163
Geografia Revista do Departamento de Geociências ISSN 0102-3888 Reitor Pedro Alejandro Gordan VICE-REITORA Vera Lúcia Tieko Suguihiro GEOGRAFIA: Revista do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, é uma publicação semestral destinada a editar matérias de interesse científico de qualquer área de conhecimento, desde que tenham relação com a ciência geográfica Comissão de Publicação do Departamento de Geociências Coord. Prof. Claudio Roberto Bragueto Profa. Mirian Vizintim Fernandes Barros Funcionária: Edna Pereira da Silva Conselho Editorial Prof. Dalton Áureo Moro – UEM Prof. Eliseu Savério Spósito – UNESP – Presidente Prudente Prof. Francisco de Assis Mendonça – UFPR Prof. Geraldo Cesar Rocha – UFJF Prof. José Barreira – UEL Prof. José Paulo Piccinini Pinese – UEL Prof. José Pereira de Queiroz Neto - USP Profa. Maria Encarnação Beltrão Sposito – UNESP – Presidente Prudente Prof. Messias Modesto dos Passos – UEM Profa. Nilza Aparecida Freres Stipp – UEL Prof. Roberto Rosa – UFU Profa. Rosana Figueiredo Salvi – UEL Profa. Rosângela Doin de Almeida – UNESP – Rio Claro Profa. Sonia Maria Vanzella Castellar – USP Profa. Yoshiya Nakagawara Ferreira – UEL Universidade Estadual de Londrina EDITORIAL Estamos publicando mais um número da revista Geografia, com atraso de alguns meses. No entanto, a quantidade e qualidade dos artigos recebidos nos dão a certeza de que esta nova etapa da revista veio para ficar, e que a periodicidade da mesma será mantida. Neste número, contamos com dois artigos na área de Ensino de Geografia: um deles traz a discussão dos semióforos e do motivo edênico no imaginário social brasileiro, e faz algumas indagações acerca do papel dos professores de Geografia, no cenário inicial do século XXI. O outro traz uma reflexão sobre o curso profissionalizante de formação docente de nível médio em Londrina e as contribuições da Geografia. Dois artigos enfocam o “Programa Vilas Rurais” implantado no Estado do Paraná, e a questão das migrações. Ainda, quanto à questão agrária, um artigo discute a modernização da pecuária leiteira e a exclusão do pequeno produtor, e outro faz a análise da piscicultura em cativeiro como alternativa para as áreas rurais. Uma das ferramentas importantes da Geografia atualmente é o Sistema de Informação Geográfica, que é abordado em três artigos. Dois deles tratam da implantação do mesmo na cidade de Londrina, e no outro, é utilizado para a análise dos remanescentes florestais da Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi, no Estado do Paraná. Apresentamos, também duas contribuições da área de Geologia: a primeira discute os impactos das vibrações geradas por desmontes em taludes da mina de Timbopeba, em Ouro Preto (MG). A segunda faz a avaliação das reservas subterrâneas do Aqüífero Caiuá, tendo em vista, o aumento do interesse pela exploração da água do mesmo, nos últimos anos. Finalizando, publicamos duas notas: uma relata os trabalhos do grupo de estudo “História e Filosofia da Ciência Geográfica”, composto por alunos do curso de graduação em Geografia, da Universidade Estadual de Londrina, que busca resgatar uma visão epistêmica da Geografia, como conhecimento do mundo e conhecimento científico. A outra nos chama a atenção para a importância e atualidade do conteúdo das obras de Josué de Castro, no momento em que as discussões sobre a fome no país retornam com maior intensidade. Destacamos o apoio fundamental, para a publicação deste número, da Coordenadoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Estadual de Londrina, e do Curso de Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Comissão de Publicação VOLUME 10 – NÚMERO 2 – JUL./DEZ. 2001

Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

  • Upload
    lamtu

  • View
    228

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

GeografiaRevista do Departamento de Geociências

ISSN 0102-3888

ReitorPedro Alejandro Gordan

VICE-REITORAVera Lúcia Tieko Suguihiro

GEOGRAFIA: Revista do Departamento deGeociências da Universidade Estadual deLondrina, é uma publicação semestraldestinada a editar matérias de interessecientífico de qualquer área de conhecimento,desde que tenham relação com a ciênciageográfica

Comissão de Publicação do Departamentode GeociênciasCoord. Prof. Claudio Roberto BraguetoProfa. Mirian Vizintim Fernandes BarrosFuncionária: Edna Pereira da Silva

Conselho EditorialProf. Dalton Áureo Moro – UEMProf. Eliseu Savério Spósito – UNESP –Presidente PrudenteProf. Francisco de Assis Mendonça – UFPRProf. Geraldo Cesar Rocha – UFJFProf. José Barreira – UELProf. José Paulo Piccinini Pinese – UELProf. José Pereira de Queiroz Neto - USPProfa. Maria Encarnação Beltrão Sposito –UNESP – Presidente PrudenteProf. Messias Modesto dos Passos – UEMProfa. Nilza Aparecida Freres Stipp – UELProf. Roberto Rosa – UFUProfa. Rosana Figueiredo Salvi – UELProfa. Rosângela Doin de Almeida –UNESP – Rio ClaroProfa. Sonia Maria Vanzella Castellar – USPProfa. Yoshiya Nakagawara Ferreira – UEL

UniversidadeEstadual de Londrina

EDITORIAL

Estamos publicando mais um número da revistaGeografia, com atraso de alguns meses. No entanto, aquantidade e qualidade dos artigos recebidos nos dão acerteza de que esta nova etapa da revista veio para ficar,e que a periodicidade da mesma será mantida.

Neste número, contamos com dois artigos na áreade Ensino de Geografia: um deles traz a discussão dossemióforos e do motivo edênico no imaginário socialbrasileiro, e faz algumas indagações acerca do papel dosprofessores de Geografia, no cenário inicial do séculoXXI. O outro traz uma reflexão sobre o cursoprofissionalizante de formação docente de nível médioem Londrina e as contribuições da Geografia.

Dois artigos enfocam o “Programa Vilas Rurais”implantado no Estado do Paraná, e a questão dasmigrações. Ainda, quanto à questão agrária, um artigodiscute a modernização da pecuária leiteira e a exclusãodo pequeno produtor, e outro faz a análise da pisciculturaem cativeiro como alternativa para as áreas rurais.

Uma das ferramentas importantes da Geografiaatualmente é o Sistema de Informação Geográfica, queé abordado em três artigos. Dois deles tratam daimplantação do mesmo na cidade de Londrina, e nooutro, é utilizado para a análise dos remanescentesflorestais da Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi, no Estadodo Paraná.

Apresentamos, também duas contribuições da áreade Geologia: a primeira discute os impactos das vibraçõesgeradas por desmontes em taludes da mina deTimbopeba, em Ouro Preto (MG). A segunda faz aavaliação das reservas subterrâneas do Aqüífero Caiuá,tendo em vista, o aumento do interesse pela exploraçãoda água do mesmo, nos últimos anos.

Finalizando, publicamos duas notas: uma relata ostrabalhos do grupo de estudo “História e Filosofia daCiência Geográfica”, composto por alunos do curso degraduação em Geografia, da Universidade Estadual deLondrina, que busca resgatar uma visão epistêmica daGeografia, como conhecimento do mundo econhecimento científico. A outra nos chama a atençãopara a importância e atualidade do conteúdo das obrasde Josué de Castro, no momento em que as discussõessobre a fome no país retornam com maior intensidade.

Destacamos o apoio fundamental, para a publicação destenúmero, da Coordenadoria de Pesquisa e Pós-Graduação daUniversidade Estadual de Londrina, e do Curso de Mestradoem Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Comissão de Publicação

VOLUME 10 – NÚMERO 2 – JUL./DEZ. 2001

Page 2: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

Editora da Universidade Estadual de Londrina

Campus UniversitárioCaixa Postal 6001

Fone/Fax: (43) 371-4674E-mail: [email protected]

86051-990 Londrina - PR

Comissão de Publicação do Departamento de GeociênciasCoord. Prof. Claudio Roberto BraguetoProfª Mirian Vizintim Fernandes BarrosFuncionária: Edna Pereira da Silva

Conselho EditorialProf. Dalton Áureo Moro – UEMProf. Eliseu Savério Spósito – UNESP – Presidente PrudenteProf. Francisco de Assis Mendonça – UFPRProf. Geraldo Cesar Rocha – UFJFProf. José Barreira – UELProf. José Paulo Piccinini Pinese – UELProf. José Pereira de Queiroz Neto - USPProfa. Maria Encarnação Beltrão Sposito –UNESP-PresidentePrudenteProf. Messias Modesto dos Passos - UEM-Profa. Nilza Aparecida Freres Stipp – UELProf. Roberto Rosa - UFUProfa Rosana Figueiredo Salvi – UELProfa. Rosângela Doin de Almeida – UNESP-Rio ClaroProfa. Sonia Maria Vanzella Castellar - USPProfa Yoshiya Nakagawara Ferreira - UEL

Editoração Eletrônica e ComposiçãoKely Moreira Cesário

CapaProjeto Ilustração – UEL / CECA / Arte / DesignCoord.: Cristiane Affonso de Almeida Zerbeto\toVice-Coord.: Rosane Fonseca de Freitas MartinsAluno: Alexandre Hayato Shimizu

Normalização Documentária e Revisão GeralIlza Almeida de Andrade CRB 9/882

Montagem e AcabamentoAntonio Moacyr FerreiraRubens Vicente

Geografia / Departamento de Geociêrncias, Universidade Estadualde Londrina – Vol. 1, nº 1 (Dez, 1983)- .– Londrina : Ed.UEL, 1983- .v. ; 29 cm

Semestral. Publicado anualmente até 1993.Suspensa de 1994-1998.Descrição baseada em: Vol. 8, nº 1 (Jan./Jun. 1999)

ISSN 0102-3888

1. Geografia humna – Periódicos. 2. Geografia física –Periódicos. I. Universidade Estadual de Londrina. Departamentode Geociências

CDU 91 (05)

Indexada em Geodados

Geografia: Revista do Departamento de GeociênciasUniversidade Estadual de LondrinaCentro de Ciências ExatasDepartamento de GeociênciasCaixa Postal, 600186051-990 – Londrina – ParanáFone: (43) 371-4246 - Fax: (43) 371-4216E-mail: [email protected]

PEDE-SE PERMUTA

Page 3: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

GEOGRAFIA – LONDRINA – VOLUME 10 – NÚMERO 2 – JUL./DEZ. 2001

GeografiaRevista do Departamento de Geociências

EDITORIAL .................................................................................................................................................................. 125

DE SEMIÓFOROS, MOTIVO EDÊNICO E ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................... 129Maria Lúcia de Amorim Soares

REFLEXÕES SOBRE AS MUDANÇAS NA FORMAÇÃO DOCENTE DE NÍVEL MÉDIO EM LONDRINA –PARANÁ. CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA ............................................................................................. ......... 135Rosely Sampaio Archela, Jeani Delgado Paschoal Moura

A MODERNIZAÇÃO DA PECUÁRIA LEITEIRA E A EXCLUSÃO DO PEQUENO PRODUTOR ..................... 147Jerri Augusto da Silva, Ruth Youko Tsukamoto

PROGRAMA VILAS RURAIS: RETORNO DO TRABALHADOR RURAL AO CAMPO?..................................... 163Alice Yatiyo Asari, Karina Furini da Ponte

A PISCICULTURA EM CATIVEIRO COMO ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA AS ÁREAS RURAIS .......... 175Aécio Rodrigues de Melo, Nilza A. Freres Stipp

A ATUAÇÃO GOVERNAMENTAL E O PROCESSO DE MIGRAÇÃO INTERNA:O CASO DA VILA RURAL DA PAZ – ROLÂNDIA (PR) ........................................................................................ 195Júlia Luciana Pereira das Dores, Alice Yatiyo Asari

UMA PROPOSTA PARA IMPLANTAÇÃO DO SIG NA CIDADE DE LONDRINA ............................................. 211Omar Neto Fernandes Barros, Mirian Vizintim Fernandes Barros, João Henrique Caviglione

SIG EM LONDRINA ................................................................................................................................................... 225Osvaldo Coelho Pereira Neto, André de Lima

ANÁLISE DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DORIO TIBAGI – PARANÁ, UTILIZANDO SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA .................................. 231Graziele Hernandes Volpato , Miriam Vizintim Fernandes Barros

ANÁLISE DOS IMPACTOS DAS VIBRAÇÕES GERADAS POR DESMONTES EM TALUDES DASMINERAÇÕES – ESTUDO DE CASO DA MINA DE TIMBOPEBA EM OURO PRETO (MG) ............................. 245Gabriel Alves da Costa Lima

AVALIAÇÃO DAS RESERVAS SUBTERRÂNEAS DO AQÜÍFERO CAIUÁ NASUB-BACIA DO RIO DOS ÍNDIOS - PR. ................................................................................................................. 257André Celligoi, Maurício Moreira dos Santos

NOTASGRUPO DE ESTUDO “HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA” .............................................. 273Eduardo Marandola Jr., Juliano Augusto, Mario Alberto dos Santos, Pablo Sebastian

JOSUÉ DE CASTRO, O MAPA DA FOME E O MAPA DO FIM DA FOME .......................................................... 279Márcia Siqueira de Carvalho

INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO ........................................................................................................................... 283

Page 4: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 5: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

129Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 129-133, jul./dez. 2001

Semeiophoros é uma palavra grega compostade duas outras palavras: semeion – “sinal” ou“signo”, e phoros – “trazer para a frente”, “expor”.Apanhando POMIAN (Entre l’invisible et levisible, Libre, nº 3, 1987), citado por MarilenaCHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador esociedade autoritária” (2000), indica a Naçãocomo Semióforo – Matriz, aquele que será olugar e o guardião dos semióforos públicos. Pormeio da intelligentsia, da escola, da biblioteca,do museu, do arquivo de documentos raros, dopatrimônio histórico e geográfico e dosmonumentos celebratórios, o poder político fazda Nação o sujeito produtor de semióforosnacionais, e ao mesmo tempo, o objeto do cultointegrador da sociedade una e indivisa. Diz Chauí:

Um semeion é um sinal distintivo que diferenciauma coisa de outra, mas é também um rastro ouvestígio deixado por algum animal ou por alguém.Signos indicativos de acontecimentos naturais –como as constelações, indicadores das estações doano –, sinais gravados para o reconhecimento dealguém – como os desenhos num escudo, aspinturas num navio, os estandartes –, presságios e

De Semióforos, Motivo Edênico e Ensino de Geografia

Maria Lúcia de Amorim Soares*

RESUMOTomando o conceito de semióforos a autora trabalha a questão dos mapas, atlas, televisão, vídeos, filmes, computador einternet e seu uso nas aulas de Geografia; o motivo edênico revela o papel da natureza no imaginário social escolar enacional – a visão do país como natureza paradisíaca da terra. Trazendo para a sala de aula a questão dos semióforos e omotivo edênico no imaginário social brasileiro a autora faz algumas indagações acerca do papel dos professores deGeografia no cenário inicial do século XXI.

PALAVRAS-CHAVE: semióforos; motivo edênico; ensino de Geografia.

* Coordenadora do Curso de Geografia, Professora de Geografia Regional e Professora do Programa de Mestrado daUniversidade de Sorocaba (UNISO). Doutora em Ciências: Geografia Humana pela Universidade de São Paulo(USP). Endereço: Av. Dr. Eugênio Salerno, 140 – Câmpus Seminário- Santa Terezinha - 18.035-430 - Sorocaba-SP

agouros são também semeion. E pertence à famíliadessa palavra todo sistema de sinaisconvencionados, como os que se fazem emassembléias, para abri-las ou fechá-las ou paraanunciar uma deliberação. Inicialmente, umsemeiophoros era a tabuleta na estrada indicandoo caminho; quando colocada à frente de umedifício, indicava uma função. Era também oestandarte carregado pelos exércitos, para indicarsua proveniência e orientar seus soldados durantea batalha. Como semáforo, era um sistema desinais para comunicação entre navios e deles coma terra. Como algo precursor, fecundo oucarregado de presságios, o semióforo era acomunicação com o invisível, um signo vindo dopassado ou dos céus, carregando uma significaçãocom conseqüências presentes e futuras para oshomens. Com esse sentido, um semióforo é umsigno trazido à frente ou empunhado para indicaralgo que significa alguma outra coisa e cujo valornão é medido por sua materialidade e sim por suaforça simbólica: uma simples pedra, se for o localonde um deus apareceu, ou um simples tecido delã, se for o abrigo usado, um dia, por um herói,possuem um valor incalculável, não como pedraou como um pedaço de pano, mas como lugarsagrado ou relíquia heróica. Um semióforo éfecundo porque dele não cessam de brotar efeitosde significação (2000, p.11-12).

Page 6: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

130 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 129-133, jul./dez. 2001

Na exposição à visibilidade é que ossemióforos realizam sua significação e suaexistência. Seu lugar é público: templos,museus, bibliotecas, teatros, cinemas, camposesportivos, praças e jardins, lugares santos comomontanhas, rios, lagos, cidades, em resumo,locais onde a sociedade possa comunicar-secelebrando algo comum e que conserva osentimento de comunhão e de unidade.

Um objeto, um acontecimento, um animal,uma pessoa, uma instituição é um semióforo.A celebração de um semióforo pode acontecerpor meio de cultos, peregrinações representaçõesde feitos heróicos, passeatas, desfiles,monumentos, uma vez que o semióforo é capazde relacionar o visível e o invisível no espaço eno tempo: o invisível pode ser o sagrado – umespaço além de todo espaço, ou o passado ou ofuturo distantes – um tempo sem tempo.

Entretanto, Max Weber, no início do séculopassado, já expressava a condição de estarmosvivendo um “mundo desencantado”, mundoonde mistérios, maravilhas, prodígios tornaram-se inteligíveis pelo conhecimento científico eregidos pela racionalidade por meio da lógicade mercado. A célebre expressão weberianainduz-nos a dizer que, no modo de produçãocapitalista, não pode haver semióforos, pois, nocapitalismo, tudo é mercadoria, não tendo comoser retirado do circuito da circulação mercantil.Mas, “a suposição da impossibilidade desemióforos na sociedade capitalista só surgiuporque havíamos deixado na sombra um outroaspecto decisivo dos semióforos, ou seja, quesão signos de poder e prestígio.” (CHAUÍ,2000,p.13), visto serem, também, posse epropriedade daqueles que detêm o poder paraproduzir e conservar um sistema de crenças ouum sistema de instituições que lhes permitedominar o meio social: chefias religiosas,detentoras do saber sobre o sagrado, e chefiaspolítico-militares, detentoras do saber sobre oprofano, são os detentores iniciais dossemióforos. Agora, a aquisição de semióforospassa a ter uma nova determinação – a de seuvalor por seu preço em dinheiro.

Os semióforos religiosos são particulares àcada crença, os semióforos da riqueza – os dopoder econômico, são propriedade privada e ossemióforos político-militares, constituintes dopatrimônio histórico-geográfico, são nacionais.O semióforo fundamental, aquele que será oguardião e o lugar dos outros semióforospúblicos é a nação, construído pelo poderpolítico por meio da intelligentsia (ou de seusintelectuais orgânicos), da biblioteca, do museu,do arquivo de documentos raros, do patrimôniohistórico e geográfico, dos monumentoscelebratórios e da escola.

Na escola, o motivo edênico que habita oimaginário social brasileiro desde os primórdiosda presença européia – a visão do país comonatureza paradisíaca da terra, cristaliza-se: o rioAmazonas é o maior rio do mundo; a florestaamazônica é a maior floresta tropical do planeta;somos um país continental cortado pela linhado Equador e pelo trópico de Capricórniodonde provém contrastes regionais cuja riquezanatural e cultural é inigualável; nossa terradesconhece ciclones, furacões, vulcões, desertos,nevascas, terremotos; aqui “em se plantando,tudo dá”.

O próprio Hino Nacional é edênico.Tomemos a primeira estrofe por exemplo: obrado retumbante do povo heróico é invenção.Quem bradou foi D. Pedro e o ouvinte do bradofoi a natureza, foram as margens do Ipiranga: areferência à liberdade, uma conquista humana,feita logo a seguir, aparece via metáfora natural– a liberdade é o sol cujos raios brilham no céu.Mais à frente, surgem de novo o céu risonho elímpido e o gigante belo, impávido, colosso –colosso pela natureza. A grandeza do futuro égarantida pelo gigantismo natural, o país estádeitado em berço esplêndido, iluminado ao soldo novo mundo, nossas terras têm palmeiras, eo símbolo de amor eterno é o Cruzeiro do Sul,que aparece duas vezes no hino. Nas palavrascríticas de Nelson Rodrigues (1997): “o Brasilé uma paisagem”. Nas palavras reflexivas deMachado de Assis (1983): “o meu sentimentonativista (...) sempre se doeu desta adoração da

Page 7: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

131Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 129-133, jul./dez. 2001

natureza. (...) eu não fiz, nem mandei fazer, océu e as montanhas, as matas e os rios. Já osachei prontos.”

Uma pesquisa nacional feita em 1996 peloInstituto Vox Populi e outra pelo Centro dePesquisa e Documentação de HistóriaContemporânea do Brasil (CPDOC) daFundação Getúlio Vargas, indagaram se osentrevistados sentiam orgulho de ser brasileirose quais os motivos para o orgulho. Enquanto60% responderam afirmativamente, somente5% disseram sentir vergonha do país. Essesdados indicam uma taxa de orgulho que secoloca entre as mais altas do mundo. Segundodados do Word value survey para 1990, apenasos Estados Unidos e a Irlanda registrampercentagem de “muito orgulho” bem acima dabrasileira. Taxas comparáveis são as do Canadá,México e África do Sul. Muito abaixo estão asda Holanda, Alemanha e Japão.

Quanto aos motivos de orgulho, foramenumerados, em ordem decrescente: a natureza(35%), o caráter do povo (16%), ascaracterísticas do país (13%), esportes/música/carnaval (9%). No item natureza, algunsexemplos de respostas: natureza maravilhosa,paisagem, terra maravilhosa, terra santa,Amazônia, florestas, montanhas, pantanal,cachoeiras, orla marítima, o verde, o sol, ar puro,a fauna, a flora, aspecto geográfico, beleza física,beleza geográfica, beleza natural, beleza daspraias, praias do Nordeste, país mais bonito domundo, país abençoado, fertilidade do solo,terra rica, país mais rico do mundo, riquezasminerais, país continental, grandeza do país,clima tropical, clima bom, não ter terremoto,furacão, tufão, beleza do povo, as mulheresbonitas (corpo é natureza).

“Caráter do povo” inclui traços depersonalidade do brasileiro consideradospositivos. Exemplos: povo solidário,trabalhador, unido, esforçado, cordial, artístico,hospitaleiro, bom, alegre, pacífico, ordeiro,simples, acolhedor, amigo, amoroso, carinhoso,capaz, honesto, humanitário, religioso,inteligente, livre, festivo, feliz, Getúlio Vargas,

Airton Senna, Juscelino Kubitschek, Xuxa, etc.“Características do país” incluem conquistashumanas. Exemplos: ausência de discriminaçãoracial, de terrorismo, de conflitos, de pena demorte, paz, liberdade de opinião, de expressão,de religião, democracia, progresso, campanhada fome, o Plano Real, etc.

Na escola, o motivo edênico que habita oimaginário social brasileiro cristaliza-se nas aulasde Geografia. O Brasil é:

1) “um dom de Deus e da Natureza”; 2) tem umpovo pacífico, ordeiro, generosos, alegre e sensual,mesmo quando sofredor; 3) é um país sempreconceitos (é raro o emprego da expressão maissofisticada “democracia racial”), desconhecendodiscriminação de raça e de credo, e praticando amestiçagem como padrão fortificador da raça; 4)é um país acolhedor para todos os que nele desejamtrabalhar e, aqui, só não melhora e só não progridequem não trabalha, não havendo por issodiscriminação de classe e sim repúdio davagabundagem, que, como se sabe, é a mãe dadelinqüência e da violência; 5) é um “país doscontrastes” regionais, destinado por isso apluralidade econômica e cultural. Essa crença secompleta com a suposição de que o que ainda faltaao país é a modernização – isto é, uma economiaavançada, com tecnologia de ponta e moeda forte,com a qual sentar-se-á à mesa dos donos do mundo(CHAUÍ,2000, p.8).

A contradição passa desapercebida, apesar devisível: existência de crianças de rua, chacinasdessas crianças, desperdício de terras nãocultivadas, massacres dos sem-terra, existênciade favelas, grande número de desempregadosao mesmo tempo, afirmando que temos orgulhode ser brasileiros porque somos um povopacífico, ordeiro e inimigo da violência.

Na escola, o motivo edênico que habita oimaginário social brasileiro cristaliza-se nas aulasde Geografia através de um semióforo: o mapado Brasil. Mapas e globos fazem parte do mitofundador da Geografia – mito enquantorepresentação homogênea e forte e que permitecrer na identidade da “coisa”. Assim, penduradona parede ou carregado em pesados atlas, ou,ainda, colado de livros em papel vegetal, pintado

Page 8: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

132 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 129-133, jul./dez. 2001

com cores vistosas e (re)colado em cadernosespiralados, o mapa do Brasil é apenas a certezaque o lugar existe, reforçando o verso musicaldo poeta modernista Cassiano Ricardo(1970):“O Brasil tem a forma de uma harpa”. Não háconflitos, apenas existem os planaltos, asplanícies, os rios, as matas. No dizer de CassianoRicardo: “parece que Deus derramou tinta portudo”, mas não sangue, já que nossa história foiescrita sem derramamento desse líquido pastoso.

No semióforo “mapa do Brasil” (ou qualqueroutro mapa – nos dias de hoje, especialmente odo Afeganistão e seu entorno), cristaliza-se osinal distintivo do professor de Geografia: fazera ligação com o inviável, um signo que, vindodo passado pela construção dos bandeirantesno caso do Brasil, construção solidificada porCaxias e o Barão do Rio Branco posteriormente,carrega uma significação com conseqüênciaspresentes e futuras para os homens, visto umsemióforo ser fecundo porque dele não cessamde brotar efeitos de significação.

Entretanto, um mito fundador não cessa deencontrar novos meios para exprimir-se. Nocaso da disciplina escolar Geografia, oimperativo do desenvolvimento das mídias passaa predominar e o professor passa a requisitartelevisão, vídeo, filmes para se ver a evasão rurale o inchamento das cidades, a multiplicação dasfavelas e as populações de rua, os sem-terra, sem-teto, sem-cidadania, as habitações verticais, otrânsito que paralisa as ruas, os luxuososcondomínios suburbanos, as grades, as cercaseletrificadas, os cães ferozes, os shoppings-centers. Tudo via tela, no dizer de Baudrillard:um simulacro.

Agora, uma nova quadra histórica traz ocomputador e a internet (re)atualizando o mitofundador. Uma pátina densa de grafite cobre ascidades brasileiras, por exemplo, tornando-asveladas, opacas, desarticuladas, porosas,devorando uma população negligenciada,difusa, erradia, maleável.

Mudaram os tempos. Mudamos nós?Trazendo para a sala de aula a questão dos

semióforos e o motivo edênico no imagináriosocial brasileiro fica uma profunda indagação:são os mapas e globos, as televisões, os vídeos eos filmes, o computador e a internet somentesemióforos, enquanto signos de poder e deprestígio do professor de Geografia? Enquantoprovidos de significação ou de valor simbólico,capazes de relacionar o visível e o invisível, sejano espaço ou no tempo, e expostos à visibilidade– aí realizando sua significação e existência –,respondem os semióforos ao verdadeiro ensinoe a real aprendizagem da Geografia no cenárioinicial do século XXI? É como inquietação queos professores entendem o desabafo de NelsonRodrigues ao se exprimir de maneiracontundente como era de seu feitio: “Ah, o Brasilnão é uma pátria, não é uma nação, não é umpovo, mas uma paisagem? Empunha o professorde Geografia o mapa para indicar algo quesignifica alguma outra coisa e cujo valor não émedido por sua materialidade e sim por suaforça simbólica como relíquia heróica? Eventoemblemático a aula de Geografia, comoemblemático este nosso Brasil no dizer de Máriode Andrade (1976):

“Juntos formamos esse assombro de misérias egrandezas, Brasil, nome de vegetal! ...” [...]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Mário de. Poesias completas. São Paulo:Círculo do Livro, 1976.

CHAUÍ, Marilena. Brasil – mito fundador esociedade autoritária. São Paulo: Editora FundaçãoPerseu Abramo, 2000.

MACHADO DE ASSIS. Obras completas: A semana(1892-1893). Rio de Janeiro: W.M.Jackson. v.1,1983

RICARDO, Cassiano. A Marcha para oeste: ainfluência da bandeira na formação social e políticado Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970.

RODRIGUES, Nelson. A cabra vadia – novasconfissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

Page 9: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

133Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 129-133, jul./dez. 2001

Of Semeiophoros, the Eden Motif and Geography Teaching

ABSTRACTFrom the concept of semeiophoros the author addresses the issue of using maps, atlas, television, videos, films, computersand the internet in the geography classes; and the Eden Motif reveals the role of nature in the school and national socialimaginary, the way of seeing the nation as a paradisiacal nature of the earth. Bringing into the classroom the question ofsemeiophoros and the Eden motif within the Brazilian social imaginary, the author poses some questions on the role ofthe geography teacher in the scenario of the early Century XXI.

KEY-WORDS: semeiophoros; the eden motif; geography teaching

Page 10: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 11: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

135Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas tem ocorrido umintenso debate sobre os rumos da Educação noBrasil. Tendo em vista as inúmerasreformulações que ocorreram na educaçãobrasileira, procuramos apresentar uma discussãoem torno da formação docente1 de nível médioa partir de um breve histórico sobre suaimplantação em Londrina. Em seguidarealizamos algumas reflexões a respeito dosdesdobramentos que vêm ocorrendo nessaformação docente, devido às deliberações dalegislação em vigor.

1. BREVE HISTÓRICO DA ESCOLANORMAL EM LONDRINA: FORMAÇÃODE PROFESSORES PARA ATUAR EMEDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIESINICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

O primeiro curso para formação de

Reflexões Sobre as Mudanças na Formação Docente deNível Médio em Londrina – Paraná.Contribuições da Geografia

Rosely Sampaio Archela*

Jeani Delgado Paschoal Moura**

RESUMOReflexões sobre o curso profissionalizante de formação docente de nível médio em Londrina, com base nas mudançasocorridas na educação brasileira e paranaense ao longo das últimas décadas.

PALAVRAS-CHAVE: educação, formação docente, nível médio, metodologia de ensino, ensino de Geografia.

* Professora Adjunto do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina [email protected]** Professora Assistente do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina [email protected]

professores em Londrina foi implantado em1944 no Instituto de Educação Estadual deLondrina – IEEL. Após dez anos, um segundocurso começou a funcionar na rede particular– Colégio Mãe de Deus (Lei de Diretrizes eBases in Diário Oficial, de 17 de maio de 1966,p.86 apud Proposta Pedagógica do Colégio,2001). Mais recentemente, foram implantadosoutros cursos para formação de professores naEscola Estadual Professora Maria do RosárioCastaldi em 1985, e em 1989 no ColégioMarista de Londrina. Atualmente, apenas oColégio Mãe de Deus oferece esta modalidadede formação de docentes da Educação Infantile séries iniciais do Ensino Fundamental, atravésdo Curso Normal – Nível Médio.

Com a Lei 5692/71 e seus parecerescomplementares, foi autorizado em 1972, ofuncionamento do curso de HabilitaçãoProfissional para o Magistério de 1º Grau (1ª a4ª séries do atual Ensino Fundamental),específico para professores não habilitados parao magistério, no Colégio Mãe de Deus. O curso

Page 12: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

136 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

funcionou sob a forma de “ExperimentoPedagógico”, até 1975. Em 1980 o mesmo cursofoi reativado, atendendo à legislação vigente,como Curso Supletivo de 2º Grau (atual EnsinoMédio), Função Suplência – HabilitaçãoMagistério de 1ª a 4ª séries de 1º Graudestinado também a professores não habilitados.

O Colégio passou a ofertar também aHabilitação Magistério (Educação Geral +Formação Especial + Parte Diversificada) emperíodo de férias. Em 1984, em virtude daclientela possuir, na sua maioria, o curso de 2ºGrau completo (atual Ensino Médio), oColégio solicitou a aprovação do Curso de2º Grau Supletivo – Função SuplênciaProfissionalizante – Habilitação deMagistério de 1ª a 4ª séries do 1º Grau.

O Projeto de implantação foi aprovado peloParecer n.º 8.434/84 SEED e reconhecido pelaResolução n.º 3.441/87 – SEED, com base noParecer n.º 200/87 CEE e ofertado com asmesmas características do anterior, em etapas

nos períodos de férias. A Deliberação n.º 003/92 de 07/04/92 aprovou a estrutura efuncionamento do curso com base nasDiretrizes Curriculares para os Cursos deMagistério no Paraná. O Curso de 2º GrauSupletivo – Função Suplência Profissionalizante– Habilitação de Magistério de 1ª a 4ª séries do1º Grau, era ofertado em quatro etapas, comatividades presenciais nos períodos de férias eatividades complementares mais EstágioSupervisionado entre os mesmos períodos. Estecurso, com duração de dois anos foi ofertado noperíodo de 1984 a 2000. Diante das exigências danova Legislação, o Colégio elaborou a propostapara a criação do Curso Normal Superior, emperíodo de férias, sendo que o projeto deimplantação encontra-se em tramitação.

Segundo Archela (1993), no início da décadade 90, o curso magistério em Londrina eraofertado em quatro estabelecimentos de ensino(Quadro 1).

Quadro 1 – Curso Magistério em Londrina – 1992.

Estabelecimento Características Período Número de Turmas Número de

Alunos

IEEL- INSTITUTO

DE EDUCAÇÃO ESTADUAL

DE LONDRINA

Estadual Manhã/Noite 25 988

ESCOLA ESTADUAL

PROFESSORA MARIA DO

ROSÁRIO CASTALDI

Estadual Manhã/Tarde 09 330

COLÉGIO MARISTA

DE LONDRINA

Particular Manhã 03 60

COLÉGIO MÃE DE DEUS Particular Integral/fériasi 04 116

Total - - 41 1494

Fonte: Dados levantados junto ao NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO – Londrina, 1992

i Curso de 2º grau supletivo – Formação Suplência Profissionalizante – Habilitação Magistério de 1ª a 4ª séries do 1º grau.Aprovado pela Secretaria Estadual de Educação em 1984.

1

1

Page 13: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

137Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

O Colégio Mãe de Deus2 oferecia além docurso magistério regular (4 anos), umamodalidade de curso com 3 anos de duração, eo curso magistério de 2º grau supletivo emregime especial, concentrado no período deférias, para alunos que possuiam o 2º graucompleto. O Colégio Marista de Londrinaoferecia um curso específico para a formaçãode Irmãos Maristas, voltados para a Educação.

Com relação as escolas da rede estadual deensino, Archela (1993) observou que estescursos de formação docente, apresentavamproblemas comuns as demais modalidades deensino: falta de equipe pedagógica concursadae efetiva nos estabelecimentos estaduais;problemas com relação à falta de concursopúblico; muitos professores contratadossentiam-se desmotivados para dar continuidadeaos trabalhos, uma vez que eram apenastemporários; alguns professores contratadospara o curso magistério, desconheciam arealidade das séries iniciais do ensinofundamental, dificultando a supervisão deestágio, além dos problemas referentes aoacompanhamento dos alunos aos locais deestágio. Aponta ainda, a falta de dados epesquisas sobre o curso magistério em Londrina.

Na verdade, os problemas e característicaslevantadas durante a realização da pesquisa em1992, refletem a estrutura escolar, firmadaatravés das constantes mudanças que ocorreramno ensino brasileiro, em nome de uma boaformação profissional.

A formação de docentes da Educação Infantile séries iniciais do Ensino Fundamental temcomo finalidade básica, formar um professorcom profunda consciência da realidade. Porisso necessita de uma sólida fundamentaçãoteórica e metodológica, aliada a umacompetente instrumentalização técnica. Estapreocupação tem sido verificada ao longo daexistência do curso magistério no Brasil.Embora saibamos que as mudanças de currículonão modificam a estrutura do ensino,acreditamos que o processo de mudança envolveum empenho significativo do Estado, da

universidade, dos professores, da escola, dosalunos e da sociedade.

Até 1971, a formação de professores para asséries iniciais, se dava através de escolas normais.A escola normal sofreu diversas modificações.Entre estas, destaca-se a Lei Federal N.º 4024/61, Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional, que teve por objetivo, no que dizrespeito ao ensino normal, a formação deprofessores, educadores, orientadores,supervisores e administradores escolares,destinados ao ensino primário e aodesenvolvimento dos conhecimentos técnicosrelativos à educação da infância.

Com base nesta Lei Federal, em 1964 foramestabelecidas as bases curriculares da EscolaNormal de Grau Colegial (atual Ensino Médio),com as seguintes disciplinas:

Obrigatórias de Cultura Geral: Português,Matemática, História, Geografia e Ciências.Obrigatórias Complementares: Fundamentos daEducação e Teoria e Prática da Escola Primária.

A disciplina Fundamentos da Educaçãoabrangia o Estudo da Criança (Psicologia doDesenvolvimento e da Aprendizagem),Introdução aos Estudos Pedagógicos, Filosofiada Educação e Problemas da Educação Brasileirae Paranaense. A disciplina Teoria e Prática daEscola Primária abrangia: Organização daEscola Primária, Currículo, Metodologia ePrática do Ensino Primário; constituindo-se emnova denominação da disciplina Didática ePrática de Ensino. Poderiam ser incluídaspráticas educativas nas disciplinas deFundamentos da Educação e Teoria e Práticada Escola Primária.

Até duas disciplinas optativas poderiam serincluídas no currículo do curso em regimesemestral, entre as seguintes: História daEducação, Psicologia Educacional, BiologiaEducacional, Estatística Aplicada,Administração Escolar, Estudos Sociais, Higienee Puericultura. Estas disciplinas poderiam seroferecidas em uma ou mais séries, cabendo aoestabelecimento a sua distribuição. A prática deensino, sob a forma de Estágio Dirigido, era

Page 14: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

138 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

obrigatória para todos os alunos da EscolaNormal de Grau Colegial com cargas horáriasampliadas gradativamente da 1ª à 3ª sérienormal. No entanto, a possibilidade do Estadoe dos estabelecimentos de ensino anexaremdisciplinas optativas ao currículo mínimoestabelecido pelo Conselho Federal de Educação,foi um progresso somente em matéria de legislação,porque as escolas acabaram compondo o seucurrículo de acordo com os recursos materiais ehumanos que já dispunham.

A Lei Federal N.º 5692/71, estabeleceu aqualificação obrigatória para o trabalho ao nívelde 2º Grau (Ensino Médio). Esta leideterminava para o exercício do magistério de1ª a 4ª séries, que o professor fosse habilitadoespecificamente em nível de 2º Grau, em cursode três ou quatro séries. Poderia atuar até a 5ª e6ª séries do 1ºGrau (Ensino Fundamental), sea habilitação fosse obtida em quatro séries, ou emtrês com estudos adicionais de um ano. Assim, oantigo Curso Normal transformou-se numaHabilitação de 2º Grau, como qualquer outra.

No Estado do Paraná, foram definidos osconteúdos obrigatórios com o respectivoementário, segundo Deliberação N.º 22/79, aordenação das matérias obrigatórias, osconteúdos correspondentes aos EstudosComplementares, a carga horária de cadadisciplina e o horário de funcionamentoindicado para período diurno. Houvepredominância da parte de Formação Especialsobre a Educação Geral, sendo caracterizada noCurrículo Pleno. A duração foi estipulada emtrês anos com uma carga horária total de 1890horas/aula. Dessa forma, a transformação daEscola Normal em Habilitação ao Magistérioteve como pano de fundo a própriadescaracterização do ensino de 2º Grau.

Com o objetivo de melhorar a qualidade de ensinodo magistério, em 1985 foi elaborada a PropostaCurricular do Magistério e encaminhada ao ConselhoEstadual de Educação. A proposta envolvia asseguintes questões: Abordagem Curricular eMetodológica; Plano de Estudos; Ementário dasDisciplinas; Prática de Ensino e Bibliografia.

A partir de 1986, esta proposta começou aser implantada de forma gradativa, nosestabelecimentos de 2º Grau da rede estadualque ofertavam o curso magistério. Em 1987, ocurrículo foi adequado ao Parecer 785/86 –CFE, Deliberação 004/87 CEE e, InstruçãoConjunta N.º 01/87 SUED/SEED. Aadequação realizada alterou a nomenclatura dasmatérias do Núcleo Comum econsequentemente as disciplinas componentesda matéria Didática, além da inclusão dadisciplina Organização Social e PolíticaBrasileira na 3ª série.

No período 1987/1990, a Secretaria deEstado da Educação do Paraná, através doDepartamento de Ensino de Segundo Grau –DESG, iniciou um processo de Avaliação daProposta Curricular da Habilitação Magistério,considerando as principais deficiênciasdetectadas: falta de embasamento teórico dosprofessores sobre a sua disciplina e mesmo sobreas questões mais amplas da Educação; falta decompreensão da diferença entre método emetodologia; conhecimento restrito quanto abibliografia atualizada existente na sua área deatuação e defasagem nos conteúdos apresentados.

O processo de avaliação começou a serrevisto a partir da questão curricular, porqueesta era no momento, a primeira preocupaçãodo DESG para o magistério, devido asdificuldades existentes. Os estudos realizadosdurante o desenvolvimento do Projeto deAvaliação da Proposta Curricular da HabilitaçãoMagistério apontaram para uma novaestruturação curricular, além da necessidade deuma reorganização da escola.

A implantação do novo currículo nosestabelecimentos de ensino da rede estadual,passou a ser feita de forma gradativa, a partirde 1990 opcionalmente e, obrigatoriamente apartir de 1991, com duração de quatro anoscom a seguinte grade:

Page 15: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

139Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

NÚCLEO COMUM:Língua Portuguesa e LiteraturaLíngua EstrangeiraGeografia (2 aulas por semana na 1ª série, e2 aulas na 2ª série)HistóriaOrganização Social e Política do BrasilMatemáticaFísicaQuímicaBiologiaEducação FísicaPrograma de SaúdeEnsino Religioso (não listado no currículoda rede estadual)

PARTE DIVERSIFICADA

Filosofia da EducaçãoSociologia da EducaçãoHistória da EducaçãoPsicologia da EducaçãoBiologia EducacionalEstrutura e Funcionamento do Ensino de 1º grauDidáticaAlfabetizaçãoMetodologia do Ensino de PortuguêsMetodologia do Ensino de MatemáticaMetodologia do Ensino de HistóriaMetodologia do Ensino de Geografia (2aulas por semana na 4ª série)Metodologia do Ensino de CiênciasMetodologia do Ensino de Educação FísicaMetodologia do Ensino de Arte

ESTUDOS COMPLEMENTARES (opção do estabelecimento)Introdução à Metodologia CientíficaFundamentos da Educação Pré-EscolarFundamentos da Educação de AdultosLiteratura InfantilFundamentos da Educação Especial

Outra modificação fundamental pode seratribuída às Metodologias de Ensino quetiveram seu campo de atuação ampliados. Acada disciplina do Núcleo Comum foi acrescidauma metodologia específica – os fundamentos

metodológicos do ensino das ciências histórico-sociais e naturais. A disciplina Metodologia doEnsino de Geografia daria conta dos seguintesconteúdos:

Concepção de Geografia:O que é Geografia? O conhecimento geográficoe sua utilização.Produção do espaço e suas inter-relações:Noção de espaço; o capital e o trabalho naprodução do espaço.Programas e conteúdos trabalhados no 1º grau:Análise de livros didáticos; recursos comoauxiliares no ensino de Geografia.Critérios de avaliação em Geografia: o que éavaliação? Os processos de avaliação.

Tanto os conteúdos das disciplinas deGeografia como os objetivos da HabilitaçãoMagistério, apontavam para a importância daCartografia como instrumento de grandeeficácia para o ensino-aprendizagem.

Com este novo currículo, o ConselhoEstadual de Educação do Estado do Paranáesperava formar professores capacitados paraatuar nas quatro primeiras séries, comconhecimentos, atitudes e habilidadesadequadas para o desenvolvimento de umaconsciência da realidade de atuação profissional;adequada fundamentação teórica e cominstrumentalização técnica satisfatória.

No ano de 2001 o Curso Normal – NívelMédio foi reformulado e passou a ter a duraçãode três anos com jornada diária em tempointegral, com 5920 horas aulas. O curso temcomo objetivo formar docentes para atuaremna Educação Infantil e nas quatro séries doEnsino Fundamental. A proposta contemplaum acréscimo de 2480 horas aulas ou 1533horas relógio no quadro curricular do curso paraque seja garantido ao aluno o domínio dosconteúdos curriculares necessários para a suaformação geral, de forma articulada econtextualizada com a formação básica para oEnsino Médio, assim como, a formaçãoespecífica assegurando a capacitação

Page 16: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

140 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

profissional, para o cumprimento das DiretrizesCurriculares Nacionais relativas à EducaçãoInfantil e ao Ensino Fundamental.

O Curso Normal – Nível Médio, foi criadopara substituir o Curso de Magistério –Habilitação de 1º Grau (1ª a 4ª séries)3 ,lembrando que sua reestruturação obedece asnormas da Deliberação n.º 010/99 do ConselhoEstadual de Educação do Paraná e está de acordocom as Diretrizes Curriculares Nacionais –Resolução n.º 02/99 CEB/CNE e Parecer n.º01/99 CEB/CNE. Conforme delibera a Lei deDiretrizes e Bases da Educação Nacional, oProjeto Pedagógico do Colégio Mãe de Deusno ano 2001, contempla entre os cursosprofissionalizantes as seguintes modalidades:Curso Normal – Nível Médio: Profissional daEducação; Curso de Magistério em Música:Profissional em Educação Musical; Curso deFormação de Professores para a EducaçãoInfantil, na modalidade de Estudos Adicionais4 .Diante das exigências da nova Legislação, oColégio elaborou a proposta para a criação doCurso Normal Superior, em período de férias(projeto em tramitação). Ao aluno concluintedo Curso Normal, será fornecido diploma comcertificação independente, especificando odireito ao exercício profissional em cada umadessas áreas. É importante frisar que, todas asáreas ou núcleos curriculares são constituídospor conhecimentos, valores e competências queasseguram a formação básica, geral e comum.

Segundo a Proposta Pedagógica do colégio(2001), a Organização da Ação Pedagógica e aPrática Supervisionada interagem com as duasáreas de atuação: Educação Infantil e sériesiniciais do Ensino Fundamental uma vez queestes são o campo prático onde os alunos doCurso Normal, nível médio encontram asvivências do dia-a-dia com as crianças nopróprio estabelecimento, que é o local deatuação dos alunos-mestres nas duas áreas queserão formados: Educação Infantil e sériesiniciais do Ensino Fundamental.

A opção do Colégio em continuar com aformação do educador em nível médio,

orientando o jovem profissional comfundamentos básicos da Educação, justifica-sepela importância desta orientação nesta idadeescolar (adolescentes), mesmo que a maioriacontinue seus estudos em nível superior. Aproposta pedagógica procura adequar osconteúdos à formação de valores de nossasociedade, fazendo-se necessário uma formaçãoética para o exercício da cidadania. As diferenteslinguagens e formas de expressão sãocontempladas nas mais diversificadas disciplinasas quais interagem de forma interdisciplinar(PROPOSTA Pedagógica do Colégio, 2001).

A nova disciplina “Abordagens do Ensino deConhecimentos da Sociedade” na EducaçãoInfantil será ministrada na 2ª série do CursoNormal, nível Médio a partir de 2002,abordando os seguintes conteúdos:O conhecimento e as formas de sua apreensãonas Ciências Humanas: o que é conhecimento?Como se produz o conhecimento?Ciências Humanas: seus objetos e métodos.Propostas oficiais para a educação infantil:referencial curricular para a educação infantil;Currículo do Estado do Paraná(PARANÁ,1992) e Proposta Curricular daRede Municipal de Ensino de Londrina(LONDRINA,1994); objetos do eixo temático“Conhecimento de Mundo”:Conteúdos para as crianças de zero a três anos:tradições culturais de sua comunidade e de outrosgrupos; exploração de objetos – seu espaço e noçõestopológicas; relações de lógica: causa e efeito.Conteúdos para as crianças de quatro a seisanos: organização dos grupos e seu modo deser, viver e trabalhar; lugares e as paisagens;objetos e processos de transformação.Orientações didáticas: elaboração de recursosmateriais; elaboração de situações concretas quefavoreçam a socialização e cooperação; atividadespermanentes com jogos e brincadeiras; elaboração deprojetos de ensino; atividades para a organização doespaço próximo;Formas de avaliação na Educação Infantil:questões teórico-práticas sobre o aspectoformativo da avaliação.

Page 17: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

141Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

Quadro 2 – Matriz Curricular – Curso Normal – Nível Médio (2001).

Formação de Docentes da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino FundamentalEstabelecimento: Colégio Mãe de Deus – Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e ProfissionalLocalidade: Londrina Núcleo Regional Educação: Londrina - Ano de Implantação: 2001 Módulo: 40 semanas - Turno: Diurno –Integral - Carga Horária em H/A: 6.240 / 6.480 - Implantação: Gradativa

Carga Horária em Horas: 5.200 / 5.400

SérieÁreas deConhecimento

Disciplinas1ª 2ª 3ª

Total H/A

Língua Portuguesa e Literatura 3 3 3 360Artes 1 1 1 120

Educação Física 2 2 2 240

LINGUAGENS,CÓDIGOS E

SUASTECNOLOGIAS Sub-total 6 6 6 720

Matemática 4 4 4 480Física 4 4 4 480

Química 3 3 3 360Biologia 3 3 3 360

CIÊNCIAS DANATUREZA,

MATEMÁTICAE SUAS

TECNOLOGIAS Sub-total 14 14 14 1680História 2 2 2 240

Geografia 2 2 2 240Sub-total 4 4 4 480

BASE

COMUM

CIÊNCIASHUMANAS E

TECNOLOGIASTotal da Base Comum 24 24 24 2880

Educação Religiosa 2 2 2 240Filosofia 2 2 - 160

Sociologia - - 1 40Oficina de Leitura 2 2 1 200

Matemática Contextualizada - - 2 80

L.E.M. – Inglês 2 2 2 240Língua Alemã (Opcional) 2 2 2 240

PARTEDIVERSI

CADA

Total da Parte Diversificada 8/10 8/10 8/10 960/1.200

Fundamentos Filosóficos - - 2 80Fundamentos Sócio-antropológicos 2 - - 80

Fundamentos Psicológicos 2 - - 80História da Educação 2 - - 80Iniciação à Pesquisa 1 - - 40

Sub-Total 7 - 2 360Literatura Infantil 2 - - 80

Abordagens de Linguagem e Alfabetização naEducação Infantil

- 3 - 120

Abordagens do Ensino de Português no EnsinoFundamental

- - 2 80

Abordagens do Ensino de Matemática naEducação Infantil

2 - - 80

Abordagens do Ensino de Matemática no EnsinoFundamental

- 1 2 120

Abordagens do Ensino de Ciências na EducaçãoInfantil

- 1 - 40

Abordagens do Ensino de Ciências no EnsinoFundamental

- - 1 40

Abordagens do Ensino de Conhecimentos daSociedade no Educação Infantil

- 2 - 80

Abordagens do Ensino de Geografia no EnsinoFundamental

- - 1 40

Abordagens do Ensino de História no EnsinoFundamental

- - 1 40

Lúdico e Recreação na Educação Infantil - 1 - 40Abordagens do Ensino de Educação Física no

Ensino Fundamental- - 1 40

Abordagens do Ensino religioso na EducaçãoInfantil

- 1 - 40

Abordagens do Ensino Religioso no EnsinoFundamental

- - 1 40

Sub-Total 4 9 9 880Organização da Ação Pedagógica 1 2 2 80

Sub-Total 1 2 2 80Total da Formação Específica 12 11 13 1.440

Prática Supervisionada 7 8 9 960Total Geral 51/53 51/53 54/56 6.240/

6.480Total Geral em H/A 2.040/

2.1202.040/2.120

2.160/2.240

6.240/6.480

FORMAÇÃO

ESPECÍFICA

GESTÃO

PEDAGÓGICA

Total Geral em Horas 1.700/1.766

1.700/1.766

1.800/1.866

5.200/5.400

Fonte: Proposta Pedagógica do Colégio Mãe de Deus, Londrina-PR, 2001.

DIVERSIFI

Page 18: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

142 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

A disciplina “Abordagens do Ensino deGeografia” no Ensino Fundamental substituiua disciplina “Metodologia do Ensino deGeografia”, ministrada para os alunos da 3ª série,com aborda os seguintes conteúdos:Concepção de Geografia: geografia crítica;espaço e as noções topológicas;Organização do espaço geográfico: espaçogeográfico social e econômico;Espaço geográfico e social da criança: a casa, aescola e o bairro; o município, o estado e o país.A relação homem-natureza: transformação danatureza pela ação humana; o homemconstruindo o espaço e a história por meio desua transformação;Propostas Oficiais para o Ensino Fundamental:Parâmetros Curriculares Nacionais; o Currículoda Escola Pública do Paraná; PropostaCurricular da Rede Municipal de Ensino.Métodos e Técnicas para o Ensino deGeografia: alfabetização cartográfica – a leiturados mapas; oficinas das possibilidades –métodos e técnicas de trabalho.

Estes conteúdos expressam uma preocupaçãoem relacionar teoria e prática, onde o aluno-professor poderá discutir os caminhos para amelhor maneira de trabalhar os conteúdos,buscando possíveis soluções para a melhoria doensino de Geografia no Ensino Fundamental.Por outro lado, a nova disciplina parte dopressuposto de que será importante a vivênciae a criação do conhecimento por parte dosfuturos professores da Educação Infantil paraque os mesmos possam perceber que oconhecimento não é algo que está “fora” doindivíduo e, assim privilegiar o despertar deidéias que favoreçam o ensino voltado àobservação, exploração e conhecimento do meiovivido pela criança. Trata-se de explorar asformas de abordar a vivência dos conteúdos naEducação Infantil.

As disciplinas “Abordagens do Ensino deConhecimentos da Sociedade” e “Abordagensdo Ensino de Geografia”, compõem a partediversificada – Formação Específica do Curso

Normal – Nível Médio, fornecem oembasamento necessário para subsidiar a leiturae representação do espaço geográfico. Aaplicabilidade destas disciplinas no Estágio sefaz por meio de observações de aulas naEducação Infantil e no Ensino Fundamental5 ,bem como da elaboração de planejamentos paraa posterior aplicação em sala de aula.

2. CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA

Desde o início da década de oitenta, apreocupação com a formação docente foireforçada pela atuação direta do Estado e dauniversidade objetivando melhor qualidade noensino, através de cursos de atualização paraprofessores do Ensino Fundamental e Médiona maioria dos estados brasileiros. O contatocom estes professores, através de cursosrealizados no estado do Paraná, demonstrou aexistência de grandes problemas relacionados àformação docente. Atualmente temos verificadonos cursos de atualização para professores doEnsino Fundamental e Médio, realizados atravésde projetos de Extensão da UniversidadeEstadual de Londrina6 , que os professores-alunos levantam questões que apontam emdireção à necessidade de um maiorembasamento teórico-metodológico, da revisãoe atualização de conteúdos e da metodologiade ensino. Apesar dos esforços despendidos nosúltimos anos, no sentido de promover umaatualização necessária aos professores, aindapodemos verificar que a perspectiva de melhorqualidade no ensino, principalmente na redeestadual, tem evoluído mais em termos teóricosdo que práticos.

Muitas pesquisas foram realizadas na área deensino de Geografia, com o objetivo dedesenvolver metodologias de ensino a fim decontribuir para a formação docente. Destacam-se pesquisas significativas que contribuíram nasúltimas décadas, como Callai e Zarth (1988);Almeida e Passini (1989). As pesquisas quetratam destas questões, se concentram nas

Page 19: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

143Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

últimas séries (5ª a 8ª) do Ensino Fundamental.Apesar da significativa contribuição destaspesquisas para o ensino, pouco se sabe sobreestas experiências com alunos que deverãoparticipar diretamente da Educação Infantil edas séries iniciais do Ensino Fundamental.

