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duongnhan
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Ministrio da Educao
Departamento do Ensino Secundrio
Programa de Literaturas de Lngua Portuguesa
12. Ano
Curso Cientfico-Humanstico de Lnguas e Literaturas
Autores
Alberto Carvalho
Carla Ferreira
Eunice Marta
Coordenador
Alberto Carvalho
08/07/2002
Ana e JoaoText BoxHomologao
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NDICE Pgina
1 Parte. INTRODUO 0.1. As Literaturas de Lngua Portuguesa 3
0.2. A Disciplina no Perfil Curricular 5
2 Parte. APRESENTAO DO PROGRAMA 1. Finalidades 8
2. Objectivos 8
3. Viso Geral dos Temas/Contedos 9
4. Sugestes Metodolgicas Gerais 11 4.1. Sobre o Mtodo 11
5. Competncias a Desenvolver 12 5.1 Prtica da Cidadania 13
6. Recursos 14
7. Avaliao 15
3 Parte. DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA 0.1. Pressupostos Bsicos 17 0.2. Diacronia Formativa 18
1. Contedos Essenciais 19
2. Gesto Temporal 20 2.1. Distribuio Pedaggica 20 2.2. Sobre o "Corpus" Literrio 22 2.3. Literaturas, Autores, Textos 23
3. Sugestes Metodolgicas 28 3.1. Das Literaturas em Geral 28 3.2. Do Texto Literrio 29 3.3. Das Metodologias em Geral 31 3.4. Da Aprendizagem das Leituras 33 3.5. Dos Caminhos da Leitura Analtica 34 3.6. Do Conhecimento das Literaturas de Lngua Portuguesa 36 3.7. Operacionalizao 38 3.7.1. Sobre os Meios Audiovisuais 38
4 Parte. BIBLIOGRAFIA 1. Cincias da Educao/ Didctica 39
2. Teoria Literria e Ensaio 40
3. Antropologia, Cultura, Literatura, Crtica 42
4. Enciclopdias, Dicionrios, Revistas 47
5. Endereos na Internet 47
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1 Parte. INTRODUO 0.1. As Literaturas de Lngua Portuguesa
Como indica o nome da disciplina, um dos seus primeiros dados de caracterizao
consiste na pluralidade das matrias que a compem, distribudas por dois domnios, o da
repartio no espao geogrfico e o da pertena nacional. No primeiro figuram as reas do
Brasil, de frica e da sia-Sul, enquanto no das nacionalidades comparecem, alm da
literatura brasileira, cinco africanas, cabo-verdiana, guineense, so-tomense, angolana,
moambicana, e a timorense, todas ligadas pela partilha da mesma lngua de mediao
discursiva e de comunicao.
Literaturas diferenciadas por traos especficos, e com distintas caractersticas de
composio, globalmente respondem a vrios aspectos do figurino do perfil curricular do
Ensino Secundrio. Sob o princpio da coerncia, o percurso formativo em que intervm
representa uma opo consequente nos tempos presentes, por um lado, preservando a
unidade do processo do conhecimento delegado Escola e, por outro, abrindo esse
conhecimento ao despiste de saberes de interesse actual, para que os jovens se possam
orientar, mais bem apetrechados nos diversos caminhos da vida.
Representa, por isso, um impulso inovador a ateno concedida a estas Literaturas, de
acordo com o princpio directivo de poltica educativa do Ensino Secundrio que prev,
na letra do documento Reviso Curricular no Ensino Secundrio-Cursos Gerais e Cursos
Tecnolgicos I (Lisboa, DES, 1 ed., Abr./2000, p. 7), a abertura multicultural das
matrias escolares. O pressuposto justificativo de tal orientao, exposto em texto
normativo de data anterior, Desenvolver, Consolidar, Orientar - Documento orientador
das polticas para o ensino secundrio (Lisboa, ME, Nov./1997), ainda mais claro,
consagrando a necessidade de um currculo nacional [] centrado na aquisio de
competncias bsicas transversais em todos os cursos e vias, mas aberto diversificao
das formaes (p. 13).
Do valor metafrico de transversais deduz-se o propsito formativo da educao
para a cidadania, vrias vezes reiterado (id., pp. 11, 14). Enquanto formao orientada
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para a vida cvica, a cidadania entende-se como resposta s legtimas expectativas dos
jovens e das famlias (Reviso Curricular [], p. 7). Assim se enuncia o que numa
sociedade competitiva (na portuguesa), no conjunto dos pases da Unio Europeia (id.,
ibid.), deve animar a Escola como agente formativo num contexto onde inevitvel o
encontro de sociedades cada vez mais multiculturais (id., ibid.). A formao cultural
ser por certo a que melhor responde preparao flexvel dos jovens para os desafios
sociais, e que mais favorece a sua integrao na vida produtiva, na vivncia com os outros
e com os mundos que lhes do forma e substncia.
Neste propsito de abertura se compreendem as literaturas brasileira, africanas e
timorense que constituem hoje realidades de protagonismo notvel, de valor irrecusvel
ou de significativa emergncia. Ainda que s tomadas pelos mritos prprios, ou pelo que
exprimem, no podem deixar de engrandecer tambm o espao cultural portugus, quer
pela factualidade que associou durante vrios sculos as respectivas Histrias, quer pela
circunstncia maior de a partilha da lngua portuguesa ser responsvel pela vigncia de
um fundo enriquecedor de afinidades e de diferenas.
Justifica-se ento que se diga ser o conhecimento destas literaturas uma forma de
testemunho ao servio do saber respeitante ao que , provadamente, a vivacidade plstica
da lngua portuguesa, como linguagem viageira por muitos caminhos do mundo que, por
fim, reaparece no espao cultural portugus sob a mediao verbal de distintos mundos
recriados. No plano dos protagonismos da Escola, o seu ensino reveste-se de incidncias
distintas mas convergentes. Representa uma deciso de alcance poltico-diplomtico no
aprofundamento dos laos entre Portugal e os restantes Pases de Lngua Portuguesa no
espao da Lusofonia, exemplar como estratgia educativa capaz de suscitar a atitude da
reciprocidade. Por outro lado, contribui para a diversificao do gosto de ler, que ter na
Escola o agente mais bem apetrechado no plano tcnico, em vista da preparao de
cidados letrados. Pelo saber adquirido na vivncia de um mais largo espectro de autores
e obras podero os alunos encontrar novos motivos para o despertar da sua sensibilidade,
para sarem de si levados pelo que de diferente a representao literria destas literaturas
oferece de mundos possveis.
O seu entrosamento opcional no lugar terminal do currculo do Curso Geral de Lnguas
e Literaturas responde, assim, tctica da abertura multicultural de grande efeito
multiplicador. Os contedos-mensagem e os mundos por elas representados, animados
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pelas motivaes da disciplina, entram num horizonte de espera que excita uma
significativa carga de apetncias, virtualmente disponveis. A favor desta apetncia, em
especial na rea africana, colabora ainda a familiaridade de muitos estudantes com os
universos eventualmente conhecidos ou vivenciados por muitos dos pais e, por isso, por
eles invocados no convvio domstico. A fecundidade da disciplina ser neste caso dupla,
dando acesso a um saber de iniciao e de resgate de passados memorveis, ao mesmo
tempo que passados impregnados de referncias capazes de accionarem uma maior
dedicao ao estudo de outras disciplinas, reproduzindo-se transversalmente no processo
interdisciplinar do currculo.
0.2. A Disciplina no Perfil Curricular
Sob vrios ngulos se podem perspectivar os pontos de aplicao da disciplina de
Literaturas de Lngua Portuguesa e sua integrao como opo no currculo terminal do
Curso Geral de Lnguas e Literaturas. Embora com o risco de afrontar algumas ideias
feitas, tem-se em ateno a necessidade de se considerarem os fundamentos psicolgicos
que ordenam a economia dos relacionamentos humanos, tratando-se de um currculo
vocacionado para a formao dos jovens, qualquer que seja a direco em que se
considerem, perspectivem os objectivos gerais do Ensino Secundrio. Sem uma
convincente imagem de si, em forma de justa auto-estima histrica e cultural em se ser
cidado portugus, no seguro que os jovens venham a concretizar, por integrao numa
personalidade coerente, aquilo em que a Escola se prope investir em ordem aquisio
de conhecimentos, sedimentao de saberes e ao adestramento de slidas
competncias para os desafios da vida. E estes sero sempre objectivos basilares, pouco
importa que visem destinos profissionais ou, de uma maneira muito mais alargada, se
orientem para as prticas sociais e criativas ou para a empenhada participao na vida
produtiva, na cultura, na civilidade, na solidariedade, na cidadania.
Ser legtimo esperar que, neste Portugal na Balana da Europa (Garrett, 1830), as
conscincias bem formadas em idade juvenil se encontrem preparadas para o respeito
pelos valores que enformam a substncia da realidade portuguesa. Assume-se que as
literaturas de lngua portuguesa (para l dos atributos prprios) no deixam de registar as
circunstncias histricas da colaborao portuguesa na sua formao, emergncia e
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consolidao. Assim, a sua incluso no ensino escolar justifica-se pelo dever formativo da
Escola e constitui um dos mais seguros caminhos para um vasto desiderato educativo.
Alm da aprendizagem do que elas so, e do que permitem conhecer de si, na demora
da sua frequncia ainda se constri, como fundo causativo, o peso da historicidade dos
portugueses no mundo. Factualmente, o saber-se mais neste domnio do conhecimento
formador reproduz-se como intencionalidade do foro das conscincias, como conscincia
receptiva de outras formaes sociais e culturais, maneira de consolidar noes acertadas
sobre a diversidade humana em tudo favorveis sua compreenso e sua tolerncia.
Esta localizao das literaturas de lngua portuguesa no final do currculo implica o
redobrado interesse pela relao interdisciplinar com outras disciplinas de lnguas e de
literaturas, bem como de Histria. Delas se pode partir para a explorao do princpio da
coerncia do diverso, a respeito dos contedos do Programa, com base no facto notado de
o portugus ser o mediador de contedos literrios pertencentes a reas nacionais muito
distintas. D-se assim uma significativa achega reflexo etno-antropolgica de cunho
democratizante sobre a caracterizao cultural dos povos.
O facto de distintas literaturas se escreverem em portugus invalida, pois, a tese que
considerava as lnguas como expresso da alma de um povo, agora cingidas a factor que,
com outros, enforma as substncias de identificao nacional. Estud-las apreender a
individualidade das culturas que as sustentam e, ao mesmo tempo, reconhecer que o
portugus entra no paradigma histrico das grandes famlias lingusticas, para ser com
outras lnguas (v.g. francesa, inglesa, espanhola, rabe) uma lngua de cultura no mundo.
