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    HISTRIA DA DANA

    Rosana van Langendonck*

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    DANAS PRIMITIVAS __ 9000 e 8000 a.C. Eras Paleoltica e Mesoltica

    __ 6500 a.C. Perodo Neoltico

    DANAS MILENARES

    DANA MODERNA

    DANA CONTEMPORNEA

    DANA NEOCLSSICA

    __ 5000 a.C. Egito

    __ 2000 a.C. ndia

    __ Do sculo VII a.C. ao sculo III a.C. Grcia

    __ De 476 a 1453 Idade Mdia__ Sculos XI e XII

    __ Sculos XIII e XIV

    __ Renascimento Sculos XV e XVI

    __ Sculo XVII

    __ Sculo XVIII

    __ Sculo XIX Bal romntico

    __ Artistas que influenciaram a dana no sculo XIX

    __ O bal na Rssia

    __ Sculo XX

    __ Pesquisadores do corpo que influenciaram a

    dana no sculo XX

    __ Os primeiros modernos

    __ Ballets Russes Companhia Bals Russos

    __ Dcadas de 1940 e 1950

    __ Dcada de 1960

    __ Transio para a dana contempornea

    __ Dcada de 1960

    __ Dcada de 1970

    __ Dcada de 1980

    HISTRIA DA DANA LINHA DO TEMPO

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    DANAS PRIMITIVAS

    As danas primitivas eram executadas pelos homens das cavernas e seus movimen-

    tos ficaram registrados na arte rupestre, isto , em desenhos gravados em rochas e

    nas paredes das cavernas.

    9000 e 8000 a.C. Eras Paleoltica e Mesoltica

    Nessas eras, a dana estava diretamente relacionada sobrevivncia, no sentido

    de que os homens, vivendo em tribos isoladas e se alimentando de caa e pesca e

    de vegetais e frutos colhidos da natureza, criavam rituais em forma de dana que

    impediriam eventos naturais de prejudicar essas atividades.

    Em cavernas como as da Serra da Capivara, no Piau, no Brasil, Fultons Rock, na

    frica do Sul, Altamira, na Espanha e Lascaux, na Frana podemos conhecer muitos

    desenhos dessas eras. Eles representam cenas de pessoas em roda, danando em vol-

    ta de animais e vestidas com suas peles; so figuras correndo e saltando, imitando

    as posturas e movimentos desses animais.

    6500 a.C. Perodo Neoltico

    Nesse perodo, o homem deixa de ser nmade e fixa residncia em um lugar deter-

    minado. Ele comea a plantar para comer e a criar animais para seu prprio consu-

    mo, surgindo, assim, a agricultura e a pecuria.

    Os rituais e oferendas em forma de dana tm o sentido de festejar a terra e o

    preparo para o plantio, de celebrar a colheita e a fertilidade dos rebanhos.

    A identificao, pela dana, com os movimentos e as foras naturais representa

    uma forma de o homem se sintonizar com o ritmo da natureza, auxiliando-o na

    programao de suas aes.

    DANAS MILENARES

    5000 a.C. Egito

    Nessa poca, as danas no Egito tinham um carter sagrado e eram executadas em

    homenagem aos deuses. Os mais homenageados eram a deusa Hathor, da dana e

    da msica, e o deus Bs, que considerado o inventor da dana; a ambos era atri-

    budo um poder sobre a fertilidade.

    Hathor representada por uma vaca que, segundo a lenda, possua o sol entre os

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    chifres, e Bs, por um danarino ano, coberto com pele de leopardo para se prote-

    ger de feitiarias, que dava cambalhotas desajeitadas e fazia caretas para assustar

    os espritos malfeitores.

    O culto a Osris, deus da luz, a quem era atribudo o ensinamento da agricultura

    aos homens, acontecia todos os anos, na poca de cheia do rio Nilo. O ritmo das

    cheias e vazantes do rio Nilo comandava os trabalhos de semeadura e colheita, que

    eram celebrados com danas na primavera.

    Muitas outras danas, sempre relacionadas aos deuses egpcios, eram executadas.

    Por isso so chamadas de danas divinas ou sagradas. Para o deus Amon acontecia

    a procisso da barca sagrada, na qual bailarinos acrobatas apresentavam suas

    proezas.

    As danas apresentadas por ocasio das festas religiosas e dos funerais tambm

    eram consideradas sagradas. Nos funerais havia os mouou, personagens que sur-

    giam muito de repente e vinham ao encontro do enterro, danando em duplas.

    Os egpcios acreditavam que as movimentaes desses danarinos asseguravam ao

    morto a ascenso a uma nova vida.

    Existiam tambm as danas profanas, que aconteciam por ocasio dos banquetes

    em honra aos vivos ou aos mortos, e tambm para entregar recompensas a funcio-

    nrios ou por ocasio de elevao de cargo.

    2000 a.C. ndia

    Na ndia as danas tm origem na invocao a Shiva (deus da dana). Com suas dan-

    as e msicas, os hindus procuravam uma unio com a natureza.

    Assim como a egpcia, a dana de Shiva tinha por tema a atividade csmica. Ela

    exprimia os eventos divinos. O ritmo da dana estava associado criao contnua

    do mundo, manuteno desse mundo, destruio de algumas formas para o

    nascimento de outras.

    Os vrios estilos de dana, sempre relacionados a deuses, tinham o mesmo princ-

    pio, o de que o corpo inteiro deve danar. Por isso, as danas indianas apresentam

    movimentos muito elaborados de pescoo, olhos, boca, mos, ombros e ps.

    Cada gesto tem um significado mstico, afetivo e espiritual. Todos os gestos das

    mos, chamados mudras, tm um nome especfico e expressam significados diferen-

    tes. Trata-se de uma dana que se exprime por smbolos predeterminados, constru-

    dos pelo corpo.

    A dana indiana no v fronteira entre a vida material e a vida espiritual, pois, para

    os hindus, corpo e alma no esto separados. Suas danas so passadas de gerao a

    gerao. So chamadas de ragas e cada raga tem suas prprias cores, que represen-

    tam certos poemas e se referem a lendas e a estaes do ano ou a horas do dia.

    Na ndia, a dana ainda hoje ligada ao misticismo e religio. As escolas de

    dana funcionam junto aos santurios.

