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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
A DIMENSÃO AFETIVA
NO ESPAÇO ESCOLA
por
RUTE XAVIER DE MORAES DA SILVA
Orientada por: PROFESSOR Dr. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
Rio de Janeiro,
Janeiro de 2009
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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pedagogia da Faculdade Candido Mendes, Instituto A Vez do Mestre (IAVM), para obtenção de Grau de Pedagogia.
Rio de Janeiro, 2009
A DIMENSÃO AFETIVA NO ESPAÇO ESCOLAR
Por Rute Xavier de Moraes da Silva
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DEDICATÓRIA
Dedico este projeto a meus pais Celina e Moysés, em memória, por tudo que me ensinaram e pelo que sou. A meu marido Ivan, pelo companheirismo e incentivo, que contribuíram tanto para que eu chegasse com tranquilidade ao final deste curso e aos meus filhos Larissa e Ivan, pela amizade, amor e existência.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dotado de força e perseverança, a toda equipe do Instituto A Vez do Mestre, coordenação, tutoria, secretaria e professores, pela atenção dispensada durante esta empreitada e aos meus colegas de turma pela parceria durante o curso.
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RESUMO
Esta pesquisa teve com finalidade abordar, como os sentimentos e
as emoçoes influenciam nas relações que se estabelecem na escola e quais
seus resultados, buscando analisar a escola como um espaço diversificado,
onde as pessoas aprendem enquanto se relacionam. Seu objetivo é perceber a
importância e a influência das relações interpessoal e intrapessoal, analisando
o afeto como elemento fundamental e o seu favorecimento na formação do ser
relacional. Evidentemente, a afetividade se faz presente na vida das pessoas,
e, no ambiente escolar ela é responsável por torná-lo prazeroso e harmonioso,
determinando os resultados.
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METODOLOGIA
Para a realização desta pesquisa foram lidos vários livros e
realizadas várias buscas em sites a partir do tema proposto. As diversas
informações obtidas foram filtradas até se chegar ao objetivo da pesquisa e
comparadas com dados coletados a partir do uso de outras ferramentas. O
principal teórico consultado foi Henri Wallon.
Considerei as observações abstraídas em sala de aula, que vieram
somar, contribuindo para fundamentar as informações lidas; pois vivenciar
como as relações se estabelecem, constitui-se um fator importante para
consolidar os conhecimentos adquiridos quanto ao objeto de estudo durante a
pesquisa.
Inseri uma analogia, que apresenta algumas das características do
homem em suas abordagens emocionais e efetivas.
Realizei uma sondagem a partir do uso de questionários, que foram
distribuídos a algumas professoras da rede municipal de ensino do Rio de
Janeiro, com o objetivo de conhecern como estas processam suas práticas
com a presença e a ausência da afetividade.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................... 08
CAPÍTULO I – AFETIVIDADE, O QUE É?............................................ 09
1.1. NINO QUER UM AMIGO.............................................................. 11
CAPÍTULO II – O ESPAÇO ESCOLAR, SEUS ATORES E
SUAS RELAÇÕES ............................................................................ 13
2.1. A ESCOLA ................................................................................. 13
2.2. O PAPEL DO PROFESSOR......................................................... 15
2.3. A FAMÍLIA ................................................................................. 18
CAPÍTULO III – A INTELIGÊNCIA E A AFETIVIDADE NA
FORMAÇÃO DO SER........................................................................ 20
3.1. ESTÁGIO IMPULSIVO-EMOCIONAL........................................... 25
3.2. ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR E PROJETO............................... 26
3.3. ESTÁGIO DO PERSONALISMO.................................................. 26
3.4. ESTÁGIO CATEGORIAL............................................................. 27
3.5. ESTÁGIO DA ADOLESCÊNCIA................................................... 27
CAPÍTULO IV – A AFETIVIDADE NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ... 29
CONCLUSÃO...................................................................................... 31
ANEXOS ............................................................................................ 32
BIBLIOGRAFIA.................................................................................... 44
WEBGRAFIA...................................................................................... 45
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INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como objetivo relatar a emoção eo afeto no ânimo
escolar, analisando suas predominâncias na formação do ser. O trabalho foi
dividido em quatro capítulos. No primeiro capítulo conheceremos as definições
atribuídas à palavra afetividade. Percebemos que o equilíbrio emocional e a
afetividade são importantes para a construção da identidade, para a
humanização do ser e para a vida em sociedade. No segundo capítulo
conheceremos a dimensão afetiva no ânimo escolar, analisando a dinâmica
que envolve a criança e os demais atores, assim como a participação da
família neste processo abarcando a postura do professor e seu papel social. No
terceiro capítulo serão focadas as emoções e a afetividade no desenvolvimento
da inteligência, em consonância com as frases de formação da criança
pautadas por Henri Wallon. No quarto capítulo analisaremos o valor da
afetividade e seu delineamento na resolução de conflitos.
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CAPÍTULO I
AFETIVIDADE, O QUE É?
O termo afetividade origina-se da palavra afeto. Mas o que é o afeto? O
afeto fica despercebido nas relações humanas, que, por sinal, são humanas
por causa dele. Durante a pesquisa foram encontradas várias palavras-chaves
como afeto, afetividade, emoção, vínculos, sentimentos. Existe uma grande
divergência quanto à conceituação dos fenômenos que as envolvem embora
que eventualmente encontramos a utilização dos termos afeto, emoção e
sentimento, aparentemente como sinônimos. Entretanto, na maioria das vezes
o termo emoção encontra-se relacionado ao componente biológico do
comportamento humano. Refere-se a uma agitação, uma reação de ordem
física. A afetividade tem um significado mais amplo e refere-se às vivências dos
indivíduos e às formas de expressão mais complexas e essencialmente
humanas. Tais fenômenos referem-se às experiências subjetivas, que revelam
a forma como cada sujeito é afetado pelos acontecimentos da vida ou pelo
sentido que os acontecimentos têm para ele. Os fenômenos afetivos
representam a maneira como os acontecimentos repercutem na natureza
sensível do ser humano, produzindo nele um elenco de reações matizadas que
definem seu modo de ser no mundo. Sendo assim, o afetivo surge das relações
humanas que evocam das experiências. Embora os fenômenos afetivos sejam
de natureza subjetiva, não é independente da ação do meio sociocultural, pois
se relacionam com os diferentes sujeitos em suas diferentes interações.
Conforme Pereira é também durante as relações que são conferidas ao
conjunto de coisas que compõem a realidade (objetos, lugares, situações etc.),
um sentido afetivo.
