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Fábio Mozine Música, cerveja, de chinelo e sem camisa Clearview Banda fará turnês dentro e fora do país Barbearia 9 de Julho Espaço resgata hábitos dos anos 40 e 50 Fev & Mar‘13 | Distribuição Gratuita | www.curtocircuito.art.br

Curto Circuito #2

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Bem vindo a segunda edição da revista Curto Circuito. Sinta-se a vontade e consuma produção cultural independente nacional.

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Fábio MozineMúsica, cerveja, de chinelo e sem camisa

ClearviewBanda fará turnês dentro e fora do país

Barbearia 9 de JulhoEspaço resgata hábitos dos anos 40 e 50

Fev & Mar‘13 | Distribuição Gratuita | www.curtocircuito.art.br

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Expediente #2, 2013Direção: Antonio Augusto Editora: Camila Grillo [email protected] Projeto: Hearts Bleed Blue Redação: Camila Grillo Revisão: Luís Maurício Colaboradora: Mariana Perin Assessoria Jurídica: R4A Distribuição: [email protected]: Antonio Augusto [email protected] (11) 96565 6786

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Curto Circuito é uma revista de bolso, com publicação bimestral e distribuição gratuita, produzida pelo selo fotográfi co Hearts Bleed Blue. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Leia a edição anterior do Curto Circuito emwww.curtocircuito.art.br e não deixe de nos escrever seu endereço, nós vamos te enviar a cada dois meses a nova edição da revista.

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Voltado para o público que curte um bom som e não tem pre-conceito, o Festival Queer & Queens reúne nos dias 2, 3, 9, 10, 16, 17, 23 e 24 de março de 2013, diversas bandas, além de outras atrações e DJs, no Dynamite Pub, em São Paulo.

Com uma proposta diferenciada, o evento gratuito mostra o ativismo contra a homofobia. “Eu sempre tive alguns amigos gays no meio hardcore, e via que era difícil unir

(q&Q acredita na diversidade)Festival com tematica gay mostra ativismo contra homofobia

Texto: Camila Grillo | Fotos: Divulgação | Info: queersandqueens.com.br

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todas as bandas... O único festival que tive a chance de ir foi o Queer Fest no Espaço Impróprio. Quando ouvi falar sobre o edital do ProAc, conversei com o Hanilton e resolvemos tentar. Em 2011 fomos aprovados e fizemos o primeiro Q&Q em março de 2012”, explica Shamil Carlos, idealizador do festival.

Para esta edição, o idealizador pediu ajuda de todas as bandas que participaram no ano passado para que cada uma indicasse pelo menos mais duas para o festival. “O mais difícil de fechar com as bandas é porque tem gente que ainda tem problemas em assumir sua sexualidade e não quer que a banda seja vinculada ao público gay. O que me deixa chateado, porque se eu, que não sou gay, organizo um festival com essa proposta, não faz sentido alguém que é homossexual não participar dele, né?”, destaca.

Mesmo com a criação do evento, ainda há muito preconceito nesse meio musical. “Infelizmente no meio punk/hardcore existe um grupo de ’machos’ que adoram falar mal e incentivar o pre-conceito no meio... Mas acredito muito que a evolução humana irá nos poupar disso dentro de alguns anos, aliás eu sonho com o dia em que organizar um festival ou falar sobre homofobia não seja mais necessário e em que todos aprenderemos a aceitar as escolhas um dos outros”, diz.

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O objetivo do festival é acabar com o preconceito. “Se vamos conseguir? Não sei, mas se a cada ano conseguirmos dimi-nuir um pouco o medo das pessoas de conviver e frequentar um ambiente livre, já estaremos bem felizes. O público é pra-ticamente o pessoal do punk/hardcore, devido à maioria das bandas do festival ser desse estilo. Talvez por esse meio ser mais político e contestador, os gays se sintam mais a vontade de expor suas ideias. Mas queremos aumentar isso, quere-mos bandas de metal e de rock and roll clássico, que tenham homossexuais dispostos a tocar e enfrentar os dogmas de seus meios também”, evidencia.

Contando com o apoio do ProAc (Programa de Ação Cul-tural) da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, o projeto traz bandas de fora da cidade oferecendo cachê. “To-dos os anos eles fazem um edital de Cultura LGBTS em que o dinheiro é destinado a projetos que podem ser Documentário, Festivais, DVDs, CDs que sejam ao público gay”, diz.

