, corrente e TGR transitórios para diversos comprimentos de haste ................................................................................ 093

Fig. 4.7 Comportamento transitório da TGR em haste de comprimento variável ... 094

Fig. 4.8 Comportamento dos valores estabilizados da TGR em função do comprimento da haste ................................................................................. 094

Fig. 4.9 Sistema de aterramento com duas hastes .................................................... 095

Fig. 4.10 Comparação dos valores de TGR, corrente e tensão para sistemas com uma e duas hastes, respectivamente ............................................................ 096

Fig. 4.11 Sistema de aterramento com quatro eletrodos em linha ............................. 096

Fig. 4.12 Curvas TGR, tensão e corrente para sistema de aterramento com 4 hastes em linha ....................................................................................................... 097

Fig. 4.13 Sistema de aterramento com 16 hastes em formato quadrado cheio (plano XY) ............................................................................................................. 097

Fig. 4.14 Curvas TGR, tensão e corrente para sistema de aterramento com 16 hastes ........................................................................................................... 098

Fig. 4.15 Sistema de aterramento com 25 hastes em formato quadrado cheio. Vista no plano X-Z ............................................................................................... 098

Fig. 4.16 Sistema de aterramento com 25 hastes em formato quadrado cheio. Vista no plano X-Y ............................................................................................... 099

Fig. 4.17 Curvas TGR, tensão e corrente para sistema de aterramento com 25 hastes ........................................................................................................... 099

Fig. 4.18 Haste de aterramento em solo estratificado de duas camadas .................... 100

Fig. 4.19 Curvas TGR, tensão e corrente para sistema de aterramento com uma haste em solo estratificado em duas camadas (ρ1>ρ2 e ρ1<ρ2) ................. 100

Fig. 4.20 Malha de aterramento com duas hastes: a) conexão normal b) com uma haste desconectada ...................................................................................... 101

Fig. 4.21 Curvas para TGR, corrente e tensão, resultantes de simulação em sistema de aterramento com duas hastes, duas hastes porém uma desconectada e uma haste .................................................................................................... 102

Fig. 4.22 Mediação das permissividades em células da interface espaço livre e terra 104

Fig. 4.23 Medição do potencial através de integração no espaço livre ...................... 104

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xiii

Fig. 4.24 Resultados para TGR, tensão e corrente considerando a média das permissividades ........................................................................................... 105

Fig. 4.25 Diagrama mostrando TGR, tensão e corrente sem média de permissividade ............................................................................................ 105

Fig. 4.26 Diagrama mostrando TGR, tensão e corrente com média de permissividade ............................................................................................ 106

Fig. 4.27 Medição do potencial através de integração no meio condutivo terra ........ 108

Fig. 4.28 Resultado da TGR, tensão e corrente aplicando a integração do campo em vários percursos na terra e espaço livre ................................................ 108

Fig. 4.29 Curva representativa da TGR, tensão e corrente no intervalo de 0 a 0.2 µs 109

Fig. 4.30 Curvas de TGR, tensão e corrente para diâmetros variáveis ...................... 111

Fig. 4.31 Curvas de TGR, tensão e corrente para permissividades variáveis ............ 112

Fig. 4.32 Curvas de TGR tensão e corrente para diferentes condutividades ............ 113

Fig. 4.33 Circuito de corrente mostrando haste de aterramento em solo estratificado ................................................................................................. 114

Fig. 4.34 Curvas de TGR, Tensão e Corrente para haste de aterramento em solo homogêneo e estratificado .......................................................................... 115

Fig. 4.35 Eletrodo e cavidade ..................................................................................... 116

Fig. 4.36 Curvas de TGR, Tensão e Corrente para haste de aterramento em presença de cavidades dentro da terra ......................................................... 117

Fig. 4.37 Distribuição do campo EZ com eletrodo de aterramento em presença de cavidade ...................................................................................................... 118

Fig. 4.38 Malha de aterramento 5 x 5 nós, sem hastes de aterramento ...................... 118

Fig. 4.39 Curvas TGR, tensão e corrente para uma malha quadrada 5 x 5 nós sem eletrodos ...................................................................................................... 119

Fig. 4.40 Distribuição do campo Ex na malha 5x5 ..................................................... 120

Fig. 4.41 Distribuição do campo Ey na malha 5x5 ..................................................... 120

Fig. 4.42 Distribuição do campo Ez na malha 5x5 ..................................................... 121

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xiv

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Faixa de valores usuais de resistividade de certos tipos de solos …….. 018

Tabela 2.2 Influência da umidade na resistividade do solo ..................................... 019

Tabela 2.3 Influência da concentração de sais na resistividade do solo .................. 020

Tabela 2.4 Efeito da temperatura na resistividade do solo ...................................... 022

Tabela 2.5 Valores típicos de resistividade para diferentes períodos geológicos .... 023

Tabela 2.6 Expressões para configurações típicas de eletrodos de aterramento ...... 031

Tabela 2.7 Resistência do corpo humano com a tensão .......................................... 040

Tabela 2.8 Constante dielétrica aproximada ou permissividade relativa (εr) e rigidez de alguns materiais de uso corrente ........................................... 043

Tabela 2.9 Permeabilidade relativa (µr) de alguns materiais ................................... 044

Tabela 4.1 Coincidência no comportamento transitório das curvas TGR em determinados períodos transitórios para diversos comprimentos de haste ....................................................................................................... 094

Tabela 4.2 Diferença relativa (Req-Rsim)/Req entre a resistência CC calculada através de (4.9) e (4.10) e a resistência transitória obtida pelo uso de simulação em ambiente FDTD para diferentes diâmetros de haste ....... 111

Tabela 4.3 Diferença relativa (Req-Rsim)/Req entre a resistência CC calculada usando (4.9) e (4.10) e a resistência transitória obtida pelo uso da simulação FDTD para várias condutividades ........................................ 114

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xv

LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

CA Corrente alternada

CC Corrente contínua

PEC Condutor eletricamente perfeito

CESDIS Centro de Excelência em Dados Espaciais e Informações Científicas

CIGRÉ Conselho Internacional para Grandes Sistemas Elétricos

CPU Unidade de processamento central

EM Eletromagnetismo

ERC Eletrodo remoto de corrente

ERP Eletrodo remoto de potencial

ET Eletrodo de terra

EMTP Programa de transitórios de eletromagnéticos

FDTD Diferença finita no domínio do tempo

FEM Método dos elementos finitos

IEEE Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos

LANE Laboratório de analises numéricas em eletromagnetismo

MPI Interface de passagem de mensagem

NASA “National aeronautics and space administration”

IEC Comissão Internacional de Eletrotécnica

PVM Máquina paralela virtual

RC Resistivo capacitivo

SPMD Programa simples de dados múltiplos

TGR Resistência de aterramento transitória

UPML Camada uniaxial perfeitamente casada

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xvi

LISTA DE SÍMBOLOS

R Resistência estacionária

ρ Resistividade do solo

l Comprimento da haste de aterramento

L Indutância da haste de aterramento

C Capacitância da haste de aterramento

ω Velocidade angular

Eo Gradiente de ionização do solo

Operador nabla

E Vetor intensidade de campo elétrico

H Vetor intensidade de campo magnético

ε, εr Permissividade elétrica, permissividade relativa

sε∗ Permissividade modificada na técnica de fio fino

σ Condutividade elétrica

σ* Condutividade modificada na técnica de fio fino

∂ Operador diferencial

µ, µr Permeabilidade magnética, permeabilidade relativa

sµ∗ Permeabilidade modificada na técnica de fio fino

µs Microssegundos

i, ,j, k Incrementos espaciais nas direções x, y e z

∆x Dimensão da célula de Yee na direção x

∆y Dimensão da célula de Yee na direção y

∆z Dimensão da célula de Yee na direção z

δ, ∆s Dimensão geral da célula

∆t Intervalo de discretização do tempo

c Velocidade da luz

ro Raio do fio fino

or∗ Raio arbitrário na técnica de fio fino

r Distancia do centro do fio fino ao vetor campo magnético calculado

Sx, Sy, Sz Elementos componentes do tensor diagonal S

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xvii

Kx, Ky, Kz Parte real não unitária na expressão do tensor diagonal

σx,máx Condutividade máxima na equação da UPML

σx,opt Condutividade ótima na equação da UPML

d Espessura da UPML

f Freqüência

Umax Tensão máxima

Io Amplitude da corrente na base do canal

τ1 Constante relacionada ao tempo de frente de onda de corrente

τ2 Constante relacionada ao tempo de decaimento da onda de corrente

η Fator de correção de amplitude

K Constante de proporcionalidade

JP Densidade de corrente no ponto P

VP Potencial no ponto P

r, a Raio da haste de aterramento

Ic Valor rms de corrente permitida através do corpo humano em Ampères

ts Tempo de exposição ou duração da falta em segundos

Sc Constante empírica relacionada com a tolerância ao choque elétrico para um certo percentual da população.

Vpasso Tensão de passo

Vtoque Tensão de toque

Eo Gradiente de ionização do solo

Tf Tempo de frente de onda

Tt Tempo de cauda

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xviii

RESUMO

O objetivo principal deste trabalho é o desenvolvimento de um código

computacional para ambiente de processamento paralelo, tendo em vista a análise

numérica do comportamento transitório dos parâmetros de sistemas de aterramento. A

formulação do problema foi desenvolvida partindo-se das equações de Maxwell na

forma diferencial e no domínio do tempo, para a qual uma solução numérica foi obtida

empregando o método FDTD-3D (diferenças finitas no domínio do tempo). Em todos os

casos analisados, a terra foi considerada como sendo um meio com perdas, isotrópico,

não dispersivo, linear e não variante no tempo. Para limitar a região de análise, a técnica

UPML foi usada. Uma técnica de fio fino foi aplicada para representar condutores de

seção transversal pequena. Considerando-se um eletrodo, os resultados obtidos para o

potencial, corrente e resistência de aterramento transitória (TGR), mostraram boa

concordância com os valores experimentais disponíveis na literatura. Resultados

complementares e de maior precisão foram alcançados na avaliação de várias

configurações de sistemas de aterramento em solo homogêneo e estratificado, pela

implementação numérica de uma estrutura nova de excitação e uma forma nova de

obter o potencial no mesmo ponto onde a impedância estava sendo avaliada. O modelo

aqui proposto tem a vantagem de ser capaz de simular situações naturais de descarga

em um formato mais realista. Os dados obtidos (e as técnicas apresentadas) poderão ser

úteis em projetos de sistemas de aterramento, visando dar uma maior proteção às

instalações quando submetidas a surtos de corrente, descargas atmosféricas, entre

outros.

PALAVRAS-CHAVE: Análise transitória, método FDTD, modelo de injeção de corrente, processamento paralelo, proteção contra descargas, resistência de aterramento, solo estratificado.

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xix

ABSTRACT

The main purpose of this work is the development of a computational algorithm to

numerically analyze the transient behavior of grounding systems parameters with

parallel processing environment. The problem formulation was developed starting from

differential Maxwell´s equations in time-domain, for which a numerical solution was obtained

by employing the FDTD-3D method (Finite Differences-Time Domain). For every the analyzed

case, the ground was considered isotropic, non-dispersive, linear and not time variant. In order

to limit the analysis region, UPML technique was used. A thin wire technique was applied to

represent a narrow conducting cross-section wire. The results obtained for potential,

current and Transitory Grounding Resistance (TGR), considering an electrode, strongly

agree with those of literature. Additional improved results were reached for

homogeneous and stratified soils by the implementation of a new excitation structure

and by a new way for obtaining the potential at the point where the impedance is being

evaluated. The model proposed here has the advantage of being able to simulate natural

discharge situations in a more realistic way. Such results (and the novel model

presented) can be used to project systems able to provide higher levels of protection

from lightning discharges or failures of the electrical power system.

KEYWORDS: current injection model, discharge protection, FDTD method, grounding

resistance, parallel processing, transient analysis, stratified soil.

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1

1.0 Introdução

AS subestações de alta tensão normalmente estão submetidas a potenciais perigosos

em suas estruturas em decorrência dos surtos atmosféricos e surtos de manobra [1]. Em ambos

os casos, a elevação da tensão no sistema de aterramento pode se tornar bastante crítica de

forma a causar vários tipos de problemas relacionados à interferência eletromagnética, riscos

e danos em equipamentos e pessoas físicas. Equipamentos modernos e sistemas que utilizam

dispositivos eletrônicos sensíveis têm, cada vez mais, alcançado importância significativa

perante a humanidade. Em muitos casos, um dano ou mesmo uma falha temporária em tais

dispositivos não pode ser aceito. Portanto, um dos tópicos principais relacionados à

compatibilidade magnética em sistemas elétricos modernos, é a proteção eficiente e

econômica contra transitórios causados por descargas atmosféricas [2]. Em decorrência dos

fenômenos elétricos citados, que se tornam críticos em função das características dos solos

onde a injeção de corrente ocorre, surge a necessidade de um aprofundamento, cada vez

maior, nos estudos dos sistemas de aterramento. As conexões para terra em geral são

impedâncias complexas tendo componentes resistivos, capacitivos e indutivos capazes de

afetar a sua capacidade de transporte de corrente. As medições da impedância de aterramento

são importantes: (a) na determinação da elevação do potencial de terra e sua variação através

de uma determinada área, resultado de uma corrente de falta em um sistema de potência; (b)

na verificação da adequação das conexões com a terra para efeito de proteção contra

descargas atmosféricas e (c) na segurança quanto ao perfeito funcionamento dos

equipamentos de proteção de sistemas elétricos e equipamentos de tecnologia da informação.

Vários trabalhos têm sido publicados com descrição de metodologias diversas para a

medição da impedância, resistência de aterramento transitória (TGR), tensões de toque e de

passo em malhas de aterramento [3-11]. Estas publicações entre outras, abrangem

basicamente os seguintes aspectos:

• Cálculo de aterramentos elétricos pelo método do potencial constante, onde se procede a

partição dos eletrodos em segmentos, cada qual considerado com um valor particular de

corrente de dispersão, mas de densidade uniforme de corrente ao longo de sua extensão. O

eletrodo é modelado por um conjunto de filamentos colineares colocados em seu eixo e

imersos no solo. A aplicação desta metodologia se dá em malhas de aterramento não

muito extensas e freqüências representativas não muito diferentes da freqüência

fundamental dos sistemas elétricos de potência. [3].

• Estudos eletromagnéticos nas análises de surto usando o Programa de Transitório

Eletromagnético (EMTP) [12] e [13], bastante utilizado por pesquisadores, onde todos os

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elementos do sistema a ser ensaiado, são devidamente modelados. Tomando-se como

exemplo uma torre de transmissão submetida a estudos de descargas atmosféricas,

analisada pelo programa EMTP, todos os componentes da torre podem ser modelados da

seguinte forma: (a) linha de transmissão modelada como sistema polifásico dependente da

freqüência; (b) a estrutura da torre como linha monofásica com parâmetro distribuído; (c)

cruzeta de aço modelada como indutância concentrada e (d) fio contra peso ou resistência

de pé de torre geralmente modelado como resistência pura ou em alguns casos como

resistência variante no tempo.

• Estudos eletromagnéticos através do método FEM (Método dos elementos finitos) no

espectro de freqüências significativo para descargas atmosféricas (f≈1MHz). A análise por

elementos finitos de um problema qualquer, envolve, basicamente quatro etapas: (a)

discretização do domínio em um número finito de sub-regiões ou elementos; (b) obtenção

das equações que regem um elemento típico; (c) conexão de todos os elementos do

domínio e (d) resolução do sistema de equações obtido. Nesses estudos, as equações de

Maxwell com suas derivadas parciais são solucionadas no sentido de determinar as

seguintes variáveis de estado: (a) potencial escalar elétrico e (b) vetor potencial

magnético. No sentido de adequar as malhas às configurações dos componentes

industriais existentes, são introduzidas nas mesmas, figuras geométricas, como

paralelogramos, tetraedros e pirâmides [14]. Esta técnica tem como limitação a

necessidade de grandes recursos computacionais para processamento dos sistemas de

matrizes e a extrema dependência do formato da malha.

• O método dos momentos (MOM) tem a vantagem de ser um método conceitualmente

simples e é bastante utilizado, na resolução das equações integrais, podendo também ser

utilizado na solução de equações diferenciais [15,16]. O método tem sido aplicado com

sucesso a uma grande variedade de problemas em eletromagnetismo de interesse geral,

tais como, problemas de radiação devido a elemento fio fino, problemas de espalhamento,

análise de microfitas e propagação em meios não-homogêneos como a terra [17,18]. O

procedimento para aplicação do método dos momentos, parte da solução de uma equação

do tipo Lφ = g, onde L é um operador que pode ser integral ou diferencial, φ é uma função

desconhecida e g é uma fonte de excitação conhecida. Três etapas são necessárias para o

equacionamento do problema [19]:

o Escolha da equação integral adequada ao problema.

o Discretização da equação integral transformando-a na forma matricial, utilizando

funções básicas e funções de peso.

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3

o Solução da equação matricial e obtenção dos parâmetros de interesse

Quando comparado com outros métodos numéricos, observa-se que o método dos

momentos trabalha apenas no domínio da freqüência, não é comum a aplicação do método

em materiais com condutividade finita (não nula), apresenta problemas de convergência

em algumas freqüências (pólos das funções de Green) e também necessita de grandes

recursos computacionais para processamento dos sistemas de matrizes.

• Cálculo de resistência de aterramento transitória utilizando a metodologia FDTD

(Diferença finita no domínio do tempo). O espaço de trabalho é discretizado com auxilio

de células de Yee e solução das equações diferenciais de Maxwell. Os componentes do

sistema de aterramento são introduzidos no ambiente de trabalho através das condições de

contorno. São também introduzidos barramentos horizontais e eletrodos auxiliares para

possibilitar a injeção de corrente e medição da diferença de potencial desenvolvida na

terra pela passagem do pulso de corrente [20]. Neste método, a presença de barramentos e

eletrodos auxiliares no ambiente de computação para efeito de medição das variáveis

elétricas, causam acoplamento eletromagnético não coerente com a situação real. Este

procedimento tem como efeito uma menor precisão no cálculo das variáveis do sistema de

aterramento.

Em eletromagnetismo, uma solução na forma fechada é a solução de uma equação

integral, diferencial ou integro-diferencial na qual os valores dos parâmetros do problema

podem ser determinados. Na literatura, algumas das soluções analíticas são obtidas assumindo

certas restrições, fazendo com que essas soluções fossem aplicáveis àquelas situações

idealizadas. Por exemplo, ao deduzir-se a fórmula para calcular a capacitância de um

capacitor de placas paralelas, assume-se que o efeito de borda é desprezível e que a separação

entre as placas é muito pequena se comparada com o comprimento e a largura das mesmas. A

solução para a equação de Laplace nos problemas práticos de eletrostática, é restrita a

problemas com contornos coincidindo com as direções dos eixos dos sistemas de coordenadas

o que caracteriza uma configuração simples. Ressalta-se que as soluções analíticas quando

exatas, passam a ser de grande importância, pois servem de referência para o aprimoramento

de técnicas ditas aproximadas. Elas tornam fácil observar o comportamento da solução em

função da variação dos parâmetros do problema [21].

Quando a complexidade das fórmulas teóricas tornam as soluções analíticas

intratáveis, recorre-se a métodos não analíticos, o que inclui: (1) métodos gráficos; (2)

métodos experimentais; (3) métodos analógicos e (4) métodos numéricos. Os métodos

gráficos, experimentais e analógicos, são aplicáveis a um número relativamente pequeno de

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problemas. Os métodos numéricos têm tido destaque, tornado-se mais atrativos com o

advento de computadores digitais cada vez mais rápidos. As três técnicas numéricas mais

utilizadas em EM são: (1) método dos momentos; (2) método das diferenças finitas e (3)

método dos elementos finitos. Embora os métodos numéricos dêem a princípio soluções

aproximadas, as soluções são suficientemente precisas para os propósitos de engenharia [21].

Existem sete razões fundamentais para a expansão do interesse no aprimoramento, em

termos de aplicação, da técnica FDTD como solução numérica computacional para as

equações de Maxwell [22]:

• O método FDTD não precisa fazer uso da álgebra linear, evitando com isso a limitação do

tamanho das equações no domínio da freqüência e modelos eletromagnéticos de

elementos finitos.

• É um método robusto e que apresenta um bom grau de exatidão. As fontes de erro, no

cálculo FDTD, são bem compreendidas e podem ser minimizadas para permitir a

elaboração de modelos precisos em uma grande variedade de problemas envolvendo

interações eletromagnéticas.

• O método trata os fenômenos transitórios de forma natural. Sendo uma técnica no domínio

do tempo, calcula diretamente a resposta transitória de um sistema eletromagnético,

podendo fornecer formas de ondas temporais de ultrabanda larga ou respostas senoidais de

regime em qualquer freqüência, dentro do espectro de freqüências.

• O FDTD trata o comportamento não-linear de forma natural. Por ser uma técnica no

domínio do tempo, calcula diretamente a resposta não-linear de um sistema

eletromagnético.

• Constitui-se em uma aproximação sistemática. A especificação de uma nova estrutura a

ser modelada, é reduzida a geração de um problema de malha ao invés da reformulação

potencialmente complexa de uma equação integral.

• A capacidade de memória dos computadores vem crescendo rapidamente, tendendo

positivamente para o avanço das técnicas numéricas.

• A capacidade de visualização dos programas computacionais também vem crescendo

rapidamente, com vantagens para o método FDTD que gera vetores, com valores de

campo obtidos nas iterações computacionais, em número suficiente, para uso em

animações gráficas coloridas, permitindo a ilustração das dinâmicas dos campos

eletromagnéticos.

Este trabalho tem como objetivo principal a determinação do comportamento de

sistemas de aterramento quando submetidos a descargas atmosféricas. Na programação

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computacional que deu suporte aos estudos, as descargas foram simuladas como pulsos de

corrente. As variáveis TGR (resistência de aterramento transitória), tensão e corrente são

analisadas tanto no período transitório como no período de regime. Todas as simulações

foram realizadas em ambiente computacional usando-se técnica FDTD. De forma diferente ao

que foi realizado em [18], neste novo cenário, para efeito de comparação, analisou-se também

sistemas de aterramento sem os barramentos e eletrodos auxiliares. A eliminação de tais

componentes foi possível, com auxílio de novas técnicas para injeção de corrente e medição

de potencial.

Os resultados apresentados neste trabalho, para as diversas situações propostas,

poderão ser úteis em projetos de novos sistemas de aterramento, de forma a dotá-los de

recursos que venham a dar uma maior proteção às instalações durante as ocorrências de

descargas atmosféricas ou falhas no sistema elétrico. Os principais tópicos relacionados ao

desenvolvimento deste trabalho possibilitaram a geração de artigos que foram publicados em

seminários nacionais e internacionais e revista especializada. Nestes eventos, a comunidade

cientifica, através de debates e comentários de revisores, ajudou a aprimorar os artigos e o

conteúdo desta tese de forma a melhor satisfazer às necessidades técnicas na área do

conhecimento onde se desenvolveram os estudos.

O presente trabalho, foi dividido em cinco capítulos, a saber:

Capítulo 1: Trata da introdução, onde são feitos comentários sobre diversos tipos de

modelagem de sistemas de aterramento e enfatiza a importância do FDTD na solução de

problemas em aterramento.

Capítulo 2: Uma revisão bibliográfica a respeito do comportamento do aterramento elétrico

em regime e frente a transitórios.

Capítulo 3: Relaciona a teoria envolvida nos estudos de aterramento abordados neste trabalho,

dando ênfase à técnica FDTD, processamento paralelo e modelagem do sistema de

aterramento.

Capítulo 4: Trata dos resultados obtidos nas simulações envolvendo vários arranjos em

sistemas de aterramento.

Capítulo 5: São apresentadas as conclusões e propostas para trabalhos futuros

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[3] F. S. Visacro, M. A. Campos, “Aplicação da aproximação potencial constante no

projeto de malha de aterramento: Análise de sensibilidade; testes experimentais com

modelos reduzidos,” X SNPTEE, Curitiba, 1989

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[12] I. M. Dudurych, et al, “EMTP analysis of the lightning Performance of a HV

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[13] W. Long, et al, “EMTP A Powerful Tool for Analyzing Power System Transients,”

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7

[14] B. P. Nekhoul Labie and G. Meunier “Calculating the Impedance of a Grounding

System,” IEEE Transaction on Magnetics, vol. 32, Nº 3, may 1996.

[15] R. F. Harrington, “Matrix method for field problems,” Proc. IEEE, vol. 55, no. 2, pp.

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[16] M. M. Ney, ”Method of moments as applied to electromagnetics problems,” IEEE

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[17] A. P. Sakis Meliopoulos, F. Chia and E. B. Joy, “An advanced computer model for

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[18] J. Guo, J. Zou, B. Zhang and Z. C. Guan, “An interpolation model to accelerate the

frequency-domain response calculation of grounding system using the method of

moment,” IEEE Transaction on Power Delivery, Vol. 21, No.1, 2006.

[19] M. N. O. Sadiku, Numerical techniques in electromagnetics, second edition, CRC

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[20] K. Tanabe, “Novel method for analyzing the transient behavior of grounding

systems based on the finite-difference time-domain method” CRIEPI, Tokio, 2001.

[21] M. N. O. Sadiku, Elementos de eletromagnetismo. Ed. Bookman 3th Ed., pp 620-

648, 2004.

[22] A. Taflove and S. C. Hagness: Computational eletrodynamics: The finite-difference

time-domain Method, Artech house,inc., Boston, 2000.

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2.0 Revisão bibliográfica

Neste capítulo são abordados alguns tópicos relevantes em sistemas de aterramento e

descargas atmosféricas. Alguns assuntos estão diretamente relacionados ou serviram de base

para o desenvolvimento desta tese de doutorado. Outros assuntos, apesar de seus conceitos

não serem utilizados no trabalho, são considerados, também importantes, podendo ser

aplicados em trabalhos futuros na mesma linha de pesquisa. Citam-se, como exemplos, as

informações sobre variações dos parâmetros do solo com a freqüência e fenômenos de

ionização do solo por pulsos de corrente que ocorrem nas descargas atmosféricas.

Durante sua operação, um sistema elétrico ou eletrônico fica sujeito a ocorrências

internas, que são as tensões transitórias, devido a chaveamentos, e externas, provocadas por

interferências geradas por fenômenos naturais, equipamentos ou outros sistemas acoplados

eletromagneticamente com o primeiro. A incidência das descargas atmosféricas nas saídas de

linhas e equipamentos é significativa, sendo, portanto, justificados todos os cuidados com o

desempenho de linhas e subestações diante dos referidos surtos. As interrupções de energia

elétrica que acontecem em conseqüência de tais fenômenos, implicam em prejuízos para a

concessionária e consumidores, além da redução do nível de confiabilidade da rede.

2.1 Ondas padronizadas para surtos atmosféricos

Ainda hoje, apesar de todos os avanços da ciência, em vários aspectos, o

conhecimento sobre as descargas atmosféricas é limitado. Atualmente, algumas técnicas

avançadas de proteção e análise dos efeitos dos raios são dominadas, porém pouco se sabe

sobre diversos aspectos físicos envolvidos no fenômeno, como é o caso das descargas, que

partem da nuvem para a estratosfera, por exemplo.

