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Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
1
COMISSÃO ESPECIAL PARA TRATAR DAS
ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL
Presidente
Deputada JULIANA BRIZOLA
Relatores
Deputado JURANDIR MACIEL
Deputado LUIS AUGUSTO LARA
Relatório Final
Palácio Farroupilha – Abril - 2014
Estado do Rio Grande do Sul
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MESA DIRETORA
Presidente: Dep. Gilmar Sossella (PDT)
1º Vice – Presidente: Dep. Catarina Paladini (PSB)
2º Vice – Presidente: Dep. Álvaro Boessio (PMDB)
1ª Secretária: Dep. Marisa Formolo (PT)
2º Secretário: Dep. João Fischer (PP)
3º Secretário: Dep. José Sperotto (PTB)
4ª Secretária: Dep. Elisabete Felice (PSDB)
1º Suplente de Secretário - Dep. Dr. Basegio (PDT)
2º Suplente de Secretário - Dep. Raul Carrion (PCdoB)
3º Suplente de Secretário - Dep. Paulo Borges (DEM)
4º Suplente de Secretário - Dep. Carlos Gomes (PRB)
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COMISSÃO ESPECIAL PARA TRATAR DA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL
COMPOSIÇÃO
Deputados Titulares
Deputada Juliana Brizola - PDT - Presidente
Deputada Marisa Formolo - PT - Vice-Presidente
Deputado Jurandir Maciel - PTB - Relator
Deputado Luis Augusto Lara - PTB - Relator
Deputada Miriam Marroni - PT
Deputada Ana Affonso - PT
Deputado Giovani Feltes - PMDB
Deputado Gilberto Capoani - PMDB
Deputado Dr Basegio - PDT
Deputado Frederico Antunes - PP
Deputado Mano Changes - PP
Deputada Zilá Breitenbach - PSDB
Deputado Paulo Odone - PPS
Deputados Suplentes
Deputada Stela Farias - PT
Deputado Álvaro Boessio - PMDB
Deputado Nelson Härter - PMDB
Deputado Gilmar Sossella - PDT
Deputado Vinicius Ribeiro - PDT
Deputado Ernani Polo - PP
Deputada Silvana Covatti - PP
Deputado Pedro Pereira - PSDB
Deputado José Sperotto - PTB
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO / 5
AGRADECIMENTOS / 5
INTRODUÇÃO / 8
1 RELATÓRIO / 10
1.1 Reuniões / 12
1.2 Audiências Públicas / 13
1.3 Visitas Técnicas / 24
1.4 Seminário Internacional sobre Escolas de Tempo Integral / 33
A Experiência Gaúcha em Escolas de Tempo Integral / 37
Modelo Republicano de Escolas no Mundo / 43
Concepções em Escolas de Tempo Integral e suas diferenças / 57
2 RECOMENDAÇÕES / 75
CONCLUSÃO / 76
ANEXOS / 80
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APRESENTAÇÃO
Ao aprovar a Emenda Constitucional nº 62, instituindo como dever do Estado
“prover meios para que progressivamente seja oferecido horário integral aos alunos
do ensino fundamental”, a Assembleia Legislativa deu um grande passo, tornar
realidade a Escola de Tempo Integral. Dando continuidade, o Parlamento Gaúcho
aprovou, no final de 2013, a Lei 14.461/2014, regulamentando a referida emenda e
determinando que, em dez anos, 50% das matriculas oferecidas pela rede pública
estadual sejam em horário integral.
O trabalho desenvolvido por esta comissão ao longo de seu funcionamento,
visa fornecer ainda mais subsídios para que os avanços promovidos por leis, em
matéria de Escolas de Tempo Integral, possam ser colocados em prática,
observando experiências exitosas, promovendo debates e identificando os gargalos.
A escola de tempo integral foi adotada pelos países desenvolvidos para a
plena escolaridade de suas crianças. Por aqui (No Brasil), o projeto ganhou
popularidade no primeiro governo de Leonel Brizola no estado do Rio de Janeiro
(1983/1987), onde implementou uma escola capaz de resgatar as crianças pobres
da exclusão escolar, da violência e da criminalidade.
Para romper com o ciclo histórico da escola pública que não alfabetiza e não
educa, é preciso ousadia e coragem. A escola de tempo integral assume esse
compromisso.
AGRADECIMENTOS
Antes de adentrar aos relatos das realizações da Comissão, é necessário
fazer alguns agradecimentos. Agradeço aos meus pares, deputados membros da
Comissão pelo apoio e colaboração, em especial aos relatores deputados Jurandir
Maciel e Luis Augusto Lara.
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Aos servidores da ALRS que tornaram possíveis as reuniões, audiências,
Seminário Internacional, viagens e todo o trabalho realizado, em especial à equipe
técnica da Comissão.
Meu agradecimento a todos os convidados que participaram das atividades
da Comissão e assim deram sua contribuição para o melhor encaminhamento de
uma proposta para as Escolas de Tempo Integral.
Convidados que participaram das Audiências Públicas:
Professora Rosa Mosna, Diretora Adjunta do Departamento Pedagógico da
Seduc/RS, representando o Secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo;
Professora Inês Wunch, assessora do Conselho Estadual de Educação;
Professora Patrícia Prado Bonesso, Diretora do Ciep Presidente João Goulart
de Palmeira das Missões;
Professora Katia Bueno Lander, Diretora da Escola Oscar Schmidt;
Professor Vanderlei Teixeira Cardoso, Diretor da Escola São Caetano;
Samuel da Silva Borges, Diretor da Escola Ivo Boeller;
Ivete T. S. Correa, Secretária Municipal de Educação de Santa Rosa;
Professor Márcio Gallas Boelter, Diretor da Escola ENMP;
Professor Constantino Orsolim, ex-prefeito de Canela e ex-diretor ENMP;
José Velinho Pinto, ex-prefeito de Canela;
Neusa Krummenauer Dossin, Secretária de Educação de Canela;
Marléa Ramos Alves, Secretária de Educação de Caxias do Sul;
Claudete Hermínia Piccoli, Coordenadora da 4ª CRE;
Autoridades que nos receberam nas nossas visitas técnicas:
Mestre Coordenadora das Escolas de Tempo Completo, Virginia Tort;
Prefeito Municipal do Município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso,
Otaviano Olavo Pivetta e
Secretária de Educação, Elaine Benetti Lovatel;
Painelistas e autoridades presentes no Seminário Internacional sobre Escolas
de Tempo Integral:
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Secretário de Estado da Educação, professor Jose Clovis de Azevedo, e em
seu nome também ao Governador do Estado, Dr. Tarso Genro;
Ex-secretária de Estado da Educação Neuza Canabarro;
Professor Victor Manuel Caio Roque, ex parlamentar português e Presidente
de Honra da Internacional dos Educadores Socialistas,
Ex-diretora de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação
Básica do Ministério da Educação, professora Jaqueline Moll;
Ex-secretária de Educação do Rio de Janeiro, professora Lia Faria;
Inspetora Coordenadora de Escuelas de Tiempo Completo Del CEIP-
Uruguay, professora Virginia Tort;
Doutora em desenvolvimento pela Unisc, Professora Rita Gattiboni.
Juliana Brizola Presidente
Abril de 2014
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INTRODUÇÃO
A Comissão Especial para Tratar das Escolas de Tempo Integral da
Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul foi requerida pela Deputada
Juliana Brizola para tratar da Emenda Constitucional nº 62, que implanta a Escola de
Tempo Integral no nosso Estado. A Comissão funcionou de 6 de novembro de 2013
à 15 de abril de 2014, respeitando o período do recesso parlamentar.
Durante os trabalhos da Comissão foi aprovada, nesta Casa, e sancionada a
Lei Estadual nº 14.461, de 17 de janeiro de 2014, que regulamenta a EC nº 62 e o
Decreto Estadual nº 51.316 de 21 de março de 2014, que institui a Escola em
Tempo Integral no Ensino Fundamental em mais 22 Escolas Estaduais, em anexo.
A Lei nº 14.461/2014 estabelece que o Estado proverá os meios para oferecer
a partir dos seis anos (primeiro ano da educação básica) no mínimo 7 horas ou mais
de aula aos estudantes; 4 refeições diárias; currículo que integre conhecimento
cultura e esporte e capacitação aos professores e servidores das escolas de tempo
integral. Em um ano, a Seduc deverá apresentar o Plano Estadual de Escolas de
Tempo Integral, com indicação das escolas, regiões selecionadas, investimentos e
parâmetros curriculares. A meta é que em 10 anos, 50% das escolas sejam de
tempo integral.
Os trabalhos da Comissão se deram no sentido de mobilizar a comunidade
escolar em torno destas importantes conquistas: mais tempo, melhores espaços,
maior cuidado e qualidade para a educação.
O relatório traz a síntese das informações coletadas ao longo destes
trabalhos. Inicialmente são relatadas as audiências públicas realizadas em Porto
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Alegre e Canela/RS. A seguir, temos as impressões das visitas técnicas realizadas
às Escolas de Tempo Integral estaduais, e para conhecer as Escuelas de Tiempo
Completo no vizinho Uruguai e em Lucas do Rio Verde no Mato Grosso, bem como
experiências exitosas em nosso estado, como em Palmeira da Missões e Canela.
Na sequência, constam as contribuições colhidas no Seminário Internacional
sobre Escolas de Tempo Integral, ocorrido no dia 24 de março no Auditório Dante
Barone. No Seminário, foram realizados três painéis para debater as Escolas
Gaúchas de Tempo Integral, os modelos implantados no país e exemplos do
Uruguai e Portugal. Todos estes debates foram compilados nas 10 recomendações
finais.
Deputado Jurandir Maciel Relator
Deputado Luis Augusto Lara
Relator
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RCE 9/2013 - Requer a criação de Comissão Especial para tratar da Emenda
Constitucional nº 62, que trata da implantação da Escola de Tempo Integral no
Estado do Rio Grande do Sul.
Requerente: Deputada JULIANA BRIZOLA
Relatores: Deputado JURANDIR MACIEL e Deputado LUIS AGUSTO LARA
I – RELATÓRIO
A Comissão Especial para Tratar das Escolas de Tempo Integral foi
requerida e presidida pela Deputada Juliana Brizola - PDT. Sua instalação
aconteceu no dia 06 de novembro de 2013, na sala da presidência da Assembleia
Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.
A Comissão teve como membros titulares os Deputados: Miriam
Marroni – PT, Ana Affonso – PT, Marisa Formolo – PT, Giovani Feltes – PMDB,
Gilberto Capoani – PMDB, Dr Basegio – PDT, Frederico Antunes – PP, Mano
Changes – PP, Zilá Breitenbach – PSDB, Paulo Odone – PPS, Jurandir Maciel-PTB
e Luis Augusto Lara- PTB. Os Deputados suplentes foram Stela Farias – PT, Álvaro
Boessio – PMDB, Nelson Härter – PMDB, Vinicius Ribeiro – PDT, Ernani Polo – PP,
Silvana Covatti – PP, Pedro Pereira – PSDB, José Sperotto – PTB.
O principal objetivo da Comissão foi apresentar propostas de
ampliação das escolas de tempo integral aos gestores estaduais, com base na
Emenda Constitucional n.º 62 e na Lei Estadual 14.461/2014, de autoria da
presidente, que prevê que o Estado deverá prover meios para que,
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progressivamente, seja oferecido horário integral aos estudantes do ensino
fundamental das escolas da rede pública estadual.
Conforme estabelecido no Plano de Trabalho, foram realizadas três
reuniões ordinárias, duas audiências públicas, um Seminário Internacional sobre
Escolas de Tempo Integral e quatro visitas técnicas para conhecer as experiências
exitosas em Escolas de Tempo Integral do município de Canela/RS, Lucas do Rio
Verde no Mato Grosso, Montevidéu no Uruguai e Palmeira das Missões.
A Comissão também contou com Grupo Técnico de Trabalho – GTT,
que se reuniu ao longo dos quatro meses de trabalho, pesquisou e debateu sobre a
temática das escolas de tempo integral, abordando seus diversos aspectos –
ampliação do tempo e espaço escolar, planejamento pedagógico, formação dos
professores em tempo integral, gestão de recursos, currículo, avaliação e
envolvimento da comunidade escolar.
Segundo a presidente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, art. 34, § 2º) dispõe que o
ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério
dos sistemas de ensino. O Plano Nacional de Educação também prevê a ampliação
progressiva da jornada escolar, visando expandir a escola de tempo integral, que
abranja um período de pelo menos sete horas diárias, com previsão de professores
e funcionários em número suficiente. Cabe ao parlamento fiscalizar que as leis
sejam cumpridas. Através do trabalho da Comissão faremos um retrato da situação
atual da educação em tempo integral no nosso Estado.
Com a Lei 14.461/2014, nosso Estado inova e avança nesta matéria,
pois as escolas de tempo integral deixam de ser programas de governo e se tornam
um programa de Estado. O trabalho da Comissão Especial visa debater com a
população e comunidade escolar propostas para a implementação deste programa.
É preciso entender com que objetivo se busca a ampliação da jornada
escolar: a melhoria do ensino-aprendizagem e/ou a proteção contra as
vulnerabilidades sociais. As escolas de tempo integral, muito além da visão de
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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inclusão e combate à desigualdade educacional e social, devem ser escolas de
educação de excelência para todos, de formação da cidadania, de fortalecimento da
democracia e a base para um país socialmente desenvolvido.
A pesquisa realizada pelo economista Marcelo Neri, na Fundação
Getúlio Vargas, disponível na internet1, demonstra que há uma relação direta entre o
resultado educacional e maior permanência na escola; e a pesquisa realizada pela
Professara Célia Lessa, do Ciência Hoje2, demonstra que o aumento da jornada
escolar tem a capacidade de diminuir o impacto da desigualdade social no
aprendizado dos alunos.
1.1 REUNIÕES
No dia 27 de novembro de 2013, na sala Alberto Pasqualini, a
deputada Juliana Brizola presidiu a primeira reunião da Comissão, na presença dos
Deputados Marisa Formolo, Dr. Basegio, Giovani Feltes, Zila Breitenbach, Frederico
Antunes e Miriam Marroni.
Na reunião foi apresentada a proposta de Plano de Trabalho da
Comissão que contém uma síntese histórica da trajetória das escolas de tempo
integral, a legislação pertinente e o diagnóstico das Escolas participantes do Projeto
de Tempo Integral, ora em curso no Estado. O plano de trabalho está disponível na
página da Comissão.3
Nas deliberações foram aprovadas a realização de audiências públicas
em Porto Alegre e Canela, viagens para visitas técnicas ao Uruguai, Lucas do Rio
Verde no Mato Grosso e Seminário Internacional para Tratar das Escolas de Tempo
Integral.
Nesta reunião também foi escolhida a deputada Marisa Formolo como
Vice-Presidente da Comissão e o Deputado Jurandir Maciel como Relator. Em 21 de
1 Disponível em: <http//:www.fgv.br/cps/tpe>. Consultado em 04 de abril de 2014. 2 Disponível em:<http//:www.proac.uff.br/cede/sites/default/files/TD005_1.pdf>. Consultado em 04 de abril de 2014. 3 Disponível em: < http://www.al.rs.gov.br/legislativo/Comissoes/tabid/328/IdComissao/350/vw/pub/Default.aspx>. Consultado em 04.04.2014.
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março de 2014, o Deputado Jurandir Maciel voltou para a suplência, com o retorno
do titular Deputado Luis Augusto Lara, que deu continuidade ao trabalho de relatoria.
Foram realizadas mais três reuniões para dar andamento aos trabalhos e aprovação
do relatório.
1.2 AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
No dia 02 de dezembro de 2013, na sala Alberto Pasqualini, foi
realizada a primeira audiência pública para tratar de Escolas de Tempo Integral, para
ouvir os diretores das Escolas de Tempo Integral.
No dia 04 de abril de 2014, foi realizada a segunda audiência pública
em Canela, para conhecer a experiência da Escola Estadual Neusa Mari Pacheco –
CIEP Canelinha, que há 20 anos trabalha em tempo integral e é reconhecida como
uma das melhores escolas do Brasil.
A primeira audiência foi presidida pela deputada Juliana Brizola e teve
os seguintes participantes:
Deputado Frederico Antunes;
Professora Rosa Mosna, Diretora Adjunta do Departamento
Pedagógico da Seduc/RS, representando o Secretário da Educação, Jose Clovis de
Azevedo;
Professora Inês Wunch, assessora do Conselho Estadual de
Educação;
Professora Patrícia Prado Bonesso, Diretora do Ciep Presidente João
Goulart de Palmeira das Missões;
Professora Katia Bueno Lander, Diretora da Escola Oscar Schmidt;
Professor Vanderlei Teixeira Cardoso, Diretor da Escola São Caetano;
Samuel da Silva Borges, Diretor da Escola Ivo Boeller;
Ivete T. S. Correa, Secretária Municipal de Educação de Santa Rosa;
Inicialmente falou a professora Rosa Mosna, representando a Seduc.
Em síntese, os programas hoje em andamento no Estado são dois: O primeiro é o
Programa Mais Educação do governo federal - PME de ampliação de jornada
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escolar para sete ou mais horas, sendo um programa indutor da escola de tempo
integral, que beneficia escolas que foram contempladas com o PDE/Escola e que
possuam o Ideb abaixo ou igual a 4,2 nas séries iniciais e/ou 3,8 nas séries finais;
escolas localizadas nos territórios prioritários do Plano Brasil Sem Miséria; escolas
com índices igual ou superior a 50% de estudantes participantes do programa Bolsa
Família; escolas que participam do Programa Escola Aberta; escolas do campo.
Hoje beneficia mais de 50 mil estudantes gaúchos em 1000 escolas, com repasse
anual de R$ 72.000,00 para cada escola.
O segundo, é o Programa Escola de Tempo Integral, executado com
recursos do Governo do Estado, que busca oportunidades de aprendizagem através
de atividades complementares que dialogam com os projetos político pedagógicos
de cada estabelecimento, com aumento no período de permanência para, no
mínimo, sete horas diárias, proporcionando uma formação integral, em que o
estudante é sujeito de sua aprendizagem. Os critérios para seleção das unidades
escolares: escolas com estrutura física de Ciep ou Caic; baixo Ideb; alto índice de
evasão escolar e repetência; defasagem idade/série; vulnerabilidade social; escolas
com mais de 50% de estudantes no Programa Bolsa Família. São 51 Escolas
Estaduais que atendem mais de 20.000 alunos em tempo integral, conforme
listagem anexa.4 Os programas Mais Educação e Escola de Tempo Integral podem
acontecer de forma concomitante nas escolas.
A representante do Conselho Estadual de Educação, Inês Wunch,
disse que as Diretrizes Curriculares Nacionais5 e a LDB preveem a ampliação da
jornada escolar da educação básica para no mínimo 7 horas diárias. O Conselho
Estadual de Educação está escrevendo as novas diretrizes para a educação básica
no Estado, onde a regulamentação das escolas de tempo integral deverá ser
considerada.
4 Este dado foi atualizado em 06-04-2014 pela SEDUC; 5 Disponível em: < portal.mec.gov.br/index.php? option=com_docman&task.>. Consultado em 05 de abril de 2014.
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A professora Patrícia Prado Bonesso é diretora do Ciep - Escola
Estadual João Goulart em Palmeira das Missões. A diretora mostrou que sua escola
tem atendimento em tempo integral para todos ao alunos até o 9º ano. O Ciep se
localiza numa região muito pobre, com grande índice de usuários de Crack e fluxo
de emigrantes. A escola é o diferencial para a comunidade e para as crianças e
funciona das 7 horas às 18 horas. Dentre as dificuldades, falou da incompreensão
das autoridades para o que é uma escola de tempo integral e suas demandas. Os
professores tem de ser de 40 horas e devem ter todas as suas horas consideradas
como de aula, pois muitas vezes acompanham os alunos no almoço ou em outras
atividades como oficinas e na biblioteca, e estas atividades não são consideradas na
hora da aposentadoria. A escola também participa do Programa Mais Educação, que
se tornou um reforço financeiro. Porém é um programa engessado, que paga R$
60,00 por turma para cada monitor, e não paga professores. Deixar as crianças ao
cuidado de monitores e voluntários não é a melhor forma de educação em tempo
integral. Os monitores não tem vínculo com a escola, além de serem mão de obra
barata, que precariza ainda mais a remuneração dos educadores.