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    Do sculo VII a.C. ao sculo III a.C. Grcia

    A dana na Grcia, como no Egito e na ndia, sempre integrou rituais religiosos,

    mesmo antes de fazer parte das manifestaes teatrais. Os cidados gregos, que

    acreditavam no poder das danas mgicas, usavam mscaras e danavam para seus

    inmeros deuses.

    Ums das divindades gregas mais conhecidas Dionsio, deus da fertilidade e do

    vinho.

    Acredita-se que o incio da orquestra grega nasceu com os agricultores, que tra-

    ziam a uva para uma praa, no centro de Atenas, e as maceravam com os ps, em

    movimento coordenado. Os pisadores deslocavam-se em forma de roda e cantavam

    para dar ritmo, enquanto pisavam a uva para fazer o vinho. Essa cerimnia durava

    dias; quando esses pisadores estavam cansados, eram substitudos por outros, que

    ficavam sentados em volta da praa, nos bancos de pedra. Em torno deles, a popu-

    lao de cidados formava fileiras, sentada em degraus. Acredita-se que essa dispo-

    sio deu origem ao famoso teatro grego no sculo V a.C.

    A dana era muito valorizada entre os gregos. Para eles, o ideal de perfeio esta-

    va na harmonia entre corpo e esprito, que deveria aparecer em um corpo bem mol-

    dado, adquirido graas ao esporte e dana. As crianas eram educadas para a guerra

    e acreditavam que a dana contribua para o equilbrio da mente e aprimoramento

    do esprito, como tambm lhes daria a agilidade necessria para a vida militar.

    Segundo o filsofo Scrates (469-399 a.C.), a dana forma um cidado completo.

    Plato (428-347 a.C.) e Aristteles (384-322 a.C.) consideravam a dana e a ginstica

    como uma iniciao para a luta e para a educao dos cidados.

    Ela era acessvel a todos os cidados e, somente com o declnio da cultura grega,

    a dana passa apenas esfera do entretenimento.

    O gnero teatral comdia originou-se de cortejos populares e bailes de mscaras,

    muito apreciados no meio do povo grego. As danas apresentadas nessas com-

    dias eram leves e ligeiras, com muitos saltos, piruetas e movimentos de rotao dos

    quadris. Sua caracterstica sensual foi levada para o Ocidente e, na Idade Mdia, foi

    proibida pelos cristos, que pretendiam a purificao dos costumes.

    De 476 a 1453 Idade Mdia

    Chamada de idade das trevas pelos humanistas do Renascimento, a Idade Mdia

    foi, para a dana, um perodo contraditrio. Nessa poca, a Igreja tornou-se auto-

    ridade constituda. Manifestaes corporais foram proibidas, uma vez que a dana

    foi vinculada ao pecado. Os teatros foram fechados e eram usados apenas para ma-

    nifestaes e festas religiosas.

    A Igreja, porm, no conseguiu interferir nas danas populares dos camponeses,

    que continuaram a fazer suas festas nas pocas de semeadura e colheita e no incio

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    da primavera. Para no afrontar a Igreja, essas danas eram camufladas com a in-

    troduo de personagens como anjos e santos. Posteriormente, essas manifestaes

    foram incorporadas s festas crists, com a introduo da dana dentro das igrejas.

    Sculos XI e XII

    Esse perodo marcado pela peste negra e outras doenas epidmicas que assola-

    ram a Europa, causando muitas mortes. As pessoas, desesperadas, danavam frene-

    ticamente para espantar a morte. Essa dana ficou conhecida como dana macabra

    ou dana da morte.

    O teatro religioso medieval abordava temas baseados no Antigo e no Novo Testa-

    mento, como a vida dos santos, aparies e milagres. Suas peas tinham um objetivo

    moralista. A dana macabra participava da histria, na maioria das vezes em frente

    boca do inferno do cenrio, como representao do castigo para remisso do

    pecado ou do flagelo da peste enviada por Deus.

    Sculos XIII e XIV

    A arte na pintura e tapearias, a arquitetura gtica e a literatura, como a Divina

    Comdia, de Dante Alighieri, apresentam uma forte inspirao religiosa.

    A arte dos trovadores, menestris e jograis, que acontecia nas ruas, entra nos cas-

    telos medievais para alegrar as festas. Esses artistas ensinam nobreza uma dana

    lenta, a basse dance, assim chamada por causa dos trajes pesados usados pelas cas-

    tels, diferente das roupas usadas pelas camponesas, que lhes possibilitavam pular,

    rodopiar e danar a haute dance.

    Entre as danas executadas pela corte na Idade Mdia est apolonaise, originada

    das danas de camponeses poloneses que aconteciam na frente das igrejas e que vai

    ser, mais tarde, no sculo XIX, inserida em alguns bals.

    Renascimento Sculos XV e XVI

    A partir do sculo XV, com o intenso movimento de renovao em muitos mbitos

    da vida social e cultural, chamado de Renascimento, as cortes reais tambm se trans-

    formaram. Pela necessidade de ostentar suas riquezas, passaram a comemorar, com

    grandes festas, datas como nascimento, casamento, aniversrio.

    A dana se desenvolve, particularmente em Florena, na Itlia, no palcio da fa-

    mlia Mdici, onde, nas festas, eram apresentados espetculos chamados de trionfi

    triunfos, que simbolizavam riqueza e poder. Vrios artistas eram convidados a

    colaborar na preparao desses espetculos, entre eles Leonardo da Vinci.

    1459 Em uma festa de casamento, foi apresentado o primeiro triunfo conside-

    rado bal.

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    1500 No carnaval de Veneza, foi encenado um dos triunfos mais suntuosos, no

    qual os danarinos usavam mscaras bordadas com fios de ouro e pedras preciosas,

    leques de plumas e mantos de seda adamascada.

    1548 Catarina de Mdici casa-se com o Duque de Orlans, que se tornou Henri-

    que II na Frana, levando a idia de espetculo para a corte francesa.

    Nessa poca, o espetculo era uma mistura de canto, dana e poesia e constitua

    um passatempo para o rei e a corte. Os temas escolhidos eram mitolgicos, em sua

    maioria. O rei participava interpretando uma divindade, que as pessoas da corte

    adoravam.