No sentido de contribuir com a formaçãode docentes para a Educação Infantil e sériesiniciais do Ensino Fundamental, Archela (1993)busca a compreensão dos aspectos essenciais quenorteiam as questões relacionadas àsrepresentações gráficas no ensino de Geografia.Faz uma revisão bibliográfica da cartografiaescolar e adota como embasamento teórico emetodológico da pesquisa a linguagem darepresentação gráfica, desenvolvida por JacquesBertin (1967), pouco utilizada no EnsinoFundamental no Brasil até o início dos anosnoventa. Nesta linha, elaborou representaçõesgráficas simplificadas a partir de um mapa doAtlas escolar, para serem completadas eanalisadas pelos alunos do curso magistério emLondrina, no qual verificou uma grande dificuldadecom relação a leitura de mapas. Ressalta que osprofessores precisam de uma formação maisadequada com relação à capacidade de utilizarmapas, e que os alunos desde as primeiras séries,precisam conhecer o melhor caminho para ler omapa e estabelecer correspondências entre arepresentação e a realidade.

É fundamental que as propostas de trabalhorelacionadas a formação docente em Geografia,estejam comprometidas com a qualificaçãoprofissional onde os conteúdos cartográficossomados à leitura crítica do espaço geográficoauxiliem a formação científica e consciênciadas tarefas sócio-políticas e pedagógicas doprofissional que queremos formar, visto que asólida formação docente está diretamente ligadaa melhoria da qualidade do ensino.

Ademais, consideramos que devemostrabalhar a Geografia de forma interdisciplinar,relacionando-a com outras áreas doconhecimento priorizando o desenvolvimentode idéias, do raciocínio e da investigaçãocientífica, pois entendemos que o domínio de

conteúdos somados à competência técnica são defundamental importância para a formação docente.

A Geografia na atualidade, como todos osramos da ciência, tem sofrido uma acentuadareformulação em seus princípios frente às novastecnologias ligadas ao seu campo de atuação.Por isso, é importante sensibilizar os futurosprofessores para a necessidade de trabalhar osconteúdos por diferentes linguagens, como acriação de oficinas de aprendizagem para aelaboração de materiais didáticos e projetos deensino visando a aplicação de um trabalhointerdisciplinar. Neste sentido, Pontuschka(1999) aponta o uso de diferentes linguagenscomo um dos caminhos para alcançar amelhoria no ensino de Geografia.

É importante ultrapassar a utilizaçãoexagerada dos livros didáticos com o uso deoutras metodologias como: o uso de filmesdidáticos, documentários, slides associados amúsicas, pesquisas de campo, artigos de jornaise revistas, elaboração e interpretações de mapase gráficos, literatura, história em quadrinhos,montagem de peças teatrais, técnicas delaboratório, computação, entre outros. Atravésda utilização destas linguagens os alunos-professores terão a oportunidade de criarestratégias de ensino que poderão nortear asprimeiras noções geográficas em sala de aula,lembrando que nestas propostas metodológicasé fundamental a participação das crianças paraa elaboração do saber. Neste sentido, Archela eGomes (1999) apresentam várias sugestões demetodologias para diferentes temas trabalhadosno Ensino Médio. Trabalhando com a realidadedo cotidiano, e o uso de diferentes linguagens emetodologias, certamente será mais interessanteobservar, interpretar e analisar o espaço geográfico.

3. CONSIDERAÇÕES SOBRE ASMUDANÇAS NA FORMAÇÃO DOCENTE

A atual legislação que criou o Curso NormalSuperior, alterou os cursos Magistério ePedagogia. A principal mudança foi a

Page 20: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

144 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

obrigatoriedade de diploma de ensino superiora todos os professores que se formarem a partirde 2007. Os currículos dos cursos e a formaçãode professores encontram-se da seguinte forma:

Magistério (Ensino Médio) – o professor comessa formação, atualmente pode dar aulas paraclasses da Educação Infantil até a 4ª série doEnsino Fundamental. A partir de dezembrode 2007, quem fizer o magistério não poderámais dar aulas, porque o diploma universitáriopassará a ser obrigatório.

Normal Superior (Magistério) – atualmente,o professor com magistério superior podelecionar para classes até a 4ª série do EnsinoFundamental. No entanto o curso deixou deser o único do Ensino Superior a oferecerlicenciatura para o Magistério, pois a Pedagogiatambém recebeu esta habilitação, e não deverásofrer alterações profundas, pois o cursocontinuará a oferecer a licenciatura para aEducação Infantil e para as quatro primeirasséries do Ensino Fundamental.

Pedagogia – o pedagogo possui atualmentehabilitação para o magistério e pode lecionaraté a 4ª série do Ensino Fundamental. Queminiciar o curso a partir de 2005, deverá fazerhabilitação em licenciatura para atuar comoprofessor; caso contrário, poderá atuar apenascomo pedagogo, em áreas como formação deprofessores e administração, planejamento eorientação educacional. O curso continuaráoferecendo o bacharelado.

A partir de 2007, o professor será obrigadoa ter diploma universitário de um curso deconhecimento específico para lecionar noEnsino Superior, Médio ou Fundamental (5ªsérie em diante).

Segundo a Secretaria de Educação Superiordo Ministério da Educação, o Curso NormalSuperior, como as demais Licenciaturas, deverãoter a carga horária mínima de 3200 horas, sendoque destas, 800 horas devem destinar-se à

prática pedagógica. Das 800 horas de PráticaPedagógica, 300 horas são para as atividades deEstágio Supervisionado. Para solicitação deautorização nas duas licenciaturas possíveis nointerior do Curso Normal Superior: formaçãode professores para a Educação Infantil eformação de professores para os anos iniciaisdo Ensino Fundamental, são necessários doisprojetos acadêmicos, um para cada uma dasduas licenciaturas (BRASIL, 2002).

No que se refere especificamente à geografia,notamos que a formação docente ainda deixa adesejar. Entendemos que o professor deveria terem sua formação inicial, um grau de discussãoteórica que lhe permitisse avaliar sua formaçãoem função do processo de aprendizagem doaluno. No entanto, temos observado ao longode nossa experiência profissional, que muitasvezes, professores recém-formados necessitamde cursos de atualização porque sua formaçãofoi insuficiente.

Acreditamos que as mudanças na legislaçãosão importantes porém, a formação docentesó estará estruturada quando a formação inicalder condições para que os futuros profissionaisfaçam opções e tenham clareza sobre osconteúdos a serem ensinados pois a atuação doprofessor em sala de aula está diretamente ligadaà qualidade do curso de licenciatura.

NOTAS

1 Formação docente: terminologia utilizada no sentidoamplo de formação de professores

2 Em 1993, o Colégio voltou a oferecer o CursoMagistério em 3 anos, após a aprovação de um Projetojunto à Secretaria Estadual de Educação do Estadodo Paraná. O Projeto foi aprovado porque o curso édesenvolvido em período integral.

3 Este curso entrou em extinção gradativa e terá suaúltima turma no ano de 2003.

4 Este curso é ofertado em 1 (um) ano, para osprofissionais que possuem a Habilitação Magistériode 1º Grau (1ª a 4ª séries) e buscam também aHabilitação em Educação Infantil.

5 O Estágio de Observação ocorre por meio daparticipação ativa dos estagiários, onde os mesmos têm

Page 21: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

145Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 135-145, jul./dez. 2001

Reflections on the Changes in the Teaching Formation of AverageLevel in Native of Londrina – Paraná. Contributions of Geography

ABSTRACTReflections on the professionalizing course of teaching formation of average level in Londrina – Paraná , on the basis ofthe occured changes in the Brazilian and paranaense education to the long one of the last decades.

KEY-WORDS: education, teaching formation, average level, methodology of education, education of Geography.

a oportunidade de auxiliar nas atividades propostaspelo professor regente.

6 Projeto de Extensão da Universidade Estadual deLondrina intitulado: Geologia para EnsinoFundamental e Médio: Um Programa de Atendimentoe Atualização para Professores, cadastrado sob nº.003.001.01.0069.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Rosângela D.; PASSINI, Elza Y. Oespaço geográfico: ensino e representação. São Paulo:Contexto, 1989.

ARCHELA, Rosely S. Mapa – instrumento decomunicação e pesquisa: análise de representaçõesgráficas no curso magistério em Londrina-PR.1993. Dissertação (Mestrado em Geografia) –Universidade de São Paulo, São Paulo.

ARCHELA, Rosely S.; GOMES, Marquiana F. V.B. Geografia para o ensino médio: manual de aulaspráticas. Londrina: Editora UEL, 1999.

BERTIN, Jacques. Sémiologie Graphique: lesdiagrammes, réseaux, les cartes. Paris: Mouton &Gauthier – Villars, 1967.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria deEducação Superior. . Formação de professores.Disponível em: http://www.mec.gov.br/sesu. Acessoem 21 de fevereiro de 2002

CALLAI, Helena C. e ZARTH, Paulo A. O estudodo município e o ensino de história e geografia. Ijuí:Unijuí, 1988.

LONDRINA. Secretaria Municipal de Educação.Proposta Curricular. Londrina-PR, 1994.

PARANÁ. Secretaria Estadual de Educação/Departamento de Ensino de Segundo Grau. PropostaCurricular do Curso Magistério . Curitiba, 1992.

PONTUSCHKA, Nídia N. A Geografia: Pesquisa eEnsino. In: CARLOS, Ana Fani A. Novos caminhos daGeografia. São Paulo: Contexto, 1999. p.111-143.

PROPOSTA Pedagógica do Colégio Mãe de Deus.Londrina – PR, 2001.

Page 22: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 23: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

147Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

INTRODUÇÃO

O Brasil tem um potencial de produção deleite que só não é explorado na totalidade pelafalta de poder aquisitivo da população.

O baixo poder aquisitivo da população é oprincipal impedimento ao aumento doconsumo, argumento que têm sido usado pelosvários segmentos do setor. “Se as pessoas têmdinheiro, vão, inevitavelmente, comprar mais leite.Prova disso foi o que ocorreu no Plano Cruzado,em que houve até desabastecimento. Aquela ‘utopia’serviu para comprovar que, se há dinheiro, a nossaprodução é realmente insuficiente”, afirmou JoséOtaviano de Oliveira Ribeiro, presidente daConfederação das Cooperativas Centrais

A Modernização da Pecuária Leiteira e a Exclusão doPequeno Produtor

Jerri Augusto da Silva*Ruth Youko Tsukamoto* *

RESUMONo Brasil a produção leiteira vem aumentando gradativamente, graças ao fim do tabelamento que perdurou até 1990.Porém, os produtores brasileiros estão sofrendo os efeitos das importações provenientes da Argentina, via MERCOSUL,com baixos preços e longo prazo de pagamento. Atualmente, as indústrias de laticínios estão em processo de fusão parase tornarem mais competitivas no mercado globalizado. Mesmo sendo uma atividade pouco rentável, com baixos preçospagos pelas indústrias/cooperativas, sempre foi um meio de sobrevivência do pequeno produtor de leite. Na esteira damodernização, o pequeno produtor de leite vem sofrendo inúmeras imposições por parte das indústrias para acompanhara evolução tecnológica no seu sistema de produção. Este é um dos problemas que tem provocado o abandono gradativodestes produtores, pois falta apoio financeiro para cumprir tais exigências. Estas indústrias e/ou cooperativas de laticínios,sujeitam o produtor estabelecendo o monopólio na circulação pagando o preço que lhes é conveniente e, por outro lado,sujeita também os consumidores, com seus preços monopolistas. Embora a cooperativa não exproprie diretamente oprodutor, ela subjuga o produto de seu trabalho, realizando assim, uma clara transferência de renda, da pequena produçãoagrícola para o grande capital industrial. Assim, observa-se a exclusão e/ou a exploração desta população rural,principalmente daqueles que produzem até 50 litros/leite/dia. Uma das alternativas encontradas para estes produtoresexcluídos foi a comercialização informal, tornando-se independentes da subordinação do capital industrial.

PALAVRAS-CHAVE: pecuária leiteira, pequeno produtor, capital industrial.

* Acadêmico do curso de Geografia – Bolsista CPG/UEL** Professora do Deptº de Geociências – UEL- Londrina. [email protected]

Agropecuárias do Paraná (CONFEPAR) em1994, acrescentando que em 86 o Brasilimportou três vezes à mais do que costumatrazer normalmente de outros países.

A produção fica atrelada ao consumo. Opreço, considerado como um dos impedimentospara a aquisição do produto, também nãosatisfaz aos produtores, pois:

Um elemento central nesse processo é o fator“preço”: é a fixação do preço do leite abaixo deseu valor que permite essa transferência doexcedente da pecuária leiteira para o capitalindustrial. O preço do leite é um preço político,elaborado em função das relações de força dentroda economia em geral, e do setor de laticínios emparticular (FREDERICQ, 1980, p.38).

Page 24: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

148 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

Toda a nossa produção láctea se insere dentrode um processo chamado “crise agráriapermanente”. Segundo este processo, o preçodo leite segue uma tendência decrescentequando comparados com outros produtosindustriais. Estes preços são meramente políticos,destinados a garantir o processo de acumulaçãoindustrial. Por sua vez, os produtores tentamequilibrar este déficit com o aumento deprodutividade, o que é conseguido com a utilizaçãode tecnologia moderna, porém nem todosconseguem incorporá-la.

Em razão do leite ter um preço relativamentepouco compensador para o produtor, nota-se,nestes últimos anos, algumas tendências nestaatividade. De um lado, uma pequena partedestes produtores, beneficiados por programasdo governo e incentivos fiscais, conseguiucapitalizar-se. Vemos também outra fração quediversificou sua produção ou passaram a exerceroutra atividade. Mas a grande maioria, que sãoos pequenos produtores tradicionais, vêm-sedescapitalizando gradativamente. O maiorproblema é que estes produtores utilizam-se detécnicas atrasadas, onde, acabam sendopressionados a modernizar-se, porém sem capital.

De acordo com Fredericq (1980, p.19), osprodutores“são submetidos a pressões do Estadoe das empresas agroindustriais produtoras deinsumos agropecuários ou de laticínios”.

Nesse sentido, preocupamo-nos em analisarquais são as alternativas encontradas por essesprodutores bem como entender como se dá arelação entre o produtor e a indústria.

Além do processo de globalização daeconomia e da forte inserção do capitalmultinacional, na entressafra de 2001,observou-se uma situação atípica da produçãoleiteira no Brasil que refletiu nos preçospraticados nesse período, provocando uma criseainda maior nesse setor de atividade.

1. PANORAMA DA PRODUÇÃOLEITEIRA NO BRASIL E NO PARANÁ

1.1.CONSIDERAÇÕES SOBRE A PECUÁRIA BRASILEIRA

Segundo Szmrecsányi (1998, p.71) de 1930a 1970, estabeleceu-se e consolidou-se no paísum novo padrão de desenvolvimento crescente,baseado exclusivamente nos setores urbanos eindustriais da economia, voltado para oatendimento de seu mercado interno, que estavaem franca expansão. Até o final da década de1920, a economia brasileira era predominantementerural, com apenas uma atividade básica, aprodução de café para exportação. Com aGrande Crise de 1929/30, o governo fundou-se numa industrialização voltada para asubstituição das importações, onde o processode urbanização foi acelerado pela intensificaçãodo êxodo rural (devido basicamente à quebrana economia cafeeira). Somente, a partir dadécada de 50 é que o setor agropecuário passa aconstituir um importante mercado para osprodutos industrializados, ocorrendo umacentuado processo de modernização do país,principalmente na região sudeste, maisparticularmente no Estado de São Paulo.

A crescente introdução destes nos processosprodutivos do setor agropecuário deu início àchamada industrialização da agricultura no Brasil.Por industrialização da agricultura entende-se aquia adaptação dos processos produtivos da indústriade transformação aos processos produtivos do setoragropecuário (SZMECSÁNYI, 1998, p. 72).

A pecuária leiteira é um setor da economiaquase totalmente monopolizado pelo capitalindustrial, e a sua gênese no país, está ligada àprópria história da NESTLÉ. Esta empresadomina até hoje o setor lácteo, através de um:

...processo de subordinação que ela cria nas áreasde captação de leite ou, como ela prefere chamaros pecuaristas leiteiros, “fornecedores associados”.“Fornecedores associados”, estes que pagam nãoapenas o transporte do leite até o ponto de

Page 25: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

149Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

recebimento, como também deste até a fábrica,mas que a Nestlé os atende com sua “AssistênciaNestlé aos produtores de leite”. Como se vê, osetor leiteiro está submetido praticamente aocapital multinacional, sobrando para o capitalnacional, a fatia da distribuição do leite in natura,que, sabidamente, é de mais baixa rentabilidadeno setor (OLIVEIRA, 1981, p. 35).

Como sabemos, o agribusiness lácteo agregarenda em diversos setores, dentre os quais:produtos veterinários, vacinas, rações, sementes,ordenhadeiras, inseminação artificial eequipamentos agrícolas. A maioria destes setoressão dominados pelo capital estrangeiro, poisapenas algumas empresas nacionais de portemédio conseguiu especializar-se. Estas firmastiveram um certo crescimento nos últimos anos,mas grande parte foi e está sendo incorporadapor empresas estrangeiras, sendo liderada pelocapital transnacional.

O tabelamento de preços no Brasil, quepersistiu até o início da década de 1990, resultouem uma série de conseqüências. Dentre as maisimportantes, podemos considerar a inibição douso de tecnologia no setor, devido à falta derecursos e incentivo governamental. Entretanto,há que se salientar que detemos tecnologia maisque suficiente para obter uma oferta de leiteregular o ano todo, mas isto não ocorre, poistemos abundância de pasto no verão e carênciano inverno ou seja, a safra e a entressafra. Nessesentido, quando a produção é mais abundante,pagam-lhe menos (verão) e no inverno é melhorremunerado.

A partir da implantação do Plano Real, emjulho de 1994, ocorreu um conseqüenteaumento do consumo de leite e derivados. Istoocorreu, em grande parte, devido ao aumentodo poder aquisitivo da população,principalmente da mais carente. Os preçosmédios recebidos pelos produtoresapresentaram significativo aumento em 1995,sendo considerada a melhor fase da pecuárialeiteira em todo o país.

A partir de 1996, estes mesmos preçoscomeçaram a declinar, chegando, em 1999, aUS$0,13 , o menor preço de toda a história dapecuária leiteira. Este fato, juntamente com aglobalização da economia, que vem a exigir dosprodutores: qualidade, produtividade e baixocusto, fez com que muitos, principalmente ospequenos, se encontrassem em uma situaçãoinviável de produção.

De acordo com Koehler(1999), estasimportações têm desestimulado toda a cadeiaprodutiva, do produtor aos laticínios. Um dosmaiores problemas que estimulam asimportações é o prazo de pagamento, que podechegar a quase dois anos. Outro item é a taxação,pois a maior parte do leite que entra no Brasil évia MERCOSUL. Se este leite viessediretamente da Europa, teria que pagar a TarifaExterna Comercial (TEC), de 27%. Entrandopor qualquer país pertencente ao MERCOSUL,será pago para o mesmo leite apenas 16%, ouseja, uma diferença de 11%.

O sistema agroindustrial de leite no Brasilpassou por mudanças estruturais desde o iníciodos anos 90, com o desenvolvimento de umambiente competitivo inteiramente novo, sendoeste, resultado da desregulamentação domercado, da abertura comercial ao exterior eda formação do MERCOSUL, e tambémdevido ao processo de estabilização da economianacional. Quando, ocorreu a liberação de preçospor parte do governo, a diferença de preços nomercado foi geral, causando uma verdadeira guerrade ofertas nas gôndolas dos supermercados.

Hoje, ainda estamos no processo demudanças institucionais, organizacionais etecnológicas que foram deflagradas no inícioda década, como pode ser observado na tabela01, a seguir:

Page 26: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

150 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

Segundo Jank et al (1999), este considerávelaumento no consumo per capita pode seratribuído, em grande parte, à instalação doPlano Real, aumentando assim, o poderaquisitivo da população. Este plano econômicoutilizou e continua a utilizar até hoje, aagricultura e a pecuária como sua âncora verde,ou seja, a estabilidade da moeda (de 1994 a1997),deve-se, em grande parte, aocongelamento de preços dos gêneros queconstituem a cesta básica, sendo que, nesta, o leiteestá incluído como um dos itens fundamentais.

Se o consumo per capita aumentou em 28%,podemos notar que a produção cresceu no mesmonível (29%). Porém, para o desestímulo geral dosprodutores, as importações chegaram a crescer146%. Este fato vem a significar um abandonogeral, tanto político, quanto econômico e socialpor parte do Estado em detrimento da pecuárialeiteira, pois, ao invés do governo incentivar osprodutores do país, torna-se benevolente aosespeculadores do sistema produtivo.

Interessante ressaltar o aumento de 895%do consumo de leite longa vida. Conforme aopinião de um produtor de leite B, ttipo longavida pode ser considerado um produto dequalidade duvidosa, pois passa por um processode esterilização a 130º C, onde é destruídogrande parte das vitaminas e micro-elementosnutritivos deste alimento. Além do mais, sãoaditivados conservantes neste leite, o que irá tirardo mesmo a qualidade de natural. Em

detrimento a este aumento do consumo de leitelonga vida, temos o leite pasteurizado, que teveseu consumo diminuído em 27%. O leite longavida representa para a indústria uminvestimento de grande interesse. Representaredução de custos no transporte, distribuição,logística e armazenamento. Para o consumidorsignifica comodidade. O produto permiteestocagem por um longo período, sem resfriamento.

Dentro deste aumento produtivo, podemosobservar que a produção de leite formal sofreuum aumento gradativo de 16% enquanto, oleite informal produzido no país teve umconsiderável aumento de 52%.

A existência deste seguimento produtivo, ado produtor informal, que está seguindo umaeconomia às margens da legalidade, deve-se àrelação entre o pequeno produtor de leitemantida com a indústria, culminando no baixopreço praticado pela última. Nota-se nesteprocesso que o sobretrabalho do produtor estásendo apropriado pelo capital no momento dacirculação de sua mercadoria.

Enquanto estamos na esfera da produção agrícolatradicional, não distinguimos capitalista,proprietário fundiário ou proletário; há somenteum produtor. Mas quando esse produtor vendesuas mercadorias a um preço mais baixo que seuvalor – o que garante a reprodução de sua forçade trabalho – está transferindo um excedente parao capital comercial ou industrial com que trata(FREDERICQ, 1980, p. 125).

Tabela 1 – Mercado Brasileiro de Leite e Derivados – 1990 e 1998.

Milhões de litros equivalente leite fluido 1990 1998 VariaçãoCONSUMOPer capita (l/hab/ano)

15393106

22307136

36%28%

PRODUÇÃOFormalPasteurizadoLonga VidaDerivadosInformal

1448496094030184

53954875

20087113452745310055008742

29%16%-27%895%9%52%

IMPORTAÇÕES 909 2220 146%LONGA Vida/FluidoImportação/Mercado FormalTamanho do Mercado Formal

4%9%34%

53%16%44%

Fonte: DECEX/MAARA/LEITE BRASIL/SUNAB/ABLV/ABIQ. In: O Agribusiness do leite no Brasil.

Page 27: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

151Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

Assim, nota-se que, para se livrar daexploração capitalista exercida pelas indústriase/ou cooperativas leiteiras, onde parte de suarenda é transferida a este capital, um grandenúmero de produtores vêm aderindo aomercado informal. Comercializandodiretamente seu produto com o consumidorfinal, este produtor consegue agregar à suaprodução, parte da renda que seria apropriadapelos intermediários, fazendo, assim, valer orisco da ilegalidade.

No caso em análise, as cooperativas irãoconstituir um poderoso instrumento para oavanço da industrialização da agricultura, ondeo capital irá ter o domínio total. Desta forma, éo capital que irá estruturar a cooperativa,destruindo neste processo aqueles elementosque lhe conferiam um caráter específico.

1.2. PRODUÇÃO LEITEIRA NO PARANÁ –BREVES CONSIDERAÇÕES

O Paraná, segundo dados elaborados pelaSEAB/DERAL no diagnóstico de 1999 estáocupando o quinto lugar na produção de leitedo Brasil, colocação esta que vem se mantendo hámais de 10 anos. Segundo esta mesma fonte, em1998, o Paraná participou com aproximadamente8,5% do total da produção brasileira.

Conforme Filippsen e Pellini (1999, p.7) naspequenas propriedades rurais a atividade leiteiradesempenha um importante papel econômico,possibilitando a utilização de mão-de-obrafamiliar excedente e a entrada mensal de receita.Permite, ainda, que o produtor rural tenha umareserva de valor de elevada liquidez(rebanho).Essas características amenizam as dificuldadesfinanceiras de pequenos produtores ou, atémesmo, viabilizam a sua permanência no meiorural. Além disso, a produção de leite contribuina melhoria das condições de vida da própriafamília servindo como fonte alimentar.

No município de Londrina, por exemplo, àmedida que a população aumentava, fazia-senecessário a intensificação da produção leiteira.

Porém este aumento precisava vir acompanhadoda formalidade da produção, ou seja, o leiteprecisava passar por inspeção sanitária para sercomercializado, o que não era feito. Oabastecimento era realizado de forma‘tradicional’, onde eram empregadosintensivamente os fatores de produção, a terrae a mão-de-obra familiar, sendo o capital e osinvestimentos para o aumento da produçãopouco significativos.

Conforme Stier e Fernandes (199-) com amelhoria dos eixos viários, ocorreu aintensificação da produção leiteira na região,favorecendo também a comercialização dosprodutos agropecuários. É neste espaço e tempoque passam a surgir as primeiras indústrias delaticínios,

...deixando que o leite fosse produzido nosarrabaldes dos centros fornecedores e entreguediretamente do produtor ao consumidor;utilizando como meio de transporte carroçaspuxadas por animais e às vezes meninos que deporta em porta entregavam o leite, em condiçõesprecárias de higiene (STIER e FERNANDES,[199-], p. 51).

Ainda segundo Stier e Fernandes, asprimeiras usinas destinadas à pasteurização doleite no Paraná, surgiram a partir de 1960, sendoque a CATIVA (1964), foi a primeira no setor.Ela surgiu adotando padrões tecnológicosmodernos, abordando soluções e equacionandoproblemas referentes à indústria do leite.Praticamente, todas as indústrias que surgiram,de certo modo, tiveram o apoio do governoestadual. Assim, a médio prazo, repercutiramna economia do Estado, tendo viabilizado aexpansão do setor.

Cronologicamente, conforme dadosorganizados por Stier & Fernandes, as primeirasusinas lácteas a se instalarem no Estado doParaná foram:– Cooperativa Agropecuária de Londrina, 1964;– Cooperativa Laticínios Central do Paraná

Ltda – 1966;– Cooperativa Laticínios de Mandaguaçú Ltda, 1967;

Page 28: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

152 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

– Laticínios Londrina Ltda, 1967;– Cooperativa agropecuária de Witmarsum

Ltda, 1967;– Cooperativa de Laticínios Curitiba Ltda, 1967;– Cooperativa de Laticínios Coroados Ltda, 1968;– Cooperativa de Laticínios Maringá, 1970;– Companhia Leco de Produção Alimentícia

Ltda, 1971;– Laticínios Norte do Paraná Ltda, 1972;– Usina de Pasteurização e Padronização do

Leite Apucarana Ltda, 1973;– Usina e Comércio de Laticínio Cascavel Ltda,

1973.

Nota-se que entre estas usinas mencionadas,sete já iniciaram sob a forma de cooperativa,apoiada em seus estatutos. Hoje, na cidade deLondrina, temos a CATIVA e a CONFEPAR.

O leite crú é dirigido às indústrias deprocessamento, que neste caso são representadaspela CATIVA (Cooperativa Agropecuária deLondrina), que trabalha a nível regional,captando a produção de mais de 35 municípiosdo estado, tendo em seu quadroaproximadamente 560 cooperados. A outraindústria processadora é a CONFEPAR(Confederação das Cooperativas CentraisAgropecuárias do Paraná Ltda), sendo esta umadas maiores do estado, recebendo leite deprodutores de São Paulo, Goiás, Minas Geraise do próprio Paraná. Cabe ressaltar também quea CONFEPAR é a única indústria que produzleite em pó no estado, comercializando suaprodução com grandes empresas de âmbitonacional, como a LACTA. A CONFEPAR éuma unidade industrial formada pela fusão devárias cooperativas do Norte do Paraná,inclusive a CATIVA, que detém 33% damesma. Esta fusão deve-se à tentativa de sereduzir custos de produção e dos impostos, umavez que a mesma instalação e o mesmo quadrode funcionários serão utilizados pelo grupo.

Segundo estudos do DESEP/SNF (1999,p.16-17),

A desregulamentação, a abertura comercial e aformação do Mercosul desencadearam umprocesso de mudança acompanhado daintensificação da concorrência. As estratégiasadotadas pelas empresas têm alterado ascaracterísticas das relações entre produtores eindústrias, exigindo novas formas de negociaçãoentre si. Essas estratégias têm como característicasprincipais o grande número de fusões e aquisições,a presença crescente das multinacionais, asegmentação, a diferenciação e inovação deprodutos, fortes investimentos em marcas,promoções de vendas e lançamentos deprodutos.(...) /as empresas de laticínios ocupamuma posição de destaque entre as que maisrealizaram fusões, aquisições e parcerias no Brasilentre 1990 e 1998. Entre elas destaca-se aParmalat, que de 90 a 98 comprou 18 empresasno mercado brasileiro.

De acordo com Koehler (1999, p.43), atravésde dados da produção de leite dos principaisestados do país, em 1998, o Paraná ocupava aquinta colocação, com uma produção anual de1850 milhões de litros e o Norte do estado ocupavao segundo lugar com 40% de participação.

Dentro do estado, a Microrregião Geográficade Londrina também apresenta certaexpressividade.(tab.2) Acompanhando aevolução da produção leiteira destamicrorregião, notam-se que no ano de 1970,sua produção era de 16.720.000 de litros deleite, com 17137 vacas ordenhadas. Entre osanos de 75 e 80, principalmente devido à geadanegra que atingiu todo o estado do Paraná,ocorreu o abandono da cafeicultura comoatividade econômica predominante. Nadiversificação econômica que ocorreu nesteperíodo, a pecuária leiteira entrou com grandeforça, saltando sua produção para 27.597.000litros, sendo ordenhadas 21673 vacas. Por outrolado, há que se considerar a melhoria genéticae o consequente aumento da produtividade.

Page 29: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

153Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

De acordo com dados da produção de leitede vaca por grupo de área total, do CensoAgropecuário de 95/96, o extrato de maiorprodução estava nos estabelecimentos queapresentam área de 20 a 50 ha, representando24,02% da produção desta microrregião. Apartir deste mesmo censo, constatamos tambémque a microrregião de Londrina está em 5º lugarcom relação ao número de vacas ordenhadasdo Norte do estado, ocupando a 4º posição noque diz respeito a quantidade de leite produzido,representando 8,3% deste total.

2. O PRODUTOR FAMILIAR E APRODUÇÃO LEITEIRA

2.1. O PRODUTOR FAMILIAR DE LEITE

Com base nos dados do Censo Agropecuáriodo IBGE 1995/96, tanto no contexto estadualquanto no contexto microrregional e/ou localo maior índice de informantes estava emestabelecimentos de 10 a 100 hectares,salientando-se o estrato de 20 a 50 hectares, cujaa relação leite produzido e leite comercializadoestava em torno de 80%.

Os dados coletados demonstraram que cercade 57% dos produtores iniciaram esta atividadena década de 1980, como uma das alternativasde renda e diversificação da produção, paraficarem menos susceptíveis às crises econômicase climáticas. A geada de 1975 foi uma das causasdessa mudança.

Segundo Filippsen e Pellini (1999, p.16)

embora exista um grande número de produtoresde leite a maioria não está integrada a uma cadeia(produtores não comerciais), como observado peladiferença entre os números de informantes daatividade leite e informantes de venda de leite.Apesar da atividade leiteira destes produtores nãoter relevância econômica sob óptica da cadeia,apresenta uma importância sob o aspecto social ede qualidade de vida da família.

Os estabelecimentos analisados mostram quea mão-de-obra familiar é predominante. Estáem torno de três pessoas envolvidas na atividade.Somente no período da silagem cerca de 82%desses estabelecimentos recorrem à mão-de-obratemporária. A troca de dias de serviço não écomum nesta atividade. A contratação de mão-de-obra temporária denominada por Santos(1978) de “trabalho acessório” é umacaracterística nas relações de produção familiar.

Segundo Rodrigues (1985, p.18) a força detrabalho assalariada é uma relação quecomplementa a força de trabalho familiar. Estes“braços auxiliares”, são contratados, geralmente,durante o tempo de serviço mais pesado(produção de silagem) ou quando as famíliasnão têm filhos homens em idade para trabalhar.Assim, pode ser notado que a variável “tamanhoda família”, vem a provocar a necessidade decontratação de trabalhadores.

No universo pesquisado detectou-se que apresença de mão-de-obra masculina e feminina

Microrregião de Produção de leiteLondrina/ano Informantes Vacas ordenhadas Quantidade.

(mil litros)1970 2.205 17.137 16.7201975 1.952 16.488 14.6541980 2.136 21.673 27.5971985 ------- 20.393 27.120

1995/96 1.954 13.465 23.716

------- dado não disponível no Censo Agropecuário. Fonte:IBGE - Censo Agropecuário do Paraná

Tabela 2 – Evolução da Produção de Leite na Microrregião de Londrina.

Page 30: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

154 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

na atividade é semelhante, 53% e 47%respectivamente, ou seja, uma diferença deapenas 6%. Quanto à divisão do trabalho cabeaos homens executar serviços mais pesados,como, por exemplo, trabalhar com o trator,moer a ração para os animais. Já as mulheres ficamencarregadas da limpeza do estábulo e até daprópria ordenha, juntamente com os homens.

Pode ser observado também que o maiornúmero destes produtores têm entre 41 e 60anos de idade, onde, a maioria destes (53%),possuem apenas o Ensino Fundamental (antigoPrimário, por vezes, incompleto). A maior partedos que tem o Ensino Médio completo estãona faixa etária entre 21 e 40 anos. Do total detrabalhadores entrevistados, apenas 11%possuem o Ensino Superior.

Diante deste quadro, vale a pena ressaltar que,aqueles que apresentam maior produtividade eestão mais abertos às inovações tecnológicas, sãoos da faixa etária de 21 a 40 anos e possuem,pelo menos, o Ensino Médio completo.

Esses pequenos produtores de leiteanalisados, apresentaram um número médio decabeças de vaca por produtor em torno de 12animais. É uma quantia considerada razoável,já que, dentre 12 vacas, sempre haverá 8 ou 9em lactação. Com relação à produção diária,temos produtores com 30 litros/leite/dia, atéprodutores que produzem 1000 litros/leite/dia,como é o caso do produtor de leite tipo “B”, jámencionado anteriormente, sendo consideradomodelo pela CATIVA. São duas realidadestotalmente distintas, onde um trabalha comformas arcaicas de produção, enquanto que ooutro, agrega em sua propriedade padrõestecnológicos e produtivos de primeiro mundo.

Já os estabelecimentos com mão-de-obraassalariada são aqueles mais tecnificados eapresentam maior produtividade. São osprodutores que utilizam a raça holandesa maisapurada, e já possuem em sua propriedade aordenhadeira mecânica, o resfriadouro e outrositens indispensáveis à produção voltada aomercado globalizado em que nos encontramos.

Entretanto, cerca de 64% dos produtores

entrevistados dão preferência ao girolanda, poissão animais menos sensíveis às doenças e nãoexigem uma alimentação tão rica em proteínascomo as holandesas.

A pecuária é a atividade principal em 82%das propriedades, sendo que em 21% destas, aprodução é menor que 100 litros/leite/dia.Dentre as propriedades onde a pecuária não é aatividade principal, predominam as culturasde soja e café. Neste caso, as palavras deSchneider (1999, p.94) são pertinentes poisafirma que,

A atividade leiteira pode ser compreendida comouma estratégia de reprodução da família.... E, nãoobstante a falta de reconhecimento no interior daunidade produtiva, dada sua condição de marginalem relação às outras atividades agrícolas ecomplementar em termos de geração de rendas, éa ela que a família recorre como fonte de recursospermanentes para a aquisição de bens nãoproduzidos na propriedade. Talvez seja o própriopapel regulador que o leite desempenha no interiorda propriedade que explica o pouco prestígio e afalta de investimentos que esta atividade recebedos colonos.

Perguntados sobre o auge nesta atividade,cerca de 14,5% responderam que foi na décadade 1980, quando conseguiram melhorartecnologicamente sua atividade. Mas, 55%,responderam estar vivendo o auge na atividadepois, agregaram valor ao seu produto,comercializando sua produção na rua. Este fatofez com que os produtores pudessem apurarmais a genética dos animais, aumentando,assim, a produtividade.

2.2. NÍVEL TECNOLÓGICO DOS PRODUTORES

Quanto ao nível tecnológico dos produtores,nota-se que pelo fato de todos seremproprietários não só da terra, mas também dosoutros meios de produção onde a atividadeleiteira não é a única atividade desenvolvida,na maioria das propriedades entrevistadas,todas, sem exceção, possuem pelo menos um

Page 31: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

155Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

trator. Além disso, contam também com osimplementos utilizados como a grade, o aradoe a semeadeira. Porém, grande parte destestratores estão com mais de 20 anos de uso. Cercade 64% dos produtores possuem a forrageira,um dos equipamentos indispensáveis para aprodução de silagem.

Todos os produtores que alimentam o gadocom silagem utilizam sementes, adubos eherbicidas. Pode ser notado que grande partedestas terras estão exauridas, com a fertilidadebaixa, necessitando de corretivo de acidez.

Os produtos veterinários (remédios), osvermífugos, o sal mineral e as vacinas(principalmente contra aftosa), são utilizadospor 100% destes produtores. Já a raçãobalanceada e outros complementos alimentares,são adquiridos e utilizados por apenas 64%destes. Ficou evidenciado que são os produtoresmais tecnificados, que apresentam maiorprodutividade por animal, que irão utilizar esterecurso para aumentar sua produção.

Um fato interessante e ao mesmo tempoalarmante, é que 55% dos produtoresentrevistados não recebem nenhuma assistênciatécnica. A assistência técnica é de fundamentalimportância porque foi ela que

veio colocar, pela primeira vez, de forma aguda, anecessidade de redução dos custos e/ou aumentoda produtividade em nossa agricultura. Taisobjetivos só poderiam ser alcançados pelamodernização do processo produtivo(SZMRECSÁNYI, 1998, p. 50).

Cerca de 50 % dos produtores utilizam emsuas atividades o resfriador de leite, a ordenhamecânica e a inseminação artificial, além damecanização da lavoura para a produção desilos. A década de 80 pode ser mesmoconsiderada um período em que ocorreu grandeinovação tecnológica na atividade, pois, 50%dos entrevistados instalaram o processo deresfriamento do leite nesta fase.

Estes produtores só não se tecnificam maisdevido aos altos juros, que são cobrados nosfinanciamentos em geral. Cerca de 64% dos

produtores não utilizaram linhas de crédito atéhoje pelo simples fato de, ao efetuarem oempréstimo, ter de deixar sua propriedadehipotecada. A taxa de juro praticada é alta,sempre tendo um referencial para a correçãomonetária do período. O fato injusto é que opreço do leite pago ao produtor não acompanhaesta correção, ou melhor, este preço ficacongelado por longos períodos, nãoacompanhando nem sequer a inflação. Este fatotorna a renda da propriedade muito baixa, oque pode ser comprovado segundo odepoimento de um agricultor:“Eu vô entrá imbanco prá quê ? depois eu sei qui num vô conseguípagá mesmo.”

Pode ser verificado que foi entre as décadasde 1980 e 1990 que os produtores maisutilizaram financiamentos agrícolas. Dentre osquais, o PRONAF e o FINAME, que são linhasde crédito do governo federal. Porém, osprodutores consideram as taxas de juros muitoaltas, onde, de acordo com um produtor queutilizou-se do FINAME para a compra de umamáquina agrícola, afirmou: “Eu comprei umtrator e acabei pagando três.”

Outro programa muito utilizado, não sópelos produtores de leite, mas também pelosagricultores em geral, foi o PANELA CHEIA.Este sistema de crédito foi idealizado pelogoverno do estado no final da década de 1980 .A partir deste, o agricultor comprava a máquinaou instrumento agrícola e pagava o valorcorrespondente em produção, no caso, em sacasde milho ou litros de leite. Há que se salientarque foi o programa de crédito onde osprodutores tinham maiores condições de quitarseus débitos e, portanto, um dos que melhorrepresentavam os anseios e as necessidades daagricultura e da pecuária estadual.

Assim, o investimento em tecnologia foiimportante, no que diz respeito à qualidade doproduto e rendimento das máquinas, pois, coma globalização presente e atuante em todo omundo, o produtor que não conseguir conciliarprodutividade e qualidade com baixo custo, estáse afastando da cadeia produtiva.

Page 32: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

156 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

3. RELAÇÃO PRODUTOR DE LEITE –INDÚSTRIA/COOPERATIVA

Os produtores de leite não têm muitasopções de venda contando com as cooperativase/ou indústrias privadas de laticínios. Narealidade estudada, os produtores contam comduas cooperativas: Cativa e a CONFEPAR. Ossistemas cooperativos têm na sua formacontratual ou regimental, a garantia derecebimento da produção de todos oscooperados. Por outro lado, há um sistemaformalizado de cotas, onde o produtor secompromete a entregar uma quantia diáriaespecífica. O leite entregue a mais ou a menosobtém um preço inferior ao básico. Essa é umaforma adotada pelas cooperativas pois valelembrar as palavras de Santos (1978) quandoafirma que os produtores de uva do Rio Grandedo Sul preferem entregar a sua produção àscooperativas, principalmente, na safra, pois estasoferecem o preço estipulado em lei e a garantiade compra de toda a produção do associado.

De acordo com a CATIVA, o leite crúproduzido pelos 560 associados, está em tornode 110.000 litros/leite/dia, e está sendobeneficiado na CONFEPAR. Cerca de 50% dosprodutores da CATIVA são pequenos,apresentando uma produção de até 100 litros/leite/dia; 40% são médios produtores,produzindo de 101 até 500 litros/leite/dia; e orestante, 10%, são grandes produtores, comuma produção acima de 500 litros /leite/dia.

3.1.CLASSIFICAÇÃO DO LEITE

O processo de classificação consta doPrograma de Pagamento por Qualidade doLeite- PPQL da cooperativa. Os procedimentosdesta classificação se resume em três ítens:1. Teste de acidez – ocorre no próprio estabelecimento

do produtor. Caso seja comprovado, o produtonão é aceito pela cooperativa;

2. Quantidade de água – para tal verificaçãohá um aparelho que acusa índices acima eabaixo do padrão aceitável. O padrão é –

530. Aquele que apresentar índices acimasignifica que o leite é muito bom e abaixoindica que contém água. Um produtor queentregou 200 litros de leite e o teste acusou5% de água (10 litros) receberá o valorequivalente a 190 litros. Assim, o preço nãose altera e sim, o valor a ser recebido pelaqualidade do leite considerado.

3. Exame laboratorial de qualidade do leite – apartir da aprovação em todos os examesrealizados o produtor obterá um adicionalpela qualidade do leite. Para a cooperativa amédia de pontuação deste exame é 60pontos. O que estiver acima desse índicepoderá receber o adicional de até R$ 0,03/litro e o restante receberá o preço mínimoestabelecido de R$ 0,25/litro, preçopraticado em outubro de 2001. É nesteexame que poderá ser acusado problemasrelativos à forma de retirar o leite pois, partedos pequenos produtores ordenhammanualmente, o que faz cair a qualidade doleite e consequentemente, o preço.

Segundo alguns produtores, esta classificação:“É péssima, manipulada. É onde eles tiram até osangue do produtor, dando o preço que quiser.”Com este depoimento vale lembrar as palavrasde Santos (1978, p.98):

As relações de troca entre o campesinato e aindústria, para além daquelas reguladas pelospreços mínimos, caracterizam-se por regrasestabelecidas unilateralmente pela indústria no seuexclusivo proveito.

Além de alguns produtores reclamarem daclassificação e da falta de incentivo, sabendo dadesvantagem ao entregar seu produto para aindústria, ainda assim, mantém esta relaçãoalienada, pois muitos não querem abandonaresta atividade, mesmo dando prejuízo, sob aalegação de que a propriedade, juntamente coma atividade, tem sido transmitida de pai parafilho. Outros, dizem que é a única atividadeque sabem desenvolver, não podendo, assim,entrar em um outro ramo, onde o risco poderiaser bem maior.

Page 33: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

157Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

Além desta classificação o produtor podereceber uma premiação pela sua produtividade

com qualidade, sendo esta chamada debonificação da produção, conforme a Tabela 3:

Tabela 3 – Bonificação da produção dos cooperados da Cativa.

Produção por litros de leite / dia Bonificação

Até 50 litros/leite/dia Preço básico*

De 51 a 100 litros/leite/dia 1%De 101 a 200 litros/leite/dia 4%De 201 a 300 litros/leite/dia 5%De 301 a 400 litros/leite/dia 7%De 401 a 500 litros/leite/dia 9%De 501 a 600 litros/leite/dia 11%De 601 a 750 litros/leite/dia 13%Acima de 750 litros/leite/dia 18%*Os percentuais são acrescidos sobre o preço básico do mês.Fonte: Cativa, agosto, 2000

A partir da análise desta tabela, podemos verque, quanto maior for o produtor, tanto maiorserá sua premiação. Este fato chega a ser até umadiscriminação frente aos pequenos produtores,porque a diferença é enorme entre a bonificaçãodo pequeno e do grande produtor.

3.2. CUSTO DE PRODUÇÃO E OS PREÇOS PAGOS

AOS PRODUTORES

Para melhor compreensão da relaçãoprodutor-indústria, solicitamos aos produtoreso custo mensal de produção, o preço pago pelacooperativa e o preço praticado quandocomercializado na rua, informalmente, no períodode 12 meses (agosto de 2000 a julho de 2001).

Pelos gráficos abaixo observa-se que o customensal oscila de R$ 0,14 a R$ 1,60 por litro de

leite e a média anual ficou entre R$ 0,33 a R$0,59/litro. O produtor nº 01 trabalha com umsistema simples onde o gado é tratado apenasno pasto e sem maiores cuidados no trato dosanimais, o que significa o baixo custo deprodução. Porém, esta terra utilizada com ocultivo do capim poderia ser utilizada por outrasculturas agregando assim, maior renda àpropriedade. Os produtores 02, 03 e 04apresentaram maior custo de produção devido autilização de técnicas mais adequadas como porexemplo a produção de silagem, animaisaprimorados geneticamente, inseminação artificialentre outras. O custo aumenta mas é compensadopela produtividade por animal. Estes produtoresutilizam suas terras para a diversificação deatividades, pois o leite é apenas uma atividadecomplementar de renda. (Figuras 1, 2, 3, 4).

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Meses - agosto de 2000 a setembro de 2001 Fonte: Cativa/dados fornecidos pelo produtor

Val

or/li

tro Preço pago pela Cativa

Custo de produção

Valor recebido na rua

Figura 1 – Comparativo de preços (produtor 1).

Page 34: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

158 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

Diante deste quadro, verifica-se nos gráficosque cada qual apresentou uma determinadacontabilidade, mas diante dos custos deprodução, o preço pago pela cooperativa, cercade R$ 0,25 a R$ 033, sempre ficou aquém dadespesa. Observe-se que o produtor nº 04,apresentou o menor custo de produção, noperíodo de setembro de 2000 a janeiro de 2001,de R$ 0,40, entretanto em nenhum momento

a cooperativa remunerou acima de R$ 0,34,significando prejuízo.

Nestas circunstâncias, o produtor foimotivado a deixar de entregar à cooperativa ecomercializar a sua produção no setor informal,ou seja, na rua, de porta em porta, problemaeste que tem alertado as autoridades sanitárias,no intuito de coibir esse tipo de comercialização.Entretanto, hoje, somente em Londrina, há

00.10.20.30.40.50.60.70.80.9

Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Meses - agosto de 2000 a setembro de 2001Fonte: Cativa/dados fornecidos pelo produtor

Val

or/li

tro Preço pago pela Cativa

Custo de produção

Valor recebido na rua

Figura 2 – Comparativo de preços (produtor 2).

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Meses - agosto de 2000 a setembro de 2001Fonte: Cativa/dados fornecidos pelo produtor

Val

or/li

tro Preço pago pela Cativa

Custo de produção

Valor recebido na rua

Figura 3 – Comparativo de preços (produtor 3).

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set

Meses - agosto de 2000 a setembro de 2001 Fonte: Cativa/dados fornecidos pelo produtor

Val

or/li

tro Preço pago pela cativa

Custo de produção

Valor recebido na rua

Figura 4 – Comparativo de preços (produtor 4).

Page 35: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

159Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

cerca de 14.000 litros de leite sendocomercializados desta forma.

Para esses produtores é vantagem, uma vezque o preço do leite vendido diretamente aoconsumidor é sempre o mesmo, cerca de R$0,75 a R$ 0,80. Caso comercialize com acooperativa, além dos preços aviltantes, aindasofreria a oscilação dos períodos de safra eentressafra. Na verdade, o que oscila para esteprodutor é o custo da produção e não o valorfinal do produto que se equipara ao praticadonos supermercados.

Através da análise percebe-se que a maiorexploração que envolve a relação produtor-indústria é a questão do preço pago ao produtor,onde o sobretrabalho da família é apropriadoatravés da classificação e na determinação dopreço básico.

A partir do momento em que o produtorcomercializa sua produção na cooperativa, eleentra em um círculo vicioso. Para produzir maise ter um volume de produção para ao menosatingir a cota mínima (já citada anteriormente),terá que dar melhor trato ao gado, aumentandoseus custos de produção (ração, produção dealimentos e equipamentos). De acordo com umprodutor: “O leite é tudo o que a vaca come.”

Assim, produz-se cada vez mais para cobrirseus custos de produção, que sempre estãoaumentando. Este fato faz o produtor se inserirnum processo chamado “crise agráriapermanente”, onde:

(...) os preços agrícolas seguem uma tendênciadecrescente quando comparados aos preçosindustriais: não são reajustados com a mesmaamplitude. Os preços dos produtos agropecuáriossão preços políticos, destinados a garantir oprocesso de acumulação industrial, através depressão sobre o salário do operariado urbano. São,pois, pouco compensadores e não eqüivalem aoscustos de produção, em alta crescente(FREDERICQ,1980, p. 18).

A “cartelização” dos preços pagos pelasindústrias, impossibilita os produtores abarganhar preços diferenciados entre asindústrias. Há sim, um nivelamento dos preços

por baixo, fato este que protege os custos dasindústrias de leite e vêm a garantir arentabilidade do capital nela investido.

Em relação à política do preço do leite,alguns produtores entrevistados colocaram maisclaramente o seu ponto de vista: “O piorproblema é a falta de apoio do governo.” ; “ Ele (ogoverno ) dá com uma mão ( financiamentos ) etira com as duas ( juros altos ).”

Estes depoimentos comprovam o descréditodos produtores face às manobras de órgãosgovernamentais, na tentativa de dar incentivoà produção, através dos financiamentos.

Muitos destes produtores, já cansados dasubordinação exercida pelo capital industrialrepresentado pelas cooperativas de leite daregião, resolveram abandonar o quadro decooperados e, estão comercializando seu leitena rua, informalmente.

Para incentivar o cooperado a CATIVAlançou uma linha de financiamento para ocusteio de máquinas, equipamentos e animais,em ‘benefício’ de seus cooperados. Estefinanciamento chama-se Pró-leite, e cobra jurosde aproximadamente 8,75% ao ano. Parecepouco, mas, como um produtor que produz 50/litros/leite/dia irá conseguir pagar, por exemplo,um resfriador (agora equipamento obrigatóriopara se entregar leite na CATIVA), que tem seucusto entre R$ 5 a 15 mil ?

4. TENDÊNCIAS DA PECUÁRIA LEITEIRA

4.1 LEITE É A SOLUÇÃO PARA PEQUENOS PRODUTORES

Entre as muitas alternativas apontadas paraviabilizar a atividade rural, a produção de leitepode ser a solução mais rápida para o pequenoprodutor continuar a ser um “homem docampo”. O leite tem uma importância econômica-social muito grande, pois desta atividadesobrevivem centenas de pessoas em nossomunicípio e mais de um milhão em nosso país.

Os principais problemas apresentados pelosprodutores são: preço (reclamação unânime),

Page 36: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

160 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

cota e extra-cota, falta de capital parainvestimento e a falta de tecnologia. Sem capitalpara investirem na atividade, grande parte destesprodutores não incorporam tecnologia,auferindo um produto de menor qualidade e,devido a isto, tornam-se inoperantes frente àsexigências do capital industrial. Nãoconseguindo se manter subordinados àscooperativas de leite, muitos destes produtoresvêm encontrando uma saída para agregar umarenda maior ao seu produto ou seja, a produçãoinformal de leite e seus derivados.

4.2 AUMENTO DO CONSUMO DE LEITE

NATURAL (SEM PASTEURIZAÇÃO)

O comércio de leite informal, na rua, de casaem casa, ocorre em todas as cidades do Brasil.Em cada município, desde sua formação, haverásempre este tipo de comércio informal, variandoapenas de acordo com a vocação ou não daregião para a pecuária de leite e face à fiscalizaçãovigente. O leite informal no país teve umaumento de 52%, de 1990 a 1998.

Segundo Fantin (1994, p. 10), desde que aLei Federal nº 7889, de outubro de 1989,determinou a descentralização da inspeção sobreprodutos de origem animal, tem aumentado noBrasil o consumo de leite de “qualidade duvidosa”.

A comercialização deste leite é muitocriticada pelos grandes produtores, pelascooperativas e pelos representantes do serviçode inspeção. A qualidade do leite para consumofoi enfocada na 5ª Exposição de Raças Leiteiras– Expoleite, de 25 a 27/09/94. Lá, foramdiscutidos a falta de fiscalização e a necessidadede se equiparar os serviços de inspeção nos níveisfederal, estadual e municipal para coibir a vendade leite não pasteurizado nas esquinas dascidades, e “evitar a proliferação de miniusinascom inspeção deficiente.”

Entretanto, segundo Filippsen ePellini(1999, p.32) além da competição dasgrandes empresas entre si está ocorrendo um

aumento do número de miniusinas instaladaspor um produtor ou associações de produtoresque vendem diretamente ao consumidor paraobter margens de comercialização dos agentestradicionais. Segundo Gorenstein (1992) apudFilippsen e Pellini (1999) para viabilizar essasminiusinas requer equipamentos de pasteurizaçãopara processar pequenos volumes que satisfaçamas exigências sanitárias e economicidade.

Na microrregião geográfica de Londrina ospequenos produtores insatisfeitos com os preçospagos pelas cooperativas montaram um projetode instalação de miniusinas, mas sem o apoioda Secretaria da Agricultura do município osobjetivos não se concretizaram.

4.3. PROGRAMA NACIONAL DA QUALIDADE DO LEITE

Esta questão de acabar com a produçãoinformal de leite é bastante discutida no paíscomo um todo. Na esteira da modernização, opequeno produtor vem sofrendo inúmerasimposições, como já foi dito, por parte dogoverno e das próprias indústrias, paraimplantar a evolução tecnológica no seu sistemade produção. Representantes das indústrias,produtores, participantes do setor privado doleite elaboraram um anteprojeto para oPrograma Nacional de Qualidade do Leite.

De acordo com Koehler (1999), esteprograma prevê, a médio prazo, o fim daclassificação dos leites tipo A, B e C no país.A implantação da mudança deverá ser de formagradual, com prazo estabelecido até janeiro de2002 para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Para o Norte e Nordeste o prazo passariaaté a ser contado a partir de fevereiro de 2004.O leite deverá ser retirado mecanicamente, terum controle mensal da saúde do rebanholeiteiro e ser resfriado na propriedade a umatemperatura de 3 a 4 º C, antes de sertransportado a granel para a indústria.

