Upload
hoanglien
View
221
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP
Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica
Antonio Marcos da Silva
A imagem nos sites institucionais: Um estudo semiótico sobre interfaces digitais interativas em ambientes
hipermídia.
Mestrado em Comunicação e Semiótica
São Paulo 2012
Antonio Marcos da Silva
A imagem nos sites institucionais: Um estudo semiótico sobre interfaces digitais interativas em ambientes
hipermídia.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica, sob a orientação da Professora Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão.
Mestrado em Comunicação e Semiótica
São Paulo 2012
1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC/SP PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS‐GRADUADOS EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ANTONIO MARCOS DA SILVA ORIENTADOR: LÚCIA ISALTINA CLEMENTE LEÃO TEMA: A IMAGEM NOS SITES INSTITUCIONAIS: UM ESTUDO SEMIÓTICO SOBRE INTERFACES DIGITAIS INTERATIVAS EM AMBIENTES HIPERMÍDIA.
ERRATAS ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS MS – Manuscritos citados de acordo com a paginação do Institute for Studies in Pragmaticism (Peirce, 1931‐1958). Errata: retirar informações em parêntesis. INTRODUÇÃO Pg. 15, parágrafo 1. Onde descodificar, leia‐se decodificar; parágrafo 2. Onde Essa, leia‐se Esta; onde esse, leia‐se este; parágrafo 4. Onde essa, leia‐se esta; parágrafo 5. Onde Essa, leia‐se Esta. Pg. 16, parágrafo 4. Onde “Uma das grandes preocupações de Peirce era com a taxonomia das
ciências e com as categorias gerais do pensamento”, leia‐se: “Das grandes preocupações de
Peirce, uma era com a taxonomia das ciências e outra com as categorias gerais da
experiência”.
CAPÍTULO 1 Pg. 23, parágrafo 2. Onde significante, leia‐se signo. Pg. 27, parágrafo 2. Onde (...) mas em relação às máquinas (...), acrescentar: (...) mas em relação às máquinas. Quando a comunicação se dá no universo humano, Eco afirma: Pg. 31, parágrafo 3. Onde (...) aos conceitos, leia‐se ao conceito; parágrafo 4. Onde Isso está de acordo com Fidalgo, leia‐se: Isso está de acordo com Morris. Pg. 33, parágrafo 3. Onde (...) a mesma disciplina, leia‐se Lógica. Pg. 35, parágrafo 1. Onde ideias, leia‐se ideais; parágrafo 5. Onde (...) está voltada para o que belo, leia‐se (...) está voltada para o que é belo. Pg. 43, parágrafo 3. Onde meio, leia‐se mediação. Pg. 48, citação. Onde Lasbeck, leia‐se Iasbeck. Pg. 49, parágrafo 1. Onde Esse, leia‐se Este. CAPÍTULO 2 Pg. 54, parágrafo 1. Onde “A máquina continha uma vasta biblioteca com notas pessoais, fotografias e projetos. Possuía inúmeras telas (...)”, leia‐se: “A máquina continha uma vasta biblioteca com notas pessoais, fotografias e projetos; possuía inúmeras telas (...)”. Pg. 80, parágrafo 4. Onde “(...) como uma referência á conexão humana (...)”, leia‐se: “(...) como uma referência à conexão humana (...)”. Pg. 81, parágrafo 1. Onde maquinas, leia‐se máquinas.
2
CAPÍTULO 3 Pg. 96. Citação sem aspas (corrigir). Pg. 99, citação 1, retirar (repetida). Pg. 100, citação 2 – retirar aspas. Pg. 104, parágrafo 4. Onde “O site é composto primordialmente pelas cores vermelho e branco (...)”, leia‐se: “O site é composto primordialmente pelas cores vermelha e branca (...)”. Pg. 108, parágrafo 2. Onde “Um detalhe interessante á a nuance (...)”, leia‐se “Um detalhe interessante é a nuance (...)”. Pg. 125, citação. Onde (COLAPIETRO, 1993: 34), leia‐se: (COLAPIETRO, 1993:34 Apud SANTAELLA, 2004:168). BIBLIOGRAFIA Pg. 147. Onde REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS, leia‐se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. Pg. 148. Acrescentar: COLAPIETRO, Vincent. Immediacy, opposition, mediation: Peirce on irreducible aspects of the communicative process. Em: Recovering Pragmatism’s voice: The classical tradition, Rorty, and the philosophy of communication, Lenore Langsdorf e Andrew Smith (orgs.). Albany: N. York.: SUNY Press, 1983. Pg. 150. Onde (…) On linguistic aspects of translation, in language in literature (…), leia‐se: (…) On linguistic aspects of translation, in language & literature (…). Pg. 152. Acrescentar: PLATON, Cratyle, Paris: Les Belles Lettres, 1969. Pg. 153. Onde (…) Lógica como ciência (…), leia‐se: (…) Lógica como semiótica (…). Onde (…) Matrizes da linguagem e pensamento, sonoro, visual, verbal (...), leia‐se: Matrizes da linguagem e pensamento, sonora, visual, verbal (...).
Antonio Marcos da Silva, nesta data, defendeu a Dissertação de Mestrado
intitulada A imagem nos sites institucionais: um estudo semiótico sobre interfaces
digitais interativas em ambientes hipermídia, como exigência parcial para a obtenção
do título de Mestre em Comunicação e Semiótica, sob a orientação da professora Dra.
Lúcia Isaltina Clemente Leão, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Parecer:
São Paulo, _____ de _____________________ de 2012
Banca Examinadora:
Prof. Dra. Lúcia Isaltina Clemente Leão (Orientador) ___________________________
Prof. Dr. Antonio Roberto Chiachiri Filho ____________________________________
Prof. Dr. Cassiano Terra Rodrigues __________________________________________
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profª Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão, por acompanhar meu
trajeto, respeitando o tempo e o ritmo da minha produção e por proporcionar momentos
de discussão enriquecedores e de aprendizagem.
Aos convidados para compor a comissão examinadora, Prof. Dr. Antonio Roberto
Chiachiri Filho e Prof. Dr. Cassiano Terra Rodrigues, que, por ocasião da banca de
qualificação, ofereceram importantes contribuições para este estudo.
Aos funcionários da secretaria do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Comunicação e Semiótica, pela atenção e eficiência como atenderam às minhas
solicitações. À Cida, carinhosamente.
Aos meus colegas de sala e à Profª. Dra. Lucia Santaella, por ter despertado
especialmente o desejo de me aproximar dos estudos relacionados à Semiótica
Peirceana.
Aos meus familiares, especialmente a minha avó materna, já falecida.
À coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior – CAPES, por ter
permitido e contribuído significativamente para que essa pesquisa se efetivasse.
A todos que de alguma forma contribuíram para este trabalho e acima de tudo a Deus
por me amparar sempre em todos os momentos da minha vida.
“Assim, vemos surgir a nossa esperança naquilo que provoca o
desespero do pensamento simplificativo: o paradoxo, a
antinomia, o círculo vicioso. Entrevemos a possibilidade de
transformar os círculos viciosos em ciclos virtuosos, que se
tornem reflexivos e geradores dum pensamento complexo.
Donde a ideia que nos guiará à partida: não devemos romper as
nossas circularidades, devemos, pelo contrário, ter o cuidado de
não nos desprendermos delas. O círculo será a nossa roda, a
nossa estrada será uma espiral”.
Edgar Morin
RESUMO A Imagem nos sites institucionais: um estudo semiótico sobre interfaces digitais interativas em ambientes hipermídia. A imagem é tema de pesquisa em diversos campos do saber. História da arte, estética, antropologia, teoria da mídia, cultura e iconologia são alguns dos territórios que discutem a prevalência da imagem na cultura contemporânea, ou “Picture turn”, nas palavras de W.J.T. Mitchell. Nos estudos da comunicação e semiótica, a imagem é compreendida como um tipo de signo (Santaella e Nöth). O objetivo principal dessa pesquisa é estudar o papel das imagens nos processos comunicacionais de sites institucionais, discutindo, especificamente, questões referentes aos processos de criação de interfaces digitais interativas. Como as imagens auxiliam no processo de construção de significado e na eficácia comunicacional de uma instituição? O trabalho tem natureza interdisciplinar e se fundamenta em dois vetores: 1- conceitos de hipermídia e interfaces digitais, na leitura de Lucia Leão, Lúcia Santaella, Marcus e Engelbart, considerados fundamentais para a natureza desta pesquisa por se tratar do objeto de análise; 2- a semiótica de linha peirceana, para o estudo analítico de seus objetos empíricos (sites institucionais), em conformidade com seus comentadores críticos: Cassiano Terra Rodrigues, Roberto Chiachiri, Santaella, Colapietro, Andersen e Eco. Palavras-chave: imagem, hipermídia, interfaces digitais, semiótica peirceana.
