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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A LEITURA NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
HELOÍSA HELENA RAMOS PEREIRA
ORIENTADOR: Prof. Robson Materko
Rio de Janeiro Dezembro/2001
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A LEITURA NA CONSTRUÇÃO
DA CIDADANIA
HELOÍSA HELENA RAMOS PEREIRA
Trabalho monográficoapresentado como requisitoparcial para a obtenção doGrau de Especialista emDocência do Ensino Superior(Pós-Graduação Lato Sensu)
Rio de Janeiro Dezembro/2001
A Deus, por permitir a minha caminhada, em cada passada minha, Ele sempre presente.
A minha família, em especial as minhas filhas e ao meu marido, por aceitarem as ausências, as impaciências e o não cumprimento das minhas atribuições de mãe e esposa.
Às amigas Fátima Naane e Eurídice, pelo companheirismo e pelo amor fraterno que sempre tiveram por mim.
À amiga Joana Darc, grande fomentadora das minhas idéias.
Aos meus pais, que supriram, com paciência, obstinação e amor todas as minhas necessidades materiais e espirituais.
Dedico este ensaio a todos oscolegas missionários, responsáveispela formação do “Ser”, umaformação integral: corpo, mente eespírito.
“Assim, a formulação de Sartre,de que um livro começa existirnão quando um autor terminasua redação ou quando o editoro encaderna, mas quando oleitor fecha sua última página”. Joel Berman
RE
SUMÁRIO
RESUMO 7
INTRODUÇÃO 9 1. CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA A PARTIR DA IMPORTÂN-
CIA DO ATO DE LER 11
2. LEITURA INTERDISCIPLINAR EXIGÊNCIAS PARA A CONS- TRUÇÃO DA CIDADANIA 15
3. A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER COMO PROCESSO ATIVO 20 4. PERSPECTIVAS DA LEITURA NO ATO DE LER COM PRAZER 24 CONCLUSÃO 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 29 ANEXOS 30
RESUMO
A importância do ato de ler na construção da cidadania visa buscar
fatores que comprovem o valor do ato de ler, induzindo a percepção crítica,
interpretação, re-escrita do lido.
O trabalho, apresentado, mostrou o processo do ato ativo da leitura e a
interdisciplinaridade com o objetivo da construção do cidadão, portanto o homem se
reestrutura, se organiza e se reveste de valores e conhecimentos que vão lhe
respaldar para o exercício da cidadania.
A metodologia utilizada foi o método dedutivo e pesquisas bibliográficas.
O trabalho monográfico foi calcado no desenvolvimento da idéia do ato de
ler voltado para a construção da cidadania, a interdisciplinaridade e suas exigências
para formação do cidadão, a leitura como processo ativo mostrando que o indivíduo
que lê, interpreta, questiona consegue estabelecer julgamentos do que pode e deve
fazer exercendo dessa forma a total cidadania.
INTRODUÇÃO
Motivado pelo mérito do tema, após leituras de livros e artigos e sabendo
que o conhecimento é uma fonte de poder e, acima de tudo, uma fonte de
sobrevivência; justifica-se aqui, a importância desta monografia, visando buscar
dados que comprovem o valor do ato de ler, que implica, sempre a percepção crítica,
interpretação, re-escrita do lido. É entendido como processo e não como passivo, e
supõe; portanto, a interdisciplinaridade para construção de uma consciência cidadã.
Na presente monografia mostraremos a importância de que quem lê,
interpreta e questiona exerce concomitantemente a plena cidadania e que a leitura
interdisciplinar completa com sua composição de saberes formando o cidadão no todo
do seu ser.
Através da leitura interdisciplinar que o homem se reestrutura, reorganiza e
acaba se revestindo de valores e conhecimentos que vão lhe respaldar para o
exercício pleno da cidadania.
O ato de ler e escrever em busca de novos caminhos tem como meta para
cativar e incentivar o leitor da leitura, buscar prazer no ato de ler e resgatar assim sua
essência e criação.
O método APUC (Aprimoramento da Linguagem e da Criação) foi criado
com o objetivo de aperfeiçoar o desempenho lingüístico do aluno tanto em sua
modalidade escrita, como oral.
