30
Simbolismo Camilo Pessanha

Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Simbolismo

Camilo Pessanha

Page 2: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Correspondências, Baudelaire

A natureza é um templo em que vivas pilastras

deixam sair às vezes obscuras palavras;

o homem a percorre através das florestas de símbolos

que o observam com olhares familiares.

Com longos ecos que de longe se confundem

numa tenebrosa e profunda unidade

vasta como a noite e como a claridade,

os perfumes, as cores e os sons se correspondem.

Há perfumes saudáveis como carnes de crianças,

doces como os oboés, verdes como as campinas,

e outros, corrompidos, ricos e triunfantes,

tendo a efusão das coisas infinitas,

como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,

que cantam os êxtases do espírito e dos sentidos.

Page 3: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Charles Baudelaire

1821, Paris

1867, Paris

1857

Les Fleurs du Mal

Page 4: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Charles Baudelaire

Page 5: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Charles Baudelaire

Page 6: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Charles Baudelaire

Page 7: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Jeane Duval

Page 8: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem
Page 9: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Paul Lafargue

1886

Paul Lafargue:

O direito à preguiça

1889

II Internacional Socialista

• > a volta dos utópicos

• SAINT-SIMON, PROUDHON,

• FOURIER, LUIS BLANC

Page 10: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Simbolismo na França1873 - Arthur Rimbaud

Uma estação no inferno

1880 - Gustave Moreau

1886

Baju : Decadentismo

1886 - Paul Verlaine

O Parnaso Contemporâneo

1886

Jean Moréas : Simbolismo

1897 - Stéphane Mallarmé

Um golpe de dados

Page 11: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Aos leitores! (excerto)

Dissimular o estado de decadência em que chegamos seria o cúmulo da insensatez. Religião, costumes, justiça, tudo decai, ou antes tudo sofre uma transformação inelutável. A sociedade se desagrega sob a ação corrosiva de uma civilização deliqüescente. O homem moderno é um insensível. (...) É na língua sobretudo que se manifestam os primeiros sintomas. A desejos novos correspondem idéias novas, sutis e matizadas ao infinito. Daí a necessidade de criar vocábulos estranhos para exprimir uma tal complexidade de sentimentos e de sensações fisiológicas. Não nos ocuparemos desse movimento a não ser do ponto de vista da literatura. A decadência política nos deixa frios. Ela continua, aliás, conduzida por esta seita sintomática de politiqueiros cuja aparição era inevitável nessas horas enfraquecidas. Nós nos absteremos de política como de uma coisa idealmente infecta e abjectamente desprezível.

Anatole Baju, Manifesto Decadente, abril de 1886

Page 12: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

O Manifesto Simbolista (excerto)

Inimiga do ensino, da declamação, da falsa sensibilidade, da descrição objetiva, a poesia simbolista busca: vestir a Idéia de uma forma sensível que, entretanto, não terá seu fim em si mesma, mas que, servindo para exprimir a Idéia, dela se tornaria submissa. A idéia, por seu lado, não deve se deixar ver privada das suntuosas samarras das analogias exteriores; porque o caráter essencial da arte simbólica consiste em não ir jamais até à concepção da Idéia em si. Assim, nessa arte, os quadros da natureza, as ações dos homens, todos os fenômenos concretos não saberiam manifestar-se: estão aí as aparências sensíveis destinadas a representar suas afinidades esotéricas com as Idéias primordiais.

Jean Moréas, setembro de 1886

Page 13: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Arte Poética, VerlaineAntes de qualquer coisa, música,e, para isso, prefere o Ímparmais vago e mais solúvel no ar,sem nada que pese ou que pouse.

É preciso também que não vás nuncaescolher tuas palavras sem ambigüidadenada mais caro que a canção cinzentaonde o Indeciso se junta ao Preciso.

Porque nós ainda queremos o Matiz,nada de Cor, nada a não ser o Matiz!Oh! o Matiz único que ligao sonho ao sonho e a flauta à corneta.

Toma a eloqüência e torce-lhe o pescoço!

Tu farás bem, com toda a energia,

em tornar a rima um pouco razoável.

Se não a vigiarmos, até onde ela irá?

Ainda e sempre, música!

Que teu verso seja a coisa volátil

que se sente fugir de uma alma em vôo

para outros céus e para outras paixões.

Que teu verso seja o bom acontecimento

esparso no vento crispado da manhã

que vai florindo a hortelã e o timo ...

E tudo o mais é só literatura.

