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GRUPO DE ESTUDOS MAÇÓNICOS IN HOC SIGNO INSTITUTO HERMÉTICO

Desafios aos Maçons Num Portugal Adiado

II Debate Livre

Lisboa, 8 de Julho de 2011

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Introdução ao Segundo Debate Decorreu em Lisboa no dia 3 de Junho de 2011 um Debate promovido pelo Grupo de Estudos Maçónicos do In Hoc Signo Hermetic Institute subordinado ao tema "Desafios à Maçonaria num Portugal Adiado".

Entre os factos notáveis relativos a esse primeiro Debate, há que destacar a total ausência de representação oficial das Obediência Maçónicas existentes em Portugal. Concluímos então que estas estão um pouco desatentas às discussões que se passam fora de portas e menosprezam por hábito qualquer iniciativa um pouco mais ecuménica ou abrangente em que se possam vir a discutir assuntos do seu foro - particularmente quando aqueles que promovem tais iniciativas abertamente dizem que só o fazem porque internamente não existe um espaço de diálogo e reflexão idêntico, que seja transversal aos Maçons Portugueses. Este facto levou a que se concluísse no último Debate que seria inútil esperar qualquer tipo de mudança por parte das cúpulas Maçónicas e que esta mudança só poderia aparecer vinda de cada Maçon individualmente.

A responsabilização do indivíduo foi talvez a conclusão mais importante de todas a que se chegou no último Debate. A ideia de que a Maçonaria não é a imagem que é passada em flashes para a imprensa (muitas vezes em mensagens desconexas entre si e de duvidosa eficácia comunicacional), mas que a Maçonaria é essencialmente o que forem os Maçons, ficou bem expressa nas nossas conclusões. A Maçonaria agirá como eles agirem. Quererá o que eles quiserem. Sonhará o que eles sonharem. Fará nascer a obra que eles façam nascer. Por isso, "sacudir a água do capote" e delegar em Grandes Lojas ou Grandes Orientes a Obra Maçónica é um contra-senso. Bastará que os Maçons metam mãos à obra cada um por si, e em conjunto a Maçonaria avança. Só assim o GADU quer, o homem sonha e a obra nasce. E mesmo sem GADU - que algumas Obediências não o dão como certo - nenhuma obra nascerá se os Maçons continuarem a deixar para os outros o sonho que é seu.

Todo este conjunto de motivos determinou que o presente Debate deixasse de ser sobre a Maçonaria como Instituição, mas se focasse agora nos Maçons como pedras vivas da Maçonaria enquanto Ordem. E assim surge o título do Debate de hoje: "Desafios aos Maçons num

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Portugal Adiado". Todos os Maçons que estejam nesta sala - não importa a sua Obediência ou circunstâncias particulares da sua recepção - todos, se vêem face a desafios múltiplos que a situação actual coloca. São eles que têm de responder a esses desafios. Sois vós. Somos nós.

No Debate anterior identificaram-se as seguintes áreas de reflexão urgente:

1 - Desafios à Cooptação

2 - Desafios à Formação

3 - Desafios à Acção

Relativamente a cada um deles foram discutidas diversas recomendações e colocadas algumas perguntas que o Debate pretende abordar hoje:

1 - Quanto à Cooptação

> PERGUNTAS

Quando um Maçon recomenda um Candidato, sabe à partida qual o perfil definido que deve procurar?

Factores como o desemprego e a mobilidade social não farão com que haja menos Candidatos capazes de cumprir com os requisitos pecuniários e de assiduidade?

Caso não se tenham em conta estes factores, não haverá uma tendência para cooptar apenas os Candidatos com base na sua solvência financeira e disponibilidade, baixando assim o número de novas entradas?

Nas inquirições aos Candidatos são feitas em geral as mesmas perguntas, ou dois Candidatos em duas Lojas diferentes são inquiridos com base em pressupostos completamente distintos? Há uma uniformidade nos requisitos e no inquérito?

Se as inquirições a novos Candidatos são feitas com rigor, como explicar que mais de 95% de todos os Candidatos seja aprovado na maioria das Obediências? Deve-se isto a excepcionais qualidades de cooptação? Se sim, como explicar os maus elementos que sucessivamente se encontram nas Lojas e os recorrentes problemas que provocam?

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Com a alternância de poder entre partidos na Assembleia da República, vão as Obediências ceder à tentação de cooptar junto ao poder e próximo do governo para se manterem relevantes?

É legítimo e, mais importante, eficaz acelerar processos de entrada porque a Loja está frágil e precisa de novos membros para assegurar a sua vitalidade?

Há uma prática comum e coerente nas admissões feitas a Candidatos procedentes de outras Obediências, haja ou não um reconhecimento mútuo?

Devem encorajar-se os "movimentos em massa" de fugas de Lojas completas de uma Obediência para outra, por os seus membros estarem descontentes?

Comunicam periodicamente as Obediências entre si, de modo a que aqueles que foram afastados dos trabalhos por má conduta não possam ludibriar outras Obediências a aceitá-los?

Têm os Profanos acesso a informação oficial relevante e suficiente para saberem o que é a maçonaria e o que melhor caracteriza o trabalho de cada Obediência, de modo a poderem fazer uma escolha consciente e bem informada?

2 - Quanto à Formação

> PERGUNTAS

Os métodos actuais de formação são os adequados? Consegue a Maçonaria fazer Mestres que dominem efectivamente os temas e objectivos da Maçonaria e, além disso, que possam ser testemunhos vivos pela sua acção exemplar?

Existe um trabalho institucional coordenado de formação que complemente o que deve ser feito em Loja e que possa ir mais além do que os simples catecismos por pergunta e resposta ou o rememorar dos símbolos mais importantes?

Com a taxa de desemprego a aumentar, estão as Obediências preparadas para um cenário de pré-catástrofe social como a de Espanha, com 20% de desempregados?

Estão as Obediências preparadas para manter as actuais estruturas de custos (Templos, sedes, viagens, etc.) quando 20% dos seus membros actuais deixarem de pagar cotizações porque estão no desemprego?

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Como será possível dar formação e manter o número actual de Lojas se uma percentagem elevada de Maçons não conseguir manter a sua filiação e desistir ou tiver de ser menos assíduo aos trabalhos por motivos financeiros ou profissionais?

Estão equacionados os impactos financeiros e o impacto humano nas Lojas que reúnem cronicamente com o número limite de obreiros para terem quórum?

Estão equacionados os impactos financeiros e o impacto humano nas Lojas em geral?

Estão as Obediências capacitadas para a possibilidade de ter de baixar as obrigações pecuniárias, nomeadamente no que se refere aos aumentos de salário em cada Loja (incluindo paramentos e jóias)?

Pode a formação incidir de modo mais concreto nas qualidades que deve um Maçon evidenciar em tempo de crise aguda, quer para se manter forte no meio das tormentas, quer para encorajar os demais - incluindo profanos do seu entorno familiar e profissional?

