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Galeria Estação | Exposição CLOVIS | Curadoria Ricardo Resende e Germana Monte-Mór | De 5 de novembro a 15 de dezembro de 2015
CLOV
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ESTA
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2015
CLOVIS
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abertura 05 de novembro 19h
Clovis
curadoria Germana Monte-Mr e Ricardo Resende
So Paulo 2015
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Sem ttulo, 2014Acrlico e guache sobre papel kraft56 x 76,5 cm
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3Clovis Vilma Eid
Eu o conheo pouco. Na verdade, depois de eu ter ouvido muito falar dele, a Flavia
Corpas me levou para conhec-lo. Ele trabalha no Ateli Gaia, dentro do Museu Bispo
do Rosrio, dirigido e cuidado pela instituio. Criou para si um ateli dentro daquele
que abriga todos os artistas que passam o dia ali trabalhando. particular, excntrico,
prprio. Os materiais acumulam-se, trabalhos acabados com outros inacabados, telas,
tintas... Pouco falante, Clovis nos recebeu com um meio sorriso. Logo que viu nosso
interesse pela arte, e pela dele em particular, aos poucos comeou a abrir-se.
Esse homem simples, um andarilho nascido no interior do estado de So Paulo,
um artista com um currculo a ser levado em considerao. Participou destas expo-
sies coletivas: Ao rs-do-cho, Livre Galeria, Rio de Janeiro, 2015; Construo de um
novo percurso: Ateli Gaia, Museu Bispo do Rosrio Arte Contempornea, Rio de Janeiro,
2014/15; Ressuscita-me, Museu Bispo do Rosrio Arte Contempornea, Rio de Janeiro,
2013; Prxima parada, Museu Bispo do Rosrio Arte Contempornea, Rio de Janeiro,
2007; Cologne in Colnia, Museu Bispo do Rosrio Arte Contempornea, Rio de Janeiro,
2006; O que normal?, ECCO Espao Cultural Contemporneo, Braslia, 2006; Puzzle-
plis II, 26 Bienal de So Paulo, 2004 (com a artista plstica Livia Flores); Matria prima,
Novo Museu de Curitiba, Curitiba, 2002; Puzzleplis, Espao Cultural Sergio Porto, Rio
de Janeiro 2002.
Clvis chegou a ser comparado a Bispo do Rosrio, de quem foi contemporneo, por
realizar seus trabalhos com materiais reciclados, agrupando-os por vezes tambm de
maneira obsessiva. Eu acredito que o talento o trao que os aproxima.
Estou entusiasmada e espero que vocs tambm fiquem.
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4Sem ttulo, 2014Acrlico sobre tela50 x 40 cm
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5Clovis Ricardo Resende
estou sempre indo
no sei pra onde
mas eu vou1
Clovis Aparecido dos Santos gosta de andar, andarilho, caminha, vaga de um lado
para outro na beira das estradas urbanas, na beira das grandes avenidas como a Linha
Amarela, no Rio de Janeiro, que liga Jacarepagu, na Zona Oeste, passando por Madu-
reira, ao centro do Rio de Janeiro. Diz que quando caminha no pensa em nada, apenas
compe msicas e canta.
Um dia desses, j final de tarde quente carioca, retornando pela Linha Amarela da
Colnia Juliano Moreira, onde ficam o Museu Bispo do Rosrio e o Ateli Gaia, Clovis
foi avistado altivo e com olhar reto sua frente. Caminhava com passos largos e rpidos
em direo Taquara, bairro onde localiza-se a colnia. Ao seu lado os carros em velo-
cidade passavam deslocando o ar com suas sombras alongadas e os zunidos do motor,
deixando como passagem no tempo uma mancha esticada, como aquelas vistas na pin-
tura do alemo Gerhard Richter.
A histria humana, desde a mais remota, a do homem ereto, de deslocamentos.
De ir de um lugar a outro. Atrs de comida ou de gua, procura de lugares mais segu-
ros para procriar ou, por que no?, atrs de outras paisagens para morar. O ser humano
vem de uma natureza vagante.
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6Em 2004, o artista participou de uma exposio, PuzzlePlis II, com curadoria de
Lvia Flores, dentro da 26 Bienal de So Paulo, com 58 trabalhos. A professora e artista
criou uma miragem fantasmagrica de cidade com suas peas. Clovis cria fantasmas
com suas formas estranhas, seres desformes e de colorido intenso que habitam o nosso
inconsciente.
O artista contou um pouco de sua histria para que eu escrevesse este texto sobre
sua obra.
Nasceu em Avar, interior do estado de So Paulo. Filho mais velho, ouviu de sua
me poca, ainda muito jovem, que, se no tinha condies de ajudar na manuteno
da famlia, deveria ento procurar o prprio sustento. Foi a chance para ele pegar a es-
trada e seguir adiante, sempre em frente at chegar rodovia que une os dois estados,
So Paulo e Rio de Janeiro, a Via Dutra. Estrada em que comum ver andarilhos e
peregrinos nas suas margens.
