110
#53

OLD Nº 53

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Nesta edição da OLD apresentamos os trabalhos de Diambra Mariani, Danilo Luna, Tiéle Elissa, Paula Pedrosa, Neto Macedo e uma entrevista com André Penteado.

Citation preview

Page 1: OLD Nº 53

#53

Page 2: OLD Nº 53

equipe editorial

direção de arte

texto e entrevista

capa

fotografias

entrevista

email

facebook

twitter

tumblr

instagram

Felipe Abreu e Paula Hayasaki

Tábata Gerbasi

Angelo José da Silva, Felipe Abreu

e Paula Hayasaki

Diambra Mariani

Danilo Luna, Diambra Mariani, Neto Macedo,

Paula Pedrosa, Thiéle Elissa

André Penteado

[email protected]

www.facebook.com/revistaold

@revista_old

www.revistaold.tumblr.com

@revistaold

revista OLD#número 53

expediente

Page 3: OLD Nº 53

06

08

10

50 92

66 104

36

10

36

50

66

80

92

80fotos contam fatos

livros

diambra mariani andré penteado

thiéle elissa

danilo luna paula pedrosa

neto macedo

reflexões

exposição

portfól io entrevista

portfól io

portfól io portfól io

portfól io

coluna

índice

Page 4: OLD Nº 53
Page 5: OLD Nº 53

5

carta ao leitor

Começamos mais um ano, seja bem-vindo, 2016! Aqui na OLD comemo-ramos a entrada do nosso sexto ano de atividades e a chegada da nosa 53ª edição, a qual, como não poderia ser diferente, está mais do que capricha-da.Nesta primeira edição do ano busca-mos trabalhos que lidam com ques-tões introspectivas, formais e rela-cionadas ao contato com o outro, a como lidamos com os personagens que fotografamos.Estão presentes os trabalhos de Diambra Mariani, Danilo Luna, Tiéle Elissa, Paula Pedrosa e Neto Macedo. Dentro deste quinteto estão aborda-gens variadas para usar a fotografia como forma de expressar uma sensa-ção ou contruir uma história.

Nossa entrevista também se fez es-pecial neste mês. Conversamos com André Penteado, que viu seu livro Cabanagem ser citado em parte con-siderável das listas de melhores de 2015.André nos conta sobre sua carreira e sobre o complexo processo de pro-dução de Cabanagem. Vale a pena ler a conversa com calma e atenção.Assim entramos em mais um ano es-perando aprofundar cada vez mais nossas discussões sobre a fotografia brasileira.

por Felipe Abreu

Page 6: OLD Nº 53

6

OLD#53

Disponível no site da MACKvalor R$200

96 páginas

Lago é uma viagem investigativa pela memória de seu autor, Ron Jude. Mu-nido de sua câmera, Jude passou três

anos fotografando o deserto californinano no qual passou sua infância. Seu olhar atual trabalha como o de um detetive, em busca de pistas de eventos passados e de marcas que o ajudem a entender quem ele é hoje.O livro, publicado pela MACK, apresenta uma viagem sensorial, de cores fortes e do sol ar-dido da Califórnia, em cinquenta e cinco fo-tografias produzidas entres os anos de 2011 e 2014. Longe de que querer chegar a uma nar-rativa fechada e conclusiva, Jude nos leva em uma busca por estruturas e padrões visuais, que constroem uma quebra-cabeças do deso-lado antigo lar do autor.

LAGOde Ron Jude

livros

Page 7: OLD Nº 53

7

Disponível no site da New Favevalor R$28076 páginas

MASSde Hiroshi Takizawa

Hiroshi Takizawa explora os detalhes, as frestas e as texturas das constru-ções de grandes centros urbanos. Seu

olhar foge do plano geral e se concentra nos pequenos detalhes que oferecem ricas histó-rias sobre a construção e a lógica das grandes cidades contemporâneas. Seu livro Mass é um mergulho nessa viagem sensorial, em que este universo de formas nos guia através da sua criação visual complexa e detalhista, diferente do que esperamos de um fotógrafo urbano.Publicado pela New Fave, Mass fica entre o li-mite do livro e da escultura. Cada página da obra é de um tamanho diferente, ajudando a construir a escala necessária para as fotogra-fias de Takizawa e mostrando, mais uma vez, a arte fantástica que é a encadernação japonesa.

livros

Page 8: OLD Nº 53

8

exposição

Romy Pocztaruk

Page 9: OLD Nº 53

9

desta responsabilidade e organizou a exposição Fotos Contam Fatos, que chega à sua última semana de apre-sentação na Sala 3 da Galeria Verme-lho, em São Paulo. A mostra buscou artistas de sete capitais estaduais bra-sileiras, criando um panorama com-plexo não só artístico, mas também geográfico. Participam da mostra mais de cem artistas que apresentam em sua obras formas mais complexas e plurais de tratar a fotografia. Estão presentes instalações, esculturas, vídeos, textos teóricos, websites, além de uma rica coleção de obras impressas como

Já faz um certo tempo que a ima-gem fotográfica não se basta mais em si mesma. Em quase to-

das as esferas da fotografia o pensa-mento não termina mais no momen-to do clique, é na verdade ai que ele começa. Dentro de um cenário cada vez mais rico e complexo é essencial o papel de críticos e pesquisadores que busquem apresentar sentidos possíveis dentro deste universo. Bus-car significados, técnicas e caminhos dentro da fotografia expandida é um caminho não só muito produti-vo, mas essencialmente necessário. Denise Gadelha tomou para si parte

A FOTOGRAFIA ALÉM DA FOTOGRAFIAA exposição Fotos Contam Fatos explora e produção de artistas brasileiros que extrapo-lam os limites da imagem fotográfica

A Galeria Vermelho fica na Rua Minas Gerais, 350.

Fotos Contam Fatos segue em cartaz até 16/01.

livros, jornais, zines e mais. Fotos Contam Fatos tem tudo para se tor-nar um marco dentro do estudo na fotografia no contexto da arte con-temporânea. O trabalho de curadoria construiu um universo rico, comple-xo e convidativo: tudo o que precisa-mos para nos aprofundar na pesqui-sa e discussão sobre as imagens que produzimos hoje.