Na formação do raio é estabelecido um canal condutor entre nuvem e solo, que

ocasiona um fluxo de corrente intensa. Isso gera o aquecimento do canal, a temperaturas

superiores a 3.000 ºC, causando efeito luminoso intenso, o relâmpago, e deslocamento de ar

com forte efeito sonoro, o trovão. Como a velocidade da luz (300 milhões de m/s) é muito

maior que a do som (300 m/s), percebe-se o relâmpago segundos antes do trovão.

Existem quatro variedades básicas de descargas atmosféricas, classificadas de acordo

com os elementos conectados. São elas:

• Intranuvem (quando a corrente de descarga ocorre dentro da própria nuvem)

• Entre nuvens (quando a corrente de descarga ocorre de uma nuvem para outra)

• Nuvem-solo (quando a corrente de descarga ocorre entre a nuvem e o solo)

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• Nuvem-estratosfera (quando a corrente de descarga ocorre da nuvem para a

estratosfera)

A maior parte das descargas atmosféricas ocorre intranuvem. Os efeitos associados a

tal tipo de descarga são pouco evidentes na superfície da terra, pois se manifestam, sobretudo

através de ondas irradiadas de campo eletromagnético, as quais atingem a superfície do solo

com intensidade moderada. As descargas entre nuvens ocorrem através da constituição de um

canal de conexão entre centros de cargas negativas e positivas de nuvens diferentes. Nunca é

uma linha reta e sim constituída de numerosas ramificações e o canal de raio normalmente

possui extensão de vários quilômetros, às vezes dezenas de quilômetros. Tal como o tipo de

descarga anterior, não desperta interesse tão significativo, embora haja registro de descargas

dessa natureza fechando seu percurso através da estrutura metálica de aviões e causando

danos que configuram sérias condições de risco. Na Figura 2.1, é mostrada a fotografia de

uma descarga entre nuvens. No estudo de surtos atmosféricos em redes elétricas, destacam-se

a incidência de descargas elétricas que atingem a terra, ou seja, descargas nuvem terra,

mostrado na Figura 2.2. Essas descargas, são as que despertam maior interesse, pois o fluxo

da corrente de retorno pelo canal de descarga, estabelecido entre nuvem e solo, é capaz de

determinar condições severas de risco para a vida e para os sistemas elétricos na superfície da

Terra. O percentual de descargas para terra representa em torno de 25% do total das descargas

atmosféricas.

Fig. 2.1 Descargas entre nuvens

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Fig. 2.2 Descarga entre nuvem-Terra (Foto tirada por Charles Allison em Oklahoma 26 de

agosto de 2005)

Estudos recentes baseados em medições de fenômenos atmosféricos a partir de

satélites artificiais, utilizando detectores ópticos, mostram a existência das descargas para a

estratosfera. São descargas de difícil visualização, pois, o corpo da nuvem se interpõe entre o

observador terrestre e a estratosfera. Tais descargas configuram percursos mais longos que os

demais tipos e os campos que chegam à superfície da terra são de menor intensidade em

função da maior distância do topo das nuvens onde tais descargas acontecem.

No que se refere às descargas nuvem-terra, o sentido de propagação das descargas no

canal precursor pode ser ascendente e descendente. Em locais planos, o raio ascendente

aparece a partir de uma edificação alta ou torre de pelo menos 100 a 200 m de altura. O

número de descargas ascendentes cresce com a altura da construção. É citado como exemplo,

o fato de 90% de todos os raios incidentes na torre de televisão, em Moscou, de 530 m, serem

do tipo ascendente [1]. Comportamento similar observou-se no Edifício Empire State Bulding

em Nova York [2]. Estes tipos de construção impelem raio em direção às nuvens, ao invés de

serem atacados pelos raios. Quanto às descargas descendentes, são constituídas a partir de um

canal precursor que se origina na nuvem e evolui descendentemente até, induzir um canal

ascendente de descarga ao se aproximar do solo. O fechamento do canal ocorre próximo ao

solo, o ponto de conexão dos canais ascendente e descendente pode ocorrer a alturas de

algumas dezenas de metros a umas poucas centenas de metros em relação ao solo,

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dependendo das características do relevo. Cerca de 90% das descargas descendentes ocorrem

na Europa durante as tempestades de verão e transportam carga negativa. São conhecidas

como descargas descendentes negativas. Proporções maiores de descargas descendentes

positivas acontecem em regiões tropicais e subtropicais, especialmente no inverno quando a

incidência atinge valores superiores a 50%.

Na formação da descarga, distinguem-se duas fases importantes. A primeira delas

corresponde à formação de um canal ionizado através da camada de ar entre nuvem e terra,

chamado leader. A segunda está relacionada com uma efetiva passagem de corrente pelo

canal ionizado, chamada de corrente de retorno (return stroke). Nuvens podem estar

carregadas com diferentes distribuições de carga. A Figura 2.3 mostra nuvens com cargas

negativas na região inferior. Nesse caso em particular, o inicio da descarga se dá com a

formação de um canal leader descendente, Figura 2.3 (a), que se aproxima da terra

progressivamente, aumentando o campo elétrico e propiciando uma movimentação

ascendente de cargas com polaridade oposta, mostrada na Figura 2.3 (b).

Fig. 2.3 Fases de uma descarga atmosférica: (a) leader descendente, (b) leader ascendente

(c) momento da conexão entre as descargas e (d) Corrente de retorno

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Leader ascendente

Leader descendente

(a) (b)

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++++++++

Leader ascendente

Leader descendente

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+ + + + + + + + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + +

++++++++

Leader ascendente

Leader descendente

(a) (b)

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _

+ + + + + +

_ _ _ _ _ _ _ _ _

+ + + + + + + + + + + +

_ _ _ _ _ _ _

____

+ + + + + + + + + + + + + + +

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

+ + + + + + + + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + +

++++++++

++++

Corrente de retorno

(c) (d)

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _

+ + + + + +

_ _ _ _ _ _ _ _ _

+ + + + + + + + + + + +

_ _ _ _ _ _ _

____

+ + + + + + + + + + + + + + +

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

+ + + + + + + + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + +

++++++++

++++

Corrente de retorno

+ + + + + +

_ _ _ _ _ _ _ _ _

+ + + + + + + + + + + +

_ _ _ _ _ _ _

____

____

___

+ + + + + + + + + + + + + + ++ + + + + + + + + + + + + + ++ + + + + + + + + + + + + + +

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

+ + + + + + + + + + + + + + +

+ + + + + + + + + + + + + + +

++++++++

++++

Corrente de retorno

(c) (d)

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12

A efetiva passagem da corrente entre a nuvem e a terra ocorre pelo contato das

formações de cargas ascendentes e descendentes, Figura 2.3 (c) e (d).

As sobretensões atmosféricas, em linhas de transmissão, têm curta duração, com

frentes de onda relativamente rápidas (alguns µs) e tempos de decaimento da ordem de 100 µs

a 300 µs. A Figura 2.4 mostra a forma como se divide um pulso atmosférico incidente em

uma linha de transmissão.

Fig. 2.4 Representação do pulso atmosférico em uma linha de transmissão

Pela necessidade de padronização de ensaios experimentais capazes de avaliar o

comportamento e a integridade dielétrica de equipamentos, dispositivos e materiais, frente a

surtos de tensão e corrente associadas às descargas atmosféricas, foram criadas normas

internacionais que norteiam o trabalho dos laboratórios responsáveis pelos ensaios de

equipamentos de alta tensão. A norma IEC 60-060-1 que trata das técnicas de alta tensão,

formas de onda etc., estabelece, em seu conteúdo, especificações para as ondas de pulso de

tensão e de corrente. São empregadas nos ensaios de equipamentos para simulação de

descargas, as seguintes especificações:

Pulso de tensão: 1.2 x 50 µs, tolerâncias de ±3% no valor de pico, ±30% no tempo de frente

de onda e ±20% no tempo de cauda.

Pulso de corrente: 1 x 20 µs, 4 x 10 µs, 8 x 20 µs, 30 x 80 µs, tolerâncias de ±10% no valor de

pico, ±10% no tempo de frente de onda, ±10% no tempo de cauda.

2.1.1 Representação de um pulso atmosférico pela curva dupla exponencial

O pulso atmosférico é comumente representado, nos meios científicos, por uma onda

dupla exponencial. Apesar de tal forma de onda não ser representativa da onda real da

descarga atmosférica, é de grande utilidade nos ensaios experimentais. As Figuras 2.5 e 2.6

II

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13

ilustram as duas exponenciais de sinais contrários responsáveis pela geração da onda

padronizada e o circuito de geração da onda [3], respectivamente.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

-1.e-βt

1.(e-αt- e−βτ)

1.eαtTensão (pu)

Tempo (µs)

Fig. 2.5 Onda dupla exponencial como onda de um pulso atmosférico

No instante inicial ambas as ondas têm a mesma amplitude, resultando em valor nulo

para a soma. Enquanto a onda positiva atenua lentamente no tempo, a onda negativa atenua

rapidamente, e a soma resultante tem o aspecto de um pulso.

A forma de onda com exponencial dupla ( ) ( )maxt tu t U e eα β− −= − é uma

representação freqüentemente encontrada em testes de laboratório e, ao se aplicar a

transformada de Fourier em ondas dessa natureza, verifica-se a existência de componentes nas

altas freqüências significativas [3].

O circuito de geração da onda mostrado na Figura 2.6 contempla um gerador de pulso

associado em série a uma resistência pré-calculada e diodo retificador de potência.

Fig. 2.6 Circuito de geração da onda exponencial

R1

R2 C2

“gap”G

~

R

V

D

V0

V(t)

Geradorde pulso

C1

R1

R2 C2

“gap”G

~

R

V

D

V0

V(t)

Geradorde pulso

C1

R1

R2 C2

“gap”G

~

R

V ~~

R

V

D

V0

V(t)

Geradorde pulso

C1

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14

O capacitor C1 é carregado e ao atingir o valor de pico coincidente com o valor de

calibração do “gap” G, que atua como um espinterômetro, provoca uma descarga no circuito

RC formado pelos resistores R1, R2 e capacitor C2. Os tempos da frente de onda e de cauda,

são ajustados atuando nos elementos resistivos e capacitivos do circuito.

A taxa de crescimento da frente de onda mostrada na Figura 2.7, pode ser considerada

como sendo a inclinação da reta que passa pelos pontos 0.1V e 0.9V na frente de onda e é

chamada de taxa de crescimento efetivo [4].

Fig. 2.7 Forma de onda padronizada para surto atmosférico mostrando a taxa de crescimento

Os tempos t1 e t2 representam os tempos de frente de onda e de cauda,

respectivamente. Se um pulso de tensão de uma dada polaridade e forma de onda é ajustado,

Figura 2.8, de modo que o teste da amostra ocasione descarga disruptiva na cauda da onda em

50% das aplicações e falhe nos outros 50%, o valor de pico dessa tensão é chamado de

“tensão crítica de descarga” (critical Flashover Voltage) [4].

(a) (b)

Fig. 2.8. Oscilogramas obtidos mostrando (a) uma onda completa e (b) uma onda cortada de 1x10 µs.

Onda completa

2 4 6 8 10 12 14

E

E/2

0

Onda completa

2 4 6 8 10 12 14

E

E/2

0 2 4 6 8 10

Onda cortadaE

0 2 4 6 8 10

Onda cortadaE

0

Onda cortadaE

0

t1t2

Vmáx

0.9V

0.5V

0.1V

(µ seg)

V

t1t2

Vmáx

0.9V

0.5V

0.1V

(µ seg)

V

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15

Se a descarga não ocorre, a onda é chamada de onda completa; se a descarga ocorre, a

onda é chamada de onda cortada.

2.1.2 Representação da onda de um pulso atmosférico pela função de Heidler

A função de Heidler [5] constitui-se de uma expressão analítica, concebida através de

dados obtidos na observação das correntes de retorno em torres monitoradas com

instrumentação específica. Tem como finalidade a reprodução, de forma mais fiel possível,

das curvas de corrente de retorno a serem aplicadas em programas específicos de simulação

dos sistemas elétricos, possibilitando a análise dos efeitos gerados por tais correntes. As

diversas formas de ondas padronizadas para corrente de retorno, podem ser obtidas pela

variação das constantes Io, τ1 e τ2. De uma forma geral, as correntes de descarga podem ser

representadas pela soma de duas curvas de Heidler. A expressão da função de Heidler é

mostrada em (2.1).

( ) ( )( )

( )2/1

1

/

1 /

n

to

n

tII t e

t

ττη τ

−=+

(2.1)

onde, ( )( )( )1/

1 2 2 1/ /-n

n

eτ τ τ τ

η =

Io – Amplitude da corrente na base do canal

τ1 – Constante relacionada ao tempo de frente de onda de corrente

τ2 – Constante relacionada ao tempo de decaimento da onda de corrente

η - Fator de correção de amplitude

n – expoente (2 a 10)

2.2 Conceitos básicos sobre sistemas de aterramento em baixas freqüências

A operação adequada de um sistema de energia elétrica, com desempenho seguro do

seu sistema de proteção e um mínimo de interrupções, passa por um cuidado especial no

quesito aterramento.

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16

Os projetos voltados para sistemas de aterramento, na sua maioria, são elaborados a

partir de formulações consagradas na literatura, considerando apenas as solicitações de baixa

freqüência, cujos valores são bastante aproximados da freqüência fundamental estabelecida

para os sistemas de geração de energia, que variam entre 50 e 60 Hz. Cita-se como exemplo

as situações de curto-circuito que ocorrem nos sistemas de transmissão. Em alguns casos, são

feitas adaptações ou correções no projeto, quanto à sua configuração, para que o mesmo

atenda não somente as condições de baixa freqüência, como possa, também, proteger o

sistema contra ocorrências ditas rápidas ou de alta freqüência.

A Figura 2.9 mostra em (a), o circuito equivalente de um aterramento quando se leva

em consideração freqüências elevadas. Para o estudo em baixa freqüência, simplificações

podem ser feitas na reatância de caráter indutivo (ωL) e na susceptância de caráter capacitivo

(ωC) desprezando-as conforme mostrado em (b). Considerando a alta condutividade do

metal, que constitui os eletrodos de aterramento e a ausência do efeito pelicular por se tratar

de baixa freqüência, a resistência dos referidos eletrodos é considerada desprezível. Dentro

desta ótica, o sistema de aterramento pode ser representado por um conjunto de condutâncias

conectadas em paralelo, incluindo os efeitos mútuos entre as mesmas [3].

Fig. 2.9 Circuito equivalente de um aterramento em condições de (a) alta freqüência e (b) baixa freqüência

Pode ser mostrado que a resistência de aterramento é diretamente proporcional a

resistividade do solo (ρ) em que os eletrodos estão colocados. A constante de

proporcionalidade K, mostrada em (2.2 ), expressa apenas os efeitos geométricos (dimensão e

forma) dos eletrodos.

TR Kρ= (2.2)

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17

2.2.1 Resistividade do solo

Dado de fundamental importância para o desenvolvimento de um projeto de

aterramento é o conhecimento das características do solo, principalmente de sua resistividade

elétrica. O conceito físico de resistividade pode ser entendido ao se imaginar uma porção

cúbica de solo homogêneo, com arestas iguais a 1m, mostrada na Figura 2.10; a medição da

resistência, entre duas faces opostas do cubo, tem como resultado um valor de resistência

elétrica em ohms, numericamente igual ao da resistividade. Sabe-se que:

A

Rl

ρ = (2.3)

Sendo:

R – resistência elétrica do solo

ρ – resistividade do solo

A- área transversal do condutor

l – comprimento do condutor

Fig. 2.10 Cubo de 1 m de aresta com duas faces de metal

O conjunto de fatores que determina a resistividade do solo compreende:

tipo de solo;

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18

umidade do solo;

concentração e tipos de sais dissolvidos na água;

compactação e pressão;

granulometria do solo;

temperatura do solo;

estratificação do solo.

a) Tipo de solo

Os tipos de solo não são claramente definidos. Por isto, não é possível atribuir-se um

valor específico de resistividade a um tipo de solo. Além disso, a experiência mostra que,

usualmente, são encontrados valores diferentes de resistividade para a mesma variedade de

solo de localidades distintas. A Tabela 2.1 mostra faixas de valores característicos para os

diferentes tipos de solos, nas suas condições usuais de umidade.

Tabela 2.1 – Faixa de valores usuais de resistividade de certos tipos de solos [6,7].

TIPO DE SOLO RESISTIVIDADE (Ω.m)

Lama 5 a 100

Húmus 10 a 150

Limo 20 a 100

Argilas 80 a 330

Terra de jardim 140 a 480

Cálcario fissurado 500 a 1000

Calcário compacto 1.000 a 5.000

Granito 1.500 a 10.000

Areia comum 3.000 a 8.000

Basalto 10.000 a 20.000

b) Umidade do solo

A resistividade do solo sofre alterações com a umidade. Para entender o efeito da

umidade na resistividade do solo, deve-se considerar que, em baixa freqüência, a condução no

solo se faz basicamente por mecanismos eletrolíticos. Uma percentagem de umidade maior

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19

faz com que os sais, presentes no solo, se dissolvam, formando um meio eletrolítico favorável

à passagem da corrente iônica. A quantidade de água presente no solo é variável com uma

série de fatores, tais como clima, época do ano, temperatura, natureza do solo, existência de

lençóis subterrâneos, dentre outros. A Tabela 2.2 e a Figura 2.11 mostram a variação da

resistividade com o teor de umidade [6].

Tabela 2.2 – Influência da umidade na resistividade do solo Umidade (% )

Resistividade (Ω.m)

0.0 10.000 2.5 1.500 5.0 430 10.0 185 15.0 105 20.0 63 30.0 42

0 5 10 15 20 25 30

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

Ω.m

Indice de umidade (% do peso)

Fig. 2.11 Efeito da umidade na resistividade do solo

c) Concentração e tipos de sais dissolvidos na água

Um fator que influencia consideravelmente a resistividade do solo é a quantidade de

sais presentes em sua composição. É importante ressaltar que, a resistividade da água pura, é

quase infinita, ou seja, a água seria um isolante perfeito caso não contivesse sais, pois através

da ionização, permitem a condução de correntes elétricas. Um caso previsível de ser

observado é que em função da carência de sais minerais na areia, quando se adiciona água

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20

destilada a uma amostra de areia, verifica-se que sua resistividade varia relativamente pouco,

pela falta de condições para que se processe a eletrólise. A Figura 2.12 mostra o efeito do tipo

de concentração de sais na resistividade do solo e a Tabela 2.3 mostra a relação entre a

quantidade de sal adicionado a um solo arenoso, de umidade 15% (percentual em peso) e

temperatura de 17° C, e sua resistividade [6,7].

Tabela 2.3 – Influência da concentração de sais na resistividade do solo Sal adicionado (% em peso)

Resistividade (Ω.m) Solo arenoso

0.0 107 0.1 18 1.0 1.6 5.0 1.9 10.0 1.3 20.0 1.0

Fig. 2.12 Efeito do tipo de concentração de sais e ácido na resistividade do solo

d) Compactação e pressão no solo

Um solo mais compacto apresenta uma maior continuidade física em função da

redução do espaço físico entre suas partículas componentes, proporcionando um menor valor

0.0 0.1 0.2

100

1

2

4

10

Resistividade (Ω.m) 20oC

Percentagem de solução

Ácido sulfúrico Sulfato de sódio Sulfato de cobre

0.0 0.1 0.2

100

1

2

4

10

Resistividade (Ω.m) 20oC

Percentagem de solução

Ácido sulfúrico Sulfato de sódio Sulfato de cobre

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21

de resistividade. Para realização de medições de resistência de terra após a instalação de um

sistema de aterramento, onde normalmente se processam escavações para introdução de

eletrodos e cabos de interligação, é prática comum a espera de um certo tempo, visando a

acomodação do solo, no sentido de se obter maior compacidade. Um aumento de pressão

sobre o solo torna-o mais compacto com redução de sua resistividade.

e) Granulometria do solo

A presença de grãos de diversos tamanhos na composição do solo, influenciam no valor

da resistividade. A presença de material com granulometria maior, tende a aumentar a

resistividade em decorrência da menor capacidade de retenção de água no solo, deixando-a

fluir para camadas mais profundas ou evaporar-se, observando-se também um menor contato

entre os grãos resultando em menor continuidade elétrica. A presença de grãos de tamanhos

variados tende a diminuir a resistividade, pois os menores preenchem os vazios existentes

entre os grãos maiores, provocando uma maior continuidade da massa do solo e maior

capacidade de retenção de sua umidade.

f) Temperatura do solo

A elevação da temperatura no solo provoca maior evaporação, diminuindo sua

umidade e conseqüente aumento de resistividade. Por outro lado, sabendo-se que a água

possui alto coeficiente negativo de temperatura, é razoável dizer-se que a resistividade tende a

crescer para uma diminuição de temperatura. A Figura 2.13 e a Tabela 2.4 [7] mostram a

influência da temperatura na resistividade da água.

Fig. 2.13 Comportamento da resistividade da água em função da temperatura

-40 -30 -20 -10 0 4 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Temperatura ºC

gelo

ρ

ρmin

Líquido

-40 -30 -20 -10 0 4 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Temperatura ºC

gelo

ρ

ρmin

Líquido

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22

A partir do ρmín com o decréscimo da temperatura e a conseqüente contração e

aglutinação da água, é produzida uma dispersão nas ligações iônicas entre os grânulos de terra

no solo, resultando num maior valor de resistividade. No ponto de temperatura 0° C (água), a

curva sofre descontinuidade, aumentando o valor da resistividade no ponto 0° C (gelo). Com

um maior decréscimo na temperatura, há uma concentração no estado molecular diminuindo a

mobilidade dos portadores de carga aumentando, com isso, a resistividade do solo.

Já no outro extremo, com temperaturas elevadas próximo de 100°C, o estado de

vaporização deixa o solo mais seco, com a formação de bolhas internas, dificultando a

condução de corrente, conseqüentemente elevando o valor da sua resistividade.

Tabela 2.4 – Efeito da temperatura na resistividade do solo

Temperatura (°C) Resistividade (Ω.m) solo arenoso

+20 72

+10 33

0 (água) 138

0 (gelo) 300

-5 790

-15 3.300

g) Estratificação do solo

Os solos geralmente não são homogêneos, mas formados por diversas camadas de

resistividade em profundidades diferentes. Essas camadas, devido a formação geológica, são

horizontais e paralelas a superfície do solo.

Existem casos em que as camadas se apresentam inclinadas e até verticais devido a

alguma falha geológica. Além disso, o solo pode apresentar características anisotrópicas,

quando por exemplo camadas mais profundas afloram em locais determinados, ocasionando

descontinuidade na superfície. Desta forma, a resistividade pode variar com a direção

considerada, e, para tratar de um solo de um certo local, passa-se a atribuir-lhe o valor médio

das resistividades das diversas partes que o compõem, denominado resistividade aparente

deste solo [8, 9].

Parece lógica a existência de uma correlação entre a resistividade do solo e sua

estrutura geológica, quando são considerados os processos naturais de formação da crosta

terrestre e a natureza dos materiais que a compõem. A Tabela 2.5 mostra as faixas de valores

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23

de resistividade correspondentes a formações predominantes em determinados períodos

geológicos [8].

Tabela 2.5 – Valores típicos de resistividade para diferentes períodos geológicos.

Período Resistividade

Características (Ω.m)

Pré-Cambriano e combinações de Pré-Cambriano e Cambriano

1.000 a 10.000

Combinações de Cambriano e Ordoviciano 100 a 1.000

Ordoviciano, Devoniano e combinação destes 50 a 600

Carbonífero, Triássico e combinações do Carbonífero com períodos mais recentes

10 a 300

Cretáceo, Terciário, Quaternário e combinação destes períodos

2 a 30

Há dois métodos principais para medição de resistividade aparente para fins de

aterramento: o método de Wenner, muito utilizado no Brasil, e o método de Schlumberger,

mais utilizado nos Estados Unidos.

A terra é modelada como sendo composta de diversas camadas de solo as quais tem

características elétricas diferentes, conforme ilustrado na Figura 2.14. Observa-se na figura,

um exemplo de solo estratificado em quatro camadas, sendo a última camada de espessura

considerada infinita.

Fig. 2.14 Representação do solo estratificado em quatro camadas onde a última camada é considerada infinita

1ª camada h1

2ª camada h2

3ª camada h3

4ª camada h∞

, ,σ ε µ∞ ∞ ∞

1 1 1, ,σ ε µ

2 2 2, ,σ ε µ

3 3 3, ,σ ε µ

1ª camada h1

2ª camada h2

3ª camada h3

4ª camada h∞

, ,σ ε µ∞ ∞ ∞

1 1 1, ,σ ε µ

2 2 2, ,σ ε µ

3 3 3, ,σ ε µ

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24

Em muitos casos o solo é representado por duas camadas. Nesta representação a

camada superficial tem a sua espessura e características elétricas equivalente às n-1 camadas a

partir da superfície.

2.2.2 Resistência de aterramento

Uma conexão à terra apresenta resistência, capacitância e indutância, cada qual

influindo na capacidade de condução de corrente para o solo. Portanto, em princípio, não se

deve pensar apenas numa resistência de aterramento, mas numa impedância. Para condições

de baixa freqüência, baixas correntes e valores de resistividade do solo não muito elevados,

são desprezíveis os efeitos reativos e de ionização do solo e o mesmo comporta-se

praticamente como uma resistência.

A quantificação do valor da resistência de aterramento pode ser traduzida através da

relação entre o valor da diferença de potencial verificada entre o eletrodo e um ponto no

infinito (local da terra afastado do eletrodo onde o potencial se anula) e o valor da corrente

injetada no solo através do referido eletrodo.

Na literatura especializada encontram-se várias fórmulas para cálculo da resistência de

aterramento. Os eletrodos de aterramento mais comuns são as hastes e os cabos de

aterramento. Apresentam-se a seguir os cálculos necessários para determinação da resistência

de aterramento de uma haste em um solo homogêneo.

O potencial em um ponto P imerso em um solo infinito e homogêneo, localizado a

uma distância r de uma fonte pontual de corrente (ponto c), da qual emana uma corrente

elétrica I, conforme mostrado na Figura 2.15, pode ser obtido partindo-se do campo elétrico

EP, no ponto P, como segue,

Fig. 2.15 Fluxo de corrente resultante na terra

VP

r

I Pc VP

r

I PVP

r

IVP

r

I Pc

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25

p PE Jρ= , (2.4)

onde JP é a densidade de corrente no ponto P.

