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António Conceição Júnior TRÊS DÉCADAS DE CRIATIVIDADE E LIVRO DE CONTOS • Centrais PUB Inflação vs. Salários AUMENTOS TACO A TACO PARA ANIMAR POVO • Páginas 4 e 5 TEMPO MUITO NUBLADO MIN 23 MAX 27 HUMIDADE 70-95% CÂMBIOS EURO 11 BAHT 0.2 YUAN 1.2 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB MOP$10 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ SEXTA-FEIRA 4 DE NOVEMBRO DE 2011 ANO XI Nº 2486 PUB Ter para ler Macau é recordista mundial de atropelamentos em passadeiras As zebras assassinas Ninguém apanha Macau no que toca ao número de atropela- mentos em plena passadeira. Enquanto que em Hong Kong a cada 100 mil pessoas 5,2 são atropeladas na “zebra” ou 1,57 em Espanha, o pior país europeu no ranking, a RAEM conta com 55,2 atropelamentos. Até em Xangai, a maior cidade chinesa, a história já se escreve de outra forma. > PÁGINA 8 Fundação Macau MUST CONTINUA A DOMINAR RANKING DOS SUBSÍDIOS • Página 6 h PORTUGAL E A CRISE ETERNA Já sabia que ia sobrar para mim

Hoje Macau 4 NOV 2011 #2486

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Edição do Hoje Macau de 4 de Novembro de 2011 • Ano X • N.º 2486

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António Conceição Júnior

TRÊS DÉCADAS DE CRIATIVIDADE E LIVRO DE CONTOS

• Centrais

PUBInflação vs. Salários

AUMENTOS TACO A TACO PARA ANIMAR POVO

• Páginas 4 e 5

TEMPO MUITO NUBLADO MIN 23 MAX 27 HUMIDADE 70-95% • CÂMBIOS EURO 11 BAHT 0.2 YUAN 1.2

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

MOP$10 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FEIRA 4 DE NOVEMBRO DE 2011 • ANO XI • Nº 2486

PUB

Ter para ler

Macau é recordista mundial de atropelamentos em passadeiras

As zebras assassinasNinguém apanha Macau no que toca ao número de atropela-mentos em plena passadeira. Enquanto que em Hong Kong a cada 100 mil pessoas 5,2 são atropeladas na “zebra” ou 1,57 em Espanha, o pior país europeu no ranking, a RAEM conta com 55,2 atropelamentos. Até em Xangai, a maior cidade chinesa, a história já se escreve de outra forma. > PÁGINA 8

Fundação Macau

MUST CONTINUA A DOMINAR RANKING DOS SUBSÍDIOS

• Página 6

hPORTUGAL E A CRISE ETERNA

Já sabia que ia sobrar para mim

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SEXTA-FEIRA 4.11.2011

2www.hojemacau.com.mo ACTUAL

Milionários chineses cobiçam qualidade de vida nos países ocidentais

Fuga em massaMAIS da metade

dos milionários chineses está a considerar emi-

grar ou já emigrou, segundo mostra uma pesquisa que reforça resultados semelhan-tes do início do ano, desta-cando a preocupação entre a elite empresarial chinesa sobre a qualidade de vida e as perspectivas financeiras, apesar do rápido ritmo de crescimento do país.

Os Estados Unidos são o destino mais popular para emigração, de acordo com o estudo realizado com 980 chineses que possuem bens estimados em mais de 10 milhões de yuans, publica-do pelo Banco da China e a agência de pesquisas Hurun Report.

Embora o crescimento tenha desacelerado, o de-sempenho económico da China ainda é motivo de inveja no mundo ocidental: o país registou um cresci-mento do PIB de 9,1% no terceiro trimestre, e o Fundo Monetário Internacional prevê um crescimento de 9,5% para todo ano de 2011.

Acumulam-se, porém, temores de que o crescimen-to da China possa ser afec-tado por uma série de pro-blemas, incluindo inflação alta, um sector imobiliário em efervescência exagerada e uma desaceleração drástica em demandas externas.

Muitos dos chineses que mais lucraram com o crescimento do país também expressam preocupações crescentes em relação a questões sociais, como a política de um filho por casal, segurança alimentar, poluição, educação precária e um sistema judicial fraco.

O fundador e editor da Hurun Report, Rupert Hoo-gewerf, disse que a razão mais comum citada pelos entrevistados que estão a emigrar é a educação dos filhos, seguida do desejo de obter melhor tratamento mé-dico e do medo da poluição na China. “Há também uma vontade de garantir uma certa segurança”, afirmou, mencionado preocupações com o ambiente económico e político.

O especialista advertiu, entretanto, que não está claro se os resultados da pesquisa sinalizam uma saída de ca-

CARRINHA COM CRIANÇAS EMPILHADASA polícia de Pequim interceptou no início desta semana uma carrinha para transporte escolar de sete lugares a transportar 31 crianças e dois adultos. O veículo levava as crianças da creche de volta para as suas casas num subúrbio no leste da cidade, e foi descoberta após uma ligação anónima recebida pela polícia. Quando os polícias abriram a porta do veículo, encontraram as crianças a gritar e a reclamar que não conseguiam respirar. O motorista, que também é professor da creche, foi multado em 300 yuans e advertido para que não volte a sobrecarregar o veículo. Curiosamente, a polícia não tinha nenhum veículo onde pudesse levar as crianças após o “resgate”, fazendo com que a carrinha tivesse que seguir com os menores até suas casas.

ONDE ESTÁ A TARTARUGA DE DUAS CABEÇAS?A polícia de Hong Kong procura há duas semanas uma tartaruga de duas cabeças que desapareceu da “Arca de Noé”, uma sala de exposições dedicada a animais curiosos. De acordo com o diário “South China Morning Post”, a tartaruga, de oito centímetros de comprimento, é avaliada em 20 mil dólares de Hong Kong e estava exposta na sala “O Castelo das Duas Cabeças”, na qual havia outros 12 animais da mesma espécie com cabeça dupla. A polícia trabalha com a hipótese de que algum visitante ou funcionário do local levou a tartaruga, o primeiro animal a desaparecer da “Arca de Noé”. O animal desaparecido é uma tartaruga de Reeve (Chinemys reevesii), um réptil típico da Ásia Oriental com risco de extinção moderado.

para imigração ou decidiram fazer o pedido, de acordo com o estudo, que ouviu 2600 pessoas de alto poder aquisitivo.

MAIS DE 500 MIL MILIONÁRIOSO China Merchants Bank e a Bain estimam que, em 2010, havia 500 mil pessoas na China com activos “in-dividuais com potencial de investimento” no valor de 10 milhões de yuans e 20 mil pessoas com 100 milhões de yuans ou mais.

O Banco da China e o instituto de pesquisa Hurun estimam que existam 960 mil pessoas com “activos pessoais” de pelos menos 10 milhões de yuans e 60 mil com 100 milhões de yuans ou mais.

A pesquisa, feita de Maio a Setembro, englobou 18 grandes cidades como Pequim, Xangai, Wuhan, Nanquim, Dalian e Suzhou, e entrevistou pessoas com uma média de idade de 42 anos e uma média de activos pessoais de 60 milhões de yuans.

O levantamento mostrou que 46% dos entrevistados estavam a pensar emigrar, enquanto outros 14% já ha-viam emigrado ou estavam a preencher os papéis para a imigração.

Hoogewerf disse que entrevistados com activos de 100 milhões de yuans ou mais estavam ainda mais de-cididos a emigrar, sendo que 55% consideravam deixar a China e 21% já estavam a viver fora do país. O des-tino mais procurado entre os emigrantes era os EUA, somando 40%, seguido do Canadá com 37%, de Singa-pura com 14% e da Europa com 11%.

Um terço dos participan-tes disse que tinha activos fora do país e 28% disseram que planeiam investir no exterior nos próximos três anos. Metade desses com activos no exterior listou a educação dos filhos como a principal razão, enquanto 32% citou a emigração. Os EUA foram o destino mais popular para os investi-mentos, somando 42%, e a aquisição de imóvel foi o tipo de investimento mais comum, com 51%, segundo a pesquisa.

pital, já que muitos chineses com renda elevada e que estão a emigrar também afirmaram que manteriam boa parte do seu dinheiro investido no país.

A China mantém um controlo de capital que torna difícil para os chineses retira-rem dinheiro do país, mas há buracos substanciais nesse sistema. Alguns economis-tas afirmam terem detectado sinais de grandes saídas de capital nos últimos meses, provavelmente devido a um declínio no apetite mundial

por risco e a uma valorização mais lenta do yuan.

No mês passado, o re-latório de uma pesquisa da equipa de estratégia do Bank of America Merrill Lynch de Hong Kong citou “fortes saídas de dinheiro” como um dos quatro riscos sistémicos que poderiam levar a economia da China a uma aterragem forçada. Segundo o relatório, um sinal deste tipo de saída é o registo da receita dos casinos de Macau.

Em mais uma indicação

do temperamento incons-tante entre a população rica da China, diversas embai-xadas ocidentais notaram, neste ano, um aumento mar-cante no número de pedidos para vistos de investimento, uma categoria que permite às pessoas imigrarem se investirem uma certa quan-tia de dinheiro, segundo diplomatas.

Existe evidência também de um crescimento no nú-mero de chineses a comprar propriedades de luxo em grandes cidades, especial-mente Londres, Sidney e Nova Iorque, de acordo com analistas do mercado imobiliário.

Um outro estudo publi-cado em Abril pelo China Merchants Bank e pela con-sultoria Bain & Co. mostrou que quase 60% dos chineses de alto poder aquisitivo haviam se preparado ou estavam a considerar a emi-gração. Destes, mais de 20% já haviam conseguido aval

A China mantém um controlo de capital que torna difícil para os chineses retirarem dinheiro do país, mas há buracos substanciais nesse sistema. Alguns economistas afirmam terem detectado sinais de grandes saídas de capital nos últimos meses, provavelmente devido a um declínio no apetite mundial por risco e a uma valorização mais lenta do yuan

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Os mais ricos têm 23 vezes mais rendimentos que os mais pobres

Nem todos os chineses ganham com os negócios da China

A China não é só uma. Há muitas Chinas dentro da China, fruto de um crescimento desigual,

que acelerou em certas regiões e deixou outras decididamente para trás. O luxo vertiginoso de Xangai, as luzes sempre acesas dos casinos de Macau, o centro financeiro de Hong Kong, a industrialização das zonas costeiras do Sul, contrastam com a pobreza e o atraso, económi-co, cultural e social, de zonas como Yunan ou Guizhou, no Leste, cujos PIB per capita se comparam com os de Vanuatu ou da Índia.

Este ano a China tornou-se a segunda maior economia do mun-do, a seguir aos Estados Unidos, ultrapassando o Japão. Segundo a agência chinesa de notícias, Xi-nhua, 1% dos lares chineses detêm 41% da fortuna do país. Um estudo da Universidade Normal de Pe-quim revela que a disparidade de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres atinge hoje níveis avassaladores: a fortuna dos mais

AS companhias da China, Rússia e México são as que

mais praticam o suborno de fun-cionários e empresários quando actuam no exterior, segundo o Índice de Subornadores 2011, divulgado pela ONG alemã Transparência Internacional (TI).

O estudo, baseado numa pesquisa com três mil empresá-rios de países industrializados e em desenvolvimento, lista as 28 principais nações exportadoras pela facilidade com que as suas companhias transnacionais recorrem ao suborno fora das fronteiras.

A Rússia é a pior classificada neste ranking, com 6,1 - numa escala de 0 a 10 -, seguida pela China (6,5) e México (7,0). Rússia e China são frequentadoras habi-tuais dos primeiros postos nos

O presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, é o

primeiro na lista das pessoas mais poderosas do mundo da revista norte-americana “Forbes”.

Neste ranking, o primeiro--ministro da Rússia, Vladimir Putin surge em segundo, seguido do líder chinês Hu Jintao e da chanceler ale-mã, Angela Merkel.

Outros nomes que figuram entre os dez mais poderosos deste ano são Bill Gates, fundador da Microsoft (recen-temente falecido), o Papa Bento XVI e o jovem empresário Mark Zuckerberg, um dos fundadores do facebook.

A lista das 70 pessoas mais po-derosas do mundo da publicação “Forbes” inclui personalidades do mundo político, empresarial, des-portivo e artístico.

ricos é 23 vezes maior que as posses dos mais pobres.

A economia chinesa tem cres-cido de forma rápida nos últimos 30 anos, a uma taxa média anual de 10%. No entanto, falta-lhe con-seguir distribuir essa riqueza de maneira menos desigual pelo país e o seu sistema empresarial arrisca aumentar ainda mais essa falta de equilíbrio geográfico, forçando a migração de chineses das zonas rurais para as zonas industrializa-das e os subúrbios de cidades como Xangai e Pequim. Aos 103 milhões de migrantes actuais devem juntar--se, segundo os cálculos, mais 243 milhões em 2025.

Esta migração poderá ser maior tendo em atenção que “a política do filho único” causará graves problemas de falta da mão-de-obra nas zonas onde é mais necessária. Ou seja, as acentuadas desigual-dades geográficas chinesas serão uma razão a acrescer a todas as outras para as jovens gerações de trabalhadores pedirem mudanças

nas suas condições de trabalho, aumento de rendimentos e outros benefícios sociais e políticos. A China caminha para o conflito a todo o vapor. O país está vulnerá-vel. O seu crescimento económico acelerado tornou-o vulnerável. O recente acidente do comboio rápi-do por deficiências na sinalização veio mostrar que o avanço da China em direcção ao primeiro mundo caminha sobre a corda bamba: tudo o que foi conquistado oscila perigosamente sobre o precipício da corrupção, da arbitrariedade do poder político, da falta de oportu-nidades para muitos que abundam para outros. A riqueza chinesa po-derá ser uma ilusão, um brinquedo descartável barato que as suas fá-bricas estão habituadas a produzir, se não houver uma redistribuição da riqueza pelos vários estratos da população e pelas províncias onde o século XXI teima em não chegar.

CONFLITOS SOCIAISNo final de Fevereiro, os residentes

da cidade de Lufeng, na província de Guangdong, no Sul da China, saíram à rua para protestar contra a expropriação forçada das suas terras. Em Maio houve várias manifestações contra o aumento da corrupção em organizações do Estado. Na província de Jiang-dong, os trabalhadores migrantes revoltaram-se. Na sequência disso, em Junho, um homem foi conde-nado a uma pena de prisão por ter convocado uma manifestação. Na semana passada, um pastor da Mongólia Interior (província chinesa) foi assassinado durante um protesto contra a passagem de camiões pelas suas terras, que lhe matavam os animais. Um protesto semelhante acontecera em Maio. Dessa vez, também um pastor tinha sido assassinado, o que levou mais de mil chineses de etnia mongol a protestar nas ruas.

Antes as manifestações eram protestos localizados entre buro-cratas da cidade ou nas pequenas aldeias contra o representante

local do Partido Comunista. Hoje a insatisfação alargou-se às zonas industriais urbanas e às cidades do Interior. Em Agosto passado, 12 mil pessoas participaram numa manifestação em Dailan, província de Liaoning, contra a poluição de um rio provocada por uma fábrica de paraxileno. No mesmo mês, outras duas manifestações superaram o milhar de pessoas em Chengdu, na província de Sichuan, e em Bijie, na província de Giuzhou.

O referido acidente com o comboio rápido, na província de Zhejiang, que causou a morte de 43 pessoas em Julho, alimentou muitos protestos de pessoas indig-nadas com o desvio de dinheiro para a corrupção que tinha levado a cortes em matéria de segurança – como aliás parece ser uma das características do desenvolvimento chinês, que privilegia a rapidez sobre a segurança e a qualidade.