Segundo o dicionário Aurélio a palavra afeto vem do latim affectu
(afetar, tocar) e constitui o elemento básico da afetividade. A afetividade é a
dinâmica mais profunda que o ser humano pode participar. É a mistura de
sentimentos. A afetividade é um conjunto de manifestações psíquicas. Ela se
apresenta no clima de acolhimento, empatia, inclinação, desejo, gosto, paixão,
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ternura e de compreensão para consigo mesmo, para com os outros e para
com o objeto de conhecimento. A afetividade promove à interação, a troca, a
busca, os resultados. É facilitadora da comunicação. Por isso é necessário
aprender a cuidar adequadamente de todas as emoções para que se tenha
uma vida emocional plena e equilibrada. No mundo atual, os valores e as
regras sustentam o equilíbrio do individuo na sociedade.
A afetividade forma o ser humano propenso a ser tocado pelo mundo por
meio de sensações que podem ser agradáveis ou não. Quando o homem se
emociona, está interiorizando os seus sentimentos, a sua afetividade.
Os vínculos afetivos têm o poder de revelar os diferentes aspectos da
nossa personalidade. É assim que nascem à simpatia e a antipatia. Algumas
pessoas provocam em nós sentimentos elevados, por isso simpatizamos com
elas. Mas a primeira impressão nem sempre é a que fica. Depende do olhar.
Os sentimentos são expressos não só pela linguagem, mas também pela
mímica e pelas ações.
Devemos estabelecer relações cordiais, de acolhimento, nos
mostrando abertas, afetivas, tolerantes e flexíveis. Isto é condição fundamental
a intenção humana. A afetividade pode promover a união, e é importante na
formação do ser, enquanto pessoas felizes, éticas, seguras e capazes de
conviver no mundo.
É muito importante estarmos em contato com os outros, tocar, abraçar,
olhar fraternamente, sentir que pertencemos à espécie humana.
A afetividade possui papel fundamental no desenvolvimento da pessoa,
pois é por meio dela que o ser humano demonstra seus desejos e vontades.
Através da afetividade são revelados os traços de caráter e personalidade.
Não se trata apenas de um componente importante na forma de educar e
viver, não se resume em emoções momentâneas e nem em valores que
experimentamos quando estamos sensíveis, não é somente dores e
infelicidades ou prazeres que proporcionamos aos outros, trata-se de tudo que
movemos em nossa mente, em sentimentos e emoções complexos na
interação com a vida.
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1.1. Nino quer um amigo
“Nino, por que você está sempre tão sério e cabisbaixo? Nino vivia
triste. Ele se sentia sozinho. Ninguém queria ser amigo dele. Pobre Nino.
Um dia, na praia, ele ficou esperançoso de encontrar um amigo.
_Ah, um menino. Quem sabe...
E tentou chegar perto dele, Mas o menino virou para o lado, cavou
um buraco. E ainda jogou areia no Nino. Coitado dele.
Outro dia na escola, ele tentou puxar conversa com uma colega de
turma. Olhou para a menina, que era toda sardenta, uma graça. Esboçou um
sorriso e tentou puxar um sorriso e tentou puxar assunto. Mas estava tão
acostumado a ficar calado e sério que as palavras demoraram a sair da sua
boca, a menina bonitinha desistiu de esperar que ele dissesse alguma coisa,
virou-se de costas e foi brincar com uma amiga. Tadinho do Nino.
Nem os animais pareciam querer ser seus amigos. Uma tarde Nino
viu um menino com um cão passeando na praça. Ficou co vontade de agradar
o cachorro, mas ficou com medo de que ele mordesse. Fez um agrado bem
tímido. O cão nem aí para ele. Que pena, Nino.
Até que um dia, ele tinha desistido de procurar. Pensando em por
que, quanto mais tentava encontrar um amigo, mais sozinho se sentia... Ficou
distraído pensando e adormeceu.
Quando acordou, olhou-se no espelho. Enquanto escovava os
dentes, percebeu que fazia muitas caretas. Achou engraçado. Enxaguou a
boca e continuou brincando com o espelho, piscadela aqui, piscadela ali.
Começou ali uma verdadeira folia. Era um jogo de recolhimento entre Nino e
sua imagem ao espelho. E não é que Nino era bem engraçadinho? Ele mesmo
nunca tinha reparado nisso antes. Que cara legal era Nino. Que garoto
charmoso, bem-humorado! Nino ficou encantado com seu espelho. Fez-se ali
uma grande amizade.
E depois dessa amizade surgiram muitas outras. Nino hoje é um
cara cheio de grandes amigos. Incluindo ele mesmo... Valeu, Nino”.
(Canton, 2006)
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Esse texto publicado na revista Nova Escola (ver anexol) faz uma
analogia à necessidade que o homem tem de afeto. De uma reciprocidade
afetiva. De conhecer a si e ao outro. Temos necessidade de carinho. O afeto é
tão importante quanto o alimento para o nosso desenvolvimento. Qualquer
forma de contato é fator de equilíbrio, nos faz sentir vivo. Para as crianças,
assim como para nós adultos é muito difícil aguentar a indiferença. Estarmos
sozinhos. Esta situação leva a sensação de rejeição . Porém, no caso do Nino,
ele não sabia como interagir com o próximo, como comunicar-se, como trocar
afetos. Ele precisou primeiramente se conhecer.
Freqüentemente por características de personalidade ou estilo de vida, as
pessoas não têm a atenção da qual precisam. Ficar sem atenção angustia,
deprime. Essa depressão leva muitas vezes a pessoa, a ter comportamentos
inadequados. Ela necessita ter atenção, nem que para isso produza o que não
faz parte do seu jeito de ser. Na troca de afetos, compartilhamos nossas
experiências, além de vivenciarmos nossas emoções. Esta troca contribui para
o crescimento pessoal e o equilíbrio emocional.
Segundo Shinyashiki (1988), a miséria afetiva é tao ruim quanto a
miséria material, pois tira do ser humano a sua condição de homem
participante de sua espécie, porque o conduz a solidão. Portanto é necessário
que façamos uma busca dentro de nós. Precisamos nos conhecer, nos sentir,
nos admirar. Pois sempre irá existir, além de nós, pessoas que nos aceitem e
gostem de nós do jeito que somos, outras podem não gostar pelas mais
variadas razôes.
