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Departamento de Química DETERMINAÇÃO DE ÁCIDOS ORGÂNICOS EM AMOSTRAS DE ÁGUA CONATA POR ELETROFORESE CAPILAR Aluno: Lívya Castelo Branco Orientador: Tatiana D.Saint’Pierre Introdução O principal resíduo ligado à atividade de extração do petróleo é a água associada ao óleo produzido, seja aquela pré-existente, conhecida como água conata ou aquela introduzida no processo de extração. A água conata pode conter alta salinidade e presença de metais pesados em percentuais variados. Isto a torna um poluente de difícil descarte, agravando-se pela grande quantidade produzida. O controle da acidez do meio também é importante para evitar a corrosão dos tubos durante a extração de petróleo. A eletroforese capilar é uma técnica que possui alta eficiência de separação, pois possibilita separar espécies neutras, positivas ou negativas em uma única análise, tornando-se um método alternativo em relação a outros, como a cromatografia iônica. A cromatografia de troca iônica melhora a separação, porém as colunas são caras e, no caso de amostras salinas, podem ocorrer problemas devido à interferência da alta concentração de cloreto de sódio e perda de sensibilidade causada, principalmente, pela sobrecarga da coluna. Neste trabalho, a eletroforese capilar foi utilizada como técnica analítica para determinação indireta no UV de sete ácidos orgânicos (oxálico, fórmico, málico, succínico, acético, láctico e propanóico). Materiais e Métodos Experimentais A. Reagentes, materiais, soluções As soluções aquosas foram preparadas utilizando-se água ultra pura (resistividade menor que 18 MΩ cm -1 a 25 °C) obtidas através de um sistema de purificação de água Milli-Q (Millipore, Bedford, EUA). As soluções padrão de acetato, oxalato, formiato e propionato foram da marca Fluka (Alemanha). Os padrões de malato, succinato e lactato compõem uma mistura para teste da Agilent Technologies (Waldbronn, Alemanha), assim como, a solução tampão para ácidos orgânicos pH 5,6 a 20 °C e absorção UV (200 a 800 nm). Soluções tampão de ftalato foram preparadas a partir de hidrogeno ftalato de potássio (C 8 H 5 KO 4 ) e de ácido ftálico (C 6 H 4 (COOH) 2 ), ambos da Merck (Darmstadt, Alemanha). O ajuste do pH no valor desejado foi com a solução de hidróxido de sódio 0,1 ou 1,0 mol L -1 , da Agilent Technologies. O inversor do FEO utilizado CTAB foi da Aldrich (Alemanha). Todas as soluções utilizadas em eletroforese foram previamente passadas por filtros de membrana de porosidade 0,45 μm da marca Sartorius (Alemanha). Os capilares utilizados para a separação eletroforética tinham 75 μm de d.i., sendo

DETERMINAÇÃO DE ÁCIDOS ORGÂNICOS EM AMOSTRAS DE ÁGUA CONATA POR ELETROFORESE CAPILAR · 2012. 9. 5. · A eletroforese capilar é uma técnica que possui alta eficiência de

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Departamento de Química

DETERMINAÇÃO DE ÁCIDOS ORGÂNICOS EM AMOSTRAS DE

ÁGUA CONATA POR ELETROFORESE CAPILAR

Aluno: Lívya Castelo Branco

Orientador: Tatiana D.Saint’Pierre

Introdução

O principal resíduo ligado à atividade de extração do petróleo é a água associada ao

óleo produzido, seja aquela pré-existente, conhecida como água conata ou aquela introduzida

no processo de extração. A água conata pode conter alta salinidade e presença de metais

pesados em percentuais variados. Isto a torna um poluente de difícil descarte, agravando-se

pela grande quantidade produzida. O controle da acidez do meio também é importante para

evitar a corrosão dos tubos durante a extração de petróleo.