Diante de grandes transformações sociais, Shamil acredi-ta que o Brasil está passando por uma mudança. “Está sim, pelo menos eu vejo à minha volta meus amigos e parentes cada vez menos falando sobre, estranhando ou fazendo comentários sobre alguém que se assume... Talvez seja romântico demais da minha parte pensar nisso, porque esse mundinho é só o meu mundinho, mas acho que fazen-do localmente afetamos globalmente. Mas ainda estamos longe do mundo que acreditamos ser ideal”, desabafa. E ainda destaca: “Hoje eu vejo jovens se descobrindo, alguns experimentando, outros nem têm vontade, mas todos vi-vem muito mais em harmonia do que acontecia quando eu era jovem. Lembro que na minha época simplesmente não havia nenhum homossexual na escola, nem mesmo aquele amigo que você suspeita e hoje vejo minha cunhada (que tem 16 anos) falando sobre seu amigo gay. A escola sabe, alguns tontos não aceitam, mas em sua maioria nem ao menos se importam, não tratam diferente ou nada do tipo. Isso para mim é incrível de ouvir!”.

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Representando para Sha-mil uma conquista, o even-to também é uma união de amigos. “Este ano vamos trazer o NoSkill, de João Pessoa, o Top Surprise, de Juiz de Fora, o Teu Pai Já Sabe? (que tocou ano pas-sado), que tem integrantes em Curitiba, Maringá e SP, e também o Vou Cuspir no Seu Túmulo, de Curitiba. Vai ser uma grande festa anti-homofobia. Acho que trazer tantas bandas de fora de São Paulo vai di-vulgar o festival para fora e, se tudo der certo, mais público e mais bandas saberão e se interessarão para participar em 2014.”

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Com 11 anos de estrada e enfrentando muitos desafios, o Cle-arview inicia 2013 com novos planos. “Faremos nossa primeira turnê europeia e umas três ou quatro turnês nacionais com bandas que apoiamos”, diz Rick Pellario, integrante do grupo. Formado por cinco componentes que já tocaram em diversas bandas, como Good Intentions, Ponto Final, Live By The Fist e Final Expression, o Clearview surgiu como um projeto parale-lo. “Nós fazíamos faculdade, tínhamos outras bandas e outras prioridades na vida, então levávamos a banda somente como uma diversão no tempo livre, porém o que era para ser apenas um ‘projeto’ tomou forma e se tornou uma banda. Saímos dos grupos em que tocávamos e decidimos investir no Clearview, pois a música que fazíamos era algo que gostávamos muito e queríamos viajar, gravar discos e fazer todas aquelas coisas que qualquer músico tem vontade de fazer com uma banda”, destaca o músico. Inspirados em bandas como Pennywise, Warzone, Chain of Strength, Beastie Boys, Good Riddance, Sepultura, Cro Mags e Madball, entre outras, o quinteto já conta com quatro CDs lança-dos, dividindo-se em dois full-length, um split e uma coletânea. Escolhendo a originalidade, o Clearview acredita que o dife-rencial da banda seja a simplicidade. “Hoje muitas bandas mal gravaram uma ‘demo’ e já estão em todas as redes sociais se au-topromovendo, vendendo ingressos para tocar com bandas que se intitulam ‘importantes’. Nós optamos por sermos nós mesmos, sem precisarmos nos sujeitar a vender ingressos ou fazermos ‘política’ apenas para sermos aceitos. Mostramos a nossa músi-ca para quem quiser entender e aceitar”, ressalta Rick. Entre os momentos de obstáculos enfrentados pela banda, o grupo acredita num ideal capaz de mobilizar as pessoas. “Sem-pre existiram momentos de dificuldades, mas o maior deles é continuar remando contra a maré e acreditando que as pessoas um dia serão um pouco mais politizadas dentro do cenário al-ternativo. A música não é somente diversão, mas, se usada como ferramenta de protesto, poderemos reverter qualquer situação, basta acreditar”, argumenta.

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Mediante a realidade econômica de nosso país, os integran-tes mantêm outros trabalhos como meio de sobrevivência. “Nós não ‘vivemos’ da banda, gostaríamos muito que isso fosse uma realidade, porém ‘ainda’ não é. Somos cinco caras que gostam de música veloz e pesada. Temos empregos normais, somos dois editores, um advogado, um administrador de negócios e um pro-fissional de T.I. Quem sabe, um dia, trocamos nossos escritórios e computadores por nossos instrumentos e façamos do que mais gostamos a nossa remuneração mensal”, espera Rick. E para que tudo na banda dê certo, é preciso zelar pelo tra-balho e ter uma mensagem a ser transmitida. “Na verdade, ‘dar certo’ é algo muito difícil de dizer, não temos uma fórmula. Mas é fazer o que se gosta, prezar sempre a qualidade e principal-mente ter conteúdo. Acho que esses são os primeiros passos a tomar para pensar em atingir outras pessoas. Para nós, ‘fazer uma banda dar certo’ é você conseguir fazer uma pessoa parar e refletir sobre o que você tenta passar com a sua música. Se será 1 ou 100.000, não importa”, expressa e finaliza: “Para quem está começando com uma banda agora, seja paciente, conheça o instrumento que toca e seja quem você é, independentemente de qualquer coisa, faça tudo para te alegrar”.