Page 10: OLD Nº 53

portfólio

DIAMBRA MARIANIEl Nido Vacio

El Nido Vacio é um diário visual sobre perda, amor e reencontro. Cada imagem tem o seu espaço e ta-manho próprios, imersas em um mundo branco.

Diambra Mariani quebra o limite de suas imagens, inter-fere sobre elas e cria novas narrativas e significados dentro delas. El Nido Vacio é um movimento de experimentações de sucesso, que libera a fotografia de seus rígidos quatro cantos.

Page 11: OLD Nº 53
Page 12: OLD Nº 53

12

OLD#53portfólio

Page 13: OLD Nº 53

13

Eu queria participar mais, decidir se a fotografia seria grande ou pequena, deixar a fotografia continuar fora do seu quadro, marcar alguns detalhes.

Diambra, como surgiu seu interesse pela fotografia?Durante a minha infância e adoles-cência eu não fotografava, só escre-via muito. Foi só com 22 anos que co-mecei a me interessar pela fotografia. Eu fazia Direito na universidade mas eu não queria trabalhar como advo-gada e eu estava buscando algo dife-rente para o meu futuro. Freqüentei uma escola de fotografia e senti que era exatamente o que eu queria fazer.

Nos conte sobre a criação de El Nido Vacio.Eu queria me sentir livre para con-tar algo muito pessoal, de uma forma muito íntima, sem limites, misturan-do digital, analógico e polaroids, cor

e branco e preto, fotografia e sinais gráficos. É minha tentativa de resu-mir os dois últimos anos da minha vida, desde que me mudei para viver no exterior. Precisava meditar sobre meus sentimentos e sobre o que ti-nha mudado e o fiz através da foto-grafia. Eu me lembro claramente de alguém, muitos anos atrás, lendo um romance que escrevi, me dizendo que não era bom o suficiente porque eu não tinha conseguido contar uma história, somente evocar uma atmos-fera. Isso é algo com que luto por muitos anos. Estou tentando aceitar o fato de que eu realmente gosto de evocar atmosfera e que às vezes isso é verdade, não consigo criar uma his-tória, mas eu gosto do processo de

criar coisas, de qualquer forma.

Você usa tanto o espaço em branco como intervenções visuais nesta série. Como esta estética foi desenvolvida?Como El Nido Vacio é um diário vi-sual, eu senti que era necessário ga-nhar espaço, como se eu tivesse mui-tas folhas de papel em branco. Não queria o quadro inteiro preenchido com uma imagem. Eu queria partici-par mais, decidir se a fotografia seria grande ou pequena, deixar a foto-grafia continuar fora do seu quadro, marcar alguns detalhes.

diambra mariani

Page 14: OLD Nº 53

14

OLD#53

grafia representa, então eu só espero que alguém, as vendo juntos, consi-ga reconhecer uma atmosfera ou ao mesmo sentir um pouco de empatia.

Quais são os papeis da intimidade e da distância na criação deste trabalho?Gosto da metáfora de dois porcos-es-pinhos apaixonados: se eles ficarem muito longe um do outro eles sentem frio, mas se eles ficarem muito perto sentem dor. O ponto é encontrar a distância certa e isso é difícil e não só falando sobre amor. As fotografias, de alguma forma, falam sobre isso.

Como você busca traduzir coisas abs-tratas como memória, amor e intimi-dade em fotografias?Uso símbolos pessoais e de intimida-de: coisas que significam muito para mim, que algumas vezes são muito claras, como uma cama vazia, mas as vezes não são. Eu não acho que seria interessante explicar o que cada foto-

portfólio

Page 15: OLD Nº 53

15

diambra mariani

Page 16: OLD Nº 53
Page 17: OLD Nº 53

17

diambra mariani

Page 18: OLD Nº 53

18

OLD#53portfólio

Page 19: OLD Nº 53

19

diambra mariani

Page 20: OLD Nº 53

20

OLD#53portfólio

Page 21: OLD Nº 53

21

diambra mariani

Page 22: OLD Nº 53

22

OLD#53portfólio

Page 23: OLD Nº 53

23

diambra mariani

Page 24: OLD Nº 53

24

OLD#53portfólio

Page 25: OLD Nº 53

25

diambra mariani

Page 26: OLD Nº 53

26

OLD#53portfólio

Page 27: OLD Nº 53

27

rafael martins

Page 28: OLD Nº 53

28

OLD#53portfólio

Page 29: OLD Nº 53

29

rafael martins

Page 30: OLD Nº 53

30

OLD#53portfólio

Page 31: OLD Nº 53

31

diambra mariani

Page 32: OLD Nº 53

32

OLD#53portfólio

Page 33: OLD Nº 53

33

diambra mariani

Page 34: OLD Nº 53

34

OLD#53portfólio

Page 35: OLD Nº 53

35

rafael martins

Page 36: OLD Nº 53

portfólio

DANILO LUNARevoada do Vaga-lume

Revoada do Vaga-lume é uma busca constante pela construção de associações e conflitos visuais entre suas imagens. Livre de uma narrativa fechada, a sé-

rie de Danilo Luna se desenvolve a partir de seus aspectos visuais, suas formas, texturas e luz. Dessa forma, Revoada do Vaga-lume está livre para se transformar constantemen-te em uma eterna metamorfose em busca de nova e mais complexas aproximações visuais.

Page 37: OLD Nº 53
Page 38: OLD Nº 53

38

OLD#53portfólio

Page 39: OLD Nº 53

39

Coloco em evidência um intenso tra-balho de edição, que desemboca nas diversas camadas de referências e problematizações do trabalho.

Danilo, nos conte sobre seu começo na fotografia.O começo é um lugar complexo de se colocar. Acredito que se faz in-teressante pensar, que os variados suportes imagéticos existentes, de alguma maneira me atravessaram, e continuam a me atravessar, mesmo que afastados de um fazer artístico pontualmente fotográfico, ou seja, não saboto as experiências visuais mais abstratas, que são pequenas partes desse indefinido processo, que pode ser lido como um outro tipo de começo. Não indico um início na fotografia, mas sim, fluxos de in-teresse pelas imagens, que foram ali-mentados e incentivados, hora mais, hora menos, durante minha existên-cia. Portanto, o que posso realmen-

te apontar é que em dado momento, acionei novos modos de raciocínio do pensar, e do encarar a arte, e isso se deu mais especificamente na fa-culdade de Artes Visuais. Desse pro-cesso a fotografia é uma das mídias “tradutoras ” do pensamento criati-vo, mas não a única.