2 - Quanto à Acção

> PERGUNTAS

Estão as Obediências e Lojas que têm obra benemérita e caritativa preparadas para não a abandonar numa época em que se prevê que venham a escassear os fundos e as doações?

Estão as Lojas preparadas para exercer a caridade internamente com irmãos que estejam em dificuldades sem deixar que haja aproveitamentos ilícitos e casos que não são identificados pelos Hospitaleiros.

Estão os Hospitaleiros cientes que é sua obrigação saber a razão porque um irmão está ausente aos trabalhos, de modo a que a Loja não tome conhecimento de situações aflitivas individuais (financeiras ou de saúde) demasiado tarde para poder intervir?

Tendo um número crescente de membros no desemprego, não podem as Obediências (individualmente ou num esforço conjunto) promover acções de networking entre eles de modo a que se possam incentivar sinergias e complementaridades e fortalecer o espírito empreendedor?

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Estão as Lojas preparadas para olhar com mais atenção as carências das comunidades em que se inserem, de modo a poderem ajudar a minorá-las?

Entendem as Lojas que acções de "caridadezinha" estéril são uma má imagem para a Ordem e acabam por resultar num exercício de Relações Públicas negativo? Conseguem nas suas acções incorporar a discrição? Ou quando a acção tem de ser pública, conseguem evitar o espectro da hipocrisia ao fazerem uma dádiva claramente aquém das suas possibilidades ou de tal modo auto-subserviente que não parece desinteressada?

Entendem as Obediências que a Internet, o email e o Facebook vieram diluir as fronteiras entre irmãos de Obediências diferentes, que se encontram no plano pessoal e criam redes de relações Maçónicas à parte dos constrangimentos das Obediências?

Podem as Obediências acompanhar a tendência universalista crescente das suas bases, iniciando programas de cooperação, troca de informação ou iniciativas conjuntas sem que se entenda que cada uma deve abandonar a sua especificidade própria ou que compromete a sua integridade ao fazê-lo?

Pode a Maçonaria promover um verdadeiro movimento de Ecumenismo Maçónico, orientado para a experiência humana e não para as diferenças doutrinais ou filosóficas?

Além destes ficou ainda um outro desafio: A Cooperação entre Obediências.

Considerou-se que, sem uma cooperação forte e regular, mantendo a individualidade de cada estrutura, dificilmente a Maçonaria poderá reclamar ser um corpo suficientemente grande, sólido e estável, de modo a potenciar a sua relação com o Mundo Profano.

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Dito tudo isto e lançado o mote para esta noite, resta-me dizer algumas palavras sobre este aparente esforço inglório. No último debate contavam-se não mais de uma dúzia de Maçons entre o escasso público presente. Nenhum representava mais do que ele próprio. Dir-se-ía que qualquer Debate ou conclusão neste contexto seria de eficácia muito limitada. Contudo, a realidade veio a provar o contrário. Senão vejamos.

No debate estiveram presentes uma dúzia de Maçons, mas as conclusões (contundentes) foram publicadas com a mesma legitimidade e divulgação que o teriam sido caso houvessem mais. O número é pouco importante. "Dai-me um ponto fixo e levantarei o mundo", disse Arquimedes. Aquela dúzia era o ponto fixo. O Grupo de Estudos Maçónicos do Instituto Hermético a alavanca.

- As conclusões foram publicadas no site do IHSHI poucos dias depois. Até ao momento o documento teve cerca de duas centenas e meia de downloads! Ou seja, o Grupo de Estudos em poucos dias multiplicou por 10 a audiência a este Debate, e não contente, só na última semana voltou a duplicá-lo, sendo que 20 vezes mais Maçons estão a par deste Debate e suas conclusões do que os poucos que tiveram a coragem de o iniciar.

- Neste contexto não é surpreendente que tivessem havido reacções das Obediências. Desde que as conclusões foram publicadas tive pessoalmente o contacto de 4 Dirigentes de 4 Obediências diferentes, 2 deles Grão Mestres. Todos se colocaram em contacto encorajando a iniciativa. Visto que se tratam de missivas pessoais, escuso-me a divulgar o seu conteúdo, não sem, no entanto, afirmar sem receio que a Maçonaria Portuguesa tem actualmente alguns dos líderes mais bem preparados para fazer a diferença, mas que o trabalho de cada um de nós é, para eles, insubstituível. Por isso, mantenhamo-nos atentos e em obra bem vigilantes.

- Até ao dia 3 de Junho (data do debate) não havia uma única intervenção pública, oficial ou oficiosa, acerca dos assuntos que aqui nos trouxeram. Foi com agradável surpresa que verificámos as mudanças nos últimos 30 dias:

- Em reunião de direcção entretanto decorrida, pelo menos uma Obediência dedicou largo tempo a debater e explicar assuntos que aqui tinham sido abordados (entre eles o impacto do desemprego e da crise nas Lojas, número de membros e cooptação, bem como ajudas correntes a Irmãos já em dificuldades).

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- Em boletim oficial de uma Obediência entretanto publicado, o seu Grão-Mestre diz textualmente: "Neste momento (...) [em que] o nosso país atravessa um momento particularmente difícil a que decidimos chamar-lhe 'crise', é pedido ao Grão-Mestre que no exercício da sua função faça uma comunicação aos seus obreiros. (...) Na Sociedade Profana em que vivemos, os valores que professamos e que arduamente fazemos valer entre nós, não tem conhecido a luz, pelo que urge também aqui sermos organizados e passarmos uma mensagem rigorosa e de verdade. É por isso que neste tempo de mudança, nesta fase de profunda transformação da sociedade onde vivemos, neste quadro de crise económica e de valores, a nossa Augusta Ordem é chamada, mais uma vez, a fazer ouvir a sua voz, no silêncio da sua discrição é certo, mas de forma veemente para recentrar a sociedade no quadro de valores que professamos, aqueles que libertaram o Homem no passado e o poderão voltar a elevar no futuro. É nosso dever, é nossa obrigação, voltar a exigir a todos um discurso de verdade (...). É por isso que no quadro da profunda crise em que nos encontramos, perante a necessidade de reformar muitos dos direitos e obrigações que dávamos como certos (...) devemos partir para a sociedade profana exigindo a todos os intervenientes, governantes e governados, o mais absoluto respeito por cada um daqueles que compõem a própria sociedade (...). É fundamental que a partir de agora só se fale a verdade aos cidadãos. (...) Esta é uma daquelas épocas em que a sociedade mais necessita da intervenção da Maçonaria. Este é um tempo em que teremos que voltar a intervir com convicção e desinteresse. O futuro chama por nós." O único comentário que se me oferece fazer é que esta é uma bela resposta ao moto "Desafios à Maçonaria num Portugal Adiado".