O pequeno produtor que apresenta umaprodução de até 100 litros/leite/dia, nãoconsegue auferir renda nem para a sua

Page 37: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

161Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

reprodução familiar. Como então, ele conseguirámanter-se neste circuito moderno e globalizadoque está se tornando a atividade leiteira em nossopaís? Constatamos que este é um dos principaismotivos que tem levado os produtores aentregarem sua produção informalmente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As situações expostas permitem caracterizaro processo de trabalho do pequeno produtorde leite como uma modalidade de subordinaçãoformal do trabalho ao capital. De acordo comSantos (1978), o capital subordina o processode trabalho reproduzindo uma singularidade:o produtor é proprietário dos meios deprodução (terra, animais e equipamentos),porém, é na transformação de seu produto emmercadoria que ele é subjugado. Pagam-lhepreços que na maioria das vezes mal cobre oscustos de produção. A classificação tambémenvolve um processo contraditório, onde, seuproduto também é subjugado.

Numa sociedade em que o único poder quereúne – o produtor de leite, a indústria delaticínios e o consumidor – é o modo capitalistade produção, dificilmente poderíamosencontrar uma solução à esta relação alienada.Todos os envolvidos acabam por adquirir aindividualidade e o proveito próprio como lema,não se preocupando com seu semelhante. Nomodo capitalista, será o elo mais fraco dacorrente, aqui representado pelo homem docampo, que terá de sujeitar-se às imposiçõescapitalistas. São estes fatos que reproduzem asdesigualdades sociais e os conflitos, criando umcapitalismo cada vez mais selvagem e desumano.

No processo de globalização a queprodutores e consumidores estão inseridos,ocorre, cada vez mais, uma maior seletividadedos participantes do mercado. A concorrênciaé uma força poderosa contra a ineficiência, e éimpiedosa. Com a concorrência acirrada emtodos os setores, é a disposição a pagar do

consumidor e a pressão competitiva queestabelece o marco dos preços. Mas, fica aquiuma indagação: como o pequeno produtor irátecnificar-se para se tornar competitivo, se nãodispõe de capital para isto e não lhe sãofornecidas linhas de crédito com taxas de jurosque possam ser justas, ou melhor, pagáveis?

... o agribussines brasileiro do leite sempre foifracamente regulamentado, quando comparadocom outras economias como EUA e Europa. Istonão garantiu, contudo, que toda a cadeiaagroindustrial do leite no Brasil se modernizassecomo as demais (FARINA, 1995, p. 04).

O processo de modernização da pecuáriabrasileira envolve tanto a adoção de técnicas deprodução e manejo de rebanho, quanto umavisão geral, de gerenciamento na atividade.Conforme Farina (1995), não é somenteadotando técnicas avançadas de produção quenossos produtores se tornarão eficientes, épreciso produzir em quantidade sempreprocurando baixar custos, mas sempre de olhona qualidade. E não é só isso. Saber o que omercado exige, valoriza e paga é fundamentalpara a sobrevivência e permanência na atividade.

Para estes produtores que abandonaram acooperativa e passaram a comercializar seuproduto informalmente, denominou-se nestetrabalho como produtores independentes:independentes porque se desvincularam dasubordinação exercida pelo capital industrial eeliminaram o intermediário na comercializaçãode sua produção. Assim, eles realizam todas asetapas, comercializando sua produção com oconsumidor final. O valor recebido pelo seutrabalho agrega maior valor ao seu produto,pois, de acordo com um produtor:

“Antis eu intregava meu leiti pra cooperativa,num sobrava quase nada. Hoji, intrego na rua,inté melhorei minhas vaca. Tamém, antis eraR$ 0,25, hoji recebu é R$ 0,80.”

Page 38: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

162 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 147-162, jul./dez. 2001

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DESEP;CUT; SNF/CUT. Leite e Derivados:“Reestruturação produtiva, política industrial econtratação coletiva nos anos 90: as propostas dostrabalhadores” in: Caderno de Síntese. São Paulo:Amica, 1999.

FANTIN, E. Aumenta consumo de leite natural.Folha de Londrina, Londrina, 04 jun. 1994. FolhaRural, p.10.

FARINA, Elizabeth M.M.Q. Cadeia produtiva doleite: situação atual e perspectivas do mercado. In:ASSIS, Airdem G. de. Simpósio Internacional – Ofuturo dos sistemas de produção de leite no Brasil,1995, Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora:EMBRAPA-CNPGL, 1995.

FILIPPSEN, Laerte F.; PELLINI, Tiago. Cadeiaprodutiva do leite- prospecção de demandas tecnológicasdo agronegócio paranaense. Londrina: IAPAR , 1999.(IAPAR. Documento 19)

FREDERICQ, Antoinette. O ciclo do leite.Caderno do CEAS, n.66, p.18-38, mar/abr, 1980.

IBGE. Censo Agropecuário 1995/96. Rio de Janeiro,1998. n.20:Paraná.

JANK, Marcos S.;FARINA ElizabethM.Q.;GALAN,Valter B. O agribusiness do leite noBrasil. São Paulo:Milkbizz, 1999.

KOEHLER, João C. Bovinocultura de Leite. In:SEAB-DERAL-DCA. Diagnóstico Pecuária –1999.Curitiba: SEAB, 2000. p.23 – 43.

OLIVEIRA, Ariovaldo U. de. Agricultura eIndústria no Brasil. Boletim Paulista de Geografia,São Paulo, n.58, p.5-64, Set.1981.

RODRIGUES, Aparecida M. P. Renda da terra,trabalho, espaço e capital: os tiradores de leite deCatuçaba-SP. Boletim Paulista de Geografia, n.62,p. 5-46, 2º semestre,1985.

SANTOS, José V. T. dos. Colonos do vinho- estudosobre a subordinação do trabalho camponês ao capital.São Paulo:Hucitec, 1978.

SCHNEIDER, Sérgio. Agricultura familiar eindustrialização: pluriatividade e descentralizaçãoindustrial no Rio Grande do Sul. Porto Alegre:Editora da UFRGS, 1999.

STIER, Kumagae K.; FERNANDES, MargaridaO. A. Estudo sobre a Bacia Leiteira de Londrina-PR.Londrina: Departamento de Geociências-UEL,[199-] (relatório de pesquisa)

SZMRECSÁNYI, Tamás. Pequena historia daagricultura no Brasil. 4ed. São Paulo: Contexto, 1998.

The Modernization of the Dairy Cattle Breeding and theExclusion of the Small Producer

ABSTRACTIn Brazil, the dairy production is gradually increasing thanks to the end of a pricing policy which latest up to 1990.Nevertheless, Brazilian producers are being affected by imported products from Argentina, via Mercosul, with lowprices and long term payments. Today, the dairy companies are in process of merging so as to become competitive in aglobalized market. Even though it is a low profit business, with low prices paid by the industries/cooperatives, it hasalways been a means of survival for the small dairy producer. On the track of modernization, the small dairy produceris undergoing countless impositions by the industries in order to follow technological evolution in their productionsystem. This is one of the problems that have caused the gradual abandonment of such producers due to the lack offinancial support to comply with those requirements. These dairy industries and/or cooperatives lace the producersunder the monopoly of circulation, paying them what is most convenient and at the same time subjugating the consumersthrough their monopolist prices. Even though the cooperative does not expropriate the producers directly, it subjugatesthe end-product of their work, provoking a clear transfer o observed the exclusion and/or the exploitation of such a ruralpopulation, mainly of those who produce up to 50 liters/milk/day. One of the alternatives for these excluded producershas been the informal trade which makes them independent of the subordination from the industrial capital.

KEY-WORDS: dairy cattle breeding, small producer, industrial capital.

Page 39: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

163Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

O retorno é naturalmente o desejo e o sonho detodos os imigrantes, é como recuperar a visão, aluz que falta ao cego, mas, como cego, eles sabemque esta é uma operação impossível. Só lhes resta,então, refugiarem-se numa intranqüila nostalgiaou saudade da terra. (SAYAD, 2000, p. 11)

INTRODUÇÃO

O fenômeno migratório, nos últimostempos, tem tomado dimensões tais que temsido objeto de pesquisa por parte de estudiososde população e áreas afins, assim como tem sidodestaque na mídia e nas discussões sobre ocotidiano, empreendidas pelo público em geral.

Os dados censitários têm demonstrado que,a partir da década de 1970, o Brasil temapresentado uma diminuição significativa da

Programa Vilas Rurais:Retorno do Trabalhador Rural ao Campo ?

Alice Yatiyo Asari*

Karina Furini da Ponte* *

RESUMOO trabalho em foco é um estudo do processo migratório e da ação governamental para a contenção das migraçõesinternas do Norte do Paraná. O objetivo deste trabalho foi de investigar a trajetória de vida das famílias moradoras daVila Rural Taquara do Reino e as causas de seus deslocamentos, sendo importante ressaltar que o público alvo doPrograma Vilas Rurais são os trabalhadores rurais volantes (bóias-frias). Para a contenção das migrações desta populaçãoo governo do Estado implantou o Programa Vilas Rurais, que tem como objetivo propiciar ao trabalhador rural volanteum lote de 5000m2 com uma casa e infra-estrutura para poder assim retornar ao campo. Para a execução do trabalhoforam realizadas leituras e discussões acerca da temática estudada, além de trabalhos de gabinete e de campo. Comoresultados, verificamos que a maior parte dos moradores está satisfeita por conseguir um lote com uma casa, mas poroutro lado são obrigados a procurar ocupações fora do lote, pois, este não oferece meios para a sobrevivência necessária,além do que faltam incentivos governamentais para produzirem dentro dele.

PALAVRAS-CHAVE: vila rural, migração, modernização da agricultura, bóia-fria.

* Professora da Universidade Estadual de Londrina. Departamento de Geociências. E-mail: [email protected]** Aluna-bolsista do CNPq-PIBIC, Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências

população rural, a qual decorreu dastransformações sofridas pelo campo, nocontexto da denominada “modernizaçãoconservadora”. Assim sendo, o governo doEstado do Paraná, estimava em 400 miltrabalhadores rurais, sendo 275 mil bóias-frias,no ano de 1995, que se dirigiram para oscentros urbanos e regiões de fronteiras agrícolas.

Portanto, no presente estudo em queanalisamos o “retorno” do trabalhador rural aocampo, utilizamos dois enfoques: o primeirotrata do processo de modernização daagricultura paranaense que resultou nodeslocamento espacial de milhares de pessoasem condições de grande pauperismo, e, osegundo, o estudo de caso de uma Vila Rural –Taquara do Reino, localizada em Ibiporã – Pr.O Programa Vilas Rurais é uma iniciativa do

Page 40: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

164 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

Estado paranaense, que visa o “retorno” dotrabalhador ao campo. Somos cientes de que oretorno, como afirma Sayad (2000, p.11) nãosignifica que encontrarão a área rural nasmesmas condições deixadas há três décadas, pois“o passado, que é o ‘ter-estado’ não pode jamaistornar-se novamente presente e voltar a estar-no-presente, pois a irreversibilidade do temponão o permite”, mas sim que propicia aosexcluídos da terra a oportunidade e as condiçõespara ter acesso a uma casa e a um pequeno lote.

Assim sendo, trataremos do processo demodernização da agricultura paranaense quevisava, primordialmente, o aumento daprodutividade, mediante a capitalização docampo e no item seguinte, por paradoxal queaparente, o “retorno” a um tipo de exploraçãoagrícola que tem por característica o trabalhofamiliar, significando também o “retorno” dosque foram “expulsos” pela modernização, o casodas Vilas Rurais.

MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA ETRANSFORMAÇÕES NO CAMPOPARANAENSE

O processo de modernização da agriculturaparanaense estava latente desde os anos 60devido a erradicação do café na região Nortedo Paraná, mas, se configurou a partir da décadade 1970.

A introdução tecnológica no cenário agrícolaveio imposta pelo complexo agroindustrial,dominado por interesses internacionais comoafirma Fleischfresser (1988, p.15):

O tipo de tecnologia introduzida na agriculturabrasileira e paranaense surgiu a partir daconstituição desse complexo ao redor do setoragrícola, quando as indústrias passaram a impor atecnologia utilizada e a exigir produtospadronizados e em larga escala.

Observemos que a modernização agrícolasurgiu como um elemento relevante para seconseguir da agricultura produtos para abastecer

a indústria e através da tecnologia melhorá-lose padronizá-los para poder competir com omercado externo, e por outro lado o campotecnificado requeria insumos, adubos eequipamentos obtidos das indústrias.

Segundo o estudo do Ipardes (1982), nointerior deste setor industrial, o líder era oagroalimentar, representado pelo complexooleaginoso da soja e que foi o produto queintroduziu as inovações, conhecido como oveículo da modernização agrícola.

Fleischfresser (1988) ressalta que não foi porcausa da soja que modernizaram o Paraná, masfoi devido a ela que muitos proprietáriosaderiram à tecnificação, pois eles recebiamfacilidades creditícias, tinham rentabilidade docapital investido, além de ser um produto comgrande mercado consumidor externo e interno.

Assim, a soja foi um produto que cresceumuito nas décadas de 1970 e 1980, tornando-se a principal cultura praticada pela maior partedos produtores agrícolas.

Com o surto da modernização todo o Estadosofreu alterações, mas foi a região Norte doParaná que mais apresentou modificações.

Para Fleischfresser (1988), a cafeiculturatrouxe para a região um razoáveldesenvolvimento das forças produtivas, poiscontava com um significativo número deprodutores capitalistas, tinha infra-estruturaprodutiva, meios de transporte, armazenagem,políticas de exportação e movimentoscooperativistas, com isso facilitando a introduçãode tecnologias e permitindo a entrada damodernização agrícola. Portanto, foi uma regiãoparanaense que viu sua estrutura agrária modificarrapidamente a fim de atender ao mercadocapitalista de produção e também sofreu a perdade grande parte da sua população rural.

A introdução tecnológica no cenário agrícolatrouxe várias conseqüências que, pouco a pouco,foram modificando as relações da agricultura,alterações estas de caráter econômico, social, político.

No conjunto das relações produtivas,segundo Fleischfresser (1988), houve umamercantilização da produção, na qual todos os

Page 41: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

165Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

produtos originados e destinados ao campoeram controlados pelo mercado capitalistaurbano. Com isto, a agricultura se torna umsetor subordinado às normas e exigências domercado, sendo que os produtos a ela destinadostêm que obedecer a padronização e qualidadetecnológica para serem aceitos, mas para isto énecessário tecnificar a produção para obter osresultados esperados.

Por outro lado, para se alcançar estamodernização do campo, o agricultor tem querecorrer ao mercado industrial para obtençãodos equipamentos, pesticidas, insumos, os quaisgeralmente requerem altos custos.

A partir desta questão, consideramosimportante analisar a interferência estatal noauxílio à produção dos proprietários agrícolascomo, por exemplo, o crédito rural. Como jávimos, as políticas econômicas para o setoragrícola privilegiam as tecnologias e estimulamprodutos comercialmente viáveis para aexportação em detrimento dos alimentares, poisestes últimos geram pouca renda. Com o surtoda modernização dos produtos exportáveishouve o aumento no crédito rural, embora estese destinasse a proprietários que praticavamculturas modernas e tecnificadas como, porexemplo, os grandes proprietários, com a culturada soja e do trigo.

Para a obtenção do crédito era necessário,segundo Fleischfresser (1988, p.50), que osagricultores “tivessem terras próprias e dedeterminada dimensão, ou um contrato formalde arrendamento”, mas havia barreiras contrao pequeno proprietário como

a não existência de agências bancárias emmicrorregião homogênea pouco dinâmica e tambéma burocracia bancária tornada propositalmentecomplicada para justamente evitar atender aosprodutores que pouco retorno lhes traria.

Desta forma, eram poucos os queconseguiam os créditos, e este foi um dosmotivos que, conforme o Ipardes (1982),eliminou grande número de pequenosproprietários e acelerou a concentração

fundiária. Ainda segundo o Ipardes (1982), oEstado do Paraná era o terceiro em número decréditos obtidos no Brasil durante a década de1980, portanto, a quantidade poderia sersuficiente para atender boa parte de pequenos,médios e grandes proprietários, mas na verdadese dirigia apenas a esta última classe.

Houve a substituição de culturas alimentarespor aquelas que possibilitassem cotação maiorno mercado como, por exemplo, a soja e o trigo.Outras alterações causadas pela modernizaçãoocorreram nos tipos de relações de trabalho ede força de trabalho. Segundo Fleischfresser(1988), a partir da década de 1970, ocorrerammodificações nas relações de trabalho no campo,havendo uma redução do trabalho familiar eaumento do assalariamento. Dentro do trabalhoassalariado, a categoria que mais cresceu foi otemporário, pois, há fases na agricultura quenão necessitam de maquinários, utilizando amão-de-obra humana. Esta preferência se dá nosentido de que o trabalho permanente requerencargos sociais, já os temporários nãonecessitam, pois esta última categoria, naverdade, é considerada um emprego com contrato,não recebem benefícios, pois isto só ocorre quandoperfaz um ano de trabalho. Estes dificilmenteultrapassam quatro meses e quando acontece, sãoregistrados como trabalhadores autônomos,portanto, não recebendo seus direitos.

Os trabalhadores temporários são, naverdade, os chamados trabalhadores ruraisvolantes, ou bóias-frias; no entendimento deBastos e Gonzales (1982, p.35)

é o trabalhador agrícola que reside fora dasfazendas, em geral nas periferias das cidades e vilase que se desloca continuamente para executartarefas em regime de empreitada, nas áreas rurais.

Para Gonzales (1982), estes trabalhadoresfazem parte de um contingente de pessoasdesprovidas de meios de produção necessáriosà sua sobrevivência e que necessita vender suaforça de trabalho para ser utilizada pelo capital.

Com a introdução tecnológica e aconcentração fundiária, ocorreu redução no

Page 42: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

166 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

tempo de trabalho, com isso eliminando muitosempregos no meio rural, repercutindo noaumento do trabalho assalariado.

Para Graziano da Silva (1999), dentre as formasde não-emprego, o desemprego tecnológicomostra-se como um dos efeitos perversos damoderna economia, pois, com a mecanização docampo houve uma redução de empregos rurais,ocorrendo assim a liberação de grande contingentedestes trabalhadores do campo.

Outra conseqüência marcada pelamodernização foi a concentração fundiária queexpulsou os pequenos proprietários de suasterras, pois estes não tinham condiçõeseconômicas de competir com a grandeprodução. Portanto, a tecnificação do campotrouxe o êxodo rural, que surgiu a partir dascaracterísticas citadas anteriormente.

Para Camargo (1960, p.278) o êxodo ruralconsiste na

liberação da mão-de-obra empregada nasatividades agropecuárias com a conseqüentetransferência para as ocupações extra-agrícolas. Éo decréscimo da população rural em benefício dapopulação urbana.

Como afirma Santos (1993, p.10), “o campobrasileiro moderno repele os pobres, e ostrabalhadores da agricultura capitalizada vivemcada vez mais nos espaços urbanos”.Observamos então, a expulsão desta camada deorigem rural, que se dirigiu, principalmente,para as cidades, as quais vivenciaram umacelerado processo de urbanização semplanejamento, provocando degradações dascondições de vida e de sobrevivência desta classesocial desprovida de meios de produção.

Santos (1993, p.10) caracteriza estadegeneração das cidades como uma criseurbana, afirmando que “algumas atividadescontinuam a crescer ao passo que a populaçãose empobrece e observa a degradação de suascondições de existência”.

Outro fato que provocou a transferência dostrabalhadores rurais para a cidade foi o crescenteprocesso de industrialização vivido pelo meiourbano a partir dos anos 1940-50, com issoativando o processo de urbanização em todo oterritório. As cidades, com sua recenteindustrialização necessitavam de braços paratrabalhar, atraindo assim, grande contingentede população vinda do campo à busca de melhorremuneração.

Para Camargo (1960, p.109),

a discrepância existente entre os salários pagos naagricultura e os salários pagos na indústriaconstituem, certamente o fator mais direto daatração que a cidade exerce sobre o rurícola.

Acrescenta Santos (1993, p.09 e 29) que,durante os processos de modernização docampo e da atração da industrialização, ou seja,

entre 1940 e 1980, dá-se verdadeira inversãoquanto ao lugar de residência da populaçãobrasileira e a partir daí a urbanização se avoluma ea residência dos trabalhadores agrícolas é cada vezmais urbana.

Para Baltar; Dedeca & Henrique apudJannuzzi (2000, p.08),

tal volume de mobilidade não teria significadomelhoria efetiva nas condições de vida de umamassa considerável de trabalhadores vindos docampo, para os quais o processo de inserção nomodo de vida urbano não foi acompanhado deuma inserção ocupacional adequada, que lhesgarantisse o aporte de renda suficiente frente àcrescente mercantilização do consumo.

Portanto, observamos que os empregosurbanos não trouxeram a melhoria de vida dapopulação rural e é a partir daí que muitosrecorreram a ocupações rurais temporárias (bóias-frias) para poderem garantir sua sobrevivência.

Ao lado do decréscimo da população rural eacréscimo da urbana, podemos verificar outrofenômeno no cenário agrário brasileiro, comoafirma Santos (1993) com base no quadro a seguir.

Page 43: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

167Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

Segundo o autor, a população ruralcorresponde aos que residem e vivemdiretamente do trabalho no campo e apopulação agrícola é aquela que mora fora domeio rural, mas que continua trabalhando nocampo, a exemplo dos bóias-frias. Os dadosapresentados mostram que houve um aumentoda população agrícola nos três decêniosconsiderados, ao passo que o total da populaçãorural sofreu oscilações, em função das mudançasnas relações de trabalho, das transformações nocampo e por conseqüência, a transferência paraos centros urbanos ou áreas de fronteira agrícola.Notemos que, quando esta população sedeslocou para a cidade, não tinha experiênciaem trabalhos urbanos, constituindo-se numapopulação de baixa renda, compondo umquadro de exclusão social, espacial e econômica,pois, não tinha acesso a moradia, aosequipamentos urbanos, como saúde e educação.

PROGRAMA VILAS RURAIS. O CASO DAVILA RURAL TAQUARA DO REINO-IBIPORÃ-PR.

Com base na situação vivenciada porsignificativo contingente populacional, visandomelhorar as condições de vida destestrabalhadores rurais volantes (bóias-frias), ogoverno do Estado do Paraná, juntamente comas prefeituras municipais e outros doze órgãospúblicos implantaram o Programa Vilas Rurais,objetivando fazê-los retornar ao campo, sem quese desvinculassem, totalmente, do urbano. EstePrograma propicia à família do trabalhador ruralvolante um lote de 5000 m2, com uma casa de

alvenaria de 44,56 m2 e com espaço para manteruma plantação, onde possa retirar produtos parasua subsistência e vender o excedente de suaprodução, com isso podendo aumentar sua rendafamiliar. Conta com infra-estrutura mínima deágua, energia elétrica e sistema sanitário.

O Programa Vilas Rurais financia asunidades, em média, por 25 anos, sendo que asfamílias contam com carência de 30 meses,período em que pagam taxas simbólicas. Passadoeste tempo, os “vileiros” passam a pagarprestações no valor de 20% do salário mínimo.

Para a obtenção do lote em uma Vila Ruralé necessário que as famílias atendam a certosrequisitos como: ser trabalhador rural volante(bóia-fria); ter experiência agropecuária; idademáxima de 55 anos; ser morador do municípiohá 2 anos; não possuir imóvel; exercer atividaderemunerada em caráter temporário em áreasrurais; possuir renda familiar de até três saláriosmínimos por mês; estar morando emsubhabitação; ter família constituída, com filhos.

A Vila Rural objeto de nossa análise,denominada Taquara do Reino, localiza-se nomunicípio de Ibiporã, região Norte do Paraná,às margens da Rodovia PR-090 sentido Ibiporã-Sertanópolis, a quinze quilômetros de distânciado núcleo urbano.

Ela apresenta uma área de 58,35 hectares eé constituída por 86 lotes com 407 moradores.

A partir das entrevistas com 40 moradoresda Vila Rural, com os representantes de órgãospúblicos ligados ao Programa e as reflexõespropiciadas pelas obras relacionadas aproblemática, partimos para a análise dosresultados obtidos. Com relação a caracterizaçãodos “vileiros” analisamos a idade, escolaridade,

Quadro 1 – População Agrícola e Rural no Brasil.

Décadas População Agrícola População Rural

1960 15.454.525 38.418.798

1970 17.581.964 41.054.053

1980 21.163.729 38.566.297

Fonte: SANTOS (1993, p. 31)

Page 44: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

168 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

renda e profissão. Quanto a idade dosmoradores verificamos que predomina apopulação jovem, ou seja, 17% tem entre 10-14 anos e 14% entre 5-9 anos. Considerando-se a PEA (População Economicamente Ativa),temos 58% da população. (Tabela 1)

Com relação ao grau de escolaridade,verificamos que a maior parte dos entrevistados,ou seja, 74% possui o ensino fundamentalincompleto e 11% é analfabeta.(Tabela 2)

No tocante à renda familiar, constatamos que27,5% recebem três salários mínimos mensais,22,5% um salário e 20% dois salários, sendoque estes salários variam de acordo com a época

do ano, pois como a maior parte dos moradorespossui emprego temporário e ligado ao campo.Estes dependem do calendário sazonal daagricultura e, aqueles que dependem dotrabalho não agrícola ou com possibilidade deemprego nestes setores, encontram-se desvinculadosdo meio urbano pela dificuldade de deslocamentoe pela pouca perspectiva de empregos urbanos,devido a instalação de novos equipamentos quenecessitam somente de mão-de-obra com maiorgrau de qualificação. (Tabela 3)

Através da profissão dos trabalhadoresentrevistados, constatamos que 47% executamserviços gerais (bóias-frias, tratoristas, pedreiros)e 30% são apenas bóias-frias. (Tabela 4). Assim,verificamos que a maior parte dos moradoresda Vila Rural depende do trabalho tanto ruralquanto urbano, pois a principal fonte de rendados moradores está no trabalho realizado forado lote, uma vez que a produção destes ainda éinsuficiente tanto para o consumo como para ageração de renda. Para o trabalho rural volante,o período de maior concentração de trabalhofora do lote são os meses de maio a agosto quecorrespondem à colheita do café. No períodoque vai de janeiro a abril, acontece a capina dasoja, a “catação” de milho e a “arruação” de café.O período de setembro a dezembro são os mesesde maior dificuldade para conseguir trabalho,que correspondem à época de preparação da

Tabela 1 – Faixa Etária dos Moradores.

Tabela 3 – Renda Familiar dos Moradores.

Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

FAIXA ETÁRIA nº %14 08,00 - 4 anos

5 - 9 anos 25 14,010 – 14 anos 30 17,015 – 19 anos 15 08,020 – 24 anos 07 04,025 – 29 anos 11 06,030 – 34 anos 18 10,035 – 39 anos 16 09,040 – 44 anos 08 05,045 – 49 anos 11 06,050 – 54 anos 09 05,055 – 59 anos 08 05,060 – 64 anos ---65 – 69 anos 02 01,070 – 74 anos 01 00,575 – 79 anos 01 00,580 anos ou mais 01 00,5

TOTAL 177 100,0Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

Tabela 2 – Grau de Escolaridade dos Moradores.

Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

GRAU DE ESCOLARIDADE N. º. %Analfabeto 017 11,0Ensino Fundamental Incompleto 115 74,0Ensino Fundamental Completo 002 01,0Ensino Médio Incompleto 009 06,0Ensino Médio Completo 007 05,0Ensino Superior __Não sabe 005 03,0

TOTAL 155 100,0

RENDA FAMILIAR Nº %Menos de 1 salário mínimo 01 02,51 salário mínimo 09 22,52 salários mínimos 08 20,03 salários “ 11 27,54 salários “ 02 05,05 salários “ 03 07,56 salários “ 02 05,07 salários “ - -8 salários “ - -9 salários “ 01 02,5Não sabe 03 07,5

TOTAL 40 100,0

Page 45: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

169Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

terra e plantio que é feito por máquinas,excluindo a necessidade de mão-de-obra.

Para os trabalhadores que estão vinculadosaos serviços gerais, há uma variante nestecontexto, pois no período de setembro adezembro, o trabalho é mais freqüente,correspondendo inclusive à época queconseguem auferir maior renda.

A partir das tabelas 1 a 4, notamos que 58%dos vileiros estão aptos para o mercado detrabalho urbano; possuem baixa escolaridade,o que pode indicar a falta de qualificaçãoprofissional e educacional, resultandoposteriormente no tipo de profissão nãoqualificada e conseqüentemente na baixaremuneração, pois atualmente, o mercadoremunera melhor os trabalhadores qualificados.Desta maneira, percebemos que muitos delesvivem em precárias condições de vidaeconômica, desempregado ou subempregado.

Quanto aos deslocamentos dos moradores,verificamos que 84,5% dos entrevistados sãonaturais do Estado do Paraná, sendo que 57,3%dos paranaenses nasceram em Ibiporã, 11,3% emLondrina e 6% em Assai, ou seja, em cidadespróximas a Ibiporã. Em segundo lugar vem os doEstado de São Paulo com 5,6% dos entrevistados.

Constatamos ainda que 86,6% dosdeslocamentos ocorreram dentro do Estado doParaná, principalmente, nas cidades de Ibiporã

com 47,9% das vezes e nas cidades próximas comoLondrina, Assai, Cambé, seguido do Estado deSão Paulo com 7% dos deslocamentos.

Verificamos, a partir dos dados coletados, quea maioria dos “vileiros” é originária dos municípiosdo Norte do Estado do Paraná como Ibiporã,Londrina, Assai, Jataizinho, sendo oriundos,principalmente, da zona rural e com ocupaçõesagrícolas. Até a década de 1970, estas famíliasresidiam no meio rural e a partir desta décadacomeçou a ocorrer o deslocamento das famíliaspara outros municípios ou Estados, em busca demelhores condições de vida e emprego. Notamosque a partir da quantidade de mudanças realizadas,que a média é de 3,6 por família, com tempo depermanência de 8,8 anos em cada localidade.

Segundo o Ipardes (1982) , até a década de1960 o modo de vida paranaense erabasicamente agrícola e, na década de 1970, coma modernização da agricultura e odesenvolvimento industrial houve a expulsão degrande contingente de mão-de-obra dirigindo-se tanto para as cidades como para outroscentros rurais à procura de empregos.

Bastos (1982, p.411) analisando astransformações do Estado do Paraná ressalta que

a intensidade do processo de capitalização docampo paranaense materializa-se a partir dos anos70 na dependência da agricultura com relação ainsumos industriais, na destinação crescente degrandes áreas a cultivos de exportação e noaumento da concentração fundiária. Estastendências resultam em profundas alterações nasrelações sociais de produção que refletem nãoapenas no intenso movimento migratório intra-estadual, mas em processos de verdadeirarenovação da população rural do Estado.

Desta forma, grande parte das famíliasexpropriadas de suas terras, se submeteu àordem capitalista, tornando-se trabalhadoresrurais volantes (bóias-frias), pois, semexperiência em trabalhos urbanos e poucaescolaridade ficaram sem outra opção dentrode um quadro de transformações,predominantemente, mecanizadas e queexigiam trabalhadores especializados.

Tabela 4 – Profissão dos Moradores.

Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

PROFISSÃO Nº %

Serviços Gerais 40 47,0Bóias-frias 26 30,5Faxineira (diarista) 04 4,7Pedreiro 04 4,7Pintor 02 2,4Costureira 02 2,4Feirante 02 2,4Zeladora 02 2,4Operário 02 2,4Doméstica (mensalista) 01 1,1

TOTAL 85 100,0

Page 46: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

170 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

Com relação a produção agrícola nos lotesda Vila Rural, constatamos que os produtosmais cultivados são a mandioca com 82,5%, o

milho com 80% e o feijão com 52,5%, ou seja,produtos básicos que se destinam para aalimentação, para a sua subsistência.(Figura 1)

Observamos que, no interior dos lotes, háuma variedade de produtos cultivados, mas empequena quantidade devido ao tamanho destes,podendo-se caracterizar como sendo umaprodução para consumo próprio.

Dentre as principais motivações que levaramos entrevistados a ingressar na Vila Rural, 60%apontaram a necessidade e o desejo de ter casae terra para produzir. (Tabela 5).

Fica explícito, nesta tabela, que osbeneficiados pelo programa não consideraramapenas a terra e a produção agrícola como fatorprimordial para sua vida, mas a necessidade de teruma casa para morar, pois muitos, anteriormente,não tinham nem habitação nem emprego.

Através da Tabela 6, verificamos que 50%dos moradores afirmaram ter recebido auxíliogovernamental apenas no início, com mudasde plantas e sementes de milho, mas hoje, nãomais recebem ajuda; 47,5% disseram que nuncareceberam ajuda.

Tabela 5 – Motivo do Ingresso na Vila Rural.

Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

INGRESSO NA VILA RURAL Nº %Para ter casa, terra e para produzir 24 60,0Para livrar do aluguel 06 15,0Buscar melhores condições de vida 06 15,0Por falta de emprego 02 05,0

02 05,0Não responderam

TOTAL 40 100,0

0102030405060708090

Man

dioc

a

Milh

o

Fei

jão

Caf

é

Hor

tifru

ti

Arr

oz

Can

a-de

-aç

úcar

Am

endo

im

Bat

ata

Vas

sour

a

Figura 1 – Produtos cultivados nos lotes, por família.

Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

Tabela 6 – Ajuda do Governo.

AJUDA DO GOVERNO Nº %Sim 20 50,0Não 19 47,5Não sabe 01 02,5

SUBTOTAL 40 100,0

TIPOS DE AJUDA* Nº %Receberam sementes de milho 14 35,0Receberam mudas de plantas 08 20,0Receberam materiais de construção 03 07,5Receberam assessoria do governo 03 07,5Receberam o paiol 02 05,0Receberam cestas básicas 02 05,0Receberam cursos 02 05,0Receberam atendimento de saúde 01 02,5Receberam adubos 01 02,5Receberam utensílios domésticos 01 02,5Receberam casa 01 02,5

18 45,0Não responderam

TOTAL 56 --

* Respostas múltiplas/Base de calculo: 40Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

Page 47: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

171Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

Com relação à satisfação com o Programa,82,5% dos entrevistados opinaram que estãosatisfeitos e, destes, 45% afirmaram que asatisfação se deve à aquisição do lote, ao passoque 10% não estão satisfeitos.(Tabela 7)

Com relação às perspectivas dos moradores,30% dos entrevistados responderam que elasforam atingidas, pois, destes 10% conseguiramter sua plantação e 5% referiram-se ao ganho deterra e casa, enquanto que 30% afirmaram quenão atingiram as metas programadas. (Tabela 8)

À vista dos dados apresentados, verificamosque a maior parte dos “vileiros” está satisfeitacom o Programa. Houve a melhoria na

qualidade de vida e podem se dedicar àsatividades ligadas à terra. Possuem casa e umlocal tranqüilo para viver, interrompendo-seassim os deslocamentos espaciais, pois aestabilidade foi conseguida com o acesso a casae ao lote. O auxílio do governo também foiimportante para se estabelecer no lote, assimcomo a Associação dos Moradores, recém-legalizada, busca lutar pelo atendimento àsreivindicações das famílias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste trabalho, verificamos que, paraa maior parte dos moradores, o Programa VilasRurais proporcionou melhores condições devida, pois conseguiram um lote com uma casae espaço para suas plantações, porém o que senecessita são incentivos do governo parapraticarem sua agricultura. Como afirma SérgioGutierrez, coordenador técnico da Federaçãodos Trabalhadores da Agricultura do Paraná, aVila Rural ameniza a pobreza das pessoas, masnão garante o futuro, pois as famílias não têmopção de trabalhar dentro das Vilas Rurais porfalta de condições econômicas (incentivos) efísicas (tamanho do terreno).

Constatamos, no quadro da mobilidadeespacial, que a maior parte dos moradores daVila Rural viveu em zona rural grande parte davida, cujos deslocamentos ocorreram devido àmecanização do campo, ocasião em que foiliberado um enorme contingente de mão-de-obra não capacitada para trabalhos urbanos.

Na análise dos deslocamentos ocorridosvimos que estas se deram em grande escaladevido a busca de melhores condições de vida eocorreram, principalmente na área deabrangência do Norte do Paraná, maisespecificamente nos municípios próximos aIbiporã, que é o município onde se localiza aVila Rural Taquara do Reino.

Percebemos também que a Vila Rural épropagada pelo governo do Estado como umtipo de reforma agrária, quando na verdade

Tabela 7 – Satisfação dos Moradores em Relaçãoao Programa.

SATISFAÇÃO EM RELAÇÃOAO PROGRAMA

Nº %

A) Sim 33 82,51. Sim (sem justificativa) 18 45,02. Agora tem casa e lote 13 32,53. Está em um local tranqüilo 02 05,0

B) Não 04 10,01. Não 04 10,0

Não respondeu 03 07,5

TOTAL 40 100,0Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

Tabela 8 – Perspectivas dos Moradores.

PERSPECTIVAS ATINGIDAS Nº %A) Sim 12 30,01. Queria plantar 04 10,02. Sim (não especificou) 03 7,53. Agora tem casa e terra 02 5,04. Agora sobra mais dinheiro 01 2,55. Lugar tranqüilo e seguro 01 2,56. Agora é autônomo 01 2,5

B) Não 12 30,01. A vida não melhorou 06 15,02. Não conseguiu produzir o que queria 04 10,03. Faltam recursos e incentivos 02 5,0

Não respondeu 16 40,0

TOTAL 40 100,0

Fonte: Pesquisa “in loco”. Vila Rural Taquara do Reino- Ibiporã 2000

Page 48: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

172 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

trata-se de um programa destinado a resolveras questões de habitação, ou seja, retirar apopulação rural pauperizada da cidade,reduzindo o “inchaço” dos centros urbanos eservindo como reserva de mão-de-obra tantopara o trabalho agrícola como para o urbano.Na reforma agrária, os trabalhadoressobrevivem do trabalho com a terra, já na VilaRural ela é apenas um incremento ou muitasvezes nem isto, pois não podem dedicar temposuficiente para nela produzir.

Com esta propaganda de uma nova reformaagrária o governo do Estado pretendedemonstrar que há um tipo de processo no qualnão há necessidade de lutar e ocupar como fazo MST(Movimentos dos Sem Terra), podendo-se conseguir a terra a partir da inscrição noPrograma que está se espalhando por todo oEstado e que irá atender parte dos trabalhadoresrurais volantes. Mas, na verdade, este não atendeadequadamente os anseios dos trabalhadoresexpropriados do campo, pois, como járessaltamos, a pequena área não permitesobreviver com a produção, sendo necessário otrabalho fora do lote.

Consideramos que outro objetivo dogoverno do Paraná é mostrar que há umaalternativa mais barata e sem desapropriargrande extensão de terra para fins de reformaagrária, com isso resolverá o problema dos sem-terras utilizando a Vila Rural como umprograma que dê visibilidade às ações do Estado.Assim, o Programa Vilas Rurais é mais umaalternativa para tentar eliminar os problemascausados pelo afluxo da população aos centrosurbanos, proporcionando habitação e nãocondições de sobrevivência para as famílias detrabalhadores rurais em seu próprio lote, poiseste, se mostra insuficiente, necessitandotrabalhar em outras ocupações.

Quanto ao retorno ao campo, há que se levarem conta as ponderações de Sayad (2000, p.12):

Em verdade, a nostalgia não é o mal do retorno,pois, uma vez realizado, descobre-se que ele não éa solução: não existe verdadeiramente retorno (aoidêntico). Se de um lado, pode-se sempre voltarao ponto de partida, o espaço se presta bem a esseir e vir, de outro lado, não se pode voltar ao tempoda partida, tornar-se novamente aquele que se eranesse momento, nem reencontrar na mesmasituação, os lugares e os homens que se deixou, talqual se os deixou..

Nesta mesma perspectiva, Martins (1986, p.45), ao tratar das migrações internastemporárias, já se perguntava:

Retornar para onde? Para quem?Sociologicamente, o migrante temporário, aoretornar, já não é o mesmo; e, por ter que sair, nascondições em que sai, modifica as relações sociaisdo seu grupo de origem, altera a organização dafamília, a divisão do trabalho familiar, o lugar decada um. O que encontra, quando retorna, já nãoé aquilo que deixou. Ele nem mesmo se reencontra,porque já é outro, procurando ser o mesmo.

Estas considerações sobre a questão doretorno ao local de origem, guardam similitudescom o que tem ocorrido aos “vileiros”, quepodem ter vislumbrado a possibilidade dereencontrar o campo que está no seu imaginário,que, concretamente, se restringe a uma casa, aum lote de meio hectare e a um grupo defamílias tão ou igualmente carente dos requisitosmínimos para sua sobrevivência, sem os laçosque possam estruturar uma comunidade rural.

Na hipótese de se consolidarem os laços entreos “vileiros”, estes não serão iguais aos deixadosquando da mudança para a cidade. Os próprioshomens e lugares não serão os mesmos, pois astransformações atingiram a todos. Asindagações que ficam são as seguintes: quaisos reflexos do retorno ou da fixação dostrabalhadores rurais no campo? Houve melhoriana qualidade de vida dos seus moradores? Quefuturo terão as Vilas Rurais?

Page 49: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

173Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 163-173, jul./dez. 2001

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BASTOS, M. I. Estrutura agrária e movimentospopulacionais: o caso do Paraná. In: ENCONTRONACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS,3.,1982,Vitória-ES. Anais... São Paulo:ABEP,1982. 654 p. p. 411-413

BASTOS, M. I.; GONZALES, E. N. O trabalhovolante na agricultura brasileira. In: UNESP.Departamento de Economia Rural. Mão-de-obravolante na agricultura. São Paulo: Polis, 1982.

CAMARGO, J. F. Êxodo Rural. Rio de Janeiro:Conquista ,1960.

FLEISCHFRESSER, V. Modernização tecnológicada agricultura: contrastes regionais e diferenciação

social no Paraná da década de 70. Curitiba: Livrariado Chain: Concitec:Ipardes, 1988.

GRAZIANO DA SILVA, J. Tecnologia e agriculturafamiliar. Porto Alegre:Ed. da UFRGS, 1999

IPARDES. Fundação Edison Vieira. O Paraná:economia e sociedade. Curitiba: Ipardes, 1982.

JANNUZZI, P.M. Migração e mobilidade social.migrantes no mercado de trabalho paulista.Campinas: Autores Associados, 2000

MARTINS, J.S. Não há terra para plantar nesteverão. Petrópolis: Vozes, 1986.

SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo:Hucitec, 1993.

SAYAD, A . O retorno. Elemento constitutivo dacondição do imigrante. Travessia, Ano XII, jan.2000

Vilas Rurais Program:The Return of the Country Worker to the Field?

ABSTRACTThe work in focus aimed to develop a study of the migration process and the governmental procedure related to therestraint of the intern migrations in the North of Parana. The aim of this work was to investigate the life course of thefamilies resident of Vila Rural Taquara do Reino and the causes of their dislocations. It is important to stand out thatthe focused public of the Vilas Rurais Program are the errant country workers (red neck). In order to restrain these familymigrations, the State government implanted the Vilas Rurais Program aiming to offer the errant country workers a5000m2 allotment with a house, and substructure for them to return to the field. Readings and discussions related to thesubject were carried out in order to develop this work, yonder office and field works. As result, we noticed that themajority of the resident is satisfied in achieving an allotment with a house, but on the other hand it is necessary to lookfor other occupations out of the allotment since it doesn’t offer means for a necessary survival.

KEY-WORDS: vila rural, migration, agriculture modernization, errant country worker.

Page 50: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 51: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

175Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

INTRODUÇÃO

Neste trabalho foi dado ênfase à atividadepiscicultora criada em cativeiro no municípiode Andirá – PR, estabelecendo-se as principaiscaracterísticas relativas à aquisição de alevinos,a criação de espécies nativas, a criação de espéciesexóticas (carpas, bagre africano e tilápia), aopovoamento dos tanques, à alimentação enutrição dos peixes, à reprodução dos peixes,aos aspectos sócio-econômicos da piscicultura(comercialização e suas perspectivas); aotransporte dos peixes, aos recursos financeiros,à organização dos produtores e aos problemasda piscicultura (falta de oxigênio, peixesestranhos, doenças e enfermidades, animaispredadores, vegetação aquática e praguicidas).

A piscicultura como atividade zootécnicaemergente no Brasil, integra um segmento dosetor primário e deve ser encarada como maisuma alternativa de expansão desse setor, cujocrescimento vem ocorrendo no país.

Muito embora a evasão da zona rural estejaprovocando um decréscimo desta população, o

A Piscicultura em Cativeiro como AlternativaEconômica para as Áreas Rurais

Aécio Rodrigues de Melo *

Nilza A. Freres Stipp* *

RESUMO:Este estudo procurou evidenciar a piscicultura em cativeiro como uma atividade zootécnica emergente no Brasil. Umsegmento do setor primário que deve ser encarado como mais uma alternativa econômica cujo crescimento vem ocorrendono país e que vem beneficiar o homem da zona rural.

PALAVRAS-CHAVE: piscicultura em cativeiro, canibalismo aqüicultura, espécies exóticas, hipofisação.

* Professor Assistente do Departamento de Geografia FAFICOP. E-mail: [email protected]** Professora Doutora do Departamento de Geociências da UEL. E-mail: [email protected]

emprego de tecnologia mais avançada, damecanização agrícola, das relações genéticas dosprodutos, da racionalização dos insumos, vêmtrazendo progresso à agropecuária nacionalconforme salienta Teixeira Filho (1991).

A produção pesqueira em águas continentaisnão apresenta ainda considerável participaçãopara a economia nacional, embora em algunspaíses ela seja de extraordinária importância,como em Israel, por exemplo, ondepraticamente toda a produção pesqueiracontinental vem da piscicultura em cativeiro eno Japão onde cerca de 70% da produçãopesqueira vem de criações artificiais.

Avaliando-se o valor do consumo per capitade carne bovina no território nacional, 26,2 Kg/hab/ano e o consumo per capita de peixe, 6,4Kg/hab/ano, num país onde a concentraçãopopulacional situa-se na região costeira e ondea maioria do pescado consumido é de origemmarinha, infere-se que a criação de peixes deágua doce tem pouca participação no consumoper capita de pescado e que, no interior do Brasilconsome-se muito pouco peixe.

Page 52: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

176 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

A partir dessas considerações buscou-seesclarecer neste trabalho a importância dapiscicultura em cativeiro do município deAndirá – Pr, situando-a no contexto regional e

estadual, pois esta atividade econômica vemmerecendo destaque no município, na regiãoNorte e em todo o Estado do Paraná.

1. A ATIVIDADE PISCICULTORA NAREGIÃO DE ANDIRÁ- PR

Aquisição de Alevinos

Para se adquirir alevinos de boa qualidadedevem ser observadas as seguintes característicasnas espécies: abdômen roliço, cabeça pequena,agilidade, cor bem brilhante e nadadeiras perfeitas.

Além das características acima, deve-se levarem conta a sua procedência devendo os mesmosserem adquiridos em locais onde não hácontaminação química, nem com osendoparasitas, nem com os ectoparasitas, alémdas matrizes também terem sido selecionadas.As alternativas para a aquisição dos alevinos deboa qualidade na região estudada são:

– Piscicultura Bonanza – Cândido Mota –SP - que comercializa alevinos de PacuTambacus, Carpas, Bagres e Piauçus;

– Piscicultura Cedral – Andirá – PR –empresa rural produtora de alevinos dePacus, Tambacus, Patingas, Carpas, Piauçuse Bagres;

– Piscicultura Scandollo – Cambará – PR –comercializa alevinos de Pacus, Tambacus,Patingas, Carpas, Bagres e Pintados.

Criação de Espécies Nativas

A ictiofauna brasileira é representada por umnúmero diversificado de espécies, porém poucassão as espécies utilizadas para a piscicultura emcativeiro, daí a utilização de espécies exóticaspara o cultivo intensivo, principalmente as

Figura 1 – Mapa do Estado do Paraná.

Page 53: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

177Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

Tilápias, as Carpas e o Bagre africano. A poucautilização das espécies nativas para a pisciculturaem cativeiro pode ser explicada, de uma formageral, pelos poucos estudos sobre o potencialdas mesmas, sendo praticamente insignificanteo número de estudos sobre o manejo geral, tiposde alimentos, formas de alimentação e sobre asua genética. Ainda hoje, não se conhecetecnologia adequada para a utilização industrialdas espécies nativas. Mais que isso, o cultivodas espécies nativas só foi possibilitado com oadvento da reprodução induzida, uma vez quea grande maioria dessas espécies não sereproduzem naturalmente em cativeiro.

Outro grande problema é o domínio dastécnicas de manejo e alimentação, pois muitasespécies nativas apresentam elevadas taxas decanibalismo logo após o início da alimentaçãoexógena. A maioria das espécies nativas sãocarnívoras e necessitam de alimentação com altoteor percentual de proteína bruta, o quecontribui para o encarecimento do preço das rações,podendo até tornar-se inviável economicamente,sobretudo nas fases de crescimento e na fase finalde engorda (terminação).

As espécies nativas já utilizadas em cultivoforam: Pacu, Tambaqui e Curimba.

Nestes últimos anos, têm-se destacado outrasespécies nativas como: Dourado, Pintado,Piapara, Matrinchã, Piracanjuba, Trairão e Jaú.

A maior parcela das espécies nativas quechega ao consumidor é oriunda da pescaextrativa, porém, o represamento dos rios, a suapoluição e o desmatamento ciliar, entre outros,têm contribuído para a redução nos estoquesdestes peixes nos rios, sendo preconizada cadavez mais o cultivo das espécies nativas depotencial para a piscicultura, conforme salientaFuruya (1997).

O cultivo das espécies nativas foipossibilitado pelo advento da reproduçãoinduzida, uma vez que a maioria deste tipo depeixes não reproduzem em cativeiro. Dentre asespécies nativas mais estudadas visando aexploração comercial, destaca-se o Pacu,considerado de melhor aceitação no mercado.

As demais espécies nativas embora tivessem seuscultivos preconizados, têm poucos estudos sobreseu potencial sobre o manejo em geral,alimentação e genética.

Atualmente as espécies nativas são cultivadas,principalmente para o abastecimento domercado pesque-pague, não se confirmandoneste setor do mercado uma indústria defiletagem, como ocorreu com a Tilápia do Nilo.

As espécies nativas geralmente têm boaaceitação no mercado da pesca esportiva e possuemcarne de boa aceitação ao paladar humano.

Ainda que os problemas relativos àreprodução em cativeiro estejam resolvidospraticamente, muitas espécies nativas sãocarnívoras e durante a fase larval o canibalismoé freqüente; assim há necessidade, sobretudonessa fase, de técnicas mais adequadas nomanejo e alimentação.

O Pacu e o Tambaqui são espécies que temdespertado interesse para a piscicultura, devidoao elevado valor comercial, adaptação àalimentação artificial, também pela facilidade deobtenção de larvas através da reprodução induzidae por apresentar uma boa taxa de crescimento.

O Tambacu, oriundo do cruzamento doPacu com o Tambaqui (macho de Pacu x fêmeade Tambaqui), é um híbrido que foi produzidoobjetivando o aproveitamento do potencial destasduas espécies, quanto ao crescimento e quanto àresistência ao cultivo em regiões mais frias.

A reprodução induzida dessa espécie atravésde hipofisação foi realizada a partir de 1977, sendoatualmente comprovada o êxito da tecnologia deobtenção de larvas através desse método.

A Piapara e o Piauçu são espécies que vemsendo amplamente utilizadas para a piscicultura,sobretudo nas regiões sudeste e sul do Brasil.

Em cativeiro essas espécies apresentam bomganho de peso e boa conversão alimentar, sendobastante valorizadas no mercado pesque-pague.

Essas variedades nativas em cativeiro,possuem capacidade de atingir até 1,0 Kg depeso no período de um ano, quando já podemser comercializadas.

Page 54: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

178 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

As Principais Espécies Nativas Cultivadas são:

– Pacu (Piaractus mesopotamicus) – espécienativa da bacia do Rio Paraná;

– Tambaqui (Colossoma acropomum) – é umaespécie nativa da bacia Amazônica e muitoapreciada pela sua carne;

– Tambacu (híbrido obtido em laboratório) –resultante do cruzamento entre Pacu eTambaqui; vem apresentando bomdesenvolvimento na região Norte do Paraná,cujo ganho de peso é superior ao do Pacu edo Tambaqui.

As Principais Espécies Exóticas Cultivadas

CarpasA Carpa comum (Cyprinus carpio) é a espécie

mais antiga cultivada e pode ser consideradauma espécies domesticada. Ela é cultivada emtoda a Ásia, em alguns países da África e da AméricaLatina, na América do Norte e na Austrália.

Existem diferentes tipos de carpas, emboratodas façam parte de um grande grupo de peixeschamados Ciprinídeos, além da Carpa Comum,que possui duas variedades melhoradas, a CarpaPrateada e a Carpa Espelho existem outras quetambém são comercialmente importantes.

No Brasil as Carpas de maior importânciacomercial são:– Carpa Capim (Ctenoharyngodon idella);– Carpa Cabeça Grande (aristichthys nobilis);– Carpa Prateada (hypoththalmichtys molitrix).

As Carpas, pela sua capacidade de resistir auma ampla faixa de temperatura, são hojeconsideradas animais cosmopolitas, sendo quepara que seu crescimento seja otimizado, atemperatura média deve ser de 28º C. Ocrescimento da espécie, bem como suaalimentação serão sensivelmente afetados, casoa temperatura apresente-se abaixo de 15º C. AsCarpas resistem, também, às baixasconcentrações de oxigênio dissolvido na água.

A variedade “Carpa espelho” ou “Carpahúngara” possui um pequeno número deescamas dispostas em três fileiras, na região

dorsal, sobre a linha lateral e região ventral.Apresenta crescimento mais precoce, resistemelhor ao frio e apresenta maior relação entrea altura e o comprimento do corpo; mas poroutro lado, é mais suscetível às doenças,denotando maior cuidado no manejo emanuseio. Os ciprinídeos são todosplanctófagos, porém aceitam também aalimentação artificial.

Dentre todas as Carpas usadas emaquicultura, somente a Carpa Comum desovanaturalmente nos tanques. Nos demais tipos, areprodução só é possível de forma induzida.

As Carpas são peixes criados em sistemas demonocultivo e policultivo, cujo objetivo é aprodução de uma quantidade ótima de peixescom peso comercial, com o mínimo de custo.

Vários fatores afetam a produtividade e ocusto, tais como: taxa de estocagem, quantidadee qualidade de alimento natural produzido porfertilização; qualidade da ração no caso dealimentação artificial; temperatura da água;quantidade e disponibilidade de oxigêniodissolvido na água e linhagem do peixe estocado.

Com alimentação intensiva e aeração podemser estocadas em maior número por m². No casode haver interesse de redução do tempo decriação até o debate, as taxas de estocagemdeverão ser menores (uma Carpa para cada 7m² de lâmina de água).

As práticas de policultivo de Carpas comoutras espécies visam obter o máximo deprodução por área, em termos de biomassa,aproveitando-se todos os recursos disponíveisno tanque.

Catfish africano (Clárias ou Bagre Africano)Esta espécie não se reproduz naturalmente

em cativeiro, sendo a procriação possívelsomente através de desova induzida. É umaespécie rústica, carnívora e que apresenta umbom ganho de peso.

Neste século, a partir da década de 70, iniciou-se na África o interesse pelo cultivo potencial dos“Catfish antóctones” para a aqüicultura.

Os atributos de relevância para o cultivo

Page 55: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

179Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

dessa espécie incluem: sua habilidade em utilizaro oxigênio atmosférico, tão bem quanto ooxigênio dissolvido na água; alta fecundidade,possui hábito alimentar onívoro; boa aceitaçãode alimentos naturais e artificiais; boa taxacrescimento; boa tolerância às condiçõesambientais extremas; boa resistência às doenças;tolerância quanto às altas densidades em cultivos.

As desvantagens dessas espécies, no Brasil,são: dificuldades de colocação no mercado;desconhecimento de sua biologia ecomportamento em ambientais naturais, nocaso de escapes acidentais, pois são carnívoros; e anecessidade do abate do macho na reproduçãoartificial para a retirada dos testículos.

Tilápia (Tilápia rendalli)Dentre as várias espécies existentes, a mais

utilizada no Brasil para o cultivo em cativeiro éa Tilápia do Nilo, peixe de origem Africana.