Como foi o desenvolvimento da série Revoada do Vaga-lume?Eu retiraria o foi da questão, pelo fato, de que o trabalho continua em desenvolvimento só que em outras esferas, ganhando acúmulos sob outras perspectivas e recortes. Digo também que o processo está aberto, e que esse conjunto pode vir a ga-nhar ou até mesmo perder imagens. O processo até agora, não se deu de

modo em que a escolha de um tema, ou de um lugar especifico seriam características fundamentais para a fruição da série, pelo contrário, o trabalho apresenta-se dos diferen-tes choques passiveis entre imagens variadas. Coloco em evidência um intenso trabalho de edição, que de-semboca nas diversas camadas de referências e problematizações do trabalho.

Há um jogo constante de mostrar e esconder, sempre com um elemento central nas imagens da série. Como se dá a sua escolha de cada uma dessas

danilo luna

Page 40: OLD Nº 53

40

OLD#53

ou de entender algo em seu momen-to de luz, ao apagar sabota-se todo o processo dado, ou seja, o breu é pau-sa, é intervalo, mas também é ima-gem.

Qual a importância da sequência e da construção narrativa no seu trabalho fotográfico?Especificamente nesse trabalho, a sequência narrativa não se dá fixa, o próprio modo de encadeamento para a apresentação na revista se faz dife-rente de outros momentos. Na minha pesquisa, a sequência e a narrativa se fazem diferentes a cada trabalho, isso depende muito das nuances que busca-se permear, por vezes, pode ser algo fragmentário e poético, ou até mesmo uma tentativa de um certo direcionamento na leitura, por vezes pode se aproximar de outras

imagens? E como você desenvolve a busca por elas?Me agrada bastante o uso das pala-vras, mostrar e esconder, creio que um dos lugares, em que o trabalho se apresenta, permeia tais campos. Ao pensar a História da Arte ou da Fotografia, lida-se com presenças e ausências, um revelar que constan-temente oculta. O trabalho segue quase como um discurso irônico de tais contextos, onde as interpretações estão sempre passíveis de contami-nações. Todo o processo de escolha e feitura das imagens, caminham em uma dinâmica errática, evidencian-do no processo de edição, caminhos e camadas interpretativas, que não apontam um fechamento. A figura do vaga-lume se faz muito simbólica nesse sentido, pois ao mesmo tempo que te aproxima de vislumbrar algo,

portfólio

linguagens como cinema ou música etc., portanto, creio que o mais inte-ressante não é ficar buscando modos bem definidos de construir a narrati-va, pois sua dinâmica está nesse ato de imersão nas imagens, de se deixar sensível para os diferentes choques poéticos que podem surgir, o ato de construção da narrativa se faz muito importante e um do mais instigantes na constituição de uma obra foto-gráfica, vale ressaltar que metade do processo está colocado ao fotógrafo, a outra metade cabe o espectador construir.

Page 41: OLD Nº 53

41

danilo luna

Page 42: OLD Nº 53
Page 43: OLD Nº 53

43

danilo luna

Page 44: OLD Nº 53

44

OLD#53portfólio

Page 45: OLD Nº 53

45

danilo luna

Page 46: OLD Nº 53

46

OLD#53portfólio

Page 47: OLD Nº 53

47

danilo luna

Page 48: OLD Nº 53

48

OLD#53portfólio

Page 49: OLD Nº 53

49

danilo luna

Page 50: OLD Nº 53

portfólio

THIÉLE ELISSAapto 202

Tiéle Elissa faz parte de um grupo de fotógrafos pro-missores vindos do Rio Grande do Sul. Ela está pró-xima de Tiago Coelho e Marco A.F., dentro do grupo

de estudos de fotografia da Galeria Mascate. Grupo que, aliás, vem apresentando uma produção constante e de qua-lidade. Nesta edição da OLD, Tiéle apresenta uma série que começou na faculdade e foi continuar seu desenvolvimento no grupo. Apto 202 conta parte da história de Diná, tia da fotógrafa, e seu apartamento.

Page 51: OLD Nº 53
Page 52: OLD Nº 53

52

OLD#53portfólio

Page 53: OLD Nº 53

53

Mas algumas pessoas ficam um pou-

co incomodadas. Já me disseram que

esse formato é sufocante.

Como começou seu interesse pela fo-tografia? Começou quando eu tinha uns 14 anos. Era aquela época em que o Fli-ckr estava bombando. Comecei e a me interessar pelo assunto e passava horas explorando galerias por lá. Ai comecei a aprender algumas coisas, entender quais eram os segmentos, as técnicas, os modelos de equipa-mento, entre outras coisas. Descobri fotógrafos que sou fã e amiga até hoje. Nessa época comecei a fotografar o meu universo, o jardim da minha casa no interior e também o cotidiano de cidades maiores pelas quais passava de vez em quando. Fotografava com uma câmera digital compacta muito ruim, que quase não tinha recursos. O foco dela era no infinito, pra focar

o primeiro plano comecei a inventar umas gambiarras com lupas e lentes de binóculos quebrados. Não que fi-casse bom, risos, mas foi uma fase le-gal, de experimentação e sinceridade muito grande. Pouco depois comprei minha dslr e comecei a faculdade de fotografia, depois de passar um tem-pinho cursando jornalismo.

Nos conte sobre o desenvolvimento da série apto 202.Esse trabalho surgiu na disciplina de retratos, na faculdade, em 2014. O professor era o Tiago Coelho, com quem faço estágio hoje e é uma gran-de influência para mim. A ideia era produzir um trabalho de retratos e eu escolhi retratar minha tia Diná e o seu apartamento. Para mim eles re-

presentavam uma relação interessan-te e ambígua de ser e ao mesmo tem-po não ser, uma vez que ela é como se fosse minha segunda mãe e o espaço como se fosse minha segunda casa. Então, escolhi trabalhar com trípti-cos de objetos que são característicos desse ambiente, da personalidade dela ou que fizessem parte da minha memória de infância. Juntando-os com retratos dela, surgiu a primeira fase do Apto 202.