Voices II (2004) coletânea comemorando os 10 anos do selo Liberation Music Company; Love It Or Leave It (2008) full-length by Liberation Music Company; Pure Mayhem (2011) full-length by Hearts Bleed Blue e Caustic Recordings; Rage Through Integrity (2012) split com a banda Paura, lança-do pela Hearts Bleed Blue, Caustic Recordings, Travolta Discos e Spider-merch. Escute as músicas do Clearview em: clearviewnp.bandcamp.com

discografia

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O treinamento élongo e rigorosoporque lidar comuma navalha nãoé nada fácil.

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(barbearia 9 de julho)Espaço resgata hábitos dos anos 40 e 50

Texto: Camila Grillo | Fotos: Divulgação | Info: barbearia9.com.br

Já pensou em voltar no tempo e encontrar os amigos em um am-biente antigo, inspirador, além de poder fazer a boa e velha barba, cortar o cabelo e trocar boas ideias? Pois é. Não é preciso voltar no tempo para vivenciar esta realidade. “A Barbearia Nove de Julho surgiu da ideia de retratar o ambiente das antigas barbearias com chão quadriculado e cadeiras de metal pesado, que há anos tinham sido esquecidas aqui no Brasil”, diz Tiago Cecco, um dos proprietários do espaço. Atuando há cinco anos no mercado, ela está atualmente na rua Augusta, Centro de São Paulo, e no Itaim Bibi recebendo todo tipo de clientes, desde jovens roqueiros até senhores, engravatados e moderninhos. Entre os diferenciais oferecidos para os frequenta-dores do espaço estão os cortes de cabelo e barba. “A qualidade é nosso diferencial”, destaca. “Para um homem, ter um corte de cabelo bem feito e uma barba bem escanhoada influencia dire-tamente no bem-estar. O homem se sente mais jovem e atraente quando esta bem-cuidado.” Reunindo todos os elementos, como rockabilly, rock’n’roll dos anos 50, pin ups, hot rods e motos antigas, a rede dispõe de 17 bar-beiros. “Só treinamos amigos nossos que realmente se interessam em ter uma vida dedicada a essa nobre profissão. O treinamento é longo e rigoroso porque lidar com uma navalha não é nada fácil. E qualquer erro pode resultar em ferimento grave do cliente”, pontua. O ambiente agradável é marcado pelo clima descontraído. “Ou-vimos música de qualidade, rimos muito, nos divertimos e diverti-mos os clientes com nossa descontração. É o melhor trabalho que existe. Rimos, brincamos e ainda recebemos por isso”, diz. E para quem está pensando em conhecer a rede, Tiago deixa a sua dica: “Sinta-se à vontade para vir e pedir o tipo de corte que você gosta. Fazemos qualquer estilo”, conclui.

Barbearia 9 de Julho Loja 1: Rua Augusta 1371, Sala 05, Tel 3283-0170 Loja 2: Rua Senador Paulo Egídio 63, Lgo. São Francisco, Tel 3101 8592 Loja 3: Rua João Cachoeira 894, Itaim, Tel 3071 4172 Loja 4: Rua do Comércio 40, Centro, Tel 3106 2111 Loja 5: Rua Domingos de Morais 1031, Vila Mariana, Tel 5084 2989

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.16 Camisetas, lenços, discos, CDs e outras tralhas que usa-mos e compartilhamos em nosso dia a dia.

