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Revista Sensatez - Edição 3

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Uma publicação da Sociedade Brasileira de Dermatologia

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Por valorizar mais a beleza e o preço do que a qualidade dos serviços, milhares de pessoas, como o Theo, colocam a saúde em risco buscando tratamentos não adequados para a sua pele. Muitos se esquecem de checar as credenciais do profissional e do local do atendimento. Evite problemas, o primeiro passo é buscar sempre um dermatologista associado da SBD. Ele é o profissional certificado para cuidar da sua pele como ela merece.

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CUIDADOS COM A PELE E ONDE ENCONTRARUM MÉDICO DERMATOLOGISTA MAIS PRÓXIMO, ACESSE WWW.SBD.ORG.BRConheça a história completa do Theo.

Procure antesum médicodermatologistacerti�cado.

CERTIFICADOBaixe o app mobilee saiba qual odermatologista da SBDmais próximo de você.

Os clientes são atraídos pelos baixos preços e pela facilidade de compra e terminam por adquirir, na verdade, um grande problema. “O anúncio prometia um tratamento quase milagroso contra acne, com resultados rápidos e um preço bem em conta. Depois entendi o porquê. Além de não funcionar, o tratamento piorou minha pele, só então eu procurei um médico dermatologista e consegui um tratamento realmente eficaz”, desabafou Theo Van Der Loo, que comprou o tratamento neste tipo de site.

A saúde e o bem-estar envolvem o conceito de atendimento multidisciplinar, mas temos observado, em várias áreas da saúde e da medicina, uma proliferação de profissionais não capacitados. A cada dia recebemos com pesar notícias de erros gravíssimos em atendimentos hospitalares, em clínicas e consultórios, relatando a aplicação de substâncias e medicações erradas, procedimentos mal executados, além da realização de procedimentos invasivos realizados por não médicos. Um dos problemas fundamentais nestes incidentes é a falta de preparo, competência e qualificação técnica dos profissionais envolvidos.

Na dermatologia, particularmente no que abrange a estética, a busca por tratamentos ligados à beleza alavanca uma invasão de profissionais nem sempre habilitados, que vêm realizando diversos procedimentos relacionados à pele, muitos destes considerados invasivos e, portanto, pressumindo-se que sejam de competência profissional do médico. Como consequência, é cada vez maior o número de reclamações e o volume de complicações graves.

Muitos anúncios na internet confundem e enganam a população, no que diz respeito à qualificação do atendimento e do profissional. É curioso observar a proliferação de vários termos combinando as palavras estética e dermatologia com dermaticistas - “técnicos que atuam nas estéticas facial e corporal”; dermatofuncional - “área de atuação do fisioterapeuta no campo da estética” e biomédico estético -

“área da biomedicina que atua nas disfunções estéticas faciais e corporais”. Como se não bastasse, ainda aparecem em sites como doutor ou doutora, a confusão é certa, e a situação se agrava, pois, para a opinião pública, estes profissionais podem ser vistos ou confundidos com dermatologistas.

E tudo fica ainda pior, quando se sabe que os tratamentos dermatológicos e estéticos estão cada vez mais vulgarizados e banalizados em promoções de sites de compras coletivas que oferecem milagres como no caso de Theo.

A dermatologia e a estética caminham juntas, envolvendo cuidados com a saúde do corpo e da pele. Os maiores riscos ocorrem especialmente quando se realizam procedimentos invasivos, com substâncias e tecnologias que requerem habilidade e conhecimento técnico para manipular e lidar com possíveis complicações, como a aplicação de toxina botulínica, o uso de preenchedores, a aplicação de lasers e tecnologias invasivas e peelings, entre outros. Qualquer profissional está sujeito a complicações; o que importa é a sua real competência na realização dos tratamentos.

Escolher um especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) no momento de realizar um procedimento concede ao paciente a segurança de saber que este profissional passou por 6 anos de estudo durante a graduação em medicina, 3 anos durante a especialização em dermatologia, além de um rigoroso processo de avaliação de competências e habilidades, para poder atuar com segurança e conhecimento, seja no tratamento e diagnóstico de doenças, seja na realização de procedimentos estéticos de restauração e promoção da beleza de sua pele.

No Brasil, os dermatologistas são oficialmente representados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Por meio do conceito de sua campanha “Pele é saúde”, a entidade ressalta a importância do acompanhamento médico em todos os tipos de tratamento que envolvem a pele.

COMPRAS COLETIVASX DERMATOLOGISTASA febre das compras coletivas, iniciada em meados de 2010, tem durado mais que a média das tendências de internet. E o pior, está em alta neste mercado de venda de pacotes que envolvem tratamentos médicos e estéticos, como preenchimentos, laser, toxina botulínica e até cirurgias, realizados por profissionais nem sempre qualificados.

SERVIÇO - Sociedade Brasileira de Dermatologia - www.sbd.org.br - Av. Rio Branco, 39 - Centro - Rio de Janeiro, RJ.

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CARTA DA PRESIDENTE

Se fizermos um balanço dos anos vividos ao longo dos nossos 100 anos de história, percebemos o quanto crescemos e evoluímos. Evoluir com seriedade e responsabilidade tem representado o maior propósito da Sociedade Brasileira de Dermatologia, sobretudo nas relações com a comunidade. Disseminamos conhecimento médico- dermatológico, agregamos valores éticos e morais e construímos uma sociedade séria e socialmente responsável que tanto nos orgulha e nos honra! Valores, pensamento no longo prazo e cuidados com a saúde da pele são características próprias da SBD para o Brasil. A união dessas qualidades certamente fizeram a evolução dessa história. Em tempos de mudanças sociais a Sociedade Brasileira de Dermatologia mantêm o compromisso maior de servir...

Integração, responsabilidade social e disseminação do conhecimento são pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade que cresce com seus associados e cresce com a população.

Brindar os 100 anos de história com base no trabalho realizado é ter a certeza da missão cumprida, da integração partilhada, do valor agregado...

Reconhecer é necessário. Convocar a cooperação é fundamental. Agregar para somar é razão de existir!

Existir na essência de ser ... Acreditar com raça... na ordem mística, étnica, na mistura de cores que faz desse

país tão lindo e diversificado que tanto amamos... A SBD brinda o centenário com essa edição, verdadeiramente brasileira! Brindemos a mistura de pele e cores que faz do país Sensibilidade e Sensatez!!!

LAÇOS DE UNIÃO

Dra. Bogdana Victória KaduncPresidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia

[email protected]

A SBD lança uma campanha para comunicar ao público a importância do médico dermatologista no diagnóstico e tratamento dermatológico, além de conscientizar as pessoas sobre os cuidados que elas devem ter com a própria pele e na escolha do profissional capacitado para realizar esta tarefa. Faça parte deste projeto, você é a peça fundamental nesta campanha. Com toda certeza, de pele você entende e vai saber muito bem como cuidar para que sua importância seja cada vez maior. É a SBD nesses 100 anos trabalhando para você!PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CUIDADOS COM A PELE E ONDE ENCONTRAR UM MÉDICO DERMATOLOGISTA ASSOCIADO À SBD MAIS PRÓXIMA, ACESSE www.sbd.org.br.

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UM BRASIL DE RAÇA E DE CORES

Editorial

Conhecer o Brasil étnico, místico é viajar na subjetividade do nosso povo que na mistura de cores e culturas consegue ser tão plural e harmonioso como uma sintonia fas-cinante! A grandeza desta nação está exposta em pequenos detalhes. Um lugar onde as cores prevalecem! Nas paredes, na paisagem, nos corpos e nas almas... Nesta policromia histórica retratamos o sentimento deste país...

Brasil de muitos ritos de sons diversos, de cores tão mistas, nascidos dos lugares, emitidos sem reservas, sem descanso...

Brasil transformado e mistificado em vidas! A vida pragmática transformada em vida simbólica, onde a cor passa a ser detalhe...

Viajemos nesse cenário! Os múltiplos olhares desse processo fazem a construção de uma visão multifacetada e plural de Etnia, tema escolhido pela SBD para comemorar seu centenário!

Nada é mais atual que discutir a pele nas diversas etnias...Nada é mais apaixonante que ver a democratização do pensamento étnico, no mo-

mento atual brasileiro; trazendo-nos mais maturidade para construir conceitos e formar opiniões...

Uma paixão presente na entrevista com a atriz Isabel Fillardis. Mulher singular de ca-racterísticas plurais. Bela, multifacetada e socialmente responsável; que faz crer o quanto podemos unir beleza, sonhos e ideologias e acreditar na construção de um mundo melhor!

Surpreendente também é o relato de Tânia Nely, médica dermatologista, que conta sem constrangimento sua luta contra o vitiligo. Despindo-se do medo e transformando-se numa mulher corajosa e de fibra, ela escreve para a coluna Sentindo na Pele.

A Sensatez hoje nos faz ver a grandeza da alma de pessoas que constroem o Brasil. Embarcando na nossa história, revelamos a alma de nossa gente, que é mistura de cor, de ritos e festa, fome e fartura...Quebrando estigmas e amadurecendo...

Convidamos você leitor, a viajar nessa edição étnica, construindo também um olhar transformador de um Brasil que amadurece...

Boa leitura !!

Dra. Luciana S. Rabello de Oliveira2ª secretária da Sociedade Brasileira de Dermatologia

[email protected]

Prezada Dra. Luciana e demais membros da Diretoria da SBD 2011/2012:Gostaria de felicitá-los pela qualidade “máster” da nossa revista Sensatez.Grande quantidade de pacientes elogiou os artigos! O interesse foi surpreendente!!Parabéns!Dr.Jayme de Oliveira Filho / São Paulo - SP

Periodicamente costumo visitar minha dermatologista. Numa dessas ocasiões encontrei na sala de espera a vossa revista “Sensatez” e pedi permissão a minha médica para levar o exemplar, cuja leitura despertou meu interesse.Com admiração e muita consideração pelo profissionalismo do trabalho, subscrevo-me.Príncipe Alessandro Wassilieff de Ofrosimoff (Rússia)Rio de Janeiro - RJ

Estava num consultório médico. Sou paciente e gostei muito do conteúdo da revista Sensatez Edição 2- Ano 2012, cuja capa está Rolando Boldrin.Parabéns pelo conteúdo completo e perfeito dessa edição. Gostaria de mostrar algumas matérias para meus pais. Como posso obter esse exemplar?Adamélia Fernandes (Salvador- BA)

Realmente a SENSATEZ está surpreendendo. Parabéns pela excelência nessa edição!Sucesso! André Dornelles (São Paulo - SP)

Parabéns aos editores da revista Sensatez, contextualizando informação de qualidade agregada a uma diversidade de temas interessantes relacionados a nossa especialidade e ao nosso dia-a-dia, esclarecendo de forma simples e agradável para o leitor, temas ainda tão pouco divulgado na mídia tais como vitiligo, psoríase, entre outros e abordados por especialistas da nossa área. Na última edição tive o prazer de ler uma abordagem completa e multidisciplinar do envelhecimento como um processo da nossa condição tão sonhada de vida longa com “qualidade de pele” e sobretudo, com qualidade de vida. Acredito nesse sucesso! Parabéns pela iniciativa! Grande abraço Dra. Fátima Brito (Recife - PE)

FACE A FACE

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INTERFACE

PERFIL

EQUILIBRIUM

A etnia dos cabelose seus cuidados

O arco-íris da pele brasileira

Cuidados com a pele negra

Ensaio sobre a pele

22As cores do Brasil

Mimetismos

24A cor do corpo

As raízes de uma mulher de raça

Tocados pela biodança

O caldeamento das múltiplas etnias

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Índice

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Supervisão GeralSociedade Brasileira de Dermatologia

Diretoria 2011-2012Presidente: Dra. Bogdana Victória Kadunc

Vice-Presidente: Dra. Sarita Maria F. Martins C. BezerraTesoureira: Dr. Carlos Baptista Barcaui

Secretária Geral: Dra. Leandra D’ Orsi Metsavaht1º Secretária: Dra. Eliandre Costa Palermo

2º Secretária: Dra. Luciana Silveira Rabello de Oliveira

Editora-ChefeDra. Luciana Silveira Rabello de Oliveira

Jornalistas ResponsáveisRibamildo Bezerra de Lima - DRT 625/99

Ulisses Praxedes - DRT 2787/08Julia Guimarães Silva Costa - 30472/RJ

Projeto Gráfico e DiagramaçãoDaniel Durante

danieldurante.tumblr.com

RevisãoEliene Resende

Fotos Isabel FillardisIgor Rodriguez e

Assessoria

Versão OnlineNazareno N. de Souza

Victor GimenesSamuel Peixoto

Contato PublicitárioPriscila Rudge Simões

ImpressãoSol Gráfica

CirculaçãoDistribuição Gratuita23.000 exemplares

Para se corresponder com a RedaçãoAv. Rio Branco, 39/ 17° andar-centro.