    1581 O primeiro bal da corte, intitulado Le Ballet Comique de la Reine (O

    Bal Cmico da Rainha neste caso, o termo cmico deve ser entendido no sentido

    de dramaturgia de uma comdia), foi um grande espetculo, que durou seis ho-

    ras, com participao de carros alegricos e efeitos cnicos.

    A dana, nessa poca, era quase exclusivamente masculina, mas, nesse bal, co-

    meou a haver a participao de algumas damas da corte, formando o que se pode

    chamar de primeiro corpo de baile (grupo de bailarinos que realizam movimentos

    iguais) da histria da dana. Iniciou-se, ento, a formao de muitos desenhos ge-

    omtricos e direes no espao na movimentao da dana, lanando-se os funda-

    mentos de uma nova forma de arte.

    Na passagem do sculo XVI para o XVII, a dana ainda continuava ligada situa-

    o de festa, porm, na Itlia, ela j se desenvolve como forma autnoma de repre-

    sentao, onde no h mais espao para poesias, deuses e heris. Os personagens

    passam a ser plebeus vivendo paixes humanas, como retrata, por exemplo, o famo-

    so trio Pierr, Arlequim e Colombina. No rastro italiano, a Frana vai, aos poucos,

    retirando do espetculo as partes recitadas, substituindo-as pelo canto.

    Sculo XVII

    1653 O rei Lus XIV (1638-1715) proporciona um grande desenvolvimento para

    a dana. Exmio bailarino, criou vrios personagens para si prprio, como deuses e

    heris. Sua grande apario foi como Rei-Sol, aos catorze anos de idade, no bal

    realA Noite. O personagem derrotava as trevas, usando um traje de plumas bran-

    cas.

    1661 Luis XIV fundou a Academie Royale de la Danse. A chamada comdia-

    bal veio para substituir o bal da corte. A primeira tentativa do gnero foi Les

    Fcheux(Os Inoportunos). O esquema da comdia era entremeado e enriquecido

    com bailados.

    1669-1700 A dana saiu dos sales palacianos e chegou aos palcos dos teatros,

    ainda como mera coadjuvante de alguns trechos de peras.

    Jean Baptiste Poquelin, conhecido como Molire, criou temas para bal, pois in-

    clua cenas de dana em todas as suas comdias. Nessa poca, a dana pertencia ao

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    teatro, ainda no era uma arte autnoma, e os intrpretes, que participavam dos

    espetculos, eram ciganos, danarinos e acrobatas que divertiam a multido.

    Esses espetculos com dana marcaram o incio do seu desenvolvimento e de sua

    autonomia como arte.

    O movimento assinalou a presena de coregrafos e tericos de dana, que pas-

    saram a ensinar em academias abertas a alunos de todas as classes sociais. A exi-

    gncia de uma tcnica refinada para um profissional da dana fez com que Pierre

    Beauchamp (1636-1705), msico e coregrafo da Academie Royale de la Musique et

    de la Danse, criasse as cinco posies bsicas de ps para bal, posies de braos e

    de cabea que as acompanham e so conhecidas at hoje.

    Sculo XVIII

    O Bal Artistas que influenciaram a dana no sculo XVIII

    O bal nasceu da unio das acrobacias dos profissionais e da leveza e graa da dana

    das festas da aristocracia.

    1713 Lus XIV criou uma companhia de dana, com vinte bailarinos, para a fa-

    mosa pera de Paris.

    A vestimenta dos bailarinos tambm est ligada ao desenvolvimento da tcnica

    da dana. Os vestidos, compridos e pesados, impediam o virtuosismo de movimen-

    tos verticais. O sonho de voar de caro, Leonardo da Vinci e Santos Dumont tambm

    o sonho dos bailarinos dessa poca. Os temas para bal comeam a exigir a iluso

    do vo e, para isso, os cengrafos utilizaram alavancas e roldanas para erguer os

    bailarinos.

    1726 Marie-Anne Cupis de Camargo (1710-1770), La Camargo, grande bailarina

    da poca, foi a primeira a ser erguida por mquinas e enriqueceu a dana com mo-

    vimentos verticais. Encurtou a saia na altura dos joelhos para facilitar sua elevao

    e os movimentos de bateria dos ps, que antes eram executados somente pelos

    homens.

    Contempornea de La Camargo, Marie Sall (1707-1756) procurou usar roupas

    mais leves, como as tnicas gregas, em um bailado chamado Pigmaleo, mas esse

    tipo de vestimenta s ganhou popularidade duzentos anos mais tarde, com a mo-

    derna Isadora Duncan.

    A rivalidade entre La Camargo e Sall era marcada por seus estilos diferentes

    de danar. Enquanto Sall se apresentava com uma dana solene, mais expressiva

    e dramtica, La Camargo era mais gil e leve, realizando saltos e passos rpidos,

    criando uma forma mais acrobtica na dana.

    A luta contra as saias pesadas e a busca de liberdade dos movimentos continua

    at depois da Revoluo Francesa (1789), quando o costureiro da pera de Paris,

    Maillot, criou a malha, dando ao bailarino maior liberdade e mobilidade.

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    1738 O czar Pedro, o Grande (1672-1725), fundou a Escola Imperial Russa, no

    Teatro Imperial Mariinski, hoje Kirov, bero de uma tradio que fez a glria do

    bal russo.

    1760 Jean-Georges Noverre (1727-1810) publica as famosas Lettres sur la Danse

    (Cartas sobre a Dana), um manifesto vlido at hoje, no qual defendida uma dan-

    a espontnea, com roupas leves e rostos expressivos, buscando exprimir idias ou

    paixes. Idealizou uma nova forma de dana, que preconiza o bal de ao, que se

    constitui numa obra coreogrfica baseada em uma histria dramtica. Contribuiu,

    tambm, para que a dana fosse definitivamente para os teatros.

    1786 Foi montado o bal La Fille Mal Garde (A Filha Mal Vigiada), seguindo

    fielmente as idias de Noverre. Trata-se de um bal-pantomima, que usa muitos

    gestos e expresses faciais, com muita dramaticidade.