(algumas tralhas que você pode gostar)

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Hotel Tee’s: Rua Matias Aires 78, SP. Tel (11) 3081 4426 Loja 255: Galeria do Rock, Rua 24 de Maio 62, Loja 255, SP. Tel (11) 3361-6951 Loja Hole: Galeria do Rock, Rua 24 de Maio 62, Lojas 275/277, SP. Tel (11) 3337 1261 Locomotiva Discos: Rua Barão de Itapetininga 37,Loja 51, SP. Tel (11) 3257 5938 Mania de Lenço: maniadelenco.com.br Hearts Bleed Blue: www.hbbstore.com Läjä Records: www.laja.com.br Spider Merch: www.spidermerch.com.br IdealShop: www.idealshop.com.br

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(Fábio Mozine )Música, cerveja, de chinelo e sem camisa

Texto: Camila Grillo | Fotos: Arquivo Pessoal | Info: facebook.com/laja.rex

Definir Fábio Mozine é simplesmente fácil. Como ele diz, “o mesmo cara da música, as mesmas roupas, o mesmo jeito, as mesmas ideias”. E ainda mais: vive o que expressa em suas próprias músicas.

Com tantos trabalhos engatilhados, o músico ainda encontra tempo para ter uma vida como qualquer mortal comum. “Eu tenho gostado muito de ficar em casa, de ir à casa dos meus ami-gos aqui em Vila Velha para assistir a jogos, de quando eu consigo tirar uma ou duas horas no final da tarde para ir à praia tomar uma cerveja e quebrar essa doideira de horário de trabalho. Fingir para mim mesmo que minha vida ainda me pertence. Gosto de ir a bares que ficam próximos à minha casa, de jogar na Dupla Sena, de comida de boteco, de comida chic e de cerveja gelada. Gosto de cerveja que vende em bar, não gosto de cerveja de Instagram. Gosto de bebida alcoólica, de Discharge e de Adelino Nascimento”, destaca.

O capixaba apaixonado por música e pelo Flamen-go, cativa não só pelo talento, mas também pela simplicidade em que vem construindo a sua história.

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De banda em banda A inspiração musical começou logo cedo. Com referência dos pais e conhecidos, Mozine foi com-pondo seu repertório e criando sua própria identi-dade. “Minha mãe era daquelas meninas da Jovem Guarda, fã de Roberto Carlos, e ouvia rádio AM. Meu pai era algo tipo um comunista, ouvia Vandré e odiava Roberto Carlos. Meus vizinhos e amigos de infância ouviam funk e samba. No meio disso tudo, eu queria ouvir rock nacional. Daí para o metal e o punk foi um pulo”, diz. Todo o talento para a música começou dentro do quarto, local em que ensaiava com suas primeiras bandas. “Antes do Mukeka di Rato eu tive algumas bandas. Elas existiam sim, mas eram por um lado quase fi ctícias, já que eu fi cava apenas dentro do quarto ensaiando. Eu toquei numa banda chamada Carcará com Zuzu, que depois montaria comigo Os Pedrero. Zuzu me ensinou os primeiros acordes, pena que eu não aprendi”, explica. Entre suas primeiras experiências no mundo mu-sical, Fábio tocou em uma banda chamada Revolta Social. “Na verdade eu fi cava batendo numas latas, na porta de armário, e gravamos uma fi ta. Depois eu montei o Mukeka di Rato com o Brek e o Dudu. Esses dois tinham uma banda cover de rock nacional. A banda acabou e nós resolvemos montar o Mukeka.E por ai vai”, relata Mozine.

Mil e uma utilidadesDepois de passar por tantos grupos, atualmen-te Mozine se dedica a três: Mukeka, Merda e Os Pedrero, que começaram pequenos, mas já passam por um processo de crescimento. “Eu tenho tentado agora fazer um planejamento, mas a coisa ainda rola muito na base da oportunidade. Eu tinha plane-jado com a galera que voltaríamos a tocar apenas em abril. A gente queria descansar um pouco, mas já pintou trabalho para dia 2 de fevereiro, além de 3 shows em março.