A eletroforese capilar é uma técnica que possui alta eficiência de separação, pois possibilita

separar espécies neutras, positivas ou negativas em uma única análise, tornando-se um

método alternativo em relação a outros, como a cromatografia iônica. A cromatografia de

troca iônica melhora a separação, porém as colunas são caras e, no caso de amostras salinas,

podem ocorrer problemas devido à interferência da alta concentração de cloreto de sódio e

perda de sensibilidade causada, principalmente, pela sobrecarga da coluna. Neste trabalho, a

eletroforese capilar foi utilizada como técnica analítica para determinação indireta no UV de

sete ácidos orgânicos (oxálico, fórmico, málico, succínico, acético, láctico e propanóico).

Materiais e Métodos Experimentais

A. Reagentes, materiais, soluções

As soluções aquosas foram preparadas utilizando-se água ultra pura (resistividade

menor que 18 MΩ cm-1

a 25 °C) obtidas através de um sistema de purificação de água Milli-Q

(Millipore, Bedford, EUA).

As soluções padrão de acetato, oxalato, formiato e propionato foram da marca Fluka

(Alemanha). Os padrões de malato, succinato e lactato compõem uma mistura para teste da

Agilent Technologies (Waldbronn, Alemanha), assim como, a solução tampão para ácidos

orgânicos pH 5,6 a 20 °C e absorção UV (200 a 800 nm).

Soluções tampão de ftalato foram preparadas a partir de hidrogeno ftalato de potássio

(C8H5KO4) e de ácido ftálico (C6H4(COOH)2), ambos da Merck (Darmstadt, Alemanha). O

ajuste do pH no valor desejado foi com a solução de hidróxido de sódio 0,1 ou 1,0 mol L-1

, da

Agilent Technologies. O inversor do FEO utilizado CTAB foi da Aldrich (Alemanha).

Todas as soluções utilizadas em eletroforese foram previamente passadas por filtros de

membrana de porosidade 0,45 μm da marca Sartorius (Alemanha).

Os capilares utilizados para a separação eletroforética tinham 75 µm de d.i., sendo

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fabricados pela Agilent Technologies. O corte do capilar no tamanho ideal, a remoção do

revestimento de poliamida para abrir a janela de detecção e as extremidades do capilar que

ficam em contato com as soluções do eletrólito de corrida que fecham o circuito do sistema

foram realizados no laboratório. As soluções foram colocadas em Vials de polipropileno (1

mL) para serem analisadas por CZE. Os pipetadores de volume fixo e de volume ajustável

utilizados no preparo das soluções foram da Kacil (Pernambuco, Brasil).

Limpeza do Material

A limpeza dos Vials foi feita da seguinte forma: (i) lavagem com água corrente; (ii)

imersão em solução de Extran 10% v/v por um período mínimo de 24 h; (iii) lavagem com

água destilada; (iv) imersão em solução aquosa de ácido nítrico 10% v/v, também por um

período mínimo de 24 h; (v) lavagem com água destilada e posteriormente com água ultra

pura e (vi) secos e mantidos em recipiente fechado.

Preparação das Amostras

Antes das análises, as amostras de água conata foram diluídas com água Milli-Q, no

mínimo, na proporção 1:5, filtradas no filtro de membrana de porosidade 0,45 μm e

degaseificadas em banho de ultrassom.

B. Determinação por Eletroforese Capilar

Os experimentos foram realizados em um sistema para eletroforese capilar modelo

HP-CE 3D da Agilent Technologies, equipado com detector UV-Vis (Figura 1).

Figura 1. Equipamento para eletroforese capilar

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Este equipamento possui um detector espectrofotométrico do tipo de arranjo de diodos

que opera na faixa de 190 a 600 nm, um carrossel com 48 posições para posicionamento dos

Vials de vidro ou de polipropileno, controlador de temperatura, um sistema automático de

injeção de amostra e um programa de aquisição e tratamento de dados desenvolvido pela

Agilent Technologies.

As análises foram conduzidas no capilar de sílica fundida de 60 cm de comprimento total e 75

µm de d.i., e que foi adaptado em um cassete (Figura 2). A detecção foi diretamente no

capilar, onde a janela óptica foi feita.