A presidente concordou que é importante ampliar as escolas de tempo
integral, mas acredita que as escolas existentes devem ser mais apoiadas. Hoje são
29 escolas que atendem em tempo integral. A comunidade escolar quer o tempo
integral, por isso as escolas tem que ser mais valorizadas. O objetivo desta
Comissão á ampliar este projeto para que se torne um programa de Estado, para
que não mude a cada troca do governante.
A Diretora Kátia Bueno Laner trouxe a contribuição da Escola Estadual
Oscar Schmidt de Porto Alegre, que atende a comunidade da Ilha das Flores, Ilha
Grande dos Marinheiros e Ilha do Pavão, na sua grande maioria de papeleiros, a
região mais pobre do OP, com problemas de enchentes e uso de drogas. A escola é
essencial para a comunidade, e tem que ser em tempo integral. As crianças são
maravilhosas, se contentam com tudo, pois moram em casas que não tem nem água
encanada. Quando entram na escola, tem que aprender a usar o banheiro, hábitos
de higiene, etc. Para elas o cuidado e a alimentação são essenciais. Disse que o
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desafio são as enchentes, a precariedade das instalações físicas, a falta de
recursos, pois são três enchentes por ano, e para a limpeza e concertos, não vem
dinheiro a mais. A comunidade é pobre e ainda assim ajuda a escola. Os
professores não estão preparados para dar aulas em comunidades tão pobres
assim, por isso precisa ter força e coragem para trabalhar em tempo integral com
falta de recursos e pouco preparo.
O Diretor Vanderlei Teixeira Cardoso dirige a Escola São Caetano, que
se localiza na periferia de Porto Alegre. Não basta ter o turno integral, tem que haver
investimento. Na escola que dirige, com a falta de recursos e falta de tudo, os
professores fazem o possível. A escola de tempo integral com poucos recursos pode
se tornar pior do que a escola tradicional. Ampliar o tempo requer ampliação de
recursos. O que fazer com poucos recursos para manter uma criança o dia todo na
escola? O pouco que o professor ganha não pode ser desembolsado para comprar
materiais, mas isto acontece. As coisas no turno integral são muito intensas, exigem
dedicação, professores preparados e motivados. Enquanto o governo não organizar
mesmo a escola de tempo integral, melhorando as existentes, não adianta criar mais
escolas. Por que os oficineiros ganham tão mal? Quem hoje trabalha ganhando R$
60,00 por turma? O Programa Mais Educação coloca mais dinheiro nas escolas, e
ajuda as que já são de tempo integral, mas o projeto pedagógico não é bom.
O professor Samuel da Silva Borges dirige a Escola Ivo Boeller em
Monte Negro. Disse que na sua escola os professores não estão preparados para
trabalhar em tempo integral, com alunos e comunidades carentes. Por outro lado,
sua comunidade não apoia o tempo integral. Os alunos não querem vir para a
escola, preferem ficar na rua, pois a escola ainda não é um espaço prazeroso. Está
faltando qualificação dos professores e falta material para tornar as escolas
atrativas.
A presidente concordou que a ampliação sem qualidade não poderá
acontecer, por isso quanto mais conseguirmos envolver as pessoas e mobilizar, será
melhor. Queremos o tempo integral que garanta o atendimento integral das crianças
e a qualidade da educação no nosso estado.
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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A secretária municipal de educação de Santa Rosa Ivete T. S. Correa
solicitou informações sobre o apoio do Programa Mais Educação - PME às escolas
de tempo integral. Disse que sua cidade tem pleno emprego, e as famílias precisam
que seus filhos permaneçam na escola em tempo integral. As dúvidas são: Por que
não posso colocar o professor para dar aula nas oficinas do PME? São aulas que
ficam desqualificadas – que só podem ser ministradas por estagiários ou oficineiros.
Gostaria de compreender melhor como se dá o turno integral e o Programa Mais
Educação de forma concomitante? O dinheiro deveria vir para a escola pagar
professores e para qualificar a aprendizagem. Reconheceu os avanços do PME,
mas tem que melhorar o financiamento da parte pedagógica. Disse que as escolas
precisam de estrutura para serem de tempo integral. Na rede de Santa Rosa, o
currículo tem disciplinas integradas, não separa aulas de disciplina num turno e
oficinas em outro.
O deputado Frederico Antunes destacou a importância da educação
integral, onde a melhoria da remuneração do professor fará a diferença. O
depoimento dos diretores e educadores é muito importante, pois mostra a paixão e
garra que tem que ter para trabalhar com educação em tempo integral. A questão do
ranking no Brasil, mostra que estamos abaixo da média, quando avaliamos os
alunos egressos do nosso sistema educacional. Falou do PL 302/2013 que implanta
as escolas de tempo integral e da necessidade de regulamentação do projeto.
A presidente considerou importantes as contribuições da representante
da Seduc e dos Diretores das Escolas de Tempo Integral, pois foi possível fazermos
um diagnóstico mais real das verdadeiras condições das escolas de tempo integral
que existem hoje no Estado. Disse também que o diagnóstico seria parte do relatório
da Comissão. Para que uma política pública aconteça de verdade, é preciso que os
governantes acreditem nela, por isso, para que as escolas de tempo integral tenham
sucesso, é preciso investimentos, um modelo curricular que tenha a escola e o
professor como centro do processo educativo, professores valorizados e formados
para o trabalho em escolas de tempo integral e escolas bem equipadas para
atenderem os alunos.
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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Por fim, a presidente agradeceu pela colaboração dos diretores das
Escolas de Tempo Integral com o trabalho da Comissão e disse que as
reivindicações quanto à formação dos professores, ampliação dos recursos
financeiros, melhoria das estruturas físicas e sugestões para o aperfeiçoamento do
PME seriam incluídas nas recomendações, que serão enviadas à Seduc.
Não existe nenhum milagre que não seja o trabalho
A segunda audiência pública foi realizada no dia 04 de abril de 2014
para conhecer a experiência da Escola Estadual Neusa Mari Pacheco – CIEP
Canelinha em Canela.
A audiência foi aberta com música e dança. O maestro Rogério Heurich
regeu a orquestra, composta por alunos, que mostraram que música na escola
requer talento e tempo. A música, o maestro e seus alunos deram a tônica da
audiência, haveria emoção.
A audiência foi presidida pela deputada Juliana Brizola e contou com a
participação dos seguintes convidados:
Professor Márcio Gallas Boelter, Diretor da Escola ENMP;
Professor Constantino Orsolim, ex-prefeito de Canela e ex-diretor
ENMP;
José Velinho Pinto, ex-prefeito de Canela;
Neusa Krummenauer Dossin, Secretária de Educação de Canela;
Marléa Ramos Alves, Secretária de Educação de Caxias do Sul;
Claudete Hermínia Piccoli, Coordenadora da 4ª CRE.
Antes mesmo do início da audiência, os participantes puderam ver
como funciona uma escola de tempo integral. A vice-diretora Sandra Schafer Silva,
alunos, professores e pais do Círculo de Pais e Mestres, estavam participando de
um mutirão que acontece mensalmente para limpeza da escola. A limpeza envolve o
chão, as classes, cadeiras, e todas as dependências da escola. Parecia que todos
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estavam limpando a sua casa. Os participantes de audiência foram recebidos em um
auditório organizado pelos alunos, professores e servidores da escola.
A deputada disse que quando visita uma escola de tempo integral
como a ENMP, acredita que as mudanças na legislação que agora regulamentam as
escolas de tempo integral no Estado, estão no caminho certo, pois todas as crianças
tem direito de estudar numa escola que tem o trabalho que esta escola tem.
O primeiro participante a falar foi o diretor da escola, professor Márcio
Gallas Boelter. O Diretor disse que no chão de uma escola de tempo integral existe
um espírito que sustenta todas as atividades, é uma ideia, e esta ideia é acreditar
que todos tem potencialidades que podem ser despertadas quando são envolvidos
pelo entusiasmo de aprender, participar e ser. Está ideia de oportunidades iguais
para todos, tem que ser sustentada por muito trabalho e organização. Muitos se
dizem a favor da educação, mas acham a escola de tempo integral muito cara, como
se não valesse a pena uma sociedade construir e manter escolas como esta.
A Secretária Municipal de Educação de Canela, Neusa Krummenauer
Dossin, disse que também o município está acreditando nas escolas de tempo
integral e já tem duas funcionando, com projeto de implantação de mais três escolas.
Em Canela muitos pais trabalham e preferem deixar suas crianças em uma escola
de tempo integral. Canela é conhecida por suas belezas naturais, por sua Catedral e
pelo turismo. Mas em Canela também existe outra joia que é a riqueza do CIEP
Canelinha, que já foi muito premiada pelo trabalho incrível que é realizado.
A seguir falou o ex-prefeito e ex-diretor da ENMP – Constantino. O
professor lembrou-se dos 100 anos que a escola completou, 20 deles em tempo
integral. O Ciep foi construído em 1994, no governo de Alceu Collares. Trabalhar e
estudar numa escola de tempo integral é sofrimento e libertação. As pessoas ficam
mais inteligentes e exigentes. Este projeto quando foi implantado no Rio de Janeiro,
eram centenas de escolas, umas davam certo e as outras não. Darcy Ribeiro
pesquisou e descobriu que os melhores Cieps eram aqueles em que o Diretor
acreditava na proposta, acompanhado pela equipe de professores. Eles é que
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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faziam acontecer a escola de tempo integral. Onde isto não acontecia, a proposta
fracassava, por que era nova, trabalhosa e exigia iniciativa.
Fatores de sucesso da escola de tempo integral: gestão e professores
trabalhando em equipe e acreditando na proposta; cada escola tem que ter seu
projeto pedagógico; professor da escola e não de matéria a ou b e com 40 horas;
escola integral para todos os alunos, senão vira duas escolas e uma atrapalha a
outra; não pode ser oficina, tem que ser disciplina curricular e com professor, o resto
é engodo; quem não acredita neste projeto tem que pesquisar o que era o Bairro
Canelinha em Canela, o que era esta escola e como este projeto de tempo integral
mudou tudo isto. Para conseguir tudo isto, foi preciso ação, trabalho, luta e disputa
com quem não tinha a clareza do que a educação integral pode fazer na vida de
uma criança; não acredito em trabalho voluntário e oficina na escola; acredito em
participação da comunidade, CPM atuante; atividades culturais; mas as aulas, seja o
esporte, música, teatro, tem que ser ministradas por professores que tenham vínculo
com a escola; os oficineiros entram e saem e não ficam na escola.
A secretária Municipal de Caxias do Sul, Marléa Ramos Alves falou que
no seu município também está sendo implantada a escola de tempo integral na rede
municipal. Acredita que isto é irreversível e nunca deveria ter parado. Nossas
escolas estaduais poderiam todas ser como a NMP se o projeto do governo
Collares, que construiu mais de 100 escolas de tempo integral entre 91 e 94, tivesse
continuado. A falta de continuidade se reflete nas escolas sem estrutura física e que
lutam com dificuldades para garantir uma educação de qualidade para os alunos.
Também enfatizou a necessidade da esfera municipal e estadual trabalharem em
regime de colaboração para atender as demandas que se ampliam.
A seguir falou a Coordenadora da 4ª CRE – professora Claudete Picolli
– A coordenadora falou dos investimentos que o estado está fazendo na ampliação
das escolas de tempo integral, com ampliação para 51 escolas; da realização de
dois concursos para professores e que hoje não faltam professores no Estado; que
acredita em professor concursado e de 40 horas que seja da escola; do grande
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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orgulho que a 4ª Região tem por ter uma escola como o Ciep Canelinha, que é
exemplo para todas as escolas do estado e do país. Falou da limpeza da escola, dos
baixos índices de reprovação e evasão, dos bons índices no Ideb, e na diferença
que esta escola faz para sua comunidade. Houve uma transformação no entorno da
escola, que era violenta e hoje é um bairro próspero de Canela. Também elogiou a
comunidade pela intensa participação.
O ex-prefeito de Canela, José Velinho Pinto, lembrou que a construção
do Ciep se deu na sua administração em 1994, no governo Collares. Disse que a
bandeira da educação era a mais importante para Leonel Brizola, pois todos sabem
a mudança que sua administração, nos anos 60, representou neste Estado. Foram
construídas mais de seis mil escolas e muitos, que aqui estão e são professores,
estudaram nestas escolas. Com tamanho impulso o Rio Grande do Sul passou ao
topo, como melhor sistema educacional. Hoje não é mais assim, por que as escolas
e a educação perderam muito da sua qualidade. Mas por que esta escola
permaneceu sendo de tempo integral, passadas quatro diferentes administrações
estaduais? Os governos queriam acabar com os Cieps, pois é uma escola mais
cara, então não precisa extinguir, é só não mandar recursos. Mas aqui em Canela a
comunidade não deixou que isto acontecesse. Lutou e luta até hoje, pois a cada
governo tem que explicar por que se quer uma escola de tempo integral. A cidade
quer o Ciep, tanto que existem 500 crianças e jovens aguardando vaga para estudar
nesta escola.
Na sequência, o Diretor Márcio apresentou dois vídeos, mostrando as
atividades da escola quando da comemoração dos 100 anos e também por ter
recebido, em 2010, o prêmio de melhor escola pública do país. Para entender qual é
o segredo desta escola, foram ouvidos ex-alunos, professores e ex-diretores, pais,
servidores, autoridades. Todos, em seus depoimentos, falaram que tinham boas
lembranças e um sentimento bom ao recordarem da escola. Destes depoimentos
surgiu o novo selo, que é um coração. Coração de coragem de se expor e lutar pela
verdade em que acredita, por uma ideia, a ideia de que as limitações materiais
podem ser supridas quando todos acreditam e lutam juntos, e que lutar por uma
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22
escola é uma boa luta. Esta coragem de lutar por uma verdade em que se acredita,
é o amor que esta comunidade tem pela escola. Por isso o coração, pois tudo se
traduz em um sentimento de amor pelos alunos, pela educação e pela escola. O
vídeo mostra os estudos, a biblioteca, a quadra de esportes, o auditório, salas de
aula, piscina, as plantações e criação de animais que tem na escola. Todas as
imagens estão repletas de crianças lendo, estudando, escrevendo, jogando,
brincando, trabalhando, fazendo experiências, etc. São imagens de vida,
crescimento e entusiasmo.
A seguir a presidente passou a palavra para os participantes. O
vereador Carlão de Canela – disse que aprendeu a ler e escrever numa Brizoleta
(escolas construídas na década de 60 na administração de Leonel Brizola). Todos
que estamos aqui tivemos nossas famílias e a escola como base da nossa
formação, cuidado, valores, conhecimento e crescimento. Por isso os professores,
que tem a missão de formar os cidadãos, deveriam ser tão valorizados quanto os
demais profissionais.
A professora e ex-diretora Vera Moraes, trabalhou 20 anos no CIEP
Canelinha, desde a implantação do turno integral. Não existe nenhum milagre que
não seja o trabalho. Hoje as escolas de tempo integral estão recebendo apoio, mas
nem sempre foi assim. Nestes 20 anos foi preciso muita perseverança e luta para
que esta escola continuasse sendo de tempo integral. Os mandatários defendem a
educação, mas esta escola está de pé pela luta da sua comunidade, do contrário ela
seria outra coisa, uma escola sem identidade, sem carisma, sem sonho. Esta é uma
educação para valentes. Não é um faz de conta, aqui tudo é três vezes mais: mais
estudo, mais preparo de aulas, alunos muito mais atuantes, mais gastos, melhores
resultados. O Canelinha não nasceu assim, é preciso ser professor e administrar
esta escola para entender como isto tudo foi possível. Aqui nós defendemos o
território da escola, os professores, os alunos. Hoje, com a lei aprovada pela
deputada Juliana Brizola, não vai ser preciso explicar aos governantes o que é uma
escola de tempo integral. Por que antes precisava. Tinha que convencer o Secretário
de Educação de que esta escola precisa de mais recursos, professores, atenção.
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Bateram muito nesta escola, isto foi bom, assim ficamos mais fortes e continuamos
de pé.
Itamar de Leon, vereador de São Francisco de Paula, disse que a
educação é a salvação do país. Hoje se fala muito em segurança, por falta de
escolas como esta é que temos problemas de segurança. As escolas de tempo
integral melhoram a educação e previnem o uso de drogas e o delinquência juvenil.
O diretor Márcio explicou que o custo anual do aluno é de R$ 2.800,00,
menos de R$ 300,00 por mês, sem a folha de pagamento dos professores. Este
custo é mantido com recursos do estado – 66% e 36% com recursos da
comunidade. O CPM da escola arrecadou R$ 500.000,00 em 2013. Com isto é
possível manter as 808 refeições diárias, a limpeza, os materiais de estudo, a
piscina térmica, os equipamentos para esporte, etc. O Programa Mais Educação
financia R$ 72.000,00 por ano das atividades da escola.
O vereador Roberto Danani integra o CPM e foi aluno da escola. Falou
da escola aberta aos finais de semana. A comunidade pode usar a escola. Aqui são
realizados projetos de esporte e cultura para que os jovens tenham oportunidades
de escolha. Com emoção falou do seu amor por esta escola e tudo o que ela
representa na vida das crianças e jovens.
A professora Neida da Escola Boa Ventura Ramos Pacheco falou do
sonho de que sua escola também tenha a estrutura de uma escola de tempo integral
para atender melhor seus alunos.
Carla Andréia Silva, presidente do CPM, falou do orgulho de fazer parte
da história da escola. A comunidade protege a escola, defende seus professores
que são os grandes mestres e artistas disto tudo. Nossos filhos só serão cidadãos se
tiverem bons mestres e educadores.
Diversos diretores de escolas manifestaram o interesse no turno
integral nas suas escolas. É o desejo dos pais e alunos que as escolas sejam de
tempo integral.
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Em considerações finais, a deputada Juliana Brizola falou da emoção
de novamente ver o exemplo bem sucedido desta escola de tempo integral, da
trajetória de luta da comunidade e da qualidade de educação que aqui é feita. As
autoridades presentes, os professores, diretores, pais e alunos são unânimes em
reconhecer os méritos que o tempo integral tem no processo de aprendizagem. Por
isso lutamos pela regulamentação das escolas de tempo integral e conseguimos
aprovar a lei que às institui no Estado. Espero que a lei se transforme em vontade
política do governo, com a implementação de um programa de escolas de tempo
integral.
1.3 VISITAS TÉCNICAS
Escuelas de Tiempo Completo
A visita às escolas de tempo completo no Uruguai foi realizada nos dias
7 e 8 de fevereiro pela assessoria técnica, com o objetivo de conhecer a proposta
pedagógica, projeto arquitetônico, o impacto na comunidade e avaliação.
Estiveram presentes o Chefe de Gabinete, Luis Afonso Escobar
Medeiros, a Mestre Coordenadora das Escolas de Tempo Completo, Virginia Tort e
professores uruguaios. A professora Virginia Tort relatou que o governo Uruguaio
buscou a experiência brasileira para implantar a educação integral.
No Uruguai, seguindo o modelo criado por Leonel Brizola e Darcy
Ribeiro, o presidente Pepe Mujica adotou a proposta pedagógica denominada
Escuelas de Tiempo Completo. Lá, o modelo foi implantado buscando reduzir as
disparidades sociais. O projeto, iniciado em 2005, em cinco anos avançou em 14%
das escolas de educação básica.
Com a visita foi possível entender que no vizinho Uruguai investe-se na
educação pública, enfrentando os desafios do século 21 e assumindo o desafio de
avançar com a educação inclusiva e de qualidade para todos, conforme as
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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orientações de políticas educacionais do Conselho de Educação Inicial e Primária da
Administração Nacional de Educação Pública.
Lá as escolas são consideradas as joias do bairro, o orgulho de pais e
professores. Mas acima de tudo, a alegria de milhares de crianças, que encontram
na escola um lugar diferente daquele que muitas vezes estão acostumadas a ver em
suas vidas diárias. As escolas de tempo integral são um investimento educacional e
social. O projeto prevê além da proposta de ampliação de carga horária, a
preparação de professores e construção, reabilitação e conversão dos
equipamentos dessas escolas.
Uruguai em números: 2.051 escolas do país: 1111rurais e 940 urbanas;
- 18.000 professores e 1.050 Professores de Educação Física. Quanto ao tempo:
das 940 escolas urbanas - 200 são em tempo integral e 40 são de jornada ampliada;
60 são Jardins de tempo integral; nas 197 escolas de tempo integral estão
matriculados cerca de 40.400 alunos, dos 350 mil do país num percentual de 14%.
