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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A LEITURA NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA HELOÍSA HELENA RAMOS PEREIRA ORIENTADOR: Prof. Robson Materko Rio de Janeiro Dezembro/2001

A LEITURA NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA HELENA RAMOS PEREIRA.pdf · 1 – CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA A PARTIR DA IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER ... O acreditar nas massas populares é renunciar

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A LEITURA NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

HELOÍSA HELENA RAMOS PEREIRA

ORIENTADOR: Prof. Robson Materko

Rio de Janeiro Dezembro/2001

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A LEITURA NA CONSTRUÇÃO

DA CIDADANIA

HELOÍSA HELENA RAMOS PEREIRA

Trabalho monográficoapresentado como requisitoparcial para a obtenção doGrau de Especialista emDocência do Ensino Superior(Pós-Graduação Lato Sensu)

Rio de Janeiro Dezembro/2001

A Deus, por permitir a minha caminhada, em cada passada minha, Ele sempre presente.

A minha família, em especial as minhas filhas e ao meu marido, por aceitarem as ausências, as impaciências e o não cumprimento das minhas atribuições de mãe e esposa.

Às amigas Fátima Naane e Eurídice, pelo companheirismo e pelo amor fraterno que sempre tiveram por mim.

À amiga Joana Darc, grande fomentadora das minhas idéias.

Aos meus pais, que supriram, com paciência, obstinação e amor todas as minhas necessidades materiais e espirituais.

Dedico este ensaio a todos oscolegas missionários, responsáveispela formação do “Ser”, umaformação integral: corpo, mente eespírito.

“Assim, a formulação de Sartre,de que um livro começa existirnão quando um autor terminasua redação ou quando o editoro encaderna, mas quando oleitor fecha sua última página”. Joel Berman

RE

SUMÁRIO

RESUMO 7

INTRODUÇÃO 9 1. CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA A PARTIR DA IMPORTÂN-

CIA DO ATO DE LER 11

2. LEITURA INTERDISCIPLINAR EXIGÊNCIAS PARA A CONS- TRUÇÃO DA CIDADANIA 15

3. A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER COMO PROCESSO ATIVO 20 4. PERSPECTIVAS DA LEITURA NO ATO DE LER COM PRAZER 24 CONCLUSÃO 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 29 ANEXOS 30

RESUMO

A importância do ato de ler na construção da cidadania visa buscar

fatores que comprovem o valor do ato de ler, induzindo a percepção crítica,

interpretação, re-escrita do lido.

O trabalho, apresentado, mostrou o processo do ato ativo da leitura e a

interdisciplinaridade com o objetivo da construção do cidadão, portanto o homem se

reestrutura, se organiza e se reveste de valores e conhecimentos que vão lhe

respaldar para o exercício da cidadania.

A metodologia utilizada foi o método dedutivo e pesquisas bibliográficas.

O trabalho monográfico foi calcado no desenvolvimento da idéia do ato de

ler voltado para a construção da cidadania, a interdisciplinaridade e suas exigências

para formação do cidadão, a leitura como processo ativo mostrando que o indivíduo

que lê, interpreta, questiona consegue estabelecer julgamentos do que pode e deve

fazer exercendo dessa forma a total cidadania.

INTRODUÇÃO

Motivado pelo mérito do tema, após leituras de livros e artigos e sabendo

que o conhecimento é uma fonte de poder e, acima de tudo, uma fonte de

sobrevivência; justifica-se aqui, a importância desta monografia, visando buscar

dados que comprovem o valor do ato de ler, que implica, sempre a percepção crítica,

interpretação, re-escrita do lido. É entendido como processo e não como passivo, e

supõe; portanto, a interdisciplinaridade para construção de uma consciência cidadã.

Na presente monografia mostraremos a importância de que quem lê,

interpreta e questiona exerce concomitantemente a plena cidadania e que a leitura

interdisciplinar completa com sua composição de saberes formando o cidadão no todo

do seu ser.

Através da leitura interdisciplinar que o homem se reestrutura, reorganiza e

acaba se revestindo de valores e conhecimentos que vão lhe respaldar para o

exercício pleno da cidadania.