Rio de Janeiro-RJCep: 20090-003

e-mail: [email protected]

A equipe editorial da revista Sensatez e a Sociedade Brasileira de Dermatologia não garantem nem endossam os produtos ou

serviços anunciados, sendo as propagandas de responsabilidade única e exclusiva dos

anunciantes. As matérias e textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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NATURALMENTE

SABOR E ARTE

CAMINHOS

SENTINDO NA PELE

EM EVIDÊNCIA

Arte inclusiva

A estética do real e do mito

Na cozinha com Carolina

Sidney: Look back! Lookaround! Look forward!

A doença como caminho

Xingu - O passado questionando o presente

Samba e feijoada: Puramistura brasileira

Laços de família:Etnias do Brasil

Expediente

10 | Revista Sensatez

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TOC

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FACE A FACE

As etnias são determinadas por influências genéticas das diferentes raças. Além dos traços físicos, são definidas também afinidades culturais de uma comunidade. Os hábitos de bronzear a pele, alisar ou tingir os cabelos entre outros mo-dismos, participam da definição da própria etnia. Para o dermatologista a cor da pele pode variar do preto ao branco, passando por diversos tons intermediários. A classificação mais tradicional da cor da pele define cinco “fototipos” que são determinados principalmente pela cor de pele, cabelo e olhos. A facilidade da pele para bronze-ar e queimar ao sol também auxilia na diferencia-ção destes tipos de pele.

No Brasil a miscigenação indígena, europeia e africana criou uma variação dos “fototipos”. En-contramos pessoas de pele morena com olhos claros ou cabelos loiros. Um estudo nacional de-

O ARCO-ÍRIS DA PELE BRASILEIRA

Por Dra.Fabiane Mulinari Brenner

finiu 125 variações de tons de pele, muito mais que as clássicas branca, preta, parda, amarela (oriental) e indígena. Este painel é resultado da progressiva miscigenação da população brasilei-ra com evidente crescimento do número de par-dos, descendentes de pelo menos duas diferen-tes origens: indígena, europeia e africana. Cores diferentes de pele apresentam diferenças estru-turais que as definem. No caso do Brasil, em que há uma grande variação de cor, verificar estas desigualdades é um desafio. Já nos extremos de cor, é possível evidenciá-las. O número de célu-las produtoras do pigmento da pele, a melanina, é igual em todas as raças, mas a quantidade e a distribuição dele é maior nos indivíduos negros. A melanina confere proteção solar que pode ser comparada a um fator de proteção solar (FPS) 10, no caso dos negros. Infelizmente, na pele

Revista Sensatez | 11

SBD.ORG.BR

Dra. Fabiane Mulinari BrennerDermatologista pela SBD

[email protected]

branca, a redução da me-lanina facilita as queimadu-ras solares e expõe a pele a doenças desencadeadas pelo sol. Na pele clara as modificações de cor estão especialmente associadas à exposição solar. Aqueles que se queimam com fa-cilidade e não bronzeiam, apresentam com mais fre-quência, sardas, manchas nas áreas expostas ao sol e câncer de pele. Já os negros podem apresentar escurecimento da pele ao redor da boca, nas boche-chas, na mucosa da boca, gengivas, nas palmas e plantas dos pés. Estes achados comuns, não re-lacionados à exposição solar, são mais intensos quanto mais escura for a pele.

A pele branca possui maior quantidade de derivados oleosos na sua estrutura, e ainda tem uma perda de água menor do que a negra. Bran-cos necessitam menos de hidratação externa (cremes e loções). O ressecamento na pele negra é intensificado pelo menor número de glândulas do suor no corpo. Por outro lado, essas mesmas glândulas são mais ativas nas axilas, nos genitais e na face, aumentando a transpiração e favore-cendo o desenvolvimento dos odores, causados principalmente pela proliferação de bactérias nos locais úmidos.

A textura e firmeza da pele também são di-ferentes entre raças. Nos negros as células que produzem colágeno são maiores, mais ativas e mais resistentes à degradação. Isso permite uma pele mais densa e pouco flácida, mas dificulta a cicatrização e facilita o aparecimento de cicatri-zes elevadas (ou queloides).

As glândulas que produzem sebo são maio-res e produzem maior quantidade na pele negra, aumentando a chance de acne especialmente

quando a pele é exposta a produtos oleosos. Ge-ralmente a pele negra e indígena requer cosméti-cos mais leves em loção, fluido ou gel; enquanto que a pele clara, euro-peia, tolera cremes mais oleosos.

Cabelos podem auxi-liar na caracterização das etnias. O número de fios de cabelo é menor nos negros, quando compa-rados aos brancos. Os fios de cabelo tendem a ser mais escuros, cres-pos, ressecados e que-bradiços nos negros. Enquanto a estrutura dos fios é cilíndrica, homogê-nea e com corte transver-

sal arredondado nos brancos; o corte é triangular e com irregularidades no diâmetro ao longo do fio de cabelo dos negros. Estas peculiaridades fazem com que os alisamentos e as tinturas em cabelos negros e crespos necessitem de cuida-do redobrado para evitar danos aos fios.

Traumas repetidos podem se associar a linhas escuras nas unhas de mãos e pés, visíveis na metade da população negra. Se a mancha escu-ra for única e se estender para a cutícula, é im-portante afastar o melanoma, um câncer de pele de ocorrência frequente nestas áreas em negros e orientais.

No Brasil, a grande variabilidade decorrente da miscigenação dificulta a criação de uma rotina de cuidados da pele e cabelos para todas as etnias. Apesar das diferenças, todos nós necessitamos de cuidados básicos diários. Higiene, hidratação e proteção solar adequadas a cada tipo de pele ajudam a manter a sua coloração homogênea, viço e textura. O dermatologista é o profissional habilitado a individualizar e tratar cada tipo pele, considerando as características genéticas e cul-turais de cada paciente.

NO BRASIL A MISCIGENAÇÃO INDÍGENA, EUROPEIA E AFRICANA CRIOU UMA VARIAÇÃO DOS “FOTOTIPOS”. ENCONTRAMOS PESSOAS DE PELE MORENA COM OLHOS CLAROS OU CABELOS LOIROS.

12 | Revista Sensatez

FACE A FACE

Por Dra Katleen da Cruz Conceição

CUIDADOS COM A PELE

NEGRA

pele do povo brasileiro é formada por uma mistura de mais de 100 tonalidades, cada uma com suas

características particulares. Todos concordam que a diversidade

étnica do Brasil é o que garante a beleza do seu povo, certo? O que muita gente não sabe é a verdadeira dimensão des-sa diversidade. Um estudo coordena-do pela Unicamp, em 2005, identificou 125 diferentes tons de pele no país. E

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Dra Katleen da Cruz ConceiçãoDermatologista pela SBD

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É importante utilizar filtro solar com fator de proteção solar 15, no mínimo, principalmente no rosto. No corpo, dê preferência para hidratantes com filtro solar, além de proteger do sol e evitar manchas, eles garantem a hidratação da pele.

A utilização de ácido deve ser feita com muita cautela, pois as irritações de pele podem ocasionar escurecimento na pele negra. Dê preferência para os alfa hidroxiácidos, como o ácido glicólico e o ácido mandélico, que causam menos irritação.

Sim. Pode se realizar todos os tipos de lasers na pele negra, mas é muito importante observar a fluência a ser utilizada. As sessões na pele negra devem ter intervalos maiores do que na pele branca, devido ao risco de hiperpigmentação.

2

1 USE FILTRO SOLAR SEMPRE

É POSSÍVEL FAzER LASER NA PELE NEGRA?

3 CONTROLE O USO DE CREMES COM áCIDO

Dê preferência para produtos com substâncias como chá verde, coffeberry ou camomila. Eles hidratam a região da barba, evitando possíveis irritações durante o ato de barbear.

4 USE SABONETES CALMANTES PARA FAzER A BARBA

Ativos como óleo de rosa mosqueta e produtos como gel de silicone podem evitar o surgimento de queloides após um trauma ou após procedimentos cirúrgicos e estéticos. Esses cuidados devem ser mantidos entre seis meses a um ano depois da retirada da lesão.

5 DOBRE A ATENÇÃO COM LESõES qUE POSSAM SE TRANSFORMAR EM CICATRIzES OU qUELOIDES:

SH

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COMO TRATARPELES ESCURAS E NEGRAS

na progressão da pesquisa, surgiriam mais quatro tons a cada dois anos. Ou seja, já devemos estar nos encaminhando para as 140 nuances.

Mas o que designa beleza também chama a atenção para cuidados especiais. Cada tipo de pele exige atenção diferenciada, uma vez que cada um desses tons reage de maneira diferente às agres-sões do tempo, ao contato com o sol, problemas de alimentação e aos produtos e tratamentos de beleza.

As peles muito claras, de pessoas com cabelos também claros, são menos preparadas para supor-tar as agressões do sol, por exemplo, aumentando as chances de fotoenvelhecimento e doenças de pele. Já os tons amarelados e rosados das peles asiáticas apresentam um aumento da pigmentação natural, deixando a camada cutânea um pouco mais protegida. Mas são os tratamentos que en-volvem peles escuras e negras que mais tem des-pertado a atenção de estudiosos ultimamente. As características que definem a pele como mais pre-servada, são as mesmas que a tornam mais resis-tentes aos tratamentos. Isso sem falar na grande variação de tons, que exige um tipo de tratamento específico para cada caso.

Tratar foliculites e melasmas, por exemplo, é sempre um grande desafio, já que cada tom exige uma concentração diferente de um creme ou uma intensidade alterada de um laser. Além disso, a pro-pensão a manchas escurecidas é maior e são mais difíceis de tratar. Por isso, pessoas de pele negra necessitam de cuidados especiais.

cabelos estão entre os nossos atributos físicos mais importantes e suas implicações nas relações

humanas vão além do que podemos ima-ginar. Cabelos podem definir, dentre outras coisas, gênero, raça, sexualidade, doen-ças, cultura, comunicação, identidade, be-leza, aceitação e diversidade. Tratamentos e cuidados para manter os fios bonitos e vistosos estão entre os grandes sonhos de muitas mulheres e homens. A boa notícia é que, hoje, grandes avanços científicos e descobertas nos permitem ter cabelos mais bonitos e saudáveis. Para tanto, é necessá-rio compreender as diferenças étnicas entre os cabelos e seus cuidados básicos espe-cíficos.

A aparência ou fenótipo dos cabelos é a tradução visual da programação genéti-ca ou genótipo de cada indivíduo. Porém

este processo é complexo e não totalmen-te conhecido. Uma das principais variáveis que determinam as diferenças raciais dos cabelos é a pigmentação que, de maneira espectral, define a coloração dos fios en-tre mais claros e mais escuros. Dois são os principais tipos de pigmento ou melanina; a eumelanina de coloração marrom a pre-ta e a feomelanina de coloração amarela a vermelha. Todos os cabelos possuem os dois tipos de melanina; é a quantidade va-riável de cada tipo que determina todas as cores que observamos. A constante misci-genação das raças e migração dos povos primitivos também foi determinante. Os três grandes grupos étnicos humanos, o afri-cano, o caucasiano e o asiático possuem características estruturais próprias e, con-sequentemente, cuidados específicos.

14 | Revista Sensatez

A ETNIA DOS

CABELOS E SEUS

CUIDADOS

FACE A FACE

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Por Dra. Denise Steiner e Dr. Thiago Vinícius R. Cunha

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O cabelo afro ou negro é um tipo muito especí-fico com espessura mais fina e fios mais crespos e achatados que, por sua configuração espiralada, não recebem adequadamente a lubrificação natu-ral produzida pelas glândulas sebáceas do couro cabeludo. Dessa forma, são cabelos naturalmen-te ressecados e frágeis, muitas vezes quebradi-ços e de crescimento muito lento ou mesmo limi-tado, volumosos ou não. Tendem a ser bastante escuros pela maior quantidade de eumelanina em relação à feomelanina.

Este tipo de cabelo deve sempre estar úmido ou molhado para ser penteado e o pente deve ter dentes largos para evitar a ruptura mecânica dos fios e ajudar na definição dos cachos. Outro cuidado fundamental é a hidratação que deve ser constante. Para tanto, estão indicados xampus e condicionadores hidratantes que contenham in-gredientes como aloe vera, óleo de coco, pante-nol, manteiga de carité, vitamina E, óleo de argan, dentre outros. Máscaras nutritivas e cremes sem enxágue também estão indicados após as lava-gens. Evitar uso de secadores elétricos com ar

quente e utilizar toalhas sem fazer atrito ao secar são medidas que garantem a integridade dos fios.

Em geral indivíduos com este tipo de cabelo utilizam muitos tratamentos químicos para alisa-mento e relaxamento dos fios. Estes tratamentos modificam sensivelmente a estrutura da haste ca-pilar, são potencialmente danosos e devem, ide-almente, ser evitados. As substâncias mais utiliza-das são: hidróxido de sódio ou lítio que apresenta potente efeito alisador e também bastante preju-dicial ao fio por quebrar as pontes dissulfeto de queratina; tioglicato de amônio de efeito alisador moderado e custo elevado, sendo o mais utiliza-do no Brasil; formaldeído e o gluataraldeído estão atualmente proibidos pela ANVISA por serem mui-to voláteis e com potencial carcinogênico quando inalados. A hidratação e limpeza adequadas redu-zem os danos provocados por estes tratamentos.

