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Iracema - José de Alencar

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Page 1: Iracema - José de Alencar

IRACEMAIRACEMALenda do CearáLenda do Ceará

JOSÉ DE ALENCARJOSÉ DE ALENCAR

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José de AlencarJosé de Alencar (Mecejana, CE 1829 - RJ 1877)

Patrono da Cadeira 23 da ABL

-1847 volta ao Ceará: cenário de Iracema.

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“(...) Acabava de passar dois meses em minha

terra natal. Tinha-me repassado das primeiras e

tão fagueiras recordações da infância, ali nos

mesmos sítios queridos onde nascera. (...)

desenhavam-se a cada instante, na tela das

reminiscências, as paisagens de meu pátrio

Ceará. (...).”

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- 1856 - Cinco Minutos

- 1857 - O Guarani e A Viuvinha- 1862 - Lucíola - 1864 - Diva

- 1865- Iracema - 1871- O tronco do ipê- 1872 - Sonhos d’ Ouro e Til

- 1874 - Ubirajara

- 1875 - Senhora e O Sertanejo

Obras:

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Iracema e o romance romântico• Prefácio a Sonhos d’Ouro

“A primitiva, que se pode chamar aborígene, são as lendas e mitos da terra selvagem e conquistada; são as tradições que embalaram a infância do povo (...). Iracema pertence a essa literatura primitiva, cheia de santidade e enlevo.”

Literatura Indianista

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O Indianismo antecedentes

Carta de Caminha (1500)

Uraguai – Basílio da Gama (1769)

O Caramuru – Santa Rita Durão (1781)

• Caminha e Durão: selvagem a ser catequizado e incorporado à civilização;

X• Basílio da Gama: dignidade e heroísmo.

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Obras indianistas estrangeiras

1801 - Atala – Chateaubriand

1826 - The last of the Mohicans – James F. Cooper

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Mito do Bom Selvagem

• Jean-Jacques Rousseau– um dos mais importantes pensadores do

séc. XVIII;– 1754: “Discurso sobre as desigualdades

entre os homens”;– ‘homem primitivo’: quanto mais afastado

da civilização, mais próximo desse modelo;

– ‘selvagem’ (índio).

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A idealização do índio

caracterização física:

“Iracema, a virgem dos lábios de mel (...). O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.”

“Quem cria, vê sempre uma Lindóia na criatura, embora as índias sejam pançudas e ramelentas.”

(Amar, Verbo Intransitivo – Mário de Andrade)

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caracterização psicológica:

amor acima de tudo;

transgressão das regras;

amor x autoridade paterna;

amor e morte;

possível modelo: Teresa - de Amor de

Perdição, Camilo Castelo Branco (1862)

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Contradição

• Plano físico:

– traços indígenas

• Plano psicológico:

– modelo das heroínas européias

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Título

• Etimologia:

- nota nº 2 do autor: do guarani ira, mel e tembe, lábios

• Nome arbitrário: livre criação

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Controvérsia sobre o título

• 1929: centenário de Alencar

• Na Revista da ABL: Afrânio Peixoto –

Iracema = anagrama de América

• Problemas:– inquestionável (linguagem);– impossibilidade de comprovação (intenção).

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Subtítulo: ‘Lenda do Ceará’

• Fundação do Ceará

• “(...) uma história, que me contaram nas lindas várzeas onde nasci, à calada da noite (...)”

• Sabor de lenda: “Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.”

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Problema

• Há mesmo essa lenda?

• Advertência em Ubirajara:“Este livro é irmão de Iracema.

Chamei-lhe de lenda como ao outro.”

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Argumento Histórico

• 1603 – Pero Coelho funda Nova Lisboa; – Fracasso: hostilidade dos índios.

• “Na primeira expedição foi um moço de nome Martim Soares Moreno, que se ligou de amizade com Jacaúna, chefe dos índios do litoral e seu irmão Poti. Em 1608, por ordem de D. Diogo de Menezes, voltou a dar princípio à regular colonização daquela capitania”

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• “Jacaúna, que habitava as margens do Acaracu, veio estabelecer-se com sua tribo nas proximidades do recente povoado, para o proteger contra os índios do interior e os franceses que infestavam a costa.”

• “Este é o argumento histórico da lenda (...) para que não me censurem de infiel à verdade histórica.”

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Argumento Histórico X Lenda

Realidade Imaginação

Procura dar credibilidade à lenda

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Espaço e Tempo

• Ceará• começo do séc. XVII

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Narrador• terceira pessoa;

• não é mero observador – intromissão no texto:

juízos de valor;

expressa-se, às vezes, na primeira pessoa.