    1789 Durante a Revoluo Francesa, a dana, que era financiada pela corte

    francesa, parou de se desenvolver por causa de problemas econmicos. O centro

    de interesse passou a ser a Itlia, onde o napolitano Salvatore Vigano (1769-1821)

    inspirou-se nos princpios de Noverre para criar seus bals.

    Sculo XIX Bal romntico

    1820 Carlo Blasis (1795-1878), italiano, grande estudioso da escultura e da ana-

    tomia, escreveu Treatise on the Art of Dancing (Tratado sobre a Arte da Dana),

    onde resumiu e codificou o que se conhecia at ento sobre dana. Acrescentou

    esttica de Noverre uma tcnica mais elaborada.

    Tanto Noverre quanto Blasis declararam que de grande importncia para um

    bailarino conhecer a pintura e a escultura a fim de refinar sua percepo artstica,

    para elaborao dos gestos e passos de dana.

    1830 O bal romntico se desenvolve na Frana e se estende por toda a Europa.

    As histrias romnticas mostravam, em sua maioria, uma herona triste, capaz de

    morrer ou enlouquecer por amor. O bal modificou-se, em busca desse novo mundo

    de sonhos. Os passos no serviam mais unicamente para a evoluo da ao, mas

    estavam carregados de um contedo emocional profundo.

    O bal criava um mundo de iluso, esboava o ideal das concepes romnticas.

    A fada, a feiticeira, o vampiro e outros seres imaginrios eram seus personagens.

    O homem, considerado figura principal na dana do sculo XVIII, passa a ocupar

    um lugar subalterno no princpio do sculo XIX. A mulher foi elevada a uma esfera

    sobre-humana e o homem deixou de ser heri e se limitou a elevar a mulher, quan-

    do necessrio.

    Os ideais da bailarina romntica, sublime, provocaram uma grande modificao

    da tcnica de dana, introduzindo as sapatilhas de ponta. As roupas ficaram mais

    leves, o que permitiu a iluso do etreo da figura feminina e facilitou a fluidez dos

    movimentos.

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    Os coregrafos enriqueceram as evolues do corpo de baile, no qual os bailari-

    nos danavam movimentando-se em diversas direes no palco e no ficavam mais

    como molduras, que formavam figuras geomtricas sem grandes deslocamentos no

    espao.

    A iluminao da cena, anteriormente apresentada com luz ambiente ou luz do

    dia, recebeu um novo tratamento esttico e os cengrafos passaram a utilizar a ilu-

    minao a gs para a criao de novos ambientes.

    Artistas que influenciaram a dana no sculo XIX

    1832 O italiano Felipe Taglioni (1777-1871), grande mestre de bal, apresentou

    um bal considerado o carro-chefe do romantismo, La Sylphide. A slfide represen-

    tava um ser sobrenatural, na figura de uma jovem com asas envolta em nvoa. As

    bailarinas vestiam saias brancas de tule, os chamados tutu, dando maior claridade

    e leveza cena. A figura principal foi interpretada pela bailarina Marie Taglioni

    (1804-1884), filha de Felipe, primeira a usar sapatilhas de ponta inventadas por seu

    pai, incorporando-as naturalmente sua dana.

    A importncia de Felipe Taglioni na histria da dana deve-se, tambm, re-

    novao do vesturio. Popularizou o tutu, o corpete rgido e as meias de malha,

    exatamente como se pode observar atualmente nas apresentaes dos chamados

    bals brancos.

    A segunda estrela da dana romntica foi Fanny Elssler (1810-1884), que estreou

    na pera de Paris aos 24 anos. Bailarina de grande vivacidade e muito sensual, con-

    trastava com o estilo leve de Marie Taglioni.

    A italiana Carlotta Grisi (1819-1899), outra grande bailarina desse perodo, fez

    seus primeiros estudos no Teatro Scala de Milo dirigida por Carlo Blasis.

    1837 Carlo Blasis fundou a Academia de Dana de Milo.

    1841 O poeta e crtico da pera de Paris, Thophile Gautier (1811-1872), criou,

    especialmente para Carlotta Grisi, o bal Giselle, obra considerada o grande exem-

    plo de bal romntico. A dana narrativa e identifica-se com a ao, o que agra-

    dou ao pblico da poca.

    O bal na Rssia

    Na Escola Imperial de Dana do Teatro Mariinski, em So Petersburgo, grandes mes-

    tres, como o francs Marius Petipa (1818-1910) e o italiano Enrico Cecchetti (1850-

    1928), encontraram um campo frtil para seus ensinamentos.

    A unio do estilo nobre francs ao forte virtuosismo italiano deu origem ao mto-

    do russo, mais vital e adequado ao temperamento e ao fsico dos bailarinos russos.

    Na dcada de 1890, Petipa montou trs grandes bals sob a partitura de Piotr Ilyi-

    ch Tchaikowsky (1840-1893), que so remontados e apresentados at hoje:A Bela

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    Adormecida no Bosque (1890); O Quebra-Nozes (1892) e O Lago dos Cisnes (1895).

    1900 O bailarino e coregrafo Mikhail Fokine (1880-1942) aderiu s idias de

    Noverre, que defendia a fuso harmoniosa das artes: msica, pintura e artes pls-

    ticas. Para ele, a dana no deveria se degenerar em pura tcnica, pois seu valor

    estava na interpretao.

    Criou, em 1904, com msica de Camille Saint Saens (1835-1921), o clebre

    pas seul solo: A Morte do Cisne, que a bailarina Anna Pavlova (1881-1931)

    imortalizou.

    Sculo XX

    O sculo XX se anuncia como o tempo do progresso, das descobertas cientficas, da

    rapidez, de expanso de fronteiras, da modernidade.

    Grandes transformaes nas tradies e valores adotados at ento marcam esse

    momento de incio da era industrial. Nasce uma nova sociedade, com outros anseios

    e necessidades.

    Configura-se a idia de modernidade, que comporta a noo de movimento: o

    automvel, o avio, as imagens do cinema, os corpos liberados pela moda e pelo

    esporte e realados pela iluminao eltrica.

    A dana, por participar dessa dinmica, vai buscar novas formas, e podem ser

    observadas duas grandes tendncias: o apego aos cdigos clssicos, remanejados de

    acordo com o gosto da poca, no bal neoclssico, e a contestao daquelas antigas

    propostas pela dana moderna e contempornea.