É uma espécie muito rústica apresentandohábito alimentar planctófago, mas que tambémaceita ração balanceada artificial.

Embora as Tilápias sejam nativas da África, hojeencontram-se difundidas em todo mundo, emvários países de clima tropical e subtropical, ondeforam introduzidas deliberada ou acidentalmente.

Apesar da criação artificial da Tilápia estarsendo difundida há vários séculos, somenteentre a década de 20 e 50, passaram a sercultivadas de forma intensiva.

A maioria das espécies de Tilápias reúnemgrande parte das características desejáveis empeixes destinados à exploração comercial, ouseja; apresentam boa adaptabilidade àscondições ambientais variáveis, apresentam boaconversão alimentar e ganho de peso; altarusticidade; adaptam-se facilmente aoconfinamento; apresentam boa resistênciaquanto aos níveis de oxigênio na água; sua carneé de boa aceitação no mercado e sãorelativamente resistentes às doenças.

As principais desvantagens das Tilápias são aprecocidade sexual e a alta prolificidade emambientes lênticos, o que faz com que haja anecessidade do cultivo monossexo (Tilápia assexuadaou revertida com hormônios masculinizantes).

A temperatura ideal da água para odesenvolvimento das Tilápias varia de 20º C a30º C. A China produz 310 mil toneladas deTilápias anualmente, o que corresponde a 60% da produção mundial desta espécie.

Principais Espécies de Carpas Cultivadas emAndirá

– Carpa Comum (Cyprinus carpio) – é umaespécie de origem asiática e possui qualidadescomo a rusticidade, a facilidade de criação,de proliferação e a adaptação aos diferentestipos de alimentos;

– Carpa Húngara (Cyprinus carpio) – reproduz-se naturalmente nos viveiros, alimentando-se de microrganismos e de ração artificial;

– Carpa Capim (Ctenopharyn-geodon idella) –peixe de origem chinesa, de aparência semelhanteà tainha, apresenta um hábito alimentarherbívoro, consumindo plantas aquáticas;

– Carpa Cabeça Grande (Aristichtys nobilis) –também é originária da Ásia e vem apresentandoum crescimento muito rápido no Brasil.Apresenta hábito alimentar zooplanctófago,pode, porém, consumir ração artificial,embora seja de hábito filtrador.

O Povoamento dos Tanques

As fases mais difíceis da piscicultura sãoaquelas que vão desde a desova até o momentoem que o alevino possa se alimentar comalimentos naturais, por isso, aconselha-se queo produtor adquira alevinos e não larvas, poisaqueles são mais fortes e resistentes do que estas,tornando os riscos de perdas menores.

É aconselhável ainda, deixar os alevinosestocados em um tanque berçário até setornarem jovens (peixes juvenis). Na fase juvenilos peixes devem ser separados e contados paraevitar quaisquer problemas de superpovoamentoou de subpovoamento do tanque de engorda.

Page 56: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

180 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

Alimentação e Nutrição de Peixes

O aumento na produção de peixes atravésda piscicultura tem sido limitado pela falta deconhecimento sobre nutrição.

A nutrição tem por base o conhecimento dasexigências nutricionais do organismo para asdiferentes espécies, idades, sexo e sistema decultivo empregado.

No cultivo racional de peixes, para atingiralta produtividade é fundamental umaalimentação balanceada, além da manutençãode adequadas condições do meio em que vive opeixe, uma vez que vários fatores ambientaispodem influenciar no desenvolvimento dosanimais mantidos em sistema de cativeiro.

Como o incremento da pisciculturaaumentou nos últimos anos, a nutrição temdespertado grande interesse, haja visto a suaelevada participação no custo de produção,tornando-se imprescindível o conhecimento dasexigências nutricionais e do manejo alimentar quepossam viabilizar o cultivo das espécies nativas edas espécies exóticas de interesse piscícola.

Para alimentar os peixes, devem ser levadosem consideração os hábitos naturais dealimentação, bem como o tamanho daspartículas alimentares, o local, freqüência daalimentação e a maneira de ingestão.

Quanto à alimentação os peixes podem serdivididos em três categorias: carnívoros,onívoros e herbívoros.

Além dessas categorias, existem peixes quesão planctônicos (que vivem na porçãosuperficial do tanque), os peixes nectônicos (quevivem nas porções mediamente profundas dostanques) e os peixes bentônicos (que vivem nofundo dos tanques). Em função destascaracterísticas, faz-se necessário que sejautilizada a ração extrusada (flutuante) e a raçãopeletizada (que afunda na água); que a água sejarica em microrganismos, podendo alimentar,desta forma, todos os tipos de peixes do tanque,quando da criação em sistema de policultivo.

As rações diárias devem ser distribuídas emvárias refeições (duas ou três vezes ao dia).

Recomenda-se que a ração diária sejaequivalente entre 3 a 10% do total da biomassa(peso total dos peixes do tanque).

No inverno, os peixes consomem menosalimentos, portanto, a quantidade de alimentodeve ser diminuída ou até suspensa, dependendo,sobretudo, da temperatura da água.

Em piscicultura o custo com a alimentaçãorepresenta cerca de 65% do custo de produção,sendo necessário conhecer a proporçãoadequada de cada nutriente na composição daração para que assim ela possa ser utilizada coma máxima eficiência, principalmente quando dasubstituição de alimentos convencionais poralimentos alternativos.

O milho, farelo de trigo, sorgo, aveia, farelode arroz, farelo de soja, farelo de algodão e farelode canola são alguns dos componentes vitais quepodem ser empregados na formulação de raçõespara peixes.

Quanto aos componentes de origem animalempregados na formulação de ração pode-secitar: farinha de peixe, farinha de carne e deossos e farinha de sangue.

As rações podem ser utilizadas nas seguintesformas: fareladas (para larvas e alevinos);peletizadas e extrusadas (para juvenis e adultos).

A peletização consiste na aglomeração depequenas partículas em partículas maiores pormeio de um processo mecânico onde sãocombinados umidade, calor e pressão. É ométodo de processamento mais empregado naalimentação de peixes. A peletização faz comque a mistura de ingredientes, na forma farelada,passe por um processo de compactaçãomecânica, não havendo mudanças significativasnas características físicas dos componentes damistura. A forma física da ração peletizada ésempre cilíndrica podendo variar somentequanto ao diâmetro e ao comprimento.

Uma desvantagem da ração peletizada érequerer o uso de ingredientes aglutinantesespecíficos, objetivando obter uma maiorestabilidade em água, no entanto, seu custo defabricação é menor do que os demais tipos de ração,devido aos equipamentos serem mais simples eapresentarem menor consumo de energia.

Page 57: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

181Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

A extrusão consiste na produção dealimentos com capacidade de flutuação, cujoprocesso envolve umidade, temperatura epressão, o que se confere ao grânulo formado,alta resistência à desintegração na água e porser de baixa densidade adquire capacidade deflutuação. Este tipo de arraçoamento permite avisualização do alimento consumido.

A extrusão é o processo mais avançado naprodução de rações aquáticas, pois melhora adigestibilidade do alimento e permite que umaampla variedade de produtos com diferentesformas, densidade e qualidades nutricionaissejam produzidas através de um sistema básicovariando-se os ingredientes da formulação e ascondições de produção.

A extrusão é o processo ideal na produçãode alimentos para os peixes, pois os produtosadquirem maior digestibilidade, maior estabilidadeem água, melhor condição sanitária e maiorrendimento técnico e econômico ao produtor.

Reprodução de Peixes

O sucesso na piscicultura está estreitamenterelacionado com a capacidade de perpetuaçãodas espécies, produzindo larvas que serãoutilizadas para a criação e visando a formaçãodo plantel de reprodutores.

Os peixes utilizados na pisciculturaapresentam uma periodicidade no seu processoreprodutivo, geralmente ocorrendo a desova acada ano, podendo ocorrer, também em algunscasos, mais de uma desova ao ano, comoacontece com as tilápias.

No meio natural a época da reprodução ésincronizada com fatores ambientais quegarantirão a sobrevivência da prole.

No Brasil os cursos d’água de diversos estadossofreram modificações pela construção debarragens que objetivam a produção de energiaelétrica, por outro lado as mesmas facilitam anavegação e irrigação, levando a profundasmodificações no meio, interferindo sobre areprodução natural de algumas espéciespreconizadas para a piscicultura.

Dentre as espécies nativas, existe um grupoque se reproduz naturalmente em água lêntica(lagoas e represas), como por exemplo a Traíra,o Tucunaré e o Lambari.

Um outro grupo, que abrange a maior partede nossas espécies nativas, necessita realizarmigrações, rumo à montante dos rios para areprodução (peixes reofílicos), dentre elesdestacam-se o Pacu, o Tambaqui, o Curimba,o Dourado, o Pintado, entre outros. Para estasespécies que nas condições de cativeiro não sereproduzem naturalmente, faz-se necessário queo processo de reprodução seja induzido a fimde que se torne possível a obtenção de larvas,para posterior cultivo.

A reprodução induzida consiste na utilizaçãode hormônios naturais e/ou sintéticos, queprovocam a ovulação de algumas espécies de peixesque apresentam potencial para a piscicultura.

Para a propagação artificial de peixes, ahipofisação é uma das técnicas de indução maisempregadas, destacando-se pela sua eficiência,praticidade e economicidade. A técnica consistena utilização de glândulas pituitárias de peixesdoadores, coletadas frescas ou preservadas, queserão utilizadas nos reprodutores a fim deprovocar a maturação final dos gametas. Estatécnica é desenvolvida em ambientesespecializados (laboratórios), local no qual sedá, o processo de produção de alevinos, comose pode observar no laboratório da PisciculturaCedral em Andirá no Paraná.

2. ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOSDA PISCICULTURA

Comercialização

O maior mercado explorado pelospiscicultores da região Norte do Paraná é o dospeixes vivos enviados aos pesqueiros (pesque-pague), aos quais se destinam cerca de 98% daprodução, localizando-se os mesmosprincipalmente na área metropolitana de SãoPaulo, e adjacências.

Page 58: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

182 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

Na região da Grande São Paulo situam-se,aproximadamente, 1.200 pesqueiros,distribuídos sobretudo ao longo das RodoviasCastelo Branco e Anhangüera.

Os principais municípios paulistas queconsomem a produção da região Norte doParaná são: Araçariguama, Boituva, Botucatu,Caucaia do Alto, Cotia, Embu, Franco daRocha, Ibiúna, Itapetininga, Itapevi, Jarinu,

Mairiporã, Monte Mor, Morungaba, Osasco,São Roque, Sorocaba e Suzano.

Os pesque-pague existentes no Estado doParaná consomem 29,4% da produção total doEstado e atingem o número total de 565.

Na Tabela 1, observa-se o número de pesque-pague do Estado do Paraná, por regiões, a áreaalagada ocupada em hectares e o volume de peixescomercializados em toneladas, no ano de 1997.

Observa-se, a partir dessa tabela, que oEstado do Paraná possui 565 pesque-paguedistribuídos ao longo do seu território, sendoque o maior número deles está localizado naregião de Curitiba (90), seguida por Cascavel(50) e Campo Mourão (44).

Com relação a área alagada ocupada pelosmesmos, também a região de Curitiba é a maisexpressiva (95,60 ha), seguida por Cascavel(80,09 ha) e Toledo (64,10 ha).

No tocante ao volume consumido, Curitibatambém consome a maior quantidade (694toneladas), o que eqüivale a 17,2% do total,seguido por Maringá (521 ton) ou 12,9% e porCascavel (468 ton), ou seja, 11,6% do totalconsumido.

O Estado do Paraná produziu em 1997 oequivalente a 13.661 toneladas de peixes, sendoque deste número, 4.029 toneladas foramconsumidas pelos pesque-pague, ou seja,

Tabela 1 – Número de pesque-pague, área alagada e volume de peixes comercializados.

REGIÃO Número dePesque-pague

Área alagadaVolume de

peixesconsumidos

(ton)Apucarana 23 17,60 83Campo Mourão 44 52,00 261Cascavel 50 80,09 468Cornélio Procópio 19 27,00 206Curitiba 90 95,60 694Francisco Beltrão 18 22,00 65Guarapuava 14 16,00 56Irati 12 15,90 60Ivaiporã 18 31,60 30Lapa 14 70,70 119Londrina 29 24,95 191Maringá 42 63,40 521Paranaguá 15 58,20 99Paranavaí 15 12,50 225Pato Branco 15 20,00 99Ponta Grossa 29 42,45 130Santo Antônio da Platina 37 37,80 168Toledo 36 64,10 278Umuarama 36 31,15 268União da Vitória 09 15,90 08TOTAL 565 798,94 4.029

Fonte: EMATER- Paraná – 1997

Page 59: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

183Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

29,4%, isto corresponde a quase 1/3 domontante produzido.

Esse mercado remunera bem e é crescente,porém, não se tem garantia quanto à perspectivade permanência e estabilidade do consumo.

Tabela 3 – Dados referentes quanto à utilizaçãode um hectare de várzea com a atividade agrícolatradicional; rizicultura e piscicultura (1997).

1 Hectare Produção média

Rizicultura 100 sacas de 60 Kg

Piscicultura 7.692 Kg

Fonte: EMATER- Andirá – PR

Tabela 2 – Valores pagos ao produtor por quilograma (novembro de 1997).

Tipos de peixes Valor em Reais (R$)

Bagre R$ 1,20 (Um real e vinte centavos)

Tilápia R$ 2,00 (Dois reais)

Carpas R$ 2,00 (Dois reais)

Piauçu R$ 2, 80 (Dois reais e oitenta centavos)

Pacu R$ 2, 80 (Dois reais e oitenta centavos)

Tambacu R$ 2, 80 (Dois reais e oitenta centavos)

Fonte: EMATER – Andirá – PR

Na Tabela 2, observa-se os preços obtidospor Kg de peixe no Norte do Paraná.

Destaca-se que esses valores, variam nãosomente quanto ao quilograma, como tambémquanto à procura. Os peixes de maior peso sãoos mais valorizados.

O peso médio dos peixes comercializadosgira em torno de 1 Kg a 2 Kg, exceto para asTilápias que são comercializadas na faixa de 400gramas a unidade.

Os preços alcançados pelos produtores, parao quilograma de peixe vivo, é consideradobastante atraente, comparado aos preços pagospelo quilograma de bovino vivo (R$ 0,80), desuíno (R$ 0,70) e de aves (R$ 0,50).

A seguir, na Tabela 3, observa-se a comparaçãoentre a produção média de arroz e a de peixes (emKg), por hectare no município de Andirá.

Atualmente o preço da saca de 60 Kg de arrozem casca é igual a R$ 32,00 (Trinta e dois reais),podendo um hectare de arroz produzir o totalde R$ 3.200,00 (Três mil e duzentos reais), coma piscicultura, na média de 7,6 toneladas porhectare, estimando o preço mais baixo do Kgde peixe (bagre a R$ 1,20 – Um real e vintecentavos), obtém-se o total de R$ 9.230,00 (Novemil, duzentos e trinta reais). Deste total, ambas asatividades apresentam até 50% de despesas.

Conclui-se, com isso, que a atividadepiscicultora é muito mais lucrativa para oprodutor rural, que o cultivo de arroz nasvárzeas, dadas as exigências do mercadoconsumidor (pesque-pague), cada vez maisatrativas, como o Dourado, o Pintado, aPiracanjuba, a Piraputanga e o Matrinchã.

Dessa forma, prevê-se para o futuro aintrodução dessas novas espécies, uma vez quea produção está voltada para atender,prioritariamente, as exigências do mercado depesca esportiva.

Na região Norte do Paraná, o comércio depeixes somente se avoluma durante a SemanaSanta, quando o consumo do produto aumentasignificativamente.

Page 60: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

184 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

O interessante é que as feiras livres ou feirasdo pescado praticamente inexistem, o quesignifica dizer que o peixe ainda não estátotalmente incluído na dieta alimentar dapopulação da região e do povo brasileiro emgeral, assim sendo, para a abertura e melhoriade novos mercados, urge criar estratégias de“marketing” que ensinem o consumidor amodificar seus hábitos alimentares, para quepassem a incluir o peixe em sua mesa.

Se o peixe é um alimento rico e digestivo,torna-se importante que se explore estainformação para levar a população a consumirmais o produto.

Os conhecimentos tecnológicos, gerenciais ede novos mercados, precisam ser alcançados deforma emergencial, pois o consumo per capita decarne bovina no território nacional é da ordem de26,2 Kg/hab/ano enquanto que o consumo percapita de peixe é de 6,4 Kg/hab/ano.

Uma forma de comercialização paraconsumir pequenos excedentes de peixes seriaa introdução do peixe na merenda escolar, alémde ser um alimento de excelente qualidade,ajudaria a criar nas novas gerações, o hábito deconsumir peixes regularmente.

As Perspectivas Futuras

No Brasil o mercado consumidor de peixesé pouco desenvolvido, exceto em relação aomercado de pescado enlatado, responsabilidadede grandes indústrias competentes e de ummercado de tradição, que corresponde a vendaem peixarias, mercados e outras, dos peixes paraa “Semana Santa”.

Para tanto, o consumo médio per capitaanual de pescado no Brasil é pequeno, cerca de6,4 Kg/hab/ano, muito abaixo de países comoo Japão (71,9 Kg/hab/ano), Portugal (60,2 Kg/hab/ano), Noruega (41,1 Kg/hab/ano), Senegal(40 Kg/hab/ano) e Espanha (37,7 Kg/hab/ano),além desse aspecto, é interessante citar aexigência do consumidor pelo alimento de baixoteor de gorduras saturadas, com alto valor

protéico, tornando o peixe uma opção naturalde qualidade, bem como a exploração compotencial de produtividade e excelenteexpectativa de demanda.

Todos esses indicadores apontam a atividadepiscícola como o produto agrícola do futuro. Aaquicultura mundial vem respondendo a essapressão de produção, crescendo em média 35%ao ano.

Isso demonstra que a piscicultura comoatividade do setor primário pode tornar-se umaexcelente opção de investimento no Brasil.

De acordo com os dados citados porCastagnolli (1991), a estimativa anual daprodução da aqüicultura no Brasil, está emtorno de 27.250 ton/ano, fazendo com que opaís ocupe a 33ª posição mundial entre osprodutores de pescado cultivado.

Para Souza; Lima; Vargas (1998, p. 61-62).

Cerca de quatro milhões de pessoas dependemdireta ou indiretamente da atividade pesqueira,constituída pela produção da pesca artesanal,industrial e o cultivo de organismos aquáticos.Aproximadamente duas mil empresas operam nasáreas de captura, industrialização e comercializaçãodo pescado, dos quais cerca de duzentos ecinqüenta são de médio e grande porte. A pescaesportiva ou de subsistência e a aquicultura de águadoce, são atividades importantes na produção deproteínas para a população, bem como a estratégiada sustentabilidade dos recursos pesqueiros e ageração de tecnologias adequadas para a produçãoe incremento da aquicultura de organismosaquáticos, em especial o cultivo de peixes.

A criação de espécies exóticas tais como aTilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), vemconquistando muitos piscicultores em diversasregiões do país, principalmente no Paraná, ondetem sido a principal espécie utilizada pelasindústrias de beneficiamento do pescado. Estetipo de peixe apresenta uma carne de saboragradável com baixo teor de gordura e de altovalor protéico. No Estado do Paraná existematualmente três indústrias de filetagem detilápia, localizadas nos municípios de AssisChateaubriand, Palotina e Sarandi, abatendo

Page 61: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

185Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

diariamente cerca de 3,5 toneladas; ainda estãoprevistos a instalação de mais frigoríficos nosmunicípios de Toledo, Altônia, Guaíra e Andirá.

O advento da reversão sexual, foi o fator quecontribuiu para a expansão do cultivo deTilápias, sobretudo pela redução no período decultivo para a comercialização e pela maioruniformidade do lote.

De acordo com Souza; Lima; Vargas (1998,p.63):

A tendência da piscicultura é um cultivo cada vezmais intensivo, com elevação da densidade deestocagem, manejo alimentar adequado, ummonitoramento da qualidade da água,proporcionando uma maior produtividade, quejuntamente com a integração entre as várias etapasdo processo produtivo, exige um trabalhoverticalizado em conjunto com pesquisadores,produtores, indústrias, setores públicos e privados,visando o fomento e coordenar a implantação emanutenção dos núcleos produtivos, além de outrosque poderiam estar no sistema, pois assim, teria-se agarantia do produto, em quantidade e qualidade.

A piscicultura, antes vista como umaatividade de pouco interesse econômico, vemsendo, atualmente, uma fonte alternativa derenda e esta atividade tem proporcionado umretorno econômico com conseqüente expansãoe desenvolvimento do setor, necessitando apenasracionalizar, o máximo possível, o cultivo depeixe. Desta forma, haverá uma integração entrea produção, industrialização e comercialização.

O Transporte dos Peixes

Como a maior parte dos peixes produzidosna região são comercializados nos pesque-paguedo Estado de São Paulo, estes peixes sãotransportados vivos, do tanque do produtor atéos pesqueiros, numa distância superior a 500 Km.

Esses peixes têm que chegar ao destino, vivose saudáveis. Isto exige, um sistema de transporteadequado, eficiente e específico.

Algumas associações de piscicultores e algunsprodutores particulares possuem este sistema,

como é o caso por exemplo da PisciculturaCedral de Andirá – PR, que possui trêscaminhões especialmente equipados para estetipo de transporte. O caminhão é dotado dealgumas caixas de água, feitas de fibras de vidro,com formas arredondadas e com um sistemade aeração interna ligados em tubos de oxigênio,os quais são responsáveis pela oxigenação daágua, permitindo condições saudáveis para otransporte dos peixes vivos.

Os caminhões têm capacidade paratransportar entre 800 e 3.200 Kg por viagem,dependendo da espécie.

Na região Norte do Paraná há mais de 25produtores e associações de piscicultores quefazem esse tipo de transporte, emaproximadamente 50 caminhões.

Os animais, antes do embarque ficam emdepuração, isto é, ficam alguns dias sem seremalimentados para que possam ser transportadossem maiores problemas, pois, o peixetransportado com a barriga cheia sofre um“stress” que geralmente pode levá-lo à morte,resultando em prejuízo para o proprietário.

O nível do oxigênio dissolvido na água, parao transporte dos peixes, deve estar por volta de3,0 (três) mg por litro de água. O excesso deoxigênio pode deixá-los agitados e também“estressados”, fazendo com que se batamfreqüentemente, podendo até morrer, ou aindao excesso de oxigênio pode provocarqueimaduras em suas peles. A temperatura daágua também não deve ficar abaixo de 20 grause nem acima dos 30 graus centígrados.

Na Tabela 4, observa-se as principais espéciescomercializadas ao longo do ano emporcentagem.

Na Tabela 4 verifica-se, que nos meses deinverno a comercialização dos peixes vivosreduz-se drasticamente, em decorrência dapouca freqüência de pescadores nos pesqueirose, sobretudo porque muitos peixes sendo declima tropical, não podem ser manejados nestaestação do ano, principalmente o Pacu e oTambacu, pois tem grande facilidade de “seestressarem”, nas épocas de baixas temperaturas.

Page 62: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

186 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

Recursos Financeiros

Como qualquer atividade econômica, apiscicultura necessita de recursos financeiros parao seu desenvolvimento e para sua implantação.

Os recursos financeiros na pisciculturacompreendem o montante de capital investidona criação de peixes, envolvendo várias etapas:como construção de tanques, adubação,calagem, povoamento, aquisição de ração, mão-de-obra e manejo.

Os gastos iniciais são elevados, sobretudo nafase de construção dos tanques, pois o valor dahora-máquina (trator de esteira ou

retroescavadeira), gira em tono de R$ 35,00(Trinta e cinco reais), sendo ainda necessário asmanilhas, os tijolos e a mão-de-obra paraconstruir os escoadouros (monges), tubulaçãopara a entrada de água, adubação e correção dotanque (fertilização).

Concluída esta etapa, vem a aquisição dosalevinos e da ração para a alimentação destespeixes, somando-se aqui, também, os gasto coma mão-de-obra. Tudo isso encarece essa atividadeeconômica.

Na Tabela 5, observa-se o custo médio para aconstrução de um tanque com 1.000 m² de área:

Tabela 4 – Espécies comercializadas ao longo do ano – em porcentagem (%): Safra 96/97.

Meses Carpa%

Bagre%

Pacu/Tambacu%

Tilápia%

Outros%

Janeiro 10 20 20 10 30Fevereiro 10 30 25 10 30

Março 10 15 15 10 10Abril 10 3 5 10 5Maio 5 2 - 5 -Junho 5 - - 5 -Julho 5 - - 5 -

Agosto 5 - - 5 -Setembro 10 5 5 10 -Outubro 10 5 5 10 5

Novembro 10 10 10 10 5Dezembro 10 10 15 10 15TOTAL 100 100 100 100 100

Fonte: Piscicultura Cedral Andirá -PR

Tabela 5 – Custo total para a implantação de um tanque com 1.000 m².

Quantidade Discriminação Valor total R$ (Reais)08 Hora/Máquina Esteira R$ 280,0002 Hora/ Retroescavadeira R$ 70,00- Manilhas R$ 100,00- Areia/Cal/Cimento R$ 50,00- Mão-de-obra R$ 50,00- Adubação/Correção R$ 50,00- Combustível R$ 100,00

Custo Total - R$ 700,00Fonte: EMATER – Andirá – Paraná. 1997

Page 63: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

187Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

Como pode se observar os tanques pequenos(1.000 m²) são de alto custo, sendo maisaconselhável a construção de tanques maiores(4.000 a 5.000 m²) pois os custos sãopraticamente os mesmos.

Em média, o custo total por m² de tanqueconstruído é igual R$ 0.70, dependendo datopografia do terreno, do tipo da várzea e daumidade do local.

O povoamento dos tanques é feito comalevinos, cujos preços podem ser observados noTabela 6.

Observa-se na tabela acima, que as espéciesexóticas como as Tilápias, Bagres e Carpas,apresentam o menor preço por milheiro,enquanto que as espécies nativas são mais caras,pois exigem maior tecnologia e eficiência duranteo processo de produção dos mesmos, sobretudomediante a utilização da desova induzida.

Os recursos gastos pelo agricultor naconstrução do tanque, no povoamento e namanutenção do mesmo, podem ser próprios,financiados ou subsidiados. Esporadicamente,o governo municipal ou estadual subsidiaalgumas horas-máquina, uma vez que aconstrução do tanque corresponde a uma daspartes mais difíceis da atividade, pois nemsempre se tem facilidade de acesso às máquinasde esteiras e às retroescavadeiras, mesmoconsiderando-se que elas sejam particulares.

Outro gasto bastante vultoso para opiscicultor é com a ração, cujo pico de consumoeqüivale ao período de verão, fase em que ospeixes mais a consomem.

O custo da ração varia de R$ 350,00 a R$600,00 (Trezentos Cinqüenta a Seiscentos

Reais) a tonelada. A variação de preço decorrequanto ao teor de proteína bruta, quanto àgranulação e quanto a marca.

As principais marcas de rações consumidasno município e na região são: Guabi, Total,Corol, Aqualine, Aqua Fish e Integrada.

Em Andirá a Piscicultura Cedral é a únicaque possui uma fábrica própria de raçãopeletizada, destinada apenas ao consumopróprio, produzindo toda a ração que utiliza,ou seja, em média cinco toneladas por dia naépoca do pico de consumo (verão).

Os principais ingredientes das rações depeixes são: farinha de peixe, farinha de carne ede ossos, farelo de soja, farelo de trigo, farelo demilho, farelo de arroz, sal e outroscomplementos vitamínicos. Estes componentesdas rações fornecem os índices percentuais dematéria seca (MS), teor de proteína bruta (PB),teor de extrato etéreo (EE), que são as gorduras,teor de fibra bruta (FB), teor de matéria mineral(MM), valor de energia bruta (EB), coeficientede digestibilidade da energia (DEB) e valor deenergia digestível (ED).

O teor de proteína bruta varia de acordo coma fase do peixe, pois na fase larval, estesnecessitam de uma ração com alto teor deproteína bruta (acima de 40%), na fase dealevinos a ração pode possuir cerca de 36% deproteína bruta e na fase juvenil e de engorda opercentual de proteína bruta pode ser de 30%.

O preço da ração está diretamenterelacionado ao teor de proteína bruta, sendomais cara quanto maior for o percentual deproteína. A proteína bruta é representada pelafarinha de carne, farinha de peixes, farinha deossos, farinha de sangue e farelo de soja.

A Organização dos Produtores em Associações

As Associações surgem como entidades quetêm por objetivo, estabelecer, dentre outrascoisas, uma política para a área de piscicultura,baseada em diagnósticos; e estabelecendo ospontos que deverão nortear as ações de

Tabela 6 – Preços de alevinos por milheiro.

Alevinos Preço (em reais o milheiro)Bagre R$ 50,00Carpas R$ 50,00Pacu/Tambacu R$ 80,00Patinga R$120,00Piauçu R$ 80,00Tilápia R$35,00 Fonte: EMATER – Andirá – Paraná. 1997

Page 64: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

188 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

desenvolvimento para suas atividades. Faz-senecessária a participação dos produtores para adefinição dor rumos da piscicultura quanto aosrecursos, linhas de créditos, de apoio àcomercialização, de pesquisa, assistência técnicae quanto à programação para o crescimentoorganizado da atividade.

Para Pinelli, (1997, p.8.) “a organização e ofortalecimento de todos é um grande poder debarganha num mercado novo, porém competitivo”.

A organização da atividade na região doNorte Pioneiro do Paraná, atualmente estábaseada em associações municipais que exercematividades voltadas para a organização paranovas tecnologias e para a comercialização.

Esse caminho foi escolhido a fim de tornar asinformações mais acessíveis ao produtor, fortalecere representar a classe, além de facilitar o sistemade compra de insumos e venda da produção.

Na região, verifica-se a existência de seteassociações de piscicultura, que começaram ase organizar a partir de 1994, reunindo um totalde 196 piscicultores.

Para Carvalho (1996a, p.01), “os agricultoresque se reúnem em associações são aqueles quepossuem características de liderança e estãosensibilizados com a utilização de tecnologia.A educação de novos sócios decorre dentrevários fatores, do sucesso da atividade”.

O total de piscicultores associadoscorrespondem a 41,1% do total de piscicultoresdessa região, tendo como benefícios diretos afacilidade na resolução de seus problemas,dentre eles a diminuição de custos de produçãoe a comercialização dos peixes.

A seguir, observa-se na Tabela 7, o nome dasAssociações existentes na região, bem como oseu respectivo número de associados.

Tabela 7 – Nome das Associações e número de Associados.

Nome das Associações N° de AssociadosAPAQ – Associação Procopense de aquicultura 43APAR – Associação dos Piscicultura de Andirá e Região 34APAS – Associação dos Piscicultores de Assaí 22APIP – Associação Pinhalense de Piscicultores 16APPB – Associação de Piscicultores de Pedra Branca 27ASPA – Associação dos Piscicultores de Abatiá 38ASPRA – Associação dos Piscicultores de Rancho Alegre 16TOTAL 196

Fonte: Carvalho (1996 b)

Essas Associações apresentam estatutos eestrutura administrativa bastante semelhantes,sendo constituídas por presidente, vice-presidente,tesoureiro, secretário e conselho fiscal.

Dessas Associações, cinco reúnem-sebimestralmente, uma trimestralmente e outramensalmente. Somente duas delas possuem sedeprópria onde são realizadas as reuniões, as outrasutilizam o espaço físico da EMATER, da SEAB,e dos salões paroquiais, para suas reuniões.

A manutenção financeira das Associações éfeita de diversas formas: contribuições mensais,bimestrais, porcentagem sobre as compras evendas de insumos e sobre a comercializaçãodos peixes.

Uma das preocupações dos piscicultoresassociados refere-se à recuperação e conservaçãodos mananciais, pois a piscicultura depende daquantidade e qualidade da água.

Outras preocupações dessas associações são:– procurar diversificar as espécies cultivadas

para atender o mercado consumidor;– introduzir novas espécies no sistema de criação;– fomentar maior participação dos associados;– diversificar os canais de comercialização,

processamento e industrialização do pescado;– melhorar a qualidade e o preço da ração e

buscar subsídios para maquinários naconstrução e recuperação dos viveiros.

Page 65: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

189Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

Quanto à compra de alevinos, as associaçõeslevam em consideração dois fatores: a tradiçãodo produtor e o preço do milheiro de alevinos.

Dentre as estações de alevinagem, aquela quemais fornece alevinos para estas associações é aFazenda Cedral, de Andirá – PR,correspondendo a 27,7% do total (período1990/1997).

Nenhuma das associações anteriormentearroladas demonstrou o propósito de produziros seus próprios alevinos.

Quanto ao consumo percentual de raçõesutilizadas pelos associados, foram os seguintespercentuais:– 3,0% farelada;– 72,3% peletizada;– 24,7% extrusada.

Em 1995, a média consumida de raçãobalanceada por Associação atingiu 490 toneladas.

Dentre às associações, a APAR (Associaçãodos Piscicultores de Andirá e Região), possui amaior produção e a maior produtividade, naregião Norte Pioneira do Paraná.

Os objetivos atuais das associações depiscicultores se prendem à viabilização dacomercialização, compra de insumos emconjuntos; diminuição dos custos de produção,aumento da produtividade e ampliação domercado. Como propostas das associações paraações futuras aparecem: ampliação do mercado,implantação de indústrias de filetagem,treinamento dos associados e manutenção deconvênios com instituições tecnológicas.

3. OS PROBLEMAS DA PISCICULTURA

Como qualquer outra atividade econômica,pode-se constatar que a piscicultura tambémnão está isenta de problemas, os quais podemcomprometer parcial ou até totalmente aatividade, dependendo da gravidade da situação.

Dentre os principais problemas pode-se citar:falta de oxigênio na água, entrada de peixesestranhos nos tanques, presença de animaispredadores, surgimento de algumas doenças ou

parasitas, surgimento de algumas plantasaquáticas não desejáveis e contaminação da águapor praguicidas.

Falta de Oxigênio

A falta de oxigênio na água é notada quandoos peixes aparecem à flor da água pela manhãou não se assustam quando se faz barulhopróximo da represa.

A causa principal da falta de oxigênio na águaé quando o tempo permanece nublado pormuitos dias, no período de verão, pois ainsolação é o fenômeno responsável pelaprodução do oxigênio.

Há várias soluções para tal problema: renovara água, agitar a mesma e suspender aalimentação até que o problema deixe de existir.

Peixes Estranhos

Os peixes estranhos podem chegar aostanques pelo canal que abastece os mesmos,podendo exterminar os alevinos ou aindacomerem seus alimentos.

Doenças ou Enfermidades

Qualquer atividade de piscicultura devecontar, desde o seu início, com o apoio daictiopatologia. Seus efeitos podem prevenir econtrolar, a tempo, casos de enfermidades eevitar que estas se convertam em epizootiasmassivas que podem causar desastres.

Os peixes, como todos os seres vivos, estãosujeitos a muitos tipos de enfermidades, cujascausas são as mais diversas possíveis.

Com o progresso da piscicultura, umnúmero maior de espécies de peixes passou aser criada, havendo consequentemente, umincremento na probabilidade de ocorrência dedoenças, nascendo a necessidade de novas técnicasque previnam, controlem e combatam comeficácia tais enfermidades, daí o surgimento daictiopatologia (estudo de enfermidades dos peixes).

O estudo no que se refere às enfermidades depeixes, as causas e modificações de seu

Page 66: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

190 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

comportamento e até quanto à mortalidade, éativado constantemente, devido ao interesseecológico, sanitário e econômico que isso representa.

Para Rocha e Ceccarelli (1995, p. 2)

A ampla variedade de parâmetros existentes nomeio aquático quando alterados, além dos limitesaceitáveis, podem predispor os peixes e assimcausar alguma enfermidade e até mortalidade, asquais podem ocorrer devido a uma diversidade decausas, algumas de origem natural outrasprovocadas pelo homem. As naturais são aquelascausadas por fenômenos tais como: variação bruscade temperaturas; presença de algas tóxicas; água;disponibilidade de espaço e alimento; presença debactérias, fungos, parasitas, etc. as causadas pelohomem podem ser atribuídas à contaminação doscursos hídricos por diversos poluentes.

A prevenção é a melhor maneira que seencontra para garantir a saúde dos peixes. Empiscicultura há uma série de medidas que, setomadas oportunamente, podem reduzir emmuito o surgimento de enfermidades.

O manuseio desnecessário de peixes, deveser evitado, pois pode causar-lhes ferimentosque, por menores que sejam vão ensejar oestabelecimento de organismos patogênicos eo início de enfermidades. Visando reduzir osurgimento de enfermidades deve-se levar emconta algumas medidas, tais como:– fornecimento aos peixes de água em

abundância e de boa qualidade;– calagem contínua ou periódica em viveiros

a fim de manter a pH neutro;– seleção rigorosa de reprodutores, uma vez que

os indivíduos fortes apresentam alta resistênciaao ataque de organismos patogênicos e até acondições adversas ao meio;

– densidade de estocagem;– quantidade de alimento cuidadosamente

calculada para que sobre o mínimo possívelde detritos;

– qualidade da ração.As enfermidades de maior ocorrência em

sistemas de criação de peixes no Brasil são asinfecciosas e as parasitárias, as quais sãoconseqüências de um cuidado deficiente econdições anti-higiênicas.

Fatores ambientais desfavoráveis oualimentação inadequada, atuam de formaprejudicial sobre a saúde e diminuem acapacidade de resistência, o que facilita umataque secundário dos chamados parasitos daenfermidade, ou mesmo a aparição deenfermidades graves, como a ascite e a tuberculose.

O cuidado apurado com os peixes(alimentação racional, higiene dos viveiros etanques, densidade de estocagem, qualidadesfísico-químicas da água, etc...), constitui-senuma medida preventiva contra asenfermidades infecciosas e parasitárias.

É possível perceber as doenças pelos sintomasapresentados pelos peixes, quando por exemplo,não se alimentam, se movimentam muito eaparecem nadando superficialmente de dorsoou lateralmente e às vezes até mortos boiando.

Sinais de comportamentos anormais dos peixes:

– letargia (insensibilidade, sono profundo);– anorexia (falta de apetite);– perda de equilíbrio (nado em espiral e vertical);– agrupamento na superfície;– respiração agitada (maior batimento opercular);– produção excessiva de muco, provocando

uma aparência opaca, coloração anormal;– machucaduras na pele e/ou nadadeiras;– brânquias inflamadas, erosionadas ou pálidas;– abdômen inflado, algumas vezes cheio de

líquido sanguinolento;– ânus inchado ou enrijecido;– exoftamia (proeminência ocular);– apatia, pouco reflexo a estímulos;– peixes isolados do cardume;– erosão nas nadadeiras.

Entre as doenças mais comuns destacam-se:

– Ichthyophthirius: pontos parecidos comgrãos de areia que aparecem no corpo e nasbrânquias dos peixes;

– Lérnea: é um parasita que ataca a pele dopeixes, sobretudo no ventre, nas brânquias epróximos às nadadeiras. É muito resistentee dificilmente larga o peixe.

Page 67: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

191Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

– Argulus: parasita conhecido como piolho depeixe; podendo ser facilmente identificado;

– Chilodonella: a pele do peixe apresenta umacor opaca ou azulada no dorso, forçando opeixe a se esfregar no fundo do tanque.

Animais Predadores

Há animais que se alimentam de peixes eque geralmente atacam os locais onde se praticaa piscicultura. São as garças, os biguás, osmarrecos, o martim pescador e a lontra.

Vegetação Aquática

Muitos tanques apresentam grandefertilidade, o que facilita o desenvolvimento deplantas aquáticas, como os aguapés. Estes, senão forem controlados poderão cobrir toda asuperfície da água e consumir o oxigênio nelapresente, competindo com os peixes. Asgramíneas plantadas para proteger os aterrostambém têm uma enorme facilidade de cresceremnas bordas dos mesmos, exigindo uma limpezafreqüente das margens dos tanques.

Presença de Praguicidas (agrotóxicos)

A aplicação de venenos nas lavouras cujoslocais estão próximos de nascentes, bem comoa lavagem de equipamentos agrícolas em águascorrentes que abastecem alguma piscicultura,podem contaminar os cursos hídricos o quetornará extremamente prejudicial a utilizaçãodesta água. Por isto, aconselha-se que apiscicultura seja desenvolvida no trecho superiordos cursos hídricos e de preferência que esta sesitue dentro da propriedade do própriopiscicultor, para que este possa exercer maiorcontrole sobre a mesma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo buscou caracterizar aatividade da piscicultura em cativeiro no NortePioneiro do Paraná, mais precisamente nomunicípio de Andirá.

Verificou-se inferir que a piscicultura emcativeiro é uma atividade recente e crescente,podendo ampliar sua área alagada em todos osmunicípios da região Norte do Estado,sobretudo no município de Andirá.

Apesar dessa atividade ainda ser incipientena região, ela poderá apresentar crescimentopara os próximos anos, uma vez que todos osmunicípios possuem área disponível paraconsiderável ampliação.

Notou-se também que a busca de alternativaseconômicas no setor agropecuário, por parte dosprodutores rurais é constante e sempre com aintenção de diversificar a produção e desolucionar parte dos problemas econômicos poreles enfrentados.

Como qualquer outra atividade econômica,a piscicultura também não está isenta de algunsproblemas, os quais podem comprometerparcial ou totalmente a atividade, dependendoda gravidade dos mesmos. Dentre estesproblemas, pode citar-se: falta de oxigênio naágua; entrada de peixes estranhos nos tanques;presença de animais predadores; surgimento dealgumas doenças ou parasitas e o surgimentode algumas plantas aquáticas não desejáveis.

Essa modalidade econômica é ainda poucopraticada pelos agricultores em geral, emdecorrência do custo da mesma, da falta de locaisapropriados para sua implantação e até mesmopelo desconhecimento das técnicas de manejo.

A criação de peixes é uma oportunidade paratrazer bons lucros para os produtores rurais, masé importante salientar a necessidade deacompanhamento técnico no manejo daatividade, para que o projeto obtenha bonsêxitos e consiga atingir elevada produtividade.

Neste trabalho foi possível constatar que ogrande crescimento previsto para a atividadepiscicultora na região, se por um lado é umaboa noticia em virtude do aumento da rendapara o produtor, por outro, é um fatorpreocupante visto que essa atividade, sem oadequado conhecimento técnico, pode tornar-se uma fonte poluidora dos mananciais hídricospela produção dos resíduos biológicos no

Page 68: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

192 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

processo produtivo. Tal aspecto demandafuturos estudos, pois ainda são desconhecidosos dados quantitativos sobre os impactosambientais desta atividade. A própriapiscicultura poderá tornar-se num mecanismode canalização de atividades educacionais aostécnicos e produtores envolvidos, visando umenfoque conservacionista dos recursos hídricos,visto que estes são essenciais para a produçãode peixes. Os estudos sobre a capacidadepoluidora da piscicultura são raros e ainda sãoincapazes de quantificar de maneira eficientetodas as conseqüências advindas dessasatividades. A piscicultura poderá ser usada comomodelo na luta em prol da recuperação epreservação dos recursos hídricos da região.

No tocante à comercialização da produçãoobservou-se que a quase totalidade da produçãoda região (98%) está voltada para o mercadode pesca esportiva do estado de São Paulo, oque demonstra uma certa vulnerabilidade destaatividade, a qual deveria estabelecer outrasestratégias de comercialização mais concretas,como a industrialização, por exemplo.

O Brasil possui vantagens naturais emrelação à piscicultura quando se compara comoutros países onde o cultivo de peixes encontra-se mais desenvolvido. Uma das principaisvantagens a ser destacada é a quantidade de águadisponível, além disto, a temperatura, um dosprincipais fatores climáticos relacionados como desenvolvimento dos peixes, é propíciadurante a maior parte do ano, permitindo comisto, um maior crescimento, boa conversãoalimentar e consequentemente, um bomdesempenho. Aliado a estas vantagens, o Brasiltambém é um país que apresenta bomdesenvolvimento agrícola, tendo uma grandedisponibilidade de produtos e subprodutos quepodem ser utilizados na produção de rações.Estes fatores associados permitem que haja aconsolidação da atividade piscicultora na regiãoe no país. Portanto, a piscicultura é umaatividade econômica que pode ser viabilizadanuma pequena propriedade rural, desde que estaapresente condições ambientais favoráveis à

instalação da mesma (várzea planas, qualidadee quantidade de água, entre outras).

Como esta atividade emprega várias pessoasno seu cotidiano, sobretudo na distribuição deração, na conservação dos taludes, no controleda qualidade da água, ela pode utilizar-se dasrelações de trabalho familiar, aliás é o tipo derelação de trabalho que predomina naspropriedades piscicultoras do município deAndirá e da região Norte Pioneira do Paraná.

Em Andirá, predomina a pequenapropriedade rural com 16 (dezesseis) alqueiresou 38 (trinta e oito) hectares em média, equanto à piscicultura apresenta 104 ha de áreaalagada distribuída por 58 (cinqüenta e oito)piscicultores, o que eqüivale a 1,8 ha em média,de área alagada por produtor rural piscicultor.

Conclui-se com isso que a pisciculturapoderia ser encarada como uma atividadeeconômica alternativa para o produtor rural,além de permitir a fixação do homem no campo.

Uma contribuição oriunda da pisciculturaem cativeiro é a forma de lazer que a mesmadesperta, nos pesqueiros (pesque-pague). Destaforma, no município e na região, a mesmapoderia ser incluída nos programas deEcoturismo, visando desenvolver um espíritopreservacionista, tanto das espécies daictiiofauna, quanto do meio ambiente em queela vive (cursos hídricos). A própria pisciculturapoderia transformar-se num mecanismo quedesenvolvesse ideais conservacionistas dasespécies de peixes, dos mananciais, das matasciliares, da erosão do solo, do assoreamento dosrios, entre outros.

Em virtude da piscicultura ser uma atividadeeconômica recente e crescente, a mesma carecede estudos, sobretudo de cunho geográfico, quemensurem qualitativa e quantitativamente osseus resultados e conseqüências.

A piscicultura deve ser aliada à conservaçãodos recursos hídricos, para tanto é importanteque os projetos sejam criteriosos e desenvolvidospor profissionais habilitados.

Com este estudo pretendeu-se contribuirpara o avanço do conhecimento de uma

Page 69: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

193Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 175-193, jul./dez. 2001

atividade do setor primário no espaço geográficonorte paranaense como outra alternativaeconômica para o trabalhador da zona rural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, S. de. Diagnóstico de associações depiscicultores da região Norte do Paraná: estudo deconservação de recursos hídricos e desenvolvimentoda piscicultura. Brasília: ABEAS, 1996a.

______. Diagnóstico dos recursos hídricos dosmunicípios da região Norte do Paraná: estado deconservação e potencial para piscicultura. Brasília:ABEAS, 1996b.

CASTAGNOLLI, S. Criação da carpas em tanques– rede. São Paulo: Científica, 1991.

FURUYA, W. M. Nutrição de peixes. Maringá – PR:AZOPA/UEM, 1997. Curso de Atualização emPiscicultura de Água Doce por tutoria a distância.Módulo VI.

MELO, A.R. A piscicultura em cativeiro nomunicípio de Andirá-PR. 1998. Dissertação(Mestrado em Geografia) – UNESP – PresidentePrudente – SP.

PINELLI, J. L. da C. Perfil da piscicultura no Nortedo Paraná. Andirá – PR: EMATER, 1997.

ROCHA, R.C.G.A. e CECCARELLI, P.S.Sanidade, patologia e controle de enfermidades depeixes. Pirassununga – SP: IBAMA – CEPTA,1995.

SOUZA, M. L. R. de; LIMA, S.; VARGAS, L.Industrialização, comercialização e perspectivas.Maringá – PR: AZOPA/UEM, 1998. Curso deAtualização em Piscicultura de Água Doce portutoria à distância. Módulo XII.

TEIXEIRA FILHO, A. R. Piscicultura ao alcancede todos. São Paulo: NOBEL, 1991.

Pisciculture in Captivity as an Economic Alternative for Rural Áreas

ABSTRACTThis study meant to study the pisciculture in captivity as an emerging zootechnic acitivity in Brazil, a segment of theprimary sector that must be looked at as another economic alternative and whose growth comes to occur in the countryand that comes to benefit the man in the rural zone.

KEY-WORDS: pisciculture in captivity, cannibalism, acquiculture, exotic species, hipofisation

Page 70: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 71: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

195Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

INTRODUÇÃO

As questões relacionadas à população temsido objeto de atenção do Estado brasileiro, asquais estão intimamente relacionadas ànecessidade de suprir a mão-de-obra emdiferentes áreas do seu território.

Segundo Vainer (2000, p. 15), é possívelidentificar grandes estratégias de mobilização elocalização de populações, as quais caracterizamos diferentes períodos da história das políticasmigratórias. Dentre elas, podemos destacar: (a)transição para o trabalho livre e a estratégia detransformação do escravo liberto em proletáriomoderno (1850-1888); (b) substituição doescravo por migrantes e a estratégia imigrantista-agrarista (1860-1940); (c) migrações internase estratégia de gestão regional dos excedentes(décadas de 1950 a 1960); (d) integração

A Atuação Governamental e o Processo de MigraçãoInterna: O Caso da Vila Rural da Paz – Rolândia (Pr)

Júlia Luciana Pereira das Dores*

Alice Yatiyo Asari**

RESUMOEste trabalho buscou analisar o processo de migração interna no Brasil, particularmente no Estado do Paraná, assimcomo verificar as ações do Governo, tendo como objeto de estudo a Vila Rural da Paz, situada no Distrito de SãoMartinho – Rolândia PR. Além disso, analisou-se a trajetória de vida dos moradores residentes na Vila, tendo comoponto fundamental os deslocamentos, a industrialização do campo, e o papel do Programa Vilas Rurais na fixação dostrabalhadores rurais no município de Rolândia e as suas estratégias para a implantação. Para isso, foram realizadasleituras e discussões associadas ao assunto, como também o trabalho de campo que consistiu nas entrevistas com osmoradores da Vila Rural em que se verificou a sua história de vida. A análise dos resultados obtidos subsidiou as reflexõessobre as migrações internas, a modernização da agricultura, a ação do Estado e o Programa Vilas Rurais, a organização ea produção da Vila, além das perspectivas para o futuro.

PALAVRAS-CHAVE: migração interna; ação governamental; vilas rurais.

* Aluna-bolsista de IC-PIBIC-CNPq, Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina – Pr.** Professora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina –Pr. e-mail: [email protected]

nacional e a estratégia de racionalizaçãoterritorial dos fluxos migratórios (1964-1985)e (e) fragmentação territorial, violência e aestratégia da gestão social dos migrantes (etapaneo-liberal).

Estas cinco estratégias de mobilização elocalização de populações, não podem sercompreendidas como sucessivas e excludentes,ao contrário, estas coexistiram, às vezes,harmoniosamente, ou de forma contraditória,evidenciando a complexidade do processohistórico, as diversidades de interesses de gruposeconômicos dominantes e do Estado.

No tocante a quinta estratégia, fragmentaçãoterritorial, violência e a estratégia da gestão socialdos migrantes, há que se notar que na décadade 1980, emergem os conflitos fundiários, faceo esgotamento das fronteiras agrícolas e osmovimentos organizados de luta pela terra

Page 72: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

196 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

começam a se articular. Neste momento, oconceito de população como recurso ésubstituído pelo conceito de população comoônus ou custo. Um indicativo desta novapostura é a transferência das migrações internasda esfera do Ministério do Interior para oMinistério da Ação Social, no início do governoCollor. Ao mesmo tempo, verifica-se que háuma fragmentação das ações, sinalizando aabdicação, por parte do Estado central, noestabelecimento de estratégias e políticasterritoriais em escala nacional. Assim, porexemplo, as cidades formularam e aplicarampolíticas de segregação e fechamento doterritório urbano a migrantes, que, numa visãosimplista pode ser considerada autogestãoterritorial. Mas, não seria um controle à livrecirculação de pessoas, fechando os espaços? E,no Estado do Paraná, quais teriam sido as ações,no contexto desta fragmentação decompetências e atribuições?

Buscando responder a tais indagações é quese realizou uma pesquisa empírica sobre umprograma do governo paranaense que objetivapossibilitar a melhoria das condições de vidados trabalhadores rurais, melhoria estaentendida como o acesso a casa, infra-estruturabásica, serviços sociais essenciais e o retorno ao“modo de vida rural”, com um lote de 5000 m2

, em Vilas Rurais próximas a DistritosAdministrativos (que contam com pequenosnúcleos urbanos), que dariam o suportenecessário à sua consolidação.

No entanto, há que se fazer uma breveconsideração sobre os fatos que marcaram oterritório brasileiro, tanto os ligados à economiapredominante, quanto os relacionados aosmovimentos de população, os quais estiveramestreitamente vinculados às necessidades demão-de-obra. Estas reflexões encontram-se noitem a seguir.

A pesquisa teve como objetivo geraldesenvolver um estudo centrado na análise doprocesso de migração interna e da ação dogoverno do Paraná, na Vila Rural da Paz,localizada em São Martinho – Rolândia – PR.

Dentre os objetivos específicos destacaram-se: a investigação da trajetória de vida dasfamílias contempladas pelo Programa VilasRurais, a fim de compreender os fatores quelevaram aos deslocamentos e estes àstransformações ocorridas no campo, inter-relacionados aos aspectos econômicos, políticos,sociais. Além disso, buscou-se entender aprofundidade do processo de modernização daagricultura, a qual foi responsável pela liberaçãode mão-de-obra que se dirigiu para as fronteirasagrícolas ou centros urbanos. Ainda, objetivouanalisar o processo de migração interna no Brasilcom ênfase para o Estado do Paraná.

Quanto à metodologia de investigaçãoutilizada para a realização deste trabalho, fez-seo levantamento bibliográfico, o fichamento ereflexões a partir de publicações associadas aostemas em análise.

A pesquisa incluiu ainda trabalhos de campo,aplicação de questionário, junto aos moradoresda Vila Rural Da Paz, como também entrevistascom representantes de órgãos públicos quetivessem ligação com a problemática em análise.Em seguida, elaborou-se tabelas, gráficos, cartastemáticas a partir dos dados coletados em campoe realizou-se a descrição e análise dos mesmos.

Na metodologia de análise refletiu-se sobreo referencial teórico, discutindo obraspertinentes à modernização da agricultura,reforma agrária, ação do Estado e migraçõesinternas. Neste item, foram feitas algumasreflexões acerca das transformações de que foipalco a economia e o território brasileiro, tendoem vista as estratégias do Estado e osdeslocamentos espaciais realizados pelapopulação, em função da necessidade de mão-de-obra para a produção, processamento edistribuição de produtos a serem consumidosno país ou no exterior.

BREVES CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

A economia brasileira até final da décadade 1920, era baseada na agricultura. A partirda crise econômica de 1930, o Brasil passou a

Page 73: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

197Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

ter sua economia voltada para o setor industrial,na qual a agricultura deixou de ser o setordominante, dando lugar às indústrias e aosserviços, especificamente urbanos.

No desenvolvimento da agriculturabrasileira, há que se destacar que no início daindustrialização, fortaleceu-se e consolidou-sevários centros urbanos, provocando tambémtransformações na produção agrícola do país,que passou a produzir não apenas produtosalimentícios, mas também matérias-primas paraatender as indústrias.

Segundo Graziano da Silva (1996, p. 30),

No início dos anos sessenta, que corresponde aofinal da fase de industrialização pesada no Brasil,instalam-se no país as fábricas de máquinas einsumos agrícolas. Assim, por exemplo, sãoimplantadas indústrias de tratores e equipamentosagrícolas (arados, grades, etc.), fertilizantesquímicos, rações e medicamentos veterinários, etc.(...). O importante é que, a partir da constituiçãodesses ramos industriais no próprio país, aagricultura brasileira iria ter que criar um mercadoconsumidor para esses “novos” meios de produção.Para garantir a ampliação desse mercado, o Estadoimplementou um conjunto de políticas agrícolasdestinadas a incentivar a aquisição dos produtosdesses novos ramos da indústria, acelerando oprocesso de incorporação de modernas tecnologiaspelos produtores rurais. A industrialização daagricultura entrava assim numa outra etapa.