A densidade de corrente observada sobre a superfície de uma esfera de raio r, com

centro no ponto c é dada por

24P

IJ

rπ= , (2.5)

substituindo a equação acima em (2.4), resulta

24P

IE

r

ρπ

= . (2.6)

O potencial no ponto P, em relação a um ponto infinito é dado por:

.P Pr

V E dr∞

= ∫ , (2.7)

como PE e dr têm a mesma direção e sentido, a equação (2.6) pode ser substituída em (2.7),

resultando,

4P

IV

r

ρπ

= . (2.8)

Como a situação mostrada na Figura 2.15 não encontra aplicação prática, uma situação

real pode ser encontrada quando a fonte de corrente I, é posicionada no interior da terra,

considerada homogênea, como mostrado na Figura 2.16.

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26

Fig. 2.16 Fonte de corrente I no interior da terra

Para efeito de análise do potencial no interior da terra, o sistema da Figura 2.16 pode

ser substituído pelo sistema equivalente (método das imagens), mostrado na Figura 2.17.

Fig. 2.17 Potencial em um ponto P localizado no interior da terra. Utilização do método das

imagens

O potencial em um ponto P, em relação ao infinito, passa a ser calculado pela

superposição das contribuições das duas fontes de corrente. Desta forma, têm-se para o

potencial, a seguinte expressão, usando-se (2.8),

solo

I

solo

I

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27

'

'4 4P

I IV

r r

ρ ρπ π

= + ,

1 1

4 'P

IV

r r r

ρπ

= +

, (2.9)

onde 'I I= e as distâncias r e r’ são dadas por:

( ) ( ) ( )2 2 2

0 0 0r x x y y z z= − + − + − , (2.10)

( ) ( ) ( )2 2 2

0 0 0'r x x y y z z= − + − + + . (2.11)

Para o caso de uma haste de comprimento L, ao ser injetada a corrente I, pode-se

considerar a densidade de corrente uniforme ao longo do comprimento da haste.

A Figura 2.18 representa uma haste de comprimento L e raio a, posicionada na origem,

ou seja, nas coordenadas x = 0, y = 0 e z = 0. O problema em questão trata do cálculo, em um

ponto afastado P0, do potencial gerado, conforme sugerido por Dwight [10].

Fig. 2.18 Haste de aterramento posicionada na origem

x0

P0

z0

y0 L

-L

X

Y

Z

x0

P0

z0

y0 L

-L

X

Y

Z

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28

Para calcular o potencial da haste no ponto P0 , pode-se considerar a fonte como sendo

constituída de várias fontes de corrente infinitesimais alinhadas ao longo do comprimento da

haste e produzir a somatória dessas contribuições (superposição).

Substituindo os valores de r e r’ conforme a nova situação da haste centrada na origem

tem-se:

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )2 2 2 2 2 20

0 0 0 0 0 0

1 1

4 0 0 0 0

L

P

IV dz

L x y z z x y z z

ρπ

= + − + − + − − + − + +

∫ , (2.12)

fazendo 2 2 20 0b x y= + tem-se,

( ) ( )2 22 20

0 0

1 1

4

L

P

IV dz

L b z z b z z

ρπ

= + + − + +

∫ , (2.13)

após a integração, tem-se,

( ) 0 00 4haste

L z L zIV P arcsenh arcsenh

L b b

ρπ

+ − = +

. (2.14)

O primeiro termo representa a contribuição da haste e o segundo a contribuição da

imagem. Para se obter o valor da resistência da haste basta calcular o potencial médio na

superfície da haste e dividi-lo pelo valor da corrente. Como a distância entre a superfície da

haste e sua linha central é o raio da haste, faz-se b = a em (2.14) e integra-se zo de 0 até L,

onde obtém-se a seguinte equação para o potencial:

( )0 00

1L

hm hV V P dzL

= ∫ . (2.15)

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29

Após a integração e simplificação da equação acima, tem-se:

22

12 2 2hm

I L a aV arcsenh

L a L L

ρπ

= − + + , (2.16)

Substituindo ( )2( ) ln 1arcsenh x x x= + + , obtém-se:

2 22

ln 1 1 12 2 2 2hm

I L a a aV

L a L L L

ρπ

= + + − + +

. (2.17)

Considerando que o valor de a é muito menor que L, os termos a/2L podem ser

desprezados. Após o que, a equação (2.17) é dividida pela corrente I e, o diâmetro da haste

d=2a é considerado. Desta forma, obtém-se a resistência da haste de aterramento. A

expressão (2.18) mostra a conhecida fórmula de Sunde [11].

8ln 1

2h

LR

L d

ρπ

= −

. (2.18)

Dependendo da precisão que se deseja obter nos cálculos da resistência de

aterramento, existe uma fórmula, muito comum na literatura, dada por Tagg [6], a qual é

expressa como segue:

2

ln2h

LR

L a

ρπ

=

. (2.19)

Como é bem conhecida, a interligação de hastes em paralelo diminui, sensivelmente, o

valor da resistência de aterramento. Para o cálculo da resistência de uma associação de hastes,

deve-se levar em conta o efeito das resistências mútuas entre as hastes. Este efeito é devido à

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30

elevação do potencial de uma haste gerada pela corrente que flui em outra haste, reduzindo a

eficiência da associação.

A solução clássica para este problema, consiste em utilizar um método matricial,

resolvendo um sistema de equações lineares para determinar a corrente que flui em cada uma

delas, impondo que o potencial em todas as hastes seja o mesmo [12].

Dependendo do tamanho da associação considerada, o método matricial requer

bastante memória de computador, bem como tempo de processamento, de forma que, para

sistemas simples, pode-se assumir uma distribuição de corrente constante, aplicada a casos

particulares, tal como hastes em linha, círculo etc.

Na Tabela 2.6 são apresentadas fórmulas para o cálculo da resistência de aterramento

de algumas configurações típicas de aterramento [13].

Para solos estratificados em duas camadas, a principal diferença em relação ao solo

homogêneo são as reflexões e refrações na interface entre as camadas diferentes do solo.

Neste caso vale ressaltar que há duas interfaces funcionando como “espelhos”, sendo uma da

superfície da terra com o ar e a outra entre os solos de resistividades diferentes.

2.2.3 Métodos de medição da resistência de aterramento

A tecnologia atual. estabelece claramente que não existe qualquer medição indireta

que substitua a medição direta da resistência de aterramento utilizando técnica adequada.

Referidas medições, são de grande importância na verificação dos valores de resistência de

aterramento de um sistema recém construído ou para detectar variações nos padrões de

aterramento durante as rotinas de manutenção. A quantificação da resistência de um

aterramento é realizada pela razão entre o potencial do sistema de aterramento em relação a

um ponto infinitamente afastado e a corrente que se faz fluir através do mesmo sistema.

2.2.3.1 Método da queda de potencial

O método da queda de potencial é um modo de medida em linha. O instrumento a ser

utilizado na implementação do método é denominado Terrômetro ou “Megger”, conforme

ilustrado na Figura 2.19, podendo ser de 3 ou 4 terminais. No caso de se utilizar a segunda

opção, os terminais P1 e C1 deverão ser curto-circuitados. A medição é feita conectando a

malha de terra (de preferência desconectada do sistema elétrico, ou seja, neutros,

equipamentos etc.) aos terminais P1 e C1 do equipamento; o terminal C2 é conectado ao

eletrodo auxiliar de corrente e o terminal P2 é conectado ao eletrodo auxiliar de potencial.

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31

Tabela 2.6 – Expressões para configurações típicas de eletrodos de aterramento

Eletrodo

Tipo/Fórmula

Eletrodo Vertical

4ln 1

2T

LR

L a

ρπ

= −

Eletrodo Horizontal

2 4 2ln ln 2 ....

2T

L L dR

L a d L

ρπ

= + − + +

Semi-esfera ao nível do solo

2TRr

ρπ

=

Esfera colocada a profundidade “d”

1 1ln

4 2TRr d

ρπ

= +

Disco horizontal a profundidade “d”

1 1ln

4 2TRr d

ρπ

= +

Disco vertical a profundidade “d”

2TRr

ρπ

=

A distância C entre a malha de aterramento e o eletrodo de corrente em C2 deverá ser

bem superior às dimensões lineares do sistema do aterramento.

L

2 a

L

2 a

d

2a

d

2a

d

r

d

r

dd

dd

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32

Em termos práticos, o eletrodo de corrente deverá ser colocado a uma distância, do

centro geométrico do aterramento, com valor superior a 3 ou 4 vezes a maior dimensão linear

do mesmo. Aconselha-se que essa distância não seja inferior a 40 metros, para pequenos

aterramentos, e a 100 metros, para o caso de malhas mais extensas [13].

Fig. 2.19 Esquema de medição da resistência de terra

Ao variar a distância entre o eletrodo auxiliar de potencial ligado a P2 e o eletrodo

auxiliar de corrente ligado a C2 e proceder a medição de resistência em cada ponto escolhido

no percurso, será possível plotar uma curva do tipo mostrada na Figura 2.20. Pode-se observar

que, quando se adota uma distância suficiente entre o eletrodo auxiliar de corrente e o centro

da malha de terra (C), um patamar relativamente extenso e plano é formado na curva plotada e

a ordenada desse patamar representa o valor da resistência procurada (RT).

Fig. 2.20 Perfil da resistência no método da queda de potencial

v v

Terrômetro

P1 , C1 P2 C2

Vt

It

vv vv

Terrômetro

P1 , C1 P2 C2

Vt

It

C

R(Ω)

RT

61.8%0% 100%

R(Ω)

RT

61.8%0% 100%

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33

2.2.3.2 Método da regra dos 62%

O método da regra dos 62% é também um modo de medida em linha. Nele, o eletrodo

de potencial representado por P2, deverá ser locado a partir do eixo da malha de aterramento a

uma distância, mais precisamente, de 61.8% (na prática utiliza-se 62%) do posicionamento do

eletrodo auxiliar de corrente em C2, conforme mostrado na Figura 2.20. Deverão ser feitas três

leituras para medição da resistência; uma, na posição 62%; outra, mais à direita e outra, mais

à esquerda. Se os valores obtidos para as três leituras forem diferentes, significa dizer que na

zona em que está locado o eletrodo auxiliar P2, o potencial não será nulo. Há necessidade de

se afastar mais o eletrodo auxiliar de corrente C2 e repetir os ensaios.

2.2.4 Método de medição de resistividade do solo

Uma das formas para medição da resistividade do solo é efetuada basicamente por

amostragem, onde uma amostra de solo é coletada e enviada ao laboratório para determinação

de sua resistividade. Outra forma seria através da medição local com auxilio de aparelhos que

injetam correntes em regiões limitadas do solo, através de eletrodos adequadamente

posicionados. Como exemplo deste tipo de procedimento, será citado o método de Frank

Wenner.

2.2.4.1 Medição por amostragem

O processo consiste na utilização de uma cuba de dimensões conhecidas onde se

introduz o material a ser ensaiado que, no caso, seria a amostra do solo, devidamente

compactada, e com a melhor aderência possível às paredes da cuba. As laterais da cuba

deverão ser de material isolante, assegurando-se que toda a corrente do ensaio circule pela

amostra de solo, conforme mostrado na Figura 2.21.

Fig. 2.21 Medição da resistividade em laboratório utilizando cuba

V

A∼∼∼∼

Área = A

I

VV

A∼∼∼∼ AA∼∼∼∼∼∼∼∼

Área = A

I

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34

Vale lembrar que, neste caso, a lei de Ohm pode ser aplicada, como segue

; ;amostra

V R A lR R

I l A

ρρ= = = .

As medições por amostragem apresentam um sério inconveniente no referente a

incerteza da amostra apresentar no laboratório exatamente as mesmas características que

apresentava no local de origem, tais como: umidade, compacidade e, principalmente, a

fidelidade na composição do solo, considerando-se as propriedades anisotrópicas e

heterogêneas que normalmente os solos apresentam. Essas possíveis mudanças na

característica podem ser traduzidas como fatores de distorção da realidade. Este tipo de

medição se restringe a complementação das informações resultantes de medições efetuadas

em campo ou para fins específicos de pesquisa da resistividade média de tipos de solos e

materiais [13].

2.2.4.2 Medição pelo método de Wenner

O método de Wenner [14], bastante utilizado na engenharia para medição de

resistividade do solo, utiliza quatro hastes alinhadas, igualmente espaçadas (a) e cravadas a

uma mesma profundidade (P). Neste método, o diâmetro das hastes não deve exceder um

décimo do espaçamento. Na Figura 2.22, mostra-se o arranjo para a medição da resistividade.

Fig. 2.22 Arranjo para medição de resistividade utilizando o método de Wenner

C1 C2P1 P2

Terrômetro

v v v v

p

aaa

C1 C2P1 P2

Terrômetro

C1 C2P1 P2

Terrômetro

vv vv vv vv

p

aaa

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35

Para obtenção da resistividade, uma corrente elétrica I é injetada entre os terminais

ligados a C1 e C2. Esta corrente, passando pelo solo, produz uma diferença de potencial entre

as hastes ligadas em P1 e P2. Então, utilizando o método das imagens para contabilização do

potencial nos terminais de P1 e P2, e dividindo este valor pela corrente circulante no solo e

explicitando a resistividade, chega-se a equação (2.20).

( ) ( ) ( )2 2 22

4[ . ]

2 21

2 2 2

aRm

a a

a p a p

πρ = Ω

+ −+ +

. (2.20)

Para um afastamento, entre as hastes, relativamente grande, a>20p, a fórmula (2.20) é

aproximada por:

[ ]2 .aR mρ π= Ω (2.21)

Dependendo da importância do local de aterramento, e de suas dimensões, as medidas

deverão ser levantadas em várias direções. Feitas as medições, uma análise dos resultados

deve ser realizada para que os mesmos possam ser avaliados quanto à sua aceitação ou não.

2.2.5 Conceitos básicos de segurança em aterramento

Os sistemas elétricos, desde a sua concepção original, utilizam na sua geração e

distribuição de energia, em grande parte das aplicações, equipamentos trifásicos balanceados.

As extremidades dos enrolamentos dos geradores, nas grandes usinas, que não estão ligadas a

carga, são normalmente conectadas em estrela e o ponto neutro formado pela referida conexão

é ligado à terra de forma direta ou através de dispositivos responsáveis pela limitação da

corrente de curto-circuito.

A ocorrência de falha em uma ou várias fases para terra ou ainda a incidência de

descargas atmosféricas em linhas de transmissão ou equipamentos de subestações, originam

elevada corrente de seqüência zero e intenso fluxo de corrente de retorno, respectivamente.

Estas sobrecorrentes produzidas tendem a circular pelo neutro e pelo sistema de aterramento

associado.

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36

A passagem da corrente elétrica pela terra, tanto no período transitório como de

regime, tende a produzir diferenças de potencial nas imediações da ocorrência, cujos valores

são resultados do produto da magnitude da corrente pela impedância do solo no trecho

considerado.

Do ponto de vista da segurança de pessoas nas vizinhanças de um sistema elétrico, os

sistemas de aterramentos e condutores de equalização utilizados no ambiente protegido, têm

por finalidade garantir que as mesmas não sejam expostas a tensões acima de certos limites.

Estas exposições acontecem principalmente devido às diferenças de potencial que podem se

desenvolver entre estruturas metálicas aterradas ou não e o solo, acima ou nas vizinhanças da

malha de aterramento. As condições que tornam possível a ocorrência de choques elétricos

acidentais são basicamente [15]:

• os valores elevados de corrente de falta à terra ou incidência de descargas na região

de aterramento;

• a alta resistividade do solo em função da inexistência ou deficiência do sistema de

aterramento. Este fato poderá provocar o surgimento de altos gradientes de potencial

na superfície da terra;

• a presença de pessoas nas áreas de risco sem utilizar os componentes normatizados de

proteção individual, tais como luvas, botas isolantes etc.. Esses componentes são

responsáveis pelo incremento de resistências para proteção do corpo humano à

diferenças de potenciais elevadas;

• a inexistência de camadas de brita nos pisos das subestações tornam o indivíduo mais

vulnerável ao choque elétrico em função da diminuição da resistência de contato com

o solo e

• a duração do tempo da falta e tempo de circulação da corrente através do corpo

humano em decorrência, por exemplo, de uma proteção ineficiente.

2.2.5.1 Efeito da corrente no organismo humano

Os efeitos da corrente passando através de partes vitais do corpo humano, dependem

do percurso da corrente elétrica pelo corpo, intensidade da corrente, duração, freqüência,

valor da tensão, estado de umidade da pele e condições orgânicas do individuo. A

conseqüência mais perigosa a ser considerada é conhecida como fibrilação ventricular do

coração que é o estado de tremulação (vibração) irregular e desritmada das paredes dos

ventrículos, com perda total da eficiência do bombeamento do sangue Estudos mostram que o

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37

limite para que não ocorra a fibrilação está baseada na expressão (2.22), limitada a tempos de

0,03s a 3,0s [16].

( )2c s cI t S= , (2.22)

sendo,

Ic - valor rms de corrente permitida através do corpo em Ampéres,

ts - tempo de exposição ou duração da falta em segundos e

Sc - constante empírica relacionada com a tolerância ao choque elétrico para um certo

percentual da população.

Para um corpo humano médio de 50Kg ou mais, foi encontrado empiricamente o

valor de Sc = 0,0135. Usando-se esse valor em (2.22), têm-se como máxima corrente

suportada pelo corpo humano o valor dado por (2.23) [17].

0.116c

s

It

= (2.23)

Por exemplo, para um tempo de exposição ts = 1s, tem-se um valor máximo para

corrente suportada de Ic =116mA.

2.2.5.2 Potencial de passo e de toque

Em estruturas eletrificadas, o conhecimento da tensão de toque e de passo é de suma

importância, pois permite um diagnóstico da eficiência de um sistema de aterramento. Caso as

referidas tensões não excedam os limites admissíveis, o sistema pode ser considerado seguro,

independendo dos valores de elevação do potencial de terra (GPR) a que possa estar

submetido o sistema de aterramento em questão. Desta forma, uma boa condição de

segurança, pode ser obtida por meio de um projeto que priorize uma geometria adequada da

malha de terra, mesmo que a resistência de aterramento seja alta [18]. Uma pessoa transitando

em uma instalação não deverá ficar submetida a potenciais superiores aos que produzem

correntes em seu corpo maiores que as especificadas em (2.23). A Figura 2.23 apresenta de

forma clara as condições a que um indivíduo pode se expor em uma instalação de risco [15].

Na Figura 2.23, I é a corrente produzida pelo transitório elétrico na estrutura metálica

em questão, R0, R1 e R2 são valores de resistência do solo na região indicada, RF é a

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38

resistência de contato do pé, RK é a resistência das pernas na Figura 2.24(a) e dos membros e

tronco na Figura 2.23(b), Vtoque é o potencial de toque e Vpasso é o potencial de passo. Os

circuitos resistivos mostrados, esclarecem a condição de fluxo de corrente elétrica nas duas

situações apresentadas. Fica clara a minimização da corrente elétrica através do corpo humano

quando há uma maior eficiência do aterramento representada pela diminuição dos valores de

R0, R1 e R2..

(a)

(b)

Fig. 2.23 Tensão de passo (a) e tensão de toque (b) em estrutura aterrada

Vpasso

R1R2 R0

RK

RF RF

Distribuição do potencialna terra devido a umadescarga ou curto-circuito

RF

RF

RKR1

R2

R0

IK

IK

Vpasso

I

Vpasso

R1R2 R0

RK

RF RF

Distribuição do potencialna terra devido a umadescarga ou curto-circuito

RF

RF

RKR1

R2

R0

IK

IK

Vpasso

I

Distribuição do potencialna terra devido a umadescarga ou curto-circuito

RF/2

Vtoque

R1 R0

RK

RF/2

RK

R1

R0

I

IK

IK

I

Vtoque

Distribuição do potencialna terra devido a umadescarga ou curto-circuito

RF/2

Vtoque

R1 R0

RK

RF/2

RK

R1

R0

I

IK

IK

I

Vtoque

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39

2.2.5.3 Resistência do corpo humano

Embora os efeitos fisiológicos dependam da intensidade da corrente, na maior parte

dos casos, a gravidade de uma ocorrência é imputada a tensão aplicada ao acidentado que é

fixada pela instalação elétrica. A resistência elétrica tem um papel fundamental nos acidentes

com eletricidade. Verifica-se que esta resistência é não linear, podendo considerar-se em uma

aproximação razoável os seguintes valores para a mesma:

Tabela 2.7 Resistência do corpo humano com a tensão

Tensão (Volts) Resistência (Ohms)

25 3250

50 2625

220 1350

1000 1050

A Tabela 2.7 é válida para trajetos de corrente elétrica que atravessem a região

cardíaca, isto é, de uma mão para outra mão ou de uma mão para um pé. Nota-se que se

costuma definir a “resistência do corpo humano” como a soma de três resistências em série,

ou seja:

• resistência de contato, na entrada da corrente, entre a vítima e o condutor tocado;

• resistência do próprio corpo humano e

• resistência de contato na saída de corrente, entre a vítima e a outra superfície

condutora tocada, normalmente o solo.

A resistência de contato entre a vítima e o solo, varia muito com a natureza dos

sapatos e o estado do solo.

• sapatos de sola secos – resistência maior do que 50.000Ω e

• sapatos úmidos com protetores metálicos – resistência da ordem de centenas de Ohms.

No caso geral, como os contatos tendem a resistências altas, salvo em condições

especiais de proteção individual, pode-se admitir que a resistência do corpo não desce abaixo

dos 2.000Ω. Para tensões acima de 1kV (correntes acima de 5A) a resistência do corpo

humano cai devido à destruição dos tecidos nos pontos de contato.

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40

Considerando a condição mais desfavorável, ou seja, resistências de contato iguais a

zero, e usando a expressão (2.23) para corrente máxima suportada pelo corpo humano e

admitindo-se que a resistência do corpo é da ordem 1000Ω, tem-se então do ponto de vista do

máximo potencial, admitido:

116

s

Vt

= . (2.24)

2.3 Comportamento do aterramento frente às descargas atmosféricas

2.3.1 Introdução

O comportamento de um sistema de aterramento excitado por correntes impulsivas de

elevada intensidade (tais como, descargas atmosféricas ou faltas do tipo fase terra), difere

consideravelmente daquele submetido a baixas freqüências e reduzido valor de corrente. O

comportamento indutivo do solo se torna muito importante quando comparado com o

comportamento resistivo, complementando ainda que, tais correntes elevadas, podem causar

disrupção ou efeitos ionizantes no solo, fazendo com que a resposta ao pulso de corrente seja

tipicamente não-linear. Nas seções seguintes serão abordados assuntos relacionados à

variação dos parâmetros do solo com a freqüência, propagação em meios condutivos e efeitos

da ionização no solo.

Um aterramento elétrico consiste de uma ligação elétrica proposital de um sistema

físico (elétrico, eletrônico ou corpos metálicos) ao solo. Este se constitui basicamente de três

componentes, como ilustra a Figura 2.24.

Fig. 2.24 Ligação típica de uma haste de aterramento

Ligação aoequipam.

Tampa de concreto

Haste de cobre5/8” x 2,40m

Conexõesexotérmicas

Tubo de PVC

Ligação aoequipam.

Tampa de concreto

Haste de cobre5/8” x 2,40m

Conexõesexotérmicas

Tubo de PVC

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41

as conexões elétricas que ligam um ponto do sistema aos eletrodos;

eletrodos de aterramento (qualquer corpo metálico colocado no solo);

terra que envolve os eletrodos.

O ponto do sistema que se deseja conectar ao solo pode ser de natureza variada.

Dependendo da aplicação este pode constituir-se em uma trilha numa placa de circuito

impresso, na carcaça de um computador, motor, transformadores de grande porte ou, ainda,

no neutro de um sistema elétrico. Também, os eletrodos de aterramento podem ter

configurações bem diversificadas, citando-se como exemplo algumas configurações usuais,

tais como: cantoneiras de ferro galvanizado, hastes revestidas com cobre, sistemas hidráulicos

ou malhas em reticulado. As formas, assim como as disposições geométricas dos eletrodos no

solo, são as mais variadas, de acordo com a aplicação. Destacam-se as hastes verticais, usadas

principalmente quando as camadas mais profundas do solo têm menor resistividade, e que são

muito práticas, por serem de fácil cravação. Os eletrodos horizontais, enterrados usualmente

a profundidades da ordem de 0,5 metro, são usados principalmente quando a maior

preocupação é o controle do gradiente de potencial na superfície do solo.

Para se avaliar a natureza dos aterramentos, deve ser considerado que, em geral, uma

conexão à terra apresenta resistência, capacitância e indutância, cada qual influindo na

capacidade de condução da corrente para a terra. A perspectiva na qual o sistema “enxerga” o

aterramento pode ser expressa através de sua impedância. Tal “Impedância de aterramento”

pode ser conceituada como a oposição oferecida pelo solo à injeção de uma corrente elétrica

no mesmo, através dos eletrodos, e se expressa quantitativamente por meio da relação entre a

tensão aplicada ao aterramento e a corrente resultante.

O solo, como outro meio qualquer, tem propriedades elétricas e magnéticas. Estas

propriedades variam de acordo com a composição química, física e geométrica dos

componentes do solo. Os parâmetros do solo de grande importância no estudo de aterramento

são: resistividade, permissividade e permeabilidade. A qualidade de um aterramento elétrico

no solo está relacionada diretamente com estas propriedades. A mais utilizada, é a

resistividade, ou seja, a capacidade de conduzir corrente elétrica ativa através de um meio

condutivo. Este parâmetro foi tratado com certo nível de detalhamento na seção 2.2. A

permissividade elétrica assume importância durante o escoamento de pulsos elétricos em

freqüências elevadas. E a permeabilidade tratada como sendo constante e igual a do vácuo

para a grande maioria dos tipos de solo.

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42

a) Permissividade – A permissividade varia para cada tipo de terreno, tem influência no

efeito capacitivo dos eletrodos de terra e na velocidade de propagação da corrente elétrica na

terra. Para a permissividade absoluta do vácuo, têm-se ε0 = 8.854x10-12. Para efeito de

simplificação, utiliza-se a permissividade relativa (εr) que é a permissividade em relação a do

vácuo, também conhecida como constante dielétrica. Os solos conhecidos têm a constante

dielétrica relativa variando de 1,5 a 80, sendo mais usuais os valores entre 10 e 15. A água do

mar tem constante dielétrica 80, ver Tabela 2.8 [19].

Tabela 2.8 Constante dielétrica aproximada ou permissividade relativa (εr) e a rigidez dielétrica de alguns materiais de uso corrente

Material

Constante dielétrica (εεεεr) adimensional

Rigidez dielétrica E(V/m)

Titanato de bário 1.200 7.5 x 106

Água (mar) 80

Água destilada 81

Nylon 8

Papel 7 12 x 106

Vidro 5-10 35 x 106

Mica 6 70 x 106

Porcelana 6

Baquelite 5 20 x 106

Quartzo (fundido) 5 30 x 106

Borracha (dura) 3.1 25 x 106

Madeira 2.5-8.0

Poliestireno 2.55

Polipropileno 2.25

Parafina 2.2 30 x 106

Petróleo 2.1 12 x 106

Ar (1 atmosfera) 1 3 x 106

A permissividade depende do tipo de solo, da umidade, da freqüência e da variação

di/dt do sinal injetado no solo. Até o presente momento, estas variações têm sido consideradas

apenas em pesquisa científica [19].

