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Quatro ou cinco mil anos antes da nossa era, a antiga Cítia, que se estendia do oceano Atlântico aos mares polares, era ainda povoada de florestas espessas. Os negros haviam denominado esse continente, que viram nascer ilha por ilha, “a terra emergida das ondas”. Como ela, com o seu solo branco, requeimado do sol, con‑ trastaria com essa Europa de costas verdes e baías profundas e úmidas, seus rios sonhadores, seus lagos sombrios e sua névoa eternamente enrolada aos flancos das suas montanhas! Pelas planícies ervosas, vastas como pampas, não se ou‑ via senão o grito dos veados, dos cervos e dos cabritos mon‑ teses, o mugido dos búfalos e o galopar de enormes rebanhos de cavalos selvagens passando de crinas ao vento. O homem branco, que habitava tais florestas, não era mais o homem das cavernas. Pode‑se dizer que já era o senhor da sua terra. Inventara as facas e os machados de silex, o arco e a flecha, a funda 1 e o laço: descobrira, enfim, dois companheiros de luta, dois amigos excelentes, incomparáveis e dedicados até a morte — o cão e o cavalo. O cão domesticado, tornado o guarda fiel da sua casa de madeira, garantia‑lhe a segurança do lar. Dominando o cavalo, havia conquistado a terra, submetido os outros ani‑ mais — tornava‑o o rei da terra. Montando cavalos fulvos, es‑ ses homens ruivos passavam, em um turbilhão, sobre a terra moça, como relâmpagos de luz vermelha. Caçavam o urso, o lobo, o auroque; 2 amedrontavam a pantera e o leão, que então habitavam os nossos bosques. Havia começado a civilização: a família rudimentar, o clã, a tribo, já existiam. Os citas, filhos dos hiperbóreos, erigiram por toda a parte, aos seus maiores, monstruosas pedras tumulares. Quando morria um chefe, enterravam‑se com ele as suas armas e o seu cavalo a fim, diziam, de que o guerreiro pudesse cavalgar as nuvens e caçar lá no outro mundo o dragão de fogo. Daí, o costume de sacrificarem os cavalos, que repre‑ 1 Funda: atiradeira, laçada de couro ou de corda para atirar projéteis ao longe. (N. do E.) 2 Auroque: bisão europeu. (N. do E.) sentavam um grande papel entre os vedas e os escandinavos. A religião começava assim pelo culto dos antepassados. Os semitas encontraram o Deus único, o Espírito uni‑ versal, no deserto, no cimo das montanhas, na imensidão dos espaços estelares. Os citas e os celtas encontraram os deuses, os espíritos múltiplos, no fundo dos seus bosques. Foi ali que eles ouviram as vozes reveladoras, que sentiram os primei‑ Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho — 9ª turma 5ª aula: Constituição geográfica da Terra Textos complementares GEAEL Aula 5 — Entre muitas, a lição que fica: Isto prova que tal dilúvio foi numa vasta zona e numa mesma época e que a tradição religiosa uniformizou‑se em torno à sua descrição por herança de gerações sucessivas. É pois, assim, utilizando as forças da natureza e as leis da própria criação, que os Senhores dos Mundos, auxiliares da Divindade, operam na superfície destes as alterações necessárias á sua própria evolução. Iniciação Espírita - Autores diversos

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Quatro ou cinco mil anos antes da nossa era, a an tiga Cítia, que se estendia do oceano Atlântico aos mares polares, era ainda povoada de florestas es pessas. Os negros haviam denominado esse continente, que viram nascer ilha por ilha, “a terra emergida das ondas”.

Como ela, com o seu solo branco, requeimado do sol, con‑trastaria com essa Europa de costas verdes e baías profundas e úmidas, seus rios sonhadores, seus lagos sombrios e sua névoa eternamente enrolada aos flancos das suas montanhas!

Pelas planícies ervosas, vastas como pampas, não se ou‑via senão o grito dos veados, dos cervos e dos cabritos mon‑teses, o mugido dos búfalos e o galopar de enormes rebanhos de cavalos selvagens passando de crinas ao ven to. O homem branco, que habitava tais florestas, não era mais o homem das cavernas. Pode‑se dizer que já era o senhor da sua terra. Inventara as facas e os machados de silex, o arco e a flecha, a funda1 e o laço: descobrira, enfim, dois companheiros de luta, dois amigos excelentes, incom paráveis e dedicados até a morte — o cão e o cavalo.

O cão domesticado, tornado o guarda fiel da sua ca sa de madeira, garantia‑lhe a segurança do lar. Domi nando o cavalo, havia conquistado a terra, submetido os outros ani‑mais — tornava‑o o rei da terra. Montando cavalos fulvos, es‑ses homens ruivos passavam, em um turbilhão, sobre a terra moça, como relâmpagos de luz vermelha. Caçavam o urso, o lobo, o auroque;2 amedron tavam a pantera e o leão, que então habitavam os nossos bosques. Havia começado a civilização: a família rudi mentar, o clã, a tribo, já existiam. Os citas, filhos dos hiperbóreos, erigiram por toda a parte, aos seus maio res, monstruosas pedras tumulares.

Quando morria um chefe, enterravam‑se com ele as suas armas e o seu cavalo a fim, diziam, de que o guer reiro pudesse cavalgar as nuvens e caçar lá no outro mundo o dragão de fogo.

Daí, o costume de sacrificarem os cavalos, que repre‑

1 Funda: atiradeira, laçada de couro ou de corda para atirar projéteis ao longe. (N. do E.)2 Auroque: bisão europeu. (N. do E.)

sentavam um grande papel entre os vedas e os escandi navos. A religião começava assim pelo culto dos ante passados.

Os semitas encontraram o Deus único, o Espírito uni‑versal, no deserto, no cimo das montanhas, na imen sidão dos espaços estelares. Os citas e os celtas encon traram os deuses, os espíritos múltiplos, no fundo dos seus bosques. Foi ali que eles ouviram as vozes revela doras, que sentiram os primei‑

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GEAEL

Aula 5 — Entre muitas, a lição que fica:Isto prova que tal dilúvio foi numa vasta zona e numa mesma época e que a tradição religiosa uniformizou ‑se em torno à sua descrição por herança de gerações sucessivas.É pois, assim, utilizando as forças da natureza e as leis da própria criação, que os Senhores dos Mundos, auxiliares da Divindade, operam na superfície destes as alterações necessárias á sua própria evolução.

Iniciação Espírita - Autores diversos

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2 5ªaula:ConstituiçãogeográficadaTerra

ros arrepios do Invisível, as primeiras visões do Além. É por isso que a floresta encantadora e terrível se conservou sempre querida da raça branca. Atraída pela música das folhagens e as magias da lua, é aí que, pelo decorrer das idades, nós a en‑contramos sempre, como se ela fosse a sua fonte de Juvêncio, o templo da grande mãe Erta. Aí dormem os seus deuses, os seus amores, os seus mistérios perdidos.

Desde os tempos mais afastados que as mulheres visio‑nárias profetizavam sob as árvores. Cada tribo pos suía a sua grande profetisa, como a voluspa dos escan dinavos, com seu colégio de druidisas. Essas mulheres, porém, nobremente inspiradas no começo, tornaram‑se, com o correr do tempo, ambiciosas e cruéis. De boas pro fetisas transformaram‑se em péssimas mágicas. Instituí ram os sacrifícios humanos, e o sangue dos herolls correu continuamente sobre os dolmens,3 ao som dos sinistros cantos dos sacerdotes e das aclamações dos citas ferozes. Ora, entre esses sacerdotes, encontrava‑se um homem, na flor da idade, de nome Rama, que se destinava tam bém ao sacerdócio, mas cuja alma recolhida e cujo espí‑rito profundo se revoltavam contra esse culto sanguiná rio. O moço druida era doce e grave. Desde muito novo começa‑ra ele a revelar uma aptidão singular para o co nhecimento das plantas, das suas virtudes maravilhosas, dos seus sucos destilados e preparados, assim como para o estudo dos as‑tros e das suas influências. Parecia adivi nhar, ver as coisas longínquas, e daí a sua autoridade precoce sobre os druidas mais velhos. Emanava das suas palavras, de todo o seu ser, uma grandeza benévola. A sua sabedoria contrastava com a loucura das druidisas, essas declamadoras de maldições que proferiram os seus nefastos oráculos nas convulsões do delí‑rio. Os druidas haviam‑no chamado “o que sabe”, e o povo “o inspirado da paz”. Entretanto, Rama, que aspirava à ciência divina, viajara em toda a Cítia e países do sul.

