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Misterios do Alem

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Misterios do além e mais ainda

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    M i s t r i o s e R e a l i d a d e s d e s t e e d o

    O u t r o M u n d o

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    Exemplar N. 7687

    Direitos desta edio reservados EDITORA CIVILIZAO BRASILEIRA- S.A.

    Rua 7 de Setembro, 97 Rio de Janeiro

    1960 _______________________________

    Impresso nos Estados Unidos do Brasil Printed in the United States of Brazil

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    A. DA SILVA MELLO

    M I S T R I O S e

    R E A L I D A D E S

    Deste e do Outro Mundo

    terceira edio, atualizada

    EDITORA CIVILIZAO BRASILEIRA S. A. RIO DE JANEIRO

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    ALGUMAS OBRAS DE A. DA SILVA MELLO Problemas do Ensino Mdico e de Educao. Editora Ariel, Rio, 1936, esgotado. Alimentao, Instinto e Cultura. Perspectivas para uma vida mais feliz. Livraria Jos

    Olympio Editora, Rio de Janeiro. 1 edio, 1943, em 1 vol. 2 edio, 1943, em 1 vol. 3 edio, 1946, em 3 vols. 4 edio, 1956, em 2 vols., aumentada, com ndice remissivo.

    O Homem sua Vida, sua Educao, sua Felicidade. Livraria Jos Olympio Editora. 1 edio, 1945, em 1 vol. 2 edio, 1946, em 1 vol. 3 edio, 1948, em 3 vols. 4 edio, 1956, em 2 vols., aumentada, com ndice remissivo.

    Alimentao no Brasil. 1 volume. Editora O Cruzeiro, Rio, 1946, esgotado. Mistrios e Realidades Deste e do Outro Mundo. Livraria Jos Olympio Editora. 1

    edio, 1948. 2 edio, 1950, esgotada. Alimentao Humana e Realidade Brasileira. Livraria Jos Olympio Editora, 1950. Nordeste Brasileiro. Estudos e Impresses. Livraria Jos Olympio Editora. 1 edio,

    1953, esgotada. Estudos sobre o Negro. Livraria Jos Olympio Editora. Rio, 1958. Panoramas da Amrica Latina Editora Civilizao Brasileira. Rio, 1958. Panoramas Norte-Americanos. Editora Civilizao Brasileira. Rio, 1958. Estados Unidos Prs e Contras. Editora Civilizao Brasileira. Rio, 1958.

    NO PRELO: Alimentao no Brasil, 2 edio, muito aumentada. Livraria Jos Olympio Editora. Israel. Observaes e Reflexes. Editora Civilizao Brasileira.

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    PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO

    S IDIAS CONTIDAS neste livro so to simples, to insignificantes, j to bem investigadas, que o autor se sente quase contrafeito em tom-las como objeto de

    seus estudos. No entanto, julga-se a isso obrigado, parecendo-lhe que qualquer evasiva constituiria falta de cumprimento do dever. H muitas dezenas de anos, to longe quanto podem recuar as suas recordaes, preocupam-no os problemas aqui tratados, que, na verdade, so do interesse de todos os seres humanos, para muitos dos mais graves e importantes da existncia. O autor conhece, agora, os mltiplos caminhos desse territrio to cheio de mistrios e dificuldades, para o qual no encontrou nem guias seguros, nem roteiros suficientemente esclarecedores. Ele prprio teve de palmilh-lo quase s apalpadelas, no se dando conta da realidade seno depois de a ter tocado com as prprias mos. Foi um trabalho extremamente lento e penoso e que s pde ser levado a bom termo depois de se ter sentido ele, durante decnios, perdido dentro do problema, quase envolto em trevas, desnorteado e ignorante diante do que precisava saber e que julgava de significao fundamental para a sua prpria vida. E pensa que, nessas mesmas condies de ignorncia e de interesse, de angstia e de desorientao, devem viver milhes de seres humanos, entre os quais indivduos de alta cultura, mesmo inmeros sbios e professores universitrios.

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    O material existente to abundante, to contraditrio, to cheio de dvidas e incoerncias, que se torna difcil julgar, decidir, encontrar orientao. preciso muito tempo e muito trabalho para se atravessar essa fase de insuficincia e hesitaes. O autor acredita que a sua observao representa um exemplo muito comum e caracterstico, semelhante a inumerveis outros existentes pelo mundo. No por outra razo que se sente obrigado a escrever esta obra, que julga destituda de maior importncia cientfica. E faz esta afirmativa com absoluta convico, porque, ao chegar ao final do caminho, ao estudar as indicaes do seu roteiro, verificou que no tinha visto nada de novo e que a regio j havia sido explorada em todas as direes por outros viajores mais perspicazes e mais bem informados. Foi uma concluso bastante insignificante para quem andava procura de mistrios e revelaes. Isso, de um lado, porque, de outro, constitui tal fato um consolo e uma libertao. A situao era verdadeiramente de angstia, quase de desespero, pois se os problemas em questo so do mais geral e profundo interesse humano, no j dvida que, para o mdico, adquirem eles ainda maior importncia.

    No indiferente para o homem, e muito menos para o mdico, saber quanto h de verdade na grafologia, se a leitura e a transmisso do pensamento, a clarividncia, a telepatia, as premonies e predies, as materializaes, a levitao, as aparies e a existncia de espritos representam ou no verdadeiras realidades. Queremos repetir que gastamos dezenas de anos de esforos e trabalhos em torno dessas preocupaes, antes de conseguirmos orientar-nos quanto sua exata significao. Se aconteceu conosco tal fato, acreditamos que deva ser ele muito geral. Da a obrigao que sentimos de escrever este livro, que representa a nossa prpria experincia dentro da questo. No h nele nada de novo, nem de essencial. No um livro para os que sabem, nem para especialistas. livro medocre, ingnuo, humano na mais vasta acepo desses termos. Tambm, por isso, julgamo-lo muito til, necessrio, verdadeiramente indispensvel. Contm coisas que precisamos todos saber, com preciso, garantidamente. Talvez possamos poupar imensos e penosos esforos a inmeros de nossos semelhantes, contando-lhes como passamos pelas

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    dvidas e dificuldades que os devem assaltar, antes de chegar s concluses finais, que sero aqui apresentadas. Foi partindo desse princpio que escrevemos esta obra e a entregamos ao grande pblico considerando-a um servio humano, quase um trabalho de mdico.

    S. M. 1946 1948

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    PREFCIO DA SEGUNDA EDIO

    ACEITAO QUE OBTEVE este livro, cuja primeira edio esgotou-se dentro de poucos meses, talvez constitua prova de haver correspondido a uma

    necessidade, de acordo com a suposio do autor. Ainda mais do que isso: essa concluso parece-lhe tanto mais justificada, quanto foi elevado o nmero de cartas que recebeu de leitores de quase todas as regies do Brasil, sempre no sentido de aprovao, realando a utilidade do seu trabalho. Foi essa, tambm, a recompensa maior que podia esperar, mormente no lhe tendo chegado missivas de ataque ou desagrado, que ficaram reservadas a opinies dadas publicamente, pela imprensa. No primeiro caso, falava o indivduo por si prprio, livremente, estritamente de acordo com a sua maneira de pensar. No segundo, sempre ligado a qualquer grupo ou confraria, com interesses prprios, necessitando defender pontos de vista comuns, preestabelecidos, naturalmente com quaisquer argumentos, mesmo mais a favor da causa do que da verdade. Somente por isso, foi negada ao autor competncia no assunto, quiseram coloc-lo fora do terreno cientfico, procuraram visar mais o homem do que a sua obra. Apesar disso, ele se sente ainda desvanecido em haver sido tratado com certa decncia e urbanidade, no muito comuns nessas paragens esotricas, onde prevalecem os sentimentos sobre a razo. Talvez, por um direito que lhe devido, dada a sua obra de trabalho e honestidade, tanto como homem

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    quanto como mdico. verdade que os opositores esqueceram-se de apresentar as suas prprias credenciais, e, o que ainda pior: fatos que viessem invalidar as afirmativas apresentadas na publicao. Tudo ficou em palavras, em deturpaes de textos e citaes, em velhos argumentos, j gastos pela sua montona repetio. Tem sido sempre assim no campo da metapsquica, quando os fatos so analisados desassombrada-mente, de acordo com a sua exata realidade. .Nesse particular, surpreendi-me com os ataques de uma sociedade de medicina e espiritismo, sobretudo por encontrar-se ela fora dos preceitos da tica mdica, que no admite cultismos associados prtica da medicina. Os Princpios de tica Mdica, da American Medical Association, so bastante claros nesse sentido. De qualquer maneira, achei extravagante que justamente essa sociedade me viesse negar autoridade cientfica, quando os seus fundadores no fazem parte das nossas Academias ou Faculdades Mdicas, nem so conhecidos pelas suas publicaes cientficas. Faltando-lhes credencial to indispensvel, era mais justificado que tivessem criado apenas uma sociedade de mdicos espritas, mais de acordo com a tica mdica e tambm com os seus prprios estatutos, onde so reproduzidas fotografias de materializaes e outros documentos idnticos, hoje rejeitados at por espritas modernos.

    Em compensao, foi decisivo o apoio de mdicos, universitrios, cientistas e da maioria de intelectuais, sem contar o do grande pblico, sem dvida o mais significativo. No entanto, a minha maior satisfao foi a de ver catlicos e membros de outras religies, homens de alta cultura e sacerdotes de elevada categoria, entusiasmarem-se pela obra, realando a sua utilidade. Como tenho explanado em meus livros, tive sempre grande respeito pela f, que considero um atributo humano de imensa valia. For essa razo, no posso ser contra o misticismo, embora batendo-me pela verdade cientfica. O prprio espiritismo, como religio, tem direitos de cidade, desde que no procure basear seus dogmas em fatos que a cincia j demonstrou no corresponderem realidade.

    De qualquer forma, parece-me que a obra est cumprindo a sua misso. sob esse ponto de vista que tenho grande satisfao em entregar ao pblico esta segunda edio, aumentada de complementos, quer referentes a trabalhos de mais recente aparecimento, quer correspondncia motivada pela prpria publicao.

    S. M. Maio 1950

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    PREFCIO DA TERCEIRA EDIO

    PRESENTE EDIO aparece dez anos depois da anterior, no por falta de leitores, que de h muito reclamavam contra a sua falta, mas sim por dificuldades

    naturais, nascidas do prprio comrcio de livros. Tara atender a essas reclamaes lanada esta terceira edio, tanto mais justificada quanto a utilidade da obra j se encontra por demais demonstrada.

