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SETEMBRO/OUTUBRO 2015 Número 137 Ano XII Tiragem 3.000 exemplares www. jornalmartimpescador.com.br Aprenda a preparar a Lumuniya, peixe com limão, do livro Cozinha Árabe Medieval de Talib Abrahão Chaim. Pág.6 Grupo Percutindo Mundos lança o CD Cinema Invisível no Teatro Guarany em Santos. Pág.7 João Espírito Santo, presidente da Colônia de Pescadores Z-3 e o secretário de Turismo Luiz Carlos Pacífico Jr. na Festa do Camarão da Moranga em Bertioga. Pág.3 Profissionais da pesca do camarão-rosa falam de sua rotina no mar e de suas preferências culinárias. Págs.4 e 5 VIDA DE PESCADOR

JORNAL MARTIM-PESCADOR 137

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Setembro/Outubro 2015 - Número 136 - Ano XII - Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo.

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SETEMBRO/OUTUBRO 2015

Número 137Ano XII

Tiragem 3.000exemplares

www. jornalmartimpescador.com.br

Aprenda a preparar a Lumuniya, peixe com limão, do livro Cozinha Árabe Medieval de Talib Abrahão Chaim. Pág.6

Grupo Percutindo Mundos lança o CD Cinema Invisível no Teatro Guarany em Santos. Pág.7

João Espírito Santo, presidente da Colônia de Pescadores Z-3 e o secretário de Turismo Luiz Carlos Pacífico Jr. na Festa do Camarão da Moranga em Bertioga. Pág.3

Profissionais da pesca do camarão-rosa falam de sua rotina no mar e de suas preferências culinárias. Págs.4 e 5

VIDA DE PESCADOR

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Setembro/Outubro 20152

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

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Impressão: Diário do Litoral: Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

DefesosCaranguejo-guaiamum (Cardisoma guanhumi) 01/10/2015 a 31/03/2016 Caranguejo-uçá (Ucides cordatus) proibição de pesca no Decreto SMA 60.133 de 07/02/2014- Exceções ao Decreto na resolução SMA 02/2015

(conheça as leis na íntegra em www.jornalmarttimpescador.com.br legislação)

Mexilhão (Perna perna) 01/09/2015 a 31/12/2015Tainha (Mugil platanus e Mugil liza) 15/03/15 a 15/08/15 (proibida em

todas as desembocaduras estuarino-lagunares do litoral das Regiões Sudeste e Sul). A partir de 15 de maio, a temporada anual da pesca da tainha será aberta somente no litoral, permanecendo fechada até 15 de

agosto nas desembocaduras estuarino-lagunares. (veja Instrução Norma-tiva 171 9/5/2008 em www.jornalmartimpescador.com.br/legislação)

Moratórias Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015

Mero (Epinephelus itajara) 17/10/2012 a 17/10/2015Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)- tempo indeterminado

Tubarão galha-branca (Carcharinus longimanus) - tempo indeterminadoRaia manta (família Mobulidae) - tempo indeterminado

Marlim-azul (agulhão-negro) – Makaira nigricans- comercialização proibida

Marlim-branco (agulhão-branco) - Tetrapturus albidus –comercialização proibida

Reunião da CT Pesca discute atualização da Resolução 51

Polícia Ambiental faz curso de capacitação

A 42a Reunião da Câmara Temática de Pesca da APA Marinha do Litoral Centro aconteceu dia 20 de agosto no auditório do Instituto de Pesca em Santos. Vários assuntos entraram em pauta, após a leitura e aprovação da minuta da última reunião ocorrida em 25 de junho de 2013. Um dos principais temas foi a atuali-zação da Resolução SMA no 51 de 28/06/2012, que regula o exercício de atividades pesqueiras profissionais reali-zadas com o uso de redes nas praias inseridas nos limites da Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro. A modificação visa deixar claro que a utilização exclusiva de tração humana no arrastão de praia refere-se ao momento em que a rede é puxada para a praia para a despesca. O uso de embarcação motorizada deverá ser facultado apenas

Uma linda cachoeira com piscina natural, um rio com corredeiras e uma árvore figueira de cerca de 30 metros de altura são as atrações deste passeio. A Caiçara Expedições organi-za a excursão para o dia 19 de setembro (sábado) com trilha para as Cachoeiras do

Guaperuvu, um interessante roteiro na Mata Atlântica de Itanhaém.

O preço é de R$60,00 por pessoa. Saiba mais em :www.caicaraexpedicoes.com/[email protected]/Facebook: caicaraexpedicoes.fanpage/Tel: 13 3466.6905

O Instituto de Pesca, ór-gão da Secretaria de Agri-cultura e Abastecimento, em parceria com a Polícia Militar Ambiental realizou o 4º curso de capacitação "Tó-picos de pesca marinha com foco na fiscalização" para policiais militares ambien-tais. O evento, que ocorreu de 17 a 21/08/2015, teve caráter teórico-prático em todas as disciplinas e ainda disciplinas ministradas de legislação pela própria PM ambiental e disciplina sobre manejo de animais marinhos por técnicos do Aquário Municipal de Santos. O ob-jetivo é capacitar os policiais militares ambientais forne-cendo ferramentas metodo-lógicas práticas que possam ser aplicadas em campo, no

A Plataforma Educativa Repsol Sinopec voltou a Ilha-bela para promover o curso “POP - Pescador profissional” e a palestra “Segurança no entorno de plataformas de petróleo”. O POP, realizado em parceria com a Mari-nha, foi ministrado de 31 de agosto a 4 de setembro, e a palestra, foi feita pelo gerente de segurança e meio ambiente da Repsol Sinopec, em 3 de setembro. A carreta da Plataforma Educativa ficou instalada Praça Alan Kardec, na Av. Princesa Isabel, s/nº, no bairro da Barra Velha. Em seu sexto ano de atividades, a

Plataforma Educativa Repsol Sinopec percorreu mais de 70 mil quilômetros e atendeu a mais de 12 mil pessoas de 18 cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. O programa opera por meio de um sistema itinerante, em que as aulas são ministradas em uma unidade móvel de 12 metros de comprimento, equi-pada com computadores e kit multimídia, com capacidade para até 25 alunos por turma. Todas as atividades oferecidas são gratuitas. Saiba mais em: www.repsolsinopec.com.br e siga www.facebook.com/repsolsinopec.