O ato de ler e escrever em busca de novos caminhos tem como meta para

cativar e incentivar o leitor da leitura, buscar prazer no ato de ler e resgatar assim sua

essência e criação.

O método APUC (Aprimoramento da Linguagem e da Criação) foi criado

com o objetivo de aperfeiçoar o desempenho lingüístico do aluno tanto em sua

modalidade escrita, como oral.

Para atingir a meta desejada foi lançado mão dos mais variados recursos

como: jogos, brincadeiras, dinâmicas, música, textos... com o intuito de desenvolver a

estruturação lógica do raciocínio, despertar e aguçar a sensibilidade, estimulando o

ato criador.

O despertar da criatividade depende apenas de uma estimulação

adequada tanto para adultos como crianças.

1 – CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA A PARTIR DA IMPORTÂNCIA DO ATO DE

LER

A construção do cidadão começa a partir da sua percepção do mundo que

se encontra à sua volta desde a sua infância e do outro lado os valores, crenças,

gostos e receios do universo da linguagem familiar. A leitura

construída a partir do mundo social da vivência da criança leva o cidadão a re-criar,

reviver a leitura na sua essência.

Todo o conhecimento através de textos oferecidos aos alunos pelos

professores passam a ter significado no contexto geral da gramática, isto porque, o

papel importante do professor é o de engajar o texto no mundo social do aluno,

fazendo com que ele perceba as diferenças e não deixe a riqueza do texto se esvair

pelos dedos, o papel do mestre neste momento é de fundamental importância, é a

procura do referencial do ser e sua significação profunda.

A quantidade de leituras sem o devido controle de que os textos oferecidos

para leitura sejam compreendidos massacram os alunos e não levam a eles riquezas

da importância da leitura e escrita.

A leitura crítica da realidade, se dá num processo de alfabetização ou não

e é associada a certas práticas claramente políticas de mobilização e de organização,

As reflexões em torno da importância do ato de ler, que implica sempre percepção

crítica, interpretação e re-escrita do lido, está em consonância com a forma de ser e

com o que o indivíduo pode fazer.

Do ponto de vista crítico, é tão impossível negar a natureza política do

processo educativo quanto negar o caráter educativo do ato político. Todo partido

político é sempre educador e, como tal, sua proposta política vai ganhando atos de

denunciar e anunciar.

A educação burguesa, começou a se constituir, historicamente, muito antes

mesmo da tomada do poder pela burguesia.

Na medida em que compreendemos a educação, de um lado, reproduzindo

a ideologia dominante, mas, de outro, proporcionando, independentemente de

intenção de quem tem o poder, a negação daquela ideologia pela confrontação entre

ela e a realidade, realidade vivida pelos educandos e pelos educadores, percebemos

a inviabilidade de uma educação neutra. O fato de não ser o educador um agente

neutro não significa, necessariamente, que deve ser um manipulador. Enquanto

educadores é nosso dever aclarar, assumindo a nossa opção, que é política, e

sermos coerentes com ela, na prática.

O educador, como quem sabe, precisa reconhecer, primeiro, nos

educandos em processo de saber mais, ou sujeitos, com ele deste processo e não

pacientes acomodados; segundo, reconhecer que o conhecimento não é um dado aí,

algo imobilizado, concluído, terminado, a ser transferido por quem o adquiriu a quem

ainda não o possui.

A neutralidade da educação, modela as almas e recria os corações, ela é a

alavanca das mudanças sociais.

Desde o começo, na prática democrática e crítica, aleitara do mundo e a

leitura da palavra estão dinamicamente juntas. A sua leitura do real, contudo,

não pode ser a repetição mecanicamente memorizada da nossa maneira de ler o real.

Se assim fosse, estaríamos caindo no mesmo autoritarismo tão criticado.

A transformação social é percebida como processo histórico em que

subjetividade e objetividade se prendem dialeticamente. A alfabetização como ato de

conhecimento, como ato criador e como ato político é um esforço de leitura do mundo

e da palavra.

