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Roberto Juan Quevedo Quispe
Implementação Numérica para Análise de Fluxo Transiente 3D em Barragens
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio. Área de concentração: Geotecnia.
Orientador: Celso Romanel
Rio de Janeiro Fevereiro de 2008
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Roberto Juan Quevedo Quispe
Implementação Numérica para Análise de Fluxo Transiente 3D em Barragens
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.
Celso Romanel Orientador, PUC-Rio
Christianne de Lyra Nogueira UFOP
Anna Paula Lougon Duarte Petrobrás
José Eugênio Leal Coordenador Setorial do Centro
Técnico Científico da PUC-Rio
Rio de Janeiro, 22 de Fevereiro de 2008.
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total
ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do
autor e do orientador.
Roberto Juan Quevedo Quispe
Graduou-se em Engenharia Mecânica de Fluidos na
especialidade de Hidráulica e Hidrologia pela Universidad
Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM) de Lima, Peru,
em 2000.
Ficha Catalográfica
Quevedo Quispe, Roberto Juan
Implementação numérica para análise de fluxo
transiente 3D em barragens / Roberto Juan Quevedo
Quispe ; orientador: Celso Romanel. – 2008.
109 f. : il.(col.) ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil)–Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2008.
Inclui bibliografia
1. Engenharia civil – Teses. 2. Fluxo transiente. 3.
Modelagem 3D. 4. Barragens. 5. Elementos finitos. I.
Romanel, Celso. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro. Departamento de Engenharia Civil. III. Título.
CDD: 624
Aos meus queridos pais e irmãos.
Agradecimentos
Aos meus queridos pais e irmãos, pelo amor e apoio moral mesmo à distância.
Aos meus queridos tios Juan, Fanny, Victor e Silvia, por sempre terem acreditado
em mim.
Ao Professor Celso Romanel, pela orientação e conhecimentos transmitidos
durante a elaboração deste trabalho.
Ao Anderson Rezende que muito me ajudou no início deste trabalho, pela
paciência e apoio.
Aos meus amigos Julio Macias e Wagner Nahas, pelas inúmeras respostas às
minhas questões e pela amizade brindada.
À Priscila Tapajós, por ter me mostrado a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro e
o encanto de seu povo.
Aos meus amigos Enrrique, Carla e Gladys, por terem compartilhado comigo
muitos momentos inesquecíveis.
Aos meus amigos e colegas da PUC-Rio, pelo carinho e amizade.
A todos os professores do Departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
pela concessão da bolsa de estudos que possibilitou suporte financeiro a esta
pesquisa.
Resumo
Quevedo Quispe, Roberto Juan; Romanel, Celso (Orientador). Implementação Numérica para Análise de Fluxo Transiente 3D em Barragens. 2008. 109 p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Esta dissertação tem por objetivo a implementação de uma ferramenta
numérica para avaliação do fluxo transiente 3D saturado-não saturado em
barragens de terra e enrocamento, baseado no método dos elementos finitos e no
programa GEOFLUX implementado por Machado Jr. (2000) para análise de
problemas 2D. Nesta nova versão, foram incluídos elementos triangulares de 3 nós
para análises 2D e elementos tetraédricos de 4 nós para análises 3D.
Implementam-se também subrotinas que oferecem a possibilidade de variação das
condições de contorno com o tempo. A equação de Richards é solucionada
considerando a formulação mista e o método iterativo de Picard Modificado para
solução do sistema de equações não-lineares. Para a solução do sistema de
equações utiliza-se um armazenamento especial para matrizes esparsas associado
com o método do gradiente bi-conjugado, tornando o processo muito rápido,
mesmo em sistemas de grande porte. Utilizam-se dois modelos para representar as
curvas características: o modelo exponencial proposto por Srivastava e Yeh (1991)
e o modelo proposto por van Genuchten (1980). O programa computacional
desenvolvido (GEOFLUX3D) foi aplicado na análise de fluxo na barragem de
enrocamento de Gouhou, China, e na barragem de terra Macusani, Peru. Os
resultados numéricos indicam a necessidade de análises numéricas 3D em
barragens situadas em vales estreitos, onde os efeitos de geometria nas condições
de fluxo são significativos e não podem ser ignorados.
Palavras-chave
Fluxo transiente; modelagem 3D; barragens; elementos finitos.
Abstract
Quevedo Quispe, Roberto Juan; Romanel, Celso (advisor). Numerical Implementation for 3D Analysis of Transient Flow in Dams. 2008. 109 p. M.Sc. Thesis - Department of Civil Engineering, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
The main objective of this thesis is to implement a numerical tool for the
evaluation of 3D saturated / unsaturated transient flow through earth and rockfill
dams with basis on the finite element method and a computer program written by
Machado Jr. (2000) for analysis of similar 2D flow problems. In the 3D version,
developed in this thesis, four-nodes tetrahedral elements were implement as well
as special subroutines that make possible to vary in time the boundary conditions.
The Richards’ equation is solved through a mixed formulation, for the solution of
the non-linear system of equations a Modified Picard’s method is employed. A
special algorithm is used to store the sparse matrices which, in association with the
bi-conjugated gradient method, rend the solver computationally very efficient,
even for a large number of equations. Two different models were used to represent
the characteristic curves: the exponential curve proposed by Srivastava and Yeh
(1991) and the formulation suggested by van Genuchten (1980). The improved
computer program, thereafter named GEOFLUX3D, was then applied for flow
analysis of the Gouhou rockfill dam (China) and the Macusani earth dam (Peru).
Numerical results point out that 3D numerical analyses are necessary for dams
situated in narrow valleys, where the influence of the terrain geometry on the flow
conditions are quite significant and cannot be just ignored.
Keywords
Transient flow, 3D model, dams, finite elements.
Sumário
1. Introdução 20
2. Fluxo em meios porosos não saturados 23
2.1. Meios porosos saturado e não saturado 23
2.2. Curva característica de sucção 25
2.2.1. Modelo de Srivastava e Yeh (1991) 27
2.2.2. Modelo de van Genuchten (1980) 28
2.3. Curva de condutividade hidráulica 29
2.3.1. Modelo de Srivastava e Yeh (1991) 30
2.3.2. Modelo de van Genuchten (1980) 31
2.4. Equação governante do fluxo em meio poroso não saturado 32
2.5. Solução númerica da equação de Richards pelo MEF 35
3. GEOFLUX3D - Implementação computacional 39
3.1. Consideraçãoes gerais 39
3.2. O programa GEOFLUX3D 40
3.2.1. Macro-comandos 40
3.2.2. Fluxograma básico 42
3.2.3. Comando DATBOUI 44
3.2.4. Comando SEEPAGE 45
3.2.5. Comando CALCOEFS 45
3.3. Discretização no espaço 48
3.3.1. Elemento TRI3 48
3.3.2. Elemento TETR4 48
3.4. Discretização no tempo 49
3.5. Metodo de Picard modificado 50
3.6. Critério de convergência 53
3.7. Matrizes e vetores 55
3.7.1. Matriz B 55
3.7.2. Matriz H 57
3.7.3. Matriz F 58
3.7.4. Vetor Q 58
3.7.5. Vetor Q ' 59
3.7.6. Vetor θF 59
3.7.7. Matriz de conductividade hidráulica )(ψK 60
3.7.8. Capacidade de retenção específica )(ψC 61
3.8. Armazenamento de dados e solução do sistema de equações 62
4. Exemplos de verificação 66
4.1. Fluxo transiente unidimensional 66
4.1.1. Infiltração e drenagem em uma coluna de solo constituída por
um único material 67
4.1.2. Infiltração e drenagem em uma coluna de solo constituída de
dois materiais 71
4.2. Fluxo transiente bidimensional 75
5. Estudo de casos 79
5.1. Fluxo através da barragem de enrocamento Gouhou (China)
com face de concreto 79
5.1.1. Descrição da barragem Gouhou 80
5.1.2. Condições iniciais e de contorno 81
5.1.3. Propriedades dos materiais 82
5.1.4. Modelagem no espaço e no tempo 84
5.1.5. Análise e discussão dos resultados 85
5.2. Fluxo através da barragem de terra Macusani 89
5.2.1. Descrição da barragem Macusani 90
5.2.2. Casos de simulação 91
5.2.3. Propriedades dos materiais 84
5.2.4. Modelagem no espaço e no tempo 85
5.2.5. Análise e discussão dos resultados 95
5.2.5.1. Caso I: Primeiro enchimento do reservatório
(Kdreno = 4x10-5 m/s) 95
5.2.5.2. Caso II: Primeiro enchimento do reservatório
(Kdreno = 4x10-4 m/s) 97
5.2.5.3. Caso III: Rebaixamento rápido do reservatório 99
5.2.6. Comparação de resultados com o programa computacional
Seep3D 100
6. Conclusões e sugestões 103
7. Referências bibliográficas 106
Lista de figuras
Figura 2.1 – Distribuição de poro-pressão típica em um horizonte
de solo 23
Figura 2.2 – Curva característica de retenção típica de um solo
Siltoso (Fredlund e Xing, 1994) 26
Figura 2.3 – Forma típica da curva característica de retenção
conforme modelo exponencial 27
Figura 2.4 – Forma típica da curva característica de retenção
de acordo com o modelo de van Genuchten (1980) 29
Figura 2.5 – Forma típica da curva da função de condutividade
hidráulica para o modelo exponencial 30
Figura 2.6 – Forma típica da curva da função de condutividade
hidráulica para o modelo de van Genuchten (1980) 31
Figura 2.7 – Volume elementar sujeito a fluxo nas direções x, y e z 32
Figura 3.1 – Fluxograma básico do programa GEOFLUX3D 42
Figura 3.2 – Exemplo de aplicação da variação de condição de
contorno primária 44
Figura 3.3 – Exemplo de aplicação da condição de contorno de
fluxo livre Seepage 45
Figura 3.4 – Resultados do GEOFLUX3D aplicando condição de
contorno SEEPAGE 46
Figura 3.5 – Fluxograma básico do comando CALCOEFS 47
Figura 3.6 – Elemento TRI3 48
Figura 3.7 – Elemento TETR4 49
Figura 3.8 – Malha de elementos finitos simplificada 63
Figura 3.9 – Matriz Posic montada a partir da malha simplificada 64
Figura 3.10 – Matriz MatVal montada a partir da malha simplificada 64
Figura 4.1 – Infiltração em uma coluna de solo constituída de um
único material – malha de elementos finitos e valores das condições
iniciais e de contorno 67
Figura 4.2 – Infiltração em uma coluna de solo constituída de um
único material – análise preliminar 68
Figura 4.3 – Infiltração em uma coluna de solo constituída de um
único material – resultados numéricos e analíticos 69
Figura 4.4 - Drenagem em uma coluna de solo constituída de um
único material – malha de elementos finitos e valores das condições
iniciais e de contorno 70
Figura 4.5 – Drenagem em uma coluna de solo constituída de um
único material – resultados numéricos e analíticos 71
Figura 4.6 - Infiltração em uma coluna de solo constituída de dois
materiais – malha de elementos finitos e valores das condições
iniciais e de contorno 72
Figura 4.7 - Drenagem em uma coluna de solo constituída de dois
materiais – resultados numéricos e analíticos 73
Figura 4.8 - Drenagem de uma coluna de solo constituída de dois
materiais – malha de elementos finitos e valores das condições
iniciais e de contorno 74
Figura 4.9 - Drenagem em uma coluna de solo constituída de dois
materiais – resultados numéricos e analíticos 75
Figura 4.10 – Infiltração em uma camada de solo sujeita a um fluxo
constante aplicado numa faixa da superfície, com indicação das
condições iniciais e de contorno 76
Figura 4.11 – Malha de elementos finitos, utilizada para simulação
da infiltração em uma camada de solo sujeita a um fluxo constante
aplicado em uma faixa da superfície 77
Figura 4.12 - Evolução das cargas de pressão computadas pelo
GEOFLUX3D 77
Figura 4.13 - Infiltração em uma camada de solo sujeita a um fluxo
constante aplicado numa faixa da superfície – comparação dos
resultados numéricos e analíticos em (a) 36 min; (b) 72 min 78
Figura 5.1 - Localização da barragem Gouhou na China 79
Figura 5.2 - Barragem Gouhou: (a) seção transversal A-A de altura
máxima; (b) seção longitudinal B-B vista desde montante 80
Figura 5.3 - Modelo geométrico 3D e condições de contorno para
a simulação de fluxo transiente na barragem Gouhou, China 81
Figura 5.4 - Curvas granulométricas dos materiais empregados nas
zonas de enrocamento da barragem Gouhou. 82
Figura 5.5 - Curvas características de retenção para os materiais
correspondentes nas zonas de enrocamento 1 e 2. 83
Figura 5.6 - (a) Modelo geométrico 2D da barragem Gouhou,
(b) malha de elementos finitos tipo TRIA3 84
Figura 5.7 - (a) Modelo geométrico 3D da barragem Gouhou,
(b) malha de elementos finitos tipo TETR4 84
Figura 5.8 - Evolução no tempo da superfície freática na barragem
Gouhou 85
Figura 5.9 - Evolução no tempo dos contornos das isóbaras (kPa) na
seção transversal máxima da barragem Gouhou 86
Figura 5.10 - Evolução no tempo dos contornos de poropressão (kPa)
na seção longitudinal da barragem em x = 111,56m 87
Figura 5.11 - Distribuição de cargas de pressão (m) na barragem
Gouhou depois de 0,4 dias 88
Figura 5.12 - Distribuição de cargas totais (m) na barragem Gouhou
depois de 0,4 dias 88
Figura 5.13 - Localização da barragem Macusani no Peru 89
Figura 5.14 - Barragem Macusani: (a) Seção transversal A-A de altura
máxima; (b) Seção longitudinal. 90
Figura 5.15 - Modelo geométrico simplificado e condições de contorno
para análise de fluxo 3D na barragem de terra Macusani, Peru 91
Figura 5.16 - (a) Modelo geométrico 2D da barragem Macusani,
(b) malha de elementos finitos tipo TRIA3 94
Figura 5.17 - (a) Modelo geométrico 3D da barragem Macusani,
(b) malha de elementos finitos tipo TETR4 94
Figura 5.18 - Evolução da superfície freática na barragem Macusani
para o caso I sob diferentes tempos 95
Figura 5.19 - Evolução no tempo dos contornos de poropressão (kPa)
na seção transversal em z = 290 m para o caso I 96
Figura 5.20 - Contornos de poro pressão (kPa) na secção de corte em
z = 290 m para o caso II 97
Figura 5.21 - Distribuição final de cargas de pressão (m) na
barragem Macusani depois de 1000 dias (condição de regime
permanente) para o caso II 98
Figura 5.22 - Distribuição final das cargas totais (m) na barragem
Macusani depois de 1000 dias (condição de regime permanente)
para o caso II 98
Figura 5.23 - Evolução da posição da superfície freática com o
tempo, após rebaixamento rápido do reservatório 99
Figura 5.24 - Evolução no tempo dos contornos de poropressão (kPa)
na superfície de talude de montante após o rebaixamento rápido 100
Figura 5.25 - Comparação das posições das superfícies freáticas na
seção máxima A–A, determinadas pelo GEOFLUX3D e pelo programa
comercial Seep3D v.1.15, em análises tridimensionais na condição de
fluxo em regime permanente para o caso I 101
Figura 5.26 - Comparação das posições das superfícies freáticas na
seção máxima A–A, determinadas pelo GEOFLUX3D e pelo programa
comercial Seep3D v.1.15, em análises tridimensionais na condição de
fluxo em regime permanente para o caso II 101
Lista de tabelas
Tabela 3.1 – Incidência nodal dos elementos da malha simplificada 63
Tabela 3.2 – Montagem da matriz Posic 63
Tabela 4.1 – Infiltração em uma coluna de solo constituída de um
único material - parâmetros do modelo exponencial 67
Tabela 4.2 – Infiltração e drenagem em uma coluna de solo
constituída de dois materiais - parâmetros do modelo exponencial 73
Tabela 4.3 - Infiltração em uma camada de solo sujeita a um fluxo
constante aplicado a uma faixa da superfície – parâmetros do
modelo exponencial. 76
Tabela 5.1 – Parâmetros do modelo de van Genuchten (1980) nos
materiais da barragem Gouhou, China 83
Tabela 5.2 – Função de variação de carga hidráulica na superfície
do talude de montante (primeiro enchimento do reservatório) 92
Tabela 5.3 - Função de variação de carga hidráulica na superfície
do talude de montante (rebaixamento rápido do reservatório) ................92
Tabela 5.4 – Materiais empregados na barragem Macusani e seus