Observe-se que as transformações ocorridasna agricultura trouxeram não apenas novosramos industriais inseridos no setor agrícola efornecimento de matérias-primas para asmesmas, mas também mudanças qualitativas naforma de produzir, ou seja, a especialização daprodução. A agricultura reduz a produçãorealizada de forma diversificada (uma sópropriedade cultivando diversos produtos), epassa a adquirir a forma de monocultura(cultivar um tipo de produto). Com isso,verifica-se que a própria agricultura passa a seindustrializar, seja como compradora deprodutos industriais (insumos agrícolas e meiosde produção), seja como produtora de matéria-prima para as atividades industriais.

Nota-se que a industrialização da agriculturaprovoca um intenso inter-relacionamento entrea agricultura e a indústria, ocorrendo a efetivaçãodo modo de produzir industrial no campo. Esteprocesso tem eliminado a separação entre cidadee campo. Para Oliveira (1998, p. 477),

cidade e campo vão-se unindo dialeticamente,quer no processo produtivo, quer no processo deluta por melhores salários, por melhores preçospara os produtos agrícolas e particularmente pelareforma agrária.

Como já foi dito, a partir das décadas de1960/70, ocorreu no setor agrícola umaaceleração do processo de modernização, coma substituição dos trabalhadores rurais pormaquinários, tendo em vista o aumento darentabilidade deste setor. Com relação,especificamente, ao Estado do Paraná pode-sedestacar que no início da década de 1970, coma decadência (mas não sua extinção) do cultivodo café, nas regiões Norte e Oeste do Estado,que em décadas anteriores atraíra muitosmigrantes, inicia-se um processo de expulsão destespara outras regiões e cidades. Com isso, o Estadofoi obrigado a desenvolver um processo dediversificação agrícola e a incentivar a instalaçãode agroindústrias em diversos pontos do Paraná.

Verifica-se que, houve também a ascensãodas culturas de trigo e de soja, transformando-se nos principais produtores no Paraná,passando a obter maior quantidade definanciamentos dos bancos oficiais. Note-se quea maior parte das terras ocupadas pelacafeicultura cederam espaço para as culturas degrãos, pastagens, cana de açúcar, dentre outras.

Um dos elementos para entender a expulsãode milhares de trabalhadores da zona rural nesteperíodo está na evolução do número de tratorese colheitadeiras: segundo o IBGE, em 1960existiam 5.181 tratores e 986 colheitadeiras; jáem 1980, eram 79.377 tratores e quase 15.000colheitadeiras. Recentemente, numa parceria dogoverno do Estado e da iniciativa privada, há aretomada da cafeicultura na região Norte doEstado com o uso de novas tecnologias de

Page 74: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

198 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

plantio e de sementes selecionadas, além da novaforma de plantio – o café adensado.

Constata-se, portanto, que com astransformações econômicas ocorridas a partirda década de 1970, na agricultura paranaense,alterou-se a distribuição da população doEstado, ou seja, ocorreu uma “evasão”populacional bastante elevada.Consequentemente, esta populaçãoexpropriada, não encontrando emprego e nemterra para plantar, deslocou-se para outros locais(outros Estados e centros urbanos). Ressalte-seque, segundo Martine (1991), cerca de 30milhões de pessoas abandonaram o campobrasileiro, no período compreendido entre 1960e 1980, parte dos quais devem ter engrossado apopulação sem especialização em trabalhosurbanos que se dirigiu para os centros urbanos.Segundo Fleischfresser (1988), na década de1970, um milhão de pessoas foram “expulsas”da zona rural paranaense, face a erradicação doscafezais, a ocorrência de fortes geadas, asubstituição de culturas (café pela soja, trigo epastagens), a concentração fundiária, fatos estesque se inserem no conjunto da modernizaçãoconservadora da agricultura.

A partir deste contexto pode-se destacaralgumas características do processo migratórioocorrido no Brasil, e particularmente no Paraná,decorrentes da intensificação da industrializaçãoe modernização da agricultura. Para isso, énecessário fazer um histórico das migraçõesinternas no Brasil, destacando sua evolução eos “ciclos” econômicos que tiveram grandeimportância na intensificação dosdeslocamentos populacionais, a procura dasregiões de fronteiras agrícolas ou centrosurbanos de médio e grande porte.

Entende-se, segundo Valim (1996), fronteiraagrícola como sendo as áreas novas ainda nãodesbravadas, cuja ocupação é estimulada pelogoverno através de projetos de colonização,oficiais ou particulares. Considera ainda, que oprimeiro momento de deslocamento parafronteira agrícola no Brasil, ocorreu na décadade 1930, com a expansão da economia cafeeira

para o Estado do Paraná, através das açõesdesenvolvidas por empresas colonizadoras.Portanto, tem-se que no período de 1940 a1960, o Paraná foi considerado a principalfronteira agrícola do país, recebendo grandecontingente populacional.

Para Fausto (2000, p. 533),

A história do afluxo de migrante e da colonizaçãodo Paraná não se situa propriamente nos limitescronológicos dos anos 1950-1980, mas tem suamatriz nos anos 20. Por essa época, uma empresainglesa – a Companhia de Terras do Norte doParaná – comprou terras do Estado e começou avendê-las em lotes a pequenos agricultores. Maisde 80% das áreas vendidas pela companhia tinhamquarenta hectares ou menos, um claro indicadordo estabelecimento de pequenos proprietários.Muitos deles vieram de regiões saturadas de SãoPaulo e do Rio Grande do Sul. (...) A enormeexpansão rural do Paraná teve assim uma históriaoriginária diversa de São Paulo. Ela se baseou namigração interna, na pequena propriedade e nosincentivos proporcionados por uma empresaprivada e não pelo Estado.

Considera-se, portanto, que a influência doEstado no processo migratório brasileiro estáassociado a evolução histórica do país, como sevê com as intervenções governamentais nosmovimentos migratórios, a seguir explanadas.

Inicialmente, tem-se os deslocamentos entreos povos indígenas que buscavam novosterritórios e alimentos para sobrevivência. Mas,com a chegada dos migrantes colonizadores, osíndios migraram para fugir da violência causadapelos “brancos”. O segundo contingente refere-se aos negros, trazidos da África, peloscolonizadores, para trabalharem como escravos.Estes chegaram ao Brasil por volta dos séculosXVII e XVIII, e acompanharam a trajetória dasprincipais atividades econômicas: cana-de-açúcar, ouro e café. Um terceiro fluxomigratório surge com a proibição do tráficonegreiro em 1850, e, com a abolição daescravatura em 1888; foram os imigranteseuropeus, que se dirigiam principalmente paraas fazendas de café. Percebe-se que estesimigrantes migraram por motivos sócio-

Page 75: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

199Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

econômicos e políticos, diante do processo deindustrialização ocorrido em vários paíseseuropeus. Seriam pessoas expropriadas, quebuscaram no Brasil, uma forma de fuga daspressões européias e uma maneira desobrevivência. Ainda, hoje, ocorre este tipo dedeslocamento e com maior freqüência nascidades médias e grandes brasileiras, mas comdiferentes situações econômicas e políticas, e atémesmo sociais e culturais. Para entender isto,Valim (1996, p. 9), destaca que:

migrando atrás de novas terras, de safras agrícolasou rumo às cidades, os migrantes são resultadosdo processo político e econômico do país,arrastados pelas promessas oficiais de sucessivosgovernos, incentivados pelo sonho de uma vidamelhor ou movidos pela necessidade de sobreviver.

Outro ponto relevante, referente a atuaçãodo Estado, foram os incentivos e uma políticaagrícola, favorecendo a agricultura deexportação, expulsando o trabalhador docampo, que por este motivo dirige-se para ascidades em busca de melhores condições de vida(habitação, emprego, alimentação, enfim, desobrevivência).

Destaca Valim (1996) que o governo adotouum modelo de modernização conservadora,visando aumentar a produção agrícola para aexportação, direcionando os subsídios e créditosaos grandes proprietários. Isso contribuiutambém para a concentração da propriedade edo uso da terra, que juntamente com amodernização da agricultura favoreceu aexplosão do êxodo rural, que se constitui nodeslocamento da população rural para o meiourbano, ou a liberação de mão-de-obra deatividades agrícolas para as atividades urbanas.

Observa-se que a análise das migraçõesinternas no Brasil abrange o estudo dasprincipais características da população migrante,as circunstâncias do deslocamento, a sociedadee a cultura na qual será inserida. Para isso éimportante destacar os principais objetivos doPrograma Nacional de apoio às MigraçõesInternas, que buscava criar estímulos para

melhorar o nível de renda da camadapopulacional de baixa renda, a partir doaumento das oportunidades sócio-econômicasem áreas diferenciadas.(BRASIL, 1980)

As diretrizes de orientação na açãogovernamental no âmbito das migrações,constantes no Programa se referem a: influenciaras decisões inerentes a alocação de investimentospúblicos e privados sobre a área, buscandoreorientar a distribuição de atividadeseconômicas e promover melhor distribuiçãoespacial da população; promover medidas decriação de empregos, favorecendo atividadeseconômicas de absorção intensiva de mão-de-obra; reduzir os custos sociais ocasionados pelasmigrações à população migrante de baixa renda;elaborar e manter atualizada uma estratégia dedistribuição espacial da população, a partir dealternativas de ocupação do território e deremanejamento da população; promover e fixarmão-de-obra em áreas agrícolas; viabilizar afixação do pequeno produtor rural.

Estas últimas estratégias assemelham-se àsações empreendidas pelo Estado paranaense noque se refere à distribuição espacial da populaçãode baixa renda, constituída de pequenosprodutores rurais, trabalhadores rurais,remanejando-a para a área rural (mas próximaa núcleos urbanos), como será relatado nopróximo item.

PROGRAMA VILAS RURAIS. O EXEMPLODA VILA RURAL DA PAZ. SÃOMARTINHO – ROLÂNDIA

No ano de 1995, o governo do Estado doParaná, objetivando fixar o trabalhador rural nocampo e possibilitar-lhe melhores condições devida, criou e implantou o Programa Vilas Rurais.

Participam deste programa, na execução dasdiferentes etapas de implantação das VilasRurais e de assessoria às famílias, dozeinstituições governamentais, juntamente comas prefeituras municipais. São elas: SEAB(Secretaria do Estado da Agricultura e do

Page 76: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

200 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

Abastecimento); EMATER/PR (EmpresaParanaense de Assistência Técnica e ExtensãoRural); COHAPAR (Companhia Paranaense deHabitação); CODAPAR (Companhia deDesenvolvimento Agropecuário do Paraná);SANEPAR (Companhia de Saneamento doParaná); COPEL (Companhia Paranaense deEnergia); SECR (Secretaria de Estado daCriança e Assuntos da Família); SERT(Secretaria de Estado do Emprego e Relaçõesdo Trabalho); SEED (Secretaria de Estado daEducação); SESA (Secretaria de Estado daSaúde); SUDERHSA (Superintendência deDesenvolvimento de Recursos Hídricos eSaneamento Ambiental); IAP (InstitutoAmbiental do Paraná).

O programa Vilas Rurais propicia aotrabalhador rural volante o acesso a um lote

mínimo de 5000m2, e uma casa de alvenariacom 44,56m2, com infra-estrutura de água,energia elétrica e sistema sanitário, onde oproprietário manteria uma produção desubsistência, podendo vender o excedente paraaumentar a renda familiar. As unidades sãofinanciadas em média por 25 anos, tendo 30meses de carência. Neste período, os moradorespagam mensalidades simbólicas e após esteperíodo as prestações tem o valor de 20% dosalário mínimo.

As Vilas Rurais devem-se localizar próximas aDistritos ou estradas de acesso fácil, buscandofacilitar o deslocamento à escola, aos hospitais, e aoconsumo de bens e serviços. Atualmente, em todoo Estado do Paraná, existem 354 Vilas Ruraisconcluídas e 44 em obras totalizando 13.626famílias beneficiadas e 1.810 a serem contempladas:

VILAS RURAIS

Programa Concluídas Em obras Total

Vilas Rurais 354 44 398

Famílias beneficiadas 13.626 1.810 15.436

Fonte: www.pr.gov.br/vilasrurais, atualizado em 05/06/2001 e capturado em 10/06/2001Org.: Júlia Luciana Pereira das Dores

Quadro1

Os beneficiados pelo Programa Vilas Ruraissão os trabalhadores rurais volantes e suasfamílias, e, para sua instalação na Vila, otrabalhador deve preencher os seguintesrequisitos: ser trabalhador rural volante (bóia-fria), ter experiência agropecuária; idade máximade 55 anos; ser morador do município há doisanos; não possuir imóvel; exercer atividaderemunerada em caráter temporário em áreas rurais;possuir renda familiar de até três salários mínimospor mês; estar morando em sub-habitação e terfamília constituída, com filhos.

A pesquisa empírica foi realizada na Vila RuralDa Paz, localizada no município de Rolândia,particularmente, no Distrito de São Martinho.

Segundo Villanueva (1974) e a publicaçãoda Companhia Melhoramentos Norte do

Paraná (1975), o município de Rolândia fezparte da área colonizada pela Companhia deTerras Norte do Paraná (CTNP), que promoveuo parcelamento de 500 mil alqueires, empequenas propriedades que tinham seus pontosde apoio em cidades de pequeno e médio porte.É o caso de Rolândia que foi fundada porimigrantes alemães por volta de 1932, e após aescolha do local foi denominada de GlebaRoland. Mas, sua ocupação desenvolveu-se apartir de 1933, marcada pelo afluxo de famíliasque vieram ocupar os lotes agrícolas. Suasprimeiras plantações eram de subsistência, comocultivo de milho, arroz, mandioca, batata eoutros, e posteriormente o plantio de café.

Do ponto de vista dos limites geográficos etopográficos, partindo de Leste para Oeste,

Page 77: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

201Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

como ocorreu na ocupação do Norte do Paraná,suas divisas eram orientadas pelo divisor d’águadenominado de espigão velho, com lotesagrícolas voltados todos para a vertente norte,sendo a oeste voltado para o grande chapadão,onde se instalou no futuro a planta urbana deRolândia. Dirigindo-se até as nascentes docórrego Arapongas, indo novamente peloespigão em que ocorriam picadas do norte emdireção ao sul, está localizada a atual estradaque dá acesso a São Martinho1 .Topograficamente, o terreno é onduladoapresentando espigões que acompanham adireção Sul-Norte, a partir do grande espigãoque se dirige no sentido Leste-Oeste.

Pelo Decreto estadual n.º 6589 de 14 de marçode 1938, foi elevada à categoria de DistritoJudiciário, pertencente ao município de Londrina.Em 30 de dezembro de 1943, de acordo com aLei Estadual n.º 199, foi elevada à categoria demunicípio, porém com a denominação deCaviúna. A instalação do município se deu em 1de janeiro de 1944, com a posse do primeiroprefeito municipal Sr. Ary Correia Lima. Pela Leiestadual n.º 2 de 10 de outubro de 1947, passoua se chamar Rolândia. Hoje faz limite com omunicípio de Cambé, Pitangueiras, Arapongas,Jaguapitã, Astorga e Sabáudia.

O município de Rolândia está situado naregião norte do Estado do Paraná, numalocalização geográfica de 23° 19’ 00’’ latitudeSul e 51° 22’ 00’’ de longitude Oeste doMeridiano de Greenwich, apresentando umaltitude de 730 metros e uma área de 47 Km2.

Predomina o clima subtropical úmidomesotérmico, com verões quentes e tendênciaa concentração de chuvas e invernos com geadaspouco freqüentes e sem estação seca definida.A temperatura média anual é de 20,8°C, médiada mínima de 14,8°C e média da máxima de27,2°C. Seu sistema hidrográfico apresenta 28afluentes do rio Pirapó, 32 desembocando norio Bandeirantes do Norte, em direção sul.Possui também como principais ribeirões: do

Ema e Vermelho. O solo é constituído de terraroxa, mista e massapé, propiciando a plantaçãode café, e outras culturas. Atualmente, Rolândiapossui uma população total de 49.404habitantes, sendo distribuídos em 44.641 nazona urbana e 4.763 na zona rural.

RESULTADOS DA PESQUISA EMPÍRICA

A Vila Rural Da Paz, localiza-se em umaárea levemente ondulada a mil metros doDistrito de São Martinho e é constituída por34 unidades habitacionais, sendo uma delas áreainstitucional (Centro Comunitário). Sua área éde 290.400 m2, possuindo uma área de36.512m2 de Reserva técnica (12,57%) e59.402 m2 de área verde (20,46%). O centrocomunitário da Vila Rural é utilizado para arealização de reuniões, festas e outras atividadesrelacionadas a vila, como cursos de culinária(doces caseiros, por exemplo) e palestras sobreo melhor aproveitamento de recursos do local.Neste centro localiza-se o único telefone públicoda vila. Percebe-se também a ausência de postode saúde, escola e ônibus no local, serviçossupridos pelo Distrito de São Martinho.

A Vila Rural, implantada em 1997, apresentabom estado de conservação das moradias e doslotes, existindo uma preocupação dosmoradores na manutenção de suas propriedadese da própria vila, através de cuidados com aaparência, contando com jardins bastantefloridos, plantações bem cuidadas, limpeza doslotes e das casas.

A coleta de lixo ocorre semanalmente, todasas quartas feiras, e a água que abastece asunidades da vila é proveniente de poçoartesiano; os moradores pagam somente aenergia elétrica. Em muitas destas propriedadesverifica-se a existência de “arcos” indicando onome da mesma e a presença de antenasparabólicas e carros.

Page 78: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

202 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

Quanto à história de vida dos moradoresda Vila Rural da Paz, foram entrevistadas 19famílias, com ênfase para a idade, local denascimento, deslocamento dos entrevistados,grau de escolaridade, equipamentos que possuiem casa.

Com relação aos deslocamentos realizadospelos entrevistados observou-se que a maioria éde origem paranaense, com predominância daregião de Rolândia e Norte do Paraná.Constatou-se também que alguns moradoressão originários do Estado de São Paulo, MinasGerais, Bahia e Alagoas. Os motivos dos

deslocamentos referiram-se a busca de melhorescondições de vida, da casa própria, por motivosfamiliares e busca de trabalho.

Dentre os deslocamentos destacam-se osrealizados por dois entrevistados. A primeiraentrevistada, a senhora ACA, de 69 anos, nasceuem Caculé (BA), onde morava na zona rural, etrabalhava no sítio com o pai. Saiu desse localem 1950, devido a seca ocorrida na região epor perder toda a plantação, mudou-se paraMartinópolis (SP), para trabalhar comoarrendatária em plantação de algodão. Nestemesmo ano mudou-se para a Vila Escócia, nesta

Foto 1 – Destaque para o Centro Comunitário da Vila Rural da Paz. Nota-se a presença de um telefonepúblico para atendimento da Vila.

Foto 2 – Uma das unidades da Vila Rural da Paz, mostrando a boa conservação da propriedade, como apresença de jardim e árvores frutíferas e antena parabólica.

Page 79: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

203Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

mesma cidade, continuando a trabalhar naplantação de algodão. Em 1956, saiu deMartinópolis, para trabalhar em São Martinhona zona urbana. Saiu deste Distrito em 1997,para ingressar na Vila Rural Da Paz, com a ilusãode que o café a enriqueceria.

O segundo entrevistado, o senhor DGF, de57 anos, nasceu em Salinas (MG), ondeestudava e morava na zona rural; em 1957,saiu desta cidade dirigindo-se para Ibiporã (PR),em busca de melhores condições de vida. Nestelocal residiu em zona rural, trabalhando comolavrador. Em 1958, mudou-se para asproximidades de Rolândia (PR), continuando a

trabalhar como lavrador e morando em zona rural.Em 1997, destinou-se para a Vila Rural Da Pazem busca de terra, da “propriedade própria”.

Observa-se, a partir destes dois exemplos,que os deslocamentos de pessoas visam asmelhores condições de vida, ou seja, melhorestrabalhos, casa própria e um pedaço de terrapara sobreviver.

Quanto à faixa etária, 17% estão entre a faixaetária de 15 a 19 anos, 13% entre 20 a 24 anose 41% entre 25 e 60 anos, mostrando umsignificativo número de pessoas na faixa etáriaapta para o mercado de trabalho.(Figura 1)

Fonte: Pesquisa “In loco” – 04/05/2001 – Vila Rural da PazOrg. : Júlia Luciana Pereira das Dores

Figura 1 – Idade dos moradores da Vila Rural da Paz.

0 a 14 anos

15 a 64 anos

acima de 64 anos

Com relação ao local de nascimentoverificou-se que 75,6% dos moradores são deorigem paranaense, seguido de 7,5% de SãoPaulo, 2,1% da Bahia, 2,1% do Rio de Janeiro,Minas Gerais e 1,0% de Alagoas, sendo que8,5% dos moradores não souberam responder.Estas informações se completam com os dadosrelativos a idade dos moradores, visto que cercade 75% estão na faixa etária até 40 anos, e estes

coincidem com os nascidos no Paraná (Tabela1). Estes dados também indicam que apopulação residente nas Vilas Rurais éconstituída de jovens; há que se observar queum dos critérios para a seleção dos “vileiros”leva em conta a idade inferior a 55 anos.

Page 80: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

204 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

Tabela 1 – Local de nascimento dos moradores.

Tabela % N.º

A) Estado do ParanáApucaranaArapongasAssaiAstorgaCambéColoradoJaguapitãJesuítasLondrinaLupionópolisRolândia

75,6 71

Subtotal 75,6 71B) Estado de São PauloCaçapavaNarandibaRibeirão BonitoSão Paulo

7,5 7

Subtotal 7,5 7

C) Estado da BahiaCaculéVitória da Conquista

2,1 2

Subtotal 2,1 2

D) Estado do Rio de JaneiroCambuciRui Barbosa

2,1 2

Subtotal 2,1 2E) Estado de Minas GeraisJacuíSalinas

3,2 3

Subtotal 3,2 3F) Estado de AlagoasPalmeira dos Índios

1,0 1

Subtotal 1,0 1

Não responderam 8,5 8Subtotal 8,5 8Total 100 94

Um fato a destacar refere-se à disparidadedo grau de escolaridade da população residentena Vila Rural da Paz. Analisando a Tabela 2,verifica-se que 4,2% são analfabetos, ou seja,sem estudo nenhum ou sabendo apenas escrevero seu nome. 45,0% da população chegou atéou está cursando entre 1ª e a 4ª séries do ensino

fundamental; 26,5% entre 5ª e 8ª séries deensino fundamental; apenas 7,4% entre 1ª e 3ªséries do ensino médio e somente 3,2%apresentam ensino fundamental e médiocompleto. Conclui-se, portanto, que aescolaridade, embora em nível inferior, estásendo usufruída pela população mais carente,neste caso da Vila Rural.

Fonte: Pesquisa “In loco” – 04/05/2001 Vila Rural Da PazOrg.: Júlia Luciana Pereira das Dores

Page 81: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

205Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

Embora apresentem dificuldades sócio-econômicas, os moradores da Vila Rural Da Paz,possuem em suas residências os seguintes

equipamentos (Tabela 3): 84,2% dos moradorespossuem televisão e bicicleta; todos contam comgeladeira e fogão; 36,8% tem carro.

Tabela 2 – Grau de escolaridade.

Situação % N.º

Abaixo da idade escolarAnalfabetoPré-escola1ª a 4ª série (ensino fundamental)5ª a 8ª série (ensino fundamental)1ª a 3ª série (médio)Ensino fundamental e médio completosNão responderam

5,3 4,2 1,045,026,4 7,4 3,2 7,4

5414225737

Total 100 94

Fonte: Pesquisa “In loco” – 04/05/2001 Vila Rural Da PazOrg.: Júlia Luciana Pereira das Dores

Tabela 3 – Equipamentos que possui.

Equipamentos % N.ºGeladeiraFogãoTelevisãoBicicletaSomCarroCarroçaOutros

100,0100,084,284,273,036,85,226,3

1919161614615

Fonte: Pesquisa “in loco” – 04/05/2001 Vila Rural Da PazOrg.: Júlia Luciana Pereira das DoresBase de cálculo: 19 famílias

A produção nos lotes da Vila Rural também éconsiderada bastante diversificada, mas, aprodução de café e de milho são as que mais sedestacam. Como podemos verificar na Tabela 4,84,2% dos vileiros cultivam café e 78,9%, milho.

Observa-se na Tabela 5, que a maior parteda produção é para consumo próprio, oequivalente a 47,3% da produção, sendo apenas36,8% para comercialização.

Dentre as principais causas que levaram asfamílias a ingressar no Programa Vilas Rurais,tem-se a busca de casa própria e de um pedaçode terra para plantar. Como se pode verificar

na Tabela 6, 68,4% dos moradores ingressaramno Programa para conseguir a casa própria e31,5%, terra para plantar.

No contexto da atuação do Estado verificou-se que os incentivos propiciados pelo governo,ocorreram apenas no início da implantação daVila Rural. Segundo os moradores entrevistadostem-se que 15,7% disseram que o governoajudou na distribuição de sementes e materialpara a construção do galinheiro; 10,5% teriasido o material para fazer a horta, e 5,2% deoutros incentivos.

Page 82: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

206 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

Tabela 4 – Produtos cultivados no lote.

Produtos(A) Prod. Lav. permanente etemporária

% Nº

CaféMilhoFeijãoAmendoimArrozMamona

84,278,947,310,510,5 5,2

161509020201

(B) FrutíferasBananaLaranjaLimãoGoiabaAbacaxiAbacateCarambolaJabuticabaPonkanMamãoLimãoMangaAcerola

26,310,510,510,5 5,2 5,2 5,2 5,2 5,2 5,2 5,2 5,2 5,2

05020202010101010101010101

( C ) Prod. HortaMandiocaBatataAbóboraAlhoChuchuPepinoVerduras diversas

47,315,710,510,5 5,2 5,215,7

09030202010103

Fonte: Pesquisa “in loco”- 2001 – Vila Rural Da PazOrg. Júlia Luciana Pereira das DoresBase de cálculo : 19 propriedades

Tabela 5 – Destino da produção*

Destino % N.º

Consumo próprioComercializaçãoCooperativaMáquina – São MartinhoCafé – RolândiaRestaurante HolandesaCidadeFeira da Vila RuralNão comercializam (início doplantio)

47,336,810,515,75,25,25,25,25,2

972311111

Fonte: Pesquisa “in loco” – 04/05/2001 Vila Rural Da PazOrg.: Júlia Luciana Pereira das DoresBase de cálculo: 19 produtores/ ∗ Respostas múltiplas

Page 83: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

207Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

Tabela 6 – Motivos para o ingresso no Programa Vila Rural *

Motivos % Nº

Ter um pedaço de terraTer casa própriaFicar próximo á cidadeVencimento de contratoReceber recompensa do que gastouNão ter patrãoMelhoria de vidaCansado de trabalhar no sítio

31,568,45,25,25,25,215,75,2

613111131

Fonte: Pesquisa “in loco” – 04/05/2001 Vila Rural Da PazOrg.: Júlia Luciana Pereira das DoresBase de cálculo: 19 famílias/ ∗ Respostas múltiplas

Tabela 7 – Incentivos propiciados pelo Governo.*

Incentivos % N.º

SementesMaterial para fazer o galinheiroMaterial para fazer a hortaExplicação técnicaVerba para construção do paiolMaterial para fazer a casaEstercoCalcárioMadeiraCimento e tijoloCasa própriaDinheiro para cursoFalta de incentivos para criação deanimaisFalta de cooperativaNão sabeNão teve

15,715,710,55,25,25,25,25,25,25,25,25,25,25,25,25,215,7

33211111111111113

Fonte: Pesquisa “in loco” – 04/05/2001 Vila Rural Da PazOrg.: Júlia Luciana Pereira das DoresBase de cálculo: 19 famílias/∗ Respostas múltiplas

Para finalizar as análises referentes à situaçãoatual dos moradores da Vila Rural Da Paz, tem-se que a maioria dos moradores está satisfeitacom o Programa e 5,2% afirmaram queesperavam mais do Governo, ou seja, mais ajudano fornecimento de insumos agrícolas,assistência técnica, como podemos verificar naTabela 8.

Um ponto interessante referente ao futuroda Vila Rural da Paz, é a declaração de algunsdos moradores da referida Vila, pois, muitosdeles acreditam que “vai dar certo” e estãocontentes por ali residirem. O quadro 2,apresenta as falas dos entrevistados em relaçãoao futuro da Vila.

Page 84: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

208 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

Verificou-se, a partir da análise dasdeclarações dos moradores, que quase todosconsideram que a Vila Rural da Paz tem futuro,e que o Programa Vilas Rurais deve continuar.Alguns acham que a Vila Rural pode até vir fazerparte de uma cidade, ou até mesmo “virar” umbairro de São Martinho, mas como se trata deum Programa do Governo, ficará apenas comoVila Rural, mas se a situação for mantida,consideram que deverá haver mais união entreos moradores, e que os vileiros se dedicarão ecuidarão adequadamente da terra.

Tabela 8 – Grau de satisfação.

Satisfação % N.º

SimMuito satisfeitoBomContenteEsperava maisPrecisava de uma cooperativa

63,010,510,55,25,25,2

1222111

Fonte: Pesquisa “in loco” – 04/05/2001 Vila Rural Da PazOrg.: Júlia Luciana Pereira das DoresBase de cálculo: 19 famílias

Quadro 2FUTURO DA VILA RURAL DA PAZ

“se continuar assim vai bem, se receber ajuda melhor ainda”

“cada vez melhor. Que continue sempre assim”

“deve continuar”

“vai virar cidade, ela está aumentando”

A Vila Rural terá um bom futuro: “quem pegou casa aqui está tranqüilo”

“tem futuro. Basta cuidar e dedicar-se a terra”

A Vila Rural tem futuro: “basta que as pessoas saibam trabalhar e cuide do seu lote ”

“o governo é que comanda, ficará como Vila Rural (...) e não será cidade”

“vai continuar como Vila Rural (e isto é bom)”

“acho que pode virar/se transformar em bairro de São Martinho: acho que não tem futuro, não passa disso, porque a

área é pequena demais; para ter futuro deveria ter uma área em que a pessoa só dependesse dela”

“vai ser bem melhor”

“tem futuro, basta que as pessoas se unam mais”

“vai dar certo. Tem muita gente que está muito bem (...). Espero que melhores”

“acho que vai melhorar”

“não sabe. É muito difícil analisar a posição dos outros”

Nota-se que os próprios “vileiros” percebema situação de transição em que se encontram,entre o rural e o urbano, que tem tido algunsdesdobramentos com as barreiras legaisapresentadas recentemente (agosto/2001), jáque, para se conseguir o documento depropriedade da terra do INCRA, os lotes devemter uma área mínima que varia de 20 a 30 milmetros quadrados. A outra questão que aindanão foi vislumbrada pelos moradores é que, sea Vila Rural vier a fazer parte do conjuntourbano, o imposto a ser pago será o IPTU –

Fonte: Pesquisa “In loco” – 04/05/2001 Vila Rural Da PazOrg.: Júlia Luciana Pereira das Dores

Page 85: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

209Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

Imposto Predial e Territorial Urbano, comvalores mais elevados, inviabilizando apermanência no local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que, com a modernização daagricultura e intensificação do processoindustrial a partir da década de 1970 no Brasil,tivemos a expropriação de milhares de pessoasque trabalhavam no meio rural e que com aintrodução de novas técnicas de produção foramobrigadas a se deslocar para outras cidades,Estados e regiões, ocorrendo portanto, umgrande fluxo de mão-de-obra, principalmente,para as regiões de fronteira agrícola e para ascidades médias e grandes. Ao chegarem àscidades, estas não estavam preparadas paraatender a demanda dessa população, ocorrendoassim, a marginalização destes trabalhadores,que, sem trabalho vivem em condições precáriasde moradia, com alimentação irregular econdições subumanas e de subemprego.

Dessa forma, foi criado no Estado do Paraná,o Programa Vilas Rurais, com objetivo de darmelhores condições de vida a esses trabalhadoresrurais que foram expulsos de suas propriedades.Para analisar este fato, estudou-se a Vila Ruralda Paz, localizada no Distrito de São Martinho– Rolândia- Pr. Nesta verificou-se que muitosde seus moradores buscavam melhorescondições de vida, como ter sua casa própria esua terra para plantar, e que sua vida melhoroudepois da mudança para a Vila Rural. Existemtambém suas exceções, ou seja, pessoas que nãoestão contentes em morar neste local, mas quetambém não se esforçam para melhorá-lo.

Além disso, constatou-se na trajetória de vidados moradores contemplados pelos ProgramaVila Rural, que a maioria dos entrevistadosrealizou seus deslocamentos na própria regiãoestudada, tendo como principais causas, a buscapor melhores condições de vida.

Para finalizar, verificou-se que muitos estãosatisfeitos com a atuação do Governo do Estadodo Paraná devido a implantação do ProgramaVila Rural, sendo este considerado por algumaspessoas entrevistadas como sendo uma formade reforma agrária. Outros porém, consideramque a área é relativamente pequena e que nãohá condições para sobreviver apenas de suaprodução, tendo portanto, que buscar outrosmeios para aumentar a renda familiar, sendodifícil arranjar emprego, pois, estestrabalhadores não possuem um grau decapacitação exigido pelo mercado.

NOTAS

1 Distrito de Rolândia, criado pela Lei n º 790 de 14.11.1951

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério do Interior. Secretaria Geral.Secretaria de Planejamento. Programa Nacional deapoio às migrações internas. Brasília, 1980

COMPANHIA MELHORAMENTOS NORTEDO PARANÁ. Colonização e desenvolvimento doNorte do Paraná. São Paulo, 1975

FAUSTO, Boris. Principais mudanças ocorridas noBrasil entre 1950 e 1980. In: HISTÓRIA do Brasil.São Paulo: Edusp, 2000

FLEISCHFRESSER, V. Modernização tecnológicada agricultura: contrastes regionais e diferenciaçãosocial no Paraná da década de 70. Curitiba:Liv.Chain:Concitec:Ipardes, 1988

GRAZIANO DA SILVA, J. O que é QuestãoAgrária. São Paulo: Brasiliense, 1996

IBGE. Censos Agropecuários. 1960 – 1980. Rio deJaneiro.

MARTINE, George. A trajetória da modernizaçãoagrícola: a quem beneficia? Revista Lua Nova, n.23, p. 7-33, mar.1991

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Agriculturabrasileira: transformações recentes. In: ROSS,Jurandyr L.Sanches (org). Geografia do Brasil. SãoPaulo:Edusp, 1998

PROGRAMA Vilas Rurais. Disponível na Internet

Page 86: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

210 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 195-210, jul./dez. 2001

via: www.pr,gov.br/vilasrurais . Arquivo capturadoem 29 de janeiro de 2001

VAINER, Carlos B. Estado e migrações no Brasil:anotações para uma história das políticasmigratórias. Travessia, p.33-43, jan./abr.2000

VALIM, Ana. Migrações: da perda da terra à exclusãosocial. São Paulo: Atual, 1996

VILLANUEVA, Orion. Rolândia: terra depioneiros. Londrina: IPE, 1974

The Governmental Performance and the Intern Migration Process:The Case of Vila Rural Da Paz – Rolândia (PR)

ABSTRACTThis work analyzed the intern migration process in Brazil, particularly in the State of Parana, as well as verified theGovernmental performance, aiming the study of Vila Rural Da Paz located at Sao Martinho District – Rolandia PR.The Village’s residents life course was also analyzed emphasizing the dislocations, agro-field industrialization and theVilas Rurais Program role on the country workers’ settlement at the City Council of Rolandia and it’s strategies forimplantation. In that matter, readings and discussions related to the subject were carried out, as well as the fieldwork andanalysis of the achieved results that involved the intern migrations, agriculture modernization and the State and VilasRurais Program performances. On the interviews with the residents of the analyzed Village, the life of these residents wasverified, their dislocations, the Village’s organization and producing, as well as the future expectation.

KEY-WORDS: Intern migration, governmental performance, vila rural.

Page 87: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

211Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

INTRODUÇÃO

A expansão desordenada das áreas urbanas eas necessidades crescentes das populaçõesurbana e rural, aliadas à municipalização deserviços públicos em vários setores, antes deresponsabilidade da esfera Estadual ou Federal,exigem respostas cada vez mais rápidas dasprefeituras. Tornam-se essenciais novasabordagens dos problemas existentes e a adoçãode métodos e tecnologias capazes de propiciarum incremento na eficiência das instituiçõesmunicipais a fim de atender satisfatoriamentetodas as novas necessidades criadas.

Nesse contexto, os Sistemas de InformaçãoGeográfica (SIG’s), representam uma

Uma Proposta para Implantação do SIG naCidade de Londrina*

Omar Neto Fernandes Barros**

Mirian Vizintim Fernandes Barros***

João Henrique Caviglione****

RESUMOO uso do Sistema de Informação Geográfica vem sendo cada vez mais necessário na análise do espaço geográfico,principalmente nas áreas urbanas onde o volume de dados manipulados é muito grande. Sua capacidade de capturar,armazenar, recuperar, transformar e representar espacialmente os dados do mundo real tem feito desta ferramenta, uminstrumento versátil para auxiliar a solução de problemas de análise em planejamento urbano. Utilizando-se da MetodologiaZOPP de Planejamento Para Objetivos chegou-se em uma proposta para otimizar o gerenciamento administrativo domunicípio de Londrina, objetivando que as decisões de governo fossem apoiadas por informações cadastrais, cartográficas,econômicas e sócio-demográficas inter-relacionadas via informática. Por questões políticas o projeto inicial não foiadotado embora a implantação do SIG-Londrina em ambiente acadêmico tenha sido realizada. No trabalho propostopara a cidade de Londrina, adotou-se o método multitemático, e a quadra foi definida como unidade básica de análise.Utilizou-se seis cartas temáticas que compuseram juntamente como a base cartográfica o sistema de informação.

PALAVRAS-CHAVE: sistema de informação geográfica, urbano, cidades, políticas públicas.

* Trabalho desenvolvido com auxílio dos Projetos CPG/UEL no 2511 & 2737.** Professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]*** Professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]**** Pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná. E-mail: [email protected]

ferramenta extremamente útil para ospropósitos do planejamento. Por reunirem umextenso conjunto de aplicativos, tais sistemasse constituem num instrumento capaz dearmazenar, manipular, recuperar e analisardados georreferenciados. Permitindo destaforma rapidez na obtenção de informações edados para conhecer e resolver problemas deorganização espacial. É característica básica egeral dos SIGs a capacidade de tratar as relaçõesespaciais entre os objetos geográficos, e oarmazenamento da topologia, o que permite asconsultas ao banco de dados espacial conformeCâmara (1993), permitindo uma racionalizaçãono planejamento e gerenciamento de recursos norol de atividades de administrações municipais.

Page 88: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

212 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

O desenvolvimento dos SIGs estádiretamente relacionado com os avanços na áreade computação. Somente após 1960 com adisponibilidade do computador digital,cresceram tanto os métodos conceituais deanálise espacial, quanto as reais possibilidadesde mapeamento temático quantitativo(BURROUGH, 1989). Nestas últimas décadastêm se tornado ferramenta valiosa nas maisdiversas áreas de conhecimento, e

evoluíram como meios de reunir e analisar dadosespaciais diversos, dentre os quais muitos foramdesenvolvidos para fins de planejamento e demanejo de recursos naturais ao nível urbano,regional, estadual e nacional de órgãosgovernamentais” (STAR e ESTERES, 1990).

Em uma definição geral, um SIG pode serentendido como qualquer conjunto deprocedimentos, manuais ou auxiliados porcomputador, utilizados para armazenar emanipular dados geograficamente referenciados(ARONOFF, 1995).

Várias iniciativas envolvendo o uso de SIGna administração municipal já são registradasatualmente em todo o território nacional, emcidades de porte variado. Experiências bemsucedidas implantadas há várias décadas empaíses desenvolvidos têm demonstrado aviabilidade de uma quantidade de aplicações deSIG no ambiente urbano e rural. Um dosganhos que pode ser obtido em relação à formatradicional de analisar este ambiente é a reduçãoda subjetividade, em que a decisão passa a sertomadas sobre uma base mais técnica e menospessoal (WEBER e HASENACK, 1997). Comoconseqüência, obtém-se uma menor repetição deprocessos e procedimentos na rotina dasinstituições e uma maior racionalização no uso derecursos financeiros e dos equipamentos sociais(PARROT e STUTZ, 1992).

Os serviços públicos podem ser melhorplanejados integrando informações de origens,tipos e formatos diversos em análises de elevadograu de complexidade como, por exemplo, ainfra-estrutura de saúde pública, que pode ser

racionalizada através da análise integrada dedados cartográficos, demográficos e sócio-econômicos, dimensionando adequadamente onúmero e a localização dos postos deatendimento. O controle e monitoramento deepidemias e, de catástrofes naturais tambémpode ser efetuado com maior rigor quando asinformações necessárias estão integradas noambiente de um SIG (AGUGLINO eRODRIGUES, 1994). O mesmo vale para ocaso de escolas municipais, que podem serlocadas e dimensionadas em função de umademanda real e de acordo com o nível sócio-econômico da população de cada região dacidade. Estimativas mais fiéis do nível dequalidade de vida nas diferentes regiões podemser efetuadas, subsidiando o planejamento paradiminuir as diferenças existentes (CECCATOet al, 1993).

Programas de combate à criminalidadepodem ser melhor elaborados a partir davisualização da distribuição, tipo e número dasocorrências. Programas de apoio a atividadesagrícolas podem ser elaborados complanejamento integrado. Embora aspossibilidades sejam numerosas, não existemfórmulas prontas para as análises em SIG,tampouco sistemas ou dados padrão para essasanálises. Cada município pode desenvolver suaspróprias aplicações para resolver os problemaslocais que julga mais importante(RODRIGUES e VILAÇA, 1994).

A elaboração de análises em SIG permite iralém da simples visualização espacial do conteúdode um banco de dados tabular. É possível obterinformações valiosas a respeito de vários aspectosfísicos, que podem ser de grande utilidade parasubsidiar o planejamento e gerenciamento derecursos em uma série de atividades.

Partindo dos pressupostos acimamencionados a Prefeitura Municipal deLondrina sentiu, em 1998 a necessidade deelaborar um Programa de Implantação de umSistema de Informações Geográficas tendocomo fundamentos uma necessidade históricae a vontade política da Secretaria de

Page 89: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

213Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

Planejamento e Fazenda de dotar amunicipalidade de uma tecnologia que, cadavez mais, vem sendo utilizada por municípiosde diferentes tamanhos e, em várias partes domundo, para auxiliar o gerenciamento de dadose planejamento. Um outro aspecto bastanterelevante no emprego do SIG no planejamento,é a tentativa de se evitar no futuro parte dosproblemas encontrados atualmente nos grandescentros urbanos.

A presente proposta foi elaborada, comfinalidade real a partir da reunião realizada em19/03/98 na CODEL – Companhia deDesenvolvimento de Londrina, com órgãospúblicos (Secretarias, Autarquias eCompanhias) de Londrina. Leva em conta seusanseios, bem como as condições concretas derecursos técnicos, financeiros e intelectuaisdisponíveis naquela ocasião na Prefeitura deLondrina. Em anexo pode ser encontrada aEstrutura do Marco de Referênciademonstrando uma proposta e seu alcance paraa administração pública de Londrina-Paraná.

OBJETIVO GERAL PARA O SIG LONDRINA

Otimizar o gerenciamento administrativo domunicípio, garantindo que as decisões de governosejam apoiadas por informações técnicas(cadastrais, cartográficas, econômicas e sócio-demográficas) inter-relacionadas via informática.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS– Desenvolver o interesse de cada órgão

público pela coleta, arquivo e pesquisa dedados básicos ao estabelecimento de seusprogramas e projetos específicos.

– Formar e treinar pessoal qualificado para odesenvolvimento do Programa de Sistema deInformações Geográficas em cada órgão público.

– Participar na elaboração de normas deconfecção e alteração dos dados primáriosque passarão a compor a base cartográfica.

– Gerenciar de forma coerente ao nível dasinformações de base, banco de dadosespecífico de cada órgão público.

– Gerenciar as informações através de umabase cartográfica municipal e única.

– Possibilitar como técnica uma melhorintegração de informações entre os órgãospúblicos que compõem a Prefeitura Municipalde Londrina, objetivando uma melhor gestãode políticas específicas e globais, bem comoavaliação de programas e projetos.

– Possibilitar um melhor controle informativodos imóveis público e particular, bem como,gerenciar rapidamente modificações noespaço urbano e rural.

– Possibilitar como ferramenta adicional umamelhor fiscalização, arrecadação e aplicaçãode políticas públicas.

– Possibilitar as bases para o estabelecimentode um Zoneamento Municipal coerente e, aconstrução de subdivisões conforme critériosespecíficos de cada órgão público.

CONCEITOS BÁSICOS NA IMPLANTAÇÃODE UM SIG

A implantação de um SIG exige algunsrequerimentos para a operacionalização e seusucesso depende de uma série de fatores. Dentreeles, a cartografia atualizada constitui peçafundamental para a administração municipal,pois dela derivam informações úteis para atributação e para a gerência dos serviços e douso do solo, além da racionalização no uso docontingente humano e de equipamentos. Aelaboração de uma base cartográfica atualizadarepresenta provavelmente o maior custo envolvidona implementação de um SIG no planejamento.

Existe também o aspecto organizacional, quese refere à definição do grau de envolvimento eresponsabilidade de cada setor na implantaçãoe operação do sistema, à gerência do projeto e àformação e qualificação da equipe técnicaenvolvida. Entram também questõesrelacionadas a hardware e software, devendo-seprocurar soluções que permitam responder commaior rapidez possível os questionamentoslevantados. Cada um desses componentes

Page 90: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

214 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

precisa ser muito bem definido, sob pena dosobjetivos propostos não serem atingidos e, comisso, criar um quadro de frustração e desinteressepela tecnologia.

O planejamento tem-se tornado cada diamais complexo e difícil, devido ao grandenúmero de variáveis a serem levadas emconsideração na análise da realidade que seapresenta. A busca de um sistema deinformações capaz de absorver a complexidadeda realidade, e de possuir como característicaprincipal à flexibilidade, necessária para aadaptação às diversas realidades locais e às suasalterações no tempo, tem sido o desafioconstante das atuais administrações municipais.

Na elaboração de um SIG, Star e Esteres(1990), elegem cinco elementos essenciais quesão: aquisição de dados, pré-processamento,gerenciamento de dados, manipulação e análisee geração de produtos.

A aquisição de dados é um processo deidentificação e coleta de dados para compor osistema. É necessário definir a escala de análise,pois os dados a serem coletados e introduzidosno sistema de informação geográfica sãodependentes dela.

O pré-processamento envolve a manipulaçãodos dados para facilitar sua entrada no sistema,que incluem a conversão do formato de dadose a identificação da localização dos objetos nosistema de coordenadas originais de uma formasistemática, que é praticamente inseparável dafase seguinte que diz respeito a funções degerenciamento de dados, onde se administra acriação e o acesso ao banco de dados.

A informação geográfica armazenadamediante um sistema de base de dadosalfanuméricos pode ser objeto de busca,segundo determinado critério temático,territorial ou ambos, ou ser combinada demuitas formas para produzir mapas derivadosque representam relações reais ou hipotéticas.

Os SIGs reúnem uma gama de módulos eferramentas que permitem a manipulação eanálise dos dados, como: superposições,transformações, desenho de novos mapas, cálculos,dentre outros; gerando novos produtos.

PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA OSIG-LONDRINA DESENVOLVIDO NAUNIVERSIDADE ESTADUAL DELONDRINA – UEL

Um primeiro trabalho concreto dedesenvolvimento do SIG-Londrina foi efetuadoem meio acadêmico e apresentado como Tesede Doutorado (BARROS, 1998). Naelaboração do SIG-Londrina, utilizou-se ométodo multitemático (ROSS, 1995) e foramanalisados dados convencionais em forma decartografia temática, onde as variáveis utilizadasforam: uso do solo (destacando os atributosformadores da cidade, a estruturação urbana eos espaços livres), densidade demográfica e deconstrução, verticalização, expansão urbana easpectos naturais do sítio urbano (declividadee hispsometria) na definição das áreas depreservação. Este procedimento metodológico– operacional gera produtos analíticos em umaprimeira fase e, de síntese posteriormente. Asinformações analisadas são produtosrepresentados através de cartogramas,produzidos a partir de dados obtidos porsensores e levantamento de campo, quefornecem um conjunto de informações sobre anatureza e a sociedade; trabalhados pelosprocessos informatizados. O resultado completodesse estudo foi publicado em Barros (1998); euma versão simplificada em Barros et al. (2001).

Na aquisição de dados foi necessário,primeiramente, definir a escala do modelourbano, pois os dados a serem coletados eintroduzidos no Sistema de InformaçãoGeográfica dependem desta. Na definição dadimensão espacial elementar a ser utilizada,foram considerados os seguintes aspectos: osobjetivos do trabalho, a base cartográfica e acartografia temática disponíveis. Foi definidocomo unidade básica de análise a quadra. Nestaescala não são representados os elementos locais,mais a agregação deles.

Os critérios acima mencionados foramtambém utilizados na escolha das seguintesvariáveis de análise do ambiente urbano: uso

Page 91: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

215Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

do solo urbano, verticalização, data deimplantação dos loteamentos, densidadedemográfica e zoneamento legal. Esses dadosexistem na forma de cartas temáticas emformato analógico, na escala 1:10.000, deautoria do IPPUL- Instituto de Pesquisa ePlanejamento de Londrina e a Carta de Uso doSolo Urbano de Londrina – 1995; feita através detrabalho de campo e interpretação de fotos aéreas.

O pré-processamento envolveu amanipulação dos dados para facilitar sua entradano sistema, que incluem a conversão do formatode dados e a identificação da localização dosobjetos, no sistema de coordenadas originais deuma forma sistemática, que é praticamenteinseparável da fase seguinte que diz respeito afunções de gerenciamento de dados, onde seadministra a criação e o acesso ao banco de dados.

A entrada de dados foi iniciada a partir dabase cartográfica em formato digital, realizadaem AUTOCAD, cedida pelo IPPUL, contendoas seguintes entidades: limite urbano, lotesurbanos e rurais, ruas, rios, rodovias, ferrovia ecurvas de nível principais e secundárias.

Esta base cartográfica foi georreferenciada einseridas no ARC-INFO, trabalho este realizadojunto ao Laboratório de Geoprocessamento doInstituto Agronômico do Paraná em Londrina,onde foi desenvolvida grande parte do Sistemade Informação Geográfica.

Posteriormente, foram introduzidas nosistema as cartas temáticas através do processode digitalização direta no visor. A edição dasfeições (polígonos) foi realizada diretamentesobre a carta base, utilizando o programa ARC-EDIT do ARC-INFO, e, posteriormente,relacionadas no banco de dados. Estesprocedimentos resultaram nas cartas temáticasdigitais, a saber: Uso do Solo Urbano porCategorias – 1995, Zoneamento Legal,Número de Pavimento das Edificações,Expansão dos Loteamentos Urbanos,Densidade Demográfica de 1995, e Uso do SoloUrbano de Londrina – 1995.

Estas informações geográficas foramarmazenadas no sistema de base de dadosalfanuméricos, permitindo que elas passassem

a ser objetos de busca, segundo determinadocritério temático, territorial ou ambos, ou sercombinada de muitas formas para produzirmapas derivados que, representaram relaçõesreais ou hipotéticas.

A produção dos mapas derivados foirealizada no software IDRISI, que reúne umagama de módulos e ferramentas que permitema manipulação e análise dos dados como:superposições, transformações, desenho denovos mapas, cálculos, etc. Os dados primáriosforam reclassificados e ou cruzados na etapareferente à geração de produtos fornecendonovas informações ou novos “layers”.

O Modelo Numérico do Terreno foiutilizado para gerar os “layers”: hipsometria,declividade e visualização em 3D.

O sistema composto de um banco de dadosrelacional permitiu a reclassificação e ocruzamento de variáveis numa única basecartográfica. A reclassificação permitiu avisualização em tela e a produção de cartas dostemas de maneira flexível e rápida. Ocruzamento foi realizado a partir de regras declassificação sobre as variáveis já existente nobanco de dados, gerando também uma novainformação, ou cartas derivadas.

Os procedimentos acima citados permitiramavaliar e analisar entre outros os seguintesaspectos urbanos: uso do solo, destacando osatributos formadores da cidade, a estruturaçãourbana, os espaços livres e as áreas verdes, osvazios urbanos, distribuição da população e deconstrução, localização de favelas, verticalização,expansão urbana, aspectos naturais do sítiourbano (declividade e hipsometria), área deconservação, áreas aptas e não aptas àurbanização e ocupação indevida de fundo devales. Todo esse material compôs a base do SIG– LONDRINA e, as informações obtidas tendoem vista a impossibilidade de reprodução emcores, podem ser apreciadas em Barros (1998);e Barros et al. (2001). Futuramente estarãodisponíveis em meio digital, no endereçoeletrônico do Departamento de Geociências –CCE – Universidade Estadual de Londrina.

Page 92: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

216 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Alguns aspectos são relevantes quandoanalisamos o quadro anexo sobre a Estruturado Marco de Referência. Uma parte significativados órgãos públicos necessita de treinamentode pessoal, ampliação do quadro de funcionáriospara a área de geotecnologias e compra deequipamentos; demonstrando que esses aspectossão primordiais e os primeiros a seremabordados na implantação de um SIGmunicipal. A definição da escala da basecartográfica é outro aspecto essencial, pois, háentre os diversos órgãos expectativas diversasquanto aos benefícios desses sistemas. Portantodefinir o maior grau de detalhe a serimplementado no SIG é fator essencial para nãofrustrar as expectativas iniciais. Outro pontocentral é a necessidade de um levantamento decampo que venha cobrir a maior parte dasnecessidades declaradas pelos órgãos públicosnão esquecendo de ressaltar que algumas dasfunções de base desses órgãos, pretendidas coma implantação do SIG poderiam ser melhoratingidas com outros meios de controle e, semdúvidas com menor custo.

Infelizmente uma das propostas deimplantação do SIG na Prefeitura MunicipalLondrina foi prejudicada por ações políticas,entre um secretário municipal e uma empresade Geotecnologia, conforme denúncia emjornais de Londrina de 15/11/1998. Novatentativa esta sendo retomada na atualadministração (2001) com uma equipe depesquisadores principalmente da Faculdade deCiências e Tecnologia da UNESP São Paulo e pelosresponsáveis do site www.prefeitura24horas.com.br.

Uma das grandes vantagens que os SIGsapresentam é a flexibilidade na manipulação dainformação espacial, o que permite uma visãomais clara da cidade, em toda sua complexidade.Nos estudos do espaço urbano, as aplicações têmsido diversas, abrangendo a análise ambiental,a expansão urbana, o zoneamento ou planosdiretores, ou ainda o conhecimento da infra-estrutura, da característica da população,cadastro de imóveis.

Uma cidade que se caracteriza como demédio porte e é também um pólo regional,devido as suas atividades primárias e terciárias.Fundada em 1934 é uma cidade bastante jovem,mas com muitos problemas de ordem sócio-ambiental. Seu espaço intra-urbano é umdesigual e muitas vezes injusto, decorrentes dasdiferenças econômicas. Os lugares menos“privilegiados” em relação à localização, infra-estrutura e qualidade ambiental estão“reservados” à população de classe mais baixa.O conhecimento destas diferenciações permiteuma melhor compreensão do espaço urbano e,conseqüentemente, auxilia a tomada de decisõespara aliviar as tensões urbanas, causadas peladiferenças sociais e espaciais.

O SIG-Londrina, desenvolvido naUniversidade-UEL permitiu a confecção deuma série de cartas derivadas e de síntese,elaboradas a partir de cartas temáticas conformeBarros (1998); e Barros et al. (2001) Os Projetosda Coordenadoria de Pesquisa e Pós Graduaçãoda UEL “Geoprocessamento e Unidades dePaisagem Urbana de Londrina-Pr-Brasil”cadastro 2511 e “Projeto de Instalação doCentro de Geoprocessamento Norte do Paraná”cadastro 2737 têm demonstrado em parte autilidade e necessidade de trabalhos com asgeotecnologias em Londrina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUGLINO, R.; RODRIGUEZ, M. Evaluatingpublic services and health assistance: delimitationand application in a GIS. ITC Journal, v. 3, p. 205-210, 1994.ARONOFF, Stan. Geographic Information Systems:a management perspective. Ottawa: WDLPublications, 1995. 294p.BARROS, M. V. F. Análise ambiental urbana: estudoaplicado à cidade de Londrina – Pr. 1998. 235f. Tese(Doutorado em Geografia Física) – Departamentode Geografia, Universidade de São Paulo, São Paulo.BARROS, M. V. F.; BARROS, O. N. F.;CAVIGLIONE, J. H. SIG: uma ferramenta útilna análise urbana. In: ARCHELA, R.S.; FRESCA,T.M.; SALVI, R.F. (org.) Novas tecnologias.Londrina: Editora UEL, 2001. p. 13-36 (SérieGeografia em Movimento, n. 1).