Para atingir a meta desejada foi lançado mão dos mais variados recursos
como: jogos, brincadeiras, dinâmicas, música, textos... com o intuito de desenvolver a
estruturação lógica do raciocínio, despertar e aguçar a sensibilidade, estimulando o
ato criador.
O despertar da criatividade depende apenas de uma estimulação
adequada tanto para adultos como crianças.
1 – CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA A PARTIR DA IMPORTÂNCIA DO ATO DE
LER
A construção do cidadão começa a partir da sua percepção do mundo que
se encontra à sua volta desde a sua infância e do outro lado os valores, crenças,
gostos e receios do universo da linguagem familiar. A leitura
construída a partir do mundo social da vivência da criança leva o cidadão a re-criar,
reviver a leitura na sua essência.
Todo o conhecimento através de textos oferecidos aos alunos pelos
professores passam a ter significado no contexto geral da gramática, isto porque, o
papel importante do professor é o de engajar o texto no mundo social do aluno,
fazendo com que ele perceba as diferenças e não deixe a riqueza do texto se esvair
pelos dedos, o papel do mestre neste momento é de fundamental importância, é a
procura do referencial do ser e sua significação profunda.
A quantidade de leituras sem o devido controle de que os textos oferecidos
para leitura sejam compreendidos massacram os alunos e não levam a eles riquezas
da importância da leitura e escrita.
A leitura crítica da realidade, se dá num processo de alfabetização ou não
e é associada a certas práticas claramente políticas de mobilização e de organização,
As reflexões em torno da importância do ato de ler, que implica sempre percepção
crítica, interpretação e re-escrita do lido, está em consonância com a forma de ser e
com o que o indivíduo pode fazer.
Do ponto de vista crítico, é tão impossível negar a natureza política do
processo educativo quanto negar o caráter educativo do ato político. Todo partido
político é sempre educador e, como tal, sua proposta política vai ganhando atos de
denunciar e anunciar.
A educação burguesa, começou a se constituir, historicamente, muito antes
mesmo da tomada do poder pela burguesia.
Na medida em que compreendemos a educação, de um lado, reproduzindo
a ideologia dominante, mas, de outro, proporcionando, independentemente de
intenção de quem tem o poder, a negação daquela ideologia pela confrontação entre
ela e a realidade, realidade vivida pelos educandos e pelos educadores, percebemos
a inviabilidade de uma educação neutra. O fato de não ser o educador um agente
neutro não significa, necessariamente, que deve ser um manipulador. Enquanto
educadores é nosso dever aclarar, assumindo a nossa opção, que é política, e
sermos coerentes com ela, na prática.
O educador, como quem sabe, precisa reconhecer, primeiro, nos
educandos em processo de saber mais, ou sujeitos, com ele deste processo e não
pacientes acomodados; segundo, reconhecer que o conhecimento não é um dado aí,
algo imobilizado, concluído, terminado, a ser transferido por quem o adquiriu a quem
ainda não o possui.
A neutralidade da educação, modela as almas e recria os corações, ela é a
alavanca das mudanças sociais.
Desde o começo, na prática democrática e crítica, aleitara do mundo e a
leitura da palavra estão dinamicamente juntas. A sua leitura do real, contudo,
não pode ser a repetição mecanicamente memorizada da nossa maneira de ler o real.
Se assim fosse, estaríamos caindo no mesmo autoritarismo tão criticado.
A transformação social é percebida como processo histórico em que
subjetividade e objetividade se prendem dialeticamente. A alfabetização como ato de
conhecimento, como ato criador e como ato político é um esforço de leitura do mundo
e da palavra.
O acreditar nas massas populares é renunciar e rejeitar a esperteza e
caminhar até os oprimidos. O desrespeito da linguagem dos grupos populares leva a
uma visão de mundo anti-democrático.
Com um trabalho histórico da área dimensionada, como entrevistas com os
moradores mais antigos, como testemunhos presentes, formaríamos em pouco tempo
a história da área e assim possibilitando aos nossos educandos uma forma mais fácil
de serem alfabetizados, através de folhetos, com respeito total a linguagem local.
Educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo
neoliberal, reconhecendo que a História é um tempo de possibilidades. Portanto, toda
a curiosidade de saber exige uma reflexão crítica e prática, de modo que o próprio
discurso teórico terá de ser aliado à sua aplicação prática.
Ensinar é algo de profundo e dinâmico onde a questão de identidade
cultural que atinge a dimensão individual e a classe dos educandos, é essencial à
prática educativa progressista. Portanto, torna-se imprescindível solidariedade social
e política para se evitar um ensino elitista e autoritário como quem tem o exclusivo do
saber articulado.
Educar não é a mera transferência de conhecimentos, mas sim
conscientização e testemunho de vida, senão não terá eficácia.
“O educador que ‘castra’ a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, domestica. A autonomia, a dignidade e a identidade do educando tem de ser respeitada, caso contrário, o ensino tornar-se-á, palavreado vazio e inoperante”.(Freire, 1997, p.69)
Aprender é uma descoberta criadora, com abertura ao risco e à aventura
do ser, pois ensinando se aprende e aprendendo se ensina.
A esperança e o otimismo na possibilidade da mudança são um passo
gigante na construção e formação científica do professor que deve coincidir com sua
retidão ética.
Para se resolver a prática educativa consciente os educadores deverão ter
sempre em mente: a rigorosidade metódica e a pesquisa, a ética e estética, a
competência profissional, o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento
da identidade cultural, a rejeição de toda e qualquer forma de discriminação, a
reflexão crítica da prática pedagógica, o saber dialogar e escutar, o querer bem aos
educandos, o ter alegria e esperança, o ter liberdade e autoridade, o ter curiosidade e
o ter a consciência do inacabado. Estes princípios básicos levam educando e
educadores a uma transformação que lhes garanta o direito a autonomia pessoal na
construção de uma sociedade democrática que a todos respeita e dignifica.
2 - LEITURA INTERDISCIPLINAR EXIGÊNCIAS PARA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
Como uma alternativa para a busca de uma visão global sobre o ser
humano e sua conseqüente autonomia no processo de inserção/inclusão social surge
a proposta da interdisciplinaridade.
A interdisciplinaridade vem desde muito tempo sendo discutida. Mas é nos
anos 70 que ela é colocada à frente das discussões, como sendo uma das saídas
para cura de todos os males do mundo. Na França, em 1970 se realizou o 1º
Seminário Internacional sobre Pluridisciplinaridade e Interdisciplinaridade nas
Universidades.
A conceitualização da interdisciplinaridade é uma questão típica deste
século. Acredita-se que Platão tenha sido um dos primeiros intelectuais a colocar a
necessidade de uma ciência unificada, propondo que esta tarefa fosse
desempenhada pela filosofia.
Ainda na Antigüidade, a Escola de Alexandria foi uma das mais antigas que
assumiu um compromisso frente a integração do conhecimento. Por volta de 1561-
1626, Francis Bacon viu a necessidade da unificação do saber.
Desde o século XVII, intelectuais como Descartes, Kant e Comte
buscaram, cada um do seu jeito diferente, uma proposta para estabelecer maiores
parcelas de unificação e interdisciplinaridade.
O século XVIII e o Iluminismo transformaram a Enciclopédia em seu
modelo, uma defesa da unidade e condensação da diversidade de saberes e práticas,
convertendo-a ao mesmo tempo em um instrumento de luta ideológica e expressão
de uma nova atitude intelectual caracterizada por uma rejeição frontal da autoridade
dogmática.
Com o processo da industrialização promovido pelas revoluções industriais
e pelos modelos econômicos capitalistas abre-se caminho para a disciplinaridade do
conhecimento. Com a revolução industrial e a tecnologia surgem, cada vez mais,
novas especialidades e subespecialidades.
Durante a primeira metade deste século constata-se dois momentos
interdisciplinares no campo das ciências sociais. O primeiro momento, entre a 1ª
Guerra Mundial e os anos 30, foi caracterizado pelo empréstimo de técnicas e
instrumentos de pesquisa. No segundo momento, em favor da integração das ciências
sociais, surgem cursos e publicações constituídos com orçamentos interdisciplinares.
Mas a filosofia interdisciplinar ficou mais como rótulo e um slogan do que uma
realidade prática.