respectivos coeficientes de condutividade hidráulica na condição
saturada. (CISMID) 93
Tabela 5.5 – Tabela 5.5 - Materiais empregados na barragem
Macusani e respectivos parâmetros do modelo de van Genuchten
(1980) utilizado para análise sob regime transiente (CISMID) 93
Tabela 5.6 - Comparação de vazões totais calculadas pelos
programas GEOFLUX3D e SEEP3D em análises 3D na barragem
de terra Macusani 102
Lista de símbolos
A Área [L2]
aij Cosseno do ângulo entre a direção principal i e o
eixo j do sistema de coordenadas globais [-]
B Matriz que relaciona o gradiente hidráulico com a
carga hidráulica total
( )ψC Capacidade de retenção específica [L-1]
D Matriz de coeficientes
e Vetor de componente unitaria na direção da
aceleração da gravidade
F Matriz de capacidade de retenção ou matriz de
massa
θF Vetor empregado na formulação de Picard
modificado
H Carga hidráulica total [L]
H Matriz de fluxo
J Matriz Jacobiana
1−J Inversa da matriz Jacobiana
J Determinante da matriz Jacobiana
)(, ψKK Matriz de condutividade hidráulica [L2T-1]
SSS KKK 32,1 , Condutividades hidráulicas nas direções principais
[L2T-1]
Mw Massa de água [M]
m Iteração anterior
m+1 Iteração corrente
Matval Matriz que armazena os valores das posições não
nulas da matriz esparsa D
N Matriz das funções de interpolação
Ni Funções de interpolação
n Passo do tempo anterior
n+1 Passo de tempo corrente
n Vetor unitario em direção normal ao contorno de
um elemento finito
en Porosidade [-]
ne Número de nós de uma malha de elementos
finitos igual ao número de elementos da matriz
esparsa D
nne Número de elementos não nulos da matriz
esparsa D
p Parâmetro do modelo de van Genuchten (1980) [-]
Posic Matriz que armazena as posições não nulas da
matriz esparsa D
q Parâmetro do modelo de van Genuchten (1980) [-]
Q Vazão [L3T-1]
Q Vetor de vazões nodais equivalente ao fluxo
prescrito [L3T-1]
Q ' Vetor de vazões nodais que traduz uma parcela
da vazão relativa a efeitos gravitacionais [L3T-1]
R Vetor de Respostas
)( *ψR Resíduo do método de Galerkin [L3T-1]
S Grau de saturação [-]
t Tempo [T]
aru Pressão do ar [MT-2L-1]
wu Pressão da água [MT-2L-1]
wV Volume de água [L3]
eV Volume do elemento [L3]
zyx ,, Coordenadas globais [L]
y Carga de elevação [L]
ψ Carga de pressão [L]
ψ Vetor de cargas de pressão [L]
0ψ Vetor de cargas de pressão iniciais [L]
i Gradiente hidráulico [-]
q Vetor de vazões específicas [L2T-1]
ξ,η,ζ Coordenadas locais dos elementos [-]
φ Potencial total da água [ML2T-2]
gφ
Energia potencial gravitacional da água [ML2T-2]
mφ
Potencial matricial da água [ML2T-2]
oφ
Potencial osmótico da água [ML2T-2]
pφ
Potencial de pressão da água [ML2T-2]
tφ Potencial térmico da água [ML2T-2]
θ Teor de umidade volumétrica [L3L-3]
θ Vetor de teor de umidade volumétrica [L3L-3]
rθ Teor de umidade volumétrica residual [L3L-3]
sθ Teor de umidade volumétrica saturada em
processos de infiltração [L3L-3] 'Sθ
Teor de umidade volumétrica saturada em
processos de drenagem [L3L-3]
eθ Teor de umidade volumétrica relativa [L3L-3]
wρ Massa específica da água [ML-3]
wγ Peso específico da água [ML-1T-2]
α Coeficiente que define o tipo de marcha no tempo
[-]
vgα Parâmetro do modelo de van Genuchten (1980)
[L-1]
expα Parâmetro do modelo do modelo exponencial
(1994) [L-1]
H∇ Vetor gradiente de carga total [L]
ψ∇ Vetor gradiente de carga de pressão [L]
t∆ Tamanho do passo de tempo [T]
Ω Domínio do modelo
eΩ Domínio do elemento
Γ Contorno do modelo
eΓ Contorno do elemento
1Γ Contorno com condição de Dirichlet
2Γ Contorno com condição de Neumann
ijδ Delta de Kronecker
v Vetor de velocidade superficial de fluxo [LT-1]
Introdução 20
1 Introdução
Uma das principais etapas no projeto e monitoramento de barragens de terra
e de enrocamento é a avaliação da vazão, dos gradientes hidráulicos e das
poropressões em diversos pontos e regiões da barragem a fim de se estimar os
riscos decorrentes do fluxo de água através do corpo da barragem, de sua
fundação e/ou ombreiras.
Na engenharia geotécnica a análise deste problema normalmente requer a
utilização de modelos bi-dimensionais, por meio da seleção de uma seção
transversal da barragem e de sua fundação que seja considerada a mais
representativa, ou crítica, do problema. Esta metodologia tem vários apelos a
favor, como a tradição do projeto de barragem considerando um problema de
fluxo no plano, a maior rapidez de processamento numérico em
microcomputadores, maior facilidade na construção do modelo e na imposição de
condições de contorno, menor dificuldade na obtenção dos relevantes parâmetros
de engenharia através de ensaios de campo ou de laboratório, etc.
Entretanto, a adoção da representação no plano de um problema
inerentemente tridimensional pode causar a obtenção de respostas incorretas,
como no caso de barragens de terra construídas em vales profundos e estreitos, em
forma de V, situação típica de regiões montanhosas, como ao longo da cordilheira
dos Andes na América do Sul.
Programas computacionais baseados no método dos elementos finitos para
análise de fluxo de água 3D através de maciços de solo, incluindo a resposta
transiente e aspectos relativos ao comportamento de materiais parcialmente
saturados, são raramente encontrados e, quando disponíveis comercialmente,
revelam-se ainda bastante caros ou com limitações.
O objetivo principal deste trabalho é o desenvolvimento de uma ferramenta
numérica GEOFLUX3D, com base no método dos elementos finitos escrito na
linguagem Fortran, para a análise das condições de fluxo transiente em barragens
Introdução 21
com geometrias tridimensionais irregulares, a partir do programa computacional
GEOFLUX elaborado por Machado (2000) para situações de fluxo bidimensional.
Os efeitos 3D no comportamento hidráulico de barragens de terra podem ser
então verificados pelas diferenças de resultados obtidos na simulação
computacional do mesmo problema através da utilização simultânea de malhas de
elementos finitos bi e tridimensionais, respectivamente. Conforme será observado,
os erros introduzidos pela simplificação 2D podem ser importantes, justificando a
realização de análises 3D a despeito da maior dificuldade na modelagem
geométrica do problema e do maior tempo necessário para processamento e
análise dos resultados.
A estrutura desta dissertação está dividida em 6 capítulos:
No segundo capítulo são introduzidos conceitos básicos associados ao fluxo
não saturado, das curvas características de sucção com os modelos utilizados para
sua implementação numérica, bem como é apresentada a equação geral
governante do problema de fluxo 3D transiente (equação de Richards), em forma
matricial tendo em vista a solução deste problema de valor inicial através da
aplicação do método dos elementos finitos.
O terceiro capítulo refere-se às implementações computacionais executadas
durante o desenvolvimento do programa GEOFLUX3D, as discretizações feitas
nos domínios do espaço e do tempo, a solução da não-linearidade da equação de
Richards pelo método de Picard Modificado, os critérios de convergência
adotados e, finalmente, as matrizes e vetores característicos para a solução
numérica do problema.
O quarto capítulo apresenta os exemplos de verificação do programa
desenvolvido nesta dissertação, comparando os resultados analíticos determinados
em algumas análises uni e bidimensionais com os correspondentes valores
numéricos calculados com base no programa GEOFLUX3D.
O quinto capítulo trata dos exemplos de aplicação da ferramenta numérica
em barragens projetadas em vales estreitos, com a ocorrência de efeitos 3D no
fluxo de água. No primeiro exemplo, analisa-se o comportamento da barragem de
enrocamento Gouhou, localizada na China, comprando-se os resultados numéricos
da análise transiente com aqueles reportados por Chen e Zhang (2006). No
segundo, analisam-se as condições de fluxo (sob regime transiente e permanente)
Introdução 22
na barragem de terra Macusani, também se comparando os resultados na condição
permanente com aqueles obtidos por Huertas (2006) que utilizou o programa
comercial SEEP3D, v.1.15. Em ambos os exemplos, a potencialidade do
programa computacional GEOFLUX3D é demonstrada e justificada como
ferramenta de projeto para análise de problemas de fluxo 3D em barragens de
terra.
Finalmente, o sexto capítulo resume as principais conclusões obtidas neste
trabalho e apresenta também algumas sugestões para pesquisas futuras nesta área.
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 23
2 Fluxo em meios porosos não saturados
2.1. Meios porosos saturado e não saturado
O fluxo através de um meio poroso não-saturado é nada mais do que um
caso especial de fluxo simultâneo de fluidos não miscíveis (BEAR, 1972). Para o
caso mais comum em solos não saturados, esses fluidos são denominados
molhante e não-molhante, sendo estes a água e o ar, respectivamente. Assim, o
fluxo em um meio poroso não-saturado ocorre quando a água se movimenta
através de um solo com grau de saturação (S) inferior a 100% (com relação ao
fluido molhante), com partes dos espaços vazios ocupados pelo ar, considerado
aqui estagnado, isto é, que não se encontra em movimento. Na figura 2.1 são
ilustradas as distribuições da pressão de água abaixo da superfície do solo.
Figura 2.1 – Distribuição de poro-pressão típica em um horizonte de solo.
A zona saturada é a região na qual os vazios do solo estão totalmente
preenchidos por água e a carga de pressão é positiva. A franja capilar, por sua vez,
é a região de ascensão capilar na qual o solo ainda se encontra saturado, porém
sujeito a uma carga de pressão negativa.
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 24
A zona não-saturada é a região na qual os vazios do solo são preenchidos
por ar e água, também submetida a uma poropressão negativa. Nessa zona, a
distribuição inicial de poropressões é incerta dependendo das características do
meio poroso, sendo necessário para sua determinação medições em campo. A
pressão uar indicada na Figura 2.1, é chamada pressão de entrada de ar; que
caracteriza a interface entre a franja capilar e a zona não-saturada, surgindo assim
uma propriedade própria dos solos não-saturados denominada sucção, definida
pela diferença entre a pressão de entrada de ar (uar) e a pressão da água (uw) nos
vazios do solo, como definido pela equação abaixo.
war uusucção −= (2.1)
Com a diminuição do grau de saturação, os vazios maiores, responsáveis em
grande parte pela condutividade hidráulica do meio poroso, são os primeiros a
serem drenados, interrompendo o canal de fluxo, com o volume de água neles
remanescente se concentrando sob forma de meniscos no contato com as
partículas. A maior parte do fluxo se transfere para os vazios menores, diminuindo
assim o coeficiente de permeabilidade do meio em até 100 mil vezes em relação
ao seu valor na condição saturada. Para baixos teores de umidade ou altas sucções
o coeficiente de permeabilidade pode ser tão pequeno que podem ser necessários
gradientes hidráulicos elevados ou intervalos de tempo muito grandes para que
seja possível detectar a ocorrência de fluxo no meio.
Se, por simplicidade for desconsiderado o valor da pressão de entrada de
ar, a sucção seria então expressa apenas em função da pressão negativa de água
nos vazios:
ψγ ⋅−=−= wwusucção (2.2)
em que γw é o peso especifico da água e ψ a carga de pressão. Note que como ψ <
0, então a sucção assume sempre um valor positivo, que se torna nulo quando a
carga de pressão for maior ou igual a zero.
Nos solos não-saturados, as propriedades hidráulicas tais como a
condutividade hidráulica (K) e o teor de umidade volumétrica (θ) variam com as
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 25
mudanças da carga de pressão (ψ) devido à presença de ar no meio poroso. A
variação dessas propriedades pode ser representada pelas curvas características θ
= θ(ψ), chamada de curva de retenção de água ou curva característica de sucção, e
K = K(ψ), denominada curva de condutividade hidráulica.
2.2. Curva característica de sucção
O teor de umidade volumétrica (θ) é definido pela equação 2.3 como a razão
entre o volume de água (Vw) presente no interior do meio poroso e seu volume
total V.
VVw /=θ (2.3)
Nos solos não-saturados a sucção está relacionada com o teor de umidade
volumétrica (θ) através da curva característica de sucção ou curva de retenção de
água, ilustrada na figura 2.2, onde são exibidos três pontos de destaque.
O primeiro é constituído pelo valor da pressão de entrada de ar (uar), que
corresponde ao valor da sucção para a qual o ar começa penetrar nos poros de
maior diâmetro no solo.
O segundo ponto é aquele correspondente ao teor de umidade volumétrica
residual (θr) a partir do qual tem que se acrescentar em um grande valor à sucção
para produzir pequenas variações na umidade volumétrica.
O terceiro, finalmente, corresponde ao teor de umidade volumétrica de
saturação, teoricamente igual à porosidade do solo, já que neste ponto todos os
vazios estão preenchidos pela água. Porém, como observado na figura 2.2, este
ponto pode ser diferente nos processos de umedecimento (θ’s) e de secagem (θs),
sendo maior neste último. Esse tipo de comportamento está associado à não
uniformidade dos poros, à presença de bolhas de ar que permanecem no solo
durante o processo de umedecimento e a possíveis mudanças estruturais
(Gerscovich, 1994; Reichardt e Timm, 2000).
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 26
Figura 2.2 – Curva característica de retenção típica de um solo siltoso (Fredlund e Xing,
1994).
A curva característica de retenção pode ser determinada através de ensaios
de laboratório ou aplicação de relações empíricas. As técnicas experimentais
consagradas para a medição da sucção são as de papel filtro e da placa de sucção
(diferenciando-se principalmente quanto ao nível de sucção aplicada), a partir das
quais podem ser obtidos pontos da citada curva (Villar, 2002).
No método do papel filtro, padronizado pela norma ASTM D5298-92, o
solo é colocado em contato com o papel filtro, de menor umidade, que absorve
certa quantidade de água até que o sistema solo + papel entre em equilíbrio
hidráulico. Dispondo-se da curva de calibração do papel, a sucção então pode ser
determinada em função da quantidade de água do solo absorvida pelo papel.
A curva característica de sucção é muito afetada pela estrutura do solo,
sendo indispensável a utilização de amostras indeformadas (Soares, 1999).
Quanto a relações empíricas, na literatura encontram-se as proposições
sugeridas por van Genuchten (1980), Srivastava e Yeh (1991), Fredlund e Xing
(1994), dentre outros.
Neste trabalho foram adotados para a representação da curva característica
de retenção os modelos propostos por van Genuchten (1980) e por Srivastava e
Yeh (1991), apresentados a seguir.
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 27
2.2.1. Modelo de Srivastava e Yeh (1991)
Srivastava e Yeh (1991) utilizaram a seguinte função exponencial para
modelagem da curva característica de retenção em solos não saturados:
ψαθθθψθ exp)()( ersr −+= (2.4)
na qual θr é o teor de umidade volumétrica residual, θs o teor de umidade
volumétrica saturado, ψ a carga de pressão, e αexp é um parâmetro que varia de
acordo com o tipo de solo e que representa a taxa de redução do teor de umidade
volumétrica a medida que a carga de pressão diminui. O formato típico da curva
de retenção de acordo com esta relação é apresentado na figura 2.3.
Figura 2.3 – Forma típica da curva característica de retenção conforme modelo
exponencial.
Esse modelo apresenta um valor de capacidade de retenção específica
ψ
θψ
∂
∂=)(C diferente de zero para a situação de saturação a uma pressão nula.
