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U m dos principais pro- blemas que os bancá- rios da Caixa enfren- tam hoje em dia é o excesso de trabalho, causado, na maioria das vezes, pela falta de emprega- dos nas agências e departamen- tos do banco. Grande parte dos bancários é obrigada a trabalhar muito além da jornada de seis horas, transformando a hora- -extra, que deveria ser eventual, num hábito cotidiano. Para piorar a situação, o banco tem pressionado os gestores para que as horas-extras não aconte- çam. Com isso, muitos gerentes acabaram encontrando uma ma- neira ilegal para garantir que os bancários deem conta do traba- lho e, ao mesmo tempo, não fa- çam hora-extra: fraudar o ponto eletrônico. Segundo a presidenta do Sindi- cato, Jaqueline Mello, é comum na Caixa que os bancários batam o ponto registrando a sua saída, mas continuem trabalhando sem receber nada pelas horas-extras. “O Sindicato tem lutado há anos contra esta fraude na jornada de trabalho. Temos pressionado a Caixa, mas, acima de tudo, orien- tado os bancários para que não aceitem essa prática nefasta de trabalhar sem o devido registro do ponto”, explica. Jaqueline conta que, além de pressionar a Caixa, o Sindicato já acionou a Justiça do Trabalho e também denunciou o banco para a Superintendência Regio- nal do Trabalho (SRT) cobrando fiscalização. PENALIDADES A Caixa, porém, em vez de solucionar o problema do ponto eletrônico, acaba de empurrar a responsabilidade para os ban- cários. Recentemente, o banco publicou uma cartilha sobre a Jornada de Trabalho onde diz, com todas as letras, que o bancá- rio pode ser demitido se fraudar o ponto eletrônico. “O descumprimento das nor- mas relacionadas à jornadas pode acarretar na abertura de processo administrativo disciplinar, pena- lidade de advertência, suspensão ou rescisão de contrato”, diz o documento do banco. Para Jaqueline, a postura da Caixa é lamentável, pois o banco deveria contratar mais bancários para dar conta do trabalho, corrigir os problemas do ponto eletrônico e parar de pressionar os gestores com as metas de horas-extras. “Em vez disso, a direção joga a responsabilidade para o bancário, com ameças de demissão. Sabe- mos que muitos empregados frau- dam o ponto eletrônico pressiona- dos pelos próprios gestores”, diz. Jaqueline reafirma que a orien- tação do Sindicato é para que nenhum bancário trabalhe sem o devido registro do ponto. “E, se alguém se sentir pressionado pelo gestor, procure o Sindicato porque nós vamos cobrar a Caixa por essa contradição. Em hipó- tese alguma o empregado deve trabalhar de graça para o banco”, destaca Jaqueline, ressaltando que, segundo as leis trabalhistas, ninguém pode realizar mais de duas horas-extras por dia. ALMOÇO Muitos bancários também estão sendo pressionados pelos gestores a fazer uma ou duas horas de almoço para ficar mais tempo à disposição do banco. Essa prática também é ilegal e passível de penalidade, segundo a cartilha da Caixa. “A Consolidação das Leis Tra- balhistas determina que a jorna- da dos bancários é de seis horas de trabalho contínuas. Na Caixa, nosso acordo prevê um intervalo de alimentação de quinze minu- tos incluídos dentro da jornada. Portanto, o intervalo de uma ou duas horas para alimentação é ilegal, a não ser que o bancário vá realizar hora-extra neste dia”, diz Jaqueline. MAIO DE 2013 • SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS DE CRÉDITO NO ESTADO DE PERNAMBUCO WWW.BANCARIOSPE.ORG.BR CAIXA Caixa ameaça demitir bancários por irregularidade no ponto

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maio de 2013

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Um dos principais pro-blemas que os bancá-rios da Caixa enfren-

tam hoje em dia é o excesso de trabalho, causado, na maioria das vezes, pela falta de emprega-dos nas agências e departamen-tos do banco. Grande parte dos bancários é obrigada a trabalhar muito além da jornada de seis horas, transformando a hora--extra, que deveria ser eventual, num hábito cotidiano.

Para piorar a situação, o banco tem pressionado os gestores para que as horas-extras não aconte-çam. Com isso, muitos gerentes acabaram encontrando uma ma-neira ilegal para garantir que os bancários deem conta do traba-lho e, ao mesmo tempo, não fa-çam hora-extra: fraudar o ponto eletrônico.