    Pesquisadores do corpo que influenciaram a dana no sculo XX

    Trs pesquisadores da arte do corpo elaboraram teorias que deram base dana

    moderna. Essas teorias no constituem, propriamente, a forma coreogrfica, mas

    um trabalho de corpo e um estudo do movimento humano.

    Franois Delsarte(1811-1871), cantor francs, abandonou sua profisso quando

    sua voz comeou a falhar. Seu interesse se voltou para os estudos da relao entre o

    gesto e a voz. A partir da observao das pessoas nas ruas, nos parques, nos hospi-

    tais, construiu uma teoria codificada das relaes entre o gesto e a emoo.

    Para ele, as emoes so transmitidas principalmente pelo tronco, uma das ca-

    ractersticas da dana moderna, diferente da dana clssica, onde o rosto e as mos

    so utilizados para exprimir sentimentos. As pesquisas de Delsarte influenciaram

    diretamente os trabalhos dos danarinos modernos, como Isadora Duncan, Ruth St.

    Denis e Ted Shawn.

    mile Jaques-Dalcroze(1865-1950), msico suo cuja pesquisa parte de uma re-

    flexo sobre o ensino da msica. Como msico, ele constatou que, para se aprender

    msica, ficaria mais fcil se o corpo se integrasse aos movimentos rtmicos.

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    Desenvolveu um mtodo pedaggico que consiste em decompor o ritmo e dar

    uma interpretao ao movimento, instaurando uma relao estreita de dependn-

    cia entre o movimento e a msica. Seu trabalho tambm contribuiu principalmente

    para o estabelecimento das fundaes da dana moderna alem.

    Rudolf Laban(1879-1958), nascido na Bratislava, no ento imprio austro-hn-

    garo, viveu na Frana, Sua e Alemanha e emigrou para a Inglaterra. Ocupou um

    lugar fundador na histria da dana moderna e sua influncia mais direta e ime-

    diata do que a de Delsarte ou de Dalcroze.

    Sua proposta baseada em princpios bsicos da linguagem corporal. Movimen-

    tos considerados simples em nosso cotidiano, que na maioria das vezes executamos

    automaticamente, so transportados para a dana moderna de um modo mais estu-

    dado e pensado para que o corpo se movimente de maneira artstica.

    DANA MODERNA

    Nesse perodo da histria da dana, o que vai separar o clssico do moderno no

    simplesmente a tcnica, mas, tambm, o pensamento que norteou sua elaborao.

    Nos Estados Unidos e na Europa apareceram novos modos de danar bastante di-

    ferentes da tradio clssica em relao aos espaos utilizados, concepo de dana

    e movimentos do corpo.

    O embrio da dana moderna tradicionalmente associado estadunidense Isa-dora Duncan (1878-1927), mas na realidade ela nasce quase que simultaneamente

    em dois pases: Estados Unidos, no somente com Isadora, mas tambm com Loe

    Fuller (1862-1928) e Ruth St. Denis (1877-1968), e na Alemanha, com Rudolf Laban

    (1879-1958) e Mary Wigman (1886-1973).

    Duncan e Fuller fizeram sucesso principalmente na Europa. Ruth St Denis e seu

    companheiro Ted Shawn (1891-1972) criam uma escola de dana na qual se forma-

    ram os primeiros grandes mestres da dana moderna nos Estados Unidos.

    Mary Wigman representa um movimento coreogrfico expressionista que surgiu

    na Alemanha dos anos 1920.Muitos modernos mantiveram as estruturas formais estabelecidas pelo bal cls-

    sico, porm alguns foram em direo a uma tcnica de dana mais livre, ou seja, no

    seguindo uma determinada tcnica e conquistando maior liberdade para a escolha

    dos movimentos. Eles estavam mais abertos s sugestes de um mundo em mudan-

    a e s descobertas da arte de seu tempo.

    Os primeiros modernos

    As trs danarinas estadunidenses Duncan, Fuller e Ruth nasceram em um pas

    onde a dana clssica no tinha uma tradio como na Europa.

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    A necessidade dos norte-americanos de afirmar sua prpria identidade perante

    a Europa est nas danas de Duncan e St. Denis, que introduzem uma atmosfera de

    misticismo em suas prticas gestuais.

    1880 Lie Fuller (1862-1928) iniciou sua carreira ainda no sculo XIX, quan-

    do danava em shows de revista nos Estados Unidos. Sua primeira coreografia foi

    um espetculo solo, Serpentine Dance (1890), onde apareceu com efeitos de luzes

    e com grandes pedaos de seda esvoaantes, que ela movimentava com bastes

    amarrados em seus braos. Descobriu o poder da iluso cnica com projees lumi-

    nosas sobre suas vestimentas em movimento.

    Fez sucesso principalmente na Europa. Sua influncia marcou a arte e a moda

    dessa poca, anunciando a modernidade que brotava na dana.

    1904 Isadora Duncan foi Rssia e provocou grande sensao, influenciando

    Mikhail Fokine (1880-1942) em uma nova forma de pensar o bal, como veremos

    mais adiante no tpico Companhia Bals Russos.

    Usava tnicas soltas, inspiradas nas dos antigos gregos, vestimenta que Sall ten-

    tou introduzir dois sculos antes. Danava com os ps descalos, rejeitando as sapa-

    tilhas de ponta usadas no bal, smbolo sagrado da dana clssica.

    Isadora considerada uma revolucionria, com grande ousadia. No danava

    com msicas compostas para bal, mas com msicas que geralmente eram tocadas

    em concertos, o que a maioria dos baletmanos (amantes do bal) era incapaz de

    compreender/aceitar.

    1890 Ruth St. Denis (1877-1968) iniciou sua carreira com o bal Rhada, basea-

    do em temas orientais. Suas danas revelavam influncia da cultura dos pases do

    Oriente e elementos sobre o divino e o sagrado, com iluminao e guarda-roupa

    minuciosamente elaborados.

    Ruth casou-se com Ted Shawn (1891-1972), que compartilhou com ela a idia de

    dana como religio.

    1915 Ruth e Ted fundaram uma companhia de dana, a Denishawn, onde se

    formaram muitos dos bailarinos modernos, como Martha Graham (1894-1991) e

    Doris Humphrey (1895-1958).