- Finalmente, a 16 de Julho terá lugar em Mafra uma conferência por um Past-Grão Mestre de uma Obediência portuguesa cujo tema é "Maçonaria e Sociedade" que está a ser promovida como "uma reflexão sobre a Maçonaria e a crise actual".

[Há que acrescentar, já após este segundo Debate, a entrevista dada à RTP-N a 22 de Julho pelo ainda Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano (link disponível no site do IHS-HI) totalmente subordinada ao tema da crise que Portugal atravessa e da intervenção da maçonaria (muito centrada na influência sobre os partidos políticos e os governos). Destacamos, além do subtítulo "António Reis - Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa - Comenta a actual situação económica, social e política portuguesa" (vide rodapé da entrevista

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de 28 minutos), algumas passagens bem ilustrativas da influência indelével que estes Debates têm tido:

"Sandra Felgueiras (entrevistadora): Qual a posição dominante [da Maçonaria] em relação a Portugal e a este futuro?

António Reis: O meu optimismo leva-me a considerar que vamos vencer esta crise.

SF: Mas a maioria dos maçons pensa assim?

AR: Creio que sim. Fomos educados na escola do progresso, do optimismo e dos valores Republicanos que conduzem a isso. Sabemos que podem haver retrocessos no meio desta longa caminhada em relação ao futuro e em relação ao progresso. Mas são retrocessos sempre momentâneos que depois são cobertos por novos avanços. Essa é a nossa perspectiva.

SF: Mas quanto tempo pode demorar? Por exemplo, a Troika já quantificou que, no mínimo até 2013, vamos estar com uma recessão de 2 pontos percentuais por ano.

AR: Isso são factos consumados contra os quais nada podemos.

(...)

SF: O que é que a Maçonaria pode fazer para ajudar o país a sair deste buraco?

AR: A Maçonaria pode fazer é dar uma oportunidade a muitos dos nossos cidadãos de se aperfeiçoarem no plano ético, no plano cívico, no plano intelectual e no plano cultural para darem um contributo cada vez melhor ao seu país. Nós apostamos na formação de profissionais de excelência em todos os sectores, seja no sector empresarial, no sector político, no sector intelectual, académico, universitário.

SF: Falta que os portugueses trabalhem mais e melhor?

AR: Com certeza. Absolutamente.

(...)

SF: (fechando a entrevista): Foi a análise do Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa sobre o estado do nosso país e das previsões que faz ao que aí virá."

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Como podem imaginar, estes factos indesmentíveis enchem-nos de alegria. Há pouco mais de 30 dias éramos os "gajos chatos" e impopulares a clamar no deserto, com quem os meninos de bem não se queriam misturar. Não agrupámos mais de uma dúzia nessa altura. Em menos de 30 dias o trabalho que aqui se fez já mostrou frutos e vimos o tema a ser finalmente elevado a um estatuto público nas mais diversas Obediências. Afinal os poucos, podem repercutir em muitos, sempre que mantenhamos os olhos no bom trabalho e não na recompensa.

E é este o ponto final que eu quero enfatizar antes de passar à discussão que aqui nos trouxe. O nosso objectivo não é fazer oposição às Obediências, nem sequer fazer a crítica destruidora. Não pretendemos ser um movimento de maledicente coscuvilhice. Não pretendo eu, com o Luis Fonseca, ser os velhotes dos Marretas, sempre a criticar os números que desfilam em palco. Não queremos também assumir uma liderança no pensamento Maçónico Português ou ocupar um lugar de consultoria Maçónica. Pudéssemos os dois ser como que invisíveis no cenário de fundo, sê-lo-íamos. Mas os tempos não estão para tal. Esse luxo não nos está acessível. O que pretendemos é, dando um espaço como o Instituto Hermético, não alinhado com nenhuma Obediência Maçónica e composto de gente de boa vontade de todas as Obediências, um espaço neutro, seguro, abrangente, todo-inclusivo, ecuménico, fraternal sem ser litúrgico, dando esse espaço, poder vir à liça discutir o que nos preocupa nas nossa Obediências hoje e como veríamos soluções para esses problemas, disponibilizando-as depois aos nossos líderes que para isso foram eleitos. Não é fazer "doutrina" contra eles, mas estudar problemas e soluções que podem ser usadas por eles e para eles caso assim o considerem útil. E a julgar pelo resultado do primeiro Debate, algo se aproveitou do que aqui fizemos.

Não somos pró-ninguém nem contra ninguém. Não queremos substituir os fóruns de reflexão e entendimento que já existam. Queremos fazer o trabalho de reflexão que a nossa consciência dita, na companhia dos Irmãos que o nosso coração reconhece. E se as Obediências quiserem aproveitar os frutos desse trabalho, tanto melhor para todos nós. Tão depressa como aparecemos, iremos desaparecer no cenário e cobrir as nossas pegadas com o manto da invisibilidade.

Por isso, como diz o lema do Instituto Hermético: "Havendo obreiros, Haverá Obra". Agora é a vossa vez.

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Minutas e Conclusões do II Debate Livre

O Debate iniciou-se com uma intervenção do público no sentido de se lamentar que um número muito grande de Maçons que tinham confirmado a sua presença neste debate - provenientes de diversas Obediências - foi comunicando ao longo do dia, um por um, razões diversas e imprevistos de última hora para justificar a sua ausência. Este facto foi confirmado por outros dos presentes relativamente a irmãos que tinham convidado e que, no final, não estiveram presentes. Posta de lado a existência de pressões, pareceu mais provável que as ausências se justifiquem pela pouca vontade de assumir publicamente a condição de Maçon, particularmente sabendo que haverá divulgação dos resultados do Debate e até possivelmente fotografias e vídeo do evento. Neste sentido foi decidido que nos Debates desta natureza, não serão permitidas fotografias ou a captação de vídeo, de modo a preservar o anonimato daqueles que o pensem imprescindível.

Recomendação #01.02

Será futuramente proibida a captação de imagem e som nos Debates seguintes desta série sobre Maçonaria.

Um outra intervenção lamentou que muitos maçons não assumam a sua filiação à Ordem publicamente. Uma das principais razões encontradas é a má reputação que a Ordem tem granjeado junto à maioria do público, provocada por injustificados medos ainda reminiscentes de anos de clandestinidade durante o Estado Novo, mas também pelo ângulo negativo com que alguma imprensa costuma abordar qualquer notícia sobre a Maçonaria. Ainda recentemente a ideia que ficou foi que a Maçonaria tentou eleger Fernando Nobre como Presidente da Assembleia da República, quando seguramente apenas um número residual de Deputados é Maçon e, deste modo, a sua “tentativa de subversão democrática” ao procurar colocar em lugar de destaque alguém alegadamente seu, estaria sempre condenada ao fracasso devido à sua reduzida representatividade. Mas este facto não impediu que uma bela não-notícia fosse publicada, lida e acreditada. Ao ser este o panorama, não é de admirar que muitos procurem ocultar a sua filiação maçónica.