A humanidade, em toda a sua história, sempre estabeleceu relações de
diferentes formas, dependendo do contexto. Essas relações se constituem pela
ação humana na vida social e podem ser transformadas pelos indivíduos que
as integram.
Cada um pode trilhar seu caminho, buscando sua forma de ser feliz,
respeitando, é claro, o próximo para manter o equilíbrio, tão importante ao
convívio da espécie humana.
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CAPÍTULO II
O ESPAÇO ESCOLAR, SEUS ATORES
E SUAS RELAÇÕES
2.1. A escola
Ninguém chega à escola sem antes ter sido tocado em suas
dimensões afetivas. Por este motivo é que a escola é como um corpo vivo, o
organismo dinâmico onde as pessoas se relacionam de tudo quanto é jeito. E
nela existem relações entre as crianças, entre os adultos e, entre as crianças e
os adultos. E também existe a relação destas pessoas com o espaço e o
tempo. E neste espaço, temos diversos atores, onde alguns agem diretamente
na formação da criança, que é o professor; e outros que agem indiretamente,
mas influenciam no comportamento da criança que são o porteiro, funcionários
de limpeza, merendeiras, agente administrativo, entre outros.
A escola é um espaço diferente da casa da criança e nela ela encontra
um mundo novo, onde precisa se sentir bem e aprender neste espaço. A
criança chega à escola com suas idéias, suas expectativas, seu
comportamento. Aos poucos, ela percebe como funciona este espaço e precisa
se adequar a ele. Este espaço não é só dela. Nele convivem várias pessoas.
Encontra-se a diversidade, pois na escola cada um atua de maneira diferente e
é uma pessoa única, com seus costumes, suas crenças, seus valores, seus
anseios (TV Escola/Escola em discussão, 2008).
As escolas se preocupam principalmente com o conhecimento
intelectual e é possível constatar que tão importante quanto ás ideias, é o
equilíbrio emocional, o desenvolvimento de atitudes positivas, aprender a
colaborar, a viver em sociedade, em grupo, a gostar de si mesmo e dos
demais. O eixo para um ambiente escolar prazeroso é o desenvolvimento da
auto-estima, através da motivação ea afetividade. Todos aprendem mais e
melhor se fizer num clima de confiança, incentivo, apoio, de auto-
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conhecimento. Esse bem-estar que a escola transmite pode ser reproduzido
pela criança em outros ambientes (Moran, 2007).
É um espaço onde se podem traduzir para os alunos as regras gerais
de convívio humano. A bagagem cultural acumulada ao longo das gerações
entra neste processo.
Ela apresenta-se como um contexto social diferente do contexto
familiar. O meio dos valores pode ser diverso. A criança pode ter acesso aos
valores da família, aos valores de outra comunidade, aos valores da escola etc.
É comum explicarmos que na escola os problemas de comportamento
e de aprendizagem apresentados, referem-se a uma história de vida da
criança, advindas das relações com a família. Muitos professores associam os
problemas apresentados à ausência de educação, à negligência familiar. É
fundamental perceber que a criança pode produzir comportamentos
diferenciados nos diferentes contextos que ele atua mesmo sendo evidente que
o contexto familiar interfere fortemente no comportamento da criança. Mas esta
se articula influenciada por suas emoções nos contextos aos quais se insere.
O potencial da escola é rico. Nela pode-se aproveitar as possibilidades
de, dentro deste contexto, enriquecer a personalidade da criança, durante a
resolução de conflitos. A escola pode dar conta de uma educação que
corresponda à demanda social, de uma sociedade que se quer mais
democrática e justa, a partir de relações mais equilibradas. Para isso, é
fundamental a afetividade.
Promover a afetividade no ambiente escolar é se preocupar com os alunos,
são reconhecê-los como sujeitos autônomos, indivíduos singulares, com
experiências de vida diferentes, com direitos de ter preferências e desejos próprios.
Quando o professor acredita que considerar o aluno pode estimulá-lo,
terá a afetividade como ferramenta, permitindo que a nossa possibilite
momentos de prazer, auto-estima, de valor, sendo uma troca recíproca, que
mova a ação pedagógica e que se constitui em referencial, fundamentando o
amor próprio e a solidificação de aprendizagem. A falta de estímulos e de afeto
pode retroceder o amadurecimento intelectual.
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O desenvolvimento emocional tem reflexos diretos no aproveitamento
escolar à medida que os alunos se tornam mais sociáveis, responsáveis e
automotivados. Portanto, conclui-se que a afetividade relacionada à prática do
professor tem sido de grande valia no contexto educacional.
A escola deve reorganizar, para que seja um lugar onde se trabalhe os
conflitos vividos no cotidiano e ao lidar com o conflito fazer com que este seja
construtivo e não destrutivo na formação do aluno. O que vai determinar que o
conflito seja construtivo é a maneira como ele é resolvido neste espaço.
O conflito tratado construtivamente, pode trazer resultados positivos,
como a melhora do desempenho, do convívio e da resolução de problemas.
Uma escola de qualidade transforma os conflitos do cotidiano em instrumentos
valiosos na construção de um espaço de reflexão, permitindo aos alunos um
amplo e variado conhecimento, para que sejam capazes conscientemente de
resolver conflitos pessoais e sociais. Nesta perspectiva pode-se considerar que
sentimentos, emoções e valores devem ser encarados como objetos de
conhecimento. Sendo assim, as escolas deveriam entender mais de seres
humanos e de amor do que conteúdo e técnicas educativas. Porém, o
professor não recebe uma formação profissional com ênfase no emocional e no
afetivo, tendendo a ver por muitas vezes, no exercício de sua profissão mais os
erros alheios do que os acertos.
2.2. O papel do professor
Há a necessidade de se refletir cada vez mais acerca da importância do
papel do professor na construção do conhecimento pelo aluno, pois suas ações
determinam os sentimentos expressos por ele diante da aprendizagem. Os
professores precisam reconhecer que são atores do meio em que seus alunos
se encontram e devem estar atentos a este privilégio, ao que está transmitindo
e de que forma isto ocorre (TV Escola/Escola em discussão, 2008).