Figura 2. Cassete e capilar para detecção UV

Equipamentos auxiliares

As pesagens foram realizadas em uma balança analítica da marca Toledo modelo

AR2140 (São Bernardo do Campo, Brasil). Todas as soluções, antes de serem levadas ao

equipamento de CE, eram degaseificadas em banho de ultrassom modelo T50 (Thornton, São

Paulo, Brasil). As medições de pH foram realizadas em um pHmetro Metrohn, com eletrodo

de membrana de vidro e que era calibrado com soluções-tampão de pH 4,00 e 7,00; ambas da

marca Fluka (Alemanha).

Metodologia

O condicionamento dos capilares era realizado previamente às injeções das soluções

dos analitos, garantindo assim boas condições de operação, pois como os capilares são feitos

de sílica fundida, existem nas paredes grupos silanóis que são ionizados, dependendo da

solução utilizada no condicionamento. Quando o capilar era utilizado pela primeira vez, era

necessário realizar o condicionamento da seguinte forma:

Passagem de solução 1,0 mol L-1

de NaOH por 10 minutos;

Passagem de água Milli-Q por 10 minutos;

Passagem do tampão de separação por 20 minutos.

Entre as corridas, era realizada a passagem do tampão de separação por 4 minutos. No fim de

cada dia de trabalho, o capilar foi limpo com a passagem de água Mili-Q durante 5 minutos.

Capilar

Janela Óptica

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Todas as soluções utilizadas em eletroforese foram previamente passadas por filtros de

membrana de porosidade 0,45 μm e degaseificadas em banho de ultrassom.

A avaliação do desempenho da técnica de eletroforese capilar na separação dos ânions

dos ácidos orgânicos foi iniciada com a análise de uma solução contendo os padrões (oxalato,

formiato, malato, succinato, acetato, lactato e propionato), utilizando como eletrólito o

tampão da Agilent com pH 5,6. As condições operacionais foram estabelecidas a partir do

manual Agilent. A concentração dos ânions presentes foi de 10 mg L-1

, exceto o propionato,

cuja concentração foi de 20 mg L-1

, pois o pico é de difícil visualização, devido a menor

sensibilidade desse ânion nessas condições. A Figura 3 apresenta o eletroferograma de

separação dos ânions em questão. Verifica-se uma boa separação entre eles, porém a

resolução entre os picos do acetato e lactato não foi totalmente satisfatória (picos “e” e “f”). A

linha base está estável e os formatos dos picos estão bons, podendo ser visualizados como

picos positivos, apesar da detecção indireta no UV

Figura 3. Eletroferograma de uma solução contendo os padrões de ânions orgânicos .

(a) Oxalato, (b) Formiato, (c) Malato, (d) Succinato, (e) Acetato, (f) Lactato e (g) Propionato.

Na CE, a escolha do tampão de separação é extremamente importante para que se consiga

uma boa resolução entre os picos. Desta forma, após avaliar o desempenho da técnica, foi

realizado um estudo com um tampão alternativo, o ftalato, preparado no laboratório. Para isto,

min4 4.25 4.5 4.75 5 5.25 5.5 5.75 6 6.25

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DAD1 A, Sig=350,20 Ref=200,10 (180411000010.D)

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Tempo de migração (min)

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foi realizada a otimização dos diversos parâmetros que influenciam o processo eletroforético.

Foram estudados os efeitos da concentração e pH do eletrólito de separação, da concentração

do tensoativo CTAB e da voltagem.

Otimização da concentração do tampão de separação

O eletrólito escolhido foi o ftalato devido à natureza ácida dos analitos. Com pKa2 =

5,4, o ácido ftálico está adequado para ser utilizado em uma região de 3,4 a 7,4 (pKa2 ± 2),

pois o ideal é que o eletrólito tenha uma boa capacidade tamponante durante a corrida. Porém,

antes da otimização, foi realizado um estudo para conhecer a melhor opção de trabalho: (I) 15

mmol L-1

ácido ftálico; (II) 15 mmol L-1

ácido ftálico + 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de

potássio ou (III) 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio. Em todas as corridas a

concentração dos ácidos orgânicos foi mantida em 20 mg L-1

, a concentração do tensoativo

CTAB, como modificador do FEO, em 1,0 mmol L-1

, o pH fixado em 5,6 e o capilar de sílica

fundida utilizado com 60 cm de comprimento total e 75 µm de d.i. A Figura 4 apresenta os

eletroferogramas característicos obtidos neste estudo.

