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Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 14, vol.21(2): 191-215 (2010) Diálogos intermitentes: Notas sobre antropologia e ética Luís Fernando Cardoso e Cardoso 1 Resumo As discussões em torno da ética nas pesquisas antropológicas sur- gem a partir da década de 80, momento no qual se observam com mais rigor as consequências das relações entre o pesquisador e os sujeitos investigados, seja na pesquisa de campo ou na divulgação dos resultados do empreendimento intelectual. Mas, no Brasil, é após a Constituição Federal de 1988 que as implicações éticas do trabalho antropológico tornam-se mais contundentes, já que os conhecimentos teóricos e metodológicos dos profissionais da área passam a serem requeridos pelo poder judicial na construção de laudos periciais antropológicos, para auxiliarem decisões judiciais que envolvem direitos socioterritoriais de grupos quilombolas, indíge- nas etc. Este artigo vincula as discussões sobre Ética na Antropo- logia e na Filosofia e mostra as implicações das investigações dos antropólogos na construção dos laudos periciais e contralaudos. Palavras-chave: antropologia, filosofia, ética, laudo e contra- laudo. 1 Doutor em antropologia social pela PPGAS/UFSC. Bolsista ProDoc/CAPES, liga- do ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Universidade Federal do Pará, Campus Universitário do Guamá, Rua Augusto Correia, n. 01, 66.075-110 Belém-PA. E-mail: [email protected] .

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Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2): 191-215 (2010) Dilogos intermitentes: Notas sobre antropologia e tica Lus Fernando Cardoso e Cardoso1 Resumo As discusses em torno da tica nas pesquisas antropolgicas sur-gem a partir da dcada de 80, momento no qual se observam com mais rigor as consequncias das relaes entreo pesquisador e os sujeitos investigados, seja na pesquisa de campo ou na divulgao dosresultadosdoempreendimentointelectual.Mas,noBrasil, apsaConstituio Federalde1988queasimplicaesticas do trabalhoantropolgicotornam-semaiscontundentes,jqueos conhecimentos tericos e metodolgicos dos profissionais da rea passamaseremrequeridospelopoderjudicialnaconstruode laudospericiaisantropolgicos,paraauxiliaremdecisesjudiciaisque envolvemdireitossocioterritoriais de grupos quilombolas, indge-nas etc. Este artigo vincula as discusses sobre tica na Antropo-logia e na Filosofia e mostraas implicaes das investigaes dos antroplogos na construo dos laudos periciais e contralaudos. Palavras-chave:antropologia,filosofia,tica,laudoecontra-laudo. 1Doutor em antropologia social pela PPGAS/UFSC. Bolsista ProDoc/CAPES, liga-do ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Sociais, da Universidade Federal do Par,CampusUniversitriodoGuam,RuaAugustoCorreia,n.01,66.075-110 Belm-PA. E-mail: [email protected]. Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 192 Abstract Discussions on ethics on anthropological research appeared since 1980s; currently, the consequences of the relationship between re-searchers and studied actors are observed more rigidly not only in the fieldwork,but also inthepublicationsof researchresults.In Brazil,afterthepromulgationofthe1988FederalConstitution, ethicalimplicationsofanthropologicalresearchhavebeenmuch more evident; due to theoretical and methodological knowledge of anthropologistsarerequiredbylegalauthoritiestoelaborate anthropologicalreportinordertohelplegaldecisioninvolved socialandterritorialrightsofAfrican-slavedescendentand Indians.Thispaper,therefore,discussesethicsonAnthropology andPhilosophyanddemonstratestheimplicationsofanthropo-logical research in the elaboration expert report and contra-expert report. Keywords:anthropology,philosophy,ethics,expertreportand contra-expert report. INTRODUO2 Osdebatessobretica,hoje,integramnovasreasdeconheci-mentocientfico,passandodaFilosofiascincias,pararesponders questes inerentes a cada disciplina. Esta transio necessria no se efe-tiva apenas no discurso, mas prima para que os vrios cientistas, das mais diferentesreasdeconhecimento,introduzam-nosemsuasaescon-cretas.Issolevaaquetaisdebatesassumamcontornosparticularesnas reas em que uma postura tica requerida. Osdebatassobreticanascinciashumanas,paraDiniz(2008), iniciamnosEstadosUnidosdaAmrica,nadcadade1980,nummo-mentoemquepassaaexistirumaefervescnciadaspesquisasurbanas 2 Opresentetextofoiapresentadocomopartedaqualificaoaodoutoradoem Antropologia do PPGAS/UFSC, em 2005. Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 193 com grupos usurios de drogas, traficantes, presos, adolescentes etc. No Brasil, a tica em pesquisas das Cincias Humanas um campo ainda em construoesobintensasdisputas(Diniz2008:418).NaAntropologia h,consequentemente,solicitaodeumaposturaticaqueenvolva todasasetapasdaproduodeconhecimentoetnogrfico.AABA Associao Brasileira de Antropologia tem promovido muitos debates sobreotemaemuitascontribuiestmfeitonovaconfiguraoda Antropologia desde o incio do sculo3. A tica, portanto, paraalgunsantroplogos, se revela no rigor da produodacinciaantropolgicaenocompromissocomosgrupos, aosquaissevinculamemsuaprticaprofissionalcotidiana,estandoele em seu gabinete ou em pesquisa de campo. Entender a vinculao entre ticaecompromissosocialdosantroplogosapretensodestetra-balho.Eleestorganizadoemduaspartes:aprimeiraprocuramostrar, brevemente,osurgimentododebateacercadaticacomocampode conhecimentofilosficoe,porconseguinte,suaimbricaocoma Antropologia;asegundadiscuteocompromissoticodoantroplogo com as populaes nas quais ele pesquisa. Finalmente, enfatiza-se a pro-duodoslaudospericiaisantropolgicoseoscontralaudoscomoo campo em que a tica das pesquisas antropolgicas precisa ser discutida, peloimpactoquetaisdocumentostmnavidadaspopulaesinvesti-gadas. Dilogos: filosofia e antropologia Com Aristteles, segundo Rosa e Muyaert (2004:91-103), a tica alcanaumcarterdesaberautnomoepassaaocuparumlugarpre-ponderantenatradioculturalefilosficadoOcidente,tornando-se parte especfica de suas discusses. A histria do pensamento tico fun-dadoporPlatonolheatribuaestatutoautnomodesaber.Era,sim-plesmente, um captulo da ontologia das ideias. Mesmo no perodo ante-rior a Plato, o tema da tica foi debatido por diversos pensadores pr- 3 OlivroAntropologiaetica:odebatenoBrasil,frutodeumciclodedebates,organi-zadonagestodoProfessorRubenG.Oliver,nobinio2000-2002,espelhaa preocupao dos antroplogos com a tica em seus campos de atuao. Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 194 socrticos,aindaquenootenhasidodeformaexplcita.Nopresente, estecampodedebatefilosfico,observaWittgenstein(1965),sepre-ocupasobreoquevalioso,sobreoquerealmenteimporta,ouainda, sobre o significado da vida, ou daquilo que faz que ela merea ser vivida, ou sobre a maneira correta de viver. A palavra tica, no seu sentido primeiro ethos , significa morada do homem. Para Sidekum (2002:21), propriamente ethos significa o logos, olugarinternoesagradodohomem,suaatitudeinterior,seucarter moral,aformadevidaquevaidesenvolvendoerealizando.Essacon-cepodetica,ligadaatitudedosujeito,ressaltaapersonalidade moraladquiridapormeiodosatosehbitos.Assim,cadasujeitocon-stri e cria seu ethos, age segundo esse ethos, que so, portanto, resultado e fontedaatividademoral.Ethosmododeproceder,ofundamentoda prxis do homem em sua histria concreta (id. ibid.). Atica,comodisciplinafilosfica,mostra-sepreocupadaemres-ponder por que e como julgar se uma ao moralmente errada ou cor-reta,equecritriosdevemorientaressejulgamento.Vriasrespostas atendem a tal preocupao, cada uma delas marcada por maneiras distin-tas de compreender o mundo. Todavia, possvel notar que a ao dita correta seria aquela que maximiza a felicidade de todos e est de acordo comregrasdeterminadasou,ainda,quepodejustificaraosoutrosde formarazovelsuasatitudes(Borgesetal.2002).tica,nestesentido, pode ser definida como um conjunto de regras facultativas desde as quais seavaliaoquesefazeoquesedizemvirtudedomododeexistncia que isso implica (Deleuze 2004). Adiscussosobreticaest,portanto,namatrizdopensamento filosficoocidentaldesdeospr-socrticos.NaAntropologia,cincia surgida h menos de dois sculos, no percurso da descoberta do homem comoobjetodeinvestigaocientfica,bemcomonaformulaode uma nova episteme pela cincia iniciada no sculo XVII (Foucault 2002), o debate acerca da tica se mostra recente, e marca uma nova perspectiva dos antroplogos em relao s sociedades. De fato, isso ocorre quando essescientistaspassamapensarnasimplicaesticasdeseutrabalho, nasconsequnciasdesuasrelaescomosinformantesnapesquisade campoe,emparticular,nasuaprticacomoatorsocialimportante quantobuscademinimizaodosprocessosdeexclusosocial, Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 195 expropriaoemarginalizaodosdireitoseinteressesdaspopulaes investigadas. Essa nova atitude aponta para um avano na matriz terica e meto-dolgicadadisciplina.ComoafirmaFigueiredo(2004),aAntropologia estsuperandosuafasedeinocncia.Entretanto,esseaspectonem semprefoievidenteno passado.NosEstadosUnidos,porexemplo,na dcadade1920,eraquasetabudiscutiraatitudeticadoantroplogo. FranzBoas,conedaantropologiaamericanacriadordaantropologia culturalnaquelepas,foidestitudodocargodeconselheirodaAme-ricanAnthropologicalAssociationaodenunciar,pormeiodeumacartaao jornalTheNation,em16dedezembrode1919,ogovernodosEstados Unidos,quemantinhaantroplogoscomoespiesnaAmricaCentral. Nesse episdio, a Instituio manifestava, pela repreenso, certa carncia no que diz respeito ao compromisso dos antroplogos americanos com as populaes investigadas, assim quanto ao uso dos referenciais tericos emetodolgicosenquantoinstrumentosdedominaoporpartedo Estado, fato que resultaria na acusao da Antropologia por um conside-rvel tempo. No Brasil, por sua vez, h apenas duas dcadas, aproximadamente, os antroplogos passam a debater intensamente os problemas referentes ticaemsuasfronteirasdisciplinares.Congressos,seminrioseeven-tosdediversostiposforampromovidospelaAssociaoBrasileirade Antropologia nas dcadas de 80 e 90, culminando com a formulao de um cdigo de tica da Associao. O ento presidente da ABA indicaria essetemacomoprioridadeparaobinio2000-2002,tornando-seevi-dente a preocupao acentuada dos antroplogos com a questo. Na d-cada de 60, tal preocupao no se estendia para alm de normas passa-das por meio dos costumes e, deacordo com Laraia (1988:90), resumia-seatrsprincpiosbsicos:a)oantroplogonopodeseenvolver sexualmente com seus informantes; b) o antroplogo deve respeitar seus informantes e defender seus interesses, agindo como um mediador entre eles e a sociedade nacional; c) o antroplogo tem um compromisso com a verdade cientfica. Hoje, essas normas integram um cdigo escrito que assinala definitivamentea preocupao com aatitude dos pesquisadores em diversos momentos, inclusive no que se refere relao entre eles e os sujeitos com os quais interagem na pesquisa (ABA:198). Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 196 Aantropologiabrasileira,sobessaperspectiva,podeserpensada historicamente.Peirano(1992)lembra,quantodcadade60,omo-mentoemqueseconstatariaacrisedaAntropologia;adcadade70 seria vista como a redefinio do mtier dos antroplogos. Aps a dcada de 80, a prpria Antropologia seria colocada em questo; ou seja, ques-tiona-sesuavalidadetantoquantosualegitimidadecomoformade conhecimento(Peirano1992:35-6).Surgiu,ento,aAntropologiaPs-Moderna ou Antropologia Experimental, como possibilidade de redefinir caminhos para um realismo etnogrfico4 acentuado (Marcus & Cushman 1999:175-7).Issosignificaria,porconseguinte,verapesquisadecampo comoumatarefaexperimentaletica.OtvioVelho(1993)observou que a Antropologia Ps-Moderna seria til aos antroplogos ao fornecer novas possibilidades do fazer etnogrfico. Efetivamente,asetapasdasatividadesdepesquisaseriam,ento, observadas segundo uma solicitao de atitude tica e no apenas pelas implicaesquantoconfiguraodocartercientficodapesquisa