Seduzidos pelo seu saber pessoal e pela sua modés tia, os sacerdotes dos negros iniciaram‑no em parte dos seus conhe‑cimentos secretos. Voltado ao país do Norte, Rama assusta‑se ao ver como, entre os seus, inveteram‑ se o culto dos sacrifícios humanos. Compreendeu que estava ali a perdição da sua raça. Mas como combater esse costume propagado pelo orgulho das druidisas, pela ambição dos druidas e pela superstição do povo? Então um novo flagelo cai sobre os brancos e Rama julga ver nele um castigo do céu pelo culto sacrílego. Os bran‑cos tinham adquirido uma horrível doença, uma espécie de peste, nas suas incursões nos países do sul e no seu con tato com os negros. Essa enfermidade terrível corrompia o homem pelo sangue, pelas fontes da vida. O corpo inteiro cobria‑se de manchas negras, o hálito tornava‑se infecto, os membros in‑chados e roídos de chagas deformavam‑se e o doente expirava entre dores atrozes.

O hálito dos vivos e o odor dos mortos propagavam o fla‑gelo. E assim tombavam os brancos aos milhares nas suas flo‑restas, abandonadas até pelas próprias aves de rapina. Rama, aflito, procurava embalde um meio de salvação.

3 Dólmens: monumentos druídicos constituídos por uma grande pedra chata posta horizontalmente sobre duas outras verticais. (N. do E.)

Tinha ele o hábito de meditar debaixo de um carvalho, em uma clareira. Ora, em uma tarde em que refletira longa‑mente sobre os males da sua raça, adormeceu sob a árvore. Durante o sono, pareceu‑lhe que uma voz forte o chamava pelo nome e teve a impressão de despertar.

Então, vê diante de si um homem de uma estatura majes‑tosa, vestido, como ele próprio, da túnica branca dos druidas e trazendo na mão uma vara em torno da qual se enroscava uma serpente. Rama, perturbado, ia perguntar ao desconheci‑do quem era e o que desejava. Mas este, puxando‑o pela mão, obriga‑o a erguer‑se e mostra na árvore, sob a qual se havia deitado, um belíssimo ramo de visco.4

— Ó Rama — diz‑lhe ele —, eis ali o remédio que pro‑curas.

Depois tira do seio uma pequena foicinha de ouro, corta o ramo, dá a ele e, murmurando ainda algumas palavras so‑bre a maneira de preparar o visco, desaparece.

Então Rama acorda completamente, sentindo dentro de si um grande conforto. Dizia‑lhe uma voz interior que havia encontrado a salvação. Não se esquece de preparar o visco em conformidade com os conselhos do amigo divino da foicinha de ouro. Faz tomar, em um licor fermentado, a sua beberagem a um doente — e o doente fica curado.

As curas maravilhosas que realizou assim torna ram‑no célebre em toda a Cítia.4 Planta parasita, que nasce sobre os ramos de certas árvores, tais como o car‑valho, a pereira, etc. (N. do T.)

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EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(9ªturma/GEAEL) 3

Chamavam‑no de toda a parte para ir curar enfermos. Consultado pelos druidas da sua tribo, Rama transmite‑lhes a sua descoberta, ajuntando que ela deveria conservar‑se como um segredo da casta sacerdotal, para melhor assegurar a sua autoridade.

Ora, os discípulos de Rama, andando por toda a Cítia com os seus ramos de visco, foram considerados como men‑sageiros divinos, e o seu mestre como um semideus.

Tal acontecimento constituiu a origem de um culto novo: o visco tomou‑se desde então uma planta sagrada.5 Rama consagra‑lhe a memória, instituindo a festa do Natal ou da saúde nova, que estabelece no começo do ano e que chama a Noite‑Mãe (do sol novo) ou a grande renovação. Quanto ao ser misterioso que Rama havia visto em sonho e que lhe mos‑trara o visco, chama‑se, na tradição esotérica dos brancos da Europa, Aescheylkopa, o que significa “a esperança da salva‑ção está no bosque”. Os gregos fizeram dele o seu Esculápio, cuja insígnia é a vara mágica sob a forma de caduceu.

Rama, “o inspirado da paz”, tinha porém vistas mais largas. Queria libertar o seu povo de uma praga moral mais nefasta que a peste. Eleito chefe dos sacerdotes da sua tribo, intima todos os colégios de druidas e de drui disas a porem fim aos sacrifícios humanos. Tal nova correu até ao oceano, saudada por uns como um clarão de alegria, como um atentado sacrílego pelos outros. As druidisas, ameaçadas no seu poder, clamam maldições con‑tra o audacioso, fulminando‑o com sentenças de morte. Muitos dos druidas, que viam nos sacrifícios humanos o único meio

5 Ao visco (o Viscum album dos botânicos, o viscum dos latinos, o gui dos franceses, o mistletoe dos ingleses) ligavam os druidas, que o cortavam sempre com a foicinha de ouro, misteriosas virtudes. Em toda a França, particularmente na Bretanha e em Auvergnc, os dois pólos da raça céltica na França, e no Reino Unido, principalmente na Irlanda e no País de Gales, onde os celtas tiveram tam‑bém um largo habitat, ainda hoje o visco é, por excelência, a planta simbólica do Natal. (N. do T.)

de reinarem, colocam‑se ao lado delas. Rama, exaltado por um grande parti‑do, foi execrado por outro. Mas, longe de fugir à luta, aceitou‑a arvorando um símbolo novo.

Cada tribo branca possuía o seu sinal de reunião, ou contra‑senha, sob a forma de um animal que simbolizava as suas qualidades preferidas.

Os chefes ostentavam, nos fron‑tões dos seus palácios de madeira, grous, águias, abutres, cabeças de ja‑vali ou de búfalo, o que constitui a origem dos brasões. A divisa mais pre‑ferida dos citas era, porém, o Touro, a que chamavam Thor, símbolo da força brutal e da violência.

Ora, Rama opõe ao Touro o Car‑neiro, o chefe cora joso do rebanho, tornando‑o a divisa de todos os seus partidários.

Essa divisa, arvorada no centro da Cítia, torna‑se o sinal de um tumulto geral e de uma verdadeira revo lução

dos espíritos. Os povos brancos dividem‑se em duas facções, e a própria alma da raça branca se desdobra para se desligar da animalidade bramidora, subindo o primeiro degrau do san‑tuário invisível que conduz à humanidade‑potencial. “Morte ao Carneiro!” — grita vam os partidários de Thor. “Guerra ao Touro!” — cla mavam por seu lado os amigos de Rama.

Estava iminente uma guerra formidável.Em face desta eventualidade, Rama hesita. Não iria,

instigando essa guerra, agravar o mal e forçar a sua raça a destruir‑se a si mesma? E teve então novo sonho.