Segundo a presidenta do Sindi-cato, Jaqueline Mello, é comum na Caixa que os bancários batam o ponto registrando a sua saída, mas continuem trabalhando sem receber nada pelas horas-extras. “O Sindicato tem lutado há anos contra esta fraude na jornada de trabalho. Temos pressionado a Caixa, mas, acima de tudo, orien-tado os bancários para que não aceitem essa prática nefasta de trabalhar sem o devido registro do ponto”, explica.

Jaqueline conta que, além de pressionar a Caixa, o Sindicato já acionou a Justiça do Trabalho

e também denunciou o banco para a Superintendência Regio-nal do Trabalho (SRT) cobrando fiscalização.

PenalidadesA Caixa, porém, em vez de

solucionar o problema do ponto eletrônico, acaba de empurrar a responsabilidade para os ban-cários. Recentemente, o banco publicou uma cartilha sobre a Jornada de Trabalho onde diz, com todas as letras, que o bancá-rio pode ser demitido se fraudar o ponto eletrônico.

“O descumprimento das nor-mas relacionadas à jornadas pode acarretar na abertura de processo administrativo disciplinar, pena-lidade de advertência, suspensão ou rescisão de contrato”, diz o documento do banco.

Para Jaqueline, a postura da Caixa é lamentável, pois o banco deveria contratar mais bancários para dar conta do trabalho, corrigir os problemas do ponto eletrônico e parar de pressionar os gestores com as metas de horas-extras. “Em vez disso, a direção joga a responsabilidade para o bancário,

com ameças de demissão. Sabe-mos que muitos empregados frau-dam o ponto eletrônico pressiona-dos pelos próprios gestores”, diz.

Jaqueline reafirma que a orien-tação do Sindicato é para que nenhum bancário trabalhe sem o devido registro do ponto. “E, se alguém se sentir pressionado pelo gestor, procure o Sindicato porque nós vamos cobrar a Caixa por essa contradição. Em hipó-tese alguma o empregado deve trabalhar de graça para o banco”, destaca Jaqueline, ressaltando que, segundo as leis trabalhistas, ninguém pode realizar mais de duas horas-extras por dia.

almoçoMuitos bancários também

estão sendo pressionados pelos gestores a fazer uma ou duas horas de almoço para ficar mais tempo à disposição do banco. Essa prática também é ilegal e passível de penalidade, segundo a cartilha da Caixa.

“A Consolidação das Leis Tra-balhistas determina que a jorna-da dos bancários é de seis horas de trabalho contínuas. Na Caixa, nosso acordo prevê um intervalo de alimentação de quinze minu-tos incluídos dentro da jornada. Portanto, o intervalo de uma ou duas horas para alimentação é ilegal, a não ser que o bancário vá realizar hora-extra neste dia”, diz Jaqueline.

MAIO DE 2013 • SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS DE CRÉDITO NO ESTADO DE PERNAMBUCO

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CaiXa

Caixa ameaça demitir bancários por irregularidade no ponto

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Inauguração de agências pequenas, com poucos em-pregados e muita demanda.

Pressão para cumprimento de metas comerciais em detrimen-to de operações de microcrédito ou programas sociais. Expul-são de clientes das agências. Estas são algumas facetas que revelam o abandono da função social da Caixa Econômica. “Escuto clientes reclamarem de como são repassados de uma agência a outra para consegui-rem ter acesso a um programa social. Escuto também funcio-nários que relatam como sofrem pressão quando gastam ‘tempo demais’ com uma operação de microcrédito”, diz a presidenta do Sindicato Jaqueline Mello.

As novas agências, recém inauguradas, são um retra-to deste abandono. “Eu saí da agência de Peixinhos deprimi-

da. Do lado de fora, debaixo de sol e chuva, pessoas idosas, gente de muleta e cadeira de ro-das esperavam horas para serem atendidos”, conta a secretária de Bancos Públicos, Daniella Almeida.