Influenciaram também no renascer da interdisciplinaridade concepções
teóricas como marxismo, o estruturalismo, a teoria geral dos sistemas e o
desconstrutivismo.
A interdisciplinaridade implica uma vontade e compromisso de elaborar um
contexto mais geral, aonde cada disciplina em contato é modificada e passa a
depender uma da outra. Ela surge para terminar com a fragmentação que existe nos
sistemas de produção da sociedade capitalista, entre teoria e prática, entre
disciplinas.
Ela está associada ao desenvolvimento de certos traços da personalidade,
como flexibilidade, confiança, intuição, sensibilidade em relação às demais pessoas,
aprender e agir na diversidade. É um processo e uma filosofia de trabalho que entra
em ação no momento de enfrentar os problemas que inquietam em cada sociedade.
A interdisciplinaridade é um objetivo nunca completamente alcançado e,
por isso, deve ser permanentemente buscado. Não é uma proposta teórica, mas
sobretudo uma prática. Acontece no momento da prática, com experiências reais de
trabalhos.
Em um nível mais baixo a interdisciplinaridade, sabemos que hoje há a
multidisciplinaridade, que leva ao nível inferior da integração, pois ocorre quando,
para solucionar um problema, busca-se informações e ajuda em várias disciplinas,
sem que tal interação contribua para modifica-las ou enriquecê-las. A
multidisciplinaridade é a primeira fase para um trabalho interdisciplinar. Ela está ligada
à fragmentação e não trabalha a unificação do saber.
No mundo atual estamos em busca não mais da fragmentação, mas, sim,
da unificação. A interdisciplinaridade se propõe a trabalhar com esta unificação e
integração. É uma filosofia que requer convicção e, o que é mais importante,
colaboração entre tudo e todos. Sendo assim, com a interdisciplinaridade surge cada
vez mais o desejo pela autonomia, pelo respeito. Autonomia não vista no mundo
fragmentado. A pessoa, através de um caminho interdisciplinar tem todos os
subsídios e apoio necessário para alcançar a sua autonomia.
Acreditar na interdisciplinaridade significa defender um novo tipo de
pessoa, mais aberta, flexível, solidária, democrática e crítica. O mundo atual necessita
de pessoas com uma formação mais polivalente para enfrentar uma sociedade que
está sempre mudando e em que o futuro é sempre imprevisível.
A inclusão social é o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder
incluir em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais, a fim de
que, simultaneamente, estas se preparem para assumir seus papéis na sociedade. A
inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas ainda
excluídas buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e
efetivar a equiparação de oportunidades para todos.
Um projeto curricular emancipador destinado aos membros de uma
sociedade democrática, além de especificar os princípios de procedimento que
permitem compreender a natureza construtiva do conhecimento e sugerir processos
de ensino e aprendizagem em consonância com tais princípios deve,
necessariamente, propor metas educacionais e blocos de conteúdos culturais que
possam contribuir da melhor maneira possível com uma socialização crítica dos
indivíduos.
A deficiência nesse contexto, e na sua relação com o ambiente escolar,
encontra apoio na multidisciplinaridade para sua reformulação, ou melhor, para o
reconhecimento desse portador de alguma diversidade para além dessa situação. É a
possibilidade de uma visão de sujeito, político, cidadão e participante.
A desfragmentação concebe um novo ser, a globalização da visão
permitida pela interdisciplinaridade deve rumar para uma concepção maior de
transdisciplinaridade, uma visão onde o respeito, a construção e o saber estão para
além das particularidades, buscando a visão mais integrada e ecológica do ser e do
seu contexto.
3 – A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER COMO PROCESSO ATIVO
O professor é o condutor do processo ele é a autoridade em sala de aula,
onde tem que ser respeitado a autonomia do aluno. O professor precisa saber ver e
compreender o que o aluno está fazendo e muitas vezes esperar o momento
adequado para interferir e auxilia-lo. Então, o professor tem que ter uma atitude de
abertura ao diálogo e de parceria com o aluno.
Neste ambiente o papel do professor deve ser o de mediador da
aprendizagem. O professor precisa compreender o problema do aluno e entender a
sua dificuldade momentânea para intervir no processo. É preciso tentar o nível de
desenvolvimento, de interesses e de necessidades dos alunos para poder colocar
desafios, ou mesmo para fornecer informações que os ajudem a sair da situação de
conflito e a atingir um nível superior de desenvolvimento.