antropolgica,marcadasporumarelaoprximaentreossujeitos centrais envolvidos na produo do conhecimento. Alm disso, buscava-seaconstruodeumhabitus,comodiriaBourdieu,ouacompreenso de que o convvio intelectual voltado para a produo de conhecimento pressupesempreumacordoentrepares,oquesignificaenvolveruma tica,indicandocomissoestaraelasubmetida,oucondicionada,a prpria episteme (Cardoso de Oliveira 1996:15). Essecarterticoqueenvolveapesquisaantropolgicasugere uma conscincia que circunscreve o comportamento do pesquisador, le-vando-o a observar as consequncias de seu trabalho em nveis variados, domaiselementarcomoaescolhadotemadepesquisa,oreferencial terico,aatitudediantedoinformantenotrabalhodecampoato maisabrangenteaconfiguraodocampoantropolgicobrasileiro,a especificidadedesuaparticipaonumacomunidadeacadmica,oseu 4 O projeto experimental da Antropologia Ps-Moderna elabora uma crtica aguda ao realismo etnogrfico, por ele ter um modo de escrituraetnogrfica que busca repre-sentar a realidade de todo um mundo, ou de uma forma de vida,ainda [...] aludir a uma totalidade por meio de partes do foco de ateno analtica, que constantemente evocam uma totalidade social e cultural. [...] A sensao de criar todo um mundo a caracterstica mais bsica da escrita etnogrfica realista (Marcus & Cushman 1998: 175-7). Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 197 envolvimento como sujeito poltico, ao qual no se pode furtar, atuando, por vezes, como mediador de conflitos e demandas da populao ou do grupo junto ao qual desenvolve pesquisa, no dilogo com o Estado. Isso significa, para o pesquisador, que no basta divulgar os resultados, como seossujeitospesquisadosnadalhedevessem,eelenadadevesseaeles; como se o compromisso do antroplogo se encerrasse na divulgao dos resultadosdesuaempreitadaintelectualou,conformesugereGeertz (2001),comoseoscientistassociaisnodessemconselhos,apenas apontassem a raiz do problema. Nomundocontemporneo,cadadiamaiscomplexo,questes locaiseglobaisseimbricamdeformaintensa;aotrabalhodoantro-plogo deixou de ser apenas mais uma viso sobre o mundo, mais uma interpretaodarealidade,parasetransformarnumavisocientifica-mente vlida, com poder de intervir significativamente no mundo social. NaspalavrasdeBourdieu(2001:36-45),oantroplogoatua[...]como intelectualcoletivopodendodesempenhar seupapelinsubstituvel,con-tribuindo para criar condies sociais de uma produo coletiva de uto-piasrealistas.Talatuaoculminaemnovosdesafios,exigindoqueo temadaticanaatividadeantropolgicasejaurgentementediscutido (Victoraetal.2004),sobretudonoBrasil,cujaconfiguraodocampo intelectual assume um aspecto particular. Oantroplogobrasileironoapenasumcientistaquepromove certoafastamentodesuasociedadenabuscadeconheceroutrosmun-dos,outrasformasdeconstruirasrelaessociais.Ele,particular-mente, um cientista (etnlogo) orgnico, um cidado envolvido nas ques-tesdesuasociedade(CardosodeOliveira2004;Peirano2001).Por-tanto, a compreenso mais contundente da participao do antroplogo como sujeito poltico leva, inevitavelmente, a uma discusso do conceito de tica. E assim, contesta-se, mais uma vez, a validade da cincia posi-tivista que considera a neutralidade cientfica, que pensa o cientista como observador distante dos processos analisados e por ele mesmo vivencia-dos. A compreenso de um conhecimento antropolgico orgnico, mili-tante, cidado, ou de um intelectual coletivo fazem brotar questes novas no debate acadmico; de forma alguma, porm, o carter de uma poltica [...] de interveno no mundo poltico anula as regras em vigor no campo cientfico (Bourdieu 2001). Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 198 InteressantenotarqueadiscussodaticanaAntropologiasub-linha a vinculao entre esta disciplina e a Filosofia, o que se evidencia na prpriatica,presumidamenteassumidapelamaioriadosantroplogos eidentificadacorrenteutilitarista(Tugendhat1996:334-362).Nesse caso, o princpio o de que a melhor ao se constitui como aquela pos-sveldemaximizarafelicidadedaspartesenvolvidas.Numapequena passagem, John Stuart Mill demonstra esse princpio, afirmando: a con-vicoqueaceitaautilidadeouoprincpiodamaiorfelicidadecomoo fundamento da moral admite que as aes so corretas na proporo em quepromovemafelicidade,eerradasnamedidaemqueproduzemo contrrio da felicidade (Mill apud Borges et al. 2003:33). Ora, os antro-plogosnuncadeixaramdeestabelecerdilogocomaFilosofia.Ela, pois,tomadacomofontecaudalosadeinspiraoparaoscientistasso-ciais. matriz de muitas anlises antropolgicas, haja vista o fato de que osprpriosfilsofosseatribuemafunodecriadoresdeconceitos, como Deleuze (2004), ao declarar que a Filosofia, mais rigorosamente, a disciplina que consiste em criar conceitos. Todavia, oportuno enfa-tizar que a proposta de afastamento da forma de investigao mais cls-sica da Antropologia um aspecto criticado por alguns, embora se reco-nheasuacontribuioparaodesenvolvimentotericodadisciplina. Efetiva-seumamaiorligaoentreFilosofiaeAntropologiaou,ao menos,percebe-semaisestreitarelaoentreasduas,emergindo,no percurso, a discusso sobre a tica. precisamente a, como lembra Car-dosodeOliveira(2003:99),queaAntropologiaatualmentepassaain-corporarumcertoolharfilosfico,exprimindonosumestranha-mentocomooutro,mastambmconsigomesmo.Dessavinculao surgenoapenasodebate,asexperinciasdetrabalhodecampotam-bm se constituem matria-prima para a reflexo sobre a tica. Crapanzano (1991:62), por exemplo, no artigo Dilogo5, ressalta que sua anliseacerca do assunto devedora da perspectiva dofilsofo ale- 5 ExistehojeumacorrentederivadadaAntropologiaInterpretativa,deClifford Geertz,queestconstruindoumdebateimportante,nosemcrticas,acercada autoridade etnogrfica do antroplogo, da construo do texto etnogrfico, do di-logo na Antropologia, da Antropologia como crtica cultural. Autores desse debate soVincentCrapanzano,GeorgeMarcus,KevinDwyer,JamesClifford,Michael Fischer, entre outros. Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 199 mo Hans-Georg Gadamer. Este filsofo apreenderia a formao do di-logo em trs nveis: o primeiro deles entende (...) a natureza humana, o que tpico e possvel no comportamento do outro; o segundo entende (...) o outro enquanto pessoa, mas a o entendimento ainda uma forma deauto-referncia.Esseaspectoseriacompatvelcomaconstruodo conhecimento antropolgico. Completando esses nveis, (...) por fim, o terceiro modo imediato, aberto e autntico. Crapanzano observa ainda que o filsofo alemo estabeleceu a diferena entre ter uma conversa e engendrar uma conversa; ou seja, no primeiro caso s obtemos dados que podem ser arrumados num quadro. No segundo, temos a compreen-so;ofatocriativo;ofatofrtil;ofatoquesugereegera.Sobtalper-spectiva, o autor elabora sua compreenso dos nveis tratados por Gada-mer,analisandoPeterCook, homembrancosul-africanoexemploex-trado do seu livro Waiting: the whites of South African , para indicar as im-plicaes dos diferentes nveis na construo etnogrfica. De fato, o livro levanta questes polmicas quanto tica6 na pesquisa de campo, espe-cialmenteporqueCrapanzanofazpesquisanafricadoSul,nocom pessoasdominadaspelosistemadeapartheidcomousualmenteacon-tece na Antropologia , mas com os dominadores, pessoas por quem o autor no nutre qualquer simpatia. Parece que o livro tem sua fora, fun-damentalmente, na introduo, no primeiro e segundo captulos, em que se apresentam a situao da pesquisa, a proposta terica e a insero do antroplogo na pesquisa e no campo. Em certo sentido, exprime os seus sentimentos diante do campo de pesquisa, a frica do Sul, no como ob-servadorneutro,antes,moralepoliticamenteinsultado;nopormeio delegislaodainferioridadehumana,mas(...)cheiodehorrorpelas histrias de proscrio arbitrria, deteno e aprisionamento, tortura, sui-cdio forado e homicdio, da expropriao violenta, degradao e racha dasfamlias,quesofamiliaresaqualquerpessoaquelerosjornais. Nesse sentido, lembra a experincia de certa claustrofobia moral em seu tempo de permanncia na frica do Sul. Tentei colocar entre parnteses meuultraje,minhapretensocnicaeminhatristezaparaseromais 6 No artigo O encontro etnogrfico e o dilogo terico, Peirano (1992) mostra as implicaes tica e terica do trabalho de Crapanzano na frica do Sul. Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 200 objetivo possvel (...). Aprendi que possvel ter alguma simpatia mesmo porpessoascujosvaloresachamosrepreensveis.Estive,eaindaestou, confuso com isso (Crapanzano 1985:23-5). Odebatefilosficomostra-seigualmenteevidentenostrabalhos de Roberto Cardoso de Oliveira (2004, 2000, 1996), quando ele discute a tica na Antropologia, como uma tica discursiva. Outros autores en-volvidosnessadiscusso(Victoraetal.2004)mantmofundamento filosfico subsumido numa compreenso mais geral do pensamento oci-dental, em sua socializao no espao universitrio, na matriz dos autores escolhidoscomorefernciaparapesquisaetc.Efetivamente,noh comodesvincularacompreensodemundodoscientistassociaissem estabelecerumnexocomopensamentofilosficoocidental.Noen-tanto, em Cardoso de Oliveira, as referncias so explcitas, mais diretas, marcam o debate do antroplogo com os filsofos e ultrapassam, muitas vezes,osprprioslimitesdaAntropologia.OfilsofoRouanet(1990) observa que os trabalhos de Cardoso de Oliveira propem essa discusso partindo da perspectiva da tica discursiva de Habermas e Apel, esclare-cendo,(...)demodooriginalepioneiro,inmerosaspectosdarelao entre tica e Antropologia. Por outro lado, possvel que a vinculao do antroplogo Filosofia venha de sua formao disciplinar e da com-preensodequeexisteumaprofundacriseticaemtodaasociedade contempornea.Istosignificafalardeumacrise(...)devaloresede perspectivasexistenciaisedosentidoltimodavidaparaosujeitohu-manocomoindivduoemsiecomosujeitoinseridonasolidodavida em sociedade (Sidekum 2002:169). Finalmente,estabelecerrelaoentreAntropologiaeFilosofia,e entreestaseodebatetico,parecetarefaqueimplicaaretomadados sistemas de pensamento filosfico e antropolgico, algo impraticvel nos limites desta reflexo. Pretendo to somente assinalar essa vinculao. A Antropologia, hoje, pergunta por sua relao com o informante notrabalhodecampo,comaconstruodotextoetnogrfico,como seuposicionamentoemrelaoaosprocessosmaisgeraisdasociedade moderna. Talvez se possa ver a o reflexo e o produto de um novo olhar sobre o mundo. Nessa perspectiva, tomar como referncia Roberto Car-dosodeOliveiraeVicentCrapanzano,adespeitodascrticasque,por ventura, se dirijam sua opo, significa t-los como exemplos de que as teoriasfilosficascontribuem,defato,paraadensaropensamentodos Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 201 antroplogos,sejaemcentrosintelectuais,comonosEstadosUnidos, seja na periferia, em pases como o Brasil. Um debate: tica e laudos antropolgicos AcontribuiodaAntropologiaPs-ModernaouExperimental para os antroplogos acentua, dentre outras, a discusso acerca da autori-dade etnogrfica, da reivindicao de uma antropologia dialgica, da cul-turacomoumtexto.Algunsantroplogosbrasileiros,contudo,ainda veem tal debate de maneira exacerbadamente crtica, deixando de refletir, muitasvezes,sobreaspossibilidadesplausveisdeconquistadesse campodedilogos,comosequisessemdefenderumaformacannica, nica, do fazer antropolgico: eliminando um vrus que o estivesse infec-tandoelevandoadefinharasverdadesdaantropologia.Essebarulho dosps-modernos(TrajanoFilho1988)colocaemquestonosa relao do antroplogo com o texto etnogrfico; leva, igualmente, a dis-cutirarelaoentreaqueleeoinformantealgopormuitotempo escondido nos dirios de campo ou omitido deles. Tais aspectos provo-caram bastante barulho com a publicao do texto maldito, o dirio de campo de Malinowski. Geertz (2002:85) prefere ver nisso um ganho, no sentidodeavaliaromitodo pesquisadorcomoumsemicamaleo,que seadaptaperfeitamenteaoambienteexticoqueorodeia,ummilagre ambulante de empatia, tato, pacincia e cosmopolitismo. Outro aspecto interessante, quanto aos ganhos que acredito permi-tirem maneiras outras de perceber a pesquisa antropolgica, diz respeito diretamente ao tratamento dado questo tica, tendo em conta que esta , sobretudo, uma discusso poltica (Bastos 1998). Na imbricao entre Polticaetica,arrisca-seadelimitaraconstituiodeumcampopol-tico de atuao, mais efetivo desde a Antropologia, para alm do campo tradicionalmente a ela designado7, tendo em vista os inmeros processos 7 A pesquisa junto a povos indgenas foi consolidada no Brasil com os estudos dos contatos intertnicos, constituindo, talvez, a contribuio mais original da Antropo-logia feita no pas; no campesinato, a preocupao com o contato, tendo includo as fronteiras de expanso, tornou legtimos, na antropologia, os temas relacionados comocolonialismointerno,queporsuavezabriuespaoparaesteimportante tema (Peirano 2000:227-8). Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 202 complexosemqueosantroplogosseveemenvolvidosatualmente resultantes, por exemplo, de mudanas na configurao da sociedade, em decorrncia de questes internas e externas, impondo novas inquietaes a serem pensadas e investigadas. Hoje os antroplogos se veem debrua-dossobrequestesligadasaosterritriosindgenas,quilombolas;pes-quisa com soropositivos; violncias em vrios nveis e envolvendo sujei-tos diversos; prticas de uso de alucingenos, de forma ritual ou no etc. Ora, so diversas as situaes s quais os antroplogos se vinculam para produzirconhecimentocientficoeatenderdemandasdeordemacad-mica e da sociedade abrangente, caracterizando a Antropologia brasileira como particularmente comprometida com as questes de sua poca (Pei-rano 1992, 2000). Assim, ela assume tarefa decisiva em muitas situaes. No que no o tenha assumido antes, mas, atualmente, acentua-se a sua atribuiocrucialemquestesreferentesaossujeitospesquisadoseaos grupos com os quais aqueles se encontram ligados ideologicamente pelas subreas de atuao. Assim, a tica na Antropologia significa no apenas um conjunto de normas a serem seguidas por quem deseja ser reconhe-cidocomoantroplogonaassociaoprofissional.Ocompromissoso-cial consequente tica da responsabilidade (Weber 1967) e tica utili-tarista(Tugendhat1997)pareceserumpontorelevanteparapensara tica entre antroplogos. Outropontoaseconsiderarapreocupaorelativaticanos dias atuais, isto , o nmero crescente de antroplogos. No Brasil, como emoutrospases,taisprofissionaisocupamdiversoscargoseminstitui-es,comoONGs,empresasprivadas(depesquisaouno),fundaes nacionaiseinternacionais,almdasatividadesjconsagradas8,comoas de professor e pesquisador em universidades e instituies governamen-tais.Onmerocrescentedeantroplogosculminacomapossibilidade de que profissionais solidamente formados se vinculem acadmica e poli-ticamentescausasdeminoriassociaisou,pelocontrrio,contribuam parafrearconquistassociaisimportantesparacertosgrupos,causando maior excluso social. Importante notar que a proliferao dos cursos de ps-graduaoemAntropologia,nasdcadasde60e70, exigiuum 8 Slvio Coelho dos Santos (2004) mostra que, ao longo dos anos, o nmero de antro-plogosnoBrasilcresceu;nasdcadasde50-60,participavamdaABA20a30 scios, hoje so mais de 1000. Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 203 conjunto de preceitos ticos, para alm de uma transmisso apenas oral, quepudessemediararelaodoantroplogocomosinformantes,a comunidade cientfica e comunidades com as quais mantm vnculo por sua atuao profissional. Para os antroplogos, a tica implica, cada vez mais, certa atitude nosomenteprofissional,mas,particularmente,poltica,juntoaosgru-poscomquetrabalham.Elesdevem,pois,dissiparpossveissuspeitas quantotomadadeposio9emdocumentospericiaiseno-periciais, construindo-os solidamente, resguardando informaes importantes para as comunidades pesquisadas e respeitando suas demandas. Existem per-ciasantropolgicas,hoje,emprocessosjudiciaiseadministrativosde titulao de terras indgenas, quilombolas, comunidades tradicionais em conflito, projetos governamentais e empresariais de instalao de hidrel-tricas,empresasdeminerao,parquesnacionais,empresasagropecu-rias e agrcolas. Muitas vezes, conta-se com o compromisso tico e cien-tfico dos antroplogos. Os laudos antropolgicos periciais surgem numa conjuntura de redemocratizao, cujo evento mais destacado a promul-gaodanovaCartaConstitucionalde1988,resultadodeumamplo debatenacional,implicandoaconsultaemobilizaodasociedadecvel (Oliveira 2002:254-5). No debate acerca da produo de laudos antropo-lgicos,aticapareceocuparumlugar de destaque, pois os laudos so peasimportantesemprocessosjudiciaisouadministrativos.Seguindo Anjos (2004), acredito que os laudos nosedefinemcomomerasperciastcnicascoadjuvantesdos procedimentosadministrativosejudiciais.Trata-sedeumainter-venoacadmicajuntoaarenasjurdico-administrativasapartir de perspectiva pragmtica, que relativiza os discursos institudos e 9 Tomar posio num campo poltico no implica falsear, distorcer ou omitir da an-lise etnogrfica fatos importantes que podem colaborar para a clareza do processo. Umavinculaopolticaresponsveldeveser tomadanosentidodo compromisso comaverdadedosfatos,seissopossvel,ecomaAntropologia.AracyLopes (1998:60)sublinhaqueaconstruodeumlaudoantropolgicoimplica,emcerto sentido, assumir uma condio de militante em favor dos direitos e das condies de vida dos grupos com os quais convive e com os quais assume um compromisso poltico,quelevamaatitudeetomadasdeposiocomgrausdiversosdeengaja-mento e explicitao. Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 204 aprofunda substancialmenteas perspectivas nativas em jogo, bus-cando, em uma etnografia densa dos grupos em questo, recursos, argumentos que possam contribuir para a mudana no estado das lutassociais, umaredefiniodos problemas [...]emfavordessas vozes menos audveis. H certos dilemas desnecessrios, muitas vezes, vividos por profis-sionaisqueproduzem laudos,no sentidodesuspeitardoconhecimento antropolgico neles existente (Lopes 1998). Afinal, na maioria dos casos, os laudos esto de acordo com as rigorosas ferramentas terico-metodo-lgicas da Antropologia. Oliveira (2000:58) observa que, a rigor, quando oantroplogointervmemprocessosjudiciaiseadministrativos,isso no pode (...) ser associado a alguma modalidade de antropologia apli-cadanemconsideradocomoumsabercristalizado,massimcomoo exercciodeumacompetnciatcnico-cientficoemmeioaumcom-plexojogodepressesenegociaes.Almdisso,contribuemparao desenvolvimento de um espao democrtico quantoao reconhecimento dosdireitosdosgruposexpropriadosdesdeoinciodahistriadoBra-sil10. Nas palavras de ODwyer (2002:20):