    Na Europa, suas idias no foram bem-aceitas, pois seus espetculos eram apre-

    sentados com coreografias que cultuavam os prncipes astecas e as deusas hindus,

    no afinando com as preferncias da gerao dessa poca.

    St. Denis ainda teve de enfrentar a concorrncia dos Bals Russos de Diaghlev,

    que estavam fazendo muito sucesso nos Estados Unidos naquela poca.

    1927 - Martha Graham, discpula da escola Denishawn, afastou-se daquela escola

    para iniciar sua prpria carreira, sendo considerada por historiadores a grande pro-

    fetisa da dana moderna, pois conquistou um verdadeiro espao coreogrfico para

    essa modalidade de dana.

    Fundou a Martha Graham School of Contemporary Dance, onde criou e aperfei-

    oou uma tcnica que se baseia principalmente em contrao e descontrao do ab-

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    dome, tcnica de dana que se espalhou por muitos pases, sendo utilizada, ainda,

    por muitos coregrafos.

    1928 Doris Humphrey(1895-1958), companheira de escola de Graham, saiu da

    Denishawn School e fundou uma companhia de dana nos moldes do pensamento

    moderno.

    Humphrey teorizou o equilbrio e o desequilbrio do corpo humano com quedas

    e recuperaes. Sua arquitetura coreogrfica, ou seja, a construo de suas coreo-

    grafias, no era dramtica ou narrativa. Ela dizia que a dana tem dois extremos:

    em um deles est o completo abandono lei da gravidade; no outro, a busca do

    equilbrio e estabilidade. O drama dos bailarinos est em lutar contra as foras da

    gravidade e contra a inrcia, correndo sempre o risco de perder o equilbrio.

    1932 O bal clssico se mescla com a dana expressionista nascente na obra do

    alemo Kurt Joos (1901-1979)A Mesa Verde, na qual pretendeu mostrar a hipocri-

    sia das conferncias de paz e os horrores da guerra. Nessa coreografia apresentou

    alguns trechos de pantomima, que procura refletir a inquietude da poca. Essa obra

    venceu o concurso de coreografia em Paris, no Thtre de Champs Elyses.

    1940 Martha Graham coreografou a pea Letter to the World (Carta para o

    Mundo), baseada nos poemas de Emily Dickinson e na observao da diversidade

    cultural de seu pas.

    1944 A coreografia de GrahamAppalachian Spring (Primavera Apalache), com

    cenrio de Isamu Noguchi e msica de Aaron Copland, fez sucesso com o tema sobre

    os velhos pioneiros dos Estados Unidos.

    1957 Mary Wigman (1886-1973) produz, na escola de Berlim, A Sagrao da

    Primavera. Intrprete de suas prprias coreografias, conseguiu um grande reconhe-

    cimento do pblico com sua violenta carga expressionista.

    Apareceu como uma personagem perturbadora, tanto na Europa quanto nas

    Amricas. Especialista em papis fortes, detinha as qualidades essenciais de uma

    atriz de tragdia, desprezando toda e qualquer forma de candura.

    Ballets Russes Companhia Bals Russos

    1909 A companhia Bals Russos, criada e dirigida pelo empresrio e mecenas

    Sergei Diaghilev (1872-1929), chocou os parisienses com suas cores e sons fortes e

    selvagens.

    As novas coreografias de Mikhail Fokine, com cenrios e guarda-roupa dos gran-

    des pintores, fugiam do academicismo, incorporando passos da tcnica clssica a

    temas folclricos e apresentando personagens cheios de energia.

    Essa companhia imortalizou Vaslav Nijinski (1890-1950) como grande bailarino,

    que se tornou o preferido do pblico parisiense.

    1912 Nijinski, encorajado por Diaghilev, criou seu primeiro bal, LAprs-

    midi dun Faune (A Tarde de um Fauno), inspirado em um poema de Stphane

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    Mallarm (1842-1898), com msica de Claude Debussy (1862-1918) e cenografia

    de Leon Bakst.

    Essa obra foi o primeiro grande escndalo de Nijinski. Composta de movimentos

    retirados dos afrescos gregos e egpcios, seus personagens foram apresentados de

    perfil em movimentos sensuais para um pblico que, acostumado com ninfas e fa-

    das, ficou desorientado.

    1913 Outra obra polmica criada por Nijinski foi A Sagrao da Primavera. A

    idia a representao de um ritual pago em uma tribo pr-histrica, culminando

    com o sacrifcio de uma virgem, que dana at morrer. Com msica de Stravinski e

    com a inteno de provocar o mundo da msica e da dana, msico e coregrafo

    trabalharam o tema com um grupo de bailarinos, abandonando a idia de corpo

    de baile e retirando dos movimentos qualquer inteno narrativa. Na coreografia

    no foram utilizados os cdigos do bal clssico, mas propostos movimentos difceis

    para os bailarinos, pois eles tinham treinamento nessa tcnica.

    A apresentao no Teatro da pera de Paris foi tumultuada, chocando o pblico

    acostumado com a forma de apresentao coreogrfica do bal clssico.

    1914 Eclode a Primeira Guerra Mundial. Os Bals Russos no viajam mais pelo

    mundo, porm continuam a produzir novas coreografias.

    1917 criada Parade, obra com cenrios de Pablo Picasso (1881-1973), msica

    de Erik Satie (1866-1925) e coreografia de Lonide Massine (1896-1979).

    1929 Diaghlev morre em Veneza e com ele o tempo glorioso e arrojado da

    companhia dos Bals Russos.

    DANA NEOCLSSICA: EXPOENTES

    1920 A bailarina e coregrafa Marie Rambert (1888-1982) fundou em Londres

    sua prpria companhia. Seus bailarinos e coregrafos alimentaram o Royal Ballet,

    criado em 1956 por Ninette de Valois (1898-2001) para a rainha Elizabeth II.

    A grande dama Margot Fonteyn (1919-1991) foi uma das mais importantes figu-

    ras do Royal Ballet, como tambm seu parceiro por muitos anos, o bailarino russo

    Rudolf Nureyev (1938-1993).