ABSTRACT
The Image in institutional sites: a semiotic study on interactive digital interfaces in hypermedia environments. The image is the subject of research in various fields of knowledge. Art history, aesthetics, anthropology, media theory, culture and iconology are some of the territories that discuss the prevalence of the image in contemporary culture, or "Picture turn" in the words of WJT Mitchell. In studies of communication and semiotics, the image is understood as a kind of sign (Santaella and Nöth). The main objective of this research is to study the role of images in the communication processes of institutional sites, discussing, specifically, issues related to the processes of creating digital interactive interfaces. How do images assist in the construction of meaning and communication effectively in an institution? The work has an interdisciplinary nature and is based on two vectors: 1 - concepts of hypermedia and digital interfaces, according to Lucia Leão, Lucia Santaella, Marcus and Engelbart, considered fundamental to the nature of this research because it is the object of analysis, 2 - Peircean semiotics for the analytical study of its empirical objects (institutional sites) in accordance with their critical commentators: Cassiano Rodrigues Terra, Roberto Chiachiri, Santaella, Colapietro, Andersen and Eco. Key-words: image, hypermedia, digital interfaces, Peircean.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - O signo linguístico saussureano ..................................................................... 24 Figura 2- Gráfico Utilizado por Santaella ...................................................................... 41 Figura 3 - Pegadas na Areia ............................................................................................ 45 Figura 4 – imagem da obra Natureza-Morta com maçãs e laranjas, 1895-1900, de Paul Cézanne. Óleo sobre tela, 74 x 93 cm. Musée d’Orsay, Paris – França. ........................ 46 Figura 5 - Trecho de uma Partitura de Beethoven .......................................................... 47 Figura 6 – Interface – Arte Digital ................................................................................. 51 Figura 7 - Esboço do dispositivo MEMEX proposto por Vannevar Bush em 1945 ...... 54 Figura 8 - Esquema do H-LAM/T .................................................................................. 57 Figura 9 – Modelo de documento do Xanadu ................................................................ 59 Figura 10 - modelo básico de dados de hipermídia aberta ............................................. 61 Figura 11 - Esquema de hipermídia mostrado por Rivinl, 1994 .................................... 67 Figura 12 – Gráfico Modelo de Hipermídia ................................................................... 69 Figura 13 - Quadro proposto pelo professor Daniel Schwabe (Dep. de Informática, PUC-Rio) ........................................................................................................................ 71 Figura 14 - Sound Forge 9.0 - Software de edição de áudio .......................................... 73 Figura 15 - IRIDAS FrameCycler - Software para Edição de Vídeos ........................... 73 Figura 16 - Quick Time X, da Apple .............................................................................. 74 Figura 17 - Utilitário de Configuração de áudio MIDI .................................................. 74 Figura 18 - X 11 - Dispositivo para acesso a ferramentas em ambiente UNIX ............. 75 Figura 19 - Aplicativo Bluetooth da Apple .................................................................... 75 Figura 20 - Synfig Studio - Software de edição de Imagens .......................................... 76 Figura 21 - Free Video - Editor de Video ....................................................................... 77 Figura 22 - Game Tekken 3D Prime Edition .................................................................. 79 Figura 23 - G-Speak – ambiente operacional espacial – MIT’s media laboratory – homem interagindo com interface. ................................................................................. 82 Figura 24 - Configuração de variáveis em ambiente Windows para instalação do Java.83 Figura 25 – Gravação de áudio por meio do software Pro Tools ................................... 84 Figura 26 – Interface do OXS Lion, da Apple ............................................................... 85 Figura 27 – Interface do Windows 8 (2011)................................................................... 85 Figura 28 - Interface do Ubuntu 11.04 “Natty Narwhal” ............................................... 86 Figura 29 - Dispositivo programado para explodir (Dinamite) ........ Erro! Indicador não definido. Figura 30 – Linksys (Cisco) Wired Router .................................................................... 87 Figura 31 - Belkin - Dlink/broadband wireless router .................................................... 88 Figura 32 - Página Inicial do Site Oficial do Bradesco.................................................103 Figura 33 - Imagem: Bradesco Internet Banking ............. Erro! Indicador não definido. Figura 34 – Imagem referente ao item financiamento de veículos Bradesco ............... 109 Figura 35 - Serviços Bradesco ...................................................................................... 113 Figura 36 - Web Page oficial da Coca-Cola Brasil ...................................................... 114 Figura 37 - 1º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 115 Figura 38 - 2º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 115
Figura 39 - 3º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 116 Figura 40 - 4º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 116 Figura 41 - 5º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 117 Figura 42 - 6º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 117 Figura 43 - 7º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 117 Figura 44 - 8º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 118 Figura 45 - 9º Recorte do site da Coca-Cola ................................................................ 120 Figura 46 - 10º Recorte do site da Coca-Cola .............................................................. 122 Figura 47 - 11º Recorte do site da Coca-Cola .............................................................. 125 Figura 48 – Web Page oficial da Apple Store ............................................................... 127 Figura 49 - 1º Recorte do site da Apple Store ............................................................... 128 Figura 50 - 2º Recorte do site da Apple Store ............................................................... 129 Figura 51 - 3º Recorte do site da Apple Store ............................................................... 130 Figura 52 - 4º Recorte do site da Apple Store ............................................................... 130 Figura 53 - 5º Recorte do site da Apple Store ............................................................... 131 Figura 54 - 6º Recorte do site da Apple Store ............................................................... 131 Figura 55 - 7º Recorte do site da Apple Store ............................................................... 132 Figura 56 - 8º Recorte do site da Apple Store ............................................................... 133
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Categorias Peirceanas ................................................................................... 38 Quadro 2 - Tipologia Sígnica Peirceana ......................................................................... 39 Quadro 3 - Síntese da tipologia da imagem para os gregos e ocidente atual.................96 Quadro 4 – Tipologia sígnica de Andersen...................................................................101
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quantidade de pessoas conectadas à Web no Brasil entre julho de 1997 e
junho de 2011..................................................................................................................92
Tabela 2 - Acesso a Internet no Brasil - Indicadores Gerais...........................................93
Tabela 3 - Tipos de imagens nos sites...........................................................................144
ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS
CP – The Collected Papers (Peirce, 1931-1958)
MS – Manuscritos citados de acordo com a paginação do Institute for Studies in
Pragmaticism (Peirce, 1931-1958)
NEM – The New Elements of Mathematics (Peirce, 1976).
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................15
CAPÍTULO I – CAMINHOS SEMIÓTICOS ........................................................... 20
1.1. Correntes e linhas semióticas ........................................................................ 23
1.1.1. Síntese das principais correntes semióticas e o conceito de signo ...... 25
1.1.1.1. Ferdinand de Saussure ........................................................................... 25
1.1.1.2. Charles Sanders Peirce .......................................................................... 26
1.1.1.3. Umberto Eco ........................................................................................... 27
1.1.1.4. Roman Jakobson .................................................................................... 28
1.1.1.5. Greimas ................................................................................................... 29
1.1.1.6. Roland Barthes ....................................................................................... 31
1.1.1.7. Demais pensadores ................................................................................. 31
1.2. Charles Sanders Peirce .................................................................................. 32
1.2.1. Posição da semiótica nas ciências .......................................................... 34
1.2.2. O Signo peirceano e as suas tríades ...................................................... 38
1.2.3. O Objeto .................................................................................................. 39
1.2.4. O Interpretante ....................................................................................... 41
1.3. Semiótica das Imagens ................................................................................... 44
1.4. A Semiótica atualmente ................................................................................. 48
CAPÍTULO II - NOS INTERSTÍCIOS DA HIPERMÍDIA .................................... 50
2.1. Multimídia e Hipermídia ............................................................................... 53
2.2. Os nós da hipermídia ..................................................................................... 64
2.3. Mídias e Hipermídia ...................................................................................... 76
2.4. Um estudo sobre as interfaces ....................................................................... 79
2.4.1. Interfaces e suas aplicações .................................................................... 83
CAPÍTULO III - SITES INSTITUCIONAIS: O DISCURSO DAS IMAGENS.....90
3.1. Imagem – Conceitos ....................................................................................... 95
3.2. A imagem na semiótica peirceana........................................................................97
3.3. O papel das imagens nos Sites Institucionais .............................................. 98
3.3.1. Interface do Website do Bradesco ....................................................... 100
3.3.1.1. Visão geral das categorias peirceanas no site do Bradesco ............... 104
3.3.1.2. Referencial icônico-imagético no site do Bradesco ............................ 106
3.3.2. Interface do Website da Coca-Cola ..................................................... 114
3.3.2.2. Referencial icônico-imagético no projeto de interface da Coca-Cola........................................................................................................................122
3.3.3. Projeto de Interface da Apple Store ................................................... 126
3.3.3.1. Visão geral das categorias peirceanas no site da Apple Store .......... 132
3.3.3.2. Referencial icônico-imagético no site da Apple Store ....................... 133
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 135
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS .................................................................... 147
15
INTRODUÇÃO
Vivemos cercados de informação por todos os lados. O mundo está repleto de
sinais e sugestões. Há muito tempo alguns pensadores estão atentos a questões como
essas. A busca pelo entendimento dos fenômenos naturais e a tentativa de descodificar
ou trazer sentido aos sistemas simbólico-culturais são objetivos claros que ainda
permeiam as mentes de muitos pesquisadores e homens de ciência. Os métodos de
observação têm sido convocados para a tarefa árdua em busca de explicações plausíveis,
aquelas que podem trazer respostas mais satisfatórias aos diversos campos científicos.
Essa dissertação de mestrado foi pensada e elaborada imbuída pelo mesmo
sentimento: o desejo da descoberta, o desejo de soluções. Nesse ponto um estranho
paradoxo se apresenta: a busca por respostas não necessariamente leva a elas, e acaba
trazendo mais questionamentos num processo infinito; as soluções não são definitivas,
pois isso nunca será possível, ou seja, chegar a um resultado final em todas as coisas.
Por quê? A resposta surge da seguinte forma: o conhecimento não pode ser depositado
em uma caixa, portanto não tem o seu espaço delimitado; o conhecimento (e, por
consequência, a ciência ou os estudos científicos) existe(m) para que o homem possa
desvendá-lo(s) e inferir soluções aos muitos problemas que se apresentam a sua frente.
Sendo assim, esse trabalho não traz soluções definitivas, entretanto, traz contribuições e
aponta para caminhos.
Esta dissertação traz como seu objetivo procurar entender como as imagens
veiculadas em sites institucionais contribuem nos processos de construção de sentido.
Será que essas imagens têm o poder de sugestionar ou induzir os
usuários/clientes/internautas a consumir os produtos que estão sendo oferecidos através
dos sites? Quais níveis ou dimensões podem essas imagens afetar? As imagens
carregariam um potencial para determinar ou moldar a imagem da instituição?
Assim sendo, essa pesquisa procurou trazer conceitos com objetivo de responder
a esses questionamentos, conceitos esses responsáveis pela fundamentação de todas as
etapas do trabalho. São eles: os conceitos de imagem (como representação visual e
mental, hipermídia e interfaces digitais e a semiótica de linha peirceana). Foram
realizados processos de análise de mídias (no caso, sites institucionais).
Essa dissertação de mestrado está dividida em três capítulos, organizados da
seguinte maneira: o Capítulo I, “Caminhos Semióticos”, trata das questões referentes
16
aos estudos semióticos. Apesar da fundamentação teórica estar alicerçada na semiótica
de linha peirceana, esse capítulo procura mostrar um panorama de outras abordagens.
Em comum, as linhas de semiótica apresentadas desenvolvem as suas ideias e conceitos
sobre o signo.