As Escolas de Tempo Inteiro tem uma das menores taxas de
repetência e absenteísmo do país. Do ponto de vista da experiência, o importante é
a nossa maneira de exposição, com tudo o que isto tem de vulnerabilidade e risco.
Por isso, é incapaz de experiência quem define, quem se opõe, quem impõe e quem
propõe, mas não se expõe.
Uma escola com mais tempo para todos envolve: todos os alunos,
professores, funcionários, famílias, gestão, supervisão e comunidade; não só mais
tempo, mas como este tempo se potencializa para oferecer experiência e gerar
aprendizagem para todos; mais tempo permite a revisão e serenidade e pensar
sobre cada um de seus espaços como espaços educativos; uma escola que oferece
um tempo e um espaço organizado, como primeiro espaço público experimentado
pelo aluno.
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Programa Ser Integral
Nos dias 12 e 13 de março, a deputada Juliana Brizola, acompanhada
de assessores, visitou a cidade de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, para
conhecer as escolas de tempo integral do município e o projeto “Educação Integral:
Programa Ser Integral”. O objetivo geral do programa é proporcionar aos alunos uma
Educação Integral em jornada ampliada, de modo que as atividades educativas
promovam seu desenvolvimento através de eixos estruturantes como: Promoção
Social e Cultural, Identidade Corporal e Formação do Saber, considerando
atividades socioeducativas que possam ir além da Base Comum Nacional.
Participaram da visita às escolas, o prefeito municipal, Otaviano Pivetta, a secretária
de Educação, Elaine Benetti Lovatel, o secretário de Esporte e Lazer, Adão Brizolla,
e os vereadores Gilson Gregório e Pedro Góes.
O projeto implantado no início de 2013, inicialmente na Escola
Municipal Érico Veríssimo, a primeira a ser visitada, foi estendido ao final do mesmo
ano a outras quatro instituições.
Também foram visitadas as escolas Caminho para o Futuro e Menino
Deus, e o Parque Cultural. Neste local, vizinho a Escola Menino Deus, são
desenvolvidas atividades de promoção social e cultural, que englobam artesanato
popular, banda fanfarra, canto coral, capoeira, danças, desenho, ensino coletivo de
cordas, hip hop, iniciação musical por meio da flauta doce, percussão, pintura,
práticas circenses e teatro.
No Parque Cultural, a comitiva foi recebida pelo secretário municipal de
Cultura e Turismo, Fernando Pael, que ainda apresentou as atividades de identidade
cultural que incluem promoção a saúde, atletismo, basquete, futebol, futsal,
handebol, voleibol, natação, tênis de mesa, artes marciais, ginástica rítmica,
recreação e lazer, brinquedoteca e yoga/meditação.
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Um dos pontos fortes do programa é a integração dos diferentes
órgãos da administração municipal (gabinete do prefeito, secretarias de educação,
saúde, esporte, cultura), a participação da comunidade, professores, pais e alunos.
Conforme colocou a secretária de educação, Eliane Benetti Lovatel: “É
um orgulho para nós do município saber que as nossas preocupações diárias,
planejamento e ações têm dado resultado e têm sido reconhecidas, não somente em
Lucas do Rio Verde, mas por outras regiões e estados. Ver o encantamento deles
com o programa e com a educação de Lucas do Rio Verde é gratificante”.
O Programa Ser Integral atende mais de 1000 alunos, que recebem no
eixo Formação do Saber, oportunidades de estudo monitorado, matemática,
tecnologias educacionais, leitura, produção textual, jogos intelectuais e iniciação
científica.
Após um ano de implantação e avaliação na Escola Municipal Érico
Veríssimo, e constatados os resultados positivos de melhoria do aprendizado, menor
evasão e repetência, o programa foi ampliado para mais quatro escolas:
A Escola Caminho para o Futuro, que compõe anos iniciais do ensino
fundamental, localizada no bairro Jardim das Palmeiras; A Escola Bernardo
Guimarães, no Campinho Verde, Escola Fredolino Vieira Barros, na Groslândia e a
Escola São Cristóvão, na Comunidade São Cristóvão que compõem educação
infantil, anos iniciais e anos finais.
Ao final da visita técnica, a Deputada Juliana Brizola avaliou: Esse é o
futuro da educação pública no Brasil. Saio de Lucas do Rio Verde muito feliz,
entusiasmada e esperançosa porque aqui a gente vê que a integração de
secretarias dá certo, que não é só educação, mas envolve esporte e cultura. Não
basta uma secretaria, um prefeito, um pai ou um aluno, e sim, o conjunto de toda
comunidade escolar e de todos que acreditam que a educação é a única forma de
libertar o povo. Precisamos acreditar que educação não é um gasto, e sim, um
investimento que a gente leva para a vida inteira. O tempo que a criança fica na
escola é muito importante, mas também é importante que esse tempo seja utilizado
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com atividades de qualidade. E o diferencial observado aqui é a dedicação e o
compromisso dos profissionais, desde secretários, professores e todas as pessoas
envolvidas nesse projeto, é isso que faz a diferença”, pontuou.
Em 2010, a Melhor Escola Pública do País
A Comissão visitou a Escola Estadual Neusa Mari Pacheco no dia 04 de abril.
Estiveram presentes na visita o atual diretor da escola, Márcio Boelter, dois ex-
diretores Vera Moraes e Constantino Orsolim, a deputada Juliana Brizola,
professores e assessores.
A Escola Neusa Mari Pacheco - CIEP está classificada entre as melhores do
Brasil. Trata-se de uma escola de Tempo Integral, localizada no município de Canela
que completou 101 anos em 06/03/2014, 20 destes anos de atendimento a crianças
e adolescentes em Tempo Integral, desde que se transformou em CIEP em março
de 1994.
Atualmente estão matriculados na Escola 1200 alunos, o corpo docente conta
com 81 professores e também contribuem para a manutenção da Escola, 18
funcionários.
A escola já recebeu inúmeras premiações como “Projeto Nota 10” da região,
“Destaque em Educação” promovido pela Universidade de Caxias do Sul; Destaque
em Educação na Gestão Pública conferido pelo Conselho Nacional de Secretarias
Estaduais – CONSED – Brasília, dentre outros. Também foi vencedora do Prêmio
Sesi de Qualidade na Educação em sua última edição, na categoria Melhor Escola
Pública do Brasil. Na avaliação foram analisados o ambiente escolar, os resultados
da aprendizagem, a gestão escolar e a prática pedagógica, com consultas aos pais,
alunos, funcionários e professores.
As aulas de Ecologia e Agricultura são destaques importantes no Projeto da
Escola e acontecem em dois Centros – Agrícola e Ecológico que estão localizados
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no na zona rural de Canela, que qualificam a escola e ratificam o destaque nacional.
As constantes premiações são apontadas pela gestão da Escola como o resultado
de anos de gestão em disciplina e investimento sério em educação e ensino público
de qualidade. Outro destaque é a biblioteca da escola, que é muito utilizada por
professores e alunos.
Os alunos, desde Ensino Fundamental até o Ensino Médio, respondem aos
programas da escola com participação e aprovação. Desde 1994, quando o turno
integral foi implantado, a evasão caiu de 34% para menos de 2% em 2013, e a
repetência despencou de 28% a 2,1% em 20 anos.
Apesar de possuir esse quadro de excelentes referências, a Escola ainda
lança grandes desafios. O principal deles é manter baixos e até eliminar a repetência
e a evasão dos alunos, além de criar mais opções aos novos alunos, superando os
desafios e encontrando as soluções a partir de sua realidade, preservando a
autonomia e integração com a comunidade.
A escola está situada num bairro da periferia do município, denominado Bairro
Canelinha. A grande maioria dos moradores são emigrantes da região serrana. A
renda familiar ainda é baixa e poucos tem ensino médio completo.
A escola NMP tem, no transcurso de sua história de trabalho educativo,
muitas lutas e conquistas. A mobilização da comunidade, suas assembleias anuais
para eleger as prioridades do Bairro do Canelinha, foram as sementes iniciais para
desenvolverem uma consciência crítica sobre a sua realidade e de modo a
realimentar constantemente esse saber. Esse caminhar foi se solidificando no
transcorrer dessa experiência, em que um saber pôde ser ampliado com a
comunidade circundante, na construção de uma experiência própria. Própria em
relação a essa realidade em particular, sem desconsiderar suas relações com as
instituições municipais, estaduais e federais.
A grande conquista da escola NMP é a parceria alcançada com a sua
comunidade. Entre os vários fatores que permitiram tal conquista, podemos destacar
alguns, tais como: a criação dos conselhos internos da escola e, por fim como do
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Conselho Técnico Administrativo e Pedagógico e Financeiro. Podemos de fato
pensar numa proposta que foi se desenvolvendo no espaço e no tempo, não apenas
em bases epistemológicas ou segundo reformas advindas de fora. As instâncias
deliberativas, em seus espaços de discussão, propiciaram que a comunidade
escolar envolvida pudesse se sentir participante de um processo o qual, mais que
ideológico, lhes proporcionasse sentirem-se cidadãos. Assim, podemos nomear
alguns espaços alternativos que foram surgindo no transcorrer desse processo de
um acontecer, tais como: festival de teatro, festival de danças, danças típicas da
região serrana, estação ecológica, estação agrícola, clube de ex-alunos, CPM,
turismo, línguas, Banda Marcial, entre outros.
O que nos interessa nesse relato é apontarmos para a proposta inovadora,
mas um inovador que não descarta sua anterioridade, que está sustentado numa
tradição que constrói uma experiência de acolhimento aos participantes dessa
comunidade.
Escola Aberta para a Cidadania
Também foi visitada a Escola Estadual de Ensino Fundamental
Presidente João Goulart - Ciep, situa-se à rua Richard Jones Soca, nº174, no Bairro
Mutião, em Palmeira das Missões. A escola oferece atendimento em Turno Integral
até o 9º ano.
Desde 2011 a Escola oferece o Programa Mais Educação com 7
oficinas: Natação, Violão, Ballet, Hip Hop, Tecnologia da Alfabetização, Vôlei,
Taekwondo, todas na escola. A natação é feita em uma academia.
Escola Aberta para a Cidadania. A Escola torna-se um espaço de
encontro para a comunidade com as oficinas oferecidas, integrando a comunidade e
escola, união perfeita para a educação de qualidade e reconhecimento educacional.
Por ser de Turno Integral, a escola oferece a seus alunos as refeições
básicas diárias, atendendo-os das 7 às 17.
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A comunidade tem baixa renda e grande analfabetismo funcional, com
pouco acesso à cultura. Muitos recebem ajuda do Programa Bolsa Família. As
famílias estão preocupadas com seu trabalho ou com a falta dele, deslocando-se
constantemente em busca de melhores oportunidades e melhoria de vida o que,
consequentemente, aumenta os níveis de evasão e repetência escolares. Outra
realidade bastante presente na comunidade é o trabalho infantil, o que intensifica os
problemas de frequência. Esta criança e adolescente que fica nas ruas, acaba à
mercê das drogas, prostituição e dinheiro fácil, o que os leva a cometer pequenos
furtos, marginalizando-os. Dessa forma, existem vários alunos em conflito com a Lei.
No entanto, percebe-se a preocupação dos pais com a aprendizagem e com o
tempo que seus filhos ficam na escola. A maior permanência na escola, evita que
seus filhos fiquem nas ruas a mercê da violência e da criminalidade. Portanto, é
necessário que se tenha um atendimento de qualidade, garantido por Lei e pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Tal preocupação dos pais tem sido
percebida durante a participação destes atividades desenvolvidas e nas reuniões
promovidas na escola, onde eles são ouvidos.
Além de educação de qualidade a escola oferece: alimentação
completa e adequada (no mínimo 04 refeições/dia); material de uso diário (caderno,
lápis, borracha, etc.); acesso à saúde; atuação do Conselho Tutelar; oficinas e
reforço escolar.
Escola Estadual de Ensino Médio Irany Jaime Farina de Erechim
A Assessoria técnica da comissão realizou visita técnica à escola Irany
Jaime Farina de Erechim, no dia 22 de março de 2014. A visita teve o objetivo de
conhecer a realidade atual de uma das 23 escolas estaduais, que foram escolhidas
pelo Governo do Estado para serem de tempo integral, visando concretizar a Lei nº
14.461/2014.
O Coordenador da Comissão, Marcos Bonorino, foi recebido pela
diretora da escola professora Neusa.
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A diretora informou que a escola integra o Programa Mais Educação –
PME, com carga horária de 8 horas, onde as atividades são adaptadas às
necessidades da comunidade.
Além das atividades do currículo básico, são oferecidas aulas de
música, atividades esportivas, salão de beleza, informática, dentre outras. A escola
também é aberta à comunidade, tendo grande participação de oficineiros que
ministram cursos de educação continuada, com participação de pais e alunos.
A escola está inserida em bairro da periferia de Erechim, com grande
participação da comunidade escolar. A escola mantém um diálogo constante com
pais e alunos sobre a importância do turno integral e forma de funcionamento. O
tempo integral é oferecido aos alunos mais carentes e em situação de
vulnerabilidade social.
Hoje a escola tem 300 alunos em tempo integral, que permanecem 8
horas diárias com atividades escolares, e fazem três refeições. Os empresários
locais auxiliam na complementação das despesas de manutenção dos projetos da
escola. O Ideb dos anos iniciais é de 5.5 e de 4.9 nos anos finais (5º ao 9º ano).
A escola foi escolhida para ser de Tempo Integral pois já tem proposta
político pedagógica de tempo integral sendo realizada.
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1.4 SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE ESCOLAS DE TEMPO
INTEGRAL
O Seminário Internacional sobre Escolas de Tempo Integral foi
realizado no dia 24 de março de 2014 no Teatro Dante Barone. O evento contou
com mais de 1400 inscritos e mais de 1200 participantes, dentre professores,
prefeitos, secretários, diretores, coordenadores, vereadores, estudantes e
comunidade em geral. Representações de mais de 200 municípios se fizeram
presentes no evento.
Os participantes puderam ouvir um pouco sobre a base histórica, social
e pedagógica das escolas de tempo integral. Também foram relatadas as
experiências do Uruguai e Portugal nesta área. Além destes aspectos mais teóricos,
ainda foi apresentado o momento atual das escolas de tempo integral no nosso
Estado, no Brasil e no mundo.
Após os painéis, foi realizado debate, onde os participantes puderam
externar suas opiniões e dúvidas sobre o tema. Ressalta-se a grande participação
do público nos debates.
Participaram da Mesa de Abertura, a presidente da Comissão Especial
para Tratar da Escola de Tempo Integral, deputada Juliana Brizola, representando
também o Presidente da Assembleia Legislativa, Deputado Gilmar Sossella; o
Secretário de Estado da Educação, professor Jose Clovis de Azevedo,
representando também o Governador do Estado, Dr. Tarso Genro; a ex-secretária
de Estado da Educação Neuza Canabarro; o Presidente de Honra da Internacional
dos Educadores Socialistas, professor Victor Manuel Caio Roque; a ex-diretora de
Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica do Ministério da
Educação, professora Jaqueline Moll; a ex-secretária de Educação do Rio de
Estado do Rio Grande do Sul
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34
Janeiro, professora Lia Faria e a Inspetora Coordenadora de Escuelas de Tiempo
Completo del CEIP-Uruguay, professora Virginia Tort. Também prestigiam este
encontro o Deputado Federal Vieira da Cunha, os Deputados Estaduais Raul Carrion
e Mano Changes; o ex-Secretário do Gabinete dos Prefeitos do Rio Grande do Sul,
Afonso Motta; prefeitos, Secretários Municipais e Vereadores.
A presidente da CEETI, deputada Juliana Brizola, afirmou que a escola
de tempo integral é um processo que rompe com a antiga forma de ofertar
conhecimento ao povo brasileiro, e este projeto não está dissociado da forma de
gerir o estado.
A proposta educacional do governo de Leonel Brizola foi uma clara
visão republicana de administrar o estado. Quando Leonel Brizola defendia políticas
de rompimento com os interesses internacionais, estava a nos dizer que a soberania
do Brasil está acima de tudo e que somente conseguiremos a nossa independência
e verdadeira soberania com fortes investimentos em educação e cultura e no
fortalecimento do indivíduo.
Defendeu que o fim último do estado é o bem comum, e somente com
a adoção de um projeto educacional inclusivo, que combata a desigualdade
educacional e social e melhore a qualidade da educação, será possível transformar
a realidade de exclusão e conflitos sociais hoje vividos no nosso país.
Este projeto, inovador e transformador, passa necessariamente pela
escola de tempo integral, aos moldes de Brizola e Darcy. Disse também que o papel
do professor será fundamental para conquistarmos esta escola republicana.
Enfatizou ainda a necessidade da carreira do magistério com salário condizente.
Não é possível manter ou atrair profissionais qualificados para a
educação sem a oferta de remuneração, carga horária e condições de trabalho e
materiais à altura. Ofertar condições e salários dignos para o magistério é uma
obrigação de qualquer agente político comprometido com a forma republicana de
governar.
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
35
A seguir falou o Secretário de Educação, José Clóvis de Azevedo,
fazendo uma retrospectiva da trajetória do antigo Partido Trabalhista Brasileiro, de
antes do golpe de 64. Disse que viveu intensamente aqueles momentos de
esperança de um Brasil novo, dos anos de 58, 59 até 64, época em que o Brasil
despontava com o Cinema Novo, a música popular brasileira, a Bossa Nova, os
círculos de cultura, o projeto de alfabetização de Paulo Freire, a Universidade de
Brasília, de Darcy Ribeiro, enfim, com a grande esperança e a euforia da
possibilidade de um Brasil novo, abortado pelo golpe militar de 1964, que
representou não só 25 anos de atraso, mas talvez um século de atraso para o Brasil.
Depois da abertura, no início dos anos 80, Brizola e Darcy Ribeiro
retomaram a preocupação com a educação nos seus projetos do Rio de Janeiro – e
retomaram de uma forma para além do seu tempo; daí a incompreensão que tiveram
esses projetos. Tudo que é para além do seu tempo, que abre espaço para que a
história se atualize, geralmente sofre muita resistência. Mas rompendo as
resistências é que se abrem os espaços para as mudanças necessárias.
As reformas educacionais são necessárias. Como dizia Darcy Ribeiro:
O Ciep não é invenção minha. O Primeiro Mundo já trabalhava desta forma. Isto que
foi realizado na década de 80, os Cieps e que não tiveram continuidade, agora
poderá ser realizado, pois já atingimos o direito básico de educação para todos,
agora esta educação tem que passar por uma transformação de espaços, tempos,
conceitos, gestão e principalmente pelo aporte de recursos financeiros suficientes
para sua melhoria.
O turno integral é uma política pública necessária, mas não pode se
fazer mais do mesmo. Por isso temos que ter um currículo, que repense a escola na
forma de ensinar, na forma de aprender e em que se articulem cultura, esporte e
lazer com o fazer pedagógico e cotidiano. O turno integral não pode ser uma escola
dual, que tenha um momento cognitivo e um momento de lazer e esporte. A escola
integral deve ter um processo articulado e integrado da ação de aprender. Cada
ação da escola tem de ser uma ação pedagógica, desde a aula de Matemática até a
atitude no refeitório, até a atitude com a produção do lixo, com a limpeza e a
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
36
organização do ambiente. A escola integral tem de ser, de fato, um novo modelo
pedagógico, um novo modelo de ensino e aprendizagem.
O estado conta com 51 escolas que funcionam em tempo integral. A
ampliação do tempo se dá com um projeto pedagógico novo, que deverá ter metas,
porque a escola integral tem de garantir a aprendizagem e a permanência de todos.
Não podemos ampliar o tempo do aluno na escola e ter os mesmos resultados da
escola tradicional.
A escola tem que garantir a aprendizagem. O objetivo da escola é
ensinar. Quando a escola não ensina, tem de ser avaliada a capacidade de ensinar
dos professores.
Quando as crianças não aprendem, há uma distorção, uma disfunção.
A responsabilidade pelo aprendizado não é só do aluno; é um conjunto de
responsabilidades do gestor público, do secretário da Educação, do diretor da escola
e do professor.
