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IRACEMA JOSÉ DE ALENCAR ESTUDOS E ANÁLISES PROFESSORA FERNANDA PANTOJA

Iracema josé de alencar

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IRACEMA JOSÉ DE ALENCAR

ESTUDOS E ANÁLISES

PROFESSORA FERNANDA PANTOJA

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Durante uma caçada o jovem europeu Martim Soares Moreno se perde de seus companheiros, os índios pitiguaras, e se põe a caminhar sem rumo durante três dias. No interior das matas pertencentes à tribo dos tabajaras depara-se com a índia Iracema. Surpresa e amedrontada pela presença do homem, Iracema o fere no rosto com uma flechada. Martim não reage. Arrependida, a índia corre até Martim e ofereceu-lhe hospitalidade em sua tribo, quebrando com ele a flecha da paz.

Martim é recebido na cabana de Araquém, pai de Iracema. Ao cair da noite, o pajé deixa seu hóspede sozinho para que ele possa ser servido pelas mais belas índias da tribo. O jovem branco estranha que entre elas não esteja a bela Iracema, a qual lhe explica que não poderá servi-lo porque era quem conhecia o segredo  da jurema, bebida mágica, preparada por ela.

Naquela noite, os tabajaras recepcionavam festivamente seu grande chefe Irapuã, vindo para comandar a luta contra os inimigos pitiguaras. Aproveitando a escuridão, Martim resolve ir embora. Ao penetrar na mata, surgi-lhe à frente Iracema. Visivelmente magoada, ela lhe pergunta se alguém de sua tribo lhe fizera mal, para ele fugir desta maneira. Percebendo sua ingratidão, Martim se desculpa. Iracema pedi-lhe que para partir, este espere a volta de seu irmão Caubi, que era grande conhecedor dos caminhos nas matas. O guerreiro branco volta com Iracema e dormi sozinho na cabana.

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Na manhã seguinte, instigados por Irapuã, os tabajaras se prepararam para a guerra contra os pitiguaras, que permitiam a entrada de brancos na tribo. Martim vai passear com Iracema. Ele fica triste e ela lhe pergunta se eram saudades da noiva, que deixara para trás em sua terra distante. Martim nega, e a índia lhe dá gotas de uma bebida que ela preparou. Após tomá-las, Martim adormece e sonha com Iracema; inconsciente, profere o nome da índia e a abraça. Ela se deixa abraçar e os dois se beijam. Quando Iracema se afasta, aparece Irapuã, que declara seu amor à assustada jovem e ameaça matar Martim. Diante da recusa dela, Irapuã se vai ainda mais apaixonado. Apaixonada, porém, já estava Iracema por Martim que começa a temer pela vida dele.

Na manhã seguinte, Martim percebe Iracema triste, ao anunciar que ele poderia partir logo. Para fazê-la voltar à alegria, ele disse que ficaria e a amaria. Mas a índia lhe informa que quem se relacionasse com ela morreria, porque, por ser filha do pajé, guardava o segredo da Jurema e por isto era proibida de ser feita mulher de qualquer homem. Ambos sofrem com a idéia da separação.

Martim parti triste seguindo Caubi, acompanhado por Iracema, também triste. Despedem-se com um beijo e Martim continua sua caminhada somente com Caubi. Irapuã, à frente de cem guerreiros, cerca os caminhantes para matar Martim. Caubi se opõe e solta um grito de guerra, que é ouvido na cabana por Araquém e Iracema. Esta corre e assisti à cena; Irapuã ameaçava Martim, que se mantinha calmo. A moça tenta convencê-lo a fugir mas  ele não aceita a idéia, resolvendo enfrentar Irapuã. Caubi provoca o enciumado guerreiro para lutar com ele.

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Quando Irapuã e Caubi começam a luta, ouviu-se o som de guerra dos pitiguaras, que vinham atacar os tabajaras. Chefiados por Irapuã, os índios correm para enfrentar o inimigo. Só Iracema e Martim não se movem.

Como não encontram os pitiguaras ,provavelmente escondidos na mata, Irapuã acha que o grito de guerra foi uma estratégia  usada por Iracema para afastá-lo de Martim. Então vai a cabana de Araquém atrás dele. Protegendo seu hóspede, o velho pajé ameaça matar Irapuã caso este resolva levantar a mão contra Martim. Para afastá-lo, Araquém provoca o ronco da caverna que os índios acreditavam ser a voz de Tupã quando discordava do que acontecia. Esse ronco era  na verdade, um efeito acústico que Araquém forjava para controlar a tribo. Mediante isso, Irapuã se afasta.