Em uma situação real, desprezando-se as variações de volume, isso não
poderia acontecer. Assim, pode-se considerar que a aplicação do modelo de
Srivastava e Yeh (1991) seria adequada para problemas que envolvam fluxo
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 28
somente na zona não-saturada. Cabe ainda ressaltar que esse modelo não é capaz
de reproduzir a zona de ascensão capilar, caracterizada pela pressão de entrada de
ar, e também não representa a histerese mostrada na figura 2.2 (αexp é o mesmo
para ciclos de umedecimento ou de secagem).
2.2.2. Modelo de van Genuchten (1980)
A equação (2.5) foi proposta por van Genuchten (1980) para representação
da relação entre o teor de umidade volumétrico e a carga de pressão em solos não-
saturados,
( )[ ]p
q
rs
r
ψα
θθθψθ
vg1
)(
+
−+=
(2.5)
em que αvg, p e q são parâmetros a serem ajustados de acordo com o tipo de solo.
Valores de p e q são dependentes entre si, de acordo com a relação abaixo (van
Genuchten, 1980):
qp
11−= (2.6)
Segundo Miller et al (1998) o parâmetro αvg está relacionado com a
dimensão média dos poros e o parâmetro q com a uniformidade da distribuição
dos poros de diferentes dimensões. O formato típico de uma curva de acordo com
a equação (2.5) é ilustrado na figura 2.4.
Este modelo, ao contrário do anterior, apresenta uma capacidade de retenção
nula para a condição de saturação e ainda é capaz de caracterizar a zona de
ascensão capilar. Com essas características, o modelo de van Genuchten tornou-se
o mais utilizado para simulação do comportamento hidráulico de solos não-
saturados, tendo sido incorporados em vários softwares comerciais como o
programa computacional PlaxFlow. Entretanto, este modelo também não
considera a histerese observada entre processos de umedecimento e secagem.
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 29
Figura 2.4 – Forma típica da curva característica de retenção de acordo com o modelo de
van Genuchten (1980).
2.3. Curva de condutividade hidráulica
A outra curva característica na investigação do comportamento hidráulico
de solos não-saturados se refere à que relaciona a permeabilidade com a carga de
pressão.
Segundo Soares (1999), os métodos para a determinação da permeabilidade
não saturada dos solos tanto em campo como no laboratório, podem ser divididos
em duas categorias: Métodos de Regime Permanente (Permeâmetro de Guelph -
campo) e Métodos de Regime Transiente (Método do perfil Instantâneo – campo e
laboratório).
Porém esses métodos são muito difíceis de serem aplicados, geralmente
devido a fenômenos de difusão do ar e em virtude das pequenas quantidades de
fluxo medidas. Deste modo, pesquisadores propuseram métodos indiretos para a
determinação da curva de condutividade hidráulica com base na curva
característica de sucção, surgindo desta forma modelos estatísticos e modelos
empíricos (Fredlund et al., 1994; van Genuchten, 1980; Srivastava e Yeh, 1991),
dentre outros. Neste trabalho, foram novamente implementados os modelos
propostos por van Genuchten (1980) e Srivastava e Yeh (1991), descritos a
seguir.
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 30
2.3.1. Modelo de Srivastava e Yeh (1991)
Para a utilização desta formulação empírica é necessário conhecer-se
diversos pontos da curva característica de sucção do solo não-saturado, bem como
o valor da condutividade hidráulica na condição saturada.
O exponencial de Srivastava e Yeh (1991) para a curva de condutividade
hidráulica consiste basicamente na equação (2.7), onde αexp representa o mesmo
parâmetro empregado no ajuste da curva característica de sucção (equação 2.4) e
Ks denota o valor da condutividade hidráulica saturada [LT-1
].
ψαψ exp)( eKK s= (2.7)
Uma forma esquemática da curva de condutividade hidráulica saturada – não
saturada para o modelo exponencial é mostrada na figura 2.5.
Figura 2.5 – Forma típica da curva da função de condutividade hidráulica para o modelo
exponencial.
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 31
2.3.2. Modelo de van Genuchten (1980)
Dentre os modelos estatísticos utilizados para descrever a função de
condutividade hidráulica, pode-se destacar o modelo proposto por Mualem (1976)
baseado na dimensão e distribuição estatística dos vazios de um meio poroso. A
partir deste modelo estatístico, van Genuchten (1980) propôs a seguinte
formulação empírica para representação da função de condutividade hidráulica:
( )( )2/12/1
11)(pp
eesKK θθθ −−⋅= (2.8)
em que a umidade volumétrica relativa ( eθ ) é definida por:
( )[ ]p
qrs
r
e
ψαθθ
θθθ
vg1
1
+
=−
−=
(2.9)
na qual p, q, e αvg, são os mesmos parâmetros empregados nas equações (2.5) e
(2.6) para estabelecimento da curva característica de sucção, sendo que ψ
representa o valor da carga de pressão.
Figura 2.6 – Forma típica da curva da função de condutividade hidráulica para o modelo de
van Genuchten (1980).
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 32
2.4. Equação governante do fluxo em meio poroso não-saturado
Considerando um volume elementar submetido a um fluxo de água nas
direções x, y e z, como indicado na figura 2.6. A equação diferencial que governa
o fluxo pode ser escrita como:
t
Mdzdydxv w
w
T
∂
∂−=⋅⋅⋅⋅∇ )(ρ (2.10)
em que ρw é a massa específica da água, v é o vetor de velocidade superficial de
fluxo e ∇ T um operador diferencial que depende da dimensão do problema.
O termo do lado esquerdo da equação (2.10) representa o balanço de massa
nas três direções cartesianas, enquanto que o termo do lado direito representa a
taxa de variação no tempo da massa de água (Mw) armazenada no volume
elementar.
Figura 2.7 – Volume elementar sujeito a fluxo de água nas direções x, y e z.
A massa de água pode ser escrita em termos da massa especifica (ρw), do
grau de saturação (S), da porosidade do meio (ne) e do volume diferencial
(dx.dy.dz) como sendo:
dzdydxnSM ww ⋅⋅⋅⋅⋅= eρ (2.11)
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 33
Substituindo a equação (2.11) na equação (2.10) e eliminando os termos
comuns, chega-se em
t
nSv ew
w
T
∂
⋅⋅∂−=⋅∇
)()(
ρρ (2.12)
Observando-se que
Sne ⋅=θ (2.13)
e considerando-se que o fluido e o meio são incompressíveis, então a equação
2.12 pode ser re-escrita como:
tv
T
∂
∂−=∇
θ (2.14)
Admitindo-se condições de fluxo laminar do fluido através do meio poroso,
vem pela lei de Darcy:
)()( ψψ +∇⋅−= zKv (2.15)
na qual )(ψK é a matriz da condutividade hidráulica, que para problemas de fluxo
não-saturado depende da carga de pressão, e ∇(z+ψ) é o vetor dos gradientes
hidráulicos, observando-se que z e ψ são, respectivamente, as cargas de elevação
e de pressão no ponto considerado.
Substituindo a equação 2.15 na equação 2.14 resulta em:
tKeK
T
∂
∂=∇+∇
)(])()([
ψθψψψ (2.16)
em que e é um vetor unitário na direção da aceleração da gravidade (z).
Tendo em vista que na equação (2.16) o teor de umidade volumétrico é
função da carga de pressão (curva de retenção):
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 34
)(ψθθ = (2.17)
aplica-se a regra da cadeia na obtenção da derivada em relação ao tempo do lado
direito da equação (2.16),
tt ∂
∂⋅
∂
∂=
∂
∂ ψ
ψ
θψθ )( (2.18)
Introduzindo-se a capacidade de retenção específica (C(ψ)) definida pela
relação:
ψ
θψ
∂
∂=)(C (2.19)
obtém-se da equação (2.18),
tC
t ∂
∂=
∂
∂ ψψ
ψθ)(
)( (2.20)
Substituindo-se finalmente a equação (2.20) em (2.16) a equação governante
do fluxo em meio poroso não-saturado pode ser escrita como:
tCKeK
T
∂
∂=∇+∇
ψψψψψ )(])()([ (2.21)
Esta equação (2.21) é conhecida como equação de Richards, classificada
como equação diferencial parcial de segunda ordem não-linear. A não linearidade
surge devido à variação da condutividade hidráulica do meio poroso em função
dos valores da carga de pressão.
Na formulação apresentada, o efeito da fase do ar no movimento da água foi
desconsiderado, simplificando-se o problema. O caso mais geral seria o de fluxo
bifásico água-ar, onde os movimentos de ambas as fases, e conseqüentemente sua
interação, devem ser considerados simultaneamente (Nielsen et al.,1986).
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 35
A solução da equação de Richards deverá atender às condições de contorno
que podem ser expressas em termos de carga de pressão prescrita (condição de
Dirichlet):
−
= ψψ ),( tx em Γ1 (2.22)
ou em fluxo prescrito (condição de Newman):
[ ]−
=∇+ vKeKn ψψψ )()(T em Γ2 (2.23)
na qual Γ = Γ1+Γ2 define o contorno do domínio ( Ω ) do problema.
A solução da equação (2.21) deverá, ainda, atender à condição inicial do
problema:
)()0,(0
xx
−
= ψψ (2.24)
Observe finalmente que para a solução numérica da equação (2.21) é
necessária a determinação das curvas características K = K(ψ) e θ = θ(ψ) que,
como foi destacado anteriormente, são propriedades intrínsecas do material para
um determinado fluído.
2.5. Solução numérica da equação de Richards pelo método dos elementos finitos
A equação de Richards (equação 2.21) apresenta uma grande não-
linearidade, já que tanto a condutividade hidráulica (K) quanto a capacidade de
retenção específica (C) são funções da carga de pressão (ψ), variável que se busca
determinar (Miqueletto 2007).
Não existindo soluções analíticas da equação para análise de problemas com
geometrias complexas, as aproximações numéricas são as mais recomendadas
para este tipo de problema. Dentre os métodos numéricos mais utilizados podem
ser citados o Método das Diferencias Finitas (MDF) e o método dos Elementos
Finitos (MEF).
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 36
Para a solução aproximada da equação de Richards foi adotado neste
trabalho o Método dos Elementos Finitos (MEF), onde o contínuo ( Ω ) é dividido
em elementos ( Ω e), que se encontram ligados entre si através de nós distribuídos
aos longo de seus contornos.
Considerando-se ψ* uma solução aproximada de ψ no domínio do
elemento ( Ω e), a equação 2.21 pode ser escrita como:
)()()]()()([ **
* ψψ
ψψψψ Rt
CKeKT =∂
∂⋅−∇+∇ (2.25)
em que R(ψ*) representa o resíduo da solução aproximada.
A solução aproximada de ψ no domínio do elemento ( Ω e) é usualmente
escrita no método dos elementos finitos considerando-se:
ψψ ⋅= N* (2.26)
na qual N denota a matriz das funções de interpolação, definidas em função do
tipo de elemento finito adotado, e ψ representa o vetor das cargas de pressão
nodais.
Assim, re-escreve-se a equação (2.25) como:
)()()]()()([ *ψψ
ψψψψ Rt
NCNKeKT =
∂
∂⋅⋅−⋅∇+∇ (2.27)
Aplicando-se o método dos resíduos ponderados (Huyakorn e Pinder, 1983),
a minimização do resíduo R(ψ*) é obtida através da introdução de funções de
ponderação que, no método de Galerkin, são as próprias funções de interpolação
N.
0)()]()()([ =Ω∂
∂⋅⋅−⋅∇+∇∫
Ωe
e
TT dt
NCNKeKNψ
ψψψψ (2.28)
Integrando-se por partes os dois primeiros termos de equação 2.28 vem:
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 37
∫ ∫ ∫Γ Ω Γ
−Γ⋅+Ω⋅⋅∇⋅⋅∇−Γ⋅⋅∇⋅⋅
e e e
e
TT
e
T
e
TT deKnNdNKNdNKnN ])([)()()()]()([ ψψψψψ
0)()()( =Ω⋅∂
∂⋅⋅⋅−Ω⋅⋅⋅∇ ∫∫
ΩΩ ee
e
T
e
Td
tNCNdeKN
ψψψ (2.29)
na qual Γe representa o contorno do elemento e n o vetor unitario externo, normal
ao contorno.
Considerando-se
N∇ = B (2.30)
e agrupando-se os termos, resulta:
∫ ∫Ω Ω
=∂
∂⋅Ω⋅⋅⋅+⋅Ω⋅⋅⋅
e et
dNCNdBKB e
T
e
T ψψψψ )()(
∫∫ΩΓ
Ω⋅⋅⋅−Γ⋅⋅⋅+
ee
e
T
e
TT deKBdBKeKnN )(])()([ ψψψψ
(2.31)
que é a solução aproximada da equação de Richards pelo método dos elementos
finitos. Esta equação, para efeitos de simplificação, pode ser definida como, a
nível do elemento finito:
'QQt
FH −=∂
∂⋅+⋅
ψψ (2.32)
Com a matriz de fluxo
∫Ω
Ω⋅⋅⋅=
e
e
T dBKBH )(ψ (2.33)
o vetor de vazão nodal equivalente ao fluxo prescrito na face do elemento,
∫Γ
Γ⋅⋅⋅+=
e
e
TT dBKeKnNQ ])()([ ψψψ (2.34)
Fluxo em Meios Porosos Não Saturados 38
o vetor de vazão nodal equivalente relacionado aos efeitos gravitacionais (carga
de elevação),
∫Ω
Ω⋅⋅⋅=
e
e
T deKBQ )(' ψ (2.35)
e a matriz de capacidade de retenção que traduz as variações do teor de umidade
em relação à poropressão em cada elemento.
∫Ω
Ω⋅⋅⋅=
e
e
T dNCNF )(ψ (2.36)
Celia et al. (1990) observaram que os resultados do MEF apresentam
oscilações na previsão da carga de pressão, concluindo que a diagonalização da
matriz F (equação (2.36)) é condição necessária e suficiente para a eliminação
desse problema. Atribuíram esse comportamento oscilatório ao fato de que no
MEF as derivadas no tempo são distribuídas espacialmente quando se considera a
formulação da matriz consistente, ou seja, quando as mesmas funções de
interpolação são usadas para a construção de todas as matrizes e vetores da
formulação numérica.
Fisicamente, a diagonalização representa que a propriedade relativa à
capacidade de retenção não está mais distribuída nos elementos, mas concentrada
em seus nós, resultando em uma matriz diagonal (“lumping”).
Neste trabalho adotou-se o seguinte esquema de diagonalização da matriz
F proposto por Milly (1985), expresso pela equação (2.37).
∫Ω
Ω⋅⋅⋅=
e
eiiji dNCF )(, ψδ (2.37)
em que δi,j é o delta de Kroenecker, )(ψiC é a capacidade de retenção específica
do nó i e iN representa as funções de interpolação associadas ao grau de
liberdade i.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 39
3 GEOFLUX3D - Implementação computacional
3.1. Considerações gerais
Um dos principais objetivos desta dissertação foi o desenvolvimento de um
programa computacional para solução de problemas de fluxo através de meios
porosos saturados e não-saturados em domínios tridimensionais. Para esta
finalidade, foi escrito em linguagem Fortran e com base no método dos elementos
finitos o programa computacional GEOFLUX3D.
O programa foi desenvolvido a partir do programa GEOFLUX (Machado
Jr., 2000) para análise de fluxo através de meios porosos não-saturados em
análises bidimensionais. Foram efetuadas as adaptações necessárias para a
resolução de problemas tridimensionais, mantendo-se a mesma estrutura de
macro-comandos do programa original.
Nesta nova versão, adotaram-se elementos triangulares de 3 nós (TRI3) para
análises bidimensionais e elementos tetraédricos de 4 nós (TETR4) para estudos
tridimensionais. A razão da escolha destes elementos foi a facilidade na
construção de malhas, que se adaptam bastante bem a domínios com contornos
irregulares, bem como por não apresentarem necessidade da execução de
integrações numéricas, diminuindo assim o tempo de processamento, mas
exigindo malhas com maior refinamento de discretização.
Cabe ressaltar também que no programa GEOFLUX3D foram
implementadas novas subrotinas para a variação das condições de contorno no
tempo, tanto em termos das variáveis primárias (cargas hidráulicas) quanto
secundárias (velocidades).