“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba”    

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A Linguagem

1 – prosa poética

Capítulo I“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros; Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas. (...)”

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Ver-des-ma-res-bra-vi-os (6)

De-mi-nha-ter-ra-na-tal (7)

On-de-can-taa-jan-da-ia (6)

Nas-fron-des-da-car-na-ú-ba (7)

Ver-des-ma-res-que-bri-lha-is (7)

Co-mo-lí-qui-daes-me-ral-da (7)

Aos-ra-ios-do-sol-nas-cen-te (7)

Per-lon-gan-doas-al-vas-pra-ias (7)

Em-som-bra-das-de-co-quei-ros (7)

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2 – Adjetivação e comparações abundantes

“Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.”

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3 – A língua tupi

“O conhecimento da língua indígena é o melhor critério para a nacionalidade da literatura. Ele nos dá não só o verdadeiro estilo, como as imagens poéticas do selvagem, os modos de seu pensamento, as tendências de seu espírito, e até as menores particularidades de sua vida. É nessa fonte que deve beber o poeta brasileiro”

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4 – Autocrítica de Alencar

“(...) noto algum excesso de comparações, repetição de certas imagens, desalinho no estilo dos últimos capítulos.”

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Enredo

1. A partida (Martim, Japi e Moacir)

“Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a

costa cearense, aberta ao fresco terral a grande

vela?”

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2. O encontro (Martim e Iracema)

“Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da

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espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu

na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida.

O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.

O guerreiro falou:

– Quebras comigo a flecha da paz?”

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3. Martim, hóspede de Araquém

Importante: tema da hospedagem; Regras rigorosas; Respeito absoluto a elas.

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4. Relação amorosa

Vestal – religiosidade;

“– Estrangeiro, Iracema não pode ser tua serva. É ela

que guarda o segredo da jurema e o mistério do

sonho. Sua mão fabrica para o Pajé a bebida de

Tupã.”

Apaixona-se por Martim;

Envolve e seduz o guerreiro branco.

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5. Ciúme de Irapuã

Apaixonado por Iracema;

Ódio por Martim;

Desejo de vingança;

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Obrigado a respeitar a hospitalidade de Araquém.

“– Nunca Iracema daria seu seio, que o espírito de Tupã habita só, ao guerreiro mais vil dos guerreiros tabajaras! Torpe é o morcego porque foge da luz e bebe o sangue da vítima adormecida!...

– Filha de Araquém, não assanha o jaguar! O nome de Irapuã voa mais longe que o goaná do lago, quando sente a chuva além das serras. Que o guerreiro branco venha, e o seio de Iracema se abra para o vencedor.

– O guerreiro branco é hóspede de Araquém. A paz o trouxe aos campos do Ipu, a paz o guarda. Quem ofender o estrangeiro ofende o Pajé.”

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6. Confrontos

Martim X Irapuã• Aldeia tabajara: ambiente de revolta;• Martim foge, ajudado por Caubi;• Irapuã persegue e intercepta o fugitivo;• Caubi intercede.

Tabajaras X Pitiguaras• Irapuã retira-se.

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7. Guerra

Tapuitingas + Irapuã X Pitiguaras;

Jacaúna chama Poti e Martim;

Martim parte para a guerra.

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8. Abandono de Iracema

“(...) Poti refletiu: — As lágrimas da mulher amolecem o coração do guerreiro, como o orvalho da manhã amolece a terra. — Meu irmão é um grande sabedor. O esposo deve partir sem ver Iracema. O cristão avançou, Poti mandou-lhe que esperasse: da aljava de setas que Iracema emplumara de penas vermelhas e pretas e suspendera aos ombros do esposo, tirou uma. O chefe pitiguara vibrou o arco; a seta rápida atravessou um goiamum que discorria pelas margens do lago; só parou onde a pluma não a deixou mais entrar.

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Fincou o guerreiro no chão a flecha, com a presa atravessada, e tornou para Coatiabo— Podes partir. Iracema seguirá teu rasto; chegando aqui, verá tua seta, e obedecerá à tua vontade. Martim sorriu; e quebrando um ramo do maracujá, a flor da lembrança, (...)— Ele manda que Iracema ande para trás, como o goiamum, e guarde sua lembrança, como o maracujá guarda sua flor todo o tempo até morrer. A filha dos tabajaras retraiu os passos lentamente, sem volver o corpo, nem tirar os olhos da seta de seu esposo; depois tornou à cabana. Aí sentada à soleira, com a fronte nos joelhos esperou, até que o sono acalentou a dor em seu peito.”

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9. Volta de Martim

Nascimento de Moacir;

Sofrimento e morte de Iracema;

Martim enterra Iracema.