As autoridades chinesas estão cada vez mais preocupadas com a instabilidade social, mas têm ata-cado mais o mensageiro (controlos no acesso à internet, criminalização da organização de protestos através das redes sociais) do que tentado atacar a essência do problema. As autoridades monitorizam de perto toda a actividade que possa ser con-siderada subversiva – daqueles que pretendem mudanças políticas aos outros – a maioria –, que pretendem apenas que o desenvolvimento não lhes passe por cima.

EMPRESAS DA CHINA SÃO DAS QUE MAIS SUBORNAM NO EXTERIOR

Funcionários a peso de ouroPRESIDENTE CHINÊS É A TERCEIRA

PESSOA MAIS PODEROSA DO MUNDO

EUA e Rússia na frente

Os 20 mais poderosos1 - Barack Obama2 - Vladimir Putin3 - Hu Jintao4 - Angela Merkel5 - Bill Gates6 - Abdullah bin Abdul Aziz al Saud7 - Bento XVI8 - Ben Bernanke9 - Mark Zuckerberg10 - David Cameron11 - Sonia Gandhi12 - Mario Draghi13 - Nicolas Sarkozy14 - Wen Jiabao15 - Zhou Xiaochuan16 - Hillary Clinton17 - Michael Bloomberg18 - Timothy Geithner19 - Manmohan Singh20 - Warren Buffett

três últimos rankings publicados (em 2008, 2006 e 2002).

Na outra ponta, as nações cujas empresas menos praticam o suborno no exterior são Holanda (8,8), Suíça (8,8), Bélgica (8,7), Alemanha (8,6) e Japão (8,6).

O relatório da TI lista ainda os sectores produtivos pela propensão de suas empresas

a recorrerem ao suborno, colo-cando na primeira posição as do ramo de obras públicas (5,3), seguido pelas companhias de infra-estrutura para serviços públicos (6,1) e as ligadas ao mercado imobiliário (6,1).

Aparecem na sequência as firmas do sector petroleiro e gasista (6,2), da mineração (6,3), de geração e transmissão de electricidade (6,4), farmacêuticas (6,4) e seguradoras (6,4).

A ONG alemã aproveitou a divulgação do ranking para pres-sionar os países do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países ricos e principais emergentes), cujos líderes se reúnem amanhã em Cannes, a dedicarem a maior atenção aos subornos das suas empresas no exterior e a penali-zarem a corrupção.

O neo-tuga não compreende a missão que imbuía o colonialista, nem o fascínio que deslumbrava o exilado. Mas não deixa por isso de considerar que tem direito de exigir. Não se interessa absolutamente nada pelo facto de palmilhar por aqui um terreno a muito custo mantido por outros. Não, isso não lhe interessa nada. Vive-se num caos de valores, de prioridades, de sentimentos rasteiros, quer em Macau se traduz numa atitude verdadeiramente incompreensível. Carlos Morais José P.18

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4www.hojemacau.com.mo POLÍTICA

Entrevista | Eilo Yu, professor-assistente e coordenador da Universidade de Macau

“Se os salários subissem taco a taco comVirginia [email protected]

COORDENADOR dos cursos de Administração Pública na Universidade de Macau (UMAC), Eilo

Yu é um dos estudiosos frequente-mente convidados para a comentar as mais abrangentes questões na sociedade local. Em entrevista ao Hoje Macau, o académico olhou para o lado cinzento da política de combate ao tabagismo que se prepara para ser aplicada em 2012, com a proibição de fumar em toda a espécie de locais públicos... excepto em casinos. Mas também falou de outros problemas sociais criados com as casas de jogo, do sistema de saúde, de educação, de economia, das LAG...Estamos a menos de dois meses da entrada em vigor da nova lei do tabaco, que vai banir o fumo dentro de todos os locais públicos, com excepção dos casinos. Macau está a andar para frente?Penso que a Lei do Tabaco tem sido feita a correr porque, se tivermos como referência outras regiões além de Hong Kong, como os Estados Unidos, por exemplo, veremos que ali não foi feita a legislação para depois se implementar o controlo. O controlo anti-tabaco pode começar com a cultura. Qual a atitude dos cidadãos de Macau em relação ao controlo do tabaco? Os residentes de Macau podem ter muitas opiniões diferentes em relação ao fumo. Mas concordam com a lei?Olhando para a comunidade, parece que não chegou ainda a um consenso sobre como controlar a cultura do fumo. É sabido que em muitos sítios o controlo anti-tabaco tenha começado pela educação. O certo é que o Governo tem tentado promover o controlo do tabaco, como com os restaurantes anti-fumo, antes de promover a Lei do Tabaco, mas a força com que o faz e o tempo que tem para o fazer são claramente insuficientes, o que faz com que os residentes continuem a não demonstrar grande mudança de opinião em relação ao fumo. Acha que vai estar tudo a postos para respeitar a nova lei?

Algumas pessoas podem ainda não estar habituadas ou a sociedade não ter ainda formado uma certa “pressão social”. A pressão social não é o Governo quem exerce. É a sociedade pensar que fumar não é bom e interiorizar que, se alguém quer fumar, tem de o fazer numa zona específica onde não afecte os outros. Essa moldura cognitiva não está ainda a alastrar pela sociedade e pôr em prática as restrições de forma súbita pode levar a que haja grandes

contradições ou conflitos. Penso que o pessoal do controlo na linha da frente irá enfrentar certas dificuldades e penso que essa situação não poderá ser resolvida a curto prazo. A Lei do Tabaco precisava levar ainda seis meses ou mais de preparação para ter uma maior efectividade.O que pensa sobre o facto de a Lei do Tabaco só ser implementada nos casinos passados três anos?É uma consideração da situação prática. Os casinos são só o maior

sector económico, que é capaz de envolver quase 80 ou 90% da economia de Macau. Por isso, pode ser uma estratégia correcta excluir os casinos e considerá-los apenas após três anos. É compreensível. Penso que não é necessário proibir o fumo em todo o lado de forma súbita e admito que possa haver uma expansão lenta até englobar toda a sociedade. Mais importante é educar a população para a cultura de como controlar o fumo ou mesmo para deixar de fumar. Não faz muito sentido apenas olhar para a legislação ou para a aplicação da lei da proibição de fumar.Que lhe parece a proposta de lei que pretende aumentar da idade mínima de entrada em casinos para 21 anos?Nos anos 2005 e 2006, esse foi um tema muito importante de discussão. Naquela altura,

muitos estudantes do secundário e universitários estavam a trocar os estudos por empregos em casinos. Mas nos últimos anos, o que se está a ver é que os casinos estão quase saturados e a maior parte deles já recrutou mão-de-obra suficiente. Penso que as gerações mais jovens podem já não ter grande intenção de trabalhar em casinos porque os outros sectores entretanto também já estão a melhorar os salários e benefícios. Mas parece-me uma boa coisa aumentar o limite de idade para 21 anos.Há, no entanto, indícios de que os jovens que trabalham nos casinos seduzem-se cada vez mais pelo jogo. Tem alguma sugestão de como combater o problema do jogo compulsivo?Penso que isso envolverá alguns níveis técnicos. De qualquer forma, como definir quem é jogador compulsivo? Será que o Governo ou as organizações têm mecanismos para verificar? Se têm, podemos partir para uma lista de nomes. Caso contrário, não podemos. Além disso, existem dificuldades ao nível da aplicação. Proibir os jogadores patológicos é diferente de proibir pessoas que agem contra os regulamentos dos casinos ou que estão a tentar escapar de dívidas. Penso que será difícil para os casinos estarem cientes dos jogadores viciados e o pessoal da segurança pode não ter a capacidade de os reconhecer facilmente.Que avaliação faz do sistema de saúde público da RAEM, numa altura em que está clara a falta de médicos e desenvolvimento do sector?Os problemas hospitalares ou médicos são muito complicados em Macau. O mecanismo actualmente em uso é o do Serviço de Saúde Nacional Britânico. Os serviços médicos são muito caros, pelo que é frequentemente sugerido que o Governo tem de proporcionar os serviços básicos e, se quisermos uma qualidade de serviço melhor, temos de pagar num hospital privado. Macau está a empenhar recursos muito limitados para os serviços de saúde públicos e as despesas são muito elevadas. Não existem

“É normal que quando se tenta atravessar numa passadeira, os condutores não abrandem, chegando mesmo a acelerar. O Governo deveria liderar a mudança nessa cultura de condução, regulando o comportamento dos motoristas de transportes públicos, impondo o cumprimento estrito do código da estrada e penalizações mais pesadas”

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muitas clínicas privadas e o Governo tem de pensar se em Macau é possível ter algumas organizações médicas privadas para um desenvolvimento gradual. Recentemente, tem aumentado o número de clínicas e cadeias de clínicas médicas, mas na fase actual, pode não ser possível avançar para aquele tipo de hospitais. Mas num longo prazo, o Governo pode considerar o desenvolvimento do mercado privado e, através da concorrência de empresas, melhorar os padrões. Sobre as longas listas de espera para os tratamentos, penso que a situação não poderá ser resolvida num curto prazo, mas o Governo deveria reavaliar a qualidade médica geral para ver se o mecanismo é suficientemente bom para monitorar e evitar erros médicos. O Governo pode também considerar o recrutamento de consultores para tratar da qualidade médica.O Governo anunciou recentemente que irá limitar a 4% o número de veículos matriculados no território e que iria melhorar alguns aspectos da rede de transporte público. São soluções eficazes para suavizar o caos nas ruas?Não se trata de um problema recente em Macau. A cultura da condução em Macau já existe há muito tempo. Seja como for, para os condutores que não deixam os peões atravessarem a rua, mesmo nas passadeiras, o Governo deveria considerar impor duras sanções a hábitos de condução tão indelicados. Em Macau, é normal que quando se tenta atravessar numa passadeira, os condutores não abrandem, chegando mesmo a acelerar. Isto não acontece só com veículos ou motociclos particulares – mesmo os autocarros costumam fazê-lo. Penso que o Governo deveria liderar a mudança nessa cultura de condução, regulando o comportamento dos motoristas de transportes públicos, impondo o cumprimento estrito do código da estrada e penalizações mais pesadas. Como acontece em países estrangeiros, se um acidente levar à morte de pessoas, o veículo responsável não deveria

poder mais aceder ao seguro automóvel, aumentando assim o efeito dissuasor. Entretanto, não se trata apenas de um problema dos condutores, mas também da concepção das estradas em Macau – muitas são hoje perigosas, mesmo algumas que eram boas há 20 ou 30 anos.Uma parte da nova geração de Macau está muito centrada em entrar para uma universidade, mas continua a faltar mão-de-obra técnica especializada. Interessa termos tantos “doutores” numa terra tão pequena?Muitas pessoas podem pensar em estudar na universidade, mas na realidade, numa sociedade mais saudável, não se consideraria estudar na universidade como o objectivo final. Devemos ter como um facto que diferentes estudantes têm diferentes capacidades e alguns podem não ter o que é preciso para andar numa universidade normal. Pode antes ser mais aconselhável para estes andarem em escolas profissionais ou em faculdades técnicas especiais. Mas em Macau existe, por exemplo, alguma escola de construção? Não significa que queiramos aqui um engenheiro, mas existe formação profissional e um sistema de certificação para trabalhadores da construção? Não há garantias de que os estudantes que frequentem a universidade vão ter um futuro brilhante e de que os que não frequentem não o possam ter. Mas será que o Governo tem um lugar onde essas pessoas se possam desenvolver? Elas podem não ser boas no meio académico, mas podem ser capazes noutros campos para os quais as universidades e faculdades actuais não podem proporcionar a devida formação. A ideia de que a universidade assegura o futuro é um mito, um conceito errado.O que podemos esperar o novo Relatório das LAG [Linhas de Acção Governativa]?Espero que o Governo possa ter reformas no mecanismo político. Mas penso que é demasiado tarde para falar sobre isso uma vez que estamos às portas das eleições legislativas de 2013.

Ainda assim, creio que talvez o Governo venha propor um aumento no número de assentos na Assembleia Legislativa [AL]. Se for só isso, ficarei decepcionado porque o aumento no número de deputados não implica necessariamente um desenvolvimento reformador do mecanismo político. Percebo que completar reformas a sério dentro de um ano seja muito difícil, mas é melhor tentar do que não fazer nada. Espero que o Governo possa ter maiores e mais aprofundadas reflexões para a legislação. Além disso, nunca discutimos a atitude do Governo e o pensamento da população em relação ao mecanismo de eleição.

e animador, mas será o mais efectivo? O mais importante é saber como ajudar as pessoas mais necessitadas. Se muitas pessoas não puderem usufruir do sucesso económico, então há um problema no mecanismo e, assim sendo, deveríamos considerar como melhorar esse mecanismo em vez de dar cheques. O Governo pode considerar um mecanismo de ajuste, como estabelecer níveis e dar os cheques apenas a níveis específicos, mas não a todos os residentes, concentrando-se na ajuda aos residentes mais carenciados.O que falhou no último ano?Penso que isto pode ser visto claramente a nível legislativo.

económicos, parece que apenas há discussão mas nenhuma direcção ou medidas concretas para diversificar a economia. Talvez tenhamos de esperar que os desenvolvimentos na Ilha da Montanha possam liderar a diversificação da indústria.Concorda que a inflação é a questão mais preocupante?Em parte, apenas. A inflação é assustadora, mas mais assustador ainda é o não aumento dos salários. O mais pavoroso é que as pessoas, por muito que se esforcem, os preços aumentem e os seus salários não consigam acompanhar a velocidade da inflação. Se os salários subissem taco a taco com a inflação, as reclamações do povo seriam diferentes. O mais importante é como permitir que aumentem os salários dos diferentes níveis sociais.No início deste mês, Chui Sai On visitou vários locais em Macau para ouvir os cidadãos. Trata-se de mera encenação?Em primeiro lugar, visitar é melhor do que não visitar. Se é um tipo de encenação, em certa medida, pode ser. Até porque nessas visitas não se vê a vida real da maior parte da população. Seja como for, ele dispôs-se a passear pela cidade, o que demonstra uma vontade de contactar com os cidadãos. Por outro lado, não seria melhor um determinado nível de altos funcionários do Governo passear pela cidade regularmente em vez de Chui? O problema é que Chui pode observar uma determinada questão e não ser imediatamente capaz de ver o problema a fundo. Podemos questionar: “será que as opiniões com que ele se depara são uma boa amostra da opinião geral?”. No entanto, andar pela cidade pode ser útil para ele ter mais pontos de vista diferentes e uma melhor avaliação. É duvidosa a sinceridade de Chui quando percorre a cidade numa altura em que está quase finalizado o novo Relatório das LAG. Ele devia considerar a realização desses passeios duas vezes por ano, antes de preparar as LAG e de as ter praticamente definidas. Assim teria uma melhor compreensão da comunidade.