A agência de Peixinhos mere-ce um capítulo à parte: situada em um bairro bastante popu-loso, ela tem o mesmo tama-nho de uma lotérica. O local é tão pequeno que, ainda que se quisesse implantar os itens de segurança, não seria possível. Não há espaço para os biombos, por exemplo. Neste cenário, os empregados ficam expos-tos e vulneráveis. “Os clientes transferem para os bancários a responsabilidade pelo péssi-mo atendimento e ameaçam. Quando a agência fecha, ficam batendo nos vidros do lado de fora. O pessoal não está sequer

podendo sair para almoçar, com medo de ser agredido”, conta Daniella.

Estas ameaças, no entanto, não são exclusivas de Peixinhos. Em outras unidades, com uma estrutura um pouco melhor, a quantidade de empregados para atendimento é a mesma. Todas as novas agências têm, no má-ximo, oito bancários, incluin-do o gerente geral. “E como os trabalhadores também precisam tirar férias por exemplo, todas as agências que visitamos tinham ainda menos funcionários”, completa a secretária de Comu-nicação do Sindicato, Anabele Silva.

Geralmente, ficam apenas dois caixas e, quando um sai para almoçar, o outro fica sozi-nho. “O banco diz que faz parte do novo modelo: agências me-nores, com menos empregados.

Mas estas unidades estão sendo abertas em locais onde não há outra agência e a demanda é imensa”, questiona Jaqueline. É o caso de Ponte dos Carvalhos, Cavaleiro, Peixinhos, Pauda-lho, Ribeirão, Shopping Riomar e Avenida Norte.

Para a presidenta do Sindi-cato, este modelo evidencia o rumo que vem sendo tomado pela Caixa Econômica. “Algu-mas questões estruturais das novas agências até foram resol-vidos. Mas o banco é intransi-gente com relação à lotação de funcionários. E sem bancários para dar conta do trabalho e com metas comerciais a cumprir, os clientes mais simples são expul-sos das agências e os programas sociais são relegados a segundo plano. E isso acontece em todas as unidades, novas e antigas”, denuncia Jaqueline.

novas agências revelam o abandono da função social

Agência de Peixinhos é tão pequena que os clientes precisam esperar o atendimento do lado de fora

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Cláusula 56: Horas de es-tudo dentro da jornada. Cláusula 54: Descomis-

sionamento de funções gratifica-das. Cláusula 53: Acesso único à Rede de Computadores Caixa. Cláusula 52: Tesoureiro execu-tivo. Esses são alguns dos itens que constam no acordo aditivo de 2012 e permanecem sem so-lução. Passados sete meses, e às vésperas do início de nova Cam-panha Nacional, vários compro-missos assumidos pelo banco não saíram do papel.

É o caso da Universidade Cai-xa. No acordo aditivo, o banco garante que “os empregados de-verão dispor de seis horas men-sais para estudos na metodologia a distância - EAD, junto à Uni-versidade Caixa dentro da jor-

nada de trabalho, em local apro-priado na unidade”. No entanto, tudo o que a Caixa fez foi emitir uma CI – Comunicação Interna, informando sobre o tema. “Não foram asseguradas condições para que os trabalhadores pos-sam dispor desse tempo dentro da jornada. E o pior é que estes estudos são levados em conta como critérios de promoção”, critica a secretária de Comunica-ção do Sindicato, Anabele Silva.

O dia 31 de março consta no acordo como prazo final para dois problemas. Até esta data, o banco teria que apresentar estu-dos sobre descomissionamentos de funções gratificadas, com criação de critérios para isso. Limitou-se a informar que não haveria mudanças e que tudo

ficaria do jeito que está. Tam-bém até esta data, a Caixa deve-ria ter apresentado um plano de ação para resolver os problemas dos tesoureiros executivos. Não apresentou.

Os tesoureiros continuam res-pondendo sozinhos por sua fun-ção, sem substituto, sem poder sequer ficar doente e tendo de almoçar sob pressão.

Também os corredores de abastecimento, que deveriam estar construídos até o final do ano passado, não foram implan-tados. E o pior: novas unidades foram construídas sem estes corredores.

Para 31 de agosto, o compro-misso é de que o acesso à rede de computadores em estação única estivesse implantado em todas

as unidades do banco. “Mas, pelo andar da carruagem, tudo nos leva a crer que é mais um ponto que ficará pendente”, opi-na Anabele. E completa: “Uma nova pauta de reivindicações já está definida e muitos pontos que deveriam ter sido resolvidos tiveram que ser reincorporados nessa nova Campanha. Vamos precisar de uma mobilização forte dos bancários para garantir o cumprimento das pendências e avançar mais alguns passos”.