Caiçara Expedições realiza trilha em

Itanhaém

Curso para pescadores em Ilhabela

para o lançamento da rede no mar. É de consenso entre os pescadores que tal operação não deve ser feita a remo, diante da dificuldade da ope-ração e o risco que envolve. A modificação deverá ser enviada para discussão em reunião do Conselho Gestor antes de ser implementada.

Durante a reunião foi feita demanda do pescador de Peruíbe, Francisco Vicente Filho, de estudo sobre teste da rede de emalhe com malha de 30 mm, nó a nó. A vantagem deste modelo é a maior seletividade que apresenta para peixes, que podem ser capturados de acor-do com o tamanho estipulado

pela legislação. Esse tamanho de malha também inibe a cap-tura de cetáceos, quelônios e outros organismos vulneráveis ou sob risco de extinção, de acordo com o pescador. (veja a Resolução no 51 de 28/06/2012 texto na íntegra em www.jornalmartimpescador.com.br/ legislação).

momento de fiscalizações. A capacitação abordou téc-nicas práticas que vão desde o reconhecimento de certas espécies com algum tipo de regulamentação, impacto

e interação da pesca com o ambiente, além de metodolo-gias de fiscalização de certas pescarias, como a da sardinha. Os tópicos abordados pelos professores foram os seguin-

tes: Identificação de peixes ósseos de interesse para a fiscalização (Dr. Roberto da Graça Lopes), Identificação de moluscos de interesse para a fiscalização (Dra. Márcia Galvão), Identificação de pei-xes cartilaginosos e grandes pelágicos de interesse para a fiscalização (Dr. Alberto Amorim), Identificação de crustáceos de interesse para a fiscalização (Dr. Pedro Mes-tre), Capturas acidentais e a conservação de golfinhos e tartarugas marinhas (Dra. Carolina Bertozzi), Principais artes de pesca na costa de São Paulo (MSc. Gastão Bastos), Tecnologia pesqueira - teórica e prática/ Petrechos de pes-ca perdidos, abandonados e descartados no mar (Dr. Luiz Miguel Casarini).

As aulas foram ministradas no Instituto de Pesca em Santos

O gestor da APAMLC, Paulo Harkot, durante a reunião

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Festa do Camarão na Moranga de Bertioga

Gelo mais barato para o artesanal

O pescador artesanal encontra gelo a preço bom no Terminal Pesqueiro Pú-blico de Santos-TPPS. Se-gundo o gestor do TPPS, Adalto Paulino Barbosa, a caixa com 22 quilos sai a R$3,00. Os interessados devem comparecer ao local e se cadastrar com o RGP (Registro Geral de Pesca) e documento da embarca-ção. O TPPS fica na Av. Rei Alberto I, 450, Estuá-rio, Santos-SP. Telefone: (13)3261.1389.

A Festa do Camarão na Moranga agitou Bertioga de 7 de agosto a 7 de setembro. O evento já faz parte do roteiro gastronômico local e atrai cerca de 15 mil visitantes que consomem cerca de 1,5 tonelada de camarão no mês da festa. Segundo João do Espírito Santo, presidente da Colônia de Pescadores Z-23, a entidade realiza o evento há 22 anos, que tem por finalidade arrecadar fundos para dar apoio aos pescadores artesanais, procurando dentre

outras coisas a regularização de situação legal, amparo jurídico e aperfeiçoamento profissional através de cursos, assistência odontológica com consultório próprio, e a ob-tenção de salário-desemprego nos períodos de defesos. A 22a Festa do Camarão na Moranga conta com apoio da Prefeitura de Bertioga, Man Latin América Indús-tria e Comércio de Veículos Ltda., Barcos Paixão, Apta Caminhões e Ônibus, Ultra-gaz, Ocean Consultoria de

Imóveis e Las Vegas Produtos Alimentares Descartáveis. Este ano, segundo João do Espírito Santo, a festa contou também com o apoio de São Pedro, que providenciou mui-to sol e pouca chuva durante o período da festividade. Aqui vai a homenagem do jornal Martim-Pescador a todas as pessoas que trabalham nos bastidores para organizar esta bela festa que é o orgulho da cidade de Bertioga. Saiba mais em www.festadocama-raonamoranga.com.br

Adalto Paulino Barbosa, gestor do TPPS

Luiz Carlos Pacífico Jr., secretário de Turismo, Esporte e Cultura, João Espírito Santo, presidente da Z-23 e Diana Gurgel do Ministério da Pesca

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Coluna

OUVIDORIA EMBRAPORT: 0800 779-1000

[email protected] www.terminalembraport.com.br

Embraport promove ação Motorista Legal

para os caminhoneiros

A Embraport, maior e mais moderno terminal portu-ário privado do país, instalado na margem esquerda do Porto de Santos, promoveu nos dias 27, 28 e 29 de agosto a campanha Motorista Legal, que ofereceu serviços de saúde e bem estar aos caminhoneiros que acessaram as instalações do terminal, localizado na Ilha Barnabé.