Na verdade, poderíamos utilizar o termo construcionismo, porque o aluno
vai construir, mas construir a partir de ações concretas e de reflexões sobre suas
ações. Ele não sai do concreto para atingir o abstrato. O aluno está sempre
trabalhando numa via de mão dupla entre os dois, integrando-os nas construções. A
metáfora a este trabalho é a postura interdisciplinar. A partir de um projeto pode-se
realizar a integração entre as disciplinas. Para tanto a integração não envolve apenas
conteúdo. Tem que haver integração entre professores, alunos, conteúdos e teorias
de conhecimento. A integração
reveladora de uma postura diante do conhecimento é uma atividade interdisciplinar.
Além disso, alimenta a racionalidade à medida que faz o aluno pensar e descrever a
solução dos problemas. Revela a identidade do sujeito que está trabalhando na
montagem, fazendo com que o professor conheça muito mais o aluno. Com isso,
neutraliza a polarização objetividade-subjetividade, integrando-as e conduzindo-as em
direção à intersubjetividade. Propicia uma mudança nas relações aluno-aluno e
professor-aluno, favorece a integração entre diferentes áreas e sujeitos, o pluralismo
de estilos e de atividades, abrindo espaço para um ensino mais adequado à
multirealidade de nossos dias.
A leitura é um procedimento de captação das idéias apresentadas por um
autor através do uso da escrita. Entende-se, igualmente, que o pensamento
transmitido pela grafia representa, mesmo que com algumas limitações, o mundo
concreto. De fato, como já foi dito, não há possibilidade da existência de uma
expressão dissociada da realidade. Aceitar indicotomizável “escrita-mundo” torna o
ato de ler mais consciente, mais questionador, por conseguinte, muito mais produtivo.
Então, assume-se que a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica
implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
A leitura sensorial tem um tempo de duração e abrange um espaço mais
limitado, em face do meio utilizado para realizá-la – os sentidos. Seu alcance é mais
circunscrito pelo aqui e agora; tende ao imediato. A leitura emocional é mais
mediatizada pelas experiências prévias, pela vivência anterior do leitor, tem um
caráter retrospectivo implícito; inclina-se pois à volta ao passado. Já a leitura racional
tende a ser prospectiva, à medida que a reflexão
determina um passo à frente no raciocínio, isto é, transforma o conhecimento prévio
em um novo conhecimento ou em novas questões, implica mais concretamente
possibilidades de desenvolver o discernimento acerca do texto lido.
O texto, como agente transmissor de idéias sobre a realidade social e natural, é passível de ser entendido das mais diversas formas. O grau de escolaridade, o padrão cultural, a convicção religiosa, o nível sócio-econômico e até a idade do leitor intervêm na compreensão da escrita através do ato de ler. A emissão textual pode, invariavelmente, ser a mesma, mas a recepção da mensagem, necessariamente, é tão diversa quanto à versatilidade dos leitores.
“O texto teórico é expressão humana através da palavra articulada – linguagem. É através dela que expressa a sua vida. E entre os mais variados meios simbólicos de expressão usados pelo, homem, nenhum ultrapassa a linguagem, quer na flexibilidade e no poder comunicativo, quer na importância geral que desempenha. A linguagem molda a visão do homem e o seu pensamento – simultaneamente à concepção que ele tem de si mesmo e do seu mundo (não sendo estes dois aspectos tão separados como
parecem). A própria visão que tem da realidade é moldada pela linguagem”.(Furlan, 1995, p.120).
O ato de ler é também, desde suas origens, e pela linguagem que trabalha
e que a trabalha, e que é social, uma atividade que implica profundamente a
sociabilidade. Mesmo a leitura silenciosa, troca-se, no ato de ler, valores, crenças,
gostos, idéias, que não pertencem apenas ao indivíduo, nem ao que lê, nem ao
que escreveu o texto.