No silêncio da noite, ouvi-se na cabana de Araquém um grito semelhante ao de uma gaivota. Iracema diz ser este o sinal de guerra dos pitiguaras. Martim reconhece o som que emitia seu amigo Poti. Iracema fica amedrontada porque conhecia a fama da bravura de Poti. Este vinha  para libertar seu amigo.

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A moça fica triste, mas garanti fidelidade a Martim, mesmo à custa da morte de seus irmãos de raça. Martim a tranqüiliza, afirmando que fugiria para evitar o combate. A índia vai procurar Poti para lhe dizer que Martim irá com ele, escondido, a fim de evitar o conflito das tribos inimigas. Antes de ir, ela escuta do pai, em segredo, a recomendação de que, se os comandados de Irapuã viessem matar Martim, ela o escondesse no subterrâneo da cabana, vedado por uma grande pedra. Não era prudente Martim afastar-se às claras porque poderia ser seguido.  Aparece então Caubi para alertar a irmã e a Martim de que os tabajaras pretendiam matá-lo. Iracema pede ao irmão que levante a pedra para ela e Martim possam ir para o esconderijo e que este fique de guarda.

Irapuã chega à porta da cabana, acompanhado de seus subordinados, todos bêbados, e discuti com Caubi. Nesse momento, ressoa o trovão de Tupã. Irapuã dessa vez não se acalma. Ressoa mais uma vez o trovão, e os índios entendem que esta é uma ameaça de Tupã. Cercam seu o chefe e o levam de lá, acobardados.

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No interior da caverna, Iracema e Martim ouvem a voz de Poti, embora sem vê-lo. Ele lhes declara que estava vindo sozinho para levar Martim, seu irmão branco. Fica combinado que Martim fugiria ao encontro de Poti só na mudança da lua, ocasião em que os tabajaras estariam em festa e assim ficaria mais fácil de enganar os olhos do irado Irapuã.

À noite, na cabana, estando ausente Araquém, Martim fica ao lado de Iracema. Desejava-a profundamente, mas ela era proibida. Pede a índia que traga vinho para apressar o sono. Dorme e sonha com Iracema, chamando-a e ela corre a seu encontro. Ainda dormindo, sonha que se abraçam, sendo que Iracema o abraçou de verdade. Na manhã seguinte, Martim se afasta da moça, dizendo que só poderia tê-la em sonho. Ela guarda o segredo do abraço real durante a noite e vai banhar-se no rio. Mal sabia Martim que Iracema acabava de perder sua virgindade.

Quando a lua aparece, os tabajaras se reúnem em torno do pajé, levando-lhe oferendas. Iracema dirigi-se à cabana do pai para buscar Martim e conduzi-lo até o amigo Poti que o aguardava escondido a fim de levá-lo. Iracema os acompanha até o limite das terras tabajaras. Quando Martim pede para que esta retorne, ela lhe revela que não poderá fazer isso, porque já era sua esposa. Surpreso, Martim fica então sabendo que tinha sido realidade o sonho. Ao escurecer, interrompem a caminhada e Martim passa a noite com a esposa. Ao raiar da manhã, Poti, preocupado, os chama, alertando que os tabajaras já estavam no seu encalço. Martim pedi que Poti leve Iracema e o deixe só, pois ele merecia morrer.

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O amigo diz que não o largará. Iracema apenas sorri e continua com eles.

Irapuã e seus comandados chegam ao local onde estavam os fugitivos. Chegam também os pitiguaras, sob a chefia de Jacaúna. Trava-se o combate. Jacaúna atacou Irapuã. Caubi, agora com raiva do raptor de sua irmã, ataca Martim, mas, a pedido de Iracema, o branco se defende, pois ela avisa que se Caubi tivesse que morrer, isso aconteceria pelas mãos dela.  Martim deixa Caubi por conta de Poti, e enfrenta Irapuã, afastando Jacaúna. A espada de Martim se quebra. Quando Irapuã avança contra o banco desarmado, Iracema joga-se contra o chefe e o impede de prosseguir a luta. Nesse instante, ouve-se o canto de vitória: Jacaúna e Poti haviam vencido. Os tabajaras fogem, levando Irapuã humilhado com eles. Iracema chora ao ver seus irmãos de raça mortos.