As relações estabelecidas no processo ensino-aprendizagem podem
transformar o desenvolvimento do aluno. É impossível falar de aprendizagem
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sem falar do processo de ensino, ao qual o aluno se apropria do conhecimento
em interação com os outros atores. Neste processo a atuação do professor é
fundamental. A forma como o professor medeia essa relação aluno/ objeto/
conhecimento gera diferentes tipos de sensações e percepções na relação do
aluno com tal objeto. Por exemplo, a matéria pode se tornar simples ou
complicada de acordo com o papel do professor. Sabemos que a convivência
pacífica, de relações harmoniosas, resulta num convívio agradável e em
participações mais livres e democráticas. Sob este aspecto é que devemos
acreditar na emergência da superação das relações verticais entre os atores
envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Entenda-se por convivência
pacífica não aquela onde haja comodismo a aceitação por uma das partes, mas
a que os envolvidos colocam em jogo a comunicação argumentativa, porém
respeitosa, livre e que apresente pluralidade de idéias. Quando a relação é
vertical, somente um dos pólos, em geral o professor, é que detém o poder
decisório de todos os sentidos, dificultando o relacionamento entre os sujeitos.
No entanto, numa relação horizontal, o convívio acontece de maneira sincera e
afetiva, de troca, de encontro verdadeiro, em que regras não são impostas, mas
sim, baseadas na compreensão, no diálogo, na tolerância, em que ora o
professor é educador, ora também é educando e em que o aluno, além de
aprender, também pode ensinar (Revista Educativa, 2008).
“Encontrar prazer no ensinar e no aprender, torna a relação do aluno
com o objetivo do conhecimento menos dolorosa possível. Portanto compete
ao professor canalizar a afetividade para produzir conhecimento. O professor é
mobilizador da aprendizagem em sua relação com o educando. Deve
considerá-lo como pessoa, com suas características próprias, ele não se limita
à instrução, mas se dirige a pessoa inteira.” Almeida
O professor exerce grande influência em seus alunos, é preciso se dar
conta que isto é parte da aprendizagem e a partir de sua postura, os alunos
podem aprender todos os códigos de ética.
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Há professores que desconsideram a influência da afetividade tentando
trabalhar somente a intelectualidade. Têm a ideia de pessoa fragmentada, de que
o processo ensino-aprendizagem está desprendido da dimensão afetiva.
Para que a construção ocorra é preciso que o professor tenha uma
compreençao mais abrangente do aluno e de seu contexto, para que possa
contribuir para um atendimento mais preciso de situação de sua clientela, em
sua heterogeneidade e complexidade. A partir de seus sentimentos, ele pode
motivar a aprendizagem em seus alunos ou bloqueá-la. Os alunos devem ser
seduzidos para a aprendizagem. Eles têm que sentir prazer, a disciplina em
conjunto com o espaço, deve trazer alegria. Estudar pode ser mais divertido
que brincar. A aula pode ser um encanto.
A atuação do professor deixa marcas nos alunos, marcas que colaboram
ou não para que estes sigam confiantes. Podemos concluir então que as
interações e as relações de ensino podem transformar o desenvolvimento do
aluno, na medida em que as experiências vividas em sala de aula determinam
a natureza afetiva da relação do aluno com o objeto de conhecimento. A
qualidade da mediação desenvolvida pelo professor pode gerar diferentes tipos
de sentimentos na relação do aluno com o objeto do conhecimento. Uma
mesma postura pode afetar cada um de modo diferente. Em alguns pode ser
geradora de desânimo, de um sentimento de incompetência e colaboram para
que esses alunos abandonem os estudos. Em outros, é desencadeadora de
uma ação que objetiva mostrar que também é capaz de aprender, que
consegue se superar. É importante que o aluno tenha autoconfiança e
autoestima.
A emoção e a afetividade são componentes do cotidiano e devem ser
prioritariamente considerados na relação entre aluno e professor, pois são
propulsoras dos resultados, enquanto que o conteúdo curricular e o fator
tempo, devem ser flexíveis e coerentes. A preocupação e a responsabilidade
do professor devem estar voltadas a perceber a criança e suas ressonâncias
afetivas, para não ignorá-la como sujeito principal de aprendizagem. Partindo
desse pressuposto, devemos possibilitar que se desenvolva o hábito de olhar
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para si e para os outros. Assim podemos direcionar as singularidades, as
condições afetivas e os possíveis reflexos de tais fatores na aprendizagem.
Se a relação afetiva em sala de aula não se estabelece, se os
movimentos são bruscos e os passos fora do ritmo, é ilusório acreditar que o
sucesso de educar será completo, porque a afetividade é fundamental.
2.3. A família
O desenvolvimento da criança inicia na família e se amplia no momento
em que a criança inicia a sua vida escolar levando consigo os sonhos e o
encanto que se manifestará na socialização e interação com o novo ambiente
do qual ela fará parte, lhe proporcionando novas aprendizagens.
É com a família que a criança experimenta o seu primeiro espaço de
convívio. E na relação com a família ela pode se tornar-se mais humanas e
viver o jogo da afetividade de maneira adequada. Para que ela absorva dentro
de sua família boas relações de convívio, é preciso que tenham neste âmbito,
referencias positivas que contribuam no desenvolvimento de uma
personalidade equilibrada. Em conjunto, escola e família constroem a
identidade da criança. A família e a escola socializam, estruturam o ser
relacional. É tarefa da escola assumir em parceria com a família a função de
proporcionar aos alunos oportunidades de se evoluírem como seres humanos.
Para a formação da criança, são instituições complementares. A escola deve
proporcionar, então, a inserção da família na escola, para que juntas atuem.
A educação advinda da família é considerada para a sociedade,
obrigatória. Isto significa que deve ser irremediavelmente aplicada. Por isto,
vemos uma autoridade na execução deste dever. Mas quem tem este dever? A
família, a escola ou a sociedade? Devemos perceber que o dever está no
amor, nas relações em que se encontra o afeto, mas o afeto construtivo da
personalidade. Quando se ama, é que se disciplina e se apresenta os limites,
importantes para a consciência do ser e não em momentos de raiva,
instintamente, quando agimos peles nossas emoções e não pelas
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necessidades dos nossos alunos ou filhos. O afeto pode promover a educação,
fundamentada em experiências em que uns partilham o amor com os outros.
No entanto, na sociedade atual, é comum vermos os pais preocuparem-
se mais em compreender do que educar os filhos. Por sua vez, a escola fica
com a responsabilidade de fazer a parte que lhe é acrescentada. Os filhos,
hoje, têm acesso a cursos, a novas tecnologias e a outras facilidades do
mundo moderno, porém, há um empobrecimento quanto à qualidade da
educação afetiva recebida pela família. Por este motivo, é importante que na
escola os filhos tenham condições de aprenderem conceitos sobre a família,
cidadania, ética e valores humanos, para que as circunstâncias da vida não os
surpreendam imprevisivelmente. Desenvolver aptidões emocionais que os
capacitarão para lidar fracassos, falhas, decepções e com o próprio sucesso
(Cunha, 2008).