Por isso o complemento ideal da leitura individual é a conversa com
outros leitores, a troca de impressões. Aí se completa o ciclo da leitura que é um
sair de si para tornar a entrar profundamente em si mesmo, sair novamente e
assim por diante. Na troca de idéias sobre os textos lidos nasce uma nova visão do
leitor por ele mesmo, novas representações de si, proporcionando-lhe uma
absorção no espaço privado e num pensamento e intimidade próprios, juntamente
com uma nova visão do texto e da realidade que ele direta, ou indiretamente
discute, num compartilhar, já aí público, de significações.
Levando em conta a dialética do mesmo e do outro, cabe aqui um alerta
aos mediadores da leitura, principalmente aos professores, para o fato de que a
escola pode transformar a leitura numa atividade maçante, atividade puramente
formal para a qual são indiferentes os valores que animam os alunos a ler e a
discutir os textos lidos para relê-los pela visão do outro e se reler nessa releitura.
Pensando na escola como lugar por excelência onde se aprende a ler ou
se arrisca a desaprender para sempre o que foi apresentado, é preciso atentar para
o aspecto de sociabilidade dessa atividade e proporcionar aos alunos
oportunidades para debater o que leram, oportunidade para que tenham a
experiência da pluralidade viva das leituras, não somente em termos de gosto, mas
também e sobretudo, em termos de desafios: os que parecem inscritos no texto, os
que os leitores investem nele. Isto leva o aluno a sensação de ter amadurecido e
aprendido a aprofundar sua própria leitura.
4. PERSPECTIVAS DA LEITURA NO ATO DE LER COM PRAZER
O ato de ler é solitário. Mas nada impede que ele seja um ato social,
porque solidário, gerador de papos produtivos, em torno de um tema que não seja
o lugar comum das notícias diárias, grandes manchetes dos jornais e revistas.
Nada contra a informação, mas a vida não pode se resumir a comentar o último
crime, a última batalha da guerra mostrada na TV, na hora do jantar.
Se é importante a consciência crítica sobre o que se vê, vive, ou ouve,
também é muito importante preservar o espaço para a alegria e o bom humor.
Fazer um programa pessoal de leitura é assumir a responsabilidade pelo
crescimento cultural e espiritual de todos os seus. Mas não acredite que será com
imposições que você conseguirá o seu objetivo.
Prepare-se para motivá-los pelo exemplo pessoal. Ter livros, comprar livros
e ler livros. Não deixe passar um dia sem investir, pelo menos, uma hora em si
mesmo de uma forma tão responsável, como cuida da sua higiene e trabalha para
se manter.
Os resultados serão proporcionais a sua dedicação que, como qualquer ato
físico, dependem de um treinamento continuado que deve ser prazeroso.
A maioria das pessoas não lêem porque o livro é caro e não o
acostumaram a ler.
Na verdade, a grande maioria não lê porque na escola não o ensinaram a
ler, no sentido mais profundo da palavra, ou seja, aprender o que está escrito,
refletir, questionar, “viajar” com um texto.
Obrigar o aluno a ler um livro de literatura com a obrigatoriedade de
responder a um questionário elaborado pelas editoras, para o qual o professor
possui as respostas, também elaboradas previamente, é decretar uma sentença
definitiva: Você nunca será um leitor. Fazer o aluno decorar escolas literárias e
todas as suas características sem nunca ter uma obra sequer de um dos autores
que dela fizeram parte ( o que importa é saber as questões que vão cair em uma
prova) é outro pequeno assassinato que deveria ser severamente punido.
A indústria da educação brasileira, ensina apenas para o aluno passar de
ano. A formação humanística, a compreensão do mundo através de sua história,
não está em questão. A questão é “passar ou passar”, ou seja, competir e ganhar a
corrida para a glória do canudo universitário.
A leitura deveria ser passada para a criança e os adolescentes como uma
busca, uma ação lúdica e prazerosa, que pode perfeitamente substituir com igual
grau de prazer uma ida ao cinema, um dia na praia ou um churrasco no sítio, sem
quaisquer remorso.
Todos aqueles que já descobriram o prazer da leitura, o gosto de elaborar,
ele mesmo, o seu personagem, a sua paisagem, voltar a página e emocionar-se de
novo com aquelas cenas que mais os tocaram, jamais
abrirão mão dessa descoberta. É um vírus que, uma vez contraído, não tem mais
cura. É um não acabar mais de descobrir, uma leitura vai sempre remetendo a
outra e a vida torna-se tão curta para tanto livro a ser lido.