A pauta de reivindicações 2013 foi definida durante o 29º Conecef - Congresso Nacional dos Empregados da Caixa, re-alizado nos dias 17, 18 e 19 de maio, em São Paulo. Para saber mais, acesse: www.bancariospe.org.br.

Compromissos de 2012ainda não foram cumpridos

Os tesoureiros continuamabastecendo os caixas eletrônicos na

frente do público, sem a segurança dos corredores, como acontece no

PAB Justiça de Jaboatão

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Fale Com os sindiCalistas

da CaiXa

Secretário-Geral: Fabiano FélixComunicação: Anabele SilvaFinanças: Suzineide RodriguesAdministração: Epaminondas FrançaAssuntos Jurídicos: Justiniano JuniorBancos Privados: Geraldo TimesBancos Públicos: Daniella Almeida

Cultura, Esportes e Lazer: Adeílton FilhoSaúde do Trabalhador: Wellington Trindade

Secretária da Mulher: Sandra TrajanoFormação: João Rufino

Ramo Financeiro: Flávio CoelhoIntersindical: Renato Tenório

Aposentados: Luiz Freitas

Redação: Av. Manoel Borba, 564, Boa Vista, RecifeTelefone: 3316-4233 / 3316.4221.

E-mail: [email protected]: www.bancariospe.org.br

Jornalista responsável: Fábio Jammal Makhoul. Conselho editorial: Jaqueline Mello, Anabele Silva,

Geraldo Times e João Rufino.textos: Fabiana Coelho e Fábio Jammal Makhoul.

diagramação: Bruno Lombardi. Fotos: Beto Oliveira e Ivaldo Bezerra. impressão: NGE.

tiragem: 3.000 exemplares

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Diretoria ExecutivaPresidenta: Jaqueline Mello

ElvisAlexandre

EdsonPereira

José Ricardo Berenguer

Daniella Almeida

Anabele Silva

Justiniano Junior

Jaqueline Mello

Terezinha Santiago

UlaFranco

Ricardo Escobar

José Ricardo Santiago

emPReGados da CaiXaGRitam PoR soCoRRo

Se as agências recém inauguradas da Caixa já estão com problemas,

as unidades antigas sofrem ainda mais com a falta de em-pregados e a superlotação de clientes.

Em Limoeiro, por exemplo, o excesso de trabalho é tão grande que os vigilantes são obrigados a fazer uma triagem de clientes e a organizar as fi-las, num desvio de função que, além de ilegal, fragiliza a segu-rança da unidade.

“A área interna da agência de Limoeiro tem um espaço físi-co muito reduzido. Os clientes ficam aglomerados e, muitas vezes, não têm nem como se locomover dentro da unidade”, diz o secretário de Assuntos Ju-

rídicos do Sindicato, Justiniano Júnior.

No Recife, o banco tem obri-gado o cliente a esperar do lado de fora da agência para evitar sucessivas multas por conta do descumprimento da Lei das Fi-las. A senha é entregue, somen-te, quando se torna possível ga-rantir o atendimento no tempo regulamentar: 15 minutos em dias normais e 20 minutos nos dias que antecedem e seguem os fins de semanas e feriados.

“Isso é fraude. Ao invés de contratar mais bancários para atender adequadamente a po-pulação, o banco parte para criar alternativas bizarras. Nas visitas que temos feito às agên-cias, todos os empregados têm pedido socorro para a gente.

Até os estagiários são obriga-dos a fazer trabalho que não é deles por conta da falta de ban-cários e das matas abusivas”, afirma Justiniano.

luCRo X emPReGoA Caixa publicou no último

dia 9 de maio seu balanço do primeiro trimestre do ano, com lucro líquido de R$ 1,3 bilhão, 12,5% a mais que os ganhos do mesmo período do ano passa-do. O balanço aponta que o nú-mero de postos de trabalho au-mentou, mas o crescimento do emprego não se deu na mesma proporção que a evolução de outros indicadores. O número de contas correntes, por exem-plo, cresceu 18% enquanto o de empregados cresceu 9%.

Em Limoeiro, é difícil até andar dentro da agência

3316 4233