Cabe lngua portuguesa protagonizar a assero uma lngua, vrias nacionalidades,
neste caso nacionalidades das culturas lusfonas. O interesse cientfico da questo para a
Disciplina assenta no reconhecimento de que a partilha de uma lngua (portuguesa, no
caso) por vrias literaturas obriga considerao expressa das categorias do mesmo e
de outrem. A mesma lngua o mediador de distintas literaturas a que correspondem
linguagens estticas outras e formas diferentes de ser da lngua portuguesa, e por isso
operadoras visveis da demarcao das distintas literaturas nacionais.
Sendo hoje a Escola um espao privilegiado de multiculturalidades abertas sobre
diversas reas do conhecimento, um dos seus papis consiste em edificar o sentido activo
do respeito pelas outras culturas e, mais, da abertura aos outros e s suas particularidades.
Investir no conhecimento de base das afinidades que as unem, e na concretizao das
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diferenas que marcam as suas individualidades, parece ser uma maneira de a Instituio
exercer as suas funes de sorvedor das comunidades e, assim, de ncleo mediador de
mudanas sociais onde os alunos se sintam includos como agentes privilegiados.
Da deriva tambm o protagonismo cvico que Escola confere a incluso curricular
das literaturas de lngua portuguesa, nomeadamente no plano da interveno regional.
Mesmo sem realizaes materiais e financeiras significativas, fica a Escola dotada de
meios de aprecivel relevo, por legitimao institucional, para participar na estratgia
municipalista de grande parte das autarquias portuguesas, desejosas de reatarem laos
comunitrios com as suas congneres africanas por via da tctica das geminaes.
As inmeras iniciativas que, desde os anos setenta, e nas mais diversas escolas de
Portugal, tm vindo a ser empreendidas pelos professores, com o bom acolhimento dos
Conselhos Directivos/Executivos, encontram finalmente nesta integrao curricular da
Disciplina o resgate de um valor conta dos seus entusiasmos (voluntaristas) e das suas
actividades circum-escolares. Servidas por um enquadramento institucional, renem tais
actividades outras condies de interveno por ligao activa da Escola s mais diversas
reas socioculturais da Comunidade, uma das muitas maneiras de participao cultural
onde a cidadania e o exerccio do esprito de abertura compreensiva se realizam por
aprendizagem em aco, em ordem mais-valia humana comum, preciosa para cimentar o
lado pragmtico dos factos objectivos e dos negcios da vida.
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2 Parte. APRESENTAO DO PROGRAMA
1. Finalidades Com fundamento na relao lgica sujeito / objecto / destinatrio, por finalidades
entende-se o que incide sobre o objecto-contedo do Programa:
a. desenvolver conjuntos adequados de conhecimento sobre historiografia, cultura e
literatura, relacionados e integrados em espaos nacionais no domnio da Lusofonia;
b. consolidar o conhecimento sobre gneros, autores e obras tomados por referncia
representativa;
c. promover a capacidade de seleco e emprego dos instrumentos tericos adequados a
uma leitura metdica dos textos;
d. exercitar o relacionamento com os textos em sequncias orientadas de leitura, entre a
impressionista e a reflexiva, em ordem s significaes, sentidos e valores dos textos;
e. evidenciar o papel modelador da lngua portuguesa em forma de linguagens literrias
distintas, valorizando-a como mediador criativo de representaes de interesse humano;
f. aprofundar o sentimento de familiaridade com o livro e com a leitura destas novas
literaturas, evidenciando os seus fundamentos esttico, tico, ldico, semntico;
g. identificar as literaturas com os objectos do gosto pessoal e do desejo orientado pela
utilidade da descoberta de si, e dos outros, em todos os mundos possveis;
h. incentivar a projeco do enriquecimento literrio, das vivncias e dos mundos a que
os livros do acesso, sobre o fundo motivador de atitudes culturais, sociais, cvicas, de
cidadania, de solidariedade, de tolerncia.
2. Objectivos Com o mesmo fundamento lgico, considera-se que os objectivos incidem sobre o
destinatrio-aluno:
a. adquirir o interesse pela aprendizagem sobre obras de efeitos estticos, destas e de
todas as outras literaturas;
b. aperfeioar a conscincia do literrio, de contedos irredutveis vida emprica, em
ateno sua qualidade de fico e de criatividade, a despeito das vocaes ideolgica e
documental de muitos textos narrativos e poticos;
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c. adestrar o saber quanto a protocolos, comuns e especficos, a serem adoptados nas
situaes de leitura, p.ex., ldica, emocionada, crtica, ensastica;
d. desenvolver o princpio da utilidade do apetrechamento da leitura entre um mnimo
de ideias, noes, categorias e um nvel satisfatrio de elementos conceptuais, ajustados
s particularidades literrias do objecto;
e. apreender, sem a desfazer, a ambiguidade formativa dos textos literrios, em especial
sobre os planos das linguagens em que o portugus se converte em matria plstica e dos
contedos prprios dos mundos lusfonos;
f. edificar a convico da leitura como via de enriquecimento pessoal no sentido da
formao integral do carcter e da personalidade flexvel;
g. produzir textos de ensaio e de escrita criativa e realizar exposies orais, partindo de
tpicos como, i)- tipologia (parfrase, resumo, interpretao, comentrio, dissertao), ii)-
exposio (coerncia, clareza, correco), iii)- linguagem (morfologia, sintaxe, elocuo).
3. Viso Geral dos Temas/Contedos O facto de as Literaturas de Lngua Portuguesa, Brasileira, Africanas e Timorense, se
realizarem com figurinos prprios em lngua portuguesa no alheio a pressupostos de
temporalidade cultural, histrica e genolgica, bem como representao de realidades
em espaos territoriais distintos. Considera-se que a territorialidade constitui um atributo
de demarcao essencial para reordenar, p.ex., no domnio das literaturas africanas, as
insulares e as continentais. Por cruzamento de critrios, pode-se dizer que a literatura
brasileira, a guineense, angolana e moambicana compem um conjunto continental,
ficando o grupo insular reservado cabo-verdiana, so-tomense e timorense.
Sob o tpico territorial, outra anotao deve ser feita para as diferenciar das da latitude
ocidental-norte (p.ex., europeias). Nos universos por estas representados predominam, no
geral, contextos de matriz urbana que incentivam protagonismos individualistas e, assim,
a configurao de contedos de acentuado enquadramento social. Ainda que com menor
evidncia de significaes na literatura brasileira, ou no tanto, se se considerar o
realismo regionalista nordestino, nas literaturas africanas, pelo contrrio, bastante forte o
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sentido da valorizao das matrizes etno-antropolgicas dos seus universos humanos, sob
distintos efeitos semnticos, conceptuais, simblicos, substanciais, formais.
Com este fundamento (etno-antropolgico) se evoca a questo do relacionamento entre
a arte, a literatura e a sociedade que, sob o preceito da autonomia da arte, se exprime na
historiografia literria europeia como concepo esttica das "Belles Lettres", de "Arte
pela Arte". Embora registe uma presena de significativo valor na literatura brasileira, e
um cultivo fugaz nas literaturas cabo-verdiana e angolana na segunda metade do Sc.
XIX, esta concepo, como alis muitas outras, no pode ser transposta mecanicamente
para o contexto das literaturas africanas continentais.
As periodologias literrias so a este propsito esclarecedoras. Depois dos tempos
pioneiros desde meados do Sc. XIX (excepto em Moambique e Guin) dominados por
estticas que se dedicavam fundao do sistema da escrita, nas dcadas mais recentes
(1940-1980) as literaturas assumem o comprometimento social, como que resgatando o
papel interventivo das literaturas orais vernculas, nomeadamente o conto, reguladoras da
ordem comunitria. Motivadas pelas ideias nacionalistas, as poticas do empenhamento
registam efeitos estilsticos de aprecivel interesse, seja nos endereos entre os contedos
e realidades contextuais, seja nas formas, gneros e retricas predominantes, fazendo
sobressair os registos imagticos das relaes empricas, sensoriais e sensuais, entre a
linguagem, os seres e os seus meios envolventes, ao mesmo tempo que sobre o fundo
emoldurado pelo ideal da soberania.
Ainda que estas literaturas no impliquem o recurso a modelos poticos especficos,
nem envolvam categorias estticas de todo estranhas formao literria europeia, ser
importante atender a certas particularidades essenciais. Devido s questes de valor tico
que impregnam a esttica dos textos, no raro as significaes de nvel simblico s sero
validadas tendo em conta os dados etnoculturais de referncia tradicional como, p.ex., nos
cromatismos, no ciclo da vida, da morte, do amor, da famlia, da sabedoria, da iniciao,
dos escalonamentos da idade etria, da gerontocracia.
Com idntica noo de diferena se pe a questo tico-esttica do comprometimento
militante nos tempos de lutas pelas independncias. A despeito das deficincias que, em
muitos casos, tal orientao imprimiu qualidade literria da escrita, esta circunstncia
desencadeia, por outro lado, a necessidade de alargar a compreenso das significaes dos
seus textos. Se pela intencionalidade de "ser" esttico pertencem ao sistema da literatura,
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a inteno imediata do seu "fazer" tico, de participao ideolgica expressa, tambm (e
sobretudo, por vezes) as torna ambguas, ligando-as ordem epocal das funcionalidades
pragmtica e sociolgica dos textos de valor documental.
4. Sugestes Metodolgicas Gerais O facto de a lngua portuguesa ser o mediador destas literaturas oferece a vantagem do
seu acesso imediato mas, insiste-se, sob o risco de se cair em confuses simplificadoras.
Por isso se justificam as cautelas contra a tendncia para reduzir a individualidade e a
diferena do outro (crioulo, africano, brasileiro, timorense) por assimilao unicidade
do "mesmo" (portugus). No somente legtima e necessria, a explicitao de diferenas
marcantes, prprias das nacionalidades, ainda um meio e uma maneira de convivncia
com elas e de cotejo das afinidades existentes entre estas literaturas e a portuguesa.