    Depois do aparecimento da segunda edio, prosseguiram os ataques, principalmente dirigidos ao autor, o que o levou a uma explanao pelo O Cruzeiro de 30 de junho de 1951, onde procurou precisar os seus pontos de vista em revide aos seus crticos e detratores. Isso tornava-se tanto mais necessrio quanto artigos de oposio, inclusive editoriais pagos, multiplicavam-se enormemente, aparecendo at alguns livros, de propores volumosas, para combater a publicao. Para mostrar quanto os ataques eram injustos e pessoais, dizia: os meus contraditores negaram-me tudo: desde honestidade em tratar do assunto, at qualquer competncia para faz-lo. Para eles, os autores que menciono so desprezveis, os textos citados falsos ou truncados, as minhas experincias insignificantes e realizadas com pessoas destitudas de idoneidade. Tudo na obra est falseado, errado, sofisticado. Se eu prprio, como leitor annimo e desprevenido, lesse qualquer desses trabalhos, teria

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    a impresso de que o autor do meu livro era um homem desonesto, alm de ignorante no assunto. Alis, era essa evidentemente a finalidade que visavam os meus opositores, que precisavam defender a sua seara de qualquer maneira. Um deles abusou do meu nome, que lhe serviu de ttulo para o volume, posto em letras vermelhas na capa, como chamariz. uma artimanha que provavelmente comporta penalidade legal, porque no crvel que se possa tirar partido, impunemente, de uni autor para se conseguir venda de um livro que deturpara a sua obra e procura destruir a sua reputao. Na verdade, a preocupao mxima tem sido de destruir o autor, invalidar as suas idias, desmoraliz-lo diante do pblico. O truque por demais conhecido, mas excessivamente banal. Ele tem muita aplicao nas desavenas pessoais e nas discusses polticas, mas no serve no campo cientfico onde deve haver mais rigor e mais dignidade.

    Qualquer deslize, qualquer contradio, qualquer citao trancada ou falsamente aproveitada comporta no desprestgio do homem de cincia ou no seu aniquilamento. Eu acrescentava que o trabalho cientfico tem sido a maior razo de ser da minha vida, eiva reputao nunca foi posta em dvida por ningum. Por esse simples motivo, a minha defesa tornava-se extraordinariamente fcil, pois que se encontrava dentro da minha prpria obra. Dizia ainda ter a convico de que qualquer leitor honesto, leal, independente, livre de preconceitos e compromissos, poderia verificar facilmente quanto a obra era vtima de deturpaes, de desvirtuamentos, capazes de pr as frases e as idias do autor em contraposio ao que ele realmente pensara e exprimira. Repetira que, para destruir a sua obra, todos os recursos e argumentos tornaram-se bons e aproveitveis, embora precisassem, primeiramente, falsear e deturpar as minhas idias.

    No, no assim que se destri uma obra ou um autor! O que eu prprio preciso repetir que o meu livro sincero, produto de um estudo longo e aprofundado, que custou muito tempo e muito trabalho, levando-me s concluses que nele se encontram. Eu no tenho a culpa de muitos dos exemplos apresentados no corresponderem s exigncias cientficas. Poderia at perguntar: por que atacar-me com tanta violncia, quando, como oposio, no cito seno autoridades do maior vulto e fatos autenticados pela cincia? Quer eis ver como os problemas esto colocados? Charles Richet, que acreditou em telecinesias e ectoplasmas, no admitiu a levitao! Eis

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    como se expressa o grande sbio: apesar da autoridade e do grande nmero de testemunhas, parece-me que a cincia, a inexorvel cincia, no tem direito de, presentemente, considerar a levitao como um fenmeno cientfico demonstrado, devendo-se ser to severo com as provas quanto se se tratasse de condenar um homem morte. Pois bem, muitos homens tm sido condenados morte inocentemente e a levitao admitida incondicionalmente por todos os metapsiquistas, talvez excetuando unicamente Richet! Estarei tambm errado, quando, nessas condies, me encontro na companhia do prprio Richet? Pensem nisso! Depois, leiam a minha obra com menos dissenso e certamente iro ver quanto poder ser ela til aos prprios espritas, cuja religiosidade digna do maior respeito. Querer pr essa religiosidade de acordo com dados falsos ou irreais , porm, tarefa ingrata e errnea, que pode levar a despautrios, injustias e ofensas, como tem acontecido comigo, a propsito do meu livro. A questo nada tem de pessoal e, nesse particular, os meus opositores cometeram erros grosseiros, dignos da maior censura. No seria melhor que ficassem nos fatos e dentro da dignidade? Parece-me que a opinio de Richet sobre a levitao, fenmeno admitido por todos os espritas, deve valer como gua fria na fervura, sobretudo para aqueles que acreditam ser necessrio demonstrar a existncia do esprito por meio de provas materiais. Devo lembrar que Cristo disse Samaritana que Deus esprito e, como Esprito, quer ser adorado.

    Ainda uma palavra sobre a Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro, que j recebeu, no prefcio da segunda edio, uma pequena resposta s agresses que me dirigiu. Depois, lanou um ruidoso a-pedidos em jornais da maior circulao, acreditando haver-me pegado em contradio, de m f, cometendo indignidade. Os membros da Sociedade descobriram que, tendo eu medo de fantasmas, no posso negar os fenmenos espritas, acrescentando que, se sou exato diante do fato, tornei-me mentiroso diante das circunstncias que o cercam. Julgam haver-me apanhado assim de surpresa, faltando verdade, coisa extremamente grave para um homem de cincia. Posso dizer que a objeo tola e ingnua, pois mostra imensa ignorncia por parte dos mdicos da dita Sociedade. O medo pode constituir uma sensao subjetiva, independente de qualquer Realidade objetiva. Isto to conhecido de psiclogos e mesmo de leigos, que h idiomas tendo palavras diferentes para diferenciar o medo de alguma coisa real,

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    do medo subjetivo, puramente imaginrio. Quando declarei que no acredito em fantasmas, mas que tenho medo deles, expliquei tambm a razo desse fato, que proveio de histrias de assombraes ouvidas repetidamente na primeira infncia, antes de ir para a cama, dormir. Trata-se, portanto, de um simples erro de educao, um desses erros muito freqentes, que os psicanalistas encontram comumente nas investigaes sobre medos, temores, fobias, etc. O pior, porm, para os meus contendores, que, se tenho realmente medo de fantasmas, neles no acredito! Certamente, por esse nico motivo, nenhum deles jamais me tocou, nunca me fez sentir a sua presena. Tudo no passa de medo imaginrio, de complexo recalcado dos tempos de criana. Se eu fosse esprita, provvel que a fantasia ajudasse e, ento, passassem esses fantasmas a me perseguir. Todos sabemos que a sugesto capaz de coisas surpreendentes, muitas das quais foram analisadas no meu livro. A obra no contra o espiritismo, mas simplesmente a favor da verdade. Quem quiser poder ver que, mesmo no meu medo de fantasmas, esto as coisas expostas no texto com muita clareza. A Sociedade de Medicina e Espiritismo cometeu, sem dvida, uma grande tolice cientfica, quando me veio agredir sem conhecer suficientemente a questo. Alis, os trabalhos depreciativos sobre a minha obra esto cheios de tolices desse gnero, como qualquer leitor livre e de bom-senso poder facilmente verificar. Ningum conseguiu citar textos truncados, citaes falsas, distores da verdade. Os trabalhos por mim citados foram sempre os das maiores autoridades, assim como sempre claros e precisos os argumentos apresentados. essa a minha defesa, que se encontra dentro do prprio livro e to peremptria, que a julgo facilmente acessvel a qualquer juiz, mesmo mediano, mas imparcial. As guas esto muito claras e os truques tm consistido em turv-las. Mas no faz mal: depois elas se limparo por si prprias pelo processo muito simples da precipitao, que leva ao fundo o que deve l ficar!

    Terminava as minhas consideraes referindo-me ao atesmo e falta de religiosidade, dados sempre como fatores de degradao, capazes de incentivar crimes, a perversidade, a falta de carter, a maldade, os vcios, tudo que pode contribuir para rebaixar os imperativos morais e altrusticos do homem. Mostrei que uma coisa nada tem a ver com a outra, como fcil concluir passando em revista a histria das religies, das perseguies religiosas, da Inquisio, que contm

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    pginas das mais negras vividas pela humanidade. Ao lado disso, mencionei o exemplo do Positivismo, a Religio da Humanidade, to cheia de pureza e idealismo, to nobre e elevada, ao mesmo tempo to mstica e objetiva, apesar de no admitir nem Deus nem os santos. E acrescentava: o mundo anda cheio de ateus sinceros, dignos, possuidores de altas qualidades morais e intelectuais, altrusticos, humanos, bondosos, ao lado de muitos religiosos destitudos dessas qualidades. Uma coisa nada tem a ver com a outra!

    Parece-me que, depois dessa explanao, difundida pelas pginas do peridico de maior circulao no Brasil, acalmaram-se os nimos, talvez tambm porque se esgotou a edio do livro. Nos dez anos decorridos desde ento, nada apareceu de novo sobre a questo, permanecendo de p tudo que foi afirmado, razo pela qual o texto em nada precisou ser alterado, exceto em relao aos trabalhos de Rhine, que tiveram enorme repercusso, mas j perderam muito do interesse e das esperanas que haviam conseguido despertar, como mostraremos na presente edio. Alm disso, no terreno da sugesto hipntica houve um enorme surto de entusiasmo, que levou sua aplicao generalizada em diversos setores da medicina. Alis, isso estava de acordo com as idias do autor, vindo confirmar suposies que apresentara na sua obra. Tambm, por essa razo, refere novos exemplos, que vieram demonstrar ainda melhor as possibilidades teraputicas aproveitveis nesse sentido.

    Do lado da aceitao da obra, numerosa foi a correspondncia que continuou a receber, em geral de apoio ou agradecimento, tambm por parte do clero catlico, que chegou a distribuir nas igrejas belas estampas coloridas de santos tendo no reverso dizeres recomendando a leitura da nossa publicao.

    O autor est convencido de haver prestado, com esta obra, relevante servio verdade e mentalidade do ser humano, esperando tambm que para isso contribua o aparecimento da traduo inglesa, pela Editora Weidnselt & Nicholson Ltd., de Londres.

    S. M. Maio de 1960 Cosme Velho, 792. Rio

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    CAPTULO PRIMEIRO

    SUMRIO: Os mistrios que nos cercam. Fenmenos naturais, em vez de sobrenaturais. Vidncia e predies. Astrologia e cincias ocultas. Horoscpios. Explorao do povo. As minhas primeiras experincias. Diagnsticos mdicos por clarividncia e intuio. Orientao dos mdiuns e adivinhos e sua explicao. Manobras subconscientes. A histria prodigiosa dos cavalos sbios de Eberjeld. Erros de interpretao. Os sinais imperceptveis. A cadela Nora e o chimpanz Basso. Observaes do passado.