Você faz parte do grupo de estudos da Galeria Mascate, coordenado pelo Marco A. F. e pelo Tiago Coelho. Como

thiéle elissa

Page 54: OLD Nº 53

54

OLD#53

que ter mais opiniões é fundamental dentro do processo criativo.

Você opta por um formato super wide para suas imagens. Como esta opção contribui para sua narrativa?

Esse formato surgiu como uma for-ma de otimizar os trípticos, mas para criar uma unidade maior optei por fazer todas as fotos nesse formato. Então na hora de fotografar já o fazia pensando que depois a imagem so-freria esse corte brusco. Foi um exer-cício muito bom. Eu particularmente gosto desse formato, que pode mudar dependendo da plataforma em que eu o for expor, mas acho que nesse início funcionou. Tem também o fato desse formato ser meio cinematográ-fico e diferente do que estamos acos-tumados dentro da fotografia.

esta experiência transformou sua pro-dução?

O grupo é muito bom pra discutir ideias, encontrar caminhos de edi-ção e compartilhar as crises que vão surgindo. Comecei no grupo com al-gumas ideias que não fluíam. Decidi então concluir o apto 202, até porque ainda estava muito presa a ele e acha-va que não estava pronto. O Marco e o Tiago foram fundamentais para essa edição que é um pouco diferen-te da inicial. Saíram vários trípticos e entraram mais fragmentos de obje-tos sozinhos, que conversam com os retratos em que a personagem tam-bém aparece dessa forma mais frag-mentada. Eles são ótimos, sugerem caminhos e a gente vai tentando en-contrar juntos a melhor maneira de conduzir o projeto. Além do fato de

portfólio

Particularmente gosto de quebrar um pouco esses estereótipos de formatos. Mas algumas pessoas ficam um pou-co incomodadas. Já me disseram que esse formato é sufocante. Concordo, mas também acho que isso faz parte, uma vez que a minha relação com o tema também é um pouco sufocante, como todas as relações humanas.

Page 55: OLD Nº 53

55

thiéle elissa

Page 56: OLD Nº 53
Page 57: OLD Nº 53

57

thiéle elissa

Page 58: OLD Nº 53

58

OLD#53portfólio

Page 59: OLD Nº 53

59

thiéle elissa

Page 60: OLD Nº 53

60

OLD#53portfólio

Page 61: OLD Nº 53

61

thiéle elissa

Page 62: OLD Nº 53

62

OLD#53portfólio

Page 63: OLD Nº 53

63

thiéle elissa

Page 64: OLD Nº 53

64

OLD#53portfólio

Page 65: OLD Nº 53

65

thiéle elissa

Page 66: OLD Nº 53
Page 67: OLD Nº 53

ANDRÉ PENTEADOOLD entrevista

Page 68: OLD Nº 53

68

OLD#53

André Penteado foi o grande nome da fotografia brasileira em 2015. Seu li-vro Cabanagem figurou em parte con-siderável das listas de melhores do ano ao redor do mundo. Além disso, sua produção recente - Cabanagem em especial - foi apontada como marco na qualidade e no pensamento dentro da fotografia brasileira. Para começar 2016 com o pé direito, conversarmos com André para conhecer mais sobre sua criação fotográfica.

André, como começou seu interesse pela fotografia?A fotografia sempre fez parte da mi-nha família. Acho que essa é a res-posta mais lugar comum de todos os fotógrafos [risos]. A minha tia Gilda foi uma grande fotógrafa amadora durante a década de 70, acabei até herdando uma parte da sua coleção de livros de técnica e linguagem fo-

tográfica, meu pai também tinha uma relação próxima com a fotografia e acabei herdando sua câmera e lentes no final dos anos 80, quando come-cei a me interessar por fotografia. Na minha casa sempre teve álbuns de família, sempre se tirou muitas fotos, tem álbuns de família muito antigos, até da primeira metade do século XX. Por conta dessa atmosfera, a fo-tografia sempre foi muito presente para mim. Quando estava na faculdade, no fi-nal dos anos oitenta, fiz dois cursos básicos de fotografia e passei a foto-grafar, com uma certa regularidade, com a câmera do meu pai. No final da faculdade fui ser trainee em uma consultoria e percebi que não tinha jeito para aquilo. Depois de três me-ses pedi demissão e fui ser assistente no estúdio de fotografia da Editora Abril, que ainda tinha um super time

entrevista

fixo de fotógrafos, produzindo para todas as revistas da editora. Depois disso vaguei por algum tem-po entre trabalhos de administração e em uma agência de publicidade. Por conta de cortes na agência acabei sendo demitido, o que foi muito duro na época, mas foi a melhor coisa que poderia acontecer. Essa demissão foi o que me deu o empurrão para entrar de vez para a fotografia, mesmo sem ter um plano certo, eu sabia que iria trabalhar com fotografia. Com essa postura, começaram a apa-recer trabalhos para mim. Comecei minha carreira como fotógrafo tra-balhando em casamentos, eventos, festas de criança, depois comecei a fotografar para a Abril, a fazer traba-lhos corporativos e afins. Esse perío-do durou cerca de dez anos. De novo eu me senti insatisfeito porque mi-nha carreira estava resumida a essa

Page 69: OLD Nº 53

69

andré penteado

Page 70: OLD Nº 53

70

OLD#53entrevista

produção comercial, não tinha traba-lhos autorais fortes, como eu gostaria de fazer. Então, em 2005, me mudei para Londres para me dedicar à foto-grafia autoral, acompanhado pela mi-nha esposa na época. Comecei com projetos pequenos até que, em 2010, ganhei uma espécie de bolsa e passei o ano seguinte inteiro me concen-trando em terminar vários projetos pessoais que estavam em aberto. Foi isso que deu corpo à minha produ-ção. Finalizei durante este período o projeto que realizei depois da morte do meu pai, uma série de retratos de empregadas domésticas, um proje-to sobre motéis, fora poder revisitar meu acervo e encontrar novas pro-postas dentro dele. Em 2012 volto para o Brasil, inscre-vo O Suicídio do meu Pai no prêmio Pierre Verger, ele é escolhido como ganhador, faço a exposição e começo