Page 93: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

217Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

BURROUGH, P. A. Principles of geographicalinformation systems for land resources assessment.Oxford: Clarendon Press, 1989.

CAMARA, G. Anatomia de sistemas de informaçãogeográfica: visão atual e perspectivas de evolução.In: CONFERÊNCIA LATINOAMERICANASOBRE SISTEMAS DE INFORMAÇÃOGEOGRÁFICA, 4 e SIMPÓSIO BRASILEIRODE GEOPROCESSAMENTO, 2, 1993. Anais...São Paulo: INPE, 1993. p. 609-630.

CECCATO, V. A.; FORESTI, C.; KURKDIJAN,M. L. N. de. Proposta metodológica para avaliaçãoda qualidade de vida urbana a partir de dadosconvencionais e de sensoriamento remoto, sistemade informações geográficas (SIG) e de um bancode dados. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DESENSORIAMENTO REMOTO, 7, 1993,Curitiba. Anais...Curitiba: INPE, 1993. p. 32-39.

PARROT, R.; STUTZ, F. P. Urban GISapplications. In: MAGUIRE, D.J.;

GOODCHILD, M.F.; RHIND, D.W.Geographical information systems. Principles andapplications. New York: Longman Scientific &Technical, 1992. 327 p.

RODRIGUES, P. H.; VILAÇA, S. Subsídios paraa utilização de geoprocessamento em sistemasmunicipais de informação. Revista de AdministraçãoMunicipal, v. 41, n.211, p. 51-60, 1994.

ROSS, J. L. S. Análise e síntese na abordagemgeográfica da pesquisa para o planejamentoambiental. Revista do Departamento de Geografia daUSP, São Paulo, n. 9, p.64-75, 1995.

STAR, J.; ESTERES, J. Geographic InformationSystems. New Jersey: Prestice Hall, 1990. 303 p.

WEBER, Eliseu J.; HASENACK, Heinrich. Uso deSistemas de Informação Geográfica no planejamentourbano. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DEGEOGRAFIA FÍSICA APLICADA, 6, 1997,Curitiba. . Anais... Curitiba, 1997.

ANEXO

ESTRUTURA DO MARCO DE REFERÊNCIA DEMOSTRANDO PROPOSTA E SEUALCANCE PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE LONDRINA-PARANÁ.

O plano de trabalho apresentado levou em conta a disponibilidade da equipe de implantação doSistema de Informações Geográficas na Prefeitura Municipal de Londrina, assim como, as solicitaçõese resultados esperados para três anos, declarados pelos órgãos municipais participantes da reunião deelaboração do Marco de Referência, realizada na CODEL; utilizando-se da Metodologia ZOPP dePlanejamento Para Objetivos.

SIG Establishing Proposal At Londrina City

ABSTRACTThe use of the Geographical Information System has being more and more necessary in the analysis of the geographicalspace, mainly in the urban areas where the volume of manipulated data is very big. Your capacity to capture, to store, torecover, to transform and to represent spacely the data of the real world, made of this tool, a versatile instrument to aidthe solution of analysis problems in urban planning. Using the Methodology ZOPP for Planning Objective it came intoa proposal to optimize the administrative administration of the district of Londrina, aiming at that government’s decisionsroot leaning for information cadastral, cartographic, economical and partner-demographic interrelated through computerscience. For subjects of politics the initial project was not adopted away, the implantation of SIG-Londrina in academicatmosphere has been accomplished. In the work proposed for the city of Londrina, the method multithematic wasadopted, and the block was defined about basic unit of analysis. It was used six thematic letters that composed togetheras the cartographic base the information system.

KEY-WORDS: geographical information system, urban, cities, public politics.

Page 94: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

218 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

Órgãos Públicos ObjetivosEspecíficos

Entraves NaBusca DosObjetivos

Definições de Base ResultadosEsperados

1. Administração 1.1. Controledos imóveispúblicos.

1.1. Organizaçãodos dados.1.2. Falta deinformação.1.3. Falta deinteração entresetores.

1.1. Localização deterrenos, praçasurbanizadas e nãourbanizadas, ruas edenominações, fundos devale, parques, serviçospúblicos locais.1.2. Terrenos particulares.1.3. Identificação (quadra,data, loteamento,metragem) de terreno eedificações.1.4. Identificação deproprietários e dados deregistro junto a Cartórios.1.5. Localização deinvasões com número defamílias, benefíciosconcedidos, tempo deocupação, ligação de água eluz, plantio, reintegraçãode posse, loteamento e datada 1a invasão e última.1.6. Dados sobreaprovação e acertamentode loteamentos.1.7. Acesso ao cadastro doINCRA para identificação deproprietários de área rural.1.8. Relatórios nominais deruas e logradouros, imóveisocupados e livres, centroscomunitários e outrospróprios públicos.1.9. Imóveis cedidos pordoação, permissão, venda,concessão de uso, número,ato, data, outorgado.1.10. Imóveis declaradosde utilidade pública,número Decreto(desapropriado ou não,remanescentes não ocupados,finalidade, valor).1.11. Controle de entradae saída de processosprotocolados.1.12. Controle da frotamunicipal (abastecimento,manutenção).1.13. Controle de bensmóveis.1.14. Controle de comprae almoxarifado de bens.

1.1. Alimentaçãodo banco de dados.1.2. Definição dasfórmulas deutilização etreinamento.1.3. Operação dosistema.

continua

Page 95: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

219Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

continuação

2. Secretaria deGoverno

2.1. Obter asinformações omais rápidopossível.

2.1. Falta deintegração.2.2. Não serprioridade dopolítico.2.3. Falta deequipamento.2.4. Falta deservidoresespecializados(treinados).

3. Secretaria deFazenda

3.1.Manutenção decadastroimobiliário emobiliário. 3.2.Ferramenta parafiscalização earrecadação.

3.1. Capacitaçãode pessoal.3.2. Transportede dados emfichas paradigitalização.3.3. Falta deequipamentos.3.4. Falta inter-relacionamentodas informações.

3.1. Lotes com metragem real.3.2. Ruas com e sempavimentação, iluminaçãoe coleta de lixo.3.3. Nível para edificações,com metragem real.3.4. Maior grau dedetalhamento: quadra, lote,rua e infra-estrutura.3.5. Planta de valores.3.6. Zoneamento.3.7. Distrito e setores fiscais.3.8. Definição do logradouroe o endereçamento postal dosimóveis.3.9. Curva de nível edeclividade do solo.

3.1. Possuir osoftware e utilizar ocadastro alfanumérico até31/10/98.

4. SecretariaMunicipal deRecursos Humanos

4.1. Saber comoe onde vive oservidormunicipal, a fimde subsidiarprogramas deR.H.

4.1. Falta debanco de dadosúnico ouintegrado aoutros, quepossibilite ocruzamento deinformaçõesgeográficas,sociais,econômicas efuncionaisreferentes aosservidoresmunicipais.

4.1. Endereço residencialdos servidores.4.2 Locais de trabalho.4.3. Obras em execução deresponsabilidade domunicípio.4.4. Densidadedemográfica.4.5. Infra-estrutura urbanae rural.4.6. Áreas públicas.4.7. Estabelecimento deensino, centros esportivos,teatros, cinemas, parques, etc.4.8. Dados sócio-econômicos por região.

4.1. Informaçõesgerenciais paraorientar a execuçãode projetos etomadas de decisão.

5. Secretaria deCultura

5.1. Localizaçãodos espaçosculturaisexistentes:- Oficinas- Alternativos

5.1. Falta de umcadastramentodos espaçosculturais públicose privados.

5.1. Localizar espaçosculturais inclusive comcapacidade público eequipamentos disponíveis.5.2. Localizar gruposteatrais, corais, etc.5.3. Localizar centroscomunitários, salõesparóquias, salões escolares,etc. que possam vir a serespaços culturaisalternativos.

5.1. Levantamentodos espaços culturaisexistentes, endereços edemais informações.5.2. Levantamentode grupos culturaisexistentes, gruposde teatro, dança,corais, bandas, etc.5.3. Aplicabilidade detodas estas informaçõesdentro do programa degeoprocessamento.

continua

Page 96: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

220 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

continuação

6. AMA 6.1.Gerenciamentoe preservaçãoambiental.

6.1. Falta dedadosinformatizados.6.2. Falta depessoal eequipamentos.

6.1. Indústriaspotencialmente poluidoras.6.2. Praças e áreas verdes.6.3. Fundos de vales.6.4. Topografia/Geomorfologia.6.5. Vegetação (matanativa, bosques, etc.).6.6. Solos/Geologia/pontosde erosão.6.7. Arborização urbana(cadastro de árvores).6.8. Galerias pluviais/Redede esgoto.6.9. Moradias irregulares(fundos de vale).6.10. Avenidas comcanteiros centrais.6.11. Hidrografia/Clima/direção de ventos.6.12. Fotos aéreas/Imagensde satélites/uso do solo.6.13. Postos de gasolina,cadastro de prestadoras deserviço.6.14. Cadastro de mudasornamentais do viveiro daAMA.6.15. Venda de ambulantese quiosques em praças eáreas verdes.

6.1. Levantamentode dados.6.2. Basecartográfica enumérica.

7. COMURB 7.1. Cadastrodos dados sobretransportecoletivo egerenciamentodas vias atravésde basecartográfica.

7.1. Maisequipamentos.7.2. Capacitaçãodo pessoal.7.3. Dadosinformatizados(das secretarias,etc.).

7.1. Mapa da cidade deLondrina, distritos epatrimônios comlogradouros (pavimentadose não).7.2. Localização deequipamentos e locaispúblicos: escolas, postos desaúde, hospitais, delegacias,etc.7.3 Dados populacionais:densidade, faixa etária,faixa econômica.

7.1. Base pronta etreinamento.7.2. Dadoslançados, tais como:linhas de transportecoletivo, pontos,terminais,ambulantes,publicidade, zonaazul, prédios deresponsabilidade daComurb, feiraslivres, pontos detáxi, sinalizações,semáforos e outros.7.3. Melhoramentodo sistema:conclusões e totalintegração dossetores.

continua

Page 97: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

221Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

continuação

8. Secretaria deAção Social

8.1. Obterdados quepossam nortearas ações na áreada assistênciasocial.

8.1.Quantificação dosatendimentossetorizados.8.2. Não hácadastro dosequipamentossociais públicos eprivados.8.3. Dados quecaracterizem acondição sócio-econômica porregião.

8.1. Equipamentos sociaispúblicos e privados.8.2. Áreas de concentraçãode pobreza.8.3. Adensamentopopulacional (por faixaetária).8.4. Organizaçõescomunitárias.8.5. Utilização dos recursoscomunitários (vagasescolas-creches-asilos).8.6. Renda familiar, tipode moradia, número demoradores.

8.1. Basecartográfica e dados(geral) completos.Implantação dosoftware paralevantamento dosatendimentosprestados.8.2. Análise da basegeral e inclusão dosdados próprios daSMAS.Manutenção dosdados-direcionamento dasações e definiçõesde prioridades-suporte paradecisões eintervenção.8.3. Que as decisõese ações sejamtomadas a partir dedados concretossobre a realidade.

9. Secretaria deEducação

9.1. Dotar asecretaria demecanismos quepropiciemsubsídios paraconhecimentoda realidade edirecionamentodas ações nabusca doatendimento dasnecessidadesbásicas, visandoa melhoriaquantitativa equalitativa doensinomunicipal:- Acesso- Permanência- Sucesso

9.1. Falta deequipamentos.9.2. Falta depessoal treinado.9.3. Falta deintegração entresecretarias.9.4. Falta debanco de dados.9.5. Falta dediagrama de fluxode dados.9.6. Falta deagilização.

9.1. Localização dasescolas.9.2. Áreas públicas.9.3. Loteamentos eassentamentos.9.4. Concentraçãopopulacional.9.5. Setorização.9.6. Condições sócio-econômico.

9.1. Banco dedados/programasaplicativos.Definição dosoftware.Treinamento depessoal.9.2. Utilização dabase cartográfica.

10. ACESF 10.1. Controlereferente aoscemitériosmunicipais edistritos.

10.1. Objetivo éum terreno paracemitério popularna zona sul.

10.1. A informática paranós é importante paralocalização de sepulturas e,serviço social de luto emgeral.

10.1. Implantaçãocom urgência enossa autarquia.

continua

Page 98: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

222 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

11. Secretaria deObras

11.1 Análise doprocesso deObras Públicas.11.2.Manutençãodos própriospúblicos.11.3.Parcelamentodo solo eadensamentopopulacional.11.4.Cadastramentoatualizado eorganizado.11.5. Atualização eorganização dedrenagem dasMicro e MacroBacias.

11.1. Mantercadastro de obrasatualizado.11.2. Proceder àmanutenção comcritérios técnicos.11.3. Proceder acontrole dematerialcondizente aovolume de obrasagilizando asmesmas.11.4. Manter oplanejamento dasobras.

11.1. Base cartográfica detodo o município comrestituição de: ruas,carreadores e sua infra-estrutura (meio fio,arborização, asfalto, postesde iluminação), rodovias,estradas municipais, linhasde transmissão, torres,curva de nível m/m,captação d’água, matas,rios e córregos, cotas dealagamentos, alinhamentopredial, divisa de lotes ecercas de lotes existentes,linha férrea, distritos echácaras, pontes e bueiros.

11.1. Atualizaçãode todo o cadastrodas edificações paraa base digital.11.2. Atualizar abase com todos oslotes do Município.11.3. Tercadastrado todainfra-estrutura doMunicípio.

12. Secretaria daMulher

12.1. Acesso àrede deinformaçõesrelacionadas atrabalho/saúde/educação eoutras, damulher.

12.1. Utilizaçãode fichas para oatendimentocomoinstrumento paracoleta de dados.12.2. Dificuldade deacesso às informaçõesatualizadas sobrerecursos dacomunidade, bemcomo situação sócioeconômica domunicípio; neste caso,direcionada à mulher.12.3. Falta deequipamentos.12.4. Falta detreinamento.12.5. Cadastro deinstituiçõesgovernamentais e nãogovernamentais.

12.1. Localização de ruas,bairros, patrimônios,assentamentos.12.2. Localizar e identificarescolas, creches,instituições nãogovernamentais.12.3. Localização deprocedência de mulheresdesempregadas.12.4. Localização de regiõescom maior índice de violênciacontra mulheres.12.5. Localizar e identificardelegacias, cursosprofissionalizantes paramulheres, U.B.S., gruposorganizados, clubes deserviços, pólos de extensão.12.6. Localizar região deprocedência da mulher atendida.12.7. Localizar demandade emprego para mulheres.

12.1. Gostaríamosde treinar pessoal.Obterequipamentosnecessários eelaborar projeto deimplantação dogeoprocessamentona secretaria. Iniciarmontagem debanco de dados.12.2.Implantar/montarbanco dedados/integrardados.12.3. Gerarinformações.

13. SEPLAN 13.1. Obter dadosdo municípiopara embasar oplanejamentoestratégico, aavaliação deprogramas eprojetos e obterindicadores dagestão municipal.

13.1.Equipamentos.13.2. Software.13.3. Pessoaltreinado.

13.1. Área urbana e ruralda sede e distritos.13.2. Para área urbana:lote, quadra, logradouro.13.3. Para área rural:estradas.

13.1. Base pronta.Software definido epessoal treinado.13.2. Banco dedados instalados.13.3.Disponibilidadegeral e atualização.

continuação

continua

Page 99: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

223Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

14. CODEL 14.1. Missãoprincipal éatração deinvestimentospara a cidade.14.2. A basedigital e a basede dados serãoúteis parainformaçõesconfiáveis paranovosempreendimentos,disponibilizados(ou vendidos)aos empresáriosinteressados.

14.1.Treinamento parapessoal (Mapinfo)14.2. Basecartográficaadequada:Arruamento,intervalos comintersecção porquadras(geocodificaçãoideal).14.3.Equipamentos(agora emprocessolicitatório).

14.1. Níveis: lote, quadra,logradouro, arruamento,arruamento rural e curvasecundárias.14.2. Levantamentoaltimétrico.14.3. Dados de consumode água, luz, demanda portelefones.

14.1. Pessoaltreinado a fornecerqualquer tipo deinformaçãoreferente àindustrialização elocalização de lotesindustriais “online”.14.2. Poder colocara disposição deempresáriosinformações vitaispara implantação deindustrias, semdistorções edefasagem.

15. IPPUL 15.1.Planejamentourbano (DoMunicípio).15.2. Diretrizespara ocupação,uso do solo,perímetro eexpansãourbana.15.3. Diretrizespara o sistemaviário macro emicro.15.4. Projetosparaequipamentosurbanos.15.5. Gerir eatualizar, atravésde pesquisa,dados.

15.1.Equipamentospara coleta eplanejamento(dos dados) parasistema viário.15.2. Basecartográfica(municipal,precisão).15.3. Informação“inter” secretarias.15.4. Pesquisa.15.5. Bancos dedados.15.6. Analista.15.7. Hardware.15.8.Treinamento.

15.1. Curva de nível n/n(3D).15.2. Confrontação(lotes/propriedades).15.3. Avenidas, ruas,arruamento, logradouros,rodovias, eixos, glebas,hidrografia.15.4. Equipamentosurbanos.15.5. Diretrizes (antigas eatuais).15.6. Pavimentação.15.7. Árvores: arborizaçãourbana/remanescentes.15.8. Sinalização trânsito.15.9. Galerias.15.10. População,densidade, etc.

15.1. Banco dedadosgeorreferenciadocom basedigitalizada domunicípio.Treinamento de 15pessoas eequipamentos.15.2. Gerar mapastemáticos.15.3. Softwaresavançados-planejamento.

16. SecretariaMunicipal deAgricultura eAbastecimento

16.1. Promovere orientar odesenvolvimento agrícola domunicípio,através deprogramas deapoio àprodução eabastecimento.

16.1.Convencimentodo grupo quantoà urgência de setratar área rural.16.2. Base digital.16.3. Software.16.4.Treinamento depessoal.

16.1. Propriedades rurais.16.2. Curva de nível (3D).16.3. Áreas de lavoura.16.4. Áreas de floresta.16.5. Isotermas.16.6. Isoietas.16.7. Tipos de solos.16.8. Estradas.16.9. Hidrografia.16.10. Glebas.

16.1. Treinamento16.2. Basecartográficamunicipal.

continuação

continua

Page 100: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

224 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 211-224, jul./dez. 2001

17. COHAB-LD 17.1. Perímetrourbano.17.2. Área deexpansão urbana.17.3. Denominaçãode lotes e glebas.17.4. Zoneamento.17.5. Plano diretor.(projeção dosistema viário).17.6. Demarcaçãodas redes de altatensão.17.7.Demarcaçãodas servidões depassagem.17.8.Demarcaçãodos fundos de valese áreainstitucionais.17.9.Áreas deatuação doscartórios de registrode imóveis.17.10.Áreas comimpossibilidade deatendimento porrede de distribuiçãode água potável pelaSANEPAR.17.11.Áreas comimpossibilidade deatendimento porrede de energiaelétrica pelaCOPEL.17.12.Destaque dosempreendimentoshabitacionais daCOHAB-LD.17.13.Destaque dasfavelas urbanizadas,não urbanizadas,núcleos e áreasinvadidas na cidadee zonas rurais.17.14.E outros ...

17.1.Centralização dasinformações comacesso a todos.

17.1.Perímetro urbano.17.2.Área de expansãourbana.17.3.Denominação de lotese glebas.17.4.Zoneamento.17.5.Plano diretor (sistemaviário)17.6.Demarcação das redesde alta tensão.17.7.Demarcação dasservidões de passagem.17.8.Demarcação dosfundos de vales e áreainstitucionais.17.9.Áreas de atuação doscartórios de registro deimóveis.17.10.Áreas comimpossibilidade deatendimento por rede dedistribuição de águapotável pela SANEPAR.17.11.Áreas comimpossibilidade deatendimento por rede deenergia elétrica pelaCOPEL.17.12.Destaque dosempreendimentoshabitacionais da COHAB-LD.17.13.Destaque das favelasurbanizadas, nãourbanizadas, núcleos eáreas invadidas na cidade ezonas rurais.

continuação

Page 101: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

225Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 225-229, jul./dez. 2001

INTRODUÇÃO

O ser humano, desde os primórdios da suahistória, é dependente direto da Natureza queo cerca; não somente para sua alimentação, mastambém para seu abrigo, seu lazer, seu trabalho.A casa precisa de cimento e tijolo, o videogameprecisa de silício e energia elétrica, os móveissão de madeira e as máquinas são de ferro ououtros metais combinados, etc. Tudo extraídoda Natureza.

Os estudos, análises, mapeamentos,levantamentos, inventários e outras formas decoleta e avaliação qualitativa e quantitativa dosrecursos dessa Natureza sempre estiveram afrente do pensamento dos estudiosos em meioambiente. A preocupação com a extraçãoilimitada de recursos naturais limitados parasatisfazer as necessidades da humanidade setornou uma realidade já há algum tempo.

Recorda-se, na Copa do Mundo de 1970,um hino que dizia “90 milhões em ação, p’rafrente Brasil, do meu coração”; nessa década,portanto, extraía-se bens da Natureza para

SIG em Londrina

Osvaldo Coelho Pereira Neto*

André de Lima* *

RESUMOOs Sistemas de Informação Geográfica (SIG’s) são ferramentas computacionais ideais para administrar os recursos naturaisde uma região. A cidade de Londrina, pólo do Norte do Estado do Paraná, já opta por essa tecnologia em algumasinstituições. O presente trabalho, pretendendo visualizar a abrangência dessa tecnologia na cidade, conclui que, apesarda introdução recente, os SIG’s estão sendo levados muito a sério, com um futuro promissor.

PALAVRAS-CHAVE: tecnologia, sistema de informação geográfica, Londrina.

* Professor do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]** Aluno do 4o ano do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina: E-mail: [email protected]

satisfazer a uma população de 90 milhões debrasileiros. O número de estudos ambientais,informações, mapeamentos, etc., já era muitogrande. Atualmente, ano de 2001, tem-se umapopulação no Brasil de cerca de 160 milhõesde pessoas que também necessitam dessaNatureza em quantidade muito maior, o queacarreta a necessidade de organização egerenciamento de informações ambientais emum volume extremamente grande.

Nesse panorama é que surge a informáticacomo meio para auxiliar o homem nessegerenciamento de dados ambientais, através dosSistemas de Informações Geográficas (SIG’s).Estes são softwares que armazenam, manipulame apresentam mapas em computador, além deassociá-los a um banco de dados informativo,auxiliando o pesquisador a gerar soluções etomar decisões sobre a região de abrangênciado mapa.

Este trabalho tem como objetivo descreveruma primeira aproximação sobre a situação douso desses SIG’s na cidade de Londrina, póloregional do Norte do Estado do Paraná, através

Page 102: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

226 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 225-229, jul./dez. 2001

de conversas informais com pessoas e entidadesda cidade. Em um futuro a curto prazo, serádada continuidade a este trabalho por meio dequestionários amplamente elaborados, gerandouma segunda aproximação mais exata.

Londrina é uma cidade jovem e madura,com a tranqüilidade de uma cidade pequena ecom o conforto (e alguns problemas) de cidadegrande. Nesse contexto de que os SIG’s auxiliamo gerenciamento ambiental e pensando-se quea cidade já tem aproximadamente 440 milhabitantes, o presente estudo pretende situarLondrina na linha histórica da evolução dessageotecnologia, possibilitando uma visão daimportância atual dessa geotecnologia para a cidade.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s)são um conjunto de ferramentas para coletar,armazenar, recuperar, manipular e apresentardados espaciais do mundo real para umconjunto de objetivos específicos(BURROUGH, 1987, p.6).

Os primeiros trabalhos a serem elaboradoscom os primeiros SIG’s começaram em meadosde 1960 nos EUA. Porém, só no início dos anos70, com o crescimento acelerado da tecnologiacomputacional, é que o sistema tornou-seamplamente disponível (ARONOFF, 1989, p.32).

A implementação de um SIG é uma tarefaárdua, um processo que, do seu início, com oconhecimento da tecnologia por umaorganização, até a efetivação de sua implantaçãocom a operacionalização, decorre relativamenteum longo tempo (no mínimo 1 ano, conformeKirchner et al (1990). Esse longo prazorequerido pelo SIG para seu plenofuncionamento, é expressão da complexidadeque envolve o planejamento e a concretizaçãodo uso desta tecnologia, complexidade essa,ocasionada preponderantemente por questõestécnicas, ligadas a equipamentos, e questões derelacionamento humano, mais especificamentede senso de trabalho em equipe.

Das questões técnicas salienta-se anecessidade de compra de equipamentos úteise/ou indispensáveis a tecnologia SIG, como:computadores; mesa digitalizadora; scanner;plotter; e softwares. Outro fato a sermencionado é a necessidade de treinamentopara a manipulação dos equipamentos citadosacima. A percentagem de dificuldades trazidaspor esta questão na implementação do SIG, nãoestá diretamente ligada aos equipamentos etreinamento, mas sim nos altos recursosfinanceiros necessários para a aquisição dosequipamentos (bem como sua manutenção) eexecução do treinamento. Burrough (1987)chama a atenção para o fato de equipamentoscomo os computadores e softwares tornarem-se rapidamente obsoletos, devido ao aceleradodesenvolvimento tecnológico na área deinformática, necessitando-se, desta maneira,que, periodicamente, haja a renovação destes,implicando em mais investimentos financeiros.

Mas segundo Kirchner et al (1990) não estãonessas questões técnicas o maior empecilho para aimplementação do SIG e sim no relacionamentohumano. Conforme o mesmo autor:

O choque de personalidade ou a disputa pelopoder pode reverter aparentemente decisõeslógicas. Não são aquelas decisões feitas por pessoascom falta de lógica, mas aquelas que as pessoasenvolvidas possuem múltiplos objetivos. (...)Aonde as pessoas interagem, existe política.” Oembate de interesses individuais desestabilizaqualquer tipo de trabalho em equipe, e “aimplementação de um Sistema de InformaçãoGeográfico é onde a tecnologia e as pessoas seencontram. (KIRCHNER et al,1990, p.105).

Logo, não havendo um propósito em comum,a sua implementação está fadada ao fracasso.

Aronoff (1989) e Kirchner et al (1990)estruturam esse processo de implementação emseis fases: 1. A conscientização; 2.Desenvolvimento das exigências do sistema; 3.Avaliação do sistema.; 4. Desenvolvimento deum plano de implementação; 5. Aquisição doSistema e Inicialização; 6. Fase Gerencial.

A implementação do sistema inicia-se

Page 103: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

227Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 225-229, jul./dez. 2001

efetivamente a partir da quarta fase, nas trêsprimeiras fases em linhas gerais realiza-se umainvestigação da viabilidade do SIG.

A primeira fase, a fase de conscientização,dá-se quando pessoas vinculadas a umainstituição tomam conhecimento do SIG e, porgeralmente não estarem satisfeitas com osresultados do sistema usado por sua organização,propõem essa tecnologia como possibilidade deresolução dos problemas do sistema vigente.Kirchner et al (1990) chega a listar os problemasmais comuns com sistemas de informação, quelevam a migração para uso do SIG, são estes:– A informação espacial não é mantida ou está

desatualizada;– Os dados espaciais não são gravados ou

armazenados de maneira padronizada;– Os dados não são compartilhados;– As capacidades de recuperação e

manipulação dos dados são inadequadas;– Novas exigências feitas para a organização

não podem ser atendidas usando-se o sistemade informação atual.Na fase seguinte, desenvolvimento das

exigências do sistema, a idéia de que o SIG tempossibilidade de melhorar o tratamento dosdados da instituição é formalmente reconhecidae busca-se maiores informações a respeito destatecnologia, analisando as necessidades do sistema.

Na fase de avaliação do sistema, é estudadaa viabilidade de implantação do SIG e de outrossistemas. É através da ponderação dasnecessidades levantadas na fase anterior com asqualidades de cada sistema, que se toma a decisãoda aquisição do SIG ou de outro sistema.

Decidindo-se pelo SIG, passa-se para outrafase, a de desenvolvimento de um plano deimplementação. Nesta fase é traçado um planopara a aquisição dos equipamentos, de como sedará o treinamento da equipe de trabalhoresponsável pela manipulação dessesequipamentos, e por quais mudanças estruturaisa organização deverá passar para que haja sucessona implementação do novo sistema de informação.

Na quinta fase, aquisição do sistema einicialização, o sistema é instalado, a equipe de

trabalho é treinada, inicia-se a construção dabase de dados, e os procedimentos de operaçãocomeçam a ser estabelecidos. Kirchner et al(1990) chama a atenção para o fato de que nestafase se deve ter cuidado especial com a qualidadedos dados de entrada. Ainda segundo o mesmoautor, é necessária a implementação deprocedimentos de atualização adequados paraa manutenção do fluxo e integridade do bancode dados.

A fase gerencial é o último estágio daimplementação do SIG; nele, o banco de dadosdo sistema já está preparado para trabalhar como fluxo de informações da organização.

METODOLOGIA

A coleta de informações necessárias aotrabalho transcorreu a partir de conversasinformais com alguns usuários já conhecidos.Estes, durante a consulta, informaram a respeitode outros usuários possíveis, que também foramcontatados.

Para se ter um panorama sintético sobre o“estado da arte” do SIG em Londrina, osquestionamentos foram direcionados a algunsitens que são representativos para a análise doobjetivo deste trabalho. São eles:– início da atividades com SIG;– hardware e software disponíveis;– dificuldades encontrada no início das

atividades e atualmente;– existência de uma equipe de trabalho;– realização de algum tipo de treinamento;– atividade principal desenvolvida atualmente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram contatadas 11 pessoas usuárias deSIG, locadas em 8 instituições públicas eprivadas situadas na cidade de Londrina. Umainstituição, que sabe-se ser usuária dessessistemas, não pode ser contatada; admite-se,ainda, a possibilidade de se ter mais alguma

Page 104: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

228 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 225-229, jul./dez. 2001

instituição que não foi consultada devido aocompleto desconhecimento de sua existência (porexemplo: pequenas empresas de levantamentotopográfico ou escritórios de arquitetura).

Dos dados coletados, percebe-se que oemprego da tecnologia SIG em Londrina é umfato muito recente, não chegando a uma décadaa primeira experiência de implementação; datado ano de 1993 as primeiras atividades de umórgão nesse aspecto. Somente entre os anos de1997 e 1999 é que se deu um acréscimosignificativo, não só pelo número de usuários, mastambém pela importância das atividades realizadas.

Diferente da idéia de Kirchner et al (1990)que ressalta estar nas questões derelacionamento humano as maiores dificuldadesde desenvolvimento de um SIG e não nasquestões técnicas, os entrevistados das diversasinstituições mencionaram fatospreponderantemente ligados a questões técnicascomo sendo os principais causadores deproblemas na implementação dessa tecnologia.Algumas instituições citaram como causa dedificuldades no desenvolvimento do SIG a faltade integração entre os usuários deste sistemaem Londrina, onde se prefere permanecer como conhecimento adquirido a crescer através dacooperação. Os demais problemas versam arespeito da falta de investimentos para a atualizaçãode equipamentos, falta de base cartográfica,dificuldade para a construção de bancos de dados,problemas de aquisição e conversão de dados e defalta de capacitação do profissionais.

Em termos de hardware, a capacidade deprocessamento dos computadores éimprescindível para o trabalho com a tecnologiaSIG; algumas tarefas tornam-se impraticáveisconforme o tempo gasto por uma máquina debaixo poder de processamento. A instituição quemelhor está equipada conta com WorkstationsUNIX ULTRA 5 SUN e com monitores de 21”.As demais distribuem-se (em uma razão de50%) entre computadores Pentium II e III;algumas instituições já possuem só Pentium III,outras possuem ambos, e existe as que usam sóPentium II. Estas últimas, provavelmente,

deverão investir na atualização de equipamentosmais modernos a curto prazo, dependendo daamplitude dos projetos que estejamdesenvolvendo.

Em se tratando de software de SIG, foilevantado o uso dos seguintes: AUTOCADMAP; ARC INFO; ARC VIEW; IDRISI; MAPINFO; MAXI CAD; SPRING; VISION; eainda um software especificamentedesenvolvido para uma das instituições. Osoftware SPRING esteve presente em cinco dasoito instituições de que se dispõe dados; tal fatonão é resultante de vantagens técnicas desteprograma sobre os outros, mas sim, porque eleé distribuído gratuitamente.

Os órgãos londrinenses envolvidos com atecnologia SIG a utilizam principalmente paradesenvolver as seguintes atividades:mapeamento da rede elétrica; zoneamentoagrícola de diversas culturas; atividades ligadasao saneamento; análise ambiental;monitoramento de florestas; mapeamento decasos de doenças e delimitação de programasde saúde; atualizações cartográficas; construçãoda base cartográfica da área urbana da cidade.Esta última atividade está sendo desenvolvidaem conjunto com 4 instituições da cidade,revelando um fator de integração de dadosbastante positiva.

Todos as pessoas contatadas receberamtreinamento para manipularem os softwarescom os quais trabalham. Quatro instituiçõeschegaram a se unir para tal fim e firmaram umconvênio com uma Universidade, trazendo paraLondrina um curso de especialização emgeoprocessamento destinado exclusivamentepara a capacitação de seus funcionários.

A grande maioria das instituições possuemequipes para trabalharem exclusivamente como SIG, exceção feita somente para duas delas,as quais existe somente uma pessoa isoladadesenvolvendo as atividades, sendo que umadessas instituições possuía uma equipe, que foidissolvida em um de seus arranjosadministrativos internos.

Page 105: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

229Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 225-229, jul./dez. 2001

CONCLUSÕES

Informações tais como: a) a existência deequipes exclusivas para atuar com SIG, b)recentemente formadas, c) normalmentetreinadas, d) tendo um parque computacionalrelativamente moderno, são fatores que refletemum grande crédito que as instituições da cidadeestão dando à utilização dos SIG’s nas soluçõesde seus problemas.

Algumas dessas “mudas” de SIG plantadasna cidade já estão produzindo frutos; outrasestão em pleno vigor, mas ainda sem frutos; eoutras estão em um estado semi-vegetativo deinverno contínuo, onde são claras aspossibilidades de surgirem frutos, mas a faltade condições apropriadas sufoca a produção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARONOFF, Stan. Geographic InformationSystem: a management perspective. Ottawa:WDL, 1989. 294p..

BURROUGH, P.A.. Principles of GeographicalInformation Systems for land resources assessment.Oxford: Oxford University Press, 1987. 193p..

KIRCHNER, Flávio Felipe, PREOSCK,Roberto Elizeu, DESTRO, João Norberto.Implementação de um SIG. In: SIMPÓSIOBRASILEIRO DE SENSORIAMENTOREMOTO, 6., Manaus, 1990. Anais... SãoJosé dos Campos: INPE, 1990. p.103-110.

GIS at Londrina

ABSTRACTGeographic Information Systems (GIS) are ideal computer tools to administer the natural resources of a region. The cityof Londrina, North of Paraná State, already has this technology in few facilities. The present work intend to show howthis technology is already spreaded. Even though GIS is recent in our city, it has been very well accepted by the community.

KEY-WORDS: tecnology, geographic information system, Londrina.

Page 106: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 107: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

231Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

1. INTRODUÇÃO

A análise ambiental tem o princípio deatender as relações das sociedades humanas deum determinado território com o seu meionatural. Para isso é necessário um planejamentoestratégico que contemple o desenvolvimentoeconômico e social dentro de uma perspectivaconservacionista dos recursos naturais e depreservação dos bens naturais e culturais (ROSS,1995). Um dos grandes alvos de estudo, naanálise ambiental, são as áreas florestais,principalmente por apresentarem normalmente

Análise dos Remanescentes Florestais da BaciaHidrográfica do Rio Tibagi – Paraná, UtilizandoSistemas de Informação Geográfica

Graziele Hernandes Volpato *Mirian Vizintim Fernandes Barros* *

RESUMOO processo de desmatamento tanto mundial quanto regional tem ocasionado diversos distúrbios nos ecossistemas. Estetrabalho tem como proposta um estudo da espacialização dos remanescentes florestais da bacia hidrográfica do rioTibagi-PR, com enfoque no tamanho dos fragmentos, já que são dados importantes para subsidiar propostas deplanejamento, manejo e conservação, ou de implantação e ampliação de áreas para a preservação dos recursos naturais.No desenvolvimento do trabalho foi utilizada a Carta de Uso e Ocupação do Solo da Bacia do Rio Tibagi, na escala1:250.000, elaborada a partir de dados do LANDSAT TM 5, em formato analógico. Esta foi escanerizada e integrada aoprograma SPRING, onde foi executados a edição vetorial, o cálculo de área das classes e a reclassificação, objetivandoreconhecer e localizar os remanescente florestais. A bacia ocupa 12,6% da área do estado e apresenta 9,3% de matanatural, com 985 fragmentos, sendo que 894 apresentam tamanho entre o intervalo 0,003595 Km2 e 4,623595 Km2. Éno alto Tibagi onde ocorre a maior concentração de fragmentos, distribuídos irregularmente; na parte do baixo Tibagi eao longo do rio a presença destes são quase inexistentes, influenciando na falta de corredores florestais, o que demonstraa necessidade da criação de novos planos de manejo e de áreas prioritárias.

PALAVRAS-CHAVE: Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi, remanescentes florestais, SIG, análise ambiental.

* Aluna do Curso de Especialização em Análise Ambiental em Ciências da Terra do Departamento de Geociências doCentro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Londrina, Paraná; e-mail: [email protected]

** Profa. Dra. do Departamento de Geociências do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Londrina,Paraná; e-mail: [email protected]

grandes extensões, acesso difícil e por estaremsofrendo diretamente a intervenção humanaresultante da expansão demográfica.

Dentre os elementos que compõem anatureza, a vegetação é o principal indicadorna qualidade ambiental, visto que age emconjunto com outros elementos no equilíbriodo meio, porém esta tem sofrido violentaredução de área principalmente nas regiõestropicais. Segundo o relatório produzido pelaONU sobre a situação das florestas do mundoem 2001:

Page 108: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

232 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

As florestas estão diminuindo em ritmo alarmantenos países tropicais. Elas ocupam atualmente 30%da superfície do planeta ou 3870 bilhões dehectares, dos quais 95% são florestas naturais e5% plantações. Na última década, a perda líquidaanual (diferença entre florestas desaparecidas esuperfícies reflorestadas) foi de 10 milhões dehectares em média. O desaparecimento de florestasnaturais foi de 16,1 milhões de hectares por ano –1,2 milhão apenas em regiões tropicais.

Segundo o mesmo relatório a poluiçãoatmosférica, a prática de corte incorreta, aexploração de madeira intensa, as tempestadese os incêndios florestais são as principais causasdesta diminuição, e entre os países citados estáo Brasil.

A redução da vegetação natural brasileira éum fator alarmante, considerando sua recentecolonização quando comparada com outraspartes do mundo. Este processo ocorreu deforma bastante rápida por quase todo oterritório, mesmo áreas de ocupação recente nãoforam poupadas. No Brasil existem poucas áreascom considerável extensão de floresta, entre elasestá a floresta Amazônica. A floresta Amazônicaé uma das maiores florestas tropicais do mundoe ocupa aproximadamente 30% do territórionacional (PANDOLFO, 1978 apud TARDINe CUNHA, 1992). No entanto, durante muitasdécadas foi alvo de extensa exploração,principalmente a partir da colonização européiana América do Sul. Devido a sua importância,em 1973 o Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE) iniciou o Projeto deDesflorestamento ou Projeto de Estimativa dodesflorestamento Bruto da Amazônia(PRODES), utilizando imagens de satélitesLANDSAT. Os resultados dos últimos anosdeste trabalho mostram que a taxa média dedesflorestamento bruto (ou seja, sem consideraras áreas de regeneração ou replantio de floresta),foi em 1999 de 17259 Km2/ano com aumentoem 2000 para 19836 Km2/ano (INPE, 1992;INPE 2001b).

No Norte do Paraná, o processo decolonização ocorreu de forma muito rápidaocasionando profunda transformação da

paisagem natural coberta outrora por umacontínua floresta, processo que fica evidenciadoprincipalmente nas últimas décadas. Segundoo Relatório complementar do projeto uso atualdo solo do território do estado do Paraná, oestado possui em 1994 apenas 8,76% de suavegetação nativa, o que corresponde a17469,01Km2 (PARANÁ, 1994).

Esta realidade não é muito diferente na BaciaHidrográfica do Rio Tibagi, principalmente nasua porção baixa, onde as terras férteis eagricultáveis ocasionaram uma drástica reduçãoda cobertura vegetal, correspondendo atualmentea menos de 1%, representados por fragmentos deremanescentes florestais com maior ou menor graude perturbação (DIAS, 1997).

O desmatamento de áreas de florestas reduza quantidade de vegetação arbórea disponívelpara a fauna de uma região, ameaçando assim adiversidade biológica (MORELLATO eLEITÃO FILHO, 1995; BIERREGAARD eSTOUFFER, 1997). Um exemplo dessa ameaçaocorre no grupo de aves, e diversos trabalhosmostram a extinção de espécies e mudanças nacomposição da avifauna em decorrência dafragmentação florestal (ALEIXO eVIELLIARD, 1995; ANJOS, 2001).

Essas alterações podem ser minimizadas,segundo Anjos e Boçon (1999), pela formaçãode corredores florestais, ou seja, que interligamfragmentos menores a maiores, ou ainda porfragmentos menores próximos um dos outros.

A redução da vegetação implica também naalteração da radiação gerando aumento dasamplitudes térmicas, reduzindo a umidade doar e aumentando a velocidade dos ventos,ocasionando uma mudança climática(MENDONÇA, 2000). Outras alteraçõesfísicas relacionadas ao desmatamento são: aperda do solo devido a sua disposição direta àságuas de escoamento superficial e ventos e, apoluição de águas tanto superficiais quantosubterrâneas.

Este trabalho tem como proposta o estudoda espacialidade dos remanescentes florestais daBacia Hidrográfica do Rio Tibagi, com ênfase

Page 109: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

233Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

no tamanho dos fragmentos. Estes dados sãode grande importância para projetos que visamo planejamento, conservação e manejo de áreasde remanescentes florestais da bacia, comotambém para planos de implantação eampliação de áreas de proteção ambiental, deincentivos de florestamento, de criação decorredores florestais, dentre outros.

Os dados para um planejamento estratégicopodem ser trabalhados por processosinformatizados, como os Sistemas deInformações Geográficas (SIGs), que segundoTeixeira et al. (1992), facilitam o trabalho dacomunidade científica e de órgãos e entidadesambientais, trazendo benefícios à população, jáque são sistemas que realizam tratamentocomputacional de dados espacializados.

Segundo Câmara e Medeiros (1996), umSIG armazena a geometria e os atributos dosdados que estão georreferenciados, isto é,localizados na superfície terrestre, utilizando paraisto uma projeção cartográfica. Ele tambémmanipula banco de dados em tempo real e criaprodutos finais com acabamento criterioso e comriqueza de informações (BRANDALIZA, 1993).

Dentre as diversas áreas do conhecimentoque utilizam o SIG como ferramenta paraestudo e análise de dados espacializados,podemos citar aquelas que se dedicam aomonitoramento de remanescentes florestais.

Os dados cartográficos existentes ainda sãona maioria das vezes em formato analógico, oque restringe sua consulta e manuseio pormuitas pessoas ao mesmo tempo. Uma dasvantagens do formato digital é a possibilidadede sua utilização por muitos usuários ao mesmotempo, sua atualização, ou alteração epreservação. Estas características incentivarama utilização de dados de uso do solo da bacia doTibagi em formato analógico transformando-os em digital, a fim de inseri-los no Sistema deProcessamento Informações Georreferenciados(SPRING), para compor uma base de dados.Com este procedimento é possível darcontinuidade ao trabalho acumulandoinformações, atualizando ou até mesmo

inserindo novas (e/inúmeras) variáveis paracompor o banco de dados, permitindo integraçãodos dados para subsidiar futuros trabalhos.

2. O DESENVOLVIMENTO DOS SISTEMASDE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

Os Sistemas de Informações Geográficas(SIG) surgiram há mais de três décadas e têm-se tornado ferramentas valiosas nas mais diversasáreas de conhecimento. Tais sistemas constituemum ambiente tecnológico e organizacional quetem, cada vez mais, ganho adeptos no mundotodo (MENEGUETTE, 1994). Seudesenvolvimento, esta diretamente relacionadocom os avanços na área de computação.Somente, após 1960, com a disponibilidade docomputador digital, cresceram, tanto osmétodos conceituais de análise espacial, quantoas reais possibilidades de mapeamento temáticoquantitativo (BURROUGH, 1986). Nestasúltimas décadas, têm-se tornado ferramentasvaliosas nas mais diversas áreas deconhecimento, e “evoluíram como meios dereunir e analisar dados espaciais diversos, dentreos quais, muitos foram desenvolvidos para finsde planejamento e de manejo de recursosnaturais ao nível urbano, regional, estadual enacional de órgãos governamentais” (STAR eESTERES, 1990 apud LIMA, 1994).

O primeiro sistema a reunir as característicasbásicas de um SIG, foi o Canadian GeographicInformation System (CGIS) implantado pelogoverno do Canadá em 1964, tendo sidoprojetado com a finalidade de facilitar o usodos dados recolhidos pelo Inventário de Terrasdo Canadá (CLI). Em 1969, Mc Harg apudSmith (1987) formalizou o conceito deadequabilidade e capacidade da terra (SCA) cujatécnica envolve a sobreposição (“overlay”) deplanos de informação (“layers”) de dados,espacialmente referenciados, correspondente acada atributo da paisagem. Como resultado,obtém-se uma matriz de conveniências e derestrições para diferentes usos das terras.

Page 110: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

234 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

Após o CGIS foram desenvolvidos ossistemas de New York Lanusse and NaturalResources Informations Systens (1967) eMinnesota Land Management InformationSystem (1969) restrito a agências federais eestaduais do governo Americano e Canadense,em virtude dos custos elevados e dos problemasde implementação, (TEIXEIRA et al. 1992).

Nas décadas posteriores, ocorreram avançosconsideráveis em equipamentos e softwares, quepermitiram novas aplicações, houve também aredução de seus custos, contribuindo para tornar osSIGs uma tecnologia de rápida difusão e aceitação.

O manual do ARC-INFO traz a seguintedefinição de SIG:

An organized collection of computer hardware,software, geographic data, and personnel designedto efficiently capture, store, update, manipulate,analyse, and display all forms of geographicallyreferenced information”, (LIMA, 1994).

Para Burrough (1986), é

um forte conjunto de ferramentas para captura,armazenamento, recuperação, transformação erepresentação espacial de dados do mundo realpara análise de acordo com finalidades específicas.

Três componentes formam os SIGs, que são:um hardware; um software de aplicação commódulos de entrada e verificação de dados,estocagem de dados, transformação de dados,tratamento gráfico e saída de resultados, e interaçãocom o utilizador; e um contexto de orientaçãodo trabalho dentro dos quais os objetivos sãoclaramente definidos e que ajuda por sua vez napreparação da coleta de dados e a escolha dastransformações (RIMBERT, 1989).

Segundo as características, arroladas acimaos SIGs têm possibilidade de:

– integrar, numa única base de dados, asinformações espaciais provenientes de dadoscartográficos, dados de censo e de cadastro urbanoe rural, imagens de satélite, rede e MNTs;– combinar as várias informações através dealgoritmos de manipulação, para gerarmapeamentos derivados;

– consultar, recuperar, visualizar e desenhar oconteúdo da base de dados geocodificados(ASSAD e SANO, 1993).

O sucesso e a rápida expansão, dos SIGs,deve-se fundamentalmente a sua versatilidadee potencial, quando usado para solucionarproblemas de análise, nas mais diversasaplicações temáticas (uso da terra, topografia,geologia, análise ambiental, clima, solos, etc.).

2.1. SIG NO BRASIL

O surgimento dos Sistemas de InformaçãoGeográfica esta vinculado aos avanços dainformática, a partir das décadas de 40 e 50,trouxe novos recursos, como a automação dedeterminados processos de análise espacial paraa cartografia e geografia (TEIXEIRA et al.,1992; TEIXEIRA et al., 1995).

No Brasil, as primeiras iniciativas ocorrerampor volta dos anos 60, com a criação daComissão Nacional de Atividades Espaciais –CNAE, em São José dos Campos que, em 1971,se transformou no atual Instituto Nacional dePesquisas Espaciais – INPE. Com o objetivode estabelecer programas que desenvolvessem,no Brasil, tecnologias mais avançadas desensoriamento remoto, foi criado ainda no anode 1971, um plano de cooperação entreConselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq), INPE eNASA, que resultou no projeto denominadoRadam, permitindo o imageamento daAmazônia que depois, em 1975 foi ampliadopara todo território nacional, sendo chamadode Radambrasil (TEIXEIRA et al., 1995).

Após essa primeira tentativa, o INPEdesenvolveu pesquisas na área de processamentodigital de imagens. Até que em 1985 lançou oprimeiro sistema de processamento de imagens,o SITIM (Sistema Interativo de Tratamento deImagens). Com o equipamento básico doSITIM foi desenvolvido o SIG, umaconseqüência da intensa utilização de aplicações

Page 111: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

235Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

complexas das técnicas do sensoriamentoremoto. O SIG-SITIM evoluiu para o SPRING– Sistema de Processamento InformaçõesGeorreferenciados, (TEIXEIRA et al., 1995).

O SPRING possui quatro característicasprincipais: (1) opera como um banco de dadosgeográficos sem fronteiras e suporta grandevolume de dados (sem limitações de escala,projeção e fuso), mantendo a identidade dosobjetos geográficos ao longo de todo banco; (2)administra tanto dados vetoriais como dadosmatriciais (“raster”), e realiza a integração dedados de Sensoriamento Remoto num SIG; (3)provê um ambiente de trabalho amigável epoderoso, através da combinação de menus ejanelas com uma linguagem espacial facilmenteprogramável pelo usuário (LEGAL –Linguagem Espaço-Geográfica baseada emÁlgebra); (4) consegue escalonabilidadecompleta, isto é, é capaz de operar com todasua funcionalidade em ambientes que variemdesde microcomputadores a estações de trabalhoRISC de alto desempenho (INPE, 2001a).

Além deste SPRING, muitos outros sistemasforam introduzidos, principalmente após a décadade 70 e estão sendo utilizados em várias instituiçõespublicas e privadas, por diferentes profissionais epara diversificados objetos de pesquisa.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. ÁREA DE ESTUDO

A Bacia Hidrográfica do Rio Tibagi (22o 42’23”S, 25o 30’ 29”S, 49o 49’ 55”W e 51o 25’23”W) é a maior entre as quinze baciashidrográficas do Estado do Paraná, com umaárea total de 24.530 Km2 (2 417 167 ha).

A nascente do Rio Tibagi está localizada nosul do estado, no município de Palmeira a 1150metros de altitude. Durante seu percurso, o RioTibagi percorre três diferentes zonas do relevoparanaense, passando pelo Primeiro, Segundoe Terceiro Planalto, até atingir o rioParanapanema a aproximadamente 300 metrosde altitude (SOARES e ANJOS, 1997).

As diferenças de latitudes e altitudes ao longoda bacia, tornam o clima ao sul mais temperadoe ao norte mais subtropical. Essas diferençasclimáticas permitem estabelecer uma divisão,sem uma delimitação muito rigorosa, da baciaem Alto Tibagi (região de Ponta Grossa, comtemperatura média anual de 18o C), MédioTibagi (região de Telêmaco Borba, comtemperatura média anual de 19,5o C) e o BaixoTibagi (região de Londrina, com temperaturamédia anual de 21o C) (SOARES e ANJOS,1997; MENDONÇA, 2000).

3.2. METODOLOGIA

O trabalho baseia-se na utilização de dadosde uso do solo da Bacia do Rio Tibagi, obtidosa partir de imagens orbitais, já que a área dabacia abrange uma área bastante extensa, e asimagens orbitais facilitam o estudo de âmbitoregional (VIZINTIM et al., 1991). Imagensorbitais são segundo Françoso et al. (1993) umafonte primária, que busca dados diretamentedo mundo real, e podem ser utilizadas comodados em um SIG, que segundo Nero (2000) éa união de uma base cartográfica digitalassociada a um banco de dados, onde a basecartográfica é formada pelos elementos domundo real (como rios, lagoas, florestas, etc),representados por um banco de dados,incluindo atributos como comprimento, área,coordenadas, etc.

Para o desenvolvimento do trabalho, foiutilizada a carta-base, realizada por Vizintim(1992), elaborada a partir de imagens orbitaisdo TM Landsat 5, em papel fotográfico, bandas3/4/5, cenas 221/077 (16/03/93) e 221/076(02/01/93), na escala 1: 250 000. A escolhadesta carta deve-se ao fato de ser a que contémdados mais recentes sobre uso do solo da bacia.A carta-base foi escanerizada via scanner de rolo,com resolução de 600dpi no formato tiff. Apósa escanerização a imagem foi integrada no SIGdo INPE (SPRING), onde foi convertidaautomaticamente de uma estrutura matricial

Page 112: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

236 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

(raster) para uma estrutura vetorial (vector), queé mais indicada para a representação deelementos individualizáveis do mundo real,representado por um ou mais pares decoordenadas. (DAVIS, 1997/1998 apudNERO, 2000).

Como etapa seguinte foi realizada a ediçãovetorial da imagem, a fim de corrigir erroscomuns causados pela vetorização automática,como a conversão de textos e símbolos de pontoscomo entidades de linha.

A etapa final foi de relacionar os atributosaos polígonos. Barros e Mendonça (2000),utilizaram os critérios de ANDERSON et al.(1976) para estabelecer as classes de legenda deuso e ocupação do solo, que segue: (1) áreaurbana: área de uso intensivo com grande partecoberta por estruturas, inclui áreas residenciais,comerciais, serviços e as industriais; (2) cultura:inclui as culturas perenes e temporárias. Asprimeiras são aquelas de ciclo longo entre o plantioe a renovação dos talhões, representadosbasicamente pela cultura de café e, num segundoplano, pela fruticultura. As culturas temporáriassão as anuais, que apresentam um ciclo curto; (3)pastagem: são áreas em que a vegetação natural épredominantemente de gramíneas, plantasgraminóides, ervas, arbustos e árvores dispersas,nas quais o pastoreiro é o uso que tem influênciamarcante. As pastagens naturais, bem como asartificiais ou cultivadas nessa categoria; (4)reflorestamento: formações florestais artificiais,disciplinadas e homogêneas, organizadas emgrandes áreas quando para uso industrial, outalhões menores e isoladas em propriedadesagrícolas; (5) mata: engloba a cobertura vegetalnatural de porte arbóreo, representada por diversostipos tais como mata de galeria e de encosta, matade araucária e mata pluvial subtropical; (6)múltiplo uso: esta categoria abrange as áreas compequenos talhões e o uso diversificado, geralmentepróximo das cidades, ou seja, chácaras, pomares,

horticulturas, ou ainda em áreas onde a atividadeprincipal é a exploração de culturas de subsistênciacom talhões apresentando-se revestidos de culturas,pastos e mata. Além dessas foram acrescentadasàs classes: (7) hidrografia que é representadoneste trabalho principalmente pelo rio Tibagi e(8) nuvens.

Utilizando a ferramenta cálculo da área,obteve a área de cada classe de uso.Posteriormente executou-se a rotinareclassificação com o objetivo de separar a classemata, a fim de reconhecer a localização dosremanescentes florestais.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A exuberante vegetação natural presente noestado do Paraná até o século XX sofreu uma grandealteração, devido principalmente à intensificaçãoda agropecuária e o crescimento urbano-industrial(BARROS e MENDONÇA, 2000).