Esta foi a segunda edição da campanha, que ocorreu das 10h às 17 horas e reuniu mais de 200 motoristas. Como parte da programação, os participantes puderam aferir a pressão arterial, realizar testes de glicemia, coles-terol e acuidade visual (teste de visão), além de poderem melhorar o visual cortando o cabelo gratuitamente.

Paralelo a estas atividades, a equipe de Segurança do Trabalho reforçou algumas orientações de segurança no trânsito que devem ser praticadas tanto dentro como fora do Terminal visando orientar os motoristas.

Houve também distribuição de lanches e sorteio de brindes aos participantes da ação.

Luis Turbides, diretor de operações da Embraport destaca a importância da iniciativa para valorizar uma categoria de profissionais que é tão fundamental para a logística do Porto de Santos. “É uma maneira que encon-tramos de transmitir informações de segurança, além de incentivá-los a cuidarem de sua saúde e a qualidade de vida”, finaliza.

Vida de PescadorVivendo mais no mar do que em terra, os pescadores

de camarão-rosa têm suas preferências quando se trata de frutos do mar. O cardápio durante as viagens é variado, mas o pescado sempre está presente. “Quando era barco a gelo a viagem levava de 12 a 16 dias. Hoje com barco frigorífico fica mais tempo, cerca de 50 dias”, explica o mestre Ézio Suzarte. Depois de quatro a cinco dias em terra, tempo de abastecer e preparar-se para uma nova viagem, rumam para o alto mar. Na época do defeso, parada obrigatória da pesca para a conservação da espécie, o pescador remenda redes, conserta problemas do barco, resolve seus problemas pes-soais, e muitas vezes viaja para rever sua terra natal. Muitos vêm de Santa Catarina, outros de estados do norte e nordeste como Maranhão, Bahia, Pará, entre outros. Geralmente na infância que se formou o gosto pelo peixe, e os modos de preparo típicos de cada localidade influenciam suas

Orlando Laurenço, o Xodó, é um catarinense apai-xonado pelo mar. “Estou aqui porque gosto”, afirma o pescador que está aposentado há mais de 14 anos, mas continua trabalhando. “Me dou bem no mar, mar é saúde, dá uma sensação de segurança, aqui não vou ser assal-tado”, explica. Só não gosta de banho de mar. “Mar é só pra trabalhar”, diz. Nascido em 1955 em Camboriu-SC, cresceu vendo os pais trabalharem na lavoura. “Fui para a olaria aos 13 anos fazer telha”, lembra-se. Chegou a Santos em janeiro de 1973, quando fez sua primeira viagem em barco de camarão-sete-barbas. Hoje é mes-tre do camaroeiro Jambo. “Não sou chegado a comer camarão. É como trabalhar na fábrica de bala, enjoa”, confessa. “Comi muito quando cheguei na pesca, mas hoje gosto mais de peixe ensopado, caldeirada e frito”, conclui. Seu jeito favorito de preparo é refogar rápido as postas de peixe no óleo, só para perder o sangue. Tira da panela e reserva. Na mesma panela, refoga cebola, tomate, pimentão verde picados e colorau. Poe o peixe de volta com só um pouquinho de água para acabar de cozinhar.

Profissionais ligados à pesca de camarão-rosa falam de sua vida, de suas preferências culinárias e dão suas receitas preferidas

Xodó, mestre do Jambo

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Vida de Pescador

Ingredientes:1 kg de sardinha (sem vísceras, escamas e rabo)

4 dentes de alho e 1 cebola picados1/2 pimentão verde picado1/2 pimentão vermelho picado1/2 pimentão amarelo picado4 tomates picadosOréganoLimãoSal a gosto1 maço de coentro picadinho1 copo (tipo requeijão) de azeite1 copo (tipo requeijão) de vinagre

1 copo (tipo requeijão) de água1 folha de louroPreparo:Deixar as sardinhas limpas no tempero com alho,

cebola, sal, coentro, pimentão e tomate, de um dia

para o outro na geladeira. Colocar numa panela de

pressão com todos os temperos, acrescentar o azei-

te, a água e o vinagre. Tampar. Quando começa a

apitar deixar por mais 40 minutos em fogo normal.

Servir com arroz branco. A sardinha escabeche,

amassadinha, também pode ser a base de um patê

feito com maionese, salsinha e cebola picadinha para

comer com torradas.

Ézio Suzarte, mestre de barco de camarão-rosa, Lisa I, nasceu em 1950 em São Francisco do Sul-SC, está desde 1972 em Santos traba-lhando na pesca de camarão. Em sua infância em Santa Catarina, o pescado era sempre parte do cardápio da família. “Minha mãe era boa cozinheira de peixe, fazia moqueca, tainha, corvina, goete, quando eu era moleque”, lembra--se. “Já comi bastante camarão, hoje não muito”, explica. Sua receita preferida é o camarão no bafo. O preparo é simples, basta colocar o camarão na panela com pouca água, para cozinhar quase que só no vapor. O camarão vai com casca e cabeça. Acrescentar

cebola, alho, pimenta-do-reino, cheiro-verde, azeite, ½ copo de água. Fogo não muito alto. Azeite. Deixar por oito minutos. Comer na mão, tirando a casca.