    MUNDO encontra-se cheio de mistrios e coisas extraordinrias que o homem no consegue compreender ou desvendar. Alm disso, no parece ser esse mundo

    realmente como , mas sim, apenas, como o conseguimos ver ou imaginar. E, nesse particular, o estranho e o maravilhoso nos impressionam sempre mais do que o simples, o comum, o natural. No certamente por outra razo que a nossa vida anda impregnada de supersties e iluses, criadas pela nossa fantasia, que, no raro, lhe trazem graves malefcios. A prpria Cincia no conseguiu libertar-se ainda de entraves dessa natureza, pois, mesmo no seu campo de ao, superabundam dados falsos e errneas suposies. Tem sido, na verdade, muito difcil estabelecer onde termina a realidade e onde se entra no terreno do fantasmagrico. Esses limites so to imprecisos, e ao mesmo tempo to elsticos, que no raro ficar-se em dvida se nos encontramos aqum ou alm de determinada fronteira. O que

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    parecia ontem fato averiguado pode passar hoje para o campo da irrealidade, e tambm o contrrio, isto , uma suposta iluso transformar-se em indiscutvel verdade. Tudo depende dos nossos recursos de verificao, das provas de que dispomos para demonstrar certa realidade ou invalidar determinada iluso. E a tarefa tanto mais difcil quanto o prprio homem, segundo o seu temperamento, pode apresentar, de caso para caso, tendncias mais para o real e o objetivo, ou, pelo contrrio, mais para o fantstico e o subjetivo. Um dos grandes trabalhos da Cincia tem consistido em dar-nos conta das criaes da nossa imaginao, procurando estabelecer o que verdadeiramente positivo. E, nesse particular, a tarefa difcil, pois o julgamento no depende unicamente dos fatos, mas sim dos recursos de que dispomos para cri-los, observ-los, interpret-los. nesse terreno que surgem as maiores dificuldades e os grandes perigos. A orientao difcil e muito variadas as causas de erro. O que se torna necessrio estabelecer primeiramente so os fatos em sua exata realidade. Ser essa a maneira de evitar que a nossa imaginao e a nossa ignorncia continuem a explorar territrios conhecidos, acreditando-os zonas misteriosas e inacessveis. nessa determinao do real e do ilusrio, do falso e do verdadeiro, que precisamos empregar grandes esforos, a fim de que tais conhecimentos saiam das mos dos sbios e privilegiados, tornando-se verdades simples e comezinhas, ao alcance de todo o mundo, vlidas para todos os seres humanos. Se a verdade j existe, isso bem pouco, desde que seja ignorada ou no sirva de diretriz para a conduta da nossa vida. nesse sentido que a presente publicao deve ser de utilidade, uma vez a sua finalidade capital trazer ao grande pblico esclarecimentos quanto s questes aqui debatidas, em torno das quais h imenso interesse, embora no seja menor a ignorncia que as cerca. o que podemos afirmar categoricamente, a julgar pelo nosso prprio caso e as observaes que conseguimos acumular. As questes so de importncia fundamental e a sua soluo uma das maiores necessidades que existem para o esprito humano, sobretudo quanto compreenso do papel que devemos representar na face da Terra. possvel prever o futuro e ter conhecimento dos acontecimentos que esto ainda por se realizar? possvel modificar a nossa conduta, fugindo aos malefcios que esto armados sobre a nossa cabea, ou tirando maiores benefcios das vantagens que nos podem caber? A transmisso e a leitura do

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    pensamento, as premonies e as predies so verdades aceitveis ou que possam ser demonstradas cientificamente? Existem espritos, isto , almas sobreviventes vagando pelo espao, acompanhando-nos ou podendo influenciar a nossa existncia? E as assombraes, os mdiuns, os videntes de toda espcie, assim como as materializaes, a levitao, as aes distncia, etc.? Que h de verdade em tudo isso, assim como na macumba e na feitiaria, na grafologia, na leitura da palma da mo, nas cartas e orculos? O problema muito srio, mas pode tornar-se tambm ridculo, dependendo das nossas convices e dos resultados das nossas observaes. Estudei tais questes debaixo do ponto de vista objetivo, investigando-as durante largo perodo de tempo. Justamente por isso, posso julgar a sua extraordinria importncia prtica, sobretudo no nosso pas, onde a sua difuso atinge propores fantsticas, verdadeiramente inacreditveis. Uma boa parte da nossa populao conduzida por espritas e adivinhos, por mdiuns e videntes, por quiromantes e cartomantes. H inmeras pessoas que nada empreendem, seja em matria de amor ou de dinheiro, sem que, primeiramente, consultem as foras ocultas, indaguem do que opinam astrlogos e hierofantes. Com as mulheres, as coisas so ainda mais graves, por serem mais crentes e supersticiosas. Se nas questes de dinheiro j assim, nas de amor o sobrenatural ainda mais temido e invocado. Conheo ministros e diplomatas, polticos e advogados, mdicos e engenheiros, homens de letras e de negcios que vivem sob a tutela de mdiuns ou de simples cartomantes. Sei mesmo de um Presidente da Repblica que se deixou guiar por tais influncias, sendo natural que a sua poltica andasse cheia de manobras incompreensveis, tanto para ele prprio, quanto, principalmente, para os auxiliares que o cercavam. Estou quase vendo a atitude que devia tomar quando o vidente, num pequeno quarto quase escuro, mergulhado nos mistrios do transe, assevera-lhe ver um homem baixote, gordo, algo calvo, parecendo gentil e afetuoso, mas que, muito falso e fingido, procurava tra-lo pelas costas. fcil imaginar as medidas por ele tomadas em tais circunstncias, quer no sentido positivo, quer no negativo, conforme as predies do adivinho. Isso um caso extremo, mas que, em menores propores, sucede aos milhares, sendo de todos os dias, enchendo cidades e o interior do nosso Brasil e tambm proliferando por todos os pases do mundo. E essa situao tanto mais grave e perigosa, quando o vidente resolve

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    questes para o consulente, d-lhe conselhos, prescreve-lhe conduta a seguir, chega a diagnosticar molstias e receitar remdios para os seus sofrimentos.

    qualquer dessas coisas possvel, h em qualquer delas uma parte, pelo menos uma parte, sequer uma pequena parte da verdade? Foi essa, durante muitos anos, a minha angstia, angstia de querer saber, de querer pr-me ao corrente da realidade, da verdadeira situao. Se fosse possvel descobrir doenas, talvez distncia, desvendar mistrios do organismo humano, saber, pela simples vidncia, onde estavam localizados os seus males, diagnosticando-os com segurana e sem exames, no era isso um convite ao mdico consciencioso para procurar servir-se de tais recursos em benefcio do seu doente, do reconhecimento e da cura das suas enfermidades? Poderia ou deveria ficar o profissional de braos cruzados, servindo-se de processos difceis, caros, insuficientes, caso tivesse disposio outros mais simples, mais seguros e garantidos? A questo tocava de perto a dignidade pessoal, sem contar a sua significao em relao aos prprios dados cientficos e situao do ser humano dentro do mundo. Poderiam os espritos dos mortos intervir em nossa existncia, servindo-nos de guias ou conselheiros, acompanhando nossos passos, decidindo de nossas aes? A questo de tal modo importante, sob o ponto de vista humano, que no vejo nenhuma outra, de cuja exata significao precisemos estar mais seguramente informados. A dificuldade maior, porm, de se achar ela eriada de dvidas e contradies, estando, mesmo autoridades de renome, longe de ter chegado a concluses uniformes, indiscutveis, demonstradas pela realidade dos prprios fatos. Estudei avultado nmero de livros, assinei, durante decnios, revistas especializadas, andei perdido e desorientado entre opinies que variam de afirmativas categricas a negaes absolutas, mas no foi seno muito mais tarde, j orientado por essas leituras, que pude entregar-me investigao objetiva do problema, seguindo preceitos verdadeiramente cientficos. Devo acrescentar que, mesmo no campo cientfico, super-abundam trabalhos de idntica finalidade, embora muitos deles, em vez de esclarecer a questo, antes dificultem a sua soluo. Existem, nesse terreno, inmeras causas de erro, a principiar pelo temperamento do pesquisador, que, de antemo, pode lev-lo por caminhos falsos, quer pelo excesso de misticismo e credulidade, quer pelo de negao e cepticismo. No seno depois de conhecer suficientemente o problema, de analis-lo livremente, objetivamente,

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    sem opinies pr-formadas, que se pode chegar a concluses precisas, suficientemente claras e demonstrativas. verdade que, depois disso, os fatos se tornam extremamente simples, de in na significao quase vulgar, como tem sido mostrado pela investigao de diversos autores. Devo, porm, confessar que, nos primeiros tempos, isto , durante mais de uma dezena de anos, me encontrei perdido, desorientado, sem saber que direo tomar, impossibilitado de distinguir entre o que fosse realidade e criao fantasmagrica do esprito humano. Depois, medida que fomos penetrando esse desconhecido, sempre ainda cheio de mistrios e incompreenses, mais clara se foi tomando a sua essncia real e tambm mais simplria, quase imperdovel, a nossa tremenda ignorncia. Talvez seja preciso passar-se por a, dar-se conta dos acontecimentos, viv-los segundo a, sua rigorosa realidade, para, ento, poder-se senti-los o julg-los em sua exata significao. Acreditamos que as dvidas, confuses e desorientaes existentes sobre o assunto derivem, essencialmente, da falta da crtica e do exame indispensveis ao seu perfeito conhecimento. Os que conseguem chegar mais longe, inteirando-se melhor dos acontecimentos, verificam quanto esto eles em desacordo com as suposies do que os conhecem insuficientemente. Nessas condies, natural que acabem perdendo por eles o interesse, relegando-os ao campo das coisas falsas, inteis, inaproveitveis. nessa situao que se encontra a maioria dos cientistas que se tem ocupado da questo, e cujas opinies raramente chegam ao conhecimento do grande pblico. O presente trabalho, nesse particular, dever ser de utilidade, pois procurar divulgar os estudos mais srios at agora realizados sobre a questo. Queremos acentuar, de antemo, que nunca tivemos opinio preconcebida sobre qualquer dos assuntos aqui tratados, que procuramos investigar com esprito livre e desprevenido, sem pressupor a que concluses poderamos chegar, procurando apenas averiguar os fatos, descobrir a verdade, no que ela pudesse ter de mais real e positivo. No por outra razo que exporemos a nossa experincia com a maior simplicidade, tal como de fato Se fez, por vezes de maneira extremamente ingnua e simplista, como hoje podemos bem julgar, considerado retrospectivamente o seu desenvolvimento. No constitui isso uma desculpa ou uma evasiva, mas sim um simples ato de humildade e sinceridade, talvez suficiente para dar-nos o direito de colocar diante dos olhos do leitor coisas que a muitos parecero por demais

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    ridculas e insignificantes. Elas existem, porm, dentro da vida de todos os dias e a sua fora ainda prodigiosa, como fcil comprovar pela freqncia e a intensidade dos seus efeitos.

    Preliminarmente, devemos ilustrar a situao por meio de casos caractersticos, que se repetem ainda hoje, numerosos, sob variadas modalidades, atravs de todo o mundo. Trata-se de anncios encontrados em jornais de quase todos os pases ou distribudos privada e publicamente. Alguns exemplos:

    O NOSSO DESTINO EST ESCRITO EM NOSSAS MOS!

    Portanto, pode ser desvendado pela Mme... Professora de Astrologia e Quiromancia

    Revela os fatos mais importantes da vida: passado, presente e futuro, com a mxima exatido. Ateno: No s desvenda a vida de qualquer pessoa que o desejar, como tambm se compromete a

    fazer qualquer trabalho referente sua cincia. Quereis: ser feliz em vossos negcios, ter xito na vida, ser correspondido cm amores, fazer voltar vossa companhia algum ente querido, tirar o vcio de embriaguez de alguma pessoa? Dirija-se, hoje mesmo, famosa cientista, que ela vos aconselhar para vencerdes as dificuldades da vida. No h mistrio presente ou futuro para a professora... Tambm d diagnstico certo sobre qualquer sofrimento material ou espiritual.

    Atende das 8 da manh s 9 da noite. Aos domingos, das 8 da manh s 6 da noite. Atende a todos em sua residncia: Rua...