“A inflação é assustadora, mas mais assustador ainda é o não aumento dos salários. O mais pavoroso é que as pessoas, por muito que se esforcem, os preços aumentem e os seus salários não consigam acompanhar a velocidade da inflação”

Os cheques de comparticipação pecuniária vão continuar para o ano?Penso que a parte que mais preocupação levanta é se o Governo irá ou não repetir essa medida. Sempre argumentei que a distribuição de cheques não era uma boa medida, mas penso que não seria possível para o Governo não o fazer este ano. No entanto, penso que o montante podia diminuir. O Governo devia pôr os olhos na lição de Hong Kong, onde já foram distribuídos os cheques, mas as críticas dos residentes continuam. Então, será que dar dinheiro pode resolver todos os problemas? Especialistas em economia já vieram dizer que dar dinheiro não é o método mais efectivo e que, em vez disso, o Governo deveria pensar em como utilizá-lo em medidas efectivas para melhor servir os interesses do povo. Há quem defenda que o Governo dá dinheiro para calar a sociedade. É da mesma opinião?Dar dinheiro pode ser defendido como o modo mais justo, directo

No entanto, já há melhorias em pelo menos ter um calendário legislativo. Em relação ao ano passado, o Governo esteve demasiado confiante em como poderia criar toda a legislação programada. Assim, para este ano, temos a lição de não manter expectativas muito elevadas nas agendas legislativas do Governo. Não se trata da capacidade do Governo, mas a legislação envolve demasiadas considerações complicadas e não devemos esperar que essas complicações possam ser ultrapassadas dentro de um ano. Temos de aprender e estar cientes de que alguma legislação não pode ser acelerada para entrar em vigor em um ano, podendo requerer uma persistência por dois ou três anos para resultar numa legislação com qualidade.Este foi o segundo ano de Chui Sai On como Chefe do Executivo. O que fez até agora de bom e de mau?Percebo que ele se esforçou na legislação e na regulação administrativa ou em criar um novo nível de cultura administrativa. Mas em termos

a inflação, as reclamações seriam diferentes”

SECTOR DA CONSTRUÇÃO EM BAIXAEm 2010 registou-se 1178 estabelecimentos do sector da construção civil, representando uma diminuição de 115 unidades face ao ano anterior. Mais de 15 mil pessoas trabalharam nessa indústria no ano passado. O valor das obras construídas fixou-se nos 22,27 mil milhões de patacas. No ano de análise, o valor acrescentado bruto do contributo do sector na economia foi de 3,83 mil milhões de patacas. No sector privado o valor da obras fixou-se nos 17,84 mil milhões de patacas e nas instalações de turismo e de jogo e cifrou-se nos 13,31 mil milhões de patacas. Relativamente à habitação fixou-se pelos 3,04 mil milhões e as construções públicas atingiram os 4,44 mil milhões de patacas.

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Joana [email protected]

A Fundação Macau atribuiu um total de cerca de 130 milhões de pata-

cas em subsídios a associa-ções e entidades de Macau no terceiro trimestre deste ano. A Universidade de Ci-ência e Tecnologia de Macau (MUST) foi a contemplada mais sortuda, arrecadando pouco mais de 27 milhões, para a construção da se-gunda fase do pavilhão desportivo e do campo de futebol.

No plenário da semana passada, Au Kam San acu-sou a Fundação de favore-cer a MUST quando toca a atribuir subsídios, justifi-cando isso com o facto da maior parte dos dirigentes da universidade pertence-rem também ao Conselho de Curadores da Fundação Macau. “É só abrir a gaveta e tirar o dinheiro”, disse Au Kam San.

A imediata reacção de Wu Zhiliang, director da Fundação, foi desmentir o deputado democrata, afirmando que “a entidade apoia qualquer sector, seja público ou privado, e que o faz em total acordo com as leis”.

Ontem, em Boletim Ofi-cial, foi publicada a lista de apoios concedidos no ter-ceiro trimestre deste ano e, apesar de alguns dos valo-res serem elevados, o subsí-

Fundação Macau atribuiu 130 milhões de patacas em subsídios no terceiro trimestre

E o vencedor é...Au Kam San bem tinha dito no plenário da semana passada que a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) era quem mais apoio financeiro recebia da Fundação Macau. A lista de subsídios, publicada ontem em Boletim Oficial, pôs a universidade no topo das felizes contempladas. Entre as mais de 200 associações beneficiadas, está a dos Proprietários dos Estabelecimentos de Macau, a Escola Portuguesa de Macau e o Colégio Anglicano

dio concedido à MUST é, de facto, o mais alto de todos. Na lista que descreve todos os apoios financeiros, estão também os propósitos dos pedidos. A MUST justifica a aplicação dos 27.280.601 patacas como um “subsídio especial” para a segunda prestação das obras do seu pavilhão desportivo e campo de futebol.

Au Kam San já tinha observado, na Assembleia Legislativa (AL), a alocação destes fundos para este tipo de obras na universidade. O pedido de apoios gerou cus-tos no valor dos 130 milhões de patacas, só na primeira fase. “Desde a sua criação em 2000 que esta instituição particular dispõe de tudo o que pretende, incluindo recursos financeiros e ter-renos” gratuitos, acusou Au Kam San, no plenário passado.

Segundo dados do de-putado, foram já mais de 450 milhões de patacas as atribuídas à MUST em três anos, bem como terrenos gratuitos.

Os deputados democra-tas diziam mesmo ser difícil compreender como é que uma instituição de ensino superior particular conse-gue obter apoios 10 vezes superiores aos concedidos a associações que prestam serviços públicos.

Wu Zhiliang, director da Fundação, justificou, contudo, que as obras que estão a ser feitas na uni-

versidade não beneficiam apenas os seus estudantes, mas são uma forma de col-matar a falta de instalações desportivas em Macau, já que a MUST abre os seus pavilhões ao público.

DUAS CENTENAS DE ENTIDADES BENEFICIADAS São cerca de 250 as entida-des que receberam apoios financeiros da Fundação Macau. Entre as mais bene-ficiadas estão, por exemplo, a União das Associações dos Proprietários de Esta-belecimentos de Restaura-ção de Macau, que recebeu um total de oito milhões de patacas para a segunda fase de um projecto de preser-vação das características dos estabelecimentos de comida de Macau. À mesma associação foram atribuí-dos mais seis milhões de patacas para a preparação do Festival Internacional de Gastronomia, que co-meça no dia 11 deste mês e termina a 27. Também a Associação Promotora do Desenvolvimento de Ma-cau recebeu seis milhões de patacas para o mesmo festival.

As comemorações do centenário da Revolução Xinhai originaram também muitos pedidos de apoio financeiro. No total, a As-sociação de Beneficência do Hospital Kiang Wu recebeu cerca de três milhões para conferências e publicações

sobre a revolução de Sun Yat Sen, com outras associações a receberem também apoios na ordem das nove mil pa-tacas, na sua maioria.

À Federação das Asso-ciações dos Operários de Macau foram atribuídas 500 mil patacas para uma visita de estudo a Wuhan, mais 150 mil patacas para a exibição de filmes.

Ao Conselho das Comu-nidades Macaenses foram atribuídos dois milhões de patacas para a realização de um encontro entre jovens e contemplando despesas de funcionamento para este ano. A Associação dos Médicos de Língua Portuguesa foi subsidiada com dois milhões e meio de patacas para um Congresso Internacional sobre a sua profissão, que teve lugar em Macau.

Artes, exposições, es-pectáculos e prendas na altura do bolo lunar fize-ram parte das contas dos subsídios atribuídos pela Fundação Macau no penúl-timo trimestre do ano.

No âmbito da educação, a Escola Portuguesa de Ma-cau foi contemplada com

250 mil patacas para a rea-lização do 12.º Programa de Aperfeiçoamento Linguís-tico e o Colégio Anglicano de Macau recebeu cinco milhões para obras de am-pliação escolar e aquisição de equipamentos.

Ng Kuok Cheong pediu aos responsáveis da Funda-ção mais informações sobre as razões da concessão de determinados montantes a diversas entidades e Paul Chan Wai Chi solicitou mesmo que a Fundação Macau elabore relatórios periódicos sobre os apoios financeiros.

O método de fiscaliza-ção após a atribuição do subsídio e a possibilidade de serem entregues pelas associações orçamentos superiores ao montante necessário na realidade foi outra das preocupações dos deputados.

Na sua resposta aos membros da AL, o respon-sável da Fundação Macau insistiu que não há qual-quer favoritismo na altura da atribuição de apoios financeiros.

As receitas da Fundação provêm de dotações no valor de 1,6% dos lucros do jogo e de outras atribuídas pelo Governo. Em 2010, e dado o montante elevado das receitas geradas em Macau, a entidade terá recebido mais de dois mil milhões de patacas.

POLÍTICA

“Desde a sua criação em 2000 que esta instituição particular dispõe de tudo o que pretende, incluindo recursos financeiros e terrenos” gratuitos, acusou Au Kam San

No plenário da semana passada, à parte das críticas à MUST – que recebeu um total de 75 milhões de pa-tacas no segundo trimestre para custear parcialmente as despesas com o plano anual de 2011/2012 das suas quatro instituições subordinadas -, foi também exigida mais transparência à Fundação Macau.

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Air Macau | Reestruturação nas acções foram aprovadas, Governo injecta 700 milhões

Renovar a frota é prioridadeJoana [email protected]

OS accionistas da Air Ma-cau aceitaram ontem a proposta de uma nova reestruturação accionista

da companhia, que vai permitir ao Executivo da RAEM a injecção de 700 milhões de patacas no capital social da empresa.

Na semana passada, a Air Macau já tinha avançado que iria emitir 420.420 novas acções ordi-nárias, cujo valor unitário seria de 100 patacas, a serem totalmente

Virginia [email protected]

É difícil para um jovem comprar casa em Macau, a inflação está a apertar,

o ambiente de trabalho tem de ser mais estável e os serviços médicos precisam melhorar. São essas as principais preocu-pações dos jovens de Macau, que gosta-riam de ver soluções nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano, que vão ser apresentadas em breve. As opiniões foram recolhidas no âmbito de um estudo da equipa de política juvenil da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM).

Os representantes da associação apelaram ao Governo para que desse mais atenção aos apelos dos jovens ao apresentar as LAG, com especial atenção à resolução dos seus problemas laborais, académicos e às dificuldades que enfren-tam nos dias que correm, para proporcio-nar condições melhores para a juventude alcançar realização nos seus projectos de vida. No relatório da sondagem, alguns estudantes universitários desejaram que o Governo criasse mais habitação pública e exercesse mais controlo sobre os altos preços do mercado de habitação, de forma a permitir aos jovens realizarem o sonho de comprar casa própria.

No relatório divulgado pelo jornal “Ou Mun”, um estudante do Instituto para o Turismo mostrou-se preocupado com as suas perspectivas de emprego e

A ausência da secretária para a Administração e

Justiça no plenário dedicado a responder às interpelações dos deputados foi duramente criticada na semana passada. Chu Lam Lam, directora do Ga-binete da Reforma Jurídica e do Direito Internacional foi quem compareceu na Assembleia Legislativa (AL), substituindo Florinda Chan, e foi também quem justificou a ausência da responsável por esta se encon-trar em “missão oficial”.

Para José Pereira Couti-nho, esta justificação não foi, contudo, suficiente. Ontem, o deputado enviou uma inter-pelação escrita ao Governo na qual questiona qual foi a missão oficial que exigiu a presença de Florinda Chan e que assuntos foram tratados na reunião.

“A secretária sabia com antecedência que ia ser feita uma interpelação oral e, sendo ela a responsável pela área sectorial da acção governativa objecto da interpelação, não se compreende que tenha de-cidido não comparecer e que não tenha adiado a referida missão oficial de serviço para poder esclarecer os deputados e a população sobre as questões

colocadas pelos deputados”, acusa Pereira Coutinho.

O deputado considera que, em caso de ser mesmo necessá-ria a ausência de Florinda Chan do plenário, a secretária deveria ter pedido um adiamento da interpelação oral a Lau Cheok Va, presidente da AL.

As questões que os deputa-dos esperavam ver respondidas pela secretária para a Adminis-tração e Justiça estavam relacio-nadas com o atraso na entrega e conclusão de diplomas anun-ciados nas LAG para este ano e com a reforma jurídica.

Sem Florinda Chan, foi Chu Lam Lam quem respondeu às questões dos membros da AL, que não ficaram, no entanto, muito satisfeitos.

“A secretária não está aqui e nós temos de aceitar a situ-ação?”, questionou Ng Kuok Cheong. Ung Choi Kun, Paul Chan Wai Chi e José Pereira Coutinho foram outros dos deputados que lamentaram a ausência de Florinda Chan, acusando a secretária de estar a fugir às responsabilidades e da sua ausência provocar falta de credibilidade do Executivo.

Na interpelação apresen-tada ontem, Pereira Coutinho

interrogou ainda o Executivo sobre se tinha sido dada a devida autorização a Florinda Chan para se ausentar do plenário e qual a fundamentação legal em que a responsável se baseou para se fazer representar por Chu Lam Lam.

O deputado criticou a deci-são, uma vez que, afirma, está estipulado no regimento da AL a participação dos membros responsáveis pelas áreas sec-toriais da acção governativa objecto da interpelação.

“Fazer-se substituir por um funcionário administrativo é que não se pode concordar. É necessário respeitar a fronteira entre a função política e a fun-ção administrativa, coisa que a secretária para a Administração e Justiça insiste em ignorar. Uma coisa é fazer-se assistir tecnicamente por um funcio-nário administrativo, outra é fazer-se substituir por ele - no desempenho da função política, essa substituição é inaceitável”, criticou Pereira Coutinho.

O deputado diz ainda que a ausência de Florinda Chan afecta também Chui Sai On, que devia ter assegurado a participação da secretária na Assembleia. - J.F.

CHEFE DO EXECUTIVO VISITA OBRAS DA HABITAÇÃO PÚBLICAO Chefe do Executivo, Chui Sai On, acompanhado pelo Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io, deslocou-se ontem às obras dos projectos das 19 mil fracções de habitação pública. As visitas ao lote TN27, na Taipa, e à obra de habitação Pública de Seac Pai Van, em Coloane, tiveram como principal objectivo dar a conhecer em detalhe o planeamento e a construção de ambos os projectos. O Governo com este projecto espera entregar 2703 fracções autónomas residenciais. Em relação ao terreno de Seac Pai Van irão ser disponibilizadas 8649 apartamentos.

UGAMM APRESENTA RELATÓRIO SOBRE

INVESTIGAÇÃO ÀS EXPECTATIVAS DOS JOVENS

Juventude quer casa, trabalho, dinheiro e saúde

DEPUTADO QUER JUSTIFICAÇÃO OFICIAL

PARA AUSÊNCIA DE FLORINDA CHAN

Onde esteve a senhora secretária?

adquiridas pelo Executivo caso a proposta aprovada pelo Conselho de Administração da companhia fosse aceite. Com um capital social de cerca de 442 milhões de pata-cas, a Air Macau pretende, agora, melhorar a frota e o serviço aos passageiros.

Em comunicado, a companhia bandeira da RAEM anunciou a in-tenção de “introduzir de imediato novos aviões, de forma “a actualizar a segurança dos voos e a diminuir os gastos com a verificação dos aparelhos mais velhos”.

Zheng Yan, director-executivo

da companhia bandeira da RAEM, disse à Rádio Macau que todo o di-nheiro não era, contudo, suficiente para a total renovação da frota. “Este é o investimento inicial para acelerar a nossa mudança. A Air Macau tem também de investir mais dinheiro através dos lucros para renovar a frota de forma gradual”, frisou o director.

Zheng Yan diz ainda assim que trazer novos aparelhos é um proces-so que irá levar algum tempo, já que cada avião pode rondar os cerca de 50 milhões de dólares americanos.

Além dos novos aviões, a com-

panhia aérea quer ainda aproveitar o novo fundo para melhorar servi-ços, como a formação do pessoal, a pontualidade ou modernizar os sistemas tecnológicos. Trazer mais pilotos para a companhia é outro dos objectivos, depois de muitos profis-sionais terem deixado a companhia.

Com esta aprovação, o Governo da RAEM fica com 21% das acções da Air Macau, tornando-se a se-gunda maior accionista, atrás da Air China.

A meio do ano passado, o Execu-tivo tinha já demonstrado intenções em aumentar a sua participação

de 5% na companhia bandeira da RAEM. No início deste ano, a pro-posta foi apresentada à Comissão Executiva da Air Macau.

Depois das primeiras altera-ções deste tipo, em 2009, esta é a segunda vez que a Air Macau vai ser reestruturada, mas não deverá haver mais injecção de capital nos próximos anos, pelo menos da parte do Executivo, conforme disse à Rádio Zheng Yan.