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Referiu-se de seguida que o facto de tendencialmente os nomes associados à Maçonaria serem conhecidos devido a notícias negativas em que estão envolvidos, a imagem da Ordem não mudará junto ao público em geral enquanto não houverem figuras respeitadas que assumam igualmente o seu estado de membro contrariando a tendência. Em países como os Estados Unidos são abertamente da Maçonaria figuras respeitadas em todas as áreas da sociedade, incluindo actores (o recentemente falecido Peter Falk, famoso pela sua personagem de detective Colombo, por exemplo), homens de igreja (Rev. Al Sharpton e Rev. Jesse Jackson), artistas (Neil Diamond ou Leonard Cohen), homens de ciência (o astronauta “Buzz” Aldrin), entre muitos outros. Esta associação aberta à Maçonaria não deixa dúvidas acerca do carácter alegadamente perigoso e obscuro da Ordem. Estariam Sharpton ou Aldrin associados a um grupo de malfeitores? Não cabe na cabeça de ninguém. Mas o equivalente a estes altos exemplos de conduta, realização pessoal e liderança em Portugal mantêm a sua condição na sombra, por receio. Deste modo não contribuem para a educação pelo exemplo na sua condição de maçons, por mais que sejam um exemplo como cidadãos.

Apesar da ponderação de todos estes factos poder levar a pensar que a divulgação acerca da associação de membros respeitáveis da sociedade civil à Maçonaria ajudaria a transformar e actualizar a sua imagem e a colocá-la sob uma luz mais próxima da realidade da Maçonaria moderna, foi sublinhado o carácter inalienavelmente pessoal da revelação da condição de Maçon. O axioma “os meus irmãos me reconhecem como tal”, faz com que essa pertença a um grupo fraternal seja tratada ao nível de irmão para irmão e não “na rua”. É uma qualidade interior que se reconhece membro a membro e não uma condição que deva ser revelada a não ser pelo próprio. Foi aliás sublinhado que, iniciaticamente, em consequência deste axioma, um maçon não deve divulgar a sua condição a não ser a outro maçon e mesmo assim só se o reconhecer nessa qualidade. É igualmente uma violação grave da privacidade e intimidade de cada um ver a sua condição maçónica publicada nos jornais, como ciclicamente tem vindo a acontecer. Neste ponto há que referir que algumas das listas a que jornalistas tiveram acesso no passado recente só podiam ter sido fornecidas directamente dos órgãos máximos das obediências afectadas, facto que não foi nem investigado nem punido devidamente.

Por outro lado, as mudanças de regime a que se tem assistido na Europa nos últimos 50 a 60 anos mostram que a Maçonaria ainda é uma Ordem perseguida pelos extremismos e tiranias. Foi recordado o caso de um irmão ainda activo numa Obediência portuguesa que sofreu na

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pele o facto de ser Maçon na época de transição entre o regime dos Chás na Pérsia e o actual Irão dos Ayatolla nos anos 80. Ou seja, “não sabemos o dia de amanhã” e por isso ninguém nos garante que gozaremos do direito universal de associação e livre pensamento para sempre, sem alterações. Divulgar hoje a condição de maçon pode ser uma na arma de descriminação futura.

Considerou-se por isso, ponderando todos os argumentos aduzidos, que seria importante fazer a seguinte recomendação:

Recomendação #02.02

A divulgação da qualidade de maçon deve ser uma opção individual e ponderada.

Corolário: não compete a nenhum Grão Mestre ou outro Grande Oficial a revelação dessa condição sem prévio consentimento do próprio.

Recomenda-se por isso que:

Cada Maçon pondere a sua situação particular e a utilidade que tem a divulgação da sua filiação. Se a utilidade é dar um exemplo positivo activo e real como Maçon (mostrar a sua associação à Ordem e não mostrar a associação da Ordem à sua pessoa como forma de mecanismo de auto-estima), então essa divulgação é recomendável. De outro modo recomenda-se a maior discrição individual na óptica de que o exemplo de conduta pessoal é mais persuasivo e útil.

O ponto abordado de seguida diz respeito à Cooptação. Foi consenso geral que os erros cometidos nesta fase do processo Maçónico são responsáveis pelos principais problemas que a Ordem enfrenta hoje. As razões para esses erros são verdadeiros sintomas de outras práticas equivocadas que se foram instalando na Maçonaria ao longo dos anos. Por isso, estudar e debater este ponto nunca é demais. Não se foi exaustivo no que respeita aos desafios identificados no último Debate, mas após longa discussão pode-se extrair um conjunto de conclusões e recomendações que iremos conhecer adiante.

Neste domínio foi referido o trabalho notável apresentado em 1994 pelo médico Psiquiatra Dr. Luis Prats1 que postula já uma aproximação mais académica ao tema e desenvolve alguns

1 "Qualificações Iniciáticas: uma prova da não incompatibilidade entre o processo religioso e o processo iniciático" in "Religião e Ideal Maçónico - Convergências"; Instituto de Sociologia e Etnologia das religiões da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1994

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modelos para estudar e melhorar o processo de cooptação, inquirição e progressão iniciática na Maçonaria. Sem prejuízo da consulta posterior do trabalho na íntegra, foram destacadas algumas passagens, designadamente:

"Para que haja um processo maçónico é necessário que, à partida, se reúnam duas condições:

a) A presença de uma Instituição ou Organização capaz de preservar e transmitir os princípios e o método iniciático.

A Tradição Iniciática é a transmissão por uma cadeia iniciática ininterrupta (...) de uma influência sacralizada e espiritual (...).

b) Qualificação Iniciática do candidato

Correspondem à reunião no Candidato de qualificações constituídas por certas potencialidades inerentes à própria natureza do indivíduo e que são a matéria prima sobre a qual o trabalho iniciático se pode realizar.

(...)

Iniciação

Reunidas estas duas condições, o passo seguinte é a iniciação que consiste na introdução cerimonial de um candidato qualificado numa nova esfera de experiência e de conhecimento que o marca para todo o sempre (imprinting maçónico).

(...)

Ragon, um Maçon do século XIX, no seu Ritual de Mestre já dizia que "nenhum grau ensina nem descobre a verdade; somente lhe retira a espessura do véu... os graus praticados até hoje fizeram maçons, mas não fazem iniciados...".

É este o trabalho interior do iniciado, correspondendo ao processo iniciático propriamente dito (...).

(...) A Lista de Indicadores para Qualificação Iniciática que se segue é um conjunto de indicadores indirectos e probabilísticos, de fácil objectivação. (...) [Trata-se] da sua sistematização a partir de uma definição criteriosa de áreas que facilitem uma mais

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discriminativa selecção, obedecendo aos princípios porque se regem a Grande Loja Regular de Portugal e a Maçonaria Regular2. (...)