    __________

    QUIROMANCIA E CINCIAS OCULTAS

    Leia com ateno e guarde Absoluta na Amrica do Sul Seja previdente Conhea seu futuro antes de fazer qualquer negcio

    Consultando-te ters o teu futuro nas tuas mos. Porque na tua prpria mo diz quem s e quem sers. Sorte, felicidade, harmonia, xito na sade, no amor e nos negcios tudo poders conseguir consultando tua mo quiromanticamente com a clebre professora...

    Professora em quiromancia, grande ocultista, percorrendo diversas partes do Universo e das principais cidades da Amrica do Sul, a pro-

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    fessra..., a nica na Amrica que resolveu fixar residncia particular nesta maravilhosa cidade, atendendo a todos que a procurarem para quaisquer consultas e trabalhos de sua especialidade.

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    QUIROMANCIA, PSICOLOGIA, CINCIAS OCULTAS

    A professora... no s desvenda o futuro das pessoas que o desejam, como tambm, se encarrega de trabalhos de natureza cientfica sobre quaisquer assuntos, seja de interesse comercial, particular ou amoroso, dificuldade de vencer na vida, discrdia amorosa ou entre famlia, empregos e prosperidade, infelicidades nos negcios e nos amores, algum casamento difcil, alguma questo em demanda, pessoas desaparecidas, vcios de embriaguez, doenas, viagens e todos os assuntos que possam interessar a quem procurar caminho certo, seguro e garantido para vencer na vida.

    Esclarecendo devidamente todos que a procurarem em sua residncia, pelo que se sentir honrada com a vossa visita. Sigilo e discrio absoluta, no havendo privilgio de personalidade. Tambm d conselhos utilssimos e garante os trabalhos.

    Procure imediatamente Prof.... A consulta ao alcance de todos Cr$.

    Prof.... . Todos os dias, das 8 s 21 horas. Tambm aos domingos e feriados. V, hoje mesmo, fazer uma consulta. Acha-se residindo com sua famlia Rua.. .

    Bonde e nibus porta __________

    QUIROMANTE

    Mme..., Clebre Cientista em Cartomancia, Quiromancia, Quiromante Cientfica e Astrloga Amigo leitor ou gentil leitora: Chegou a vossa oportunidade. No a desprezeis, pois a Clebre e Benemrita professora Madame. ..

    tem plenos conhecimentos desta maravilhosa cincia que o Ocultismo e o Poder Astral. Sem mistificaes ou sofismas de qualquer espcie, apresentando-se ao pblico munida dos mais altos conhecimentos desta cincia baseada nos clebres segredos de Papus, Eliphas-Levi, Esteila, Borgotta, etc. No vos deixeis ficar, nas

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    trevas da ignorncia; seja como So Tome: Ver para crer!. .E a cincia vos dir o verdadeiro caminho que deveis trilhar, que o caminho da verdade, porque assim evitareis os dissabores e os perigos que vos ameaam. Vos fornece os dados necessrios para triunfar na Vida, quer seja no comrcio, nos amores, enfim, em tudo que desejardes, poder eis triunfar por meio do Ocultismo c do Poder Astral. Munido com os dados necessrios que estes poderes vos indicarem, conforme os vossos casos. No h casos nem obstculos intransponveis que se interponham ao triunfo de cada um. Conforme os vossos desejos e munidos dos dados de acordo com o poder da Cincia Oculta e o Poder Astral, podereis resolver qualquer caso. Em vosso prprio beneficio no deixeis para amanh o que tendes a fazer hoje. Ide, pois, casa da Clebre e Benemrita Professora Mme. . . que ela vos dir o que necessrio ao vosso caso e quais os meios precisos, isto com toda garantia, sigilo e discrio absoluta. Desvenda o presente, passado e futuro a qualquer pessoa. perfeita e honesta nos seus trabalhos.

    __________

    Ateno!

    QUIROMANCIA Acaba de chegar a esta bela Capital a prof. Mme.. .. clebre cientista europia, que, tendo estudado

    longos anos na Arbia, Grcia, na ndia, onde acabou de aperfeioar seus estudos cientficos e prticos com os grandes cultores da Cincia, Prof, gregos, rabes e faquires indianos, depois de percorrer as principais cidades da Europa. Com um cunho prtico na alta Quiromancia, pede ao respeitvel pblico ler com ateno o que se segue:

    Ateno! Descobre os jactos mais importantes da vida humana e tambm faz trabalhos para qualquer fim que o cliente desejar e solicitar, por meios cientficos e prticos, como os acima divulgados. Cincia esta qual empresta um culto prtico a Alta Quiromancia, prpria para estes fins. Declara o presente, passado e futuro de qualquer pessoa. Por este meio e com o auxlio da Cincia, descobre qualquer fim que o cliente desejar e tambm trata de outros assuntos simplesmente com o auxlio da Cincia.

    Ateno! Quereis descobrir alguma coisa que vos preocupa e fazer voltar para vossa companhia algum de quem vos tenha separado? Destruir algum mal que vos perturbe, curar algum do vcio da embriaguez? E outras coisas que tiverdes desejo de obter, e, tambm, de qualquer outro assunto acima descrito.

    Nada de Charlatanismo Desembaraa quaisquer questes em terrenos e propriedades. Garante os seus trabalhos.

    Procure imediatamente Mme.... Atende diariamente, das 8 da manh s 9 da noite. Rua... Sobrado. Preo da consulta Cr$

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    Eugne Osty, no seu livro, Lucidit et Intuition, apresenta uma srie de anncios idnticos, de jornais de Paris, entre os quais os seguintes:

    Mme. X: a mais extraordinria quiromante, a cartomante mais reputada dos tempos modernos. Todo

    o mundo quer consultar a maravilhosa vidente, no cristal, em conchas, no copo dgua, nas linhas da mo, em segredos caldeus, em sonambulismo, etc. Sesses psquicas, evocaes, comunicaes. Recebe todos os dias. Correspondncia para a provncia e o estrangeiro.

    Madame Y, clebre cartomante, opera com cartas dos antigos magos, que s ela possui. Solicitai seus maravilhosos talisms egpcios, que garantem bom xito em tudo.

    Madame V: vidente mdium, que no pode ser confundida porque somente ela possui, com excluso de qualquer outra pessoa, a arte e o dum natural de poder informar, predizer e ajudar a todas as pessoas que recorrem ao seu auxlio. A fluidopatia, cincia nova, permite-lhe ver e levar a bom xito causas desesperadas, mesmo a grandes distncias. Favorecida pela natureza e dotada de profunda intuio das cincias ocultas, Madame V enche de espanto a todos que a consultam, graas s suas revelaes sempre justas e s suas predies sempre confirmadas, etc.

    Madame W: nica no gnero. Os arcanos secretos so desvendados por mtodo criado por ela prpria, baseado no Astra, no Arith, estabelecendo a correlao divina entre os planetas, as letras e os nmeros que, intimamente ligados e transportados, do interessantes respostas s questes dos consulentes, ou feitas por correspondncia. Escrever a Madame W, ou vir casa dela, pela tarde, para sesses de sonambulismo real, leitura da mo, etc.

    No impressionante e sugestivo? No natural que o leigo e mesmo o sbio que desconhecem esse terreno sejam arrastados pela oferta, querendo desvendar os mistrios da sua vida e o que lhes aguarda o futuro? As vantagens oferecidas pelos anunciantes so to extraordinrias e os seus poderes to miraculosos que qualquer de ns deve sentir-se tentado a servir-se de recursos to simples e prodigiosos, a fim de resolver as dificuldades que perturbam a sua existncia, ou obter os sucessos que to raramente consegue alcanar. Que no diramos para ter disposio foras ocultas, capazes de desvendar o futuro e atuar beneficamente em nosso proveito? Tal desejo humano, por demais humano, e ele que nos conduz to facilmente s mos dos adivinhos. Possuem eles, porm, tal poder, so capazes de desvendar os mistrios da nossa vida e guiar-nos nos transes que nos aguardam no futuro? isso o que nos prometem, servindo-se de recursos misteriosos, naturalmente fora do alcance das possibilidades normais.

    Em um nmero de sbado, de jornal de grande tiragem, editado em Paris, declara Osty haver encontrado 32 anncios

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    do gnero indicado, misturados a diversos outros. Em tempos passados, eles tinham larga difuso nos jornais do mundo inteiro e foram tambm muito freqentes entre ns. Um autor, impressionado pelo fato de uma dessas propagandas ocupar a pgina inteira de um jornal parisiense, foi indagar do preo, verificando que era elevadssimo, pois custava, cada vez, muitos milhares de francos. Alm disso, chamou tambm a ateno para a circunstncia de numerosos magazines, revistas polticas, policiais, pornogrficas e outras inserirem regularmente anncios dessa natureza, o que suficiente para mostrar o lucro que devem produzir, capaz de arcar com publicidade to dispendiosa. Em idnticas condies so anunciadas consultas tendo por base os mais variados processos de adivinhao, prometendo-se revelaes gratuitas ou contra remessa de selos, sucessos infalveis em segredos de amor e em negcios difceis, talisms maravilhosos, anis horoscpicos, medalhas e amuletos que do felicidade, objetos imantados, etc. Os prprios Annales des Sciences Psychiques, de Paris, publicavam uma lista de sonmbulos, mdiuns e videntes, que ofereciam os seus servios profissionais, embora declarasse a Revista no poder garantir as faculdades dos seus anunciantes, assim como as revistas mdicas no garantem a qualidade dos produtos farmacuticos nelas anunciados.

    As exploraes desse gnero foram muito comuns nos primeiros tempos do magnetismo. Gilles de la Tourette, no seu livro sobre Hipnotismo, aparecido em 1886, apresenta uma srie de anncios de videntes e cartomantes, em tudo semelhantes aos que so ainda hoje divulgados. Entre eles, h o de uma Madame Charles, sonmbula de primeira ordem, membro laureado do Instituto Electro-Magntico de Frana e de diversas sociedades sbias e humanitrias, possuidora de muitas medalhas honorficas da Frana e do estrangeiro e que proclama o seu renome adquirido nas grandes cidades europias, sobretudo em Paris. Ela se apresenta como sonmbula, mas l tambm na fisionomia e nas linhas da mo, dando, em estado de transe, sesses especiais sobre cartomancia e grafologia, a qualquer hora, diariamente. Uma outra, Madame Maria, clebre sonmbula lcida, diplomada, dando consulta para qualquer doente; prediz o futuro pela mo, fornece conselhos e avisos, alivia e cura pelo magnetismo. Alguns anunciam que tm disposio da clientela documentos comprovando os seus poderes, no raro expondo-os em quadros pelas paredes do consultrio. Entre outros, Gilles de la Tourette apresenta um atestado assinado

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    por La Rochefoucauld, duque de Doudeauville, redigido nos seguintes termos: Os sonmbulos perfeitos so to raros que, quando se tem a felicidade de encontrar um deles, torna-se rigoroso dever para um homem de honra, que se ocupa dessa cincia, por tanto tempo negligenciada e abandonada em mos indignas, assinalar a seus concidados aqueles que so dignos de sua confiana. A senhora x x x pareceu-me, durante o seu sono, de uma lucidez extraordinria, to conscienciosa, quanto inteligente. Por isso, tenho prazer em atestar essa verdade queles que a queiram consultar. Um outro documento, assinado por Eugenie Desaga, moradora rua Cardinal-Lemoine n. 72, diz o seguinte: Atesto que me curastes de uma doena horrvel: um tumor canceroso da garganta, do qual sofria cruelmente h 18 meses. Dois meses vos bastaram para libertar-me da morte, que me ameaava a cada momento por meio de sufocaes. A vs, senhora x x x, meu reconhecimento e minha lembrana eterna pela segunda vida que me destes.