O acreditar nas massas populares é renunciar e rejeitar a esperteza e

caminhar até os oprimidos. O desrespeito da linguagem dos grupos populares leva a

uma visão de mundo anti-democrático.

Com um trabalho histórico da área dimensionada, como entrevistas com os

moradores mais antigos, como testemunhos presentes, formaríamos em pouco tempo

a história da área e assim possibilitando aos nossos educandos uma forma mais fácil

de serem alfabetizados, através de folhetos, com respeito total a linguagem local.

Educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo

neoliberal, reconhecendo que a História é um tempo de possibilidades. Portanto, toda

a curiosidade de saber exige uma reflexão crítica e prática, de modo que o próprio

discurso teórico terá de ser aliado à sua aplicação prática.

Ensinar é algo de profundo e dinâmico onde a questão de identidade

cultural que atinge a dimensão individual e a classe dos educandos, é essencial à

prática educativa progressista. Portanto, torna-se imprescindível solidariedade social

e política para se evitar um ensino elitista e autoritário como quem tem o exclusivo do

saber articulado.

Educar não é a mera transferência de conhecimentos, mas sim

conscientização e testemunho de vida, senão não terá eficácia.

“O educador que ‘castra’ a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, domestica. A autonomia, a dignidade e a identidade do educando tem de ser respeitada, caso contrário, o ensino tornar-se-á, palavreado vazio e inoperante”.(Freire, 1997, p.69)

Aprender é uma descoberta criadora, com abertura ao risco e à aventura

do ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina.

A esperança e o otimismo na possibilidade da mudança são um passo

gigante na construção e formação científica do professor que deve coincidir com sua

retidão ética.

Para se resolver a prática educativa consciente os educadores deverão ter

sempre em mente: a rigorosidade metódica e a pesquisa, a ética e estética, a

competência profissional, o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento

da identidade cultural, a rejeição de toda e qualquer forma de discriminação, a

reflexão crítica da prática pedagógica, o saber dialogar e escutar, o querer bem aos

educandos, o ter alegria e esperança, o ter liberdade e autoridade, o ter curiosidade e

o ter a consciência do inacabado. Estes princípios básicos levam educando e

educadores a uma transformação que lhes garanta o direito a autonomia pessoal na

construção de uma sociedade democrática que a todos respeita e dignifica.

2 - LEITURA INTERDISCIPLINAR EXIGÊNCIAS PARA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

Como uma alternativa para a busca de uma visão global sobre o ser

humano e sua conseqüente autonomia no processo de inserção/inclusão social surge

a proposta da interdisciplinaridade.

A interdisciplinaridade vem desde muito tempo sendo discutida. Mas é nos

anos 70 que ela é colocada à frente das discussões, como sendo uma das saídas

para cura de todos os males do mundo. Na França, em 1970 se realizou o 1º

Seminário Internacional sobre Pluridisciplinaridade e Interdisciplinaridade nas

Universidades.

A conceitualização da interdisciplinaridade é uma questão típica deste

século. Acredita-se que Platão tenha sido um dos primeiros intelectuais a colocar a

necessidade de uma ciência unificada, propondo que esta tarefa fosse

desempenhada pela filosofia.

Ainda na Antigüidade, a Escola de Alexandria foi uma das mais antigas que

assumiu um compromisso frente a integração do conhecimento. Por volta de 1561-

1626, Francis Bacon viu a necessidade da unificação do saber.

Desde o século XVII, intelectuais como Descartes, Kant e Comte

buscaram, cada um do seu jeito diferente, uma proposta para estabelecer maiores

parcelas de unificação e interdisciplinaridade.

O século XVIII e o Iluminismo transformaram a Enciclopédia em seu

modelo, uma defesa da unidade e condensação da diversidade de saberes e práticas,

convertendo-a ao mesmo tempo em um instrumento de luta ideológica e expressão

de uma nova atitude intelectual caracterizada por uma rejeição frontal da autoridade

dogmática.

Com o processo da industrialização promovido pelas revoluções industriais

e pelos modelos econômicos capitalistas abre-se caminho para a disciplinaridade do

conhecimento. Com a revolução industrial e a tecnologia surgem, cada vez mais,

novas especialidades e subespecialidades.