O frequente hábito de prender os cabelos ten-sionando os fios deve ser evitado porque pode levar à foliculite e até mesmo à queda definitiva e irreversível dos fios, principalmente em crianças. Vale ressaltar que o cabelo afro tem seu elemento estético próprio e que cortes e penteados ade-quados garantem estilo e beleza a seus donos.

O CABELO AFRO

16 | Revista Sensatez

Caucasianos formam o grupo mais heterogê-neo quando o assunto são os cabelos. De claros a escuros, a proporção de eumelanina e feomela-nina nestes indivíduos é extremamente variável o que determina as inúmeras tonalidades encontra-das. Os cabelos caucasianos também podem ser lisos, encaracolados ou ondulados e, em geral, são os que menos precisam de cuidados específi-cos. Uma das maiores preocupações neste grupo étnico é a ação da radiação ultravioleta (UV). Sabi-damente a eumelanina é mais eficaz na proteção UV quando comparada a feomelanina e indivíduos caucasianos tendem a apresentar menores níveis de eumelanina nos fios. Um exemplo são os rui-vos que podem atingir mais de 50% de pigmenta-ção por feomelanina. Portanto é de fundamental importância que esses indivíduos se protejam do dano solar.

Alguns estudos já demonstram que o desequi-líbrio entre a agressão externa mediada por radi-

FACE A FACE

cais livres pela luz UV e a redução dos mecanis-mos fisiológicos de combate a essas moléculas resultam em perda funcional do folículo piloso que leva aos cabelos brancos e à queda. A utilização de produtos com proteção solar nos cabelos pode ser benéfica neste processo e deve ser encoraja-da, sobretudo em indivíduos de pele mais clara.

Outra queixa frequente neste grupo étnico é o excesso de oleosidade ou mesmo a descamação no couro cabeludo que, juntos, podem significar dermatite seborréica. Para controlar esta condi-ção dispomos de xampus específicos que conte-nham ingredientes como cetoconazol ou ciclopi-roxalamina capazes de eliminar fungos comensais envolvidos na fisiopatologia desta doença. Reco-menda-se ainda que os cabelos sejam lavados diariamente sempre evitando água quente e oclu-são do couro cabeludo como uso de chapéus e bonés. Em conjunto essas medidas controlam de maneira satisfatória o excesso de oleosidade e a dermatite seborréica.

O CABELO CAUCASIANO

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(2, 4

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Historicamente, mulheres asiáticas são admi-radas por suas longas madeixas naturalmente bonitas e resistentes. Os cabelos orientais apre-sentam-se mais calibrosos e lisos, com maior tendência a ser escuros pelo predomínio da eu-melanina na sua pigmentação. São cabelos fortes por apresentarem maior queratinização dos fios o que lhes confere peso e brilho. Porém, se usados muito curtos podem adquirir aspecto arrepiado ou “espetado” principalmente em homens que, mui-tas vezes, encontram dificuldade em controlar os fios.

Outra queixa bastante comum é a presença das pontas duplas que se originam principalmen-

te devido ao corte inadequado de fios mais longos e excesso de tinturas, muito utilizadas pelas mu-lheres japonesas que buscam cabelos mais cla-ros. Evitar agressões químicas e realizar o corte adequado é a melhor estratégia para combater este problema.

De maneira geral, a mulher asiática deve evitar produtos que contenham muitos óleos naturais, queratina e silicone que podem promover acúmu-lo de resíduos ou mesmo aumentar a oleosidade deixando os fios mais pesados e comprometen-do o volume. Formulações minimalistas com pH mais ácido, entre 4 e 5, que contenham sílica, um derivado do quartzo, resultam em cabelos mais leves e brilhantes ao selar as cutículas.

O CABELO ORIENTAL

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Cabelos longos, curtos, lisos, cacheados, escuros, claros, misturados. Cuidar dos cabelos é cuidar da própria autoestima e identidade. De cada grupo étnico e suas respectivas características ou respectivos problemas podemos aprender grandes lições de como cuidar dos nossos cabelos. Vale lembrar que a vitalidade dos fios também está associada a hábitos de vida saudáveis. Uma alimentação equilibrada, rica em vitaminas e minerais, prática de exercícios físicos e abandono de vícios como tabagismo e álcool conferem também aos cabelos vigor e saúde.

CUIDADOS GERAIS Dra. Denise Steiner e Dr.Thiago Vinicius R. CunhaDermatologista pela SBD e Especializando em Dermatologia, respectivamente.

18 | Revista Sensatez

INTERFACE

pele é o maior órgão do nosso corpo e desempe-nha inúmeras funções vitais

e complexas e é sede de várias manifestações emocionais e fi-siológicas que acompanham o homem desde sua origem mais primitiva. A importância das fun-ções táteis da pele vem desde o berço e surgiu com os mamífe-ros. As fêmeas costumam lam-ber os filhotes recém-nascidos. O comportamento de lamber o filhote, mais do que simples-mente limpá-lo, promoveria a ativação de seus sistemas de manutenção, em especial dos mecanismos circulatório, respi-ratório e excretório, estimulan-do-os a funcionar adequada-mente logo após o parto.

Os bebês humanos são de-pendentes de extensos cui-dados parentais, pois vêm ao

ENSAIO SOBRE

Por Renato da Silva Queiroz

A PELE

A mundo em condição de ima-turidade comportamental, fi-siológica e bioquímica, e se beneficiam profundamente das estimulações cutâneas sofridas no decorrer do trabalho de par-to. Estudos demonstram que o ser humano pode sobreviver a privações sensoriais extremas de outra natureza, como a vi-sual e a sonora, desde que seja mantida a experiência sensorial da pele. Por isso, os bebês pri-vados de contatos com a mãe, ou que não foram carinhosa-mente tocados ou acariciados, costumam enfrentar entraves fí-sicos e emocionais nas fases de desenvolvimento subsequen-tes.

Se as carícias e estimulações cutâneas são essenciais ao bebê, também não se mostram menos significativas na idade

APENAS OS

SERES HUMANOS

MODIFICAM

VOLUNTARIAMENTE

O PRÓPRIO CORPO

adulta, particularmente nas inte-rações amorosas. Em nenhuma outra relação a pele é tão pro-funda e extensamente envolvida como na relação sexual.

O rubor é um ponto interes-sante sobre o comportamento humano. Charles Darwin definiu o rubor, como “a mais humana e peculiar das expressões”.

O corpo é um artefato da cultura, apropriado, modelado

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Peles macias, suaves, fir-mes e sedosas, acompanha-das de cabelos lustrosos, são atestados visuais de juventude e boa saúde. Inversamente, a presença de acne, rugas, sar-das, manchas, verrugas e ou-tras imperfeições compromete a beleza do rosto, do mesmo modo que estrias, flacidez, ce-lulite e varizes enfeiam o restan-te do corpo. São numerosos os procedimentos adotados pelas mulheres mais maduras e ido-sas para imitar a pele fresca e luminosa da juventude. No anti-go Egito, elas se banhavam em uma mistura de água e carbo-nato de cal, esfregavam os pés com pedras-pomes e, após o banho, untavam-se de óleos vegetais perfumados com ervas aromáticas.

Na atualidade, recorrem a

variados procedimentos, como limpeza de pele, cirurgia plásti-ca, peeling, aplicação de toxina botulínica e laser, e fazem uso de uma miríade de produtos cosméticos, com vistas na me-lhoria estética e no rejuvenesci-mento cutâneo.

Essas alterações, sujeitas a grande variabilidade porque se processam no âmbito de gru-pos sociais específicos, cada qual com sua cultura, marcam e reafirmam status, identidades nacionais, etárias, religiosas, ocupacionais, de classe, de gê-nero etc. Usualmente, as modi-ficações introduzidas no corpo se conformam aos ideais esté-ticos de cada sociedade e de seus diferentes subgrupos. S

e modificado por ela desde o nascimento, sendo assim sub-metido a um processo de hu-manização perene. Apenas os seres humanos modificam vo-luntariamente o próprio corpo, ornamentando-o e introduzin-do nele alterações temporárias ou definitivas como extração de dentes, piercings, depilações e pinturas corporais.

Essas alterações, sujeitas a grande variabilidade porque se processam no âmbito de gru-pos sociais específicos, cada qual com sua cultura, marcam e reafirmam status, identidades nacionais, etárias, religiosas, ocupacionais, de classe, de gê-nero etc. Usualmente, as modi-ficações introduzidas no corpo se conformam aos ideais esté-ticos de cada sociedade e de seus diferentes subgrupos.

Renato da Silva Queiroz Antropólogo e Professor

[email protected]

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MIMETISMOSPor Severino Gomes

O humorista Chico Anysio encarnava-se num dos seus personagens para se tornar um velho profeta. Rosto fixo num ponto distante, quando não no mais íntimo do interlocutor. Serenidade e ironia. Voz grave e barba de contemplador. Sintetizava as lições em pesadas e penetrantes frases. Todos os que o ou-viam, ficavam extasiados, suspensos no ar.

Ele concluía sempre dizendo: “Podem ficar à vontade!”

Um dia, chegou a ele um grupo de eruditos pes-quisadores, diplomados estudiosos do homem. Le-vantaram questões referentes aos preconceitos vol-tados para a coloração da pele. Ele fixou bem cada um, buscou no horizonte e, de súbito, quis saber deles: “O que vocês sabem sobre a cor da pele de Deus?” Veio o silêncio. Vieram dúvidas e inquieta-ções. Veio o bordão, mas ninguém ficou à vontade.

A pele do homem devia ser o que já nasceu sen-do: a carteira de identidade; a sala de estar; o jardim ou a vitrine da alma. A pele traz a cor da camisa do usuário torcedor na estrada da vida!

Nós, brasileiros, encarnamos com os amarelos, com brancos europeus; encarnamos com os ne-gros. Mas nunca aceitamos torcer pelo time deles, sobretudo destes últimos. Nos aproximamos des-confiados: e esse negão, aí?...

Nossa cultura assimilou bem o preto como depri-mente. Inferior. Símbolo de luto. Não vimos, nossa formação escravista impediu de ver nas pessoas de cor preta um símbolo de luta!

Inventamos mil piadas. Negro quando não isso, faz aquilo... e ao se chegar a este estágio, a coisa está preta. Ops! Por que não estaria cinza, marrom, verde?...

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Revista Sensatez | 21

SBD.ORG.BR

Nosso imaginário caracterizou e pintou de preto coisas de que não gostamos. O diabo nem é tão feio como pintam e é preto. Peça ao doutor, ao senso co-mum, ao operário, ao Presidente... todos pintarão o diabo de preto. Até o presidente operário! Foi isto o que nos ensinou o branco!

Hoje, até pode ser que digam que preto correndo é artilheiro ou coisa que o valha. Há poucas décadas, branco correndo era campeão! E preto?... Veja, você facilmente achou a rima!

O preconceito é terrível. Jamais chegará a ser ci-ência. É certeza incerta. Não vale nem como hipótese de trabalho. Fazer o quê?

Há casos em que é um soco no queixo, uma “cama de gato”. Todo preconceito devia ser pênalty. A propósito, nos tempos de Pelé, dizia o palmeirense exaltado: “não tenho preconceito, mas um nego da-quele fazer mil gols!?” Aliás, pele e Pelé são realidades interdependentes, elos que se entrelaçam. A pele de Pelé faz Pelé ser o que é!

Alguém quer distinguir um negro? Basta tão so-mente dizer que “ele tem alma branca!”

No Brasil do faz de conta, outro dia criaram uma lei, um tanto preconceituosa, que proibiu bulir com negro... Parece que ela não pegou, mas consegue acirrar a luta entre pretos e brancos... Será virtude, ou farsa, virar camaleão?

Só a lei do amor supera a visão míope das coisas. O poeta Jorge de Lima disse que “trazia no seu san-gue o pigmento das raças mais distantes”.

Jorge construiu “o poema do Cristão” onde des-cobriu que “sou velhíssimo e apenas nasci ontem”.

Precisamos saber da cor da pele de Deus e, então, como queria o profeta, podemos ficar à vontade!!! S

Severino Gomes Escritor , Filósofo e Professor

[email protected]

Brasil é hoje proclamado o País da diversidade ét-nica. Tal diversidade foi

construída historicamente, aos poucos, desde o descobrimen-to até os dias atuais. De início, o indígena – habitante original do território –, com sua pele amare-lada, depois, no início do século XVI chega da Península Ibérica o colono branco português. Em seguida, vêm os pretos vindos de várias partes da África , apri-sionados pelo sistema escravo-crata, que foi eliminado somen-te no final do século XIX. Esse desenho de cores (indígenas, brancos e negros) apenas é desmanchado em 1908, com a

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Por José Baptista Borges Pereira

chegada de imigrantes classifi-cados numa quarta cor: a ama-rela. É grande o fluxo imigratório representado, de início, pelos japoneses, e hoje, a partir da II Guerra Mundial, pelos chineses e, principalmente, pelos corea-nos.