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43

b) Permeabilidade – É a propriedade magnética dos materiais. Na física e na engenharia

elétrica, a permeabilidade é o grau de magnetização de um material em resposta a um campo

magnético. A permeabilidade absoluta para o vácuo é representada pelo símbolo µo e seu

valor é de 4.π.10-7 H/m, da mesma forma que a permissividade, utiliza-se a permeabilidade

relativa ou constante magnética µr. A Tabela 2.9 mostra alguns valores de permeabilidade

relativa [20].

Tabela 2.9 Permeabilidade relativa (µr) de alguns materiais

Material Permeabilidade relativa (µµµµr)

Diamagnético

Bismuto 0.9998330

Mercúrio 0.9999680

Prata 0.9999736

Chumbo 0.9999831

Cobre 0.9999906

Água 0.9999912

Hidrogênio (cntp) 1.0000000

Paramagnético

Oxigênio (cntp) 0.9999980

Ar 1.0000000

Alumino 1.0000210

Tungstênio 1.0000800

Platina 1.0003000

Manganês 1.0010000

Ferromagnético

Cobalto 250

Níquel 600

Ferro-doce 5000

Ferro-silício 7000

Em geral, a permeabilidade para materiais não ferromagnéticos é próxima a do vácuo,

ou seja, µ = 4π 10-7 H/m; o valor da permeabilidade relativa para o solo, nessas condições, é

em geral µr = 1.

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44

2.3.2 Variação dos parâmetros do solo em função da freqüência

Grande parte dos trabalhos de engenharia na área de aterramento e descargas

atmosféricas não leva em consideração a variação dos parâmetros do solo com a freqüência,

quando da incidência das descargas atmosféricas; considera a terra como sendo um meio

predominantemente não-dispersivo. Nas pesquisas envolvendo este tipo de variação, um

aspecto essencial constitui-se na modelagem adequada do solo. Excetuando os casos de

campos elétricos muito elevados, que originam significativa ionização do solo, o

comportamento eletromagnético do solo pode ser considerado linear, e não-dispersivo.

Considerar o solo como um meio predominantemente não-dispersivo, é uma prática

razoável para ocorrências lentas, tais como, curto-circuito e outros fenômenos similares. Para

os fenômenos rápidos, caracterizados por descargas atmosféricas, a corrente capacitiva pode

atingir valores próximos aos da corrente resistiva, principalmente quando se tratar de solos de

alta resistividade. Dados experimentais mostram que as relações entre correntes condutivas e

capacitivas no solo variam de forma acentuada na faixa de freqüência que é representativa na

ocorrência das descargas atmosféricas (0.5 < σ/ωε < 103) [21]. Isto sugere um estudo mais

aprofundado sobre o assunto. A Figura 2.25 mostra a característica tensão-corrente para uma

amostra de solo submetido a uma corrente impulsiva (1.2x50 µs exponencial dupla). As

amostras de solo foram compactadas e testadas entre eletrodos cilíndricos coaxiais, sendo que

o eletrodo interno possuía diâmetro típico daqueles usados em sistemas de aterramento

tradicionais. A curva tensão-corrente foi traçada a partir das observações dos valores de

tensão e corrente simultâneas para cada instante de tempo (ti), a partir de curvas que

representam tais ondas no domínio do tempo [21].

A análise dos resultados é facilitada quando os mesmos são apresentados na forma de

gráficos VxI. Como pode ser verificada, a curva resultante ao confronto entre pulso de

corrente e tensão desenvolvida em vários instantes de tempo, mostra o defasamento produzido

por um solo com características de um circuito RC. A derivada na curva V x I, obtida pela

relação entre ∆V/∆I, representa de forma aproximada o valor da impedância do solo. Quando

não ocorre processo de ionização do solo, a curva se inicia com inclinação reduzida, fechando

o “loop” pela parte superior produzindo a reta tangente RLF que corresponde à resistência de

baixa freqüência do solo [22].

Para os transitórios rápidos, associados às descargas, é importante a análise do

comportamento do solo em uma faixa de freqüência que pode variar de 0 a 2 MHz.

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45

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.70

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

I(ti)

RLF=∆V/∆I

t1

t3

ti

tn

Vti

VP

Tensão (V)

Corrente (A)

Fig. 2.25 Curva tensão-corrente para uma amostra de solo entre dois cilindros coaxiais

2.3.3 Distribuição do campo e efeitos de propagação no solo

Quando se aplica, pulsos de corrente ou tensão ao longo de um condutor enterrado, as

ondas eletromagnéticas correspondentes se propagam ao longo do condutor. Este sistema

opera como uma linha de transmissão imersa em um meio com perdas. Enquanto a onda se

propaga, perdas em energia promovem uma atenuação na sua amplitude. Por outro lado, as

componentes de freqüência presentes na onda, apresentam diferentes velocidades de

propagação e são submetidas a diferentes níveis de atenuação. Tais atenuações aumentam

com a freqüência e com a condutividade do solo, que também são responsáveis pela perda de

energia. Resumindo, pode-se dizer que as ondas de corrente e tensão que se propagam ao

longo de um eletrodo têm suas amplitudes atenuadas e também são submetidas a distorções

considerando que a resistividade poderá ser não uniforme ao longo da direção de propagação.

É também observada a diminuição da inclinação da frente de onda [13]. Estes aspectos são

ilustrados na Figura 2.26.

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46

Fig. 2.26 Atenuação da onda de propagação em condutor enterrado

Quando o comprimento de um eletrodo é limitado, tal comportamento deverá ser

superposto a outro que traduz a natureza divergente do campo associado à corrente que flui do

eletrodo ao potencial de terra distante. A Figura 2.27 ilustra este aspecto por meio de curvas

que mostram a distribuição do potencial escalar elétrico no solo. Para eletrodos concentrados

(curtos quando comparados ao comprimento de onda típico do sinal imposto) este

comportamento divergente prevalece.

Fig. 2.27 Comportamento divergente do campo

Como uma conseqüência da atenuação, a corrente que é dispersa no solo ao longo do

eletrodo, apresenta uma distribuição não uniforme. A densidade de corrente linear (A/m)

decresce ao longo do eletrodo. O conceito de comprimento efetivo do eletrodo (ou raio efetivo

para malhas), foi claramente introduzido por Gupta [23]. Comprimentos maiores de eletrodo,

V=0V=0

I

Atenuação

V

Diminuição da inclinação

solo

Eletrodo

I

Atenuação

V

Diminuição da inclinação

solo

Eletrodo

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47

acima do comprimento efetivo, não conseguem reduzir o valor da impedância de aterramento.

Este comportamento é explicado pelo fato de que, comprimentos superiores, acima do limite,

a corrente apresenta grande atenuação não injetando praticamente nenhuma corrente adicional

no solo. O comprimento efetivo do eletrodo decresce com o aumento da condutividade do

solo e da freqüência. Isto é explicado pelo fato de ambos os parâmetros serem responsáveis

pelo aumento das perdas no solo e, conseqüentemente, pela atenuação das ondas de tensão e

corrente que se propagam ao longo do eletrodo. Ao se adotar para o eletrodo um modelo tipo

linha de transmissão introduzida no solo, a constante de atenuação (α) corresponderá a

componente real da constante de propagação (γ) que, por sua vez, aumentará com os valores

de freqüência e de condutância, ou seja:

( )( )[ ] 2/1CjGLjR ωωβαγ ++=+= . (2.25)

No domínio da freqüência, o valor do comprimento efetivo é claramente definido para

cada valor de freqüência. Entretanto, para correntes impulsivas que envolvem um grande

espectro de componentes de freqüências, a definição desses parâmetros é um pouco mais

complexa. Neste caso, o parâmetro a ser assumido será o do comprimento de eletrodo que

corresponda à impedância impulsiva mínima.

2.3.4 Efeitos de ionização do solo

Alguns trabalhos, frutos de pesquisas na área de aterramento [24-26], têm enfatizado

na sua elaboração, a diferença substancial que existe nas características dos sistemas de

aterramento quando sujeitos a pulsos de alta amplitude (descargas atmosféricas), daqueles

submetidos a tensões e correntes em baixas freqüências. Nas situações de altas freqüências

que acontecem durante a aplicação de um pulso de corrente, o comportamento indutivo se

torna mais importante que o comportamento resistivo. Além disso, os valores elevados de

corrente devido ao comportamento indutivo podem gerar complexas ionizações no solo em

volta dos condutores de aterramento, produzindo grandezas transitórias com características

tipicamente não lineares. Esses trabalhos, têm defendido em seu conteúdo, que as correntes

de descarga causam a ionização do solo, formando um plasma tendente a transformar a

região em volta do eletrodo em uma região de baixa resistência e baixa tensão transitória.

Vários modelos [24-26] têm sido propostos para análise e predição do comportamento de

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48

sistemas de aterramento quando excitados por correntes impulsivas. Entretanto, a dinâmica e

a não linearidade do fenômeno de ionização, são freqüentemente omitidos pelas dificuldades

de modelagem da corrente e de suas complexidades.

O grau de redução na resistência de aterramento pela ionização, depende da

magnitude do gradiente de ionização do solo (Eo). O “Working Group Paper” do IEEE, em

estudo recente [27], não determinou qualquer valor para Eo, apenas recomendou que se

adotasse o valor de 1000 kV/m, sugerido por Oettle [28]. O documento “Lightning

Performance” do CIGRE [29], utiliza para Eo o valor de 400 kV/m em alguns de seus

cálculos, não havendo entretanto, qualquer suporte científico que evidencie a seleção do

referido valor. O cálculo da resistência de aterramento nestas condições, baseia-se na hipótese

do solo se tornar homogêneo na região ionizada, tomando formas geométricas simples e de

fácil análise. No caso de um eletrodo hemisférico, a região ionizada tomará a forma de um

hemisfério. Para o caso de uma haste de aterramento, Liew et al. [30] considerou a zona

ionizada como um cilindro em volta do eletrodo com hemisfério de mesmo raio do cilindro

na extremidade da haste, ver Figura 2.28.

Fig. 2.28 a) Eletrodo hemisférico b) Haste de aterramento: Método de Liew

Quando o gradiente de tensão no solo se torna maior que o seu gradiente de ionização,

há uma mudança no seu comportamento, ou seja, o valor da resistividade e,

conseqüentemente, o valor da resistência do sistema de aterramento, sofre um decréscimo.

Para estudar este comportamento, Gonos [26] utilizou em suas experiências, um arranjo para

teste e medição de corrente mostrado na Figura 2.29.

O arranjo mostrado, inclui um gerador de tensão de impulso de dois estágios com

capacidade de carregamento até 100 kV e com energia de 245 Watts por estágio. O

dispositivo de controle e instrumento de medição (Digitalizador transitório rápido,

(a)

(b)

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49

osciloscópio Yokogawa DL1540 voltímetro de pico etc.), são colocados em uma gaiola de

Faraday com um sinal de atenuação de 50 dB até 1 GHz. Um filtro de alta freqüência e um

transformador isolador faz a blindagem da energia de alimentação aos instrumentos contra

ruídos e distúrbios.

Fig. 2.29 Arranjo para teste e medição de corrente

Os elementos do gerador de impulso e sistema de medição, têm os seguintes valores:

R1 = R2 = 500 kΩ, RH = 140 MΩ, RL = 3.86 kΩ, C1 = 6.000 pF, CL= 485 nF e Z1 = Z2 =75 Ω.

Um teste típico de amostras usadas na investigação, consistiu em preencher de terra o

volume intermediário entre os dois cilindros coaxiais posicionados verticalmente. O topo e a

base do cilindro externo foram envolvidos com placas isolantes. Na aplicação do impulso de

tensão, as curvas de tensão e corrente na amostra, foram capturadas pelo osciloscópio,

conforme mostrado na Figura 2.30.

Fig. 2.30 Pulso de tensão e corrente em solo ionizado a) Solo seco b) solo úmido

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50

As curvas superiores de cada oscilograma correspondem a onda de corrente e as

curvas inferiores a onda de tensão. A presença de ionização do solo é evidenciada pelo rápido

crescimento da corrente e o correspondente decréscimo na tensão. Em conseqüência tem-se

um significante decréscimo na resistividade do solo.

Os estudos envolvendo ionização do solo são menos conservadores em termos de

cálculo das estruturas utilizadas nos sistemas de aterramento, pois demonstram a possibilidade

de redução considerável da resistividade do solo quando submetido ao gradiente de ionização.

Esta constatação pode ser útil na redução de custos na implantação dos projetos de sistemas

de aterramento.

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51

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53

[30] A. C. Liew, et al., ”Dynamic Model of Impulse Characteristics of Concentrated

Earth”, Proc. IEE, Vol 121, N° 2, pp.123-135, 1974.

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54

3.0 Desenvolvimento teórico e modelagem do problema

Este capítulo aborda de forma sucinta, a solução numérica das equações de Maxwell

por FDTD, a truncagem da região de análise por UPML, as técnicas de fio fino, o

processamento paralelo e a modelagem de sistemas de aterramento.

3.1 O Método FDTD

O método das diferenças finitas (FDM) foi inicialmente desenvolvido por A. Thom [1]

na década de 20 sob o título de “Método dos quadrados”, para solucionar equações

hidrodinâmicas não-lineares. Em 1966, Kane Yee [2] introduziu um algorítimo que consistia

em um conjunto de equações de diferenças originadas do sistema de equações rotacionais de

Maxwell dando então origem ao método FDTD. O algorítimo de Yee soluciona campos

elétricos e magnéticos no tempo e espaço simultaneamente. Na vida real, os problemas

eletromagnéticos dificilmente podem ser solucionados por métodos analíticos face a

complexidade de solução que normalmente é envolvida. Quando problemas com tais

características aparecem, as soluções numéricas são usadas, pelo fato de serem eficientes e

relativamente simples.

3.1.1 A Célula de Yee

Para meios isotrópicos, não dispersivos e com perdas, as equações de Maxwell podem

ser escritas, na forma diferencial, como:

HE

tµ∂

∇× = −∂

, (3.1)

EH E

tε σ∂

∇× = +∂

, (3.2)

onde E

e H

representam os vetores intensidade de campo elétrico (V/m) e magnético (A/m)

respectivamente, µ é a permeabilidade magnética do meio (Henrie/m), ε é a permissividade

elétrica (Farad/m) e σ a condutividade elétrica (mho/m). As demais equações de Maxwell ou

Leis de Gauss para os campos elétrico e magnético, não são utilizadas, por estarem implícitas

nas equações rotacionais (3.1) e (3.2).

Os vetores das equações (3.1) e (3.2) representam um sistema de seis equações

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55

escalares que serão expressas no sistema de coordenadas retangulares.

Seguindo a notação de Yee, define-se um ponto da grade na região de solução como:

( ) ( ), , , ,i j k i x j y k z≡ ∆ ∆ ∆ , (3.3)

e qualquer função de espaço e tempo como,

( ) ( ), , , , ,nF i j k F i x j y k z n t≡ ∆ ∆ ∆ ∆ , (3.4)

onde , ,x y z∆ ∆ ∆ representam os incrementos espaciais finitos, t∆ é o incremento finito de

tempo, enquanto que i, j, k e n são inteiros e correspondem aos índices de incremento espacial

e temporal, respectivamente. Usando aproximação por diferenças centrada, para as derivadas

espaciais e temporal com precisão de 2ª ordem, tem-se [3]:

( ) ( ) ( ) ( )2, , 1/ 2, , 1/ 2, ,0

n n nF i j k F i j k F i j kx

x x∆

∂ + − −= +

∂ (3.5)

( ) ( ) ( ) ( )

1/ 2 1/ 22, , , , , ,

0n n nF i j k F i j k F i j k

tt t

∆∆

+ −∂ −= +

∂ (3.6)

Ao aplicar (3.5) em todas as derivadas parciais [4] oriundas de (3.1) e (3.2), Yee

posicionou as componentes de E

e H

em uma célula, conforme mostrado na Figura 3.1.

Fig. 3.1 Célula de Yee

(i+1,j,k)

(i,j+1,k)

(i,j,k+1)

EX

EYHZ

HX

EZ

Z

HY

X

Y

(i+1,j,k)

(i,j+1,k)

(i,j,k+1)

EX

EYHZ

HX

EZ

Z

HY

X

Y

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56

O algorítimo de Yee centra as componentes de E

e H

no espaço tridimensional de

modo que cada componente de E

é envolvida por quatro componentes de circulação de H

.

De forma similar, cada componente de H

é envolvida por quatro componentes de circulação

de E

. Desta forma, as expressões de atualização para Ex e Hx [5] são dadas, respectivamente,

pelas equações (3.7) e (3.8).

( ) ( )( )

( )( )

( ) ( )1/2 1/ 21 1/2, , 1/2, 1/2, 1/2, 1/2,

1/2, , 1 1/2, ,1/2, , 1/2, ,

n n

z zn n

x x

y

i j k H i j k H i j ktE i j k E i j k

i j k i j k

σε ε

+ ++

+ + + − + −∆+ = − + + + + + ∆

( ) ( )1/2 1/ 21/ 2, , 1/ 2 1/ 2, , 1/ 2n n

y y

z

H i j k H i j k+ + + − − + ++ ∆

, (3.7)

( ) ( )( )

( ) ( )1/ 2 1/2, 1/ 2, 1 , 1/2,

, 1/2, 1/2 , 1/2, 1/ 2, 1/2, 1/ 2

n n

y yn n tx x

z

E i j k E i j kH i j k H i j k

i j kµ+ −

+ + − +∆+ + = + + + + + + ∆

( ) ( ), , 1/ 2 , 1, 1/ 2n n

z z

y

E i j k E i j k + − + + + ∆

. (3.8)

Equações similares podem ser obtidas para as outras componentes dos campos.

3.1.2 Dimensões da célula, estabilidade e precisão

Antes da implementação das equações de diferenças finitas, as dimensões da célula de

Yee e o incremento de tempo devem ser determinados. O tamanho da célula é limitado pela

dispersão numérica, isto é, a velocidade de fase dos modos numéricos da onda, pode diferir da

velocidade da luz c de um valor que depende de: (a) comprimento de onda, (b) direção de

propagação na grade escolhida e (c) discretização. Após estabelecer o tamanho da célula, o

incremento de tempo é determinado de forma que se chegue à estabilidade numérica. Para que

se tenha um resultado significativo, o tamanho da grade deverá ser equivalente a uma fração

do comprimento de onda da maior freqüência significativa f. Dependendo da precisão do

resultado desejado, chegou-se a conclusão que o tamanho da célula deverá ser menor que

λ/10 [6], onde λ é o comprimento de onda.

Para garantir a estabilidade numérica nos casos gerais, a inequação (3.9), condição de

Courant [7], deverá ser satisfeita, onde v é a velocidade de propagação das ondas

eletromagnéticas no meio com menor permissividade.

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57

( ) ( ) ( )2 2 2

1

1 1 1t

vx y z

∆ ≤

+ +∆ ∆ ∆

, (3.9)

Para o caso tridimensional em que as dimensões da célula são iguais, ou seja

x y zδ = ∆ = ∆ = ∆ , a equação (3.9) reduz-se para:

3t

c

δ∆ ≤ ⋅ (3.10)

3.1.3 As técnicas de representação de fios finos

Em várias aplicações na engenharia, como antenas e sistemas de aterramento, em que

o equacionamento passa pela metodologia que utiliza a técnica FDTD, uma geometria

possível de ser modelada é a do fio fino. Esta necessidade decorre em função da existência de

fios e hastes condutoras (cilíndricos), cujos diâmetros são menores, que as dimensões da

célula de Yee. Esta representação subcelular de cilindros condutores evita altos níveis de

discretização do domínio de análise, reduzindo o esforço computacional para atualização dos

campos. Nesta seção, serão abordadas duas técnicas que incluem de forma aproximada os

efeitos de um fio com raio menor que as dimensões das células usadas no método FDTD, a

primeira técnica, elaborada por Umashankar et al. [8], tem como principal fundamento a

atualização das equações para os campos magnéticos adjacentes ao fio fino de acordo com o

seu raio. De uma maneira relativamente simples, modificações nas equações de campo

magnético são introduzidas apenas nas células que contêm tais estruturas de pequenas

dimensões, caracterizando extensões subcelulares; a segunda técnica, desenvolvida por Tako

Noda et al. [9] e posteriormente por Yoshihiro Baba et al. [10], propõem mudanças no

sentido de se obter de forma correta a impedância de surto do condutor sob teste. Para isto,

Noda et al., introduziram a atualização dos campos elétrico e magnético para meios sem

perdas (para as componentes adjacentes ao fio) e Baba et al., estenderam esta formulação para

meios com perdas.

3.1.3.1 Fio fino pela correção do campo magnético

O equacionamento de fio fino de acordo com a Figura 3.2, começa pela aplicação da

lei de Faraday. As aproximações adotadas para as componentes de campo Hy e Ex são,

respectivamente:

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58

( ), , ( , , ). ,2y y

xH r j k H i j k

r

∆= (3.11)

e

( ), , ( , , ). .2x x

xE r j k E i j k

r

∆=

(3.12)

Fig. 3.2 Alocação dos campos e geometria para a técnica de fio fino no plano Z-X

Aplicando a lei de Faraday na forma integral (3.13), para o contorno da Figura 3.2,

lado direito, e considerando-se as aproximações dadas pelas equações (3.11) e (3.12),

. ,E l H. sd dt

µ∂

= −∂∫ ∫∫

(3.13)

resulta em:

( )1, , 0 ( , , 1) ( , , ) ( , , )2 2 2o o o

x x x

z x x yr r r

x x xE i j k z E i j k dr E i j k dr z H i j k dr

r r t rµ

∆ ∆ ∆∆ ∆ ∂ ∆− + ∆ + + + − = − ∆

∂∫ ∫ ∫ (3.14)

Chega-se, então, após algumas manipulações da equação acima, à seguinte expressão

Ex(i-1,j,k+1) Ex(i,j,k+1)

Ex(i-1,j,k) Ex(i,j,k)

Ez (i-1,j,k)

Hy(i,j-1,k) Hy(i,j,k)

Ez (i+1,j,k)

Z

X

Ex(i-1,j,k+1) Ex(i,j,k+1)

Ex(i-1,j,k) Ex(i,j,k)

Ez (i-1,j,k)

Hy(i,j-1,k) Hy(i,j,k)

Ez (i+1,j,k)

Z

X

Ez (i,j,k)

ro r

Ex(i-1,j,k+1) Ex(i,j,k+1)

Ex(i-1,j,k) Ex(i,j,k)

Ez (i-1,j,k)

Hy(i,j-1,k) Hy(i,j,k)

Ez (i+1,j,k)

Z

X

Ex(i-1,j,k+1) Ex(i,j,k+1)

Ex(i-1,j,k) Ex(i,j,k)

Ez (i-1,j,k)

Hy(i,j-1,k) Hy(i,j,k)

Ez (i+1,j,k)

Z

X

Ez (i,j,k)

Ex(i-1,j,k+1) Ex(i,j,k+1)

Ex(i-1,j,k) Ex(i,j,k)

Ez (i-1,j,k)

Hy(i,j-1,k) Hy(i,j,k)

Ez (i+1,j,k)

Z

X

Ex(i-1,j,k+1) Ex(i,j,k+1)

Ex(i-1,j,k) Ex(i,j,k)

Ez (i-1,j,k)

Hy(i,j-1,k) Hy(i,j,k)

Ez (i+1,j,k)

Z

X

Ez (i,j,k)

ro r

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59

de atualização para a componente y do campo magnético [6-7]:

( ) ( ) ( ) ( )( )

( )1/ 2 1/ 2 2, , , , , , , , 1 1, ,

ln /n n n n n

y y x x x

o

t tH i j k H i j k E i j k E i j k E i j k

z x x rµ µ+ − ∆ ∆

= + − + + + ∆ ∆ ∆ (3.15)

onde ro é o raio desejado para o fio fino. Neste caso, o valor de ro deverá ser menor que / 2x∆

[6].

Referindo-se à Figura 3.2, observa-se que, para cada componente ( ), ,zE i j k do campo

elétrico no centro de um fio fino, existem quatro componentes de campo magnético

associadas que devem ser calculadas a cada passo de tempo. Logo, é necessário obter, além da

componente ( )1/ 2 , ,nyH i j k+ , as componentes do campo magnético ( )1/ 2 1, ,n

yH i j k+ − , ( )1/ 2 , ,nxH i j k+ e

( )1/ 2 , 1,nxH i j k+ − , para que se possa simular um fio fino. Da mesma forma mostrada acima,

outras componentes do campo magnético nas demais direções, poderão ser calculadas.

Utilizando esta correção, é possível simular, com precisão satisfatória o comportamento dos

campos eletromagnéticos próximos a estrutura condutora de dimensões inferiores às da célula

de Yee, evitando com isso um maior refinamento na discretização, o que implicaria na

necessidade de recursos computacionais adicionais [5].

3.1.3.2 Fio fino pela correção dos parâmetros elétricos εεεε e σσσσ e magnético µµµµ

O método de representação de fio fino que corrige tanto os parâmetros elétricos ε e σ

quanto o magnético µ, para as componentes de campo próximo ao condutor, de acordo com o

seu raio, proporciona uma maior precisão na representação da impedância de surto. A

correção dos campos é feita pela modificação de forma equivalente da permissividade,

permeabilidade e condutividade das células adjacentes.

Tem sido mostrado na literatura que um fio fino no espaço livre, quando tratado dentro

da metodologia FDTD, possui um raio equivalente ao valor 0.23∆s, sendo ∆s o tamanho da

aresta da célula cúbica utilizada [9]. Para um meio com perdas, tem-se através da Figura 3.3 a

seção transversal de um condutor reto longo e fino envolvido por uma lâmina condutora

cilíndrica coaxial com o fio fino (blindagem).

Os raios do fio fino e da blindagem são, respectivamente, a e b. A condutividade e

a permissividade relativa do meio entre os dois condutores são σ e εs. Nesta condição, a

condutância G e a susceptância B, ambas por unidade de comprimento, entre fio fino e lâmina

condutora, são dadas por (3.16)

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60

Fig. 3.3 Seção transversal de um fio fino envolvido por uma lâmina condutora cilíndrica

coaxial com o fio fino

=

=

a

bB

a

bG S

ln

2,

ln

2 0 ωεπεπσ

(3.16)

Observar que εo é a permissividade do vácuo e ω é a freqüência angular (2πf).

Portanto, G se torna igual a B quando a freqüência f for:

S

fεπε

σ

00 2= (3.17)

Utilizando-se agora o fio fino, Figura 3.4, envolvido por uma lâmina condutora com

seção quadrada de 2.5 x 2.5 m2, e comprimento 25 m para ambos, parte-se para análise em

ambiente FDTD com células cúbicas de aresta 0.25 m.

Fig. 3.4 Seção transversal de um fio fino envolvido por uma lâmina condutora retangular com

seção transversal de 2.5 x 2.5 m2. E1, E2 e E3 são os campos elétricos radiais em 0.5, 1.5 e

a

b

σ, εs

a

b

σ, εs

E1E2E3

σ, εs

X

Y

Z

Fio fino

∆s

∆s

E1E2E3

σ, εs

X

Y

Z

Fio fino

∆s

∆s

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61

2.5∆s a partir do eixo do fio fino.