Observa-se, na Figura 4, que na condição I, os perfis de pico do acetato (e) e do

propionato (g) não ficaram bem definidos, dificultando sua integração. Verifica-se que a

melhor separação entre os sete ânions é na condição II. Na condição III, não há uma boa

separação entre os ânions acetato (e) e lactato (f), além disso, não é possível visualizar o pico

referente ao propionato (g). Desta forma, escolheu-se realizar as separações utilizando-se a

solução composta por ácido ftálico e hidrogenoftalato de potássio.

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Figura 4. Eletroferogramas da separação dos ânions dos ácidos orgânicos. Tensoativo 1,0

mmol L-1

CTAB e pH 5,6. I = 50 mbar/5 s, V = - 10 kV, T = 25 °C e detecção indireta com λ

= 350/20 nm e λref. = 230/20 nm. Variação da composição do eletrólito (I) 15 mmol L-1

ácido

ftálico, (II) 15 mmol L-1

ácido ftálico + 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio e (III)15

mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio. Picos: (a) Oxalato, (b) Formiato, (c) Malato, (d)

Succinato, (e) Acetato, (f) Lactato e (g) Propionato.

Verificada que a melhor condição para a separação é a utilização de ácido ftálico e

hidrogenoftalato de potássio, foi realizado um estudo para avaliar a influência da

min9 10 11 12 13 14 15

mAU

200

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DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (210911000002.D)

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min10 11 12 13 14 15 16 17

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DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (210911000004.D)

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concentração do tampão de separação. Fixando o pH do tampão em 5,6 e a concentração do

tensoativo CTAB em 1,0 mmol L-1

, variou-se a concentração da solução tampão dentro de

uma faixa de 5 a 20 mmol L-1

. A Figura 5 mostra os eletroferogramas obtidos. De acordo com

os resultados, escolheu-se a concentração de 15 mmol L-1

ácido ftálico + 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio (condição III) para a solução tampão, pois apresentou uma boa

resolução dos picos dos sete ânions.

Figura 5. Eletroferogramas da separação dos ânions dos ácidos orgânicos. Tensoativo 1,0

mmol L-1

CTAB e pH 5,6. I = 50 mbar/5 s, V = - 10 kV, T = 25 °C e detecção indireta com λ

= 350/20 nm e λref. = 230/20 nm. Variação da concentração do ácido ftálico e hidrogenoftalato

de potássio. (I) 5 mmol L-1

, (II) 10 mmol L-1

, (III) 15 mmol L-1

e (IV) 20 mmol L-1

. Picos:

(a) Oxalato, (b) Formiato, (c) Malato, (d) Succinato, (e) Acetato, (f) Lactato e (g) Propionato.

min10 10.5 11 11.5 12 12.5 13 13.5 14 14.5

mAU

40

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Departamento de Química

Otimização da concentração do tensoativo CTAB

Fixando o pH da solução tampão em 5,6 e a concentração em 15 mmol L-1 ácido ftálico + 15

mmol L-1 hidrogenoftalato de potássio, variou-se a concentração do tensoativo CTAB em uma faixa

de 0,2 a 1,0 mmol L-1. Os resultados são apresentados na Figura 6, onde se observa que a

concentração de 0,2 mmol L-1 (condição I) para o tensoativo CTAB já permite uma boa separação dos

sete picos. Desta forma, escolheu-se esta concentração, pois em qualquer método analítico, o ideal é

consumir o mínimo de reagente que garanta uma boa análise.

Figura 6. Eletroferogramas da separação dos ânions dos ácidos orgânicos. Tampão: 15

mmol L-1

ácido ftálico + 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio, pH 5,6. I = 50 mbar/5 s,

V = - 10 kV, T = 25 °C e detecção indireta com λ = 350/20 nm e λref. = 230/20 nm.