A lei, de autoria de deputada Juliana Brizola, estabelece que em 10
anos metade das nossas escolas devem ser escolas de tempo integral. Isto já está
sendo concretizado, com a ampliação neste ano para mais de 50 escolas em tempo
integral. Mais de 1000 escolas estaduais já estão trabalhando em jornada ampliada,
dentro do Programa Mais Educação - PME, onde são atendidas as crianças com
dificuldade de aprendizado, as crianças oriundas do programa Bolsa Família e
demais crianças que tem necessidade de permanecer o dia todo na escola. Também
está sendo preparado um grande número de escolas que no ano que vem devem
ser de tempo integral. A boa notícia é que a comunidade, as diretoras, os
professores e alunos destas escolas querem o tempo integral.
Isso é irreversível no Rio Grande do Sul, porque não é mais uma
vontade de governo. Pela nova legislação, proposta pela deputada, e aprovada na
Assembleia Legislativa, isso passa a ser uma política pública que vai transformar o
espaço criado pelo Mais Educação em Escolas de Tempo Integral. Esta é a meta –
primeiro implantar o turno integral nas escolas que já tem estrutura física – os Cieps
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
37
e Caics; depois as escolas que já trabalham com jornada ampliada dentro do
Programa Mais Educação, pois estas escolas tem Ideb baixo e muitos alunos
oriundos do Programa Bolsa Família, e avançando na proposta, todas as escolas
onde já existe a vontade de comunidade escolar de ter uma escola em tempo
integral. Para cumprir a meta de 50% estabelecida na lei, teremos mais de 1000
escolas de tempo integral em 10 anos.
A Experiência Gaúcha em Escola de Tempo Integral
Em seguida teve início o Primeiro Painel – A Experiência Gaúcha em
Escola de Tempo Integral, que foi coordenado pela Professora Tânia Maria Melatti,
secretária municipal de Educação do município de Fagundes Varela, e contou com
os painelistas:
Professora Neuza Canabarro, ex-secretária de Estado da Educação;
Professora Rosa Mosna, diretora adjunta do Departamento Pedagógico
da Secretaria Estadual de Educação;
Professora Rita Gattiboni, doutora em desenvolvimento pela Unisc.
A professora e Ex-secretária de Educação, Neuza Canabarro, fez uma
retrospectiva histórica sobre os Centros Integrados de Educação no Rio Grande do
Sul. Disse que na administração Collares, de 1985 a 1988, foram implantados 10
Centros Integrados de Educação Municipal em Porto Alegre - Ciem. Estas 10 novas
escolas foram construídas para atender as crianças da periferia, como política de
inclusão social e educacional.
Também na administração Collares, de 1991 a 1995, foram
implantados no Estado 94 Centros Integrados de Educação Pública – Ciep,
possibilitando o acesso de 112.800 alunos ao turno integral.
A definição da política estadual de educação do período 1991/94
aponta diretrizes que ressaltam a responsabilidade por uma prática educativa que
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
38
prioriza a educação da população de baixa renda, por entender ser essa uma das
poucas esperanças de mobilidade e transformação social das camadas populares.
Os beneficiados deste programa foram os alunos do ensino
fundamental, moradores de zonas periféricas urbanas e de grandes concentrações
junto aos polos industriais, com currículo voltado às suas necessidades; bem como
moradores de zonas rurais, onde não havia escolas com uma proposta voltada à
realidade do campo.
A proposta previa uma escola que assume como prioridade a educação
da população de baixa renda, respeitando suas peculiaridades e oferecendo, além
do ensino formal, áreas de lazer e recreação, atendimento médico, odontológico,
nutricional e psicológico, visando não só atender as solicitações dessa comunidade,
como desencadear uma verdadeira transformação no contexto educacional do
Estado.
A estrutura física de cada escola tinha 20 salas de aula; salas especiais
de música; brinquedos, audiovisual, informática, biblioteca bem equipada,
laboratório, gabinete médico e gabinete odontológico, sala de artes, sala de
esportes; ginásio coberto com capacidade para 800 pessoas, duas quadras de
esporte polivalentes, cozinha industrial, refeitório módulo de banheiros masculinos e
femininos em condições de oferecer banho diário.
Esta estrutura foi planejada para suprir as necessidades apontadas no
diagnóstico da rede pública do Rio Grande do Sul tais como: falta de recursos
didáticos; desvalorização da expressão criativa e do pensamento crítico; ambiente
pobre de estimulação com programas extensos e distantes da realidade do aluno;
desestrutura da organização familiar; insuficiência alimentar; ano letivo de curta
duração; baixa remuneração do magistério.
Dentre os aspectos positivos das Escolas de Tempo Integral destacou:
resgate da autoestima de todas as crianças; melhoria das condições de
aprendizado; sentimento de igualdade, menos preconceitos; os uniformes e material
escolar distribuídos aos alunos eliminavam as desigualdades e reforçavam a
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
39
identidade do grupo e pertencimento à escola; recuperação da saúde física;
interação da escola com as famílias; desenvolvimento integral das potencialidades
de cada aluno; mudança de hábitos; reunião com as comunidades; encontros de
formação e atualização sistemática de professores e Integração entre alunos,
professores, pais e comunidade.
Que Brasil se Deseja Construir?
A Doutora Rita Gattiboni apresentou a fundamentação teórica
(sociológica, histórica e pedagógica) das Escolas de Tempo Integral. A concepção
dos Centros Integrados de Educação Pública – Ciep acontece num momento social
(década de 80 e 90) que pedia medidas que combatessem a fome, a desnutrição
infantil, a ociosidade dos meninos e meninas, o analfabetismo, a evasão e a
repetência escolar e, também a delinquência e a marginalidade infantil,
principalmente nos centros urbanos.
O programa, inspirado em Anísio Teixeira, foi construído visando
atender a estas questões. Assim sendo, a principal intenção era oferecer uma
educação de qualidade em condições iguais para todos, para isto era necessário
prestar assistência social ao aluno e às famílias pobres: criança o dia todo na escola
e fora da rua, alimentação balanceada e completa, atendimento odontológico e
médico preventivo, alunos residentes na escola, concessão de material e uniforme
escolar para as crianças matriculadas.
Por outro lado, a educação oferecida pelos Cieps propunha a
contextualização do saber universal sistematizado e o respeito à cultura popular do
aluno e ênfase na educação democrática e cidadã. Nesta proposta, o papel da
escola seria o de oferecer oportunidades e iguais condições a todas as crianças,
sem reproduzir a estratificação da sociedade. Para tanto, os menos favorecidos
deveriam ter prioridade. O que se observa é que os Cieps atendiam a camada
pobre e marginalizada da população.
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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Os Cieps, como iniciativa de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, na área da
educação pública, imprimiram marcas na educação em tempo integral no Brasil. A
construção de centenas de escolas em curto espaço de tempo, que ofereciam oito
horas diárias de atividades para os alunos e eram mantidas pelo poder público,
atingiu milhares de pessoas, alterou rotinas e concepções e criou uma possibilidade
real, após anos, de outro sistema público de escolas.
Hoje se percebe uma tendência de aumento da permanência diária do
aluno na escola, seja em escolas de tempo integral ou em escolas com programas
de ampliação de jornada escolar. As três esferas (união, estados e municípios)
retomam hoje as políticas de ampliação de jornada escolar.
Talvez, a tendência do momento seja a de revitalizar a função social da
escola, a inclusão dos alunos, a educação de qualidade em igualidade de condições
para todos. A escola pública para filhos de pais trabalhadores. Desta forma, a escola
cumpre a função de formá-los, muitas vezes, em substituição à própria família, cada
vez mais fragilizada e ausente devido às novas exigências do mundo
contemporâneo.
Os Cieps surgiram num período de redemocratização, onde a escola
imersa nesse processo se viu novamente protagonista de novas propostas e como
um lugar de refundação da república. Onde se questionava: Que Brasil se deseja
construir?
Ou seja, que sociedade desejamos legar para as gerações futuras?
Qual é o projeto de educação desejável para o desenvolvimento do país? Quais
prioridades sociais e educativas tem o Brasil? E que marcas e permanências estes
projetos irão imprimir na educação brasileira e na sociedade?
A concepção sobre educação em tempo integral parte da crítica
sociológica sobre a escola pública fundamental no Brasil, voltada para as classes
populares. Essa escola sempre foi minimalista, com poucas horas diárias, pouco
espaço e poucos profissionais.
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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Na concepção dos Cieps, deveria se ampliar estes três aspectos (mais
tempo, mais espaço e mais profissionais) para fortalecer as capacidades da escola
no processo de socialização e de difusão cultural. Isto tudo articulado com um
projeto pedagógico que reformulava os papéis que a escola brasileira cumpria junto
às classes populares.
Leonel Brizola e Darcy Ribeiro viam essa reformulação da escola de
base pública como fundamental para o desenvolvimento nacional autônomo, isto é,
a escola como agente da transformação e justiça social.
Este modelo de escolas de tempo integral foi objeto de críticas que
enxergavam no fato dos Cieps proporcionarem atendimento médico, odontológico e
alimentar, uma prática assistencialista. Concluiu dizendo que a proposta deste
programa especial de educação era exatamente o contrário, ou seja, era construir
uma escola em tempo integral que desse condições para que todas as crianças
pudessem aprender de forma emancipatória e democrática.
Este é o momento da Escola de Tempo Integral
A seguir falou a professora Rosa Mosna, Diretora Adjunta do
Departamento Pedagógico da Seduc/RS. Disse que realizou um estudo acerca da
questão da educação integral, que não pode acontecer sem o tempo integral.
Segundo a diretora, a escola de tempo integral deve trabalhar na
perspectiva da educação integral, envolvendo a aprendizagem, a cultura, o lúdico e
os esportes.
As elites sempre tiveram educação em tempo integral. A educação das
elites era feita nos seminários, nos internatos, e tinha música, tinha tudo. Quando
não, a elite mesmo ia estudar na Europa. Para as massas, a educação sempre foi
funcional ao modelo produtivo. A partir de 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas
à presidência da República, temos uma inflexão na educação brasileira, quando foi
criado o Ministério da Educação.
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A seguir apresentou dados sobre a jornada escolar em diversos países
que constam no parecer nº 8/2010 do Conselho Nacional de Educação. Países
como Uruguai, Chile, Bolívia, França, USA, Inglaterra, Japão, Alemanha, Correia do
Sul dentre outros contam com mais de 7 horas diárias de aula na educação básica.
O projeto político-pedagógico da escola deve articular os dois turnos.
Não podemos confundir a educação integral com iniciativas que visem simplesmente
ocupar o tempo das crianças em atividades culturais.
Fatores que podem contribuir para a implantação das escolas de tempo
integral: programas de ampliação de jornada escolar já em andamento na grande
maioria das escolas e com grande aceitação pela comunidade escolar; a
universalização do ensino fundamental; políticas de correção de fluxo; a diminuição
da natalidade, escolas que já tem estrutura para serem escolas de tempo integral
(Cieps implantados no governo Collares); financiamento pelo Fundeb; pesquisas
apontam que os pais e a comunidade querem uma escola de tempo integral.
A escola de tempo integral não é uma escola compensatória, que
protege os alunos do mundo e da rua. Almejamos uma escola que realmente articule
o binômio educação e proteção. Queremos permitir que o aluno construa um
conhecimento, que tenha uma educação integral e possa realmente ser um cidadão
crítico, democrático, assim contribuindo para o desenvolvimento cada vez maior do
nosso Estado e do nosso País.
As escolas de tempo integral – equipes diretivas, corpo docente e
comunidade como um todo – precisam ter clara a sua função social e o seu
comprometimento com a educação integral e com a qualidade da educação, porque
esta será uma decorrência. Para tanto, precisamos resignificar o currículo. Não
podemos ter mais o currículo de um turno clássico e outro em que podemos fazer
qualquer coisa, que é de brincadeira. Não, ele é lúdico, ele é prazeroso, mas ele tem
uma intencionalidade educativa também.
Temos hoje 51 escolas da rede trabalhando em tempo integral, com
mais de 20.000 alunos matriculados. Temos mais de mil escolas trabalhando em
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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jornada ampliada, com o Programa Mais Educação, mas nestas escolas, geralmente
não são todos os alunos que estão em tempo integral. Elas ainda não conseguiram
trabalhar para garantir a integralização dos turnos, no sentido de que os turnos
sejam realmente integrados a um currículo que tenha um projeto político-pedagógico
com intencionalidade. A proposta é que as 51 escolas de tempo integral e também
as escolas do Programa Mais Educação trabalhem nessa perspectiva da educação
integral.
Segundo a diretora, a fundamentação legal para as Escolas de Tempo
Integral é a Lei Estadual nº 14.461/2014; o Decreto Estadual nº 43.260/2004 e o
Decreto Estadual nº 51.316/2014 que institui 22 Escolas em Tempo Integral. A partir
de 2014 foi dado um novo impulso a este programa da SEDUC com a visão de que a
Educação Básica caminha para se tornar Educação de Tempo Integral. Este impulso
vem com a publicação do Decreto 51.316/2014 que regulamenta a Lei 14.461 onde
são ampliadas as atuais 29 escolas de tempo integral com o acréscimo de mais 22
escolas.
Quais são os desafios? Adequar os espaços das escolas com
refeitório, cozinha, quadra de esportes, bibliotecas atualizadas, laboratórios de
experimentação, salas de artes; aumentar o financiamento destas escolas; elaborar
um plano de implantação gradativa do turno integral; discutir a nova proposta
curricular; formar professores para escolas de tempo integral; melhorar a
remuneração dos professores e envolver a comunidade escolar nesta mudança.
Modelo Republicano de Escolas no Mundo
O segundo painel do Seminário tratou do Modelo Republicano de
Escolas no Mundo. O painel foi coordenado pela deputada Juliana Brizola e teve
como participantes:
A professora Lia Faria, ex-diretora da Faculdade de Educação do Rio
de Janeiro e braço direito do professor Darcy Ribeiro;
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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A professora Virginia Tort, inspetora coordenadora de Tiempo
Completo – CEIP-Uruguai;
O professor Victor Manuel Caio Roque, educador, exmembro do
Parlamento português e presidente de honra da Internacional Socialista de
Educação.
A professora Lia Faria disse que analisando os marcos históricos e
legais das escolas de tempo integral, verifica-se que elas passaram por inúmeras
transformações no Brasil. Foram mudanças de conceito, de tempo, espaço, gestão,
aprendizagem, mas sempre se manteve a ideia de que a ampliação do tempo
qualifica o processo de aprendizagem e diminui as desigualdades sociais e
educacionais.
O projeto dos Cieps, Centros Integrados de Educação Pública, nos
anos 80 e, depois de retomados, nos anos 90 – nos dois governos de Leonel Brizola
–, procurou recuperar este dever do Estado Brasileiro que está garantido na
Constituição Federal de 1988 que corresponde ao direito do cidadão à escola
pública.
A continuidade e descontinuidade destes projetos, muitas vezes,
dependeu de vontade política e das sucessões dos gestores públicos. Evidencia-se
no entanto, a atualidade e unanimidade em torno destes ideais de uma escola
pública de qualidade para todos.
Com o tempo ampliado/integral na escola é possível pensar em uma
educação que englobe formação e informação e que compreenda outras atividades
– não somente as conhecidas como atividades escolares – para a construção da
cidadania partícipe e responsável, da profissionalização e acesso às tecnologias.
A ampliação do horário deve ser conjugada com qualidade, inclusão,
acesso ao conhecimento e cultura e igualdade de condições no acesso ao direito à
educação, às crianças brasileiras.
Será que nas escolas é diferente? Quantos, ao longo dessas décadas,
desde que foi proclamada a República, em 1889, um século e meio atrás, morreram
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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do lado de fora, analfabetos, sem sequer poder entrar na escola?
É necessário mais do que acesso; é preciso acesso com sucesso,
numa escola que realmente ensine e onde os alunos aprendam. Todos sabem muito
bem o que é uma escola pública de qualidade, honesta. É aquela em que nós
estudamos, é aquela onde colocamos os nossos filhos. No entanto, quando chega a
hora do povão, das classes populares, das classes trabalhadoras, não há dinheiro
para uma escola pública de qualidade.
Por que Darcy Ribeiro dizia que a nossa escola era desonesta? Ele
dizia que fingimos que ensinamos, e os alunos fingem que aprendem. Aliás, isso é
dito pelas estatísticas internacionais. Os resultados do Brasil continuam
vergonhosos. Temos um número absurdo de analfabetos e de analfabetos
funcionais. Estou falando de milhões de brasileiros.
Nos Cieps haviam reuniões semanais com dois tipos de orientadores.
Primeiro, o orientador da alfabetização que fazia um trabalho de integração do
primeiro ao quinto ano, naquela visão do próprio Paulo Freire, que alfabetizar é
aprender a ler o mundo. Logo, o primeiro segmento é um segmento, por si só, que
alfabetiza do primeiro ao quinto ano.
Qual é o outro aspecto importantíssimo do projeto dos Ciep? Primeiro,
é o aspecto conceitual da educação para todos, do papel do Estado. Depois, a
questão da proposta político pedagógica, trabalhando em duas direções: da
intersetorialidade, para fora, e da interdisciplinaridade, para dentro.
O que é intersetorialidade? É integrar três propostas político
pedagógicas, três grandes políticas públicas, que jamais poderiam andar sozinhas,
que são: educação, saúde e cultura.
O que acontece é que nós superpomos ações e recursos e jogamos
dinheiro fora, porque somos incapazes de integrar estes três caminhos, estas três
ações: educação, saúde e cultura.
Outro aspecto extremamente revolucionário é o da animação cultural.
O animador cultural, era uma pessoa identificada no entorno, na própria comunidade
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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onde o CIEP seria implantado. Os animadores culturais eram pessoas da própria
comunidade que desenvolviam algum tipo de linguagem artística: arte cênica,
música, artesanato. Essas pessoas traziam a cultura local para dentro da escola,
faziam a ponte, a integração entre a educação e a cultura.
Hoje, mais do que nunca, é preciso reinventar e redesenhar a escola.
O mundo mudou vertiginosamente, a escola também tem que passar por esta
transformação de conceitos e estruturas.
É preciso perceber, no campo do conhecimento científico, o significado,
a importância de cada área do conhecimento. São várias as linguagens: a linguagem
da Matemática, a linguagem da História, da Geografia, as linguagens artísticas, o
trabalho com o corpo, a educação física. Se estamos pensando um projeto que
trabalhará a totalidade da nossa humanidade, a complementariedade do ser
humano, do cidadão, não podemos entender que isso seja apenas descrever, contar
e dominar as quatro operações. Isso, hoje, deve ser somado às novas tecnologias,
às Tics, tecnologias da informação e da comunicação. É impossível pensar uma
escola, hoje, sem trabalhar de forma integrada também com as Tics.
A figura do professor é central neste processo de mudança, porque não
adianta comprarmos laptops para os alunos, entender que os alunos precisam deles,
se os professores não puderem ajudar. Nas faculdades de Pedagogia, nas
licenciaturas, nos cursos de formação de professores, não se está investindo o
suficiente e adequadamente para que o professor domine essas tecnologias. Solta-
se o professor no mercado à própria sorte, com um mundo muito mais sofisticado,
muito mais complexo e, repito, muito mais violento sem prepará-lo para trabalhar
com o aluno real, a sociedade real.
As Tics, as tecnologias, são instrumentos, ferramentas, meios que dão
acesso ao conhecimento, e o professor tem que conhecer estes meios. O aluno
deve estar no centro do processo de aprendizagem e o professor, que tem orgulho
da sua escola, que tem orgulho dos seus alunos e da sua comunidade, é que fará a
diferença. Os professores é que tem que assumir o trabalho com intersetorialidade,
valorizando a cultura e as linguagens, a animação cultural e a interdisciplinaridade.
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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Na metodologia, nas atividades complementares, deve haver a
articulação com os Tics, o estudo dirigido e a biblioteca. Hoje temos que ter a
preocupação de trabalhar com tradição e modernidade
A seguir leu um trecho do Livro Preto dos Cieps: A ação pedagógica
que se pretende imprimir ao ensino público do Rio de Janeiro pressupõe o
engajamento ativo e consciente do professor de sala de aula, pois dele depende o
sucesso da proposta do programa especial de educação, tomando como base, toda
a proposta, a criança das camadas populares, e não mais um aluno ideal,
idealizado, branco, das camadas médias e ricas da sociedade. A competência
técnica, o envolvimento e a vontade política do professor tornam-se condições
básicas neste processo de mudança.