Foi aplicada uma tensão de 100 V, com tempo de frente de onda de 20 ns, entre o fio

fino e a lâmina condutora no mesmo lado. O outro lado se manteve aberto. A resposta foi

calculada em 10 µs com incremento de tempo de 0.4 ns. A Figura 3.5 mostra a variação no

tempo das relações entre E1, E2 e E3, E2 para valor de εs = 12 e 1 5 /mS mσ≤ ≤ . Após 100 ns,

apesar dos campos ainda variarem com o tempo, as relações E1, E2 e E3 para E2 são 2.20, 1.00

e 0.60, respectivamente, que é praticamente o mesmo resultado obtido em [9] para o fio fino

no espaço livre.

Fig. 3.5 Variação no tempo dos campos E1, E2 e E3 com relação a E2 usando o método

FDTD, no caso em que σ = 5 mS/m e ε = 12.

Observe que o método FDTD calcula os campos elétricos em pontos discretos, ou seja,

E1, E2 e E3 em x = 0.5, 1.5 e 2.5∆s, respectivamente, como mostrado na Fig. 3.4. De uma

forma geral, o campo elétrico radial próximo a um fio fino longo, de seção transversal

circular, varia com o inverso da distância radial do eixo do fio fino. Portanto, de acordo com

[9], foi utilizada uma função para testar a variação do campo elétrico radial obtido, usando a

simulação por FDTD, próximo ao fio fino no espaço livre,

( )x

xxE

2

3∆= , (3.18)

onde x é a distância radial a partir do eixo do fio fino.

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62

Nesta função, o campo elétrico é normalizado de forma que E deverá ser unitário em

x = 1.5∆s. A Figura 3.6 mostra o campo elétrico radial calculado por (3.18) e usando a

simulação por FDTD.

Fig. 3.6 Campo elétrico radial em função da distância radial x do centro de um fio fino,

calculado usando (3.18) e o método FDTD (o campo elétrico é normalizado de forma que E2

seja igual a unidade).

A diferença de potencial entre x = 2∆s e 3∆s obtida pela integração de (3.18) no

referido intervalo, tem valor 0.61∆s e no intervalo de x = ∆s e 2∆s o valor é de 1.04∆s. São

valores praticamente idênticos aos obtidos pela simulação, utilizando o método FDTD ou

seja, 0.60∆s e 1.00∆s, respectivamente. A diferença de potencial entre o fio fino e x = ∆s, se

tornará infinitamente grande se a integração for realizada no intervalo x = 0 e ∆s para

avaliação do potencial naquele ponto. Por outro lado, na simulação por FDTD, a diferença de

potencial na mesma região tem valor E1 = 2.20 ∆s. Este valor “finito” da diferença de

potencial entre o fio fino e x = ∆s, leva-se a concluir que o fio fino, representado no método

FDTD, teria um certo raio equivalente não nulo. Em outras palavras, quando se obtém o valor

E1 = 2.20, em x = 0.5∆s na simulação FDTD, é equivalente ao valor médio do campo elétrico

radial entre a superfície de um fio fino, tendo um certo raio não nulo, e x = ∆s, que variam na

relação 1/x em torno do fio fino. Se o raio do fio fino em estudo for considerado ro, e o campo

elétrico radial variar conforme a equação (3.18), a diferença de potencial entre x = xo e x =

∆s, será dada por:

( ) 3ln

2o

s

r o

s sE x dx

r

∆ ∆ ∆=∫ (3.19)

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63

A equação (3.19) solucionada para a diferença de potencial 2.2∆s, é equivalente a

diferença de potencial obtida através da simulação FDTD. Assim o valor de ro será:

0.23or s= ∆ , (3.20)

que é o valor do raio equivalente de um fio fino em um meio com perdas.

As Figuras 3.7 (a) e (b), mostram a seção transversal de um fio fino tendo o raio

ro = 0.23∆s e suas quatro células adjacentes. São mostrados também os quatro campos

elétricos e magnéticos próximos ao fio fino.

(a) (b)

Fig. 3.7 Seção transversal de um fio fino tendo um raio de 0.23∆s e suas quatro células

adjacentes. (a) Quatro elementos de campo elétrico radial próximo ao fio fino. (b) Quatro

elementos de campo magnético radial envolvendo e próximo ao fio fino.

A resistência por unidade de comprimento RT entre o fio fino, tendo um raio de

0.23∆s, e um condutor assumido como cilíndrico com raio equivalente a ∆s, e coaxial ao fio

fino, é dada por:

( )ln / 0.23

2 *T

s sR

πσ∆ ∆

= (3.21)

onde σ* é a condutividade do meio em volta do fio fino. Se o fio fino tiver um raio arbitrário

*or e estiver em um meio σ, a resistência por unidade de comprimento RT

’ é dada por:

ro

Ex1Ex2

Ey1

Ey2

Fio fino

X

Y

Z

σ*, ε*

ro = 0.23∆s

∆s

ro

X

Y

Z

ro = 0.23∆s

∆s

Hy1

Hx1

Hx2

Hy2

µ*

ro

Ex1Ex2

Ey1

Ey2

Fio fino

X

Y

Z

σ*, ε*

ro = 0.23∆s

∆s

ro

X

Y

Z

ro = 0.23∆s

∆s

Hy1

Hx1

Hx2

Hy2

µ*

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64

*'

ln

2o

T

s

rR

πσ

∆ =

(3.22)

se as duas equações, (3.21) e (3.22), forem igualadas, a seguinte relação é obtida:

( )( )

*

*

ln 1/ 0.23

ln / os rσ σ=

∆ (3.23)

A equação (3.23) mostra que um fio fino tendo raio *or em um meio de condutividade

σ, é equivalente aquele que possui um raio fixo de 0.23∆s em um meio de condutividade *σ .

Desta forma, um fio fino tendo um raio arbitrário or∗ em um meio de condutividade σ,

pode ser representado de forma equivalente, pelo uso da condutividade modificada *σ , ao

invés da condutividade original σ no cálculo dos quatro campos elétricos radiais, próximos ao

fio fino. Por exemplo, um fio fino tendo um raio or∗ = 0.46∆s ou 0.115∆s, pode ser

representado ajustando *σ para 1.89σ ou 0.680σ, respectivamente.

A dedução acima considera somente a condutividade (ou resistividade) para um meio

com perdas. No período transitório, quando a influência da permissividade e permeabilidade é

mais dominante que a condutividade, algumas considerações se fazem necessárias. Em [9], é

proposto um método para representar o fio fino no ar com raio arbitrário. Este método

modifica a permissividade e permeabilidade relativa para cálculo dos campos próximos ao fio

fino, como mostrado nas Figuras (3.7a) e (3.7b) ou seja, εs → sε∗ e µs → sµ

∗ expressos na

seguinte forma:

( )( )

ln 1/0.23

ln /s s

os rε ε∗

∗=

∆ (3.24)

( )( )

ln /

ln 1/ 0.23

o

s s

s rµ µ

∗∆

= (3.25)

Por esta modificação, a impedância característica do fio fino, torna-se igual àquela do

fio fino tendo raio or∗ , enquanto que, a velocidade de propagação da onda, não é alterada,

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65

levando em conta que sε∗

sµ∗ = εs µs . A validade deste método, tem sido bastante investigada

para o fio fino no espaço livre e em meios condutivos, tanto em períodos transitório como

quasi-estático, têm-se mostrado satisfatória.

Por fim, deve-se ressaltar que esta técnica demanda a utilização de passos temporais

menores que o usual para garantir estabilidade numérica. Neste trabalho foi adotado 60% do

limite de Courant para ∆t.

3.1.4 Parede absorvente tipo UPML para meio condutivo

Quando se parte para solução numérica de equações de campos eletromagnéticos no

domínio do tempo, utilizando técnicas das diferenças finitas em um determinado meio sem

fronteiras, faz-se necessário utilizar uma metodologia que limite o domínio no qual os campos

serão computados; caso contrário, a análise do problema envolveria um número infinito de

pontos, exigindo um sistema computacional com capacidade de processamento infinita. Isto é

possível através da “truncagem” da malha com a aplicação de regiões absorventes nos limites

numéricos. Tais regiões simulam a propagação da onda para o infinito, evitando com isso a

introdução de reflexões não naturais no ambiente de simulação [11].

Para solucionar tais problemas, a técnica UPML (Uniaxial Perfectly Matched Layers)

foi usada, pelos excelentes resultados apresentados em trabalhos anteriores [5]. Para fechar o

domínio em análise, utilizaram-se paredes condutoras elétricas perfeitas (PEC), Figura 3.9.

Neste caso, o meio absorvente UPML é anisotrópico e condutivo e a lei de Ampère na UPML

pode ser expressa, como:

0 0

( ) 0 0 ,

0 0

y zz y

y z xx

x zx z o r y

z x o yz

x yy x

x y z

S S

S

S Sj

j S

S S

S

σωε ε

ωε

∂ ∂− ∂ ∂ ∂ ∂ − = + ∂ ∂ ∂ ∂ −

∂ ∂

H H

E

H H E

EH H

(3.26)

onde Sx, Sy e Sz são definidos por:

; sendo , , ,kk k

o

S K k x y zj

σωε

= + =

(3.27)

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66

e σk com Kk são funções polinomiais que representam a atenuação ao longo das direções x, y

e z. Para a direção x, tem-se [11]:

( ) ( ) ,max/ ,m

x xx x dσ σ= (3.28)

e

( ) ( )( ),max1 1 / ,m

x xK x k x d= + − (3.29)

onde d é a Profundidade da UPML. Expressões similares podem ser obtidas para as outras

direções. O procedimento para obtenção das componentes dos campos elétrico e magnético, é

feito da seguinte forma:

Inicialmente, introduzem-se duas variáveis auxiliares de campo P e P′ , as quais

permitem modelar a presença do σ isotrópico, Eq. (3.26), dentro da UPML. Estas variáveis

são definidas, como:

; ; ,yxzx x y y z z

x y z

SSSP E P E P E

S S S= = =

' ' '; ; .x y x y z y z x zP S P P S P P S P= = =

(3.30)

(3.31)

Dessa forma, a equação (3.26) passa a ser dada por:

' '

' '

' '

.

z y

y z

x x

x z o r y y

z x

z z

y x

x y

H H

P P

H H j P P

P P

H H

ωε ε σ

∂ ∂− ∂ ∂

∂ ∂ − = + ∂ ∂ ∂ ∂−

∂ ∂

(3.32)

Passa-se então ao cálculo de .j Pω ′ A equação acima pode então ser expandida, como

segue,

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67

( )'

0 0' ( ) 0 0

0 0'( )

0 01

0 0

0 0

yK Py x

jP oS P Kx Py x y xz

j P j S P j K P j K Py z y z y z yj o KS P Pxx z zPz xK Px zj o

Py x

Pz yo

Px z

σ

ωε

σω ω ω ω

ωε

σωε

σ

σε

σ

+ = = + = + +

.

(3.33)

Passando para o domínio do tempo tem-se:

'

'

'

0 0 0 01

0 0 0 0 .

0 0 0 0

x y x y x

y z y z y

o

z x z x z

P K P P

P K P Pt t

P K P P

σσ

εσ

∂ ∂ = + ∂ ∂

(3.34)

Na direção x, tem-se de (3.30)

zx x

x

SP E

S= ∴ ,x x z xS P S E= (3.35)

( ) ( ) ,x zx x z x

o o

K P K Ej j

σ σωε ωε

+ = +

(3.36)

( ) ( ) ,o x x x o z z xj K P j K Eωε σ ωε σ+ = +

(3.37)

passando a equação acima para o domínio do tempo, resulta

,o x x x x o z x z zK P P K E Et t

ε σ ε σ∂ ∂

+ = +∂ ∂

(3.38)

( ) .x x z xx x z x

o o

P EK P K E

t t

σ σε ε

∂ ∂+ = +

∂ ∂ (3.39)

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68

Para o cálculo de 1+nxE , parte-se da equação (3.32) e calcula-se inicialmente

' 1,n

xP+ como segue,

( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( )

' 1 ' ' 1 '

1 11 12 22 2

, , , , , , , ,

2

, , 1, 1,,

n n n n

x x x x

o r

n nn n

y yz z

P i j k P i j k P i j k P i j k

t

H i j k HH i j k H

y z

ε ε σ+ +

+ ++ +

− ++ = ∆

− −− − = − ∆ ∆

(3.40)

( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( )

' 1 ' ' 1 '

1 11 12 22 2

, , , , , , , ,2 2

, , 1, 1,,

n n n no r o rx x x x

n nn n

y yz z

P i j k P i j k P i j k P i j kt t

H i j k HH i j k H

y z

ε ε ε ε σ σ+ +

+ ++ +

− + + =∆ ∆

− −− − = − ∆ ∆

(3.41)

( ) ( )

( ) ( )

' 1 '

1 11 12 22 2

, , , ,2 2

, , 1, 1,.

n no r o rx x

n nn n

y yz z

P i j k P i j kt t

H i j k HH i j k H

y z

ε ε ε εσ σ+

+ ++ +

+ + − = ∆ ∆

− −− − − ∆ ∆

(3.42)

Finalmente,

( )( )

( ) ( ) ( ) ( )

'

' 1

1 11 12 22 2

, ,12

, ,

22

, , , , 1, , , 1,.

n

xn

x

n nn n

y yz z

P i j kt

P i j k

tt

H i j k H i j kH i j k H i j k

y z

ε σ

ε σε σ+

+ ++ +

− ∆ = + × ++ ∆∆

− −− − × − ∆ ∆

(3.43)

Em seguida, com o objetivo de encontrar 1,n

xP+ parte-se da equação (3.34) de onde

conclui-se que

' 1,x y x y x

o

P K P Pt t

σε

∂ ∂= +

∂ ∂ (3.44)

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69

aplicando na equação acima a aproximação (3.6), resulta

1 1' 1 ' 1 1,

2 2

n n n nn ny x y x y x y xx x

K P K P P PP P

t t t t

σ σ

ε ε

+ ++

− = − + +∆ ∆ ∆ ∆

(3.45)

ou

( ) ( ) ( )1 ' 1 '2 1, , , , ,

2 2

y y

on n n n

x x x x

y y y y

o o

K

tP i j k P i j k P P

K Kt

t t

σ

εσ σ

ε ε

+ +

− ∆ = + −

+ ∆ + ∆ ∆

(3.46)

ou ainda, rearranjando-se a equação (3.46), obtém-se:

( ) ( ) ( )1 ' 1 '2 1, , , , .

2 2

y y

n n n nox x x x

y y y yo o

tK

P i j k P i j k P Pt tK K

σε

σ σε ε

+ +

∆ − = + −

∆ ∆ + +

(3.47)

Finalmente, a partir da equação (3.39) calcula-se o campo elétrico na direção x

1 1 1 1

,2 2

n n n n n n n n

x x x x x x x x xzx z

o o

P P P P E E E EK K

t t

σ σε ε

+ + + + − + − ++ = + ∆ ∆

(3.48)

1 1 1 1 1

,2 2 2 2

n n n n n n n n

x x x x x x x x z x z x z x z x

o o o o

K P K P P P K E K E E E

t t t t

σ σ σ σε ε ε ε

+ + + + +

− + + = − + +∆ ∆ ∆ ∆

(2.49)

1 1 ,2 2 2 2

n n n nx x x x z z z zx x x x

o o o o

K K K KP P E E

t t t t

σ σ σ σε ε ε ε

+ + + + − + = + + − +

∆ ∆ ∆ ∆ (3.50)

( ) ( )1 12 1, , , ,

2 22 2

zz

n n n no x xx x x x x x

z z o oz z

o o

tK

t tE i j k E i j k P K P K

t tK K

σ ∆ε σ ∆ σ ∆

σ ∆ σ ∆ ε εε ε

+ +

− = + × + − − + +

(3.51)

Page 89: Tannus...iv UNIVERSIDADEFEDERALDOPARÁ CENTROTECNOLÓGICO PROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMENGENHARIAELÉTRICA PROPOSTADEUM NOVOMODELOPARAANÁLISEDOSCOMPORTAMENTOS

70

Procedimento similar poderá ser adotado para cálculo dos campos elétricos nas

direções y e z.

3.2 Processamento paralelo

As aplicações em engenharia que necessitam de enorme capacidade computacional e

que não podem ser executadas em máquinas seqüenciais simples, com uma única unidade de

processamento central (CPU), são cada vez mais freqüentes. Apesar de ainda ser possível

melhorar o desempenho dos processadores, a atual evolução acabará por se deparar com

diversas restrições como, por exemplo, a dimensão física dos componentes, a velocidade da

luz, as leis da termodinâmica, acoplamentos eletromagnéticos e o custo, que poderá se revelar

excessivo com a aproximação desses limites. Desta forma, uma solução alternativa econômica

e tecnologicamente viável, consiste na interligação de múltiplos processadores de forma a

permitir a execução cooperativa de tarefas em paralelo com um objetivo comum [12]. A

origem da computação paralela, como alternativa ao processamento seqüencial, pode ser

definida por dois fatores:

• A computação paralela revelou-se uma alternativa viável, na resolução do ponto de

estrangulamento que constitui um único processador num sistema;

• O custo de um sistema paralelo, é consideravelmente inferior ao de um sistema

maciçamente paralelo (supercomputador) com desempenho similar, uma vez que os preços

dos componentes são uma função da sua capacidade.

O emprego eficiente de computação paralela requer a adequação de dois aspectos

fundamentais: infra-estrutura computacional e algoritmo paralelo. A infra-estrutura diz

respeito ao hardware paralelo, que são as unidades de processamento e o suporte de

comunicação entre elas (que é a infra-estrutura de software), onde o algoritmo paralelo é

executado. O algoritmo paralelo advém da modelagem do problema e se caracteriza como sua

solução computacional; assim, é necessário que se tenha em mente, já na modelagem do

problema a necessidade do paralelismo da solução [13].

Há várias soluções possíveis, tanto em termos de infra-estrutura paralela de hardware

e software, quanto em termos da obtenção do algoritmo paralelo, cuja escolha dependerá de

vários aspectos que podem ser resumidos em complexidade da modelagem e relação custo-

benefício da infra-estrutura computacional.

Com a crescente evolução nas pesquisas na área de computação, a Cray apresentou na

década de 60 o seu super computador, juntando em uma única máquina um conjunto de

processadores que partilham a mesma memória, ou seja, as tarefas podiam ser realizadas de

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71

modo paralelo [14]. Contudo, o acesso a esses supercomputadores era dificultado devido ao

alto custo e com isso somente grandes instituições poderiam adquiri-los.

Para superar o problema do alto custo e popularizar o processamento paralelo, na

década de 90, o Centro de Excelência em Dados Espaciais e Informações Científicas

(CESDIS), órgão da NASA, montou a primeira arquitetura paralela de computadores,

denominada cluster Beowulf [15]. Os clusters Beowulf resultaram de um projeto iniciado pela

NASA no verão de 1994, no centro de pesquisas CESDIS, localizado no Goddard Space

Flight Center, no âmbito do projeto Earth and Space Sciences, cujo objetivo primário

consistia em determinar a aplicabilidade de arquiteturas de processamento paralelo a

problemas do domínio das ciências espaciais, especialmente para o tratamento de dados

recolhidos por satélite, a preços acessíveis. O primeiro destes clusters foi construído por

Thomas Sterling e Don Becker e consistia em 16 nós com processadores Intel 486 Dx4 a

100MHz interligados por uma tecnologia de rede Ethernet a 10 Mbits do tipo channel bonded

com dois barramentos. Desde então diversas instituições têm construído os seus próprios

clusters Beowulf. Atualmente existem clusters deste tipo com mais de um milhar de nós. Isso

só foi possível devido ao avanço na tecnologia de hardware que trouxe os preços dos

computadores para níveis mais acessíveis e avanços tecnológicos surgidos no mundo do

software, introduzindo no mercado bibliotecas de comunicação como o PVM e o MPI, além

das otimizações dos compiladores para as linguagens científicas de alto desempenho, como

por exemplo o Fortran [16]. O MPI, Message Passing Interface, é uma biblioteca de

passagem de mensagens, desenvolvida por um grupo de pesquisadores de várias entidades,

para funcionar como um sistema padrão em uma grande variedade de arquitetura de

computadores paralelos, pois possui a eficiência e facilidade de uso. A padronização define a

sintaxe e a semântica das rotinas das bibliotecas, o que as torna úteis para se escrever

programas em C, C++ e Fortran [17]. O principal objetivo da MPI, é de generalizar

procedimentos, mantendo sempre a eficiência dos sistemas, isto é, incluir o que de melhor

existe nos ambientes de passagem de mensagens, considerar as características gerais das

plataformas paralelas e explorar o máximo de suas vantagens.

A idéia básica para implementação paralela do algorítimo FDTD, baseia-se na divisão

do domínio de análise em subdomínios. Nesta técnica, conhecida como técnica de

decomposição de dados ou decomposição de domínio, os dados do problema são divididos e

selecionados para rodar em diferentes processadores, considerando que, cada processador

executa basicamente o mesmo programa (código fonte), porém com diferentes dados. É uma

implementação típica do modelo SPMD (Single Program Multiple Data) [18]. A distribuição

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72

dos dados é feita manualmente, o programador define através de funções de mensagens do

tipo enviar/receber a comunicação entre processadores adjacentes de forma a se manter a

continuidade na atualização das componentes de campo localizadas nas interfaces dos

domínios. Neste trabalho, o problema de análise de malha de terra, foi solucionado utilizando-

se um cluster do tipo Beowulf de 10 máquinas. A Figura 3.8 mostra a atualização das

componentes de campo localizadas na interface entre duas regiões (plano Y-Z).

O hardware utilizado foi denominado Amazônia Beowulf Cluster – LANE2, que

consiste de 10 PC’s AMD Athlon XP 1800+, com 1.5 GB DDR RAM em cada máquina e

placa de rede de 100 Mbits/s, exceto a unidade mestre ou principal, que possui dois

processadores com memória 2 GB DDR e placa de rede 1 GBit/s. O sistema operacional é o

Slackware Linux 10 com a versão 2.6 do Kernel do Linux. O código foi escrito FORTRAN

77 e a biblioteca escolhida para possibilitar a troca de mensagens foi a LAM-MPI,

desenvolvida na Universidade de Ohio [19-20]. A rede é conectada através de uma chave de

100 Mbits/s e interfaces ethernet.

Fig. 3.8 Atualização das componentes de campo localizadas na interface entre duas regiões

(plano Y-Z).

3.3 Modelo adotado para simulação de hastes não convencionais

O programa base, que permitiu a simulação de vários casos de aterramento, conforme

poderá ser visto no capítulo seguinte, foi escrito em ambiente computacional paralelo,

utilizando um cluster tipo Beowulf de 10 máquinas, conforme citado na seção 3.2. Foram

utilizados 10 subdomínios computacionais ou 10 máquinas, interligadas através da biblioteca

LAM/MPI, escolhida para possibilitar a troca de mensagens. A Figura 3.9 mostra, no plano

X-Y, o domínio computacional de análise. O espaço interno ou de trabalho, é composto de

dois meios na direção Z, com sua interface no plano X-Y, sendo um deles o espaço livre onde

Subdomínio 2Subdomínio 1

Máquina 1 Máquina 2

Y

Ey

Hz

xz

Subdomínio 2Subdomínio 1

Máquina 1 Máquina 2

Y

Ey

Hz

xz

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73

são aplicadas as equações de Maxwell para o espaço livre, adotando o valor

128.85 10 /o F mε −= × para a permissividade elétrica absoluta, 74 10 /o H mµ π −= × para a

permeabilidade magnética absoluta e σo = 0 para a condutividade. O outro espaço é

Fig. 3.9 Vista superior, no plano X-Y, do domínio computacional de análise.

As siglas na Fig. 3.9 representam:

ET – Eletrodo de Terra

ERC – Eletrodo remoto de corrente

ERP – Eletrodo remoto de potencial de referência

PEC – Condutor eletricamente perfeito

composto por terra argilosa do tipo kanto loan [21]. O domínio de análise utilizado nas

simulações tem as seguintes dimensões:

Direção x – 86.25 m (345 células)

Direção y – 39.5 m (158 células)

Direção z – 34.50 m (138 células)

As equações para atualização computacional das componentes de campo para o meio

em questão são as equações de Maxwell adaptadas ao meio condutivo, adotando-se para esse

meio os valores de 1250 8.55 10 /F mε −= × × para a permissividade absoluta,

74 10 /o H mµ π −= × para a permeabilidade absoluta e 32.28 10 /S mσ −= × para a

condutividade.

UPML

UPML

UPML

UPML

subdom1

Sub dom 1 Sub dom 2 Sub dom 3 Sub dom 4 Sub dom 5

Sub dom 7Sub dom 6 Sub dom 8 Sub dom 10Sub dom 9

UPML

Circuito de potencial

Circuito de corrente

ET

ERC

ERP

UPML

UPML

UPML

Y

X

PEC69 cel.

79 cel.

79 cel.

10 cel.

UPML

UPML

UPML

UPML

subdom1

Sub dom 1 Sub dom 2 Sub dom 3 Sub dom 4 Sub dom 5

Sub dom 7Sub dom 6 Sub dom 8 Sub dom 10Sub dom 9

UPML

Circuito de potencial

Circuito de corrente

ET

ERC

ERP

UPML

UPML

UPML

Y

X

PEC69 cel.

79 cel.

79 cel.

10 cel.

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74

As paredes absorventes foram elaboradas de acordo com a técnica UPML para meios

condutivos, descrita na seção 3.1.4, sendo adotados os seguintes valores para os parâmetros da

UPML:

d – espessura da UPML tendo valor fixo de 2,5 m, ou 10 células.

m – parâmetro que define o grau do polinômio. Neste trabalho, foi escolhido no intervalo

3 ≤ m ≤ 4, considerado pela literatura, como intervalo ótimo para a maioria dos casos

simulados em FDTD. O valor 3.5 adotado para m, foi considerado satisfatório [5].

σx,máx – O valor de sigma máximo ou sigma ótimo na direção x para o meio

homogêneo em z, é determinado pela expressão (2.44).

( ),

0.8 1x opt

η+

≈∆

. (3.52)

Considerando que no ambiente de simulação em questão existe a não homogeneidade

na direção z, em função da interface terra - espaço livre, recomenda-se que a condutividade na

UPML seja escalonada no referente à permissividade efetiva desses dois meios. Desta forma,

o valor ótimo para o σz ponderado, é expresso como [5]:

( ),

0.8 1z opt

eff

η ε

+≈

∆, (3.53)

onde effε é a permissividade relativa efetiva, e que representa o meio não homogêneo ao

longo da UPML.

kk - são funções polinomiais que representam a atenuação ao longo das direções x, y e z. Para

a direção x, considerando o campo elétrico em x tem-se:

( ) ,max1 ( 1)m

x xx

k x kd

= + − ×

, (3.54)

onde ,max 7x ck e n numero de camadas= =

O aumento no valor de ,maxxk para valor compreendido na faixa de 7≤ ,maxxk ≤8,

enquanto se mantém o valor de m na faixa de 3<m<4, reduz o erro de reflexão em pontos

internos próximos a zona de absorção .