Variação da concentração do tensoativo CTAB (I) 0,2 mmol L-1

, (II) 0,5 mmol L-1

, (III) 0,8

mmol L-1

e (IV) 1,0 mmol L-1

. Picos: (a) Oxalato, (b) Formiato, (c) Malato, (d) Succinato, (e)

Acetato, (f) Lactato e (g) Propionato.

min10 11 12 13 14 15 16 17

mAU

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min10 11 12 13 14 15 16 17

mAU

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DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (270911000004.D)

10.2

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Tempo de migração (min)

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Otimização do pH do tampão de separação

Dentre os parâmetros de otimização, o mais importante é o pH do tampão de

separação, pois dependendo do seu valor, as espécies podem estar presentes em solução como

cátions, ânions ou como espécies neutras e migrarão de acordo com o pH do meio. Na Tabela

1, estão os valores de pKa dos ácidos orgânicos estudados neste trabalho. Observa-se que,

para permitir a separação de todos os ânions dos ácidos orgânicos (oxálico, fórmico, málico,

succínico, acético, láctico e propanóico), é necessário que o pH do meio esteja acima de 5,1,

pois a partir deste pH, todos os ácidos estarão totalmente dissociados.

Tabela 1: Valores dos pKa dos ácidos orgânicos estudados neste trabalho.

Ácido pka1 pka2

oxálico 1,25 4,27

fórmico 3,75

málico 3,46 5,10

succínico 4,19

acético 4,75

láctico 3,85

propanóico 4,87

Desta forma, variou-se o pH do tampão de separação em uma faixa de 5,2 a 6,0,

mantendo constante a concentração da solução em 15 mmol L-1

ácido ftálico + 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio, e 1,0 mmol L-1

de CTAB. Verifica-se pela Figura 7, que no pH

= 5,2 e pH = 5,4, os ânions malato e propionato não são visualizados. Uma justificativa seria

que os ácidos málico e propanóico possuem os maiores pKa entre os outros, como pode ser

observado na Tabela 1. Desta forma, em pH mais baixo, as concentrações desses ânions livres

em solução não são suficientes para serem detectadas. No pH = 6,0, a resolução dos picos não

é satisfatória, além do ânion oxalato não ser visualizado. Escolheu-se realizar as separações

em pH = 5,6, pois há uma boa separação dos sete ânions dos ácidos orgânicos. O pH = 5,8,

também fornece uma resolução satisfatória, porém, quanto maior o pH, maior o risco do

aumento de corrente durante a corrida e, consequentemente, da temperatura.

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Departamento de Química

Figura 7. Eletroferogramas da separação dos ânions dos ácidos orgânicos. Tampão: 15 mmol L-1

ácido ftálico + 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio, contendo 0,2 mmol L-1

CTAB. I = 50 mbar/5

s, V = - 10 kV, T = 25 °C e detecção indireta com λ = 350/20 nm e λref. = 230/20 nm. Variação do

pH do tampão de separação (I) 5,2, (II) 5,4, (III) 5,6, (IV) 5,8 e (V) 6,0. Picos: (a) Oxalato, (b)

Formiato, (c) Malato, (d) Succinato, (e) Acetato, (f) Lactato e (g) Propionato.

min8 10 12 14 16

mAU

50

60

70

80

90

100

110

DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (300911000001.D)

10.0

76

11.3

09

12.9

18 1

4.5

37

16.0

09

min8 10 12 14 16

mAU

-20

-10

0

10

20

30

40

DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (300911000003.D)

10.11

6

11.33

3

12.70

5

14.06

7

15.66

2

min10 11 12 13 14 15 16 17

mAU

-20

-10

0

10

20

30

DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (280911000001.D)

10.0

58 1

1.4

08

12.5

10

13.5

87

15.2

95

15.7

71

17.1

24

min8 10 12 14 16

mAU

-20

-10

0

10

20

30

40

DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (300911000004.D)

10.2

65

11.5

13

12.4

70

13.1

33

14.9

87

15.9

84

16.7

16

min8 10 12 14 16

mAU

-20

-10

0

10

20

30

40

DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (300911000005.D)

11.5

60

12.4

97

12.8

35

14.7

29

16.0

33

16.3

66

Ab

so

rvâ

ncia

(m

AU

)