O capítulo inicia com a tradição grega de Aristóteles e Platão, percorre a
filosofia de Locke e faz menção a alguns estudos semióticos contemporâneos, a partir
de pensadores como Ferdinand de Saussure, Umberto Eco, Roman Jackobson, Greimas
e Roland Barthes. Sentimos necessidade de apresentar esse percurso histórico à medida
que a semiótica avança; dessa forma, é importante discutir um panorama da semiótica
para compreender o quadro geral onde a semiótica peirceana se insere. Este capítulo
está subdividido em quatro partes, a seguir detalhadas: a primeira delas, “Caminhos
Semióticos” (e seus subtópicos: “Correntes e linhas semióticas”, “Sínteses das
principais correntes semióticas e o conceito de signo”) introduz um passeio ao longo do
tempo, com o propósito de trazer à pesquisa visões de outros semiólogos (ou
semioticistas, por assim dizer). Na realidade, o trabalho apenas apresenta uma síntese
histórica relatando as principais contribuições desses autores, tendo em vista que não é
o propósito dessa pesquisa trabalhar a semiótica unicamente.
Esse “passeio” pela história da semiótica encerra-se na semiótica peirceana, de
que tratará a segunda parte do capítulo, em um tópico chamado “O pensador Charles
Sanders Peirce”. Nessa parte, são apresentadas informações relevantes a respeito da
obra de Peirce.
O subtópico “A posição da Semiótica nas ciências” discute a posição da
semiótica peirceana e a arquitetura das ciências, criada pelo autor. Uma das grandes
preocupações de Peirce era com a taxonomia das ciências e com as categorias gerais do
pensamento. Há, ainda, outros subtópicos subjacentes a essa parte do primeiro capítulo
dedicada a apresentar as ideias peirceanas: “O Signo peirceano e suas tríades”, que
trata do signo peirceano propriamente dito. Em seguida apresento as tricotomias e
categorias (primeiridade, secundidade e terceiridade), finalizando essa parte
apresentando outros dois tópicos: conceitos de objeto e interpretante, importantes para a
discussão proposta na pesquisa.
As duas últimas partes desse primeiro capítulo, “A Semiótica das Imagens” e “A
Semiótica atualmente”, finalizam a apresentação dos pressupostos teóricos que serão
utilizados. A primeira delas antecipa as análises que são feitas no capítulo III e traz
uma aplicação da semiótica peirceana, levando em consideração fenômenos aos quais as
17
imagens desempenham uma função de destaque nos objetos de estudo que foram
selecionados. A segunda, por sua vez, aborda as muitas possibilidades de aplicação da
semiótica como uma teoria que pode ser aplicada para compreender qualquer fenômeno
que se apresente à mente.
As linguagens estão no mundo e nós estamos na linguagem. A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido (SANTAELLA, 1983, p. 13).
Estudar os fenômenos como fenômenos de produção de significação e de
sentido, ou seja, como participantes ativos do processo de semiose (ação do signo –
elemento nuclear da semiótica peirceana) faz parte da natureza dos estudos semióticos.
Desta forma, é possível estudar os fenômenos relativos a sistemas que envolvem
processos comunicativos. Para fundamentar as questões discutidas nessa parte do
trabalho são utilizados alguns pensadores como Winfried Nöth, Cassiano Terra,
Santaella e Umberto Eco.
O capítulo II, “Nos interstícios da Hipermídia”, aborda as questões referentes à
Hipermídia e Interfaces. O primeiro tópico, “Multimídia e Hipermídia”, traça um
panorama histórico que procura posicionar e demarcar os pontos mais relevantes que
serão tratados no capítulo III. “Os nós da Hipermídia”, tópico seguinte, esmiúça um
pouco mais tecnicamente os conceitos, ideias e as principais aplicações da Hipermídia.
Os estudos sobre as interfaces aparecem nas partes finais desse capítulo nos seguintes
tópicos: “Um estudo sobre as interfaces” e “Aplicações das interfaces”. O primeiro
procura mostrar o desenvolvimento das interfaces, em uma visão mais diacrônica; o
segundo parte das possíveis aplicações e usos de sistemas de interface. Lucia Leão,
Marcus, Engebart, Vannevar Bush e outros auxiliam na compreensão dos estudos da
Hipermídia e Interfaces.
O último capítulo, “Sites institucionais: o discurso das imagens”, engloba os
conceitos peirceanos aplicados ao ambiente hipermídia e sistemas de interfaces em sites
institucionais. As imagens e sua relação com os demais signos da interface são o objeto
de estudo. Neste capítulo ocorrem as análises propriamente ditas. Para isso, utilizou-se
como critério principal na escolha dos sites que não tivessem nenhuma relação direta
entre si, ou seja, que fossem sites institucionais de áreas diferentes. Por quê? Para se
tentar descobrir as similaridades e as diferenças no uso das imagens. Será que por serem
18
instituições de segmentos diferentes as imagens escolhidas para a composição dos sites
não seriam de natureza diametralmente opostas? Será que os efeitos esperados
realmente ocorreram? Qual o grau de relevância que os designers dão às imagens? As
imagens realmente comunicam e participam do processo de interação com os usuários?
Se afirmativo, em que níveis? Segundo Marc Shillum (2012), diretor da empresa de
design e construção de marcas Method,
Todos nós sabemos que as marcas são acessadas enormemente de forma digital. Entretanto, uma consequência menos considerada é aquela que a interface através da qual a marca é acessada tornou-se um elemento de identidade primária (SHILLUM, 2012, tradução nossa)1.
Ou seja, as grandes empresas, pelo fato de estarem presentes na Internet,
precisam pensar de que modo as interfaces digitais ativamente participam na construção
da imagem da empresa. São as interfaces digitais que, ao permitirem o acesso dos
usuários, atuam de modo intenso nos processos de criação de identidade da marca. O
trabalho introduz um pouco do estado atual do design de interface levando em conta a
presença das imagens, principalmente quando apresenta duas visões antagônicas em
relação ao momento histórico da web. Para Anderson (2012), “A Web não é o ápice da
revolução digital”2. Anderson defende nesse artigo que a web está morta, ou seja, não
existiria, para ele, uma dependência da web em função de que a maior parte das pessoas
que hoje acessa as redes sociais, utiliza aplicativos diversos, usa smartphones, mas essas
pessoas não estão necessariamente na WWW e sim, na Internet. Numa direção oposta,
Tim Berners-Lee (2012) afirma: “A minha prioridade é vê-la (a Web) desenvolver-se e
evoluir de uma forma que nos garantirá um futuro longo e promissor”3. Diferente de
Anderson, Berners-Lee não acredita na morte da web, pelo contrário, crê que o seu
desenvolvimento se propagará por muitos anos.
A condição intrínseca para representar algo é um dos aspectos das imagens e
uma das funções mais discutidas e percebidas. Para um aprofundamento sobre essas
questões, o trabalho fundamenta-se em conceitos destacados no primeiro capítulo do
livro “Imagem – Cognição, semiótica, mídia (Imagem como representação visual e
mental)”, escrito em parceira por Lucia Santaella e Winfried Nöth. “Imagem – 1 “We all know that brands are increasingly accessed digitally. However, a less considered consequence is that the interface through which that brand is accessed has itself become a primary identity element”. 2 “The web is not the culmination of the digital revolution”. 3 “My priority is to see it develop and evolve in a way which will hold us in good stead for a long future”.
19
conceitos”, “A imagem na semiótica peirceana” e “O papel das imagens nos sites
institucionais”, são os tópicos que iniciam o capítulo. Tratam respectivamente dos
conceitos de imagem, da ideia de imagem numa abordagem da semiótica peirceana e do
papel que as imagens podem desempenhar em projetos de interfaces para a WWW. As
análises das interfaces que compõem os sites institucionais fundamentam-se
metodologicamente em três aspectos: 1- visão geral das categorias peirceanas; 2-
Interfaces e 3 - referencial icônico-imagético.
Para aplicação das análises foram escolhidos os sites do Bradesco, Coca-Cola e
Apple Store. O critério para a escolha desses sites em detrimento de outros foi a não
relação direta entre eles, ou seja, eles pertencem a universos distintos, áreas não
correlatas. Como essas empresas se utilizam das imagens para apresentar os seus
produtos? Haveria um padrão como critério de escolha das imagens? São questões dessa
natureza que impulsionaram essa pesquisa.
A pesquisa procurou demonstrar o poder comunicativo das imagens, focando
mais detidamente o referencial icônico-imagético, a iconicidade. Além do potencial
comunicativo das imagens, o poder de sugestão, os aspectos relativos à referencialidade
e à interpretação das imagens também são analisados nesse trabalho. Uma das
conclusões chegadas é que as imagens desempenham um papel importantíssimo na
construção ou elaboração de sites. Importante ressaltar, que as imagens presentes nesses
sites são compreendidas como signos e são, em grande parte, imagens visuais. Outras
conclusões serão apresentadas na parte final desse trabalho.
20
CAPÍTULO I – CAMINHOS SEMIÓTICOS
Esta pesquisa tem por objetivo compreender como as imagens constroem
significados na elaboração de projetos de interface para WWW em sites institucionais e
analisar o papel das imagens e suas funcionalidades enquanto participantes no processo
de significação; sendo assim, far-se-ão, neste primeiro capítulo, algumas
fundamentações teóricas acerca de conceitos semióticos para amparar teoricamente a
pesquisa. Será que as imagens conseguem transmitir a mensagem desejada? Que tipo de
relação existe entre as imagens e os outros signos? Quais estratégias são mais
recorrentes quando se pensa na escolha de uma imagem que deve compor um site?
Questões como essas fazem parte desse estudo.
Os estudos semióticos iniciar-se-ão por meio de um esboço histórico da
semiótica, enfatizando o trabalho de Charles Sanders Peirce4.
Tentar compreender o que as coisas representam e/ou significam é uma tarefa
que tem acompanhado a existência humana, principalmente a de muitos pensadores. A
semiótica preocupa-se com essas questões (assim como a filosofia, principalmente em
pensadores como Platão e Agostinho):
Hermógenes: Eu ao menos, Sócrates, não conheço outra correção do nome que esta: cada coisa pode ser chamada por mim pelo nome que eu atribui, e por ti por um outro, que tu atribuíste. Desse modo, [e] também vejo, às vezes, cada uma das cidades atribuindo nomes distintos às mesmas coisas, tanto os gregos diferentemente de outros gregos, quanto estes dos bárbaros. (PLATÃO, 385d-e apud FIDALGO)5
Segundo palavras da professora do Departamento de Filosofia da Universidade
Federal do Ceará, Maria Aparecida de Paiva Montenegro, 2007, em “Linguagem e
conhecimento no Crátilo de Platão”:
[..] o diálogo versa sobre a justeza dos nomes a partir do exame realizado por Sócrates das teses divergentes de Hermógenes e Crátilo, já exauridos por uma discussão que não chega a um acordo. Segundo Hermógenes, os nomes são resultantes de pura convenção, podendo esta ser tanto individual quanto coletiva; para Crátilo, discípulo de Heráclito e mestre de Platão anteriormente a Sócrates, os nomes espelham a natureza das coisas e esta não é senão o
4 Para se referir às obras do autor, este trabalho utilizará algumas abreviações. Vide Lista de Abreviaturas e Siglas no início deste trabalho.