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75

Na parte externa à UPML, aplicou-se condutores eletricamente perfeitos ou PEC,

usados como terminação do domínio numérico [11].

Complementando a Figura 3.9, são mostradas nas Figuras 3.10 e 3.11, as vistas nos

planos X-Z e Y-Z do domínio computacional e sistema e aterramento.

Fig. 3.10 Vista lateral, no plano X-Z, do domínio computacional de análise e sistema de

aterramento.

A simulação foi realizada discretizando o espaço de interesse com células cúbicas de

Yee. O intervalo espacial de amostragem ( x y z∆ = ∆ = ∆ ) foi ajustado em 0.25 m e, para

satisfazer as condições de Courant, equação (3.9), utilizou-se um intervalo de tempo

481.452t ps∆ = [7]. Os dados de implementação do sistema de aterramento em questão e os

circuitos de excitação de corrente e medição de tensão envolvidos, considerando um eletrodo

de aterramento, serão descritos de forma detalhada e seguem os mesmos padrões do circuito

experimental praticado e simulado em [21].

A utilização de circuito semelhante no que se refere às dimensões físicas e parâmetros

dos materiais empregados, serviram como validação para o protótipo utilizado neste trabalho,

conforme será mostrado no capítulo 4. Vale salientar que a metodologia científica e

computacional, utilizada na simulação do problema, difere em vários aspectos daquela

utilizada em [21].

UPML

UPML

UPML

UPML

subdom1

UPML

Circuito de potencial

ETERP

UPML

UPML

UPML

Z

X

PEC

Terra

Espaço livre

69 cel.

79 cel.

59 cel.

50 m

3 m

1.5 m

1.5 m

10 cel.

UPML

UPML

UPML

UPML

subdom1

UPML

Circuito de potencial

ETERP

UPML

UPML

UPML

Z

X

PEC

Terra

Espaço livre

69 cel.

79 cel.

59 cel.

50 m

3 m

1.5 m

1.5 m

10 cel.

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76

Fig. 3.11 Vista lateral, no plano Y-Z, do domínio computacional de análise e sistema de

aterramento.

A Figura 3.12 mostra uma visão em conjunto do sistema de aterramento em estudo. A

seguir, será descrito o detalhamento do sistema de aterramento básico utilizado no trabalho:

a) Circuito de corrente

Constituído de um eletrodo de terra com dimensões 0.5 X 0.5 m2 de seção

transversal e comprimento 3 m, linha de corrente horizontal na direção Y, diâmetro 0.135m e

comprimento 20m, eletrodo de corrente remoto com diâmetro 0.135m e comprimento 2.5m

sendo 1.5m enterrado. O Gerador de pulso que pode ser tratado como fonte de tensão,

instalado no topo do eletrodo de aterramento, produz tempo de frente de onda de 0.063

microssegundos e tempo de cauda 500 microssegundos. A tensão de pico foi ajustada para um

valor de 515 Volts, com formato de onda mostrado na Figura 3.13.

UPML

UPML

UPML

UPML

Z

Y

20 m

12 m1.5 m

1.0 m

ET

ERC

79 cel 79 cel

79 cel

59 cel

PEC

UPML

UPML

UPML

UPML

Z

Y

20 m

12 m1.5 m

1.0 m

ET

ERC

79 cel 79 cel

79 cel

59 cel

PEC

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77

Fig. 3.12 Sistema de aterramento usado como protótipo inicial do trabalho.

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

-600

-500

-400

-300

-200

-100

0

Tensão (V)

Tempo (µs)

Fig. 3.13 Forma de onda do pulso de tensão aplicado.

O formato da onda pulso de tensão é obtido pelas seguintes equações:

Para 1.5 fn t T∆ ≤

( ) ( ) ( )1 2 2max 0 0/n t n t

sV n t V e e sen n t Aα α ω− ∆ − ∆∆ = − ∆ . (3.55)

Para 1.5 fn t T∆ >

1 m

1.5 m

1.5 m

1.5 mEletrodo remoto

de potencial

Barramentode corrente Φ 0.135 m

Barramento de

potencial Φ 0.135 m

Resistência 435 Ω

Gerador depulso

1 2 3 4 5

6 7 8 9 10

Z

Y

X

Terra

Espaço livre

50 m

20 m3 m

Eletrodo de terra

Eletrodo remoto de corrente Φ 0.135 m 1 m

1.5 m

1.5 m

1.5 mEletrodo remoto

de potencial

Barramentode corrente Φ 0.135 m

Barramento de

potencial Φ 0.135 m

Resistência 435 Ω

Gerador depulso

1 2 3 4 5

6 7 8 9 10

Z

Y

X

Terra

Espaço livre

50 m

20 m3 m

Eletrodo de terra

Eletrodo remoto de corrente Φ 0.135 m

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78

( ) ( )1 2max 0/n t n t

sV n t V e e Aα α− ∆ − ∆∆ = − , (3.56)

1 1.93147180 /f

Tα =

2 2.558427881/ tTα = ,

( )10 1 2

2

ln /tα

α αα

= −

, (3.57)

( )1 0 2 0t t

oA e eα α− −= − , (3.58)

( )0 / 3f

Tω π= , (3.59)

onde,

Vs = tensão instantânea

Vmax = tensão de pico

Tf = tempo de frente de onda

Tt = tempo de cauda

Um resistor série de 435 ohms, foi adaptado entre a fonte de tensão e o circuito série,

transformando a fonte de tensão em fonte de corrente. A modelagem do resistor, dentro da

metodologia FDTD, considera um resistor R na direção z, localizado no espaço livre,

representado pela intensidade de corrente Iz (i,j,k), densidade de corrente JL e componente de

campo Ez (i,j,k) conforme mostrado nas equações (3.60), (3.61) e (3.62).

( ) ( )1/ 2 1, , ( , , ) ( , , )2

n n n

z z z

zI i j k E i j k E i j k

R

+ +∆= + (3.60)

1/ 2 ( , , )n

zL

I i j kJ

x y

+

=∆ ∆

(3.61)

A medição de corrente em circuitos experimentais é feita, normalmente, através de

componentes shunts adequados ou transformadores de corrente [22] . Na simulação utilizando

técnica FDTD, a coleta de corrente foi feita em um segmento de condutor, localizado entre a

fonte de excitação e a terra.

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79

( ) ( ) ( ) ( )

1

1/ 2 1/ 2 1/ 2 1/ 2

12

( , , ) ( , , )1 12 2

1/ 2, , 1/ 2, , , 1/ 2, , 1/ 2,

n no oz z

o o

n n n n

y y x x

t z t

R x yE i j k E i j k

t z t z

R x y R x y

H i j k H i j k H i j k H i j k

x y

ε ε

ε ε

+

+ + + +

∆ ∆ ∆ − ∆ ∆ = + ×

∆ ∆ ∆ ∆ + + ∆ ∆ ∆ ∆

+ − − − − ++ ∆ ∆

(3.62)

Para tal, utilizou-se a lei circuital de ampère, integrando os quatro campos magnéticos

em volta do segmento [6], conforme mostrado na equação (3.63) e Figura 3.14.

( ) ( )( , 1, ) ( , , ) ( , , ) ( 1, , )n x x y yI H i j k H i j k x H i j k H i j k y= − − ∆ + − − ∆ . (3.63)

Fig. 3.14 Integração dos quatro campos magnéticos ao longo dos percursos ∆x e ∆y

No circuito de corrente, as partes metálicas do sistema de aterramento, foram

modeladas quanto aos campos elétrico e magnético da seguinte forma:

a) Eletrodos: Totalmente metálicos com alta condutividade. As condições de

contorno para os campos elétrico e magnético foram devidamente aplicadas,

considerando as características metálicas dos referidos componentes.

b) Hastes de aterramento auxiliar e condutores de ligação: Em função de suas seções

serem iguais ou inferiores a metade de uma das dimensões da célula de Yee e pelo

I

Y

X

HX(i,j,k)

HY(i,j,k)

HX(i,j-1,k)

HY(i-1,j,k)

∆x/2

∆y/2I

Y

X

HX(i,j,k)

HY(i,j,k)

HX(i,j-1,k)

HY(i-1,j,k)

I

Y

X

HX(i,j,k)

HY(i,j,k)

HX(i,j-1,k)

HY(i-1,j,k)

∆x/2

∆y/2

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80

valor elevado de corrente que deverá passar pelos referidos condutores, aplicou-se

aos mesmos a técnica de fio fino.

a) Circuito de potencial:

Constituído por eletrodo remoto de potencial com diâmetro de 0.25m, comprimento

total de 3m, sendo 1.5m enterrado, linha de potencial de referência com seção transversal de

2 mm2 e comprimento 50m. Ver Figura 3.10.

O potencial elétrico transitório foi medido na célula postada na aresta superior do

eletrodo principal, conforme explicitado na equação (3.64).

( ) ( , , )n

zV n E i j k z= − ∆ , (3.64)

onde n é o número de iterações

Em função da pequena corrente que circula no circuito de potencial, considerou-se a

resistividade do condutor nula e, conseqüentemente, as componentes tangenciais do campo

elétrico foram feitas nulas, nas paredes dos condutores desse circuito.

Considerando que no modelo em questão, a excitação é realizada com um pulso de

tensão, semelhante em forma, a onda de pulso atmosférico (3.55) a (3.59), o tempo de frente

de onda é menor que o padronizado para ondas atmosféricas, para se ter uma redução no

tempo de processamento. Os valores resultantes de tensão e corrente medidos na terra, no

período transitório, refletem o comportamento variável da resistência de terra no período em

questão. Neste caso, a TGR (resistência de aterramento transitória) é obtida

computacionalmente a cada iteração através da equação (3.65).

( )( )

( )V n

TGR nI n

= ,

(3.65)

onde n é o número de iterações.

3.4 Modelo adotado para simulação de hastes convencionais

Para a simulação de hastes convencionais ou comerciais de diâmetros que variam entre

10 e 50 mm, houve a necessidade de se aplicar a teoria de fio fino em solo condutivo. As

técnicas conhecidas na literatura [8-9], porém mais adequadas para utilização em antenas

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81

(espaço-livre) não se mostraram eficientes quando utilizadas em solo condutivo. A solução do

problema foi possível com a adoção de técnica que possibilita a correção do campo elétrico e

campo magnético nas células adjacentes ao eletrodo de aterramento [10], conforme descrito

na seção 3.1.3.2. As modificações implementadas a partir do modelo anterior, apresentado na

seção 3.3, se referem à técnica utilizada para injeção de corrente no ambiente de simulação e a

determinação do potencial na terra.

3.4.1 Técnica utilizada para injeção de corrente

As simulações envolvendo excitação por pulso de corrente no ambiente FDTD, são

normalmente realizadas através de um circuito de corrente envolvendo eletrodo de teste,

gerador de pulso de tensão, resistência, barramento horizontal e eletrodo remoto de corrente

[21]. Nesta etapa do trabalho, a injeção de corrente na terra, é feita através de um gerador de

pulso de tensão, resistência, eletrodo de teste e condutor vertical fino conectado diretamente à

região absorvente, até atingir as proximidades da parede elétrica que a envolve, sem haver

contato, conforme mostrado na Figura 3.15. Para o caso estudado, o espaço equivalente a uma

célula foi usado como separação entre o condutor vertical e a PEC. Algumas adequações

devem ser feitas no que se refere ao casamento de impedâncias, igualando a permissividade e

permeabilidade nas células de fronteira e células adjacentes ao fio fino na direção de

atenuação ao longo da UPML. Esta técnica de injeção de corrente garante a circulação da

corrente no ambiente de simulação envolvendo terra e espaço livre.

Fig. 3.15 Layout do esquema proposto

PEC

Terra

Espaço livre

Gerador de pulso

Resistência

UPML

Eletrodo

PEC

Terra

Espaço livre

Gerador de pulso

Resistência

UPML

Eletrodo

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82

A retirada dos barramentos e hastes adicionais deste ambiente proporcionou uma

analogia mais realista com o que ocorre nas descargas, em termos de direcionalidade do raio,

eliminando influências eletromagnéticas e proporcionando a geração de curvas de distribuição

de campo/potencial radialmente simétricas. A Figura 3.16 mostra o circuito equivalente da

excitação de corrente.

Fig. 3.16 Circuito equivalente da excitação de corrente

A medição de corrente no modelo computacional foi realizada utilizando a média das

correntes no eletrodo, coletada nas células adjacentes a superfície da terra mostrado na Figura

3.17. Este procedimento elimina a defasagem de ½ célula relativa à coleta de tensão e

corrente, possibilitando um resultado mais preciso no cálculo da TGR. Tal ajuste se torna

necessário em decorrência do afastamento espacial das componentes dos campos E e H na

célula de Yee.

Fig. 3.17 Medição de corrente realizada através da média entre I1(t) e I2(t)

Resistência de terra

Gerador de impulso

Resistência

V=0

∼∼∼∼

Resistência de terra

Gerador de impulso

Resistência

V=0

∼∼∼∼

Espaço livre

Ex

EzI1(t)

I2(t)

Eletrodo de aterramento

Terra

∆s

A

Espaço livre

Ex

EzI1(t)

I2(t)

Eletrodo de aterramento

Terra

∆s

A

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83

A corrente extraída no ponto A é obtida pela expressão:

( ) ( ) ( )1 2

2A

I t I tI t

+= . (3.66)

3.4.2 Determinação do potencial no ponto A

Na seção 3.3, onde é descrita a modelagem para hastes não convencionais, a tensão

desenvolvida na terra pela ação do pulso de corrente aplicado ao eletrodo, foi coletada através

de um barramento metálico que trazia o potencial zero de uma região distante, até uma célula

próxima do eletrodo, onde a tensão era medida [21]. A presença física do referido barramento

no ambiente de ensaio experimental e no ambiente de simulação, provoca efeitos de indução

que levam a resultados não compatíveis com a realidade. Neste trabalho, propõe-se a

eliminação do barramento de potencial e do eletrodo de referência. Então, para obtenção da

equação para o potencial no ponto A, parte-se da Lei de Faraday, como segue,

B A AE

t t t

∂ ∂∇× ∂∇× = − = − = −∇× ∂ ∂ ∂

, (3.67)

onde conclui-se que

0A

Et

∂∇× + = ∂

. (3.68)

Como o rotacional do gradiente de uma função escalar é identicamente nulo, o termo

entre parênteses da equação (3.68) é definido como sendo o negativo do potencial escalar

elétrico (-∇V). Feito isso, a equação resultante é então integrada de um ponto A a um ponto B

(ver Figura 3.18), resultando em,

B

B AA

AV V E dl

t

∂− = − + ∂

. (3.69)

Considerando o ambiente de propagação quasiestatico e VB=0, a equação (3.69) pode

ser aproximada por:

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84

B

AA

V E dl= ∫

(3.70)

Para o cálculo da integral (3.70) foi escolhido o caminho de integração iniciando em A

(Figura 3.18) e progredindo na horizontal, a três células acima da superfície da terra, até o

ponto B, onde o potencial tem o valor aproximadamente zero. De posse de VA e IA a TGR é

obtida pela equação (3.71).

( ) ( )( )

A

A

V tTGR t

I t= (3.71)

A metodologia proposta para a determinação do potencial através do caminho de

integração, pode também ser aplicada às hastes não convencionais, em substituição ao

barramento de potencial utilizado nas experiências iniciais para efeito de validação. No

capitulo 4, serão testados vários caminhos de integração, tanto no espaço livre quanto na terra

e então será escolhido o percurso mais viável. A referida escolha, leva em consideração a

média de resultados e a situação mais desfavorável quanto ao aterramento de equipamentos e

a proteção do individuo. A Figura 3.18, mostra no plano X-Y, o caminho de integração entre

os pontos A e B. A Figura 3.19, mostra no plano X-Z, o percurso escolhido mais adequado

para determinação do potencial na haste.

Para as hastes convencionais, o circuito de corrente é constituído de um eletrodo com

20 mm de diâmetro e 3m de comprimento. O gerador de pulso é tratado como uma fonte de

tensão, a qual foi instalada no topo do eletrodo de aterramento, produzindo um tempo de

frente de onda de 0,063 microsegundos e de meia cauda da ordem de 500 microsegundos.

Fig. 3.18 Vista nos planos X-Y do domínio computacional de análise

Caminho de integração

V≈0

Sub-dominio 0

A B

Y

XSub-dominio 1 Sub-dominio 2 Sub-dominio 3 Sub-dominio 4

Sub-dominio 5 Sub-dominio 6 Sub-dominio 7 Sudominio 8 Sub-dominio 9

Eletrodo

(a)

22.5 m

6.25 m

6.25 m

0.50 m

Caminho de integração

V≈0

Sub-dominio 0

A B

Y

XSub-dominio 1 Sub-dominio 2 Sub-dominio 3 Sub-dominio 4

Sub-dominio 5 Sub-dominio 6 Sub-dominio 7 Sudominio 8 Sub-dominio 9

Eletrodo

(a)

22.5 m

6.25 m

6.25 m

0.50 m

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85

Fig. 3.19 Vista nos planos X-Z do domínio computacional de análise

A tensão de pico foi ajustada para um valor de 515 Volts, com formato de onda

mostrado na Figura 3.13. Um resistor série de 435 ohms, devidamente modelado [21], foi

adaptado entre a fonte de tensão e o circuito série, transformando-a em uma fonte de corrente.

Como pode ser visto na Figura 3.15, o terminal superior do resistor penetra na UPML e vai

até a uma célula de distância do PEC, este terminal é constituído de um fio fino condutor de

20 mm2 de área de seção transversal.

3.5 Estrutura de programação

Neste trabalho, a linguagem computacional utilizada como suporte nas simulações foi

o FORTRAN 77 [23], sendo também utilizado o Matlab para suporte gráfico e de animação

propiciando uma melhor visualização da propagação dos campos.

A Figura 3.20 mostra o fluxograma do programa utilizado na determinação dos

campos elétrico e magnético, no ambiente de processamento paralelo, tendo em seu interior as

estruturas do sistema de aterramento.

Terra

Espaço livre

Caminho de integração (3cel. acima do solo)

V≈0

Circuito de corrente

AB

Z

X

20 m

9.50 m

22.50 m

(b)

Terra

Espaço livre

Caminho de integração (3cel. acima do solo)

V≈0

Circuito de corrente

AB

Z

X

20 m

9.50 m

22.50 m

(b)

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86

Fig. 3.20 Lógica de implementação FDTD para ser usada em algorítimo paralelizado

INICIAR

Define as condições iniciais de operação

Inicialização dos vetores E e H

Determina K e σ

Meio absorvente

Não

Sim

Inicio do loop do tempo

n = 1, 2,...., nt

3

1

0

2.28 10

( )

K

espaço

livre

Terra

σ

σ −

=

=

= ⋅

Cálculo dos campos elétrico e magnético no espaço de trabalho e UPML (Eqs. de

Maxwell discretizadas), obedecendo as

condições de contorno do sistema de aterramento

Cálculo do campo magnético próximo aos condutores (técnica de fio

fino)

Cálculo da tensão, corrente e resistência

transitórias

n nt=Não

Sim

Ler valores nos arquivos de saída e plotargráfico

FIM

FLUXOGRAMA PARA CÁLCULO DA TENSÃO, CORRENTE E TGR

( ) ( ) ,max/m

x xx x dσ σ=

( ) ( )( ),max1 1 /m

x xK x k x d= + −

INICIAR

Define as condições iniciais de operação

Inicialização dos vetores E e H

Determina K e σ

Meio absorvente

Não

Sim

Inicio do loop do tempo

n = 1, 2,...., nt

3

1

0

2.28 10

( )

K

espaço

livre

Terra

σ

σ −

=

=

= ⋅

Cálculo dos campos elétrico e magnético no espaço de trabalho e UPML (Eqs. de

Maxwell discretizadas), obedecendo as

condições de contorno do sistema de aterramento

Cálculo do campo magnético próximo aos condutores (técnica de fio

fino)

Cálculo da tensão, corrente e resistência

transitórias

n nt=Não

Sim

Ler valores nos arquivos de saída e plotargráfico

FIM

FLUXOGRAMA PARA CÁLCULO DA TENSÃO, CORRENTE E TGR

( ) ( ) ,max/m

x xx x dσ σ=

( ) ( )( ),max1 1 /m

x xK x k x d= + −

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87

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Nostrand, London, 1961.

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Maxwell´s equations in isotropic media” IEEE Trans. Antennas and Propagation,

Vol. 14, 1966, pp. 302-307.

[3] M. N.O. Sadiku, Numerical Technics in Electromagnetics. CRC press, New York,

2001.

[4] G. D. Smith, Numerical Solution of Partial Differencial Equations: Finite

Difference Methods, 3rd ed., Oxford Univ. Press, New York, 1985.

[5] A. Taflove and S.C. Hagness: Computational electrodynamics: The finite-

difference time-domain Method, Artech house,inc., Boston, 2000.

[6] K. S. Kunz and R. J. Luebbers: Finite difference time domain method for

electromagnetics. CRC press, New York, 1993.

[7] R. Courant, K. O. Friedrichs, and H. Lewy, “Uber die partiellen differenz-

gleichungen der mathematischen physik”, Mathematische Annalen, Vol. 100, p.p

32-74, 1928.

[8] K. R. Umashankar, A. Taflove and B. Beker, “Calculation and experimental

validation of induced currents on coupled wires in an arbitrary shaped cavity“,

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[9] T. Noda, S. Yokoyama, “Thin wire representation in finite difference time domain

surge simulation”, IEEE Transaction on Power Delivery, Vol 17, No. 3, 2002.

[10] Y. Baba, N. Nagaoka, A. Ametani, “Modeling of thin wires in a lossy medium for

FDTD simulations”. IEEE Transactions on Electromagnetics Compatibility,

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[11] S. D. Gedney, “An anisotropic perfectly matched layer absorbing media for the

truncation of FDTD lattices,” IEEE Trans. Antennas and Propagation, Vol. 44, pp.

1630-1639, 1996.

[12] D. Spector, Building Linux Clusters, O´Reilly & Associates, USA 2000.

[13] F. P. Gregory, In Search of Clusters, the ongoing battle in lowly parallel

computing. Prentice Hall, second edition, 1998.

[14] C. J. Gonçalves, Ambientes de desenvolvimento de aplicações paralelas. Faculdade

de Ciência e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, 2000.

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[15] J. S. Araújo, R. O. Santos, C. L. S. S. Sobrinho, J. M. Rocha, R. Y. Kawasaki,

“Análise de antenas por FDTD utilizando processamento paralelo”, Anais do X

SBMO, Recife-PE, pp. 111-115, 2002.

[16] I. T. Foster, Designing and building a parallel programs: Concepts and tools for

parallel software. New York Addison, Wesley Publish Co, 1995.

[17] A. Tanenbaun, Network computers. Prentice-Hall , 2º edição 1989.

[18] G. Andrews, Foundations of multithreaded, parallel and distributed programming,

Addison Wesley, 2000.

[19] M. Snir, S. Otto, H. Steven, MPI: The complete reference. The MIT Press,

Massachusetts, 1996.

[20] R. M. S. de Oliveira, R. O. Santos, C. L. S. Sobrinho, “Numerical scattering

analysis in indoor and outdoor environments by applying FDTD method”

International Microwave and optoelectronics Conference, Iguazu Falls, 2003.

[21] K. Tanabe, “Novel method for analyzing the transient behavior of grounding

systems based on the finite-difference time-domain method” CRIEPI, Tokio, 2001.

[22] M. B. Stout, Curso básico de medidas elétricas. EDUSP, São Paulo, 1974.

[23] J. A. N. G. Manzano, Estudo dirigido de fortran, Ed. Érica, 2003.

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89

4.0 Resultados

Serão mostradas neste capítulo, curvas obtidas através de simulações, que traduzem o

comportamento transitório e estacionário de vários arranjos de sistemas de aterramento. Em

uma primeira etapa, serão utilizados eletrodos de dimensões não convencionais e em uma

segunda etapa eletrodos de dimensões convencionais ou comerciais. No primeiro caso, os

eletrodos foram empregados por serem mais adequados para utilização da metodologia FDTD

em função de suas dimensões coincidirem com as dimensões das células de Yee, e os

resultados obtidos se reverterem de grande importância na comparação com dados

experimentais, obtidos na literatura [1]. Na segunda etapa são utilizadas hastes convencionais

de dimensões reduzidas em relação a célula de Yee, sendo necessária, para esses casos, a

aplicação de técnicas adequadas de fios finos para meios condutivos.

4.1 Resultados Obtidos para TGR, Tensão e Corrente em eletrodos de aterramento não

convencionais

Neste caso, considera-se não convencionais os eletrodos cujas seções transversais são

maiores que aquelas apresentadas por eletrodos comerciais, normalmente utilizados em

sistemas de aterramento.

Em todas as simulações, procurou-se destacar os valores de resposta da TGR, tensão e

corrente, parâmetros estes considerados de grande importância na análise do comportamento

transitório e estacionário de sistemas de aterramento, para efeito de proteção de equipamentos

e do ser humano.

4.1.1 Aterramento com eletrodo único

A simulação do comportamento transitório de sistemas de aterramento excitados por

pulsos de corrente para uma única haste, teve como objetivo principal a análise dos valores de

corrente, tensão e TGR, obtidos durante os períodos transitório e estacionário. Para isso,

modelou-se tal sistema, usando-se um eletrodo de aterramento (ET) ligado ao circuito de

injeção de corrente. A medição do potencial é feita através de um condutor, o qual é aterrado

a 50 m do ET, seguindo sobre a superfície da terra a uma altura de 1,5 m até a distância de

uma célula do ET, onde é feita a medição do potencial. Observa-se na Fig. 3.9, do capítulo 3,

que o domínio computacional de análise é dividido em 10 subdomínios e, então, a técnica de

processamento paralelo, é aplicada [2]. A Figura 4.1 mostra a disposição dos componentes do

circuito de corrente e do sistema de aterramento no ambiente computacional.

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90

Fig. 4.1 Sistema de aterramento visto no plano Z-Y com um eletrodo de aterramento e circuito de corrente.

O circuito de corrente utilizado nesta simulação, foi detalhado na seção 3.3 do capítulo

3 e não deverá sofrer alterações nas demais simulações, a não ser quanto ao número de hastes

utilizadas.

A figura 4.2 apresenta uma vista mais detalhada da fonte de tensão (gerador de pulso),

resistência, eletrodo principal e segmentos de interligação, bem como as dimensões em

termos de células utilizadas na montagem desses componentes [1]. Como foi citada na seção

3.3, a medição de corrente é feita em relação ao segmento metálico localizado entre o gerador

de pulso e a haste de aterramento [3] e [4].

Fig. 4.2 Trecho do circuito de corrente constituído por eletrodo principal, fonte de tensão e resistência.