A curto prazo, a companhia aérea de Macau promete baixar os preços dos bilhetes e pondera abrir novas rotas.

queixando-se de que Macau actualmente só dava importância à indústria do jogo, o que afectava toda o desenvolvimento turístico e económico, para não falar nos riscos nos caso de desenvolvimento de ca-sinos noutras paragens do Sudeste da Ásia. Outros estudantes de turismo, contudo, aparecem com uma visão mais optimista, desejando que o Governo pudesse aplicar mais recursos na indústria do turismo e desenvolver mais pontos turísticos para formar uma tendência de diversificação do desenvolvimento turístico.

Alguns entrevistados de nível acadé-mico mais avançado mostraram-se mais preocupados com os problema no sector da saúde em Macau, considerando que os serviços médicos ainda estavam muito aquém das necessidades e precisavam melhorar. A equipa de política juvenil da UGAMM sugeriu, por exemplo, que o Governo estabelecesse serviços clínicos especiais e horários nocturnos para responder aos apelos.

POLÍTICA

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8www.hojemacau.com.mo SOCIEDADE

Macau não é caso único, mas é caso grave. O problema do desrespeito pelas passadeiras e pelos peões é um mal global. Hong Kong também não apresenta números simpáticos. A Europa está alerta com este problema e nos EUA chegam a morrer por ano mais de 4000 pessoas nas passadeiras. Xangai mudou e passou de 138 a 28 mortes por ano

Gonçalo Lobo [email protected]

OS números de Macau não são po-sitivos, mas os de Hong Kong tam-

bém não. Podíamos começar a pensar que se trata de um mal regional, no entanto o problema da não cedência de passagem nas passadeiras é, sim, um mal à escala global.

Dados do ano passado revelam que foram passadas 310 multas a condutores por não cederem passagem a peões nas passadeiras do território. Mais grave se tornam os números de atro-pelamentos: no ano passado 397 pessoas foram atropela-das. Desse total, 276 foram atingidas quando estavam a atravessar numa passadeira. Trocando por miúdos, a cada 32 horas, uma pessoa é atro-

Desrespeito pelas passadeiras e pelos transeuntes é um mal global

Difícil passagem para a outra margem

pelada numa passadeira no território.

Mas a zebra parece que passa despercebida um pou-co por todo o lado. O rela-tório de trânsito de 2010 da região vizinha de Hong Kong também levanta graves pre-ocupações com os acidentes com transeuntes. De acordo com o documento, além das passadeiras, os cruzamentos são os locais onde ocorrem maior número de acidentes.

Estatisticamente falando, dos 14.943 acidentes ocorridos no território vizinho durante o ano passado, 7424 (ou 50%) ocorreram em passadeiras e dos 19.124 peões feridos, 117 acabaram por morrer.

Comparando com Macau os números de Hong Kong parecem bem piores. O pro-blema é que o território vizi-nho tem cerca de 7 milhões de habitantes (de acordo com estimativas de 2006) e aqui cifra-se pelos 500 mil. O rácio joga assim em desfavor de Macau. A cada 100 mil habitantes da região vizinha, 5,2 são atropelados ao cruzar a passadeira, enquanto que em Macau esse número sobe para 55,2.

A polícia do território vizinho assume que “os acidentes com peões são a maior preocupação”, e essa preocupação torna-se mais gritante quando as estatís-

ticas devolvem dados que dizem que os peões acima dos 60 anos são os mais vul-neráveis. Hong Kong assume ainda que a maior causa de acidentes de viação é devida a “uma condução desatenta”.

À ESCALA GLOBALDesenganem-se os cépticos. O problema da cedência de passagem em passadeiras e o desrespeito pelo peão é um mal geral. Senão vejamos: o último relatório da União Europeia sobre Segurança Rodoviária – o Eurotest 2005 – mostra que a Espanha é o país com mais problemas de trânsito envolvendo peões.

Para um milhão de pes-soas, o país ibérico revela um rácio de 15,7 para acidentes de viação envolvendo peões e passadeiras. Um pouco mais abaixo aparece a Itá-lia, com um rácio de 11,5, a Grã-Bretanha também com 11,5, a Áustria com 10,9 e a Bélgica com 10,3. Aparente-mente, mesmo com variados problemas relacionados com a segurança rodoviária, Por-tugal é dos países que mais respeita as passadeiras, mas o mais cumpridor da Europa é a Holanda, com um rácio de 4,6.

Se fizermos um exercício comparativo de Macau com Lisboa, podemos ter dados curiosos. Com o decorrer

dos anos a cidade tem vin-do a perder habitantes por isso Lisboa tem actualmente cerca de 570 mil moradores (2,08 milhões de habitantes incluindo todo o distrito).

Não muito longe em termos de número de habi-tantes, Macau tem sete vezes mais o número de atropela-mentos – 397 contra 56. No entanto, Lisboa fica a ganhar com o número de mortes por atropelamento: seis.

Os EUA também não apre-sentam melhores valores, ape-sar de uma ténue diminuição a partir de 1998. De acordo com dados de 2008 revelados pelo Departamento de Transportes dos Estados Unidos, em aci-dentes ocorridos nas passa-deiras morreram 4378 pessoas e 69 mil sofreram algum tipo de ferimento em acidentes de trânsito. No cúmulo, uma pessoa é atropelada a cada 120 minutos e sofre algum tipo de ferimento a cada oito minutos.

INICIATIVAS INFRUTÍFERASVoltando a Macau, “No ver-melho pára, no verde anda e atravessa com segurança na passadeira” é o lema que a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) utiliza para falar em segurança rodoviária. En-sinar os condutores a parar nas passadeiras, porém, não consta na lista de prioridades.

Quem ainda não colocou o pé na passadeira e quase foi passado a ferro? Quem ainda não ficou eternos minutos à espera de que um condu-tor “bonzinho” se digne a deixá-lo passar? Quem nunca viu condutores, em vez de abrandarem, carregarem no acelerador perante quem quer atravessar a rua na passadeira?

De Janeiro a Maio, já ocor-reram 170 atropelamentos, sendo que desses, 142 foram em passadeiras, tendo já resultado num saldo de um morto e diversos feridos. “É um número muito grande em cinco meses”, desabafou fonte do CPSP.

O Código da Estrada de Macau entrou em vigor em 2007 e as autoridades pensam que o documento é muito claro para quem quer fazer cumprir a legislação. Contudo, “haverá sempre necessidade de fazer tra-balhos complementares”, porque quem não cumprir “será castigado”. “As multas estão aí para isso”, afirmou.

A Campanha de Sensi-bilização Rodoviária deste ano abriu com o tema “A segurança rodoviária começa por si”. “As pessoas têm de saber viver em harmonia. A sinalização é para cumprir e o CPSP vai continuar, cada vez mais, a multar os infrac-

tores”, disse, na altura, o subdirector da DSAT Chiang Ngoc Vai.

CHINA A ABRIR OS OLHOSO exemplo vem daqui do lado. Considerada por mui-tos como a cidade “mais ocidental” da China, Xangai adoptou novas regras para as passadeiras. A lei é clara: “Se houver um peão a querer passar numa passadeira da cidade, o condutor de todos os veículos é obrigado a parar totalmente”.

As autoridades defen-dem que a mudança na lei se deve ao facto de um “aumen-to preocupante da taxa de moralidade de peões”. “Por isso foi preciso criar uma zona segura”, explicaram.

As multas podem as-cendem aos 200 yuans para quem não cumprir as novas regras. “A nova lei diz que é da responsabilidade dos condutores pararem, ponto final”, referiu Zhou Xin, di-rector de Segurança Pública.

O objectivo da nova realidade legal é evitar fata-lidades. Em 2010, ocorreram 138 mortes em passadeiras na cidade de Xangai, mas com a mudança o número cai drasticamente e, até ao momento, perderam a vida 28 peões. “O principal é a criação de regras claras que, tanto condutores como peões, consigam perceber”, explicou Xiao Peng, inves-tigador da Universidade Normal da China.

A China depara-se actu-almente com cerca de 150 mortes diárias de peões nas passadeiras. “Um peão tem de estar com atenção redo-brada mesmo nos lugares que lhe são dedicados. Estes números são muito negros”, acrescentou Xiao.

A lei de Xangai é basea-da em Hong Kong, Macau, Taiwan e Tóquio, onde “se exige um maior civismo dos condutores”. “Os conduto-res têm de estar alertados para este problema. É preciso respeitar os peões, princi-palmente nas passadeiras”, referiu Zhou Xin.

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Virginia [email protected]

OS concursos para obras relaciona-das com o pro-jecto do metro

ligeiro de superfície contêm irregularidades, denunciou a Associação de Engenharia e Construção de Macau (AECM), numa carta aberta a Lei Chan Tong, coordenador do Gabinete para as Infra--estruturas de Transportes (GIT), que já se pronun-ciou, recusando as críticas e mostrando-se indisponível para interromper o processo.

Desejando assumida-mente forçar o GIT a “vol-tar aos carris” da direcção correcta nos concursos para o metro ligeiro (com o es-clarecimento da sociedade, discussão e consideração de opiniões razoáveis), a AECM denunciou claramente: o processo de candidaturas à primeira fase de cons-trução do trecho do metro

TERRENOS CONCEDIDOS EM COLOANE AVISTAM RESOLUÇÕESForam concedidos os primeiros dois terrenos situados na Vila de Coloane, que marca a gradual resolução da questão da habitação dos moradores. Os dois terrenos concedidos localizados no Beco do Campo são destinados à construção de um edifício com três pisos, em regime de propriedade única, destinado à habitação. Ambos os terrenos foram concedidos por arrendamento pelo prazo de 25 anos, contados a partir da data da publicação no Boletim Oficial da RAEM do despacho que titula o contrato de concessão, podendo ser renovado.

Considerandoqueserevelaserimpossívelnotificar,nostermosdoartigo14.ºdoDecreto-Lein.º52/99/M,de4deOutubro,doartigo68.ºedon.º1doartigo72.ºdoCódigodoProcedimentoAdministrativo(CPA),aprovadopeloDecreto-Lein.º57/99/M,de11deOutubro,LIUXIE(titulardopassaportedaRepúblicaPopulardaChina),LIUTAIXING(titulardeSalvoCondutoparaHongKongeMacaudaRepúblicaPopulardaChina),LIUTAIGUANG(titulardopassaportedaRepúblicaPopulardaChina),DENGJINLIANG(titulardopassaportedaRepúblicaPopulardaChina),HUBERTKLOUCECK(titulardopassaportedaRepúblicaPopulardaAlemanha),CAIKAIQING(titulardeSalvoCondutoparaHongKongeMacaudaRepúblicaPopulardaChina),CHENYANFENG(titulardopassaportedaRepúblicaPopulardaChina),LEIHONGKIN(titulardaAutorizaçãodosServiçosdeAlfândegadaRegiãoAdministrativaEspecialdeMacau),LINHEYOU(titulardopassaportedaRepúblicaPopulardaChina)eHOANGTHIHOA(titulardopassaportedaRepúblicaSocialistadoVietname),pessoalmente,porofício,telefone,ououtraforma,sobreamatériaacusadapelaeventualinfracçãoàLein.º21/2009–LeidaContrataçãodeTrabalhadoresNãoResidentes,eparaoefeitodoregimedeprocedimentodaaplicaçãodarespectivamulta,RaimundoVizeuBento,ChefedoDepartamentodeInspecçãodoTrabalho(DIT),daDirecçãodosServiçosparaosAssuntosLaborais(DSAL),notifica,nostermosdon.º2doartigo72.ºdoCPA,osaludidosinfractores,doteordadecisãosancionatóriaemcausa,noseguinte: 1. DadoexpostoportercomprovadoaacçãodeLIUXIE,LIUTAIXING,LIUTAIGUANG,DENGJINLIANG,HUBERTKLOUCECK,CAIKAIQING,CHENYANFENG,LEIHONGKIN,LINHEYOUeHOANGTHIHOA,bemcomoaculpadosinfractores,aoabrigodaalínea1)don.º5doartigo32.ºdoLeidaContrataçãodeTrabalhadoresNãoResidentes,nosmesmostermoslegaisdamesmalei,foramaplicadasacadainfractor,apenademultadeMOP$5.000,00; 2. Informa-seaindaque,nostermosdon.º2doartigo17.ºdoRegulamentoAdministrativon.º26/2008NormasdeFuncionamentodasAcçõesInspectivasdoTrabalho,conjugadocomasalíneasa)eb)don.º2doartigo145.ºeosartigos149.ºe155.ºdoCPA,osactosadministrativosemcausapodemserimpugnados,noseguinte: a)Mediantereclamaçãoparaoautordoacto(ChefedoDIT),noprazode15(quinze)dias,acontardodiaseguinteaodapresentenotificação;ou b)Medianterecursohierárquiconecessárioparaosuperiorhierárquicodoautordoacto(SubdirectordaDSAL),noprazode30(trinta)dias,acontardodiaseguinteaodapresentenotificaçãoedital.Poroutrolado,nostermosdon.º4doartigo150.º,conjugadocomon.º1doartigo156.ºdoCPA,odireitoacimareferidoéexercidopormeioderequerimento,noqualdevemserexpostososfundamentos(defactoededireito),juntandoosdocumentosconsideradosconvenientes,nãosendooactoacimamencionadosusceptívelderecursocontencioso. 3. Maisficamnotificadosque,nostermosdoartigo12.ºdoRegulamentosobreaProibiçãodoTrabalhoIlegal,edaalíneae)doartigo14.ºdoDecreto-Lein.º52/99/M,conjugadocomosn.os1e2doartigo15.ºdoRegulamentoAdministrativon.º26/2008-NormasdeFuncionamentodasAcçõesInspectivasdoTrabalho,osaludidosinfractoresdevem,noprazode15(quinze)dias,acontardadatadapublicaçãodapresentenotificaçãoedital,comparecernaDSALparaolevantamentodaguiadedepósitoafavordoFundodeSegurançaSocialdepagamentodamultaeprocederaoseupagamento.Ficamaindanotificadosque,nos5(cinco)diassubsequentesaosdoprazoacimareferidodeverãoentregarnestesserviços,odocumentocomprovativodessepagamento,sobpenadascópiasdetodososdocumentosacompanhadasdocomprovativodecobrançacoercivaseremremetidosàRepartiçãodasExecuçõesFiscaisdaDirecçãodosServiçosdeFinançaspara,serefectuadaacobrançacoercivanostermoslegais. DirecçãodosServiçosparaosAssuntosLaborais–DepartamentodeInspecçãodoTrabalho,aos28deOutubrode2011.

OChefedoDIT RaimundoVizeuBento

NOTIFICAÇÃO EDITAL(Trabalhoilegal–pagamentodasmultas)

N.º272/11

Associação denuncia irregularidades nos concursos para empreitadas

Metro ligeiramente viciado

ligeiro no centro da cidade da Taipa continha critérios de avaliação injustos, que directa e indirectamente estrangulavam o espaço de participação das com-panhias de construção tra-dicionais locais. Na carta pública, a associação diz que os concursos anunciados recentemente pelo GIT para

os carris na zona central da Taipa estavam a levantar po-lémica devido ao sistema de pontuação das candidaturas.

A AECM considera que o Executivo está a desobe-decer um dos princípios anunciados como sendo de base no projecto do metro: ajudar e dar prioridade à indústria local na participa-

ção da construção do metro ligeiro. Por isso, os respon-sáveis da associação pedem ao GIT que interrompa ime-diatamente o concurso em questão e as conversações com o sector.

O GIT recusa as críticas da associação e, através de comunicado divulgado pelo Gabinete para a Co-municação Social (GCS), manifestou-se indisponível para considerar a interrup-ção do processo já iniciado. “Relativamente às opiniões sobre o concurso público para a obra da construção civil do Sistema de Metro Ligeiro manifestadas por algumas associações, o GIT indica que a obra em causa é diferente das de engenharia

civil em geral, uma vez que o Sistema de Metro Ligeiro consiste num projecto de alta tecnologia e elevada complexidade, implicando várias especialidades técni-cas, sendo que o método de construção dos viadutos a adoptar nunca foi utilizada em Macau; ademais, o local de execução da empreitada situa-se em zonas de alta densidade populacional, com segmentos do traçado no centro da cidade, o que restringe as condições de execução”, explica o co-municado.