Page 71: OLD Nº 53

71

complexificar um pouco o trabalho, decidi abordar somente revoltas que tenham acontecido antes da inven-ção da fotografia. Dessa forma não há uma memória fotográfica dos even-tos, o que parece um desafio interes-sante para um artista.Dentro dessa pesquisa a Cabana-gem pulou na minha frente. Se não me engano é a maior revolta que já aconteceu no Brasil, os revoltados re-almente tomaram o poder, não eram separatistas, queriam a transforma-ção da região deles, com o fim dos privilégios dos portugueses - mesmo depois da independência - e que-riam um governo local. A revolta du-rou cerca de cinco anos e morreram 30.000 pessoas, um terço da popula-ção da Amazônia na época.E ninguém fala sobre isso. Talvez em um outro país eles fossem heróis, que tentaram melhorar a sua situação de

ponto mais interessante de ser discu-tido dentro do meu trabalho. Acho até que a fotografia seja a mais conceitual das artes, porque ela só existe no conceito que você está criando, muito mais do que um do-cumento da realidade, ela é um con-ceito que você tem da realidade. Se ela não tem esse conceito, ela não é nada, ela é uma imagem vazia. Sempre me interessei por história e comecei a pensar em fazer um proje-to ligado a este tema. Logo depois de eu voltar para o Brasil, explodiram as manifestações de Julho de 2013. Pare-cia um conflito na lógica de um povo dócil como o brasileiro. Fugi desse estereótipo e fui pesquisar na nossa história e encontrei uma lista enor-me de revoltas populares na história brasileira. A partir disso pensei em fazer uma série de cinco trabalhos sobre revoltas no Brasil, mas para

a trabalhar no projeto Rastros, Traços e Vestígios, do qual Cabanagem é o primeiro capítulo.Eu gosto de contar a minha trajetória inteira porque muitas vezes as pes-soas romantizam o processo, acham que você “virou artista”, vêem um li-vro publicado, destacado em listas de melhores do ano e esquecem que eu fiz muito casamento, muita festa de criança para chegar até aqui.

Como foi o processo de produção do ensaio Cabanagem?Desde trabalhos mais antigos, como o do meu pai, eu sempre tentei en-tender como esta folha de papel, que é uma fotografia, e parece reprodu-zir tão fielmente o mundo e a gente, como fotógrafo, sabe que é uma mera construção que engana as pessoas e as faz acreditar que aquilo é uma re-alidade. Eu acho isso, no momento, o

andré penteado

Page 72: OLD Nº 53

72

OLD#53entrevista

vida. É uma revolta em que um grupo de fazendeiros brasileiros se junta às massas - ribeirinhos, negros fugidos, brancos fugidos do exército - com um grande fundo religioso e inva-dem Belém, matam o governador e assim começa uma luta pelo poder na região, dentro do próprio grupo rebelde. Com esse cenário em mente, pensei o projeto Rastros, Traços e Vestígios. Me aprofundando no projeto, decidi que serão cinco livros, mas nem to-dos sobre revoltas. Os três primeiros livros já estão definidos: o primeiro é sobre a Cabanagem, o segundo sobre a Missão Francesa e o terceiro sobre a Farroupilha, que eu quero usar como um contraponto à Cabanagem.

Há uma forte criação simbólica e me-tafórica no ensaio. Você pensa e pro-duz as imagens que necessita ou sai

em uma busca intuitiva atrás delas?O procedimento é assim: escolho meu tema, no caso a Cabanagem, faço uma extensa pesquisa, vou filtrando o que é bom e o que é ruim, leio bas-tante, para conhecer profundamente meu tema. Não como um pesquisa-dor ou historiador, mas na busca de sensações e pensamentos. O que vem na minha cabeça são lugares a visitar e imagens possíveis. Essas imagens não são exatamente as que acabo por fazer, mas sim uma lista de lugares e temas relacionados a eles que acabam por construir o universo de fotogra-fias que vou produzir. Quando vou aos lugares já pesquisados, o acaso se apresenta. Por exemplo: o facão - ou terçado no Pará - foi a principal arma usada durante a revolta. Em uma das igrejas que visitei encontrei um facão apoiado na parede do lado de fora e o fotografei. Este tipo de coisa não tem

como prever. É este tipo de acaso que ajuda a construir o ensaio. Essa pre-paração, essas ideias e o acaso nem sempre funcionam, então fiz 16.000 fotos para a Cabanagem. Passei dois meses e meio em Belém, fiz as ima-gens e quando voltei me vi perdido dentro desse imenso acervo. Como ele daria conta da Cabanagem? O que ficou dela nas imagens? Porque, na realidade, eu estou usando fatos históricos para refletir sobre o Brasil de hoje. Ficou muito na minha cabe-ça a ideia de camadas, de elementos que se repetem na nossa história, por exemplo a religião, que foi um elemento super importante na Ca-banagem e agora se faz presente no nosso Congresso, de uma forma bas-tante complexa. Além disso, nos dois meses que passei no Pará, vi todos os dias fotos de pessoas mortas na peri-feria no jornal local, ou seja, morre-