Poti retorna à sua taba feliz por ter salvado o irmão branco. Iracema fica triste por estar na tribo inimiga de seu povo. Martim resolve então procurar um lugar afastado para os dois morarem. Poti faz questão de acompanhá-los. Acham um local apropriado.

Na nova rotina, Poti e Martim caçam e procuram aventuras enquanto Iracema passeia pelos campos e arruma a cabana, sempre na expectativa da volta de Martim. Grávida, aguardava a hora do parto e já não sentia mais contrariedade por ter saído de sua nação. Martim é introduzido na tribo pitiguara adotando o nome de Coatiabo.

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Com o passar do tempo, Martim começa a entrar em depressão. Iracema já não o fascinava. Ele agora vivia mais afastado, tomado por lembranças do passado em sua terra natal. Fitava as embarcações no mar, sem dar muita atenção à índia.

Certo dia Poti é convocado para a guerra: brancos haviam se aliado a Irapuã para combater os pitiguaras. Martim faz então questão de ir com o amigo.

Os dois guerreiros partem sem se despedir de Iracema. Poti finca no chão uma flecha de Martim e atravessa nela um goiamum que ele acabara de abater, sabendo que a índia, ao ver a seta daquele jeito, entenderia o sinal de que o esposo havia partido. Martim entrelaça nela uma flor de maracujá. Quando Iracema vai se banhar vê a flecha, e entende seu significado. Volta triste e chorosa para a cabana. Os  dias passam. Numa manhã, Iracema ouve o som da jandaia que a acompanhava quando morava entre os seus. Comove-se, arrepende-se de havê-la deixado para trás e de novo a torna sua amiga de todas as horas.

Os dois guerreiros retornam da batalha, vitoriosos. Martim e Iracema se amam como no início de seu relacionamento. Aos poucos, porém, ele volta a se isolar, olhando para os horizontes com saudade de sua gente. Iracema se afasta também triste. Martim nega que tenha saudade da namorada branca que deixara em sua terra, mas a tristeza de Iracema cresce cada vez mais porque ela não acreditava nele.

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Um dia, aparece no mar, um navio dos guerreiros brancos que vinham para aliar-se aos tupinambás na luta contra os pitiguaras. Poti e Martim armam uma estratégia de defesa. Escondem seus guerreiros e atacam os inimigos de surpresa. Segue mais uma vitória.

Enquanto Martim combate, Iracema tem o filho sozinha e lhe dá o nome de Moacir, filho da dor.

Certa manhã, ao acordar, vê à sua frente o irmão Caubi, que, saudoso, vinha visitá-la, trazendo paz. Admira a criança, porém surpreende-se com a profunda tristeza da irmã, que pede a ele que volte para junto de seu pai, velho e sozinho.

De tanto chorar, Iracema perde o leite para amamentar o filho. Vai à mata e dá de mamar a alguns cachorrinhos. Eles ao sugarem seus seios arrancam o leite copioso que ela desejava para voltar a amamentar. A criança agora é nutrida, mas a mãe perdera o apetite e as forças, por causa da depressão.

Findo o combate, Martim, volta apreensivo: como estaria Iracema? E o filho?  Estava ela, à porta da cabana, no limite extremo da debilidade. 

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Só teve forças para erguer o filho e apresentá-lo ao pai. Em seguida, desfalece e não mais se levanta da rede. Suas últimas palavras foram o pedido ao marido de que a enterrasse ao pé do coqueiro que ela tanto amava. O sofrimento de Martim é enorme, porque seu grande amor pela esposa retornara revigorado pela paternidade. O lugar onde se enterrou Iracema veio a se chamar Ceará.

Martim volta para a Europa, levando seu  filho. Quatro anos depois retorna ao Ceará, onde implanta a fé cristã com a ajuda de  Poti que  tornara-se cristão e continua fiel amigo. Os dois ajudam o comandante Jerônimo de Albuquerque a vencer os tupinambás e a expulsar o branco tapuia. Às vezes Martim revia o local onde fora feliz e se doía de saudade. A jandaia permanecia cantando no coqueiro, onde Iracema fora enterrada. Mas a ave não repetia mais o nome da índia. "Tudo passa sobre a terra."