O GIT reitera não haver razões para preocupação com a forma como estão a decorrer os concursos, ga-rantindo que os interesses

das empresas locais estão assegurados: “No processo de concurso das empreitadas de construção civil tem-se procedido ao lançamento de concursos públicos de acor-do com a legislação vigente, aplicando-se um modelo desenvolvido pelo Governo após a realização de consulta das opiniões recolhidas do sector da construção civil, ajustado em conformida-de com as especificidades próprias e a complexidade técnica. Durante o processo, a Administração tem reuni-do com as associações com vista a auscultar as opiniões, integrando as tecnologias e as necessidades reais para a respectiva consideração”, explica o comunicado.

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10www.hojemacau.com.mo ENTREVISTA

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ODUAS pessoas: uma jovem mulher asiática e um por-tuguês transvazando por este Levante; os dois lados

do mundo perante um chá e um café; o Oriente e o Ocidente olhos nos olhos como nem sempre foi. Diálogos entre desconfortos, mal-entendidos, mis-térios e descobertas, afagos subtis. Palavras em livro, textos narrativos e dialogados na criação de António Conceição Júnior – “Conversas do Chá e do Café” (Livros do Meio), obra que será apresentada no fim da tarde do próximo dia 11 no “Clube C&C”, por Carlos Morais José e pelo autor.

Mais de três décadas por inteiro ligado culturalmente aos processos criativos mais variados, com ou sem “indústrias” pelo meio, Conceição Júnior cultiva simultaneamente a pro-fundidade do pensamento e a leveza da discrição. Aceitou partilhar algumas utilíssimas reflexões nesta entrevista ao Hoje Macau. E bastante mais, arqui-vadas por este homem de cultura, em www.arscives.com/25anos. O leitor não deve perder os dois ensejos.Que “Conversas” são estas que agora vamos ler “Entre o chá e o café”?Diria que são trânsitos de ideias, descobertas mútuas que tomam vida própria, uma espécie de encontros onde a conversa, no melhor sentido que se lhe possa atribuir, tem lugar. São diálogos que levam ao solilóquio.Parece que hoje as pessoas andam a conversar menos...É uma arte em extinção que se deveria inserir nos patrimónios intangíveis a proteger pela UNESCO. Efectivamente, as interessantes tertúlias dos idos anos 50/60 até aos anos 90 foram de grande proficuidade para depois, pelo menos para mim, nascer um maior silêncio, talvez porque a exaustão da vida social tenha sido grande. Sendo a conversa, na sua essência, produto da circunstância em que nos encontramos, sinto que se tornou mais propícia à ilusão da festa, do chamado convívio, do que ao diálogo porque, eventualmente, não sejam assim tantos os interlocutores disponíveis. Agora, e felizmente, assiste-se a um ressurgimento, em vários espaços, a essa necessidade de troca de ideias.O acto da conversa transposto para as necessárias diferenças editoriais ao nível do livro, pode considerar-se um acto criativo. De acordo?

António Conceição Júnior publica livro de contos quando completa 30 anos de criatividade cultural

“A criatividade nutre-se de memórias e vivências: ninguém faz algo do nada”

De acordo. Da palavra dita à palavra escrita, o signo assume uma outra dimensão. Tentei transpor a liberdade e desenvoltura da oralidade para o texto escrito, reorganizando-o para criar e sugerir contextos para que se pudesse entender as circunstâncias em que decorreram estas conversas. A criatividade nutre-se também de memórias e vivências. Ninguém faz algo do nada. Evocam-se memórias, cosem-se experiências, recordam-se episódios, e todo este acervo de imagens transmuta-se, neste caso, para a escrita.

Falando da sua actividade intelectual. Desde sempre ela é multifacetada: da museologia à fotografia, da moda à pintura, da gravura à serigrafia, da banda desenhada à numismática, ao grafismo, à caricatura. Pergunto: Considera-se parte integrante daquilo que há poucos anos se começou a chamar “indústrias criativas”, ou pondera ser apenas um novo rótulo?O que eu posso dizer a esse respeito é que já havia universo antes de haver astrónomos ou telescópios. Macau está a ser atravessado,

nestes anos mais recentes, por um enorme e positivo entusiasmo sobre as chamadas Indústrias Criativas, que representam apenas uma classificação visando sobretudo a consciencialização da produção e do consumo do que já existia. As Indústrias Criativas, nas quais se integram a arquitectura, as antiguidades e seus mercados, as artes visuais, as artes performativas, o design gráfico, de mobiliário, de moda, o artesanato, os jogos de computadores e software, o cinema, o vídeo, a fotografia, a música, as publicações e edições, a própria escrita e os direitos autorais, sem esquecer os media, não são invenções de agora. Afigura-se-me que, para a implementação formal das Indústrias Criativas, há que identificar autores, nas diversas áreas, que possam pôr a criatividade ao serviço da indústria e, vice-versa, encontrar mecanismos para sensibilização dos empresários para a mais-valia da criatividade.

É preciso pôr a criatividade e a indústria em contacto produtivo. A qualidade de vida passa por coisas que são a base de tudo o que se pretende implementar. Por isso, entendo que é preciso um verdadeiro enquadramento estratégico de tudo isto.Ligar de forma produtiva a criatividade à indústria requer modificações estruturais?Vamos ao mais elementar: recordo que em Macau não há uma escola técnica que qualifique carpinteiros, pedreiros, marceneiros, electricistas, estucadores, alfaiates, costureiras, sapateiros. Isto é, sem ofícios com cursos de certificação de qualidade, tudo é empírico. Não há mão-de-obra qualificada para pôr em prática projectos criativos o que retirará confiança e credibilidade aos potenciais investidores ou parceiros económicos. O criativo concebe e não, necessariamente, executa. Quem fabricará os produtos, dando benefício a Macau? Como

“Em 1995, propus ao Governo de Macau a criação de um Centro de Criatividade, um lugar de inteligência que albergasse criativos de várias origens, cujo objectivo seria criar produtos que beneficiassem da fábrica do mundo que é a RPC e desse mais valia ao “concebido in Macau”. O assunto não mereceu seguimento. Interessante, não?”

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com Helder Fernando

António Conceição Júnior publica livro de contos quando completa 30 anos de criatividade cultural

“A criatividade nutre-se de memórias e vivências: ninguém faz algo do nada”se materializa boa arquitectura sem mão-de-obra de qualidade? Como se faz moda sem mão-de-obra qualificada? Como se farão adereços e cenários para filmes se não há mão-de-obra especializada?Algum dia alguém irá responder a essas questões.Quero acreditar firmemente que sim.Pela segunda metade dos anos 70 publicou um célebre álbum de banda desenhada que acabou por ser recuperado, ganhando novo sucesso em 2010. Assim como, no início dos anos 80, o primeiro dos seus seis álbuns de fotografia. E foi criando nas áreas do designer de mobiliário, designer de moda, conselheiro e articulista de arte, conservador de museu, director artístico do Festival de Artes, um enfim sem fim... Já era um criativo fora daquilo que hoje se chama “indústrias”?Era um criativo fora e dentro das indústrias. Publiquei um álbum de banda desenhada quando tinha 25 anos. A banda desenhada é uma verdadeira indústria criativa na área das publicações. Veja-se, como exemplo, que o Astérix da Dargaud, Goscinny e Uderzo vendeu 300 milhões de álbuns. São verdadeiras indústrias, consumidas por milhões de pessoas em todo o mundo. E agora o Steven Spielberg pegou no Tintin, e já anteriormente a banda desenhada se tinha casado com o cinema. A mim sempre me interessou circular entre as diversas disciplinas. Sempre gostei muito de mergulhar em disciplinas novas e conhecer a fundo o seu modus faciendi. Quando trabalhei em moda estive em estreito contacto com as fábricas e linhas de montagem Gerber, e conheço bem o sem número de exigências que esta indústria exige. Como também gostei de organizar eventos, exposições.Já que fala desse tempo, lembro-me que o Leal Senado era, sem saudosismos de sacristia, um forte pólo de exposições de arte, muitas delas com a sua intervenção.Em 1985 o templo maior da arte em Macau era realmente a Galeria do Leal Senado. Nesse ano, comemorativo dos 25 anos do Museu Luís de Camões, lembro, com especial orgulho, que realizei o ciclo de exposições “Últimos Cem Anos da Pintura Portuguesa”. Este

ciclo, composto por seis exposições, contou, como comissários, com membros da AICA como Rui-Mário Gonçalves e Sílvia Chicó, directores de Museus como o saudoso Arquitecto Sommer Ribeiro, director do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian. Mais tarde, parte desta mostra, esteve presente em Pequim, enquadrada na cerimónia da Declaração Conjunta Luso-Chinesa. Estiveram expostas as melhores obras de Columbano, Malhoa, Amadeu de Souza-Cardoso, Almada Negreiros, Vieira da Silva, Júlio Pomar, Graça Morais, Helena Almeida, Paula Rego, só para citar alguns. Publicou-se, então, a história dos Últimos Cem Anos da Pintura Portuguesa em Chinês e em Inglês. Recordo ainda, também como um marco, a realização do Congresso da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte), tendo na ocasião também comissariado a exposição de Antoni Tápies e realizado a instalação “Metamorfoses do Vazio”, em conjunto com o Carlos Morais José. Tempos difíceis, mas deram muito gozo. Não havia nesse tempo alusões às Indústrias Criativas. Seria mau? Seria bom? Mau não seria, e a chuva não bate assim… nesse tempo o dinheiro era bem mais escasso do que agora.Há necessidade local de estratégia quanto a este sector ou é possível conceber alguma para tanta movimentação aparentemente inserida nas tais “indústrias criativas”?Gostaria, enquanto cidadão e autor, que houvesse moderação, parcimónia e sobretudo compreensão do significado de indústria enquanto processo de criação, transformação, reprodução e montagem. Macau é uma cidade com a dimensão que tem. Todos os anos saem fornadas de designers gráficos, ansiosos por cumprir os seus sonhos, ainda plenos de inocência. Onde está o mercado para eles? Saberão criar o seu mercado? Que tipo de ensino lhes foi dado? Quantas línguas falam? Algumas destas suas perguntas, talvez tenham a resposta contida na própria interrogação...Permita-me só esta consideração: se analisarmos bem, de todas as indústrias de Macau, aquela que tem maior lucro é a do jogo. Que a queiram considerar criativa ou

não, a mim é-me indiferente. Mas, como estratégia, cumpre todos os preceitos para o seu êxito. É isso que importa compreender. Tudo precisa, para ter sucesso, de uma praxis, de uma estratégia, e o jogo há muito tem uma estratégia e normas rígidas especialmente estudadas para captar o cliente. Do meu ponto de vista, e já que falamos em estratégia, há em Macau intérpretes, autores diversos que asseguram credibilidade em diferentes áreas. Há, apenas, que lhes encontrar parcerias. É muito mau para um criativo perder-se em contabilidades, em vez de se dedicar ao que melhor sabe fazer.Recentemente um artista local sugeriu a criação de uma Faculdade das Indústrias Criativas. Que pensa sobre isto?Recorda-me, instintivamente, e

apenas pelo título, “a máquina de fazer espanhóis”, do valter hugo mãe. A questão é simples: ou se é criativo ou não se é criativo. Se se é criativo, o próprio arranja, procura, os seus instrumentos. Como simples espectador e cidadão fico

preocupado com estes equívocos. A formação recebida nas diferentes Escolas e Faculdades faculta os instrumentos necessários, depois ... depois a história é outra. A partir desse equívoco, definem-se diversas interpretações sobre o conceito de Indústrias Criativas. Indústria e Criatividade encerram conceitos que se cuja ordem for arbitrária, imagine-se o resultado! O que é preciso é uma Academia de Artes de grande qualidade com oferta para o Sudeste Asiático porque isso só virá beneficiar Macau. Em 1995, propus ao Governo de Macau a criação de um Centro de Criatividade, um lugar de inteligência que albergasse criativos de várias origens, cujo objectivo seria criar produtos que beneficiassem da fábrica do mundo que é a RPC e desse mais valia ao “concebido in Macau”. O assunto não mereceu seguimento. Interessante, não?Recordo que já neste século XXI, presidiu ao Seminário sobre Cidades Criativas. Gostava que falasse sobre tal conceito, e se Macau pode fazer parte desse mapa.Acho que foi em 2001, no Encontro da UCCLA. A questão da Cidade Criativa é, preliminarmente, o reconhecimento da urbe como um organismo com vida própria. Depois vem o reconhecimento de que a qualidade de vida é a única forma de propiciar ao desenvolvimento porque nela estão implícitas todas as vertentes do desenvolvimento e da consequente agradabilidade. As Cidades Criativas são Cidades onde a Cultura no seu sentido mais restrito e amplo já não se proclama ou se debate. É um dado adquirido. Há no ar uma permanente brisa de arejamento. Em 2008, no Reino Unido, o peso económico das Indústrias Criativas, com mais de 80 mil empresas, equivalia a 4,1% do total dos bens e serviços exportados.Em Macau, há décadas que se ouve falar de “diversificação económica”. Ainda se irá a tempo dessa “diversificação”, ou os valores astronómicos das receitas vindas do jogo já não justificam?O jogo, por agora e enquanto não houver concorrência próxima e o Continente permitir que os jogadores circulem, pode parecer dar todas as respostas. Mas tudo em Macau, ao longo da sua história, foram decisões políticas. E a decisão quanto ao futuro de Macau está tomada. O de ser um Centro Internacional de Turismo e Lazer. E é a partir desta premissa que tudo se deve estabelecer, e onde as indústrias criativas têm total cabimento, tendo por base, e sempre, a qualidade e a qualificação.

“É preciso pôr a criatividade e a indústria em contacto produtivo. A qualidade de vida passa por coisas que são a base de tudo o que se pretende implementar. Por isso, entendo que é preciso um verdadeiro enquadramento estratégico de tudo isto”

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12www.hojemacau.com.mo CULTURA

Lia [email protected]

O Instituto Cultural (IC) está ainda a resolver algumas

questões e dúvidas de empresas criativas para o projecto C-Shop – futuro espaço para arrendamento em Nam Van para promover as indústrias criativas. A entidade espera brevidade na resposta, segundo Chan Peng Fai, chefe do Departamento de Promoção das Indústrias Criativas. “O IC espera conseguir responder aos interes-sados para a semana”, esclarece.

Para já mostraram-se interes-sadas oito a nove empresas, mas, como frisa o chefe de Departa-mento, estas apenas enviaram documentos com as suas dúvi-das, “o que não quer dizer que vão apresentar propostas para a concessão de um espaço”. As indústrias interessadas poderão fazer as suas propostas em me-ados de Dezembro. O C-Shop é um espaço para o sector criativo expor as suas ideias de negócios. Espera-se que comece a funcionar em Março do próximo ano.

Chan Peng Fai falou aos jornalistas à margem de uma palestra sobre “Cultura criativa e a economia – experiência de

Taiwan”, com Wan-Long Hong, professor universitário e director do Departamento Cultural do município de Pingtung. O espe-cialista no sector veio a Macau falar do que se deve ter em conta quando se quer abrir uma empre-sa na qual o produto a vender é a criatividade. A industrializa-ção da cultura tem que levar o produto ao consumidor tendo em conta vários factores, como ter uma marca registada, fazer uma publicidade atractiva e, no final, a comercialização. “Mesmo sendo criativos, o objectivo é lucrar, claro”, sublinhou. Para isto é preciso promover talentos, o que não pode ser feito de forma imediata. “Precisamos de mais re-cursos, mas é uma coisa que leva tempo”, disse Wan-Long Hong.