Page 73: OLD Nº 53

73

andré penteado

Page 74: OLD Nº 53

74

OLD#53entrevista

Page 75: OLD Nº 53

75

andré penteado

Page 76: OLD Nº 53

76

OLD#53entrevista

ram 30.000 na cabanagem, mas con-tinuam morrendo aos montes hoje em dia. Por conta dessa quantidade tão gran-de de imagens eu levei um ano para editar o livro, que entrou em um pro-cesso de depuração. Primeiro olhei todas as fotos e cheguei em uma se-leção de 400. As imprimi em 10x15cm e dei uma primeira ordem a elas. De-pois disso, comecei a trabalhar alguns pdfs de livros no InDesign para ver o que estava funcionando. Eu cheguei a voltar às 16.000 fotos umas três ou quatro vezes no processo. À medida que eu ia vendo o que eu tinha feito, eu entendia melhor o meu acervo e ia voltando, buscando imagens que tinham ficado para trás. É interes-sante comentar que muitas das fotos que ficaram no livro eu já peguei na primeira edição. Mas tinham muitas pessoas e rostos, que acabaram su-

mindo do resultado final. Nem mes-mo os santos tem rostos, estão sem-pre com a cabeça desfigurada. É um processo racional de leitura, que gera uma lista de locais e possí veis imagens, que são tomados pelo acaso e assim produzo minhas foto-grafias. No final das contas, não gosto de explicar as imagens que estão no livro, mas todas as fotos tem alguma ligação, em algum grau, com a histó-ria da Cabanagem. O livro é muito mais sobre uma sensação do que so-bre a história da revolta em si.Como artista, eu acho muito interes-sante colocar na mesa uma coisa que deixe várias dúvidas e as pessoas sem entender, mas comunicando, certa-mente, uma sensação, com a qual a pessoa vai ter que trabalhar dentro dela o porquê daquilo, construir um sentido próprio para o trabalho.

Como foi o processo de produção do li-vro? Porque você optou por três peças diferentes? Os retratos foram sempre uma dúvi-da dentro do projeto. Eu gosto muito de fazer retratos, mas, apesar de se-rem bons, não são a coisa mais forte do trabalho. Eles fazem sentido den-tro da minha caminhada, pois apre-sentam pessoas que eu encontrei durante a criação do trabalho e que, muitas vezes, me contaram suas ver-sões sobre a revolta. Durante um período, uma parte dos retratos estava dentro do livro de lu-gares, mas quando você coloca um retrato próximo ou ao lado de uma outra imagem, sempre se constrói uma associação de que aquele lugar ou coisa fala do retratado. Discutindo a edição com outras pessoas percebi que os retratos mereciam um lugar, mas não era esse. Assim ficou decidi-

Page 77: OLD Nº 53

77

andré penteado

Page 78: OLD Nº 53

78

OLD#53entrevista

do que um livro seria só de lugares.Desse desejo de manter os retratos surgiu o segundo livro, menor, para complementar o projeto. Como o projeto discute bastante a questão desse labirinto que é a burocracia e a política no Brasil, decidimos fazer então três peças, um quebra cabeça que deve ser montado pelo leitor. A última peça é o texto escrito pela historiadora Magda Ricci. Na primei-ra versão, o texto fazia muita referên-cia às fotografias que estão no livro. Pedi para a Magda esquecer isso. A ideia não é explicar o trabalho, mas sim dar mais uma ferramenta para o leitor poder construir a história atra-vés do quebra cabeça que o projeto apresenta.Quando eu vou a uma exposição eu tento primeiro ver o trabalho, criar uma narrativa minha, para depois ler o texto e levar essas ideias para um

outro lugar. Para Cabanagem pensei em criar uma obra que exigisse um certo esforço do leitor, que o fizesse buscar e compreender por si próprio o que está sendo apresentado para ele. Assim, o livro vai se revelando aos poucos para o leitor, com os ob-jetos, os retratos, as legendas, o texto, construindo aos poucos essa história.

Como você pensou a sequência das fo-tografias no livro? Você usou algum processo narrativo específico?Sempre tem uma narrativa. Eu não tenho o costume de escrever um ro-teiro para o fotolivro, não consigo tra-balhar assim. Trabalho de uma forma mais intuitiva, que vai passando por várias ideias de roteiro para contar a história. Sempre começo com uma sequência, que é a pior de todas, que é a cronológica. O trabalho como um diário de viagem, do lugares que eu

Page 79: OLD Nº 53

79

andré penteado

quipe de apoio durante o projeto - o Felipe tirou sete fotos, que estavam desde o começo, e o livro fechou. Isso mudou um pouco a contagem, mas funcionou. E a ideia de começar e terminar com a selva acabou virando só o começo, para construir uma ex-pectativa no leitor que depois é que-brada ao longo do livro.Sempre pensei os livros com tama-nhos diferentes, algo que foi refinado pelo designer, que fez com que o li-vro menor “encaixasse” no tamanho

do maior. O verde da capa já veio do boneco e o vermelho veio pela ideia de trabalhar com violência e sangue e assim chegamos ao produto final.O processo é bem intuitivo, de es-colher as imagens que me dizem al-guma coisa, depois tentar criar uma narrativa, que se encerra no plástico preto que cobre tudo e encerra o li-vro.

fui da Cabanagem, mas isso não dava conta. Em uma conversa com o Iatã Cannabrava, ele apontou os temas que se repetem ao longo do trabalho - como a morte, a natureza, a buro-cracia, a igreja, a violência - e a ideia de que a selva poderia estar no come-ço e no final de tudo. Conforme fui trabalhar com essas ideias em mente cheguei a uma equação matemática, uma estrutura fixa para o livro, que é a seguinte: sempre começa com uma porta, uma sequência dos temas tra-balhados no livro (burocracia, igreja, coisas velhas, etc.), uma morte, uma natureza e uma nova porta, começan-do um novo ciclo, começando tudo de novo. Fiz uma edição bem fecha-da, contando o número de fotos que se repetia entre cada porta, só que na hora de refinar o material com a aju-da do Felipe Russo, do Walter Costa e do Ivan Padovani - minha querida e-

Para Cabanagem pensei em criar uma obra que exigisse um certo esforço do leitor, que o fizesse buscar e compreender por si próprio o que está sendo apresentado para ele. Assim, o livro vai se revelan-do aos poucos para o leitor, com os objetos, os retratos, as legendas, o texto, construindo aos poucos essa história.

Page 80: OLD Nº 53

portfólio

PAULA PEDROSAJardim Europa

Paula Pedrosa apresenta em Jardim Europa o questio-namento entre os limites da paisagem natural e da pai-sagem construída no bairro de mesmo nome na capital

paulista. O bairro, um dos mais caros da cidade, faz alusão à Europa, misto de qualidade de vida e parca preservação do que é natural. Assim, com esta referência em mente e com a realidade do Jardim Europa à sua disposição, Paula apresenta a maneira com que o homem força a natureza a se encaixar em seus padrões de desenvolvimento e espaço. A série se coloca como uma crítica visual ao desenvolvimento extremo e desor-ganizado que presenciamos nos grandes centros urbanos.