A escola pode possibilitar vivências afetivas que a criança tem ou
gostaria de ter em família. A família também pode extender as vivências que a
criança experimenta na escola. Família e escola devem proporcionar à criança,
a construção de sua identidade a partir de experiências que sejam
compartilhadas de educação e afeto. Estas iniciativas visam o desenvolvimento
da automania e o equilíbrio social.
Estamos vendo uma mudança no comportamento da sociedade, trazida
pela velocidade do mundo moderno, apresentando, uma fragmentação do
homem movido por valores externos, que expressam as características deste
tempo. Estamos cada vez mais longe de nós mesmos, de nossa família, de
nossa fraternização. A carência de afetividade pode ser percebida no
tecnológico quando preferimos somente a ele abstendo-nos por muitas vezes
do humano. As crianças são em suma “nativos digitais” e nós que temos a
responsabilidade de educá-los, mesmo tendo vindo de uma outra geração,
somos os “imigrantes digitais”. Portanto existe o velho e o novo modelo de
educação e aprendizagem e isto é refletido na família e na escola. Porém não
devemos substituir o calor humano, precisamos manter a consciência de que
precisamos essencialmente de carinho, de atenção, de afeto.
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CAPÍTULO III
A INTELIGÊNCIA E A AFETIVIDADE NA FORMAÇÃO DO SER
Wallon propõe o estudo contextualizado das condutas infantis. Isso quer
dizer que para compreender a criança e seu comportamento, é necessário
levar em conta aspectos de seu contexto social, familiar, cultural. Será a
relação entre as possibilidades da criança em cada fase e as condições
oferecidas pelo seu meio que cunharão o desenvolvimento (Dantas, 1992). É
por levar em conta essa dimensão integradora, que não fragmenta os
diferentes elementos envolvidos na evolução humana, que consideramos a
teoria do desenvolvimento de Wallon como a “psicogênese da pessoa
completa”. Vale ressaltar que tais fases sofrem rupturas, retrocessos e são
relativas ao contexto de cada indivíduo. Ele compreende o desenvolvimento
psíquico da criança como descontínuo e marcado por contradições e conflitos,
resultado da maturação orgânica e das condições ambientais. Os aspectos dos
diferentes momentos do desenvolvimento não são propriamente “superados”
por outros, mas podem reaparecer em outra fase da vida, ganhando novos
sentidos de acordo com as diferentes condições do sujeito. Leva-se em conta a
influência do ambiente social. Esse meio em que a criança vive não é estático e
homogêneo, ele também transforma-se junto com a criança.
Wallon trabalha com o conceito de campos funcionais nos qual a
atividade infantil se distribuiria. Para Wallon a afetividade, o movimento e a
inteligência são indissociáveis, sendo fundamental observar o gesto, a mímica,
o olhar, a expressão facial, pois são constitutivos da atividade emocional
(Galvão, 2007). Na tentativa de olhar a criança integralmente, ele delineia
quatro campos funcionais.
O movimento: A motricidade tem um caráter pedagógico tanto pela
qualidade do gesto e do movimento, quanto pela maneira como é
representado. A escola ao insistir em manter a criança imobilizada acaba por
limitar fatores necessários e importantes para o desenvolvimento completo da
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pessoa. Tem duas dimensões. Uma mais expressiva que é o movimento que
não significa deslocamento, mas a expressão que está na base das emoções.
Tem uma função comunicativa, estando este movimento usualmente associado
a outros indivíduos. Exemplos: falar, gesticular, sorrir etc. E a outra dimensão é
a instrumental, é o movimento de ação direta sobre o meio físico, o meio
concreto. São ações executadas para alcançar um objetivo imediato e, em si,
não diretamente relacionado com o outro indivíduo. Seria como, por exemplo,
as ações andar, mastigar, pegar objetos etc.
Wallon dá especial ênfase ao movimento como campo funcional porque
acredita que o movimento tem grande importância na atividade de estruturação
do pensamento no período anterior à aquisição da linguagem (Galvão, 2007).
As emoções: São as primeiras manifestações afetivas que compõem,
que estão presentes e se constituem na criança. Na medida em que o
movimento proporciona experiências à criança, ele vai respondendo através
das emoções. A emoção é fundamental na interação da criança. A emoção
apresenta-se e é fundamental na interação com o meio.
A inteligência: As emoções são as bases para a inteligência. À medida
que a criança vai aprendendo a pensar nas coisas fora de sua presença, o
raciocínio simbólico e o poder de abstração vão sendo desenvolvidos. Wallon
destaca a inteligência discursiva. A inteligência que se expressa e que se
constitui por meio da linguagem. Ao mesmo tempo em que a habilidade
linguística surge, é potencializada a capacidade de abstração.
A pessoa: Esse campo articula-se com os demais. A pessoa cumpre um
papel integrador importante, mas não absoluto. A construção do eu depende
essencialmente do outro. Esse campo funcional é responsável pelo
desenvolvimento ao qual a pessoa constrói a noção de sujeito, diferente do
outro e consciente de si.
A relação entre esses quatro elementos nem sempre é de harmonia. A
perspectiva de Wallon olha a criança não só em sua fase de preparação e não
como um ser inacabado. Ele leva em conta a história da criança, que é única.
Ele não anula a dimensão temporal que a envolve e prioriza a sua bagagem
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como ponto de partida. Devem-se levar em conta suas transformações e além
de só justificar práticas e conteúdos, articular o que ela, a criança, virá a ser.
Wallon considera importante estudar as emoções dentro do contexto
escolar já que estas estão inseridas num campo maior que é a afetividade. As
manifestações afetivas que são expressas, são visíveis para o outro e para o
próprio sujeito, têm variáveis intensas que podem vir acompanhadas de
modificações no funcionamento do corpo.
Para Wallon podemos compreender os sentidos das emoções no
desenvolvimento humano. Olhando pra um ser recém-nascido, podemos observar
que ele não pode agir diretamente sobre o meio físico, porém apresenta a sua
expressividade. O seu choro é uma manifestação emocional e consegue
mobilizar as pessoas. Ele contagia, provoca emoções alheias. Suas
manifestações expressivas têm a função de interação, em seu meio.