Essa composição que tinge o Brasil de quatro cores entra pelos caminhos dos meios--tons, dado o histórico proces-so de miscigenação entre es-ses segmentos populacionais. Atualmente, o censo brasileiro capta e enquadra esse painel de cores em cinco categorias: branco, preto, pardo, amarelo e indígena. Tais categorias re-

têm apenas a cor da pele pre-dominante de indivíduos para colocá-los em grupos “étnico--raciais” específicos, ignorando a eventual diversidade que cada um desses grupos contém. A categoria pardo é um rótulo que serve para englobar as cores misturadas pelo processo de mestiçagem. Nessa categoria estão englobados os mulatos de vários tons, resultantes da miscigenação entre os brancos e pretos; o mameluco, produto do cruzamento entre brancos e índios; o cafuzo, da união ge-nética entre brancos, negros e índios.

Já a categoria indígena, a úl-

AS CORES DO BRASIL

Indígena: Habitante original do território brasileiro

Chega da Penínsola Ibérica o colono branco português

Aprisionados pelo sistema escravocrata, chegam os negros vindos da África

XV XVI XVISÉCULO SÉCULO SÉCULO

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tima na escala do IBGE, desliza do critério de cor – que é fun-damentalmente biológico-racial, para o plano étnico-cultural. Essa quebra de princípio clas-sificatório em termos de cor de pele explica-se tanto pelo gran-de número e ampla diversida-de dos grupos indígenas ainda existentes no país como pela di-ficuldade em nominar as cores ou a cor desse Brasil tão presente na história e tão ausente do cotidiano de certas áreas do país.

Na região amazônica, a percentagem dá vantagem à categoria indígena, com pequenas manchas de ne-gros e mestiços provenien-tes do Nordeste. Essas manchas podem ser de-tectadas também no Su-deste e em parte do Brasil central. Em síntese, a dis-tribuição dessa diversifica-da população pelo território brasileiro é absolutamente irregular e heterogênea, dando a impressão (falsa) de que ela foi feita aleatoriamente.

Na verdade, há um padrão na distribuição espacial dessa pluralidade. É um padrão de caráter socioeconômico, ape-nas indiretamente ligado às ca-

racterísticas biológicas desses diferentes segmentos popula-cionais. Esse padrão foi cons-truído historicamente a partir dos ciclos pelos quais passou a economia brasileira: o ciclo da cana-de-açúcar, o da mi-neração e o da grande lavou-ra (café). Somando-se a esses três macrociclos, o País passou pelo menos por dois outros ci-

clos menos expressivos: o ciclo do trigo, tendo como cenário a então província de São Paulo, e o da borracha, na região ama-zônica.

Esse painel marcado pela diversidade de raças, cores e culturas, visto hoje como natu-

ral, já polarizou no passado o Brasil, definindo um Brasil de pele branca e um Brasil de pele negra.

A história do negro no Bra-sil é marcada pela persistência e luta desse segmento étnico para se livrar do estigma asso-ciado a seu passado de ser es-cravizado e à cor de sua pele, a fim de ocupar o lugar que jul-

ga ter direito na estrutura social brasileira. Essa luta, com ou sem a cumplicida-de do branco, passa por várias fases.

Em síntese, a partir de 1970, o Brasil em branco e preto é redesenhado no plano político ideológico por brasileiros que se au-todefinem como indivíduos de pele negra sem nuanças todos ansiosos por eliminar os entraves reais e os estig-mas simbólicos que histori-camente colocaram o “ho-mem de cor” num quadro,

desde sempre, de subalternida-de social. De certa forma, esse redesenho “arranha” o perfil de uma sociedade que se orgulha de sua diversidade étnica, que pode ser traduzida como diver-sidade de cores que tingem as peles dos brasileiros.

ESSA COMPOSIÇÃO qUE TINGE

O BRASIL DE qUATRO CORES

ENTRA PELOS CAMINHOS

DOS MEIOS-TONS, DADO O

HISTÓRICO PROCESSO DE

MISCIGENAÇÃO ENTRE ESSES

SEGMENTOS POPULACIONAIS.

Brasil recebe ondas migratóriasde Italianos

A raça amarela representada pelos orientais completa a miscigenação brasileira

A diversidade de cores tingem as peles dos brasileiros

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XIX XX XXISÉCULO SÉCULO SÉCULO

José Baptista Borges PereiraAntropólogo e Escritor

[email protected]

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Os nossos corpos têm cor? Se os corpos têm cor, o que significam as cores do corpo? Que relação há entre o corpo e a cor ou entre a biologia e a alma para a maioria dos brasi-leiros? No contexto histórico, o corpo representa lugar de ambi-guidade e transformação.

Na África do Sul os cor-pos negros, brancos e mesti-ços foram dispostos em uma hierarquia na qual os últimos

eram os mais poluidores, destituídos de poder e

perigosos para a

Por Yvonne Maggie

A COR DO CORPO

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nação. No Brasil, ao contrário, o desejo, embora reprovável, não condenou o fruto das uni-ões policromáticas que acabou sendo enaltecido. Não só aqui no Brasil nunca houve lei proi-bindo casamentos mistos ou relações afetivas e sexuais entre corpos de cores ou “raças” dis-tintas, como se elegeu o fruto dessa união como a vitória dos princípios universais, aqueles da Revolução Francesa que di-zem que todos os homens são iguais. Os filhos dessas uniões eram também geralmente reco-nhecidos legalmente.

Falar de corpos e cores e de seu significado é acreditar que as cores são ou carregam significados e assim como a “raça” não são catego-rias com um único sentido. Há significados distintos mesmo sendo as cores limitadas pelo espectro e pela emissão de mais ou menos luz, e os corpos

também constrangi-dos pela biologia,

com braços, p e r -

Revista Sensatez | 25

SBD.ORG.BR

nas, olhos, boca e coração, sexo e o que mais houver de universal, há espaço para a construção de inúmeros signifi-cados.

O exemplo da África do Sul em comparação com o do Bra-sil é interessante porque apon-ta para o limitado, porém vasto universo de sistemas classifica-tórios que nos leva a vidas tam-bém muito diversas.

Na África do Sul, mesmo com o fim das leis raciais, mes-mo com o fim do regime do Apartheid, os casamentos mis-tos são ainda raros e cheios de impedimentos morais. Na África do Sul pós-Apartheid, a mudan-ça se deu no sentido de produzir uma migração de todos os não brancos para o grupo dos ne-gros, e com vantagens devido às ações afirmativas. As velhas diferenças parecem ter ido pa-rar debaixo do tapete. No Bra-sil, ao contrário, os corpos se tornam mais mestiços como mostram as estatísticas.

Os corpos escultu-rais das jovens e lindas mu-lheres como Taís Araújo e Izabel Filardis revelam que o corpo é capital nesse nos-so universo de brasileiros de todas as cores que prefere a mistura,

ao que separa e se opõe. Apesar disso, querem cons-

truir aqui um país de leis raciais em nome de um princípio de realidade, a realidade das desi-gualdades, do preconceito e da preterição. O chamado Estatuto da Igualdade Racial, aprovado por um acordo de lideranças na Câmara e no Senado, e sancio-nado pelo presidente Lula em 2010, obrigará o Estado a levar em conta a “raça”, agora cha-mada de “etnia”, dos indivíduos nas políticas públicas, na edu-cação, na saúde, no emprego e nas empresas. Pela lógica, to-dos os cidadãos terão de se de-finir pela cor da sua pele e não pelo seu caráter, diferentemente do sonho do Prêmio Nobel da Paz, Martin Luther King .

No entanto, esses que pregam o fim do nosso mito de

origem em favor de uma socie-dade “racializada” não podem negar o universo dos desejos dos brasileiros no qual tem pre-valecido a regra que possibilitou a produção de corpos versáteis, misturados, ambíguos. A sim-ples existência do crescimento do número dos autodeclarados pardos, misturados, pode ser a prova viva de que o desejo pelo diferente racialmente, embora socialmente (in) desejável, não foi reprimido por meio de leis e o fruto dessa união não foi conde-nado. É esse corpo produzido por desejos reprimidos embora não cerceados por lei que fala mais do caráter do que da cor dos brasileiros.

Yvonne Maggie Escritora e Antropóloga

*Publicado no livro Corpo, envelhecimento e felicidade, organizado por Mirian Goldenberg, Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2011

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Prof. Flávio Romero Guimarães

povo brasileiro, segundo a Antropologia tradicional, não forma um grupo étnico único e homogêneo. A formação do nos-

so povo constitui uma história de longa duração e de múltiplos atores. Mas, se há uma palavra que pode sintetizar a realidade identitária do povo brasileiro é diversidade. A diversidade de cores, fisionomias, costumes e tradições da nossa gen-te, encontrada em raros lugares do mundo, faz do Brasil um país admirado.

É, portanto, correto afirmar que o povo bra-sileiro é composto por diversos grupos étnicos, formados, principalmente, por descendentes de povos indígenas, colonos portugueses, escra-vos vindos da África e de imigrantes europeus.

Neste sentido, os tipos mestiços – crioulos, ca-boclos, sertanejos, caipiras e sulinos, conforme classificação do etnólogo Darcy Ribeiro (O Povo Brasileiro, 1996), constitui o caldeamento único e o cerne melhor de nosso povo. Devido a esta mestiçagem, os brasileiros possuem uma rique-za de diversidade cultural que deixam marcas profundas na música, na culinária, no folclore, nas festas populares e até na religiosidade. Esse mosaico cultural de múltiplas vertentes faz do povo brasileiro ímpar, único e admirável.

A realidade desse caldeamento de etnias, bem como o realce da mestiçagem como carac-terística fundamental da formação identitária da nossa gente tem sido cada vez mais marcante.

0,2% 1% 8% 43% 48%

817 milIndígenas

2,1 milhõesAmarelos

14,5 milhõesNegros

82,2 milhõesPardos Brancos

91 milhões

Fonte: Censo Nacional de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Brasil de Múltiplas Etnias

Pela primeira vez, o número de brancos não ultrapassou 50% da população e este percentual vem caindo nas últimas décadas.

Essa tendência de queda no percentual de brancos no Brasil, se deve à revalorização da identidade histórica de grupos étnico-raciais historicamente discriminados.

O CALDEAMENTO DAS MÚLTIPLAS ETNIAS

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Destacamos que, ainda assim, é notório que após mais de três séculos de colonização portuguesa, a cultura brasileira é fortemente in-fluenciada pela raiz lusitana. No entanto, essa complexidade do povo brasileiro também foi his-toricamente marcada por conflitos e desigualda-des que ainda não foram superadas. Na atuali-dade, o nosso universo conceitual é dominado por palavras que ocupam posição de destaque na mídia, nas rodas de conversa, nos meios aca-

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dêmicos e até nos marcos legais das diversas Políticas Públicas Sociais. Palavras como diver-sidade, inclusão e multiculturalismo estão na or-dem do dia. Portanto, atualmente, o nosso maior desafio é conviver com essa diversidade alicer-çada no respeito, na tolerância e na igualdade de oportunidades. Historicamente, temos uma dívida social com grupos étnicos importantes na formação da nossa matriz identitária, a exemplo dos negros e índios.

A escola não é uma célula isolada da tessitura social. Na escola, os conflitos e desigualdades do mundo externo muitas vezes são potencializa-dos. O ambiente escolar é uma “caixa de resso-nância” da realidade social externa. Os múltiplos atores da realidade do chão da escola são os mesmos que atuam em outros cenários no “pal-co” da vida. Todos, irremediavelmente, trazem ao ambiente escolar as suas leituras de mundo e as suas ideias prévias, fortemente determinadas pelo contexto sociocultural, econômico e até reli-gioso em que vivem.

A escola, portanto, tem papel fundamental na mediação de todas essas diferenças que carac-terizam a formação do povo brasileiro, que se fazem presente no cotidiano escolar, como res-sonância da realidade externa. Aos educadores, portanto, agrega-se essa missão cidadã de con-tribuir no seu fazer pedagógico para a superação das desigualdades, da intolerância, do precon-ceito e da discriminação. Ao Estado como ga-rantidor dos Direitos Fundamentais, cabe criar os instrumentos, inclusive de caráter normativo, que possam fomentar a ambiência de transformação da realidade social, ainda marcada pela desigual-dade, intolerância e preconceito.

Diante dessa realidade, é pertinente um questionamento: qual o papel da escola na mediação e enfrentamen-to desse desafio?

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Neste sentido, importante avanço foi a implantação da Lei nº 10.639/2003, alterada posteriormente pela Lei nº 11.645/2008, que determina a obri-gatoriedade da inclusão do estudo de História e Cultura Afro-Brasileira e Indí-gena nos currículos oficiais das Redes de Ensino. Esta Lei se assenta no marco do Estado Democrático de Direito, nota-damente nos princípios da diversidade e do pluralismo cultural, como pressu-postos do reconhecimento e respeito à dignidade humana e à sua identidade cultural, assim como da igualdade de valorização das múltiplas culturas que compõem a formação social brasileira, contribuindo dessa forma, com a supe-

ração da desigualdade, do preconceito e da discriminação, promovendo o ho-mem e a vida.