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Características importantes da obra

·Romance em prosa ·Representa um momento histórico:

colonização do Ceara (1606) ·Ufanista e indianista ·Representação da miscigenação das

raças: se da através do romance entre Iracema e Martim (metáfora ou alegoria)

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Pontos relevantes da obra

A felicidade primitiva dos selvagens sendo perdida pela colonização

A idéia do bom selvagem O amor da índia pelo estrangeiro A morte da heroína O exótico, a paisagem A velha civilização européia em oposição ao novo

mundo

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Elementos épicos:

São narrados feitos heróicos dos portugueses na figura de Martim;

Presença dos deuses indígenas; Transformação de Iracema em heroína;

Elementos líricos:

Iracema é a típica heroína romântica que sofre e adoece de saudade pelo amado que partiu. Toda força poética do livro se vale dessa relação amorosa.

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Foco narrativo:

Obra em terceira pessoa. Os personagens são caracterizados de acordo com seus comportamentos e sentimentos. Às vezes, o narrador arrebatado revela-se em primeira pessoa.

O Indianismo

Chamada “poesia americana” valia-se da natureza, da historia, de cenas e costumes nacionais. Valorizava e idealizava o indígena.

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Personagens principais:

·         Iracema - filha de Araquém, velho pajé da tribo, tinha sua virgindade consagrada a uma divindade por guardar o segredo da jurema (bebida mágica utilizada nos rituais). Forte, sedutora porem submissa. Heroína trágica.

·         Martim - o colonizador europeu, amigo dos pitiguaras tribo inimiga dos tabajaras. Apaixona-se por Iracema.

·         Moacir - filho de Iracema e Martim, representante da miscigenação das raças. É o” filho da dor “ ou “filho do sofrimento”.

·         Poti - herói dos pitiguaras, amigo fiel de Martim que o considera como irmão.

·         Irapuã - chefe dos tabajaras, apaixonado por Iracema. É ciumento, arrebatado e corajoso.

·         Caubi - irmão de Iracema. Conhecedor dos caminhos da floresta. Não guardou rancor da irmã indo visitá-la no exílio.

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Síntese da fabula do livro

·         A desorientação do fidalgo português perdido em matas inimigas

·         O surpreendente encontro com a índia ·         A hospitalidade do selvagem ·         O ciúme do guerreiro ·         O abandono da tribo, a morada dos dois no

exílio ·         A nostalgia de Martim por sua terra natal ·         A tristeza de Iracema com a mudança

inesperada do amado ·         O nascimento de Moacir, filho da dor ·         A morte de Iracema

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Características românticas em Iracema

Escapismo Por vezes os personagens perdem-se em lembranças, devaneios e visitam

outros lugares e situações em pensamento. Existem grades momentos de fuga da realidade.

Consciência da solidão A solidão é grande marca no romance, principalmente a da personagem

Iracema. Ela é a causadora principal do definhamento da personagem que se sente abandonada por Martim com o passar do tempo.

Sonho A própria bebida que Iracema prepara e serve aos companheiros leva-os a

um estado de alucinação e sonho de vitórias e alegrias para sua tribo.

Senso do mistério O novo mundo, o exótico, os caminhos desconhecidos e a própria mulher

indígena que se apresenta ingênua e sedutora constituem uma aura de mistério para o personagem Martim que passa a penetrar e sondar tudo isto.

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Fé A Fé é demonstrada em duas etapas no romance: a primeira é a

fé indígena nos ritos, na submissão e respeito aos deuses, e na própria condição de vida da Iracema que se submete por um longo tempo a um desígnio determinado pela crença de seu povo. Na segunda parte a fé cristã vem à tona com a proposta de implantação desta por Martim.

Ilogismo O maravilhoso na fuga de Iracema e Martim para o exílio

constitui demonstração de fato ilógico, mas que poeticamente embeleza e enriquece a trama.

Culto da natureza/importância da paisagem A natureza brasileira é o pano de fundo de todo o enredo do

Romance. Suas belezas são exaltadas e descritas a todo o momento. As metáforas e símiles ocorrem em profusão utilizando esses recursos. A própria heroína é ligada a esta natureza em todas as suas descrições, principalmente físicas. Trata-se este assunto de um dos pontos principais da obra.