As emoções são então, primeiro recurso de interação entre as pessoas e
seu meio social, sendo assim fundamental. Durante a interação, temos acesso
a linguagem, que é um recurso importante na estruturação do pensamento, de
construção de si. Mesmo quando a linguagem se consolida, a emoção é
manifestação, porque ele desempenha um extremo contágio entre as pessoas.
Na perspectiva de Wallon, há a ideia de que a inteligência nasce das
emoções. A inteligência se constitui e se constrói, em cada indivíduo. Por meio
de momentos de fusão emocional, a criança tem acesso à linguagem própria
do seu meio. O acesso à linguagem em momento basicamente emocional,
torna a afetividade mais importante do que o conteúdo semântico da linguagem
(Galvão, 2007). É a partir da apropriação da linguagem que vai se constituindo
a inteligência. Inteligência e emoção estão ligadas, mesmo que haja relações
de conflito. A pessoa está envolvida nesta concepção. E é a pessoa, a unidade
singular, com suas características próprias, que articula a afetividade e a
inteligência.
Wallon estuda como se constrói na criança a consciência de si, sendo
unidade tão subjetiva. Primeiramente ela está inserida num contexto de fusão
emocional, não se percebe diferente do outro. A consciência de si constrói-se
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gradualmente por meio de processos. A socialização pode ser grande, porém o
percurso do desenvolvimento é progressivamente individual. Através deste
percurso ela conhece a si e ao outro ao qual vai se diferenciando, construindo
sua identidade.
Na relação podemos identificar um duplo movimento durante a
incorporação do outro, na constituição de si. São os movimentos de imitação e
expulsão do outro. Na conduta de imitação presente na criança em várias fases
da vida, ela imita as pessoas que são significativas, ampliando suas próprias
fronteiras. A conduta de expulsão é o movimento contrário, adverso.
Apresenta-se quando a criança se opõe as opiniões e atitudes do outro e as
nega, consolidado a diferenciação, também presente em várias fases da vida
da criança, com mais intensidade na adolescência.
Muitas vezes o professor diante das opiniões dos alunos, sente-se
desrespeitado e em situações de oposição entre as crianças sente-se
incomodado. Por trás das oposições. Há uma multiplicidade de variáveis que
as concebem. Nestes momentos, temos que ter um olhar imparcial, sendo
interessante usar a oposição como recurso de constituição da pessoa, isto é,
do ser relacional.
Para Wallon, inteligência e afetividade integram-se. A afetividade
depende das constituições advindas do plano da inteligência e a evolução da
inteligência depende das construções afetivas, mesmo que em alguns
momentos predomine uma ou outro. Para ele, com o desenvolvimento,
intelectual, o conhecimento de si e do outro se torna cada vez mais elaborado,
conduzindo à dimensão afetiva, à sensibilidade social.
Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também
suas emoções para dentro da sala de aula. As emoções têm papel importante
no desenvolvimento da pessoa. Em geral, as emoções, são manifestações que
expressam um universo importante, mas pouco estimulado na escola (Revista
Nova escola/Grandes Pensadores, 2008).
As emoções dependem da organização dos espaços para se
manifestarem. A escola não pode imobilizar a criança, limitando-a, bloqueando
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seus pensamentos, suas emoções, tão necessários para o desenvolvimento da
pessoa.
Diferentemente dos métodos tradicionais, que priorizam a inteligência e
o desempenho, a proposta walloniana insere a importância de um
desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. A pessoa
deve ser considerada em sua amplitude. Elementos como afetividade, emoção
e espaço físico se encontram no mesmo plano.
A escola deve se restringir a trabalhar conteúdos, mas ajudar a
criança descobrir-se, descobrir o outro, se desenvolver como pessoa que deve
estar em constante sintonia com o seu meio. É através da mediação que o
objeto de conhecimento ganha significado e sentido. São as experiências
vivenciadas com outras pessoas que irão dar aos objetos, um sentido afetivo
no processo de aprendizagem. A relação que caracteriza o ensinar e o
aprender transcorre a partir de vínculos entre as pessoas. Então é a partir da
relação com o outro e através do vinculo afetivo, que a criança tem acesso ao
mundo simbólico, conquistando avanços no âmbito cognitivo.
Segundo Abreu, “Wallon faz oposição a qualquer espécie de reducionismo
orgânico ou social, entendendo que a compreensão do ser humano deve ter
presente que ele é organicamente social, isto é, sua estrutura orgânica supõe a
intervenção da cultura para se atualizar. Ele é datado, sujeito do seu tempo,
constituído por uma estrutura biológica que é ressignificada pelo social. Wallon
compartilha co Vygotsky a mesma matriz epistemológica, o materialismo histórico
e dialético, sendo que, para Wallon, a emoção é o principal mediador, enquanto
que em Vygotsky, o sistema de signos e símbolos ocupa tal papel. Wallon rompe
com uma noção de desenvolvimento linear e estática, demonstrando que o ser
humano se desenvolve no conflito, sua construção é progressiva e se sucede por
estágios assistemáticos e descontínuos. Os estágios de desenvolvimento
importantes para a formação do ser humano não são demarcados pela idade
cronológica, e sim por regressões, conflitos e contradições. Em cada estágio, há o
predomínio de uma determinada atividade que corresponde aos recursos que a
criança dispõe, no momento, para interagir com o ambiente. O conflito ocorre
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entre a atividade predominante de um estágio e a atividade predominante do
estágio seguinte. A sucessão de estágios se dá pela substituição de uma função
por outra, extinguindo algumas e conduzindo/orientando outras as novas formas
de relação. A mudança de cada estágio representa uma evolução mental
qualitativa por caracterizar um tipo diferenciado de comportamento. Além de
conferir ao ser humano novas formas de pensamento, de interação social e de
emoções que irão direcionar-se, ora para a construção do próprio sujeito, ora para
a construção da realidade exterior”.
Wallon é bem flexível na análise dos estágios. Não acredita que eles
formem uma sequencia linear e fixa. Para Wallon, o estágio posterior amplia e
reforma os anteriores. Os estágios se sucedem de maneira que momentos
predominantemente afetivos sejam sucedidos por momentos
predominantemente cognitivos. O predomínio de um aspecto sobre o outro
chama-se “predominância funcional”. Deste modo, afetividade e cognição não
são estanques e se revezam na dominância dos estágios.
3.1. Estágio Impulsivo-emocional
Ao nascer, a criança se manifesta através da impulsividade motriz.