Durante a primeira metade deste século constata-se dois momentos

interdisciplinares no campo das ciências sociais. O primeiro momento, entre a 1ª

Guerra Mundial e os anos 30, foi caracterizado pelo empréstimo de técnicas e

instrumentos de pesquisa. No segundo momento, em favor da integração das ciências

sociais, surgem cursos e publicações constituídos com orçamentos interdisciplinares.

Mas a filosofia interdisciplinar ficou mais como rótulo e um slogan do que uma

realidade prática.

Influenciaram também no renascer da interdisciplinaridade concepções

teóricas como marxismo, o estruturalismo, a teoria geral dos sistemas e o

desconstrutivismo.

A interdisciplinaridade implica uma vontade e compromisso de elaborar um

contexto mais geral, aonde cada disciplina em contato é modificada e passa a

depender uma da outra. Ela surge para terminar com a fragmentação que existe nos

sistemas de produção da sociedade capitalista, entre teoria e prática, entre

disciplinas.

Ela está associada ao desenvolvimento de certos traços da personalidade,

como flexibilidade, confiança, intuição, sensibilidade em relação às demais pessoas,

aprender e agir na diversidade. É um processo e uma filosofia de trabalho que entra

em ação no momento de enfrentar os problemas que inquietam em cada sociedade.

A interdisciplinaridade é um objetivo nunca completamente alcançado e,

por isso, deve ser permanentemente buscado. Não é uma proposta teórica, mas

sobretudo uma prática. Acontece no momento da prática, com experiências reais de

trabalhos.

Em um nível mais baixo a interdisciplinaridade, sabemos que hoje há a

multidisciplinaridade, que leva ao nível inferior da integração, pois ocorre quando,

para solucionar um problema, busca-se informações e ajuda em várias disciplinas,

sem que tal interação contribua para modifica-las ou enriquecê-las. A

multidisciplinaridade é a primeira fase para um trabalho interdisciplinar. Ela está ligada

à fragmentação e não trabalha a unificação do saber.

No mundo atual estamos em busca não mais da fragmentação, mas, sim,

da unificação. A interdisciplinaridade se propõe a trabalhar com esta unificação e

integração. É uma filosofia que requer convicção e, o que é mais importante,

colaboração entre tudo e todos. Sendo assim, com a interdisciplinaridade surge cada

vez mais o desejo pela autonomia, pelo respeito. Autonomia não vista no mundo

fragmentado. A pessoa, através de um caminho interdisciplinar tem todos os

subsídios e apoio necessário para alcançar a sua autonomia.

Acreditar na interdisciplinaridade significa defender um novo tipo de

pessoa, mais aberta, flexível, solidária, democrática e crítica. O mundo atual necessita

de pessoas com uma formação mais polivalente para enfrentar uma sociedade que

está sempre mudando e em que o futuro é sempre imprevisível.

A inclusão social é o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder

incluir em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais, a fim de

que, simultaneamente, estas se preparem para assumir seus papéis na sociedade. A

inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas ainda

excluídas buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e

efetivar a equiparação de oportunidades para todos.

Um projeto curricular emancipador destinado aos membros de uma

sociedade democrática, além de especificar os princípios de procedimento que

permitem compreender a natureza construtiva do conhecimento e sugerir processos

de ensino e aprendizagem em consonância com tais princípios deve,

necessariamente, propor metas educacionais e blocos de conteúdos culturais que

possam contribuir da melhor maneira possível com uma socialização crítica dos

indivíduos.

A deficiência nesse contexto, e na sua relação com o ambiente escolar,

encontra apoio na multidisciplinaridade para sua reformulação, ou melhor, para o

reconhecimento desse portador de alguma diversidade para além dessa situação. É a

possibilidade de uma visão de sujeito, político, cidadão e participante.

A desfragmentação concebe um novo ser, a globalização da visão

permitida pela interdisciplinaridade deve rumar para uma concepção maior de

transdisciplinaridade, uma visão onde o respeito, a construção e o saber estão para

além das particularidades, buscando a visão mais integrada e ecológica do ser e do

seu contexto.