Page 81: OLD Nº 53
Page 82: OLD Nº 53

82

OLD#53portfólio

Page 83: OLD Nº 53

83

A construção da narrativa foi basicamente estética, buscando fotos que fossem gra-ficamente semelhantes, já que o conceito estava alinhado previamente.

Paula, nos conte sobre seu começo na fotografia.Sempre gostei de olhar os álbuns de família. Quando fui me tornan-do mais independente, quis formar meu próprio álbum. Ao entrar no curso de ciências biológicas, na uni-versidade, me interessei cada vez mais em fotografar. No começo mais as viagens, depois as coisas do meu cotidiano também. Fui me aprofun-dando no assunto e meus objetivos foram mudando ao longo dos anos. Hoje creio ter encontrado meu ca-minho na fotografia, desenvolvendo projetos autorais que buscam unir meus questionamentos e curiosida-des sobre o mundo ao meu redor.

Como se deu o desenvolvimento da sé-

rie Jardim Europa?Como bióloga, sempre reparei na paisagem com olhar curioso. A for-ma como alteramos o ambiente para enquadrá-lo às necessidades huma-nas, físicas e psicológicas, é um tema que me intriga, em todas as escalas. A série começou a se desenvolver por acaso, simplesmente observan-do meu caminho as imagens surgem. Meu processo de criação e produção não é linear, e geralmente estou tra-balhando em projetos paralelamen-te. No caso desta série, todas as foto-grafias foram feitas no meu bairro e adjacências. Já a categorização des-tas fotos como uma série, foi pratica-mente um trabalho edição. Selecio-nar e alinhar as imagens mais afins em termos de conceito e estética.

Há um embate constante entre homem e natureza na série. Quais seus obje-tivos com a exposição deste conflito?Eu tendo a observar a cidade como parte do ambiente natural. Apesar da distinção óbvia entre cidade e natu-reza, prefiro não fazer esta classifi-cação. Para mim a paisagem urbana é simplesmente um reflexo da na-tureza humana, e meu objetivo com esta série, na verdade com todo meu trabalho, é justamente mostrar não o conflito, mas sim aquilo que não per-cebemos, não reparamos e aceitamos como sendo o padrão sem questio-nar, simplesmente porque faz e sem-

paula pedrosa

Page 84: OLD Nº 53

84

OLD#53

não sei se há alguma cidade no mun-do que saiba, que utilize os recursos naturais de forma limpa e eficiente e ao mesmo tempo lide com os descar-tes sem impacto. Difícil atingir este equilíbrio em uma época industrial e capitalista. Há vários exemplos de modelos bem aplicados a um ou ou-tro problema pontual, mas um equi-líbrio entre o construído e o natural é pouco provável. Acho arrogante o ser humano achar que consegue con-trolar alguma coisa, não controlamos nem a humanidade, muito menos a natureza.

pre fez parte do nosso ambiente co-tidiano.

Como você busca construir a narrativa visual nesta série?Em geral eu busco por imagens sim-ples e objetivas, o que neste ensaio foi realmente levado a sério e deter-minante. A construção da narrativa foi basicamente estética, buscando fotos que fossem graficamente seme-lhantes, já que o conceito estava ali-nhado previamente.

Você vê São Paulo como uma cidade que não sabe lidar com a sua nature-za? Temos chance de ter uma cidade que equilibre bem o construído e o na-tural?Só de olhar os rios Pinheiros e Tietê temos a certeza que São Paulo não sabe lidar com a sua natureza. Mas

portfólio

Page 85: OLD Nº 53

85

paula pedrosa

Page 86: OLD Nº 53
Page 87: OLD Nº 53

87

paula pedrosa

Page 88: OLD Nº 53

88

OLD#53portfólio

Page 89: OLD Nº 53

89

danilo luna

Page 90: OLD Nº 53

90

OLD#53portfólio

Page 91: OLD Nº 53

91

paula pedrosa

Page 92: OLD Nº 53

portfólio

NETO MACEDOVida sobre as águas

Neto Macedo teve apenas 7 dias para produzir seu en-saio. Criado durante uma viagem pautada por uma organização sem fins lucrativos, Neto construiu seu

olhar pessoal pelas margens do que lhe tinha sido pautado. Desse mundo diferente da maior parte do Brasil e de uma complexidade ímpar, surgiu uma série de fotografias deli-cadas, que contam, através de seus detalhes, um pouco da rotina desta comunidade ribeirinha.

Page 93: OLD Nº 53
Page 94: OLD Nº 53

94

OLD#53portfólio

Page 95: OLD Nº 53

95

A ideia de mostrar como era viver rodeado de água ganhou força porque era algo completamente novo para mim.

Neto, nos conte sobre seu começo na fotografia.Eu nunca parei pra pensar nisso, mas você perguntou a sério e eu gastei um tempo aqui pensando como foi. Cheguei à conclusão que a primeira vez que me vi como fotógrafo, alguém planejando as imagens e procurando histórias, foi em uma viagem solitá-ria pela Dinamarca. Sobrou bastante tempo pra brincar com uma câmera de pilhas que eu tinha em mãos. Per-cebi que uma chave “girou” dentro do cérebro e a dinâmica do ato de fotografar mudou um pouco na mi-nha cabeça. Acho que passei a me identificar pelo termo “fotógrafo” quando comecei a observar as coisas com aquele olhar diferente, típico de quem vive em busca de imagens.

Como foi criado o ensaio Vida Sobre as Águas?Fui convidado para participar de uma expedição de uma organização sem fins lucrativos e documentar o trabalho que eles iriam desenvolver na Ilha de Marajó (parte fluvial), no Município de Bagre e algumas ou-tras comunidades próximas. Fiz vá-rias reuniões com eles e nestas reu-niões percebi que todos tinham um carinho grande pela população de lá. Não seria a primeira visita e eles citavam nomes de alguns moradores, contavam histórias e casos das ou-tras vezes que tinham ido oferecer as mesmas coisas: atendimento médico, odontológico e jurídico, oficinas de artes e esportes, apoio espiritual, etc.Como eu tinha somente 7 dias para

produzir um vídeo mais fotografias sobre o projeto e ainda conseguir imagens para os meus objetivos pes-soais, tentei seguir à risca o roteiro que preparei, mas nunca desligando o “faro” e mantendo a atenção para coisas interessantes que não pudes-sem ser planejadas.