Para a solução da não linearidade foram empregados os métodos de Picard e
de Picard modificado utilizando para esta última a formulação mista, é dizer a
equação de Richards baseada na carga de pressão e no teor de umidade
volumétrico, diminuindo desta forma erros por balanço de massa como apontado
antes por Celia et al., 1991.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 40
Para a geração das malhas de elementos finitos trabalhou-se com o pré-
processador do programa GID v.8.0, desenvolvido pelo Centro Internacional de
Métodos Numéricos em Engenharia (CIMNE) com sede em Barcelona – Espanha.
Optou-se pelo GID devido à facilidade de se operar com distintos tipos de
materiais e elementos, assim como devido à flexibilidade na prescrição das
condições de contorno em geometrias 3D complexas. Os arquivos contendo as
informações das malhas possuem extensão *.flavia.msh e têm um formato de
saída muito parecido com os arquivos do tipo “neutral file”.
O código do GEOFLUX3D foi desenvolvido utilizando-se a versão 6.6 do
compilador Compaq Visual FORTRAN Professional. O programa não exige
recursos computacionais especiais porém, dependendo do problema a ser
simulado, é fundamental que se trabalhe com uma máquina atualizada e com boa
capacidade de memória e velocidade de processamento. Para a realização das
simulações descritas no Capítulo 5 foram utilizados desde computadores com
capacidade de processamento de 1GHz e 1GB de memória RAM a computadores
com capacidade de processamento de 3,40 GHz e 3,25GB de memória RAM. Os
tempos de processamento, em termos gerais, foram bastante rápidos, alcançando
em malhas de grandes tamanhos menos de um minuto por iteração.
Para a visualização dos resultados utilizou-se também o pós-processador do
GID v.8.0. Os arquivos contendo as informações dos resultados do GEOFLUX3D
têm a extensão *.flavia.res, sendo um formato de entrada muito fácil de
implementar tanto em relação a grandezas escalares (cargas hidráulicas) quanto
vetoriais (velocidades e gradientes).
3.2. O programa GEOFLUX3D 3.2.1. Macro-comandos
O programa é capaz de interpretar macro-comandos utilizados para acionar
um conjunto de sub-rotinas responsáveis por uma tarefa computacional específica.
O programa GEOFLUX3D possui oito macro-comandos principais, descritos a
seguir de forma sintética:
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 41
MANAGER: Macro-comando responsável pelo gerenciamento de todos os outros
macro comandos.
DADOS: responsável pela entrada de dados, ativando as subrotinas que efetuam a
leitura dos dados gerais, da geometria do problema.
MATMSH: responsável pela leitura das distribuições e propriedades dos
materiais do modelo.
DATBOU: macro-comando que realiza a leitura das condições iniciais, a partir de
um arquivo-texto independente que contem valores iniciais de carga de pressão ou
de carga hidráulica para todos os nós da malha de elementos finitos.
DIRICHLET: controla a leitura das condições de contorno primárias (também
chamadas de Dirichlet), as quais podem ser admitidas constantes ou variáveis no
tempo.
NEWMAN: controla a leitura dos valores de fluxo normal prescrito no contorno
(condições de contorno de Newman) e também calcula a correspondente vazão
nodal equivalente se a vazão for distribuída.
SOLVE_T: ativa a subrotina COEFS para a solução do sistema de equações do
problema e apresentação dos resultados assim calculados.
FEXEC: responsável pela finalização do programa.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 42
3.2.2. Fluxograma básico
A figura 3.1 mostra um fluxograma básico do programa GEOFLUX3D
desenvolvido nesta dissertação:
Figura 3.1 – Fluxograma básico do programa GEOFLUX3D.
Apresentam-se a seguir as características das principais subrotinas
empregadas pelo programa:
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 43
ABRE: responsável pela abertura dos arquivos do tipo texto de entrada (*.D).
DADOS: responsável pela leitura dos dados gerais via arquivo texto (*.D);
DATMSH: responsável pela leitura dos dados geométricos (coordenadas dos nós
e conectividades dos elementos) via arquivo texto (*.flavia.msh);
DATMAT: responsável pela leitura de dados e distribuição dos materiais no
domínio do problema via arquivo texto (*.D);
DATBOU: responsável pela leitura das condições iniciais via arquivo texto
(*.INI) contendo a distribuição das cargas de pressão ou das cargas hidráulicas
totais no tempo t = 0;
DATBOUI: responsável pela leitura das condições de contorno, via arquivo texto
(*.D), em termos de cargas de pressão prescritas, cujos valores podem ou não
variar com o tempo. Esta subrotina foi modificada em relação à versão inicial do
GEOFLUX e será discutida em detalhe no próximo item desta seção;
SEEPAGE: responsável pela leitura, via arquivo texto (*.D), dos nós
inicialmente sem condição de contorno prescrita, mas que com o tempo e sob
determinadas circunstâncias, podem sofrer a imposição de cargas de pressão
prescritas (valores nulos) com o propósito de definir uma superfície de fluxo livre
em problemas não-confinados. Esta nova subrotina implementada no
GEOFLUX3D será também apresentada em detalhe no item 3.2.3;
Q_DIST: responsável pela leitura das condições de contorno em termos de fluxo
normal prescrito, via arquivo texto (*.D), e pelo cálculo do vetor de vazão nodal
equivalente, cujos valores podem ou não variar com o tempo;
Q_POIN: responsável pela leitura da vazão nodal prescrita via arquivo texto
(*.D);
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 44
CALCOEFS: responsável pelo gerenciamento do processo de solução no tempo e
no espaço, considerando iterações para obtenção da solução não-linear. Esta
subrotina é considerada a principal do programa e será discutida com suas
respectivas modificações em detalhe no item 3.2.4;
GIDVIEW: responsável pela impressão dos resultados: cargas nodais, gradientes
e velocidades, no formato exigido para o pós-processamento através do utilitário
GID (*.flavia.res);
FEXEC: responsável pela finalização da análise.
3.2.3. Comando DATBOUI
O comando DATBOUI define as condições de contorno em termos da
variável primária (carga hidráulica). Na versão original do GEOFLUX estas
condições eram consideradas fixas durante a simulação. O GEOFLUX3D oferece
a alternativa de mudar essas condições de contorno no tempo. Os nós pertencentes
ao contorno, com suas respectivas cargas hidráulicas iniciais e a função que define
sua variação no tempo, tem que ser listados na utilização deste comando.
Esta mudança das condições de contorno primárias pode ser aplicada, por
exemplo, quando se deseja simular o enchimento ou o rebaixamento rápido do
reservatório de uma barragem. Neste caso, os nós com condição de contorno
variável são aqueles pertencentes à face do talude da montante, como mostrado
na figura 3.3, onde as condições de contorno variam no tempo, de acordo com a
posição do nível de água no reservatório.
Figura 3.2 – Exemplo de aplicação da variação de condição de contorno primária.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 45
3.2.4. Comando SEEPAGE
O comando SEEPAGE refere-se a valores de contorno que variam de
acordo com as condições de fluxo durante a simulação. Devem ser listados os nós
que definem as superfícies através das quais a água possa fluir para o exterior do
domínio do problema.
Esta condição SEEPAGE pode ser acionada, por exemplo, quando ocorre
fluxo através do talude de jusante de uma barragem, onde a posição final da linha
freática é desconhecida (figura 3.3). Nesta figura, admitem-se conhecidas as
cargas hidráulicas no talude da montante (4,5 m) e no talude da jusante (1,0 m),
procurando-se então determinar a posição da linha freática em um determinado
instante de tempo com auxílio da condição de contorno SEEPAGE aplicada na
face de jusante.
Figura 3.3 – Exemplo de aplicação da condição de contorno de fluxo livre SEEPAGE.
Nos segmentos de superfície sob a condição SEEPAGE, o programa
GEOFLUX3D assume uma carga de pressão nula quando tais segmentos estão na
condição saturada (SEEPAGE ATIVO) ou um fluxo normal nulo quando estes
estão na condição não-saturada (SEEPAGE INATIVO).
Na figura 3.4 são mostrados os nós que formam os segmentos de superfície
considerados sob condições de contorno SEEPAGE ATIVO / INATIVO, assim
como as linhas equipotenciais na condição de fluxo permanente no caso da
barragem mostrada na figura 3.3.
Como o número de segmentos de superfície sob condição SEEPAGE
ATIVO sofre variação durante a simulação transiente do problema de fluxo, o
processo de cálculo é necessariamente de natureza não-linear.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 46
Figura 3.4 – Resultados do GEOFLUX3D aplicando condição de contorno SEEPAGE.
3.2.5. Comando CALCOEFS
O comando CALCOEFS esquematizado na figura 3.5 é responsável pela
resolução do problema de fluxo, no espaço e no tempo, e pelo tratamento da não-
linearidade do processo utilizando as seguintes subrotinas:
PSIO: Constrói o vetor global de cargas de pressão ψ0 iniciais;
COEFS: Monta os termos da equação (2.32), iniciando um processo iterativo de
acordo com o método de Picard atualizando as variáveis primárias (cargas de
poropressão) até atingir um critério de convergência. Maiores detalhes desta
subrotina nos itens 3.5, 3.6 e 3.7;
SOLVE: Resolve o sistema representado pela equação matricial (2.32), iniciando
com um esquema de armazenamento espacial da matriz esparsa e em seguida
resolvendo pelo método de gradiente bi-conjugado. Maiores detalhes desta
subrotina no item 3.8;
RESULT: Controla a saída dos resultados para o pós-processamento;
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 47
Figura 3.5 – Fluxograma básico do comando CALCOEFS.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 48
3.3. Discretização no espaço
3.3.1. Elemento TRI3
O elemento TRI3, de aproximação linear para as cargas de pressão, é
utilizado nas análises bidimensionais. Como mencionado anteriormente, optou-
se por este tipo de elemento por ser de fácil implementação numérica e extrema
flexibilidade de adaptação na construção de qualquer malha de elementos finitos
2D.
Figura 3.6 – Elemento TRI3.
O elemento TRI3 é ilustrado na figura 3.3 e suas respectivas funções de
interpolação (Ni), em relação ao sistema de coordenadas locais (ξ,η), são
apresentadas nas expressões abaixo:
ηηξξηξ
ηξηξ
==
−−=
),(
),(
1),(
3
2
1
N
N
N
(3.1)
3.3.2. Elemento TETR4
O elemento TETR4, também de aproximação linear da variável primária
(cargas de pressão), é utilizado nas análises de fluxo tridimensionais.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 49
Figura 3.7 – Elemento TETR4.
O elemento TETR4 é ilustrado na figura 3.4 e suas respectivas funções de
interpolação (Ni), em relação ao sistema de coordenadas locais (ξ,η,ζ), são
expressas na equação (3.2); :
ζζηξηζηξξζηξ
ζηξζηξ
===
−−−=
),,(
),,(
),,(
1),,(
4
3
2
1
N
N
N
N
(3.2)
3.4. Discretização no tempo
Reescrevendo-se a equação (2.32) com o termo dependente do tempo à
esquerda do sinal de igualdade,
'QQHt
F −+⋅−=∂∂
⋅ ψψ (3.3)
Assumindo-se que nessa equação ψ =ψ (t) e integrando-se no elemento,
dtQQHdFt
∫∫ −+⋅−=⋅ ]'[ ψψψ
(3.4)
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 50
Aplicando-se o método das diferenças finitas, onde o tempo total é
subdividido em intervalos de tempo ∆t = tn+1 - tn, e supondo ainda uma variação
linear das matrizes F , H , Q e Q ’ dentro desse intervalo ∆t, pode-se então
adotar as seguintes aproximações para cada um dos termos na equação (3.4).
(Hageman e Young, 1981)
)(1
1nn
FdFn
n
ψψψψ
ψ
−⋅=⋅+
∫+
(3.5)
])1([11
1nnnn
t
t
HHtdtHn
n
ψαψαψ ⋅⋅−+⋅⋅⋅∆=⋅⋅++
∫+
(3.6)
)]'()1()'([)'( 11
1
nn
nn
t
t
QQQQtdtQQn
n
−⋅−+−⋅⋅∆=⋅− ++
∫+
αα (3.7)
Introduzindo-se na equação (3.4) as expressões (3.5), (3.6) e (3.7), resulta a
seguinte equação após rearranjo dos termos:
)]')(1()'(])1([)( 111
1 nn
nnnnn
nQQQQH
t
FH
t
F−−+−+−−
∆=⋅+
∆++++ ααψαψα (3.8)
onde n representa o passo de tempo anterior (resultados conhecidos) e n+1 o passo
de tempo corrente (variável primária desconhecida). O coeficiente α é aquele que
define o tipo de algoritmo no tempo, poendo variar entre os valores 0 a 1. Para α
= 0 tem-se um esquema explícito, para α = 0.5 resulta no esquema de Crank-
Nicolson e para α = 1 tem-se o esquema puramente implícito (diferenças finitas
descendentes).
3.5. Método de Picard modificado
De acordo com Paniconi (1991) a equação de Richards é altamente não-
linear devido às características das funções de condutividade hidráulica e da
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 51
capacidade de retenção específica, que por sua vez são dependentes das cargas de
pressão e dos teores de umidade volumétricos.
Segundo Neuman (1973), o esquema puramente implícito (α = 1) é o que
melhor se aplica a problemas que possuem, no seu domínio, fluxo em condições
não-saturada e saturada. Adotando esse critério na equação 3.8; chega-se à
seguinte equação:
1111
')( ++++−+⋅
∆=+
∆n
nnnn
QQt
FH
t
F ψψ (3.9)
para cuja solução são utilizados métodos iterativos, dentre os quais os mais
conhecidos são os métodos de Newton-Raphson e o de Picard.
O método de Picard, conhecido também como método das aproximações
sucessivas, tem entre suas principais vantagens a facilidade de implementação
(bem mais simples do que o método de Newton-Raphson), a manutenção da
simetria do sistema de equações e um menor custo computacional para cada
iteração. Porém, pode apresentar problemas de convergência em problemas
altamente não lineares, conforme reportado por Paniconi et al.,1991.
O método de Picard é definido de acordo com o seguinte algoritmo
baseado na equação (3.9), onde m representa à iteração anterior e m+1 à iteração
corrente.
mnmnn
mnmnmn
mn
QQt
FH
t
F ,1,1
,11,1,1
,1
')( +++
++++
−+⋅∆
=+∆
ψψ (3.10)
Célia et al. (1990) introduziram o método de Picard Modificado, escrito de
forma mista e considerando, na equação de fluxo, termos de carga de pressão e de
teor de umidade volumétrico, já que a solução numérica baseada na equação de
Richards, expressa somente em termos de carga de pressão, geralmente produz
resultados insatisfatórios caracterizados por erros na conservação de massa. A
formulação mista, por outro lado, minimiza os erros no balanço de massa, ainda
que este fato, por si só, não seja suficiente para garantir a obtenção de uma boa
solução numérica.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 52
Adotou-se no desenvolvimento do GEOFLUX3D o método de Picard
Modificado, cuja formulação é similar ao algoritmo da equação (3.10),
acrescentada de mais um termo dependente do teor de umidade volumétrico no
lado direito, precisamente aquele que procura minimizar os erros de conservação
de massa, como mostrado a seguir:
tFQQ
t
FH
t
Fnmn
mnmnmn
mnmnmn
mn
∆−
⋅+−+⋅∆
=+∆
+
++++
++++
θθψψ θ
,1
,1,1,1
,11,1,1
,1
')( (3.11)
em que
∫Ω
Ω⋅=e
ei dNFθ . (3.12)
Como pode ser observado na equação (3.11), diferentemente do método de
Picard da equação (3.10), o vetor de cargas de pressão não é mais aquele vetor que
era conhecido no passo de tempo anterior, e sim o vetor de cargas de pressão
calculado na iteração anterior, tendo que ser atualizado em todas as iterações até
atingir a solução dentro do limite de erro relativo previamente estabelecido.