Escolas com mais Tempo para TODOS
A professora Virginia Tort, coordenadora das Escolas de Tempo
Completo do Uruguai, celebrou que muito do projeto uruguaio de educação integral
baseou-se na experiência brasileira de Darcy Ribeiro, Leonel Brizola e Oscar
Niemeyer.
Leonel Brizola pensou a escola como assunto de Estado, e não como
assunto político, e adotou medidas para que isso fosse possível, para que os sonhos
fossem possíveis.
Darcy Ribeiro pensou o plano histórico, cultural e a necessidade de um
projeto pedagógico para que escolas incluíssem as crianças pobres em igualdade de
condições com as demais.
Oscar Niemeyer pensou a escola desde o projeto físico arquitetônico,
como esse projeto arquitetônico deveria dialogar com a comunidade, com o bairro,
com a cidade.
No Uruguai, celebramos que estes pensadores brasileiros permitiram a
escolha deste projeto de educação para nosso país. O Uruguai tem três milhões e
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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meio de habitantes, um magistério nacional de 18.000 professores e 85% dos alunos
frequenta a escola pública. Somos um terço do sistema público deste Estado. Todos
os 350 mil alunos da escola pública no Uruguai têm um laptop – todos, de 5 a 14
anos –, pelo Projeto Ceibal. São 2.051 escolas em todo o país – 1.111 são escolas
rurais e 940 são escolas estão nas cidades. Além dos laptops, que tem o acervo
básico que deve ser lido pelos alunos, as escolas contam com bibliotecas bem
equipadas.
Das 940 escolas, 200 são de tiempo completo e 40 de tiempo
estendido. São escolas com oficinas, mais aulas de quatro horas, jardins de jornada
completa, jardins de infância e pré-escola, são as que o governo nacional e o
Consejo de Primaria, nosso organismo fundamental em educação, consideram como
extensão horária. 40 mil alunos são atendidos em tempo integral.
Além disso, tiempo completo tem um dado fundamental: por um lado,
um dos menores índices de repetência no país; por outro lado, os alunos que
egressam dessa experiência, que já chega há 15 anos, são os que conseguem
permanecer mais tempo no sistema de educação média. Esse é um dado
interessante quando, no mundo, se está discutindo o que acontece com o ensino
médio.
Para que uma escola com mais tempo? Para que esse tempo? De que
tempo estamos falando? Tempo de quem e com quem? De que tipo de tempo
estamos falando? Resumo em quatro ideias.
A primeira: é uma experiência herdeira de uma história. Não se pode
montar uma experiência sem reconhecer o que houve antes. É preciso olhar para a
história do magistério do Uruguai, nas escolas do Uruguai, com as crianças do
Uruguai, para saber por que surgiu o tempo completo. Por isso, debaixo da árvore
há raízes que contam uma história. Nosso projeto respeita estas raízes.
A segunda: a escola é um cenário organizado. Frente a um mundo
hiperexcitado e complicado como o de hoje, com tantas coisas a fazer é preciso ter
tempo para organizar. A escola de tempo completo é um cenário organizado, com
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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planejamento, horários, disciplina, avaliação, currículo, professores que comandam
tudo isto, alunos que são ouvidos nas suas necessidades e comunidade como parte
essencial da escola.
Pensemos: essas escolas estão localizadas nos contextos mais pobres
do Uruguai, nos bairros mais pobres. Para essas crianças, ir a uma escola significa
entrar pela primeira vez num edifício público, num local onde acorre o público. Pela
primeira vez entram em um prédio que tem dois pisos, dois andares. É a primeira
vez que muitos desses alunos sobem uma escada; é a primeira vez que têm, no
banheiro, sanitário, torneira e papel higiênico.
Para muitas dessas crianças, é novidade ter uma agenda de trabalho,
saber o que vai acontecer no dia e como irão passear pelas calçadas e pelos pátios.
Isso eles não têm em casa. Para muitas delas, é o único lugar – a escola –, onde há
algo escrito.
Então, como poderia não estar organizado? Como poderia uma escola
de tempo completo, ser um lugar onde não haja organização e agenda para
fomentar que um sujeito seja capaz de manejar a si mesmo, de projetar, de cumprir
determinadas coisas que são propostas?
A terceira diz respeito às notas essenciais, é um sinal de interrogação?
Quando há algo novo, quando uma inovação se instala, todos se colocam frente à
inovação de diferentes maneiras. Alguns se jogam de cabeça, outros esperam para
ver o que acontece; alguns brincam, outros não aceitam e criticam. Frente ao novo
que foram as escolas de tempo completo, como envolver todos nesta mudança de
forma positiva?
A última imagem é uma escola que permite encontrar o tempo dentro
do tempo, uma escola com tempo mais lento, mais sereno. Sereno para quê? Para
pensar o que se passa dentro da escola, o que acontece com os alunos, os
professores, os auxiliares, os diretores e a família quando estamos dentro da escola.
Por quê? Porque falamos da experiência sob o ponto de vista de Carlos Skliar,
psicólogo argentino, e de Jorge Larrosa, psicólogo e pensador espanhol.
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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Entendemos que a escola é o lugar onde ocorrem experiências valiosas para a vida
dessas crianças e dos professores.
A experiência, disse Larossa, é isso que nos acontece, é o que
acontece para mim. Mas ela não apenas acontece; ela me toma de paixão, ela nos
comove.
A escola deveria nos comover. Passar pela escola deveria ser uma
experiência comovente, para isto, os professores devem pensar no tipo de
experiência que irão oferecer aos alunos.
Quais são as referências que distinguem a experiência de Tiempo
Completo no Uruguai. A primeira é uma escola com mais tempo para todos, e todos
são os alunos que estão lá sete horas e meia e os professores, que são professores
de 40 horas. Esses professores também estão lá sete horas e meia a cada dia. Isso
significa que estão 37 horas e meia com alunos durante a semana, e duas horas e
meia são para a reunião semanal com todos os docentes da escola.
Então, mais tempo para os alunos, mais tempo para os professores,
mais tempo para os funcionários. É preciso saber que, numa escola desse tipo,
servir o almoço, servir o café da manhã e servir a merenda implica também ter
serenidade para que o outro possa comer sentado, tranquilo, conversando com os
demais, num convívio como o de casa.
A escola tem de recuperar tempos que não estão na família, estão na
escola, e adotar esses tempos como momentos educativos. O almoço também é um
tempo pedagógico. O professor come com seus alunos à mesa. Ele não está
dizendo pega esse guardanapo, usa essa faca, assim se corta a carne; está, sim,
mostrando, através de seus modos, enquanto conversa com os demais, como é que
almoça com a sua família.
Além disso, é mais tempo para a família, porque a família tem outro
modo de se vincular à escola. Já não vem reclamar das deficiências que surgem no
modelo de meio turno: filhos que assistem TV à tarde, dever de casa que não foi
feito, falta de recursos para estudar em casa, quem cuida dos meninos quando os
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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pais estão trabalhando? crianças que fracassam no aprendizado – não se
alfabetizam, não sabem ler nem escrever -, falta de recursos para dar uma vida
digna ao filho, filhos que não querem ir a aula devido a discriminação e violência,
etc. Também não vem receber as reclamações do professor e da escola sobre o seu
filho indisciplinado, que não faz o dever, que não tem modos e higiene, roupas,
materiais adequados, problemas de nutrição, drogas, etc. No modelo anterior este
problema era da família - dos pais e dos alunos. Nas escolas de tempo completo
este é um problema da escola e o Estado dá todos os meios para que a escola
possa educar.
A escola tem de se abrir ao diálogo, chamar a família e convocá-la para
outras coisas, afinal a escola é um local público, e a família, que vive naquele bairro,
deveria usá-la em horários em que não há aula para se reunir com outras famílias a
fim de se organizarem em relação a questões que afetam o bairro. Isso só pode ser
feito se as famílias são convidadas. As escolas são vivas e participam do que
acontece na sua comunidade.
De outra parte, não se trata apenas de mais tempo, mas de como esse
tempo se capitaliza. Não é mais do mesmo. A escola se organiza de diferentes
formas. Tem três módulos na jornada: dois pela manhã, parecido à escola de quatro
horas, e um à tarde.
De tarde são desenvolvidas atividades de convivência, jogos e
projetos. Os projetos são atividades curriculares que demandam mais tempo de
desenvolvimento e envolvem trabalhos com Ciências Naturais, História, Geografia,
Matemática, uso das Tics. Quem trabalha com esses alunos não é um professor,
mas uma dupla de professores. Juntam-se duas turmas, os de seis e os de sete
anos, com os professores dos de oito e nove anos; dessa maneira, garantimos que
todos os professores conheçam todos os alunos e todos os alunos conheçam todos
os professores. Durante toda a jornada os nossos alunos ficam com os professores.
A segunda referência fala de mais experiências educativas: tudo o que
ocorre na escola é experiência educativa. Na entrada, as escolas recebem nossos
alunos com a saudação do dia. Neste encontro comentamos o que está
Estado do Rio Grande do Sul
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
52
acontecendo. Comenta-se algo como, por exemplo, o que disse o presidente José
Mujica em alguma entrevista; comenta-se se nasceu um irmãozinho de um aluno do
primeiro ano, ou se os alunos do quinto ano ganharam uma partida de futebol na
quadra do bairro; comemora-se um aniversário, se canta. É uma maneira de se
encontraram, todos os alunos e todos os professores, e de terem claro o que vai
acontecer na escola ao longo do dia. Por exemplo: Hoje nos visitará um biólogo.
Hoje virá um artista ao terceiro ano. Hoje um deputado virá visitar a escola e passará
sala por sala. Isso é bom, porque é ter consciência dos acontecimentos. Quando
estamos por receber alguma visita em nossa casa, queremos deixar a casa mais ou
menos arrumada, não é? Bem, o mesmo acontece em nossas escolas.
Transformamos tudo em assunto a ser compartilhado, discutido e planejado.
Graciela Friggerio, argentina, assinala que devemos ter escolas
hospitaleiras – não hospitalares, de hospital, mas hospitaleiras, de hospitalidade,
hospitalidade de vida –, porque é dever do nosso Estado dar às crianças a
oportunidade de se educarem e dar condições à escola para fazer com que
aprendam – aprendam e desfrutem.
Falamos também em hospitalidade de vida, porque a escola se
converte em experiência de vida. Na escola, vive-se, e o que se vive serenamente e
com alegria provavelmente se recorda. Ou seja: recordo a escola como aquele lugar
especial que eu pude frequentar e onde pude fazer amigos, como dizia Freire.
A terceira referência são os professores da escola e não mais de uma
turma ou de uma matéria. Os professores precisam de formação que vai além da
formação docente. Quem vai trabalhar numa escola de tempo completo sabe a que
tipo de escola está indo – escolhe estar lá e, se escolhe esse tipo de escola, escolhe
trabalhar 40 horas e sabe com que vai se encontrar, sabe que há dificuldades, que é
complexo, que sete horas e meia é muito, que a convivência entre os adultos
também se torna difícil, que as crianças com as quais trabalharão são as que têm as
maiores dificuldades, pois não tiveram a sorte de nascer em outro lugar. Esses
professores sabem que há regras a cumprir, sabem que é um projeto integral e não
mais compartimentado e que terão formação contínua para atender este projeto.
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Para isto foi criado o Instituto de Formação em Ensino Básico, ao qual todos os
professores do Uruguai terão a oportunidade de frequentar para se capacitar e para
se formar, pois isso significa discutir pedagogia, didática e como ensinar.
Por exemplo: estamos discutindo, neste momento, como ensinamos a
ler e a escrever Matemática; como ensinamos, desde o primeiro ano – quando os
alunos têm seis anos – a escrever e a ler História. Como escreve a História? Que
verbos usa para escrever? E como escreve a Matemática? A forma como escreve a
Matemática é absolutamente diferente da forma como escreve a Física ou a
Biologia. Se vocês abrem um livro de Biologia, veem que ela descreve e põe nomes.
Já a Física coloca uma fórmula e depois dá uma definição e desenvolve. Estamos
fazendo isso nos cursos de Formação em Educação, nos quais colocamos em pauta
as seguintes discussões: como trabalhar os conteúdos curriculares para os
professores e os diretores de escola?
A quarta referência é o prédio da escola. Seguimos o exemplo de
Niemeyer, para quem a escola tinha que ser uma referência no bairro, pela
modernidade, pelas boas condições físicas, motivo de orgulho da sua comunidade.
Temos uma equipe de arquitetos que leu e se apropriou do projeto pedagógico do
Tiempo Completo e o traduziu em edificações para um novo conceito de escola e
aprendizagem.
Necessitamos de uma escola flexível, com espaços flexíveis e múltiplos
que sejam como espaços em branco, onde os professores possam deixar os alunos
à vontade. O corredor pode se converter em local de aula. O pátio também, assim
como a quadra de esportes e a entrada. Até a cozinha e o refeitório podem ser
aproveitados. Todo lugar pode se converter em espaço de aula; todo lugar pode ser
um lugar onde se ensine e se aprenda desfrutando. É claro que existem as salas de
aula, mas não mais com um quadro na frente e classes em fila. São salas que
permitem diferentes tipos de organização em grupo, individual, mas sempre com
integração.
Os arquitetos desenharam uma série de escolas que são o nosso
orgulho. Eles foram aos bairros para dialogar com as pessoas e lhes disseram:
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Necessitamos que a comunidade sinta orgulho de sua escola. Por isso, nossas
escolas não são iguais, são diferentes, e todas têm a ver com o bairro onde se
encontram.
Para fazer essa escola, os arquitetos foram ao bairro e olharam as
moradias, porque a escola não pode ressaltar-se mais que as moradias, nem ser um
prédio que não tenha nada a ver com elas. Tem que ser um prédio que dignifique e
que, além disso, seja um centro de cultura. O que caracteriza esses prédios é a
transparência: muito vidro, o que permite dialogar com o bairro. Assim o que ocorre
fora e o que ocorre dentro da escola, entra em diálogo.
Além disso, os arquitetos generosamente nos dotaram de espaços
espetaculares. Por exemplo, procuraram fazer com que nossas escolas tivessem
espaços de circulação com bancos para sentar-se com o laptop ou com amigos para
conversar em todo o lugar. E quiseram que as escolas estivessem equipadas não
somente com o mobiliário, mas também com equipamentos vivos, como são
chamadas as luzes aromáticas, as árvores de floração diversa, para que a escola
seja também um espaço de exploração.
A entrada das escolas é mais do que uma porta. É um espaço
semipúblico, como uma praça. Assim, a chegada e saída da criança é um momento
de diálogo sobre o que aconteceu naquele dia, o que foi feito, qual foi o desempenho
da criança. Esse encontro com a família acontece nesse espaço de entrada da
escola, onde é possível todo o tipo de intercâmbio.
Os prédios podem ser novos ou escolas com espaços reformados para
atender em tempo integral. São escolas onde os espaços permitem os mais
diferentes usos e formações.
Uma escola é lugar de formação permanente dos professores. É o
lugar onde se elabora documentos e produções coletivas e onde se constrói o
coletivo docente. O corpo de docentes de cada escola só se reconhece se entra
nesse diálogo. Os professores sabem o que acontece com as crianças do primeiro
até o sexto ano. Existem espaços para estas discussões, para que possamos chegar
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55
a acordos e para que possamos produzir e trabalhar pensando, pensar em conjunto
sobre as escolas que queremos e colocá-las em prática.
O pai da Pedagogia latino-americana, Paulo Freire, falava da atitude de
escutar. A escola e seus professores precisam escutar os alunos. O total de alunos
por escola de tempo completo é 240, porque somente assim os professores podem
conhecer nome por nome, história por história. São sete horas e meia de atividades,
240 alunos e um quadro de 16 ou 17 professores em cada unidade.
Destinar tempo para ouvir o outro, o que ele tem para dizer, é algo a
que nos propomos fortemente. Somente ouvindo posso saber de onde partir para
ensinar. Escutar o que o outro tem para dizer também tem a ver com dotá-lo do
domínio da palavra. Quem tem a palavra pode manifestar-se por si próprio; quem
não a tem deixa que outros falem e votem por ele.
A criança precisa dispor de tempo para ser ouvida e para dizer o que
tem para dizer, para elaborar o que tem para dizer, para argumentar, e dispor de
espaço para dizê-lo. Precisa de estímulo para isto, pois através da sua opinião, e de
ser escutada, ela se torna um cidadão que será escutado, que tem opiniões, que
divide estas opiniões com os outros formando um tecido social falado e dialogado
com os demais. Este espaço público de encontro de falas, opiniões, e troca de ideias
é a maior riqueza de uma democracia.
Concluiu afirmando que o projeto uruguaio de escolas de tempo
completo é comovente por tudo o que representa e que muito desta história se deu
pelo exemplo brasileiro dos Cieps de Brizola, Darcy Ribeiro e Oscar Niemayer.
Uma História Portuguesa....
A seguir falou o exparlamentar português, Victor Manuel Roque, que
destacou a relevância da educação para a consolidação da democracia.
O professor elogiou o grande interesse pela educação no Brasil, e
acima de tudo, pelas escolas públicas e de tempo integral. Sua participação se deu
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na forma de narração da história do amigo Victor, estudante português, e do papel
da escola na formação da cidadania plena.
No tempo dos liceus e do exame admissão, o menino Victor iniciou sua
vida escolar estudando quatro anos. Depois vinha o ensino industrial e comercial e
se podia fazer a admissão para liceus que davam acesso à universidade. Victor era
malandro, traquinas, mas um bom aluno. O seu pai era pescador, e, a mãe,
corticeira, e naquele tempo este trabalho era bom, mas não se ganhava muito
dinheiro com ele. Victor tinha pais pobres, logo estudaria em uma escola pública,
onde não se precisava pagar, e não numa escola particular, que era para crianças
ricas.
Primeiro o menino da história escolheu a escola comercial e, não
gostando dela, disse à sua mãe que preferia a escola industrial. Victor cresceu.
Neste período foi convocado para o serviço militar e, daí, enviado para Moçambique,
para a guerra colonial.
O menino acordou naquela guerra colonial e viu que deveria fazer
alguma coisa para mudar o sistema político do seu país, Portugal – não só o sistema
político, mas, acima de tudo, o sistema educacional, pois como ficara sabendo, não
era dos melhores.
Então Victor decidiu seguir o caminho da oposição ao regime ditatorial,
onde uns decidem à força, e a maioria não opina, que já durava muito, muito tempo
na sua terra. Ele era jovem, e os jovens quando acordam são assim, todos sonham
em salvar o mundo. Mas, naquele tempo para cada jovem sonhador, existia um
sistema opressor. Logo, nosso herói foi avisado que tinha que fugir de Portugal, do
contrário seria preso. Ele fugiu e foi para a República Federal da Alemanha, sem
saber uma palavra de alemão.
Quando chegou à Alemanha, ficou aterrorizado com aquilo tudo, mas,
ao fim de três meses, ele entendeu que tinha que estudar alemão e continuar os
seus estudos. Matriculou-se, estudou, trabalhou, e neste tempo casou-se e se tornou
pai de três filhos.
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Então na sua terra aconteceu a Revolução dos Cravos, era 1974, e ele
pensou de imediato: Vou já regressar à minha terra. No entanto ele tinha um
conselheiro, o Dr. Mário Soares, que disse-lhe assim: Não, não sejas doido. Precisas
ficar na Alemanha. A comunidade portuguesa alemã precisa de ti. Neste momento,
Victor passou a dar aulas na Alemanha. O aluno agora era também um professor.
Em 1983, o menino que lutou na guerra, que precisou viver anos longe
do seu país, já era trabalhador, professor e pai, retornou para Portugal para ser
deputado. Foi deputado por 20 anos, onde sua luta principal foi em defesa da escola
republicana, por que longe do seu país por tantos anos, descobriu o valor da
educação e que esta tinha que ser de melhor qualidade para todos, ricos e pobres
do seu país.
Este é o bem que nos traz a escola pública. Um menino pobre, vive,
aprende, luta e se torna um cidadão que entende o seu mundo e busca ajudar a
melhorá-lo. Todos nós, quando nascemos, devemos ter os mesmos direitos. Direitos
iguais para todos! Direitos iguais de ir à escola, para aprender! Direitos também para
poder participar do desenvolvimento social, cultural e econômico do seu país.
Concluiu elogiando o trabalho parlamentar da deputada Juliana Brizola
em favor das escolas de tempo integral e o governador Tarso Genro pela assinatura
no dia 21 de março, do Decreto Estadual que institui mais 22 escolas de tempo
integral. Com isto é possível construir um futuro melhor para todos os gaúchos.