O processo de ocupação da baciahidrográfica do rio Tibagi ocorreu de formaheterogênea. O alto Tibagi é a área mais antigano processo de colonização no interior doParaná, que se deu no início do século XX. Já aporção do baixo Tibagi, foi povoada maisrecentemente e de forma mais rápida e intensa,principalmente a partir da 1920. Além disso, asua extensão e orientação (Noroeste-Sudeste),proporcionam uma diversidade de paisagens,repercutindo no uso e ocupação do solo. Noalto Tibagi o uso do solo predominante é dotipo uso múltiplo e cultura, com algunsremanescentes florestais. Na porção do médioTibagi o uso predominante é de reflorestamentoe pastagem, enquanto no baixo Tibagipredomina a cultura e pastagem (Figura 1).

Page 113: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

237Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

Figura 1 – Carta de uso do solo da bacia hidrográfica do rio Tibagi.

Page 114: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

238 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

A bacia hidrográfica do Tibagi, com áreaaproximada de 25.237 Km2, ocupa 12,6% daárea total do estado do Paraná que é de 199323 Km2. Na Tabela 01, é apresentado o cálculode área total ocupada por cada classe do uso, eevidencia a predominância das classes pastagense cultura que somam mais de 50% da área total(31,6% e 28,2%, respectivamente), enquantoque a classe mata natural ocupa apenas 9,3%.

Comparando o percentual de área por classede uso do solo, da bacia com a do estado do

Paraná, contidos no Relatório complementardo projeto uso atual do solo do território doestado do Paraná, verifica-se uma acentuadasemelhança (PARANÁ, 1994). No estado, apastagem e agricultura somam 59,81% do totalárea (22,62% e 37,19%, respectivamente) e asflorestas apenas 8,76%, podendo estarrefletindo, em parte, que tanto a ocupação doestado do Paraná como o da bacia foisemelhante, indicando uma predominânciapara as atividades agropecuárias.

Tabela 1 – Área ocupada por classe de uso do solo da bacia hidrográfica do rio Tibagi.

Classe de uso do solo Área em Km2 Percentual sobre a áreal

Área urbana 218 0,9Cultura 7137 28,3Pastagem 7992 31,6Mata 2371 9,4Reflorestamento 2550 10,1Uso múltiplo 4570 18,1Outro (rios,nuvens) 399 1,6

Total 25237 100,0

A bacia do rio Tibagi possui 2.731Km2 desua extensão total coberta por floresta,totalizando 985 fragmentos, distribuídasdesproporcionalmente ao longo de sua área,com maior concentração no alto Tibagi As áreasdos fragmentos variam de 0,003595 Km2, paraos menores, até 143,4388 Km2, para o maior.Desses remanescentes os mais freqüentes são osmenores, totalizando 894 (Figura 2).

Com o objetivo de resumir e evidenciar osdados referentes ao tamanho dos 985remanescentes encontrados na bacia foielaborado o cálculo de distribuição defreqüências. A figura 3 apresenta as 31 classesobtidas a partir da análise estatística com suasrespectivas freqüências. A primeira classe, queengloba os fragmentos de menores tamanhos(0,003595 Km2 a 4,623595 Km2) apresenta894 fragmentos, totalizando 90,8% dosfragmentos, quanto que a última classe é

formada por um único remanescente, noentanto o de maior tamanho (143,4388 Km2)representa 0,1% da cobertura vegetal da bacia.

A maior concentração de remanescentes seencontra na região sudoeste da bacia, localizadasnos municípios de Ipiranga, Ivaí, Guambanga,Imbituva, Fernandes Pinheiro e Teixeira Soares.Essa concentração pode ser conseqüência daocupação e uso do solo na região, que segundoBarros & Carvalho (2000), a partir da tipologiaagrícola do Paraná de 1985, apresenta umdomínio de pequena produção policultura dotipo subsistência com baixo índice técnicoprodutivo e existência de terras sem utilização.

No médio Tibagi (região de Telêmaco Borba,Castro, Tibagi, Piraí do Sul, Ventania) pode seobservar à presença de fragmentos grandes, noentanto mais isolados um dos outros quandocomparados aos fragmentos do alto Tibagi.

Page 115: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

239Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

Figura 2 – Carta dos remanescentes florestais da bacia hidrográfica do rio Tibagi-PR.

Page 116: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

240 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

Quanto ao baixo Tibagi (região de Londrina,São Jerônimo da Serra, Assai, Uraí, Sertanopólis,Ibiporã e Tamarana) é a que apresenta menorconcentração sendo que os remanescentes sãoquase que inexistentes. O município deLondrina é um dos que apresenta maior númerode fragmentos, sendo o Parque Estadual Matado Godoy o mais representativo comaproximadamente 6,56 Km2. Juntamente como Parque encontram-se outros fragmentos empropriedades particulares, o que torna maissignificativo seu tamanho quanto à preservaçãoda vegetação natural da área. O atual cenário naporção do baixo Tibagi é sem dúvida decorrenteda intensa exploração agrícola, garantida pelaqualidade do solo, a partir da década de 40, coma produção cafeeira, baseada em pequenaspropriedades com mão de obra familiar.

O Tibagi, principal rio da bacia é importantepara essa região tanto por sua extensão quantoao seu potencial hidrelétrico, no entantoverifica-se a quase total inexistência de mataciliar ao longo de seu trajeto. Segundo Anjos et

al. (2001), a existência de uma faixa de mataem cada lado do rio evita o seu assoreamento emantém a qualidade da água, proporcionandocondições favoráveis aos organismos aquáticos,além disso, quando a mata ciliar é natural, elasupostamente poderia estar atuando como umcorredor florestal, ligando remanescentes florestais.

As áreas de matas da bacia encontram-se,relativamente isoladas uma das outras, sendomais evidente no Alto Tibagi. Isso implica emalguns problemas ambientais, como a falta decorredores ecológicos, que integra a fauna deum fragmento a outro. Segundo Haddad(2000) corredores florestais se constituem emum instrumento constantemente mencionadoem Planos de Manejo como importante fator àconservação biológica em paisagensfragmentadas. A situação atual na área é bastantecrítica e justifica futuros trabalhos que objetivemaumentar a área de mata natural, tanto na baciahidrográfica do Tibagi quanto no estado.

A partir desta análise e com base no decretono. 387/99 que institui o SISLEG – Sistema

Figura 3 – Histograma da distribuição de freqüência dos remanescentes florestais da bacia hidrográfica dorio Tibagi.

894

51

17

57

3

8

1

10

100

1000

0,003 - 4,623 4,623 - 9,243 9,243 - 13,864 13,864 - 18,484 18,484 - 27,104 27,104 - 27,724 27,724 - 143,524

Faixas de Área (Km2)

Freq

üênc

ia d

os F

ragm

ento

s(v

alor

abs

olut

o)

Page 117: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

241Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

de manutenção, recuperação e proteção dareserva florestal legal e áreas de preservaçãopermanente no estado do Paraná, podem sercitadas algumas medidas e áreas prioritárias deconservação na bacia hidrográfica do rio Tibagi,levando em consideração principalmente oartigo 3o desse decreto, que institui:

O Sistema de manutenção, Recuperação eProteção da Reserva Florestal Legal e Áreas dePreservação Permanente têm como diretrizesbásicas à manutenção dos remanescentes florestaisnativos, a ampliação da cobertura florestal mínimavisando a preservação, a conservação dabiodiversidade e o uso dos recursos florestais e oestabelecimento das zonas prioritárias para aconservação e recuperação de áreas florestais atravésde corredores da biodiversidade (IAP, 2001).

• A criação e o incentivo de programas deflorestamento (plantio de espécies vegetaisnativas de uma região), no entorno dosfragmentos existentes, com o intuito deaumentar essas áreas e diminuir o efeito deborda que fragmentos pequenos sofrem,além do florestamento de novas áreas,principalmente na região nordeste e centralda bacia;

• Parcerias com Instituições de nível superiorpara realizar programas de educaçãoambiental aos proprietários de terraspróximas á cursos d’água como o rio Tibagi,com o intuito de incentivar o plantio deespécies de vegetal natural de cada região,mediante a uma pesquisa junta aosprofissionais, e assim evitar o plantio,pastagens ou solo exposto às margens do rio;

• Um melhor planejamento do uso do solona bacia, evitando uma expansãodesordenada da área urbana, principalmentenos municípios mais representativos, comoPonta Grossa, Telêmaco Borba e Londrina;

• Criação de novas áreas de proteção,principalmente na região sudoeste da baciaque apresenta as maiores áreas de vegetaçãoda bacia, além de constituir um dos poucosremanescentes de floresta de Araucária dabacia;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEIXO, A.; VIELLIARD, J. M. E.Composição e dinâmica da avifauna da matade Santa Genebra, Campinas, São Paulo, Brasil.Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, v. 12,p. 493-511, 1995.

ANDERSON, J. R. E. E.; HARDY, J. T.;ROACH, R. E. Sistemas de classificação do usoda terra e do revestimento do solo para utilizaçãocom dados de sensores remotos. Trad. HaroldStrang. Rio de Janeiro: Superintendência deRecursos Naturais e Meio Ambiente, 1976.

ANJOS, L. dos,; BOÇON, R. Birdcommunities in natural forest patches insouthern Brazil. Wilson Bull, v. 111, p. 397-414, 1999.

ANJOS, L. dos. Bird communities in fiveatlantic forest fragments in southern Brazil.Ornitologia Neotropical, v. 12, p. 11-27, 2001.

ANJOS, L. dos.; BARBOSA, E. R. M.;DEPIERI, R. A.; LOPES, E. V.; SILVA, R. J.da.; VOLPATO, G. H. e MATOS, J. R. de. Aimportância da mata ciliar como corredor debiodiversidade. In: DIÁLOGO INTERAMERICANODE GERENCIAMENTO DE ÁGUAS, IV,2001, Foz do Iguaçu. Resumo... Foz do Iguaçu,2001. p. 1.

ASSAD, E. D.; SANO, E. E. Sistemas deInformações Geográficas: aplicações na agricultura.Brasília: Embrapa, 1993. p. 274.

BARROS, M. V. F.; CARVALHO, M. S. de.A situação da agricultura. In: STIPP, N.A.F.(org.) Macrozoneamento Ambiental da BaciaHidrográfica do Rio Tibagi (PR). Londrina:UEL, 2000. p. 97-133.

BARROS, M. V. F.; MENDONÇA, F.A. Usoe ocupação do solo. In: STIPP, N.A.F. (org.)Macrozoneamento Ambiental da BaciaHidrográfica do Rio Tibagi (PR). Londrina:UEL, 2000. p. 83-96.

BIERREGAARD, Jr., O.; STOUFFER, P. C.Understory birds and dinamics habitats mosaicsin Amazonian rainforests. In: LAURANCE,W.F.; BIERREGAARD, Jr., O (eds.) Tropical forest

Page 118: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

242 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

remnants: ecology, management, and conservationof fragmented communities. Chicago: Univ. ofChicago Press, 1997. p. 138-155.

BRANDALIZA, A. A. Funções básicas de umSIG. Fator Gis, v. 3, p. 18-19, 1993.

BURROUGH , P.A. Principles of geographicalinformation systemes for land resources assessment.London: Clarendon Press, 1986.

CÂMARA, G.; MEDEIROS, J. S. de.Geoprocessamentos para projetos ambientais. SãoJosé dos Campos: Instituto Nacional dePesquisas Espaciais, 1996.

DIAS, M.C. Florística do estrato arbóreo dasflorestas ciliares da Bacia do rio Tibagi, Paraná.In: SOARES, F.S. (coord.) Aspectos da fauna eflora da Bacia do rio Tibagi, IV Relatório Técnico– científico. Londrina: Universidade Estadual deLondrina, 1997. v.3.

FRANÇOSO, M.T; FREITAS, M.A.R.R.de;MELLO, H.M.C.F.de. Sensoriamento remotocomo fonte de dados para Sistemas deInformação Geográfica aplicados ao transporte eurbanismo. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DESENSORIAMENTO REMOTO,VII, 1993,Curitiba. Anais... Curitiba, 1993. p. 062-067.

HADDAD, N. Corridor lenght and patchcolonization by a butterfly, Junonia coenia.Conservation Biology, v. 14, p. 738-745, 2000.

IAP – Instituto Ambiental do Paraná. Decretono 387, de 03 de março de 1999. Istitui oSistema de Manutenção, Recuperação e Proteçãoda Reserva Florestal Legal e áreas de PreservaçãoPermanente no Estado do Paraná. Disponível em:http://www.pr.gov.br/iap/sisleg.html. Acesso em:15 de novembro de 2001.

INPE – Instituto Nacional de PesquisaEspaciais. Monitoramento da florestaAmazônica brasileira por satélites. Disponível em:http://sputnik.dpi.inpe.br:1910/col/dpi.inpe.br/lise/2001/05.16.09.55/doc/html/capa.htm.Acesso em: 23 de novembro de 2001b.

INPE – Instituto Nacional de PesquisasEspaciais. Tutorial SPRING – SPRING-3.5.Disponível em: http: // www.dpi.inpe.br/

spring. Acesso em: 03 de setembro de 2001a.INPE. Deforestation in Brazilian Amazonia.Selper: special edition, v. 8, n. 2, p. 35-36, 1992.

LIMA, M. A. de. Avaliação da qualidadeambiental de uma microbacia no município deRio Claro, São Paulo. 1994. Tese (Doutoradoem Geociências) – Universidade EstadualPaulista, Rio Claro, 1994.

MENDONÇA, F.A. A tipologia climática:gênese, características e tendências. In: STIPP,N.A.F. (org.) Macrozoneamento Ambiental daBacia Hidrográfica do Rio Tibagi (PR). Londrina:UEL, 2000. p. 22-62.

MENEGUETTE, A. A. C. Introdução aoGeoprocessamento. Presidente Prudente: Ediçãodo Autor, 1994.

MORELLATO, P.C.; LEITÃO FILHO, H.F.Ecologia e preservação de uma floresta tropicalurbana – Reserva de Santa Genebra. Campinas:Unicamp, 1995.

NERO, M. A. Estudo comparativo demetodologias de digitalização de mapas e seucontrole de qualidade geométrica, 2000.Dissertação (Mestrado em Engenharia deTransporte) Escola Politécnica. Universidadede São Paulo, São Paulo, 2000.

PARANÁ. Secretária de Estado do MeioAmbiente. Instituto Ambiental do Paraná.Laboratório Integrado de SensoriamentoRemoto. Relatório Complementar do Projeto UsoAtual do Território do Estado do Paraná.Curitiba, 1994.

RELATÓRIO da ONU sobre a Situação dasFlorestas no Mundo. Fator GIS, v. 3, n. 80,nov. 2001

RIMBERT, S., GIS ou pas? Rev. Mappe Monde,n. 1, p. 1-3, 1989.

ROSS, J.L.S. Análises e sínteses na abordagemgeográfica da pesquisa para o planejamentoambiental. Revista do Departamento deGeografia da Universidade de São Paulo, v. 9, p.65-75, 1995.

Page 119: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

243Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 231-243, jul./dez. 2001

SMITH, T. R.; MENON, S; STAR J.; ESTES,J. E. Requeements and principles for theimplementation and construction of large-escale geographic infomation sistems. Int. J.Geographical Information Systems, v. 1, n. 1, p.13-31, 1987.

SOARES, F.S; ANJOS, L.dos. Aspectos Físicosda Bacia do Rio Tibagi,. In: SOARES, F.S.(coord.) Aspectos da fauna e flora da Bacia do rioTibagi, IV Relatório Técnico – científico.Londrina: Universidade Estadual de Londrina,1997, v. 1, p. 07-13.

TARDIN, A. T.; CUNHA, R. P. da,. The useof Landsat images in the evaluation ofdeforested areas in the legal amazon and someof its environment effects: na overview. Selper:special edition, v.8, n. 2, p. 31-34, 1992.

TEIXEIRA, A. A.; MOTIS, L. F.; NOAL, R.H.; MORETTI, E. A história dos SIGs. FatorGis, v. 10, p. 21-26, 1995.

TEIXEIRA, A.L.A; MORETTI, E.;CHRISTOFOLETTI, A. Introdução aosSistemas de Informação Geográfica. Rio Claro:Edição do Autor, 1992.

VIZINTIM, M. Utilização do solo agrícola naBacia do rio Tibagi, 1992. (Relatório Semestral-Estágio Avançado de Nível Superior. Maisonde Geographie. Montpellier-France).

VIZINTIM, M.; BARROS, O.N.F.; NETO,J.P.Q. Utilização de imagens orbitais LandsatTM, no zoneamento agroambiental domunicípio de Londrina e região – PR. In:ENCONTRO NACIONAL DESENSORIAMENTO REMOTOAPLICADO AO PLANEJAMENTOMUNICIPAL, II, 1991, Serra Negra.Resumos... Serra Negra, 1991. p. 093-101.

Agradecimentos: Somos gratos ao Eng.Cartógrafo Marcelo Antônio Nero, da EscolaPolitécnica da Universidade de São Paulo, pelaescanerização da carta-base usado nessetrabalho. Agradecemos também ao Iapar emespecial ao Eng. Agrônomo João HenriqueCaviglione, pela estimada ajuda no uso doSPRING e disponibilizando o Laboratório.

Analyses of the Forest Fragments in the Tibagi River Basin –Paraná State, using Geographic Information System.

ABSTRACTThe world and regional deforesting process had leading several ecosystems disturbs. This work proposes a space study offorest fragments from Tibagi river basin, based in fragment sizes. This data is important to support planning, handlingand conservation proposes, or areas implantation and extension to preserve the natural resources. This work was conducedusing a Map of Tibagi River Basin Soil Use and Occupation, 1:250,000 scale, elaborated from LANDSAT TM 5 data,analog format. The map was scanned and integrated in SPRING program, and it was made vector edition, calculus ofclass areas and reclassification routine. This procedures had the goal of recognize and localize the forest fragments. This basincorrespond to 12.6% of Paraná State area, and presents 9.3% of natural forest, divided in 985 fragments, which 894 hadsmall size (0.003595 to 4.623595 km2). The majority of the fragments is localized in the “High Tibagi”, randomly distributed.In the “Lower Tibagi” and in the course of the Tibagi river these fragments are almost nonexistent, causing lack of forestcorridors. This demonstrate a need of new handling planning creation and the priorities conservation area.

KEY-WORDS: Tibagi river basin, forest fragment, GIS, environmental analyze

Page 120: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 121: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

245Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

INTRODUÇÃO

A mina de Timbopeba localiza-se nomunicípio de Ouro Preto/MG, quadrante SEdo Quadrilátero Ferrífero, distante cerca de 130km da cidade de Belo Horizonte (Figura 1).

As reservas iniciais incluíram cerca de 234milhões de minério hematítico e 386 milhõesde itabiritos friáveis, com produção em tornode 8 milhões de toneladas de minériohematítico. Esta mina encontra-se em produçãodesde 1983 e apresenta um talude final comcerca de 380 metros de altura e inclinação de55 graus, mas dada a continuidade dasoperações de lavra, sua altura final poderá chegara 500 metros. A Figura 2 mostra o contexto

Análise dos Impactos das Vibrações Geradas porDesmontes em Taludes das Minerações – Estudo deCaso da Mina de Timbopeba em Ouro Preto (MG)

Gabriel Alves da Costa Lima *

RESUMOEste artigo relata parte de uma pesquisa realizada na Mina de Timbopeba, localizada em Ouro Preto/MG, onde aCompanhia Vale do Rio Doce extrai minério de ferro. O objetivo do trabalho foi investigar os efeitos das vibraçõesgeradas pelos desmontes de rochas realizados para produção e pré-corte na estabilidade do talude final da mina quepossui cerca de 380 metros de altura. Foram realizadas medidas dos níveis de vibrações em pontos fixos do talude, masconsiderando-se diferentes distâncias dos desmontes. A pesquisa revelou que os níveis de vibrações medidos não alcançamnem 10% do mínimo necessário para causar fraturamento nas porções sãs do talude. Todavia, no que toca aos efeitos dasvibrações sobre os blocos semi-soltos dispostos na superfície, eles requerem estudos complementares, pois não ficaramclaros. A grande heterogeneidade da área é apontada como uma das causas para a não obtenção de um modelo satisfatóriopara a lei de atenuação das vibrações e, portanto, não fornecem resultados confiáveis.

PALAVRAS-CHAVE: vibrações, talude, desmontes, explosivos.

* Engenheiro de Minas e Mestre em Engenharia Mineral (UFOP), Doutorando em Geociências (UNICAMP)[email protected]; [email protected]

das operações de lavra juntamente com ospontos escolhidos para a realização das medidasde vibrações da partícula. No ponto 1 forammonitorados os desmontes de produção e pré-corte, ao passo que no ponto 2 apenas osdesmontes de pré-corte .

A geologia da região é basicamenterepresentada pelas rochas dos Grupos Caraça eItabira, pertencentes à seqüênciametassedimentar do Supergrupo Minas(Barbosa, 1969, apud Principais DepósitosMinerais do Brasil, 1986)). Rochas básicasmetamorfizadas ocorrem em diques cortandotoda a seqüência. A Figura 3 mostra um perfilgeológico e topográfico da área.

Page 122: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

246 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

Figura 2 – Vista geral das operações de produção na Mina de Timbopeba e seu talude final.

Ponto 1Ponto 2

Figura 1 – Localização da Mina de Timbopeba num contexto regional e nacional.

Mina deTimbopeba

Page 123: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

247Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

O talude em estudo encontra-se nas rochasdo Grupo mencionado, sendo representadaspelos quartzitos bem estratificados de coloraçãocreme da Formação Moeda e pelos filitoscrenulados de coloração cinza prateadapertencentes à Formação Batatal. Os minerais-minérios encontram-se no Grupo Itabira pelasrochas da Formação Cauê, principalmentehematita, itabiritos, itabiritos anfibolíticos eitabiritos anfibolítico-carbonáticos. O minério

de ferro desta mina é constituído de hematitas(até 63% de Fe) e itabiritos silicosos.

Os taludes das minerações são projetados apartir de considerações técnicas e econômicas,constituindo-se numa das principais variáveis aser incluída no planejamento das cavas finaisdas minas. Sua estabilidade pode ser afetada pelageometria e propriedades geomecânicas dasrochas, vibrações, dentre outros.

Figura 3 – Perfil Geológico da Mina de Timbopeba.

Fonte: (GARAS, CVRD, 1999).

A metodologia empregada baseou-se namedição dos níveis de vibrações gerados pelosdesmontes em três pontos fixos por meio degeofones e posterior processamento dos sinaisafim de determinar a freqüência, deslocamentoe velocidade de vibração da partícula. Nospontos de medição, esses geofones fixadosatravés de uma massa de gesso de forma queestes não apresentassem nenhumamovimentação. A seguir, buscou-secorrelacionar os níveis de vibrações no taluderegistrados nos pontos de monitoramento comas características do plano de fogo.

Dado o grande número de variáveisenvolvidas e a heterogeneidade das rochashospedeiras dos depósitos minerais e rochas

circunvizinhas torna-se difícil fazer previsõesteóricas sobre a geração e o efeito das vibraçõessobre os taludes ou edificações. Portanto,realizam-se estudos empíricos para obter dadosque possibilitem a realização de previsões, comofoi feito neste trabalho.

1. VIBRAÇÕES GERADAS POR DESMONTES

A detonação de cargas explosivas como asutilizadas nas atividades operacionais demineração gera ondas de choque que podeminduzir tensões com magnitude de até 10bilhões de Pa (N/m2) no maciço rochoso. Estesvalores de tensões são suficientes para pulverizar

Page 124: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

248 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

o material rochoso do perímetro da paredecilíndrica dos furos. Se a tensão aplicada a ummaterial rochoso (s) em função da detonaçãoda carga explosiva superar a sua tensão deruptura (s

r), ocorrerá fraturamento e

fragmentação. Em caso contrário, a rocha seráapenas deformada em função de suascaracterísticas elásticas.

Nos desmontes realizados nas atividades delavra visa-se a liberação de energia peladetonação de carga explosiva, de modo apropiciar um determinado grau defragmentação que seja satisfatório por toda aárea de influência do furo (afastamento xespaçamento). Entretanto, nem sempre esteobjetivo é alcançado, ou seja, pode ser que umaporção da energia liberada não realize o trabalhode fragmentação da rocha, se perdendo pelomaciço rochoso e podendo ocasionar problemasde vibrações. Portanto, vibrações são geradasquando uma parte ou toda a energia liberada na

reação química de decomposição dos explosivosdesenvolve tensões no maciço insuficientes parasuperar as suas resistências de ruptura, massuficientes para causar deformações.

As ondas de choque perdem energia ao sepropagar através de um meio material como omaciço rochoso. Deste modo, as tensões quesão induzidas no meio material sofrematenuação na medida em que as frentes de ondasse afastam da fonte (furos carregados), até atingiro valor mínimo da tensão de ruptura domaterial, quando o processo de fraturamentocessa-se. O alcance do processo de fraturamentodeve coincidir com as dimensões do afastamentoe espaçamento dos furos; além destas, a rocha deixade ser fragmentada e passa a ser apenas deformada,podendo ocasionar os problemas de vibrações.

A Figura 4 mostra o modelo de geração deondas adotado por Crosby (1998). A detonaçãode uma carga de explosivos de geometria cilíndricapode gerar ondas internas e superficiais.

Figura 4 – Geração de ondas sísmicas pela detonação de uma carga de explosivos de forma cilíndrica.

Page 125: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

249Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

As ondas internas são as que se propagamem grandes profundidades e se compõem de:(1) ondas longitudinais, que aplicam esforçosde compressão e/ou tração na rocha, (2) ondascisalhantes, que aplicam tensões transversais narocha. As ondas superficiais são aquelas que sepropagam em pequenas profundidades, masatingindo maiores distâncias - são representadaspelas ondas Love e Rayleigh. Geralmente, asondas superficiais são as principais responsáveispelos danos às estruturas superficiais e taludesdas minerações.

A geração das ondas juntamente com oimpacto das vibrações na estabilidade dostaludes deve ser estudado para cada situaçãoparticular. O nível de vibrações ideal para umamina depende tanto da estabilidade do taludee demais estruturas afetadas, como do impactoeconômico, devido às variações de custosoperacionais. Por um lado, altos níveis devibrações indicam que o plano de fogo estáineficiente (qualidade de explosivos e acessórios,malha, forma de carregamento e escorva etc.) epodem ocasionar danos. De outro, baixos níveisde vibrações, significam aumento dos custos dedesmonte (perfuração, redução da carga porespera, explosivos menos energéticos, mais mão-de-obra) e/ou operação.

2. REGISTRO DAS VIBRAÇÕES NOTALUDE E DISCUSSÕES

A velocidade da partícula vem sendoutilizada para monitorar os efeitos das vibraçõesnos taludes das minerações como no trabalhode Calder e Bauer (1971). Neste trabalho, estavariável foi selecionada para medir os níveis devibrações ocasionados pelos desmontes deprodução e pré-corte da mina de Timbopeba.

Foram monitorados dois pontos nasuperfície do talude (ver Figura 2), os quaisforam escolhidos em função da proximidadeentre o sismógrafo e desmonte, levando-se emconta critérios de segurança para o equipamentoe o pesquisador. O ponto 1 encontra-se numa

das extremidades do talude onde a litologiadominante é composta por hematita, itabiritoe quartzito. Já o ponto 2 encontra-se numaregião onde a litologia é quartzito e que seencontra próxima das zonas do talude maiscríticas em termos de segurança.

Primeiramente, foram observados os planosde fogo previamente adotados para ambos osdesmontes, cujos valores médios dos principaisparâmetros encontram-se na Tabelas 1.Observa-se na tabelas I diferenças significativasentre os dois desmontes: (1) os desmontes depré-corte possuem uma carga por retardo decerca de 44% daquela dos desmontes deprodução, (2) não há subperfuração nem sãoutilizados iniciadores (boosters) de forma que ainiciação ocorre através do cordel detonante,(3) os desmontes de pré-corte não utilizamretardos de superfície, (4) nos desmontes de pré-corte utilizou-se uma carga por espera cerca de2,5 vezes menor que a dos de produção.

As Tabelas 2 e 3 apresentam os valoresobtidos por Lima (2000) nas medições emtermos de deslocamento, velocidade efreqüência de vibração da partícula. Os valoresdos PVP (pico de velocidade da partícula) paraos desmontes de pré-corte (46,7 mm/s) foramsuperiores aos do desmonte de produção (13,1mm/s), enquanto que as freqüências medidasestiveram na faixa de 20 hertz. O maior nívelde vibrações gerado pelos desmontes para pré-corte pode ser devido ao maior confinamentoda carga explosiva e maior proximidade aotalude – estes se encontravam a uma distânciacerca de três vezes menor que os desmontes paraprodução (ver a distância nas Tabelas 2 e 3) – euso de emulsão que é mais energética que ogranulado de ANFO (mistura à base de óleodiesel e nitrato de amônio) e palha de arroz.Outras razões podem ser a possibilidade de errosde medida, enganos na etapa de carregamento,falha dos retardos, heterogeneidade da rocha,dentre outras. Os baixos valores encontradospara as acelerações significam a aplicação depequenos esforços sobre os blocos de rochassemi-soltos que se encontram dispostos sobre aface do talude.

Page 126: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

250 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

Tabela 1 – Parâmetros do plano de fogo adotado nas operações da Mina de Timbopeba.

Parâmetros Tipo de desmonte

Parâmetros operacionais Produção Pré-corte

Tipo de material Hematita e Itabirito Quartzito

Tipo de explosivo Nitrato de amônio, óleodiesel e palha de arroz

Emulsão

Diâmetro de perfuração 250,8 mm 88,9 mm

Afastamento 5,5 – 6,0 m 2,0 m

Espaçamento 9,0 – 11,0 m 4,0 m

Subperfuração 1,0 – 1,5 m -

Tampão 5,5 – 7,0 m 1,8 – 2,0 m

Altura do banco 12 – 15 m 5,5 – 6,0 m

Profundidade do furo 13 – 17 m 5,5 – 7,0 m

Carga de fundo e coluna Só utilizadas Quando hápresença de água ou lentes de

material muito duro.

Só utiliza emulsão em todosos furos

Retardos de superfície 25,0 – 100,0 ms 25,0 – 100,0 ms

Retardos de subsuperfície 100,0 – 300,0 ms -

Carga por retardo 302,0 kg (valor médio) 134,0 kg (valor médio)

Forma de iniciação ANFO: boosters;

Emulsão: cordel detonante.

Cordel detonante

Ligação entre furos Cordel detonante NP-10 Cordel detonante NP-10

Tipo de malha Estagiada Linha de pré-corte

Fonte: Lima (2000)

Page 127: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

251Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

Tabela 2 – Dados referentes a monitoramentos de desmontes de pré-corte.

Carga

(kg)

Dist.

(m)

VT

(mm/s)

FT

(Hz)

AT

(g)

DT

(mm)

VV

(mm/s)

FV

(Hz)

AV

(g)

DV

(mm)

VL

(mm/s)

FL

Hz)

AL

(g)

DL

(mm)

PVP

(mm/s)

75 88 22,7 43 0,915 0,07 18,5 18 0,835 2,64 18,8 43 0,88 0,674 25,4

75 275 1,05 27 0,02 0,007 1,13 24 0,035 0,009 1,21 27 0,03 0,008 1,42

120 544 0,889 34 0,027 0,005 1,02 21 0,04 0,006 1.02 26 0,03 0,064 1,47

362 418 0,762 23 0,027 0,051 0,635 20 0,027 0,01 0,762 18 0,03 0,007 0,898

100 105 37,5 24 0,954 0,228 46,2 21 1,23 0,311 36,8 32 1,1 0,22 46,7

100 95 21,6 20 0,358 0,152 26,7 23 0,371 0,214 11,3 21 0,23 0,104 27,2

110 200 4,57 5,4 0,053 0,133 6,98 9,7 0,053 0,121 4,32 7,1 0,08 0,973 8,24

Fonte: Lima (2000)

Onde: PVP (mm/s) – é o pico de velocidade da partícula.Carga (kg) – é a massa de explosivos detonada por retardoDist.(m) – é a distância entre o ponto de monitoramento (sismógrafo) e a frente de desmonte.DT, DV, DL (mm) – referem-se aos deslocamento transversais, verticais e longitudinais da partícula, respectivamente.VT, VV, VL (mm/s) – referem-se às velocidades transversais, verticais e longitudinais de vibração da partícula, respectivamente.AT, AV, AL (mm/s2) – referem-se às acelerações transversais, verticais e longitudinais de vibração da partícula, respectivamente.FT, FV, FT (Hz) – referem-se às freqüências transversais, verticais e longitudinais de vibração da partícula, respectivamente.

Page 128: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

252 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

Tabela 3 – Dados referentes aos monitoramentos dos desmontes de produção.

Carga

(kg)

Dist.

(m)

VT

(mm/s)

FT

(Hz)

AT

(g)

DT

(mm)

VV

(mm/s)

FV

(Hz)

AV

(g)

DV

(mm)

VL

(mm/s)

FL

(Hz)

AL

(g)

DL

(mm)

PVP

(mm/s)

325 126 9,91 26 0,331 .0573 6,98 64 .239 0.017 9,78 26 0.278 0.049 13.1

350 204 3,19 27 0,078 0,018 3,56 22 0,076 0,019 2,68 19 0,0812 0,0178 3,89

150 279 1,05 27 0,02 0,007 1,33 24 0,035 0,009 1,21 27 0,0315 0,0078 1,42

359 112 4,27 27 0,104 0,023 3,59 32 0,068 0,017 5,24 30 0,103 0,0403 6

155 120 1,52 18 0,04 0,012 1,52 22 0,04 0,015 1,4 23 0,0398 0,0175 2,29

225 250 5,46 13 0,066 0,08 3,56 9,8 0,053 0,059 4,06 9 0,053 0,0577 5,88

325 118 11,7 18 0,199 0,159 5,59 12 0,093 0,817 14 20 0,159 0,0904 18,6

400 109 0,762 28 0,027 0,006 0,635 19 0,265 0,01 0,254 >100 0,0265 0,0005 0,813

387 130 0,381 57 0,027 0,005 0,635 16 0,027 0,008 0,635 18 0,0265 0,0067 0,823

120 544 0,889 34 1,02 0,018 1,36 21 1,02 0,006 1,3 26 0,0026 0,0069 1,47

358 508 0,762 7,6 0,027 0,018 1,27 4 0,027 0,044 1,4 6 0,0265 0,0316 1,45

358 442 2,67 8,3 0,027 0,055 4,57 7,3 0,04 0,094 3,05 7,5 0,0265 0,0742 4,77

166 418 0,381 47 0,027 0,002 0,508 13 0,027 0,006 0,381 39 0,0265 0,0035 0,622

288 215 5,33 8,5 0,53 0,06 5,84 6,9 0,053 0,093 5,46 12 0,0663 0,07 6,65

650 215 4,57 5,4 0,053 0,013 6,98 9,7 0,053 0,121 4,32 7,1 0,0795 0,0973 8,24

318 230 1,78 6,5 0,027 0,047 2,41 4,8 0,027 0,097 2,29 5,5 0,0265 0,0724 3,07

365 210 5,33 8,5 0,053 0,06 5,84 6,9 0,053 0,093 5,46 12 0,0663 0,07 6,65

Fonte: Lima (2000)

Obs.: O significado das siglas desta tabela é o mesmo da tabela 2.

Tabela 4 – Correlação entre velocidade de partícula e possíveis danos nos taludes.

Velocidade de partícula (cm/s) Danos previsíveis

< 25 Sem perigo em rocha sã.

25 – 60 Podem ocorrer fraturas por tração

60 – 250 Grandes fraturas por tração e gretas radiais

> 250 Fraturamento total do maciço.

Fonte: Calder e Bauer (1971)

Page 129: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

253Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

Em estudos realizados por Calder e Bauer(1971) que encontram-se reproduzidos natabela IV, verifica-se a possibilidade decorrelacionar os efeitos da velocidade dapartícula com possíveis danos nos taludes demineração.

As principais propriedades geomecânicas dotalude de quartzito da mina de Timbopeba são:módulo de elasticidade (E=71,572 GPa),resistência à tração (RT=8,2 MPa), velocidadede propagação das ondas longitudinais(V

L=6.338,3 m/s). Em função destes

parâmetros, foi possível calcular a velocidadede partícula mínima para causar ruptura damatriz da rocha de acordo com Scherpenisse etal. (1999):

VCP≥ E

RTxVL (1)

VCP≥ GPa

smMPax

572,71

/3,338.62,8∴VCP≥726 mm/s.

De acordo com o resultado da equação 1, osvalores de velocidade de partícula medidos naMina de Timbopeba não são suficientes paracausar ruptura das porções sãs do talude, pois omaior valor registrado (46,7 mm/s) foi apenas6,4% do valor mínimo para causar rupturas.Por outro lado, o valor de 726 mm/s se refere àvelocidade mínima da partícula capaz defragmentar a matriz de rocha sã, mas não avelocidade mínima para deslocar blocos semi-soltos ou com baixa coesão dispostos nasuperfície do talude. Portanto, os efeitos dasvibrações medidas (ainda que baixas) não sãoclaros na estabilidade de blocos predispostos naface do talude.

Os valores de velocidade de partícula a seremadotados como critérios para prevenir danos nostaludes devem ser estimados a partir da suageometria e propriedades geomecânicas: altura,módulo de elasticidade, ângulo de inclinação,resistência à tração e compressão, rugosidade,presença de água, fraturamento superficial etc.,e devem ser estimados de forma independente

para cada domínio geomecânico de uma mina.Nesse sentido, adotar apenas um valor develocidade máxima de partícula pode significarser conservador para alguns domíniosgeomecânicos mais estáveis e imprudentesnaqueles mais fragilizados.

3. LEI DE ATENUAÇÃO DAS VIBRAÇÕES

A lei de atenuação das vibrações consistenuma expressão matemática que permiteestimar o valor da velocidade da partícula (PVP)em função da carga detonada por retardos e dadistância do desmonte. A expressão matemáticapara estudar a lei de atenuação segue Berta(1994), Jimeno et. al. (1995) e Crosby (1998):

m

Q

DKV

= 2)

onde V é a velocidade da partícula (milímetrospor segundo), Q é a carga por espera (kg), D éa distância (metros) entre o sismógrafo e a carga

explosiva, K e m são constantes. A equação 2

representa uma regressão entre V e

Q

D, onde

as constantes K e m são parâmetros da regressão

e dependem das características das rochas emestudo (diáclases, fraturas, densidade, módulode elasticidade, coeficiente de Poisson, presençade fluidos etc.). Portanto, estes valores sãocaracterísticos de cada área em estudo. Onúmero de medições necessário para determinara lei de atenuação dos terrenos depende dascaracterísticas geológico-estruturais da área.Materiais homogêneos apresentam baixosíndices de dispersão e a lei pode ser determinadautilizando-se um número reduzido de pontos.Entretanto, situações de materiais maisanisotrópicos e formações geológicasheterogêneas requerem um maior número demedidas de forma a diluir a influência dosvalores discrepantes e obter uma reta de regressão

Page 130: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

254 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

com coeficiente de ajuste de no mínimo 85%. AFigura 5 mostra a lei de atenuação das vibrações

construída a partir dos dados empíricos oriundosda Mina de Timbopeba.

Figura 5 – Regressão da lei de atenuação das vibrações.

Lei de atenua ção

-0.50

0.00

0.50

1.00

1.50

2.00

0.00 0.50 1.00 1.50 2.00

log [Distância Escalonada (m/kg^0.5)]

log

[PV

P(m

m/s

]

Algumas justificativas para a baixa correlação(R2=0.2019) da nuvem de pontos inclui, dentreoutros:• grande distância entre o desmonte e o ponto

de monitoramento. Como mostram astabelas II e III, a menor distância foi 88 m ea maior 544 metros.

• presença de diferentes litologias no meiotransmissor como hematita, itabirito, lentesde solo etc., que contribuem para aumentaro contraste e facilitar a reflexão, refração esuperposição das ondas. Embora asdiferentes litologias afetem a propagação dasondas, e portanto, os níveis de vibrações, nãoé claro o seu efeito combinado nos níveis devibrações registrados.

• erros de medida tanto de operação comoinstrumentação, além da possibilidade deerros na fase de processamento.

• realização de desmontes diferentes dosprojetados.

CONCLUSÕES

Este artigo relatou parte de uma pesquisarealizada na Mina de Timbopeba visando ainvestigar os efeitos das vibrações geradas pelosdesmontes na estabilidade do talude. Concluiu-se que o valor máximo registrado para avelocidade de partícula atingiu apenas 6,4% davelocidade mínima para causar ruptura damatriz do quartzito (principal rocha quecompõe o talude), e não são suficientes paracausar novos fraturamentos nas porções sãs, masnão ficou claro o efeito destes níveis de vibraçõessobre os fragmentos semi-soltos presentes nasuperfície do talude.

Embora os critérios internacionais sejamadotados pelas empresas em projetos dos taludesfinais, verificou-se que eles servem apenas comouma sugestão inicial quando não se dispõe demeios para estudar o talude particular. Porexemplo, pelos critérios de Calder e Bauer(1971), somente velocidade de partícula acimade 250 mm/s é suficiente para causarfraturamento do maciço, ao passo que na Minade Timbopeba este valor é de 726 mm/s.

Page 131: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

255Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 245-255, jul./dez. 2001

Portanto, a utilização irrestrita destes critériospode levar à adoção de uma política operacionalque em alguns casos pode ser conservadora ouinseguros noutras situações, não permitindocontribuir para otimizar as operações.

A lei de atenuação das vibrações do terrenoé um método útil para estimar a velocidade departícula em função da distância e cargadetonada, sendo utilizada como critério desegurança por pesquisadores como Crosby(1998), Berta (1994) e Jimeno (1995), mas nemsempre é possível obtê-la. A figura 3 mostrouque a lei obtida para a mina de Timbopebaapresenta um coeficiente de correlação (R2) deapenas 0,2019, enquanto para um nível deconfiança aceitável este indicador deveria ser nomínimo 0,85. Portanto, os resultados da lei deatenuação não são confiáveis e devem serrealizadas pesquisas complementares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTA, G. Blasting-Induced Vibration inTunnelings. Proceedings of the Tunneling andUnderground space Technology,v.9, n.02., p.175-187, 1994.

CALDER, P. N., BAUER, A. The Influenceand Evaluation of Blasting on Stability. In:

INTERNATIONAL CONFERENCE ONSTABILITY IN OPEN PIT MINING, 1,1971., Vancouver, B. C., Canadá. Proceedings...Vancouver, 1971. p. 83-94.

CROSBY, W. A, International Blasting, Drillingand Explosives Technology Course. Ouro Preto,Brasil: MREL (Mining and ResearchEngineering Limited),1998. Vol. 01 e 02

JIMENO, J. et al. Manual de Perfuracion yVoladura de Rocas. Madri: Instituto Geominerode España, 1995. 545p.

LIMA, G. A. C. Análise das Vibrações Geradaspor Desmontes de Rochas nos Taludes e Edificaçõesdas Minerações. 2000. 107f. Dissertação(Mestrado em Engenharia Mineral) –Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto.

PRINCIPAIS depósitos minerais do Brasil.Brasília: DNPM/CVRD,1986. V.2 p.103-110.

SCHERPENISSE, C. R.; ADAMSON, W. R.;DÍAZ, J. C. Monitoreo y consideracionesgenerales de modelamiento de vibraciones parala evaluación y optimización de las tornadurasde desarrolo horizontal. In: SIMPOSIUM DEINGENIERIA DE MINAS, 10, 1999.Departamento de Ingenieria en Minas,Universidad de Santiago de Chile. Proceedings...Santiago do Chile, 1999. p. 61-83.

Impact of Vibrations Due to Rock Blastings on Mine’s Slopes –a Case Study of Timbopeba Mine – Ouro Preto – MG

ABSTRACTThe present paper reports part of a research that took place at Timbopeba Mine. This mining produces iron, is locatedin Ouro Preto/MG and operated by Companhia Vale do Rio Doce. The objective of this work was to investigate theeffects of rock blasting vibrations on the final mine slope, which has around 380 meters height. Several measurementswere made at fixed point on the slope’s surface considering different distances from the rock blasting of producing anddevelopment bench. One result of this research shows that the vibration level generated by rock blasting reached merely10% of the minimum peak particle velocity to fracture those intact portions of the mine slope. On the other hand, theeffect of the vibration’s level is not clear on the fractured rock fragments present on the slope’s surface and claims forcomplementary researches. The site’s great heterogeneity may be regarded as one reason for the unsatisfactory attenuationlaw of vibrations obtained.

KEY-WORDS: vibrations, mine’s slope, rock blasting, explosives.

Page 132: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 133: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

257Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento agro-industrial donoroeste paranaense tem provocado nos últimosanos o aumento pela procura de água noAqüífero Caiuá. Dessa forma, poços tubularestêm sido perfurados como forma de suprir ademanda de água para o abastecimento públicoe de particulares. Segundo Celligoi (2000), umcadastramento revelou que nos últimos vinteanos foram perfurados mais de 500 poçostubulares que exploram o Aqüífero Caiuá noParaná, visando principalmente, abastecer totalou parcialmente a população urbana e rural dosmunicípios que compõem o noroeste do Estado.

Neste sentido, os estudos para avaliação dasreservas reguladoras e permanentes do AqüíferoCaiuá são primordiais, objetivando futuramente

Avaliação das Reservas Subterrâneas do Aqüífero Caiuána Sub-Bacia do Rio dos Índios - PR.

André Celligoi*

Maurício Moreira dos Santos* *

RESUMOO desenvolvimento agro-industrial na região noroeste do estado do Paraná vem provocando nos últimos anos o interessepela exploração de água no Aqüífero Caiuá. Em virtude disso, poços tubulares têm sido perfurados constantementecomo forma de suprir a demanda de água, principalmente no sistema hídrico de abastecimento público dos municípios.Dessa forma, a necessidade de estudos avaliadores das reservas subterrâneas desse aqüífero é de extrema importância.Para este fim, foi selecionada a sub-bacia hidrográfica do rio dos Índios objetivando um estudo local quanto à avaliaçãodas reservas reguladoras e permanentes do Aqüífero Caiuá no estado do Paraná. A reserva permanente, calculada emfunção da área de ocorrência do Aqüífero Caiuá na sub-bacia do rio dos Índios, da espessura saturada média e daporosidade efetiva, foi estimada em 11,4 x 109 m³, enquanto que a reserva reguladora, a partir do cálculo das curvas derecessão dos rios, foi estimada em 0,27 x 109 m3/ano.

PALAVRAS-CHAVE: Aqüífero Caiuá, reservas subterrâneas, rio dos Índios, curvas de recessão.

* Professor Adjunto do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, Caixa postal 6001, CEP:86051-990 – Londrina – PR. E-mail: [email protected]

** Bolsista do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]

que esse importante recurso subterrâneo naturalde água, não seja afetado por superexploraçõese/ou outras ações antrópicas. Através dessesestudos, o planejamento sócio-econômicoquanto ao abastecimento público e particularde água dos municípios pertencentes a regiãodo Aqüífero Caiuá no Paraná, pode ser melhorgerenciado, contribuindo efetivamente, para agestão de exploração, evitando a degradaçãodesse importante recurso.

Para a pesquisa foi selecionada a sub-baciahidrográfica do rio dos Índios, com a finalidadede um estudo local quanto à avaliação dosrecursos hídricos subterrâneos do AqüíferoCaiuá no estado do Paraná. A área abrange amicrorregião geográfica de Cianorte. Osmunicípios que a compõem possuem um oumais poços perfurados na região estudada.

Page 134: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

258 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

1. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

A sub-bacia hidrográfica do rio dos Índios,inserida entre as coordenadas geográficas delongitudes 52º54’ e 52º31’ W, e de latitudes23º21’ e 23º54’ S, localiza-se na região noroestedo estado do Paraná, onde afloram as rochassedimentares cretáceas do Grupo Caiuá. A áreapesquisada está delimitada pelos rios Paraná,

Paranapanema e Piquiri, respectivamente aoeste, norte e sul e pelo limite de ocorrênciadas formações a leste com a Formação SerraGeral, de idade Juro-Cretácea. O rio dos Índios,junto com os seus afluentes e contribuintesformam parte da bacia hidrográfica do Baixo Ivaí,que por sua vez, está inserida totalmente na darede de drenagem do rio Paraná (Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização da sub-bacia do rio dos Índios - PR.

2. POÇOS CADASTRADOS

Localizados na sub-bacia do rio dos Índios– PR, foram cadastrados oito poços tubularesperfurados na região. O cadastramento dospoços tubulares teve por finalidade orelacionamento dos dados técnico-construtivosde cada obra, principalmente os de localizaçãogeográfica, profundidade, vazão, níveis d’água,entre outros. Tais poços são utilizados parasuprir parcial ou totalmente o abastecimentopúblico das áreas urbanas e rurais dos municípios

de Cianorte, Japurá, São Tomé, Tapejara, SãoManuel e Indianópolis (Figura 2).

O cadastro dos poços na sub-bacia do riodos Índios – PR foi possível a partir da obtençãodo cadastro geral de poços da SUDERHSA(Superintendência de Desenvolvimento deRecursos Hídricos e Saneamento Ambiental),órgão que pertence à Secretaria de Estado doMeio Ambiente do Paraná e, a partir docadastramento de 168 poços perfurados noAqüífero Caiuá, utilizados por Celligoi (2000).Este trabalho cadastral permitiu uma visão

Fonte: Modificado de Celligoi (2000).

Page 135: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

259Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

inicial relacionada à exploração do AqüíferoCaiuá visando o abastecimento públicomunicipal da região em estudo, bem como à

distribuição e localização geográfica dos poçosperfurados na sub-bacia do rio dos Índios – PR(Figura 2).

Fonte: SUDERHSA – Cadastro de poços profundos.

Figura 2 – Mapa de localização e distribuição dos poços e municípios na sub-bacia do rio dos Índios - PR.

Os dados referentes aos poços localizados naárea pesquisada revelaram que, todos os poçostubulares perfurados na sub-bacia do rio dosÍndios – PR pertencem às prefeituras

municipais, com profundidades variando de 81a 199 metros e vazão média de 4,7 m3/h para aregião (QUADRO 1).

Page 136: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

260 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

3. CONTEXTO GEOLÓGICO

Geologia regional

A área pesquisada está inserida em relaçãoao seu contexto geológico, sobre as rochasvulcânicas da Formação Serra Geral de idadeJuro-Cretácea, bem como sobre os arenitos dacobertura suprabasáltica neocretácea, numadepressão de evolução geológica e de depocentrodistintos dos da Bacia do Paraná, nadenominada Bacia Bauru na qual os sedimentosestão relacionados aos grupos Bauru e Caiuá(FERNANDES, 1992). Além do noroeste doestado do Paraná, a cobertura suprabasálticaestende-se pelo Planalto Ocidental de São Paulo,parte oriental do Mato Grosso do Sul, parte doTriângulo Mineiro (MG) e sul do estado de Goiás(STEVAUX e FERNANDEZ, 1995).

A Formação Serra Geral é composta porbasaltos pretos a cinza escuros, de estruturamaciça ou vesicular, fraturados e com o mantode intemperismo muito pouco presente emalgumas localidades, até cerca de 30 metros nasregiões mais elevadas topograficamente(REBOUÇAS, 1976).

Sobrepondo-se a esta unidade, ocorrem osgrupos Bauru e Caiuá. A primeira unidadecitada é composta pelas formações Adamantina,Marília e Uberaba, verificando-se essas de pouca(localmente, o caso da Formação Adamantina),ou nenhuma ocorrência no noroeste do estado

do Paraná. Dessa forma, não será tratado nopresente trabalho do estudo pormenor destasformações que constituem o Grupo Bauru, aênfase será dada às rochas sedimentaresconstituintes do Grupo Caiuá, de maiorocorrência e extensão na área de estudo econstituinte do pacote sedimentar poroso doAqüífero Caiuá no Paraná.

O arenito Caiuá, anteriormente classificadocomo uma unidade pertencente ao GrupoBauru é elevado à categoria de Grupo, graçasaos estudos de Fernandes (1992) e constitui-seem três formações distintas: Formação GoioÊre, Formação Rio Paraná e Formação SantoAnastácio.

Segundo o autor as três formações citadas,foram acumuladas em ambiente desértico,geneticamente ligados, mas correspondentes asub-ambientes distintos: zona central de sandsea, (Fm. Rio Paraná), zona de depósitos eólicosperiféricos, (Fm. Goio Êre) e planícies de lençóisde areia (Fm. Santo Anastácio).

A Formação do Rio Paraná, apresenta nonoroeste do estado do Paraná as maioresespessuras, na ordem de 250 metros. SegundoCelligoi (2000), sua litologia apresenta-seconstituída de arenitos marrom-arroxeados,finos a médios, quartzosos, secundariamentesubarcoseanos. Geralmente bem selecionados,com pouca ou nenhuma matriz silto argilosa,com estratificação cruzada de médio a grandeporte. Os arenitos desta unidade são bem

Quadro 1 – Poços cadastrados localizados na sub-bacia do rio dos Índios.

Cód. do Poço Proprietário Profundidade Município Q. m3/h

77 P. Municipal 89,5 Cianorte 4,0

78 P. Municipal 100 Cianorte 5,0

83 P. Municipal 120 Cianorte 5,0

152 P. Municipal 93 Indianópolis 2,0

154 P. Municipal 96 Indianópolis 2,8

337 P. Municipal 84 São Tomé 5,3

344 P. Municipal 81 Tapejara 2,0

505 P. Municipal 199 Japurá 12,0Fonte: SUDERHSA– Cadastro de poços profundos.

Page 137: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

261Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

selecionados por lâminas ou estratos com grãosbem arredondados nas frações mais grossas,sendo que a maioria apresenta superfície fosca,encoberta por película ferruginosa(FERNANDES e COIMBRA, 1994).

A Formação Goio Êre ocorre na parte sudestede afloramento dos Arenitos do Grupo Caiuáno estado do Paraná, é constituída de arenitosquartzosos freqüentemente subacorseanos,marrom-avermelhados a cinza arroxeados, degranulação fina a muita fina, ocasionalmentemédia. Dispõem-se em estratos tubulares depoucos metros de espessura com estratificaçãocruzada, intercalados com bancos de espessuramétrica a decimétrica, de aspecto maciço ouestratificação subhorizontal mal definida (Ibidem).

A Formação Santo Anastácio, foi definidapor Landim et al (apud FERNANDES eCOIMBRA, 1994) como fácies independentes,de transição entre as unidades Bauru e Caiuá.Tal formação ocorre mais freqüentemente noestado de São Paulo, sendo mais restrito seuafloramento no estado do Paraná e com espessurasna ordem de no máximo de 70 metros. SegundoFernandes e Coimbra. (1994), a formação éconstituída por arenitos finos a muitos finos, comfração síltica subordinada, essencialmentequartzosos, caracteristicamente maciços.

Geologia local

A sub-bacia hidrográfica do Rio dos Índios estálocalizada na área de afloramento do Grupo Caiuá,mais extensivamente sobre a Formação Goio Êre,contato transicional com a formação Rio Paranáa noroeste, contatos erosivos com a formação SerraGeral a leste e com depósitos arenosos cenozóico,aluviais e coluviais no topo (Figura 3).

Na parte de menor espessuras dos arenitosque constituem o Grupo Caiuá na área emestudo, ocorre o contato litológico com osbasaltos da formação Serra Geral, os quaisafloram somente nas porções inferiores dos valesprofundos por onde corre a drenagem do riodos Índios (Figura 3).

A Formação Goio Êre sobreposta, possuiarenitos aflorantes a sul e sudeste da áreapesquisada, apresenta espessuras máximas naordem de 50m em superfície (FERNANDES,1992). Porém, na região da sub-bacia do riodos Índios – PR, o cadastramento dos poçostubulares revelaram profundidades do arenitoque variaram de 47 a 120 metros, constituindo-se em espessura média na ordem de 87 metrosem superfície.

A Formação Rio Paraná na área estudada,através do cadastro de poços tubularesperfurados na região e seus dados de profundidade,possibilitou a verificação de espessura média naordem de 92 metros em superfície.