4.1. Sobre o Mtodo
Tendo em ateno estes dados, deve-se harmonizar a prtica docente na sala de aula
segundo, pelo menos, dois princpios:
a. a atitude pedaggica como conjunto de procedimentos destinados optimizao dos
relacionamentos entre o professor e os alunos;
b. os procedimentos didcticos como actividade planificadora dos contedos lectivos,
ordenados segundo uma lgica de desenvolvimento progressivo. E, no espao da aula,
pode-se descrever a prtica docente no mbito das funes da linguagem sobre o eixo
comunicativo Destinador ! Mensagem ! Destinatrio:
b.1. o professor-destinador e o aluno-destinatrio ligam-se pela relao pedaggica em
duas funes complementares, formativas. Numa, professor e aluno so os actores de
papis convergentes (e complementares) da funo comunicativa, unidos como sujeitos de
uma participao-fazer posta em comum sobre o texto, em ordem convivncia, ao
ensino, aprendizagem, ao conhecimento. Na outra, ao mesmo tempo, professor e aluno
ocupam os plos do eixo unificador por onde circulam as mensagens-obras, com a
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funo comunicativa vocacionada para a efectivao da informao-saber acerca do
objecto-Programa que ao espao da aula endereado pelas Instituies.
b.2. uma vantagem heurstica desta explicitao consiste em responder questo de
fundo da Literatura na Escola. As lies de J. do Prado Coelho e de Aguiar e Silva
reconhecem que no se ensina a Literatura (a arte do Autor), mas consideram, com a
Sociologia da Leitura Literria, que o pblico, o destinatrio geral, um leitor virtual.
Pertence Escola e aco do professor a funo de determinar a converso, por aco
antecipadora, do aluno, futuro pblico virtual, em leitor de facto. De onde se deduz que
ensinar Literatura , antes de mais, criar o desejo do livro, o gosto pela leitura e ensinar a
ler de maneira aprazvel, consciente, informada.
5. Competncias a Desenvolver Atendendo ao lugar terminal da disciplina no currculo do Curso Geral de Lnguas e
Literaturas, refora-se a necessidade da ligao dos vectores ensino / aprendizagem e
comunicao formativa / participao. E por se tratar de matrias de novidade absoluta,
os alunos no podem (nem devem) ser levados a mobilizarem informaes que excedam
os seus conhecimentos actuais. Nestes domnios novos, a pedagogia da descoberta deve
por isso visar domnios precisos:
a. o enriquecimento das Competncias do aluno orientadas para os seguintes atributos
que mutuamente se pressupem:
a.1. Qualificao / Compreenso: As particularidades das matrias aconselham a que o
procedimento metodolgico geral comece pela caracterizao e integrao dos contedos
novos do Programa. Do aluno espera-se uma atitude mobilizada, de boa compreenso, que
o incite participao nas questes e temticas tratadas na sala de aula. Em primeiro
lugar, a pura empatia e, depois, o entendimento elaborado dos assuntos, segundo registos
orais ou escritos, so modos de qualificao que afinam o desenvolvimento da ateno,
das capacidades e dos raciocnios;
a.2. Predicao / Expresso: Admitindo que as obras valem na Escola sobretudo pelos
contedos, o seu estudo verdadeiramente um "acto de ler", tanto em sentido referencial
como metafrico. E so os graus de aprofundamento, as formas e modos de expresso
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desse acto que conferem sentido leitura. Neste domnio, onde pontifica a didctica dos
contedos, devem intervir as participaes orais e escritas diversificadas em matizes de
tipo ingnua-ldica, compreensiva, interpretativa, comentativa, dissertativa, analtica,
judicativa de gosto-qualidade;
b. o plano das Qualificaes, que entronca no das Competncias com aspectos atinentes
aferio de aproveitamentos globais, orientados para a optimizao dos conhecimentos
adquiridos. Consideram-se assim dois aspectos:
b.1. Conhecimentos: A informao cientfica para trabalhar com os textos consiste na
posse e utilizao de dados, noes, categorias, conceitos de literatura, de historiografia e
de cultura. Do seu uso correcto se afere o apetrechamento do aluno e o seu equipamento
quanto aos meios indispensveis ao desenvolvimento das suas apetncias e competncias
em aco na vida prtica;
b.2. Atitudes e Valores: Os conhecimentos adquiridos, em forma terminal de saber e de
competncia adestrada, exprimem o duplo sentido da modelagem dos alunos pelas lies
dos textos. Num sentido, realizam a sua formao cultural, intelectual e emocional como
leitores de palavra habilitada. No outro, espera-se que este apetrechamento se reproduza
na conformao do seu carcter, das melhores atitudes cvicas e da assuno dos valores
de ordem social, processo onde se torna muito sensvel a prtica pedaggica do professor.
5.1. Prtica da Cidadania
Acentuando um dos tpicos j referidos, reitera-se o aspecto interessante, de natureza
prtica, que consiste na explorao das oportunidades, dos recursos e das temticas que
incentivem a ligao das escolas aos seus meios sociais, aproveitando a dinmica actual
da estratgia de geminao entre muitas autarquias portuguesas e as congneres africanas.
Com este aprofundamento, at as Semanas Culturais (que se vm realizando por conta de
pequenos ncleos de professores e alunos) ganham outra legitimidade para entrarem na
esfera das actividades planificadas no mbito da Escola, nomeadamente em projectos de
natureza interdisciplinar. Constituem formas de exercitar o seu sentido de iniciativa que,
por outro lado, podem desencadear neles o interesse efectivo por prticas cvicas.
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6. Recursos Como usual em disciplinas literrias, no se aconselha nenhuma especial diversidade
de materiais, para alm do que concebvel dentro do apetrechamento escolar comum:
a. as Tecnologias que constituem um campo auxiliar interessante na mobilizao do
discurso pela imagem, eventualmente filmes brasileiros ou africanos. Mas aconselha-se
vivamente o recurso a vdeo-filmes de contedos culturais, em especial incidentes sobre
questes etno-antropolgicas, devido ao apelo mobilizador do interesse dos estudantes
para assuntos de evidente singularidade nas culturas dos outros. Neste particular,
merecem ser destacados, p.ex., os rituais festivos, religiosos e profanos, as danas,
coreografias, msicas, cantos, jogos, artes de contar, vesturios, actividades, alguns dos
domnios compreendidos pelas tradies de registo oral.
Idntico interesse se pode imputar aos meios informticos que, por sobre a prpria
prtica do trabalho em computador, permitem aceder s informaes disponveis a
respeito de temas de carcter geral e especfico das respectivas reas, recurso tambm
valioso para o incentivo ao desenvolvimento de trabalhos de investigao orientada;
b. na Biblioteca reside a funo indispensvel de apoio cientfico. No sendo ainda
comum e generalizado o mercado do livro brasileiro, africano e timorense de lngua
portuguesa, considera-se ser necessrio o apetrechamento da Biblioteca escolar nos
principais gneros, literatura, ensasmo, crtica, historiografia, cultura, revistas, jornais,
que possam fornecer a base satisfatria de um "corpus" activo e passivo de trabalho.
Ser pouco recomendvel o uso da fotocpia de textos literrios e ensasticos no espao
escolar, atendendo ao que tem de pernicioso e de dissuasor da benfica frequncia directa
do livro. Considera-se no entanto adequada a realizao de pequenas montagens de
pginas de textos, em antologia de narrativa e poesia. No plano material, constitui uma
oportunidade para o exerccio esttico do recorte, distribuio e colagem dos textos sobre
a pgina. No plano pedaggico permite a aplicao e exerccio de princpios de natureza
didctica, cientfica. E isto com a responsabilidade de quem produz uma antologia, para
todos os efeitos uma simulao do cnone.
15
7. Avaliao No actual contexto educativo, aceita-se como verdade irrefutvel que Avaliar no
apenas medir. A Avaliao coloca problemas muito enredados quer aos alunos quer aos
professores, devidos, segundo Fernando Augusto Machado (cf. Bibl.), complexidade
do objecto que se avalia e [] [aos] inmeros elementos e condicionantes que se cruzam
no acto de avaliar.
Simplificar e objectivar esta complexidade constitui um desafio a que o docente deve
dar resposta, no melhor exerccio da sua conscincia profissional (de justia) e de um
normativo inerente ao desempenho da sua profisso.
A Avaliao um instrumento que se destina essencialmente a regular o sentido das
aprendizagens. Para que este acto cumpra a sua funo, deve desdobrar-se pela dupla
vertente do rigor e da continuidade.
Por isso a avaliao da Disciplina compreender uma forte componente formativa,
tendendo para uma valorizao e capitalizao da progresso e do desenvolvimento das
diversas aprendizagens. Para cumprir essa determinante devero criar-se, ao longo das
aulas, contnuas oportunidades de evoluo regulada, propiciadas pela maior diversidade
de instrumentos que contemplem o conjunto das capacidades a desenvolver, ajudando o
aluno a conservar a sua motivao para as aprendizagens fomentadas.
Assim, em sntese, a Avaliao :
a. um elemento essencial na regulao do processo de ensino e aprendizagem;
b. um elemento intrnseco ao processo escolar, possibilitando a introduo de medidas
qualitativas conducentes a um progresso consciente;
c. um processo que tem em vista uma prtica participada pelos vrios intervenientes,
nomeadamente os alunos e o professor, atravs da construo dos instrumentos e da sua
ponderao, que tome em considerao o conhecimento do aluno e as finalidades da
Disciplina e do Ensino Secundrio, numa perspectiva global;
d. uma forma de ajuda construtiva, facultada ao aluno no sentido de potenciar o seu
modo de aprender;
e. uma prtica contnua e rigorosa que deve recorrer a instrumentos to diversificados
quanto necessrios para abranger todas as formas de aprendizagem, tais como:
e.1. exerccios presenciais (realizados na sala de aula);
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e.2. resumos de textos informativos;
e.3. exposies orais programadas;
e.4. relatrios de leitura;
e.5. fichas de pesquisa e investigao;
e.6. grelhas de observao;
f. um processo que tem como prioridade absoluta oferecer ao aluno uma constante
possibilidade de melhorar o seu nvel de aprendizagem;
g. um meio de permitir ao aluno uma nova atitude face ao espao-aula, convertendo-o
num lugar de permanente evoluo construtiva.
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3 Parte. DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA Ainda por uma questo de coerncia metodolgica, tem-se em vista os pressupostos,
consideraes e contedos gerais j referidos, agora sistematizados e aprofundados por
alargamento das ideias e linhas de fora dominantes a despistadas. E, para maior clareza,
adopta-se o estilo de sumrio analtico substantivo, ordenando o essencial dos contedos
sob a forma de tpicos orientadores, de alcance satisfatrio. Procura-se assim estabelecer
o equilbrio entre o que parece contraditrio, o largo mbito das literaturas integradas na
disciplina e os limites estreitos de tempo de um ano lectivo.
Torna-se necessrio manter aberto o ngulo de incidncia das questes enunciadas para
que, partida, no se exclua nenhuma das reas do conjunto (brasileira, cabo-verdiana,
guineense, so-tomense, angolana, moambicana, timorense). Por regra, tais enunciados
devem prever a liberdade de escolha do professor e a sensibilidade dos alunos, quanto aos
temas e pistas de trabalho exequveis no tempo lectivo de um ano.