Hélio dirige sua empresa de pesca em Guarujá e está há cerca de 50 anos no ramo. Apesar do constante contato com camarões e peixes, nunca enjoou de preparar receitas com frutos do mar. Ele mesmo gosta de fazer suas in-cursões na cozinha, mas confessa que sua esposa é a verdadeira especialista na culinária de frutos do mar. Aqui vai a receita especial de dona Márcia, feita com todo capricho. Primeiro as lulas gran-des limpas são jogadas em água fervente rapidamente para inchar, de forma a caber o recheio. Tirar a pele das lulas, depois rechear com um camarão-rosa cortado no meio

pelas costas (espalmado) enrola-do numa tira de bacon. Colocar as lulas numa forma refratária e cobrir com molho de tomate ou molho branco, com queijo ralado por cima. Levar ao forno e deixar até gratinar.

José Antonio de Sousa, o Ri-sadinha, 48 anos, está há 18 anos na pesca de camarão-rosa. Nasceu em Vitória, no Maranhão e chegou a Santos aos 18 anos de idade. Seu pai era pescador artesanal no Ma-ranhão, pescava de rede de lance, anzol e espinhel. “Pesquei lá e de-pois vim pra cá”, conta. “Gosto do mar, do sossego”, explica. Hoje é contra-mestre do barco camaronei-ro Lisa I. Gosta de uma pescadinha frita com sal e limão, e também do camarão preparado de um jeito bem simples, à moda maranhense. Lá o comum era o camarão cinza, mas a receita pode ser feita com o

branco ou o rosa. É só descascar e refogar o camarão na cebola e no tomatinho picados, e depois comer acompanhado de feijão.

Profissionais ligados à pesca de camarão-rosa falam de sua vida, de suas preferências culinárias e dão suas receitas preferidas

preferências. Na pescaria vão cerca de cinco profissio-nais, o mestre, é responsável pela pescaria, decide para onde o barco vai. O contra-mestre é responsável pelo convés, troca rede, solta o cabo, cuida da manutenção dos equipamentos. O motorista cuida da manutenção dos motores, da casa das máquinas. O tripulantes ajuda o contra-mestre na manutenção e opera a pescaria. O cozi-nheiro prepara “a boia”, desde cedinho, e quase sempre “puxa a sardinha” para sua terra natal. Ou seja, os que vêm do nordeste gostam de acrescentar leite de coco nos pratos. Já o catarinense capricha no feijão, acrescentando chuchu, abóbora, repolho, lingüiça calabresa e toucinho. Uma coisa é unânime, em cozinheiros de qualquer região, a farinha de mandioca não pode faltar! Veja aqui a preferência culinária destes pescadores de barcos de camarão-rosa sediados em Guarujá, no litoral do Estado de São Paulo.

Alda, convivendo com a pescaAlda Faria, 56 anos, trabalha

com serviços gerais há 11 anos na empresa de barcos de pesca de Hélio Marcelino em Guarujá. Além de lidar todo o dia com o pescado, gosta também de sempre ter frutos do mar à mesa. O hábito veio de sua infância passada em Boiçucanga, São Sebastião. “Sou legítima caiçara, caiçara roxa”, diz Alda com orgulho de suas raízes. O prato principal em sua infância era o azul-marinho, peixe feito com banana nanica verde. “A gente cozinhava com qualquer peixe, garoupa, tainha, corvina”, diz. As artes de pesca mais usadas na comunidade eram tresmalho, rede de arras-tão, feitas com canoa de um pau só. “Agora que acabou tudo,

Sardinha Escabeche

é só turista onde tinha caiçara”, lamenta. Tinha época para pescar tudo tainha, espada, xarelete, e os temperos eram colhidos na roça. “A gente comia banana da terra cozida ou assada no fogão a lenha, com farinha caiçara”, conta. “Foi difícil se acostumar sem a bendita farinha quando vim morar em

Santos aos oito anos de idade”, comenta. Os doces também fica-ram na lembrança. “Tomávamos café com bolo de tapioca assado na folha de bananeira no fogão a lenha”, diz com saudades. Hoje o hábito das receitas caiçaras se perdeu em parte pela dificul-dade de encontrar os produtos necessários e também à ausência do fogão a lenha que dava um gostinho especial ao prato. Alda hoje adicionou novos pratos ao seu cardápio, que fogem da tra-dição da culinária caiçara. Aqui ela divide conosco sua receita de sardinha escabeche, que também pode virar um delicioso patê. “Meu filho e meus dois netinhos também adoram”, diz. “A gente se acaba de tanto comer!”, garante.

Hélio Marcelino, o armador de pesca

Risadinha, contra-mestre do Lisa I

Ézio, mestre do Lisa I

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Nos caminhos da culinária árabe

Cultura caiçara é valorizada na Praia Grande

“Na cultura árabe, cada cozi-nheira é herdeira e continuadora de uma tradição culinária familiar que começou não se sabe onde, talvez nas revolucionárias cozinhas dos palácios dos Califas, ou talvez mais longe ainda, não sabemos”, afirma o arquiteto Talib Abrão. Curioso, em-preendeu uma longa pesquisa sobre a culinária árabe e o resultado são dois preciosos livros, com muitas histórias e receitas. “Cozinha Árabe Medieval” traz os pratos mais tradicionais e também ou-tros da culinária contemporânea. Uma das curiosidades é observar a resistência do tharid, prato antiquíssimo, originário dos desertos da Arábia. Preparado originalmente com pedaços triturados de pão embebidos em caldo de carne, pode ser saboreado hoje na Arábia Saudita, acrescido de batata e tomate, ingredientes das Américas. “Receitas Árabes Tradicionais” são as coletâ-neas de receitas de sua mãe, Salma Daud Abrão e sua sogra Mahassen Hanna Yazbek.