    La Tourette mostra as exploraes horrorosas que se operavam em torno dessas questes, que analisa minuciosamente. Naquela ocasio, existiam em Paris mais de vinte jornais especializados, mais de quinhentos gabinetes sonamblicos e mais de quarenta mil associados, havendo hospitais pagos e clnicas caras, com desprezo por todos os artigos do Cdigo Penal. Temos a impresso de estar sonhando, quando lemos tais in-sanidades e sentimos verdadeira piedade pensando naqueles que trazem o seu dinheiro e tais casas de explorao. E muitas delas so dirigidas por mdicos, pagos por sonmbulos e magnetizadores, que assim conseguem ter maior relevo, cercando-se de maiores garantias. Dessa maneira, explora-se a estupidez do pblico e a caixa enche-se, enquanto desaparece a honorabilidade.

    Existem outros adivinhos, quase sempre mulheres, que trabalham com bolas de cristal, borra de caf, clara de ovo, chumbo derretido, etc. O processo da claro dovo consiste em furar um ovo e deixar escorrer a clara dentro de um copo dgua, evitando-se qualquer mistura com a gema. A interpretao cabalstica feita de acordo com a maneira pela qual a albumina vai ter ao fundo do copo. Coisa idntica passa-se em relao borra do caf e ao chumbo derretido. Quanto gota de caf, toma-se o resto de acar e borra que fica no fundo da xcara e imprime-se a esta movimentos que fazem a gota traar linhas e desenhos na parede do vaso, que so interpretados ocultisticamente. Essencial que o caf tenha sido modo pelo

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    prprio indivduo, com a mo esquerda, pois qualquer quebra e ritual pode perturbar as mensagens misteriosas.

    Muito apreciadas so as consultas por correspondncia, entre as quais predomina a de enviar ao vidente uma mecha de cabelo do paciente. O processo muito antigo, mas tem aceitao ainda em nossos dias. Segundo o ritual da execuo, deve ser o cabelo embrulhado pelo prprio consulente, evitando-se que seja tocado por qualquer outra pessoa. De posse desse material, o vidente pe-se em relao com o doente, conseguindo descobrir os sintomas da sua doena, a causa que a produz e o remdio que convm empregar para cur-la!

    No presente captulo deveriam ser estudados diversos aparelhos, tais como anis, pulseiras, cintos, cordes, etc., que por vezes invadem o mercado e servem para filtrar ou afastar fluidos e irradiaes capazes de produzir o cncer e inmeras outras molstias, que proviriam tanto da atmosfera quanto das profundezas da Terra. uma explorao comercial do mais baixo quilate, mas que encontra numerosa clientela devido intensidade da propaganda e ignorncia que existe sobre o assunto.

    Muito difundidos so tambm os horscopos, no raro oferecidos gratuitamente. manobra muito rendosa e que tem proliferado em todos os pases do mundo, como fcil verificar pela propaganda feita em revistas e jornais de grande circulao. Eis um modelo caracterstico:

    DESEJAIS CONHECER O VOSSO FUTURO? O..., fundado em,.., revela o passado, presente e futuro, por meio da astrologia. Todos os nossos trabalhos so exatamente calculados, conforme provam os inmeros atestados em nosso poder. Horscopo N. 1 Idias gerais Preo Cr$

    A natividade explicada naturalmente, definio do carter, constituio, sade, temperamento, casamento, destino e pocas importantes da vicia so narrados neste trabalho com preciso. Horscopo N. 2 Desenvolvido Preo Cr$

    A natividade explicada, posies planetrias, definio completa do carter, mentalidade, casamento, ocupaes e um resumo do tema, so apresentados com exatido neste horscopo.

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    Horscopo N. 3 Descritivo Preo Cr$

    A natividade completamente explicada, carter, qualidades mentais, sade, finanas, profisso, filosofia, casamento, vida domstica, residncia, viagens, amigos, ocultismo, etc., com um resumo de futuros acontecimentos durante trs anos, com mincia e perfeio sero expostos a todos os consulentes. Horscopo N. 4 Guia na vida Preo Cr$

    Revela, com preciso matemtica, ai vossas qualidades boas ou ms, as tendncias, o temperamento, o carter e como educ-lo, as qualidades mentais e como empreg-las para o vosso triunfo na vida. Indica as vossas molstias e como combat-las; as vossas finanas e como melhor-las; as profisses s quais vos deveis dedicar; as felicidades ou dificuldades no casamento e na famlia. D informaes teis sobre as viagens que deveis realizar e as pocas mais favorveis para elas; sobre as pessoas que deveis evitar a aquelas que deveis acolher. Explica, ainda, o que deveis fazer para serdes bem sucedido. Fornece consideraes gerais para corrigirdes vossos defeitos, a fim de obterdes sucesso na existncia. Revela, tambm, as vossas esperanas futuras e aponta as datas dos principais acontecimentos.

    Este o mais completo trabalho e vos revela os maiores segredos c mistrios da vossa vida passada, presente e futura, segundo a influncia benfica ou malfica que os Astros vos imprimiram no dia c hora de vosso nascimento. O horscopo Guia na Vida contm os acontecimentos que tero lugar durante cinco anos futuros. Horscopo Guia Anual Preo Cr

    Trabalho fiara doze meses, a comear de qualquer dia, contendo os maiores detalhes possveis .para uma perfeita progresso astrolgica. As influncias so descritas em conjunto com o mximo de pormenores, contendo, ainda, sua descrio, de dez em dez dias, e revelando toda a natureza da influncia astrolgica em ao. Trabalho timo, para todas as pessoas previdentes, que desejam agir seguramente e de pleno acordo com os astros. Os gnios protetores do homem Preo Cr$

    O nascimento de todo ser humano presidido por trs gnios, que influenciam a pessoa para o Bem ou para o mal, durante toda a vida. Pelo estudo das influncias astrais, damos a conhecer a qualquer pessoa os nomes dos trs gnios que presidiram seu nascimento e as horas em que deve obter deles os favores que desejar. No mesmo trabalho, damos ainda a conhecer as suas pedras preciosas, os perfumes e a cor dos vesturios que deve usar para triunfar na vida.

    Ateno! Como encomendar um Horscopo Ateno! Nome . . . Sexo . . . Dia . . . Ms . . . Ano . . . Hora . . . Minutos . . . do nascimento (antes ou depois do meio-dia) . . . Lugar do nascimento. . . Estado . . . Pas . . .

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    Para a encomenda dos horscopos n.os 3, 4 e Guia Anual, no tendo absoluta certeza da hora e dos minutos do nascimento, necessrio enviar com exatido mais os dados seguintes:

    Altura... Peso... Cor dos cabelos... Tem muito ou pouco cabelo... Os cabelos so crespos ou lisos... O seu temperamento agitado ou calmo... Cor da pele... Qual a sua maior inclinao.... Para a confeco do Horscopo... envio a importncia de Cr$

    Basta verificar a propaganda feita em torno da questo para julgar os lucros do negcio, que comporta gastos to vultosos. Quando o adivinho prope enviar gratuitamente o horoscpio, ou qualquer indicao idntica, por demais evidente haver a qualquer interesse oculto da sua parte, que ser habilmente explorado. A gratuidade o engodo, a isca para pegar o incauto, que, freqentemente, no percebe a manobra de que vtima. O horoscpio e outras revelaes gratuitas vm sempre acompanhados de notas explicativas, que levam compra de determinado livro ou a uma consulta mais completa, portanto mais eficaz. Eis uma proposta:

    Para terdes um trabalho digno de confiana e com maiores detalhes sobre a vosa vida, deveis mandar confeccionar um horscopo n. 4, Guia na Vida, pois este trabalho feito rigorosamente com as regras cientificas da matemtica O estudo enviado genrico e, por essa razo, poder haver falhas, o que no acontecer se confeccionarmos o vosso horscopo de acordo com os apontamentos no verso desta.

    O preo varia, naturalmente, de acordo com as posses do candidato, ou, sobretudo, com o seu interesse e a sua ingenuidade em relao s revelaes.

    O que muito caracterstico em todos os anncios de adivinhos o interesse que os move e a pouca perspiccia dos seus consulentes. As indicaes tm sempre significao muito geral e a sua interpretao depende das prprias tendncias e desejos do interessado. A data do nascimento, que sempre exigida, tem valor para o hierofante, que, dessa maneira, pode orientar-se quanto idade e, assim, quanto situao geral do consulente. A remessa de uma fotografia recurso magnfico, pois, evita a confuso de sexos, que, de outro modo, se torna muito freqente. Quem duvidar, que faa a seguinte experincia: envie ao adivinho os dados solicitados escritos mquina e espere pelos resultados! Se no houver informao sobre o sexo, nem isso conseguir ele descobrir, dando resposta evasiva, que tanto servir para homem quanto para mulher! verdade

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    que o interessado raramente nota essa particularidade, tal a sua convico de que o horoscpio estritamente pessoal. A situao mais simples, muito comum no estrangeiro, do hierofante contentar-se com a remessa de selos do correio ou de pequena quantia em dinheiro, no raro para pagamento de um livro que ser enviado, mas que, freqentemente, no chega s mos do interessado, assim como acontece por vezes com o prprio horoscpio e outras revelaes prometidas pelo ocultista. Pior, porm, quando o consulente recebe gratuitamente a primeira resposta, que representa o incio de outras que devero ser pagas. Os fregueses desse gnero so os melhores e mais garantidos, excelentes pela repetio das consultas. Quase sempre, os adivinhos trabalham empregando mais de um processo, por exemplo, a Astrologia combinada Quiromancia ou Grafologia, s cartas de baralho e ainda diversos outros, associados entre si, das mais variadas maneiras. J se tem dito constituir isso uma prova contra o seu valor, porque, se o horscopo pelos astros informa quanto ao futuro, no h razo para emprego de outros processos, que no devero fornecer resultados diferentes. Se tal acontecer, isso ento sinal de que o primeiro insuficiente ou defeituoso. De qualquer modo, o que se observa comumente o consulente pecar pela ignorncia e no primar o mago pelas suas qualidades transcendentais. Estatsticas mostram que a maioria dos profissionais do ocultismo exerce essa tarefa ao lado de outras ocupaes, em geral de categoria inferior, sendo freqentes as de manicura, enfermeira, costureira, massagista, etc. Tambm indivduos fracassados em outras profisses, principalmente oficiais sem colocao depois das guerras passadas, tm procurado refgio campo de acesso fcil e resultados promissores.