Page 14: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Simbolismo em Portugal

Eugênio de Castro

Coimbra, 1869-1944

O exemplo dos vencidos da vida

O mapa cor-de-rosa

Revistas: Os Insubmissos

Boêmia Nova

• , Oaristos

• musicalidade

Page 15: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Oaristos

Na messe, que enlourece, estremece a quermesse...

O sol, o celestial girassol, esmorece...

E as cantilenas de serenos sons amenos

Fogem fluidas, fluindo à fina flor dos fenos...

Page 16: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

As estrelas em seus halos

Brilham com brilhos sinistros...

Cornamusas e crotalos,

Cítolas, cítaras, sistros,

Soam suaves, sonolentos,

Sonolentos e suaves,

Em suaves,

Suaves, lentos, lamentos

De acentos

Graves,

Suaves...

Page 17: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Antônio Nobre

Porto, 1867-1900

1892, Só

• Intimista

• Pessimista

Page 18: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Menino e moço

Tombou da haste a flor da minha infância alada.

Murchou na jarra de oiro o púdico jasmim:

Voou aos altos Céus a pomba enamorada

Que dantes estendia as asas sobre mim.

Julguei que fosse eterna a luz dessa alvorada,

E que era sempre dia, e nunca tinha fim

Essa visão de luar que vivia encantada,

Num castelo com torres de marfim!

Page 19: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Mas, hoje, as pombas de oiro, as aves da minha infância,

Que me enchiam de Lua o coração, outrora,

Partiram e no Céu evolam-se, a distância!

Debalde clamo e choro, erguendo aos céus meus ais:

Voltam na asa do Vento os ais que a alma chora,

Elas, porém, Senhor! elas não voltam mais...

Page 20: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Camilo Pessanha

* Coimbra, 1867+ Macau, 1926

- Direito, Coimbra- Professor, Macau- Hábitos orientais, ópio

1920ClepsidraChina

Page 21: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Camilo Pessanha

Características formais:

• musicalidade suave• fragmentos de

realidade• sensações vagas

Características temáticas:

• efemeridade da vida• impotência humana• obsessão pela água,

que corre e tudo leva

Page 22: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Viola chinesa

Ao longo da viola morosa

Vai adormecendo a parlenda,

Sem que, amadornado, eu atenda

A lengalenga fastidiosa.

Sem que o meu coração se prenda,

Enquanto,nasal, minuciosa,

Ao longo da viola morosa,

Vai adormecendo a parlenda.

Page 23: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Viola chinesa

Mas que cicatriz melindrosa

Há nele, que essa viola ofenda

E faz que as asitas distenda

Numa agitação dolorosa?

Ao longo da viola, morosa ...

Camilo Pessanha

Page 24: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Soneto

Floriram por engano as rosas bravas

No Inverno: veio o vento desfolhá-las...

Em que cismas, meu bem? Por que me calas

As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes! ...

Onde vamos, alheio o pensamento,

De mãos dadas? Teus olhos, que um momento

Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

Page 25: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Soneto

E sobre nós cai nupcial a neve,

Surda, em triunfo, pétalas, de leve

Juncando o chão, na acrópole de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!

Quem as esparze — quanta flor! — do céu,

Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Camilo Pessanha

Page 26: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Estátua

Cansei-me de tentar o teu segredo.

No teu olhar sem cor, frio escalpelo,

O meu olhar quebrei, a debatê-lo,

Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo

E minha obsessão! Para bebê-lo

Fui teu lábio oscular, num pesadelo,

Por noites de pavor, cheio de medo.

Page 27: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Estátua

E meu ósculo ardente, alucinado,

Esfriou sobre mármore correcto

Desse entreaberto lábio gelado:

Desse lábio de mármore, discreto,

Severo como um túmulo fechado,

Sereno como um pélago quieto.

Camilo Pessanha

Page 28: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Florbela Espanca

* Vila Viçosa, 8/12/1894

+ Lisboa, 8/12/1930

- Apeles

- Tenta três vezes o casamento

1919 – Livro de Mágoas

1923 – Livro de Sóror Saudade

1931 – Reliquiae

Charneca em Flor

Page 29: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida

Eu sou a que na vida não tem norte,

Sou a irmã do Sonho, e desta sorte

Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,

E que o destino amargo, triste e forte,

Impele brutalmente para a morte!

Alma de luto sempre incompreendida!...

Page 30: Simbolismo Camilo Pessanha Correspondências, Baudelaire A natureza é um templo em que vivas pilastras deixam sair às vezes obscuras palavras; o homem

Sou aquela que passa e ninguém vê...

Sou a que chamam triste sem o ser...

Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

Alguém que veio ao mundo pra me ver

E que nunca na vida me encontrou!