    1933 O coregrafo russo George Balanchine (1904-1983), que havia trabalhado

    com Diaghlev, viaja para os Estados Unidos e funda a Escola de Bailado Americana,

    que culminou no New York City Ballet (1948).

    Balanchine teve como meta conceber uma identidade estadunidense para a dan-

    a. Com ele, deu-se o incio da dana neoclssica nos Estados Unidos, em uma tenta-

    tiva de sntese entre a dana clssica e a moderna, que se desenvolvia paralelamen-

    te a outras manifestaes neoclssicas.

    Balanchine desenvolveu uma esttica prpria, propondo a dana pela dana so-

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    mente movimentos sem qualquer referncia dramtica. O bitipo dos bailarinos foi

    uma das principais caractersticas de sua esttica: pernas e pescoo longos, busto

    imperceptvel e cabea pequena.

    1934 Sua primeira coreografia foi Srnade, em que apresentou uma dana

    liberta da tutela de um tema, em favor da abstrao, livre de qualquer necessidade

    narrativa.

    1948 Seu trabalho reconhecido com a criao do New York City Ballet, com-

    panhia oficial subvencionada pela prefeitura dessa cidade, que era alimentado com

    bailarinos da escola de Balanchine, e, portanto, eram raros os artistas de fora que se

    integravam companhia. O mais conhecido o russo Mikhal Barychnikov (1948),

    que se aventurou a danar novas verses dos clssicos: O Quebra-nozes (1954), Co-

    pplia (1974) e Dom Quixote (1978), danas que requeriam uma interpretao mais

    instrumental, ou seja, com mais tcnica e menos emoo.

    Dcadas de 1940 e 1950

    Na Frana, Roland Petit (1924) e Maurice Bejart (1927-2007) so dois grandes core-

    grafos dessas dcadas. Suas obras pertencem ao neoclssico, tendo em vista que

    nenhum deles questiona a linguagem coreogrfica herdada da dana tradicional

    clssica. Escolhiam o tema e procuravam colaboraes de outros artistas que refle-

    tiam sua poca, mas jamais renunciaram ao vocabulrio clssico que os modernos

    iro questionar.

    Roland Petit destacou-se por seu gosto requintado e por suas preferncias pelo

    gestual espalhafatoso do music hallamericano espcie de comdia musicada da

    qual participavam cantores, bailarinos, msicos, acrobatas e, tambm, mgicos.

    1946 Criou, junto com Jean Cocteau (1889-1963), com msica de Bach, uma de

    suas mais conhecidas coreografias, Le Jeune Homme et la Mort(O Jovem e a Mor-

    te), um bailado ao mesmo tempo romntico e neoclssico, danado pelos bailarinos

    Jean Babile (1923) e Natalie Philipart (1926).

    1949 O talento de Petit foi mostrado, tambm, em Carmen, verso do texto de

    Prosper Mrime (1803-1870), com msica de Georges Bizet (1838-1875).

    1957 Maurice Bejart reinventou A Sagrao da Primavera, despojando-a das

    caractersticas russas e do significado pago e de representao de sacrifcio, para

    fazer uma apoteose do amor que salva a vida.

    1960 Sua coreografia para Bolero de Ravel(1960), onde o papel principal de

    uma bailarina, rodeada por homens, foi um grande sucesso. Aparece no filme Les

    Uns et les Autres, de Claude Lelouch (1937), s com homens e com o bailarino Jorge

    Donn (1947-1992) no papel principal.

    Bejart mostrou-se muito interessado em experincias de dana com msica mo-

    derna. Trouxe para a cena os problemas da vida cotidiana e o drama do homem

    contemporneo.

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    Dcada de 1960

    Na Alemanha do ps-Segunda Guerra Mundial, as cidades destrudas pelos bombar-

    deios comeam a reconstruir seus teatros e uma atividade coreogrfica se desenvol-

    ve, ao mesmo tempo em que surge o chamado milagre econmico alemo.

    1961 Para a modernizao do bal na Alemanha so recrutados coregrafos de

    outros pases, como o africano radicalizado na Inglaterra John Cranko (1927-1973),

    que toma a direo do Bal de Stuttgart.

    Cranko apresentou, com esttica neoclssica, coreografias narrativas, como Eu-

    gene Onegin (1965) e Caprichosa (1969). As qualidades de artistas como a brasileira

    Mrcia Hayde (1937) e o norte-americano Richard Cragun (1944)deram vida e di-

    namismo s suas coreografias.

    Nessa companhia formaram-se grandes coregrafos como John Neumeier, que

    se tornou diretor do Bal de Hamburgo em 1977; Jiri Kylian, diretor artstico do

    Nederlands Dans Theater de 1978 1991, e Willian Forsythe, co-diretor do Bal de

    Stuttgart em 1976 e depois diretor artstico do Frankfurt Ballet.

    Transio para a dana contempornea

    Dcadas de 1940/50 Alguns coregrafos passam a questionar os modos de se

    construir a dana, criando uma verdadeira revoluo no mundo da dana moderna.

    Na fronteira entre a dana moderna e a contempornea est o coregrafo e bai-

    larino Merce Cunningham.

    Os pioneiros da dana moderna se dedicaram construo das fundaes de uma

    nova dana.

    Cunningham, chamado pelos crticos de precursor da dana contempornea, po-

    siciona-se contra a permanncia de modelos acadmicos na dana moderna. Em sua

    maioria, tais modelos ainda respeitam uma regra narrativa e temtica; isto , as re-

    laes dana e msica, apesar de mais abertas, ainda permanecem na dependncia

    uma da outra, e o espao cnico continua a respeitar a perspectiva frontal da cena

    italiana do sculo XVII.

    Cunningham buscou novas frmulas e com seus parceiros, o compositor John

    Cage, uma das mais interessantes figuras do mundo da msica contempornea, e

    o artista plstico Robert Rauchenberg, um dos expoentes dapop-art, constri uma

    nova esttica para a dana, lanando os princpios da Dana Contempornea.