3 – A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER COMO PROCESSO ATIVO

O professor é o condutor do processo ele é a autoridade em sala de aula,

onde tem que ser respeitado a autonomia do aluno. O professor precisa saber ver e

compreender o que o aluno está fazendo e muitas vezes esperar o momento

adequado para interferir e auxilia-lo. Então, o professor tem que ter uma atitude de

abertura ao diálogo e de parceria com o aluno.

Neste ambiente o papel do professor deve ser o de mediador da

aprendizagem. O professor precisa compreender o problema do aluno e entender a

sua dificuldade momentânea para intervir no processo. É preciso tentar o nível de

desenvolvimento, de interesses e de necessidades dos alunos para poder colocar

desafios, ou mesmo para fornecer informações que os ajudem a sair da situação de

conflito e a atingir um nível superior de desenvolvimento.

Na verdade, poderíamos utilizar o termo construcionismo, porque o aluno

vai construir, mas construir a partir de ações concretas e de reflexões sobre suas

ações. Ele não sai do concreto para atingir o abstrato. O aluno está sempre

trabalhando numa via de mão dupla entre os dois, integrando-os nas construções. A

metáfora a este trabalho é a postura interdisciplinar. A partir de um projeto pode-se

realizar a integração entre as disciplinas. Para tanto a integração não envolve apenas

conteúdo. Tem que haver integração entre professores, alunos, conteúdos e teorias

de conhecimento. A integração

reveladora de uma postura diante do conhecimento é uma atividade interdisciplinar.

Além disso, alimenta a racionalidade à medida que faz o aluno pensar e descrever a

solução dos problemas. Revela a identidade do sujeito que está trabalhando na

montagem, fazendo com que o professor conheça muito mais o aluno. Com isso,

neutraliza a polarização objetividade-subjetividade, integrando-as e conduzindo-as em

direção à intersubjetividade. Propicia uma mudança nas relações aluno-aluno e

professor-aluno, favorece a integração entre diferentes áreas e sujeitos, o pluralismo

de estilos e de atividades, abrindo espaço para um ensino mais adequado à

multirealidade de nossos dias.

A leitura é um procedimento de captação das idéias apresentadas por um

autor através do uso da escrita. Entende-se, igualmente, que o pensamento

transmitido pela grafia representa, mesmo que com algumas limitações, o mundo

concreto. De fato, como já foi dito, não há possibilidade da existência de uma

expressão dissociada da realidade. Aceitar indicotomizável “escrita-mundo” torna o

ato de ler mais consciente, mais questionador, por conseguinte, muito mais produtivo.

Então, assume-se que a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica

implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.

A leitura sensorial tem um tempo de duração e abrange um espaço mais

limitado, em face do meio utilizado para realizá-la – os sentidos. Seu alcance é mais

circunscrito pelo aqui e agora; tende ao imediato. A leitura emocional é mais

mediatizada pelas experiências prévias, pela vivência anterior do leitor, tem um

caráter retrospectivo implícito; inclina-se pois à volta ao passado. Já a leitura racional

tende a ser prospectiva, à medida que a reflexão

determina um passo à frente no raciocínio, isto é, transforma o conhecimento prévio

em um novo conhecimento ou em novas questões, implica mais concretamente

possibilidades de desenvolver o discernimento acerca do texto lido.

O texto, como agente transmissor de idéias sobre a realidade social e natural, é passível de ser entendido das mais diversas formas. O grau de escolaridade, o padrão cultural, a convicção religiosa, o nível sócio-econômico e até a idade do leitor intervêm na compreensão da escrita através do ato de ler. A emissão textual pode, invariavelmente, ser a mesma, mas a recepção da mensagem, necessariamente, é tão diversa quanto à versatilidade dos leitores.