Tempo de migração (min)

I

V

II

III IV

a b c d e

f g a b c

d e

f g

b c

d e

f g

a a

b b

f

f d

e d

e

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Otimização da voltagem

A voltagem é um importante parâmetro na separação eletroforética, pois o seu

aumento progressivo durante a corrida pode acarretar em um superaquecimento interno na

solução, ocasionando o efeito joule, ou seja, a formação de correntes de convecção dentro do

capilar que causa uma mistura das bandas já separadas, resultando na dispersão do pico. Além

disso, a voltagem influencia no tempo de corrida e na resolução dos picos. Por isto, realizou-

se um estudo entre voltagem aplicada e a corrente desenvolvida no interior do capilar, em

quatro diferentes temperaturas. Os resultados são apresentados na Figura 8, onde se verifica

que conforme há um aumento na temperatura, o desvio da linearidade se acentua. A fim de

evitar perda da linearidade da curva, escolheu-se trabalhar com a T = 22 °C, pois nesta

temperatura é possível realizar corridas com voltagens mais elevadas e tempos de migração

reduzidos.

Figura 8. Função característica de voltagem x corrente em diferentes temperaturas. Eletrólito:

solução tampão de 15 mmol L-1

ácido ftálico + 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio,

contendo 0,2 mmol L-1

CTAB (pH = 5,6). Equipamento HP-CE 3D.

T = 20 °C

T = 22 °C

T = 25 °C

T = 30 °C

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Com o objetivo de reduzir o tempo de análise, foi realizado um estudo variando a

voltagem, a T = 22 °C. Observou-se que aumentando a voltagem para 20 kV, o tempo de cada

corrida foi reduzido à metade, porém sem comprometer a separação entre os picos dos ânions

estudados. A Figura 9 apresenta o eletroferograma obtido na separação dos sete ânions dos

ácidos orgânicos após a otimização de todos os parâmetros relacionados à separação

eletroforética.

Figura 9. Eletroferograma da separação dos ânions dos ácidos orgânicos. Tampão: 15 mmol

L-1

ácido ftálico + 15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio, contendo 0,2 mmol L-1

CTAB,

pH = 5,6. I = 50 mbar/5 s, V = - 20 kV, T = 22 °C e detecção indireta com λ = 350/20

nm e λref. = 230/20 nm. Picos: (a) Oxalato, (b) Formiato, (c) Malato, (d) Succinato, (e)

Acetato, (f) Lactato e (g) Propionato.

min4.5 5 5.5 6 6.5 7 7.5

mAU

-80

-60

-40

-20

0

20

40

60

DAD1 D, Sig=350,20 Ref=230,20 (071011000008.D)

4.6

26

5.2

28

5.6

95

6.1

17

6.9

29

7.2

25

7.7

48

Abso

rvân

cia

(mA

U)

Tempo de migração (min)

a b c d e f

g

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Resultados e Discussão

Comparação dos resultados de acetato em amostras de água conata obtidos por dois métodos

independentes (Eletroforese capilar e Cromatografia iônica)

A CZE é uma técnica de separação que oferece muitas vantagens para a determinação

de ânions orgânicos em matrizes aquosas quando comparada a IC, como por exemplo, rapidez

e separações altamente eficientes. No trabalho desenvolvido pela pesquisadora Fonseca

(2007), observa-se que na determinação dos ácidos orgânicos por IC, os tempos de análise

passam de 21 minutos. O pico de acetato, por exemplo, encontra-se no intervalo de tempo de

15 a 16 minutos. Já na CZE, o tempo de migração do acetato fica em torno de 7 minutos.

Além disso, na CZE apenas um pequeno volume de amostra e pequenas quantidades de

eletrólitos são necessários para realizar uma análise. No caso deste trabalho, os vials

utilizados continham aproximadamente 500 µL de solução. Este consumo baixo de reagentes,

minimiza o desperdício e a quantidade de rejeitos produzidos. A Tabela 2 apresenta a

comparação dos resultados obtidos por CZE, utilizando a metodologia desenvolvida com o

tampão de ftalato, e IC para as concentrações de acetato em amostras de água conata. Desta

forma, a CZE torna-se uma alternativa bem atraente, visto suas vantagens.