O céu tempestuoso estava carregado de nuvens que ca‑valgavam as montanhas e roçavam, no seu largo vôo de som‑bra, os cimos agitados das florestas. De pé sobre um roche‑do, uma mulher desgrenhada está prestes a ferir um soberbo guerreiro, que tem amarrado a seus pés. “Em nome dos ante‑passados, detém‑te!” — brada Rama, precipitando‑se sobre a mulher. Mas a druidisa, ameaçan do‑o, lança‑lhe um olhar agudo que o fere como um golpe de navalha. Nisto o trovão rola pelas nuvens es pessas e surge, em um fulgor, uma figu‑ra que resplance. Dir‑se‑á que a floresta desmaia; a druidisa cai como que fulminada, e, tendo‑se rompido por encanto os laços que o prendiam, o cativo olha o gigante luminoso, com uma expressão de desafio...

Rama não se perturbou, pois que reconheceu, nas feições da aparição, o ser divino que lhe havia falado já sob o velho carvalho. Desta vez, porém, parece‑lhe mais belo: porque todo o seu corpo resplandecia de luz. E Rama vê que está em um templo aberto, de imensas colunas. No lugar da pedra de sa‑crifício, ergue‑se um altar, junto ao qual se conserva o guer‑reiro, cujos olhos intinuavam a desafiar a morte. Prostrada sobre as lájeas, a mulher parecia morta.

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4 5ªaula:ConstituiçãogeográficadaTerra

Ora, o Gênio celeste trazia um facho na sua mão direita na esquerda uma taça. E, sorrindo benignamente, diz: “Rama, estou contente contigo”.

“Vês este facho? É o fogo sagrado do Espírito di vino. Vês esta taça? É a taça da Vida e do Amor. Dá o facho ao homem e a taça à mulher”.

Rama fez o que o seu Gênio lhe ordenava. E, mal o facho passou às mãos do homem e a taça às da mulher, logo aquele se acendeu por si próprio sobre o altar, e os dois transfigurados sob o seu clarão resplenderam como o Esposo e a Esposa divina.

Ao mesmo tempo, o templo alarga‑se: as suas colunas sobem até ao céu; a sua abóbada perde‑se no firmamento.

Então Rama, arrebatado pelo seu sonho, viu‑se trans‑portado ao cume de uma montanha, sob o céu todo estre lado. De pé, junto a si, o seu Gênio explicava‑lhe as constelações e fazia‑lhe ler, nos sinais acesos do Zodíaco, os destinos da humanidade.

— Espírito maravilhoso, quem és tu? — pergunta Rama ao seu Gênio. E o Gênio responde:

Chamam‑me Deva Náhuxa, a Inteligência divina. Tu es‑palharás o meu fulgor por sobre a terra e eu acudirei sempre ao teu apelo. No entretanto, segue o teu caminho. Vai.

E em um gesto de sua mão, o Gênio aponta para o Oriente.

O êxodo e a conquistaNesse sonho e como que sob uma luz fulgurante, viu

Rama a sua missão e o destino vasto da sua raça. Desde en‑tão, nunca mais hesitou. Em vez de acen der a guerra entre as tribos da Europa, decide‑se a arrastar a melhoria da sua raça até ao centro da Asia. Anunciou aos seus que instituiria o culto do fogo sagrado e que faria a felicidade dos homens; que os sacrifícios humanos ficariam abolidos para sempre; que os antepassados não mais seriam invocados por sacerdotisas sanguinárias, sobre rochedos selváticos molhados de sangue humano, mas sim em cada lar, pelo esposo e pela esposa, uni‑dos em uma só prece, em um mesmo hino de adoração, junto ao fogo que purifica. Sim, o fogo visível do altar, símbolo e condutor do fogo celeste invisível, uniria a família, o clã, a tribo, todos os povos, centro do Deus vivo sobre a terra. Mas, para bem colher essa seara, era mister separar o bom grão do joio; era preciso que todos os ousados se dispusessem a abandonar a Europa para conquistar uma terra nova, uma terra virgem. Lá, daria ele a lei; lá, fundaria o culto do fogo renovador.

Tal proposta foi naturalmente acolhida com entu siasmo por um povo moço e ávido de aventuras.

Fogueiras acesas durante vários meses sobre as mon‑tanhas foram o sinal da emigração em massa para todos que quisessem seguir o Carneiro. Não tardou que essa formidável caravana se pusesse em movimento em dire ção ao centro da Ásia. Ao longo do Cáucaso foi ela to mando aos negros vá‑rias fortalezas ciclópicas, e mais tarde, em recordação dessas vitórias, os clãs dos brancos esculpiram, nos rochedos desta montanha, gigantescas cabeças de carneiro. Rama revelou‑se digno da sua alta missão; aplanava todas as dificuldades, penetrava nos pensamentos, previa o futuro, curava os en‑fermos, apa ziguava os revoltosos, inflamava as coragens. As po tências celestes, que nós chamamos Providência, que riam que a raça boreal dominasse sobre a terra, e lança vam assim, através do gênio de Rama, os seus raios lumi nosos sobre o ca‑minho a percorrer. Essa raça já havia tido os seus inspirados de segunda ordem, que a haviam arrancado do estado selva‑gem. Rama, porém, sendo o primeiro a conceber a lei social como uma expressão da lei divina, foi um inspirado direto e de primeira ordem.

Ele alia‑se aos turanianos, velhas tribos cíticas cru zadas de sangue amarelo, que ocupavam a alta Ásia, e arrasta‑as à conquista do Irã, de onde repele completa mente os negros, querendo que um povo de raça branca pura ocupasse o centro da Asia, tornando‑se para todos os outros um foco de luz. Ele funda a cidade de Ver, povoação admirável, como diz Zoroas‑tro. Ele ensina a amanhar e a semear a terra: — Rama foi o pai da seara e da vinha. Ele cria as castas segundo as profis‑sões e divide o povo em sacerdotes, guerreiros, agricultores, artífices. (Na sua origem não existia rivalidade alguma entre as castas: o privilégio hereditário, fonte de ran cores e inve‑jas, só apareceu mais tarde.) Ele combate a escravatura assim

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EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(9ªturma/GEAEL) 5

como o assassinato, afirmando que a escravidão do homem pelo homem era fonte de todos os males.

Quanto ao clã, esse agrupamento primitivo da raça bran‑ca, conserva‑o tal qual era, permitindo‑lhe, porém, que eleges‑se os seus chefes e os seus juizes.

A obra primacial de Rama, o instrumento civilizador por excelência por ele criado, foi, porém, o novo papel que desti‑nou à mulher.

O homem não tinha conhecido, até então, a mulher se‑não sob estes dois aspectos: o da escrava miserável da sua choça, que ele esmagava e maltratava brutalmente, ou o da perturbante sacerdotisa do carvalho e do rochedo, da qual procurava o patrocínio e que o dominava contra a sua própria vontade, mágica fascinadora e terrível, cujos oráculos temia e perante quem a sua alma supersti ciosa tremia.

O sacrifício humano, pelo qual ela embebia o cutelo no coração do seu tirano feroz, era como que a vingança exercida pela mulher sobre o homem.

Proscrevendo esse culto horroroso e elevando a mu lher ante o homem nas suas funções divinas de esposa e de mãe, Rama instituiu‑a sacerdotisa do lar, depositária do fogo sa‑

grado, igual ao esposo, invocando conjunta mente com ele a alma dos antepassados.

Como todos os grandes legisladores, Rama não fez senão desenvolver, organizando‑os, os instintos superio res da sua raça. A fim de adornar e embelezar a vida, ele ordena quatro grandes festas por ano.

A primeira, a da primavera ou das gerações, era con‑sagrada ao amor conjugal.

A festa do estio, ou das searas, pertencia aos rapazes e raparigas, que ofereciam aos pais os feixes colhidos com seu trabalho. A festa do outono celebrava os pais e as mães, que, em sinal de regozijo, distribuíam frutos aos filhos.

A mais bela e a mais misteriosa de todas era, porém, a festa do Natal, ou das grandes sementeiras. Rama consagra‑a simultaneamente aos recém‑nascidos, aos frutos do amor con‑cebidos na primavera e às almas dos mortos, dos antepassados. Formando como que um ponto de conjunção entre o visível e o invisível, essa solenidade religiosa era ao mesmo tempo um adeus às almas desaparecidas e uma saudação mística àqueles que vol vem a encarnar‑se nas mães e a renascer nos meninos.