O especialista falou ainda das possibilidades de Macau, enquanto zona de turismo e de jogo. E que apesar de não ter atractivos paisagísticos como Taiwan ou a China, o cruzamento de culturas e um sector do jogo único podem ser aliciantes aos que querem fazer da criatividade um negócio.

A palestra contou com a par-ticipação de estudantes da área, jovens criativos e empresários.

Forjaz revê “Famílias Macaenses” 15 anos depois

Escrito a dez dedosGonçalo Lobo [email protected]

SÃO mais de 3000 páginas que dissecam mais de 400 famílias macaenses até às suas gerações mais antigas.

A obra “Famílias Macaenses”, edi-tada em 1996, foi ontem revisitada do Albergue SCM pelo autor Jorge Forjaz, historiador português, fi-cando a promessa que pode vir a ser engrossada “se houver uma equipa” que o possa ajudar. “Os macaenses são portadores da sua memória. Acredito que muitas fa-mílias ficaram de fora ou não foram estudadas até à exaustão, por isso não me importava de continuar o projecto com a ajuda de uma equipa que eu pudesse coordenar”, adian-tou o historiador e genealogista.

Mas afinal o que é isso da genea-logia? A genealogia não é mais nem menos do que uma ciência auxiliar da história que estuda a origem, evo-lução e disseminação das famílias e respectivos sobrenomes ou apelidos.

Álvares, Estorninho, Senna Fernandes, Assumpção, Manhão,

Lobo ou Xavier. Todos nomes de origem portuguesa que são também apelidos de muitas das tradicionais e mais antigas famílias macaenses. “E há ainda nomes que têm uma origem não portuguesa como os Badaraco e os Ritchie, por exemplo”, explicou Forjaz.

Há os Sequeira da Tailândia. Há os Almeida de Singapura. Há os Ferreira Gordo do Japão. Os macaenses sempre admitem a sua identidade portuguesa, mas a outra metade pode ter variadas origens. “Podem ser tailandeses, goeses, chineses ou até moçambicanos”, referiu o historiador.

Os três volumes da obra “Fa-mílias Macaenses”, revisitadas 15 anos depois, mostram que o ma-

caense “pode até ser alguém que não tem raiz portuguesa”. “Há até famílias macaenses originárias da ex-Jugoslávia”, disse Jorge Forjaz.

O importante é a integração que foi feita na comunidade local, onde nos primórdios, era de raiz e cultura portuguesa, com tradição católica. “O macaense tem um sentimento de pertença a essa comunidade esteja ele onde estiver.”

Jorge Forjaz não tem dúvida de uma coisa: a comunidade macaense tem tudo para continuar a existir “desde que se afirme pela sua cultu-ra e tradições”. “Os macaenses têm de se afirmar numa comunidade que é muito diferente. O segredo é manter os vínculos com o passado”, adiantou Forjaz.

INSTITUTO CULTURAL PROMOVE NOVO

ESPAÇO PARA CRIATIVOS LOCAIS

A arte e a indústria

PUB

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Lia [email protected]

She says” – ela diz. E o que ela ou, neste caso, o que elas dizem?

É esta a resposta, que a partir de amanhã o público vai poder ter com a abertura da exposição “She Says”, de Peng Yun, em colaboração com a Art For All (AFA). Pela primeira vez a exibir em Macau a artista, natural de Sichuan, revela sentimentos de um lado e do outro da objectiva. Fotografias de mulheres e do mundo que as rodeiam.

São 41 fotografias tiradas entre Macau, Xangai e Roma; dois vídeos, um filmado em Macau e outro em Xan-gai, e algumas “caixas de luz”. Peng Yun confessa-se apaixonada pela beleza e a mulher é a sua personagem principal “porque todas têm algo a dizer”. Em comum, para além do sexo, têm um mesmo fundo – uma história de amor. “A mulher tem diferentes caras e coisas distintas a dizer. No meu trabalho quis mostrar o que lhes vai na alma através da fotografia”, conta a artista. A protagonista dá ainda o títu-lo à obra. “A cada trabalho é dado como título o nome real da mulher fotografada”, realça ainda.

Retratos de um estado de alma, de uma realidade inte-rior, do que não se vê. Estas mulheres surgem na vida da artista simplesmente porque sim, tornam-se amigas e das amizades pessoais desabro-

SHANXI Faces” é o nome da nova exposição de António

Mil-Homens, fotógrafo profissio-nal. A mostra inaugura hoje na Creative Macau e estará patente até ao dia 21 deste mês. São rostos de gente da província chinesa, como alude o significado do título.

Depois de uma viagem a esta região em Junho do ano passado, que o autor define de “oeste das montanhas”, Mil-Homens trouxe um sem número de fotografias. Ao público mostra as caras e as

ARTISTA CHINÊS DIZ QUE PERSONAGENS DE “AVATAR” SÃO PLÁGIO Daniel Lee é um artista chinês, que disse em entrevista à agência Efe que os “Na’vi”, personagens do filme “Avatar” de James Cameron, foram inspirados em criações suas. Os “manimals”, uma mistura entre animais e seres humanos que ele criou na década de 1990 e que são actualmente exibidos em Pequim, têm de facto semelhanças. Daniel Lee disse “acreditar na teoria darwinista” e ter feito, por isso, as criações. Lee tem trabalhos incluídos em colecções no Brooklyn Museum of Art de Nova Iorque e outros, mas o artista mede as suas palavras ao falar do plágio, com medo de qualquer conflito com a produtora 20th Century Fox.

FOTÓGRAFO PORTUGUÊS INAUGURA EXPOSIÇÃO A RETRATAR AS CARAS DA PROVÍNCIA DE SHANXI

Os rostos nas lentes de Mil-Homens

AFA apresenta exposição fotográfica da artista chinesa Peng Yun

E o que diz ela?

cha o fruto do seu trabalho. Contudo, cada momento captado, cada retrato tirado, não é considerado trabalho por Yun. “Todas elas são minhas amigas pessoais, não considero sequer que estou a trabalhar. São pessoas que vão surgindo na minha vida e quero mostrar o que lhes vai no íntimo. Eu chamo-lhe o processo de enamoramen-to”, explica Peng Yun.

Alice Kuok, artista e curadora da exposição, escreve no texto de apre-sentação que a artista se apaixona pela beleza. Ro-deada de mulheres, gosta de ouvir as suas histórias de amor porque aí reside a sua essência – também ela chegou ao território com um bilhete de vinda, que na ida diz agora casada.

Mas numa mescla de vídeos e fotografias, o que fazem e o que são caixas lu-minosas? “Elas revelam uma luz que vem de dentro”, refe-re. A maioria das fotografias que compõe as “caixas” é de homens. Registadas durante uma parada gay, em Roma, é da vontade de ser mulher que Peng Yun quer falar, “porque a sua feminilidade vem de dentro, não são, mas querem ser mulheres”.

Na estreia em Macau, dois anos depois de ter mu-dado para a região, gostava que o público sentisse as sensações que depositou quando pegava na câmara. “Espero apenas que a sensi-bilidade venha ao de cima e conquiste quem visitar a exposição”, responde. Ape-sar de ser a primeira vez que

se mostra a solo na RAEM, esta já lhe tinha servido de pano de fundo para dois trabalhos, também eles foto-gráficos: “Lavinia who lives in Hill Penha” e “Crystal’s fitness regime”.

Mas, tal como se apre-senta, não é só de fotografia que esta artista se alimenta. Estreou-se no mundo artís-tico com a multimédia - um vídeo, intitulado “Ninthday Windy”, que a filma a ser transportada por balões enquanto vivia num cidade grande – Xangai. “O senti-mento que ali perdurava era o de ser levada para o céu”, revela a autora. Alice Kuok afirma que todos os traba-lhos de Peng Yun têm como inspiração a sua própria vida e tudo depende do momento ou da pessoa.

Pertence também ao instante a decisão de ser arte em forma multimédia ou película. “A fotografia capta o momento, mas não quer dizer que seja sempre. Por exemplo em “Lavinia”, a personagem transmitia um sentimento de obstinação e a foto era a maneira mais fácil de revelar como ela sentia o mundo”, esclarece.

Agora mais amadureci-da e depois de ter exposto “Lavinia” no Japão, Peng Yun apresenta-se em Macau, onde vai estar em exposição até 4 de Dezembro, nas instalações da AFA. Quem visitar entra num mundo de mulheres. De noite, de dia, inocentes ou não, num jardim secreto com relações misteriosas, são elas que têm algo a dizer.

expressões que viu e viveu, numa selecção feita pela atracção que sentiu quando deu uma “vista de olhos” no regresso. “Pessoas sim-ples que me foram despertando a atenção e que quis capturar”, refere o fotógrafo.

Ao Hoje Macau, António Mil--Homens conta que a selecção feita é apenas um minoria, mas foi aquela gente que o apaixonou e lhe deu o mote para uma futura exibição. “A Creative Macau fez a proposta e eu aproveitei a brecha

no calendário deles”, explica. O preto e o branco são as cores que apresentam ao público a gente de Shanxi, por uma questão de gosto do autor e porque Mil-Homens considera que assim se “acentua a expressividade das pessoas”. As fotografias, tendo sido tiradas em ambientes distintos e com cores bem diferentes, com a neutrali-dade das duas cores, vai buscar a conciliação perfeita dos espaços, como frisa o fotógrafo. “O preto e branco acaba por harmonizar os

ambientes, ficando esteticamente ao mesmo nível.”

É em Shanxi que fica um terço dos recursos de carvão da China e está agora no caminho de um desenvol-vimento sustentável. O município de Qinxian lançou recentemente uma campanha com o objectivo de cons-truir 100 mil quintas ecológicas. Isto vai proporcionar ajuda aos agricul-tores locais e promover o desenvol-vimento de uma agricultura amiga do ambiente. “É desta região que as caras vêm”, descreve o artista.– L.C.

Forjaz revê “Famílias Macaenses” 15 anos depois

Escrito a dez dedos

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14www.hojemacau.com.mo DESPORTO

Gonçalo Lobo [email protected]

APANHOU o com-boio a meio mas conseguiu levar o campeão chinês

de 2010 ao quinto lugar, a três pontos do terceiro. Manuel Barbosa, técnico português do Shandong Luneng, mostra-se satisfeito com o seu trabalho – apesar de não ter atingido a de-sejada terceira posição – e espera obter a cereja no topo do bolo, vencendo a final da Taça da China diante do Tianjin Teda.

“Antes de mais é o fu-

Shandong Luneng prepara-se para a final da Taça da China

Com gostinho portuguêstebol português que vence na China. Comigo numa final da taça, com o Jaime Pacheco a levar o Beijing Guo’An ao segundo lugar e com o Nelo Vingada a livrar o Dalian Shide da descida, vence o futebol português”, referiu Manuel Barbosa ao Hoje Macau.

Para o jogo do próximo dia 19, Barbosa não admite favoritismo até porque “numa final nunca se sabe”. “Temos também cinco jo-gadores nas selecções dos seus países e só voltam dois dias antes da final, o que não é nada positivo. Contudo tenho esperança

num ambiente em que tudo pode acontecer”, afirmou o treinador.

O técnico tem contrato de formação com o Shan-dong Luneng e está menta-lizado para continuar a trei-nar as camadas mais jovens, apesar de ter a noção que fez um trabalho competente com os mais velhos. “Mes-mo que ganhe a taça, não sinto um ‘feeling’ positivo de que isso possa acontecer. Muito provavelmente virá outro treinador e eu irei cumprir o meu contrato na formação. Vamos ver o que pode acontecer. Estarei aberto a qualquer situação,

pois sou trabalhador do clube. Reunirei em breve com a direcção”, afirmou Manuel Barbosa.

A DÚVIDA DE CONTINUARMais confiante na vitória da equipa parece estar o defesa--central português Ricardo. “É nossa obrigação vencer. Esta época correu muito aquém das expectativas e uma vitória na final da Taça pode ameni-zar as coisas”, admitiu.

O jogador abraçou a aventura chinesa com 30 anos, mas não tem sido fácil. A diferença cultural e gastronómica e as saudades da família têm sido entrave a uma adaptação mais rápi-da. “A China foi um grande choque ao nível cultural e gastronómico. Há coisas que o dinheiro não paga e tenho uma mulher e dois filhos em Portugal dos quais sinto muita falta”, disse.

Para Ricardo, que tem contrato com o Shandong Luneng por mais uma época, o futuro pode não ser na Chi-na, a não ser “que a família venha” ao seu encontro. “Muito honestamente não sei qual será o desfecho. Ou a minha família vem ou re-

gresso a Portugal”, explicou.

UM ENCONTRO COM CHEIRINHO A LIGA SAGRESRicardo terá pela frente uma promessa adiada do futebol chinês. O avança-do ex-Benfica Yu Dabao é agora o ponta-de-lança do Tianjin Teda. Dabao esteve alguns anos em Portugal, mas não conseguiu mostrar as credenciais de que estava rotulado – esperança do futebol chinês -, “talvez por dificuldades de adaptação”, de acordo com o defesa português. “Em Portugal nunca o defrontei mas aqui já. Reconheço-lhe algum talento e potencial, mas não deve ser fácil para um jogador chinês, com todas as diferenças culturais e lin-guísticas, ser lançado às feras tão novo como aconteceu no Benfica”, afirmou Ricardo.

TRÊS POR CIMA E TRÊS POR BAIXOCom passagens pelo Beira--Mar, Paços de Ferreira e V. Guimarães, Ricardo vê o trajecto destes três emble-

mas muito fraco este ano. Os clubes estão com sete pontos na cauda da tabela e pior mesmo só o Rio Ave com cin-co. “O V. Guimarães é uma surpresa. Conheço bem os jogadores e eles têm qualida-de. Não sei o que possa estar a acontecer, mas o calendário não tem ajudado e a massa associativa é muito exigente. O Paços de Ferreira não joga mal. Espero que consigam fazer um campeonato calmo. O Beira-Mar devia estar melhor. Começou bem e aparentemente há dinheiro”, afirmou o jogador.

Em sentido contrário, Ricardo abordou a luta pelo título português. “O Sp. Bra-ga e o Marítimo estão muito bem, mas sinceramente a luta será a três. O Benfica está novamente muito forte este ano. O FC Porto, apesar de estar a ter alguns resultados mais negativos, é o FC Porto e isso está tudo dito. O Spor-ting está de volta. Não sou sportinguista mas admito que fiquei muito contente por voltar a ver o Sporting a jogar bem e a encantar.”

Yu Dabao (à direita), ex-Benfica, e agora no Tianjin Teda Ricardo (à direita), ex-V.Guimarães, e agora no Shandong Luneng

Manuel Barbosa, técnico português do Shandong Luneng

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Sérgio [email protected]

ATRAÍDOS pelos benefícios mo-netários e pela possibilidade de

enfrentar os melhores do mundo da especialidade, os pilotos de Macau Kuok Io Keng e Mak Ka Lok inscre-veram-se na Corrida da Guia do 58.º Grande Prémio de Macau, juntando-se assim a André Couto (SEAT Léon), Jo Merszei (BMW 320si) e Felipe Clemente de Souza (Chevro-let Lacetti) que já tinham sido anunciados na conferência de imprensa de apresentação do evento no mês passado. Tal como o estreante Clemente de Souza, Kuok Io Keong irá conduzir um Chevrolet Lacetti S2000 propriedade da Corsa Motorsport. A estrutura de Hong Kong, até aqui desconhecida dos adeptos do automobilismo, comprou estes dois carros à equipa oficial da marca norte--americana na Dinamarca.