O Critério fundamental foi o de organizar esses indicadores por três áreas de prospecção: 1ª: Indicadores Gerais de Adesão aos Princípios Maçónicos, os princípios, ensinamentos do espírito da Ordem, com um carácter nuclear e permanente; 2º: Indicadores Psicológicos e de "Carácter", as características psicológicas que estruturam uma personalidade consistente, séria e eticamente determinada, e 3º Indicadores de Aptidão Iniciática, sinais, formas de pensar e sentir da natureza própria que indiciem a aptidão iniciática duma pessoa, o seu "jeito" natural para o método iniciático da espiritualidade.

Qualquer item é facilmente quantificável em ausente, presente e marcado.

(...) A base lógico do sistema, a sua trave-mestra, é elementar e compreensível com uma simples analogia. Pode-se conhecer profundamente música e ser um excelente crítico, sem nunca se ter tocado um instrumento (princípios); pode-se com muita assiduidade e esforço tocar um instrumento, obedecendo à pauta de uma qualquer peça musical (psicológicos e de carácter), sem que a mesma seja reconhecível por qualquer apreciador; mas para que toque com alguma qualidade ou como intérprete, necessita não só de se ter aplicado à tarefa, como possuir "jeito" ou "dom" (aptidões iniciáticas) (...).

LISTA DE INDICADORES PARA QUALIFICAÇÃO INICIÁTICA

1 - Gerais e de Adesão aos Princípios Maçónicos

1.1 - É um homem livre e que adere à Maçonaria por um profundo desejo3 de se aperfeiçoar.

1.2 - Acredita em Deus, Grande Arquitecto do Universo4

1.3 - Não considera a morte como um fim do seu ser, independentemente do modo como conceba a imortalidade

2 Neste ensaio de sistematização, alguns dos indicadores poderiam variar no caso de o autor ser membro de uma Obediência liberal, por exemplo. Contudo, não só a vertente chamada "Regular" na Maçonaria é mais numerosa no mundo actual, validando por isso a sua perspectiva académica, como este exercício pioneiro é de tal modo claro e lúcido que qualquer Loja de qualquer Obediência o poderá facilmente adaptar ao seu caso e aos seus indicadores. 3 Esta questão é sumamente importante e detalhadamente abordada pelo filósofo Francês do século XVIII, Louis-Claude de Saint-Martin, constituindo um critério incontornável. O desejo que o Candidato possa mostrar de se aperfeiçoar advém da compreensão de que está num estado de degeneração espiritual que não lhe é natural e, ao vislumbrar em si capacidades maiores e melhores, cresce-lhe o desejo de as realizar. Realizá-las é o propósito da Iniciação. 4 Mais uma vez refira-se que se trata de um documento elaborado no seio da Maçonaria Regular, mas cujos méritos são de tal modo grandes que pode (e DEVE) ser adoptado e adaptado por Lojas de todo o tipo de Obediências, inscrevendo nos critérios aqueles que considerem centrais à qualificação iniciática DOS SEUS candidatos.

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1.4 - As convicções anteriores são profundas do seu ser, assumidas na intimidade do seu coração.

1.5 - Não quer entrar para a Obediência por qualquer motivação mercenária, simples curiosidade ou uma atitude leviana

1.6 - Não pretende tirar vantagens, traficar influências ou fito em negócios, etc.

1.7 - Mas por razões reais por um desejo genuíno de conhecimento e aperfeiçoamento espiritual

1.8 - Possui um desejo de se tornar útil aos seus semelhantes

1.9 - Possui uma impressão/opinião favorável da Maçonaria Regular

1.10 - E espera que Ela tenha capacidade para o ajudar a atingir as finalidades que tem em vista.

2. Psicológicos e "Carácter"

2.1 - Grau de sinceridade do Candidato

Determinado por:

2.1.1 - Congruência entre o que comunica, o tom da fala e a expressão mímica

2.1.2 - Presença de emotividade expressa do seu desejo

2.1.3 - Não se observam sinais ou tentativas de agradar ou convencer o interlocutor

2.2 - "Carácter"

Determinado por:

2.2.1 - É-lhe importante ter uma linha de conduta na sua vida

2.2.2 - Não muda de opinião conforme a situação vantajosa ou inconveniente do momento

2.2.3 - Respeita-se a si próprio e aos outros

2.2.4 - Age segundo valores que aceita, respeitando os outros

2.2.5 - Há provas directas ou indirectas que defende esses valores independentemente de eventuais prejuízos que isso lhe possa causar

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2.2.6 - Dentro desses valores estão contidos a lealdade, fidelidade, honestidade e amor à verdade.

3. Aptidões Iniciáticas

3.1 - É um espírito inquieto (mas não inquietante), uma espécie de "vagabundo espiritual" (Wirth) por um estado de insatisfação em relação aos conceitos e ideias conhecidas e recebidas sobre o Homem, a sua razão de ser, a Divindade, a Alma e o Céu.

3.2 - Esse estado de inquietação interior não extravasa nem é contíguo ou contínuo com os outros aspectos da sua vida pessoal e quotidiana (ou seja, não é um espírito inquietante).

3.3 - Possui o que se designa por "baptismo de São João", ou seja, uma espécie de crise interior, um desejo ardente de procurar qualquer coisa que se entrevê apenas, que se pressente mas que não se consegue nem chega a explicar-se com simples palavras

3.4 - Desejo de realização interior em termos espirituais, desejo de se elevar acima de si próprio e não a si próprio.

3.5 - Não é um interesse sentimental nem tão só espiritual, possui disponibilidade a passar por conhecimento intuitivo, ao conhecimento interior e concomitantemente aperfeiçoamento e realização

3.6 - Tem um horizonte intelectual extenso independentemente do grau de erudição cultural ou profissional

3.7 - Possui afinidade à iniciação especificamente maçónica, é congruente com o seu ser e aspirações o simbolismo maçónico da construção do Templo Espiritual com os seus futuros irmãos

3.8 - Presença dum espírito sintético e não sincrético

3.9 - Motivação e capacidade de compreensão e apreensão simbólica

3.10 - Aceita que o símbolo é sempre de ordem inferior ao simbolizado (capacidade de transcendência)

3.11 - Além das aptidões anteriores manifesta a decisão complementar, mas necessária, de a atingir, ou seja, manifesta disponibilidade de esforço e trabalho pessoal para a realização activa (passagem potência/acto)

3.12 - Tem assim a percepção de que a via iniciática é uma via activa e não passiva.

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(...)

Segue-se uma listagem (...) [dos] indicadores directos e indirectos da eficácia do processo iniciático (...).

(...)