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Retorno ao passado A nostalgia, as lembranças e toda uma vivencia de um passado são

características ligadas ao personagem Martim que lembra constantemente de sua terra natal e de sua vida na civilização. Por vezes torna-se amuado e perdido na saudade que o leva ao desejo de ver os seus e de ter novamente a vida na Europa. É o homem que deixa a sua terra, porem não a esquece, entristecendo-se por isto.

Exagero Fatos aumentados, feitos gloriosos, imensidões e distâncias,

elementos naturais exuberantes e estranhos, tudo constitui um exagero proposital aumentando assim o impacto da história. Até os sentimentos das personagens são intensos e grandiosos.

Sentimentalismo O sentimentalismo da personagem Iracema é exagerado,

carregado, cheio de expectativas, ilusões e idealizações que descambam com o passar do tempo e com as frustrações vividas numa terrível depressão. Sua personalidade se guia por toda um a postura sentimental e romântica que não enxerga mais nada a não ser pelos olhos do amor que é o sentimento que tanto destrói, quanto sublima a personagem.

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Idealização Todo o Romance passa pelo filtro da idealização: o

indígena é idealizado pelo comportamento bondoso e civilizado, o europeu por seus feitos grandiosos e capacidade de estabelecimento de laços perfeitos com os selvagens, a mulher representada pro Iracema que é bela, perfeita e intocada, a natureza riquíssima e sedutora produzindo um cenário misterioso e convidativo. A própria historia é idealizada trazendo como uma das principais características românticas este ponto.

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A nostalgia de Martim

A princípio a experiência na nova terra é excitante. Mundo novo, paisagem exótica e exuberante, a sensação do desbravamento e aventura diante do desconhecido.

Martim penetra num aterra completamente diferente a sua e isto o fascinava. A hospitalidade do povo indígena, aliada a submissão a sua figura são só outros pontos que favorecem seu contentamento com tudo de novo que se apresenta. A felicidade culmina com o encontro com a índia tabajara Iracema, a mais bela filha de Tupã.

A beleza da virgem o fascina e perturba e pouco tempo se da ate o enlace definitivo dos dois. Iracema renega a ordem a que devia se submeter e se entrega a Martim tornando-se assim sua esposa. Por tratasse de romance proibido o dois tem de isolar-se, e o que para Iracema romântica e ingênua, parece o início de um sonho, para Martim tem início um processo de inquietação, cansaço e nostalgia.

Martim com o passar do tempo se farta da vida de amor. Ele deseja mais do que aquilo, quer a ação, a conquista e o contato com o outro. Apesar de todo o amor inicial ele caba por cansar-se de Iracema. Sua presença e toda a sua entrega, já não o preenchem mais. Ele se lembra de sua terra, da sua gente e de da vida que tinha na Europa.

O desejo brota em seu pensamento e o atormenta e mesmo tentando disfarçá-lo para a mulher, não o consegue. Aos poucos se isola e se farta evitando o contato com Iracema que se ressente com a mudança do marido.

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A tristeza de Iracema

Iracema é a personificação da heroína romântica: sonha, idealiza, entrega-se, sofre e por fim sucumbi de amor. Ela quer exclusividade, quer atenção, demonstrações de carinho e desejo. Deseja que o europeu abandone e esqueça tudo como ela fez. Por vezes ao longo da historia, questiona o amado sobre a vida na civilização e pergunta pela mulher que possivelmente deixou á sua espera. Apresenta ciúmes mesmo sem ter motivos concretos para que possa causá-los. A insegurança sonda-lhe por todo o enredo. Isto e todo o marasmo da vida pacata a dois acabam por fim afastando Martim.

Iracema ao perceber as atitudes do amado não consegue se conformar e sofre entrando num processo de dor e melancolia profunda do qual não consegue sair mais. A saudade do amado que a abandona atrás de batalhas e aventuras é o estopim de toda a tristeza acumulada por meses no exílio.

Iracema tem um filho de Martim, dando-lhe o nome de Moacir “filho da dor”. Só resiste até o momento em que pode entregar a criança ao pai. A dor e a saudade enfraqueceram-na e não suportando mais sucumbi, abandonando assim a vida, o filho e o grande amor de sua vida.