“A ideia do livro começou quan-do percebi que com o desapare-cimento de minha mãe e sogra, realmente cozinheiras excepcionais, suas receitas, e principalmente o modo de elaborar as receitas pode-riam se perder”, conta Talib. Afinal, cada aldeia do Líbano tem seu modo particular de fazer uma receita o que

produz uma riqueza e diversidade de modos de preparo. “A primeira ideia era preservar as receitas para a família, mas daí para fazer um livro foi um pulo, porque desde 1983 eu tenho uma pequena gráfica”, acrescenta. Nascido em 1944 em Presidente Wenceslau, hoje mora em São Paulo, onde desenvolve suas paixões pela pintura, culinária e também pela gráfica através de seus projetos de livros.

Talib confessa ser um exímio cozinheiro, aliás, todas as receitas foram testadas por ele com todo carinho. “Era preciso transformar os punhados de grãos que minha mãe e minha sogra mediam nas mãos em medidas concretas, como copos, xícaras, etc”, explica, embora ele ainda use o sistema de punhados na mão. “Todos na minha família gos-tam de cozinhar, e às vezes fazemos almoço coletivo onde cada um faz um prato e com isso damos boas risadas”, diz.

As receitas incluem carnes, massas e legumes variados. O livro Receitas árabes Tradicionais foi re-editado este ano pela editora Revan do Rio e pode ser comprado pelo site: [email protected]. Uma boa pedida para quem quer mergu-lhar numa deliciosa experiência de experimentar a culinária árabe.

“São necessários peixes fres-cos, açafroa, limão, miski (opcio-nal), canela e ramos de hortelã. Triture a açafroa em um pilão, coe e leve ao fogo. Esprema os limões, extraia o suco, junte-o à açafroa e deixe ferver a mistura.

Lave o peixe, corte em pedaços e coloque-os junto com os ingre-dientes que estão no fogo até que estejam perfeitamente cozidos. Em seguida, espalhe sobre o peixe, miski e canela (triturados) e hortelã picada”. Para esta receita pode

ser usada a açafroa, o açafrão, ou açafrão da terra (este último mais fácil de encontrar e já vem em pó). O miski, encontrado apenas em empórios árabes, é opcional. Os melhores peixes são o vermelho cioba ou a garoupa.

A cultura caiçara é tema de pro-gramação especial com e palestras, oficinas e apresentações artísticas promovidas pela Secretaria de Cultura e Turismo –Sectur do mu-nicípio de Praia Grande. Dentro do projeto “Identidade na Diversidade” acontecem oficinas de Gastronomia Caiçara todas as segundas, das 13 às 15 horas, no Palácio das Artes. Segundo Virna Gomes, chefe de Difusão Cultural da Sectur, o projeto visa colher histórias, depoimentos e receitas caiçaras, formando também grupos folclóricos que representem a Cidade. A reunião de todo esse material resultará em um livro, que será publicado em 2016. A jorna-lista e pesquisadora especialista na cultura e culinária caiçara, Christina Amorim, autora do livro Café com Peixe, ministrou a 3ª oficina de Gas-tronomia Caiçara, dia 24 de agosto, na sala de capacitação da Secretaria de Cultura e Turismo (Sectur).

A jornalista enfatizou a maneira simples do preparo dos pratos mais tradicionais, que podem ser facil-mente reproduzidos nos dias atuais, preservando o valor do alimento com baixo consumo de gorduras. Um exemplo disso é o biariby, forma de preparo herdada dos índios em que o peixe é preparado com as escamas sem nenhum tempero, embrulhado na folha de bananeira. Os índios e caiçaras enterravam o peixe na areia,

colocando a brasa por cima, mas hoje é possível preparar o mesmo prato de maneira semelhante num forno convencional.

Dia 27 de agosto a cultura caiça-ra foi o tema abordado no Ciclo de Cultura Tradicional e Contempora-neidade, também no Palácio das Ar-tes. A programação teve início com uma visita monitorada à Exposição Ingredientes do Brasil, em cartaz na Galeria Nilton Zanotti até o dia 5 de

setembro. Após a visitação, Márcio Barreto, idealizador da Semana da Cultura Caiçara em Santos, músico e produtor audiovisual, realizou uma oficina de sensibilização com instrumentos musicais utilizados pelos caiçaras. As atividades tive-ram sequência com a performance Identidade, apresentada pelos alunos do professor Osmário Barreto. Logo após, tiveram início as palestras de Márcio Barreto, Christina Amorim, e

Pedro Henrique Moya, representan-te do turismo social do Sesc-Santos. O Ciclo de Cultura Tradicional e Contemporaneidade terminou com a apresentação dos alunos do Porto das Artes, sob a coordenação da profes-sora Fernanda Yannuzi e da diretora Luciana Rocha, que mostraram repre-sentações de danças caiçaras como o fandango e a dança de fitas. Marcio Barreto enfatizou a importância da iniciativa. “O projeto é importante na medida em que demonstra o interesse crescente pela cultura caiçara, am-pliando o diálogo e a reflexão sobre nossas origens e seus desdobramentos na contemporaneidade. Caminhamos em direção ao reconhecimento da cultura caiçara como gênese da brasilidade”, concluiu.

Inscrições e Informações sobre as Oficinas de Gastronomia Caiçara no tel:(13)3496-5724. As oficinas são gratuitas e abertas ao público em geral.