Como você buscou traduzir as histó-rias de seus personagens em suas fo-tografias?Na minha pele foi como estar em outro país dentro do Brasil. Um lu-gar fantástico! Ao mesmo tempo que fiquei completamente apaixonado

neto macedo

Page 96: OLD Nº 53

96

OLD#53

calor, simplesmente saindo de casa e entrando no rio com um sabonete nas mãos. Um lugar completamente plano, onde o sol nasce e se põe no fim do rio, com seu formato redondo refletido na água. Eu não queria ima-gens estáticas e retratos inertes das pessoas, por isso na medida em que me foi possível eu busquei fotogra-far as pessoas durante suas ativida-des. Eu senti que estava em um lugar cheio de vida e queria que isto trans-parecesse nas fotografias.

Como a escola de fotografia documen-tal influencia sua produção?Diferentemente de vários fotógrafos que eu gosto, que buscam não inter-ferir em nada com as pessoas foto-grafadas, eu faço o contrário. Tento interagir com as pessoas por acredi-tar que as minhas ações vão gerar

pelo modo de vida das pessoas, suas casas, sua culinária, cultura, sotaque e o modo como vivem. A ideia do Vida Sobre as Águas surgiu lá, porque foi o que mais me chamou a atenção. Sou mineiro do Norte de Minas Ge-rais e aqui não temos uma cultura de morar e viver do rio como eles têm lá (apesar de termos o São Francisco, não é a mesma coisa). A ideia de mos-trar como era viver rodeado de água ganhou força porque era algo com-pletamente novo para mim.Vi coisas absolutamente fantásticas lá: crianças de 6 anos pilotando cano-as motorizadas em um rio cuja mar-gem oposta se perde de vista no ho-rizonte, jovens brincando sobre e sob as pontes de palafita, vivendo suas vidas em casas construídas sobre as águas. Um lugar onde muita gente toma vários banhos ao dia, devido ao

portfólio

reações diferentes das que eu obte-ria só levantando a câmera e pedindo uma foto. Se eu fotografo uma família descascando mandioca em uma usi-na de farinha artesanal eu não peço a foto, peço para me ensinarem a des-cascar também. E me sento com eles. E gasto alguns minutos. E então tudo foi esquecido e eu sou parte do gru-po, não mais um completo estranho.

O que você deseja deixar no seu espec-tador após o contato com a série?Para resumir bem: meu desejo maior é que ao olhar a foto do menino que salta na água, o espectador pensasse “queria estar lá e saltar junto”.

Page 97: OLD Nº 53

97

neto macedo

Page 98: OLD Nº 53
Page 99: OLD Nº 53

99

neto macedo

Page 100: OLD Nº 53

100

OLD#53portfólio

Page 101: OLD Nº 53

101

thiéle elissa

Page 102: OLD Nº 53

102

OLD#53portfólio

Page 103: OLD Nº 53

103

thiéle elissa

Page 104: OLD Nº 53

104

Revi o livro Luces de Montaña de Galen Rowell nesses últimos dias e trouxe dali a inspiração para este texto. Tratei de ressaltar a articula-ção feita pelo fotógrafo de aspectos do ato de se tomar fotos, ou seja, um conhecimento técnico, um compro-misso ético e o manejo da luz.Foi interessante pensar a fotografia a partir dessas ideias alinhadas em livro de 1995. Depois de vinte anos nota-se que muita coisa mudou e outras tantas seguem iguais. Quan-do Rowell escreve sobre a sorte, ve-

mos diante de nós uma síntese das relações que se estabelecem entre as distintas variáveis na realização de uma foto. Inicialmente, temos uma busca do fotógrafo pela compreen-são da leitura da boa luz feita pelo sensor ou pelo filme . O equipamen-to não registra o mundo visível tal qual nossos olhos. Ao compreender esse ponto básico muita coisa se tor-na mais fácil. Ao apertarmos o botão disparador finalizamos o processo de criação. Temos ali, de forma latente no interior do equipamento, a ima-gem que construímos com a reunião de nossos conhecimentos técnicos com a visão de mundo que temos, a luz e a sorte. Esta última palavra parece não se encaixar muito bem. Afinal, o que é a sorte nesse contex-to? Algo metafísico? Prefiro dizer

que é, talvez, a síntese do conjunto de articulações até então realizadas. Todos os momentos são momen-tos propícios. Desde que estejamos preparados para lançar mão daquilo que sabemos e sentimos quando se apresenta o momento certo e o lugar certo (tempo, espaço e luz). E, além disso, temos que estar com a câma-ra na mão, pronta para ter seu botão de disparo pressionado. Construir de maneira consciente e intuitiva cada uma das imagens que produzi-mos nos faz criar um número maior de “boas oportunidades”. Ou ainda, no momento em que algo fortuito se apresenta diante de nós como uma possibilidade para uma boa foto es-tamos preparados para realizá-la. Nós é que construímos nossa boa sorte.

Angelo José da Silva é professor de socio-

logia na Universidade Federal do Paraná e

fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes fo-

cam o espaço urbano e o grafite.

BOA SORTE reflexões

Page 105: OLD Nº 53

105

reflexões

Temos ali, de forma latente no interior do equipamento, a imagem que construímos com a reunião de nossos conhecimentos técnicos com a visão de mundo que temos, a luz e a sorte.

coluna

Page 106: OLD Nº 53

[email protected]

MANDE SEU PORTFÓLIO

Fotografia do ensaio A Língua dos Pássaros, de Pan Alves.Ensaio completo na OLD Nº 54.

Page 107: OLD Nº 53
Page 108: OLD Nº 53
Page 109: OLD Nº 53
Page 110: OLD Nº 53