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A construção da amizade de Martim e Poti

Neste belo romance “épico-lírico” de José de Alencar é narrado mesmo de forma romantizada o processo de colonização do Brasil. Martim é o jovem fidalgo português que se alia assim como seus amigos, a uma nação indígena, a dos pitiguaras. Lá, prontamente torna-se intimo dos índios chegando ao ponto de comandar ações de guerra contra os inimigos da tribo ao lado de Poti , irmão Jacaúna, chefe da tribo. A amizade de Martim e Poti ultrapassa o simples sentimento de aliados em batalhas, transformando-se em um a irmandade. Poti acompanha Martim ate mesmo no exílio com Iracema , aparecendo presente em todos os momentos da vida de Martim em terras brasileiras. É quem o acompanha, guia nas matas e enaltece. Poti recebe ordens e conselhos de Martim sem questionamentos, apesar de este, estar em suas terras. Ha um pacto muito forte de fidelidade, demonstrando um sentimento muito mais consistente do que a efêmera paixão por Iracema.

Poti é o personagem que melhor demonstra a submissão indígena ao homem branco. Ao fim do livro este fato confirma-se pela volta de Martim ao Brasil depois de um a temporada em Portugal. Desta vez seu intuito é a implantação da religião crista e mais uma vez Poti o acompanha e ajuda nesta ação.

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O simbólico e alegórico em Iracema

No Romance há um argumento histórico: a colonização do Ceara, processo representativo da própria colonização do Brasil. Através do relacionamento entre Iracema e Martim, Jose de Alencar romantiza este fato. Há uma espécie de conciliação entre as duas raças e uma submissão ante a dominação européia.

A metáfora construída por este relacionamento é rica em construções simbólicas:

 O processo de harmonia rompido no encontro entre os dois, a ruptura de Iracema com seu compromisso de virgem vestal e o abandono ao seu povo ligam-se alegoricamente ao fato da quebra da harmonia, identidade e valores indígenas pela colonização.

Da mesma forma a maneira como Martim “possui” Iracema que ocorre num processo de embriaguez e alucinação demonstra que nem mesmo o colonizador  tinha a  plena consciência de que seus atos ao invadir este país trouxessem conseqüências tão desastrosas ao povo indígena.

O nascimento do filho Moacir é a representação da miscigenação das raças e simbolismo referente ao primeiro brasileiro representando assim o início de uma nação.

E a morte de Iracema, que simboliza a morte e a devastação de uma raça e de uma cultura.

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Onde reside a força e o encanto do romance?

Iracema é um romance que apesar de ter como base para todo o enredo uma única história de amor, torna-se riquíssimo por tudo o que carrega de simbólico e maravilhoso.

Iracema inaugura o chamado Romance Indianista, um romance de exaltação e idealização do povo indígena. A índia, como personagem principal, além de heroína romântica, traduz sua força sendo o símbolo de toda uma raça. Agrega-se a sua personagem todo um ufanismo percebido nas comparações relacionadas á sua beleza com elementos típicos da fauna e flora brasileira.

Por detrás de sua historia de amor, é retratado um processo histórico: a colonização do Ceará fato que alude à própria colonização do Brasil. Ele mostra uma espécie de conciliação entre as raças branca e indígena pela romantização no processo de dominação de uma raça sobre a outra. O próprio relacionamento de Iracema e Martim que culmina com o nascimento do filho Moacir, representa com perfeição o cruzamento dessas duas raças, sendo Moacir símbolo do próprio brasileiro nascido dessa miscigenação.

Por todas estas alusões, metáforas e simbolismos que carregam a obra, Iracema ultrapassa o simples ‘’romance’’ tratando de toda uma gama de assuntos e fatos históricos sendo diferenciada principalmente pelo fato de como é narrada poeticamente tornando-se assim magnífico e incomparável “poema em prosa”.

Iracema é o símbolo de sua raça e de sua terra, por isso supera, como pura presença o “forasteiro” ( F .Freixeiro)

Essa expressão de Freixeiro nos confirma a supremacia de Iracema no Romance, a supremacia do indígena. A história é escrita sob a visão indígena e não européia apesar da europeização psicológica da personagem principal. O espaço, os costumes, as personalidades, tudo é atribuído ao povo da floresta idealizando-o e exaltando-o, transformando o livro num autentico romance indianista.

Iracema é a heroína e todo o enredo é ligado a sua presença. Como dito na expressão é o símbolo de sua gente, representação máxima de um povo.