Christina Amorim Pedro Moya Márcio Barreto

Limuniya , Peixe com l imão

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Imagine a carne do peixe em forma de pol-pa, livre de escamas, espinhas, pele e vísceras? Chamada de CMS (Carne Mecanicamente Separada) ela é um produto obtido mecani-camente, de sabor suave, que pode ser usado no preparo de diferentes receitas, desde o quibe até a sopa de peixe. Sua utilização pode ser feita de forma prática e segura para ser consumida, principalmente, por crianças e idosos.

A CMS foi um dos assuntos abordados pela pesquisadora Thaís Moron Machado, da Unidade Laboratorial de Referência em Tecnologia do Pescado – ULRTP - Instituto de Pesca – APTA/SAA - Santos, na palestra “Inovações em Processamento de Pescado”, durante a 12ª edição Tecnocarne & Leite. O evento aconteceu dia 13 de agosto no Centro de Exposições São Paulo, na Rodovia dos Imi-grantes, SP. Thais destacou a importância das inovações em processamento de pescado, em especial de técnicas para manter a qualidade do produto e agregar valor. “O desafio do pro-cessamento de pescado é desenvolver e utilizar tecnologias já existentes que prolonguem o período de vida útil dos produtos, que agradem pela qualidade sensorial, facilidade de preparo e preço acessível”, afirma a pesquisadora. Citou ainda algumas das principais tendências do mercador consumidor atual, como redução dos teores de açúcar, gordura e sódio, produtos prontos para o consumo e substituição dos adi-tivos por ingredientes atuais com propriedades semelhantes, entre outros.

A ULRTP atua na área de processamento do pescado utilizando várias tecnologias tradicionais, porém, ainda não totalmente se-dimentadas na cadeia produtiva do pescado no Brasil, entre elas: técnicas de congelamento,

salga, secagem, defumação, conservas, fer-mentados, utilização do resíduo na produção de silagem para uso na alimentação animal ou como fertilizante, e produção de Carne Mecanicamente Separada – CMS.

A pesquisa com a CMS tem papel de des-taque na ULRTP. Além do desenvolvimento de produtos à base de CMS como blocos congelados, empanados, embutidos, utilização de algas marinhas na melhoria da textura de produtos, biscoito e sopa desidratada, entre outros, o laboratório vem atuando ativamente em projetos que visam a inserção do pescado na merenda escolar. Já existe disponível no mercado produtos diferenciados a base de pescado, como filés com molhos, lasanhas, defumados, porém, quando comparados a produtos similares de carne bovina ou de aves, estes ainda são considerados elitistas em função dos altos preços. Algumas indústrias comercializam diferentes produtos a base de CMS, de preço mais acessível, como almôn-degas, hambúrguer, lingüiça, entretanto, esta

ainda representa um pequeno nicho de merca-do. “Acreditamos que se faz necessário maior aproximação entre a pesquisa e a indústria, assim como campanhas de conscientização junto ao público consumidor, visando efetiva aceitação destes e de novos produtos a base de pescado”, afirma Thais. Outros assuntos abordados na palestra incluíram as principais linhas de trabalho da ULRTP que resultaram em publicações científicas nas áreas de qua-lidade, segurança alimentar, estudos de vida--de-prateleira de produtos congelados, silagem de resíduo de pescado. Ainda foi apresentado o trabalho de desenvolvimento de produtos como biscoito e sopa desidratada de CMS de espécies subutilizadas de pescado, caviar de ovas de truta arco-íris, medalhão de aparas de filé e CMS de carcaça de pescado, ovas de ouriço do mar, almôndegas de CMS e algas marinhas, entre outros. Finalmente, Thaís in-formou que de 28 a 30 de setembro, a ULRTP oferecerá um curso sobre “Carne Mecanica-mente Separada - CMS de pescado”, no Insti-tuto de Pesca, na Av. Bartolomeu de Gusmão, 192, Santos-SP. Mais informações: ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/CURSO_CMS_2015.pdf/

Polpa de peixe tem mil utilidades Devido à exploração intensiva dos

recursos pesqueiros, cada vez mais tem ocorrido a diminuição no estoque de peixes, que se soma ainda ao grande desperdício que é praticado ao longo de toda a cadeia produtiva, desde a captura até a comercialização. Dessa forma, é importante aumentar a renda gerada pelos pescadores artesanais através de medidas estratégicas, tais como o manejo da pesca, substituindo o descarte pelo aproveita-mento das subespécies e de partes não aproveitadas e aplicar boas práticas na conservação do pescado com objetivo de agregar valor para garantir lucros nas transações comerciais.

Agregar valor em termos de merca-do ao consumidor significa oferecer um produto que seja atraente, nutritivo e que não se deteriore rapidamente. Os peixes “in natura” expostos em feiras livres, supermercados, mercados municipais e peixarias, nem sempre agradam o consu-midor, que dá preferência ao peixe inteiro (eviscerado e sem cabeça), sem escama, sem espinha, e na forma de filés ou postas. As espinhas oferecem riscos às crianças e aos idosos.

Os pescadores artesanais quando oferecem produtos bem conservados já estão nesta etapa associando valor agre-gado e poderão obter melhores preços nas vendas. Vários fatores como o clima, a espécie, o valor comercial da espécie, a distância podem influenciar a qualidade do produto. Para que isto não ocorra é de fundamental importância que seja determinada a forma de conservação até o local de venda, isto é, se o produto será apenas mantido em gelo, ou será subme-tido a congelamento rápido, defumação ou enlatamento.