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Ou seja, algumas oportunidades também não podem ser desperdi-çadas. No começo era mais fácil porque as bandas eram peque-nas, eram projetinhos. Depois começaram a ganhar vida própria, identidade e algum pouco público. Aí começou a embolar um pouco mais o meio de campo.” Ainda com um dia de 24 horas e espaço para realizar algu-mas de suas paixões, Mozine encontra tempo para atuar na Läjä Records, mesmo com alguns contratempos, na função de em-preendedor. “Não tem sido mais tão fácil. Começo a ter alguns problemas administrativos, como se eu trabalhasse num escritório de contabilidade. Problemas com fornecedores, atrasos, erros e algumas dores de cabeça. Também existem problemas de ordem pessoal porque inevitavelmente sou obrigado a conviver com al-guns tipos de babacas. Mas é óbvio que ainda é um dos empregos mais legais do mundo, nesse exato momento eu estou trabalhando de chinelo e sem camisa, ouvindo um disco que eu escolhi ouvir. A prioridade de certa forma é a Läjä, o que é uma pena, pois eu gostaria de passar mais tempo tocando, mas ao mesmo tempo, quando eu começo a tocar muito, fi co já de saco cheio, pois não aguento aeroportos, avião, e tenho gostado muito de fi car em casa fazendo nada”, explica. Com o trabalho desenvolvido na Läjä, houve muita luta, mo-mentos marcantes e lições aprendidas. “Eu tive uma vida muito intensa durante anos. Eu era um cara bastante humilde que mal havia saído do Espírito Santo, e desde 1995 o Mukeka di Rato (principalmente) colocou minha vida de pernas para o ar. Muita doideira, muita insanidade e muita merda que eu não deveria ter feito, mas ao mesmo tempo muito aprendizado e divertimento. Até os piores momentos, como o acidente que sofri na Alemanha*, depois de devidamente deglutidos, acabam tendo seus pontos positivos na minha vida.”

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O mundo das gravadoras Durante a trajetória do artista, o contato com as gravadoras foi mostrando a dinâmica do mercado fonográfi co. “Bem no co-meço se cogitou que o Mukeka poderia assinar com a Sony, mas acho que era apenas conversa fi ada. Um rapaz que era ’olheiro’ deles na época falou que Mukeka era legal, e apenas isso. Mas aqui no Espírito Santo rolou até noticia em programa de rádio, dizendo que éramos a ’bola da vez’. Que desgraça! Depois houve uma oportunidade real e boa para Os Pedrero assinar com uma gravadora grande, na época que elas faziam diferença, mas não rolou também por uma série de outros fatores, incluindo a gente não ter certeza se queria. Não me arrependo”, relata Fábio, que até hoje mantém contato com a Deck, produtora na qual pôde tra-balhar com a banda Mukeka. “Em relação à Deck, foi muito legal mesmo trabalhar. O papo com eles sempre foi muito reto. Nunca nos foi oferecido um mundo de vantagens e nunca acreditamos que teríamos isso. Apesar de estar na Deck, o Mukeka sempre manteve a sua mesma postura na produção, nas letras, na capa, nos locais onde fazíamos shows, no contato direto com nosso público, etc. Ainda hoje mantenho contato constante com a gra-vadora por inúmeros motivos. Fizemos alguns lançamentos em conjunto, como a prensagem do Carne em vinil, que já sai com o selo da Läjä junto com o selo Deck. Eles também editam algumas das minhas músicas. A Deck sempre foi uma parceira como se fosse um cara de um selo underground.”

O mercado independente Para empreender é necessário muito trabalho, investimento e fi car de olho nas oportunidades que vão surgindo. “Eu acho que posso dizer que a Läjä tem feito algum sucesso, sem parecer que estou sendo esnobe ou contando vantagem.

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Eu também tenho divulgado muito meus produtos, principal-mente por meio de varias redes sociais, então as pessoas estão sempre vendo o nome da Läjä de uma forma ou de outra. Acre-dito que por causa disso tenho recebido muitas questões sobre o mercado fonográfi co e sempre as respondo com cautela, porque eu acho que querem me ouvir dizendo algo novo, revelador. O problema é que na verdade, por mais que obviamente eu tente observar o mercado, observar as coisas que estão acontecendo ao meu redor, a maioria das coisas que faço é no puro feeling ou até mesmo no esquema tentativa e erro”, diz. Fábio destaca um novo crescimento atual e a preocupação dos selos com a qualidade de seus lançamentos. “Eles apostam em vinil colorido com uma gramatura maior, capas duplas. Quem tem feito DVD esta locando equipamento bom. Você é ca-paz de pegar um DVD de uma banda de hardcore nacional e ele ter muita qualidade. Também vejo que o público está interessa-do em pagar um pouco mais para ter esse produto de qualidade. Novos pontos de distribuição físicos vêm surgindo. Em São Paulo, por exemplo, eu tenho mais de cinco pontos de venda, sem contar os pequenos distribuidores que levam material para vender em shows e as lojas virtuais, que também são muitas.” Tendo parceria com sites como a ONERPM, o artista diz que a distribuição digital também já não é tão difícil. “O engraçado é que se você me perguntasse sobre mercado fonográfi co seis meses antes da crise do CD, eu teria lhe dado a mesma resposta, sacou? Isso é muito Teoria Geral de Eventos (TGE). Essa teoria é assim: um show do Flávio Venturini numa chácara a 80 km de São Paulo, em um sábado de frio com vinhos à venda. Não deu ninguém: lógico, quem é que vai sair de São Paulo e ir para o meio do mato fi car tomando vinho no frio? Lotou: lógico, tudo a ver, lugar afastado de São Paulo, um clima ótimo, tomando um bom vinho no tempinho frio”, explica.