Também já inscrito na prova está Mak Ka Lok, um veterano piloto de corridas da RAEM de 46 anos de idade que adquiriu no Verão o BMW 320si que Henry Ho usou esta temporada no Campeonato de Macau de Carros de Turismo. O carro, que era assistido pela equipa

JAPÃO PROVIDENCIA SEGURANÇA À SELECÇÃO NA VISITA À COREIA DO NORTEO Japão destacou pessoal do Ministério do Exterior para garantir a segurança da selecção de futebol na visita à Coreia do Norte, no desafio de 15 de Novembro em Pyongyang, de qualificação para o Mundial 2014.A ausência de relações diplomáticas, reforçada pelas sanções económicas contra o vizinho coreano depois de este ter lançado em 2006 um míssil para território nipónico, levou o governo japonês a dedicar especial atenção à segurança da comitiva, que integra cerca de 200 elementos. A equipa ministerial vai criar uma base operacional num hotel de Pyongyang. O governo aconselha os cidadãos a não visitarem a Coreia do Norte, mas, ainda assim, permitirá a viagem da equipa nacional, de jornalistas e de adeptos registados para as habituais deslocações das selecções da federação de futebol.

Carros | Kuok Io Keng e Mak Ka Lok fazem-se à estrada na Corrida da Guia

Mais dois pilotos da casa

PUBportuguesa Sports & You, pas-sa para a gestão da estrutura local RPM Racing. Um total de cinco pilotos de Macau estão inscritos numa prova do mundial de Turismo, o que não é ainda um recorde, pois este era o número de pilotos inscritos no evento do ano passado, apesar de dois dos participantes, Kuok Io Keong e Chan Kin Man, não terem sequer alinhado na prova devido às as suas viaturas não terem passado as rigorosas verificações técnicas da FIA, participando no entanto no teste oficial de quinta-feira.

A “FIA WTCC – Corrida da Guia – Apoio SJM” será a 40.ª edição da Corrida da Guia de Macau, prova que, durante quatro décadas, reuniu a nata de pilotos de carros de turismo da região e não só.

FIM-DE-SEMANA NA CHINA Entretanto, a República Po-pular da China recebe este fim-de-semana a penúltima jornada do Campeonato do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCC). O mundial de turismos pisa pela primeira vez a China continental e estreia-se no

sinuoso traçado de Xangai Tianma, uma pista nova para todos os participantes e que tem a particularidade de ter apenas dois quiló-metros de extensão, o que obrigará a que cada uma das mangas tenha 25 voltas. Treze pontos separam os Chevrolet de Yvan Muller e de Rob Huff, numa altura em que ainda há quarenta pontos a atribuir, vinte em Xangai, outros vinte nas ruas de Macau. Para Tiago Monteiro, o único piloto lusófono à partida da prova, o objectivo para esta jornada passa por “manter a compe-titividade demonstrada nas últimas provas e conseguir acabar as provas bem posi-cionado”.

“Terminar o campeonato no quarto posto, tal como ambicionava, já está fora do meu alcance, por isso resta-me lutar pelos lugares do pódio. É uma pista nova para todos, por isso partimos todos em circunstâncias de igualdade. Pelo que me apercebi é técnica e difícil de ultrapassar. Isso quer dizer que temos que nos focar na qualificação para garantir uma boa posição na grelha e depois fazer um bom arranque, evitando as confusões habituais. Há no entanto que ter em atenção o factor climatérico. Os altos níveis de humidade vão ter um papel importante nos resultados finais”, disse em comunicado de imprensa.

Nenhum pi loto da RAEM se inscreveu no pri-meiro evento do WTCC na China continental, ao con-trário de Hong Kong, que terá dois pilotos à partida: Darryl O’Young e Philip Ma.

CHEIRINHO A MACAUTambém em acção no cir-cuito de Xangai Tianma estará este fim-de-semana o jovem piloto angolano residente na RAEM Luís Sá Silva. O piloto da equipa macaense Asia Racing Team é actualmente o segundo classificado na “Fórmula Pilot China Series”, tendo já vencido por duas vezes esta temporada no campeonato chinês patrocinado pela “Ferrari Drivers Academy”.

Mak Ka Lok

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AVISO

Vimos por este meio informar que, o escritório do ADVOGADO e NOTÁRIO PRIVADO MARCELO POON, passará a funcionar na:

Avenida da Praia Grande, nºs 665 a 669, Edifício “Great Will”, 20º andar, Macau.

Contactos:Tel.: 2828 2888 Fax.: 2871 8896 Com os melhores cumprimentos, Marcelo Poon Advogado & Notário Privado

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SEXTA-FEIRA 4.11.2011

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Lia [email protected]

ALBERTO HOLGUERAS | BAILARINO E ACTOR

Percorrer um mundo num passo de dança

PERFIL

Da luta livre e do ténis optou pela dança porque foi sempre aquilo que o fez vibrar, confessa Alberto Holgueras. Um espanhol que viaja o mundo a dançar, mas que sonha um dia voltar a terras madrilenas e para junto da sua família. Entre a escola, os treinos das modalidades que praticava, não deixava de ir aos ensaios de flamenco – estilo que sempre o apaixonou. Foi campeão da modalidade de luta livre, em Espanha, mesmo assim não era na sua prática que encontrava a liberdade. A sua dedicação e insistência em continuar nas aulas de bailado resultou na entrada no Conservatório Profissional de Dança Clássica de Madrid. E desde aí nunca mais parou de “bailar”, diz, bem ao jeito espanhol. Depois da formação, tentou fazer daquilo que gostava a sua profissão, “mas um profissional da dança em Espanha é mal pago”, refere. Sair para além da fronteira foi assim o destino que escolheu. Um oportunidade de se aventurar num cruzeiro em Itália deu-lhe o mote que precisava – sair para encontrar o seu mundo e a sua profissão. Sete meses no

mar, entre actuações e várias paragens, onde podia relaxar e visitar. “Ganhava bem e não tinha que trabalhar muito, só fazia algumas actuações”, lembra Holgueras.Foi em 2004 que pisou pela primeira vez a Ásia, mais precisamente o Japão. Durante um ano dançou em espectáculos de flamenco como bailarino principal. Da ilha do sol nascente trouxe recordações que nunca mais esquecerá. “Além do sentido de paz e tranquilidade, os japoneses valorizam muito os artistas.” Um ano depois volta à cidade que o viu nascer para trabalhar como actor, numa ópera e num filme.Mas este bailarino e actor não consegue ficar parado e é no mar que encontra de novo uma oportunidade de trabalho, desta feita num cruzeiro na Grécia. Além de bailarino, experimentou a vertente de coreógrafo e aí descobriu mais um outro amor – a arte da coreografia. Com mais uma experiência no bolso e cansado da vida num barco, voou até às Canárias, onde esteve cinco meses, depois partiu para Portugal com uma estadia de meio ano. Contudo, o gosto por trabalhar com outras

culturas e pessoas de outras nacionalidades levou-o de novo a espectáculos em alto-mar. “Adoro aprender outros idiomas, ver outras culturas, por isso nunca recuso uma possibilidade de me deslocar para outro país ou região”, explica. Neste ir e vir, ficar e não ficar é da família que sente mais falta e a ela quer um dia retornar. Foi também num trabalho num cruzeiro que descobriu Macau. O novo casino Galaxy precisava de um bailarino e Alberto Holgueras não pensou duas vezes. “Aqui deram-me uma possibilidade de trabalho e posso também coreografar”, frisa o espanhol. No território há mais de três meses, encontrou pessoas que gostam de entretenimento, mas falta haver verdadeiros espectáculos de dança, apesar da variedade de ‘shows’ que diz existirem. Nos casinos, os espectáculos são que como que “luso-fusco”, como diriam os Gato Fedorento, humoristas portugueses. São 15 minutos de puro entretenimento e de dança de vários tipos: do latino e o flamenco de Espanha, do can-can da velha Paris e do mais moderno hip-hop. “Há dinheiro, mas quem o tem não quer

investir”, refere ainda. Uma outra lacuna encontrada por este espanhol é o facto de ser homem, o que limita a oferta de emprego no mundo do entretenimento na região. “Aqui esta área é preferencialmente para mulheres, para os homens é mais difícil, não querem nos contratar”, nota, apesar de ser considerar um sortudo. De Macau quer mais, porque gosta de cá estar e “faz-se um bom dinheiro”. “Pelo menos gostaria de ficar na região alguns anos.” Para projectos futuros quer comprar uma casa, mas na sua Madrid do coração, e juntar-se aos seus familiares.Em terras da península Ibérica tem como sonho e plano de futuro abrir uma escola de dança. “Gostava de ter um local meu para ensinar, mas orientado para quem quiser seguir esta carreira, o faça fora de Espanha”, conta. Tal como encontra a falha na RAEM, encontra-a também no seu país – falta de entretenimento e de um regresso aos espectáculos de revista. Com experiências diversificadas fora do seu país, Alberto Holgueras considera importante passar essa mensagem aos mais novos e a quem está a começar.

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[ ] CinemaCineteatro | PUB

[f]utilidadesSEXTA-FEIRA 4.11.2011www.hojemacau.com.mo

17

[Tele]visãoTDM13:00 TDM News - Repetição13:30 Jornal das 24h14:30 RTPi DIRECTO18:30 That 70\’s Show (Que Loucura de Família)19:00 TDM Talk Show (Repetição)19:30 Amanhecer20:35 Telejornal21:00 Ásia Global21:30 Desperate Housewives (Donas de Casa Desesperadas)22:15 Passione23:00 TDM News23:30 Resumo Liga Europa23:45 Sling Blade02:05 Telejornal (Repetição)02:30 RTPi DIRECTO

INFORMAÇÃO TDM

RTPi 8214:00 Telejornal Madeira14:30 Com Ciência15:00 Documentário – Campeões Olímpicos – Joaquim Vieira16:00 Bom Dia Portugal17:00 Velhos Amigos17:30 A Balada da Praia dos Cães – Cinema Português19:00 Estado de Graça20:00 Jornal Da Tarde 21:15 O Preço Certo22:00 O Humor e a Cidade23:00 Portugal no Coração

ESPN 3011:00 (LIVE) Wgc - HSBC Champions 2011 Day 216:00 Stihl Timbersports Series16:30 Atlantic Coast Conference Football Florida State vs. Boston College19:30 (LIVE) Sportscenter Asia20:00 Football Asia 2011/1220:30 Global Football 201121:00 Winter X Games

22:00 Sportscenter Asia22:30 Wgc - HSBC Champions 2011 Day 2

STAR SPORTS 3113:00 Rebel TV Series13:30 Rolex FEI World Cup Jumping 2011/1214:30 Alpe D’huez Triathlon15:30 London Triathlon16:30 Hot Water 2011/1217:30 (LIVE) Commonwealth Bank Tournament Of Champions 201121:30 (Delay) Score Tonight22:00 Le Mans Series 2011Year-End Review23:00 Score Tonight23:30 Sea Master Sailing 2011

STAR MOVIES 4012:00 I Know What You Did Last Summer13:45 All About Steve15:30 Treasure Guards17:20 The Net19:20 The Crazies21:05 The Walking Dead22:55 Avatar

HBO 4113:00 The Running Man14:40 Wayne’S World16:10 Trading Places18:00 Joe Dirt19:30 The Last Samurai22:00 Cirque Du Freak23:50 The Other Guys

CINEMAX 4212:15 Money Talks14:00 Creepshow16:00 20 Million Miles To Earth17:20 Stalag 1719:30 Funny People21:45 Epad On Max22:00 Cyborg23:25 Candyman: Farewell To The Flesh

Su doku

[ ] Cru

zadas

REGRAS |Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição

SOLUÇÃO DO PROBLEMADO DIA ANTERIOR

SOLUÇÕES DO PROBLEMA

SALA 1IN TIME [B] Um filme de: Andrew NiccolCom: Justin Timberlake, Amanda Seyfried14.30, 16.30

YOU ARE THE APPLE OF MY EYE [C] (Falado em putonghua, legendado em chinês/inglês)Um filme de: Giddens KoCom: Zhendong Ke, Yanxi Chen, Siu-Man Fok19.30, 21.30

SALA 2THE THREE MUSKETEERS [B] Um filme de: Paul W.S. AndersonCom: Logan Lerman, Milla Jovovich14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 3TOWER HEIST [B] Um filme de: Brett RatnerCom: Ben Stiller, Eddie Murphy, Matthew Broderick14.15, 16.00, 17.45, 19.45

IN TIME [B] Um filme de: Andrew NiccolCom: Justin Timberlake, Amanda Seyfried21.45

Aqui há gato

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

HORIZONTAIS: 1-FUGA. ALINDO. 2-TEMPO. SAIU. 3-M. BOA. LIDAR. 4-ADOR. GALAGO. 5-RAS. JARDINS. 6-N. FOLGA. O. 7-OUREGÃO. USA. 8-IDERAS. GREI. 9-TINIR. MAN. O. 10-ONDA. VILAS. 11-SOALHA. ASES.VERTICAIS: 1-F. MAR. OITOS. 2-UT. DANUBINO. 3-GEBOS. RENDA. 4-AMOR. FERIAL. 5-PA. JOGAR. H. 6-AO. GALAS. VA. 7-L. LARGO. MI. 8-ISILDA. GALA. 9-NADAI. URNAS. 10-DIAGNOSE. SE. 11-OUROS. AIO. S.

HORIZONTAIS: 1-Partida rápida precipitada. Torno lindo. 2-Vagar, ocasião. Coube em sorte. 3-Perfeita. Labutar. 4-Bolo de farinha e sal, usado pelos Romanos os sacrifícios. Género de mamíferos da ordem dos prosímios (Zool.). 5-Chefe politico na Etiópia. Terrenos onde se cultivam flores para adorno (pl.). 6-Descanso, feriado. 7-O m. q. orégão (planta). Está acostumado. 8-Antigas habitantes da Ibéria. Rebanho de gado miúdo. 9-Tremer com frio, medo ou fome (Pop.). Ilha de Inglaterra. 10-Porção de água do mar, que se eleva. Povoações de maior categoria que as aldeias. 11-Soalheira. Pessoas notáveis.VERTICAIS: 1-Imensidão (Fig.). Oitavos. 2-Antiga nota musical. O m. q. danubiano. 3-Corcovados. Produto anual que se tira de bens imóveis. 4-Afeição profunda de uma pessoa a outra. Relativo aos dias da semana. 5-A parte mais carnuda de perna da rês. Arriscar ao jogo. 6-A ele. Actor que representa o principal papel de namorado (pl.). Parta. 7-Terreiro, praça. Nota de música. 8-Nome de mulher. Traje para solenidades. 9-Flutuai. Vasos onde se depositavam as cinzas dos mortos. 10-Conhecimento das doenças, por observação dos seus sintomas. Condição. 11-Naipe das cartas de jogar. Solto ais, gemo.

UMA HISTÓRIA DE DEUS - JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E ISLAMISMO : UMA BUSCA DE 4000 ANOS • Karen ArmstrongO Deus que é rejeitado pelos ateus de hoje será o dos patriarcas, o dos profetas, o dos filósofos, o dos místicos ou o dos deístas do século XVIII? Este livro não é uma história da inefável realidade de Deus em si mesmo, que está para além do tempo e da mudança, mas uma história sobre o modo como o homem o entendeu desde Abraão até aos nossos dias.

PORTUGAL À CORONHADA • Diego Palacio CerezalesA ideia de que a população portuguesa sempre viveu pacatamente, aceitando sem contestar as contrariedades políticas e económicas (incluindo quatro décadas de ditadura) é absolutamente falsa, como demonstra este livro. Desde meados do século XIX, sucederam- se os conflitos violentos entre as forças do Estado e as camadas populares. Como se verá, não eram brandas nem as populações nem as forças de repressão.

UM PASSEIO NA LUA COM EINSTEIN • Joshua FoerUma investigação inovadora, uma surpreendente história cultural da memória e truques dignos do intercâmbio mental para trans-formar o nosso entendimento da memória do ser humano. Sob a tutela de «atletas mentais» de grande calibre, o autor aprendeu técnicas milenares, empregues por Cícero na memorização dos seus discursos e por estudiosos da era medieval quando queriam decorar livros por inteiro.