Eletrodo remoto de corrente

20 m

Eletrodo de aterramento sob teste

Espaço livre

terra

Z

Y

1 m

1.5 m

3 m

Linha de corrente

Eletrodo remoto de corrente

20 m

Eletrodo de aterramento sob teste

Espaço livre

terra

Z

Y

Eletrodo remoto de corrente

20 m

Eletrodo de aterramento sob teste

Espaço livre

terra

Z

Y

1 m

1.5 m

3 m

Linha de corrente

Resistência

Gerador de impulso

Medição de corrente

3 m

12 cel.

Terra

Espaço livre

1 cel.

1 cel.

1 cel.

1 cel.

Resistência

Gerador de impulso

Medição de corrente

3 m

12 cel.

Terra

Espaço livre

1 cel.

1 cel.

1 cel.

1 cel.

Gerador de pulso

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91

O circuito de potencial para o caso em questão, foi também detalhado na seção 3.3. A

Figura 4.3 mostra um corte no plano X-Z onde se observa o ponto de medição de potencial no

eletrodo de aterramento. A célula localizada acima de uma das arestas do eletrodo é o ponto

de medição escolhido. A leitura do potencial é feita tendo como referência o potencial zero

obtido com auxílio a) do eletrodo remoto de potencial distante 50 m do ponto de medição e b)

dos barramentos auxiliares [5,6].

Fig. 4.3 Sistema de aterramento visto no plano Z-X mostrando o circuito de potencial de referência.

Para o presente arranjo de simulação, o potencial elétrico transitório foi medido na

célula de índice (111,110,80), conforme mostrado em (4.1) [1], onde n é o número de

iterações.

( ) ( ) zEnV z ∆−= 80,110,111 (4.1)

O pulso de corrente, injetado no eletrodo de aterramento, foi calculado usando-se a lei

circuital de Ampère [1,7] , resultando em:

( ) ( ) ( ) ( ) ( )110,109,80 110,110,80 109,110,80 110,110,80x x y yI n H H x H H y = − ∆ + − + ∆ (4.2)

O cálculo da TGR é feito a partir da relação entre os valores obtidos em (4.1) e (4.2),

conforme mostrado em (3.71).

Os resultados da simulação em termos de corrente, tensão e resistência de aterramento

transitória, juntamente com os resultados experimentais obtidos em [1], são mostrados na

Figura 4.4. Nos resultados simulados, é importante observar que, utilizando metodologia

distinta no que se refere à forma de processamento, tipo de paredes absorventes e condições

Eletrodo remoto de potencial

50 m

Espaço livre

Terra

X

Z

Medição de potencial

Eletrodoprincipal

Eletrodo remoto de potencial

50 m

Espaço livre

Terra

X

Z

X

Z

X

Z

Medição de potencial

Eletrodoprincipal

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92

gerais de contorno, os resultados são bastante coerentes com aqueles obtidos

experimentalmente e através da simulação em [1].

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

Simulação

TGR experimental [1]

Tensão experimental [1]

Tensão

Corrente

TGR

Valores transitórios para tensão, corrente e TGR

Tensão

Corrente

TGR

Corrente

(A

)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Corrente experimental [1]

Fig. 4.4 Resultados simulados e experimentais para um eletrodo.

A comparação com resultados experimentais conduz à validação do código

computacional desenvolvido neste trabalho, dentro das técnicas FDTD, habilitando-o a novas

prospecções visando a solução de problemas críticos em sistemas de aterramento.

4.1.2 Análise da influência do comprimento do eletrodo de aterramento sobre o

potencial, corrente e TGR

Utilizando o mesmo circuito de excitação da seção anterior, analisou-se o

comportamento transitório do potencial, corrente e TGR, para um eletrodo vertical longo.

Para isso, o critério adotado foi o aumento gradativo do eletrodo de 3 em 3 m, chegando-se a

um tamanho máximo de eletrodo de 12 m, de acordo com a Figura 4.5.

Existem situações práticas em que dependendo dos valores de resistividade nas

diversas camadas de um solo estratificado, opta-se por hastes de comprimento maior que o

convencional, a fim de obter-se valores de resistência de aterramento compatíveis com as

exigidas no projeto, a um menor custo [8]. Os resultados obtidos para TGR, tensão e corrente,

considerando os diferentes comprimentos das hastes, são mostrados na Fig. 4.6.

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93

Fig. 4.5 Eletrodo vertical longo

Uma observação importante nesta simulação, é que durante parte do período

transitório, as formas de onda para TGR são coincidentes para partes comuns em diversos

comprimentos de hastes, conforme mostrado na Figura 4.7. Estas informações são

importantes, pois mostram que, dentro da técnica FDTD, as ondas se propagam com

velocidades constantes ao longo dos eletrodos independentemente do comprimento dos

mesmos, conforme mostrado na Tabela 4.1. As oscilações observadas nas curvas de TGR,

tensão e corrente, devem-se ao efeito capacitivo nas várias freqüências que compõem o sinal

de excitação no período transitório, reflexões múltiplas sucessivas na interface terra e espaço-

livre e pelas difrações que ocorrem na extremidade do eletrodo.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

Tensão

Corrente

TGR

Corr

ente

(A)

Tensão (V), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

haste3m

haste6m

haste9m

haste12m

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Fig. 4.6 Respostas de tensão, corrente e TGR transitórios para diversos comprimentos de haste.

Eletrodo remoto de corrente

20 m

Espaço livre

Terra

Z

Y

12 mEletrodo remoto de corrente

20 m

Espaço livre

Terra

Z

Y

12 m

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94

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7

0

10

20

30

40

50

60

70

haste 3m

haste 6m

haste 9m

haste 12m

TG

R (ohm

s)

Tempo µs

Fig. 4.7 Comportamento transitório da TGR em haste de comprimento variável

Tabela 4.1 – Coincidência no comportamento transitório das curvas TGR em determinados períodos transitórios para diversos comprimentos de haste.

Período transitório (µµµµs) Comprimentos de haste Situação

0 a 0.16 3m, 6m, 9m e 12m Curvas coincidentes

0 a 0,32 6m, 9m, 12m “

0 a 0,48 9m e 12m “

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

15

20

25

30

35

40

45

50

55

TGR x COMPRIMENTO DO ELETRODO VERTICAL DE ATERRAMENTO

TG

R (O

hm

)

Comprimento do eletrodo de aterramento (m)

Fig. 4.8 Comportamento dos valores estabilizados da TGR em função do comprimento da

haste

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95

O gráfico da Figura 4.8 mostra o comportamento dos valores estabilizados da TGR

após a excitação de tensão, em função dos comprimentos das hastes. Observa-se nesta curva,

que a TGR diminui à medida que o comprimento do eletrodo aumenta, tendendo a uma

saturação. Vale ressaltar que esta curva é de grande importância na avaliação de projetos de

sistemas de aterramento utilizando hastes longas.

4.1.3 Análise da influência de eletrodos de terra paralelos sobre o potencial, corrente e

TGR.

Nesta seção, apresentam-se os resultados obtidos para o potencial, corrente e TGR,

considerando-se eletrodos de terra associados em paralelo. Em uma primeira etapa, analisa-se

o sistema constituído de dois eletrodos e, em seguida, quatro eletrodos são considerados. Em

todos os casos, os eletrodos têm 3m de comprimento, estão afastados de igual distância e as

características da terra são as mesmas, consideradas no caso anterior. O primeiro caso é

mostrado na Figura 4.9 e os resultados, para os parâmetros de interesse, são apresentados na

Figura 4.10. Como era de se esperar, a TGR apresenta um comportamento com oscilações

mais suaves, quando em comparação com resultados obtidos para um único eletrodo

(Figura 4.4). Para o caso atual, observa-se uma redução considerável no valor de pico inicial

da TGR, passando para 16.45 Ω, no período de 0 a 0.06 µs, com ligeira queda até 0.2 µs,

crescendo seu valor em seguida, até atingir o valor máximo aproximado de 35 Ω no tempo de

0.55 µs. No período de regime obteve-se uma redução nos valores da TGR e tensão, atingindo

valores em torno de 34 Ω e -19 Volts, respectivamente. O valor da corrente teve um

acréscimo de 0.04 Ampères. Vale ressaltar que o valor da TGR, em regime, está de acordo

com a conhecida condição de paralelismo [9] e [10].

Fig. 4.9 Sistema de aterramento com duas hastes

50 m

Espaço livre

Terra

Z

X

3 m

3 m

Circuito de corrente

Circuito de tensão

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96

11 2 2

hastehaste hastes

RR R> >

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Corr

ente

(A)

Tensão (V

), T

GR

(O

hm

)

Tempo(µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

V 1hasteV 2haste

I 2hasteI 1haste

TGR 2haste

TGR 1haste

Fig. 4.10 Comparação dos valores de TGR, corrente e tensão para sistemas com uma e duas hastes, respectivamente. O segundo caso é apresentado na Figura 4.11. Pode-se observar a forma como os

eletrodos foram associados e a disposição relativa dos circuitos de potencial e de corrente. Os

resultados relativos são apresentados na Figura 4.12 Nesta figura, as curvas para a TGR,

tensão e corrente transitórias, são mostradas em função do tempo, onde se observa um efeito

atenuador significativo para a TGR, no intervalo de 0 a 0.06µs, quando comparado com os

resultados correspondentes para um único eletrodo de 12m de comprimento, conforme

mostrado na Figura 4.6. Já na condição de regime, para a associação em paralelo, a TGR

assume valor maior que aquele obtido para o eletrodo de 12m.

Fig. 4.11 Sistema de aterramento com quatro eletrodos em linha

50 m

Espaço livre

Terra

Z

3 m

Circuito de corrente

3 m3 m

50 m

Espaço livre

Terra

Z

3 m3 m

Circuito de corrente

3 m3 m3 m3 m

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97

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Corrente

(A)

TGR

Tensão

Tensão(V

), T

GR

(Ohm

)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Corrente

Fig. 4.12 Curvas TGR, tensão e corrente para sistema de aterramento com 4 hastes em linha

Os resultados obtidos para os dois casos analisados, sugerem uma performance melhor

para as hastes paralelas na atenuação da TGR no período transitório. Para maior atenuação no

período de regime, a utilização da haste vertical longa se torna mais adequada.

4.1.4 Estudo do comportamento transitório para o potencial, corrente e TGR para

uma malha quadrada com 16 eletrodos

Para o sistema de aterramento com 16 hastes, mostrado na Fig. 4.13, observam-se as

conexões dos circuitos de corrente e de tensão no plano X-Y.

Fig. 4.13 Sistema de aterramento com 16 hastes em formato quadrado cheio (plano XY)

Circuito de tensão

Circuito de corrente

3 m

3 m

Y

X

Circuito de tensão

Circuito de corrente

3 m

3 m

Circuito de tensão

Circuito de corrente

3 m

3 m

Circuito de corrente

3 m

3 m

Y

X

Y

X

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98

Neste caso, os eletrodos têm comprimento de 3m e estão afastados da mesma

distância. A terra é considerada homogênea e com os mesmos parâmetros usados na seção

4.1.1. Os resultados para TGR, tensão e corrente são mostrados na Figura 4.14, onde se

observa que a TGR teve o seu valor, em regime, reduzido para aproximadamente 9 Ω. No

período transitório, observa-se uma expressiva atenuação nas oscilações das curvas

consideradas em relação aos sistemas analisados anteriormente.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0-20

-10

0

10

20

Corrente

(A)

TGR

Tensão

Tensão(V

), T

GR

(V)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Corrente

Fig. 4.14 Curvas TGR, tensão e corrente para sistema de aterramento com 16 hastes

4.1.5 Estudo do comportamento transitório para o potencial, corrente e TGR para

uma malha quadrada com 25 eletrodos

No sistema de aterramento com 25 hastes, mostrado nas Figuras 4.15 e 4.16, observa-

se no plano X-Z e X-Y as conexões com os circuitos de corrente e de tensão. A captação de

tensão será feita em um dos lados da malha, conforme mostrado na Figura 4.15. A injeção de

corrente, mostrado na Figura 4.16, é feita na haste central para possibilitar a simetria do

processo

Fig. 4.15 Sistema de aterramento com 25 hastes em formato quadrado cheio. Vista no plano

X-Z

X

Z

X

Z

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99

Fig. 4.16 Sistema de aterramento com 25 hastes em formato quadrado cheio. Vista no plano X-Y

O gráfico da Figura 4.17 mostra as curvas TGR, tensão e corrente, onde a resistência

de aterramento é de aproximadamente 5.8 Ω em regime estacionário. No período transitório,

observa-se uma considerável atenuação nas oscilações das curvas TGR, tensão e corrente, em

relação aos sistemas com menor número de hastes, analisados neste trabalho.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10 TGR

Tensão

Corr

ente

(A

)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Corrente

Fig. 4.17 Curvas TGR, tensão e corrente para sistema de aterramento com 25 hastes

Analisando a malha de 25 hastes, em formato quadrado cheio, observa-se, em regime

estacionário, uma redução ainda maior do valor da TGR que atinge 5.8 Ω. No período

Circuito de corrente

Circuito de tensão

3 m

3 m

X

Y

Circuito de corrente

Circuito de tensão

3 m

3 m

Circuito de corrente

Circuito de tensão

3 m

Circuito de corrente

Circuito de tensão

3 m

3 m

X

Y

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100

transitório, as atenuações dos picos da TGR e tensão, são mais evidentes quando comparado

com a malha de 16 hastes.

4.1.6 Estudo do comportamento transitório para o potencial, corrente e TGR para um

eletrodo em solo estratificado

Para o solo estratificado mostrado na Figura 4.18, a primeira camada tem espessura de

2m, o eletrodo de aterramento tem comprimento de 3m e a primeira e a segunda camada têm

inicialmente resistividades de 438 e 146 Ω.m e permissividades elétricas relativas iguais a 50

e 55, respectivamente. Em uma segunda análise, os valores acima são trocados, ou seja: para a

primeira camada são usados os parâmetros 146 Ω.m e 55 e, para a segunda têm-se 438 Ω.m e

50. Para os dois casos, as curvas para a TGR, tensão e corrente são mostradas na Figura 4.19.

Fig. 4.18 Haste de aterramento em solo estratificado de duas camadas

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

-20

0

20

40

60

80

ρ1>ρ

2

ρ1<ρ

2

Corr

ente

(A

)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Time (µs)

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

TGR

Tensão

Corrente

Fig. 4.19 Curvas TGR, tensão e corrente para sistema de aterramento com uma haste em solo

estratificado em duas camadas (ρ1>ρ2 e ρ1<ρ2)

ρ1 = 438 Ω.m

ρ2 = 146 Ω.m∞εr = 55

εr = 502 m

1 m

Espaço livre

Terra

ρ1 = 438 Ω.m

ρ2 = 146 Ω.m∞εr = 55

εr = 502 m

1 m

Espaço livre

Terra

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101

Na Figura 4.19, pode-se observar, para ambos os casos, que houve uma redução no

valor da TGR, quando comparado com o obtido para o solo homogêneo (Figura 4.4). Pode-se

observar, também, que houve um aumento nas oscilações transitórias, podendo ser explicado

pelas reflexões múltiplas ocorrentes entre as interfaces de separação para meios diferentes.

4.1.7 Influência da desconexão de uma haste em um sistema de aterramento que

contempla duas hastes

Em sistemas de aterramento industrial ou de geração e transmissão de energia, ao

longo do tempo, é possível ocorrer falhas elétricas as quais possam ser originadas nos

sistemas de aterramento. Muitas vezes, essas anomalias são causadas por conexões deficientes

dos cabos condutores com as hastes de aterramento sob a superfície da terra; em outros casos,

roubos de cabos e hastes de cobre podem acontecer, alterando os parâmetros originais de

projeto da malha de terra. É de suma importância aos usuários de plantas que utilizam grandes

sistemas de aterramento, os quais são vitais na proteção de seus equipamentos mais sensíveis,

que mantivessem em arquivo, o perfil ou registro do comportamento transitório de sua malha

de terra, obtido no período de comissionamento. Esse perfil, coletado na instalação da malha

de terra, serviria de padrão de comparação ou assinatura para futuras observações preditivas

do estado físico da malha de terra. A Figura 4.20 exemplifica um caso de desconexão de

haste.

Fig. 4.20 Malha de aterramento com duas hastes: a) conexão normal b) com uma haste desconectada.

M ed iç ão d e tensã o e m trê s cé lu las

a ) H aste c o ne c ta d a b ) H a ste d e sc o ne c tad a

M ed iç ão d e tensã o e m trê s cé lu las

a ) H aste c o ne c ta d a b ) H a ste d e sc o ne c tad a

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102

No exemplo aqui apresentado, utilizando técnica FDTD em uma malha de aterramento

de duas hastes, procurou-se verificar o comportamento da referida malha, quando da

desconexão de uma das hastes do sistema de aterramento, conforme mostrado na Figura 4.20.

Para o caso em questão, aprofundou-se a malha de duas células ou 50 cm, o que corresponde a

uma situação comumente encontrada na prática [11].

Os resultados apresentados na Figura. 4.21, mostram o comportamento da TGR,

tensão e corrente, para as situações definidas na Figura 4.20, e para o caso de uma haste

isolada. (analisada na Figura 4.4). Desses resultados, observa-se que, com a desconexão de

um dos eletrodos, a TGR apresentou valores bem superiores daqueles registrados para duas

hastes, no entanto, alguns ohms menor que a TGR para uma haste isolada. Isso demonstra, a

influência que uma haste, mesmo desconectada, exerce sobre o valor total da TGR em um

sistema de aterramento. Programas baseados na metodologia FDTD são capazes de detectar

anomalias em sistemas de aterramento. É possível inclusive, com auxílio de programas

inteligentes com rede neurais, determinar a localização do ponto de falha, através da

comparação de curvas padrões obtidas em simulação com aquelas obtidas em campo pela

injeção de corrente na malha.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

Tensão

Corrente

TGR

2 Hastes

2 Hastes/1 solta

1 Haste

Corrente

(A

)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Tempo µs

-1.2

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

Fig. 4.21 Curvas para TGR, corrente e tensão, resultantes de simulação em sistema de aterramento com duas hastes conectadas, duas hastes porém uma desconectada e uma haste.

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103

4.1.8 Modelagem do potencial na análise do comportamento transitório dos sistemas de

aterramento usando uma haste

Os experimentos e simulações realizados nas seções anteriores, utilizaram eletrodo

remoto de potencial e barramento horizontal de referência para obtenção da diferença de

potencial desenvolvida na terra com a passagem da corrente impulsiva. A nova modelagem

proposta, citada no capítulo 3 seção 3.3, visa a eliminação dos componentes citados, ou seja,

eletrodo e barramento, sendo a coleta de tensão obtida através de caminhos pré-estabelecidos

no espaço livre, interface e meio condutivo (terra). Nesta fase das simulações, o circuito de

corrente permaneceu inalterado, ou seja, manteve-se os componentes do circuito auxiliar de

corrente.

Em função do sentido de integração adotado, mais precisamente, do eletrodo ao

infinito (ponto localizado a 50m do eletrodo com potencial considerado de valor zero), tem-

se:

∫−=∆ ldEV . . (4.4)

Considerando o ponto A próximo a haste e o ponto B suficientemente distante do

ponto A, tem-se de forma aproximada a seguinte equação;

.B

B AA

V V E dl− = −∫

. (4.5)

Sendo VB =0 , o potencial no ponto A pode ser aproximado por

.B

AA

V E dl= ∫

. (4.6)

Os resultados a serem mostrados na seção seguinte, evidenciam a diferença que pode

ser observada no comportamento das curvas de TGR, tensão e corrente, quando a coleta de

potencial é feita através da modelagem citada acima. Simulações foram realizadas integrando

o campo elétrico em relação ao percurso utilizado, tendo como meio o espaço livre e a terra.

É importante ressaltar que a presença de dois meios com características elétricas

diferentes (ε1 e ε2), evidencia a descontinuidade de uma região a ser analisada. Sobre a

interface que define a região de contorno, a implementação direta dos valores destas

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104

permissividades nas equações escritas para um meio uniforme, pode reproduzir efeitos de

dispersão numérica. Estes efeitos são mais acentuados quanto maior for a diferença entre ε1 e

ε2. Para essas situações, o recomendado seria a utilização da média das permissividades nas

células localizadas na interface dos dois meios, conforme mostrado na Figura 4.21, para as

componentes de campo elétrico situadas no plano horizontal (X-Y). Foram obtidos alguns

resultados para TGR, tensão e corrente, nas condições citadas acima. Para as simulações

realizadas, a mediação foi feita entre os valores da permissividade no espaço livre εo e terra

εterra.

Fig. 4.22 Mediação das permissividades em células da interface espaço livre e terra

4.1.8.1 Integração do potencial através de caminhos no espaço livre

Conforme mostra a Figura 4.23, foram escolhidos alguns caminhos de integração no

espaço livre para determinação do potencial desenvolvido durante a incidência do surto de

corrente.

Fig. 4.23 Medição do potencial através de integração no espaço livre

Kht+6

Kht+5

Kht+4

Kht+3

Kht+2

Kht+1

kht

Terra

Espaço

livre

Subdom5Subdom4 Subdom6 Subdom7

Kht+6

Kht+5

Kht+4

Kht+3

Kht+2

Kht+1

kht

Terra

Espaço

livre

Subdom5Subdom4 Subdom6 Subdom7

εo

εterra

(εo + εterra)/2

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105

Os resultados da simulação são mostrados na Figura 4.24, para os caminhos

posicionados nas cotas kht+2, kht+3, kht+4 e kht+6, sendo kht a cota do nível do solo,

observa-se poucas mudanças nos valores da TGR e tensão nos períodos transitório e de

regime.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

TGRP2M(kht+5)

TGRP2M(kht+4)

Tensão(kht+2)

TGRP2M(kht+2)

TGRP2M(kht+6)

Corrente

(A

)

Tensão (V), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Tensão(kht+5)Corrente(kht+6)

Corrente(kht+4)

Tensão(kht+4)

Corrente(kht+2)

Tensão(kht+3)

Tensão(kht+6)

Corrente(kht+5)

Corrente(kht+3)

TGRP2M(kht+3)

Fig. 4.24 Resultados para TGR, tensão e corrente considerando a média das permissividades para as componentes tangenciais dos campos na interface As Figuras 4.25 e 4.26 mostram as curvas detalhadas no período de 0-0.2 µs para as situações sem e com média da permissividade.

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Corrente

(A

)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Corrente (kht+2)

Tensão (kht+2)

TGR(kht+2

Tensão (kht+6)

Corrente (kht+6)

TGR(kht+6)

Tensão (kht+3)

Corrente (kht+1)

TGR(kht+1)

TGR(kht+3)

Corrente (kht+3)

Tensão (kht+1)

Fig. 4.25 Diagrama mostrando TGR, tensão e corrente sem média de permissividade

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106

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

TGR(kht+5)

TGR(kht+4)

Tensão(kht+2)

TGR(kht+2)

TGR(kht+6)

Corr

ente

(A

)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Tensão(kht+5)Corrente(kht+6)

Corrente(kht+4)

Tensão(kht+4)

Corrente(kht+2)

Tensão(kht+3)

Tensão(kht+6)

Corrente(kht+5)

Corrente(kht+3)

TGR(kht+3)

Fig. 4.26. Diagrama mostrando TGR, tensão e corrente, com média de permissividade

A conclusão que se tira na análise do percurso de potencial no espaço livre com e sem

média de permissividade, é que, no período transitório entre 0 e 0.1 µs, não são observadas

grandes mudanças, a não ser um pequeno amortecimento nos valores de TGR e de tensão,

principalmente na cota kht+6 quando se usa a média da permissividade. Também no período

de regime há uma melhor convergência nos valores de TGR e tensão para os diversos

caminhos, iniciando no instante de 0.13 µs.

Quando a coleta de potencial é feita através do espaço livre, a resistência obtida, na

fase de estabilização ou regime, tem valor bastante aproximado ao valor obtido através de

fórmulas analíticas utilizadas na literatura, conforme demonstrado a seguir. A especificação

da haste de aterramento e as características do solo utilizados na simulação, são as seguinte:

Squadrado = 0.5 x 0.5 = 0.25 m2

Comprimento: 3 m

Condutividade do solo: 2.28 x 10-3 Siemens/m

Resistividade do solo: 438.59 Ω.m

Considerando a área quadrada, deve-se calcular o diâmetro equivalente.

2

2quadrado circulo

dS S π

= =

(4.7)

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107

2 0.564quadradoSd m

π= × = (4.8)

Utilizando-se fórmulas da literatura [12,13] para determinação da resistência de

aterramento de uma haste, tem-se:

2ln

2T

lR Tagg

l r

ρπ =

(4.9)

4ln 1

2

LR Sunde

L r

ρπ

= −

(4.10)

onde: ρ = Resistividade Ω.m L = Comprimento da haste r = raio da haste 71.14TAGGR = Ω

64SUNDER = Ω

. 70.51SIMULR = Ω

O resultado para resistência de aterramento em regime obtido por Tanabe

experimentalmente e através de simulação utilizando o protótipo convencional onde são

introduzidos os circuitos auxiliares para medição de potencial, tem seu valor aproximado

mostrado abaixo

55.00TANABER ≈ Ω .

Entende-se que as experiências levadas a efeito por Tanabe, serviram para validar o

modelo computacional elaborado dentro da técnica FDTD, porém o protótipo utilizado para

medição da TGR, tensão e corrente, propiciam a obtenção de valores apenas aproximados

para um determinado tipo de solo.

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108

4.1.8.2 Integração do potencial através de caminhos no meio condutivo (terra)

Nesta etapa, foi realizada simulação considerando o caminho de integração pela terra.

Para isso foram escolhidos alguns caminhos conforme mostrado na Figura 4.27.

Fig. 4.27 Medição do potencial através de integração no meio condutivo terra

A Figura 4.28 apresenta as curvas TGR e tensão, referentes à integração do potencial através

dos caminhos kht, kht-2 e kht-6 na terra comparando-as com as curvas obtidas no espaço livre

para kht+3 e kht+6. A TGR sofre uma queda superior a dez ohms quando a integração passa

do espaço livre para terra. A parte transitória, também acompanha uma razoável atenuação,

principalmente nos instantes iniciais, visto na figura abaixo.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Tensão(Kht-6)_Terra

TGR(Kht-6)_Terra

TGR(Kht)_Terra

Tensão(Kht)_TerraTensão(Kht-2)_Terra

TGR(Kht-2)_Terra

TGR(kht+6)_EspLivre

Corrente

(A)

Tensão (V), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Corrente(Kht-6)_EspLivre

Corrente(Kht-2)_EspLivre

Corrente(Kht+6)_EspLivreCorrente(Kht+3)_EspLivre

Tensão(kht+6)_EspLivre

Tensão(kht+3)_EspLivre

TGR(kht+3)_EspLivre

Fig. 4.28 Resultado da TGR, tensão e corrente aplicando a integração do campo em vários

percursos na terra e no espaço livre.

Kht-1

Kht-2

Kht-3

Kht-4

Kht-5

Kht-6

Terra

Espaço

livre

Subdom5Subdom4 Subdom6 Subdom7

Kht

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109

A Figura 4.29 detalha as curvas acima no período de tempo 0-0.2 µs, onde pode ser melhor observada a atenuação na curva representativa da TGR.