Mesmo já possuindo autonomia respiratória, ela depende do adulto para a
satisfação das suas necessidades básicas como nutrição, higiene e postura. A
satisfação dessas necessidades não ocorre de forma imediata, havendo
desconforto causado pela privação, que se traduzem em cargas musculares,
crises motoras, representadas por movimentos descoordenados, sem
orientação pura impulsividade motora. A simbiose fisiológica dá lugar à
simbiose emocional a partir da significação que o social dá ao ato motor da
criança, que se expressa no sorriso e nos sinais de contentamento.
Do nascimento até aproximadamente o primeiro ano de vida, a criança
passa por uma fase denominada estágio impulsivo-emocional. É um estágio
predominantemente afetivo, onde as emoções são o principal instrumento de
interação com o meio. A predominância da afetividade orienta as primeiras
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reações do bebê com as pessoas, às quais intermedeiam sua relação com o
mundo físico. A relação com o ambiente desenvolve na criança, sentimentos
intraceptivos e fatores afetivos. O movimento, como campo funcional, ainda
não está desenvolvido, a criança não possui perícia motora. Os movimentos
são desorientados.
3.2. Estágio Sensório-motor e projetivo
Dos três meses de idade até aproximadamente o terceiro ano de vida, a
criança passa pelo estágio sensório-motor e projetivo. É uma fase onde a
inteligência predomina e o mundo externo prevalece nos fenômenos cognitivos.
A inteligência, nesse período, é tradicionalmente participada pela inteligência
prática, obtida pela interação de objetos com o próprio corpo, e inteligência
discursiva, adquirida pela imitação e apropriação da linguagem. Os
pensamentos, nesse estágio, muito comumente se protejam em atos motores.
A aquisição da marcha e da apreensão dá à criança maior autonomia na
manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Também nesse estágio,
ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo
projetivo refere-se ao fato do pensamento precisar dos gestos para se
exteriorizar.
3.3. Estágio do Personalismo
Ao estágio sensório-motor e projetivo sucede um momento com
predominância afetiva sobre o indivíduo, o estágio do personalismo. Este
estágio, que se estende aproximadamente dos três aos seis anos de idade, é
um período crucial para a formação da personalidade do indivíduo e da
autoconsciência. Uma consequência do caráter auto-afirmativo deste estágio é
a crise negativa. A criança opõe-se sistematicamente ao adulto. Por outro lado,
também se verifica uma fase de imitação motora e social. Mediante as
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interações sociais, desenvolve-se a construção da consciência de si. Seu ponto
de vista diante do mundo se torna único e exclusivo, e suas crises de oposição
confrontam-se com as pessoas do meio próximo a fim de imperar sua vontade.
Ao conseguir tal objetivo sente-se exaltada. Nem sempre é vencedora, e isso
lhe causa ressentimentos e diminuição da auto-estima. Os sentimentos de
ciúme, a posse extensiva aos objetos e as cenas para chamar a atenção dos
que estão ao seu redor são características essenciais para se distinguir dos
outros.
3.4. Estágio Categorial
O estágio do personalismo é sucedido por um período de acentuada
predominância da inteligência sobre as emoções. Neste estágio, usualmente
chamado estágio categorial, a criança começa a desenvolver capacidades de
memória e atenção voluntárias. Os progressos intelectuais dirigem o interesse
da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior.
Este estágio geralmente manifesta-se entre os seis e os onze anos de idade. É
neste estágio que se formam as categorias mentais: conceitos abstratos que
abarcam vários conceitos concretos sem se prender a nenhum deles. No
estágio categorial, o poder de abstração da mente da criança é
consideravelmente amplificado. É neste estágio que o raciocínio simbólico se
consolida como ferramenta cognitiva.
3.5. Estágio da Adolescência
Mais ou menos a partir dos onze, doze anos, a criança começa a passar
pelas transformações físicas da adolescência. Este é um estágio
caracterizadamente afetivo, onde o indivíduo passa por uma série de conflitos
internos e externos. Os grandes marcos desse estágio são a busca de auto-
afirmação e o desenvolvimento da sexualidade.
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Ocorre nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados
devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões
pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.
Os estágios de desenvolvimento não se encerram com a adolescência.
Para Wallon o processo de aprendizagem sempre implica na passagem por um
novo estágio. O individuo, ante algo em relação ao qual tem imperícia, sofre
manisfestações afetivas que levarão a um processo de adaptação. O resultado
será a aquisição de perícia pelo individuo. O processo dialético jamais se encerra.
Cada um desses estágios traz novas conquistas realizadas pela etapa
anterior, construindo-se reciprocamente num processo de integração e
diferenciação. O fato de haver o predomínio do aspecto afetivo em determinada
fase, como por exemplo, na impulsiva-emocional, não quer dizer que aspectos
afetivos não estarão presentes na próxima etapa. Enfim, ao longo do
desenvolvimento ocorrem sucessivas diferenciações entre os campos
funcionais entre os quais se distribui a atividade infantil e interior de cada um.
Este conceito de diferenciação é chave na psicogenética de Henri Wallon e
orientará o processo de formação da personalidade de forma mais ampla.
Foi apresentado o desenvolvimento do ser humano na concepção de
Wallon sem fazer menção direta a sua relação com a aprendizagem, contudo
tal relação é constante, já que aprendizagem ocorre na interação. Sua teoria
aponta a escola como um meio promotor do desenvolvimento. A sala de aula
deve ser um ambiente de cooperação, um espaço heterogêneo e de troca,
onde os alunos que dominam uma dada função promovam o desenvolvimento
desta função em seus colegas. Ao professor cabe promover a colaboração
entre os alunos, socializando e construindo conceitos. As ideias devem ser
constantemente reformuladas no confronto com a realidade, considerando as
contradições sociais. A educação deve ajudar a criar condições para que os
alunos sejam transformadores da sociedade e de si mesmos.
É importante que o professor conheça os estágios do desenvolvimento
cognitivo, para que seu fazer pedagógico seja estimulador e adequado à
maturidade de seus alunos.
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CAPÍTULO IV
A AFETIVIDADE NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Os conflitos são inevitáveis e indicam que algo se encontra errado e que
medidas para saná-los são necessárias. Muitas vezes, é visto como algo
desnecessário, que viola as normas sociais e que deve ser evitado (Arantes).
Sua existência indica quando os membros de um grupo estão envolvidos em
alguma intensidade que provoca tensão. Tensão é o estado em que se é
levado além de um limite normal de emoção.
Administrar um conflito, não significa eliminá-lo, mas tratar dele de forma
inteligente, tornando ele um catalisador do crescimento pessoal pois através do
conflito podemos desenvolver conhecimentos e habilidades para manter o
equilíbrio nas relações humanas.