1 - Sentimento interior de ser um novo homem

2 - Uma maior aproximação ao Princípio Criador, ou seja, ao seu Deus pessoal ou da sua crença religiosa

3 - Se a pessoa anteriormente foi religiosa, há habitualmente um reforço da sua fé, em maior tolerância com as crenças dos outros

4 - Um outro modo de encarar a morte biológica ou a crença na imortalidade

5 - Um sentimento mais fraterno para com a humanidade

6 - Uma maior disponibilidade prática para uma atitude fraternal

7 - Uma maior generosidade e caridade

8 - Um espectro mais alargado e tolerante do seu pensamento e atitudes

9 - Comporta-se de uma forma mais afectuosa e atenta aos seus familiares, colegas e aos seus próximos, em geral."

Muitos dos pontos levantados por este excelente trabalho foram comentados e debatidos. Foi convicção geral de que devia ser dada maior divulgação ao trabalho e de que se deveria agora procurar construir sobre ele, sendo uma peça notável de pensamento maçónico genuinamente português. De momento irá proceder-se à sua divulgação no presente relatório. Foi feita a seguinte Recomendação:

Recomendação #03.02

Recomenda-se fazer um pedido de autorização ao autor do texto original de modo a poder colocá-lo integralmente disponível online para consulta de todos os interessados.

Adiante recomenda-se a formação de um grupo de trabalho para vir a produzir um documento com recomendações de procedimentos de cooptação a ser disponibilizado online.

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Relativamente Formação, decidiu-se passar este assunto para novo debate a agendar, passando-se de imediato ao problema da Acção e da Obra que a Maçonaria deve fazer.

No que respeita à Obra, foram feitas diversas intervenções. Caracterizou-se a Obra em três vectores mais ou menos abrangentes, como método de análise da questão:

1 - Obra Interna - especificamente Obra destinada à Maçonaria. Esta pode ser literalmente imobiliária (em todo o mundo é regra as Obediências serem donas das suas sedes), de formação (seja corrente nas Lojas, seja de formação de formadores), académica (investigação maçónica) e no número de Lojas.

2 - Obra Externa - aquela destinada a interagir com o Mundo Profano. Cuidado da imagem pública, comunicação, museus e bibliotecas ao serviço do público e da comunidade académica, difusão pública dos valores e história da Ordem.

3 - Obra Beneficente - aquela destinada ao alívio do sofrimento dos mais desfavorecidos, seja através da doação de recursos financeiros, seja através da disponibilização de recursos humanos em regime de voluntariado, seja através da gestão de obras sociais próprias como colégios, asilos, clínicas, etc.

Abordado o ponto 1., é relativamente dominante a opinião de que muito pouco está feito neste domínio e que as diversas acções não constituem Obra, mas meras iniciativas isoladas e, na sua maioria, sem continuidade. Foram dados alguns exemplos.

a) De todas as Obediências Portuguesas apenas o Grande Oriente Lusitano dispõe de sede social de sua propriedade. Todas as restantes (muitas com mais de 15 ou 20 anos de história) não lograram os recursos e a unidade interna suficientes para adquirirem ou construírem um espaço permanente, sendo obrigadas a alugar as suas sedes. Este é um dos factores que tem determinado a volatilidade das Obediências. A experiência mostra que quando existe património, há leis muito concretas sobre quem o administra, como o faz e que tipo de responsabilidade assume ao fazê-lo em nome do colectivo. Qualquer cisão, facção ou disputa interna é obrigada a sujeitar-se às leis do estado no que se refere a esse património pois não deseja perdê-lo e começar de novo. Recorde-se que o grande cisma conhecido como "Casa do Sino", que dividiu a Maçonaria Regular em 1996 se iniciou precisamente pela tomada da sua sede por seguranças privados. Visto tratar-se de um contrato de arrendamento, cujo arrendatário era ao mesmo tempo parte da facção revoltosa, a sede, arquivos, documentos, etc., ficaram na posse dessa facção. Se o edifício

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fosse propriedade da Obediência, não restam dúvidas acerca de qual teria sido o resultado. Ainda hoje, visitando sedes de Obediências como a Grande Loja Unida da Inglaterra, ou da Grande Loja de Filadélfia, é muito difícil imaginar o grupo interno que se abalance a fazer uma cisão...

Por outro lado, a posse, construção ou aquisição de património próprio é um claro indicador da prosperidade de uma associação e da confiança que os seus obreiros têm na sua gestão e no seu futuro. Contudo, mesmo o Grande Oriente Lusitano não adquiriu o seu espaço nos últimos 30 anos (o seu Palácio Maçónico havia sido confiscado pelo Estado Novo após o Decreto Lei que tornava a Maçonaria ilegal em 1935 sendo só devolvido após 1974). Existe outro património menor que não tem características suficientes para constituir sede, pelo que não é de destaque. Há poucos anos o Grande Oriente Lusitano, por iniciativa do seu Grão Mestre procurou estabelecer uma Fundação para gerir todo esse património disperso, contudo a medida encontrou muita oposição interna. Ou seja, a nível imobiliário, a solidez da Ordem nos seus diversos ramos e Obediências, não se alterou significativamente nos últimos quase 40 anos! Neste capítulo, não há Obra.

b) A formação na maioria das Lojas é confrangedora. É experiência transversal a quase todos os maçons presentes no Debate a absoluta insipiência da instrução em Loja, bem como o nível de conhecimentos da vasta maioria dos Maçons. Há notáveis excepções, tão notáveis que se destacam brilhantemente de todo o resto da massa informe que vai passando de grau em grau por critérios como o tempo, a antiguidade ou a necessidade de quórum e crescimento numérico da Loja. As notáveis excepções encontram-se em várias Obediências, desde as Liberais às designadas como Regulares o que demonstra ser a determinação e iniciativa dos respectivos Obreiros que pode fazer a diferença, independentemente dos aspectos litúrgicos. Quase todas as Obediências têm regulamentos que preconizam a referida formação, contudo mais de 70% das Lojas passam-nos totalmente em claro. É igualmente desconhecido qualquer esforço de formação para Veneráveis Mestres, Primeiros e Segundos Vigilantes, bem como para todas as restantes posições rituais. Este facto determina que um Vigilante que tenha sido designado para a sua função hoje tem marginalmente mais e melhor informação e recursos para entender e desempenhar a sua função do que o teria um outro designado para o mesmo cargo em 1979. Deste ponto de vista, mais uma vez, não se fez escola nem se deixou Obra. Cada Loja começa de novo cada ano (ou par de anos), por cada oficial começar de novo cada ano. Certo, o Venerável Mestre tem algumas ajuda e há sempre muita gente com opiniões (muitas mal informadas) de como deve actuar o Mestre de Cerimónias. Mas não há um repositório fidedigno de trabalho escrito, formativo, claro, intencional, detalhado, que incorpore as experiências diversas dos últimos 40 anos, que possa ser consultado pelos oficiais que - e

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todos concordam ser a norma - são designados e têm ideias muito vagas sobre o que é esperado deles. A Obra neste aspecto é, no mínimo, sofrível.