Neuman (1973) sugere que o cálculo dos coeficientes F, H, Q e Q’ seja
efetuado no ponto médio do intervalo de tempo, resultando em
tFQQ
t
FH
t
Fnmn
mnmnmn
mn
mnmn
mn
∆−
⋅+−+⋅∆
=+∆
++++
++++
+θθ
ψψ θ
,2
1
,2
1,
2
1,
2
1,2
1
1,1,2
1,2
1
')( (3.13)
Definindo-se
)(,
2
1,2
1
,2
1mn
mnmn
Ht
FD
++
++
∆= (3.14)
tFQQ
t
FR
nmnmnmnmn
mn
mn
∆−
⋅+−+⋅∆
=+
++++
+ θθψ θ
,2
1
,2
1,
2
1,
2
1,
2
1
,2
1
' (3.15)
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 53
e substituindo-as na equação matricial 3.13, obtém-se então a equação (3.16), que
constitui o sistema de equações a ser resolvido em cada iteração até que seja
atingido o critério de convergência.
mnmnmn
RD,
2
11,1,
2
1++++
=⋅ψ (3.16)
3.6. Critério de convergência
Neste trabalho foi adotado como critério de convergência o algoritmo
proposto por Gerscovich (1994), que utiliza o método de Picard baseado nas
propostas de Neuman (1973) e de Huyakorn e Pinder (1983). Este critério foi
também empregado por Machado Jr. (2000) na versão original do GEOFLUX.
Neste algoritmo, uma primeira aproximação para a carga de pressão é
calculada a partir da condição inicial:
0,2
1,
ψψψ ==+ mnmn
(3.17)
Em seguida, uma segunda aproximação mn ,1+
ψ é cálculada através de uma
extrapolação linear :
)(2,
2
1,1 nmnnmn
ψψψψ −+=++
(3.18)
Com o vetor de carga de pressão da equação (3.18) entra-se na equação
(3.16) e calcula-se um novo vetor de cargas de pressão representado por 1,1 ++ mn
ψ ,
que em seguida é verificado pelo critério de convergência definido por:
Tolerânciamn
mnmn
≤−
++
+++
1,1
,11,1
ψ
ψψ (3.19)
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 54
na qual:
∑= 2
iψ (3.20)
denota a norma Euclidiana do vetor ψi.
Se o critério de convergência não for satisfeito, então o valor de 1,
2
1++ mn
ψ é
atualizado através de
2
2
,2
11,1
1,2
1
mnnmn
mn
+++
+++
+
=ψψψ
ψ (3.21)
Com este novo valor de 1,
2
1++ mn
ψ reavaliam-se os coeficientes da equação
(3.16), obtém-se uma nova aproximação para 1,1 ++ mn
ψ , e mais uma vez o critério
de convergência na equação (3.19) é verificado. Esse processo é repetido até que o
critério de convergência seja satisfeito, quando então o valor de 1,
2
1++ mn
ψ é
finalmente calculado como
2
1,11,11,
2
1 nmnmnmn ψψψψ −
+=++
++++ (3.22)
Concluído o ciclo iterativo, atualiza-se o valor de n
ψ
1,1 ++=
mnn
ψψ (3.23)
e continua-se à marcha no tempo.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 55
3.7. Matrizes e vetores
Neste item são apresentadas as matrizes B, H e F , assim como os vetores
Q , 'Q e θF utilizados na equação (3.13). Apresentam-se ainda o processo de
determinação da matriz de condutividade hidráulica )(ψK e do coeficiente de
retenção específica C(ψ).
Todas as matrizes e vetores foram avaliados para análises tridimensionais
utilizando o elemento tetraédrico TETR4. e modo análogo, mas simplificado,
podem ser obtidas as correspondentes matrizes e vetores para o elemento
triangular TRIA3 utilizado em análises de fluxo 2D.
3.7.1. _ Matriz B
O operador diferencial para problemas tridimensionais pode ser escrito
como:
∂∂∂∂∂∂
=∇
z
y
x
(3.24)
e a matriz das funções de interpolação para elementos tetraédricos como
=
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
4321
4321
4321
ζηξζηξζηξζηξ
ζηξζηξζηξζηξ
ζηξζηξζηξζηξ
NNNN
NNNN
NNNN
N (3.25)
Substituindo as equações (3.24) e (3.25) na equação (2.30) tem-se:
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 56
∂∂∂∂∂∂
=
z
y
x
B
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
4321
4321
4321
ζηξζηξζηξζηξ
ζηξζηξζηξζηξ
ζηξζηξζηξζηξ
NNNN
NNNN
NNNN
(3.26)
Fazendo-se uma transformação de coordenadas globais para coordenadas
locais, com a aplicação da regra da cadeia do cálculo diferencial e rearranjando-se
os termos resulta em
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
=×
ζζηξ
ζζηξ
ζζηξ
ζζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ξζηξ
ξζηξ
ξζηξ
ξζηξ
ζηξ
ζηξ
ζηξ
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
4321
4321
4321
43
NNNN
NNNN
NNNN
zzz
yyy
xxx
B
(3.27)
Aplicando o conceito da matriz Jacobiana, responsável pela transformação
das derivadas espaciais em relação do sistema de coordenadas global para o
natural de coordenadas (ξ,η,ζ), vem:
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
=×
444
333
222
111
4321
4321
4321
33
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
zyx
zyx
zyx
zyx
NNNN
NNNN
NNNN
J
ζζηξ
ζζηξ
ζζηξ
ζζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ξζηξ
ξζηξ
ξζηξ
ξζηξ
(3.28)
onde (xi, yi, zi), representa as coordenadas globais dos nós do tetraedro mostrado
na figura 3.4 .
A inversa da matriz Jacobiana é dada pela equação:
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 57
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
=×−
zzz
yyy
xxx
J
ζηξ
ζηξ
ζηξ
331
(3.29)
que substituída na equação (3.27) produz:
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
∂∂
= −××
ζζηξ
ζζηξ
ζζηξ
ζζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ηζηξ
ξζηξ
ξζηξ
ξζηξ
ξζηξ
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
),,(),,(),,(),,(
4321
4321
4321
1
3343
NNNN
NNNN
NNNN
JB
(3.30)
Aplicando-se, finalmente, as correspondentes funções de interpolação para o
elemento TETR4, definidas na equação (3.2), tem-se finalmente
−
−
−
−
−
−
=
−
×
1001
0101
0011
1001
0101
0011
1
444
333
222
111
43
zyx
zyx
zyx
zyx
B
(3.31)
onde se nota que a matriz B é função única das coordenadas globais dos nós do
elemento.
3.7.2. _ Matriz H
A matriz H, denominada matriz de fluxo, resulta da integral apresentada na
equação (2.33). Efetuando-se a transformação do sistema de coordenadas tem-se
ζηξψηξξ
dddJBKBHT ⋅⋅⋅⋅⋅⋅= ×××
−−−
× ∫∫∫ 433334
1
0
1
0
1
0
44 )( (3.32)
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 58
onde J é o determinante da matriz jacobiana, e )(ψK é a matriz de
condutividade hidráulica, cuja determinação será discutida posteriormente.
A integração da equação (3.32) pode ser obtida analiticamente para
tetraedros com 4 nós, pois a matriz B é constante no elemento. Logo,
6)( 43333444
JBKBH
T ⋅⋅⋅= ×××× ψ (3.33)
3.7.3. _ Matriz F
A matriz F resulta da integral apresentada na equação (2.37) que, em
coordenadas locais, é expressa por:
ζηξψδηξξ
dddJNCF i
e
iji ⋅⋅⋅⋅⋅⋅= ∫∫∫∑−−−
×
1
0
1
0
1
0
,44 )( (3.34)
onde ji,δ é o delta de Kroenecker e Ci(ψ) é a capacidade de retenção específica
avaliada no nó i, cuja determinação também será discutida posteriormente.
24)(,44
JCF iji ⋅⋅=× ψδ (3.35)
3.7.4. _ Vetor Q
Vetor que representa às vazões nodais impostas como condição de contorno
prescritas (condição de Newman), expresso pela integral apresentada na equação
(2.34). O vetor Q pode ser especificado diretamente como entrada de valor nodal
ou facilmente calculado quando representado de forma distribuída sobre a face do
elemento.
No GEOFLUX3D, quando o fluxo for distribuído e imposto na direção
normal à face do elemento, o valor da vazão nodal será dado pela taxa de fluxo
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 59
(L3/T/L
2) multiplicada pela área da respectiva face (L
2) e dividido finalmente pelo
numero de nós (3) ligados à face em questão do elemento TETR4.
3.7.5. _ Vetor Q’
O vetor 'Q incorpora uma parcela de vazão relacionada com efeitos
gravitacionais (carga de elevação) e é definido pela integral apresentada na
equação (2.35).
Com a transformação do sistema de coordenadas, a equação em termos de
coordenadas locais é escrita como :
ζηξψηξξ
dddJeKBQT ⋅⋅⋅⋅⋅⋅= ×××
−−−
× ∫∫∫ 133334
1
0
1
0
1
0
14 )(' (3.36)
cuja solução é dada por:
6)(' 13333414
JeKBQ
T ⋅⋅⋅= ×××× ψ (3.37)
Onde:
=×
0
10
13e (3.38)
3.7.6. _
Vetor Fθθθθ
Vetor definido pela integral apresentada na equação (3.12), cuja solução
analítica é dada por:
24
1
1
1
1
14
JF ⋅
=×θ (3.39)
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 60
3.7.7. _
Matriz de condutividade hidráulica K (ψψψψ)
Para o caso mais geral, na análise de fluxo 3D em um meio anisotrópico,
K (ψ) representa uma matriz (3x3) com nove componentes não-nulas. Assumindo
o tensor como simétrico, é possível definir em qualquer ponto do domínio de
fluxo um sistema de coordenadas locais para o qual K (ψ) é diagonal.
O GEOFLUX3D permite variar a orientação das direções principais de
fluxo nos elementos, aplicando-se uma rotação nos eixos locais de coordenadas de
modo que se tornem coincidentes com as direções principais do tensor de
condutividade hidráulica.
As componentes principais na condição saturada K1s, K2s, K3s, junto com os
co-senos dos ângulos formados entre as direções principais do tensor de
condutividade e os eixos do sistema global de coordenadas, devem ser
especificados.
As componentes principais K1, K2 e K3 são avaliadas em cada elemento em
função das componentes principais saturadas K1s, K2s, K3s e da carga de pressão
(ψ), caso o meio se encontre não-saturado. Para essa avaliação, o GEOFLUX3D
incorporou duas formas de análise; na primeira, utiliza-se a função de
condutividade hidráulica apresentada por Srivastava e Yeh (1991), dada pela
equação (2.7), enquanto que na segunda, faz-se uso da função de condutividade
hidráulica proposta elo modelo de van Genuchten (1980), expressa pela equação
(2.8).
Assim, as componentes principais são transformadas para o sistema de
coordenadas globais (x,y,z) no início das simulações através das seguintes
relações:
131331212211111 aaKaaKaaKK xx ++= (3.40a)
232332222212121 aaKaaKaaKK yy ++=
(3.40b)
333332323213131 aaKaaKaaKK zz ++=
(3.40c)
231332212212111 aaKaaKaaKK yx ++=
(3.40d)
331332312213111 aaKaaKaaKK zx ++=
(3.40e)
332332322213121 aaKaaKaaKK zy ++=
(3.40f)
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 61
onde ai j representa o co-seno do ângulo formado entre a direção principal i da
matriz K (ψ) e o eixo j do sistema de coordenadas globais.
3.7.8.
Capacidade de retenção específica C(ψψψψ)
Para o tratamento da capacidade de retenção específica na zona não-
saturada, apresentam-se também duas alternativas: a primeira, obtendo-se a
capacidade de retenção específica a partir do modelo de Srivastava e Yeh (1991),
ψααθθψθψ ⋅⋅⋅−== exp
exp)()( ed
dC rs (3.41)
Na segunda alternativa, definindo-se a capacidade de retenção específica
com base no modelo de van Genuchten (1980),
( ) 1
1
)(1
)()()(
+
−
⋅+
⋅⋅−⋅⋅⋅==
pq
vg
q
vgrsvg qp
d
dC
ψα
ψαθθαψθψ (3.42)
Para a zona saturada e para a zona de ascensão capilar a capacidade de
retenção específica é normalmente nula. Porém, é conveniente considerar um
valor de C(ψ) diferente de zero para estas regiões, mas bastante baixo, com o
propósito de evitar dificuldades de origem numérica.
Paniconi et al. (1991) destacam que numericamente uma capacidade de
retenção específica diferente de zero preserva o caráter parabólico da equação
diferencial, superando portanto dificuldades na convergência que podem surgir
caso a equação se torne elíptica tanto na região residual quanto na de saturação e
as condições de contorno naturais não forneçam uma solução única. Valores de
capacidade de retenção específica não nulos são necessários para evitar uma
singularidade na interface entre as regiões saturada e não-saturada conforme
observado por Machado Jr. (2000). Portanto, adota-se para a zona saturada, para a
zona de ascensão capilar e ainda para a região de saturação residual um valor de
C(ψ) bastante pequeno, mas diferente de zero. Nos exemplos estudados nesta
dissertação considerou-se um valor da ordem de 10-10
.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 62
3.8. Armazenamento de dados e solução do sistema de equações
A equação matricial (3.16) tem que ser resolvida em cada iteração. Para
análises 3D são geradas uma enorme quantidade de equações, dependendo da
quantidade de nós que compõem a malha de elementos finitos e do tipo de
elemento empregado. No caso do elemento TETR4, conforme já mencionado, é
necessário uma discretização espacial e temporal bastante pormenorizada.
A matriz dos coeficientes representada por D na equação 3.16 é esparsa,
visto que nem todos os nós são interconectados entre si, sendo a maioria dos
elementos desta matriz nulos. Procura-se então um sistema de armazenamento
eficiente a fim de economizar espaço na memória e agilizar o tempo de
processamento.
No programa GEOFLUX3D implementou-se um sistema de armazenamento
bastante versátil, onde a matriz de coeficientes D constituída por um número de
coeficientes igual ao quadrado do número de nós (ne x ne), foi armazenada em
outras duas matrizes denominadas Posic (nne x 50) e MatVal (nne x 50), onde nne
denota o número de coeficientes não nulos. A matriz Posic contém os indicadores
das posições dos coeficientes não nulos (nne) da matriz D , enquanto que a
matriz MatVal contem propriamente os valores dos coeficientes.
Após o preenchimento de ambas as matrizes, se procede então à solução do
sistema de equações pelo método do gradiente bi-conjugado. constatando-se que
os tempos para a solução do sistema de equações são muito rápidos, mesmo com
sistemas de equações de grande porte.
Com a finalidade de esquematizar a técnica de implementação do algoritmo
e as vantagens da opção de armazenamento da matriz esparsa nas matrizes Posic e
MatVal, apresenta-se a seguir um exemplo com a malha simplificada da figura
3.8, que contém 6 nós, denotados por Ο, formando 4 elementos triangulares,
denotados por ∆.
A tabela 3.1 apresenta as incidências nodais de todos os elementos.
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 63
Figura 3.8 – Malha de elementos finitos simplificada.
Tabela 3.1 – Incidência nodal dos elementos da malha simplificada.
Elementos Incidências nodais
1 1 3 2
2 1 4 3
3 4 5 3
4 4 6 5
Observando-se as incidências nodais, a tabela 3.2 pode ser construída para a
montagem da matriz Posic, onde a primeira coluna representa os nós principais,
em ordem ascendente, e as colunas seguintes representam os nós com os quais
aqueles são interligados.
Tabela 3.2 – Montagem da matriz Posic.
Nó principal Nós ligados ao nó principal
1 3 2 4 -
2 1 3 - -
3 1 2 4 5
4 1 5 3 6
5 4 3 6 -
6 4 5 - -
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 64
Assim, com base na tabela 3.2 a matriz Posic, da figura 3.9, pôde ser obtida,
onde a primeira coluna indica o número de posições não-nulas nessa linha da
matriz, a segunda coluna representa os nós principais da malha e as colunas
seguintes os nós interligados com os nós principais. Cabe apontar que neste
exemplo a quantidade de nós (ne) é igual ao número de coeficientes não-nulos da
matriz esparsa (nne) já que não foram prescritas condições de contorno nulas em
nenhum dos nós.
Figura 3.9 – Matriz Posic construída para a malha simples da figura 3.8
A matriz MatVal (figura 3.10) armazena os valores da variável nos pontos
nodais principais (segunda coluna) e interligados (colunas sucessivas) indicados
na matriz Posic (figura 3.9).