Na explicitao do desenvolvimento e aplicao do Programa adopta-se o princpio da
aproximao gradual mediante: i)- enunciado de noes bsicas e de informaes sobre
espacialidade e diacronia, necessrias ao entendimento das literaturas nos aspectos gerais,
exteriores, historiogrficos, genolgicos; ii)- com uma tal base de contedos, enfatiza-se o
trabalho aplicado aos textos contemporneos do "corpus", de maior expresso nacional,
valorizados pelo lugar central do Programa.
0.1. Pressupostos Bsicos Uma disciplina em final de percurso escolar pode partir da convico de que os alunos
j se encontram de posse de quesitos fundamentais, tais como:
a. aptido para caracterizar e distinguir os grandes paradigmas textuais, no-literrios e
literrios e, em cada um, as diferentes tipologias e gneros;
b. domnio de noes sobre o estatuto de verdade das linguagens, verdade entendida ora
no sentido de verdico (referente semntico-transitivo de textos documentais), ora de
verosmil (referncia semntico-intransitiva dos textos literrios);
c. adestramento e informaes culturais e literrias que permitam a entrada no jogo do
texto, em obedincia aos seus protocolos e s atitudes cannicas da leitura;
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d. agilidade no uso de elementos operatrios (conceitos, noes, categorias, termos)
para falar dos textos com uma linguagem eficiente e apropriada.
0.2. Diacronia Formativa Embora inteis em outras literaturas, nas de Lngua Portuguesa so pedagogicamente
oportunas as noes de emergncia e de identificao, ambas necessrias ao traado
bsico dos seus perfis, sem as quais o conhecimento delas se perde no vago e difuso por
falta de moldura de enquadramento. A noo de emergncia, com a funo de etiqueta
taxinmica, serve assim para classificar, distinguindo, as literaturas de pases por norma
ligados aos processos histricos de colonizao europeia nos vrios continentes.
Nem sempre adequadamente conhecidas, devido sua mais ou menos curta histria ou
s leis do mercado do livro adversas sua promoo, nem bem reconhecidas por razes
ideolgicas, ou outras, e talvez por motivo da sua juvenilidade, estas literaturas no raro
disseminam no corpo dos seus textos, com maior ou menor evidncia ou subtileza, vrios
elementos propcios identificao das nacionalidades a que pertencem.
Em ordem ao seu adequado entendimento, so benficas algumas informaes de base
como: i)- apresentao e caracterizao individualizadora das literaturas por situao
geogrfica e por pases; ii)- sinopse das formas da expanso geogrfica e colonizadora,
das formaes urbanas, da fundao local dos Prelos e do desenvolvimento da instruo
escolar; iii)- descrio das territorialidades continentais e insulares, e questo da presena
ou do vazio de culturas anteriores de expresso oral e das suas funes e estruturas, mais
ou menos projectadas nas literaturas escritas; iv)- balizagem das diferentes diacronias
literrias e das circunstncias de desenvolvimento em relao a outros processos
socioculturais; v)- Descrio de periodologias literrias e suas ligaes a movimentos,
escolas, tendncias e grupos pertencentes a cenas literrias estrangeiras, portuguesa e
europeias; vi)- caracterizao das genologias dominantes e de autores, revistas, jornais,
obras e modos de enraizamento nacional, seja por aculturao de modelos de influncia,
seja por recriao original; vii)- anotaes sobre a problemtica da escrita em lnguas
vernculas e da estratgia da moldagem do portugus nas escritas das diversas
nacionalidades.
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1. Contedos Essenciais Uma vez que, como se sublinhou, a presente alnea constitui o centro do Programa, a
sua lgica obedece tanto a motivaes pedaggicas como ao dispositivo das substncias
didcticas. Por fundamento comum considera-se o acrscimo de interesse suscitado pelas
obras literrias mais prximas no tempo, seleccionadas sob o critrio da qualidade e da
representatividade dos autores que, por outro lado, encontram na dinmica comunicativa e
editorial a valorizao da sua contemporaneidade expressiva e atractiva:
a. os distintos momentos iniciadores da modernidade nacional, com as suas principais
referncias de inspirao e influncia: p.ex., Brasil (1922), Cabo Verde (1936), Angola
(1948), Moambique (1945-47);
b. a questo dos grupos geracionais, movimentos de ruptura, revistas e ideias estticas e
poticas, para incremento da literatura activada pela realidade social, cultural, tnica;
c. as orientaes e as formas da dominncia existencial, realista, nas escritas urbana e
regionalista, nos contedos de personificao individual e de afirmao nacional;
d. as temticas e a enunciao de sujeitos animados por princpios culturais, sociais,
tico-ideolgicos, numa esttica comprometida na poltica e na aco e militncia;
e. a representao do tempo das soberanias, da conscincia como ns-social e como
"eu-individual", da escuta tnica, das existncias urbana e cosmopolita e da dispora;
f. as formas estilsticas, retricas, simblicas, figurativas, dos discursos narrativos e
poticos, a potica dos ritmos e o sensorialismo/sensualismo das escritas, em ordem ao
real e ao sobre-real alimentado pelos avatares da crena.
Neste conjunto de enunciados, os dois primeiros (a, b), de incidncia diacrnica, visam
fundamentar e tornar inteligvel os percursos mais ou menos acelerados destas
modernidades, bem como favorecer a compreenso das dominantes histrico-evolutivas,
suas caractersticas e principais articulaes. Os outros (c, d, e, f), de demoras sincrnicas,
favorecem o recorte de temas, caractersticas, funes, figuraes, exemplos, assuntos,
motivos, influncias, contextos, linguagens, retricas, estilos, modelos, formas e
processos de escrita.
Abrindo-se por hierarquias de contedo, paradigmas semnticos, sistemas sgnicos,
nveis conotativos, simblicos, retricos e diversas modalidades discursivas e elocutivas,
representam mundos possveis, mais ou menos imaginativos, idealizados ou realistas, de
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comprometimentos sociais, polticos e ticos dos seus sujeitos que, por outro lado, podem
tambm demarcar o estatuto de autor-Autor em escritas auto-referenciais. Tomados por
junto, rene-se nestes tpicos os contedos e as tipologias de escrita que respondem a
uma sntese das questes postas pelos textos e que podem solicitar as preferncias do
professor e dos alunos.
2. Gesto Temporal Considera-se um ano lectivo de 33 semanas, repartido por dois semestres.
Para efeitos de operacionalizao dos contedos, considera-se tambm a distribuio
horria semanal da disciplina em trs tempos lectivos de 90 min cada (3 x 90
min/semana).
Atende-se assim necessidade de se privilegiarem, para alm dos tempos dedicados
leccionao dos contedos programticos, os intervalos reservados reflexo participada
e concepo e montagem de projectos de trabalho suscitados pelas abordagens de textos
na aula, de maneira a que se desenvolva nos alunos uma atitude responsvel, valorizadora
do seu desempenho e do desempenho do outro.
Tomando por princpio orientador os factores qualitativo e quantitativo das literaturas
do Programa, de dimenses histricas e implantao geogrfica diferenciada, os tempos
lectivos obedecem a uma distribuio ajustada a essa diversidade.
2.1. Distribuio Pedaggica
O nmero de aulas atribudas a cada Literatura, como base da ocupao lectiva, impe
limites extenso e gnero dos textos, limites que podem sempre ser flexibilizados por
meio da diversificao das escolhas temticas e das pistas e campos de trabalho. Assim:
a. tempos lectivos: embora seja outra a sequncia de leccionao (cf. distribuio em 2.3.
Literaturas, Autores, Textos), a sua indicao (dos tempos lectivos) segue a ordem da
situao espacial, para sublinhar a importncia que pode revestir a demarcao de
algumas afinidades e diferenas determinadas pelos paradigmas geogrficos.
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a.1. Literaturas Continentais:
. 8 semanas(*) Literatura Brasileira
. 6 semanas Literatura Angolana
. 6 semanas Literatura Moambiana
. 2 semanas Literatura Guineense a.2. Literaturas Insulares . 6 semanas Literatura Cabo-Verdiana . 3 semanas Literatura So-Tomense . 2 semanas Literatura Timorense Nota(*): Considera-se mais sensvel, no plano das aplicaes prticas, apresentar os
tempos lectivos (em todas as Literaturas), repartidos por unidades semanais (3 x 90
min/semana), nelas se incluindo tambm os tempos dedicados aos processos de
Avaliao.
b. "corpus" essencial: em vez de se proporem elencos maximalistas de autores/obras
que, sem artifcios, no caberiam nos tempos lectivos, apresentam-se antes conjuntos
satisfatrios, sem prejuzo do seu alcance representativo das Literaturas;
c. "corpus" complementar: em circunstncias ocasionais no raras, no entanto, pode-se
conceber que o dinamismo, o entusiasmo e a produtividade das turmas deixem margem de
tempo para um estudo mais alargado que, ento, encontra no corpus complementar o
caminho para se expandir para alm do primeiro conjunto recomendado;
d. tpicos gerais (tpicos, temas, palavras-chave): a sua indicao a par das respectivas
obras, contemplando as reas historiogrfica, genolgica, discursiva, temtica, formal,
retrica, estilstica, pretende apenas preencher um quadro de pistas no limitativas, seja do
interesse do professor, seja do que se revele ao gosto dos alunos. Remete-se porm para
Sugestes Metodolgicas uma explanao de caminhos e de sugestes conducentes a
desenvolvimentos muito mais completos;
e. ordem lectiva das Literaturas: obedecendo sequncia que mais abaixo se estabelece
(cf. 2.3. Literaturas, Autores, Textos), tem-se em vista ajustar o princpio da coerncia
pedaggica noo de importncia e valor consensual prprio e relativo delas.
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2.2. Sobre o "Corpus" Literrio
Como se indicou, o "corpus" bibliogrfico activo s inclui textos contemporneos, por
serem os que, pelos motivos invocados, se admite oferecerem maior poder de empatia,
por afinidade epocal, no binmio docente-aluno.
Entende-se que a insistncia neste culto da empatia vantajoso sob vrios aspectos. Por
um lado, favorece a aceitao das respectivas Literaturas e, por outro, torna atraente uma
disciplina opcional que, para existir e se consolidar, tem de saber ser cativante, bem como
criar a sua prpria necessidade, isto , justificar-se tambm pela dedicao dos professores
e pela sua procura por parte dos alunos.
Por motivo de coerncia cientfica, adopta-se a planificao e distribuio das obras,
poesia e narrativa, em sequncia temporal, em cada uma das Literaturas/gnero.