    Cria uma nova linguagem coreogrfica ao introduzir as seguintes proposies:

    dcada de 1940 a independncia entre as artes de um espetculo de dana,

    onde coreografia, msica e cenografia so construdas independente uma da outra;

    dcada de 1950 o mtodo do acaso em suas construes coreogrficas, fazen-

    do sorteios e jogando dados no momento de criao de uma coreografia;

    dcadas 1960/70 a criao de coreografias para vdeos e filmes e a descoberta

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    da diferena entre o olho da cmera e o olho humano na visualizao do palco;

    dcada de 1990 o uso da tecnologia nas construes de suas coreografias, com

    osoftware Life Forms e, mais recentemente, na cenografia, com a apresentao de

    Biped.

    Cunningham, inimigo de toda e qualquer teatralidade ou dramatizao, preten-

    de a objetividade formal da tcnica criada por ele e a absoluta independncia da

    dana em relao a qualquer condicionamento narrativo.

    DANA CONTEMPORNEA

    A dana contempornea no impe modelos rgidos; os corpos dos artistas no tm

    um padro preestabelecido, bem com os tipos fsicos. So gordos, magros, altos, bai-

    xos e de diferentes etnias. A maioria desses trabalhos incorpora novos movimentos e

    no mais os movimentos convencionais do bal ou das tcnicas de dana moderna.

    Na segunda metade do sculo XX, a dana contempornea ganhou estabilidade

    no s nos pases de nascimento da dana moderna, como os Estados Unidos e a

    Alemanha, mas tambm na Frana, na Inglaterra e no Brasil.

    Surge um novo estilo, fora dos parmetros antigos nos quais acontecimentos se

    sucedem linearmente. Agora, a narrativa fragmentada. O pblico convidado a

    colocar os pedaos juntos e extrair um significado para o trabalho de dana apre-

    sentado, tecer variados caminhos na construo de sentidos por meio da fruio dos

    espetculos.

    Dcada de 1960

    As idias de Cunningham e de Cage exercem grande influncia na revoluo que

    ocorreu nas artes em geral em Nova Iorque e principalmente na dana, com o grupo

    do Judson Dance Theater.

    Esse grupo abrigava coregrafos alegres, irreverentes e idealistas, que procura-

    vam entender a essncia da dana em uma poca de grandes mudanas no clima

    social e poltico.

    Seus participantes, considerados como a primeira onda de ps-modernistas na

    dana, so Yvonne Rainer, que defende as aes cotidianas transformadas em dan-

    a; Trisha Brown, que trabalha com os problemas de acumulao de movimentos;

    Steve Paxton, que explora contato e improvisao; David Gordon, que joga com

    a teatralidade; Simone Forti, que toma como base os movimentos dos animais, e

    vrios outros. Essas novas transformaes no estavam limitadas dana, mas se

    espalharam tambm para a msica, a pintura e a poesia.

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    Dcada de 1970

    A febre da dana contempornea foi se alastrando e marcou o comeo de um gran-

    de intercmbio entre os bailarinos e coregrafos franceses e estadunidenses. O te-

    atro da pera de Paris, a partir de 1974, iniciou essa troca de informaes com um

    grupo de pesquisas teatrais e depois de pesquisas coreogrficas.

    A coreografia contempornea francesa costuma revelar um interesse na conexo

    com a literatura ou o cinema, em particular os surrealistas e os adeptos da vertente

    teatro do absurdo. comum, tambm, o uso de dilogos e textos junto com os

    movimentos.

    1973 A bailarina Pina Bausch, nascida na Alemanha e considerada um ex-

    poente na dana-teatro contempornea, torna-se diretora do Bal da pera de

    Wuppertal.

    Seu trabalho chama-se Tanztheater(dana-teatro), movimento que se origina na

    poca de Rudolf Laban e Kurt Joss, que foi um dos mestres de Pina. A dana-teatro

    busca uma intensificao da expressividade e para isso faz um dilogo entre o mo-

    vimento, a msica e a palavra.

    As obras de Pina Bausch mostram, por exemplo, pessoas comuns andando nas

    ruas, pois o treinamento, repetido exausto, faz parecer que os movimentos so

    naturais. Entretanto, no decorrer da representao de aes cotidianas, ela pro-

    cura provocar o pblico com situaes inesperadas, quando os bailarinos costumam

    cantar, gritar, falar e rir, colocando a platia diante de sentimentos perturbadores.

    Em 2001, criou gua, repleta de referncias ao Brasil, ao mesmo tempo exal-

    tando e criticando os clichs (esteretipos, padres, caricaturas) de nosso pas: as

    belezas naturais; o povo brasileiro, o samba.

    1978 Foi criado, em Angers, na Frana, o Centre National de Danse Contempo-

    raine (CNDC), importante centro de referncia mundial.

    Dcada de 1980

    1980 Formou-se um novo grupo de pesquisas coreogrficas na pera de Paris,

    do qual participaram os estrangeiros Karole Armitage, Lucinda Childs, David Gor-

    don e Paul Taylor, e os franceses Dominique Bagouet, Jean-Christophe Par, Jaques

    Garnier e Jean Guizerix.

    1980 A coregrafa belga Anne Teresa de Keersmaeker faz uso de procedimen-

    tos minimalistas em suas coreografias: so estruturas coreogrficas simples, repeti-

    das vrias vezes, em velocidades diferentes.

    1981 A bailarina Maguy Marin cria a coreografia May B, com dilogos e textos

    apresentados durante a dana e inspirada em peas do teatrlogo Samuel Beckett.

    1983 A coreografia Rosas danst Rosas marcou o incio da companhia Rosas,

    dirigida por Keersmaeker, que, em sua composio, alm da estrutura minimalista,

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    utilizou tcnicas de espirais, dando maior vigor e velocidade aos movimentos dos

    bailarinos.

    Esse gestual violento e de choque reflexo das imagens contemporneas ex-

    postas na mdia, uma esttica nomeada de nova dana, que impregnou o traba-

    lho de vrios coregrafos a partir dos anos 1980 at os dias de hoje.

    * Rosana van Langendonck Doutora em Comunicao e Semitica - Artes pela PUC/SP, Pesquisa-

    dora do Centro de Estudos em Dana da PUC/SP, diplomada em dana pela Escola Municipal de

    Bailado de So Paulo. Autora de Merce Cunningham - Dana Csmica,A Sagrao da Primavera

    - Dana e Gnese (Edio do Autor) e Pequena Viagem pelo Mundo da Dana (Ed. Moderna).

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