Figura 3.10 – Matriz MatVal construída para a malha simples a figura 3.8
GEOFLUX3D - Implementação Computacional 65
Nota-se que para este exemplo seriam reservados na memória do
computador um total de 502 ×× ne posições enquanto que armazenando-se toda a
matriz esparsa D seriam necessárias nene × posições.
Assim, é possível determinar-se o valor de ne para o qual a técnica de
armazenamento apresentada é a mais indicada e eficiente,
nenene ×=×× 502 (3.43)
Resolvendo, obtém-se ne = 100, o que significa que para malhas contendo
uma quantidade de nós superior a 100, o método de armazenamento em duas
matrizes otimiza as posições ocupadas de memória e resultando num
processamento mais rápido do sistema de equações.
Exemplos de Verificação 66
4 Exemplos de verificação
Neste capitulo são apresentados exemplos para verificar o programa
computacional desenvolvido para fluxo 3D em meios porosos saturados ou não-
saturados, nas condições de regime de fluxo transiente ou permanente. Esses
exemplos foram testados por Machado (2000) para validação do GEOFLUX na
sua versão original, utilizando malhas bidimensionais.
São também feitas comparações entre resultados numéricos e valores
analíticos da solução da equação de Richards, estes últimos obtidos por Srivastava
e Yeh, (1991), para situação 1D, e Warric e Lomen (1976), para situação 2D.
Cabe observar aqui que não se validou o código com domínios genéricos
tridimensionais, já que não foi possível encontrar na literatura soluções analíticas
para domínios 3D. No próximo capítulo, resultados de exemplos de aplicação são
comparados com soluções numéricas 3D obtidos pelo programa computacional
GEOFLUX3D e similares.
As evoluções dos contornos de poropressão no espaço e no tempo
determinados pelo programa GEOFLUX3D mostraram-se bastante próximas às
soluções analíticas, indicando que a solução do problema não-linear pelo método
de Picard modificado é algoritmo bastante eficiente para este tipo de problema.
4.1. Fluxo transiente unidimensional
São apresentados exemplos de fluxo em regime transiente unidimensional
através de colunas formadas por um e dois materiais, cujas soluções analíticas
foram obtidas por Srivastava e Yeh (1991). Para as simulações numéricas no
GEOFLUX3D empregou-se o modelo exponencial para a descrição das curvas
características dos solos não-saturados.
Exemplos de Verificação 67
4.1.1. Infiltração e drenagem em uma coluna de solo constituída por um único material
A primeira análise corresponde ao processo de infiltração devido a uma
condição de fluxo 1D prescrito no valor de 0,009 m/h no topo de uma coluna de
solo de um metro de altura constituída de um único material, como mostrado na
figura 4.1. Também é apresentada nesta figura a malha de elementos finitos
adotada (222 nós e 668 elementos do tipo TETR4) juntamente com as condições
de contorno e a condição inicial do problema. Os valores selecionados para as
propriedades do material são os apresentados na Tabela 4.1.
Tabela 4.1 – Infiltração em uma coluna de solo constituída de um único material -
parâmetros do modelo exponencial. (Srivastava e Yeh, 1991).
αexp Ks (m/h) θr θs
1.0 0,01 0,20 0,45
Figura 4.1 - Infiltração em uma coluna de solo constituída de um único material – malha
de elementos finitos e valores das condições iniciais e de contorno.
Exemplos de Verificação 68
A condição inicial desse processo de infiltração, indicada na Figura 4.1, é
igual à condição estacionária estabelecida a partir de uma análise preliminar
indicada na figura 4.2. Esta análise preliminar consiste na simulação de um
processo de infiltração devido a um fluxo de 0,001m/h prescrito no topo da coluna
sendo a mesma sujeita, inicialmente, a uma distribuição de carga hidráulica total
nula, como indicado na Figura 4.2.
Figura 4.2 - Infiltração em uma coluna de solo constituída de um único material - análise
preliminar.
O tempo foi discretizado em 1000 passos de tempo de 0,1 horas de duração
até atingir a condição de regime permanente depois de 100 horas. Adotou-se para
o tratamento da não-linearidade uma tolerância de 1% e um máximo de 50
iterações para atingir esta convergência.
A velocidade de processamento foi muito rápida, com toda a simulação
executada em menos de 1 minuto de processamento. Os resultados computados
pelo GEOFLUX3D são apresentados na figura 4.3 em termos da distribuição da
carga de pressão no tempo e no espaço. A partir desta figura pode-se notar que a
Exemplos de Verificação 69
solução numérica apresentou uma excelente concordância com a solução analítica
(Srivastava e Yeh, 1991) para todos os instantes de tempo avaliados.
A condição estacionária para este problema foi observada em
aproximadamente 100 horas. Cabe ressaltar que a camada de solo não atingiu a
saturação completa, ou seja, a velocidade de fluxo imposta não foi suficiente para
saturar a camada de solo. Para isto, seria necessária a aplicação de uma velocidade
de fluxo prescrita maior do que o valor da condutividade hidráulica saturada.
Figura 4.3 – Infiltração em uma coluna de solo constituída de um único material –
resultados numéricos e analíticos.
O segundo exemplo analisado corresponde ao processo de drenagem da
mesma coluna de solo, desta vez prescrevendo-se um fluxo de 0,001 m/h no topo
da camada, como indicado na figura 4.4. A condição inicial corresponde à
distribuição das pressões finais obtidas para condição estacionária no processo
anterior de infiltração. O material, a discretização do tempo, o tipo de marcha no
tempo e os parâmetros para o tratamento da não-linearidade são iguais aos do
primeiro exemplo.
Exemplos de Verificação 70
Figura 4.4 - Drenagem em uma coluna de solo constituída de um único material – malha
de elementos finitos e valores das condições iniciais e de contorno.
Os resultados obtidos são apresentados na figura 4.5 em termos da
distribuição no tempo e no espaço da carga de pressão. Observa-se novamente
uma boa concordância entre os resultados das soluções numérica e analítica
(Srivastava e Yeh, 1991), em todos os instantes de tempo avaliados.
A condição estacionária foi obtida em aproximadamente 100 h. Ou seja, a
drenagem da camada de solo ocorreu no mesmo período de tempo que o processo
de infiltração. A distribuição das cargas de pressão no regime permanente é
praticamente a distribuição inicial de pressões utilizada no processo de infiltração.
Exemplos de Verificação 71
Figura 4.5 – Drenagem em uma coluna de solo constituída de um único material –
resultados numéricos e analíticos.
4.1.2. Infiltração e drenagem em uma coluna de solo constituída por dois materiais
O exemplo adota a mesma estratégia de solução do exemplo anterior (único
solo), ou seja, analisa-se inicialmente o processo de infiltração devido a um fluxo
prescrito no topo da coluna de solo e, em seguida, investiga-se o processo de
drenagem desta coluna devido à variação do fluxo imposto. A diferença com os
exemplos do item 4.1.1 é que desta vez o solo é constituído por dois materiais
com diferentes condutividades hidráulicas.
A primeira situação estudada é o processo de infiltração devido a um fluxo
prescrito de 0,009 m/h imposto no topo da coluna de dois metros de altura,
formada por dois materiais, como indicado na figura 4.6. Apresenta-se também
nesta figura a malha de elementos finitos utilizada (429 nós e 1314 elementos tipo
Exemplos de Verificação 72
TETR4) juntamente com as condições de contorno e a condição inicial do
problema. Esta condição inicial foi definida, de maneira análoga à apresentada no
item 4.1.1, sendo igual à condição em regime permanente obtida a partir da
simulação prévia de um fluxo prescrito de 0.001 m/hr no topo da coluna.
Figura 4.6 - Infiltração em uma coluna de solo constituída de dois materiais – malha de
elementos finitos e valores das condições iniciais e de contorno.
Os valores adotados para as propriedades dos materiais são apresentados na
tabela 4.2. Cabe observar que Srivastava e Yeh (1991) empregaram uma única
curva de retenção de água para materiais diferentes. O fato aparentemente não
traz inconvenientes numéricos, porém é fisicamente inconsistente.
Exemplos de Verificação 73
Tabela 4.2 – Infiltração e drenagem em uma coluna de solo constituída de dois materiais
- parâmetros do modelo exponencial. (Srivastava e Yeh, 1991)
Material αexp Ks (m/h) θr θs
1 (camada superior) 10,0 0,10 0,06 0,40
2 (camada inferior) 10,0 0,01 0,06 0,40
O tempo foi discretizado em 1000 passos com 0,1 horas de duração até
atingir a condição de regime permanente após 100 horas. Adotou-se para o
tratamento da não-linearidade uma tolerância de 1 % , com número máximo de
iterações igual a 50.
Os resultados fornecidos pelo programa GEOFLUX3D são apresentados na
figura 4.7. Mais uma vez, uma concordância satisfatória entre resultados das
soluções numérica e analítica (Srivastava e Yeh, 1991) foi observada para todos
os instantes de tempo analisados.
Figura 4.7 - Drenagem em uma coluna de solo constituída de dois materiais – resultados
numéricos e analíticos.
Exemplos de Verificação 74
Cabe observar que a velocidade de fluxo (0,009m/h) imposta no topo da
coluna é aproximadamente um décimo do valor da condutividade hidráulica
saturada (0,1m/h) do material da camada superior de solo. Isso indica que esta
camada, mesmo ao atingir o regime de fluxo permanente, não se encontrará
totalmente saturada, enquanto que a camada inferior, com condutividade
hidráulica saturada de 0,01m/h, aproximadamente igual à velocidade de fluxo
prescrito, atingirá o regime de fluxo permanente com saturação bastante próxima
a 100%.
A segunda situação analisada corresponde ao processo de drenagem desta
mesma coluna de solo, devido à variação do fluxo prescrito no topo da camada de
0,009 m/h para 0,001 m/h. A condição inicial indicada na figura 4.8, é igual à
distribuição de poropressões obtida na condição estacionária do processo de
infiltração. Os materiais, a discretização do tempo, o tipo de marcha no tempo e os
parâmetros para o tratamento da não-linearidade são também iguais.
Figura 4.8 - Drenagem de uma coluna de solo constituída de dois materiais – malha de
elementos finitos e valores das condições iniciais e de contorno.
Exemplos de Verificação 75
Os resultados obtidos são apresentados na figura 4.9 em termos da
distribuição, no espaço e no tempo, da carga de pressão. A partir dessa figura,
pode-se observar que existe uma boa concordância entre a solução numérica e a
solução analítica obtida por Srivastava e Yeh (1991) para todos os instantes de
tempo considerados chegando-se em regime permanente na condição inicial do
processo de infiltração analisado no item anterior.
Figura 4.9 - Drenagem em uma coluna de solo constituída de dois materiais – resultados
numéricos e analíticos.
4.2. Fluxo transiente bidimensional
Este exemplo tem como propósito validar o programa para condições
bidimensionais de fluxo, comparando-se os resultados numéricos com soluções
analíticas obtidas por Warrick e Lomem (1976).
Investiga-se o processo de infiltração em uma camada de solo sujeita a um
fluxo constante aplicado sobre uma faixa da superfície da camada, como ilustrado
Exemplos de Verificação 76
na figura 4.10. Na solução analítica do problema Warrick e Lomen (1976)
adotaram funções exponenciais semelhantes àquelas utilizadas por Srivastava e
Yeh (1991). Deste modo, na solução numérica pelo programa GEOFLUX3D, o
modelo exponencial foi utilizado na representação do comportamento hidráulico
dos solos não-saturados.
Figura 4.10 – Infiltração em uma camada de solo sujeita a um fluxo constante aplicado
numa faixa da superfície, com indicação das condições iniciais e de contorno.
A figura 4.11 apresenta a malha de elementos finitos adotada (1871 nós e
9011 elementos do tipo TETR4) e a tabela 4.3 lista os valores das propriedades
dos materiais.
Tabela 4.3 – Infiltração em uma camada de solo sujeita a um fluxo constante aplicado a
uma faixa da superfície – parâmetros do modelo exponencial. (Warrick e Lomen, 1976)
αexp Ks (m/min) θr θs
4.0 0,000694 0,00 0,50
O tempo foi discretizado em 72 intervalos de 1 minuto. No tratamento da
não-linearidade adotou-se uma tolerância de 1 % e um número máximo de 50
iterações.
Exemplos de Verificação 77
Figura 4.11 – Malha de elementos finitos, utilizada para simulação da infiltração em uma
camada de solo sujeita a um fluxo constante aplicado em uma faixa da superfície.
Os resultados fornecidos pelo programa GEOFLUX3D em termos das
curvas com mesma carga de pressão (isóbaras) para dois instantes representativos
da simulação (36 e 72 minutos) são ilustrados na figura 4.12.
(a) 36 minutos (b) 72 minutos
Figura 4.12 - Evolução das cargas de pressão computadas pelo GEOFLUX3D.
Exemplos de Verificação 78
Finalmente, a figura 4.13 faz uma comparação entre as isóbaras obtidas
analítica e numericamente para os mesmos intervalos de tempo (36 min e 72 min).
Conforme pode ser verificado, a solução numérica obtida pelo programa
computacional desenvolvido nesta dissertação apresentou uma excelente
concordância com a solução analítica, tanto no espaço quanto no tempo.
(a)
(b)
Figura 4.13 - Infiltração em uma camada de solo sujeita a um fluxo constante aplicado
numa faixa da superfície – comparação dos resultados numéricos e analíticos em (a) 36
min; (b) 72 min.
Estudo de casos 79
5
Estudo de casos
5.1. Fluxo através da barragem de enrocamento Gouhou (China) com face de concreto
A barragem Gouhou estava localizada em Gonghe, na província de Qinghai,
China, como ilustrado na figura 5.1. Esta barragem de enrocamento com face de
concreto colapsou em 1993 devido à erosão interna durante a etapa de enchimento
inicial do reservatório.
Figura 5.1 – Localização da Barragem Gouhou na China.
Neste item é analisado o processo de infiltração de água através do corpo da
barragem inicialmente em condições não-saturadas, sendo considerada a
estratificação em uma zona do enrocamento.
Os resultados fornecidos pelas análises 3D na Barragem Gouhou
empregando o GEOFLUX3D são comparados com aqueles obtidos por Chen e
Estudo de casos 80
Zhang (2006) que utilizaram o programa computacional SVFLUX, mostrando
uma boa concordância entre ambos. Estes resultados também permitem apontar
uma série de importantes aspectos que não podem ser modelados em análises
tradicionais, mais simples, executadas no plano.
5.1.1. Descrição da barragem Gouhou
A barragem estava projetada para armazenar um volume de água de 3,1
milhões de metros cúbicos, contava com uma altura máxima de 71 metros e um
comprimento de crista de 265 metros na altitude de 3.281,0 metros acima do nível
do mar, como mostrado na figura 5.2. O corpo da barragem estava formado por
quatro regiões: a região I era de material de transição e suportava a face de
concreto, as regiões II e IV eram os enrocamentos principais, sendo a região III o
núcleo da barragem.
Figura 5.2 - Barragem Gouhou: (a) seção transversal A-A de altura máxima; (b) seção
longitudinal B-B vista desde montante. Unidades em metros. (Chen e Zhang, 2006)
Estudo de casos 81
De acordo com a equipe da investigação da ruptura da barragem (1996), o
nível de água do reservatório se elevou continuamente de 3261,0 m para 3277,3 m
(16,3m) em 45 dias. A água então começou a fluir dentro do corpo da barragem
através de uma junta entre o parapeito e a face de concreto (ver detalhe na figura
5.2a) e em apenas algumas horas mais tarde a água começou a emergir pela
superfície de talude de jusante na elevação de 3260 m, ocasionando o colapso da
estrutura.
5.1.2. Condições iniciais e de contorno
Uma das características da barragem de Gouhou (e possível causa do
colapso) foi a estratificação existente em uma zona do enrocamento. Para
representar esta influência na modelagem numérica, considerou-se a barragem
subdividida em 3 zonas de enrocamento, sendo a zona 2 formada por material
com condutividade hidráulica saturada muito superior às das zonas de
enrocamento 1 e 3. A figura 5.3 mostra o modelo geométrico 3D com a posição
das zonas de enrocamento e as condições de contorno utilizadas na simulação
computacional do fluxo pelo método dos elementos finitos.