Numa situação conflitante, são as partes envolvidas que devem tomar
em suas mãos a resolução do problema, trazendo para si a responsabilidade
de serem elas a obter uma solução, tendo ou não terceiros como mediadores.
Nesse caso, o mediador tem apenas papel de facilitador. Quando se dá a
possibilidades às partes de serem ela a determinar a forma como o conflito
será solucionado, as decisões não serão determinadas pelo paradigma da
culpa e sim da responsabilidade, fazendo uso do resgate de registro que
provém de conhecimentos e desenvolvem a inteligência. Emoção e razão
fazem parte deste processo.
Durante a resolução de conflitos, o entendimento pode ser provocado de
modo a fortalecer os relacionamentos. Um mesmo conflito pode trazer
tratamentos diferentes e antagônicos, dependendo do estado emocional em
que os sujeitos inseridos o enfrentam.
As relações e os conflitos do cotidiano, com a presença de emoções,
exigem de nós conhecimentos e um processo de aprendizagem para que
possamos enfrentá-los adequadamente. Isto completa a ideia que para
resolvermos um conflito não basta extingui-lo, devemos saber a melhor forma
de resolvê-lo.
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O conflito pode tornar um ambiente improdutivo e tende a distorcer o
comportamento e o relacionamento entre as pessoas. Em situações de conflito,
os valores individuais tendem a ser substituídos pelos fatos. Portanto, resolver
um conflito reduz o desgaste emocional.
Observando alguns conflitos, pude acompanhar a postura dos
envolvidos ou dos elementos mediadores como apaziguar, barganhar através
de acordos, autoritarismo, diálogo. Foi percebido que a melhor solução vem
através do diálogo, tendo as partes à responsabilidade de se mostrarem
abertas e honestas a respeito dos fatos, opinando e apresentando sensatez e o
sentimento de respeito ao outro. Todas as partes devem concordar em
controlar o processo, para se chegar a um consenso, sem imposição final. O
comportamento humano é grande fonte de conflitos. A resolução de conflitos é
aplicada com a finalidade de promover um bom ambiente e no interesse de se
manter bons relacionamentos. Portanto lidar com a afetividade se faz
necessário e a compreensão entre as pessoas se constitui um elo fundamental.
Foi realizado um questionário dirigido a 10 professores que lecionam em
escolas públicas no ensino fundamental. O questionário teve como objetivo
saber como a afetividade é vista por estes professores e em que situações ela
se constitui um recurso no auxílio da resolução de conflitos.
Os professores veem a escola como um espaço importante para a
formação e a transmissão de valores. Um espaço que reúne muitas e diversas
pessoas. Reconhecem que a afetividade é fundamental para manter a
harmonia do ambiente e que sua ausência, torna as relações “frias” e
“debilitadas”. Para eles são diversas as variáveis que influenciam na presença
e na ausência da afetividade. Relatam que muitos professores, assim como os
alunos, também carecem de afeto. Sendo assim, nesses casos, necessário o
professor se sentir desejado e amado para poder transmitir ao próximo àquilo
que ele tem para oferecer.
Muitos professores percebem a partir das histórias de vida dos alunos, nos
reflexos de seu cotidiano e nas relações que se estabelecem no ambiente escolar,
que os seres humanos necessitam de atenção e carinho e que lhes falta amor.
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CONCLUSÃO
Foi exposta aqui a concepção de alguns estudiosos sobre a afetividade
e a constituição do ser, sendo enfatizada a sua importância em um dos
cenários onde se apresenta a interação e a formação humana: a escola. Em
todos os âmbitos, a espécie humana pode por muitas vezes atravessar
acontecimentos em que só o calor humano entre as pessoas pode vir a
incentivar, motivar, confrontar, acalentar, como por exemplo, em situações que
mobilizam diversas pessoas, que sofrem e até se emocionam juntas às outras,
que se ajudam. O homem recebe e transmite afeto, isto é fato. Porém para que
isso o ocorra precisa aprender a lidar com suas emoções, a trabalhar a sua
afetividade e a escola oferece esta possibilidade. Às vezes as pessoas se
afastam das outras pela dificuldade em lidar com determinadas situações.
Diante do exposto, quando aprendemos a lidar com nossas emoções temos
melhores condições de galgamos o nosso crescimento pessoal. É isto, a
afetividade promove o desenvolvimento. É inevitável reconhecer que quando
ampliamos as oportunidades de nos relacionar com os outros, mais
aprendemos, mais abrimos o nosso leque de conhecimentos com as trocas de
experiência que a vida nos traz, seja recebendo ensinamentos ou ensinando. É
comum vermos as pessoas aprenderem tanto umas com as outras enquanto se
desejam, se amam.
O professor pode fazer a diferença na vida do aluno. A escola pode
contribuir significadamente na formação da criança, porque nela se oferece um
ambiente rico em informações e oportunidades, pela multiplicidade de pessoas
que a constitui com suas diferentes histórias. Neste ambiente pode ser oferecido
um modelo escolar que proporcione a expressão da criança, respeitando-a em
sua singularidade, considerando-a. E é nele, em consonância com outros
cenários em que se atua, que também podemos ser conduzidos a nos olhar
mais e a olhar o outro afetivamente. É um espaço que pode transformar, incluir,
constituir valores. É um espaço de convívio, de amor. Amor que ensina, amor
que troca. Amor que nos faz reconhecer nossa própria existência.
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ANEXO 1
Texto apresentado na página 4.
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ANEXO 2
Professora lotada em direção de escola pública municipal (primeiro segmento).
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ANEXO 3
Professora de Educação Física lotada em escola pública municipal (primeiro
segmento).
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ANEXO 4
Professora lotada em Coordenação Pedagógica de escola pública municipal
(primeiro segmento).
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ANEXO 5
Professora lotada em escola de ensino privado (primeiro segmento).
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ANEXO 6
Professora lotada em escola de ensino privado (primeiro segmento).
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ANEXO 7
Professora de Artes (segundo segmento) e de Educação Fundamental básica
(primeiro segmento) lotada em escola de ensino público municipal.
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ANEXO 8
Professora lotada em escola pública municipal (primeiro segmento).
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ANEXO 9
Professora lotada em escola pública municipal (primeiro segmento).
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ANEXO 10
Professora lotada em escola pública municipal (primeiro segmento).
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ANEXO 11
Professora lotada em escola pública municipal (primeiro segmento).
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