O ato de ler a mesma página de um livro, um mesmo poema que tantos
outros já leram, entra em jogo o nosso poder de imaginar, de recriar, próprio do ser
humano e que os meios de comunicação de massa encarregaram-se de destruir.
Quem possui livros jamais está só. Fazem-lhe companhia os melhores
espíritos da humanidade, encantados em suas páginas, esperando apenas as
mãos que os folheiem, para que, num passe de mágica, se desencantem e
cumpram o fato estético “o livro aberto e a vida criada”.
A leitura modifica, transforma, porque faz refletir e sonhar.
CONCLUSÃO
Construir indivíduos capazes para serem recebidos na galeria dos
sujeitos e dos cidadãos num processo escolar através do ato de ler foi a pesquisa
proposta pelo projeto.
A Educação escolar hoje é desafiada a desenvolver uma ação mais
ampla do que a de repassar conhecimentos e desenvolver habilidades. A educação
deve objetivar a formação do educando, ajudá-lo a viver plenamente sua vida no
estágio em que se encontra, a ser feliz, a comportar-se socialmente, a dominar os
instrumentos culturais do ambiente e da época em que realiza sua vida, a respeitar
as regras e princípios da vida coletiva, inserir-se na responsabilidade da vida
pública etc.
Cada professor na sala de aula poderia começar a levantar entre as
diversas crianças o conjunto de conhecimentos, experiências, capacidade de
expressão, valores, noções de proporção, reconhecimentos de volumes, formas,
cores, distinção de objetos que as crianças são capazes de estabelecer. E, ao
mesmo tempo, tudo isto pode se incorporar como “produção de saberes”, pois cada
criança poderia estimular outras a conhecer o que ela conhece e deste modo vão
desde o início aprendendo e desenvolvendo a consciência de que o saber é
coletivo, cooperativo etc. Pode-se perceber facilmente que estes conhecimentos
são fundamentais na
formação humana da leitura e escrita e podem ser adquiridos ou desenvolvidos,
ampliados, sem sofrimento moral ou psíquico.
A função crítica do leitor e da leitura na remodelagem do campo das
significações foi o desdobramento necessário do desenvolvimento teórico. Dessa
maneira, a função simbólica que dirige o leitor se funda na possibilidade desejante
do sujeito do inconsciente, que reabre então novos horizontes de significação.
A leitura é um ato do sujeito, mediante a qual o leitor se apropria de um
texto pela produção de sentido, é reconhecer ao mesmo tempo que essa é uma
concepção bastante tardia de leitura do ponto de vista histórico, pois implicou a
constituição da modernidade e o seu contraponto que foi o surgimento da função
crítica. Portanto, foi apenas nesse contexto histórico que o sujeito pôde passar a
transformar o real pela leitura, pelo acesso que passou a ter à função crítica, e ao
mesmo tempo pôde-se dizer literalmente pelo ato de leitura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAMBERGER, Richard. Como Incentivar o Hábito da Leitura. São Paulo: Ática, 1996 (Série Educação em Ação). CADERNO DO SIMPÓSIO NACIONAL DE LEITURA. Leitura Saber e Cidadania: Proler: Centro Cultural Banco do Brasil. Rio de Janeiro: 1994, 216p. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: Em três Artigos que se completam. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo; v.4. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 27ª edição, 1992. FURLAN, Vera Irmã. O Estudo de Textos Teóricos. In: Carvalho Maria Celina M. de, Construindo o Saber. São Paulo: Papirus, 1995. PEREIRA, Gil Carlos. A Palavra: Expressão e Criatividade: estudos e produções de textos. São Paulo: Moderna, 1997. RICHE, Rosa. Oficina da Palavra: ler e escrever bem para viver melhor! São Paulo:FTD, 1994 SOUZA, Herbert de e Rodrigues, Carla. Ética e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1995. VIGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. Irad. Jeferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1995. VILLARD, Raquel. Ensinando a Gostar de Ler e Formando Leitores para a Vida Inteira. Rio de Janeiro: Qualitymark ed., 1997.