participao intensa de antroplogos na luta pelo reconhecimento dedireitostnicoseterritoriaisdesegmentosimportanteseex-pressivos da sociedade brasileira (...) rompe com o papel tradicio-nal desempenhado pelos grandes nomes do campo intelectual, que garantem, com sua autoridade, o apoio s reivindicaes da socie-dade, subcritando, como pedicionrios, manifestos polticos e do-cumentos polticos. Ao contrrio, os antroplogos brasileiros, que tmdesempenhadopapelnoreconhecimentodegrupostnicos diferenciados e nos direitos territoriais de populaes camponesas, ao assumir responsabilidade social como pesquisadores que detm umsaberlocalsobreospovoseosgruposqueestudam,fazem de sua autoridade experiencial um instrumento de reconhecimento pblico de direitos constitucionais. 10 No se quer defender com isso que as populaes indgena, quilombola ou tradicio-nal tenham, de forma geral, sempre razo; antes, pela configurao do campo agr-rionopas,oqueseevidenciaumgrupofortedepressodosquepossuemo capital, para que essa populao seja expropriada de seu territrio. Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 205 Noobstante,ressaltaODwyerumaprticacomumentrealguns antroplogosque,deformaalguma,fazpartedacompreensogeral: nemtodoscomungamdocompromissocomsujeitosexpropriadospor empresas e/ou fazendeiros. Muitos laudos de antroplogos com vincula-o a certas minorias11 mostram a pertinncia dos direitos destas, no por militncia e compromisso ideolgico, mas pelo uso do instrumental te-ricoemetodolgicodequesevalemparaanalisardeterminadogrupo. Existe a possibilidade do contralaudo12, documento requerido igualmente comopeaemprocessoconflituosopelapropriedadedaterra,cujo contratovemdapartequeseachalesadaemseudireito.Nessecaso, outro antroplogo constri um segundo documento que, no geral, inva-lidaoanterior.Considerocuriosoquedoisdocumentosbaseados,a priori,emrealidadesconcretas,quasenomesmotempohistrico,che-guem a posies diametralmente opostas. Leite (2004:70) enfatiza que os contralaudossopolmicosesepergunta:(...)poderoantroplogo aceitar fazer um contralaudo para beneficiar um fazendeiro ou uma em-presaouatogoverno,ficando,portanto,nafronteiraopostados interessesdascomunidades?Aautoraentendequeocdigodetica em vigor desaprova esta postura. SlvioCoelhodosSantos(2004)nosemostraavessoaocontra-laudo;afinal,importanteterapossibilidadedeoutrospontosdevista acerca de uma mesma realidade social. Com isso ele parece compreender serem as realidades sociais presentes nos laudos: constructos, interpreta-esdosocial.Ouseja,nohneutralidadenasnarrativasetnogrficas; elassoprodutosdaobservaoapreceitosmetodolgicos,queemsi compreendemposturasticas,balizadoresdarelaocomosinforman-tes e com os pares do campo acadmico. A no observncia a estes ele-mentos situa alguns antroplogos fora da comunidadeou os torna here-ges. 11 O conceito de minoria e maioria no distingue os grupos por nmero. Para Deleuze (2004:214), o que define a maioria um modelo ao qual preciso estar conforme, aopassoqueaminorianotemmodelo,umdevir,umprocesso.Quandouma minoria cria para si um modelo, porque quer se tornar majoritria e, sem dvida, isso imprescindvel para a sua sobrevivncia ou salvao. 12 Leite(2004)lembraquereprovvel,segundoocdigodeticavigente,queum antroplogo construa um laudo para favorecer uma empresa ou fazendeiro. Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 206 Santos(2004)observa,porm,haverumatendnciadacomuni-dadedeantroplogosemrecriminarquemfazcontralaudocomose,a priori,estefossefavorecerempresa,fazendeiroouagnciaqualquer.Ele indica a necessidade de o contralaudo estar centrado em dados empricos e numa boa etnografia.Na prtica, isso nem sempre se realiza.De fato, seacomunidadedeantroplogos,comoafirmaoautor,condenaesse procedimento,noofazgratuitamente,porsimplesleviandade.Algo devejustificaracautela.Numcontextodemocrtico,impossvelima-ginaranegaododireitodereunirprovasquevenhamafavorecer algum em qualquer processo judicial. Entretanto, isso no significa que certos profissionais possam contribuir com provas13 que favoream em-presasoufazendeiros,quandotaissujeitostmintencionalidade,no mnimo,suspeitaacercadalegitimidadedesuasolicitao,pelasin-meras prticas de expropriao conhecidas no pas. Ao aceitar uma pes-quisa nesses termos, os antroplogos so levados, em certo momento, a seperguntarsobreagenuinidadedosquereivindicamocontralaudo. Quaisseusreaisinteresses?Qualalegitimidadedesuasolicitao?Que grupoestoconfrontandoedequeestratgiadepodereconmicoe poltico se valem para acessar o direito? Antroplogo no advogado. O cliente nem sempre tem razo14. Tem-se que atuar como perito eusara ferramentaterico-metodolgicadaAntropologiaparaevidenciarcomo ouniversosocialemanliseseconstri,independentementedaagncia financiadora.Nessaperspectiva,Geertz(2001)refere-seaopensamento como um ato moral, afirmando: (...) depois de Dewey, ficou muito mais difcilencararopensamentocomoumaabstraodoagir,ateorizao comoumaalternativaaocompromissoeavidaintelectualcomoum monacatosecular,isentoderesponsabilidadeporsersensvelaobem. 13 Na Carta de Ponta das Canas, nota-se a dificuldade nos dilogos entre o campo jur-dicoeoantropolgico,emdecorrnciadosquadrosconceituais,profissionaise ideolgicosquegeramdualidadesentreproduzirjulgamentosouproduzirinteli-gibilidade; produzir verdades ou produzir interpretaes. 14 Roque Laraia (1998) lembra, com bastante perspiccia, que muitos antroplogosse recusam,quandosolicitadospeloMinistrioPblicoFederalououtrorgodo judicirio, a construir laudos para ambas as partes implicadas na ao, mas sem con-testao o fazem a favor dos ndios. Ele observa tambm que, um dia, esse dilema seria rompido e estariam os antroplogos fazendo laudos para as duas partes. Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 207 Assim, pensar, investigar e tecer estudos sobre qualquer realidade levaa implicaes srias que, em nenhuma hiptese, pode se resumir simples finalizaodeumrelatriooriundodapesquisadecampo,comoseos sujeitosinvestigadosnoestivessemigualmenteimplicadosnopro-cesso.Daanecessidadedosresultadosdapesquisaseremdensamente construdos e discutidos. Um exemplo para ilustrar as questes referentes a laudos e contra-laudos15 o da Comunidade de Porto Cors, em Minas Gerais, que pas-sou por esse processo em 1997. J se passaram 11 anos, mas os efeitos e asconsequnciasdasituaoaindapermanecemparaacomunidade.O fato se deu, inicialmente, pela mobilizao da comunidade na tentativa de frearaconstruodabarragemdaUsinaHidreltricadeIrap,noRio Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, implementada pela Companhia Energtica de Minas Gerais CEMIG. A obra atingiria toda a terra desta e de mais 46 outras comunidades, em sete municpios da regio. Um laudo foi solicitado pela Fundao Cultural Palmares, depois de umaaudinciapblicarealizadaemAcau,municpioLemedoPrado/ MG, em 22 de junho de 1997. Ocontralaudo foi contratado pela Diviso de Meio Ambiente da CEMIG em perodo posterior. Os laudos tinham porobjetivomostraravalidadeounodaaodacomunidade,aore-correraoartigo68daConstituioFederal,paraoseureconhecimento comoremanescentesdequilomboseconsequentenegociaodasua permanncia no local. Prescreve o referido artigo: (...) aos remanescen-tes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras reconhecidaapropriedadedefinitiva,devendooEstadoemitir-lheos ttulos. Quantoaosdoislaudos,aanliseantropolgicaapontaparauma estrutura parecida. Tratam da histria da comunidade, surgida com Ger-manoAlvesCoelho,edasrelaesdeparentescodos12filhosedos descendentesdeles.Incluemosconflitosinternoscomunidadecoma chegada de Balsrio Guedes da Silva, que teria transformado em proprie-dadeprivadaoqueanteseraterradeusocomum;eaindadadescen-dncianegradosmoradoresesuasrelaesdeparentesco.Contudo, embora os temas sejam os mesmos, a forma de trat-los diferente. Por 15 Nosefarrefernciaaosautoresdoslaudos,massomenteaostermoslaudoe contralaudo. Ambos constam da bibliografia. Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 208 um lado, o laudo toma os temas com maior autoridade, como se estivesse no local falando com as pessoas, e obtendo informaes mais precisas, inclusive,citandotrechosdeentrevistas,comoseestivesseautorizadoa alcanar,compropriedade,aimagempresenteeapassadaacercada comunidade de Porto Cors. Porsuavez,ocontralaudoapresentaemsuaanliseummaiordis-tanciamentodacomunidade,usandorelatosdefazendeirosdaregio, pessoasqueconhecemosmoradoresesuahistria,comerciantesque mantiveram relaes com o grupo no passado etc. Em certos momentos, chega-seacitarafaladealgunsmoradores,masaabordagemnitida-mente afastada das questes internas comunidade. Tais elementos evi-denciamaincapacidadedopesquisadoremestabelecerrelaessociais quelevemaconsecuodesuapesquisa.Issoaponta,portanto,paraa impossibilidadedeumaaplicaoplenadosmtodosantropolgicos. Estes, como observa Minayo (2008), so uma das maiores contribuies da Antropologia para discusses sobre tica nas cincias humanas. Aimpossibilidadedeaplicaodomtodoparaaconstruoda pesquisa , em certo sentido, o indcio da falta de tica do pesquisador, j que no consegue aproximar-se dos sujeitos investigados. Mas, mesmo diantedisso,ocontralaudoincapazdemostrarumelementocomums duas pesquisas: PortoCorsapresentaremanescnciadequilombosanteriores prpriaexistnciadacomunidadeedequilomboscontempor-neos. Ver Porto Cors ver uma comunidade rural delimitada geo-grfica,histricaesimbolicamente.verumacomunidadede afro-descendentesquecarregamumabagagemdelembranas histricasprpriasdasculturasancestraisafricanas.Falam-nos dissoassuasformasdeexpresso,seusmodosdecriar,fazere viver, ou,suaorigemcomum,asrelaesafetivas, sociais, econ-micas e polticas que so ali estabelecidas, as relaes de parentes, as memrias dos lugares.Tudoissonosfala deumatradioque subsiste muito viva em Porto Cors. (Contralaudo 1997:84) Efetivamente, no obstante o fato de que os dois documentos for-mulamquestesemsentidosprximos,eleschegamaconclusesradi-calmentediferentes.Olaudo(1997:29)conclui,evidenciandodeforma maisquesuficiente:(...)PortoCorsumacomunidadequesefor-Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 209 mouapartirdeescravosfugidos,[...]quealiseestabelecerameaatual comunidade negra rural de Porto Cors remanescente desse quilombo. Em contrapartida, o contralaudo, ainda que com base nas mesmas evidn-cias e que, pela anlise lgica da pesquisa, chegaria ao mesmo resultado , mostra um desfecho precisamente contrrio, inesperado. Parece que, a exemplodoslivrosdetramasbemarmadas,concluicomalgoimpre-visto,eoparecersedemfavordaCEMIG:(...)apesardetodasas condies favorveis para a criao de quilombos na vasta regio que cir-cundaacomunidadedePortoCors,estanoseenquadranacondio de remanescente de quilombos. Nesse sentido, o contralaudo vai ainda mais longe, aceitando a in-evitabilidade da transferncia da comunidade, porque ela no seria rema-nescente de quilombo; sugere finalmente que, se a construo da Usina deIrapforinevitvel,atransfernciadacomunidadedeverlevarem conta todos os impactos que esta possa acarretar. Ora, como aponta o caso,ocontralaudo,contratadoporsujeitos queestariaminteressadosem reproduzir seu capital econmico, permite pressupor uma atitude identi-ficada com a categoria de atos irrefletidos desde uma perspectiva hist-rica mais ampla. A questo seria, portanto: o que motiva um profissional da Antropologia que, pelo menos no Brasil, guarda certa relao histrica comdeterminadosgruposminoritrios,comobemrelevaDurham (1986)aomostrarqueaAntropologiasempredemonstrouespecial interesse pelas minorias despossudas e dominadas