5 Platon, Cratyle, Paris: Les Belles Lettres, 1969.
21
constante fluxo. Sócrates é chamado para tentar uma conciliação e termina por apontar para as aporias já mencionadas (MONTENEGRO, 2007, p. 3).
Com foco na discussão da presente pesquisa, que visa analisar como as imagens
veiculadas em sites institucionais contribuem nos processos de construção de sentido, o
diálogo “Crátilo” oferece desconcertantes perguntas: a questão da convencionalidade e
da arbitrariedade, por exemplo. As imagens que irão compor um site são padrões
convencionais? Seguem uma lógica mercadológica? A que limites a criatividade está
subordinada? Esses questionamentos serão desenvolvidos no decorrer desse trabalho.
Torna-se bastante relevante para esse trabalho definir os conceitos mais
utilizados a respeito da semiótica. Em termos gerais, o que seria semiótica e o qual o
seu objeto de estudo? O termo Semiótica deriva da língua grega (σημειωτικός
(sēmeiōtikos) literalmente "a ótica dos sinais"). De acordo com Nöth, “As raízes
relatadas “semio-“(a transliteração latinizada da forma grega “semeio-“), “sema(t)-“ e
“seman-“ têm sido a base para a derivação de vários termos no campo da semiótica6 -
tradução nossa” (NÖTH, 1995, p. 13).
O pesquisador Nöth, em seu livro “Panorama da semiótica: de Platão a Peirce,
propõe que “a semiótica é a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose)
na natureza e na cultura” (NÖTH, 1998, p.19). No entanto, como ele mesmo aponta,
essa definição para semiótica não se aplica a todas as correntes da ciência. Cada escola
da semiótica tem a sua definição específica. A escola de Greimas, por exemplo, é bem
restrita, nega a ideia de teoria do signo e postula que a semiótica seja uma teoria da
significação (NÖTH, 1998, p.19).
Interessante notar que desde a antiguidade houve uma disciplina médica
chamada de Semiologia. Entretanto, essa disciplina era específica da área da medicina e
correspondia a um ramo dedicado ao estudo da interpretação de sinais em pacientes.
Winfried Nöth esclarece essa questão:
A Semiótica é um ramo antigo da medicina, apesar disso, o termo em si pode ser de uma data mais recente (cf. Barthes 1972, Romeo 1977, Bär 1988). O médico Galeno de Pérgamo (139-199), por exemplo, referiu-se ao diagnóstico como um processo de “semeiosis”. Por volta do século dezoito os termos “semiotica”, “semiotique”, ou “semiotik” passaram a ser oficialmente adotados como termos médicos como doutrina dos sintomas em várias línguas europeias (NÖTH, 1985, p. 13).
6The related roots “semio-“(the Latinazed transliteration of the Greek form “semeio-“), “sema(t)-“ and “seman-“ have been the basis for the derivation of various terms in the field of semiotics
22
Percebe-se que existem e existiram muitos conceitos atrelados à busca de uma
definição do que seria a semiótica. Dentro da tradição da semiótica como disciplina das
ciências médicas, há de se deixar claro que para alguns o termo mais adequado seria
Symptomatology (NÖTH, 1985, p. 13). Essa terminologia foi utilizada pela primeira vez
em língua inglesa por Henry Stubbes (1670) e seria algo próximo a um tipo de
“sintomatologia”, ou seja, a partir dos sinais ou sintomas (efeitos) do corpo poderia se
chegar a uma causa da doença. Entretanto, não se utiliza mais desse termo na medicina
atualmente.
O campo de aplicação da semiótica é muito amplo e, desde tempos remotos,
tenta-se definir o seu objeto de estudo. Na filosofia, o primeiro a empregar o termo
semiótica foi John Locke. O filósofo se utilizou dos termos "semeiotike" e "semeiotics"
no livro 4, capítulo 21 do “Ensaio acerca do Entendimento Humano” (1690). Segundo
NÖTH (1985, p.13), “a primeira menção explícita da semiótica como um ramo da
filosofia encontra-se em um ensaio de Locke referente ao entendimento humano
(IV.21.4), onde a “doutrina dos signos” é definida como σημειωτικός (1690: 443; ver
3.2.3)7”. Entretanto, apesar de introduzir o termo semiótica dentro da filosofia, Locke
não se utilizou dele de forma sistemática. De acordo com NÖTH (1985, p.13),
“enquanto Locke apenas propôs esse termo sem tê-lo usado sistematicamente, a
palavra reaparece mais frequentemente nos escritos de Johann Heinrich Lambert
(1974)8”. Outros filósofos também fizeram uso do referido termo, como Bolzano.
Thomas Sebeok afirma, em relação à adoção do termo, que Peirce e Morris utilizam:
A tradição de uma filosofia explícita semiótica foi continuada por Bolzano (1837 a-c), que trabalha com a semiótica em sua “Teoria da Ciência”. Da σημειωτικός de Locke, Peirce adotou o termo “semeiotic”. Às vezes ele usa a forma “semiotic”, mas nunca “semiotics” (cf. Sebeok, 1976: 48). Semiotic é a forma adotada por Morris – tradução nossa (NÖTH, 1985, p. 13-14)9.
7 “the first explicit mention of semiotics as a branch of Philosophy is in Locke’s Essay concerning Human Understanding (IV. 21. 4), where the “doctrine of signs” is defined as σημειωτικός (1690: 443; see 3.2.3)”. 8 “ while Locke only proposed this term without himself using it systematically, the word reappears more frequently in the writings of Johann Heinrich Lambert (1974)”. 9 The tradition of explicit semiotic philosophy was continued by Bolzano (1837 a-c), Who deals with semiotics in his “Theory of Science”. From Locke’s σημειωτικός, Peirce adopted the term “semeiotic”. Sometimes he uses the form “semiotic”, but never “semiotics” (cf. Sebeok, 1976: 48). Semiotic is the form adopted by Morris”.
23
Com o passar do tempo não apenas as definições de semiótica e os seus
conceitos foram se expandindo como os campos de estudo onde essa ciência pode ser
aplicada foram se ampliando. Hoje é comum se falar em intersemiótica e aplicações de
teorias semióticas em diversas áreas do conhecimento. Isso demonstra a sua propensão à
interdisciplinaridade, como é o caso da aplicação de fundamentos semióticos, por
exemplo, na análise de sites institucionais, proposta por essa dissertação. A partir desse
ponto entende-se que os objetos de estudo da semiótica se ampliam, não sendo possível
determiná-los por completo.
1.1. Correntes e linhas semióticas
Como visto anteriormente, o termo semiótica já havia sido empregado na
antiguidade (NÖTH, 1995, p.13). Na tradição semiótica europeia, o saber foi estudado
levando em consideração o seu aspecto dual, criando assim algumas dicotomias: o
aspecto semiológico ou o que se refere ao significante e o seu aspecto epistemológico
ou o que se refere ao significado das palavras. De acordo com Saussure (2001, p. 80-
81), “o signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas faces”. Assim, na
Europa, o signo era visto como portador de uma natureza dual e a ciência dos signos
passou a ser conhecida como Semiologia. A semiologia compreende o signo estruturado
em dois planos: significante (forma) x significado (conteúdo). (Saussure, 2006).
O significante relaciona-se com os aspectos estruturais, enquanto que o
significado relaciona-se diretamente com os aspectos semânticos. O significado pode
ser compreendido como o conceito, enquanto que o significante representa a imagem
acústica.
A relação desses dois elementos é o que Saussure chama de signo. Constitui-se
esse fenômeno em uma relação indissociável, ou seja, um termo não existe sem o outro.
A imagem a seguir ilustra bem essa ideia.
24
Fonte: figura adaptada da obra “Curso de Linguística Geral” de Ferdinando de Saussure (2006: 80).
Para Saussure o signo é formado por dois termos, em uma relação de
dependência de dois termos,
Propomo-nos conservar o termo signo para designar o total, e a substituir conceito e imagem acústica respectivamente por significado e significante; estes dois termos têm a vantagem de assinalar a oposição que os separa, quer entre si, quer do total de que fazem parte (SAUSSURE, 2006, p. 81).
A ideia de conceito e imagem acústica determina o signo no sentido
saussureano. A semiologia de Saussure é aplicada essencialmente dentro da linguística.
No continente americano, especificamente nos Estados Unidos, o pesquisador
(Charles Sanders Peirce) desenvolveu o seu trabalho focado na doutrina dos signos,
porém, nomeando-a de Semiótica. Para Deely:
A tradição semiótica de [...] Peirce difere-se da semiológica proposta por Saussure porque a semiótica "não tem como princípio ou quase exclusiva inspiração a fala e a língua humana. Ela vê na semiose um processo muito mais vasto e fundamental envolvendo o universo como físico no processo da semiose humana, e fazendo da semiose humana uma parte da semiose da natureza." [...] Semiótica e semiologia constituem duas tradições ou paradigmas, o que tem "até certo ponto prejudicado o desenvolvimento contemporâneo por existir dentro dele em condições sociológicas de oposição. Essas condições de oposição, todavia, não são apenas desnecessárias logicamente, mas dependem para seu sustento de uma sinédoque perversa pela qual a parte é tomada erradamente pelo todo. A semiótica forma um todo do qual a semiologia é uma parte (DEELY, 1990, p. 23).
A semiótica de Peirce difere filosoficamente da semiologia europeia, pois
entende ser o signo de natureza triádica, além de ampliar, por assim dizer, o campo de
atuação fenomenológica sígnica. Na semiótica peirceana, o signo ultrapassa a aplicação
Conceito
Imagem Acústica
Figura 1 - O signo linguístico saussureano.