Da escola, a sociedade espera mu-danças desejáveis à formação de uma sociedade justa e igualitária devendo ter, segundo Paulo Freire, “Compromisso com o destino do país. Compromisso com seu povo. Com o homem concre-to. Compromisso com o ser mais des-te homem”. Portanto, que a construção dessa bela nação, justa e igualitária, seja a nossa missão comum. Seja o nosso sonho novo, cotidianamente acalentado. A nossa nova utopia, a ser buscada por toda a vida.

Prof. Flávio Romero GuimarãesProfessor Universitário

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PERFIL

Por Ribamildo Bezerra e Júlia Costa

e afirmarmos que Isabel Fillardis é uma mulher de vinculação étnica, não estaríamos cometendo nenhum equívoco. Derivado do termo grego ethnos, etnia quer dizer povo, no sentido de “estrangeiro”, onde na época referia-se a povos não gregos.

Neste contexto, Isabel pode ser considerada uma estrangeira, por romper impor-tantes fronteiras do mundo do entretenimento. Enquanto a mídia se sustenta pela força de um glamour, Isabel se mostra de carne e osso, socialmente engajada, envolvida em sonhos e ideologia que a fazem uma mulher surpreendentemente mais bela.

Sua luta simboliza a de todas as mulheres que, além de assumirem os papéis básicos da vida – mãe, esposa, filha, profissional etc –, ainda conseguem tempo e disposição para ir além, como se dedicar a projetos sociais e ambientais. Isabel está à frente de uma das maiores organizações de coleta seletiva de lixo do Brasil, a Doe Seu

AS RAÍZES DE UMA MULHER DE RAÇA

FOTO: IGOR RODRIGUEZ

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Lixo. Foi através desta organização, inclusive, que Isabel coordenou com exclusividade a coleta seletiva de todo o Rio+20.

A cultura e o exercício da sensibilidade da alma, foi aos 17 anos, quando Isabel abraçou o primeiro papel como atriz na televisão. E de lá para cá, vários papéis se sucederam na sua vida artística. Atualmente, está com projetos para o teatro, como atriz e diretora. E não deixa de lado seus projetos com cinema. No dia em que esta entrevista foi realizada ela estava a caminho do Festival de Cinema do Ceará.

A mãe de Analuz e Jamal Anuar conta um pouco mais sobre seus projetos, realiza-dos e sonhados, de cunho artístico e social, na entrevista exclusiva que deu à revista Sensatez.

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PERFIL

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A Sociedade Brasileira de Dermatologia nesse ano que completa seu centenário desenvolveu um projeto intitulado “Laços de Família: Etnias do Brasil”, com o propósito de valorizar a mistura de raças e os dife-rentes tipos de pele do brasileiro. Você conhece seus antepassados? Qual é a origem de sua família? Há muita mistura?

Do que eu conheço, sei que tenho descendentes de índios, pela minha família materna do Espírito Santo e da minha família paterna, baianos, negros baianos e italia-nos. Meu bisavô era italiano, inclusive. É muito esclarece-dora essa mistura, não só minha, como de tantos outros brasileiros. Saber que ela existe pode mudar a mentalida-de das pessoas quanto ao preconceito.

Mesmo num país tão antigo e miscigenado quanto o nosso, ainda temos problemas com as diferenças, se-jam elas em relação ao sexo, à cor, à origem... Quais valores você considera importante passar para os seus filhos, para que eles possam viver num mundo mais justo?

Primeiro, acredito que é importante eles entenderem a origem deles, tanto miscigenada, quanto social. Entender que tudo o que a gente constrói é com muito esforço, muito trabalho e que isso vale a pena. Porque a facilidade de conseguir as coisas não é legal. Ela pode acabar inter-ferindo na índole, no caráter e estragando a pessoa.

Eu sou da religião Espírita por influência da minha família e os valores humanos foram norteando minha vida, em questões de fazer o bem, fazer caridade, saber dividir, distribuir. Aprendi muito com minha família, mas muito também com minha ancestralidade. Quero que meus filhos saibam de onde eles vieram. Como vieram. Minha avó, por exemplo, era baiana. Nasceu em Cacho-eira, uma cidade mística. Os navios negreiros chegaram lá, ancoraram lá. Eu quero que eles saibam disso tudo.

Você tem dois filhos, a Analuz e o Jamal Anuar. O que mudou na sua percepção de convivência ao saber que o seu segundo filho, Jamal, era portador da Sín-drome de West? Como cada um deles mudou a sua vida?

Meus filhos me amadureceram muito. Me fizeram mulher de fato. Porque você educar, gerar uma criança,

um ser, é algo inexplicável. Você acaba vivendo não só por você, mas por eles. Quando a a gente é jovem, é um pou-co egoísta porque só pensa na gente. Quando você casa, monta família e é mãe, tudo muda: o olhar da vida, o foco, o objetivo... Você faz planos para você e para eles. Ainda que eles tenham as suas escolhas, você prepa-ra um alicerce. Tudo isso me mudou muito e fez com que eu ficasse uma pessoa ainda mais ponderante, gene-rosa. Principalmente depois da chega-da do Jamal. Foi mais profundo ainda, da questão da essência do ser huma-no, de enxergar as pessoas como são, entendê-las com seus defeitos e suas virtudes.

Quais foram suas intenções em criar os projetos sociais A Força do Bem e Doe seu Lixo?

Quando resolvemos criar a Força do Bem o Jamal tinha dois anos e estava entrando numa fase boa, depois do diagnóstico da Síndrome de West. As crianças com essa síndrome têm muita crise convulsiva e ele, após os dois anos, parou de ter. Foram diversas conquistas motoras e cognitivas. A Força do Bem foi criada, então, para dividir essas experiências e informa-ções que adquirimos com outros pais e mães que tinham filhos especiais. Nós os direcionamos para hospitais, para que consigam atendimento e agi-mos no encaminhamento das famílias.

Quanto ao Instituto Doe seu Lixo, o que me motivou foi minha filha. Quan-do ela nasceu, li uma matéria sobre todos os problemas que o mundo estava enfrentando por conta da po-luição e outras ações inconsequentes dos homens. Eu tive esse despertar, então, quando fui mãe. Falei com meu marido que devíamos fazer alguma coi-

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Eu, digo por mim, não gostaria de ser colocada por cota, mas pela

minha capacidade.

PERFILsa, que aquilo prejudicaria nossos filhos, por exemplo, e tantas outras pessoas. Meu marido, começou a me ajudar com essa ideia, estudando como o lixo poderia gerar renda. Começamos a entender o que é reciclagem, coleta seletiva... Aí estudamos uma forma de criar o projeto e envolver empresas e pessoas da sociedade. Buscamos moradores de rua para colocar neste projeto, com o intuito de mudar as duas realida-des, social e ambiental.

Através desse projeto conseguimos multiplicar nossa tecnologia no país todo e criar um projeto diferenciado. Veio, então, o Rio+20. Fomos convo-cados pouco a pouco para fazer a coleta seletiva de alguns polos. De repente, nos vimos fazendo a coleta de todos os polos. O presidente da PNUMA, principal autoridade global em meio ambiente, nos fez uma visita e ficou encantado. Disse que tudo o que ele prega, tudo o que ele fala dentro do que é economia verde é o que fazemos. Ficamos orgulhosos de poder estar fazendo algo assim, de estar no momento certo, fazendo a coisa certa.

Há alguns anos você apoiou a iniciativa da promo-tora Deborah Kelly sobre o projeto de cotas para negros na São Paulo Fashion Week. Como você vê projetos como este e o de cotas para negros em universidades?

Existem dois olhares diferentes. O primeiro, eu diria que é o seguinte: o negro vem sendo marginali-zado desde a época da escravidão e acabou que ele ficou à margem da sociedade e isso atinge a grande maioria pobre. Com isso, ele tem dificuldade de ter um ensino de excelência para que possa exercer uma faculdade. O ensino fundamental dele não foi de base e por isso não passou. A questão das cotas ajuda no ensino e no mercado de trabalho porque o empresá-rio acha que o negro não tem capacidade de gestão e acaba não contratando um negro por causa disso. Ainda que ele seja melhor.

E tem o outro olhar, de que, por exemplo, existem os negros que são capazes e que não querem passar por causa da cota, mas porque ele teve a oportunida-de – ou buscou a oportunidade – de estudar e sabe fazer. Ele não quer ser convocado por causa da cota.

Eu acho que esses olhares se chocam até hoje. Eu, digo por mim, não gostaria de ser colocada por cota, mas pela minha capacidade. Me daria mais orgulho, mais felicidade de saber que eu fui por minha capacidade, nao porque sou negra. Mas eu entendo que para que algumas coisas aconteçam, a cota teria um papel benéfico, por isso sou a favor.

Já perdeu ou ganhou oportunidade por ser negra?

Isso acontece bastante. Na época que eu era modelo, quando não era eu a escolhida, era outra negra, pois sempre tinha que ter UM negro e UMA negra. Depois isso mudou, mas aí eu já era atriz. Aí eu entrava no papel negro da história. E era um problema porque se fosse novela de época e não fosse no contexto da escravidão, o negro não era representado na história. Se a novela era contemporânea, tinha que dar sorte do autor ou diretor querer trabalhar com você pelo seu talento. Eu diria que sou uma pessoa de sorte, pois apareci no momento certo. Me destaquei no primeiro papel que fiz, que foi a Ritinha, de Renascer. Era um papel carismático, que me projetou no Brasil todo.

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Se tomarmos a definição de preconceito, como uma ideia concebida sem prévio conhe-cimento, na sua opinião, poderíamos dizer  que o preconceito sobre raças e culturas no Brasil ainda é vigente? E qual seria a raiz do mesmo, desconhecimento ou má fé na disseminação de ideias sobre diferenças?

É bem por aí. É pura falta de conhecimento. É preciso parar para estudar, para conhecer nossa história, entender quem são de verdade os negros que vieram para o Brasil ...

Ninguém conta de fato como a história acon-teceu; que os negros eram príncipes, que tinham famílias, terras na África, que foram arrancados de lá. Só se conta que os negros foram trazidos, mas e antes? De onde eles vieram? É uma história muito cruel e ela sendo contada modificaria toda a autoestima do negro brasileiro.

Você é mãe, esposa, sempre se dedicou a pro-jetos sociais e trabalha desde os 11 anos. Qual é seu segredo para lidar com tudo? E o que faz para manter-se bela?

Eu tive uma boa educação. A minha família à minha volta foi fundamental para eu ter estrutu-ra de suportar a distância. Hoje, eu conto com pessoas que trabalham comigo, uma cozinheira, uma arrumadeira, duas babás. Minha mãe, meu pai e meu marido me ajudam muito. Isso me deixa segura para tocar minha carreira e meus projetos sociais. Minha família toda exerce função nos dois projetos. Isso faz com que consigamos ir adiante. Sobre continuar bela, é preciso muito esforço. Tenho que encontrar tempo para ir ao pilates, ir à minha ortodentista – tenho bruxismo quando estou muito tensa. Até durmo com aparelho por causa do bruxismo. Estou sempre na dermatolo-gista, com consulta semanal.

Ano que vem você completa 40 anos. Quais projetos pessoais e profissionais estão em an-damento e quais você ainda pretende realizar?

Nossa! Ano que vem faço 40 anos? Ainda não pensei sobre isso. Hoje estou com alguns projetos para o teatro, como atriz e como produtora. Estou

fazendo parceria com a Sarau Agência para remontar o Pererê, do Ziraldo. Eu par-ticipei em 2003 como atriz e agora quero remontar como produtora. Estou lendo alguns textos para teatro, musicais e co-média. Quero muito fazer algo voltado para comédia. Estou a espera da Cor Púrpura, um espetáculo da Broadway, que deve chegar aqui no próximo semestre. Hoje estou indo para o Festival de Cinema do Ceará. Quero muito voltar a fazer cinema também. E quanto à TV, estou a espera de um convite para novela.

No âmbito socioambiental, em novem-bro deste ano teremos um evento cha-mado Rio Eco Moda. É um projeto que faremos em novembro, dentro do instituto Doe seu Lixo, onde teremos uma Mesa Redonda para colocar moda e sustentabi-lidade dentro do mesmo patamar. Vamos ter desfile, mostra de produtos feitos com reciclagem. A ideia é fazer com que esta questão vire moda e se torne ferramenta de divulgação de informação.

Quais sãos os próximos desafios sociais da Isabel Fillardis?

O Rio Eco Moda é um deles. Penso na possibilidade de virar empresária e criar algo neste sentido. Ainda nao sei dizer o que especificamente, porque estamos na fase de pesquisas. Mas acredito que acon-teça algo neste sentido. Estou também vivendo o desafio como produtora cultural e espero que venham muitos outros!

Depois do Rio+20 acredito que eu vão ter outras responsabilidades. Na última semana, por exemplo, participei de um projeto do Ministério do Meio Ambiente com a presidente Dilma e a ministra, que fizeram uma conferência sobre sustenta-bilidade. Quem sabe não sai algo dessa proximidade com o Ministério do Meio Ambiente. É o que a gente sempre quer! Parcerias produtivas! S

Ribamildo Bezerra e Julia CostaJornalistas

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Por Maria Dulce Mattoso

TOCADOS PELA BIODANÇA

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ivemos numa sociedade que olha o corpo mais no sentido con-sumista; um corpo que se mostra cada vez mais trabalhado nas academias, na praia. Mas esse corpo que adoece e que, através

da doença, está falando que alguma coisa não está funcionando bem em termos gerais, precisa ser ouvido e entendido.