de todos os tipos, em detrimento do estudo dos grupos ou classes politicamente dominantes e atuantes,arealizarumapesquisacontrriaaseusinteresses?Pergunta fundamental,quedizrespeitoprpriaproduodoconhecimento antropolgicoeque,mesmoocontralaudodePortoCors,subentende quando foca a coleta de dados em torno da comunidade. Como poss-vel ao antroplogo, que elabora um documento contratado por empresa oufazendeiro,recolherosdadosdasuapesquisa,separaissoteria inevitavelmentequeentraremcontatocomosinformantes?Trabalha pelas bordas? Isso o suficiente? oportuno lembrar que a maior parte daspesquisasemCinciasSociaisenvolvecontatosdiretos,ntimose perturbadores(Geertz2001);almdisso,namaioriadassituaes,(...) osinformantestmumavisorelativamenteclaradasfinalidadesdo trabalho do antroplogo, sabendo que o que disserem poder ser usado Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 210 nacontendajudicial(...)fortalecendooureduzindoaschancesdesu-cesso de demandas. (Oliveira 2000:266). Asindagaesformuladasacimasuscitamoutrasquestes.Uma delascorrespondeaoprprioconceitodeverdade,implcitonacom-preensodaAntropologiacomocinciaquediscorrecomautoridade sobre omundosocial.Oslaudosantropolgicos,porseuturno,sore-queridosnumprocessojudicialouadministrativocomoexpressoda realidade das populaes, de seu territrio e de sua histria16. Por outro lado,oscontralaudosassumemigualmenteostatusdeverdade,com basenapesquisaetnogrficaenaautoridadedoprofissionalqueoela-bora.Ento,queverdadeprevalecerianoveredictofinaldomagistrado, se a verdade na antropologia uma criao consensual e no uma des-coberta. Isto muito importante do ponto de vista tico, jurdico e cien-tfico. (Kant de Lima 2004:75). Da que o problema percebido no con-tralaudosereferesuadificuldadedegerarumdocumentoemtermos consensuaisparaaAntropologia,hajavistaosobstculosparaoacesso aogrupoaserpesquisado.Enfim,acreditoqueaquestopoderiaser respondida de forma satisfatria, partindo de pesquisas junto aos proces-sos que contam com laudos e contralaudos. Como assevera Leite (2004: 66), lembrando sua experincia no dilogo com o campo jurdico, (...) o fato de oantroplogo colocar disposio o seu saber (...) paraauxiliar osoperadoresjurdicos(...)nosignificaproduzirjulgamentossobreos processos conflitivos, cujas decises cabem ao campo jurdico. Consideraes Finais AAntropologiaproduzidaatualmenteprovocaquestesbastante instigantesdeserempensadaserespondidas.Poroutrolado,atica emergecomodebateimprescindvelsfronteirasdadisciplina.Hoje necessrioreveraatitudedoantroplogofrenteaosinformantes,aos grupos com os quais trabalha, divulgao das informaes colhidas e conjuntura poltica, para a qual no pode fechar os olhos. O trabalho do 16 NaCartadePontadasCanas,osautoresdescrevemasdificuldadesderelaciona-mento entre os campos jurdico e antropolgico, pela alteridade conceitual, profis-sional e ideolgica. Dilogos intermitentes: notas sobre antropologia e tica 211 profissional no se encerra com a apresentao de uma tese, dissertao, artigo ou relatrio; vai alm, constitui comportamento tico. Entretanto, no se trata de compreenso geral, at porque no existe uma Antropo-logia,masexistemvrias,assimcomoosoossujeitosqueasengen-dram. Os dilemas, que se manifestam a alguns antroplogos, so os mes-mosparatodososprofissionaisquandoaperguntaatquepontose deveounoparticipardodebatepoltico,socialeculturalcontempo-rneoarespeitodosdireitosdas populaesexcludas.Nessesentido, importanteentenderqueparticiparintensamentedodebatepolticoem favor de certos grupos no implica, de forma alguma, a compreenso de que o antroplogo seja porta-voz dos grupos, de seus anseios e de suas reivindicaes. Comefeito,umaparceladosantroplogospareceassumiratica daresponsabilidade(Weber1967:113-114),partindoderelaescons-trudas desde a pesquisa de campo, do estar l, da vinculao profissional, mas, igualmente, doestar aqui, dos enfrentamentos colocados a cada um noquedizrespeitoaosdireitosdaspopulaesaquesevincula.Isso exige certa clareza acerca das aes dos pesquisadores que, se no forem realizadassegundoumareflexominuciosadassuaspossveisimplica-es,poderlevarindivduos,gruposouatcomunidadesinteirasa sofreremconstrangimentosdesnecessrios.Talvezsejaparticularmente adequado,comolembraGeertz(2001),fazerumaavaliaodapesquisa social,enquantocondutamoral,edassuasconsequnciasparaascin-ciassociais.Nesseaspecto,oslaudosantropolgicos,nopresentemo-mentodaHistriadoBrasil,nosecolocamcomomerapeajudicial; antes,correspondemaumdospoucosmomentosprivilegiadosemque osantroplogospodem,defato,exercerumaprtica,ecujotrabalho podeinterferirdeformadiretanaconfiguraopolticaqueenvolveos direitosdaspopulaes.Executartaltarefacomresponsabilidade,rigor cientfico e conscincia tica seria o mnimo esperado de um profissional que carrega consigo a chamada tica vocacional (Geertz 2001). Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 212 Bibliografia ANJOS,J. C.G.; SILVA,S.B.2004.SoMiguel eRincodosMartinianos.Porto Alegre: Ed. UFGRS.BASTOS, R. J. de M. 1998. Antropologia como crtica cultural e como crtica a esta: doismomentosextremos deexerccioda ticaantropolgica(entre ndios e ilhus). In LEITE, I. B. (Org.). tica e esttica na Antropologia. Flo-rianpolis: PPGAS-UFSC, CNPq. BORGES,M.L.;DALLAGNOL,D.;DUTRA,D.V.2002.tica.Riode Janeiro: DP&A. BOURDIEU,Pierre.2001.Contrafogos2:porummovimentosocialeuropeu.Riode Janeiro: Jorge Zahar. CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. 2000. Etnicidade, eticidade e globaliza-o.In__________:Otrabalhodoantroplogo,pp.169-88.Braslia:Para-lelo 15; So Paulo: UNESP. __________.Omal-estardaticanaantropologiaprtica.InVCTORA, Ceres;OLIVEN,RubenGeorge;MACIEL,MariaEunice;ORO,Ari Pedro (org.): Antropologia e tica:o debate atualno Brasil, pp. 21-32. Niteri: Editora UFF. __________&CARDOSODEOLIVEIRA,L.R.1996.Ensaiosantropolgicos sobre tica e moral. 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Recebido em novembro de 2008 Aprovado para publicao em fevereiro de 2009 Revista ANTHROPOLGICAS, ano 14, vol.21(2), 2010 216