E considera-se necessrio sublinhar que incumbe Escola escolher, de acordo com o
seu projecto curricular, entre as obras do corpus essencial (obrigatrio) e entre as do
corpus complementar (opcional), os textos de, p.ex., poesia, contos, captulos, que
devem ser chamados a figurar no corpus de leccionao.
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2.3. Literaturas, Autores, Textos
Liter. Brasileira: 8 Semanas "Corpus" Essencial Tpicos, Temas, Palavras-Chave Carlos Drumond de Andrade, Antologia Potica, Lisboa, Dom Quixote, 2001
Criao; eu potico marginal, desintegrado; evaso, inconformismo e angstia existencial; tempo-priso e vida-morte; figura do amor-salvao/Ptria-Brasil
Vinicius de Morais, Antologia Potica, Lisboa, Dom Quixote, 2001
Conscincia: homem-templo/criao mo-po-tijolo e obra; silncio e submisso; palavra/poder e aco; Deus-piedade; Ptria-exlio; Mulher-gara e aurora
Jorge Amado, Os Velhos Marinheiros, Mem-Martins, Europa-Amrica, 1989
Herosmo e anticonveno; alcunha-marca-misria; lcool-alegria-libertao; companheirismo popular; humor; Exaltao da liberdade: o sonho e a fantasia
Joo Guimares Rosa, O Burrinho Pedrs in Sagarana, Rio de Janeiro, Nova Fronteira/Dinalivro, 1984
Universo sertanejo/universo da escrita; ruralismo e aco: fazendeiro/vaqueiro, gado/arraial; fantstico, crenas; recriao da linguagem/cdigo nordestino
"Corpus" Complementar Manuel Bandeira, "Libertinagem" in Estrela da Vida Interior, Rio de Janeiro, Jos Olympio, 1966
Memria/infncia; morte/doena, tristeza/alegria de viver; sonho e fantasia; coloquialidade confessional; imagens poticas do quotidiano; ritmo e verso livre
Joo Cabral de Melo Neto, Poesia Completa [1940-1980], Lisboa, IN-CM, 1986
Geografia rural; gentes e destinos; vida e injustias; potica-plstica/palavra/imagem concreta; Morte e viagem fnebre, ritual; pobreza, denncia poltica
Clarice Lispector, A Paixo Segundo G. H., Lisboa, Relgio dgua, 2000
Linguagem no feminino; procura e conscincia das perdas; escrita interrogativa da existncia, do ser, do destino, de Deus; espaos e coisas, posse e carncia
Jos Lins do Rgo, Menino de Engenho, Lisboa, Livros do Brasil, s.d.
Descoberta do universo familiar; infncia-engenho; alumbramento-ritual da refeio; ruralismo tropical; iniciao: escola/vida/religio; festejos; mulher-me
Ceclia Meireles, Romanceiro da Incon-fidncia, Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 1981
Modernidade/tradio; resgate de heris/amor ptrio e devoo/morte; narrativa-canto redentor de nomes e de feitos; potica/ritmo da palavra expurgada
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Liter. Cabo-Verdiana: 6 Semanas "Corpus" Essencial Tpicos, Temas, Palavras-Chave Jorge Barbosa, Jorge Barbosa, poesias I, Praia, ICL, 1989
Espaos reais/humanos: arquiplago, ambiente, ilha e eu-ilhu/paisagem/seres/vida; eu-aqui-insular/tu-algu-res -mundo-evaso; tica, potica da conscincia
Baltasar Lopes, Chiquinho, Linda-a-Velha, Editora frica, 1984
Ethos crioulo; imaginrio terra/mar insular/oceano; percursos iniciticos entre o sensual, o intelectual e o viril; referencialidade e simbolismos humanos
Germano Almeida, O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Arajo, Lisboa, Caminho, 1991
Figurao da cidade; vida mindelense; socializao do ser/parecer; fico realista; escrita humorstica; a narrativa de uma vida/crnica de um tempo havido
"Corpus" Complementar Gabriel Mariano, Ladeira Grande, Lisboa, Vega, 1993
Trilogia: ilha/seca/fome; dialcticas da vida/morte, passividade/revolta; viver a terra-me/sofrer o exlio, as conscincias simblicas: Ambrsio e Cabafume
Armnio Vieira, Poesias, Grfica do Mindelo, s.d.
Potica e olhar transfigurador; (ir)realidade do real; o nfimo, o pormenor, o facto, o ser/a magnificao, conotao e fantasia; intertextualidade, ironia, ritmo
Antnio Aurlio Gonalves, Noite de Vento, Lisboa, Caminho, 1998
Geografia diurna/nocturna da cidade; stios urbanos e seus casos humanos; tipos objectivos/subjectivos de personagens femininas/masculinas; a ilha/o mundo
Manuel Lopes, Os Flagelados do Vento Leste, Lisboa, Edies 70, 1985
Imagem da vida rural: pobreza, honradez, esperana e destino; chuva-milho/vento-morte; a montanha e a geografia da fome; o retrato de uma famlia unida
Orlanda Amarilis, Ilhu dos Pssaros, Pltano Editora, 1982
O cabo-verdiano em dispora; as ilhas e o mundo; a necessidade e desejo/partir e regressar; o real vivido e o onrico; escrita no feminino/seus protagonismos
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Liter. Angolana: 6 Semanas "Corpus" Essencial Tpicos, Temas, Palavras-Chave Alda Lara, Poemas, Porto, Vertente, 1984
Tempo ansioso, lugares de afecto, enfeitiamento e amor ptrio, solidariedade, fraternidade, esperana, generosidade, evangelismo, inconformismo, destino de mulher, revolta e idealidade, desejo, terra-frica
Luandino Vieira, Luuanda, Lisboa, Edies 70, s.d.
O musseque/a mistura cultural; personagens e tipos humanos; o conflito banal e a lio fabular: "o seu a seu dono/pede e recebers"; a represso colonial
Pepetela, A Montanha da gua Lils, Lisboa, Dom Quixote, 2000
Discurso/figura/conotao: alegoria; povo africano, Angola; tradies orais/actualidade escrita: o papel social/cultural do poeta, esperanas e desencantos
"Corpus" Complementar Agostinho Neto, Sagrada Esperana, Lisboa, S da Costa, 1974
Empenho-esperana; mundo/sanzala, branco/preto; condio escrava: contrato; fome, vergonha e medo; poesia e ritmo, sons/cores/danas/corpos glorificados
Paula Tavares, O Lago da Lua, Lisboa, Caminho, 1999
A Mulher/amor partilhado/canto da terra; os ritmos antigos da sabedoria; o barro, o fogo, o corpo/vida sangue, ddiva; escuta de falas-smbolos oraculares
Rui Duarte de Carvalho, A deciso da idade, Lisboa, S da Costa, 1977
Alquimia das palavras-coisas; o mapa/a viagem/ o sul-terra da oferenda; escrita-ritual/evocao; tempo e espao/deserto-guas fecundas/geografia-mulher
Manuel Rui, Um Morto & os Vivos, Lisboa, Cotovia, 1993
Retrato do menino hbil, na Escola/na vida; dever de hospitalidade; bito de rituais urbano/tradicional; a escrita do encanto, do humor, da ironia, da crtica
Jos Eduardo Agualusa, D. Nicolau gua-Rosada e outras estrias verda-deiras e inverosmeis, Lisboa, Vega, 1990
Reescrita da Histria; a (con)fuso cincia/magia; a verdade narrativa/o verdico factual/o (in)verosmil do gnero; os casos estranhos de verdade africana
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Liter. Moambicana: 6 Semanas "Corpus" Essencial Tpicos, Temas, Palavras-Chave Jos Craveirinha, Obra Potica, Lisboa, Caminho, 1999
Colonialismo/nacionalismo/cultura indgena; ritmo e expresso criativa/linguagem da veemncia; amor sensual; esperana, canto do negro/denncia poltica
Eduardo White, Janela para Oriente, Lisboa, Caminho, 1999
Fronteira entre prosa potica/poesia em prosa; ritmo e movimento/recorrncia/mutao/transposio; lgica e analogias da escrita/fala, de palavras/ideias
Mia Couto, Mar me Quer, Lisboa, Caminho, 2000
Recriao/transfigurao/conotao do real; verdade sobrenatural, empatia-afecto; seres populares/casos humanos; crnica da vida, guerra, caos, amor, ordem
"Corpus" Complementar Rui Nogar, Silncio Escancarado, Lisboa, Edies 70, 1982
Herana colonial-humilhao-recusa. Silncio, dor e amor; Despertar da esperana; priso e liberdade, a dor e o canto: a terra; unio povo/poeta/guerrilheiro
Rui Knopfli, Memria Consentida, Lisboa, IN-CM, s.d.