c) A investigação académica tem tido espasmos com se fosse uma doença e não uma das Obras centrais que a Maçonaria pode fazer. Na maior parte dos casos é pessoal e ditada pela agenda de cada autor por si mesmo. Não há verdadeiras Lojas de Investigação com trabalho contínuo há vários anos. O que há são alguns boletins de Lojas mais antigas (raros, pois são a excepção absoluta no que se refere à produção literária e ensaística Maçónica), os boletins oficiais que têm uma função diferente da destinada à investigação de fundo e alguns Blogs e páginas de Lojas e de obreiros que, mais uma vez, se destacam como um relâmpago na noite do marasmo académico absoluto. Com a passagem ao Oriente Eterno do historiador Oliveira Marques, a historiografia maçónica ficou tolhida de morte. Sem as pontuais intervenções bibliográficas de António Arnaut, o pensamento Maçónico Português da transição do século ficaria desconhecido. Excluindo a contínua e coerente produção bibliografia de José Manuel Anes, o que nos resta são esforços individuais (como aliás o seu, cuja vantagem é a solidez de formação e pensamento e a quantidade de trabalho produzido, não deixando de ser obra mais de mérito pessoal como autor do que fruto da Obra da Maçonaria), sendo os outros, trabalhos desligados que se esvaem como espuma na areia da praia. Os autores nacionais entram em cena e saem de cena sem fazerem escola, sem deixarem rasto, sem ficar Obra. A Maçonaria portuguesa não promove a investigação, não publica uma linha a não ser de "efémera" (boletins internos, periódicos, desdobráveis, newsletters, etc.), não contribui em nada para o avanço do Conhecimento Maçónico. A Obra neste capítulo é, uma vez mais, esparsa, individual, quase inexistente e totalmente alheia à acção das Obediências em si mesmas.

d) No que respeita ao número de Lojas, há que assinalar realmente uma expansão absolutamente avassaladora. Enquanto a Maçonaria está a regredir em número em muitos países, em Portugal assiste-se ao aumentar não só do número de Obediências (estarão próximo da casa da dezena), mas do número de Lojas nas Obediências mais numerosas. Se o item a) se referia à sustentabilidade e é um bom indicador da estabilidade e continuidade de um trabalho, assim como da confiança que os obreiros depositam nas suas instituições; se os itens b) e c) se referiam ao conteúdo da Maçonaria, o Debate viu com preocupação que, de todos estes, apenas o indicador d), de crescimento numérico, fosse o único tão desfasadamente diferente dos restantes. Ou seja, a conclusão é que se cresce muito numericamente, com muitas Lojas e obreiros, mas sem criar casa, estudos ou trabalho. A Maçonaria Portuguesa parece assemelhar-se ao jovem com mais de 30 anos que não quer estudar, não quer trabalhar, não tem casa própria e passa o tempo no Facebook a fazer novos amigos!...

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No que se refere ao ponto 2., que trata da Obra externa, tornou-se difícil encontrar muitos exemplos a destacar. A maior parte do esforço parece ter estado voltado nos últimos anos para a imagem que a Maçonaria quer passar para a imprensa, com diversas notícias "plantadas" e entrevistas coordenadas. Este trabalho é rapidamente deitado por terra quando há artigos de imprensa de denúncia onde aparecem inúmeros nomes, relações perigosas com o poder ou com o escândalo do momento (seja ele qual for) e bombásticas revelações públicas de teor duvidoso, mas cujo conteúdo só pode ter uma origem: vir de dentro da própria Ordem.

No que respeita à actividade cultural, ao serviço do público e difusão dos valores, destacam-se iniciativas como as comemorações dos 100 anos de República, que pelo seu carácter de efeméride conta como um conjunto de iniciativas isoladas e sem seguimento. Há uma vez por outra Conferências, ou jantares com empresários, líderes partidários ou opinion-makers que se esgotam na iniciativa em si e não deixam escola ou rasto após o acontecimento. Não existe nenhum esforço de investigação e pensamento maçónico conhecido. Não existe nenhum esforço editorial maçónico digno de nota. Há apenas 1 museu Maçónico para uma dezena de Obediências. Mesmo este é particularmente limitado na sua exposição dos ideais maçónicos, já que a ênfase na relação Maçonaria/República distorce a importância de toda a restante história da Ordem, limitando-a a um período em que a sua acção é profundamente discutível. A representatividade litúrgica é restrita ao Rito Escocês Antigo e Aceite de 33 graus, quando a Maçonaria tem dezenas de Ritos e troncos litúrgicos diferentes e muito ricos. Apesar destas limitações, os presentes congratularam-se com a existência de pelo menos este esforço museológico. Referiu-se que estão em preparação outros, designadamente em Pedrógão Grande (sob o nome "Museu da República e da Maçonaria") e em Bragança.

Debateu-se ainda a falta de informação fidedigna para o Profano. É muito comum os candidatos à Maçonaria entrarem numa Obediência com a qual não se identificam, ou num Rito que não é o mais apropriado para as suas aspirações. Acabam por desanimar e desistir. Não há modo algum de se informarem a não ser pelos seus proponentes, os quais nem sempre estão habilitados a esclarecer certas dúvidas ou a detectar determinados interesses. Nenhuma Obediência diz no seu website quem é, que tipo de Maçonaria pratica, que tipo de estrutura tem, o que deve esperar um candidato, etc. Foi opinião consensual que deveria ser elaborado um documento que resumisse estes pontos relativos à Maçonaria contemporânea em Portugal, a ser disponibilizado gratuitamente ao público em geral. Sendo que as Maçonarias não se dão

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a conhecer nos seus contornos mais precisos e disponibilizam informação demasiado genérica, seria interessante ter um sistema de rating ou de parâmetros que ajudassem cada um a decidir. Do mesmo modo se recomendou que deverá ser recomendada uma bibliografia básica para profanos e para cada Rito.

Recomendação #04.02

Deve ser construído um Portal Maçónico de serviço á comunidade maçónica e aos candidatos à iniciação maçónica. Este deve conter pelo manos:

- Informação isenta e factual sobre as características das diversas Obediências

- Um sistema de parâmetros e rating para melhor avaliar as características de cada Obediência.

- As filiações, reconhecimentos e derivações de cada Obediência nacional

- Os Ritos praticados por cada Obediência nacional

- Bibliografia básica relativa a cada Rito

Concluiu-se então que a Obra Maçónica, no que respeita à sua componente externa é descoordenada, está assente em iniciativas individuais e não mostra sinais de progresso há muitos anos, sendo a única possível excepção o ainda limitado esforço museológico. Há, também neste domínio, muito trabalho aberto aos Maçons e às Lojas que desejem deixar a sua marca e a sua Obra para as gerações futuras.