Hoje em dia agregar valor ao pescado é estratégico, pois além de aumentar o tempo de duração do produto, confere características como odor, sabor, aroma que agradam o consumidor a adquiri-lo, aumenta a procura nas gôndolas e vendas gerando maior lucro para o produtor.

Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo

A importância de agregar valor

ao pescado

O maestro Gilberto Mendes abriu a apre-sentação de lançamento do CD “O Cinema Invisível” do Grupo Percutindo Mundos de uma maneira inusitada, cantarolando a música Say it e ensaiando passos de dança. Cantando a mesma música, Mendes abre o CD, na faixa Chuva Oblíqua. Afinal, originalidade é o que se poderia esperar de um músico, regente orquestral, professor e compositor de obras como Santos Football Music e Beba Coca--Cola, entre outras. Após a abertura, o grupo Percutindo Mundos apresentou as canções que fazem parte do CD “O Cinema Invisível”, con-templado pelo Facult 2014, edital de fomento à cultura da Prefeitura de Santos. “Percutindo Mundos “é composto por Márcio Barreto (composições e luthieria), Célia Faustino (voz, dança e percussão), Erik Morais (voz,

percussão e artes cênicas), Fernando Ramos (sax), Guilherme Barros (cordas e percussão), Denyse Di Favero (voz, dança e percussão), Galeno Malfatti (luthieria e artes plásticas)

e Natália Brescancíni (dança e artes visuais). “Música contemporânea cai-çara é caracterizada pela fusão entre ancestralidade e contemporaneidade através da resignificação da identidade cultural caçara”, afirma Barreto. Ele também cita o forte uso da aleatorieda-de, do macrominimalismo da percussão melódica e da harmonia timbristica, unindo diversas linguagens artísticas como a literatura, a dança, as artes vi-suais, o teatro, e a construção de novos instrumentos musicais.

A próxima apresentação do grupo acontece na Fortaleza da Barra em

Guarujá, dia 25 setembro às 16h. A entra-da é franca. Para obter o CD ligar para: (13)99174.62’12.

CD divulga releitura de música caiçaraGrupo Percutindo Mundos lança CD no Teatro Guarany em Santos em agosto

O maestro Gilberto Mendes abriu a apresentação

Quibe feito com CMS de pescado no Laboratório de Tecnologia de Pescado do Instituto de Pesca

Thais Moron Machado

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Setembro/Outubro 20158

Corumbau de Todos os Santos

O Restaurante Sol e Vida, na Ponta do Corumbau, se mistura com a paisagem verde do lugar. O dono, Arivaldo de Souza Deocleciano, o Ari, divide a coordenação com sua esposa, a Zélia. Ari, nascido em 1968, está há muitas gera-ções em Corumbau, e foi com avô, Honorato, pescador, que aprendeu esta arte. A família antigamente dividia as ativi-dades entre a pesca e a roça, com plantações de mandioca e casa de farinha. Ari já pescou muito de linha, rede-balão, e arrastão, pegando vermelho, sarda, xaréu, robalo. “Mas hoje pesco pouco”, confessa. Ari e Zélia adoram cozinhar e servem um peixe no bafo que é um dos pratos princi-pais do restaurante. O pai, Manoel, carpinteiro naval fazia barcos, fazia de tudo e

ensinou as artes de carpintaria ao filho. Ari aprendeu a arte de fazer telhado de tabília, que são madeirinhas cortadas em retângulo, que servem de telhado. Seus trabalhos artís-ticos em madeira enfeitam o restaurante de maneira bem original, onde uma canoa tra-dicional pode se transformar numa decorativa escada.

Para todos os santos e para todos os gostos. Esse pedacinho de paraíso no extremo sul da Bahia, além das águas límpidas, exibe em sua praia quase deserta, um paredão de falésias coloridas e recifes de coral-cérebro com grande variedade de peixes coloridos. A palavra

Corumbau em tupi significa “longe de tudo” ou “o fim do mundo e o começo da Terra”, o que sugere a Ponta do Corumbau, pontão de areia que com o baixar da maré fica descoberto pelas águas. Afinal, essa Reserva Extrati-vista Marinha, fica a 230 km de Porto Seguro-BA, sendo

55 km de estrada de terra, longe mesmo dos grandes centros urbanos. Além da população tradicional com muitos descentes de negros, índios e portugueses, ali existem aldeias de índios pataxó e, inevitável, turistas que ali fixaram residência ou abriram pousadas. As opções

de hospedagem vão de ins-talações de alto luxo, como a Vila Naiá, com projeto arquitetônico e a decoração inspirados nas vilas de pes-cadores locais até pousadas menores, como a Tocca do Veludo, que exibe em seu café da manhã as delícias dos sucos e doces da terra.

A pesca é uma vocação que nasceu aos oito anos de idade, quando o menino José Roberto Santos Cardoso pegava uma canoinha de madeira, seu anzol e ia para o mar pescar com os amigos. “Era o lazer das crian-ças naquela época”, lembra-se. Para o jovem nascido em Co-rumbau em 1993, hoje, aos 22 anos, a pesca não é mais uma brincadeira. ”Meu irmão me ensinou a pesca profissional quando eu tinha 13 anos”. Aos 15 anos teve o primeiro barco a remo, conquista muito grande. “Aos 18 comprei um maior”, conta. Hoje com um barco de cerca de 7 metros, com casario, pesca camarão-sete-barbas, rosa e VG na rede-balão. Sai para o mar às 3 h da manhã e volta às 3 da tarde. A quantidade de pescado pode variar de 5 até 400 quilos por dia.