Intimismo, procura de identidade, amor-melancolia; erotismos afectos; simbologias: homens e natureza; meditao do lugar Conscincia da escrita esttica
Lus Carlos Patraquim, Vinte e tal Novas Formulaes e uma Elegia Carnvora, Linda-a-Velha, ALAC, 1991
Potica da palavra concisa/ discursiva/ a evocao/ a descrio de "eu": mundo de afectos, sensualismo, sensaes, sentidos do real, do onrico, do simblico
Lus Bernardo Honwana, Ns Matmos o Co Tinhoso, 3 ed., Porto, Afronta-mento, 1988
Escrita adulta de falas/mundos infantis; os restos da fbula/ces que pensam; espaos iniciticos urbanos e personagens-tipo; formas de conscincia poltica
Ungulani Ba Ka Khosa, Ualalapi, Lisboa, Caminho, 1991
Reescrita da Histria; a verdade da fico/os limites do sobrenatural africano: realidade-real sob a lgica do onrico, da crena no incrvel, estranho, inslito
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Liter. So-Tomense: 3 Semanas "Corpus" Essencial Tpicos, Temas, Palavras-Chave Francisco Jos Tenreiro, Corao em frica, Linda-a-Velha, Editor frica, 1982
Mestio, identidade/diferena: ambivalncia crioula eu-branco/eu-negro; humor e ironia complacente; conscincia ideolgica, luta, orgulho de Me-frica
Lit. Oral/Ann. Contos tradicionais san-tomenses, S. Tom, Dir. Nac. da Cultura de S. Tom/Caminho, 1984
Fora do gigante/perspiccia; mulher/marido/cime e inveja; lealdade e falsidade de amigos; espaos de alegria e respeito; simbolismos; o galo-liberdade, a tartaruga-esperteza, homem-traio/co-fidelidade
"Corpus" Complementar Alda do Esprito Santo, Bendexa, Lisboa, Caminho, 2000
Olhar de enleio no mundo-ilha; evocaes: escola e meninos, mar, praia, pntano, lodo, luares, feitios, sonho, poema-vozes universais, liberdade; denncia
Liter. Guineense: 2 Semanas "Corpus" Essencial Tpicos, Temas, Palavras-Chave Helder Proena, No posso adiar a palavra, Lisboa, S da Costa, 1982
Poesia-ptria-flor, chuva-esperana, mulher sensual, voz e canto/colectivo e luta, exortao-incitamento, horizonte- vitria, solidariedade, amor, vida, ptria
Lit. Oral, Tadeu, Viriato Augusto, Con-tos do Caram, Lendas e Fbulas Man-dingas da Guin, Lisboa, A.G.C., 1945
Situao inicial eufrica/o facto estranho da gazela/a deciso, a errncia, o contrato, a palavra-aco de heri fundador/a palavra proftica do pai. Tempo de paz/guerra, vitria e morte; muulmanos/cristos
"Corpus" Complementar Jos Carlos Schwartz in AAVV, Antologia Potica de Guin-Bissau, Lisboa, Inqurito, 1990
Poesia-retrato da sensibilidade; interveno, apelo e conscincia cultural/cvica; exaltao da sociedade e amor revolucionrio; sentimento herico da ptria
Liter. Timorense: 2 Semanas "Corpus" Essencial Tpicos, Temas, Palavras-Chave Xanana Gusmo, Mar Meu, Porto, Granito, 2000
Guerra e perda/recuperao; ptria e destino, nsia e tempo de espera; contradio: ansiedade e crena, mar-cu-liberdade, futuro e redeno, razo, justia
Lit. Oral/ Ann.,"O crocodilo que se fez Timor" e "Hahuk" in Artur Marcos, Timor Timorense, Lisboa, Colibri, 1995
Conto e mito fundador; o espao-pntano, agentes e figurantes: o crocodilo ancestral, a criana-pureza, a solidariedade, sonho e promessa, aventura da vida
"Corpus" Complementar Lus Cardoso, Crnica de uma travessia, Lisboa, Dom Quixote, 1997
Cultura-valores tradicionais/modernos; desencontro e surpresa/inquietao; realidade, durao, e tempos de mudana/valores; comunidade tnica e sociedade
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3. Sugestes Metodolgicas
Como sugere o fundo pedaggico do Programa, a sua organizao respeita a lgica do
desenvolvimento progressivo, onde cada tpico pressupe, por um lado, a considerao de
todos os que foram tratados antes e, por outro, uma anteviso do que se dir depois.
Considera-se, por isso, que no captulo 2.3. Literaturas, Autores, Textos termina de
facto a unidade respeitante aos contedos programticos, ficando o ponto 7. Avaliao
reservado para a verificao da produtividade da sua leccionao.
Tm agora estas Sugestes Metodolgicas o objectivo de aprofundar e dar
continuidade s indicaes includas em 4. Sugestes Metodolgicas Gerais da 1
Parte. Apresentao do Programa e disseminadas por alguns dos captulos de 3
Parte. Desenvolvimento do Programa.
Pretende-se que constituam, sob este ponto de vista, um complemento pedaggico das
funes do docente, como auxiliar na seleco de tpicos, no aprofundamento de pistas,
na utilizao de instrumentos e meios adequados a toda a tipologia de textos, enfim, que
ponha em destaque e em ordem pedaggica diversos conjuntos de informaes e de
sugestes prticas interessantes como base de trabalho vlida para os professores.
3.1. Das Literaturas em Geral
Uma das primeiras questes com que se debatem os estudos literrios, e que no pode
ser elidida na pedagogia escolar, consiste na interrogao da Literatura quanto sua
definio. As concepes fenomenolgicas so claras a esse respeito, ao reconhecerem ser
empiricamente fcil designar uma obra literria, para logo confessarem a dificuldade da
sua definio terica em termos satisfatrios. Duas caractersticas podem, porm, aplicar-
-se-lhe, por considerao dos seus atributos de valor esttico:
a. diz-se serem dotadas de "finalidade sem fim" e de "intencionalidade sem inteno",
por se aceitar que no so objectos de funo instrumental utilizvel de modo directo,
reconhecendo-se porm que agem por transformao mediata dos seus destinatrios;
b. por serem veiculados por discursos verbalizados, os seus contedos desencadeiam,
por norma, associaes interpretativas perturbadoras. Em radical contraste com outras
formas de arte tambm discursivas (pintura, msica, etc.), a linguagem da Literatura j,
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previamente, uma linguagem significante e, por demais, essencial na comunicao entre
os humanos. Ora, se a posse comum do discurso verbal por todos os falantes favorece a
familiaridade com o texto literrio, essa vivncia tende a desvalorizar a codificao de
nvel secundrio que torna o discurso literrio um outro diferente do discurso comum.
Colocados assim sumariamente os dados, ser oportuno tocar no problema da definio
ontolgica da Literatura, no seu "ser" difano disfarado sob um "aparecer" manifesto. Na
prtica, assume-se que a indagao deste aparecer coincide com o prprio acto de
descrever o texto, de falar dele, de lhe ceder uma voz para ele se dizer ou de dar sentido
sua condio de prtica significante. Caminhos de indagao a que o serse furta, so
maneiras complementares de uma pedagogia que reala o valor constitutivo do objecto
literrio, que o frequenta numa relao respeitvel, todavia incapaz de o definir.
3.2. Do Texto Literrio
Manifestamente, ao contrrio do texto documental que se encontra vinculado, por
obedincia, a um contedo referencial exterior, e sempre dependente da confirmao, ou
infirmao, do testemunho emprico, o texto literrio goza de independncia total em
relao realidade. O seu contedo no se cinge, pois, ao critrio da prova testemunhal,
ser verdadeiro ou ser falso. O texto literrio "" simplesmente, de acordo com as
regras do seu gnero, determinantes dos protocolos e da epistemologia de leitura.
Da que seja til encarar os gneros literrios tendo em conta a convergncia de alguns
dos aspectos da sua apreenso sensvel:
a. a forma de expresso dos textos visvel na tipografia da pgina, quanto s diversas
composies, versificadas (poesia), dialogal (teatro) e prosificada (narrativa);
b. as substncias dos contedos que, de modo simples, se identificam com o nvel
semntico-existencial dos complexos temticos ocupam lugares de extremo contraste
entre as narrativas do maravilhoso e as do realismo de vocao sociolgica documental;
c. um nico atributo, o estatuto de fico, garante a mesma qualidade literria destes
dois sub-gneros que, porm, se diferenciam pela maneira como as respectivas regras (de
gnero) caracterizam o estatuto das suas verdades-verosimilhana;
30
d. na narrativa realista, de moldura sociolgica da experincia comum, predomina
largamente a verdade-verosimilhana reconhecida pela doxa (pelo senso comum), quase
identificada, se no confundida, com a verdade-verdica dos factos da vida concreta;
e. na narrativa do gnero maravilhoso, a verdade-verosimilhana situa-se no extremo
mais oposto ao da realidade emprica, no lugar onde o discurso da oralidade tradicional
ensinou a situar a fantasia, e onde tudo plausvel;
f. para alm da sua importncia para o estudo dos textos (conforme as suas leis de
gnero), estas so questes que, pelo interesse que revestem na pedagogia dos critrios de
conhecimento, merecem toda a ateno, como se sabe, da prtica docente;
g. no que toca seleco e distribuio dos textos, a tipologia de contedos escolhidos
pode ser pensada segundo o critrio normativo do interesse, adequando-os ao escalo
etrio dos alunos. Relevante tambm o culto da relao do aluno com um texto prprio
de escalo etrio inferior para o incitar ao jogo de pura fantasia (a descredibilizao da
funo doadora do Pai Natal com a evoluo etria/racionalista na idade juvenil no
impede que, ao mesmo tempo, ou mais tarde, se entre no jogo da crena nele);
h. a verdade literria no ope a "verdade dos factos realistas" e a "falsidade dos factos
maravilhosos". Como se viu, em cada caso domina a verdade das regras do gnero e do
critrio epistmico. A crena prevalece nos mundos do maravilhoso, por completo aberta
na idade infantil, ao passo que a razo se desenvolve com a experincia etria at impor
apenas a credibilizao das realidades tangveis (em idade infantil os mundos emprico e
maravilhoso so injuntivos, vividos como crena; na adulta, a disjuno desses mundos
submete o empirismo dos factos ao imperativo racional, enquanto a fantasia maravilhosa
se desloca para o plano do faz de conta das vivncias de jogo teatral);
i. um aspecto essencial das literaturas do continente africano consiste nesta abertura dos
limites dos mundos concebidos e representados, por exigncia heurstica do poderoso
fundo das culturas tradicionais que no opem nem separam, por qualquer soluo de
continuidade, os universos empricos e sobrenaturais. A este respeito, tenha-se em devida
conta a fora da crena receosa nas prticas ditas de feitiaria.
31
3.3. Das Metodologias em Geral
Desde h dcadas que o ensino da Literatura se afastou da explicao da obra pelo
autor, e vice-versa, para tender, por distintas razes, para a valorizao dos aspectos
pragmticos do texto. O ganho evidencia-se pelo interesse dedicado ao destinatrio e,
assim, ao espao pblico centrado no leitor, considerado um poderoso agente activo na
vitalizao semntica das obras.
Mas, como se compreende pelas questes desenvolvidas nos tpicos anteriores, a
valorizao exclusivamente pragmtica, predominante na pedagogia escolar que se diz
centrada na fenomenologia da recepo pelos alunos, perde o essencial da realidade do
texto. No mnimo, dissolvem-se as questes da "gramtica" de sustentao do texto, da
semntica dos mundos que a se instituem e das linguagens que nele operam, arrastando
nesse desperdcio do em-si textual a desvalorizao do papel do professor e do saber que
lhe incumbe dinamizar.