ANDAR À NOITE

São cada vez mais frequentes as notícias da apreensão de drogas em Macau pela Polícia Judiciária (PJ), o que me deixa com uma pulga atrás da orelha. E eu, que sou gato, não gosto disso. Acredito que aquilo que as autoridades detectam é apenas uma pequena percentagem daquilo que entra no território. E isso faz-me questionar: O esquema de detecção não é bom ou os traficantes é que são mais espertos do que a polícia? Não é segredo para ninguém a facilidade com que se compra droga em Macau. Há pessoas a vender todos os tipos de “bombons” às portas dos karaokes e das discotecas. Isso para não dizer que dentro dos estabelecimentos nocturnos também não faltam ofertas. Intriga-me que a PJ só fazem apreensões de drogas pela manhã. De noite devem estar a dormir e, por isso, estão de olhos completamente fechados ao que se passa nos “horários de pico”. Por que é que não há fiscalização na noite? Eu, que sou pequenino e gosto muito de andar à noite sem dar nas vistas, já ouvi vários rumores da ligação entre as autoridades e os donos dos pontos nocturnos, que, por sua vez, dinamizam o mercado da droga em Macau. Cá há um esquema para tudo e embora o peixe seja graúdo, nestes assuntos, ninguém dá por ele. O que é melhor fazer: reforçar a educação anti-droga ou deixar a droga circular livremente? Será que o Governo está mesmo preocupado com essa situação? Macau: uma cidade muito avançada em termos de entretenimento, dizem. Então, é preciso ensinar a estes humanos o comportamento certo. Se o Governo não resolve o problema de raiz, é difícil resolvê-lo, mesmo sabendo, às vezes, onde está o crime. Mas o que fará o Executivo? Reforçar a inspecção e tentar perceber onde está mesmo a fonte que faz nascer droga em Macau. E não se esquecer de andar à noite, quando todos os gatos são pardos e os consumidores estão acordados.

Pu Yi

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OPINIÃOSEXTA-FEIRA 4.11.2011

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car toonpor Steff

O GRITO G20

ed i to r ia lCarlos Morais José

Há os do copo meio cheio e os do copo meio vazio. Há os que se limitam a olhar e também os que preferem ver. Curiosamente, muitos dos portugueses que aqui têm ultimamente desembarcado pertencem, quase invariavelmente, à primeira categoria. Ele é ouvi-los criticar, mas raramente se deslumbram. É como se outorgassem a si próprios o direito de deitar abaixo o que não compreendem, em nome de valores morais e estéticos que nada têm a ver com a realidade que os circunda. Sem querer ser cruel, muitos ainda não perceberam que Macau não é Gaia nem Almada.

São, é claro, uma cambada de bimbos sem mundo, nem capacidade ou sequer vontade e discernimento para o adquirir. Desembarcam na China e, ao invés de pro-curarem descobrir, conhecer, aprofundar,

Macau é um local onde um europeu tem toda a possibilidade de crescer como pessoa de uma forma alucinante. Assim as pessoas se deixem atitudes saloias. Já que saíram do país por que não acreditar que ainda são capazes de se dotarem de alguma mundividência. Era fixe, não?

Macau e os neo-tugaso que aqui é único, dedicam-se a compa-rar com os seus próprios valores aquilo que julgam ver e os rodeia. Inteligente, não há dúvida... Ainda por cima chegam carregados daquela superioridade moral que um país atafulhado em dívidas ao estrangeiro lhes proporciona. Mas nem nisso enxergam a espécie de mediocridade entranhada, por anos de TV baratucha, que teimosamente os habita.

O neo-tuga não compreende a missão que imbuía o colonialista, nem o fascínio que deslumbrava o exilado. Mas não deixa por isso de considerar que tem direito de exigir. Não se interessa absolutamente nada pelo facto de palmilhar por aqui um terreno a muito custo mantido por outros. Não, isso não lhe interessa nada. Há muito que o respeitinho, naquela terra, deixou de ser bonito. Vive-se num caos de valores, de prioridades, de sentimentos rasteiros, quer em Macau se traduz numa atitude verdadeiramente incompreensível.

Por que razão procuram as pessoas ver sempre o pior lado das coisas? Aque-le lado que eventualmente lhes dá um motivo para destilar algum veneno? Por que razão perderam a capacidade de se maravilhar, de apreciar, de dizer bem, de se apaixonar? Será que a manutenção da sua identidade passa pelo vilipêndio da identidade alheia? É triste mas, infeliz-mente, é verdade.

A verdade é que ainda por cima não percebem o ridículo papel que tão de-nodadamente se atribuem. É como se em Portugal um indiano de Deli desse lições sobre a limpeza das ruas. Mas isso passa-lhes ao lado, distraídos que estão com o seu próprio umbigo, cujo lugar central no mundo está perfeitamente fora de discussão. É verdade que a qualidade da educação obtida é, em muitos casos, miserável, mas isso não explica tudo. Afinal, ninguém pode sacudir totalmente a água do capote, na medida em que no limite somos sempre nós os principais responsáveis por nós próprios.

Macau é um local onde um europeu tem toda a possibilidade de crescer como pessoa de uma forma alucinante. Assim as pessoas se deixem atitudes saloias. Já que saíram do país por que não acreditar que ainda são capazes de se dotarem de alguma mundividência. Era fixe, não?

Quantos aos neo-tugas propriamente ditos a cena é simples: façam qualquer coisa, trabalhem, suem, cumpram e depois, talvez depois, quando provarem alguma coisa botem críticas e faladura. Até lá evitem zurrar como a burra.

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perspect ivasJorge Simão

SEXTA-FEIRA 4.11.2011

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Vanessa Amaro Redacção Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Lia Coelho; Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; Carlos M. Cordeiro; Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

Ciclone Apostem em futebol e apostem bem. Se estiverem à espera do FC Porto não há nada para ninguém.Por Fernando

ObjectivO e subjectivO

A

“Science is a subjective, socially constructed discipline rather than objective.”

Connected Knowledge: Science, Philosophy, and Education

Alan Cromer

exploração bem sucedida de teorias científicas em vários domínios foi extrapolada até

ao infinito, nomeadamente, mantendo-se que as leis da natureza eram invariáveis no espaço e no tempo, ou seja, a ciência secula-rizada mantinha leis universais da natureza, apesar de não reconhecer a existência do legislador Deus. A pretensa objectividade da ciência tem uma história confusa, agravada por mudanças profundas no significado da diferença entre objectivo e subjectivo, como assinalou o académico galês Raymond Williams.

A filosofia escolástica considerava subjectivo, aquilo que as coisas são em si mesmas; a sua substância, e objectivas aquelas características das coisas que são apresentadas à consciência. O pensador francês, Edgar Morin, no seu magistral livro “Ciência com consciência” arranca deste conceito para elaborar uma teoria inovadora, que deve prevalecer. Após várias utilizações tradicionais, a transformação mais radical destes significados originais deu-se com a filosofia idealista clássica alemã, em que o sujeito tornou-se a mente activa ou um agente pensante, o sujeito, que moldava activamente os objectos do pensamento.

Na expressão científica romântica do idealismo clássico alemão, a “Naturphiloso-phie”, era a introspecção do agente pensante que transformava os objectos do pensamento em verdades acerca da natureza. Ao longo do século XIX, a influência crescente da filosofia positivista, pôs em circulação mais significados familiares dos termos, em que subjectivo passou a significar aquilo que existia apenas na mente do sujeito, e depois o que se baseava em impressões e não em factos e era influenciado por sentimentos pessoais.

O objectivo passou a significar aquilo que era retirado de um objecto exterior, e depois o que era factual, neutro, imparcial e fiável. A ciência hodierna herdou quer o sentido idealista, quer o sentido positivista da objectividade. Os pensamentos e as

A ciência não se limita a produzir factos, quer seja por observação directa da natureza ou através de experiências, Também interpreta e organiza os factos, à luz ou sob a forma de teorias. Os conceitos e teorias não são simples descrições do que existe, mas sim construídos em consequência das suas interacções com o mundo e das suas interpretações dos resultados daquelas

afirmações sobre a natureza que se pressu-põem neutrais e imparciais, são ao mesmo tempo considerados verdades universais da natureza. O materialista, ao contrário do idealista filosófico, assume a existência de uma realidade independente da mente.

Segundo o materialista, o modo como conhecemos o que é independente da mente, ou seja o que existe objectivamente, depende do modo como interagimos com o mundo. Algumas versões do materialismo adopta-ram, por tradição, uma epistemologia um pouco ingénua, que, de facto, se aproxima muito da epistemologia idealista, ao defen-der que as nossas observações cuidadosas da natureza nos põe em contacto directo com as suas características, com as verdades acerca da natureza.

Este tipo de epistemologia, associado ao positivismo, tem sido muito vulgar na ciên-cia dos dois últimos séculos, continuando a prevalecer no presente. Também durante o século XIX, os cientistas tentaram reduzir cada vez mais, a influência subjectiva do observador individual na actividade cien-tífica, introduzindo progressivamente mais instrumentos de registo para eliminar a subjectividade da percepção, foram aferidos instrumentos de medição para reduzir a variabilidade de análises feitas por diver-sos observadores e foram criadas tabelas de dados para garantir uma interpretação imparcial.

É claro que a concepção dos instrumentos de medida, dos meios de aferição e dos da-dos de interpretação estava, e está, imbuída de teoria, e nesse sentido não é neutra nem imparcial, mas esses estratagemas tiveram o mérito de dar uma aparência fiável aos métodos de que a ciência se socorria para produzir verdades sobre a forma de factos neutrais do ponto de vista do observador e supostamente objectivos.

A ciência não se limita a produzir factos, quer seja por observação directa da natu-reza ou através de experiências, Também interpreta e organiza os factos, à luz ou sob a forma de teorias. Os conceitos e teorias não são simples descrições do que existe, mas sim construídos em consequência das suas interacções com o mundo e das suas interpretações dos resultados daquelas. O modo como as pessoas interagem com o mundo depende das oportunidades sociais criadas, não só em termos de cultura, de

ambientes institucionais, de equipamento e assistência técnica, mas em termos de esta-belecimento de objectivos para programas de investigação.

Após um conceito ou uma teoria serem formulados, verificados em diferentes ce-nários e aceites, a dimensão que em geral é retrospectivamente ignorada, é o processo social que interveio na construção da teoria. As teorias tornam-se então objectivadas e são usadas como instrumentos potencialmente universais, independentemente dos pro-cessos sociais específicos, que contribuíram para a sua formação. As representações da realidade assim produzidas pela ciência, pa-recem ser transcendentes em termos sociais e culturais, objectivas e fiáveis.

As representações da realidade produ-zidas pela ciência moderna são, em regra, criadas por meio da experimentação, da intervenção e da manipulação de alguma montagem laboratorial, ou da análise de al-gum conjunto pré-seleccionado de variáveis em estudos de campo. Essas montagens ou conjuntos de variáveis não são fornecidas

pela natureza, são seleccionadas, criadas e construídas por seres humanos, com deter-minados objectivos. Novos instrumentos e novos métodos experimentais permitem criar novas perspectivas da realidade, que têm, em primeiro lugar, de fazer sentido para serem válidas.

A observação de dados experimentais implica uma grande dose de interpretação à luz dos conhecimentos existentes, e o processo de interpretação envolve em geral, uma adaptação a novos factos, que integram o conjunto de conhecimentos existentes, para que se mantenha a coerência do todo. Em segundo lugar, a atribuição de significado ao conhecimento científico produzido em laboratório não e feita apenas pelo cientista individual, nem pela comunidade científica, mas por grupos sociais mais numerosos e diferentes.

As linhas específicas da investigação científica são seguidas não só porque os indivíduos que as seguem as consideram significativas e interessantes do ponto de vista científico, mas também porque o são, não necessariamente da mesma forma, para as instituições de financiamento, para os técnicos, para as entidades responsáveis pelo planeamento e para os legisladores. Importa reconhecer que as intenções dos cientistas e daqueles que promovem a sua actividade não tem de ser as mesmas.

Por exemplo, é provável que o cientista que tentam identificar um marcador genético de uma determinada doença, desenvolva a sua actividade com o objectivo último de aliviar o sofrimento humano. Os cientistas tal como as outras pessoas têm sempre múltiplos objectivos, para além dos de subsistência, entusiasmo intelectual, vontade de impres-sionar os seus pares, publicação de artigos para assegurar financiamento, entre outros.

As sociedades que se dedicam aos segu-ros de saúde podem realçar a importância dessa mesma investigação e até financiá-la, porque a hipótese de detectar essa doen-ça permitir-lhes-á aumentar os prémios dos portadores da sequência de genes em questão. ou mesmo recusar-se a segurar os portadores, se for mais lucrativo em termos económicos. Neste caso, os interesses do cientista e os da seguradora coincidem ao nível dos meios, que é a identificação de um sinal genético, mas os fins são bastante diferentes.

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SEXTA-FEIRA 4.11.2011www.hojemacau.com.mo

A história da “mulher mais feia do mundo”

Afinal, era Síndrome do Lobisomen

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NA S C I D A e m 1834 no México, a “mulher mais feia do mundo”,

cresceu como criada em casa de uma abastada família mexicana. O aspecto símio fazia crer aos cientistas que Julia era o resultado de uma relação pecaminosa entre o Homem e o macaco. Julia media 1,37 metros, tinha barba e um queixo muito saliente, o que a assemelhava

Considerada como a “mulher mais feia do mundo”, depois como o “elo perdido” da evolução do homem, Julia Pastrana foi exposta em circos pelo marido e continuou a percorrer o mundo e os laboratórios científicos depois de morrer, em 1860.

a um macaco. Tinha pelos por todo o corpo, em especial nas costas, tinha gengivas salientes e uma dupla fila de dentes.

Chegada a Londres em 1857, depois de uma volta pelos EUA e pelo Canadá, acabou por percorrer a Eu-ropa com circos e teatros, a única hipótese de ter sobrevivido na época. No século XIX, nascer com de-formações significava, quase

sempre, ser assassinado ou condenado a morrer em asilos.

O único estudo que se conhece feito com o corpo de

Julia Pastrana veio mostrar que a mulher sofria de hi-pertricose congénita genera-lizada em fase terminal, vul-garmente conhecida como

Síndrome do Lobisomem, com hiperplasia gengival.

Quando desembarcou na Inglaterra, Julia Pastrana não chegou sozinha. Acom-panhava-a o seu intérprete e futuro marido, Theodore Lent, do qual nunca se sepa-rou. Para o conquistar, Pas-trana minimizava o aspecto “monstruoso” cantando com voz de meio-soprano e tocando guitarra. As investi-gações publicadas falam de uma mulher doce, educada e extremamente inteligente, que amava ler e falava três idiomas.

Theodore Lent, com quem casou em 1854, come-çou a exibir massivamente a esposa. Para além de vender bilhetes para assistir aos espectáculos da mulher, fez passes privados para mostrá-la na sala da própria casa. Julia Pastrana engravi-dou em 1860 e Lent decidiu,

também, rentabilizar o par-to, vendendo entradas para assistir ao nascimento do filho. Pastrana deu à luz um menino que herdou as suas características físicas mas que apenas viveu 35 horas.

Pastrana morreu dois dias depois do parto numa horrível agonia, que o mari-do também rentabilizou eco-nomicamente. Lent mandou mumificar o corpo de Julia e do bebé recém-nascido e colocou-os numa vitrina para mostrar a todo o mun-do. Quando o “empresário” morreu, o corpo da mulher passou de um dono para ou-tro até que em 1973 fez a últi-ma grande volta pela Suécia. A partir daí começou uma peregrinação por institutos forenses e universidades até que terminou no Instituto de Ciências Médicas da Univer-sidade de Oslo, Noruega.

Anderson Barbata, uma artista mexicana, começou a investigar a vida de Julia Pastrana e decidiu que a quer levar para o México para ser sepultada na sua terra. Nas suas pesquisas descobriu que Pastrana foi baptizada na religião católica.