“O texto teórico é expressão humana através da palavra articulada – linguagem. É através dela que expressa a sua vida. E entre os mais variados meios simbólicos de expressão usados pelo, homem, nenhum ultrapassa a linguagem, quer na flexibilidade e no poder comunicativo, quer na importância geral que desempenha. A linguagem molda a visão do homem e o seu pensamento – simultaneamente à concepção que ele tem de si mesmo e do seu mundo (não sendo estes dois aspectos tão separados como

parecem). A própria visão que tem da realidade é moldada pela linguagem”.(Furlan, 1995, p.120).

O ato de ler é também, desde suas origens, e pela linguagem que trabalha

e que a trabalha, e que é social, uma atividade que implica profundamente a

sociabilidade. Mesmo a leitura silenciosa, troca-se, no ato de ler, valores, crenças,

gostos, idéias, que não pertencem apenas ao indivíduo, nem ao que lê, nem ao

que escreveu o texto.

Por isso o complemento ideal da leitura individual é a conversa com

outros leitores, a troca de impressões. Aí se completa o ciclo da leitura que é um

sair de si para tornar a entrar profundamente em si mesmo, sair novamente e

assim por diante. Na troca de idéias sobre os textos lidos nasce uma nova visão do

leitor por ele mesmo, novas representações de si, proporcionando-lhe uma

absorção no espaço privado e num pensamento e intimidade próprios, juntamente

com uma nova visão do texto e da realidade que ele direta, ou indiretamente

discute, num compartilhar, já aí público, de significações.

Levando em conta a dialética do mesmo e do outro, cabe aqui um alerta

aos mediadores da leitura, principalmente aos professores, para o fato de que a

escola pode transformar a leitura numa atividade maçante, atividade puramente

formal para a qual são indiferentes os valores que animam os alunos a ler e a

discutir os textos lidos para relê-los pela visão do outro e se reler nessa releitura.

Pensando na escola como lugar por excelência onde se aprende a ler ou

se arrisca a desaprender para sempre o que foi apresentado, é preciso atentar para

o aspecto de sociabilidade dessa atividade e proporcionar aos alunos

oportunidades para debater o que leram, oportunidade para que tenham a

experiência da pluralidade viva das leituras, não somente em termos de gosto, mas

também e sobretudo, em termos de desafios: os que parecem inscritos no texto, os

que os leitores investem nele. Isto leva o aluno a sensação de ter amadurecido e

aprendido a aprofundar sua própria leitura.

4. PERSPECTIVAS DA LEITURA NO ATO DE LER COM PRAZER

O ato de ler é solitário. Mas nada impede que ele seja um ato social,

porque solidário, gerador de papos produtivos, em torno de um tema que não seja

o lugar comum das notícias diárias, grandes manchetes dos jornais e revistas.

Nada contra a informação, mas a vida não pode se resumir a comentar o último

crime, a última batalha da guerra mostrada na TV, na hora do jantar.

Se é importante a consciência crítica sobre o que se vê, vive, ou ouve,

também é muito importante preservar o espaço para a alegria e o bom humor.

Fazer um programa pessoal de leitura é assumir a responsabilidade pelo

crescimento cultural e espiritual de todos os seus. Mas não acredite que será com

imposições que você conseguirá o seu objetivo.

Prepare-se para motivá-los pelo exemplo pessoal. Ter livros, comprar livros

e ler livros. Não deixe passar um dia sem investir, pelo menos, uma hora em si

mesmo de uma forma tão responsável, como cuida da sua higiene e trabalha para

se manter.

Os resultados serão proporcionais a sua dedicação que, como qualquer ato

físico, dependem de um treinamento continuado que deve ser prazeroso.

A maioria das pessoas não lêem porque o livro é caro e não o

acostumaram a ler.

Na verdade, a grande maioria não lê porque na escola não o ensinaram a

ler, no sentido mais profundo da palavra, ou seja, aprender o que está escrito,

refletir, questionar, “viajar” com um texto.

Obrigar o aluno a ler um livro de literatura com a obrigatoriedade de

responder a um questionário elaborado pelas editoras, para o qual o professor

possui as respostas, também elaboradas previamente, é decretar uma sentença

definitiva: Você nunca será um leitor. Fazer o aluno decorar escolas literárias e

todas as suas características sem nunca ter uma obra sequer de um dos autores

que dela fizeram parte ( o que importa é saber as questões que vão cair em uma

prova) é outro pequeno assassinato que deveria ser severamente punido.