Factualmente, insiste-se, a aula um espao de comunicao destinado produo de
conhecimentos, e de participao comum em torno do objecto literrio:
a. a docncia s verdadeiramente pedaggica se encenar um processo de relao
que, como se referiu, em lugar de simples binrio pragmtico, texto/aluno, mobilize os
factores do eixo comunicativo implicados na trade professor/texto literrio/aluno;
b. na medida em que a vocao do texto consiste em dar corpo e sentido aos mundos
que representa, e que esses mundos se definem tambm pelo seu interesse humano, deve a
Literatura ser tomada como uma abertura s sensibilidades (do professor e dos alunos)
que se exercitam em torno do texto. O ensino/aprendizagem torna-se, nesta perspectiva,
um motivador da capacidade de fantasiar, da argcia para o entendimento das coisas da
vida, da formao do gosto e do esprito judicativo, da compreenso do outro, do diverso,
e de todos os melhores relacionamentos sociais;
c. aceitando a verdade aristotlica da mimesis, ainda mais se refora a importncia da
pedagogia como processo-relao tridica e, assim, a responsabilidade do professor como
tal e exemplo de adulto. Pela sua situao na aula, o professor desempenha uma funo
teatral que no pode fugir condio de exemplo, na conformidade da sua linguagem
linguagem do texto, no ajuste das leituras-anlises s condies que ele postula, e no
entusiasmo com que deve revestir a frequncia do texto, da sua habitao, do seu estudo;
32
d. considerado o estatuto esttico do objecto literrio, as atitudes do professor devem
ser pedagogicamente mobilizadoras e didacticamente interessantes, para que suscitem no
aluno atitudes equivalentes. Isto implica que a relao ensino/aprendizagem se conceba
tambm como jogo aprazvel e desenvolvimento pessoal, quer de conscincias lcidas,
quer de conhecimentos formativos;
e. e porque de relao se trata, de igual modo importante a atitude do aluno que entra
no jogo cultural do texto, para que aprenda a tom-lo como centro de interesse e como
desafio intuio das suas leituras em progressivo aperfeioamento;
f. dada a complexidade geral dos textos, deve o professor apresent-los tendo em conta
o facto de a Literatura ser "uma prtica mais ou menos impura". No plano semntico,
reenvia para a configurao de um supra-real de limites vagos e para valores estticos que
o transcendem. Se em si mesmo predomina a discursividade marcada pela ambiguidade
de codificaes, primria e secundria, no plano da sua exteriorizao, a mensagem
ltima que uma obra d a ler sempre humana, formativa, tica;
g. a dinamizao da aula deve pois obedecer a tcticas que tornem a ateno dos alunos
cativa dos aspectos mais apelativos do texto, de percepo evidente, assim se abrindo os
mltiplos caminhos de acesso vivncia do livro e da leitura. Num primeiro contacto
parece ser interessante a leitura ingnua-ldica. Por obedecer ao improviso, deixa o aluno
livre para uma relao espontnea, de empatia e projeco, e de pura opinio, favorvel
prtica da expresso oral;
h. aceite a hiptese da diversa orientao das leituras ("ingnua-ldica, compreensiva,
interpretativa, comentativa, dissertativa, analtica, judicativa de gosto-qualidade"), cada
uma com a sua funo prpria, ser ainda atributo da funo docente sugerir e orientar o
aluno no exerccio daquela (leitura) que se revelar mais adequada s circunstncias da
aula e s solicitaes do texto;
i. com o sentido de funo bsica, a leitura compreensiva situa-se ao nvel da primeira
codificao do discurso, prxima da ordem verbal da lngua, por isso afim da parfrase.
Sem acrescentar nada de novo ao texto, a parfrase todavia um exerccio til para
desenvolver a capacidade de entendimento dos sentidos que se movimentam no texto.
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3.4. Da Aprendizagem das Leituras
Tomando por via de entrada no texto aquelas leituras, e vrias outras, escritas e orais, a
sua utilizao pode seguir uma ordem de progressiva complexidade. Em conjunto, devem
orientar-se para a afirmao dos conhecimentos em fase de aquisio, bem como do
adestramento de "saber-fazer" e "como ler". Na prtica, os trabalhos devem harmonizar-se
com a empatia dos alunos, por um lado, valorizando-os subjectivamente e, por outro,
adequando-os sua formao fruitiva e intelectual, com a operacionalizao que melhor
se ajuste especificidade dos textos, tendo em vista, p.ex.:
a. a interpretao que guarda ainda a fidelidade palavra do texto, com a finalidade de
o explicar por mediao metalingustica;
b. o comentrio que j um exerccio mais autnomo. Em oposio aos momentos de
compreenso e interpretao, ambas fiis reprodutoras da palavra textual, o comentrio
solicita uma reaco pessoal, em forma de opinies, apreciaes, generalizaes e ideias
do leitor destinatrio sobre o texto;
c. a dissertao entendida como forma de conhecimento participativo, como expresso
livre de reflexo pessoal. No ficando presa ao contedo literrio, ela permite a abertura
ao exerccio da pura subjectividade do aluno-leitor que, assim, pode tomar o contedo do
texto por pretexto para um jogo de ilaes generalizantes;
d. a anlise que exprime a atitude heurstica oposta dissertao dirige-se ao prprio
corpo do texto para descrever a sua "anatomia", a sua organizao como sistema em
equilbrio (ou no). Se se admitir a legitimidade da metfora anatmica, pode-se dizer que
a anlise encara o texto pelo ngulo da sua gramtica e das reas complementares,
convocando para as teorias e apetrechos metodolgicos que melhor respeitem a realidade
e a "vontade" do texto (o desrespeito pela vontade do texto leva dissertao, no
anlise). Ressaltam desta posio do problema algumas exigncias fundamentais, como
sejam, i)- o princpio do mtodo; ii)- o domnio conceptual e nocional adequado
especificidade do texto; iii)- a orientao e o nvel de interveno da anlise tendo em
ateno as linhas de fora e de significao do texto; iv)- a circularidade do movimento,
da anlise que caminha do todo para as partes e, inversamente, para a sntese global (que
tanto pode terminar por uma leitura unificadora, como pode deixar simplesmente aberto o
campo dos sentidos se for essa a lgica do mtodo ou da proposta do texto).
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3.5. Dos Caminhos da Leitura Analtica
Tira-se da experincia comum, das sugestes dos manuais e dos desenvolvimentos
anteriores, que os textos, enquanto unidades que se auto-sustentam, constituem sistemas
internamente estruturados por uma "gramtica" que se deixa descrever por distintos
mtodos. Um deles , p.ex., o relacionamento integrativo de nveis de significao, desde
as unidades inferiores ao lexema, passando pelo lxico, pela frase, at atingir as unidades
maiores de expresso e de contedo onde a semntica pode entrar em plenitude:
a. no domnio da poesia merecem ateno os procedimentos orientados para, p.ex.:
a.1. efeitos fnicos no interior da palavra;
a.2. sentidos conceptuais ou referenciais do lxico;
a.3. significaes conotativas ou retricas;
a.4. campos semnticos polarizados por palavras-chave;
a.5. movimentos lgico-semnticos intra-estrficos determinados pelo verbo da frase;
a.6. nexos formais e semnticos de sustentao inter-estrfica;
a.7. eixos semnticos estilsticos, sgnicos e simblicos, isotopias aglutinadoras da
mensagem potica;
a.8. efeitos de ritmo engendrado pelo verso livre na estrofe, no metro, na mancha
geogrfica do texto na pgina, e na fora elocutiva, conceptual e referencial do lxico;
a.9. sentidos da mensagem, entre o "eu-individual" e a tica do comprometimento
ideolgico e poltico, e funes de consciencializao, acusao, denncia, incitamento
nacionalista, celebrao do empenhamento militante;
b. na narrativa em geral a anlise pode incidir sobre nveis privilegiados, tais como:
b.1. elementos funcionais de valorao predominante, informaes objectivas, dados
indiciadores, expanses descritivas, elementos nucleares aceleradores da histria;
b.2. fragmentos lgico-diegticos como unidades definidoras de sequncias narrativas,
ligadas em progresso crescente;
b.3. complexificao diegtica de efeito lgico-temporal segundo as clssicas formas
em "encadeamento", "alternncia", "encaixe";
b.4. configurao progressiva das personagens segundo os atributos semnticos que as
qualificam como "ser", as funes que as implicam como agentes (sujeitos, auxiliares,
objectos, circunstncias) de um fazer qualquer e os eixos que as ligam umas s outras;
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b.5. categorizao das coordenadas de espao e de tempo, de acordo com as suas
funes na narrativa: i)- espaos e tempos objectivos e subjectivos; ii)- espaos tpicos,
utpicos, atpicos, circunstanciais (urbanos, rurais, martimos, fluviais, areos, estrelares,
subterrneos); iii)- tempo (deformado/deformador) da histria, tempo do discurso, tempo
histrico, tempo aspectual, tempo semiolgico (ritmo da histria), tempo existencial das
personagens; tempo ucrnico (ideal), acrnico (mito);
b.6. vigncia de modalizao narrativa: i)- informaes por focalizao; ii)- resumo,
cena, pausa descritiva, elipse de dados; iii)- narrao de factos e de falas, indirectas,
directas, indirectas livres, instantneas;
b.7. emprego de formas discursivas da enunciao e tipologias de texto na 3 pessoa
pronominal (narrativa comum), na 1 pessoa (narrativa autobiogrfica) e na 2 pessoa
(rara, narrativa pedaggica);
b.8. descrio de dominantes da enunciao narrativa em registos distintos, o lgico
(causalidade e cronologia) e o analgico (afinidade-metfora, contiguidade-metonmia,
integrao-sindoque, contraste; tpico do registo da fala e das literaturas orais);
b.9. sistematizao da enunciao pessoal do narrador, quanto a intervenes sobre o
narrado e suas funes: apartes, generalizaes, manipulaes, divagaes, comentrios,
opinies, juzos, apreciaes;
b.10. dominncias sgnico-referenciais, estilsticas, retricas, simblicas, mitificantes, e
suas significaes; a empatia do humor, zombaria, chiste, ironia, pardia, enlevo, afecto,
identificao, dialogismo;
b.11. caracterizao dos mundos representados pela narrativa, linhas privilegiadas de
sentido, temticas e valores realados, em universos de dominncia pessoal ou social;
b.12. categorizao genolgica do texto e seu relacionamento de evocao e citao
(intertextualidade) com outros textos anteriores ou sincrnicos, orais ou escritos;
b.13. valorao esttica dos textos como prticas de escrita inovadora ou repetitiva;
c. no sendo a anlise um fim em si, jogar sobre a circularidade do movimento que
integra as partes no todo do texto. Na busca de sentidos de sntese da leitura reside, no
essencial, o exerccio onde se completa em plenitude a habituao criada do acto de ler:
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c.1. extrair dos sentidos elaborados as informaes respeitantes aos contedos textuais,
por norma destinados ampliao dos conhecimentos dos alunos, recompondo a sua
bagagem de saber til em sentido predominantemente objectivo;
c.2. enriquecer a participao literria deles com o sentimento de satisfao no acto de
ler e com o prazer inicitico da injuno entre o til e o gracioso;
c.3. valorizar a categoria aristotlica da mimesis nas representaes textuais tendo em
conta o seu interesse para o auto-conhecimento, para a compreenso da vida, para o
adestramento til participao activa que qualquer aluno ser induzido a cumprir mais
tarde, em especial no espao cvico e no exerccio da cidadania, onde se jogam por inteiro
as funes de compreenso lcida e crtica, ldica e produtiva.