“– Recebe o filho de teu sangue. Era tempo; meus

seios ingratos já não tinham alimento para dar-lhe!

Pousando a criança nos braços paternos, a desventu-

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rada mãe desfaleceu (...) O esposo viu então como a

dor tinha consumido seu belo corpo; mas a formosura

ainda morava nela (...)

– Enterra o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que

tu amavas. Quando o vento do mar soprar nas folhas,

Iracema pensará que é a tua voz que fala entre seus

cabelos.

O doce lábio umedeceu para sempre; o último lampejo

despediu-se dos olhos baços.

Poti amparou o irmão na grande dor. Martim

sentiu

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quanto um amigo verdadeiro é precioso na desventura

(...)

O camucim que recebeu o corpo de Iracema,

embebido de resinas odoríferas, foi enterrado ao pé do

coqueiro, à borda do rio. Martim quebrou um ramo de

murta, a folha da tristeza, e deitou-o no jazigo de sua

esposa. A jandaia pousada no olho da palmeira repetia

tristemente: – Iracema!”

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10. Canto da jandaia e nascimento do Ceará

“Desde então os guerreiros pitiguaras que passavam perto da cabana abandonada e ouviam ressoar a voz plangente da ave amiga, afastavam-se com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia. E foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio.”

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11. Quatro anos depois...

Martim volta com o filho e um padre;

Encontro com Poti;

Conversão de Poti: batizado católico;

Martim, Camarão e Albuquerque partem

para o Mearim: expulsão do branco tapuia.

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“Poti foi o primeiro que ajoelhou aos pés do sagrado

lenho; não sofria ele que nada mais o separasse de

seu irmão branco. Deviam ter ambos um só Deus,

como tinham um só coração.

Ele recebeu com o batismo o nome do santo, cujo

era o dia; e o do rei, a quem ia servir, e sobre os

dois o seu, na língua dos novos irmãos. Sua fama

cresceu e ainda hoje é o orgulho da terra, onde ele

primeiro viu a luz. (...)

Jacaúna veio habitar nos campos da Porangaba

para estar perto de seu amigo branco; Camarão

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erguera a a taba de seus guerreiros nas margens da

Mecejana.

Era sempre com emoção que o esposo de Iracema

revia as plagas onde fora tão feliz, e as verdes

folhas a cuja sombra dormia a formosa tabajara.

Muitas vezes ia sentar-se naquelas doces areias,

para cismar e acalentar no peito a agra saudade.

A jandaia cantava ainda no olho do coqueiro; mas

não repetia já o maviosos nome de Iracema.

Tudo passa sobre a terra.”

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Personagens Iracema

Filha de Araquém (pajé); Virgem sagrada; Forte, sedutora, mas submissa; Heroína trágica; Espírito harmonioso e romântico da

floresta virgem americana.

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Martim Guerreiro branco: colonizador europeu; Segundo autor: “procedente de Marte”; Amigo dos pitiguaras; Nome indígena: Coatiabo, "guerreiro pintado“ -

“Tinha nas faces o branco das areias, nos olhos

o azul triste das águas e os cabelos da cor do

sol.”

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Moacir Filho de Iracema e Martim;

Filho do sofrimento: de moacy, dor e ira, saído

de;

Símbolo e metonímia: cearense; brasileiro.

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Poti Herói pitiguara; “Irmão” de Martim; Personagem histórico.

Caubi

Irmão de Iracema;Não guardou rancor da irmã, indo visitá-la no

exílio.

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Irapuã Chefe dos tabajaras; Ciumento e corajoso; Apaixonado por Iracema; Seu nome significa "mel redondo".

Jacaúna

Irmão de Poti e chefe dos pitiguaras; Seu nome significa "jacarandá-preto".

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Iracema: um tema permanente

Literatura de cordel; Música popular (Chico Buarque, Eduardo Dusek); Cinema (Carlos Coimbra, Bodanski);

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Iracema no imaginário nacional

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Ecos de Iracema “A Morte de Tapir”, Olavo Bilac.

“Pau-Brasil” e Antropofagia, Oswald de Andrade;

Macunaíma, Mário de Andrade;

Cobra Norato, Raul Bopp;

Martim Cererê, Cassiano Ricardo;

Maíra, Darcy Ribeiro.

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Iracema voou Para a América Leva roupa de lã E anda lépida Vê um filme de quando em vez Não domina o idioma inglês Lava chão numa casa de chá

Tem saído ao luar Com um mímico Ambiciona estudar Canto lírico Não dá mole pra polícia Se puder, vai ficando por lá Tem saudade do Ceará Mas não muita Uns dias, afoita Me liga a cobrar: – É Iracema da América

Iracema voouChico Buarque,1998.