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Luta pela sobrevivência Diversas bandas surgem e desaparecem constantemente no mercado. Com um mundo diversifi cado e muitas possibilidades, sobreviver é uma luta constante em meio à tentativa de dar certo. “Muitos bares abrem e fecham a porta em seis meses, outros fazem sucesso. Pode ser que o cara que montou o bar viu que ia demorar para ganhar dinheiro e desistiu, ou apenas fez a coisa errada e não tinha vocação para ser barzeiro”, diz. O músico, que nunca tratou outras bandas de hardcore ou outros selos underground como concorrentes, os enxerga como parceiros apesar de “alguns poucos deles parecerem não ter essa visão”. Com postura benevolente, Fábio ressalta: “É muito fácil você pegar um lançamento da Läjä e observar na contracapa a pre-sença de alguns ou até vários selos, todos envolvidos no mesmo lançamento. Mais selos fortaleceriam o mercado. Esses selos poderiam estar trocando material comigo, vendendo os meus títulos para outro público que não tem acesso a mim, ou que não tinha, e vice-versa”. Mesmo com a luta dentro desse mercado, Mozine já pensou em deixar as bandas várias vezes, mas nunca por aspectos fi nan-ceiros. “Sempre por saco cheio mesmo, falta de paciência com as pessoas, etc. Mas, como diria a minha mãe: ‘Tá com raiva? Tira as calças e pisa em cima’. O selo eu já pensei em largar, sim, mas acho que na maioria das vezes por motivos fúteis também, é o meu hobby muito mais que emprego.” Na luta pela sobrevivência, ser dono do próprio negócio, para o artista, tem lá suas vantagens. “As vantagens de tocar o próprio barco são muitas, mas eu ressalto novamente: chinelo de dedo e sem camisa. Eu vejo como meus amigos sofrem com patrões babacas, os caras enfrentando centro da cidade todo empacota-do com verão de 40 graus ou pegando trânsito doentio, perdendo todo dia 2 horas de suas vidas dentro de um carro parado. Eu vejo isso adoecendo os caras, é bom não passar por isso.” Defi nindo-se como “Biscateiro Alternativo”, Mozine destaca que as bandas recebem admiração das pessoas, mas que não conseguem viver delas. “Não dá dinheiro, isso é sucesso? Não, isso é fracasso! Mas continuamos saindo para tocar, porque gos-tamos tanto da coisa que acho que a partir daí surge uma visão até romântica sobre o que fazemos.”

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Ano de inspiração Para o menino do Espírito Santo, o ano de 2013 começou pisando fundo no acelerador. “São inúmeros projetos e propostas de lançamentos chegando para mim diariamente, dá até aquele medo de dar o passo maior que a perna, mas acredito que 2013 é um dos anos em que mais lançarei material em vinil e coisas muito boas.” Com tantos trabalhos e atuação em bandas dife-rentes, é preciso ser você mesmo em todos os trabalhos. “É muita informação e muita coisa parecida, acaba tudo se fundindo. Eu acho a Läjä muito fundida ao meu nome, gostaria que fosse menos. Gostaria que as pessoas falassem da gravadora, nome fantasia Läjä Records, e não em Fábio Mozine, mas às vezes até eu mesmo gero essa confusão. Não gosto, tenho muito medo de parecer autopromoção ou coisa do tipo. Teoricamente o Mozine d’Os Pedrero seria diferente, até meu nome na banda era outro. Vivemos muito o que falamos nas nossas bandas, tipo o Paulista, o Brek, o Sandro, o Rogério e o Alex, batera do Merda. Os caras são os mesmos, todo dia, toda hora.” Em meio a tantas novidades que estão vindo por aí, Mozine dá a dica para o jovem que deseja ingressar no mundo da música. “Algumas das pessoas que entram para a música são talentos extremos, que vão virar ídolos, e outros têm condições de mani-pulação do mercado e das mídias para se fazerem virar ídolos, ganhar muito dinheiro, etc. Se você ama muito a música, quer to-car, mas não se encaixa nos casos acima, eu sugiro sempre uma atividade paralela. Estude, tenha um outro trabalho. Quem sabe você consegue conciliar a sua vida de músico com um trabalho mais alternativo. Quantos artistas eu conheço que têm estúdio, são produtores, tatuadores ou trabalham com sonorização. Dessa forma eles conseguem realizar uma atividade mais alternativa que lhes possibilitam viajar para tocar e viver a música no dia a dia”, fi naliza.