Figura 5.3 - Modelo geométrico 3D e condições de contorno para a simulação de fluxo
transiente na barragem Gouhou, China. (Chen e Zhang, 2006)
O nível de água inicial foi assumido na base da barragem (3220,0m),
permanecendo assim a zona 3 submersa. Como condições iniciais considera-se
que a sucção aumenta linearmente com a elevação do nível de água, porém
Estudo de casos 82
limitada ao valor máximo de 14,2 kPa, à sucção média do enrocamento
compactado com um teor de umidade de 3.5% durante a fase de construção.
Admite-se que a face de concreto é impermeável abaixo da elevação 3.260,0
m, mas é ineficiente acima dessa elevação, fato que justifica a condição de
contorno na superfície do talude da montante definida em duas partes. A parte
superior (elevação acima de 3.260,0 m) tem carga total prescrita como condição
de contorno enquanto a parte inferior (elevação abaixo de 3260 m) tem a restrição
de fluxo nulo (impermeabilidade) como condição de contorno imposta no modelo.
A carga total é definida em relação ao nível de água na elevação 3277,3 m
correspondente à base do parapeito. A condição de fluxo nulo é também aplicada
ao longo da crista da barragem e na face de jusante da barragem, se a pressão na
superfície da face de jusante for negativa. Caso positiva, é aplicada uma condição
de fluxo livre por meio da subrotina SEEPAGE comentada no capítulo 3.
5.1.3. Propriedades dos materiais
Para esta simulação empregaram-se materiais de enrocamento diferenciados
apenas pela distribuição granulométrica, como mostrado na figura 5.4. Desta
forma, foram empregados na simulação materiais com tamanhos de distribuição
correspondente à curva média (zona 1) e materiais com tamanhos de distribuição
correspondente à curva limite inferior (zona 2). Para a fundação (zona 3) foram
empregados materiais disponíveis no leito do rio.
Figura 5.4 – Curvas de granulometria dos materiais empregados nas zonas de
enrocamento da barragem Gouhou. (Chen e Zhang, 2006)
Estudo de casos 83
As curvas de retenção para as zonas 1 e 2 (necessárias para as análises
transientes) são apresentadas na figura 5.5. A curva de retenção correspondente ao
material da zona 3 (leito do rio) não foi considerada porque esta zona permanece
saturada durante toda o processo de simulação.
(a) (b)
Figura 5.5 - Curvas características de retenção para os materiais correspondentes nas
zonas de enrocamento 1 (a) e 2 (b). (Chen e Zhang, 2006)
O modelo empregado para o ajuste das curvas foi o de van Genuchten
(1980) com auxílio do programa RETC v.6 (Simunek et al., 1985), desenvolvido
para determinação dos parâmetros das curvas características de sucção e de
condutividade hidráulica de solos não-saturados. A tabela 5.1 lista os valores
obtidos para os parâmetros requeridos pelo modelo de van Genuchten.
Tabela 5.1 - Parâmetros do modelo de van Genuchten (1980) nos materiais da barragem
Gouhou, China.
Material Zona θs θr αvg q Ks (x10-5
m/s)
Distribuição média dos grãos
de enrocamento 1 0,21 0,05 75,16 1,88 11,6
Distribuição limite inferior dos
grãos do enrocamento 2 0,21 0,04 32,77 1,70 231,0
Leito do rio 3 0,27 0,02 62,14 1,13 7,4
Estudo de casos 84
5.1.4. Modelagem no espaço e no tempo
As figuras 5.6 e 5.7 mostram os modelos geométricos empregados nas
análises 2D e 3D junto com suas respectivas malhas de elementos finitos. Na
análise bidimensional empregou-se uma malha com 526 nós e 885 elementos
triangulares do tipo TRIA3. Na análise tridimensional foram utilizados 2.979 nós
conectados a 12.771 elementos do tipo tetraedro TETR4.
Em ambas as simulações os intervalos de tempo foram iguais a 0,0001 dias
de duração. Para o tratamento da não-linearidade adotou-se uma tolerância de 1%
e um número máximo de 40 iterações. Os tempos de simulação computacional
foram muito rápidos, mostrando uma capacidade de resolução bastante efetiva do
programa GEOFLUX3D.
(a) (b)
Figura 5.6 - (a) Modelo geométrico 2D da barragem Gouhou, (b) malha de elementos
finitos tipo TRIA3.
(a) (b)
Figura 5.7 - (a) Modelo geométrico 3D da barragem Gouhou, (b) malha de elementos finitos
tipo TETR4.
Estudo de casos 85
5.1.5. Análise e discussão dos resultados
Pela consideração dos efeitos de estratificação, obteve-se, como esperado,
maiores velocidades de fluxo no enrocamento da zona 2 do que na zona 1.
A figura 5.8 mostra a evolução no tempo da superfície freática na barragem.
A infiltração de água se dá gradualmente a partir da parte superior do talude de
montante onde a face de concreto é defeituosa.
0,04 dias 0,1 dias
0,2 dias 0,4 dias
Figura 5.8 - Evolução no tempo da superfície freática na barragem Gouhou
Distinguem-se duas zonas: uma escura, onde os vazios estão completamente
preenchidos por água e a poro-pressão é positiva (região saturada) e a outra, mais
clara, onde a poro-pressão é negativa (região não saturada). Observa-se que a
região saturada alcança a superfície do talude de jusante em 0,1 dias e que o fluxo
é mais rápido próximo das ombreiras laterais. Contudo, a frente de saturação não
alcança o nível de água inicial na base da barragem após 0,4 dias.
A figura 5.9 mostra os contornos de poropressão na seção transversal
localizada em z = 150 m em diferentes instantes de tempo, comparando os
resultados obtidos pelo GEOFLUX3D com aqueles estimados por Chen e Zhang
(2006) usando o programa computacional SVFLUX3D.
Estudo de casos 86
Figura 5.9 - Evolução no tempo dos contornos das isóbaras (kPa) na seção
transversal máxima da barragem Gouhou.
Observa-se que a frente de saturação chega em 0,1 dias na superfície do
talude de jusante na análise executada com o programa SvFlux3D, enquanto que
na modelagem através do GEOFLUX esta condição é atingida em 0,11 dias. A
velocidade horizontal de fluxo é ligeiramente mais rápida nos resultados obtidos
com o programa SVFLUX3D, enquanto que a componente vertical parece ser
ligeiramente maior nos resultados computados com o programa GEOFLUX3D.
Estas pequenas diferenças podem estar relacionadas diretamente com a
discretização da malha de elementos finitos e com o fato de que no SVFLUX3D o
modelo de Fredlung e Xing (1994) é empregado para representação das curvas
características dos solos não-saturados enquanto que no GEOFLUX3D optou-se
pelo modelo de van Genuchten (1980).
Estudo de casos 87
Em ambas simulações, a frente de umedecimento avança principalmente ao
longo da interface entre as camadas de enrocamento, comportamento consistente
com o observado antes do colapso da barragem e do afloramento de água no
talude jusante acima dos 3.260,0m. Em comparação com os resultados obtidos
pela análise 2D, a frente de umedecimento atinge o talude de jusante em 0,15 dias,
tempo maior de aquele determinado na simulação 3D (0,11 dias).
A figura 5.10 mostra os contornos de poropressão, em diferentes instantes
de tempo, na seção longitudinal localizada em x = 111,56 m. As áreas escuras
correspondem às regiões saturadas. A frente de umedecimento avança lentamente
para baixo e quase atinge o lençol freático na base da barragem perto das
ombreiras após 0,4 dias. A parte central da barragem, no entanto, até este instante
de tempo permanece ainda não-saturada.
0.04 dias 0.1 dias
0.2 dias 0.4 dias
Figura 5.10 – Evolução no tempo dos contornos de poropressão (kPa) na seção
longitudinal da barragem em x = 111,56m.
Conforme também pode ser notado, as cargas de pressão são maiores perto
das ombreiras, ocasionando maiores gradientes hidráulicos e, conseqüentemente,
o fluxo avança com maior velocidade perto dos contornos laterais, formando
assim regiões de mais alto risco quando a água flui no interior do corpo da
barragem. Não é de se surpreender, portanto, que rupturas por erosão em várias
barragens do mundo, como na barragem Teton (EUA), tenham acontecido junto
às ombreiras (USCOLD, 1988).
Apresentam-se finalmente, as figuras 5.11 e 5.12 contendo as distribuições
de carga de pressão e de carga total, respectivamente, para o tempo t = 0,4 dias.
Estudo de casos 88
Como pode ser observado na figura 5.11, na superfície do talude da jusante
correspondente à zona 2, as cargas de pressão tornam-se nulas devido à condição
de contorno SEEPAGE que simula a saída livre de água através dessa superfície.
Já na figura 5.12, os contornos de carga total tornam-se quase verticais e a direção
de fluxo quase horizontal dentro da zona 2. Portanto, a ruptura devido ao fluxo
horizontal deve ter sido iniciada ao longo dessa camada, como suposto
inicialmente.
Figura 5.11 - Distribuição de cargas de pressão (m) na barragem Gouhou depois de 0,4
dias.
Figura 5.12 - Distribuição de cargas totais (m) na barragem Gouhou depois de 0,4 dias.
Estudo de casos 89
5.2. Fluxo através da barragem de terra Macusani
A barragem de terra Macusani está projetada para ser construída em um
vale estreito do rio Macusani, na província de Carabaya, departamento de Puno,
Peru, como ilustrado na figura 5.13.
São investigados os processos de fluxo transiente e permanente durante o
enchimento e rebaixamento rápido do nível do reservatório, comparando-se os
resultados numéricos obtidos por análises 2D e 3D do fluxo, os quais evidenciam
a necessidade de se executar análises 3D nas barragens projetadas em vales
estreitos onde os efeitos da variação da geometria nas condições de fluxo podem
ser significativos.
Figura 5.13 - Localização da barragem Macusani no Peru.
No final, os resultados obtidos pelo GEOFLUX3D na condição de regime
permanente em análises 3D são comparados com aqueles obtidos por Huertas
(2006) através do programa computacional SEEP3D v.1.15; mostrando-se
algumas diferenças na posição final da linha freática entre ambos resultados
Estudo de casos 90
devido à condição de contorno SEEPAGE implementada no GEOFLUX3D e
imposta na superfície do talude de jusante da barragem.
5.2.1. Descrição da barragem Macusani
Do tipo zonada, a barragem terá uma altura máxima de 71 metros e um
comprimento de crista de 410 metros, situando-se a uma altitude de 4.304,0
metros acima do nível do mar. O reservatório formado pela barragem terá um
espelho de água de 4,75 km2, devendo armazenar um volume máximo de 112
milhões de metros cúbicos, garantindo uma vazão constante para a usina
hidroelétrica de San Gabán.
Na figura 5.14 são apresentados uma seção transversal simplificada da
barragem correspondente à seção de altura máxima (A-A) e um perfil da seção
longitudinal vista desde a montante.
Figura 5.14 - Barragem Macusani: (a) Seção transversal A-A de altura máxima; (b)
Seção longitudinal. Unidades em metros. (Fonte: Huertas, 2006).
Estudo de casos 91
5.2.2. Casos de simulação
Considerando a geometria e as condições de contorno ilustradas na figura
5.15, três casos de simulação de fluxo através da barragem de terra foram
simulados.
Em ambos os casos I e II investiga-se as condições de fluxo devido ao
enchimento inicial do reservatório. No caso I, a análise é feita considerando-se um
valor do coeficiente de permeabilidade saturada kdreno = 4x10-5
m/s, estabelecido
para o dreno de acordo com o projeto original da barragem, baseado em
modelagem do problema 2D, enquanto que no caso II o material do dreno foi
admitido com coeficiente de permeabilidade saturada kdreno = 4x10-4
m/s.
Finalmente no caso III simula-se o rebaixamento rápido do reservatório de água e
as condições de fluxo assim geradas.
Figura 5.15 - Modelo geométrico simplificado e condições de contorno para análise de
fluxo 3D na barragem de terra Macusani, Peru.
Nos casos I e II, a posição da superfície freática inicial é obtida a partir da
condição de fluxo permanente na base da barragem, devido à diferença de cargas
nas superfícies livres de montante (4.244,0m) e de jusante (4.236,0 metros).
Assume-se que a sucção é incrementada linearmente com a carga de elevação,
acima da superfície freática, alcançando valores muito elevados da ordem de
1.000 kPa na crista da barragem (solos muito secos). Para o caso III, as condições
iniciais são aquelas obtidas quando o regime permanente é estabelecido na análise
do caso II.
Estudo de casos 92
Para os três casos, assume-se uma condição de contorno sob forma de carga
hidráulica variável prescrita na superfície do talude da montante, representando
dessa forma as etapas de primeiro enchimento ou de rebaixamento rápido do
reservatório.
A função de variação da carga hidráulica prescrita na simulação do
enchimento, aplicável nas análises dos casos I e II empregando a subrotina
DATBOUI, está apresentada na tabela 5.2. A variação da carga para representar o
rebaixamento rápido do reservatório da barragem no caso III é apresentada na
tabela 5.3. Uma condição de contorno de fluxo nulo (impermeável) é aplicada na
crista da barragem e no talude de jusante, quando as cargas de pressão são
negativas neste talude; na hipótese de positivas, é imposta então a condição de
fluxo livre utilizando a subrotina SEEPAGE, conforme descrito anteriormente no
capítulo 3.
Na região de saída, sobre a superfície da fundação de jusante, a carga
hidráulica é considerada constante, no valor de 36m. Também é assumido que as
superfícies das ombreiras da barragem são impermeáveis, i.e., admite-se que não
haja fluxo através das fundações laterais da barragem.
Tabela 5.2 - Função de variação de carga hidráulica na superfície do talude de montante
(primeiro enchimento do reservatório).
Tabela 5.3 - Função de variação de carga hidráulica na superfície do talude da montante
(rebaixamento rápido do reservatório).
Etapa Tempo (dias) Carga total H (m) Altitude (m)
-- 0 100,0 4300,0
1 0,2 92,0 4292,0
2 0,4 83,0 4283,0
3 0,6 70,0 4270,0
4 0,8 61,0 4261,0
5 1,0 44,0 4244,0
Etapa Tempo (dias) Carga total H (m) Altitude (m)
-- 0 44,0 4244,0
1 5 49,0 4299,0
2 10 61,0 4261,0
3 15 70,0 4270,0
4 20 83,0 4283,0
5 25 92,0 4292,0
6 30 100,0 4300,0
Estudo de casos 93
5.2.3. Propriedades dos materiais
Nas análises foram considerados quatro materiais para o corpo da barragem
e um material para a fundação, os quais estão apresentados junto aos seus
respectivos coeficientes de condutividade hidráulica na tabela 5.4. Os valores
foram obtidos a partir de ensaios de laboratório executados no CISMID - Centro
de Pesquisas da Universidade Nacional de Engenharia de Lima, Peru.
Tabela 5.4 - Materiais empregados na barragem Macusani e seus respectivos
coeficientes de condutividade hidráulica na condição saturada. (CISMID)
Zona da Barragem Material ks (m/s)
Corpo da Barragem Espaldar 2x10-5
Corpo da Barragem Núcleo 1x10-7
Corpo da Barragem Dreno 4x10-5
Corpo da Barragem Depósito fluvio glacial 1x10-5
Fundação Tufa vulcânica 1x10-7
As curvas de retenção de água foram as mesmas empregadas por Huertas
(2006) e para sua representação empregou-se também o modelo de van Genuchten
(1980), com utilização do programa computacional RETC v.6 (Simunek et al.,
1985). Tais parâmetros, são listados na tabela 5.5, abaixo.
Tabela 5.5 - Materiais empregados na barragem Macusani e respectivos parâmetros do
modelo de van Genuchten (1980) utilizado para análise sob regime transiente. (CISMID)
Material Zona θs θr αvg q
Núcleo 1 0,41 0,105 0,147 1,78
Dreno 2 0,39 0,020 2,670 2,29
Espaldar 3 0,38 0,105 1,077 3,01
Depósito fluvio glacial 4 0,30 0,035 0,315 1,93
Turfa vulcânica 5 0,38 0,024 0,400 3,74
5.2.4. Modelagem no espaço e no tempo
As figuras 5.16 e 5.17 mostram os modelos geométricos empregados nas
simulações 2D e 3D assim como suas respectivas malhas de elementos finitos.