De Avar, que fica quase no centro do estado de So Paulo, Clovis passou por vrias
estradas at cair no Rio de Janeiro, catou rebarbas do lixo nas ruas quando puxava uma
carroa. Tinha a conscincia de estar fazendo o bem ao reciclar. Ainda uma prtica sua
coletar. No perdeu o desejo da busca e da caminhada. Recolhe os mesmos materiais
hoje para reciclagem, como o papelo, as garrafas PET, brinquedos aos pedaos feitos
de plstico e as lonas vinlicas residuais das propagandas polticas que persistem na
paisagem das periferias da cidade, mesmo depois do perodo eleitoral. Agora no coleta
mais para vender como antes, e sim usa o material como suporte para sua obra de arte.
Fala pouco, mas sempre com um sorriso nos lbios. De frases curtas mas certeiras,
deixa a dvida se est ali por algum distrbio mental. O que parece que encontrou abri-
go nessa nova fase da Colnia Juliano Moreira, que, depois das mudanas manicomiais
implantadas desde a dcada de 1990, no mais hostil. Talvez seja por isso que l ficou.
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Sem ttulo, 2015Acrlico sobre metal e madeira 114 x 78 x 63 cm
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Sem ttulo, 2014Acrlico sobre papel, cola e cimento35 x 68 x 60 cm
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9Discordando dos que ainda dizem que o que o Clovis faz no seria arte, pois, pela
condio mental, no teria condies de ter a inteno de fazer arte, ele, pelo contr-
rio, tem a clareza de que o que faz arte.
O artista frequenta o Ateli Gaia h mais de dez anos. O que o prende ali a pos-
sibilidade de desenvolver o seu trabalho plstico, a tranquilidade para fazer os seus
desenhos, as suas pinturas e as esculturas estranhas na forma de carros sob o olhar dos
outros colegas de ateli.
So estranhas estas formas que lembram a figura humana, de animais, vegetais e de
carros. Fazem recordar seres de um filme pr-histrico da humanidade, mas tambm
um mundo inspito que parece que ainda vai existir daqui a milhares de anos.
Os desenhos, as pinturas e as esculturas do Clovis so de seres indefinidos e de
carros toscos e engraados. Quando esculturas, so feitos de uma mistura de restos de
brinquedos e outras partes que ele constri feitas de restos de ferro de construo civil,
pedaos de madeira e arame. Uma mistura que tem como base a massa da tcnica do
papel mach. No lugar da cola, usa o cimento misturado ao papel de jornal e revistas.
Modela essa massa na forma desses veculos que poderiam passar por brinquedos em
outra poca.
Nos desenhos e pinturas, que o que predomina nesta primeira exposio apre-
sentada pela Galeria Estao, com cocuradoria de Germana Monte-Mr, essas mesmas
formas surgem ainda mais abstratas. Ora lembram a sombra de animais, ora lembram
as formas dos prprios carros que Clovis inventa sobre papel e telas. Algumas cores
predominam e esto mais para a vibrao dos tons amarelos, dos verdes-abacate, do
oliva e dos ctricos. Surgem as cores terrosas, como o marrom, o cinza, os vermelhos,
os azuis, o rosa de fundo para uma figura disforme esverdeada. A cor da terra vulcnica,
o branco e o amarelo combinados. uma mirade de cores inusitadas.
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Sem ttulo, 2015Acrlico sobre eucatex50 x 63 cm
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Essas escolhas podem ter apenas o sentido da precariedade em que o artista cria.
Poucos recursos, o uso de materiais pobres e poucas cores de tinta disposio. Mas a
combinao inventiva e provocativa ao criar um padro de cores e formas que lem-
bram arabescos e smbolos decorativos com cores ora combinadas, ora inesperadas e
destoantes. Em alguns trabalhos reconhecemos e no reconhecemos o que ele desenha
ou pinta. Quando no caem no abstrato completo, as figuras sugerem seres viventes
com olhos esbugalhados ou, ainda, animais como peixes, o elefante em noite estrela-
da, plantas, folhas e flores. Em um ncleo de desenhos pintados, aparece uma escrita
indecifrvel e compulsiva. Mais para um texto pintado que lembra os smbolos de uma
escrita com traos.
Fiz ao Clovis uma pergunta para no deixar dvida de como se dava sua criao. Per-
guntei-lhe o que pensava enquanto criava. Simples assim, respondeu: No sei. Tudo
que fao vem das minhas mos. Passa pelas minhas mos. E me mostrou as mos
grandes de quem trabalha com a fora fsica e sujas de tinta.
Ao observar a serenidade do a