Relativamente ao ponto 3., que trata da Obra Beneficente, os presentes começaram dar exemplos de Maçonarias em outros países. São conhecidos os Hospitais para crianças queimadas nos Estados Unidos totalmente financiados pelos Shriners, ou as comunidades residenciais para maiores de 65 anos na Inglaterra que proporcionam aos mais velhos uma vida digna e de qualidade numa das fases mais críticas da sua vida. Trata-se de obras de uma dimensão muito grande, fora do alcance da Maçonaria nacional devido ao seu número limitado de membros. Foi ainda referido que a maioria dos exemplos provém de sociedades onde a Segurança Social não existe e onde há uma noção mais presente de que cada um deve cuidar do seu futuro e dos seus sem esperar que os governos dêem as soluções. Nessas sociedades o papel do associativismo é muito importante. Ora, a provável regressão dos sistemas de Segurança Social na Europa poderá vir a exigir uma maior intervenção do associativismo e

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neste caso a Maçonaria devia preparar-se de algum modo para cumprir um papel junto aos seus.

Exemplos mais ao alcance de Lojas ou grupos de Lojas foram dados. Um dos presentes referiu ter visitado uma Loja no Brasil onde a Loja geria e pagava a escola primária local, facto importante num Brasil vasto e rural. Foi sugerido que não seria de todo impossível a algumas Lojas portuguesas em conjunto ou até de modo individual escolher caminho idêntico. Numa época em que se espera o encerramento de mais de 500 escolas no ano que vem por não terem mais de 21 alunos, a maioria no interior do país, não seria Obra Beneficente uma Loja (ou conjunto de Lojas), por exemplo da Guarda ou de Beja dizer: "Não, no nosso distrito não fecham as 14 que estão no plano. Nós tomamos conta das escolas". A capacidade de geração de recursos e boas vontades seria crucial e as Lojas acabariam por se ver envolvidas em iniciativas, projectos, trabalhos, metas, objectivos, ao se darem deste modo às comunidades onde residem. A experiência dita que quando as Lojas têm projectos próprios, tendem a ser mais unidas e a trabalhar melhor.

Este foi só um exemplo debatido, mas outras formas de Beneficência para com a sociedade estão por explorar. O voluntariado é uma delas. Há iniciativas isoladas de visitar doentes ou presos e levar-lhes conforto ou conversa. Há Lojas que se organizam para levar comida aos pobres de Lisboa e do Porto. Contudo são sempre acções pontuais e fugazes. Falta real eficácia e coordenação. Esta é uma das áreas onde a Maçonaria tradicionalmente "dá cartas". Possamos organizar-nos melhor para também neste capítulo começar a fazer Obra e deixar o nosso "imprint" maçónico. Nos tempos que se aproximam esta pode ser uma aptidões mais bem aplicadas para a Ordem, saibam os Maçons organizar-se e dar o seu tempo, por vezes mais precioso que o dinheiro.

Foi longamente debatida a situação dos Hospitaleiros. Por norma o Hospitaleiro é um dos últimos cargos a atribuir numa Loja. Visto que, tal como o Guarda Interno ou o Ecónomo, têm uma função ritual muito limitada, em Lojas que têm um número de Mestres próximo do mínimo obrigatório é dada muito mais importância a outras funções e acaba por ficar o membro menos assíduo, ou o mais novo no grau, como Hospitaleiro. Além disso, não há um manual para a função (nem para esta nem para nenhuma outra) que ajude o novo oficial a entender quais são os seus deveres, como objectivamente os deve desempenhar, como deve ser rápido a saber porque faltou um irmão aos trabalhos, como deve assistir os que estão

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doentes, como deve ser discreto sobre os que atravessam dificuldades pessoais, embora procurando alívio para essas dificuldades, etc. Tanto para esta função como para muitas outras, o novo oficial põe um colar novo e uma nova jóia, senta-se num lugar exacto, mas não se lhe dá nada que o ajude a compreender o que deve fazer e como pode realizar-se através da função (que é, no limite, o que se pretende). Também aqui, a Maçonaria está a começar do zero todos os anos, pois não fica escola ou sequer um simples documento de procedimentos.

Ainda neste contexto foi discutida a situação do Tesoureiro, uma das funções que estará mais em destaque com a crise que se avizinha. Também este cargo tem poucos elementos disponíveis para estudar a sua função com o devido detalhe e usufruir da experiência de outros que tiveram de desempenhar as mesmas tarefas. Foram discutidas diversas características da função que muitas vezes escapam a quem a desempenha pela primeira vez.

Foi ainda referido que há alguns manuais com essas instruções, designadamente em França (ver Gilbert Alban) e Inglaterra (ver Lewis Masonic Publishing). Contudo na nossa língua não há material. Neste sentido foi recomendado pelos presentes no Debate que o Grupo de Estudos Maçónicos deveria traduzir, adaptar, elaborar e disponibilizar gratuitamente tais manuais. Informou-se os presentes que é intenção do Grupo de Estudos criar um Portal Maçónico eminentemente prático, de modo a que as Lojas e os seus oficiais possam ter acesso a material de qualidade.

Recomendação #05.02

Elaboração de Manuais de Função e formulários em Português a disponibilizar gratuitamente.

Um novo Debate foi marcado para Setembro, em data e lugar a anunciar oportunamente.

Terminou-se a noite recapitulando as Recomendações.

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Recomendação #01.02

Será futuramente proibida a captação de imagem e som nos Debates seguintes desta série sobre Maçonaria.

Recomendação #02.02

A divulgação da qualidade de maçon deve ser uma opção individual e ponderada.

Corolário: não compete a nenhum Grão Mestre ou outro Grande Oficial a revelação dessa condição sem prévio consentimento do próprio.

Recomenda-se por isso que:

Cada Maçon pondere a sua situação particular e a utilidade que tem a divulgação da sua filiação. Se a utilidade é dar um exemplo positivo activo e real como Maçon (mostrar a sua associação à Ordem e não mostrar a associação da Ordem à sua pessoa como forma de mecanismo de auto-estima), então essa divulgação é recomendável. De outro modo recomenda-se a maior discrição individual na óptica de que o exemplo de conduta pessoal é mais persuasivo e útil.

Recomendação #03.02

Recomenda-se fazer um pedido de autorização ao autor do texto original de modo a poder colocá-lo integralmente disponível online para consulta de todos os interessados.

Adiante recomenda-se a formação de um grupo de trabalho para vir a produzir um documento com recomendações de procedimentos de cooptação a ser disponibilizado online.

Recomendação #04.02

Deve ser construído um Portal Maçónico de serviço á comunidade maçónica e aos candidatos à iniciação maçónica. Este deve conter pelo manos:

- Informação isenta e factual sobre as características das diversas Obediências

- Um sistema de parâmetros e rating para melhor avaliar as características de cada Obediência.

- As filiações, reconhecimentos e derivações de cada Obediência nacional

- Os Ritos praticados por cada Obediência nacional

- Bibliografia básica relativa a cada Rito

Recomendação #05.02

Elaboração de Manuais de Função e formulários em Português a disponibilizar gratuitamente.