25
linguística e passa a ser estudado em qualquer tipo de fenômeno ao qual algum processo
de comunicação possa ser percebido. Para um melhor entendimento faz-se necessário
verificar como as outras correntes semióticas se distinguem, como entendem ou
compreendem o signo, em que pontos se entrecruzam.
1.1.1. Síntese das principais correntes semióticas e o conceito de signo
O signo é uma coisa que, além da espécie ingerida pelos sentidos, faz vir ao
pensamento, por si mesma, qualquer outra coisa.
Santo Agostinho
1.1.1.1. Ferdinand de Saussure
A contribuição de Saussure para os estudos da semiótica pode ser compreendida
a partir de seu desenvolvimento do estruturalismo linguístico. Em artigo publicado na
revista eletrônica de jornalismo científico, Winfried Nöth afirma:
No século XX, o conceito de semiologia se impôs novamente a partir da obra fundamental de Ferdinand de Saussure (1857-1913), o Curso de lingüística geral, de 1916. Sem referência às tradições semióticas anteriores, o fundador do estruturalismo lingüístico definiu a semiologia como uma nova e futura ciência geral da comunicação humana, que estudaria a “vida dos signos como parte da vida social”. A base dessa nova semiologia seria a lingüística estrutural, o seu programa seria a extensão do campo da lingüística da linguagem verbal para a comunicação não-verbal, cultural e textual. Neste espírito estruturalista e trans-lingüístico, a semiologia começou a se estabelecer a partir dos anos 40 e 50 (Buyssens, Hjelmslev) e com uma fama crescente nos anos 1960 na França (Prieto, Barthes, Mounin, Greimas), no resto da Europa e na América Latina (NÖTH, 2006, p. 1).
O pensamento de Saussure está sintetizado na obra “Curso de Linguística
Geral”, escrita por seus discípulos, que fizeram uma compilação dos seus escritos.
Saussure é considerado o “pai da semiologia”, pois foi o primeiro a definir o signo
linguístico como seu objeto de estudo. Saussure apoiava-se nas chamadas dicotomias
(língua x fala/, sincronia x diacronia, sintagma x paradigma, significado x significante)
e compreendia a Linguística como sinônimo de Semiologia, uma espécie de vertente
científica que teria como objeto de estudo os signos. Em relação à semiótica peirceana
há de se fazer algumas distinções. Para Nöth:
26
No nosso século, o termo semiologia ficou ligado à tradição semiótica fundada no quadro da linguística de Ferdinand de Saussure e continuada por semioticistas como Louis Hjelmslev ou Roland Barthes. Sob essas influências, semiologia permaneceu durante muito tempo como o termo preferido nos países românicos, enquanto autores anglófonos e alemães preferiram o termo semiótica. Alguns semioticistas, porém, começaram a elaborar definições conceituais entre semiologia e semiótica: semiótica, designando uma ciência mais geral dos signos, incluindo os signos animais e da natureza, enquanto semiologia passou a referir-se unicamente à teoria dos signos humanos, culturais e, especificamente textuais (NÖTH, 1995, p. 23).
Dessa forma, a semiologia saussureana parte de uma tradição estritamente
linguística, ou seja, os fenômenos sígnicos operam basicamente nessa esfera, a dos
signos verbais. Para Saussure, o signo linguístico é, pois, uma entidade psíquica de duas
faces, é ainda a combinação do conceito e da imagem acústica (SAUSSURE, 2006, p.
80-81). Outra característica do signo seria a sua arbitrariedade: justamente porque o
signo é arbitrário, não conhece outra lei senão a da tradição, e é por basear-se na
tradição que pode ser arbitrário (SAUSSURE, 2006, p. 88). Essa ideia da
arbitrariedade do signo é vista em outros pensadores, como veremos mais adiante.
1.1.1.2. Charles Sanders Peirce
A visão peirceana de signo difere filosoficamente da visão saussureana. Peirce
concebe a semiótica como lógica e concebeu o signo como um composto triádico e não
dual, como Saussure defende. Dessa forma, percebe-se que a abordagem peirceana é
distinta daquela desenvolvida por Saussure.
No conceito peirceano, de acordo com Santaella (1983, p. 83), “signo é uma
coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se
carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele”. A
princípio essa definição está de acordo com o que Saussure define como signo.
Santaella traz uma definição mais próxima do que Peirce geralmente concebe por signo:
“A tese central de Peirce é a de que ‘todo pensamento se dá em signos’, do que decorre
que [...] a cognição é uma relação de três termos, isto é, triádica, uma relação entre um
sujeito e um objeto inevitavelmente mediada pelo signo”. (SANTAELLA, 1992, p.70).
Observa-se que Peirce estabelece que toda experiência e pensamento se dá por meio de
signos, afirmando que esse mesmo signo possui uma natureza triádica. Santaella (2002)
menciona o conceito de signo na visão peirceana:
27
Em uma definição mais detalhada, o signo é qualquer coisa de qualquer espécie (uma palavra, um livro, uma biblioteca, um grito, uma pintura, um museu, uma pessoa, uma mancha de tinta, um vídeo etc.) que representa uma outra coisa, chamada de objeto do signo, e que produz um efeito interpretativo em uma mente real ou potencial, efeito esse que é chamado de interpretante do signo (SANTAELLA, 2002, p. 18).
A partir das definições de signo é possível verificar que qualquer coisa, material
ou imaterial e de qualquer espécie pode assumir o papel de um signo e que o signo
representa outra coisa, que é o seu objeto. Esse objeto tem a condição de produzir um
efeito interpretativo em uma mente, seja essa mente real ou potencial. Sendo assim,
levando em consideração essa pesquisa, os sites institucionais estão repletos de signos,
que determinam os seus objetos. Particularmente, as imagens são analisadas como
signos, que potencializam os seus objetos, que devem produzir efeitos interpretativos na
em uma mente (ou mentes) em potencial. Compreender os efeitos interpretativos
gerados a partir de imagens-signos nos sites analisados é um dos objetivos principais
dessa pesquisa. Para tal, essa pesquisa fundamenta-se em uma abordagem semiótica.
1.1.1.3. Umberto Eco
De acordo com Santaella, é possível entender a semiótica de Umberto Eco como
uma semiótica de caráter pluralista. Isso está evidenciado em seus livros “A estrutura
ausente”, “As formas do conteúdo”, “O signo” e “Tratado geral de Semiótica” (ECO
1968, 1971, 1976) (SANTAELLA, 2004, p.144). Para Eco a comunicação também se
dá em signos e dentro do processo de semiose (processo dinâmico da ação sígnica).
Uma vez que a semiótica, de acordo com Eco (1976: 7), "está voltada para tudo o que
pode ser tomado como um signo", a definição de signo de Eco pode nos fornecer outros
insights para a delimitação de seu campo semiótico (NÖTH, 1998, p.1). A semiótica de
Eco é conhecida como semiótica da cultura (SANTAELLA, 2004, p. 143), entretanto, a
comunicação para ele não se concretiza apenas dentro do universo do humano, mas em
relação às máquinas.
Quando o destinatário é um ser humano [...], vemo-nos [...] em presença de um processo de significação, desde que o sinal não se limite a funcionar como simples estímulo, mas solicite uma resposta interpretativa por parte do destinatário. [...] Todo processo de comunicação entre seres humanos [...] pressupõe um sistema de significação como pré-condição necessária (ECO apud SANTAELLA, 2004, p. 149).
28
Partindo da afirmação de Eco a respeito da necessidade da existência de um
sistema de significação que intermedeie a comunicação, os sites institucionais, através
de suas interfaces, podem estar inseridos nesse contexto, pois a significação advinda
do(s) signo(s) está estabelecida, no caso dessa pesquisa, a partir das imagens-signos que
se apresentam e são analisadas. Ainda, de acordo com Eco,
O signo é um gesto emitido com a intenção de comunicar, ou seja, para transferir uma representação própria ou um estado interno para um outro ser. Naturalmente, presume-se que, para que a transferência tenha êxito, uma determinada regra (um código) habilite tanto o emissor quanto o receptor para entender a manifestação do mesmo modo (ECO, 1991, p. 18).
1.1.1.4. Roman Jakobson
Jakobson foi um pensador e linguista russo, pertencente à escola russa
estruturalista. Dentro do seu trabalho sobre linguagem trabalhou mais detidamente no
que ele chamou de funções de linguagem. De acordo com Chalhub,
Diferentes mensagens veiculam significações as mais diversificadas, mostrando na sua marca e traço[...] O funcionamento da mensagem ocorre tendo em vista a finalidade de transmitir — uma vez que participam do processo comunicacional: um emissor que envia a mensagem a um receptor, usando do código para efetuá-la; esta, por sua vez, refere-se a um contexto. A passagem da emissão para a recepção faz-se através do suporte físico que é o canal. Aí estão, portanto, os fatores que sustentam o modelo de comunicação: emissor; receptor; canal; código; referente; mensagem. (CHALHUB, 1990, p. 1)
A partir dai tem-se as funções da linguagem como referencial (centralizada no
referente), emotiva (centralizada no emissor), conativa ou apelativa (centrada no
receptor), fática (centralizada no canal), metalinguística (centralizada na mensagem) e
poética (centralizada no código).
Jakobson fez uma distinção entre a semiologia francesa e a semiótica, definindo
o objeto de estudo de cada uma. Para ele, “o objeto da semiótica é a comunicação de
mensagens, enquanto o campo da lingüística se restringe à comunicação de mensagens
verbais”. (JAKOBSON, 1970ª, p.20), concluiu que existem três maneiras de se
interpretar um signo verbal:
29
a) Intralingual translation or rewording is an interpretation of verbal signs by means of other signs of the same language. b) Interlingual translation or translation proper is an interpretation of verbal signs by means of some other language. c) Intersemiotic translation or transmutation is an interpretation of verbal signs by means of signs of nonverbal sign systems (Jakobson, 1987: 429).10
Para Jakobson o signo se posiciona mais claramente dentro do contexto da
linguística. Ele afirma que “o significado […] de qualquer palavra ou frase qualquer
que seja [...] é um fato semiótico” 11 (Ibidem).
1.1.1.5. Greimas
O conceito de signo não aparece especificamente nos escritos de Greimas.