Os antigos árias reuniam‑se por essa noite santa nos san‑

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6 5ªaula:ConstituiçãogeográficadaTerra

tuários do Airyana‑Vaéja, como outrora o faziam nas suas florestas. Celebravam com fogueiras e cantos o renascimento do ano terrestre e solar, a germinação da natureza no coração do inverno, o estremecimento da vida no fundo da morte. Eles cantavam o universal ca rinho com que o céu beija a terra e a gestação triunfal do Sol novo pela grande Noite‑Máter.

Rama ligava assim a vida humana ao ciclo das esta ções, às revoluções astronômicas, ao mesmo tempo que fazia ressal‑tar o seu sentido divino. E por ter fundado tão fecundas ins‑tituições que Zoroastro o chama “o chefe dos povos, o muito afortunado monarca”. E por isso que o poeta hindu Valmiki, transportando o antigo herói a uma época muito mais recente e ao luxo de uma civiliza ção mais avançada, conserva‑lhe to‑davia os traços de um tão alto ideal. “Rama de olhos de lótus, azul, diz Valmiki,6 era o mestre do mundo, o senhor de sua alma, o amor dos homens, o pai e a mãe dos seus súditos. Ele soube dar a todos os seres as cadeias do amor

Estabelecida no Ira, às portas do Himalaia, a raça branca não era ainda senhora do mundo. Precisava para isso que a sua guarda avançada se internasse na Índia, centro capital dos negros, os antigos vencedores da raça vermelha e da raça ama‑rela. O Zend Avesta fala dessa marcha de Rama sobre a Índia.7

A epopéia hindu aproveita‑a como um dos seus te mas favoritos.

Rama foi o conquistador da terra que encerrava o Hi‑niavant, o país dos elefantes, dos tigres e das gazelas. É ele quem comanda o primeiro reencontro e conduz a primeira arrancada dessa luta gigantesca em que duas raças disputa‑vam inconscientemente o cetro do mundo.

Exagerando as tradições ocultas dos templos, a tra dição poética da Índia cria a luta da magia branca com a magia negra. Na sua guerra contra os povos e os reis dos djambus, como então se chamavam, Ram, ou Rama segundo os orien‑tais, emprega meios aparentemente miraculosos, porque es‑tão fora do alcance das faculdades ordinárias da humanidade, mas que os grandes iniciados devem ao conhecimento e aper‑feiçoamento das forças ocultas na natureza.

A tradição representa‑o, aqui fazendo brotar fontes em um deserto, ali encontrando recursos inopinados em uma espécie de maná cuja utilização ensina, mais além fazendo cessar uma epidemia com uma planta chamada haonia, o amamos dos gregos, a percéia dos egípcios, de que extrai um suco salutar. Essa planta torna‑se sa grada entre os seus sectá‑

6 Ver os capítulos de Ramayana, na parte dos textos comple mentares.7 Cumpre muito bem notar que, considerando absolutamen te Zoroastro como o inspirado de Ormuz, profeta da lei divina, o Zend Avesta, o livro sagrado dos par‑ses, o faça continuador de um profeta muito mais antigo. Sob o simbolismo dos templos antigos, aprende‑se nisto o fio da grande revelação da humanidade, que entre si liga os verdadeiros iniciados. Vede esta passagem notável: 1. Zaratustra (Zoroastro) procura a Aúra‑Masda (Ormuz, o deus da luz): Aúra‑Masda, tu bendito e muito sagrado criador de todos os seres carnais puríssimos. 2. Quem foi o primeiro homem com quem falaste, tu que és Ahura‑Mazda?... 4. Então Aúra‑Masda respondeu: “Foi com o belo Yima (ou Rama), aquele que estava à frente de uma multidão digna dc elogios, ó puro Zaratustra”... 13. E eu disse‑lhe: “Vela sobre os mundos de meu domínio, torna‑os férteis na tua qualidade de protetor”.. 17. E eu entreguei‑lhe as armas da vitória, eu que sou Aúra Masda: 18. Uma lança de ouro e uma espada de ouro... 31. Então Yima alteia‑se até às estrelas, para o meio‑dia, no caminho que o sol leva... 37. Ele caminha sobre essa terra que havia tornado fértil. 43. E o brilhante Yima reuniu o conjun‑to dos homens mais virtuosos no célebre Airyana Vaéja, criado com pureza (Vendidad-Sadé, 2º Fargard. — Tradução de Anquetil Duperron).

rios, substituindo o visco do carvalho, conservado no entanto pelos celtas da Europa.

Rama usava contra os seus inimigos toda espécie de pres‑tígios.

O culto por que os sacerdotes dos negros domina vam era um culto inferior. Sustentavam nos seus templos enormes serpentes e pterodáctilos, raras sobrevivências de animais antediluvianos, que faziam adorar como deuses e com que aterrorizavam a multidão. Davam de comer a essas serpen‑tes a carne dos prisioneiros. Rama surge algumas vezes de improviso nesses templos, en tre tochas acesas, aterrorizan‑do, domando as serpentes e expulsando os sacerdotes. Ou‑tras vezes aparecia no campo inimigo expondo‑se sem defesa aos que lhe de sejavam a morte: e lá tornava a partir sem que alguém ousasse tocar‑lhe. Se aqueles que o haviam deixado fu gir eram interrogados, respondiam que o seu olhar os pe‑trificara, ou ainda que, enquanto ele falava, uma mon tanha de bronze se interpusera entre eles e Rama, fazendo com que cessassem de o ver.

Finalmente, a tradição épica da Índia atribui‑lhe, co mo coroa da sua obra, a conquista do Ceilão,8 o último refúgio do mágico negro Rávana, sobre o qual o mágico branco fez chover um granizo de fogo depois de haver lançado, sobre um braço de mar, uma ponte povoada por um exército de maca‑cos, que se assemelhava fortemente a qualquer tribo primitiva de bímanos selvagens, incitada e entusiasmada por esse gran‑de encantador de povos.

Os Grandes IniciadosLivro 1 — RamaEdouard Schuré

8 Hoje Sri Lanka.

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EscoladeAprendizesdoEvangelho-AliançaEspíritaEvangélica(9ªturma/GEAEL) 7

Atlântida ou Atlantis é uma lendária ilha cuja primeira menção conhecida remonta a Platão (428‑347 a.C.) em suas obras “Timeu ou a Natureza” e “Crítias ou a Atlântida”.

A mitologia ocidental reduz o continente ou Reino Atlan‑te a uma ilha que teria submergido, engolida pelo oceano, nove mil anos antes da época de Sólon. Porém, Platão deixa claro que a ilha, além de ser tão grande quando “Líbia e Ásia juntas”, era apenas uma parte do território Atlante, que se estendia em outras partes do mundo. A Atlântida de Platão seria o que restou de um continente muito mais antigo e os atlantes, foram a quarta Raça humana, que povoou o mundo durante milhões de anos, até que se extinguiu no episódio relatado por Platão.

Platão preservou a história de Atlântida naquele que é, hoje, um dos mais valiosos registros que nos chega da an‑tiguidade. Platão viveu 400 anos antes do nascimento de

Cristo, Seu ancestral, Sólon, foi um grande legislador em Atenas 600 anos antes da Era Cristã. Sólon visitou o Egito. Diz Plutarco: “Sólon deixou uma longa descrição em verso ou, melhor dizendo, um fabuloso relato sobre a Atlantic Island (Ilha Atlântica), que ele ou‑viu dos homens de ciência, em Saís, relato par‑ticularmente relacionado com os atenienses.”

Platão tencionava produzir uma gran‑diosa narrativa sobre a “Ilha Atlântica”, uma fábula maravilhosa digna do relato de Sólon, uma história como nenhuma outra antes es‑crita; um deleite para escritor e um prazer ain‑da maior para o leitor. Mas a vida de Platão terminou antes que ele completasse o traba‑lho.