Nas análises bidimensionais empregou-se uma malha com 2.140 nós conectados a
Estudo de casos 94
4.025 elementos triangulares do tipo TRIA3. Nas análises 3D foram empregados
26.691 nós, conectando 133.826 elementos tetraédricos do tipo TETR4.
Em todos os casos empregaram-se passos de tempo de 0,1 dias de duração,
no início das simulações, incrementados para 0,5 dias após 100 dias. Para o
tratamento da não-linearidade adotou-se uma tolerância de 1% e um máximo
número de iterações para convergência da solução numérica igual a 40. Os tempos
de simulação computacional foram muito rápidos nos três casos para a análise 2D,
enquanto que nos casos 3D, pela maior quantidade de equações, os tempos de
processamento chegaram a durar até 1,5 dias.
(a) (b)
Figura 5.16 - (a) Modelo geométrico 2D da barragem Macusani, (b) malha de
elementos finitos com o tipo TRIA3.
(a) (b)
Figura 5.17 - (a) Modelo geométrico 3D da barragem Macusani, (b) malha de
elementos finitos com o tipo TETR4.
Estudo de casos 95
5.2.5. Análise e discussão dos resultados
5.2.5.1. Caso I: Primeiro enchimento do reservatório (kdreno = 4x10-5 m/s)
A figura 5.18 mostra a evolução no tempo da superfície freática da
barragem para o caso de fluxo 3D durante o primeiro enchimento do reservatório,
utilizando um coeficiente de permeabilidade do dreno na condição saturada igual
a 4x10-5
m/s. Assim como no caso dos estudos feitos na barragem Gouhou, podem
ser distinguidas duas regiões: uma escura, na qual a poropressão é positiva (zona
saturada), e uma região mais clara onde a poropressão é negativa (zona não-
saturada). Observa-se que a frente de umedecimento alcança o núcleo da
barragem em 25 dias, a partir dos quais o fluxo torna-se mais lento tendo em vista
a baixa condutividade hidráulica do material do núcleo, demorando 300 dias para
atingir o dreno e estabelecer condições de fluxo permanente em 1.000 dias. Nesta
condição, nota-se que a superfície freática encontra-se acima do dreno,
evidenciando um aspecto de comportamento hidráulico da barragem não previsto
com base na utilização de modelos bidimensionais pelo método dos elementos
finitos.
15 dias 30 dias
300 dias 1.000 dias
Figura 5.18 - Evolução da superfície freática na barragem Macusani para o caso I sob
diferentes tempos
Estudo de casos 96
A figura 5.19 mostra os contornos de poropressão na seção transversal A-A
em z = 290m, para diferentes instantes de tempo, com o propósito de comparar as
condições de fluxo obtidas através de modelagens 2D e 3D.
Observa-se que a frente de umedecimento avança ligeiramente mais rápida
na simulação 3D, o que pode ser atribuído (em comparação com os resultados
computados da análise 2D) à contribuição das componentes de velocidade fora do
plano que, obviamente, não podem ser representadas em modelos bidimensionais
do problema. Nota-se também que a frente de umedecimento avança rapidamente
através da zona do espaldar da montante até chegar ao núcleo, onde o fluxo torna-
se então muito lento.
Análise 3D Análise 2D
15 dias
30 dias
300 dias
1.000 dias
Figura 5.19 – Evolução no tempo dos contornos de poropressão (kPa) na seção
transversal em z = 290 m para o caso I.
Quando a frente se estabelece no regime permanente, no tempo t=1.000
dias, observa-se que na análise 3D a condutividade hidráulica do dreno não é
suficiente para transportar toda a quantidade de água que percola pela barragem e,
conseqüentemente, a superfície freática termina estabelecendo-se acima da face
Estudo de casos 97
superior do dreno. Dos resultados da análise 2D, o dreno parece no entanto
funcionar perfeitamente.
Finalmente, constatou-se certas oscilações na definição da superfície
freática na interface entre o núcleo e o dreno, tais oscilações podem ser explicadas
devido a que não se considerou uma zona de transição apropriada nos modelos,
ocasionando mudanças bruscas de propriedades entre um material e outro, porém
sem significativa influência nos resultados gerais do problema.
5.2.5.2. Caso II: enchimento do reservatório (kdreno = 4x10-4 m/s)
No caso II simula-se o primeiro enchimento do reservatório considerando-se
um coeficiente de permeabilidade do material do dreno (kdreno = 4x10-4
m/s), na
condição saturada, dez vezes maior do que no caso I.
A figura 5.20 mostra os contornos de poropressão na seção transversal A-A
para o caso II. Observa-se uma semelhança de comportamento com o caso I, até o
tempo t = 300 dias, necessário para que a frente de umedecimento atinja o dreno.
No entanto, devido à mudança no valor do coeficiente de condutividade hidráulica
do dreno, desta vez a superfície freática se estabelece no interior da região do
dreno, indicando que a mudança na permeabilidade do dreno assegurou que o
mesmo funcione perfeitamente dentro de limites de segurança adequados
inclusive incorporando a quantidade de água adicional gerado pelos efeitos 3D das
condições de fluxo.
15 dias 30 dias
300 dias 1000 dias
Figura 5.20 – Evolução dos contornos de poro pressão (kPa) na secção de corte em z =
290 m para o caso II.
Estudo de casos 98
Apresentam-se nas figuras 5.21 e 5.22 as distribuições finais de carga de
pressão e de carga total, respectivamente, na condição de regime permanente no
caso II. Nota-se que na superfície do talude da jusante tem-se uma re-distribuição
das cargas hidráulicas em conseqüência do afloramento de água pelo pé do dreno.
Figura 5.21 - Distribuição final das cargas de pressão (m) na barragem Macusani depois
de 1000 dias (condição de regime permanente) para o caso II.
Figura 5.22 - Distribuição final das cargas totais (m) na barragem Macusani depois de
1000 dias (condição de regime permanente) para o caso II.
Estudo de casos 99
5.2.5.3. Caso III: Rebaixamento rápido do reservatório
No caso III simula-se o rebaixamento rápido do reservatório considerando a
função de rebaixamento mostrada anteriormente na tabela 5.5. A figura 5.23
mostra a evolução da superfície freática na barragem Macusani. Nota-se que logo
após a ocorrência do rebaixamento rápido, o nível da superfície freática na região
de montante desceu muito pouco, não tendo havido tempo suficiente para a
dissipação dos excessos de poropressão no espaldar de montante que, em quase a
sua totalidade, apresenta-se saturado. Este aspecto do problema hidráulico aliás
evidencia os cuidados com que devem ser feitas as análises de estabilidade de
taludes de montante de barragens, considerando-se a possibilidade de ocorrência
de rebaixamentos rápidos do nível de água do reservatório.
1 dia 200 dias
400 dias 1000 dias
Figura 5.23 - Evolução da posição da superfície freática com o tempo, após
rebaixamento rápido do reservatório.
A figura 5.24 mostra a evolução da superfície freática, assim como os
contornos de poropressão negativos, na superficie do talude de montante, após o
rebaixamento do reservatório. Observa-se aqui que após o rebaixamento total do
reservatório em um dia, a superfície freática desce ligeiramente mais próximo da
zona da seção transversal máxima A-A, enquanto que se retarda na direção das
Estudo de casos 100
ombreiras laterais, principalmente da ombreira esquerda, região mais afastada da
seção máxima A-A.
1 dia 200 dias
400 dias 1000 dias
Figura 5.24 – Evolução no tempo dos contornos de poropressão (kPa) na superfície de
talude de montante após o rebaixamento rápido.
5.2.6. Comparação de resultados com o programa computacional Seep3D
Os resultados obtidos nas análises 3D pelo programa GEOFLUX3D na
condição de regime permanente são aqui comparados com aqueles obtidos por
Huertas (2006) através da utilização do programa comercial SEEP3D, v.1.15.
Compararam-se em primeiro lugar as posições finais das superfícies
freáticas obtidas para o caso I, como mostrado na figura 5.25. Como apreciado
nesta figura as linhas freáticas são estabelecidas acima do nível superior do dreno,
porém, aprecia-se diferencias à saída no talude da jusante. A linha freática
estabelecida no SEEP3D é fixada à saída do pé do dreno (elevação de 36m)
devido à condição de contorno imposta nessa posição enquanto que para o
GEOFLUX3D a linha freática á saída termina estabelecendo se acima do nível
superior do dreno (elevação de 49m) devido à condição de contorno SEEPAGE
imposta na superfície do talude de jusante.
Estudo de casos 101
Figura 5.25 - Comparação das linhas freáticas na seção máxima A – A , determinadas
pelo GEOFLUX3D e pelo programa comercial SEEP3D v.1.15, em análises 3D na
condição de fluxo em regime permanente para o caso I.
Em segundo lugar foram comparadas as posições finais das superfícies
freáticas obtidas para o caso II, como mostrado na figura 5.26. Desta vez as linhas
freáticas são muito parecidas sendo ambas estabelecidas praticamente no pé do
dreno não influenciando a condição de contorno SEEPAGE como acontecido no
caso I.
Figura 5.26 - Comparação das linhas freáticas na seção máxima A – A , determinadas
pelo GEOFLUX3D e pelo programa comercial SEEP3D v.1.15, em análises 3D na
condição de fluxo em regime permanente para o caso II.
Estudo de casos 102
A tabela 5.6 mostra as comparações das vazões obtidas na superfície do
talude de jusante pelo GEOFLUX3D e pelo SEEP3D. Constata-se que as vazões
obtidas pelo GEOFLUX3D são maiores do que aquelas computadas utilizando o
programa SEEP3D, e ainda que na aplicação do programa GEOFLUX3D a vazão
determinada no caso I é quase o dobro de aquela calculada na análise do caso II.
Tabela 5.6 - Comparação de vazões totais calculadas pelos programas GEOFLUX3D e
Seep3D em análises 3D da barragem de terra Macusani.
Caso de análise Vazão total Q (m
3/s)
GEOFLUX3D
Vazão total Q (m3/s)
Seep3D
I) 3D (kdreno=4x10-5
m/s) 7,92x10-3
1,89x10-3
II) 3D (kdreno=4x10-4
m/s) 3,86x10-3
2,00x10-3
As diferenças de vazões podem ser explicadas justamente com base na
posição final da superfície freática determinadas em ambas as análises. Na
simulação executada com o SEEP3D foi prescrita uma condição de contorno que
permitia a saída de água apenas pelo pé do dreno, o que produziu maiores
velocidades através de pequenas áreas de saída. No caso do GEOFLUX3D,
devido à atualização constante da posição da superfície freática na região de saída
do talude de jusante, obtiveram-se menores velocidades de fluxo, porém através
de maiores áreas de saída, produzindo finalmente maiores valores de vazão em
relação àquelas determinadas por Huertas (2006) com o programa computacional
SEEP3D.
Conclusões e Sugestões 103
6 Conclusões e Sugestões
O objetivo principal desta dissertação de mestrado foi o desenvolvimento de
um programa de computador, escrito em linguagem Fortran, baseado no método
dos elementos finitos, para análise de problemas de fluxo tridimensional, em
regime transiente ou permanente, na condição saturada ou não-saturada. O
programa, denominado GEOFLUX3D, foi elaborado com base em uma versão
preliminar GEOFLUX desenvolvido por Machado (2000) para simulações de
fluxo no plano.
Varias modificações foram feitas na versão original para solucionar o
problema proposto, iniciando-se pela implementação de elementos triangulares
TRIA3 e tetraédricos TETR4 para facilitar a criação de malhas em domínios com
contornos irregulares. A vantagem destes elementos é que não necessitam de uma
quadratura numérica na avaliação das matrizes e vetores do método dos elementos
finitos, diminuindo portanto o tempo de processamento, embora requeiram uma
discretização mais refinada tendo em vista que as funções de interpolação são
lineares em relação à variável primária (carga de pressão).
A principal dificuldade na implementação foi a elaboração de um algoritmo
que pudesse armazenar os elementos não nulos da matriz de coeficientes e que,
simultaneamente, solucionasse o sistema de equações geradas pelo MEF. Esta
dificuldade foi ultrapassada com o estabelecimento de duas matrizes para
armazenamento das posições dos coeficientes matriciais não nulos e de seus
respectivos valores, o que permitiu a utilização do método de gradiente bi-
conjugado para resolver o sistema de equações sob velocidade de processamento
bastante rápida.
Implementou-se também o método de Picard Modificado para a solução da
não-linearidade na equação de Richards, com a diagonalização da matriz F
(equação 2.36) para permitir a obtenção de respostas de forma mais eficiente,
como indicam os excelentes resultados computados nos exemplos de validação
(capítulo 4).
Conclusões e Sugestões 104
Análises tridimensionais de fluxo transiente / permanente considerando
regiões de fluxo saturado e não-saturado foram feitas com o objetivo de ressaltar
os efeitos da geometria 3D nos resultados de um problema hidráulico. No caso
específico desta dissertação, entenda-se nos resultados de fluxo através de
barragens de terra projetadas para vales estreitos em forma de V, onde ainda hoje
prevalecem análises 2D considerando-se os resultados obtidos com uma seção
transversal típica da barragem em estudo.
Foram feitos dois exemplos de aplicação com o programa computacional
GEOFLUX3D. No primeiro, analisou-se as condições de fluxo transiente através
da barragem de enrocamento Gouhou, China. A evolução no tempo dos contornos
de poropressão indicaram que os gradientes próximos às ombreiras são mais
elevados do que aqueles observados na parte central da barragem e, em
decorrência, a frente de umedecimento avança mais rapidamente junto às
ombreiras, constituindo estas regiões em zonas de alto risco de erosão interna
quando a água flui para dentro do corpo da barragem. Os resultados computados
pelo GEOFLUX3D foram comparados por aqueles obtidos por Chen e Zhang
(2006), apresentando boa concordância entre si.
O segundo exemplo de aplicação se refere à barragem de terra Macusani,
Peru, analisada sob 3 diferentes situações: na primeira delas, simulou-se o
primeiro enchimento do reservatório considerando-se um dreno no pé de jusante
cujas propriedades foram verificadas anteriormente através da análise do
problema de fluxo através de um modelo 2D. Destas comparações concluiu-se
que em regime de fluxo transiente a frente de umedecimento apresenta avanços
mais rápidos nas simulações 3D e que em condições de fluxo permanente 3D a
posição da superfície freática situou-se acima da posição do dreno.
Estas diferenças observadas nos resultados de regime permanente também
foram apontadas por Huertas (2006), e são mais significativas ainda quando se
compara com os cálculos de simulações 2D, onde se conclui que o dreno funciona
aparentemente de modo adequado e a posição da superfície freática é delimitada
no interior e por toda a extensão do dreno.
Na segunda situação envolvendo a barragem Macusani, considerou-se o
mesmo problema de primeiro enchimento do reservatório porém considerando-se
um material de dreno dez vezes mais permeável do que aquele obtido no projeto
inicial da barragem. Os resultados numéricos mostraram que, apesar da influência
Conclusões e Sugestões 105
dos efeitos tridimensionais no fluxo, o dreno agora operava de forma satisfatória,
sem riscos associados à elevação da posição da superfície freática, como
evidenciava a análise numérica da situação anterior.
Finalmente, na terceira situação, investigou-se os efeitos do rebaixamento
rápido do reservatório, observando-se que as regiões junto ao talude de montante
conservam-se na condição saturada por um tempo considerável, justificando-se os
cuidados nas análises de estabilidade de taludes de montante sujeitos a casos de
rebaixamento do reservatório.
Foram também comparadas as posições das linhas freáticas em regime de
fluxo permanente obtidas nesta dissertação através do programa GEOFLUX3D e
por Huertas (2006) empregando o software comercial Seep3D v.1.15. Conclui-se
que devido às condições de contorno variáveis prescritas no talude de jusante pelo
programa GEOFLUX3D, seus resultados aparentemente devem estar mais
próximos da realidade.
Como sugestões para trabalhos futuros neta área, recomenda-se:
Consideração da existência de fraturas na fundação de barragens e
verificação numérica dos seus efeitos no problema de fluxo;
Implementar o acoplamento hidráulico-mecânico para análise de problemas
de fluxo transiente;
Verificar a influência das zonas de transição no comportamento do
resultados computados no caso de barragens de terra zoneadas ou de
enrocamento.
Referências Bibliográficas 106
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