    No comeo da nossa aprendizagem, quando iniciamos investigaes experimentais sobre o problema, no foi pequena nossa surpresa diante de fatos inesperados, que nos pareciam verdadeiras revelaes. assim que, por muitas vezes, recebemos informaes exatas sobre assuntos dos quais o adivinho parecia no poder ter conhecimento. Dizia, por exemplo, no caso da consulta ser feita por uma terceira pessoa, se o consulente era homem ou mulher, moo ou velho, gordo ou magro, casado ou solteiro, indicando a profisso, etc. Quando se tratava de doena, o diagnstico vinha em termos genricos, imprecisos, dando lugar a variadas interpretaes. No caso de mulher, o tero e os ovrios apresentavam sempre qualquer perturbao, e, fora disso, o doente sofria, invariavelmente, do

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    fgado, ou tinha colite, ou os rins no funcionavam bem, os pulmes eram bastante fracos, tornando-se necessrio cuidar do corao, dos nervos, etc. Os diagnsticos pouco variavam de caso para caso, repetindo-se monotonamente em generalidade e imprecises. Desde as primeiras investigaes, permitiu-nos essa circunstncia, concluir no ser no campo da Medicina que se encontrava a fora dos adivinhos. Bem longe disso! Era a que as suas informaes se tornavam logo insuficientes, falsas, inaproveitveis, desde que julgadas objetivamente, de acordo com os conhecimentos de um profissional. As generalidades, que podiam contentar leigos e suscitar variadas interpretaes, perdiam nas mos do mdico a sua consistncia, imediatamente mostrando grandes falhas e insuficincias. Se no fosse assim, se os dados correspondessem realidade, ento, revelaria o prprio mdico esprito por demais acanhado, caso no se servisse de recursos to simples e de tanto valor em benefcio dos seus doentes. Foi uma das razes pelas quais nos interessamos vivamente pela questo, procurando investigar quanto nela havia de verdade e preciso.

    O que indiscutvel fora de qualquer dvida, o fato de alguns quiromantes, videntes e adivinhos conseguirem dizer coisas extraordinrias ao consulente, no raro com pormenores impressionantes. J dissemos que no incio dos nossos estudos fomos surpreendidos pela revelao de particularidades que nos pareciam secretas ou desconhecidas e que o adivinho conseguia revelar. Freqentemente, fazamos as nossas consultas por intermdio de uma terceira pessoa, que transmitia ao vidente as questes por ns formuladas. No caso de um casamento na famlia, por exemplo, tratava-se de obter informaes sobre as qualidades do noivo, se possua bons sentimentos, se tinha bom carter, se seria bom marido, etc. O adivinho respondeu a tudo isso com segurana, no tendo dvidas quanto s suas predies. Elas estavam, porm, ainda no futuro e no poderiam ser confirmadas seno remotamente. O interessante, porm, que o orculo forneceu tambm informaes quanto personalidade do indivduo cm questo, dizendo se era baixo ou alto, mdico ou advogado, moreno ou louro, qual a sua idade aproximada, etc. A consulente, por nossa indicao, tomara nota dos dados fornecidos e, assim, trazia-nos por escrito um pequeno relatrio, informando-nos de que se tratava de um senhor de meia idade, alto, um pouco calvo, moreno, formado em Medicina, usando culos, alm de respostas a outras perguntas. Fatos idnticos repetiram-se diversas vezes, em ou-

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    tras circunstncias, com mdiuns, videntes e quiromantes diferentes. As observaes impunham-se como tanto mais surpreendentes, quanto os adivinhos ignoravam as particularidades em questo, parecendo descobri-las por verdadeiros processos de vidncia. Alguns limitavam-se a indagar o nome da pessoa o a sua moradia, a fim de se por em contato teleptico com o ambiente e obter as desejadas revelaes. O poder de determinados mdiuns era por vezes to prodigioso que bastavam essas simples informaes para que pudessem diagnosticar molstias mesmo distncia, em qualquer doente. Nesse sentido, so freqentes anncios em jornais por meio dos quais encaminhado grande nmero de doentes e outras pessoas para esse gnero de consultas, em geral dadas gratuitamente ou contra disfaradas remuneraes, cujos pormenores teremos ainda de analisar. Em nossas prprias observaes, o que nos causou maior surpresa foram informaes quanto s condies fsicas e sociais dos consulentes, no raro atingindo alto grau de preciso. Era isso obtido realmente por vidncia, pela capacidade do adivinho de penetrar o desconhecido a distncia, mesmo a longa distncia, como acontecia quando a pessoa se encontrava ausente, no interior do pas ou mesmo fora dele, at em lugar ignorado? Essa observao, que pudemos realizar em variadas circunstncias, pareceu-nos estranha e incompreensvel, sobretudo porque o taumaturgo fazia as suas predies com igual facilidade, tanto de longe quanto de perto, tanto na presena quanto na ausncia do indivduo. Nessas condies, fizemos uma experincia muito simples e que deu resultados decisivos, que se repetiram, em condies semelhantes. A experincia consistiu em enviar ao vidente somente os dados por ele exigidos e que eram apenas o nome e a residncia da pessoa em questo. Em vez de pr o intermedirio ao corrente da situao, investigando pessoas e situaes que ele prprio conhecia, dvamos-lhe unicamente o nome e a moradia de um dos nossos clientes ou de pessoa s nossa conhecida e, de posse de tais dados, partia ele procura do vidente. Pois bem, desde esse momento, os resultados foram insignificantes, no raro nulos, verdadeiramente inaproveitveis, decepcionantes. As comunicaes que nos haviam tanto surpreendido, principalmente pelas aproximaes que mostravam em relao aos caracteres fsicos e s condies sociais dos consultantes, vinham agora imprecisas, cheias de erros, muito distantes da realidade. Foi por esse caminho que conseguimos aproximar-nos da realidade, dando-nos conta da situao. Os fatos so, alis, extremamente simples,

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    de uma significao quase vulgar, como sabido pelos que tm investigado cientificamente tais fenmenos, embora para ns, naquela poca, se apresentassem cheios de mistrios e incompreenses.

    Em relao s nossas experincias, chegamos concluso de que as informaes fornecidas pelo vidente, quando certas e exatas, nada tinham de estranho ou sobrenatural, pois no passavam de dados objetivos, que ele conseguia obter da pessoa que o ia consultar. Isso se tornou de evidncia absoluta, como pudemos comprovar pela repetio das experincias. Quando o consulente ignorava os dados da questo, eram os resultados da vidncia insignificantes, cheios de falhas e imprecises. O prprio vidente ficava ento desorientado, no conseguindo alcanar o material necessrio para formular as suas predies. Como conseguia ele, porm, obter dados capazes de permitir-lhe descrever os caractersticos fsicos e a situao social de pessoa que no conhecia, nem nunca havia visto? O mecanismo dessa orientao muito simples, sob o ponto de vista psicolgico. O que acontece que o vidente se orienta pelo que ele prprio diz ao consulente, de tal forma que este acaba por lhe fornecer o material para os vaticnios. Quando o vidente, quase sempre misteriosamente, por vezes em estado de transe, diz que est vendo determinado indivduo, moo, velho ou de meia idade, calvo, de culos, mdico ou advogado, alto ou baixo, casado ou solteiro, tendo ou no filhos, o que acontece, primeiramente, ele conseguir orientar-se sobre essas questes, antes de dar a resposta esperada e que deve convir. Pudemos observar rigorosamente como se passa o fenmeno, alis, sempre de maneira muito semelhante. O vidente diz, por exemplo: Estou vendo uma pessoa de meia idade. Imediatamente, reconhece, pelo jogo fisionmico do consulente, que est sempre vivamente interessado em obter informaes aproveitveis, se o dado est certo ou errado. Se errado, ele logo acrescenta estar vendo tambm uma senhora ou uma criana, um homem de idade, uma moa, assim conseguindo fixar o tipo da pessoa que est em jogo. Pelo mesmo processo ser-lhe- fcil descobrir se se trata de um comerciante ou de um homem formado, e, neste caso, de um advogado, um engenheiro, um mdico, etc.

    As afirmativas iniciais so lanadas com cuidado, sem insistncia, to superficialmente, que o consulente no chega a perceber a manobra, que pode escapar tambm ao prprio vidente. Por isso, pode acontecer agirem ambos com honestidade, sinceramente convictos de estarem sob a influncia de

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    foras desconhecidas, graas s quais podero desvendar o presente, o passado e o futuro. Todo o processo pode passar-se ;i nua subconsciente, fora da alada da razo, por mecanismo puramente intuitivo. As frases que o vidente lana desencadeiam reaes que servem, para orient-lo, quanto s predies que deve fazer. Se essa explicao pode parecer, primeira insuficiente, ou mesmo absurda, no h dvida que ela, por si s, pode bastar para esclarecer todos os fenmenos em questo. Antes de tudo, precisamos considerar que o processo pode conservar-se ignorado pelos seus prprios autores, quer seja lida a mo ou feito o trabalho por meio de cartas ou de outros recursos. Se isso pode parecer estranho, exagerado ou de difcil compreenso, devemos acrescentar que os fatos falam todos no mesmo sentido, sendo at de fcil verificao. Acabamos de referir que o nosso vidente ficava desorientado e deixava de fornecer informaes aproveitveis, desde que o consulente no tivesse, ele prprio, conhecimento dos dados que constituam objeto da nossa indagao. Quando os conhecia, fornecia-os sem perceber ao adivinho, que, tambm, podia no se dar conta do mecanismo pelo qual conseguia obt-los. crvel, porm, que as coisas se passem realmente de maneira to simples e natural? O fenmeno fcil de verificar e est ao alcance de qualquer observador. Ainda mais do que isso: o que acaba de ser relatado quanto ao homem, isto , de ser humano para ser humano, ocorre igualmente entre homem e animal, no trato recproco que pode haver entre eles. A perspiccia de certos animais , nesse sentido, verdadeiramente extraordinria, excedendo tudo que poderia fantasiar nossa imaginao. Queremos lembrar os clebres cavalos de Eberfeld, que constituram um dos mais assombrosos acontecimentos do mundo civilizado, dando lugar a elevado nmero de publicaes, mesmo de autoridades cientficas. O rudo feito em torno da descoberta foi imenso e s diminuiu quando encontrada explicao para o fenmeno. O professor Claparde, da Universidade de Genebra, proclamou-o como o acontecimento mais sensacional que jamais surgiu na Psicologia. Karl Krall, no seu livro em alemo Animais que pensam, baseado em suas experincias, que foram a continuao das de von Osten, o descobridor da maravilha inesperada, fez um estudo minucioso da questo, j estribado em considervel bibliografia.