A biodança é um trabalho de grupo que utiliza no primeiro momento, a palavra e posteriormente a vivência corporal.

Os exercícios passam por várias linhas de vivência: o canal da vitalida-de, da sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência. Se alguém sofre de depressão, de desânimo, de falta de objetividade, trabalhamos com exercícios que falam e estimulam essa vitalidade. Depois, mexemos com o canal da criatividade. Vivemos um padrão social, uma educação, que tem o objetivo de dar forma para que as pessoas se enquadrem. E a criatividade é sufocada demais neste sentido. A pessoa tem vergonha de mostrar algo diferente. É preciso que ela resgate sua verdadeira for-ma de ser, de fazer as coisas do seu jeito. Não só no sentido artístico, mas na vida mesmo. Na linha de vivência que passa pela sexualidade, trabalhamos o resgate do prazer na nossa vida. Não é só a sexualidade genital, mas um erotismo da vida como um todo. No canal do afeto, o objetivo é resgatar a sensibilidade do ser humano para o cuidado consi-

go mesmo, com o outro, com o planeta. O objetivo é recriar este vínculo afetivo.

Na linha da transcendência, a proposta é entrar na dimensão divina e repensar o sentido existencial da vida. É preciso redi-mensionar os sentimentos amorosos e afetivos.

Depois dessas vivências, exploramos a intimidade verbal, que é quando abrimos este espaço para que as pessoas possam conversar sobre os momentos vivenciados.

Vivemos numa sociedade que está cada vez mais descuidada com as coisas. Um exemplo são as inúmeras reportagens sobre como as cidades estão sujas porque as pessoas jogam o lixo em qualquer lugar. Isso é reflexo deste descuido, desta doença afetiva. É da mesma forma que se jogam palavras e o descuido acontece com atitudes grosseiras. Ao contrário, resgatando o afeto, você consegue começar a mudar isso para você, começa a se cobrar e cobrar do outro uma nova posição.

Deixar-se tocar é fruto de uma educação. Uma família que tem muita permissão para o contato tem crianças, naturalmente, mais abertas para isso. Se dentro da própria família o contato já é uma coisa difícil e restrita, a criança vai criando essa limitação. Muitas vezes as pessoas chegam extremamente fechadas e com doenças, como o pânico, por exemplo. O pânico é o medo de tudo, inclusive do outro. Todo mundo passa a ser uma ameaça.

As vivências que podem ser construídas são inúmeras. Trabalhamos o toque, o afeto, a criatividade e o amor...contribuindo dessa forma para uma vida mais saudável e feliz ! S

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Maria Dulce MattosoPsicóloga e Escritora

[email protected]

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Por Rossandro Klinjey Irineu Barros

EqUILIBRIUM

a busca incessante por novas fontes de identificação pessoal, o ser humano tem investido de forma frenética e exagerada

no corpo. São crianças, jovens, adultos e velhos, numa busca desenfreada para manter-se nos padrões estéticos alucinantes e destrutivos dos meios de comunicação.

A sociedade ocidental, com forte influência, sobretudo do cinema, estabeleceu um padrão estético nórdico, loiro(a), branco(a), olhos azuis, como o símbolo máximo de beleza a ser seguida. Esse modelo encontra seus primeiros referenciais nas pinturas europeias, nas quais até mesmo um clássico homem judeu de cabelos negros e pele morena, é representado por um homem branco e de cabelos e olhos claros, que é Jesus. E Ele sai das pinturas e esculturas clássicas para as telas do cinema sendo apresentando como um euro-peu, e não como um hebreu do Oriente Médio.

Esse padrão, reforçado historicamente por

personagens que vão das celebridades do ci-nema hollywoodiano, passando pela boneca Barbie, paquitas e suas afins, cria um modelo etnocêntrico que descaracteriza outros modelos, gerando nas demais culturas e etnias um desejo de se aproximar dessa estética europeia, como vemos no afã de orientais para realizar cirurgia que visam “ocidentalizar” os olhos, ou a guerra constante por alisar os cabelos, algo que ficou cristalizado em mim quando, ao término de uma sessão de psicoterapia uma paciente comentou: depois da consulta estou indo para o salão de beleza “lembrar” aos meus cabelos que eles são lisos!

A influência do meio na formação do concei-to de belo sobrepuja, muitas vezes, a percep-ção pessoal que temos da beleza, posto que ela se inscreve dentro das referências culturais nas quais estamos inseridos, sendo, portanto, uma conquista dentro do grupo social ao qual perten-

A ESTÉTICA DO REAL E DO MITO

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Rossandro Klinjey Irineu BarrosPsicólogo

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cemos. Todavia, é uma busca sem limites e inal-cançável, uma vez que a perfeição não é factível e nem sequer é definida pela cultura.

O que vemos na verdade é uma cultura es-pecífica, a branca-ocidental, eleger seu padrão como o mais belo e, através dos aparelhos ide-ológicos de que dispõe, da arte aos meios de comunicação, ela pretende impor esse modelo como meta para as demais etnias.

Todavia, num mundo cada vez mais multicul-tural, esses padrões estão sendo questionados, de modo que o belo é percebido em todas as raças. Nas particularidades de cada grupo étni-co, veem-se as expressões sensíveis e únicas da beleza que transcende padrões ditatoriais esta-belecidos.

A contribuição da dermatologia na descons-trução dessa visão etnocêntrica da beleza é in-discutível, posto ser o dermatologista um dos profissionais que mais lida com a angustiosa

busca do belo por pacientes que muitas vezes desrespeitam os limites do próprio corpo, sem se dar conta da necessidade de consolidação dos recursos emocionais que os permita enxergar o belo de forma mais ampla, evitando assim o apri-sionamento aos padrões inalcançáveis.

Nada mais justo de que manter o corpo são, desde que a mente também esteja sã, mas não é o que tem acontecido. Para manter esse corpo, não diria são, mas nos “padrões”, a nossa psi-que tem pago um alto preço, quais sejam: que ninguém consegue ser perfeito, e essa busca gera uma frustração constante. Há uma distância entre a busca estética saudável e necessária, o cuidado equilibrado com o corpo e a busca an-gustiante de uma perfeição que nos escraviza. S

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NATURALMENTE

advogada Alice Freitas é uma dessas pessoas que não desis-tem nunca, não importa o tama-nho do desafio que encontram pela frente. Aos 23 anos, quan-do já era graduada em Direiro pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possuía uma carreira recente, mas con-solidada, numa multinacional americana de cosméticos, dei-xou tudo para trás para realizar um sonho: descobrir no mundo formas diferentes de mudar a vida das pessoas.

A rede ASTA é a primeira rede de venda direta de artesanato inclusivo no país, com todos os produtos feitos a mão por pe-quenos empreendedores. Alice conseguiu. A geração de renda

ARTE INCLUSIVA

ARTE INCLUSIVA

é única no objetivo de contribuir para a redução da desigualdade social brasileira. Além de ofere-cer oportunidade a mulheres que estão fora do mercado de trabalho, capacitando-as para produzir e comercializar, a rede ASTA tem foco total na sus-tentabilidade, pela utilização de resíduos para a confecção dos seus produtos.

Atualmente, a rede trabalha com 50 grupos produtivos, be-neficiando mais de 700 artesãs. E a logística de todo o negócio funciona assim: é feita a seleção de grupos produtivos formados por mulheres, moradoras de co-munidades (90% do estado do Rio de Janeiro e 10% em outros Estados); a ASTA oferece trei-

namentos e apoio à criação das coleções; é realizada a escolha dos melhores produtos - entre acessórios, itens de moda e de-coração -, mais de 80% feitos a partir do reaproveitamento ou reciclagem de diferentes mate-riais; os produtos seguem, en-tão, para os canais de venda: catálogo, site (www.asta.org.br) ou empresas. A venda direta dos produtos é feita pelas Con-selheiras, termo usado para de-signar pessoas que acreditam no comércio justo e que podem aconselhar sobre a importância do consumo consciente.

Desde 2008, a ASTA já to-taliza R$ 710 mil em renda ge-rada para os artesãos. A cada R$10,00 investidos por parcei-

A rede ASTA, idealizada e fundada por Alice Freitas, transforma grupos comunitários em negócios sustentáveis

Por Julia Costa

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econômico. Queremos também que esses talentos escondidos dentro das comunidades sejam reconhecidos, descobertos. Pre-tendemos ser – e já somos, na verdade -, um catalizador des-ses microempreendedores com talentos que ninguém conhece”, fala Alice, que já busca formas concretas de expandir seus ne-gócios pelo Brasil. E é assim que essa ex-advogada do mundo corporativo segue a vida: lutando para que sua ideia de um mundo melhor se torne realidade e acre-ditando que com um pouco do esforço de cada um de nós, sus-tentabilidade e ação social não serão somente palavras boni-tas, mas que simbolizarão nosso modo natural de viver.

Diz a mitologia que a humanidade viveu um período de obscurantis-mo e guerras, prevalecendo a maldade e a inveja entre os homens. Zeus decidiu enviar Astrea, a mais pura de todas as Deusas para resolver a situação. Astrea impôs justiça e ordem entre os mor-tais.  Sua época foi conhecida como Idade de Ouro, a idade feliz, uma época de igualdade e harmonia. A palavra ASTA vem de As-trea, a Idade Feliz.

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Julia CostaJornalista

[email protected]

ros na Asta, R$ 2,00 retornam em renda direta para os grupos produtivos. A meta é conquis-tar ainda mais revendedores e consumidores, atrair parceiros investidores e replicar a ASTA para outras cidades do país nos próximos anos. Com a chega-da a São Paulo, prevista para este ano, a Rede quer aumentar consideravelmente o número de Conselheiras, incrementar em 30% seu faturamento e incluir grupos paulistas nos catálogos. Até 2015, a expectativa é apoiar 85 grupos, beneficiando mais de 1500 artesãs.

“Nosso objetivo está se tor-nando realidade, que é tornar a marca ASTA numa referência de produtos com essa histó-ria de cunho social, ambiental e

POR QUE ASTA?

www.asta.org.br

rede_astawww.facebook.com/redeasta

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Receita extraída do livro

“Na cozinha com Carolina”,

Ed. Blocker Comercial Ltda.

São Paulo, 2010.

ara os que estão entrando em contato com este meu lado agora, saibam que minha paixão por cozi-nha é antiga. Começou há muitos

anos, ainda pequena, na cidade de Goi-ânia, quando minha mãe fazia jantares pros amigos e ficava o dia inteiro às voltas com os preparativos. Sempre ado-rei o espaço da cozinha, pra mim o recanto mais caloroso e vibrante de uma casa.

Minha paixão por essa alquimia che-gou ao ponto de algumas vezes eu sair sem destino pra provar qualquer coisa, voltar pra casa e, por pura pretensão, tentar reproduzir exatamente o que havia experimentado apenas com a memória do paladar. Confesso que poucas vezes acer-tei, outras errei profundamente, mas na maioria acabei fazendo a minha própria interpretação de tudo o que provava.

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SABOR E ARTE

Por Carolina Ferraz

NA COZINHA COM CAROLINA

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Modo de fazer

Ingredientes

Imagem ilustrativa

3 limões espremidos3 tomates, picados bem miudinhos1 cebola grande, picada bem miudinha½ pimentão vermelho, picado bem miudinhocaldo de frango reservadoazeite virgem extra, a gostosal e pimenta-do-reino, a gostoMisture todos os ingredientes e sirva em uma molheira à parte.

2 kg de frango (peito, coxas e sobrecoxas) temperado com sal, alho, pimenta-do-reino e limão5 xícaras de chá de arroz, lavado e escorrido3 cebolas médias, cortadas bem miudinhas2 dentes de alho grandes, espremidos3 tabletes de caldo de galinha1 colher de chá de açafrão (cúrcuma), em pó ou 1 ½ colher dele fresco, ralado fno1 maço de cheiro-verde, picado3 tomates maduros, sem pele e cortados miúdosPimenta-do-reino branca, moída na hora, a gostoSal e pimenta-de-cheiro, a gostoÓleo

Numa panela de ferro grande, coloque um pouco de óleo e refogue os pedaços de frango (alguns por vez) até que eles fiquem bem corados. Coloque água o suficiente para cozinhá-los e ainda sobrar. Reserve o caldo e os pedaços de frango.

Desosse-os e deixe alguns pedaços inteiros e mais bonitos para colocar por cima na hora de servir. Na mesma panela, coloque mais um pouquinho de óleo e refogue a cebola e o alho com 1 pimenta-de--cheiro. Depois, refogue o tomate até desmanchar. Em seguida, coloque o arroz e, quando ele estiver bem refogado, junte o frango, o açafrão, a pimenta-do-reino, os tabletes de caldo de galinha e a água em que co-zinhou o frango, porém reservando ainda um pouco para o molho, o suficiente para cozinhar o arroz, deixando-o bem soltinho. Quando estiver quase seco, ponha os pedaços de frango que ficaram reservados e, por cima, bastante cheiro-verde e pimenta-de-cheiro para decorar. Sirva bem quente, acompanhada do seguinte molho:

GALINHADA (OU ARROZ COM GALINHA)

Serve 10 pessoas

O mais legal em cozinhar é que uma vez dominada aquela receita, você pode incrementar e variar de acordo com seu gosto. Isso torna as possibilidades de combinação infinitas.