A paixão pela pesca não foi herdada do pai, Manoel Xavier, nascido em Cachoeira do Mato, no interior da Bahia. Hoje, aos 78 anos, Manoel é dono de uma vendinha em Corumbau, depois de passar quase toda a vida se dedicando a cuidar de sua roça e vender seus produ-tos, como banana, abóbora, aipim e a farinha em várias localidades. “Meu pai ficou 30 anos indo a pé, andava dois dias tocando tropa de animal, burro e jumento”, conta. “Carregava mercadoria e trocava por peixe salgado e todo mundo queria vender peixe para ele. Tirava 30 arrobas de peixe no caçoá

(balaio feito de cipó)”, explica. “Tempos depois, fazia farinha no sítio, lotava caminhonete ia para todos cantos da cidade”, lembra. A mãe de José Roberto, Zuleide, é filha de índia pataxó, nascida também em Corumbau, e dessa união nasceram três filhos, José Roberto, Leonis e Rosileide. José Roberto ainda tem mais 15 irmãos por parte do primeiro casamento de seu pai. Da mãe, Zuleide, filha de índia pataxó, aprendeu maneiras es-peciais de preparar o pescado. Assar o vermelho na grelha com escamas e vísceras. A pele era tirada toda de uma vez, puxan-do com uma faca, e a carne sa-boreada sem nenhum tempero, às vezes com um pouquinho de sal e limão, acompanhado de farinha. O pirão era a farinha de mandioca escaldada no prato, à moda indígena.

O amor pelo batuque foi descoberto pela belga Martini, que vive parte do ano em Co-rumbau empenhada em projetos sociais. “Martini fez um projeto em parceria com a fábrica de instrumentos Contemporânea, de São Paulo”, conta entusias-mado. Além de aprender a fa-bricar alguns dos instrumentos, caixas, repique, surdo, choca-lho, agogô, um grupo de jovens se reúne duas vezes por semana para tocar. Assim como um dia descobriu seu dom pela pesca, José Roberto despertou para a música. E hoje a vida é assim, entre a pesca e o batuque, não é que essa mistura dá samba?

O gosto pela música está presente em muitos moradores de Corumbau. Jumar Alves dos Santos, 33 anos, gosta de pescar desde os 16 anos. O mesmo amor que tem pela pesca dedica à sua banda Beijo Romântico, onde é vocalista. A família, descendente de índios com portugueses, está no local há mais de três gerações. O pai, Antonio Pereira dos Santos, era pescador, e com a mãe Aurelice teve 10 filhos. Mas foi com o irmão Antonio, o La-pinha, 47 anos, que aprendeu a pescar com rede de malha fina, e arrastão de praia. A pesca do polvo aprendeu mais tarde. Vai ao costão procurando vestígios de restos de alimentos que o molusco come, como pedaços de ouriços, ostras, conchas, para depois buscá-lo na toca. A amiga Olga Amorim, dona da Pousada Tocca do Veludo, gosta de preparar este prato típico de Corumbau, à moda da cidade, mas usando um pouco de sua criatividade.

É na banda Beijo Roman-tico, com mais quatro amigos, que Jumar esbanja seus talen-tos artísticos como vocalista. Tocam em Prado, Itamaraju, Caraíba e Trancoso. O estilo

No ano de 2000, quando de-cidiu largar a vida agitada de São Paulo, Olga Amorim chegou a Porto Seguro. Mas sua busca con-tinuou, e foi na beleza e quietude de Corumbau que a paulistana, decoradora de ambientes, decidiu montar sua pousada. O nome Toc-ca do Veludo refere-se a uma flor que parece um veludo vermelho, na época presente no jardim da pousada. Hoje a flor não está mais lá, mas há coqueiros, para servir água de coco fresquinha, cajuei-ros e temperos da terra, como o coentrão, para criar um cardápio bem baiano para os hóspedes. Seu forte mesmo é o café da manhã, com uma variedade de bolos com produtos da terra, e os sucos com frutas típicas baianas como caju, cajá, cupuaçu e mangaba, entre outros. Outra especialidade de Olga é o arroz com polvo, muito encontrado nos restaurantes da cidade, que a paulistana incrementou com ingredientes a seu gosto.

José Roberto dos Santos Cardoso, pescador artesanal da região

José Roberto, o pescador

Ari, do Sol e Vida

Jumar, cantor e pescadorOlga, a turista que fincou suas raízes em terras baianas

Arroz com polvo

Ari, a esposa Zélia e a afilhada Ana Mara

da música é forró e arrocha que anima o povo para dançar. Em Ponta do Corumbau, há um espaço aberto para a diversão da comunidade, criado com o apoio da Prefeitura Municipal de Prado, onde a banda alegra os moradores da cidade.

1 polvo de 1 kg5 xícaras (chá) de água3 xicaras (chá) de arroz

½ tomate picado½ cebola

1 dente de alho6 fatias de pimentão ama-relo e 6 fatias de pimentão

vermelho2 sachês de Sazon sabor

NordestePreparo:

Cozinhar polvo na água na panela de pressão, deixar por10 minutos depois que

apitar a panela de pressão. Escorrer polvo e cortar em rodelas pequenas. Reservar

água do polvo. Refogar cebola, alho, pimentão.

Acrescentar polvo, sazon e retificar o sal. Colocar

quatro xícaras da água do cozimento do polvo e duas xícaras de água comum.

Acrescentar o arroz e deixar até a água secar.

Olga colhe cajus em

seu quintal

Jumar gosta de pescar polvos

Lapinha ensinou o irmão Jumar a pescar