    O fato capital, de onde partiu todo o movimento, proveio das experincias de W. von Osten, um velho oficial alemo aposentado, que dedicou parte da sua vida ao estudo da inteli-

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    gncia dos animais. Em 1900, adquiriu um cavalo russo, que se tornou clebre sob o nome de Hans, apelidado o sbio, ao qual ensinou clculo por meio de quilhas, e, depois, de nmeros. Os resultados foram to extraordinrios que se falou de uma transformao da psicologia animal e de descobertas que o homem estava longe de poder suspeitar. O cavalo aprendeu a contar, a calcular e a resolver pequenos problemas. Mas Hans no sabia somente calcular: podia ler, era musicista, sabendo distinguir acordes harmoniosos de dissonantes. Possua uma memria extraordinria, conseguindo indicar a data dos dias da semana. Numa palavra: sabia resolver todas as operaes que um bom colegial de 14 anos capaz de efetuar. Em poucas semanas aprendeu a extrair razes quadradas e cbicas e, logo depois, a soletrar e a ler, servindo-se de um alfabeto convencional imaginado por seus mestres. Durante muitos anos Osten entregou-se, com dedicao nunca vista, educao do animal, que recebia aulas uma a duas vezes por dia. A tarefa foi rdua e s prosseguiu a passos muito lentos, pois tudo era desconhecido naquela nova aprendizagem, cheia de mistrios e surpresas, tanto para o mestre, quanto para o discpulo. Osten, de temperamento excntrico, considerado por muitos como verdadeiro manaco, no conseguiu, durante longo espao de tempo, despertar interesse em torno da sua descoberta, que no foi mesmo tomada em considerao. J desesperado da situao, tentou, por meio de um anncio de jornal, chamar a ateno sobre o extraordinrio fenmeno, propondo vender o animal, do qual enumerava as singulares capacidades intelectuais, que demonstraria, gratuitamente, aos interessados. Nessas circunstncias, apareceu-lhe o major Eugen Zobel, escritor e profundo conhecedor de hipologia, que, vivamente interessado pelo assunto, publicou diversos artigos sobre Hans, desde ento conhecido como o cavalo sbio. Daquele momento em diante, houve imensa agitao em torno do fato, que despertou a curiosidade do grande pblico, sem contar muitos psiclogos e cientistas. A casa da rua Griebenow 10, na regio norte de Berlim, onde morava von Osten e se encontrava o animal, passou a receber tal nmero de visitantes que se tornou necessria a interveno da polcia para regular o trnsito circunvizinho. At do estrangeiro chegavam personalidades de renome para estudar o estranho fenmeno, que vinha revolucionar tudo o que sabamos dos animais, que agora apareciam como possuidores de inteligncia idntica do homem, sob todos os pontos de vista! Hans fazia clculos de alta matemtica, conhecia a lin-

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    guagem humana, compreendia o alemo, entendia as perguntas que lhe eram feitas e dava-lhes respostas inteligentes, demonstrando que raciocinava de maneira idntica do ser humano.

    natural que se levantasse grande agitao em torno da descoberta, que, desde logo, conduziu s mais desencontradas opinies, das mais favorveis e entusisticas, s mais cticas e negativas. A imprensa publicava artigo sobre artigo, surgiam livros sobre a questo, dando lugar a discusses to vivas e apaixonadas, que o governo e as universidades se sentiram na obrigao de dar ateno ao assunto, estudando-o objetivamente. Eberfeld tornou-se um verdadeiro centro de peregrinao, sobretudo para sbios, que acorriam dc diversos pases e de todos os recantos da Alemanha. Entre eles, foram registrados: Edinger, o eminente neurologista dc Francfort; Claparde, da Universidade, de Genebra; Kracmer e Ziegler, de Stuttgart; Sarasin, de Basilea; Besredka, do Instituto Pasteur de Paris; Oswald, Schoeller e o fsico Gehrke, de Berlim; William Mackenzie, de Gnova; Assogioli, de Florena; Freudenberg, de Bruxelas; Hartkopf, de Colnia; Buttel-Reepen, de Oldenburg; Ferrarri, de Bolonha; Goldstein, de Darmstadt, e inmeros outros, alguns dos quais se convenceram de que os animais realmente calculavam e que as operaes matemticas eram manifestaes da sua inteligncia. Maeterlinck, vindo da Blgica para estudar o fenmeno, ficou maravilhado diante do que pde observar. Ele prprio confessa ter sido sempre fraco em Matemtica e que se sentiu emocionado ao propor ao animal problemas dessa natureza. Realizou experincias ainda com o cavalo Muhamed que, ao lado de Zarif, se revelou ainda mais inteligente que Hans, todos agora sob a direo de Karl Krall, autor do livro fundamental sobre a questo. Maeterlinck relata que, devido sua ignorncia em Matemtica, formulou erradamente o problema que apresentou ao cavalo e que este, sem poder resolv-lo, ficou perplexo, com a pata suspensa no ar. No foi seno quando Krall descobriu o erro e corrigiu o problema, que o animal encontrou a soluo.

    A primeira comisso cientfica para estudar o caso de Hans iniciou seus trabalhos em setembro de 1904, sendo composta de professores de Psicologia, Fisiologia, Zoologia, Veterinria e de especialistas em equitao e adestramento de animais, alm de oficiais de cavalaria, do diretor do Jardim Zoolgico e do diretor do Circo Busch, de Berlim. Essa comisso comprovou a veracidade dos fenmenos relatados e nada tendo encontrado de falso ou suspeito, concluiu que os fatos eram reais, sendo

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    merecedores de profunda investigao cientfica. Imediatamente depois, em Outubro de 1904, o Ministrio da Educao nomeou nova comisso para ocupar-se do assunto, desta vez formada pelo professor C. Stumpf, diretor do Instituto de Psicologia da Universidade de Berlim e dos seus dois assistentes, O. Pfungst e Hornbostel. Depois de algumas semanas de trabalho, chegou a comisso a resultados completamente diferentes, apresentando um extenso relatrio, no qual sustentava que o cavalo no era dotado de inteligncia, no reconhecia nem letras nem nmeros, no sabia calcular, obedecendo simplesmente a sinais imperceptveis, que, inconscientemente, escapavam argcia do seu prprio mestre. A verificao parecia de grande evidncia, pois experincias feitas no escuro ou depois de se haver tapado os olhos do animal fracassaram por completo. O mesmo aconteceu quando eram os resultados desconhecidos das pessoas presentes, ou, simplesmente, da pessoa que dirigia a pergunta ao animal, assim como quando este no a podia ver.

    Emilio Rendich, pintor italiano que vivia em Berlim e acompanhara cheio de admirao as experincias de von Osten, acabou por duvidar dos fatos, sobretudo de que o animal agisse servindo-se unicamente da sua prpria inteligncia. Rendich percebeu que o cavalo se orientava por movimentos quase imperceptveis fornecidos inconscientemente pelo instrutor, cuja boa f e honestidade estavam fora de dvida. Bastava um movimento mnimo da cabea de von Osten para o animal orientar-se quanto ao momento em que devia bater a pata, tudo de acordo com os resultados esperados. Para demonstrar que o mecanismo de transmisso era realmente esse, Rendich realizou experincias com uma cadela de sua propriedade, Nora, cujos resultados foram inteiramente semelhantes aos de von Osten com o seu cavalo Hans. A cadela lia, calculava, reconhecia notas musicais e, por meio de latidos, dava respostas s perguntas que lhe eram feitas. E ningum percebia os sinais que o dono lhe transmitia! Por meio desses sinais inconscientes e imperceptveis, foi encontrada explicao para os fatos em questo, desde logo aceita pelo professor Stumpf e seus auxiliares, que assistiram s experincias de Rendich.

    J antes, em 1903, Albert Moll, ento presidente da Sociedade de Psicologia de Berlim, havia feito verificaes idnticas, chegando concluso de que o cavalo nada apresentava de extraordinrio, pois apenas reagia a sinais que lhe eram dados imperceptivelmente. Mais tarde, isso foi demonstrado experimentalmente por Pfungst, que conseguiu verificar os sinais da-

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    dos inconscientemente, reproduzindo-se conscientemente. Dessa maneira, ele obteve as mesmas reaes do animal, independentemente das questes que lhe eram propostas. Por vezes, mesmo sem formular a pergunta, apenas nela pensando intensamente, obtinha-se do animal a resposta esperada, pois o simples ato de concentrar a ateno sobre determinada questo j era suficiente para levar o experimentador a executar movimentos imperceptveis, que serviam para estabelecer a resposta.

    O que aconteceu com Hans, o co Rolf, de Marnheim e a gata Daisy, e outros animais, reproduziu-se com Basso, um chimpanz do Jardim Zoolgico de Frankfurt, que se tornou centro de atrao devido sua capacidade intelectual, idntica do cavalo Hans, sobretudo para clculos. Houve, igualmente, a, muita disputa em torno desse caso, tendo-se apelado at para a telepatia, com o fim de explic-lo. Finalmente, tudo acabou nos sinais imperceptveis fornecidos pelo guarda e dos quais ele prprio no tinha conhecimento.

    Dessa maneira, foi abandonada a explicao da transmisso direta do pensamento, assim como da telepatia e de mediunismo, que alguns autores quiseram explorar para interpretar os fenmenos em questo. Tudo terminou no mais puro cumberlandismo, isto , na averiguao de que a pretensa transmisso de pensamento no passava do emprego de sinais convencionais, reduzindo-se o processo ao simples mecanismo da dressagem, pela qual so transmitidas ao animal as ordens do domesticador. Alis, parece que o interesse e a ateno do animal eram despertados e mantidos pela oferta de po, cenoura e outros alimentos, recurso muito usado nos habituais processos de adestramento. Em todo o caso, no foi fcil pr a claro o mecanismo dessas manifestaes, que a princpio deram lugar s mais fantsticas suposies. O prprio professor C. Stumpf, que fizera parte da primeira Comisso, concluindo pela realidade e inexplicabilidade do fenmeno, o mesmo que assina o segundo parecer, que destruiu o mistrio, explicando-o de modo to simples e natural. Pelo relatrio da Comisso cientfica foi destrudo o limbo de glria que havia cercado o cavalo de von Osten, no que ele tinha de mais extraordinrio e mesmo inacreditvel. Apesar de toda a sua arte, sabem ler e calcular, tornou-se um simples cavalo de circo, semelhante a muitos outros, apenas reagindo a sinais menos perceptveis. Com isso desapareceu tambm o interesse que havia em torno desse prodigioso animal, raramente aparecendo, desde ento, qualquer pessoa para assistir s novas

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    experincias. o que nos diz Karl Krall, enquanto Meaterlinck acrescenta: Houve na opinio pblica uma grande e brusca reviravolta. Sentia-se uma espcie de alvio algo covarde, vendo-se subitamente extinguir-se um milagre que j ameaava lanar perturbao nesse pequeno rebanho to satisfeito com as verdades j adquiridas. Ao pobre von Osten nada valeu protestar; no foi mais ouvido, a causa estava perdida. Tambm no se levantou mais desse golpe oficial, tornando-se motivo de chacota de todos aqueles que, a princpio, havia maravilhado. E assim morreu na amargura e no isolamento, a 21 de julho de 1909, na idade de 71 anos. dessa maneira, romnticamente, que Maeterlinck descreve o final da vida de von Osten. Na verdade, ele morreu de um cncer do fgado, que o fez sofrer enormemente. E, durante a doena, no cessou e praguejar contra o pobre Hans, amaldioando-o de todas as maneiras, como responsvel por todos os seus males. Talvez constitua isso um elemento psicolgico de valor para esclarecer a marcha que tomaram os acontecimentos!