0.00 0.05 0.10 0.15 0.20

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Tensão(Kht-2)_Terra

TGR(Kht-6)_Terra

Tensão(Kht-6)_Terra

TGR(Kht)_Terra

Tensão(Kht)_Terra

TGR(Kht-2)_Terra

Corrente

(A)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Tensão(Kht+3)_EspLivre

TGR(Kht+6)_EspLivre

TGR(Kht+3)_EspLivre

Tensão(Kht+6)_EspLivre

Fig. 4.29 Curva representativa da TGR, tensão e corrente no intervalo de 0 a 0.2 µs

As figs. 4.28 e 4.29 acima, mostram a diferença nas curvas de Tensão e TGR, quando

o caminho de integração é pelo espaço livre ou terra. A TGR sofre uma queda superior a dez

ohms quando referido caminho passa do espaço livre para terra na estabilização. A parte

transitória também acompanha uma razoável atenuação, principalmente nos instantes iniciais,

conforme mostrado na Figura 2.28 do capítulo 2, [14].

Uma explicação que pode ser dada para o caso em questão, é que, quando as ondas de

tensão ou corrente são aplicadas em condutores enterrados no solo, a onda eletromagnética

correspondente propaga-se ao longo do condutor. Este sistema opera como uma linha de

transmissão envolvida em um meio com perdas. Enquanto a onda se propaga, perdas de

energia, promovem uma atenuação na sua amplitude. Por outro lado, os componentes de

freqüência da onda, apresentam diferentes velocidades de propagação e são submetidas a

diferentes níveis de atenuação. Tais atenuações aumentam com a freqüência e com a

condutividade do solo, da mesma forma que a perdas de energia. Em suma, as ondas de tensão

e corrente que se propagam ao longo dos eletrodos no solo, têm suas amplitudes atenuadas e

estão também submetidas a distorções ao longo da direção de propagação com diminuição da

inclinação da frente de onda.

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110

Neste trabalho, optou-se pelo caminho de integração, que se inicia na superfície da terra

e integra ao longo do percurso situado a três células acima da terra, ou seja, no espaço livre,

que representa a situação mais desfavorável no aterramento de um equipamento ou quando o

indivíduo é submetido a tensão de toque.

4.2 Resultados obtidos para TGR, Tensão e Corrente em eletrodos de aterramento

convencionais (comerciais)

Os ensaios de simulação apresentados nas seções anteriores, foram realizados em

malhas de aterramento com eletrodos de dimensões ampliadas para efeito de comparação de

resultados com trabalhos existentes na literatura [1,14]. Nesses casos, as dimensões físicas do

eletrodo principal são coincidentes com as dimensões das células de Yee inseridas no

programa de cálculo da TGR, facilitando inclusive os cálculos de atualização dos campos

eletromagnéticos. Esta concepção inicial tinha como objetivo, reduzir o tamanho da malha

que seria necessária, caso uma haste convencional fosse considerada. Entretanto, é importante

salientar, que a metodologia FDTD, através das técnicas de fio fino, mostradas no capitulo 3,

possibilita a simulação de problemas em malhas de terra que utilizam hastes de dimensões

comerciais. No mesmo ambiente de ensaio, introduziu-se uma haste comercial de

comprimento 3 m, diâmetro 20 mm, conectada aos circuitos de corrente e potencial. Nas

simulações que se seguem, tanto o circuito de potencial quanto o circuito de corrente para

excitação da haste de aterramento, estão baseados no novo modelo descrito no capítulo 3,

seção 3.4. Com este procedimento, eliminam-se do ambiente de trabalho as hastes e

barramentos auxiliares dos circuitos de corrente e de potencial.

4.2.1 Simulação de eletrodo com diâmetros diferentes

Com o objetivo principal de observar a sensibilidade do método, quanto à utilização de

hastes de aterramento com diâmetros diferentes e de valores bastante inferiores a dimensão da

célula de Yee, foram realizadas simulações com hastes comerciais de 3m de comprimento, e

os parâmetros constitutivos do solo foram considerados invariáveis com a freqüência. A

condutividade do solo homogêneo foi de 2.28 x 10-3 S/m e a permissividade relativa 50. Na

simulação utilizou-se hastes com diâmetros de valor 10, 20, 25 e 50 mm. Na Figura 4.30 são

mostradas as curvas para TGR, tensão e corrente, obtidas no domínio do tempo.

No período transitório entre 0.1 e 0.2 µs, é observada uma rápida variação na curva de

corrente enquanto a TGR mantém-se nos valores de 54 e 56 Ω. Entre 0.2 e 0.8 µs, são

observadas tendências à estabilização da corrente e aumento na tensão desenvolvida no solo,

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111

conseqüentemente, a TGR também apresenta aumento no seu valor. As oscilações observadas

são conseqüência das reflexões múltiplas sucessivas na interface da terra e espaço livre e

difrações que ocorrem na extremidade do eletrodo.

O período de regime inicia aproximadamente no tempo de 0.8 µs e a impedância CC

atinge valores que são compatíveis com as equações teóricas (4.9) e (4.10), disponíveis na

literatura [12,13]. A tabela 4.2 mostra a diferença relativa entre valores analíticos e aqueles

obtidos com o modelo FDTD proposto.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2

-100

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Curvas para diferentes diâmetros de haste (10,20,25 and 50 mm)

condutividade = 2.28x10-3 e permissividade relativa = 50

Corr

ente

(A)

Tensão (V), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

TGR(d=50mm)

TGR(d=25mm)

Tensão(d=10mm)

TGR(d=20mm)

Tensão(d=50mm)

Corrente(d=50mm)

Corrente(d=10mm)

TGR(d=10mm)

Fig. 4.30 Curvas de TGR, tensão e corrente para diâmetros variáveis

Tabela 4.2 Diferença relativa (Req-Rsim)/Req entre a resistência CC calculada através de (4.9) e (4.10) e a resistência transitória obtida pelo uso de simulação em ambiente FDTD para diferentes diâmetros de haste.

Diam (mm)

FDTD (Ω)

Eq. (4.9) (Ω)

Dif. %

Eq. (4.10) (Ω)

Dif. %

10 159.39 164.97 3.38 157.83 -0.98 20 143.76 148.84 3.41 141.70 -1.45 25 138.68 143.65 3.45 136.51 -1.58 50 122.70 127.52 3.77 120.38 -1.58

A boa aproximação observada entre valores simulados e calculados para diâmetros

variados de hastes de aterramento em meio condutivo, apesar de refletir apenas a impedância

CC, é de grande importância na validação das técnicas de coleta do potencial, injeção e

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112

medição de corrente apresentadas neste trabalho. Os resultados obtidos servem também para

atestar o bom desempenho da nova metodologia para equacionamento da técnica de fio fino,

quando da presença de eletrodos em meio condutivo [16]. São importantes também na

verificação da sensibilidade de resposta a diferentes diâmetros do eletrodo de aterramento,

mantendo-se a célula da malha com as mesmas dimensões.

4.2.2 Verificação da influência da permissividade sobre TGR, tensão e corrente

Para estudo da influência da permissividade na TGR, tensão e corrente, usou-se uma

haste de aterramento com 20 mm de diâmetro. A Figura 4.31, mostra o comportamento

transitório das curvas TGR, tensão e corrente, para diferentes valores de permissividade

relativa (εr = 10, 20, 30, 40 e 50).

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2

-100

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

ε=10 ε=20 ε=30 ε=40 ε=50

Curvas para permissividade relat. (10,20,30,40 and 50)

condutividade = 2.28x10-3 e diâmetro 20 mm

Corr

ente

(A)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Tensão

Corrente

TGR

Fig. 4.31 Curvas de TGR, tensão e corrente para permissividades variáveis

Observa-se uma variação acentuada no valor da TGR, tensão e corrente, no período

transitório entre 0–0.6 µs, quando se varia a permissividade. O efeito reativo capacitivo na

terra provocado pelas correntes em freqüências mais elevadas, depende diretamente da

permissividade [17], conforme é mostrado pela equação (4.11).

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113

9104

18ln

rL

C FL

d

ε −=

(4.11)

Nas baixas freqüências ou período de estabilização da excitação, a capacitância se

torna desprezível e a permissividade não exerce qualquer influência no valor da resistência

CC de aterramento, conforme é observado nas expressões existentes na literatura para cálculo

dessas resistências e na Figura 4.30, comprovando a teoria relacionada (4.9) e (4.10).

4.2.3 Verificação da influência da condutividade sobre TGR, tensão e corrente

Para determinação da influência da condutividade na TGR, tensão e corrente, foi

utilizado um eletrodo de 20 mm de diâmetro em meios com diferentes condutividades, ou

seja, σ = 0.001, 0.003, 0.006 e 0.008 S/m, conforme mostrado na Figura 4.32. No período

transitório até 0.1 µs, não foram observadas alterações significantes na forma das curvas. A

alteração mais considerável nos valores de resistência e tensão, é verificada no período de

regime. Os valores coletados de resistência na simulação, são comparados com os valores

obtidos através das equações (4.9 ) e (4.10 ), explicitados na Tabela 2.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

250

300

350

400 σ=0.001S/m

σ=0.003S/m

σ=0.006S/m

σ=0.008S/m

Curvas para diâmetro da haste 20 mm dx=0.25 m

Diferentes condutividades (0.001 to 0.008 S/m) e Permissividade relativa = 50

Corr

ente

(A

)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.2

-1.1

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

Corrente

Tensão

TGR

TGR

TGR

TGR

Figura 4.32 Curvas de TGR tensão e corrente para diferentes condutividades

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114

Tabela 4.3 Diferença relativa (Req-Rsim)/Req entre a resistência CC calculada usando (4.9) e (4.10) e a resistência transitória obtida pelo uso da simulação FDTD para várias condutividades.

Cond. (S/m)

FDTD (Ω)

Eq. (4.9) (Ω)

Dif. %

Eq. (4.10) (Ω)

Dif. %

0.001 328.56 339.36 3.50 323.08 -1.69 0.003 109.23 113.12 3.52 107.69 -1.43 0.006 54.74 56.56 3.20 53.84 -1.67 0.008 41.18 42.42 2.92 40.38 -1.98

4.2.4 Simulação de eletrodo em solo estratificado em duas camadas

Considerando que o FDTD é um método flexível, é possível nele simular-se cenários

sofisticados com um certo conforto. De forma a ilustrar esta propriedade, foi simulado um

eletrodo de diâmetros 20 mm, em solo estratificado em duas camadas, com permissividade

relativa εr = 50, resistividade ρ1 = 438 Ω.m e ρ2 = 146 Ω.m nas camadas superior e inferior,

respectivamente, conforme pode ser observado na Figura 4.33. Os resultados obtidos são

mostrados na Figura 4.34. Devido a baixa resistividade da camada inferior, é observada uma

redução no valor da TGR e um aumento no valor da corrente a partir de 0.18 µs. Na situação

de regime, os valores da TGR mostraram magnitudes muito próximas às da equação de

Hummel, bastante utilizada no cálculo da resistência aparente associada a (4.10). O valor da

resistência calculada foi de 75.24 Ω. Utilizando a fórmula de Tagg para solo estratificado, o

valor obtido foi de 83.39 Ω e o valor da resistência, obtido através de simulação, foi de 77.21

Ω. A diferença relativa é de -2.87% e 7.17%, respectivamente, conforme mostrado no

desenvolvimento a seguir.

Fig. 4.33 Circuito de corrente mostrando haste de aterramento em solo estratificado

Circuito de corrente

ρ2 = 146 Ω.m

ρ1 = 438 Ω.m

εr = 50L1=h=2m

L2= 1 mεr = 50

Resistência

Gerador de impulso Espaço livre

Terra

Circuito de corrente

ρ2 = 146 Ω.m

ρ1 = 438 Ω.m

εr = 50L1=h=2m

L2= 1 mεr = 50

Resistência

Gerador de impulso Espaço livre

Terra

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115

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2

-100

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200 Solo homog.

Solo estrat.

Tensão

Corrente

TGR

Corrente

(A)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

TGR, Tensão e Corrente para solos homogêneo e estratificado

Eletrodo 3m, condutividades 2.28x10-3 and 6.84x10

-3

Fig. 4.34 Curvas de TGR, Tensão e Corrente para haste de aterramento em solo homogêneo

e estratificado

Usando a fórmula de Hummel, temos o seguinte valor para a resistividade:

1 2

1 2

1 2

2 1262.8 .

2 1

438 146

a

L Lm

L Lρ

ρ ρ

+ += = = Ω

+ +

(4.12)

Para calculo da resistência utiliza-se a expressão:

1

4 262.8 4 3(ln 1) ln 1 75.24

2 2 3 0.020a

haste

LR

L r

ρπ π

× = − = − = Ω × ×

Rsimulado = 77,41 Ω

Utilizando uma fórmula elaborada por Tagg, para haste penetrando na segunda

camada, temos o seguinte resultado analítico:

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116

( )1

1

1 2 2ln ln

2 2 21 2

n

Tagg

n

K L nH LR K

HL r n H Lk K

L

ρπ

=

+ + = + − + − +

∑ (4.13)

83.39TaggR = Ω ( Rsimulado = 77,41 Ω)

onde: ρ1 = 1/0.00228 Ω ρ2 = 1/0.00684 Ω L = 3 m r = 10 mm

2 1

2 1

Kρ ρρ ρ

−=

+

H = 2 m n = 1 Conforme demonstrado acima, observou-se uma melhor aproximação com as fórmulas

desenvolvidas por Hummel e Sunde.

4.2.5 Simulação de eletrodos em presença de falhas geológicas

Ainda dando ênfase a grande flexibilidade proporcionada pela metodologia que utiliza

o FDTD, procedeu-se a simulação da mesma haste da seção anterior, porém, em solo

homogêneo e em presença de uma cavidade de ar com as dimensões de 10 x 5 x 50 m, nas

direções x, y e z respectivamente. A terra foi modelada com uma condutividade de 2.28 x 10-6

S/m e permissividade relativa de 50. A Figura 4.35 mostra o eletrodo em presença da

cavidade na posição 3.

Fig. 4.35 Eletrodo e cavidade

Espaço livre

Terra

σ = 0

σ = 2.28 x 10-3

Cavidade σ = 0

ε= ε0

2.5m

10 m (40 cel.)

5 m (2

0 cel.)

2.5

m (10 c

el)

x

yz

0.5 m

ε= ε0

ε= 50ε0

Espaço livre

Terra

σ = 0

σ = 2.28 x 10-3

Cavidade σ = 0

ε= ε0

2.5m

10 m (40 cel.)

5 m (2

0 cel.)

2.5

m (10 c

el)

x

yz

0.5 m

ε= ε0

ε= 50ε0

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117

Foram realizadas três simulações, mantendo a haste e deslocando a cavidade ao longo

do eixo z conforme descrito abaixo:

• cavidade 1 - Parte superior posicionada 3.5 m abaixo da superfície da terra

• cavidade 2 - Parte superior posicionada 3.0 m abaixo da superfície da terra

• cavidade 3 - Parte superior posicionada 2.5 m abaixo da superfície da terra

As curvas obtidas para TGR, tensão e corrente, são mostradas na Figura 4.36. A

Figura 4.37, mostra a distribuição do campo Ez no plano X-Z.

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

250

Homog.soil

Cavity 1

Cavity 2

Cavity 3

Tensão

Corrente

TGR

Corrente

(A

)

Tensão (V), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.0

-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0.0

TGR, Tensão e Corrente para solos homogêneo e em presença de cavidade

Eletrodo 3 m e condutividade 2.28x10-3

Fig. 4.36 Curvas de TGR, Tensão e Corrente para haste de aterramento em presença de

cavidades dentro da terra

A simulação e análise de um problema envolvendo uma cavidade no subsolo contendo

ar, cujos parâmetros densidade e permissividade diferem daqueles da terra, servem para

demonstrar a potencialidade da metodologia FDTD na análise de meios formados por figuras

geométricas, que não são convencionais, quando comparados a condutores, barramentos, etc.,

comumente utilizados nos sistemas de aterramento. Ao invés da cavidade, poderiam ser

introduzidos no ambiente de simulação FDTD tubulações, tanques, estruturas metálicas ou

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118

não, fundações, torres de transmissão, etc. Esses componentes não trariam qualquer

complicação analítica para a solução do problema. Seria uma questão puramente geométrica

para delimitação das condições de contorno no ambiente FDTD.

Fig. 4.37 Distribuição do campo EZ com eletrodo de aterramento em presença de cavidade

4.2.6 Simulação de uma malha quadrada 5 x 5 nós sem eletrodos

A simulação a seguir trata e uma malha quadrada com 25 nós sem eletrodos de

aterramento, enterrada a uma profundidade de 0.50 m, conforme mostrado na Figura 4.38.

Fig. 4.38 Malha de aterramento 5 x 5 nós, sem hastes de aterramento

P=0.50 m 12 m

12 m

P=0.50 m 12 m

12 m

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119

Os resultados obtidos para TGR, tensão e corrente, estão contidos no gráfico da Figura 4.39.

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0

-60

-40

-20

0

20

40

60

TGR

Tensão

Corrente

(A

)

Tensão (V

), T

GR

(ohm

s)

Tempo (µs)

-1.8

-1.6

-1.4

-1.2

-1.0

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

Corrente

Fig. 4.39 Curvas TGR, tensão e corrente para uma malha quadrada 5 x 5 nós sem eletrodos

Os resultados para tensão corrente e TGR, apresentam as variações esperadas, com

elevada taxa de amortecimento no período transitório. No período de regime, o valor final da

TGR é comparado com valor calculado analiticamente através da fórmula de Chow Salama

[18], obtida na literatura.

Valor da TGR simulada por FDTD = 15.76 Ω

Valor da TGR obtida pela fórmula:

1 1 1 0.165 2ln 1 1.128

4 2CS a

malha malha

l hR

A N l d A

πρ

π

∆ = + × − × ∆

(4.14)

RCS = 15.56 Ω

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120

A diferença entre valor calculado e simulado, é de 1.2%, valor considerado bastante

aproximado ao obtido pela fórmula de Chow Salama para malhas quadradas.

As figuras 4.40. 4.41 e 4.42, mostram a distribuição das componentes Ex, Ey e Ez,

respectivamente, ao longo da malha de aterramento após 9.000 iterações.

Fig. 4.40 Distribuição do campo Ex na malha 5x5

Fig. 4.41 Distribuição do campo Ey na malha 5x5 Fig. 4.41 Distribuição do campo Ey na malha 5x5

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Fig. 4.42 Distribuição do campo Ez na malha 5x5

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5 Conclusões

Neste trabalho, foi desenvolvido um código computacional para análise do

comportamento transitório de sistemas de aterramento excitados por pulso de corrente. A

formulação do problema foi elaborada partindo-se das equações rotacionais de Maxwell,

escritas para meios isotrópicos e com perdas. Tais equações são então resolvidas,

numericamente, através do método FDTD. Para truncar a região de análise, empregou-se a

técnica de UPML (meio uniaxialmente anisotrópico) e, para a caracterização de condutores de

raios pequenos, lançou-se mão da técnica de fio fino. Apresentou-se como inovação, a

introdução de condutor fino conectado diretamente a região absorvente (UPML), adoção da

média das correntes no ponto de coleta no eletrodo e aplicação da Lei de Faraday na coleta de

tensão por meio de um caminho pré-determinado. Referidas inovações, possibilitaram a

retirada dos eletrodos e barramentos auxiliares do ambiente de processamento dando maior

precisão aos resultados e promovendo a redução do espaço de memória e tempo de

processamento, fatores de grande relevância para este tipo de análise.

O ambiente computacional assim desenvolvido, rodou em um cluster de 10 nós e os

resultados aqui apresentados indicam que o algoritmo proposto pode ser aplicado de forma

eficaz na análise dos fenômenos transitórios provocados por descargas atmosféricas ou falhas

em sistema de distribuição ou transmissão de energia elétrica. As simulações foram realizadas

em duas etapas básicas durante o desenvolvimento do trabalho. A primeira etapa envolveu

eletrodos de dimensões não convencionais (0.5x0.5x3m), aplicados em sistemas de

aterramento com 1, 2, 4, 16 e 25 eletrodos paralelos, um exemplo de eletrodo vertical longo e

eletrodo em solo estratificado em duas camadas. Os resultados obtidos para tensão, corrente e

TGR, considerando-se um eletrodo em solo homogêneo, foram semelhantes aos resultados

experimentais, apresentados por K. Tanabe. As demais simulações, levando-se em conta

arranjos de eletrodos em paralelo, apresentaram respostas bastante aproximadas daqueles

disponíveis na literatura. É importante ressaltar que nesta etapa, os resultados foram obtidos

utilizando-se a mesma modelagem empregada por Tanabe, ou seja, a injeção de corrente e

coleta de potencial obtidas através de hastes e barramentos auxiliares. Dos resultados

alcançados, foi possível observar uma maior suavidade nas curvas de corrente, tensão e TGR,

na medida em que se aumenta o número de eletrodos. A metodologia aplicada pode ainda ser

útil quando um solo condutivo e estratificado em várias camadas for considerado. Para isto,

basta delimitar a região condutiva, com as espessuras das camadas e suas respectivas

resistividades, o que se constitui em uma tarefa simples no ambiente desenvolvido.

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Na segunda etapa do trabalho, foram utilizados eletrodos de raios pequenos em

relação ao tamanho das células de Yee, similares aos eletrodos comerciais existentes.

Apresentou-se uma nova metodologia para injeção de corrente e a eliminação do circuito de

tensão. Estas técnicas consistem em: 1) extensão de um condutor vertical até a região superior

da UPML (mais precisamente até a uma célula da parede elétrica condutora – PEC). Neste

procedimento, faz-se necessário o casamento de impedância da UPML com relação ao

condutor, o que é feito através da substituição dos parâmetros εo por ε* e µo por µ

*, nos

campos elétricos e magnéticos existentes nas equações da UPML; 2) cálculo da corrente

injetada (interface espaço livre e terra) pela média das correntes e 3) cálculo do potencial no

ponto de injeção pela Lei de Faraday.

Foi observado que as respostas transitórias e a distribuição de potencial obtidas pelo

método tradicional de medição utilizado na primeira etapa dos trabalhos, contém pequenas

oscilações e assimetrias devido a presença dos circuitos auxiliares. Isto significa dizer que a

resposta transitória obtida por esta metodologia, não corresponde de forma precisa a resposta

real obtida para o sistema de aterramento considerado, embora, as respostas estacionárias

possuam uma boa aproximação para hastes convencionais. Desta forma, a técnica apresentada

na segunda etapa deste trabalho, elimina os acoplamentos eletromagnéticos, constituídos dos

circuitos auxiliares de tensão e corrente, que não estão presentes nas situações normais de

incidência de descarga, ficando as respostas transitórias relacionadas exclusivamente ao

sistema de aterramento. Os resultados estacionários obtidos para todas as situações testadas,

são concordantes com os resultados calculados através de equações disponíveis na literatura.

É importante enfatizar, que além das vantagens obtidas com a metodologia nova, observa-se

que houve uma redução considerável dos recursos computacionais (memória e tempo de

processamento), em decorrência da eliminação do barramento horizontal de corrente o que

possibilitou a redução do espaço computacional.

Embora as simulações, de uma forma geral, estejam voltadas para eletrodos simples ou

determinados arranjos de eletrodos, em diferentes meios, a técnica FDTD permite que se

proceda a análise de estruturas de aterramento complexas, com modificações relativamente

simples, na estrutura do programa. A complexidade poderá ser introduzida, tanto no sistema

físico de aterramento quanto no meio ambiente que o envolve. Isto foi mostrado na simulação

de uma cavidade no solo. Podem ainda ser introduzidos, no espaço de trabalho, linhas de

transmissão e de distribuição, prédios e outras estruturas, permitindo que se façam avaliações

de condições mais realísticas.

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Para situações reais, conclui-se que este código apresenta uma grande potencialidade

na solução de problemas complexos, onde as fórmulas teóricas tornam as soluções analíticas

intratáveis. Suas limitações envolvem a grande quantidade de memória requerida e o longo

tempo de processamento, quando o cenário em análise for eletricamente grande, o que tem

sido contornado através do uso de processamento paralelo.

Propõe-se, como temas para trabalhos futuros: 1) aplicação de parâmetros não-lineares

no ambiente FDTD, ou seja, introdução de efeitos de ionização e variação de parâmetros do

solo com a freqüência; 2) estudos de distribuição de tensão transitória em torres e isoladores

(flashover) de linhas de transmissão quando submetida a pulsos de corrente em ambiente

FDTD e 3) monitoramento da integridade de sistemas de aterramento através da comparação

de curvas obtidas experimentalmente pela injeção de corrente em malhas de aterramento e

aquelas obtidas através de simulação.

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PUBLICAÇÕES RELACIONADAS À TESE DE DOUTORADO

1. Artigos completos publicados em periódicos E. T. Tuma, SANTOS, R. O., R. M. S. Oliveira, Leonidas C. S. Análise do comportamento transitório dos parâmetros dos sistemas de aterramento usando o método FDTD. Revista do IEEE América Latina. , v.4, n.1, 2006.

E. T. Tuma, R. M. S. Oliveira, Leonidas C. S. Transient analysis of parameters Governing grounding systems in homogeneous and stratified soils using the FDTD method IEEE Power delivery transaction (Em fase final de publicação) 2. Trabalhos completos publicados em anais de evento

E. T. Tuma, SANTOS, R. O., Leonidas C. S. ”Análise do comportamento transitório dos parâmetros de sistemas de aterramento usando o método FDTD” 6º CBMag - Congresso Brasileiro de Eletromagnetismo, 2004, São Paulo. MOMAG 2004 ISSN-1807-0809

E. T. Tuma, SANTOS, R. O., Leonidas C. S. ”Transient analysis of parameters governing grounding system by the FDTD method” GROUND'2004 International Conference on Grounding and earthing & 1st LPE International Conference on Lightning Physics and Effects, 2004, Belo Horizonte. GROUND'2004 International Conference on Grounding and earthing & 1st LPE International Conference on Lightning Physics and Effects. Belo Horizonte: Perez Bovolenta Editora Ltda, 2004. v.1. p.165 - 169

E. T. Tuma, R. M. S. Oliveira, C.T.Costa ”New model of current impulse injection and potential measurement in transient analysis of grounding systems in homogeneous and stratified soils using the FDTD method” VIII International Symposium on Lightning Protection, 2005, São Paulo. VIII International Symposium on Lightning Protection 21st - 25st November 2005 São Paulo, Brazil. São Paulo: Alphagraphics Pinheiros, 2005. v.1. p.526 - 531 E. T. Tuma, R. M. S. Oliveira, Leonidas C. S. ”Transient analysis of parameters governing grounding systems in homogeneous and stratified soils using the FDTD method” The 2005 International Symposium on Electromagnetic Compatibility, 2005, Petropolis - RJ Proceedings of the 2005 International Symposium on Electromagnetic Compatibility - ISEMC 2005. ,