Carolina FerrazAtriz e Escritora

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SABOR E ARTE

heróica saga dos Irmãos Villas Bôas, criadores do Parque Na-cional do Xingu em 1961, marco na defesa dos direitos dos povos indígenas, ganha as salas de cinema com o longa Xingu. Dirigido por Cao Hamburger, o filme vem ressaltar e imprimir a importância devida da atuação de Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas no estabelecimento da maior reserva indígena em território brasileiro.

O projeto nasceu de um desejo de Noel Villas Bôas, filho de Orlando, em ver a aventura dos irmãos contada pelo cinema. Caracterizando-se como uma verdadeira aula para aqueles que não compreendem o quanto movimentos como a “Marcha para o Oeste” ou a construção da rodovia Transamazônica geraram verdadeiros genocídios responsáveis por afetar tribos indígenas

“Se achamos que nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela terra é acumular riquezas,

então não temos nada a aprender com os índios. Mas, se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem

dentro de sua família e dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos dar”.

Cláudio Villas Bôas

O PASSADO qUESTIONANDO O PRESENTE

XINGU

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Por Ulisses Praxedes

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que há muito eram as reais donas daquelas ter-ras. O filme traz um ótimo elenco e também uma direção brilhante de Cao Hamburger.

Na obra são narrados os principais aconteci-mentos da expedição que os Irmãos Villas Bôas con-duziram pelas entranhas do Brasil, que de início era pra ser apenas uma aventura e que culminou na criação do Parque Nacional do Xingu. Os irmãos embarcaram na defesa de um ideal e segui-ram sertão adentro a par-tir de 1944, data do início da Expedição Roncador--Xingu. Dois anos depois fizeram o primeiro contato direto com uma etnia indí-gena, a Kapalo. Em 1952, apresentaram o projeto de criação do Parque, que só viria a se concretizar após nove anos de negociações.

A missão de personifi-car os irmãos foi entregue a três grandes atores da pro-dução brasileira: Felipe Ca-margo, João Miguel e Caio Blat. “Escolher o ator certo para cada persona-gem é 70% do trabalho. Estou satisfeito com o resultado”, avalia Hamburger.

O filme transpassa emoção e sentimento na

medida certa, sem a busca do clichê e sem in-cluir lugares comuns. A fotografia, em sépia, saturada ao contraste, brilhando por causa do calor, conserva a nostalgia dos anos quarenta.

A narrativa procura o ama-dorismo proposital, quase quem em estilo de docu-mentário, com qualidade, aludindo ao gênero nove-lesco por ser épico e clás-sico. Essa mesma foto-grafia favorece a benéfica exposição da etnia indíge-na. O barro, a madeira e a cor da pele se fundem em uma raça única felizmente bem retratada.

Analisamos, então, a estrutura antropológica e antropofágica de um país, no caso o nosso. Ao retratar o encontro e relacionamento de duas etnias vemos que a lógi-ca é simples: é inevitável a influência mútua ao co-locarmos dois povos dife-rentes frente a frente. De um lado, temos os índios,

que sobrevivem do próprio trabalho, da caça, pesca, com tradições éticas, terapêuticas e reli-giosas. Do outro, os brancos, que já absorveram inúmeras transformações e “mutações”. Quando

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este encontro se faz presente, os dois perdem e os dois ganham, dependendo do ponto de vista extremamente subjetivo, caso questionemos o que é evolução. São percepções sem o certo e o errado.

Xingu não é apenas um filme de época que aborda um episódio do passado, mas também uma produção que permite ao público traçar lei-turas com questões do presente. Enquanto es-pectador, a certa altura do filme, o envolvimento com a narrativa, ultrapassa a identidade da pe-lícula quebrando a dicotomização de brancos e índios.

É possível, por imersão na história, nos identi-ficarmos sensorialmente, ora como brancos, ora como índios; uma positiva provocação sobre o quanto estamos culturalmente amalgamados, sem definir ao certo onde começa a influência de uma cultura e onde termina a outra.

Uma saga que também descreve o quanto ainda é inexplorada a nossa construção cultural social e política, e o quanto estas múltiplas rela-ções precisam vir à baila. Uma necessária expe-dição nessa selva histórica que define a plurali-dade de raças e que nos leva a diálogos sobre a identidade multicultural do povo brasileiro. S

Direção: Cao Hamburger

Roteiro: Elena Soarez, Cao Hamburger e Anna Muylaert.

Elenco: João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maiarim Kaiabi (Prepori), Awakari Tumã Kaiabi (Pionim), Adana Kambeba (Kaiulu) Tapaié Waurá (Izaquiri), Totomai Yawalapiti (Guerreiro Kalapalo), Maria Flor, Augusto Madeira e Fábio Lago.

Fotografia: Adriano Goldman, ABC

Música: Beto Villares

Montagem: Gustavo Giani

Produção: Fernando Meirelles, Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck.

Produtora: O2 Filmes

Coprodução: Globo Filmes

Distribuição: Downtown Filmes, Sony Pictures e RioFilme

FICHA TÉCNICA

Ulisses PraxedesJornalista e Especialista em Assessoria de Mídia e Comunicação

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SAMBA EFEIJOADA:PURA MISTURA BRASILEIRA

Por Ribamildo Bezerra

Pois sem os elementos bá-sicos da mistura e do tempero que faz a magia do amálgama brasileiro, nem a feijoada seria este prato tão nosso, quanto samba que estaria fadado a ser uma dança exótica, onde pes-

soas em coreografias marcadas dariam umbigadas a cada bati-da forte do ritmo. Dentro deste grande caldeirão cultural é pos-sível afirmar que tanto a feijoada como o samba são resultados do encontro de diferentes po-vos que com suas referências construíram a nossa miscigena-

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SABOR E ARTE

Uma das revelações do sam-ba no Brasil, a artista Eloísa Olin-to, ao cantar a música Feijoada Completa, de Chico Buarque de Holanda, em um dos seus shows, coloca um “tempero”tão seu na interpretação, que mais parece ter sido uma música feita para ela.

Talvez aí esteja a magia do samba. Um gênero tão secular quanto dinâmico, e que soube fincar raízes nesta pluralidade étnico-cultural chamada Brasil, que não há quem o descreva sem que cometa algum pecado por omissão, pois ninguém até hoje se arrisca a definir um gê-nero musical que soube agregar manifestações religiosas, per-formáticas, literárias e gastronô-micas. “Ninguém canta samba cartesianamente. Toda musica-lidade deste gênero dá ao seu intérprete uma singularidade própria, desde que sua alma esteja aberta para sonoridade a mágica só acontece se tiver mistura” afirma Eloísa.

da identidade. A feijoada está longe de ser

romanticamente um prato cria-do nas senzalas pelos escravos que juntava os restos de carne que os senhores de engenho e fazendeiros não queriam. Estu-dos comprovam, cerca de 300 anos antes do descobrimen-to do Brasil, os portugueses já conheciam o feijão, e que a mistura de feijões com carnes não era comum aos africanos e, sim, aos europeus. São histó-ricas as receitas europeias que misturam carnes com feijão e um exemplo disso é o próprio cassoulet, de origem francesa .

O Feijão Preto que é origi-nário da América do Sul, era parte integrante da alimenta-ção dos índios, acompanhado de pimenta-malagueta e milho, uma soma até então desconhe-cida pelos europeus. Este “elo gastronômico” tem continuida-de com os escravos africanos, que viriam a substituir os ín-dios como mão de obra. His-

Feijoada CompletaChico Buarque

Mulher, você vai fritarUm montão de torresmo pra acompanhar:Arroz branco, farofa e a malagueta;A laranja-bahia ou da seleta.Joga o paio, carne-seca,Toucinho no caldeirãoE vamos botar água no feijão.

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toriadores constataram, além da presença do feijão ralo, a complementação com a laran-ja utilizada pelos escravos no combate ao escorbuto, doença causada pela falta de vitamina C no corpo. Coincidência ou não é no século que marcaria o fim da escravatura que a feijoada ganha anúncio e registro histó-rico de um prato apreciado pela elite da época, exemplo dis-so está no dia 7 de agosto de 1833, no Diário de Pernambu-co, em que o recém-inaugurado Hotel Théâtre, de Recife, infor-ma que às quintas-feiras seriam servidas feijoada à brasileira. Ou no afamado restaurante carioca G. Lobo, que localizado na Rua General Câmara, 135, no cen-tro da cidade do Rio de Janeiro, tornou famosa, entre o final do

Século XIX até 1905 a sua fei-joada completa acompanhada de arroz branco, laranja fatia-da, couve refogada e farofa - a combinação tal qual conhece-mos hoje.

E são nessas mediações culturais que o Samba também encontrou fértil terreno para as-sumir o seu espaço enquanto resultado de uma sonoridade que influenciou e recebeu influ-ência de outras manifestações culturais.

No Rio de Janeiro, na virada do Século XIX, o ar cosmopo-lita da então capital do Brasil, era o espaço ideal para que os recém-libertos escravos, mão de obra não qualificada, pudes-se, através das manifestações culturais, garantir sua sobrevi-vência e a preservação de suas

raízes.As famosas ‘Tias Baianas’

eram as transmissoras da cul-tura popular trazida da Bahia e sacerdotisas de cultos e ritos de tradição africana, além de gran-des quituteiras e festeiras, reu-nindo em torno de si a comu-nidade que inundava de música e dança suas celebrações em festas que chegavam a durar dias seguidos. A mais famosa se chamava Hilária Batista de Almeida, cuja casa era frequen-tada por Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Sinhô. De lá saiu o pri-meiro samba gravado, a música ‘Pelo telefone’, no final do ano de 1916. A grande sacerdotisa também comandava muito bem as panelas de sua casa em dia de festa, e o prato mais afama-do naquele berço do samba, era a famosa feijoada.

A música Feijoada Completa do Chico Buarque de Holanda, encerrava o show da cantora Eloísa Olinto naquela manhã de domingo. Na hora do almoço nenhum músico teve dúvida de qual prato eles se serviriam... S

Ribamildo BezerraJornalista e Especialista em Comunicação Educacional

Conhecer as diversidades étnicas e raciais da população brasileira é como investigar suas próprias origens, sejam nas raízes ou descendên-cias. Este foi o principal objetivo do projeto Laços de Família: Etnias do Brasil, da Sociedade Brasileira de Dermatologia - SBD, que colocou na estrada cinco fotógrafos para registrar a multiplicidade racial e cultural tão característica do Brasil. A miscigenação de colonizadores de origem euro-peia com negros de origem africana e índios nativos, além de, anos mais tarde, termos recebido hordas de orientais das mais distintas nações, contribuíram para que hoje haja um misto de cores e belezas na pele de homens e mulheres que orgulhosamente se proclamam brasileiros.Etnias do Brasil

Laços de Família:

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EM EVIDÊNCIA

Para celebrar o centenário da Sociedade Bra-sileira de Dermatologia – SBD, a segunda Socie-dade Médica mais antiga do Brasil, foi criado o projeto Laços de Família: Etnias do Brasil, que compõe o trabalho de cinco renomados fotógra-fos, com respectivos assistentes, enviados cada um, a uma região do País para registrar as mais representativas diversidades étnicas.

Por Daniele Torres

Ary Diesendruck, Gal Oppido, José Caldas, Már-cio Scavone e Patrícia Gouvêa visitaram respectiva-mente Mato Grosso, Recife, Amapá, Serra Gaúcha e Florianópolis. O resultado do trabalho de cada um destes profissionais resultou em uma formidá-vel exposição fotográfica com imagens e material em vídeo de making-off, um livro sobre a história da Dermatologia ao longo do século – e em paralelo com a história da fundação da SBD – além de um catálogo com imagens de pessoas e paisagens dos lugares visitados pelos expedicionários.

“Este foi um trabalho de fundamental importância para ilustrar, com imagens e fatos, as peculiaridades de um povo que tem, em seu DNA, a maior mistura de raças de todo o mundo”, diz Dra. Bogdana Vic-tória Kadunc, presidente da SBD. De acordo com Bogdana, é por esta razão que a Dermatologia no Brasil exige estudos e pesquisas muito mais profun-dos que em qualquer outro País.

Juntos e Misturados - No centro-oeste, em Por-to dos Gaúchos, no Mato Grosso, algumas famílias vindas do Rio Grande do Sul migraram até a região em busca de melhores condições de vida. O primei-ro contato com indígenas aconteceu aos poucos e atualmente algumas famílias têm descendência de

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índios e alemães (por parte de ancestrais que colonizaram o Sul). Há inclusive a Associação dos Familiares Rezer, que compreende a família mais numerosa de Porto dos Gaúchos, descen-dentes de polacos e alemães. Antes casamen-tos “fora da família” eram proibidos. Entretanto, por conta da miscigenação, novas raças já são bem aceitas na Associação.