Não há dúvida que Sólon esteve no Egito. Sua ausência em Atenas por mais de dez anos é claramente atestada em Plutarco. Há muitas

razões para crer que, de fato, Sólon aprendeu muito com os sacerdotes egípcios. Era um homem com uma extraordinária força e pensamento penetrante, como atestam suas leis e seus “ditos”. É bem possível que tenha começado em verso a histó‑ria e a descrição de Atlantis, trabalho que deixou incompleto.

O manuscrito de Sólon, muito possivelmente caiu nas mãos de Platão, seu sucessor e descendente, ele mesmo, Pla‑tão, sendo um estudioso, um pensador e um historiador, uma das mentes mais poderosas do mundo antigo. Um sacerdote egípcio teria dito a Sólon: “Vocês [gregos] não tem antiguida‑de de história [em termos de história] e nem têm a história da antiguidade; e Sólon compreendeu a vasta importância do re‑gistro daquele passado histórico, não apenas milhares de anos antes do tempo da civilização grega mas muitos milhares de anos antes do surgimento do reino do Egito; e ficou [Sólon]

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FONTE: CASA PUBLICADORA TEOSÓFICA

ATLANTIS

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As áreas escuras representam o contorno atual da Terra, submersa naquele momento.As áreas claras representam as terras emersas.

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ATLÂNTIDA - MAPA Nº 2O mundo depois da catástrofeocorrida há 800.000 anosaté a catástrofe de cercade 200.000 anos atrás.

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Cidade dasPortas de Ouro

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As áreas escuras representam o contorno atual da Terra, submersa naquele momento.As áreas claras representam as terras emersas.

FONTE: CASA PUBLICADORA TEOSÓFICA

ATLÂNTIDANA DECADÊNCIA

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muito ansioso para preservar para o seu mundo meio‑civiliza‑do ainda, aquela inestimável sabedoria do passado.

Fragmento de Timeu e Crítias ou A Atlântida de Platão

Crítias: Então, ouça Sócrates, esta estranha narrativa que, no entanto, certamente é verdadeira, bem como Sólon, que contou a história, e que foi o mais sábio entre os sete sábios. Ele era parente e grande amigo de meu avô, Drópidas, como ele mesmo disse em muitos de seus poemas; e Drópidas disse a Crítias, meu pai, que lembrava e nos contava sobre uma antiga e maravilhosa atuação dos atenienses que caiu no esquecimento, ao longo do tempo e da destruição da raça humana, e uma, em particular, que era a maior de todas as raças, e o relato do que se passou será um testemunho ade‑quado da nossa gratidão a vocês...Sócrates: Muito bom! E o quê é essa antiga e famosa proeza da qual Crítias falou e que não é mera lenda mas uma ação histórica do estado ateniense recontada por Sólon!Crítias: Eu vou contar uma velha história do mundo que ouvi de homem já bastante idoso; Crítias, na época, tinha quase noventa anos e eu dez anos de idade. Era o “dia de Apaturia”, também chamado “dia de registro na juventude” [entrada na adolescência] no qual, de acordo com o cos‑tume, nossos pais conferiam‑nos prêmios pela declamação de poemas e muitos de nós cantavam poemas de Sólon, que eram novidades naquele tempo. Um de nossa tribo, talvez porque fosse sua real opinião, ou talvez porque qui‑sesse agradar Crítias, disse que na sua opinião [dele] Sólon não era apenas o mais sábio dos homens, porém era tam‑bém o mais nobre dos poetas. O velho homem, eu me lem‑bro bem, iluminou‑se diante disso e falou, sorrindo: “Sim, Amynander, se Sólon tivesse,

apenas, como outros poetas, feito da poesia o negócio de sua vida e tivesse completado o relato que trouxe com ele do Egito e não se sentisse compelido, em razão de fatos e per‑turbações que ele encontrou [instabilidade política] quando voltou a este país, empenhando‑se, então, em atender a outras tarefas, [se tivesse escrito o poema sobre a coisas fabulosas que aprendeu no Egito] na minha opinião ele teria sido um poeta tão famoso quanto Homero ou Hesíodo.E sobre o quê era este poema, Crítias? perguntou alguém.”Conte‑nos”, disse outra pessoa, “conte‑nos a histó‑ria toda e de quem Sólon ouviu essa tradição”.Crítias: Sobre a mais grandiosa ação já empreendida pelos atenienses e que deveria ser muito famosa mas o tempo e a destruição completa dos atores desse drama impediram que história chegasse até nós.“No delta egípcio, o rio Nilo se divide, existe um certo dis‑trito que é chamado Saís, e uma grande cidade do distrito, também chamada Saís, e essa é a cidade na qual nasceu o rei Amasis. Ali os cidadãos têm uma divindade fundadora: os egípcios a chamam de Neith mas eles dizem que é a mesma

chamada pelos atenienses de “Atena”. Os cidadãos desta cidade gostam muito dos atenienses e dizem que, de alguma forma, se relacionam com o povo de Atenas.“Sólon, levado por Thrither [um sacer‑dote egípcio], foi recebido com grandes honras e perguntou aos sacerdotes qual dos mestres era o mais sábios em antigui‑dades [história antiga]; Sólon descobriu que nem ele nem qualquer outro heleno sabiam qualquer coisa de real valor sobre os tempos antigos.Em uma ocasião, quando estavam falan‑do de antiguidades, ele [Sólon] começou a discorrer sobre coisas de outros tem‑pos quando nossa parte do mundo, o Phoroneus, que é chamado “o primeiro”, e sobre Níobe e depois sobre o Dilúvio; falou sobre a vida de Deucalião e Pirra e traçou a genealogia de seus descendentes, a linha do tempo, as datas dos eventos aos quais se referia.Thereupon, um dos sacerdotes, que era muito velho, disse: “Oh, Sólon, Sólon, vocês helenos são como crianças e não há homens velhos entre os helenos.” – Diante

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MAPA MUNDIATLÂNTIDA - MAPA Nº 3O mundo depois da catástrofeocorrida há 200.000 anos,até a catástrofe de cercade 80.000 anos atrás.

RUTA

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As áreas escuras representam o contorno atual da Terra, submersa naquele momento.As áreas claras representam as terras emersas.

FONTE: CASA PUBLICADORA TEOSÓFICA

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MAPA MUNDIATLÂNTIDA - MAPA Nº 4O mundo depois da catástrofeocorrida há 80.000 anosaté o final da submersãode Posseidones em 9564 a.C.

POSSEIDONIS

As áreas escuras representam o contorno atual da Terra, submersa naquele momento.As áreas claras representam as terras emersas.