Significantes e significados são uma entidade abstrata. A existência de um pressupõe a
existência do outro. Percebe-se, assim, uma mudança não só metodológica como
também filosófica, pois para ele, significantes são
os elementos ou grupos de elementos que possibilitam a aparição da significação ao nível da percepção e significados são o conjunto das significações que são recobertas pelo significante e manifestadas graças à sua existência. (GREIMAS, 1973, p. 17)
Greimas (1973) desenvolveu uma classificação para os significantes levando em
consideração as percepções sensoriais, ou ordens, como ele denominou: ordem visual,
tátil, auditiva, olfativa e gustativa. Um exemplo de ordem tátil é o Braile. Ele
compreendia que tudo pode ser um signo consoante o nosso poder de interpretação.
Greimas ficou bastante conhecido por ter elaborado o quadrado ou retângulo semiótico,
a partir da observação do esquema bidirecional das histórias: o herói, seu ajudante, seu
adversário e a sociedade. De acordo com Antonio Fidalgo, professor de Ciências da
Comunicação da Universidade da Beira Interior, em Portugal:
10 a) tradução intralingüística ou reformulação é uma interpretação de signos verbais por meio de outros signos da mesma língua; b) tradução interlinguística ou tradução propriamente dita é uma interpretação de signos verbais por meio de alguma outra língua; c) tradução intersemiótica ou transmutação é uma interpretação de signos verbais por meio de sinais de sistemas de signos não-verbais.
11 “the meaning [...] of any word or phrase whatsoever is definitely [...] a semiotic fact”.
30
O quadrado semiótico consiste na representação visual da articulação lógica de qualquer categoria semântica. Partindo da noção saussureana de que o significado é primeiramente obtido por oposição ao menos entre dois termos, o que constitui uma estrutura binária (Jakobson), chega-se ao quadrado semiótico por uma combinatória das relações de contradição e asserção. Este é um procedimento estruturalista na medida em que um termo não se define substancialmente, mas sim pelas relações que contrai (FIDALGO, 2005, p. 127)
Exemplificando, de acordo com Fidalgo (2005): Tomando S1 como masculino e
S2 como feminino, o primeiro passo é negar S1, produzindo assim a sua contradição
~S1, que se caracteriza por não poder coexistir simultaneamente com S1 (há uma
impossibilidade de os dois termos estarem presentes ao mesmo tempo). A seguir afirma-
se ~S1 e obtém-se S2. Isto é, se não é masculino é feminino. Esta é uma relação de
implicação. O passo assim descrito representa-se graficamente do seguinte modo:
O segundo passo consiste no mesmo procedimento a partir de S2, pelo que se
obtém o seguinte esquema:
Os dois esquemas constituem, então, o quadrado semiótico:
31
Ainda, segundo Fidalgo (2005), as linhas bidirecionais contínuas representam
uma relação de contradição, as bidirecionais tracejadas uma relação de contrariedade e
as linhas unidirecionais uma relação de complementaridade. Existe uma relação de
concordância entre as ideias de Greimas e o pensamento de Saussure, quando os dois
entendem o processo comunicativo mediado pelo signo como algo de via dupla e o
signo como uma entidade de caráter dual, pois a ideia de contradição e polarização está
mais de acordo com o dualismo significante x significado do que com o pensamento
peirceano do signo como entidade essencialmente triádica.
1.1.1.6. Roland Barthes
Os conceitos de significante e significado são retomados em Barthes. Ele define
o signo como um plano bidimensional, possuindo o eixo do significante e o eixo do
significado. Porém, ele muda a terminologia usada por Saussure. Para Barthes, o plano
dos significantes constitui o plano de expressão e o dos significados o plano de
conteúdo. (BARTHES, 1991, p.43)
Em relação aos conceitos de significação, ele afirma que ela pode ser concebida
como um processo; é o ato que une o significante e o significado, ato cujo produto é o
signo (BARTHES, 1991, p.52). Barthes fez parte da escola estruturalista, tendo
Saussure como uma das principais influências. Desse modo, o processo de significação
foi compreendido pelo autor a partir de duas instâncias: denotação e conotação.
1.1.1.7. Demais pensadores
Outros nomes merecem menção devido às suas contribuições nos estudos
semióticos, como por exemplo, Morris divide os signos em Sintático (nível das
estruturas dos signos, modo como eles se relacionam e suas possíveis combinações),
Semântico (relação dos signos e seus respectivos significados) e Pragmático (valor dos
signos para os seus utilizadores, reações destes em relação aos signos e modo como os
signos são utilizados). Isso está de acordo com Fidalgo (2005):
O outro fator importante na instituição contemporânea da semiótica foi indubitavelmente a sua sistematização. Hoje a semiótica como qualquer ciência estabelecida subdivide-se em disciplinas. A divisão mais corrente é justamente a avançada por Morris: sintaxe, semântica e pragmática. Se, por um lado, estas subdisciplinas tendem cada vez mais a autonomizar-se e
32
mesmo a entrar pelos campos das disciplinas vizinhas, mostrando a fluidez das fronteiras científicas, por outro, nunca as relações entre os diferentes campos semióticos foram cientificamente tratadas como acontece hoje. Os séculos passados forneceram excelentes análises sintácticas e semânticas, mas só no século XX as relações entre os campos sintáctico e semântico foram cientificamente tematizadas. Quanto ao campo pragmático, ainda que de certo modo tematizado na retórica clássica, só no nosso tempo viu reconhecida a sua crucial importância para toda a semiótica. (FIDALGO, 2005, p. 1).
Morris, assim como Peirce, chama de semiose ao processo pelo qual algo
funciona como signo. De acordo com ele, esse processo envolve três fatores: o veículo
sígnico, ou seja, aquilo que atua como signo; o designatum, ou aquilo a que o signo se
refere; e o interpretante (mesmo conceito peirceano), tendo em vista que o efeito sobre
alguém em função da coisa em questão seja um signo para ele (MORRIS, 1976).
Guiraud é um pensador que se destaca em relação ao tratamento do signo, pois
ele diferencia determinados tipos de códigos, sendo os códigos lógicos os mais
importantes em relação aos signos. Para Guiraud, os códigos paralinguísticos estão
associados a aspectos da linguagem verbal (código alfabeto enquanto escrita, escritas
ideogramáticas), códigos práticos ligados às sinaléticas, programações e códigos do
conhecimento, como sinais de trânsito e os epistemológicos ligados às áreas específicas
da ciência. Guiraud afirma que, o signo é, portanto, um excitante – os psicólogos dizem
um estímulo, cuja ação sobre o organismo provoca a imagem memorial de um outro
estímulo; a nuvem evoca a imagem da chuva, a palavra evoca a imagem da coisa
(GUIRAUD, 1980, p. 15).
1.2. Charles Sanders Peirce
Peirce, o Kant da filosofia americana (APEL, 2000, p.187), certamente deve
fazer parte do rol daqueles que contribuíram significativamente para o avanço da ciência
e que infelizmente tiveram suas existências permeadas por dissabores oriundos
majoritariamente dos seus detratores.
A originalidade de seus conceitos e a busca do estabelecimento dos estudos
relativos aos significados das coisas, utilizando-se de novos escopos, muitas vezes
contrários aos dogmas científicos do momento histórico no qual estava inserido, podem
ter sido o motivo de tanto furor por parte de muitos críticos. Não raras vezes o
conservadorismo científico-acadêmico procura proteger-se de possíveis predadores
numa espécie de autodefesa. Peirce acabaria por provar essa tese. Todas as pessoas que
33
quebram paradigmas revestidos com a aura da inviolabilidade são geralmente tratadas
como subversores da ordem vigente. A genialidade nem sempre compreendida pode
gerar sentimentos de inveja e incompreensão. O próprio Peirce chegou a comentar a
respeito do assunto:
Eu sou um homem ao qual os críticos não têm encontrado nada de bom para comentar. Quando eles não encontravam nenhuma oportunidade para me agredir, eles juntavam as suas peças. O pouco elogio que tive veio de tais fontes, que a pouca satisfação que derivou deles tem sido de tais fatias de pão e manteiga que poderiam passar pelo meu caminho. Só uma vez, tanto quanto me lembro, em toda a minha vida experimentei o prazer do louvor, não por aquilo que ele pode trazer, mas em si mesmo. Aquele prazer foi bem-aventurado; e os elogios que conferiu foi feito para a culpa. Foi um crítico que disse de mim que eu não parecia ter certeza absoluta da minhas próprias conclusões. Nunca, se eu puder evitá-lo, que tal olho crítico descanse sobre o que estou escrevendo agora, pois devo um grande prazer a ele, e, tal era o seu ânimo evidente que ele deveria descobrir isso, eu temo que os fogos do inferno seriam alimentados com combustível novo no peito (CP 1.11)12.
A preocupação em estabelecer as suas categorias universais é evidente na obra
peirceana. Conclui-se que toda a pesquisa e visão metodológica do pesquisador têm
como suporte essas categorias.
Peirce licenciou-se em Ciências e doutorou-se em Química em Harvard, onde
posteriormente lecionou Filosofia. Também lecionou a mesma disciplina na
Universidade Johns Hopkins. Foi o fundador do Pragmatismo, depois renomeado por
ele como Pragmaticismo e da ciência dos signos, a semiótica.
Hoje, sabe-se que produziu cerca de 80.000 manuscritos, além de 12.000 páginas
publicadas em vida. Os chamados Collected Papers fazem parte desses manuscritos.
Como descrever a posição filosófica de Peirce? Santaella o descreve como um
evolucionista:
Alertamos nesse momento para uma questão. Peirce era um evolucionista de tipo muito especial, nem mecanicista tal como Spencer, nem estritamente materialista, pois, para ele, “materialismo sem idealismo é cego: idealismo sem materialismo é vazio”. Isso não significa que professasse, por outro lado, um evolucionismo idealista. Ele próprio se autodenominou idealista objetivo (SANTAELLA, 2008, p. 25).
12 “I am a man of whom critics have never found anything good to say. When they could see no opportunity to injure me, they have held their piece. The little laudation I have had has come from such sources, that the only satisfaction I have derived from it, has been from such slices of bread and butter as it might waft my way. Only once, as far as I remember, in all my lifetime have I experienced the pleasure of praise - - not for what it might bring but in itself. That pleasure was beatific; and the praise that conferred it was meant for blame. It was that a critic said of me that I did not seem to be absolutely sure of my own conclusions. Never, if I can help it, shall that critic’s eye ever rest on what I am now writing; for I owe a great pleasure to him; and, such was his evident animus, that should he find that out, I fear the fires of hell would be fed with new fuel in his breast”.