Concepções de Escolas de Tempo Integral e Educação Integral e
suas diferenças
O último painel do Seminário tratou das Concepções de Escolas de
Tempo Integral e Educação Integral e suas diferenças. O painel foi coordenado pela
professora Lia Faria, com as seguintes participações:
Professora Jaqueline Moll, ex-diretora de Currículos e Educação
Integral da Secretaria de Educação Básica do MEC, que falou sobre o Programa
Mais Educação;
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Professor Vitor Manuel Caio Roque, que aprofundou as informações
sobre o sistema português de escolas de tempo integral;
Professora Rita Gattiboni, doutora em Desenvolvimento Regional pela
Unisc, detalhou a diferença entre escola de tempo integral e ampliação de jornada
escolar.
Os professores Lia Faria, Rita Gattiboni e Victor Manuel Roque
aprofundaram suas falas dos painéis anteriores demonstrando fundamentalmente
que nas Escolas de Tempo Integral o estado conduz o processo educativo e de
gestão e que este fio condutor do estado garante que os investimentos feitos na
Escola de Tempo Integral ficam na Escola e não no seu entorno. A escola é o centro
do processo educativo em tempo integral.
O Programa Mais Educação
A professora Jaqueline Moll lembrou que pela emenda Constitucional
nº 59, até 2016 temos que colocar todas as crianças dos quatro até os jovens de 17
anos na escola. A educação básica será ampliada em dois anos, com duração de 14
anos. 11 anos de ensino fundamental e três anos de ensino médio. Para tanto é
preciso criar vagas. Além da ampliação da duração, também existe a demanda por
ampliação da carga horária. Queremos educação integral em tempo integral. Para
isto é preciso mais financiamento e planejamento sobre o que fazer com este
aumento do tempo de aprender.
O sistema público de educação no Brasil é tardio e profundamente
desigual. A educação para os pobres nunca foi tão boa quanto à educação das
camadas médias e altas. Isto é uma ferida na nossa construção republicana e
democrática, porque a escola tem que ser igual para todos.
Mário Quintana tem uma definição de democracia: Democracia é dar a
todos o mesmo ponto de partida. O ponto de chegada, cada um vai fazer o seu, com
inclinações, tendências, gostos, tradições. Não damos o mesmo ponto de partida,
seja no campo e cidade, periferia urbana, centro urbano, escola pública e escola
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privada. Esse é o desafio, e é nessa perspectiva que precisamos encaminhar esta
questão.
E a pergunta que nos fazem em outros países é: O que vocês ensinam
em quatro horas? E que não são quatro horas, contando o tempo em que a criança
chega, o tempo para a organização. Ainda não construímos a ideia das salas, dos
ambientes em que a criança vai de um lado para o outro, com mais tempo. Às vezes,
de 50 em 50 minutos sai professor e entra professor. O que de fato se consegue
construir?
Outro ponto é a reprovação. Nos dizem: Não dá para acreditar que
vocês ainda reprovam! Nos países desenvolvidos eles não reprovam, e não porque
alguém acredita em aprovação automática. Existem diferentes estratégias de
atenção e reforço para os que tem aprendizado mais lento. O sucesso escolar e que
mantém altos os indicadores educacionais dos países desenvolvidos, se mantém
pois existe atenção desde o início na correção das dificuldades de aprendizagem.
Além da reprovação ser um prejuízo imenso para a vida das crianças,
que são apartadas do seu grupo, é um prejuízo para os cofres públicos e também é
um sinal do nosso atraso pedagógico.
Tendo clareza disso, de que estamos correndo atrás desse prejuízo
histórico, de outro lado, temos que entender esta escola. Anísio Teixeira dizia que a
cara da escola é a cara da pátria. Qual é o projeto de sociedade que se tem para
este País? Pela experiência – isto também apareceu no Uruguai –, a escola é o
primeiro espaço da esfera pública ocupado pelas crianças. Se a criança passa oito
ou dez anos quieta, respondendo, com medo inclusive de encarar o professor com
os olhos, só falando quando lhe pedem para falar, que qualidade de democracia vai
sair daí? Os dados mostram que a maioria das nossas escolas públicas são
adaptadas, não foram construídas para desenvolver um projeto educativo.
Qual é o projeto de sociedade? Uma sociedade soberana, criadora de
tecnologias, de novas coisas para o mundo? Ou ainda uma sociedade colonizada e
subserviente, em que o professor pega um livro didático e, com medo, fica atrás
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dele, sendo que, como professor, muitas vezes tem capacidade de ir muito mais
além, mas também ele tem medo de um sistema.
A seguir falou sobre o Programa Mais Educação que consiste na
estratégia do Ministério da Educação no âmbito do Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE) para induzir, com assistência técnica e financeira da União, a
política pública de educação integral no Brasil e garantir sua permanência e
sustentabilidade.
Em 2007, com a criação do Fundeb, houve a definição de
financiamento para a educação integral. Além dos recursos do Fundeb, o Mais
Educação conta com recursos do PDDE, portanto com recursos de transferência
legal da União para Estados e Municípios diretamente às escolas. No que se refere
à construção do campo conceitual e metodológico da educação integral, não se trata
apenas de ampliar o tempo e fazer com que a escola estenda aquilo que vem
fazendo da forma como vem fazendo. É preciso que se aborde as condições
contemporâneas da sociedade, para pensar a educação integral, inclusive no que se
refere à formação dos professores.
Um dos pressupostos para sua construção é essa reconfiguração
societária e reconfiguração da política educacional brasileira. Não se faz política de
educação integral em tempo integral num contexto que seja adverso à democracia e
às liberdades das pessoas, porque desenvolver as pessoas plenamente implica, sim,
o campo da arte e dos esportes, as novas tecnologias, as diferentes áreas da
ciência e também o exercício permanente da fala, do esforço, do colocar-se na
relação com o outro.
A qualidade da democracia tem a ver com a qualidade das nossas
escolas. Um segundo pressuposto: revitalização das atividades pedagógicas no
tempo de permanência na escola ou sob sua responsabilidade. As atividades que a
escola realiza como projeto coletivo. Essa é a ideia do trabalho conjunto, da
autonomia da escola que está na nossa LDB. Cada escola é um mundo único. É
evidente que nós temos diretrizes curriculares nacionais, temos uma Lei de
Diretrizes e Bases Nacionais - Lei Darcy Ribeiro. As escolas, muitas vezes, ficam
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meio que esperando o que os órgãos, o que a Secretaria Estadual ou a Secretaria
Municipal irão dizer. É evidente que tem de haver esse diálogo, mas as escolas têm
de se constituir como atores coletivos na vida em sociedade.
O terceiro pressuposto: desenvolvimento das múltiplas dimensões da
identidade humana como uma das grandes finalidades da escolarização básica. Isso
é fundamental para uma pauta da formação integral.
Quarto pressuposto: concepção de educação que envolve a superação
da escola de turnos. É preciso desnaturalizar esta ideia. Na nossa cabeça, a escola
é de manhã ou de tarde. Meus amigos espanhóis sempre dizem que é como entrada
de cinema, eu escolho se vou de manhã, de tarde ou de noite. Mas não pode ser
assim. Numa sociedade em que as mulheres são força fundamental do mundo do
trabalho, são força produtiva, quem cuida das crianças? Quantas mulheres fazem
faxina aqui, em Porto Alegre, porque, quando crianças e adolescentes, não tiveram
oportunidade de estudar! Agora, há a oportunidade propiciada pelo Estado, estamos
conseguindo dar isso para a nova geração.
O Mais Educação que começou com 1.380 escolas, atingirá em 2014
mais de 60.000 escolas e mais de seis milhões de estudantes. Prioritariamente são
escolas de baixo Ideb, pois trata-se de política afirmativa em termos de permanência
e aprendizagem dos alunos e combate a desigualdade educacional e social.
O Programa Mais Educação tem sua sustentação jurídica e
institucional no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação do Governo
Federal, além da LDB, art. 34, do Plano Nacional de Educação de 2001, e da Lei do
Voluntariado, de 1988. Os profissionais da escola de tempo integral devem ser
professores e também profissionais de apoio a esse trabalho - monitores. Também
constituem sustentação jurídica e institucional do Mais Educação o Decreto nº
7.083, de 27 de janeiro de 2010, que institui o Programa, a Portaria Interministerial
de 2007 que cria o Programa no âmbito do PDE, e as Resoluções do FNDE nº 19,
de 2008; a nº 4, de 2009, e a nº 3, de 2010, que regulamentam as transferências do
Programa Dinheiro Direto na Escola, em que a ação do Mais Educação se chama
ação de educação integral, e as resoluções complementares nº 62 que trata de
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recursos para reforma, ampliação e cobertura de quadras escolares ou de espaços
destinados ao esporte e ao lazer.
Segundo estudo em desenvolvimento, os países da OCDE
posicionados acima da média nos exames do Pisa, são os que mantêm os alunos ao
menos por seis horas na escola, ou sob sua responsabilidade. Além de assegurar
mais aprendizagem, a ampliação da jornada escolar também contribui na garantia
dos direitos humanos e enfrentamento do trabalho infantil, da exploração sexual e
comercial de crianças e adolescentes. Sabemos que muitas crianças ficam um turno
na escola e o outro no seu entorno ou em casa assistindo TV, na internet. Agora
elas podem ficar na escola com atividades educativas, de cultura e desporto.
A Professora Jaqueline Moll também relatou que o MEC vem
introduzindo a temática da educação integral tanto na formação docente quanto na
de novos profissionais, no âmbito dos cursos de Pedagogia, nas licenciaturas, e na
constituição inclusive de carreiras técnicas de nível médio que permitam formar
profissionais de apoio necessários à escola de educação integral. A partir do legado
de Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire, é preciso construir um paradigma
contemporâneo de educação integral, o que está em andamento com a participação
de 45 universidades brasileiras.
No País, existem diferentes estratégias de oferta de educação integral.
Em Apucarana, no Paraná, a educação integral é oferecida no interior das escolas
para todas as crianças. Em Belo Horizonte, combina-se o espaço escolar com
diferentes espaços comunitários. Em Nova Iguaçu, criou-se a experiência do bairro
escola, a partir da qual a cidade foi se organizando para acolher as crianças, com as
ruas pintadas de forma diferente e a retirada dos obstáculos que impediam o trânsito
das crianças.
O Programa Mais Educação é um modelo dentre os muitos da
educação integral. Entre suas vantagens, destacou-se que o Mais Educação não
exige que a escola tenha espaço para acolher todas as crianças durante todo o
tempo, pois infelizmente muitas escolas brasileiras não têm condições desse
atendimento na medida em que funcionam com até três turnos de crianças: turno da
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manhã, do meio e da tarde. Portanto, o Mais Educação trabalha com a seguinte
lógica: ampliação do tempo, dos espaços e das oportunidades de aprendizagem.
Por tempo, entende-se a ampliação da jornada para pelo menos 7 horas diárias. Por
espaços, valoriza-se a integração comunitária das escolas: a escola com clubes,
igrejas, sindicatos, museus etc.
O objetivo do Ministério é que estados e municípios possam se
apropriar dessa tecnologia e tomar as próprias iniciativas. O principal desafio é
impedir que se constituam duas escolas: uma escola mais lúdica e uma escola
formal; é impedir uma fragmentação da experiência pedagógica, entendendo que as
duas dimensões da experiência pedagógica são fundamentais. Ou seja: é preciso
que o jovem e a criança tenham a experiência, digamos, mais disciplinar de estudar
matemática, português, geografia e também tenham a experiência cultural, artística,
estética, esportiva e cidadã.
O custo aproximado do Mais Educação, sob responsabilidade do FNDE
nas 60 mil escolas brasileiras, com cerca de seis milhões de alunos é de 72 mil reais
escola/ano. Esse custo é aproximado porque varia de acordo com o número de
alunos e com a natureza da atividade.6
Finalizando, citou o Relatório de Jacques Delor sobre a nova
concepção pedagógica: aprender a ser, a conhecer, a fazer, a conviver e
acrescentou: aprender a cuidar. Um currículo que se pensa para a formação em
tempo integral tem que encerrar esses pilares. Isso tem de ser desenvolvido a partir
de uma pedagogia não do trabalho, nem para o trabalho, mas pelo trabalho. Há uma
estimativa, lá no FNDE, de que cerca de 70% das escolas no Brasil não funcionam
em prédios que tinham a destinação de ser escolas. Então temos de reconstruir essa
malha. Precisamos de um PAC3, um plano de aceleração do crescimento na
educação para reconstrução das escolas, construção de quadras, adequações de
espaços.
As escolas têm de ter refeitório, cozinha para a totalidade das crianças. É
6 http://www.fnde.gov.br/fnde/legislacao/resolucoes/item/4877-resolução-cd-fnde-nº-34,-de-6-de-setembro-de-2013
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preciso articular no território, os serviços de educação, de saúde, de cultura, de meio
ambiente. Isso exige outro patamar para as próprias políticas públicas, já que cada
um está dentro do seu quadrado. A contemporaneidade exige que saiamos dos
nossos quadrados, e exige que pensemos acerca daquilo que Paulo Freire chamou
de inéditos viáveis, coisas acerca das quais ainda não pensamos mas que, juntos,
podemos construir como saídas para o que estamos vivendo. Isto também diz
respeito ao regime de colaboração entre as esferas federal, estadual e municipal. 7
Esse é o caminho que se está seguindo. O professor Ibañez, do
Conselho Nacional de Educação, é o relator de Diretrizes Curriculares Nacionais
para Educação Integral, e esse é um passo importante. O FNDE – Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação – desenvolveu um projeto de escolas de tempo
integral que tem de começar a ser financiado imediatamente. 8
No futuro, o programa Mais Educação terá sido uma estratégia indutora
da agenda das escolas de tempo integral. Com certeza muitos dos participantes
deste Seminário começaram a pensar na educação integral a partir do Mais
Educação. E esse programa nunca se propôs a ser uma política de tempo integral.
Sempre respeitamos as raízes históricas, sempre trouxemos a força da experiência
dos Cieps, a experiência das escolas-parque das escolas-classe e as experiências
pelo mundo afora das escolas de tempo integral como a do Uruguai.
Educação e Direitos Iguais para Todos
Na sequência falou o professor Victor Manuel Caio Roque, em defesa
da escola pública, com educação e direitos iguais para todos.
Depois da Revolução Francesa, seguiram-se muitas outras em toda a
Europa. A maior foi a revolução da área da educação. Os valores republicanos da
solidariedade, da fraternidade e da igualdade passaram a fazer parte do cotidiano
daqueles que entenderam ser uma oportunidade única para o desenvolvimento e a
afirmação da escola pública.
7 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/er/n45/10.pdf - Educação em tempo integral: direito e financiamento 8 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602012000300010.
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O direito aos saberes e a uma formação intelectual de forma igualitária
sem preconceitos. Só após muitos e muitos anos, por meio das mais variadas lutas,
foi possível que a escola pública fosse a prioridade das prioridades.
Os mais variados sistemas de educação eclodiram por toda a Europa.
Os países do norte foram aqueles que, tendo outros recursos, se desenvolveram
mais rapidamente e avançaram para sistemas educativos que os levaram não só ao
seu desenvolvimento educacional e cultural, mas, acima de tudo, social e
econômico, a social democracia e o socialismo democrático. E os trabalhistas muito
contribuíram para iniciativas legislativas, para que o status social garantisse o bem-
estar do povo e o seu desenvolvimento intelectual.
Países do sul, como Portugal, estiveram durante décadas isolados e
sujeitos a ditaduras. Depois da revolução de 25 de abril de 1974, e da sua transição
para a democracia, os sistemas de educação ainda copiavam sistemas mais
evoluídos, sem a preocupação da análise da realidade portuguesa e de um estudo
prévio dos resultados obtidos nos países onde esses sistemas foram aplicados.
Hoje, com os governos conservadores e ultraliberais majoritariamente
eleitos na União Europeia, com uma crise social, econômica e financeira sem
precedentes, agora se acresce uma crise de valores no Velho Continente. Com base
em critérios econômicos estão desmantelando o estado social e com ele a escola
pública.
Hoje, no nosso sistema republicano de educação básica, o percurso
dos alunos até a universidade, em Portugal, é o seguinte: quatro anos de ensino
primário, cinco anos de ensino intermediário, dividido em dois ciclos, e três anos de
ensino secundário.
O 1º ciclo inclui os alunos do 1º, do 2º, do 3º e do 4º anos. Esses
alunos são contemplados com atividades extracurriculares, devendo optar por inglês,
música, educação física, oficina de leitura e outras atividades. O 2º ciclo inclui os
alunos dos 5º e 6º anos. O 3º ciclo inclui os alunos dos 7º, 8º e 9º anos. O ensino
secundário inclui os alunos do 10º ao 12º anos. Em todos estes ciclos os alunos
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frequentam o desporto escolar como atividade extracurricular.
O 12º ano é o período preparatório para o ingresso na universidade. Os
alunos do 1º ciclo têm a possibilidade de, após o seu turno de aulas, frequentar as
Atividades de Tempos Livres – ATLs. Em alguns casos, são de responsabilidade das
escolas em conjunto com associações de pais, noutros, são as próprias prefeituras
municipais que desenvolvem essas atividades.
Os alunos dos 2º e 3º ciclos que tem problemas de aprendizagem
insuficiente, frequentam aulas de reforço, com professores destacados para esta
finalidade. Também são desenvolvidos clubes em que os alunos se integram: Clube
de Ambiente, o Clube de Fotografia, o Clube de Teatro, e outros.
A Europa hoje não é um bom exemplo em políticas sociais. Em todas
as áreas verifica-se cortes, na saúde, na educação e na assistência social.
União Internacional dos Professores Socialistas – UIPS–, Social-
Democratas e Trabalhistas defende um sistema público de educação e ensino
dotado de objetivos estruturais, programas, meios financeiros e humanos que
permitam a concretização do direito à educação e a igualdade à oportunidade de
acesso e sucesso educativo a todos os cidadãos e em todos os níveis de ensino.
Um sistema público de educação e ensino que assegure a escolaridade obrigatória,
com caráter universal e gratuito, assim como uma rede pública de educação pré-
escolar que permita cumprir o objetivo de formação integral dos cidadãos.
Nem tudo são boas notícias. Diante desta situação de crise profunda
que vivemos na Europa com perda de valores e de direitos sociais conquistados com
muita luta, também os sistemas de educação podem retroceder e piorar seus
indicadores.
Uma democracia só será verdadeira se a participação dos eleitores for
respeitada solenemente e se forem ouvidos. O poder não pode ser exercido, após
as eleições, como se fosse uma feira de negócios de propriedade dos eleitos.
Alguns direitos estão indisponíveis à negociação política, dentre eles a educação.
O melhor e o maior combate às desigualdades sociais é uma boa e
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competente política de educação. É do conhecimento geral, que o esforço realizado
pelo poder público, tem ficado aquém das verdadeiras necessidades dos
professores, alunos, pais, funcionários ou trabalhadores da escola, ou seja, das
necessidades da comunidade escolar.
A escola é lugar de vivência comunitária, de construção coletiva, de
humanização. É por isso que o processo educativo é um processo relacional aberto,
no qual os vários intervenientes são agentes educativos, despertando um pensar
crítico e um agir transformador.
A ideia de que as crianças nascem boas e inteligentes e de que basta
deixá-las evoluir está baseada num pressuposto filosófico errado. A introdução das
novas tecnologias no ensino é e tem de ser uma das prioridades de qualquer política
educativa sob pena de qualquer país, que não o faça, ficar irremediavelmente para
trás, e as crianças e jovens ficarem sem possibilidades de poder competir mais tarde
no mercado de trabalho.
A Importância dos Professores
Não existe educação de qualidade sem professor valorizado. A
excelência exige reconhecimento e dedicação. É certo que os professores deveriam
ser tão bem remunerados como os demais profissionais com curso superior. Mas os
professores da rede pública tem uma remuneração inferior. Esta é a raiz da
desigualdade educacional do sistema público: piores escolas, menos horas de aulas,
salários menores, menos investimentos. A educação reflete o futuro da nação e se
este quadro não melhorar, a nação não muda.
Concluiu afirmando que os bons ou maus resultados da educação são
consequência de toda uma concepção de sistema educacional, do financiamento, da
valorização e responsabilidade de todos, principalmente dos mandatários públicos.