FONTE: CASA PUBLICADORA TEOSÓFICA

POSSEIDONES

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disso, disse Sólon: “O que você quer dizer com isso?”Quero dizer o que disse; que em termos de mentalida‑de vocês são muito jovens. Não há entre vocês idéias ancoradas em ciências anti‑gas ou antigas tradições; e eu vou lhes dizer a razão disso: aconteceram e nova‑mente acontecerão muitas destruições da raça humana deflagradas por muitas cau‑sas. Existe uma estória que vocês devem ter preservado, sobre Faetonte, o filho de Hélios, que sem saber con‑duzir os cavalos, tomou a carruagem de seu pai para percorrer o caminho que Hélios fazia todos os dias e provocou um grande desas‑tre, queimando tudo na face da Terra.Hoje, isso é uma expressão em forma de mito, mas, de fato, significa o declínio dos corpos que se movem em torno da Terra e nos céus; uma conflagração recorren‑te, que acontece em longos intervalos de tempo; quan‑

do isso acontece, aqueles que vivem nas montanhas e em outros lugares secos, estão mais sujeitos à destruição do que aqueles que vivem à margem dos rios, dos lagos ou do mar. Mas, por outro lado, quando os deuses purgam a terra pela água [e não pelo fogo, como Faetonte], então os pastores, os montanheses, são os sobreviventes e perecem os que vivem nas cidades, próximos aos rios e fontes, a beira‑mar; são levados pelas enchentes, submergem no oceano. Mas nesse país, nem nesse tempo nem em qualquer outro a água veio do alto sobre os campos, tendo sempre a tendência de vir de baixo, razão pela qual as coisas preservadas aqui são as mais antigas.O fato é que a raça humana, a população, cresce em certas épocas e decresce em outras e o que sempre aconteceu em seu país e no nosso ou em qualquer outra região da qual tenhamos conhecimento, todos os feitos grandes e nobres ou qualquer outro evento memorável, tudo o que tem sido escrito sobre os acontecimentos do passado, está preser‑

vado em nossos templos. Enquanto vocês [gregos] e outras nações mantêm escrituras e somente estes registros que interessam ao estado, no momento presente, ignoram que a pestilência [a catástrofe] pode estar vindo dos céus para dizimar todos e deixar apenas aqueles dentre vocês que são destituídos das letras e da educação e assim, deste modo, vocês têm de começar tudo novamente, como crianças, sem nada saber do aconteceu nos tempos mais antigos, entre nós [o Egito] e entre vocês mesmos [gregos].As genealogias de vocês, gregos, que você Sólon nos tem contado, são relatos de crianças porque, em primeiro lugar, vocês se lembram de um dilúvio apenas, quando existiram muitos deles; em segundo lugar, vocês ignoram que habi‑taram em sua terra os homens da mais nobre e bela raça que jamais existiu, raça da qual você e seu povo são os descendentes. Isso é desconhecido por vocês porque muitas gerações de sobreviventes da destruição morreram sem deixar qualquer vestígio. Houve um tempo, Sólon, antes do maior dilúvio de todos, quando a cidade que hoje é Atenas era a primeira nas guerras e proeminente pela excelência de suas leis, pelos feitos notáveis, pela constituição magnífica de seus cidadãos.Maravilhado, Sólon queria saber mais sobre aquela raça e aquele tempo. “Todos vocês são bem‑vindos para ouvir sobre eles, Sólon” – disse o sacerdote – “por você mesmo, pela cidade e, sobretudo, pela glória da deusa que é protetora e civilizadora [educadora] de ambas as cidades [Atenas e Saís]. Ela fundou sua cidade mil anos antes da nossa, recebendo da Terra e Efaistos a semente de sua raça; e depois, fundou a nossa, um fato que está preservado em nossos registros sagrados como acontecido há oito mil anos atrás, como ensinaram os cidadãos de nove mil anos atrás. Eu informarei brevemente a você sobre suas leis e a nobreza de seus feitos conforme as escrituras sagradas deles mesmos. Se você com‑parar estas leis com as suas próprias verá muitas das nossas leis são contrapartida das suas.Existe uma casta de sacerdotes, que é separada de todas as outras; depois vêm os artesãos, que exercem suas muitas artes e não se misturam com as outras castas; e também existe a classe dos pastores e dos caçadores bem como a dos agricultores. Você observará que os guerreiros no Egito são separados de outras classes e são comandados pela lei da guerra e são equipados com escudos e lanças e a deusa fala primeiro entre vocês, e então, aos países asiáticos e nós, entre os asiáticos, fomos os primeiros a adotar essas leis.Sabiamente, você notará o cuidado da lei com o mais puro,

Quetzalcóatl é uma divindade das culturas de Mesoamérica, em especial da cultura asteca, também venerada pelos toltecas e maias. Um dos instrutores atlantes.

São muitas as lendas e mistérios que povoam o imaginário popular amazônico, mas, talvez, nenhuma delas seja mais intrigante do que a passagem do Apóstolo São Tomé pela região. O mito Sumé é um enigma que abrange todo Continente Americano. Possui muitos nomes: Sumé, Xumé, Pai Abara entre nossos índios, Quetzalcoatl na América do Norte, Sommay entre os Caríbas; no Haiti era Zemi, na América Central era Zamima, e muitos outros, mas a figura é sempre a mesma, homem branco, longa barba, portando uma ‘borduna trovejante’, saía das águas para catequizar e mostrar aos nativos como construir casas, a se organizar, a cultivar frutas, verduras e legumes e outras técnicas.

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buscando e compreendendo toda ordem de coisas, da pro‑fecia, a medicina e todos os elementos necessários à vida humana e todo tipo de conhecimento relacionado. Essa ordem de coisas foi estabelecida pela deusa e dada a vocês quando estabeleceram sua cidade; e ela escolheu este lugar da Terra, onde você nasceu, porque ali viu o arranjo harmo‑nioso das estações e viu que aquela terra produziria os mais sábios dos homens.A deusa, que amava a guerra e a sabedoria escolheu aqueles que seriam semelhantes a ela mesma; e ali vocês se estabele‑ceram com suas leis, que ainda são as melhores, e excedem toda a raça humana nesta virtude e eram os filhos e os discípulos dos deuses. Grandes e maravilhosos feitos de seu Estado foram registrados em nossa história mas um deles supera a todos em grandeza e valor. Foi quando uma força muito poderosa e agressiva levantou‑se contra a Europa e Ásia mas sua cidade pôs um fim ao terror.Esta força veio do oceano Atlântico, naqueles dias em que o Atlântico era navegável; e existia uma ilha situada em frente ao estreito [estreito de Gibraltar] que vocês denomi‑nam Colunas de Hércules. A ilha era maior que a Líbia e a Ásia juntas e era o caminho para outras ilhas através das quais era possível atravessar e chegar ao outro lado do con‑tinente que era cercado pelo verdadeiro oceano [passando do Mediterrâneo ao Atlântico]. O mar interior do estreito de Hércules (Gibraltar) era apenas um porto com uma entrada estreita; do outro lado, era o verdadeiro mar e a terra, ali, podia verdadeiramente ser chamada de “continente”.Então, na ilha de Atlantis existiu um grande e maravilhoso império, que tinha leis vigentes em toda a “ilha‑continente” e em muitas outras além de partes da Líbia, “dentro” das colunas de Hércules tão distantes do Egito e da Europa quanto do Tirreno [parte ocidental do mar Mediterrâneo]. O vasto poder [de Atlantis] empenhou‑se, então, em subjugar de um só golpe nosso país e os seus [as cidades‑estado gre‑gas] e toda a terra nos limites do estreito; e então, Sólon, seu país [Atenas] brilhou à frente de todos, na excelência de sua virtude e força, por sua bravura e perícia militar; [Atenas] liderou os helenos; e quando não havia esperança de trégua, quando compelida a estar sozinha, submetida a um grande perigo, Atenas derrotou e triunfou sobre os invasores e man‑teve à salvo da escravidão aqueles que ainda não tinham sido subjugados e libertou todos os outros que habitavam os limites de Hércules [área do mediterrâneo, estreito de Gibraltar]. Posteriormente aconteceram terremotos violen‑tos e inundações e em apenas um dia e uma noite de tempes‑tades (chuvas) Atlântida e todo o seu povo foram tragados pelo oceano. Esta é a razão pela qual naquela parte, o mar é inavegável, intransponível, porque está saturado de lama.E eu gostaria de invocar Mnemosine (Memória) porque parte significativa do que tenho para contar depende do favor da deusa das recordações, para que possa recontar tudo o que disseram os sacerdotes e que Sólon trouxe con‑sigo. Deixem‑me começar observando que, os nove mil anos que mencionei são um resumo dos anos que tinham se pas‑sado desde o começo da guerra entre os que habitavam para além das coluna de Hércules e aqueles que habitavam “den‑tro” do estreito. De um lado os combatentes da cidade de Atenas e seus aliados; do outro, os reis da Ilhas de Atlantis, que outrora tinham sob seu poder um território maior que a Líbia e a Ásia; território que desapareceu entre tremores de terra e maremotos que tornaram o Atlântico praticamente inacessível. A história se desenrola e entram em cena nume‑rosas tribos bárbaras e helenos que existiam então. Mas