34
De acordo com Santaella, o pensamento do cientista estava à frente de sua
época, pois ele acreditava que o universo estava em expansão contínua, porém essa
expansão se daria principalmente na mente humana, sendo a consequência principal
disso a mudança concreta no mundo físico.
Segundo Peirce, não sendo nem as leis da natureza absolutas, mas evolutivas, daí o caráter estatístico dessas leis, os princípios científicos, por seu turno, não chegam a ser senão fórmulas rigorosas, mas sempre provisórias, no sentido de estarem sujeitas a mudanças contínuas. Não há, portanto, princípios absolutos, nem na Matemática. Cada investigador individual, por mais sistemático e rigoroso que possa ser seu pensamento, é essencialmente falível (SANTAELLA, 2008, p. 26).
A ideia de falibilidade é extremamente importante no pensamento peirceano.
Para ele nada seria totalmente absoluto, pois o homem não teria como chegar a uma
verdade absoluta única e exclusivamente através do raciocínio. Por causa dessa
concepção, o cientista se autodenominava um propagador da teoria do Falibilismo.
[...] Uma vez que você aceite o princípio de continuidade, nenhum tipo de explicação das coisas irá satisfazê-lo, exceto o de que elas crescem. O infalibilista naturalmente pensa que tudo sempre foi substancialmente como é hoje. Leis [...], sendo absolutas, não poderiam crescer [....]. Isto faz das leis da natureza absolutamente cegas e inexplicáveis. O porquê e o seu motivo não podem ser questionados. Isso absolutamente bloqueia o caminho da investigação. O falibilista não quer isto. Ele pergunta se essas forças da natureza não podem ser de algum modo agradáveis à razão. Elas não teriam crescido naturalmente? De qualquer modo, não há razão para pensar que são absolutas [...] (CP 1.175)
Essas ideias para a sua época já demonstravam o potencial cientifico e a mente
imaginativa do cientista. Para Peirce, a Filosofia e a Ciência evoluem gradativamente,
estando subordinadas a leis mutáveis por causa de fatores como lugar, tempo, cultura
etc. Sendo assim, nada poderia ser absoluto em sua natureza primária.
1.2.1. Posição da semiótica nas ciências
Para chegar à classificação das ciências, ou seja, a sua “arquitetura”, Peirce
desenvolve três categorias fundadoras de toda experiência. Como ponto de partida
utiliza-se da Fenomenologia ou Faneroscopia, ciência filosófica de primeiridade –
ponto que provê à filosofia as fundamentais e gerais condições da experiência
35
(ANDERSON, 1995, p. 39). Em continuidade, seguindo seu raciocínio lógico, chega às
ciências filosóficas de secundidade ou ciências normativas (das normas ou ideias):
estética, ética e lógica, esta última tratada por Peirce como semiótica. A Fenomenologia
(ou Faneroscopia, como preferia Peirce) é a ciência que fundamenta a semiótica de
Peirce, e deve ser entendida nesse contexto.
Faneroscopia é a descrição do fáneron; e por fáneron quero dizer o total coletivo de tudo o que esteja de algum modo, ou em algum sentido, presente à mente, sem considerar absolutamente se corresponde a alguma coisa real ou não. Se você perguntar presente quando, e à mente de quem, respondo que deixo essas questões sem resposta, nunca tendo alimentado dúvida alguma de que aqueles perfis do fáneron que encontrei em minha mente estejam presentes em todos os momentos e para todas as mentes. Até onde tenho desenvolvida a ciência da faneroscopia, ela se ocupa dos elementos formais do fáneron (CP 1.284).
Para Peirce, a Fenomenologia é a descrição e análise das experiências do
homem. O método fenomenológico consiste na observação direta dos fenômenos da
experiência, generalização e descrição das suas propriedades segundo a tríade categorial
(CP 1.286).
A fenomenologia pode ser entendida como o estudo do Phaneron (Fenômeno).
Para Peirce, qualquer coisa presente à mente que tenha ou não correspondência com a
realidade externa (CP 1.284). Nesse sentido, o fenômeno é tudo aquilo que é percebido
pelo homem, até mesmo algo que pertença ao universo onírico.
Como mencionado anteriormente, a Faneroscopia é vista na semiótica peirceana
como uma ciência de primeiridade. Dentro da lógica classificatória das ciências de
secundidade, encontram-se as chamadas ciências normativas. As ciências normativas
são aquelas que sugerem normas ou ideias. Em conformidade com Peirce, “as ciências
normativas são as “mais puramente teóricas das ciências puramente teóricas”13 (CP
1.281).
A primeira das ciências normativas é a Estética. A Estética no entendimento
peirceano difere muito dos conceitos de outros pensadores. Distante de uma teoria do
belo, Peirce concebe-a como a ciência do que é admirável sem nenhuma razão para ser
admirável além de seu caráter inerente (CP 1.612). Assim, a Estética peirceana não
está voltada para o que belo ou não belo, mas sim para aquilo que deveria ser
experimentado por si mesmo, em seu próprio valor (SANTAELLA, 1994, p.130).
13 “normative sciences are the “most purely theoretical of pure theoretical sciences”.
36
Alguns aspectos da Estética de Peirce devem ser apontados para elucidar a questão da
presente pesquisa.
Interessante observar que a Estética peirceana precede as duas outras ciências,
sendo também compreendida como uma ciência normativa. Haveria algum propósito
para isso? O que chama a atenção é a forma com que Peirce compreendia a Estética.
Para ele essa primeira ciência normativa estaria diretamente relacionada com hábitos,
mas uma espécie muito peculiar de hábitos. Como vemos a Estética seria, em suas
palavras, “A teoria da formação deliberada dos hábitos de sentir”14 (CP 1.574).
Após o entendimento do que seria a Estética no pensamento peirceano, segue-se
a ideia do que seria a Ética. De acordo com Peirce, ela é a teoria da conduta deliberada
ou auto-controlada (PEIRCE apud ANDERSON 1995, p. 43). A Ética também é tida
como uma ciência normativa, pois trata de normas. Peirce também concebia a Ética de
forma diferenciada daquela comumente aceita em sua época, ou seja, a doutrina do bem
e do mal.
O que constitui a tarefa da ética é justamente justificar as razões pelas quais certo e errado são concepções éticas. Para ele, o problema fundamental da ética está voltado para aquilo que estamos deliberadamente preparados para aceitar como afirmação do que queremos fazer, do que temos em mira, do que buscamos (SANTAELLA, 2001, p.38).
A lógica, tratada por Peirce como semiótica, estuda o signo como fenômeno
privilegiado de terceiridade, veículo de todo pensamento. Para Cassiano Terra
Rodrigues, professor de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(2006)15, “Como ordem das ciências normativas, a lógica é uma parte da investigação
filosófica. Aqui, a lógica é a semiótica propriamente dita, “ciência das condições
gerais dos signos serem signos” [CP 1.444].
A lógica no pensamento peirceano é tida como uma semiótica geral, ciência das
leis que regem todo e qualquer pensamento, devendo preocupar-se não apenas com a
verdade, mas principalmente com as condições e leis referentes aos fenômenos signicos,
pois a mediação sempre se dará em signos, como visto anteriormente.
Quando Peirce estabelece o propósito da lógica como sendo o de distinguir
verdade de falsidade, percebe-se que esse tipo de colocação relaciona a lógica de forma
14 “The theory of the deliberate formation of habits of feeling”.
15 Lógica como Ciência: apontamentos sobre o pensamento de Peirce. Artigo publicado na revista eletrônica de jornalismo científico “Com Ciência”, na edição de 10 de abril de 2006.
37
direta aos conceitos de verdade do Pragmaticismo peirceano. "considere que efeitos
práticos concebemos que o objeto de nossa concepção tem. Então, nossa concepção
desses efeitos constitui o conteúdo total de nossa concepção desse objeto" (Peirce 1965,
p. 31). Para Peirce, a verdade pragmática de uma proposição está subordinada aos seus
efeitos práticos, aceitando-se para tal, o sentido comum do termo verdade.
Para se posicionar a semiótica de Peirce dentro das ciências, é imprescindível
entender o seu caráter. De acordo com Rodrigues (2006):
A concepção de lógica como semiótica, de Charles Sanders Peirce (1839-1914), é muito mais ampla do que a tradicional concepção da lógica como calculus raciocinatur e, talvez, seja a mais anti-positivista e libertária concepção de lógica já defendida por um lógico. Para entender melhor a semiótica peirciana, é preciso entender a sua classificação das ciências da descoberta, ditas heurísticas, porque são aquelas ciências que nos fazem descobrir coisas novas (RODRIGUES, 2006).
O pesquisador Cassiano Terra Rodrigues (2006) continua: Essa classificação
pode ser apresentada num diagrama com a possível disposição:
A. Ciências da descoberta, chamadas heurísticas. A.1. Classe: Matemática A.1.i. Subclasse: matemática da lógica A.1.ii. Subclasse: matemática das series discretas A.1.iii. Subclasse: matemática dos continua e pseudocontínua. A.2. Classe: Filosofia, ou cenoscopia A.2.i. Subclasse: Categórica, fenomenologia ou faneroscopia A.2.ii. Subclasse: Ciência Normativa A.2.ii.a. Ordem: Estética A.2.ii.b. Ordem: Ética A.2.ii.c. Ordem: Lógica A.2.iii. Subclasse: Metafísica A.2.iii.a. Ordem: Metafísica geral, ou ontologia A.2.iii.b. Ordem: Metafísica psíquica ou religiosa A.2.iii.c. Ordem: Metafísica física
A importância das ciências heurísticas para a semiótica é devido ao caráter
intrinsicamente investigativo de tais ciências, sendo esse caráter também intrínseco à
semiótica, ciência investigativa por natureza.
38
1.2.2. O Signo peirceano e as suas tríades
Um signo é qualquer coisa que é de um tal modo determinada por uma outra coisa que é capaz de determinar um efeito sobre uma pessoa, efeito este que chamo de seu interpretante, este último sendo, por consequência, mediatamente determinado pelo primeiro (NEM 3: 886).