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ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL – CIEP: A Educação Como
Prioridade de um Governo
A professora Rita Gattiboni, pautou sua segunda fala na concepção e
construção dos Cieps no Rio de Janeiro. Leonel Brizola conseguiu articular, junto
com Darcy Ribeiro, um dos mais belos capítulos da política educacional do nosso
país. Foi um daqueles raros momentos em que, restaurada a democracia, um
governante assume a bandeira da educação pública de qualidade para todos.
Ainda hoje essa política implementada no Rio de Janeiro, por meio dos
Cieps, de escola popular, democrática e republicana recebe inúmeras críticas, e por
isso é preciso entender melhor a articulação da teoria e da prática implementada
como política pública.
O Ciep foi construído com base numa concepção política, sociológica e
pedagógica da escola em tempo integral. A concepção sobre educação em tempo
integral para o Ciep partiu da crítica sociológica sobre a escola pública fundamental
no Brasil, que era uma escola voltada para as classes populares e por isso uma
escola minimalista. Essa escola minimalista era uma escola com poucas horas
diárias, pouco espaço e poucos profissionais.
Na visão implementada nos Cieps, o incremento desses três aspectos
– horas diárias, espaço e profissionais – podia significar o fortalecimento das
capacidades da escola no processo de socialização e de difusão cultural. Entretanto,
isso teria de vir articulado em um projeto que reformulasse os papéis que a escola
brasileira pudesse cumprir no que tange às classes populares.
Leonel Brizola e Darcy Ribeiro viam essa reformulação da escola de
base pública como fundamental para o desenvolvimento nacional autônomo, isto é,
a escola como agente da transformação.
As demais concepções de esquerda, nesse momento, atentaram mais
para a questão do método. Em função disso, vieram as críticas aos Cieps. Uma boa
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parte das críticas enxergava no fato dos Cieps proporcionarem atendimento médico,
odontológico e alimentar, uma prática assistencialista. A proposta do programa
especial de educação, era exatamente o contrário, ou seja, era construir uma escola
em tempo integral que permitisse a construção de uma sociedade mais justa e
democrática.
A fundamentação política e pedagógica da ampliação do tempo na
escola pode seguir vários modelos. Dentre eles, um modelo tem o foco na escola e o
outro fora da escola.
Para Brizola e Darcy Ribeiro, era o Estado Brasileiro o responsável
pela tarefa de possibilitar às classes populares o acesso à cultura letrada e aos
conhecimentos acumulados pela ciência ocidental. Esse modelo, defendido para os
Cieps, tinha a escola como o centro da aprendizagem.
Devido a essa concepção acerca do papel do estado e da escola, é
que muitas outras correntes de esquerda criticaram o modelo de educação em
tempo integral, como se fosse uma prática assistencialista. Na formulação dos
Cieps, as crianças permaneceriam todo o dia na escola, participando de atividades
curriculares variadas e recebendo alimentação e cuidados básicos.
Era um modelo que previa a abertura da escola à comunidade, mas o
movimento era centrípeto em relação à unidade escolar. Na concepção do Ciep, o
estado investia nas escolas de tempo integral que assumiam para si a totalidade da
educação fundamental. A escola era a referência.
No modelo adotado pelo Programa Mais Educação, o tempo integral se
dá fora da escola, no entorno, na comunidade, aproveitando outros espaços, que
não o espaço escolar. Este modelo, de educação integral fora da escola, teve várias
outras experiências, como em São Paulo, no mesmo período dos Cieps; na Bahia,
no programa Escola Integrada; em São Paulo, desde 2005, São Paulo é uma
Escola; e, no Brasil.
A concepção política e sociológica, que fundamenta a escola de tempo
integral, diz que os problemas da realidade educacional brasileira são aqueles
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relacionados às dificuldades que as classes populares encontram para inserir-se
com sucesso no sistema escolar.
A chegada das classes populares à escola como regra, e não mais
como exceção, trouxe inúmeras novidades e, com elas, dificuldades para as
instituições. Os baixos investimentos e a rapidez no sistema tornaram corrente a
percepção de que a escola brasileira seria, na maioria das vezes, uma instituição
ineficaz, com insuficiência de recursos, pessoal mal preparado e mal remunerado e
com baixa capacidade de planejamento e inovação.
Mas quem formulou a concepção dos Cieps começou a enxergar isso
de outro ângulo. A despeito de todas as críticas, pertinentes ou não, começou a
perceber que a importância da escola para a sociedade brasileira fica evidente
quando se observa que quase todos os programas sociais desenvolvidos por
diferentes governos, muitos dos quais vieram a se fundir no atual programa Bolsa
Família, passam pela escola, isso porque sua capilaridade é a única entre todas as
demais instituições públicas ou particulares.
Mesmo as organizações de comunicação de massa, principalmente
cadeias de televisão e rádio, e algumas organizações religiosas que têm grande
alcance em todo o País, não estabelecem com a população a relação orgânica,
pessoal e duradoura como faz a escola.
Num país de imenso território como o Brasil, o Estado se faz presente
por meio dela de maneira mais eficaz. Portanto, mesmo que sejam consideradas as
evidentes fragilidades da escola pública, parece-nos que ela tem sido alvo de um
processo muitas vezes leviano, de desmoralização, em geral levado a cabo pelos
que dela não se utilizam.
A pesquisa sociológica diz que é preciso buscar na confrontação entre
as lógicas populares e as lógicas escolares, as fontes das dificuldades da escola e
do ensino nos bairros populares.
Existe uma inadaptação entre os modos de socialização das classes
populares e os modos de socialização da escola. Essa inadaptação deve ser
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pedagogicamente e democraticamente dirimida. Era essa a proposta dos Ciep.
Portanto, do ponto de vista sociológico, a dificuldade não estaria na
carência cultural ou na negligência educativa das famílias populares, e sim no
modelo de escola tradicional, insuficiente para os desiguais. O tempo integral e seus
programas de alimentação, uniforme, material escolar, higiene e saúde, conjugados
com mais aprendizado, alfabetização, acesso à cultura, cidadania e desportos visava
equilibrar esta relação e garantir o sucesso escolar de todos.
O aumento do tempo pode significar um aprofundamento de
experiências cotidianas partilhadas, mas, para isso, o enriquecimento da vida
intraescolar e a estabilidade dos seus quadros profissionais são fundamentais.
Se houver uma excessiva fragmentação e inconstância na utilização do
tempo suplementar com oferta de atividades em vários locais e com agentes sem a
preparação adequada, ele pode se transformar em um mero atendimento com
sentido limitadamente assistencialista – aí sim, seria uma educação assistencialista,
mas não as críticas que nós, que defendemos a proposta dos Ciep, recebemos – ou
um mero consumo, isto é, ocupação com atividades desconectadas de um projeto
político-pedagógico, organizadas como uma espécie de mercado.
Por isso, a concepção dos Ciep defendia que a educação seja dentro
da escola, exatamente para ir contra esta lógica do mercado que fragmenta o tempo
e o momento da aprendizagem.
A relação educativa implica referências comuns entre os que ensinam
e os que aprendem, legitimidade dos que ensinam, pertencimento dos que
aprendem. E a ocupação desses postos sempre se dá por um direito afirmado
socialmente em alguma instância – no caso, a escola.
Sociologicamente, a escola é fonte de democratização e avanço social.
É base para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos, tanto quanto para o
desenvolvimento da sociedade. As trocas com outras instituições sociais, e a
incorporação de outros agentes educacionais, são fundamentais para o
enriquecimento da vida escolar.
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As formas alternativas de ampliação do tempo educativo, que não tem
como centro a escola, expõe-se aos perigos da fragmentação e da perda de direção
e, principalmente, ronda-lhes o risco de que, ao invés de servirem à melhoria da
qualidade da ação educacional, atuem aprofundando mais a precarização da
educação. Aqui fica demarcada uma diferença do que foi proposto nos Cieps e do
que é proposto, hoje, no Programa Mais Educação. A leitura crítica desta forma de
ampliação da jornada escolar não pretende o retorno à escola tradicional de quatro
horas, e também não tira os méritos que este programa com certeza tem. O objetivo
é mostrar que melhores resultados poderão ser alcançados com as escolas de
tempo integral.
A concepção pedagógica que orientou a ação educativa dos Cieps
teve, como norma central, assegurar a cada criança um bom domínio da escrita, da
leitura e da aritmética, como instrumentos fundamentais que são, para atuar
eficazmente dentro da civilização letrada. Isso inclui os quatro pilares da educação:
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser. Hoje se
acrescenta a competência informacional e o acesso às tecnologias.
Os Cieps surgem como uma maneira de resolver a tradição de
repetência e evasão escolar na escola pública fundamental. A meta era conseguir
ajustar a escola pública à sua clientela maciça, que é o aluno popular, funcionando
como educandários e como dinâmicos centros culturais e civilizatórios para as
populações da periferia metropolitana.
Os Cieps rompem com a lógica da escola adequada apenas para filhos
de famílias com escolaridade. O sistema de reprovação primitiva, punitiva, que só se
aplica em nosso país, é mais uma discriminação classista do que uma pedagogia.
Nos Cieps a progressão contínua permitia aos alunos vindos das famílias mais
atrasadas alcançarem um rendimento progressivo e, a partir da 3º série,
equipararem-se aos alunos mais afortunados, aprovando o mínimo de 74% deles ao
fim do curso fundamental.
O regime escolar deve se dar em progressão contínua, assegurando o
acesso à série seguinte com avaliação para diagnóstico da situação do aluno no
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processo de construção do conhecimento. Tinha como base o combate à repetência
e como reforma de base a reformulação do sistema de avaliação. Nesta proposta
pedagógica, o aluno aparecia no centro do processo educativo, sujeito capaz de
construir seu saber.
Ainda era proposta dos Ciep uma articulação da vida comunitária com
o processo educacional, através da figura do animador cultural ou da animação
cultural, cujo objetivo é identificar e resgatar a cultura local, as suas manifestações, o
seu fazer cotidiano e o que deveria ser incorporado ao dia a dia da escola.
Para implementar essa reforma de base era necessário também – e
que depois com o fim dos governos não teve continuidade: um sistema de avaliação
permanente; garantindo a qualificação do profissional de ensino. Essa avaliação
permanente deveria desvincular a avaliação da reprovação. Esse sistema deveria
ser implantado em conjunto com o regime de progressão contínua, garantindo o
acesso do aluno ao nível seguinte, com atendimento especial para suprir as
deficiências constatadas.
Concluindo, a comparação do que é aplicado hoje no Programa Mais
Educação e o que foi a proposta pedagógica, política e sociológica dos Cieps,
mostra que há diferenças de fundo, de concepção pedagógica, e de concepção
política. Há uma diferença na construção. É no embate dessas diferenças que
vamos construir um consenso do que deva ser a escola de tempo integral no nosso
Estado.
A deputada Juliana Brizola, em considerações finais e
encaminhamentos, disse que a intensidade dos debates e a grande participação do
público superaram todas as expectativas. Algumas pessoas têm dúvida sobre a
implementação da lei das escolas de tempo integral, se é para valer, se vai dar
certo. Com a lei demos um passo importante que é a regulamentação da matéria
que coloca o tempo integral como dever do Estado e como direito da cidadania.
Cabe à comunidade se mobilizar para que sua implementação aconteça da forma
mais rápida possível. Por isso, com a criação desta Comissão Especial – já estamos
lutando pela implementação de um Programa Estadual de Escolas de Tempo
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Integral, e as contribuições de hoje farão parte deste Programa. Nossa meta é que
50% das escolas sejam de tempo integral em 10 anos.
Os participantes deste evento e os painelistas tem os mais diversos
partidos políticos. Aqui falaram partidários do PDT, PT, PTB, PMDB, PSDB -
tivemos a participação do deputado Mano Changes, do PP e do deputado Raul
Carrion, do PCdoB, além das contribuições internacionais. Acho que é isto que a
educação precisa: de todos aqueles que acreditam que a educação pública de
qualidade é o que realmente irá mudar a realidade, sobretudo das camadas mais
populares.
Os Cieps em funcionamento aqui no Rio Grande do Sul e no Rio de
Janeiro se mantiveram por que a comunidade se apropriou da causa e conquistou
escolas em tempo integral. Esta luta passa pela política, pois são muitas as forças
que disputam a aplicação dos recursos públicos, e para ampliar os recursos da
educação, é preciso se engajar nesta disputa.
Militar na causa da educação nem sempre rende votos, até porque os
frutos do investimento em educação demoram a amadurecer. Mas são frutos
carregados das melhores sementes para o futuro, o saber acumulado ao longo da
civilização. Aí está a prova de Leonel Brizola. Sei que hoje, junto com o professor
Darcy Ribeiro, ele está muito feliz de saber que a escola de tempo integral que eles
idealizaram tem reconhecimento tanto no Brasil como em outros países.
Tomara que cheguemos aonde chegou o Uruguai, lá todos os partidos
políticos fizeram um acordo, para que possamos ter a escola de tempo integral como
uma política de Estado e que a vaidade política exclua a questão da educação, já
que é uma questão tão cara para nós. Leonel Brizola dizia: Nós queremos inundar o
Brasil com mentes esclarecidas. E encerrou, agradecendo a presença de todos.
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2 RECOMENDAÇÕES
A participação de convidados, palestrantes e debatedores pela
Comissão Especial, a intervenção de deputados e os debates produzidos nas
Audiências Públicas, as intervenções colhidas no Seminário Internacional, as visitas
técnicas e os estudos foram substanciais para uma melhor compreensão das
Escolas de Tempo Integral. Os depoimentos, contribuições e subsídios respaldam as
seguintes RECOMENDAÇÕES:
1. Comprometimento político da gestão governamental na aplicação no
mínimo de 35% (trinta e cinco por cento) da receita resultante de impostos,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento
do Ensino Público, em conformidade como art. 202 da Constituição do Estado.
2. Comprometimento político da gestão governamental na implantação
gradativa das Escolas de Tempo Integral, respeitada a forma mais ampla e
democrática possível, ouvindo a comunidade escolar, professores, direção, pais e
alunos para que o processo se dê com o engajamento da comunidade;
3. Comprometimento político da gestão governamental, quando da
implantação das Escolas de Tempo Integral, respeitando sua história e a finalidade
para o qual foram criadas;
4. Comprometimento político da gestão governamental na qualificação
do quadro do magistério, com cursos de formação e aperfeiçoamento para a
funcionalidade da Escola de Tempo Integral;
5. Comprometimento político da gestão governamental, na valorização
dos quadros do magistério, cumprindo com a Lei do Piso Nacional para os
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Professores, para que o Programa das Escolas de Tempo Integral não sofra
processos de descontinuidade.
6. Comprometimento político da gestão governamental em priorizar as
escolas que já atendam em jornada ampliada ou que executem o Programa Mais
Educação, envolvendo de forma consultiva a comunidade escolar;
7. Comprometimento político da gestão governamental na
transformação de escolas de jornada parcial em Escolas de Tempo Integral,
realizando as adaptações necessárias;
8. Comprometimento político da gestão governamental em projetar a
construção de novas escolas, quando da impossibilidade de adaptação das
existentes;
9. Comprometimento político do parlamento gaúcho no
acompanhamento do cumprimento da emenda constitucional nº 62 e da lei
nº 14.461, 16 de janeiro de 2014;
10. Comprometimento institucional e político do parlamento gaúcho em
manter a comunidade escolar informada do andamento e avanço do programa
"Escola de Tempo Integral".
CONCLUSÕES
Ao longo do trabalho desenvolvido pela Comissão Especial foi
destacado várias vezes que a escola pública brasileira é uma das que possui menor
número de horas diárias de efetivo trabalho escolar. Não obstante, há reiteradas
manifestações da legislação apontando para o aumento da carga horária na
perspectiva das escolas de tempo integral - os artigos 205, 206 e 227 da
Constituição Federal; a Lei nº. 9.089/90, Estatuto da Criança e do Adolescente; o
projeto das Diretrizes e Bases da Educação Nacional; a Lei nº. 10.172/2001, Plano
Nacional de Educação e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
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Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, Lei nº 11.494/2007 e no
Estado a Lei 14.461/2014.
Através dos trabalhos da Comissão e de visitações técnica, tivemos a
oportunidade de conhecer várias experiências de escola em tempo integral em
diferentes redes e sistemas de ensino. Avançamos com a aprovação da Lei nº.
14.461/2014 e com o anúncio do governo estadual em ampliar de 29 para 51 as
Escolas de Tempo Integral, ainda, em 2014. Com isso, se registra um significativo
passo para a melhoria da qualidade da educação e do rendimento escolar.
A prioridade do tempo integral deve ser voltada às escolas com baixos
índices no Ideb, localizadas na capital, região metropolitana e cidades com mais de
100 mil habitantes. Assim as Escolas de Tempo Integral poderão dirimir as
desigualdades de acesso à educação, ao conhecimento e à cultura e melhorias
do convívio social.
Nas Escolas de Tempo Integral, o currículo deve ser concebido como
um projeto educativo integrado, com uma jornada escolar de, no mínimo, 7 (sete)
horas diárias. A ampliação da jornada poderá ser feita mediante o desenvolvimento
de atividades como as de acompanhamento e apoio pedagógico, reforço e
aprofundamento da aprendizagem, experimentação e pesquisa científica, cultura e
artes, esporte e lazer, tecnologias da comunicação e informação, afirmação da
cultura dos direitos humanos, preservação do meio ambiente, promoção da saúde, e
outras, como por exemplo o PL 206/2009, de autoria do relator, que prevê a inclusão
da educação financeira no currículo da educação básica, sempre articulando os
componentes curriculares e áreas de conhecimento, bem como as vivências e
práticas socioculturais.
O atendimento dos alunos na Escola de Tempo Integral tem que ter
infraestrutura adequada e pessoal qualificado. E para que a oferta de educação não
se resuma a uma simples justaposição de tempos e espaços disponibilizados em
outros equipamentos de uso social, como quadras esportivas e espaços para
práticas culturais, é imprescindível que as atividades programadas no projeto
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político-pedagógico sejam de presença obrigatória e, em face delas, o desempenho
dos alunos seja passível de avaliação.
Para se estabelecer uma educação com um padrão mínimo de
qualidade, é necessário investimento com valor calculado a partir das despesas
essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedimentos formativos, que
levem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de qualidade social: Escolas
possuindo condições de infraestrutura e de adequados equipamentos e de
acessibilidade; professores qualificados com remuneração adequada e compatível
com a de outros profissionais com igual nível de formação, em regime de trabalho de
40 horas em tempo integral em uma mesma escola; definição de uma relação
adequada entre o número de estudantes por turma e por professor, que assegure
aprendizagens relevantes; pessoal de apoio técnico e administrativo que garanta o
bom funcionamento da escola.
Este é o legado que a Comissão Especial quer deixar, resultando do
trabalho de quatro meses e de profundas reflexões sobre a definitiva implantação
das Escolas de Tempo Integral e que possam atender seus objetivos, sendo um
marco para a melhoria das nossas escolas e da nossa educação.
Deputado Luis Augusto Lara,
Relator da Comissão
Deputada Juliana Brizola,
Presidente da Comissão
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RELATÓRIO FINAL DA COMISSÃO ESPECIAL PARA TRATAR DAS ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL
Deputada Marisa Formolo
Vice-Presidente
Deputada Miriam Marroni
Deputado Paulo Odone
Deputada Zilá Breitenbach
Deputado Mano Changes
Deputado Frederico Antunes
Deputada Ana Affonso
Deputado Giovani Feltes
Deputado Gilberto Capoani
Deputado Dr. Basegio
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ANEXOS
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62.
(Publicada no DOAL n.º 10163, de 27 de dezembro de 2011)
A MESA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, nos termos do inciso X do art. 53 da Constituição do Estado e parágrafo único do art. 203 do Regimento Interno, promulga a seguinte Emenda Constitucional:
Art. 1.º O inciso VI do art. 199 da Constituição do Estado passa a ter a
seguinte redação: "Art. 199. ..........................................................................
VI - prover meios para que, progressivamente, seja oferecido horário integral aos alunos do ensino fundamental; ...............................................".
Art. 2.º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua
publicação.
Assembleia Legislativa do Estado, em Porto Alegre, 22 de dezembro de 2011.