devo ainda descrever os atenienses tal como eram naqueles dias e seus inimigos e ainda o poder e a forma de governo de cada um. Comecemos pelos atenienses...Muitos grandes dilúvios aconteceram durante aqueles nove mil anos... Os deuses repartiram entre si toda a Terra em diferentes porções. Ergueram templos, fizeram sacrifícios. Poseidon recebeu a ilha de Atlantis; o deus tinha filhos com uma mortal e instalou, mulher e filhos, em uma parte da ilha; na costa, voltada para o oceano, existia uma planície muito fértil. Próximo, no centro da ilha, havia uma monta‑nha não muito alta. Nesta montanha habitavam os primei‑ros mortais deste país: um casal, ele chamado Evanor e ela Leucipa. Tinham uma única filha, Cleito.Quando a donzela se tornou mulher, seus pais morreram e foi por ela que Poseidon se apaixonou e teve filhos com ela. Ela morava na montanha da planície, que foi cercada de canais circulares e concêntricos, alternando faixas de terra e água. Havia três faixas de água e duas de terra... [Os filhos]... eram cinco pares de gêmeos varões. Atlantis foi dividida em dez regiões: o mais velho do primeiro par, chamado Atlas, ficou com a ilha‑colina onde morava sua mãe, que era um lugar magnífico e nomeado de Atlantic [Atlântica ou Atlântida]; e Atlas ficou sendo o rei de todo império. Os outros irmãos foram feitos príncipes por Poseidon. Eles governariam todos os homens. O gêmeo de Atlas, Gades ou Gaderius, ficou com terras interiores das colunas de Hércules.O segundo par de gêmeos eram Ampheres e Evaernon; o terceiro, Mneseus e Autochthon [Autóctone]; o quarto par de gêmeos, Elasipo e Mestor; e o quinto, Azaes e Diaprepes. Todos estes e seus descendentes foram governantes de numerosas ilhas em mar aberto e também já foi dito que eles migraram para lugares distantes das colunas de Hércules, muito além do Tirreno e do Egito.Atlas tinha, então, uma família numerosa e honrada e seus descendentes mantiveram o reino por muitas gerações e detinham muitas riquezas, tantas quantas jamais foram pos‑suídas por outros reis e potentados. muitas especiarias eram trazidas de países estrangeiros mas a ilha era auto‑suficiente e fornecia tudo que era necessário a uma vida confortável. O subsolo possuía minerais e um precioso metal do qual hoje só resta o nome: orichalcum.Também havia florestas abundantes de onde se extraía a madeira e campos que alimentavam pessoas e animais domésticos e selvagens. Havia um grande número de elefantes na ilha Atlântica e outros variados tipos de animais, de lagos e montanhas, rios e planícies. [Os atlânticos possuíam também deliciosas] ... fragrâncias, perfumes, extraídos de raízes, ervas, flores e frutas. [Havia pomares ... e templos, palácios, portos, docas. Os palácios no interior da cidadela eram construídos com um templo, dedicado a Cleito e Poseidon no centro, extremamente inacessível e rodeado de ouro; foi o lugar onde nasceram os dez príncipes e onde eram realizados rituais anuais... Todo o exterior do templo era coberto de prata, e os pináculos [torres] de ouro. O interior do templo era de már‑more decorado com ouro, prata e orichalcum... estátuas de ouro, como a do próprio deus [Poseidon] em sua carruagem de seis cavalos alados, cercado de Nereidas e golfinhos... Do lado de fora, rodeando o templo, havia vinte estátuas de ouro, representando os príncipes e suas mulheres... Havia fontes de água quente e fria... Havia muitos templos dedicados a muitos deuses... jardins e lugares para o laser. Alguns somente para os homens... [e havia haras, pistas para cavalos]... As docas estavam sempre repletas de naus trirremes e armazéns por onde circulavam mercadores de todo o mundo... ?

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Sem querer insistir mais a respeito da data do cataclismo pré‑histórico que destruiu o país dos atlantes, centro da civilização do mundo antigo e por assim dizer o seu coração, sob o ponto de vista político, tentarei descrever a própria catástrofe. O quadro que vou traçar é evidentemente de pura imaginação, mas talvez possa orientar o leitor a fim de fazer uma ideia da maneira pela qual teria desaparecido a Atlântida.

Viviam os atlantes na felicidade e na abundância, sob a égide do deus Posseidon, cujo magnífico templo coroava o cimo duma montanha com três cumes. Na capital superpovoada exerciam os habitantes suas atividades, os sacerdotes e funcionários asseguravam o exercício do culto e o andamento dos negócios públicos do imenso país; crianças e adolescentes enchiam as escolas e universidades e, quando o disco do Sol quase no ocaso desaparecia atrás das montanhas, uma animada multidão invadia as ruas da grande metrópole...

No entanto, os astrônomos e magos, que seguiam sem cessar os astros do alto do observatório erguido no monte Posseidon, pareciam preocupados: tinham percebido no céu estranhos fenômenos que começavam a inquietá‑los. O encantador planetazinho, único satélite que todas as noites iluminava o céu da Atlântida, brilhava desde algum tempo com mais vivo clarão e, quase na mesma ocasião, aparecera no horizonte uma claridade singular. Das províncias do império chegavam notícias de tremores de terra e erupções vulcânicas. O mar estava agitado e as marés atingiam uma extraordinária amplidão. Eram as primeiras consequências da aproximação do cometa fatal.

E ele surgiu na noite seguinte, hóspede inesperado, na constelação de Câncer, sob a aparência de um traço luminoso relativamente curto, mas muito brilhante, e cujas dimensões aumentavam com rapidez. A população, aglomerada nas ruas, nos jardins públicos e praças, admirava o fenômeno com curiosidade, mas observava com igual interesse uma nova estrela de fulgor excepcional, que cintilava no céu, não longe de Héspero.

Os sacerdotes permaneciam silenciosos, mas no santuário se desenrolavam continuamente misteriosas cerimônias.

Ao terceiro dia transformara‑se o cometa numa larga faixa de incomparável esplendor e sua cauda magnífica, como um grande leque de fogo, encobria já muitas constelações bem conhecidas. O pequeno satélite e a nova estrela pareciam apagar‑se aos poucos. Embora fizesse um tempo calmo e não soprasse vento algum, o oceano se atirava de assalto às praias, ameaçando as torres de atalaia, que se erguiam de distância em distância.

Ao mesmo tempo a terra começou a tremer, e terríveis convulsões vieram devastar o solo e os arredores da capital. Numerosos vulcões, entrando em erupção, derramavam nos campos torrentes de lava em fusão. Por toda a parte e até no meio das ruas, surgiam gêisers de água quente e, enquanto lagos secavam, abriam‑se nas montanhas outros de água transparente. Do próprio seio do oceano surgiam ilhas, onde crateras menores vomitavam incessantemente lama e água salgada em ebulição. O crepúsculo, acrescido pelas cinzas vulcânicas em suspensão na atmosfera, tomou um aspecto sinistro e inaudito. Ondas eletromagnéticas extremamente poderosas produziam no céu fenômenos análogos às auroras boreais.

Em breve se foram elevando as vozes profundas de todos os vulcões

da terra como em aclamação ao poderoso visitante, vindo dos espaços interplanetários...