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DVD “Breaking Brazilian Bones in Europe Tour” documentário retrata de forma clara, como é uma tour underground pela Europa, com as bandas Merda e Leptospirose, e o curioso caso desta, interrompida ainda por um acidente sério em 2007.

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Fazíamos uma tour entre as bandas Merda e Leptospirose. A tour percorria muito bem em clima de alegria e muitas bebedeiras. Como é normal na Europa, tínhamos feito alguns shows vazios, porém outros muito bons, e tudo indicava que a coisa tendia a melhorar. Alguns poucos anos atrás eu havia sofrido um acidente grave na Europa com a banda Ataque Periférico. Apesar de grave, por milagre não tivemos escoriações e perdemos apenas dois shows. Pegamos outra van e continuamos a tour, meio abalados psicologicamente apenas. Ah, a van capotou na França quando estávamos indo para Paris. Ficou de cabeça para baixo e deu PT. Óbvio que essa nova tour era tomada de supostos cuidados extra, nos-so motorista era sóbrio, sério, profissional (já dirigiu até para o Napalm Death), mas acho que na vida sempre haverá imprevistos, porque não é Facebook. Um raio caiu duas vezes no mesmo lugar. Então, resumindo agora? Na fronteira da Alemanha com República Tcheca, depois do sé-timo show, numa estrada úmida e com uma neblina muito forte, batemos atrás de um caminhão parado erroneamente no meio da pista. Todos tivemos pequenas ou grandes escoriações, mas eu fui agraciado com uma de minhas vertebras esmigalhada. O bizarro é que eu não sen-tia nada, inclusive estava supostamente tentando ajudar os acidentados, tipo, eu e Nego Leo tentando com toda força do mundo arrancar o banco do passageiro da frente para tirar o Binho Miranda, que estava preso. Isso é assustador, nesse momento eu já poderia ter ficado tetraplégico. Foram 14 dias de sofrimento e resignação num chic hospital público universitário em Dresden. Os sete primeiros dias de angústias terríveis, medo e incertezas, ninguém sabia nada, quem ia pagar minha operação, se eu ia ser operado, etc. A chance de eu sair tetraplégico da operação era entre 15 e 25%. Amizade com enfermeira cara do Hitler gordona meio tarada sangue bom, amigos de toda a Europa indo visitar, viagens de drogas provoca-das pela morfina que eu tomava diariamente e que a moça até tirou do quarto o tubo, que eu já estava futucando ele sozinho. Saí vivo da operação. Passei uma via crucis terrível para voltar para o Brasil, amparado pelo meu amigo, compadre e anjo da guarda Nego Leo. Cheguei ao Brasil, fiquei um mês de repouso, comecei a melhorar, todos os pensamentos legais de mudanças de comportamento e mudanças de postura para ser uma pessoa melhor no mundo se esvaíram e voltei a ser essa desgraça bêbada de novo. Quatro meses depois do acidente eu estava dentro de uma van sem ja-nelas atrás fazendo tour com o Mukeka di Rato no meio das cordilheiras no Chile, indo para Valparaíso, Graneros, com o cu na mão.

( *a odisseia )

Texto: Fábio Mozine | Ilustração: Divulgação

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(wallpaper: Edu Revolback)Texto: Camila Grillo | Ilustração: Edu Revolback

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Inspirado em gibis, desenhos de super-heróis, capas de discos do AC/DC, Iron Maiden, Ex-ploited, Misfits, etc., Edu Revolback expressa sua arte por meio de coisas que acontecem ao seu redor, temas sociais e políticos, além de retratar desde ídolos de infância até “fa-mosos” que o atraem, passando por pessoas do ciclo de amizade.

O seu traço é marcado por influências de Jean Michel Basquiat, Amedeo Modigliani, Pablo Picasso, Raymond Pettibon e She-ppard, com trabalhos feitos em lápis Faber--Castell nº 4, 5, 6, 8 e, algumas vezes, carvão vegetal e grafite. Alguns dos destaques do artista são os cartazes feitos para shows.