A indústria da educação brasileira, ensina apenas para o aluno passar de

ano. A formação humanística, a compreensão do mundo através de sua história,

não está em questão. A questão é “passar ou passar”, ou seja, competir e ganhar a

corrida para a glória do canudo universitário.

A leitura deveria ser passada para a criança e os adolescentes como uma

busca, uma ação lúdica e prazerosa, que pode perfeitamente substituir com igual

grau de prazer uma ida ao cinema, um dia na praia ou um churrasco no sítio, sem

quaisquer remorso.

Todos aqueles que já descobriram o prazer da leitura, o gosto de elaborar,

ele mesmo, o seu personagem, a sua paisagem, voltar a página e emocionar-se de

novo com aquelas cenas que mais os tocaram, jamais

abrirão mão dessa descoberta. É um vírus que, uma vez contraído, não tem mais

cura. É um não acabar mais de descobrir, uma leitura vai sempre remetendo a

outra e a vida torna-se tão curta para tanto livro a ser lido.

O ato de ler a mesma página de um livro, um mesmo poema que tantos

outros já leram, entra em jogo o nosso poder de imaginar, de recriar, próprio do ser

humano e que os meios de comunicação de massa encarregaram-se de destruir.

Quem possui livros jamais está só. Fazem-lhe companhia os melhores

espíritos da humanidade, encantados em suas páginas, esperando apenas as

mãos que os folheiem, para que, num passe de mágica, se desencantem e

cumpram o fato estético “o livro aberto e a vida criada”.

A leitura modifica, transforma, porque faz refletir e sonhar.

CONCLUSÃO

Construir indivíduos capazes para serem recebidos na galeria dos

sujeitos e dos cidadãos num processo escolar através do ato de ler foi a pesquisa

proposta pelo projeto.

A Educação escolar hoje é desafiada a desenvolver uma ação mais

ampla do que a de repassar conhecimentos e desenvolver habilidades. A educação

deve objetivar a formação do educando, ajudá-lo a viver plenamente sua vida no

estágio em que se encontra, a ser feliz, a comportar-se socialmente, a dominar os

instrumentos culturais do ambiente e da época em que realiza sua vida, a respeitar

as regras e princípios da vida coletiva, inserir-se na responsabilidade da vida

pública etc.

Cada professor na sala de aula poderia começar a levantar entre as

diversas crianças o conjunto de conhecimentos, experiências, capacidade de

expressão, valores, noções de proporção, reconhecimentos de volumes, formas,

cores, distinção de objetos que as crianças são capazes de estabelecer. E, ao

mesmo tempo, tudo isto pode se incorporar como “produção de saberes”, pois cada

criança poderia estimular outras a conhecer o que ela conhece e deste modo vão

desde o início aprendendo e desenvolvendo a consciência de que o saber é

coletivo, cooperativo etc. Pode-se perceber facilmente que estes conhecimentos

são fundamentais na

formação humana da leitura e escrita e podem ser adquiridos ou desenvolvidos,

ampliados, sem sofrimento moral ou psíquico.

A função crítica do leitor e da leitura na remodelagem do campo das

significações foi o desdobramento necessário do desenvolvimento teórico. Dessa

maneira, a função simbólica que dirige o leitor se funda na possibilidade desejante

do sujeito do inconsciente, que reabre então novos horizontes de significação.

A leitura é um ato do sujeito, mediante a qual o leitor se apropria de um

texto pela produção de sentido, é reconhecer ao mesmo tempo que essa é uma

concepção bastante tardia de leitura do ponto de vista histórico, pois implicou a

constituição da modernidade e o seu contraponto que foi o surgimento da função

crítica. Portanto, foi apenas nesse contexto histórico que o sujeito pôde passar a

transformar o real pela leitura, pelo acesso que passou a ter à função crítica, e ao

mesmo tempo pôde-se dizer literalmente pelo ato de leitura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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A N E X O S