3.6 Do Conhecimento das Literaturas de Lngua Portuguesa
Em termos gerais, estas Literaturas devem ser encaradas, como quaisquer outras, no
contexto do sistema comum, mas vistas na sua especificidade, para o efeito podendo ser
considerada a utensilagem antes exposta, bem como alguns dos seguintes tpicos:
a. deteco de aspectos que enformam a personalidade de cada uma das Literaturas
tendo como ponto de mira a poesia, o conto, a narrativa-romance;
b. rastreio de dados de informao historiogrfica, autorial e circunstancial, apenas
quando na proporo e nos momentos em que cooperem na composio da moldura de
enquadramento, de referncia e de enraizamento geral;
c. considerada a lngua portuguesa comum, levantamento de elementos morfolgicos,
lexicais e sintcticos que explicitem o estilo da linguagem dos textos e da escrita dos
autores que, por vezes, justifica a existncia de glossrios particulares;
d. partindo de informaes externas, situar o texto no seu contexto epocal, orientando-o
para uma anlise de despiste de tpicos de entrada progressiva:
d.1. apreenso de elementos de maior evidncia, tais como formas tipogrficas de
escrita (na poesia de verso livre ou no conto), composio morfolgica e frsica de termos
lexicais novos;
d.2. reconhecimento de efeitos expressivos motivadores dos sentidos de relao com o
mundo emocional e sensorial (olhar, ouvido, tacto, paladar, olfacto);
e. caracterizar os aspectos mais salientes dos contedos e das temticas, de descries e
de outros elementos que suscitem a atitude de surpresa;
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f. descrever na narrativa breve ou longa, a organizao das histrias e, ao mesmo
tempo, a forma lgica que preside urdidura das suas linhas de aco, estudando:
f.1. a arquitectura do espao e do tempo (tempos objectivos de elementos da histria,
tempos subjectivos das vivncias humanas; tempos escandidos pelo relgio, calendrio,
cosmognicos, cclicos; espaos urbanos, rurais, sociais, cosmopolitas, tradicionais,
comunitrios, religiosos, tnicos, simblicos);
f.2. a tipologia das personagens, as suas relaes (actividades, funes) e estatutos
(saber, autoridade, sabedoria, poder, riqueza, idade);
g. caracterizar a estrutura de pessoa na circulao de mensagem, entre o centramento no
"eu-individual" e na tica participativa de "eu-ns" inclusivo, por comprometimento
ideolgico-poltico, e suas consequentes funes de consciencializao, celebrao do
militante e do lutador, acusao, denncia, incitamento nacionalista;
h. especificar a natureza referencial ou conceptual da linguagem em aco no texto,
retrica, figurativa, conotativa, recriada;
i. confrontar o versilibrismo da poesia com a produo de efeitos, maiores ou menores,
de ritmos sugestivos;
j. tipificar as concepes gnoseolgicas da realidade que, no raro, transcende muito
largamente os limites estreitos da racionalidade comum, entrando plenamente no mundo
das realidades sobrenaturais, onde a ordem da crena uma chave indispensvel;
k. detectar os elementos de valorizao esttica do corpo e dos sentidos na sua relao
com o mundo das realidades empricas e, por vezes, tambm sobrenaturais;
l. estudar os entretecidos do registo da oralidade no da escrita com a acentuao do
regime lgico associacionista da linguagem em formas de discursividade "a-propsito"
por analogia, contraste, contiguidade;
m. projectar os dados postos em relevo na anlise para a ordem do gnero e situar a
obra no seu contexto epocal. Por recurso a conhecimentos j produzidos, tornar explcitos
os sentidos criativos dos universos representados, as realidades que eles refractam, as
problemticas e os compromissos com a realidade;
n. ainda por referncia ao estudo realizado, e por cotejo com outros conhecimentos de
literatura, determinar afinidades, diferenas e demais atributos que incidam sobre elos de
convergncia e de particularidades vrias, p.ex., culturais, literrias, ticas, ideolgicas,
sociais, simblicas entre estas Literaturas e a portuguesa.
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3.7. Operacionalizao
Para o eficaz relacionamento terico-prtico e de trabalho sugerem-se os seguintes
suportes, meios e tarefas:
a. Audiovisuais: i)- visionamento de filmes e documentrios; ii)- audio de registos
vrios, poticos, narrativos, dramticos;
b. Escritos: i)- leitura crtica de textos de carcter informativo; ii)- leitura silenciosa;
iii)- leitura expressiva;
c. Participao oral em actividades: i)- debate; ii)- frum de discusso; iii)- simulaes;
d. Participao escrita: i)- questionrios; ii)- fichas de leitura; iii)- esquematizao de
textos; iv)- resumos; v)- dissertao; vi)- relatrio; vii)- guies;
e. Porteflio monogrfico ou miscelnea: i)- de temtica; ii)- de autor; iii)- de gnero;
iv)- de notcia; v)- de crtica.
Outros elementos podero ser postos em prtica, dependendo da iniciativa do professor
e dos alunos, individualmente ou em grupo, uns de formao passiva, outros activa, todos
orientados pelas finalidades e objectivos da Disciplina, destinados eficaz consolidao
de competncias, ao adestramento de performances e s respectivas avaliaes.
3.7.1. Sobre os Meios Audiovisuais
Para alm das empresas distribuidoras de filmes, de grupos de teatro e de clubes de
vdeo, sugerem-se como fontes de recursos, quer de vdeo-filmes sobre reportagens de
carcter cultural (questes etno-antropolgicas, tradies, rituais, danas, msicas, jogos,
actividades diversas), quer de registos de entrevistas a autores, assim como de declamao
de poesia e de leituras de excertos de algumas obras indicadas no Programa, as seguintes
Instituies:
1. Servios culturais da Embaixada do Brasil e das dos outros pases lusfonos;
3. Arquivos e Documentao da RTP, SIC, RTI;
6. Arquivos da RDP, RR, TSF;
7. Bibliotecas (Nacional de Lisboa, Hemeroteca da Cmara Municipal de Lisboa, Torre do
Tombo, Sociedade de Geografia de Lisboa).
39
4. Parte. BIBLIOGRAFIA 1. Cincias da Educao/Didctica AA.VV. (1989). Congresso sobre a Investigao e Ensino do Portugus. Lisboa: ICALP.
(Cerca de cento e trinta artigos de reflexo e experincia de professores de todos os nveis de ensino, em Portugal e no Estrangeiro. Questes de incidncia terica e prtica ainda sugestivas).
Beltro, L. & Nascimento, H. (2000). O desafio da cidadania na escola. Lisboa: Presena. (Sobre a educao para o sculo XXI. Abordagem dos conceitos de educao para a cidadania, cvica, para valores, carcter, construo da identidade psicossocial, dentro do actual contexto educativo).
Bredella, L. (1989). Introduo Didctica da Literatura. Lisboa: Dom Quixote. (Conceito de compreenso e fundamento da Didctica da Literatura, em sentido global, instrumento de uma higienizao social. Problemas fundamentais, v.g. "desenvolvimento do esprito crtico", "contributo para a praxis do sucesso", "conformao e satisfao", "educao emancipadora").
Ceia, C. (1999). A Literatura ensina-se?. Lisboa: Colibri. (O ensino oficial da Literatura relacionado com a Teoria da Literatura. Problemticas relacionadas com as temticas, com a questo do anonimato do texto, da ideologia e da textualidade).
Coelho, J. P. (1976). Como ensinar literatura. In J. P. Coelho (Ed.), Ao Contrrio de Penlope. Venda Nova: Bertrand.
(Sobre o sentido integral do ensino da Literatura, e relao leitor-texto implicada na formao do gosto, do carcter, da personalidade, das atitudes esttica, de orientao cultural, e tica, no relacionamento com a vida).
Corteso, L. (2000). Ser professor: um ofcio em risco de extino?. Porto: Afrontamento. (A necessidade de conscientizar os professores para a sua funo interventiva e formadora face diferena, analisando a funo e o significado da sua actuao nesse contexto).
Delors, J. (1996). Educao - Um tesouro a descobrir. Porto: ASA. (Trabalho da Comisso da Educao para o sculo XXI da UNESCO, sobre perspectivas da educao do futuro, com a anlise do final do sculo XX, perodo tipicamente de transio cultural e civilizacional. Identificam-se tenses do futuro e o papel da educao no estabelecimento do Projecto Pessoal de Vida dos indivduos. Quatros pilares da educao do futuro, com recomendaes sobre problemticas associadas ao desafio da educao).
Ferraz, M. L. A. (1989). In AA.VV., Congresso sobre a Investigao e Ensino do Portugus, Actas. Lisboa: ICALP.
(Definio de literatura como o assumir [] da condio [eminentemente equvoca] da linguagem [literria]; do fascnio e da dificuldade [...] de a linguagem falar de si prpria". Sintetiza dessa equivocidade: "o risco e o desafio de ensinar literatura ser [...] o de sermos capazes de pr a vida fora da literatura, sabendo que a literatura vive da vida").
Fonseca, A. M. (2000). Educar para a cidadania. Porto: Porto Editora. (Em trs seces se fala das motivaes promotoras da educao para a cidadania; srie de princpios que devem sustentar essa aco educativa; proposta de contedos e metodologias para a sua prtica).
Machado, F. A. (1996). Avaliao em tempo de mudana. Porto: ASA. (Reflexo sobre a problemtica da avaliao no sistema educativo portugus, analisando a legislao e esclarecendo alguns princpios subjacentes ao conceito de Avaliao e sua prtica).
Matos, M. V. L. (1999). As funes da Literatura. In M. I. Rocheta & M. B. Neves (Eds.), Ensino da Literatura, Reflexes e Propostas a Contracorrente. Lisboa: Cosmos.
(A questo para que serve a Literatura? encontra vrias caminhos orientados para a especificidade do texto literrio, para o modo como ele tem sido encarado ao longo dos tempos e o interesse cognitivo da Literatura).
Mello, C. (1998). O Ensino da Literatura e a Problemtica dos Gneros Literrios. Coimbra: Almedina.
[Questo (1 Parte, Cap. 3) da representao dos modos e dos gneros literrios, e incidncia (3 Parte) no ensino da literatura: "relaes entre paradigmas didctico-pedaggicos", "prtica pedaggica", "integrao de saberes no ensino", "estratgias didctico-pedaggicas de leitura"].
40
Monteiro, A. R. (2000). Proposies sobre a Educao para os Direitos do Ser Humano. In Encontro Internacional- Educao para os Direitos Humanos. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian (Pr-Publicao).
(Caracterizao do professor como educador, com base em dados de documentao nacional e internacional. Defesa da educao de qualidade como direito humano, sob o princpio fundamental do direito educao