Para conhecer um pouco mais sobre os trabalhos do artista, é só acessar seu perfil no Facebook: www.facebook.com/profile.php?id=1328003252&fref=ts

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Nome inspirado no filme Goodfellas (Os Bons Companheiros) de 1990, dirigido por Martin Scorcese, o bar está há seis anos no centro de São Caetano do Sul, têm cinco ambientes distribuídos em três andares e conta com cerca de trezentas opções de cervejas, sendo assim a maior carta de cervejas do ABC, grande variedade de destilados, coquetéis tradicionais e temáticos, hambúrgueres artesanais e uma boa variedade de porções.

Tudo isso embalado pelo bom e velho rock’roll!

Rua Goitacazes 77, CentroSão Caetano do Sul, SP

+55 11 4226-3788

GOODFELLAS BAR

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(Feira Plana)Evento reúne publicações independentesTexto: Camila Grillo | Fotos: Divulgação | Info: feiraplana.org

Com o objetivo de juntar artistas, designers, editores, escri-tores e poetas, a 1ª edição da Feira Plana acontecerá no dia 10 de março e mostrará o trabalho de quem produz algum tipo de publi-cação, como livros editados em casa, zines, edições fictícias, livros exóticos, entre outros. A feira que acontece uma vez ao ano, é uma ótima oportuni-dade para vender e trocar trabalhos que estarão reunidos em um só lugar. “Participam do evento expositores de editoras fictícias, recém-criadas, artistas, coletivos, escritores, editoras indepen-dentes, galerias de arte, designers... E os que chegaram atrasados no processo de seleção ou foram rejeitados podem fazer até uma venda paralela em carrinho de feira, a polícia da amizade está de férias”, destaca Beatriz Bittencourtt, idealizadora do projeto. Diante de uma proposta inovadora, o evento é marcado pelo seu diferencial. “Sempre quis fazer uma feira de zines, mas quando eu fui para NY no ano passado, fui a todas as livrarias mais incrí-veis que já vi na vida, sendo que parte delas vendia esse tipo de publicação independente, como a Printed Matter, e na época a NY Art Book Fair estava em vias de acontecer. Peguei uma pré-feira

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Data: 10 de Março Horário: 12h às 20h Local: MIS, Avenida Europa, 158, Jardim Europa, SP

no MOMA Ps1 e outra na Printed Matter. Lá tudo vira uma gran-de folia, há pôsteres bonitos para divulgar a feira, o pessoal fica emocionado quando é convocado para participar, tem toda uma comoção ao redor que me pegou em cheio. Cheguei em São Paulo e, no dia seguinte, já estava sentada no computador montando um projeto”, explica. Além das publicações de editoras independentes, acontecerão durante o evento palestras e um show. “Um dos palestrantes con-firmado é o Iuri Pereira, da Hedra e o show, da Orquestra Alfabeto, formada/regida por Carlos Issa - Objeto Amarelo”, destaca. Sendo um agente de incentivo, a Feira Plana pretende reunir muitas pessoas. “Queremos juntar todo mundo que é legal, motivar esse pessoal a produzir mais, publicar coisas guardadas, promo-ver esse grande encontro, trocas, trazer gente que se interessa por essas publicações para elas verem, experimentarem e adquirirem essas obras, promover diálogos e diversão”, finaliza.

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“Eu sou miserável porque eu escuto música pop ou escuto música pop porque eu sou miserável?”, já se perguntou Nick Hornby em seu clássico Alta Fidelidade. Pop ou não, porque escutamos algo ou temos preferência a um gênero? Cultura? Criação? Aos 10 anos, era fã de Legião Urbana. Aos 12, ouvia Pink Floyd. Aos 19, era uma gaúcha honorária e acompanhava o rock dos pampas, de Cascavelettes a Wander Wildner. Aos 23, ingeria pop indie new rock e dançava alegre na pista do sobradinho. Hoje, ouço música “velha”. Meus ex-namorados sempre tocaram instrumentos e meu marido trabalha com música diretamente. E eu “caí” na produção artística. Música? Socorro! Seria este o meu karma? O mercado da música é enlouquecedor. A “cena” unida compra as mesmas roupas, o mesmo tênis, arruma o mesmo chapéu. E é aquela mesma turma que gosta de X, Y ou daquela última banda menos famosa e supercultuada do vocalista com bigode. Eu que-ria me libertar. Mas não consigo. Hoje, não baixo mais música. Hoje, o colunista cinquentão não é mais hype. Miserável ou não, sou feliz não sendo alegre o tempo inteiro – saio cantando meus males todos os dias. E, no meu relacionamento com a música, coleciono shows históricos, onde 10 pessoas choravam juntos àquele refrão.Mariana Perin, 30 anos e produtora

(Miserável ou não)Texto: Mariana Perin | Ilustração: Antonio Augusto

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