    A obra de von Osten foi, como dissemos, prosseguida por Karl Krall, a quem aquele doou o seu Hans e que fez experincias com outros cavalos, sobretudo os de nome Muhamed e Zarif, que, sob muitos aspectos, se revelaram mais inteligentes que o prprio Hans, cognominado o sbio. Krall procurou demonstrar que as observaes de von Osten eram exatas e que os animais em questo realmente possuam as qualidades intelectuais que lhes eram atribudas. Procurou excluir as causas do erro, sobretudo em relao aos sinais imperceptveis e, com auxlio do seu colaborador, Dr. Schoeller, tentou ensinar a Muhamed, o seu cavalo mais inteligente, a se exprimir por meio da palavra articulada. O animal fez esforos para consegui-lo, mas terminou por parar de repente, dizendo em alemo, por meio de pancadas dadas com a pata, na sua estranha linguagem fontica: Ig hb kein gud Stim, que quer dizer: Eu no tenho boa voz! Essa simples frase possui incalculvel valor para decidir a questo, pois traduz raciocnio de carter puramente humano, que mostra capacidade de expresso em idioma tambm puramente humano. J se tem alegado, com toda a razo, que a sabedoria animal atribuda aos cavalos de Eberfeld pressupe o conhecimento de um idioma humano, no caso em questo a lngua alem, o que ultrapassa tudo que se pode admitir, mesmo por hiptese. verdade que Krall, no seu livro, fornece protocolos dando a impresso de que mantinha conversa com os seus cavalos em termos estritamente hu-

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    manos, at propondo-lhes enigmas, que eles conseguiam resolver. Em vez, porm, desses exageros possurem qualquer valor de prova, o que antes demonstram quanto deve haver de falso e errneo em tais interpretaes. Antes de tudo, preciso considerar que os conhecimentos em causa em nada adiantariam aos animais, estando fora das suas tendncias e necessidades biolgicas. Se no fosse assim, seria mais fcil, em vez das complicadas experincias realizadas por Krall e outros autores, que se dissesse simplesmente ao animal onde se encontravam guardados os seus alimentos, deixando-o procur-los por simples informao verbal. Certamente, teriam eles mais interesse em realizar essa prova do que em fazer clculos matemticos, inteiramente estranhos sua maneira de viver e que as prprias crianas, nas escolas, tm dificuldade de aprender.

    Charles Richet, referindo-se aos animais sbios, apresenta um argumento de grande valor: No podemos admitir que Muhamed, Rolf, Hanschen e Berto sejam seres excepcionais. Se eles deram provas de inteligncia, quase certo que tambm outros animais as dariam. Porque, ento, os fatos relativos aos cavalos de Eberfeld e aos ces de Mannheim no se repetiram? Porque ficaram isolados na cincia, ou na lenda? Se a aptido de cavalos para o clculo fosse um fenmeno verdadeiro e no uma iluso, poder-se-iam criar centenas de cavalos calculadores. E no foi isso o que aconteceu. O silncio fez-se em torno dos cavalos de Eberfeld. No apareceram outros! Porque, se no foi uma iluso, idola temporis? Tal , penso eu, a mais grave objeo que pode ser feita aos fatos alegados por Krall. E uma objeo to grave, que arrasta negao.

    Alis, no era a primeira vez que se pretendia haver descoberto caractersticos da inteligncia humana no cavalo e outros animais, pois, j em tempos passados, haviam aparecido casos idnticos aos de Eberfeld. Basta recordar o que nos conta Guer sobre um clebre cavalo exposto na feira de Saint Germain, em 1732, e que andou em excurso por outras cidades da Frana. Esse animal reconhecia cartas de baralho, dados de jogar, horas e minutos no relgio e dinheiro em moedas, batendo com a pata para designar os seus valores. O filsofo Le Gandre, que descreve o fato, diz nada haver nele de falso ou exagerado, pois tudo era executado diante de numerosos observadores. Conclui, porm, que o cavalo era guiado por sinais, por gestos e pela voz do seu dono, acrescentando que o extraordinrio que esses sinais fossem imperceptveis, passando despercebidos assistncia.

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    CAPTULO SEGUNDO

    SUMRIO: Anlise de um caso de vidncia. Mecanismo das percepes e predies. Erros, abusos e perigos sociais. O Cdigo Penal. O auxlio do consulente e a perspiccia do vidente. A interpretao e as suas falhas. Porque o errado pode parecer certo. As minhas observaes com os videntes do Instituto Metapsquico de Paris. O caso da clebre Madame Fraya. Insucessos pela objetividade. Tudo falso e errado! Aproximaes superficiais e aparncias de sucesso. Um comerciante insignificante e as suas qualidades vistas por um vidente. A minha decepo pessoal. A histria das minhas cartas. Madame Detay e a sua lucidez em relao a retratos e fotografias. Tonteira e mal-estar da vidente diante dos insucessos. O julgamento humano em funo das capacidades humanas.

    QUE SE TORNA evidente, atravs das consideraes apresentadas no captulo anterior que os animais possuem extraordinria perspiccia, percebendo gestos e

    movimentos que escapam mesmo a investigadores habituados ao trabalho cientfico. Quem conhece suficientemente animais, tendo experincia sobretudo com cavalos e cachorros, pode dar-se conta dessa realidade, que aparece principalmente em seu comportamento espontneo, dentro da sua vida normal. Pois bem, o que foi verificado em relao aos animais j era conhecido quanto ao homem, em condies absolutamente semelhantes. o que vamos ilustrar por meio de um exemplo caracterstico, por ns prprios observado, e que mostrar, de maneira concreta, em que direo deve ser feita a investigao.

    O

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    Trata-se de um indivduo de aproximadamente 35 anos, tez morena de caboclo, morador no Rio, num dos subrbios da Central. conhecido como mdium vidente e atende a enorme clientela, tanto para resolver problemas de sade, quanto de amor e de negcios. A afluncia de pessoas que o iam consultar era to grande, que o movimento da localidade aumentou extraordinariamente. Seu renome repercutiu na Capital, sendo ele constantemente procurado por elevado nmero de pessoas da nossa melhor sociedade. Obtive informaes por intermdio de uma senhora estrangeira, do corpo diplomtico, que estava maravilhada com suas predies e serviu de mediadora em minhas primeiras investigaes. Ela visitava o vidente pessoalmente e trazia-me respostas s questes por mim mesmo formuladas. As informaes sobre condies fsicas e sociais das pessoas que serviam de objeto minha investigao alcanavam alto grau de preciso, no tendo eu prprio percebido, de incio, o mecanismo de orientao descrito no captulo anterior e que, depois, foi suficiente para explicar aqueles misteriosos resultados. Devo acrescentar que no caso em questo que obtive a primeira prova concreta em favor dessa interpretao, graas ao que aconteceu posteriormente, quando entrei em contato pessoal com o vidente. F-lo vir minha residncia, a fim de investigar uma srie de questes que me interessavam vivamente e que era do terreno das suas atribuies. Foi necessrio, alm do pagamento de soma relativamente elevada, a interveno da senhora em questo, cliente predileta e uma das suas mais entusiasmadas propagandistas, para faz-lo vir dar uma consulta na cidade, deixando o seu cmodo e rendoso trabalho no subrbio. Naturalmente, tomei todas as precaues para que no soubesse tratar-se de mim prprio, um mdico, que vivia de sua profisso. Recebi-o muito afetuosamente, ansioso por conhecer a situao. Comeou por dizer que a casa estava cheia de espritos malficos e que, dentro desse ambiente, devia ter eu vida muito difcil. Acrescentou que a minha situao era de dificuldades, que os negcios iam mal, pois, quando pareciam resolvidos, acabavam por fracassar, devido renncia dos interessados. Ele me via em luta comercial com um senhor estrangeiro, antes gordo, um tanto calvo, de aproximadamente 45 anos, do qual era mister desconfiar. O trabalho do vidente era executado de maneira especial, que devia impressionar extraordinariamente maioria dos seus consulentes. Antes de principiar, pediu-me um copo dgua, dentro do qual colocou algumas conchas marinhas e outras bugigangas esquisitas. De-

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    pois, colocou a mo espalmada sobre o mesmo, fez alguns movimentos de presso e suspendeu o copo colocado palma da mo, graas presso atmosfrica, segundo mecanismo fsico muito conhecido. Levantou assim o copo altura dos olhos, fixou atentamente o seu contedo olhando-o contra a luz e, nesse momento, foi tomado de forte estremecimento, quase convulsivo, assestado no brao e na perna do lado esquerdo. Era essa a pantomima que representava ao realizar as suas previses e dar conselhos aos seus clientes! Naturalmente, toda a manobra era puramente charlatanesca, como comum observar-se em indivduos que exploram pretensos dons de vidncia. A impresso produzida dessa maneira sempre mais intensa e tambm mais fcil a orientao fornecida pelas reaes fisionmicas dos consulentes.

    Pelas informaes apresentadas, torna-se fcil perceber o mecanismo das predies aventadas e o alcance que deviam ter. O vidente me havia tomado, sem dvida alguma, por um comerciante, julgando-me, desde logo, preso a dificuldades, que obviamente deviam provir de maus negcios. Por que faz-lo vir do subrbio, pagando-lhe consulta de preo elevado? Era evidente que devia haver interesse material da minha parte e tambm falta de tempo. Com certeza, viu logo que no se tratava de nada afetivo ou amoroso, sobretudo devido ao fato de ser a consulta em minha prpria residncia. Assentada essa preliminar, pergunto: qual o grande comerciante que no tem em suas relaes de negcios um homem de meia idade, algo gordo, calvo, como aqueles que o vidente comeou por descrever? Aconteceu, porm, no haver reao alguma da minha parte, deixando ele de receber, assim, o material necessrio sua orientao e por meio do qual conseguiria contentar qualquer consulente. Tudo estava errado, fora do caminho, desarticulado. Depois disso, pedi informaes sobre uma velha cliente, que eu havia visitado como mdico, naquela manh. Disse-me que tal pessoa estava mal de finanas e sofria dos nervos, de dor de barriga e priso de ventre, receitando-lhe um ch purgativo e outro remdio para os nervos, que deviam ser comprados em determinada casa, cujo endereo forneceu. Sa-me muito bem da empreitada, porque o vidente me disse tudo isso sem desconfiar que eu fosse mdico e conhecesse a cliente, cuja doena no eram clicas nem priso de ventre. Tratava-se de uma viva rica, sadia, que levava vida vazia e ociosa, dentro da qual a insnia representava grande papel. Chamara-me apenas para saber se uma viagem Europa, somente de ida e volta,

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    ser-lhe-ia vantajosa, dando-lhe melhor sono! As coisas estavam nesse p, quando, subitamente, bateu o telefone no quarto ao lado, tendo ele ouvido a resposta habitual, de que se tratava da casa do doutor fulano, que era eu. Fui ao telefone e tomei nota de um endereo, combinando uma visita a ser feita mais tarde. Voltei ao vidente, que estava trmulo, em sobressalto.

    Ficou sabendo, assim, que eu era mdico e logo acreditou que se tratasse de uma cilada para prend-lo, pois, naquele momento, a Sade Pblica desenvolvia grande campanha de represso ao charlatanismo. J por essa razo no tinha sido fcil faz-lo vir minha residncia, sendo necessria a interveno de pessoas da sua confiana. Expliquei-lhe que no estava correndo perigo algum, que eu era apenas um mdico prtico, interessado vivamente pelo problema da vidncia, desejando investig-lo objetivamente. Criou alma nova e comeou a exaltar a sua capacidade para fazer diagnsticos e executar tratamentos. Afirmou que, realmente, conseguia descobrir doenas servindo-se apenas do nome ou mesmo unicamente do endereo do enfermo. Era vidente distncia, sendo justamente nesse campo que asseverava possuir maior fora e poder. A situao no podia ser melhor para mim, cujo maior interesse era exatamente pr-me ao corrente de uma tal possibilidade. Pedi-lhe informaes sobre uma doente, solicitando-me ele apenas seu endereo, que considerava suficiente, pois, pela vidncia, conseguiria transportar-se para junto dela. Dei-lhe o endereo que, naquela poca, quase h 20 anos, era o nmero 22 da rua Paisandu. Quis saber se era homem ou mulher, se a casa era trrea ou de sobrado,