Os preconceitos foram quebrados também no Recife, em que uma comunidade holandesa se instalou no Estado e trouxe além das dife-renças raciais, novidades culturais e religiosas, como o judaísmo. Os judeus de origem ibérica ocuparam a região, fundaram a primeira Sina-goga das Américas, em 1637, a Kahal Zur Israel, mas deixaram o Brasil por medo da Inquisição, época em que os portugueses reconquistaram o Recife. Alguns holandeses que escaparam de navio fundaram Nova Iorque, uma das mais cosmopolitas capitais do planeta.

Descendentes da colonização italiana na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, carregam características de seus ancestrais, em maioria de pele clara, cabelos loiros e olhos claros. A vinda de italianos do norte do país é representa-

da inclusive nas construções de Garibaldi, cidade a 105 quilômetros de Porto Alegre, na arquitetura de igrejas, casas de madeira, entre outros.

Ainda no Sul, Florianópolis, em Santa Catari-na, é um reduto de portugueses que não só são representados na pele dos moradores da região – em que na maioria exibem cabelos e pele clara,

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EM EVIDÊNCIA

Daniele Torres Jornalista responsável pelo projeto Laços de Família: Etnias do [email protected]

A exposição Laços de Família: Etnias do Bra-sil teve início em 5 de fevereiro, no Rio de Janeiro, e compõe o trabalho dos cinco fo-tógrafos com mais de 100 imagens, mosaico de etnias, linha do tempo e projeções audio-visuais. Mais de 6.900 milhões de pessoas já

visitaram o projeto.Além do MAM – Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, a mostra já passou por Osasco, em São Paulo e Biblioteca Nacional, em Brasília desde fevereiro até ju-nho. Em setembro esteve novamente no Rio de Janeiro, no Riocentro, durante o Congresso Brasileiro de Derma-tologia da SBD.

mas na cultura de seus ancestrais. A Festa do Divino, data importante do calendário religio-so açoriano, celebra o Divino Espírito Santo e acontece anualmente na cidade com as devi-das comemorações, como a divinha farinhada, procissão da corte real, entre outros.

O legado cultural e racial proveniente destas e outras colonizações no Brasil contribuíram para ampliar a diversidade étnica dos nativos por conta da miscigenação. Tradições, gastro-nomia e religião também foram agregadas à nossa cultura tornando-a mais rica e pluraliza-da.

Mostra Fotográfica

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facebook.com/etniasdobrasil

youtube.com/EtniasdoBrasil

No dia 17 de setembro, o príncipe

herdeiro da Dinamarca, Frederik

Andre Henrik Christian visitou a

mostra fotográfica no Museu

Brasileiro da Escultura, em São Paulo.

UM PROJETODA NOSSA CULTURAPARA TODAS AS CULTURAS

O projeto que emocionou milhares de

pessoas pelo Brasil, continua encantando

a todos com o auxílio do mundo digital.

Se você não teve a oportunidade de visitar

a exposição e ver as belíssimas imagens

da nossa cultura, registradas pelos fotó-

grafos Ary Diesendruck, Gal Oppido, José

Caldas, Marcio Scavone e Patricia

Gouvêa, acesse o nosso portal agora

mesmo.

O projeto Laços de Família - Etnias do

Brasil é resultante de uma expedição por

cinco estados brasileiros, organizado pela

Sociedade Brasileira de Dermatologia em

comemoração do seu centenário.

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SENTINDO NA PELE

Mineira, nascida em Itabira em 1957, médica-dermatologis-ta, casada e mãe de dois filhos. Em 1995 descobre que tem Vi-tiligo. Essa sou eu: apaixonada por Dermatologia e por ironia quis o destino me presentear com uma paciente especial: eu mesma!

Questionamentos surgiam ao atender meus pacientes: Quanto de poder a mente tem para influenciar o paciente para a cura? Quanto um momento de estresse ou tristeza pode fazer ou não um paciente ado-ecer? O que fez Tânia Nely ado-ecer nesse momento da vida? Como lidar com o Vitiligo justo no seu rosto? Pensamentos e indagações rondavam minha

A DOENÇA COMO CAMINHO

Por Dra. Tânia Nely

vida, feriam minha alma; mas construíram minha história...

Sendo Itabirana, invariavel-mente, lembro Carlos Drumond de Andrade: “no meio do ca-minho tinha uma pedra... tinha uma pedra no meio do cami-nho...”

Procurei caminhos. Optei por ampliar meus conhecimentos na área da Psicodermatologia, além de tomar as providências de usar os medicamentos, que existiam na época, para o Vitiligo. Com a ajuda de colegas dermatologistas que iniciavam o Departamento de Dermatologia Integrativa da Sociedade Brasileira de Derma-tologia, hoje, Psicodermatologia, comecei a estudar as relações existentes entre corpo e mente

que me fizeram evoluir para uma especialização adicional em Psi-coterapia. Que jornada incrível... Como aprendi! Não foi fácil... Tive que não somente aprender, como também reaprender a viver... Pre-cisei adicionar qualidades ao meu dicionário interno de como se re-lacionar com pessoas e aprofun-dar meu autoconhecimento.

Assim, fui me sentindo cada vez mais segura; o suficiente, não só para tratar de mim mes-ma, como também para atender as demandas que surgissem em uma consulta de Psicodermato-logia.

Mas, eu permanecia com Vi-tiligo, que melhorava com o tra-tamento, porém novas lesões às vezes surgiam, após um período

zer para eles que sou portadora de Vitiligo e que também me sub-meto a vários tratamentos, traz, a certeza, do significado da missão a mim concebida.

Expor a minha história, mos-trar meus caminhos, acreditar nos sonhos faz da vida uma aventura maravilhosa!

Se você tem Vitiligo diga: Que-ro voltar a ter pele normal! Quero voltar a ter pele saudável!

Se for do seu desejo isso ocorrerá. No tempo certo!

Pois há de se percorrer um caminho. Qual o seu?

A jornada inicia-se com o pri-meiro passo. Dê esse passo!

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que variava de meses a anos.Passei a ministrar aulas em

Congressos de Dermatologia com temas relacionados à Psico-neuroimunodermatologia.

Cumpri mais uma etapa do caminho e fiquei orgulhosa de mim mesma, por ter conseguido publicar um artigo que contribu-ísse para que os dermatologistas pudessem conhecer esse enten-dimento amplo e holístico da Psi-codermatologia.

Em dezembro de 2007, depa-rei-me com fortes desafios, após ter vivenciado um ano conside-rado impactante sob o aspecto emocional, e, além disso, estava novamente com Vitiligo só que agora em quase 90% da face.

Que paradoxo! Justo eu que

Dra. Tânia Nely RochaDermatologista pela SBD

[email protected]

estudava as questões emocio-nais, ainda evoluía com Vitiligo?

Na verdade, Vitiligo não é sempre emocional! Pode estar associado também a questões genéticas, endocrinológicas ou traumas físicos.

Resolvi aliar a Medicina Mente e Corpo à evolução da Biologia Molecular e dos Lasers em Me-dicina. Depois de várias sessões de laserterapia aliadas aos cui-dados emocionais e espirituais, consegui ver meu rosto normal novamente.

E que emoção! Maravilhoso é poder compartilhar a alegria do meu tratamento com a bênção de ver portadores de Vitiligo as-sociando terapia moderna atual com a psicoterapia de apoio. Di-

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SIDNEYPor Paulo Ricardo Criado

Look Back! Look Around! Look Forward!

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Já se foram 15 anos… No entanto a boa impres-são foi tão forte que parece ontem a viagem que vou lhes relatar e minha memória ainda esta impregnada das cores, sabores, do cheiro das flores e da hos-pitalidade do seu povo com o charme Vitoriano e as ideias progressistas de quem vislumbra o futuro batendo à sua porta, no que seria o próximo século, o Século 21 de hoje em dia. Estou falando de uma exuberante cidade, de um grande país do outro lado do mundo: Sydney, Austrália.

Era o ano de 1997 e trabalhava como dermato-logista no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Tínhamos finalizado um estudo sobre a frequência do Melanoma Cutâneo primário no Hospital num período de quase 30 anos, mostrando o aumento progressivo do número de casos, tal como vinha ocor-rendo na Austrália. Inscrevemos o trabalho no 19th World Congress of Dermatology. Além de vivenciar

meu primeiro Congresso Mundial de Dermatolo-gia. A viagem foi incrível! Sydney parecia a mim, o exemplo da civilidade, do tipo que quando você esta perdido na rua, se aproxima um sujeito e vai dizendo: - Can I help you, sir? Realmente foram seis dias de descobertas excitantes, observando

a fusão de um mundo de tradição europeia de linhagem Inglesa com uma modernidade além

do nosso tempo. Monorails ligando o centro ao bairro do

Bay Harbor, que entravam nos hotéis, com miniestações, ônibus de dois an-dares, parques públicos sem lixo no gramado (como o Hyde Park, bem no

centrão), a estação de trem, na qual se inspiraram os engenheiros que projetaram

a Estação Júlio Prestes em São Paulo, a vi-são iconográfica da Opera House e da Bay Bridge. Tudo aquilo ao alcance dos olhos

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e dos pés! Bastava caminhar, sem preocupa-ções quanto à violência, o trânsito era amistoso, apesar da mão inglesa do sentido do tráfego. A cada esquina um prédio histórico ao lado de outro com arquitetura moderna e linhas que es-pelhavam a baía ao lado.

Visitei vários lugares que uniam o passado e a cultura , como o majestoso edifício do Queen Victoria Building, transformado em um Shopping Center repleto de lindos vitrais e um relógio tipo carrilhão, de pontualidade Britânica. O Australa-sian National Maritime Museum (free tax) ao lado

do Sydney Convention Center e do Harbourside (um pequeno shopping) é um lugar imperdível! Fica no Darling Harbour, lugar muito legal para ver o por do sol na cidade e que você pode che-gar por meio do monorail. Visitar o bairro onde foi fundada a cidade, The Rocks, além de uma visita ao passado foi extremante gratificante pe-los armazéns transformados em galerias de arte e seus convidativos “Pubs”.

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Área interna do Queen Victoria Building

Sydney Harbour Bridge

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Minha agente de viagem me colocou “ao lado” do Congresso, em um hotel cerca de 17 km distante, porém apesar da distância, esse local conhecido como New South of Wales era bem servido de ônibus e com comércio suficiente para a estada no local.

Para coroar a viagem fui até o topo da Sydney Tower onde se tem uma vi-são 360° da cidade, e pode-se observar como é repleta de áreas verdes.

Fizemos um passeio de barco pela Sydney Harbour, que é muito interessan-te, pois podemos ver sob vários ângulos a Opera House e chegar próximo a Bay Bridge, onde temos a convicção do le-gado da engenharia Inglesa para aquela cidade e seu país.

WOOLLOOMOOOLOO é um bairro com restaurantes legais e próximos ao jardim botânico, que vale a pena ser vi-sitado. Não pude visitar as praias do ou-tro lado da baía, especificamente Manly e Shelly, pois não deu tempo. É lá que os surfistas pegam onda e o calçadão é repleto de lojas.

Quando estive em Sydney ainda não haviam acontecido as Olimpíadas. Imagi-no como hoje a cidade deve estar ainda mais fascinante e pulsante! O Congres-so Mundial de Dermatologia também foi vibrante, várias novidades surgiam como peelings e o uso dos preenchedores em microesferas. O futuro mostraria o desti-no de muitas “novas” propostas terapêu-ticas ali apresentadas. Já se falava que a UVB narrow band seria melhor para tratar a psoríase. Relato este fato como um estímulo aos jovens dermatologistas, como eu era na época, para que amem sua profissão e não meçam esforços para fazer aquilo que gostam, pois o fu-turo sempre reserva grandes surpresas... Pensem como o lema daquele 19° Con-gresso, que foi a frase final do discurso de abertura do Prof. Marks “Look Back! Look Around! Look Forward!”

Quanto a Sydney não vejo o dia de lá voltar, especialmente hoje com minha fa-mília e dividir com ela as boas emoções desse lugar. Sydney: I will be back! S

CAMINHOS

Dr. Paulo Ricardo CriadoDermatologista pela SBD

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Sydney é a cidade mais populosa da Austrália e está si-tuada na costa sudeste. A área metropolitana é rodeada por parques nacionais, e contém muitas baías, rios e en-seadas. Sydney é uma das mais multiculturais cidades do mundo, o que reflete o seu papel como um importante destino imigratório na Austrália. Segundo o levantamento Mercer sobre custo de vida, Sydney é a mais cara cidade da Austrália e a 15ª mais cara do planeta.

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Edifício histórico no The Rock, Sydney

Dia Nacional de Combate ao Câncer da Pele

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O cuidado com a pele vai além da estética. É uma questão de saúde. Porém, assim como

a Cynthia, muitos se esquecem deste cuidado e não se preocupam em ir ao dermatologista.

Uma consulta preventiva ajudará a evitar complicações e indicará qual o tratamento mais

adequado para você. Se o assunto é pele, busque sempre um dermatologista associado

à SBD. Ele é o profissional certificado para cuidar da sua pele.

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