Os resultados apresentados por Fernandes eCoimbra (1994), quanto à quantidade de siltee argila presente na Formação Goio Êre eFormação Rio Paraná são muito semelhantes,apresentando médias de silte + argila em tornode 25% e teores de argila com médias de 10%,apenas diferindo quanto ao pequenoincremento de silte na Formação Goio Êre.

4. HIDROGEOLOGIA

A partir do quadro geológico descrito, asformações pertencentes ao Grupo Caiuátendem a se comportar como aqüíferos, poiseste fenômeno está ligado à acumulação deespessas camadas de sedimentos clásticos. Alémdisso, segundo Rebouças (1976), a Bacia doParaná de acordo com a evolução dasedimentação, a partir de uma seqüênciarítmica, aliada à geometria da estrutura emforma de bacia subsidente, propiciou aformação de aqüíferos livres e confinados, apartir das bordas em direção ao centro.

O Aqüífero Caiuá está inseridogeologicamente ao pacote sedimentar das rochassuprabasálticas neocretáceas pós-basálticas daBacia Bauru. No estado do Paraná, o referidoaqüífero, está inserido ao pacote arenoso doGrupo Caiuá, na qual, a área aflorante dadeposição sedimentar apresenta características

Page 138: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

262 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

Figura 3 – Mapa Geológico local.

Fonte: modificado de Fernandes (1992).

Page 139: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

263Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

litológicas homogêneas, sem grandesquantidades de argila compactas. Portanto,Campos (1987) considera o mesmo, um sistemaaqüífero poroso e livre por toda sua extensão.Contudo, Rebouças (1976) coloca quelocalmente podem ocorrer pressões deconfinamento, proporcionada pelas intercalaçõesargilosas ou ocorrência de bancos calcífero.

Os arenitos do Grupo Caiuá, quanto às suascapacidades da zona saturada, atingemespessuras na ordem de 50 a 100 metros,alcançando em média 80 metros de espessura.Os sedimentos desse Grupo no estado do Paranáestão assentados em discordância sobre o terrenomais antigo, mais especificamente, sobre asrochas basálticas da Formação Serra Geral.

A água acumulada no Aqüífero Caiuá nasub-bacia hidrográfica do rio dos Índios – PR,flui, em sua maior parte, para os rios e afluentesdesta sub-bacia, alimentando o seu escoamentode base, enquanto que apenas uma pequenaparcela infiltra-se no substrato rochoso,formado pelos basaltos.

Por sua vez, a bacia hidrográfica do BaixoIvaí, que possui extensão de 29.452 Km2 drenaa totalidade da sub-bacia do rio dos Índios. OBaixo Ivaí é responsável, por cerca de 44% daárea drenada do Grupo Caiuá no estado doParaná e se desloca no sentido predominantede L para W, orientando a drenagem do rio dosÍndios de sudoeste para nordeste.

5. CÁLCULO DAS RESERVASPERMANENTES E REGULADORAS

Precipitação e Temperatura

A recarga do Aqüífero Caiuá é extremamentefacilitada, principalmente pelas formas tabularesou suavemente onduladas do relevo e pelacapacidade de infiltração relativamente grandedo solo, aliadas a uma pluviometria regular(REBOUÇAS, 1976).

Neste sentido, a partir da estaçãopluviométrica de Cianorte, foi possível tomaros dados dos totais de precipitação e detemperatura diários dos anos entre 1976 e 1998na região da sub-bacia hidrográfica do rio dosÍndios, cedidos pelo Instituto Agronômico doParaná (IAPAR) a partir dos quais foramcalculadas os totais de precipitação e médias detemperaturas anuais para os mesmos anos naregião estudada.

Analisando-se os totais pluviométricos noperíodo de 1976 a 1998, foi verificada umamédia de precipitação para a região da sub-baciado rio dos Índios de 1642,47 mm anuais. Alémdisso, através dos dados obtidos referentes àprecipitação e temperatura na estaçãopluviométrica de Cianorte, foi possível elaborarum gráfico com a finalidade da análise das linhasde oscilações das variáveis mencionadas nodecorrer dos doze anos de medições (Figura 4).

Dessa forma, a partir desse estudo houve acontribuição para a avaliação das reservassubterrâneas na área pesquisada, pois a maiorparte da infiltração originadas das precipitaçõespluviométricas que, chegam ao aqüífero comorecarga, volta a sair do subsolo como escoamentode base dos rios, através de um ciclo anual.

O gráfico construído a partir dos dados daestação pluviométrica de Cianorte, indica apredominância do aumento da pluviosidadetotal anual, em contraposição da diminuiçãoda média anual de temperatura e, vice versa.Contudo, ao analisar as linhas de tendênciasevidenciadas no gráfico, constata-se umaumento progressivo dos valores totaispluviométricos e das médias de temperaturasanuais no decorrer dos doze anos de medições(Figura 4).

Page 140: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

264 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

Reserva Permanente

Segundo Costa (1998), a reserva permanenteconstitui-se no volume hídrico acumulado emmeio aqüífero, em função da porosidade efetivae do coeficiente de armazenamento, não variávelem decorrência da flutuação sazonal dasuperfície potenciométrica. Na área pesquisadaesta teoria corresponde ao volume de águasubterrânea localizado abaixo do nível mínimode variação sazonal da superfíciepotenciométrica do Aqüífero Caiuá localizadona sub-bacia do rio dos Índios.

Baseada em Celligoi (2000), a metodologiaempregada para a estimativa da reservapermanente na área estudada, envolveu a áreade ocorrência do aqüífero na sub-bacia do riodos Índios – PR, a espessura saturada e aporosidade efetiva.

Para o cálculo da reserva permanente (Rp),usou-se a expressão:

embARp ××=

Sendo:A = área de ocorrência do aqüífero Caiuá na sub-bacia hidrográfica do Rio dos Índios (761,5 Km²)

b = espessura saturada média da área pesquisada(79,5 m)m

e = porosidade efetiva, calculada em

laboratório (19,7%).

Então:

39104,11 mRp ×=

Reserva Reguladora

A reserva reguladora definida por Costa(1998), é o volume hídrico acumulado em meioaqüífero, em função da porosidade eficaz ou docoeficiente de armazenamento e variávelanualmente em decorrência dos suportessazonais de água superficial, do escoamentosubterrâneo. Para esse estudo a teoria irácorresponder, ao volume de água da zona deflutuação sazonal, ou anual, do nível desaturação, acumulado em meio aqüífero,contribuindo em sua descarga para a rededrenagem da sub-bacia do rio dos Índios – PR.

Existem vários métodos para a obtenção dasestimativas das reservas reguladoras de aqüíferos,para esse trabalho foi utilizada a metodologiade análise das curvas de recessão dos rios.

Figura 4 – Precipitação total anual, média de temperatura anual e linhas de tendências no período de 1976a 1998, na estação pluviométrica de Cianorte.

0

500

1000

1500

2000

2500

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

Pre

cipi

taçã

o (m

m)

20.0

20.5

21.0

21.5

22.0

22.5

23.0

Méd

ia d

e T

empe

ratu

ra (

ºC)

Precipita ção

Temperatura

Linear(Precipita ção)

Linear(Temperatura )

Fonte: IAPAR – Inventário da Estação Pluviométrica de Cianorte 1976 a 1998.

Page 141: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

265Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

Domenico e Schwartz (apud Celligoi, 2000)definiram o termo recessão, referindo-se aodeclínio da descarga natural de uma drenagemna ausência de entrada por precipitação e éassumida por leis de decaimento exponencial.O fluxo de base dos rios representa a retiradade água subterrânea do armazenamento, sendoconhecido como recessão de água subterrânea.

A recessão da sub-bacia do rio dos Índios –PR em diferentes anos, foi determinada atravésde uma série de segmentos de hidrógrafasinseridas na drenagem principal desta sub-baciahidrográfica, na qual foi considerado o fluxode base, tomando-se as medidas de vazão logoapós os picos de precipitação. Deste ponto emdiante, até as próximas precipitações, o fluxototal é o componente do fluxo de base derivadoda descarga de água subterrânea na drenagem.A curva gerada em escala logarítmica representaa curva de recessão da água subterrânea e podeser descrita pela equação a seguir, utilizada porCelligoi (2000) e Rosa Filho (1993).

kteQQ −= 0

Onde:Q

0 = representa a descarga do rio dos Índios no

início da recessão (m3/s);Q = a descarga (m3/s) do rio dos Índios apósum período t (dias);k = constante de recessão.

Para a realização do cálculo da reservareguladora na área pesquisada, foram utilizadosos dados de vazão fluvial obtidos na EstaçãoFluviométrica Japurá, pertencente àSUDERHSA, localizado no rio dos Índios nascoordenadas geográfica de latitude 23º26´00’S e longitude de 52º37´00’ W (Figura 5).

Inicialmente, na catalogação dos dadosfluviométricos, foram utilizados estaçõeslocalizadas geograficamente em outras microbacias hidrográficas, porém devido à dificuldadede coerência de dados, descartou-se a utilização

dos mesmos. Por efeito dessa problemática, foiselecionada a estação de Japurá para acontinuidade da pesquisa, pois a análise dosdados de vazão diários desta estaçãofluviométrica revelou ser de boa confiabilidade,além disso, o rio dos Índios está localizadoestrategicamente nos domínios aflorantes dosarenitos pertencentes ao Grupo Caiuá no Paraná,apesar de que nas partes de menor espessura o seuleito correr sobre os basaltos aflorantes.

Segundo os índices pluviométricosanalisados entre os anos de 1976 a 1998, e apartir das medições das vazões do rio dos Índios,foram selecionados os anos 1985 e 1996 para ocálculo da curva de recessão. Esses dois anosindicados correspondem a índices de médiasanuais pluviométricas inferiores a média geralmedidas na estação pluviométrica de Cianorte.

Como critério de seleção, não foramutilizados apenas os anos de maior ou menorprecipitação. Também foram consideradas asmelhores curvas de recessão geradas a partir dediferentes gráficos evidenciando a vazão no riodos Índios, bem como a coerência dos dadoscoletados para a estação fluviométrica de Japurá.

Para o cálculo da reserva reguladora doAqüífero Caiuá na sub-bacia do rio dos Índios– PR, tomou-se primeiramente o ano de 1985,que é um ano seco (Figura 6).

A descarga no início da recessão (Q0) é de

17,8 m3/s, passados 151 dias a vazão final (Qt)

é de 9,0 m3/s, teremos que:

0045,0=k

O volume da bacia contribuinte é dado por:

k

QV

400.8600

×=

Então:3

0 1041,3 ×=VSendo a área da sub-bacia do rio dos Índios

Page 142: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

266 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

Fonte: Modificado de Fernandes (1992)

Figura 5 – Mapa de localização da estação fluviométrica Japurá.

Page 143: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

267Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

Figura 6 – Vazão diária do rio dos Índios em 1985, evidenciando o período de recessão.

1

10

100

1 17 33 49 65 81 97 113

129

145

161

177

193

209

225

241

257

273

289

305

321

337

353

Dias do ano

Des

carg

a flu

vial

(m

3/s)

Q 0

Q t

Fonte: SUDHERSA - Inventário da estação fluviométrica Japurá (1985).

– PR igual a (A) 7,6 x 108 m2, a restituição médiapara o ano de 1985 pode ser calculada por:

A

Vh 0=

anommV /4480 =

Para o ano de 1996 foram utilizados osmesmos parâmetros para a obtenção da recessãoe da restituição média anual (Figura 7).

O início da recessão a descarga (Q0) é de

Figura 7 – Vazão diária do rio dos Índios em 1996, evidenciando o período de recessão.

1

10

100

1 15 29 43 57 71 85 99 113

127

141

155

169

183

197

211

225

239

253

267

281

295

309

323

337

351

365

Dias do ano

Des

carg

a flu

vial

(m

3/s)

Q0Qt

Fonte: SUDHERSA - Inventário da estação fluviométrica Japurá (1996).

10,2 m3/s e ao final de 84 dias a vazão final(Q

t) é de 7,0 m3/s. Então teremos que: h = 256

mm/ano.Dessa forma, foram obtidos os valores de

restituição de cada um dos anos (h1 e h

2), assim

possibilitando o cálculo da restituição médiapara a região da sub-bacia do rio dos Índios –PR (h

m = 352 mm/ano), sabendo que esta região

recebeu a média pluviométrica de 1268 mmpara o período amostrado, a restituição média

perfaz cerca de 27,7 % da pluviometria anual.O resultado obtido quanto à restituição

média para o sistema aqüífero na sub-bacia dorio dos Índios – PR, difere dos valoresalcançados por Celligoi (2000) para o AqüíferoCaiuá no Paraná e Rebouças (1976) para osistema aqüífero Bauru, com valores deaproximadamente 18 % de restituição médiaanual da pluviometria.

Entretanto, segundo Rebouças (1976),

Page 144: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

268 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

estudos do DAEE revelam nos domínios deafloramento dos membros médio a inferior dopacote sedimentar do Grupo Bauru, umarestituição média de até 30% da pluviometria,resultado esse, relativamente próximo ao valorindicado nesta pesquisa, (restituição média =27.7%). Esses valores refletem, em parte, amelhor aptidão do aqüífero localizado na sub-bacia do rio dos Índios – PR em liberar grandesquantidades de água para a drenagem emrelação aos outros sistemas aqüíferos, mais ricosem cimento calcífero e/ou componentesargilosos, os quais dificultam uma maiorpercolação das águas subterrâneas.

Para o cálculo da reserva reguladora doAqüífero Caiuá, na sub-bacia do rio dos Índios– PR, utilizou-se o valor médio anual derestituição da pluviometria para os dois anosselecionados (h

m = 352 mm/anual), a área de

ocorrência do aqüífero nesta Sub-Bacia (Ab =

7,6 x 108 m2). Sendo assim a reserva reguladora(R

r) pode ser calculada por:

6. ESTIMATIVAS DE EXPLORAÇÃO HÍDRICA

Com base nos parâmetros de vazãoanalisados dos poços tubulares cadastrados nasub-bacia do rio dos Índios – PR e a partir docálculo da reserva reguladora, torna-se possívelestimar a exploração hídrica atual do AqüíferoCaiuá na região pesquisada, objetivando umestudo gestor dos recursos hídricos subterrâneos,sem causar impactos ambientais e evitando queo planejamento sócio-econômico dosmunicípios, quanto ao abastecimento públicode água não seja prejudicado futuramente.

A vazão somada para os oito poçoscadastrados foi de 38,1 m3/h. Após o períodode um ano a demanda de água perfaz um totalde 278 x 103 m3, estimando-se umbombeamento contínuo de 20 horas diárias.Sendo a reserva reguladora calculada em 0,27 x109 m3/ano, os poços utilizam apenas 0,1% doseu potencial.

CONCLUSÕES

A sub-bacia do rio dos Índios está inseridana região noroeste do estado do Paraná, sobre aqual afloram as rochas sedimentaressuprabasálticas referentes ao Aqüífero Caiuá.Em seu contexto geológico a área de estudolocaliza-se sobre as formações que constituemo Grupo Caiuá, mais extensivamente aFormação Goio Êre em contato transicionalcom a Formação Rio Paraná e contato erosivocom a Formação Serra Geral.

O Aqüífero Caiuá consiste em seu pacotesedimentar um meio poroso, com característicasrelativamente homogêneas, sem grandesquantidades de argila compactas, por isso,considerado como um sistema aqüífero livre emtoda sua extensão.

A sub-bacia hidrográfica do rio dos Índios –PR abrange um área de 760 Km2, inseridos emseus limites oito poços tubulares e seismunicípios que utilizam de suas reservassubterrâneas como forma de suprir a demanda deágua, tanto urbana como rural. Os poços tubularescadastrados possuem juntos vazão de 38,1 m3/h,com média de 4,7 m3/h de vazão do aqüífero.

A reserva permanente calculada na regiãoestudada a partir de uma porosidade efetiva de19,7% foi de 11,4 x 109 m³, enquanto que asreservas reguladoras, calculadas a partir da curvade recessão do rio dos Índios nos anos de 1985e 1986 foram de 0,27 x 109 m3/ano.

A avaliação das reservas subterrâneas doAqüífero Caiuá na sub-bacia do rio dos Índios– PR, evidenciou que a exploração atual da águasubterrânea está abaixo de seu potencial emarmazenar água. Atualmente grande parte doabastecimento de água tanto para a zona urbanacomo rural dos municípios da região em estudo,é feita através da captação da água superficial.Tendo em vista a rápida degradação dessemanancial, devido principalmente às açõesantrópicas, os aqüíferos poderão deixar de serverdadeiras reservas de água para a gestão eplanejamento dos municípios, no que dizrespeito ao abastecimento público.

Page 145: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

269Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-269, jul./dez. 2001

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, H.C.N.S. Contribuição ao estudohidrogeológico do Grupo Bauru no Estado de SãoPaulo. 1987. Dissertação (Mestrado) – IG/USP,São Paulo.

CELLIGOI, A. Hidrogeologia da Formação Caiuáno Estado do Paraná. 2000. Tese (Doutorado emHidrogeologia) – IG/USP, São Paulo.

COSTA, W. D. Avaliação de reserva,potencialidade e disponibilidade de aqüíferos.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUASSUBTERRÂNEAS, 8, Recife. Anais... Recife:ABAS, 1994.

FERNANDES, L. A. A cobertura cretáceasuprabasáltica no Paraná e Pontal doParanapanema: os grupos Bauru e Caiuá.1992.Dissertação de Mestrado – IG/USP, São Paulo.

FERNANDES, L. A., COIMBRA, A. M. OGrupo Caiuá: revisão estratigráfica e contextodeposicional. Revista Brasileira de Geociências,São Paulo, SBG, v. 24, n. 3, p. 164-176, 1994.

PARANÁ (Estado). Instituto Agronômico.Inventário da Estação Pluviométrica de Cianorte.

PARANÁ (Estado). Superintendência deDesenvolvimento de Recursos Hídricos eSaneamento Ambiental – SUDERHSA.Secretaria de Estado do Meio Ambiente doParaná. Cadastro geral de poços profundos.

PARANÁ (Estado). Superintendência deDesenvolvimento de Recursos Hídricos eSaneamento Ambiental – SUDERHSA.Secretaria de Estado do Meio Ambiente doParaná. Dados da estação fluviométrica Japurá.

REBOUÇAS, A.C. Recursos hídricossubterrâneos da Bacia do Paraná – análise de pré-viabilidade. 1976. Tese (Livre Docência) – IG/USP, São Paulo. 143 p.

ROSA FILHO, E. F. Caracterização dadepleção de um aqüífero através do coeficientede descarga, a, de Maillet. Boletim Paranaensede Geociências, Curitiba, UFPR ,v. 41, p. 125-144, 1993.

STEVAUX, J.C., FERNANDEZ, O. V. Q.1995. Avaliação preliminar do potencial mineralda região noroeste do Estado do Paraná. BoletimParanaense de Geociências, Curitiba, UFPR, v.43, p. 119-133, 1995.

Evaluation of the Groundwater Reserves of Caiuá Aquiferin the Sub-Basin of the Índios River - PR.

ABSTRACTThe agriculture-industrial development in the northwest area of the state of Paraná, comes provoking in the last yearsthe interest for the exploration of water in Caiuá aquifer. Tubular wells have been drilled as form of supplying thedemand of water mainly in public provisioning of the municipal districts. In that way, the studies of the groundwaterreserves of that aquifer is extremely important. For this end, the hydrographical sub-basin of the Índios river was selectedobjectifying a local study as the evaluation of the regulator and permanent reserves of Caiuá aquifer in the state ofParaná. The permanent reserve was evaluated in 11,4 x 109 m³, calculated in function of the area of occurrence of Caiuáaquifer in the sub-basin of the Índios river, the saturated thickness average and the effective porosity. The regulatorreserve was evaluated in 0,27 x 109 m3/year, starting from the recession curves of the Índios river.

KEY-WORDS: Caiuá aquifer, groundwater reserves, Índios river, recession curves.

Page 146: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 147: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

Notas

Page 148: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 149: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

273Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 273-277, jul./dez. 2001

Grupo de Estudo “História e Filosofia da Ciência Geográfica”*

Eduardo Marandola Jr.* *

Juliano Augusto**

Mario Alberto dos Santos**

Pablo Sebastian Moreira Fernandez**

RESUMOSe estamos vivendo em um período que nos remete à crise da modernidade, nas discussões sobre o papel da ciência nasociedade contemporânea, como também a forma como se processa seu desenvolvimento e construção, é imprescindívelentendermos as principais mutações contemporâneas nas várias formas que estão sendo delineadas. A História e Filosofiada Ciência é um campo de conhecimento vasto que, embora se desenvolva no âmbito epistemológico-científico, podedar suporte para refletirmos sobre as formas sociais e a configuração do espaço. É nesta perspectiva que o Grupo deEstudo “História e Filosofia da Ciência Geográfica”, composto por alunos do curso de Geografia da UniversidadeEstadual de Londrina, direciona suas intenções, buscando uma interface com a Filosofia e a História, para resgatar umavisão epistêmica da Geografia, como conhecimento do mundo e conhecimento científico.

PALAVRAS-CHAVE: história e filosofia da ciência, epistemologia da geografia, grupo de estudo.

INTRODUÇÃO

Um grupo de alunos do curso de Geografia,da Universidade Estadual de Londrina,conscientes da necessidade de aprofundar eavançar em relação ao currículo estabelecidoque, na concepção do grupo, parece carecer debases filosóficas importantes para a ciênciageográfica, tem se reunido num Grupo deEstudo para discutir e estudar a história e afilosofia da ciência geográfica. A idéia daorganização de um grupo de estudo já vinha sendodiscutida no Laboratório de Pesquisas Urbanas eRegionais1 – onde a maior parte dos componentesdo Grupo desenvolve projetos de pesquisa – hápelo menos 2 anos. Contudo, as reuniões e asdiscussões só se efetivaram recentemente.

A formação do Grupo se deu a partir daimportância que vemos na Filosofia para amelhor apreensão do conhecimento geográfico,independente da linha de pesquisa desenvolvida.

A Filosofia é um campo vasto deconhecimento que influencia e fornecesubsídios a todas as ciências. Porém, continuaainda pouco valorizada pelos pesquisadores emgeral. Julgamos que o conhecimento dosfundamentos filosóficos e como estesinfluenciaram e influem no pensamentogeográfico no seu processo histórico, forneceuma grande contribuição aos estudosgeográficos, ampliando a visão da ciência e daprópria Geografia. A História e Filosofia daCiência é uma área que precisa ser maisexplorada, pois poderia trazer muitas

* Estiveram conosco nestas discussões, em algumas ocasiões: André de Lima, Leslie de Almeida Bisikirskas, VicenteTomazzi e Francisco J. Vigeta Castilho.

** Alunos do curso de Graduação em Geografia, Universidade Estadual de Londrina. Londrina, [email protected].

Page 150: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

274 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-277, jul./dez. 2001

informações fundamentais para a compreensãoda Epistemologia da Geografia, como tambémda própria História da Ciência.

O objetivo do Grupo é melhorar acapacidade interpretativa das bases da ciênciageográfica, num esforço não apenas de ampliarnosso entendimento e conhecimento, comotambém melhorar nossa visão histórica efilosófica da Ciência e da Geografia.

Esta nota demonstra o método de estudoque aplicamos, como também os “fios” com osquais fomos tecendo nossa linha de pensamento,na introdução das questões concernentes à Históriae à Filosofia da Ciência Geográfica.

Trata-se de um primeiro semestre de estudo,correspondendo a cerca de 12 encontros quesão as primeiras aproximações do Grupo como tema na tentativa de um tecer contínuo danossa rede de conhecimento.

DESENVOLVIMENTO DOS ESTUDOS

Num primeiro momento, tencionamosdesenvolver nossos estudos direcionados pelaanálise de conceitos, buscando suasinterpretações e aplicações diversificadas nasvárias correntes do pensamento geográfico.Porém, na discussão acerca do como desenvolverestes estudos, surgiu uma questão: como avaliare pesar os conceitos em cada uma das escolasde pensamento? Como correlacioná-los eidentificar as razões que levaram determinadopesquisador, em determinado tempo, usandodeterminado embasamento teórico-filosófico, aformular tal forma de pensamento? Quais fatoresinfluenciam o desenvolvimento científico?

Estas questões nos levaram ao livro dogeógrafo espanhol Horácio Capel, O nascimentoda ciência moderna e a América (1999). Estepesquisador tem se dedicado aos estudos noscampos epistemológico e historiográfico daciência geográfica. Neste livro, o autor discuteo papel das comunidades científicas, dosprofissionais e dos técnicos no estudo doterritório. Dele, escolhemos o capítulo

intitulado os “Fatores sociais e o desenvolvimentoda ciência: o papel das comunidades científicas”para iniciar nossas discussões.

Capel discorre sobre questões importantescomo o embate entre internalismo eexternalismo, pesando os fatores que interferemnos processos que contribuem na elaboração,difusão e aceitação do conhecimento científico.Ele ainda destaca o papel que as comunidadescientíficas têm sobre a difusão e aceitação deteorias científicas, demonstrando como osfatores externos possuem grande influência sobreo desenvolvimento da ciência. Na discussão deCapel, ficou faltando uma questão importante: arelação sujeito-objeto no trabalho científico. Oautor não se deteve nesta discussão, o que nos levoua buscar aprofundamento nesta questão.

Por isso, selecionamos o livro clássico dosociólogo francês Lucien Goldmann, Filosofiae ciências humanas (1986), no qual ele dissertasobre a natureza da Sociologia e sobre aimportância da Filosofia no desenvolvimentodas Ciências Humanas. O capítulo que nosinteressou foi “Método em ciências humanas”,onde discutem-se as questões dodesenvolvimento científico, sujeito-objeto eexternalismo-internalismo nas CiênciasHumanas. Goldmann trata da problemática dodistanciamento do pesquisador (sujeito) eestudo (objeto), destacando como esta relaçãose dá no âmbito das chamadas Ciências Físico-Químicas e das Ciências Humanas. Ele é claroao afirmar a separação mais evidente nasprimeiras do que nas segundas, apontando paraa necessidade da objetividade e da neutralidadedo pesquisador em relação ao seu objeto.

Duas questões surgiram a partir deste texto:a primeira, referente à objetividadesupostamente possível da pesquisa científicasocial. A segunda é se a ciência é ou não é livrede valores. Seria possível uma pesquisa científicalivre das influências externas e internas dopesquisador? Estas duas questões não foramtrabalhadas plenamente por Goldmann, o quenos direcionou aos textos seguintes.

Page 151: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

275Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 273-277, jul./dez. 2001

Sobre a questão se a ciência é ou não livre devalores, selecionamos o artigo do filósofoestadunidense Hugh Lacey, traduzido pelarevista Crítica, intitulado “As formas nas quaisas ciências são e não são livres de valores” (2000).Lacey tem se ocupado nas discussões e reflexõesacerca da História e sobretudo da Filosofia daCiência. Lacey centra sua análise em trêscomponentes que julga imprescindíveis para acompreensão da questão: imparcialidade,neutralidade e autonomia. Ele trabalha estestrês componentes sob o prisma da perspectivade valor, concluindo que é impossível umaciência livre de valores. Comentando estaquestão, Lacey (2000, p.98-99) afirma que estesrepresentam valores de práticas científicas.Reconhece-se que no núcleo, ou seja, ondeteorias são aceitas e direções de pesquisa sãofixadas, os valores sociais e morais não ocupamo lugar apropriado. “Muito freqüentemente,‘ciência livre de valores’ tem sido rejeitada pelarazão de que os valores ocupam a periferia enão o núcleo das práticas científicas”.

Porém, a perspectiva moderna de controle,presente na teoria de Lacey sobre a ciência livrede valores, remete à questão da influência daideologia na prática científica e sua presença nasteorias científicas. Desta forma, uma discussãoacerca da ideologia e de sua natureza nos pareceunecessária. Para tanto, encontramos um texto deKarl Marx, pensador que analisou as formas dedominação ideológica de nossa sociedade. Emborasua análise situe-se no século XVIII e XIX, seusestudos continuam válidos para subsidiar a análisede nossa sociedade contemporânea.

O texto intitula-se “A ideologia em geral”(1965), e teve sua primeira publicação em 1938.Nele, Marx analisa a relação das ideologias, quecada cientista e/ou pesquisador defende oucarrega para si, para direcionar e escolher o seuobjeto de análise, com os resultados, os fins emeios, que se faz de uso para realizar um projetode pesquisa e/ou extensão. Ele mostra como aideologia direciona não apenas a práticacientífica, como também, a estrutura e asuperestrutura da sociedade.

No embate entre o cientificismo e a crençaideológica de que o conhecimento científico éa verdade, ou a única via de acesso a ela, é quefomos buscar alternativas de interpretação.

O senso comum, conhecimento construídoculturalmente pela coletividade, aparece hojecomo grande fonte de sabedoria, há muitoignorado pela ciência, mas que hoje passa a sercada vez mais valorizado. Desta forma, descemosdo pedestal científico e nos embrenhamos na vidacotidiana do homem simples.

Apesar do interesse contemporâneo pelosenso comum, não é recente a preocupaçãosociológica e filosófica para com ele. Muitos jáexploraram as relações/embates entre o sabercientífico e o senso comum, em sua maioria,buscando a diferenciação e a valorização doconhecimento científico às custas dadegeneração do saber comum.

O filósofo L. Hegenberg, na sua obra Introduçãoà filosofia da ciência (1965), trabalha a questão da“Ciência e bom-senso”, entendendo bom-senso comoo que chamamos de senso comum.

Porém, esta visão limitante do potencial dosenso comum nos levou a buscar mais leituras,que nos fornecessem subsídios para perceber aspossibilidades e a riqueza do saber comum e desua experiência.

O sociólogo José de Souza Martins, temescrito muitos ensaios sobre sociologia da vidacotidiana, e em um de seus livros mais recentes,A vida cotidiana do homem simples (2000), elerepublicou um ensaio intitulado “O sensocomum e a vida cotidiana”, o qual supriu emparte o que estávamos à procura.

Martins afirma que os estudos sociológicostêm se aprofundado na compreensão da vidacotidiana buscando desmistificar as causas dessasatitudes humanas. Segundo o autor, essavalorização da vida cotidiana é reflexo dadesesperança da humanidade quanto a ummundo de justiça, liberdade e de igualdade.Martins afirma que o senso comum, como frutodireto da vida cotidiana, está mais próximo dohomem do que a Ciência. O senso comum écomum, segundo o autor, porque é

Page 152: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

276 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 257-277, jul./dez. 2001

compartilhado entre sujeitos da relação social epor promover a interação entre ambos, pois osignificado é reciprocamente experimentadopelos sujeitos.

Esta valorização do senso comum se insereno momento específico pelo qual a sociedade ea ciência contemporânea passam e diz respeitoà questões mais amplas e complexas. Para nosaprofundar nestas questões, incluímos o livroUm discurso sobre as ciências (2001), dosociólogo português Boaventura de SouzaSantos, editado pela primeira vez em 1987, nosestudos do grupo.

Santos aponta as características do quechama de paradigma dominante, ou seja, oparadigma da ciência moderna, passando pelosfatores que causam a sua crise, finalizando portraçar as linhas do paradigma emergente, queestá se configurando. Este, segundo o autor,tende à valorização de novas formas de saber,como o senso comum, a arte, a cultura e areligião, e se fundamenta na complexidade epluralidade. Rompe com o tecnicismo doparadigma moderno, porém, ainda não pode serdefinido, porque está em construção, sendo frutode mera especulação as tentativas de caracterizá-lo.

Santos (2001, p.23) é enfático em afirmar anatureza profunda e irreversível da crise doparadigma dominante que caracteriza omomento atual de transição paradigmática.Porém, esta questão não nos parece fechada, poispodemos nos perguntar que certezas temos deque haverá a concretização do paradigmaemergente e a superação do paradigmamoderno? Como saber se a modernidade serásuperada, ou se esta crise não será superada pelaprópria modernidade? Estas questões nortearãonossos estudos seguintes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

À guisa da conclusão, queremos enfatizar aimportância desses estudos em nossa formação,em especial, devido ao método escolhido paragerir o Grupo de Estudo. Este métododimensionou algo diferente em nosso processode ensino-aprendizagem e pesquisa. Ao invésde traçar planos de estudo, já delimitando ostextos e temas que seriam abordados, optamospor deixar que a necessidade e a nossa ânsia dediscussões direcionasse o tema do texto seguinte.Desta forma, tivemos uma linha de pesquisaconstruída, que se desenhou de acordo com anossa relação com o tema e em consonância comos pontos que nós extraímos para reflexão decada um dos textos. Traçamos uma linha depensamento no decorrer das discussões,buscando textos que nos apoiassem nesta linhaa qual estávamos tecendo. Neste sentido,acreditamos ter tido uma experiência de estudomais próxima da pesquisa, do trabalhocientífico, do que do processo tradicional deensino-aprendizagem, o qual freqüentementenos submete à temas que não estamos nomomento direcionados, em detrimento deoutros assuntos os quais estaríamos mais atentosou necessitados.

Na certeza da continuação de nossos estudos,buscamos nos aprofundar nesta metodologia deestudo e neste campo vasto de conhecimentoque é a História e a Filosofia da Ciência, naatenção específica com a Geografia,preocupando-se com a Filosofia e com osaspectos externos e internos do desenvolvimentocientífico, como também seus reflexos nasociedade a qual vivemos.

NOTAS

1 Departamento de Geociências, Centro de Ciências Exatas,Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR.

Page 153: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

277Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 273-277, jul./dez. 2001

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPEL, Horácio. Fatores sociais e odesenvolvimento da ciência: o papel dascomunidades científicas. In: ______. Onascimento da ciência moderna e a América: opapel das comunidades científicas, dosprofissionais e dos técnicos no estudo doterritório. (trad. Jorge U. Villalobos) Maringá:Eduem, 1999.

GOLDMANN, Lucien. O método em ciênciashumanas. In: ______. Ciências humanas efilosofia. (trad. Lupe C. Gahaude e José A.Giannotti). 10ed. São Paulo: Difel, 1986.

HENBERG, L. Ciência e bom-senso. In:______. Introdução à filosofia da ciência. SãoPaulo: Herder, 1965.

LACEY, Hugh. As formas nas quais as ciênciassão e não são livres de valores. (trad. Marcos R.da Silva) Crítica, Londrina, v.6, n.21, out/dez2000.

MARTINS, José de S. O senso comum e avida cotidiana. In: ______. A vida cotidianado homem simples. São Paulo: Hucitec, 2000.

MARX, Karl. A ideologia em geral. In:CARDOSO, Fernando H. (org.) Homem esociedade. São Paulo: CEN, 1968.

SANTOS, Boaventura de S. Um discurso sobreas ciências. 12ed. Porto: Afrontamento, 2001.

Study Group “History and Philosophy of Geographic Science”

ABSTRACTIf we are living in a period that in sends them to the crisis of modernity, what could be the role of science in the societycontemporary. Also the form of processes development and construction then, is essential to understand the mainmodifications in the some forms that are being delineated. Today History and Philosophy of Science are the field of vastknowledge, even so if develops in the epistemologic-scientific scope, can give support to reflect on the social forms andthe pattern of the space. It is in this perspective that the Group of Study “History and Philosophy of GeographicScience”, composite for students of the course of Geography of the State University of Londrina, directs its intentions,searching an interface with the Philosophy and History, to rescue a epistemic vision of Geography, as scientific knowledge.

KEY-WORDS: history and philosophy science, Geography epistemology, study group.

Page 154: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 155: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

279Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 279-282, jul./dez. 2001

Josué de Castro, geógrafo e médico, aindanão tem o devido reconhecimento daimportância de suas obras pelos brasileiros,apesar de ter sido o pioneiro no estudo da fomeno País e no mundo.

Autor de vários livros, entre eles,GEOGRAFIA DA FOME, morreu perseguidopoliticamente, cassado e exilado e o resgate desuas obras e de sua trajetória nunca foi tãonecessária como agora. Um brasileiro que tantocontribuiu para se entender o grande problemadeste país, é a constatação a que todos chegamapós a leitura de GEOGRAFIA DA FOME.

O reconhecimento da atualidade desta obrapode parecer lugar comum e talvez este critério,o de olhar o anterior com os olhos do presente,não seja a melhor maneira de se reconhecer aexcelência da obra na sua época. Mas aocompararmos com as últimas informações sobrea situação da fome no Brasil – o “Mapa daFome” publicado em 1993 pelo IBASE e arecente pesquisa realizada pela FundaçãoGetúlio Vargas no ano de 2001 – a descrição eanálise feita por Josué permanecem atuais. Nãosó pela metodologia geográfica da análise, maspela infeliz constatação de que as tendências darealidade brasileira não se alteraram.

Josué de Castro, o Mapa da Fome e oMapa do Fim da Fome

Márcia Siqueira de Carvalho*

RESUMOJosué de Castro, geógrafo e médico, produziu duas obras raras e de importância para a Geografia. Uma delas, Geografiada Fome, ainda é pioneira e atual diante dos novos mapeamentos do fenômeno no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Geografia, fome, Brasil.

* Drª. em Geografia Humana. Docente do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina.Coordenadora do Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. [email protected]

Os noticiários sobre a atual seca nordestina,descrevendo as doenças de carência e desubalimentação parecem ser repetições de secasanteriores, previsíveis e constantes a cadadécada, sem que as medidas mitigadorasultrapassem os programas de distribuição decestas básicas ou de criação de frentes detrabalho, este sem objetivos de diminuir oimpacto das estiagens.

O mapeamento da fome e das carênciasalimentares na escala regional brasileirapublicado pela primeira vez em 1946, ao sercomparado com o Mapa da Fome de 1993,independente das críticas à metodologia paraas áreas rurais, manteve o quadro de carênciasalimentares e miséria predominantes nas regiõesNorte e Nordeste. A situação analisada por Josuépara as regiões Sudeste, Sul e Centro Oestesofreu alterações, mas a fome ainda existe.

Duas questões ainda são tabus. A primeira ésobre o regime alimentar dos habitantes dosertão nordestino ser superior à zona da Matanordestina, em termos qualitativos, exceto nosperíodos de secas prolongadas. A alimentaçãodo sertanejo era melhor do que o do litorâneo,segundo Geografia da Fome, por apresentar asproteínas da carne do gado miúdo e dos

Page 156: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

280 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 279-282, jul./dez. 2001

derivados do leite, fato raramente destacadofrente as imagens das secas. Outro tabu é acomposição alimentar das plantas típicas dosertão e que não raro se tornam a única fontede alimentos destes brasileiros nas situaçõesextremas de carência. “A mucunã suja mata elavada aleija”, segundo o adágio popular, masrevelou-se uma fonte de proteínas próxima dasoja, de acordo com as pesquisas feitas por Josué.Neste sentido, ele desvendou que certas plantastidas como venenosas, e por vezes consumidas,levaram à morte os seus consumidores mais peloestágio de carência alimentar profunda egeneralizada do que pela toxidade que seacreditava verdadeira.

O mapeamento pioneiro da fome brasileirafoi feito com o resgate da história da economiae da política das regiões Norte e Nordeste.Traçou-se com detalhes o que alguns classificamcomo epopéia, e para outros uma viagem paraa morte, a migração dos nordestinos fugindoda seca para os seringais amazônicos em buscado “Ouro Branco” – a borracha natural. Os queescaparam voltaram doentes, trazendo para osseus, não a riqueza, mas as doenças, como osatuais garimpeiros.

Desde aquela época da publicação, Josué jádenunciava a exaustão dos solos pela agriculturacomercial, assim como os seus efeitosprejudiciais sobre a fauna nordestina, e osimpactos do pastoreio das cabras sobre avegetação do Sertão, já fragilizada. Sobre a MataAtlântica, ele já descrevia:

a destruição da floresta alcançou tal intensidade ese processou em tal extensão que, nesta regiãochamada da mata do Nordeste, por seu revestimentode árvores quase compacto, restam hoje apenaspequenos retalhos esfarrapados deste primitivo mantoflorestal. (CASTRO, 1969, p. 122)

Parece que ele está descrevendo um problemada nossa atualidade. Mas sua análise não ficourestrita às questões da Geografia Física comofatores da fome. Em relação às causas daconcentração fundiária do nordeste açucareiro,foi traçado um perfil alimentar das classes

envolvidas no processo produtivo, além doquadro de diminuição das lavouras alimentarespelo crescimento da monocultura da cana-de-açúcar, pela necessidade crescente de matéria-prima na modernização dos engenhos centrais.Também já apontava os efeitos limitados dos“ensaios de fruticultura” e a área ainda pequenado cultivo permanente de cereais, verduras efrutas junto dos açudes, o que beneficiavaapenas a parcela da população destes núcleosno semi-árido.

Este geógrafo e médico descreveudetalhadamente as principais doenças dosbrasileiros em cada região em função dascarências alimentares. Quem não irá se lembrarda carência de vitamina A, que leva à cegueira,quando escutar os cantores cegos das feiraspopulares? Pedindo licença aos escritores, aoreproduzir os trechos de livros que registraramas condições de carências alimentares e sociaisdo brasileiro, fez uma ligação entre a literaturae o trabalho científico, recurso que também foiutilizado para a cultura popular.

Alguns trechos são de um delicado sabor, aoelogiar os benefícios do óleo de dendê pelagrande quantidade de vitamina A ou aoidentificar a criação do café com leite – aqueleque nos desperta todas as manhãs – fruto dacriatividade de Joan Nieuhof na época dainvasão holandesa no Nordeste. Ao tratar dacontribuição de cada etnia formadora dobrasileiro – brancos, índios e negros – identificouos alimentos nativos e estrangeiros que hojeformam a diversidade regional da nossa culinária,mas sob o ponto de vista da análise crítica dobalanceamento de cada uma das dietas.

Outros trechos são instigantementepolêmicos, como os que Josué trata da relaçãoentre a fome e o banditismo dos cangaceiros, ofervor religioso e místico dos retirantes ecamponeses de Canudos, além do caráter nosertanejo: “esquizotímico, com sua curva detemperamento instável” mas de umahonestidade a toda prova – “É capaz de tratardurante anos de uma rês perdida, ficandosempre à espera do legítimo dono” (CASTRO,1969. p. 249).

Page 157: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

281Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 279-282, jul./dez. 2001

O prazer em reencontrar, ou mesmo emconhecer, a obra mais famosa de Josué de Castroé estar diante de uma pajelança com milingredientes – históricos, sociais, políticos,edafológicos, climatológicos, antropológicos,literários, folclóricos, biológicos, dietéticos,médicos, psicológicos, e tantos outros –elaborada com exemplar rigor metodológicogeográfico. Não uma mistura de ingredientesapenas, mas uma bebida curadora para a nossaignorância cultivada cuidadosamente naeducação formal sobre situação da fomeendêmica brasileira. Entre os alunos do cursode Geografia, raros são os que já leram uma desuas obras. Grande parte nem o conhece comogeógrafo. E os demais alunos universitários?

Para felicidade nossa, há vários exemplaresdesta obra na Biblioteca Central daUniversidade Estadual de Londrina, assim comooutra obra do mesmo autor de qualidadesemelhante – A GEOPOLÍTICA DA FOME,além do seu relançamento no seucinqüentenário de lançamento.

Na época da “globalização” da comida, dageneralização do fast food e da substituição dofeijão com o arroz na dieta do brasileiro pelasmassas e produtos industrializados gordurosos(MENESES, 2001), a hipertensão, o diabetes,a obesidade se tornaram as novas doenças deparcelas mais pobres da população urbana. Onúmero de crianças abaixo de cinco anos queestão abaixo do peso ainda é um grave problemano Brasil, fato diminuído pela atuação daPastoral da Criança, uma organização não-governamental. Hoje, no Brasil, vemos a cenaabsurda em que uma parte dos brasileiros sofreos efeitos da obesidade, da vida sedentária e dadieta não tão saudável convivendo com aspopulações indígenas, a população mendicantede rua e trabalhadores com baixíssima renda oudesempregada, submetidas à fome e àsubnutrição. Mais no campo do que nas cidades,apesar delas concentrarem cerca de 80% dosbrasileiros, os famintos (“indigentes”) atingiram32 milhões na pesquisa do Mapa da Fome. Degrande produtor, recentemente o Brasil passoua importador de alimentos – trigo, arroz e feijão.

A política contra a miséria no Brasil é ineficaze ineficiente, apesar do aumento de consumode alimentos no início do Plano Real. O últimoestudo, divulgado em julho de 2001, pelaFundação Getúlio Vargas – O Mapa do Fim daFome – mostrou que existe 50 milhões debrasileiros na escala da indigência, pessoas cujarenda familiar está abaixo de R$ 80,00 o querepresenta 30% da população total(GOVERNO..., 2001, p.8). Comparando coma pesquisa anterior Mapa da Fome, feita peloIBASE, são 18 milhões de brasileiros a aumentareste placar vergonhoso.

O Paraná, estado ao qual é atribuída aimagem de “Primeiro Mundo”, quer pelasindústrias atraídas ou pela diversidade étnica desua população, tem perto de 20% de suapopulação formada por pessoas extremamentepobres e com péssimas condições de vida. Deacordo com a pesquisa da Fundação GetúlioVargas (2001), ao mapear a proporção deindigentes em relação à população total nosmunicípios do estado do Paraná tendo comobase o Atlas do Desenvolvimento Humano,concluiu que ela diminuiu entre os anos de 1970e 1980, mas voltou a crescer em 1991 nosprincipais municípios, acompanhando atendência do estado e do Brasil. (Tabela 1)

Nos anos de 1998 e 1999, o nível deindigência calculado a partir de microdados doPNAD (IBGE) atingiu valores máximos entre27,6% e 35,3% nas mesorregiões do Centro-Sul Paranaense e do Sudeste Paranaense.(FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2001)

Na citada reportagem, destacou-se o fato dorecolhimento do trabalho Mapa da Pobreza noParaná, elaborado pelo IPARDES e datado de1997, logo após o início de sua distribuição paraas prefeituras. O motivo seria o desempenhoruim do estado neste quesito, apesar da negativado governo em relação a este fato(GOVERNO..., 2001, p. 8). Emboraempregando metodologia diferente da FGV, osseus resultados revelam os espaços geográficosparanaense onde estão as maiores carências demoradias e dos seus moradores: Andirá, Jandaia

Page 158: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

282 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, p. 279-282, jul./dez. 2001

do Sul (Norte); General Carneiro, Paula Freitas(Centro-Sul); Capitão Leônidas Marques ePranchita (Sudoeste).

Independente da metodologia adotada, semcasa e sem renda, estes paranaenses certamente

têm pouca comida para colocar no prato. Diantedisso, Josué de Castro ainda está, infelizmente,muito atual.

Tabela 1 – Mapa da Pobreza Municipal - Paraná.

População Indigente PO (%)Municípios

1991 1980 1970

Brasil 45,46 39,47 67,90

Paraná 41,13 39,13 74,77

Cascavel 30,79 31,23 71,14

Colombo 28,38 27,34 66,58

Curitiba 13,48 10,27 30,38

Foz do Iguaçu 28,03 16,84 65,64

Guarapuava 50,42 40,71 74,48

Londrina 23,43 21,92 54,54

Maringá 15,77 17,40 53,37

Ponta Grossa 34,78 23,10 51,75

São José dos Pinhais 25,38 25,12 56,25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, Josué. Geografia da Fome: o dilemabrasileiro: pão ou aço. 11 ed., São Paulo: Brasiliense,1969.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS/IBGE. OMapa do Fim da Fome: Metas Sociais contra amiséria nos municípios paranaenses. Julho de 2001.Documento em formato pdf. 23 p.

MENESES, Francisco. Panorama Atual da SegurançaAlimentar no Brasil. Disponível em http://www.ibase.br/paginas/san.html. Acesso em 14/08/2001.

GOVERNO tentou encobrir miséria no PR. Folhade Londrina, Londrina, 19 jul. 2001. p. 8.

Josué de Castro, Hunger’s Map and the Hunger’s End Map

ABSTRACTJosué de Castro, geographer and medicine doctor, wrote two rare and detachable geographical works. Geography ofHunger is pioneer book and still keeps updated facing news Brazilian hunger mappings.

KEY-WORDS: Geography, hunger, Brazil.

Fonte: CPS / FGV a partir do Atlas do Desenvolvimento Humano, apud FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (2001)

Page 159: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

283Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, jul./dez. 2001

GEOGRAFIARevista do Departamento de Geociências

INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO

A revista GEOGRAFIA: Revista do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina,destina-se à publicação de matérias de interesse científico de qualquer área de conhecimento, desde quetenham relação com a ciência geográfica.

NORMAS EDITORIAIS

1. Serão aceitos somente trabalhos originais divulgados ou não, mas ainda não publicados em periódicosdo gênero, ou, em casos especiais, a critério do Conselho Editorial.

2. Os originais recebidos serão submetidos à apreciação de assessores científicos que sejam especialistasreconhecidos nos temas tratados. Os trabalhos serão enviados para avaliação sem a identificação de autoria.

3. O editor se reserva o direito de introduzir eventuais alterações nos originais, de ordem normativa, com ofim de manter a homogeneidade e qualidade da publicação, sem que seja necessário submeter essas alteraçõesà aprovação dos autores. É responsabilidade dos mesmos a correção ortográfica e sintática, bem como arevisão da digitação do texto, que será publicado conforme o enviado.

4. A revista classificará as colaborações de acordo com as seguintes seções:

4.1 Artigos: compreende textos que contenham relatos completos de estudos e pesquisas, matéria decaráter opinativo, revisões da literatura e colaborações assemelhadas (no máximo 40 páginas);

4.2 Notas prévias: comportam observações, opiniões, críticas, ponderações, explicações sobre temasde interesse do público-alvo (no máximo 6 páginas);

4.3 Resenhas: compreende a apreciação e análise crítica e interpretativa de obras recém-lançadas, cabendoao resenhista toda a liberdade de julgamento (no máximo 4 páginas).

5. As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

6. As provas tipográficas não serão enviadas aos autores.

7. Os autores e co-autores receberão um exemplar da revista.

Page 160: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

284 Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, jul./dez. 2001

APRESENTAÇÃO DOS TRABALHOS

Formato: todas as colaborações devem ser enviadas em disquete, acompanhada de uma cópia impressa, comentrelinhamento um e meio, em tamanho A4 (21 x 29,7 cm). Os textos devem ser digitados no processadorMicrosoft Word.

Data de recebimento:Para publicação no 1º semestre: trabalhos recebidos até 15 de abrilPara publicação no 2º semestre: trabalhos recebidos até 15 de setembro

Texto: com intuito de agilizar o trabalho de editoração eletrônica, a digitação deverá seguir as seguintesnormas:a) não utilizar tabulações no início do parágrafo;b) colocar espaço após a pontuação;c) usar fonte (letra) padrão Times New Roman e tamanho 12, podendo-se usar negrito, itálico, sublinhado,

sobescrito e subscrito;d) apresentar o texto em um único arquivo; com exceção das ilustrações, que devem ser em arquivos separados.

Exemplo:- Texto artigo.doc- Tabela 1.xls- Figura 1.xls

Título: deve ser em português, com versão para o inglês

Autoria: deve(m) ser digitado(s) o(s) nome(s) do(s) autor(es) logo abaixo do título, indicando-se na primeiralauda do original, em nota de rodapé (com uso de asterisco), a que Instituição pertence(m), Departamentoou Unidade de Trabalho, e o endereço completo de cada um para as consultas que se fizerem necessárias(preferencialmente com e-mail).

Resumo/Palavras-chave: deve ser incluído um resumo informativo de aproximadamente 200 palavras, emportuguês, acompanhado de sua tradução para o inglês. As palavras-chave devem representar o conteúdo dotexto, em português e inglês, e não devem ultrapassar cinco (5) descritores.

Agradecimentos: agradecimentos a auxílios recebidos para a elaboração do trabalho ou mesmo à pessoas,deverão ser mencionados em nota de rodapé (com uso de asterisco) na primeira página.

Notas: notas referentes ao corpo do artigo devem ser indicadas pelo sistema numérico e inseridas no fim doartigo, antes das referências bibliográficas. Solicita-se evitar ao máximo o uso de notas.

Ilustrações (fotografias, desenhos, gráficos, mapas, quadros, tabelas etc.): deverão ser contempladas aquelasestritamente indispensáveis à clareza do texto, indicando-se no mesmo o lugar em que devem ser inseridas,como exemplificado abaixo:

TABELA Nº xxx

FIGURA Nº xxx

Page 161: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

285Geografia, Londrina, v. 10, n. 2, jul./dez. 2001

Importante: serão publicadas somente as ilustrações em diferentes tons de cinza. Ilustrações coloridas poderãoser aceitas desde que o autor se responsabilize pelo custo das páginas respectivas ou ficam condicionadas àobtenção de recursos para publicação.

Citações bibliográficas: deverão seguir o sistema de chamada autor-data conforme as normas da ABNT(NBR 10520 – apresentação de citações em documentos) e listadas alfabeticamente no final do trabalho.Nas citações, as entradas pelo sobrenome do autor, pela instituição responsável ou título incluído na sentençadevem ser em letras maiúsculas e minúsculas, e quando estiverem entre parênteses devem ser em letras maiúsculas.Exemplos:

Barbour (1971, p.35) descreve: “o estudo da morfologia dos terrenos [...] ativos”.

Oliveira e Leonardos (1943, p.146) dizem que ...

“Apesar das aparências, a desconstrução do logocentrismo não é uma psicanálise da filosofia” (DERRIDA,1967, p.293)

Depois, é o ambiente em que vivemos: as montanhas do Rio, as velhas igrejas barrocas de Minas Gerais, asmulheres bonitas que passam pela vida, tudo isso deve ser responsável pela arquitetura meio livre e sensualque prefiro (DEPOIMENTO ..., 1978, p.101-114).

“Não se mova, faça de conta que está morta” (CLARAC e BONNIN, 1985, p..72).

As transcrições no texto de até três linhas devem estar encerradas entre aspas duplas. As aspas simples sãoutilizadas para indicar citação no interior da citação.Exemplo:Segundo Pereira de Sá (1995, p.27) [...] “por meio da mesma ‘arte de conversação’ que abrange tão extensa esignificativa parte da nossa existência cotidiana”.

As transcrições no texto com mais de três linhas devem ser destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda,com letra menor (tamanho 11) que a do texto utilizado e sem aspas.Exemplo:

A teleconferência permite ao indivíduo participar de um encontro nacional ou regionalsem a necessidade de deixar seu local de origem. Tipos comuns de teleconferência incluemo uso da televisão, telefone, e computador. Através de áudio conferência, utilizando acompanhia local de telefone, um sinal de áudio poder ser emitido em uma salão de qualquerdimensão (NICHOLS, 1993, p.181).

Referências Bibliográficas: deverão ser redigidas conforme as normas da ABNT (NBR 6023 – referênciasbibliográficas) e relacionados somente os trabalhos citados no artigo (NBR 6022 – apresentação de artigos empublicações periódicas).

As colaborações devem ser enviadas, acompanhadas de carta de encaminhamento, para o endereço:Geografia: Revista do Departamento de GeociênciasUniversidade Estadual de LondrinaCentro de Ciências ExatasDepartamento de GeociênciasCampus Universitário s/nCaixa Postal 600186.051-990 Londrina, Paraná

Page 162: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa
Page 163: Revista Geografia v10 n2 - UEL Portal · CHAUÍ, em “Brasil – Mito fundador e sociedade autoritária” (2000), indica a Nação como Semióforo ... locais onde a sociedade possa

GEOGRAFIARevista do Departamento de Geociências

NÚMEROS DISPONÍVEIS:

v.8, n.1, jan./jun.1999 ...................................................... R$ 5,00v.8, n.2, jul./dez.1999 ....................................................... R$ 5,00v.9, n.1, jan./jun.2000 ...................................................... R$ 5,00v.9, n.2, jul./dez.2000 ....................................................... R$ 5,00v.10, n.1, jan./jun.2001 .................................................... R$ 5,00v.10, n.2, jul./dez.2001 ..................................................... R$ 5,00

Geografia: Revista do Departamento de GeociênciasUniversidade Estadual de LondrinaCentro de Ciências ExatasDepartamento de GeociênciasCaixa Postal, 600186051-990 – Londrina – ParanáFone: (43) 371-4246 – Fax: (43) 371-4216E-mail: [email protected]

PEDE-SE PERMUTA