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LEI Nº 14.461, DE 16 DE JANEIRO DE 2014. (Publicada no DOE n.º 012, de 17 de janeiro de 2014)
Regulamenta o inciso VI do art. 199 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
Faço saber, em cumprimento ao disposto no artigo 82, inciso IV, da Constituição do Estado, que a Assembleia Legislativa aprovou e eu sanciono e promulgo a Lei seguinte:
Art. 1.º Fica regulamentado o inciso VI do art. 199 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, estabelecendo que o Estado proverá os meios para que, progressivamente, seja oferecido horário integral aos (às) alunos (as) do ensino fundamental das escolas da rede pública estadual.
Art. 2.º As Escolas de Tempo Integral terão carga horária igual ou superior a
sete horas diárias, nos turnos manhã e tarde, para os (as) alunos(as) matriculados(as) nas séries do ensino fundamental.
Parágrafo único. Para fins do estabelecido no “caput” deste artigo, a
implementação da carga horária, em cada unidade escolar, dar-se-á de forma progressiva e uniforme a partir das séries iniciais.
Art. 3.º As Escolas de Tempo Integral deverão oferecer, no mínimo, quatro
alimentações diárias aos(às) alunos(as), respeitando as diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar, em especial:
I - o emprego da alimentação saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos alimentares saudáveis, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento dos(as) alunos(as) e para a melhoria do rendimento escolar, em conformidade com a faixa etária e estado de saúde dos (das) alunos(as), nos termos da Lei n.º 13.845, de 13 de dezembro de 2011;
II - o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local e, preferencialmente, pela agricultura familiar e pelos(as) empreendedores(as)
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familiares rurais, priorizando as comunidades tradicionais indígenas e de remanescentes de quilombos;
III - o direito à alimentação escolar, visando à garantia da segurança alimentar e nutricional dos(as) alunos(as), com acesso de forma igualitária, respeitando as diferenças biológicas entre idades e condições de saúde dos(as) alunos(as) que necessitem de atenção específica e aqueles(as) que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
Art. 4.º Os(as) professores(as) e servidores(as) que atuarem no atendimento
aos(às) alunos(as) matriculados(as) nas Escolas de Tempo Integral receberão capacitação específica e continuada para o desempenho de suas funções.
Parágrafo único. O Poder Executivo Estadual poderá convocar os(as)
professores(as) que desempenharem suas funções nas Escolas de Tempo Integral para o regime de quarenta horas, nos termos do art. 19 da Lei n.º 11.005, de 19 de agosto de 1997.
Art. 5.º O plano pedagógico curricular da Escola de Tempo Integral será
elaborado pela Secretaria da Educação, tendo como objetivo: I - promover a permanência do(a) educando(a) na escola, criando as
condições de melhor aprendizado; II - proporcionar aos(às) alunos(as) ações e exercícios no campo social,
cultural, esportivo e tecnológico dentro da escola e em ambientes coletivos diversificados;
III - oferecer a interdisciplinariedade e a transdisciplinariedade, fazendo com que ocorra a articulação entre o núcleo comum curricular e as demais atividades estabelecidas no inciso II deste artigo;
IV - incentivar a participação da comunidade no processo educacional, promovendo a construção da cidadania;
V - adequar as atividades educacionais à realidade de cada região; VI - proporcionar ao(à) educando(a) experiência educativa que possibilite o
desenvolvimento integral, considerando os aspectos cognitivos, motor, social, emocional e cultural;
VII - reforçar a escola como um espaço de socialização, onde o(a) aluno(a) possa experimentar uma vivência coletiva e formular uma concepção de mundo, de sociedade e de cidadania;
VIII - dotar a escola de instrumentos tecnológicos geridos por uma equipe multiprofissional, composta pela direção, coordenação pedagógica, professores(as), servidores(as) de escola e nutricionistas;
IX - incluir a educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem.
Parágrafo único. O planejamento curricular da Escola de Tempo Integral
deverá ser discutido com a comunidade escolar, constituída pelos pais, mães ou responsáveis, professores(as), demais servidores(as) da escola e alunos(as).
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Art. 6.º A Secretaria da Educação apresentará à comunidade escolar, doze meses após a aprovação desta Lei, o plano de implementação da Escola de Tempo Integral, contendo, no mínimo:
I - o planejamento para o atingimento da meta estabelecida no art. 7° desta Lei;
II - as regiões e cidades selecionadas para a instalação progressiva da Escola de Tempo Integral;
III - o número de professores(as), de funcionários(as) e de equipes multiprofissionais necessário para o funcionamento da Escola de Tempo Integral;
IV - o plano de investimentos em prédios escolares; V - o plano de capacitação e qualificação dos (as) professores(as); VI - o planejamento curricular para as Escolas de Tempo Integral. Art. 7.º No prazo de dez anos, a partir da publicação desta Lei, no mínimo,
50% (cinquenta por cento) das escolas de ensino fundamental da rede pública estadual deverão oferecer matrículas em horário integral.
Parágrafo único. Para fins do disposto no “caput” deste artigo, serão
priorizadas escolas localizadas em regiões de maior vulnerabilidade social. Art. 8.º O Poder Executivo Estadual deverá incluir as metas e as respectivas
dotações orçamentárias, necessárias ao cumprimento do estabelecido nesta Lei, no Plano Plurianual e nas Leis Orçamentárias anuais.
Art. 9.º Esta Lei entra em vigor a partir da data de sua publicação.
PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 16 de janeiro de 2014.
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DECRETO Nº 51.316, DE 21 DE MARÇO DE 2014.
(Publicado no DOE n.º 056, de 24 de março de 2014)
Institui a Escola em Tempo Integral no Ensino Fundamental dos estabelecimentos de ensino da rede pública estadual, conforme o disposto na Lei n.º 14.461, de 16 de janeiro de 2014.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, no uso da
atribuição que lhe confere o artigo 82, incisos V e VII, da Constituição do Estado, DECRETA:
Art. 1º Fica instituída a Escola em Tempo Integral no Ensino Fundamental
dos estabelecimentos de ensino da rede pública estadual, em conformidade com a Lei n.º 14.461, de 16 de janeiro de 2014.
Parágrafo único. A Escola em Tempo Integral será implantada progressiva
e uniformemente na rede pública estadual, constando do Anexo Único deste Decreto a relação dos estabelecimentos de ensino em tempo integral.
Art. 2º A Escola em Tempo Integral tem por objetivo garantir a formação
integral do(a) estudante a partir da ampliação da jornada escolar e da oferta de atividades curriculares de caráter cognitivo, cultural e desportivo, com a finalidade de garantir o direito à aprendizagem e o exercício da cidadania.
Parágrafo único. A Escola em Tempo Integral deverá atender os(as)
estudantes matriculado(as)s no ensino fundamental, no mínimo, sete horas diárias no estabelecimento de ensino, nos turnos da manhã e tarde, com oferta de quatro refeições diárias, respeitada as diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar-PNAE.
Art. 3º O Plano Pedagógico Curricular da Escola em Tempo Integral será
elaborado pela Secretaria da Educação do Estado do Rio Grande do Sul. Art. 4º Fica autorizado, mediante normatização expedida pela Secretaria da
Educação, o repasse adicional de recursos às Escolas em Tempo Integral constantes do Anexo Único deste Decreto, com vista a sua implantação e manutenção, além dos recursos previstos na Lei nº 10.576, de 10 de novembro de 1995, e alterações.
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Art. 5º As Escolas em Tempo Integral que oferecem almoço aos(as) estudantes com base no Decreto nº 42.608, de 30 de outubro de 2003, passam a ser regidas pelo presente Decreto.
Art. 6º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 21 de março de 2014.
Anexo Único Escolas Em Tempo Integral
1.Escola Estadual de Ensino Fundamental Alberto Bins
Município: Porto Alegre 1ª Coordenadoria Regional de Educação 2. Escola Estadual de Ensino Fundamental Maria José Matilde
Município: Porto Alegre 1ª Coordenadoria Regional de Educação 3. Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Heróphilo Carvalho de Azambuja Município: Porto Alegre 1ª Coordenadoria Regional de Educação 4. Escola Estadual de Ensino Fundamental Júlio Brunelli Município: Porto Alegre 1ª Coordenadoria Regional de Educação 5. Escola Estadual de Ensino Fundamental Euclides da Cunha Município: Porto Alegre 1ª Coordenadoria Regional de Educação 6. Escola Estadual de Ensino Médio Poço das Antas Município: Poço das Antas 2ª Coordenadoria Regional de Educação 7. Escola Estadual de Ensino Médio Santo Antonio Município: Lajeado 3ª Coordenadoria Regional de Educação 8. Escola Estadual de Ensino Fundamental Darcy Peixoto da Silveira (CIEP) Município: Cristal 5ª Coordenadoria Regional de Educação 9. Escola Estadual de Ensino Fundamental Wolmar Antonio Salton (CIEP) Município: Passo Fundo
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7ª Coordenadoria Regional de Educação 10. Escola Estadual de Ensino Fundamental Engº Luiz Englert Município: Sertão 7ª Coordenadoria Regional de Educação 11. Escola Estadual de Ensino Fundamental Thomas Alva Edison Município: São Jerônimo 12ª Coordenadoria Regional de Educação 12. Escola Estadual de Ensino Fundamental Gaston Augusto Santos Cesar (CIEP)
Município: Tapes 12ª Coordenadoria Regional de Educação 13. Escola Estadual de Ensino Fundamental Hilário Mariano Uszacki
Município: Chuvisca 12ª Coordenadoria Regional de Educação 14. Escola Estadual de Ensino Fundamental Doutor Otto Flach (CIEP)
Município: Cerro Largo 14ª Coordenadoria Regional de Educação 15. Escola Estadual de Ensino Médio Irany Jaime Farina
Município: Erechim 15ª Coordenadoria Regional de Educação 16. Escola Estadual de Ensino Fundamental Telmo Motta (CIEP) Município: Giruá 17ª Coordenadoria Regional de Educação 17. Escola Estadual de Ensino Médio Doutor José Mariano de Freitas Beck (CIEP)
Município: Rio Grande 18ª Coordenadoria Regional de Educação 18. Escola Estadual de Ensino Fundamental Vitellio Gazapina
Município: Santana do Livramento 19ª Coordenadoria Regional de Educação 19. Escola Estadual de Ensino Fundamental Celina Vares Albornoz
Município: Santana do Livramento 19ª Coordenadoria Regional de Educação 20. Escola Estadual de Ensino Fundamental Vergínio Cerutti (CIEP)
Município: Frederico Westphalen
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20ª Coordenadoria Regional de Educação 21. Instituto Estadual Padre Francisco Garcia (Polivalente) Município: São Borja. 35ª Coordenadoria Regional de Educação 22. Escola Estadual de Ensino Fundamental Centenário Município: Ijuí 36ª Coordenadoria Regional de Educação
Escolas Estaduais de Tempo Integral Decreto 43.260/2004
CRE CIDADE INEP NOME
1 PORTO
ALEGRE
43106870 ESC EST ENS FUND OSCAR SCHMITT
1 PORTO
ALEGRE
43107222 ESC EST DE ENS FUND SAO CAETANO
3 TAQUARI 43172288 ESC EST DE ENS FUND NOSSA
SENHORA DA ASSUNCAO
4 CANELA 43035680 ESC EST ED BAS NEUSA MARI
PACHECO- CIEP
5 ARROIO
GRANDE
43017355 ESC EST ENS FUN CANDIDA SILVEIRA
HAUBMANN
8 SANTA
MARIA
43123287 ESC EST ENS FUN DR ANTONIO
XAVIER DA ROCHA
8 SAO SEPE 43171397 ESC EST EDUC BAS FRANCISCO
BROCHADO DA ROCHA CIEP
10 URUGUAIANA
43171133 ESC EST ENS MED EMBAIXADOR JOAO BAPTISTA LUSARDO
13 BAGE 43174540 ESC EST ENS MED PROF LEOPOLDO
MAIERON- CAIC
14 SANTO
ANGELO
43171524 ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO
MEDIO UNIRIO CARRERA MACHADO -
CIEP
17 TRES DE
MAIO
43171311 EEEF PROFª GLORIA VERONESE - CIEP
19 QUARAI 43171125 ESC EST ENS FUN MANOEL IGNACIO
TAVARES NUNES-CIEP
20 PALMEIRA
DAS MISSOES
43171168 ESC EST ENS FUND PRESIDENTE JOAO
GOULART-CIEP
32 SAO LUIZ
GONZAGA
43171559 ESC EST ENS FUND DOUTOR MARIO
VIEIRA MARQUES -CIEP
35 SANTIAGO 43171320 ESC EST ENS FUND JOAO EDUARDO
WITT SCHMITZ
36 IJUI 43075282 EEEF LUIZ FOGLIATTO
36 CATUIPE 43041612 COLEGIO ESTADUAL CATUIPE
25 SOLEDADE 43171567 ESC EST ENS FUND ALCIDES JOAO
GRADASCHI -CIEP
1 PORTO 43173195 ESC EST ENS FUND MANE
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ALEGRE GARRINCHA
27 CANOAS 43038727 ESC EST ENS MED CONEGO JOSE
LEAO HARTMANN
13 BAGE 43019722 ESC EST ENS FUN ARNALDO FARIA
9 IBIRUBA 43073859 ESC EST ENS FUND HERMANY
24 CACHOEIR
A DO SUL
43029345 ESC EST ENS MEDIO DR LIBERATO S
VIEIRA DA CUNHA
10 URUGUAIANA
43162657 ESC EST DE ENS FUND URUGUAIANA
2 MONTENE
GRO
43171486 COL ESTADUAL IVO BUHLER- CIEP
28 VIAMAO 43167829 ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO
FUNDAMENTAL CANADA
7 PONTAO 43147208 ESC EST ENS FUN 29 DE OUTUBRO
21 CAMPO
NOVO
43033997 ESC EST ENS FUN ERVINA CATARINA
LOW
Fundamentação Legal para as Escolas de Tempo Integral
1988 - Constituição Federal, Art. 205; Art. 206; Art. 208 e Art. 213;
1990 – Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente – Capítulo
IV – art.53-59 – Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer;
1991 - Os Centros de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente
(Ciacs), instituídos em 1991 pelo governo Collor, inspirados no modelo dos Centros
Integrados de Educação Pública (Cieps), do Rio de Janeiro.
1996 – Lei 9.394/96 – Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Art. 34º. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos
quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo
progressivamente ampliado o período de permanência na escola. §2º.
O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo
integral, a critério dos sistemas de ensino.
2001 - Plano Nacional da Educação – Lei nº 10.172/2001 (Diretrizes do
Ensino Fundamental);
2007 - Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação - Decreto
nº 6094 de 24 de abril de 2007;
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89
2007 - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), Lei nº11.494/07 de 20
de junho de 2007;
2010 - Decreto nº7.083 de 27 de janeiro de 2010 - Institui o Programa
Mais Educação que financia a ampliação da jornada escolar para as escolas que
aderirem ao programa sendo destinado aos estudantes que mais precisam;
2011 – EC 62 (Constituição do Estado do Rio Grande do Sul) – Institui
a progressividade do Tempo Integral nas escolas do Estado do Rio Grande do Sul
2013 - Lei nº 12.858/2013 – Lei dos Royalties do Pré-Sal – destina 75%
destes recursos à educação.
2014 – Lei Estadual 14.461/2014 – Regulamenta o art. 199, VI, da
Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, com a alteração introduzida pela EC
62/2011.
Resolução CNE/CBE Nº 07/2010
Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental
de 9 anos e dedica dois artigos para a questão da Escola em Tempo Integral:
Art. 36 Considera-se como de período integral a jornada escolar que
se organiza em 7 (sete) horas diárias, no mínimo, perfazendo uma carga horária
anual de, pelo menos, 1.400 (mil e quatrocentas) horas.
Parágrafo único. As escolas e, solidariamente, os sistemas de ensino,
conjugarão esforços objetivando o progressivo aumento da carga horária mínima
diária e, consequentemente, da carga horária anual, com vistas à maior qualificação
do processo de ensino-aprendizagem, tendo como horizonte o atendimento escolar
em período integral.
Art. 37 A proposta educacional da escola de tempo integral promoverá
a ampliação de tempos, espaços e oportunidades educativas e o compartilhamento
da tarefa de educar e cuidar entre os profissionais da escola e de outras áreas, as
famílias e outros atores sociais, sob a coordenação da escola e de seus professores,
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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
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visando alcançar a melhoria da qualidade da aprendizagem e da convivência social
e diminuir as diferenças de acesso ao conhecimento e aos bens culturais, em
especial entre as populações socialmente mais vulneráveis.
§ 1º O currículo da escola de tempo integral, concebido como um
projeto educativo integrado, implica a ampliação da jornada escolar diária mediante
o desenvolvimento de atividades como o acompanhamento pedagógico, o reforço e
o aprofundamento da aprendizagem, a experimentação e a pesquisa científica, a
cultura e as artes, o esporte e o lazer, as tecnologias da comunicação e informação,
a afirmação da cultura dos direitos humanos, a preservação do meio ambiente, a
promoção da saúde, entre outras, articuladas aos componentes curriculares e às
áreas de conhecimento, a vivências e práticas socioculturais.
§ 2º As atividades serão desenvolvidas dentro do espaço escolar
conforme a disponibilidade da escola, ou fora dele, em espaços distintos da cidade
ou do território em que está situada a unidade escolar, mediante a utilização de
equipamentos sociais e culturais aí existentes e o estabelecimento de parcerias com
órgãos ou entidades locais, sempre de acordo com o respectivo projeto
políticopedagógico.
§ 3º Ao restituir a condição de ambiente de aprendizagem à
comunidade e à cidade, a escola estará contribuindo para a construção de redes
sociais e de cidades educadoras.
§ 4º Os órgãos executivos e normativos da União e dos sistemas
estaduais e municipais de educação assegurarão que o atendimento dos alunos na
escola de tempo integral possua infraestrutura adequada e pessoal qualificado, além
do que, esse atendimento terá caráter obrigatório e será passível de avaliação em
cada escola.
Plano Nacional de Educação – 2011 – 2020
Projeto em tramitação no Congresso Nacional – PL nº 8.035/2010 –
Plano Nacional de Educação 2011-2020 que estabelece na Meta 6: Oferecer
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91
educação em tempo integral em cinquenta por cento das escolas públicas de
educação básica.
Estratégias:
1. Estender progressivamente o alcance do programa nacional de
ampliação da jornada escolar, mediante oferta de educação básica pública em
tempo integral, por meio de atividades de acompanhamento pedagógico e
interdisciplinares, de forma que o tempo de permanência de crianças, adolescentes
e jovens na escola ou sob sua responsabilidade passe a ser igual ou superior a sete
horas diárias durante todo o ano letivo, buscando atender a pelo menos metade dos
alunos matriculados nas escolas contempladas pelo programa;
2. Institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa
nacional de ampliação e reestruturação das escolas públicas por meio da instalação
de quadras poliesportivas, laboratórios, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios,
banheiros e outros equipamentos, bem como de produção de material didático e de
formação de recursos humanos para a educação em tempo integral.
3. Fomentar a articulação da escola com os diferentes espaços
educativos e equipamentos públicos como centros comunitários, bibliotecas, praças,
parques, museus, teatros e cinema.
4. Estimular a oferta de atividades voltadas à ampliação da
jornada escolar de estudantes matriculados nas escolas da rede pública de
educação básica por parte das entidades privadas de serviço social vinculadas ao
sistema sindical, de forma concomitante e em articulação com a rede pública de
ensino.
5. Orientar, na forma do art. 13, § 1o, inciso I, da Lei no 12.101, de
27 de novembro de 2009, a aplicação em gratuidade em atividades de ampliação da
jornada escolar de estudantes matriculados nas escolas da rede pública de
educação básica, de forma concomitante e em articulação com a rede pública de
ensino.
6. Atender as escolas do campo na oferta de educação em tempo
integral, considerando as peculiaridades locais.
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Equipe Técnica
Secretária
Loiva Teresinha Serafini
Assessor
Marcos Bonorino
Apoio
Departamento de Comissões Parlamentares
Departamento de Sistemas e Informação
Departamento de Taquigrafia
Secretaria da Mesa Diretora
Cerimonial
Primeira Secretaria
Divisão de Reserva de Espaços
Comunicação Visual
Gabinete da Deputada Juliana Brizola
Imagens
Agência de Fotos da Assembleia Legislativa do RS
Assembleia Legislativa
Comissão Especial para Tratar das Escolas de Tempo Integral
Praça Marechal Deodoro, 101, Porto Alegre RS
Telefone: 51 3210 2260