Tabela 2: Comparação dos resultados de acetato em amostras de água conata por dois

métodos independentes (CZE e IC).

Concentração de acetato (mg L -1)

Amostra Eletroforese Capilar Cromatografia Iônica

14-o04 5,60 ± 0,09 5,49

15-o02 6,50 ± 0,07 6,38

o103-10 137,43 ± 1,22 138,25

o110-11 315,32 ± 5,04 316

o04/11-12 4,26 ± 0,22 4,1

o105-14 4,63 ± 0,16 4,81

o104-14 4,78 ± 0,05 4,8

Análise íon cloreto e filtro de Prata

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Como estas amostras contém alta concentração salina, era necessário diluí-las significante,

pois o íon cloreto presente em grande concentração, interfere na visualização dos outros picos.

(Figura 10 e Figura 11)

Figura 10: Cloro em alta concentração e 20 ppm dos ácidos orgânicos (oxálico, fórmico,

málico, succínico, acético, láctico e propanóico).

Figura 11: Cloro 5x diluído e 20 ppm dos ácidos orgânicos (oxálico, fórmico, málico,

succínico, acético, láctico e propanóico).

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Visto isto, uma alternativa foi a pré-separação do íon cloreto das amostras com a utilização de

filtro de nitrato de prata que tem a capacidade de reter 96,4% do cloreto. Analisando as

soluções padrão dos ácidos orgânicos estudados, passadas ou não no filtro, verificou-se que a

área de cada um não se alterava, tendo apenas o cloreto retido. Desta forma, os parâmetros

analíticos de méritos não mudaram (Figura 12).

Figura 12. 20 ppm dos ácidos orgânicos (oxálico, fórmico, málico, succínico, acético, láctico

e propanóico) e 100 ppm de Cloro.

A vantagem do filtro é eliminar grande parte do cloreto, permitindo analisar amostras de água

conata sem ter que diluí-las e também diminuir o tempo de análise, pois retendo grande parte

do cloreto, diminuo a força iônica da solução (Figura 13 e Figura 14)

Figura 13. Amostra de água conata diluída 5x.

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Figura 14. Amostra de água conata, não diluída, passada pelo filtro de prata.

Resultados e Discussão

Um estudo sistemático de diversos parâmetros experimentais resultou nas seguintes

condições otimizadas para a separação destes ácidos: tampão de 15 mmol L-1

ácido ftálico e

15 mmol L-1

hidrogenoftalato de potássio, contendo 0,2 mmol L-1

CTAB como modificador

do fluxo eletro-osmótico, pH 5,6, tempo de injeção hidrodinâmica 5 s a 50 mbar, voltagem

aplicada - 20 kV e temperatura 22 °C. O método mostrou-se linear nas concentrações até 50

mg L-1

(oxalato, malato, succinato, acetato), até 30 mg L-1

(formiato), até 20 mg L-1

(lactato) e

até 40 mg L-1

(propionato). As curvas analíticas apresentaram comportamento linear, sendo o

acetato o analito de maior sensibilidade e o oxalato o de menor sensibilidade. Os limites de

detecção variaram de 0,61 a 2,05 mg L-1

, e os limites de quantificação de 0,66 a 2,24 mg L-1

.

Os desvios padrão relativos para o tempo de migração e área do pico variaram de 0,3 a 0,8% e

de 0,3 a 5,8%, respectivamente. O método foi aplicado em amostras de água conata e os

resultados concordantes com os da técnica de cromatografia iônica. O método desenvolvido

foi rápido, sensível e adequado para determinação de ácidos orgânicos em amostras de água

conata. A utilização do filtro de prata aperfeiçoa a análise, pois não há necessidade de fazer a

diluição das amostras e o tempo de análise diminui.

Referências

1 - C. W. Klampfl. Electrophoresis 28:3362, 2007.

2 - OGP. The International Association of Oil & Gas Producers. In: Report 364 (fev.):36,

2005.