Notícias alarmantes, entretanto, chegavam das províncias distantes: os chefes locais anunciavam por meio de um telégrafo ótico erupções em vulcões que se julgavam para sempre extintos, os quais lançavam de novo fumo, fogo e lava. Cidades inteiras tinham sido arrasadas pela enchente brusca das águas do mar ou por tremores de terra; campos e culturas devastados pelas chuvas torrenciais e, por toda a parte, as populações, tomadas de pânico, se refugiavam nos montes... O governador duma província perdida nos confins da América do Sul anunciava que uma cadeia de montanhas inteira acabava de surgir e que essa repentina convulsão destruíra a capital de Tiuanaco e seu porto ainda em obras; e, quase ao mesmo tempo, o rei das províncias mediterrâneas enviava um despacho para avisar que o istmo ibérico acabara de romper e que o seu reino estava sendo invadido pelas águas do oceano. Mas o correio nunca chegou ao destino...

No dia seguinte o cometa alcançara gigantescas dimensões; a sua cauda parecia encobrir metade do céu. A atmosfera carregara‑se de eletricidade e muita gente manifestava ressentir os efeitos nocivos das irradiações emitidas pelo núcleo do astro. Logo o céu se encheu de nuvens negras, e desencadeou‑se horrível tempestade. Não se ouvia mais o surdo ribombar do trovão, tal era a violência das explosões subterrâneas e vulcânicas, que se sucediam sem interrupção. Correntes de lava isolavam cidades e seus subúrbios. Multiplicavam‑se os incêndios e fogueiras, logo, porém, extintos por torrentes d’água, misturadas às cinzas vulcânicas que se derramavam na terra.

Foi então que o desespero se apossou da população. Cada

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vez mais alarmantes vinham notícias de toda a parte, do império e dos estados vassalos. Do interior chegavam sem cessar grupos de campônios que se vinham abrigar ao pé do santuário de Posseidon. Crescia de hora em hora a excitação. Homens exaltados, profetas improvisados, iam pelas ruas, incitando a multidão, já presa duma loucura coletiva, ao arrependimento; enquanto outros, ao contrário, não mais hesitavam em blasfemar contra os deuses e Posseidon. Via‑se gente que se precipitava em delírio de cabeça para baixo nos rios de lava, que caíam das montanhas, e desaparecerem consumidos à vista dos amigos. Ainda outros, escalando as penedias, atiravam‑se ao mar, com riso convulsivo. A polícia e as autoridades sentiam‑se impotentes ante calamidades tais; gatunos e bandidos invadiam as tavernas e estabelecimentos públicos, grupos de ébrios dançavam defronte às casas em chamas, agrediam os sacerdotes ou injuriavam mulheres, em plena rua.

E apesar de toda essa desordem, no meio do pânico geral, havia ainda gente que continuava sua vida habitual. Lojas e mercados mantinham‑se abertos, os ociosos enchiam os banhos públicos e teatros, e mesmo escolas continuavam a ter frequência. Parecia que a civilização, em marcha havia milênios, não podia estacar; o ódio e o amor subsistiam, como os grandes móveis da humanidade e o temor do perigo iminente. O irromper de todas essas calamidades não conseguia vencer os impulsos humanos. Se por um milagre tivesse sido possível perguntar aos nossos remotos antepassados quais os pensamentos que lhes inspirara a vista de tantos horrores, é provável que respondessem:

Certamente a desgraça dos tempos é grande, mas tudo passará... as forças da natureza, atualmente desencade-adas, acabarão por se aquietar e a vida vai retomar seu curso. Seria prova duma estranha aberração entregar-se ao desespero e abandonar suas ocupações. Continuemos a enriquecer.

O imperador Noé e sua família, os membros do governo e o alto clero tinham embarcado num navio que não esperava senão as ordens supremas para fazer‑se à vela em plena tempestade; Noé sempre com a esperança de que findasse o cataclismo, de um momento para outro, retardava a partida... Enfim, não podendo mais se opor às súplicas dos cortesãos desvairados, deu ordem de largar o pano... É ocioso esclarecer que a população estava na ignorância da partida do soberano e ministros.

Repentinamente, quando o dia ia alto e o céu estava encoberto de negras nuvens, as ruas da capital repletas da multidão de seus habitantes e refugiados, as tavernas regorgitando de ébrios, em meio ao delírio geral, a crosta do planeta foi inteiramente abalada por um choque de inaudita violência. O astro que minutos antes ainda brilhava, luminoso satélite, no céu da nossa terra, acabara por tombar no oceano, tal gigantesco meteorito, além, muito longe, para o oeste...

Com este choque a velha Terra teve um sobressalto: ilhas inteiras, partes de continentes, desapareceram imediatamente no fundo dos mares, pois uma vaga gigantesca, produzida pela queda do meteorito, propagando‑se com rapidez incrível, lançava suas volutas repetidamente em torno da terra, tudo submergindo à sua passagem.

Foi assim que a soberba Posseidônis desapareceu para

sempre, arrastando consigo para o abismo a magnífica civilização dos atlantes. Palácios, templos, museus e as bibliotecas que encerravam tesouros do saber humano e as crônicas das idades mais remotas, tudo foi em um instante tragado pelas águas espumantes.

E no momento em que as vagas começavam a submergir as torres e a cúpula dourada do templo de Posseidon, enquanto o ar ressoava de gritos horríficos dos que viam a morte se aproximar, e que as mães com os filhos ao colo tentavam refugiar‑se no declive da montanha de três cumes de Posseidon, o navio de Noé, literalmente coberto de pássaros apavorados, fugia ao furacão, dirigindo‑se com a rapidez imposta pela tempestade, para as colônias semibárbaras que os atlantes haviam fundado na longínqua Europa... As nuvens tinham‑se afastado por momentos e os passageiros da nave real puderam distinguir no céu soturno o enorme disco resplandecente da Lua, o nosso novo satélite, cuja face vagamente humana parecia, como uma divindade estranha e carrancuda, ameaçar o pobre universo pré‑histórico com novas calamidades, enquanto no horizonte oposto brilhava ainda o terrível visitante da véspera, o cometa com a sua luminosa cauda. Cada vez menor, pois que tinha já transposto o seu periélio, mergulhava ele, obedecendo às ordens do Senhor Supremo, com rapidez prodigiosa, nos longínquos limites do sistema solar.

Os milênios foram passando, uns após outros, e a humanidade conservou apenas uma lembrança esmaecida do terrível cataclismo. Pouco a pouco foi sendo olvidada a própria existência dos atlantes e pouco a pouco desapareceram os últimos descendentes da raça poderosa e altamente civilizada que havia sido soberana no mundo. Longe, nos confins da América Meridional, a floresta virgem retomou lentamente posse dos destroços das metrópoles outrora florescentes cujos monumentos cediam às garras do tempo. Com o passar dos séculos as camadas de aluvião, cada vez mais espessas, vinham recobri‑las com um manto que parecia querer para todo o sempre ocultá‑las aos olhares das gerações vindouras. Vastos territórios, em antigos tempos cultivados e povoados, transformaram‑se em desertos bravios e desolados. Hoje a parte central do império dos atlantes, a ilha de Posseidon, jaz no fundo do mar, sob as águas azuladas, e seus templos e palácios foram invadidos pelas algas. Animais marinhos de vivas cores evoluem por entre as colunatas de pórfiro e penetram nas vastas salas que ainda abrigam os esqueletos de criaturas que viviam há doze mil anos e pacientemente esperam que os homens do século XX, utilizando suas portentosas invenções, os descubram para coligirem as provas e os últimos testemunhos dessa sombria tragédia das grandes forças cósmicas na antiguidade.

O ritmo da vida, porém, prossegue infatigável; às velhas raças sucedem as novas, instalando‑se nos próprios túmulos das precedentes. As terras abandonadas repovoam‑se de colonos, descendentes dos bárbaros de outrora; a cadência do machado ressoa de novo nas florestas virgens, e novas cidades surgem do solo, até que um dia a picareta dum arqueólogo de mais sorte venha descobrir, sob as construções novas, os vestígios e ruínas das cidades magníficas de outros tempos.

O Enigma da AtlântidaAlexandre Braghine

Editora do ConhECimEnto