As tríades ou tricotomias peirceanas mais conhecidas são aquelas que se
referem ao signo em si mesmo: quali-signo, sin-signo e legi-signo; signo com o seu
objeto: ícone, índice e símbolo e a relação do signo com o seu interpretante: rema
discente e argumento. Dai, temos:
Quadro 1 - Categorias Peirceanas
I II III
(I) Signo Quali-signo Sin-signo Legi-signo
(II) Objeto Ícone Índice Símbolo
(III)Interpretante Rema Dicente Argumento
Segundo Santaella,
cada uma dessas divisões foi então subdividida novamente, de acordo com as variações próprias das categorias de primeiridade, secundidade e terceiridade. Os signos em si mesmos podem ser: (1.1) qualidades, (1.2) fatos e (1.3) ter a natureza de leis ou hábitos; os signos podem estar conectados com seus objetos em virtude de: (2.1) uma similaridade, (2.2) uma conexão de fato, não-cognitiva e (2.3) hábitos (de uso);finalmente para os seus interpretantes, os signos podem representar seus objetos como: (3.1) sendo qualidades, apresentando-se ao interprentante como mera hipótese ou rema; (3.2) sendo fatos, apresentando-se ao interpretante como dicente e (3.3) sendo leis, apresentando-se ao interpretante como argumentos. (SANTAELLA, 2000, p.92).
A partir dessas nove modalidades, Pierce desenvolveu as combinatórias
possíveis. Ele chegou a dez classes de signos. O quadro abaixo (HARDWICK, 1977,
p.161) mostra essas variações e as suas possíveis aplicações.
39
Quadro 2 - Tipologia Sígnica Peirceana
Numeração Tipologia signica (classes) Exemplo
I Quali-signo-icônico-remático Um sentimento de vermelhidão.
II Sin-signo-icônico-remático Um diagrama individual.
III Sin-signo-indicativo-remático Um grito espontâneo.
IV Sin-signo-indicativo-dicente Um catavento
V Legi-signo-icônico-remático Um diagrama, abstraindo-se sua
individualidade.
VI Legi-signo-indicativo-remático Um pronome demonstrativo.
VII Legi-signo-indicativo-dicente Um pregão de rua.
VIII Legi-signo-simbólico-remático Um substantivo comum.
IX Legi-signo-simbólico-dicente Uma proposição.
X Legi-signo-simbólico-argumental Um silogismo.
Fonte: Harwick, 1977: 161 (“Semiotics and significs).
O trabalho em questão não pretende abordar mais profundamente as categorias e
as dez classes de signos propostos por Peirce. Entretanto, faz-se necessário mencioná-
las por questões metodológicas.
1.2.3. O Objeto
O signo triádico peirceano, diferentemente, pressupõe uma distinção entre o
significado e aquilo a que ele se refere, representa, evoca ou apresenta, seu objeto:
O objeto de um signo é uma coisa; seu significado é outra. Seu objeto é a coisa ou ocasião, indefinida como possa ser, à qual se aplique. Seu significado é a idéia que ele anexa ao objeto, seja por meio de uma mera suposição, ou como um comando, ou como uma assertiva. (CP 5.6).
Peirce compreendia o objeto como algo sem o qual o signo não poderia existir,
pois, para que haja algum tipo de representação, faz-se imprescindível que haja algo a
ser representado; esse “algo” é que pode ser entendido como o objeto do signo. Como
dito anteriormente, existem subdivisões pertinentes aos componentes do processo
semiósico. Peirce dividiu o objeto em Dinâmico e Imediato. A compreensão, no tocante
ao que seria o Objeto Imediato, é de que ele é um elemento intrínseco ao próprio Signo
40
e tem o caráter de fornecer uma sugestão ou alusão, numa ideia que remeteria
conclusivamente ao Objeto Dinâmico; é o Objeto como o Signo permite que o
conheçamos ou como o Signo está apto a apresentá-lo.
O objeto imediato [...] diz respeito ao modo como o objeto dinâmico (aquilo que o signo substitui) está representado no signo. Se se trata de um desenho figurativo, o objeto imediato é a aparência do desenho, no modo como ele intenta representar por semelhança a aparência do objeto (uma paisagem, por exemplo). Se se trata de uma palavra, o objeto imediato é a aparência gráfica ou acústica daquela palavra como suporte portador de uma lei geral, pacto coletivo ou convenção social que faz essa palavra, que não apresenta nenhuma semelhança real ou imaginária com o objeto, possa, no entanto, representá-lo [...]. (SANTAELLA, 2008, p. 59-60).
Resumidamente teríamos: o caráter dual do objeto - Objeto Dinâmico,
reconhecido como o objeto “Real”, o objeto em si, enquanto que o objeto imediato é o
objeto apresentado no Signo. De acordo com a lógica triádica estabelecida por Peirce, o
objeto imediato subdivide-se em três níveis. Santaella (2008) esclarece esse ponto de
vista: “está claro aí que o modo de correspondência que se estabelece entre signo e
objeto depende da natureza do signo, diferindo, portanto, em cada um dos seus tipos
(índice, ícone e símbolo)”.
Divisão dos signos. Quanto ao Objeto Imediato: Signo Vago: o Signo representa o Objeto como Indefinido. Signo Singular: o Signo representa o Objeto como Individual Definido. Signo Geral: o Signo representa o Objeto como “Distributivo” (1905, MS 339C, p. 504) ou “como Distributivamente Geral” (p. 505).
Como observado, a lógica triádica é a essência do pensamento peirceano.
Entretanto, Peirce ainda estava elaborando a sua classificação, ou seja, sempre estava
buscando a melhor forma de apresentar as suas teorias. Em uma carta à L. Welby
datando de 24 de dezembro de 1908 (CP 8.349) menciona:
Os Objetos podem ser apresentados de três formas, assim: 1. Como meras ideias, ou o que as coisas poderiam ser se não fossem como são; tal como uma superfície geométrica, ou uma noção absolutamente definida e distinta. 2. Como brutalmente compelindo atenção. 3. Como racionalmente recomendando a si próprios, ou como hábitos aos quais já estamos acostumados. (CP 8.350)
41
De modo geral pode-se compreender que o objeto imediato, no que concerne às
suas três modalidades, está diretamente relacionado ao objeto dinâmico em seu modo de
se apresentar ou se fazer representar pelo signo.
1.2.4. O Interpretante
O pensamento peirceano é claro ao afirmar que o interpretante é um signo, além
de ser o terceiro elemento da tríade. O processo de semiose só é possível a partir da
junção dos três elementos da cadeia sígnica, ou seja, dentro de um processo que requer
algum tipo de significação.
De acordo com a definição de signo, não pode haver representação se tivermos apenas um signo. A representação mediada toma como pressuposta a pluralidade dos signos, visto que algo só funciona como signo exclusivamente sob a condição de ser interpretado como tal, isto é, sob a condição de ter um interpretante que é, ele também, um signo. Significado é um fenômeno de um sistema; ele não existe separadamente. Todo signo significativo deve ser, do acordo com a definição de Peirce, traduzível em outro signo significativo, e assim por diante. Então, um interpretante como terceiro, a fim de ser capaz de trazer um primeiro para uma relação com um segundo, deve ser um signo que pertença a qualquer universo de signos e não algo que exista separadamente (BUCZINSKA-GAREWICZ, 1983, p. 318).
Deve-se entender que a ação do signo, ou semiose, objetivado no interpretante
ocorre através do crescimento e da continuidade. O interpretante é um signo que
acabará por gerar um outro signo sucessivamente. A figura abaixo representa esse
processo.
Figura 2- Gráfico Utilizado por Santaella
Fonte: Santaella, 1983:59
42
Johansen menciona uma divisão tricotômica feita em um rascunho de carta
datando de 1906, rascunho esse destinado à Lady Welby. Essa tricotomia é conhecida
como a divisão tricotômica de 1906 ou tricotomia comunicacional do interpretante:
Há o interpretante Intencional, que é uma determinação da mente do emissor; o interpretante Eficiente (effectual) que é uma determinação da mente do intérprete; e o interpretante Comunicacional, ou melhor, o Cominterpretant, que é uma determinação daquela mente na qual as mentes do emissor e do intérprete têm de se fundir a fim de que qualquer comunicação possa ocorrer. Esta mente pode ser chamada de Comens. Ela consiste de tudo aquilo que, de saída, é e deve ser bem compreendido entre emissor e intérprete a fim de que o signo em questão cumpra sua função. (PEIRCE apud SANTAELLA, 2000, p.68).
Esse tipo de abordagem surge com a intenção específica de tentar classificar
situações de caráter comunicacional verbal onde o diálogo se faz presente (LALOR,
1997). Essa tricotomia raramente é utilizada. É importante lembrar que Peirce ainda
estava por formar as bases doutrinárias da semiótica como é conhecida nos dias atuais.
Essa tricotomia pode ser de interesse para aqueles que desejam analisar sucintamente
áreas do conhecimento onde há o predomínio de contextos dialógico-comunicacionais e
para a presente pesquisa de mestrado justifica-se apresentá-la, à medida que os
processos comunicativos através das imagens poderiam ter uma aplicação prática
observando-se essa tricotomia.
Existe ainda outra tricotomia conhecida como tricotomia de 1906-1907 ou
tricotomia efectual do interpretante. Nessa tricotomia Peirce relaciona os níveis de
interpretante emocional, energético e lógico com sentimentos, esforços e mudanças de
hábitos.
[...] Se um signo produz algum outro efeito próprio de significado, ele o fará por meio da mediação do interpretante emocional, e tal efeito posterior sempre envolverá um esforço. Eu o chamo de interpretante energético. O esforço pode ser muscular, como no caso de um comando para baixar armas; mas é muito mais comum um esforço no Mundo Interior, um esforço mental. Ele jamais pode ser o significado de um conceito intelectual, pois é um ato singular, [enquanto] tal conceito é de natureza geral. Mas que outro tipo de efeito ainda pode existir? (CP 5.475)
O Interpretante possui uma divisão triádica. A tricotomia de 1904-1909 ou
tricotomia geracional do interpretante é a tricotomia mais conhecida na semiótica
peirceana. Essa tricotomia divide o interpretante em: Imediato, Dinâmico e Final.
Concebe-se o Interpretante Imediato como sendo o primeiro nível da classificação, ou
43
seja, interpretante antes mesmo do signo se deparar com um intérprete potencial
qualquer; representa a sua potencialidade, a sua potencialização, o seu potencial
interpretativo em si mesmo; está diretamente ligado aos fenômenos de primeiridade. De
acordo com Peirce, “O Interpretante Imediato consiste na Qualidade da Impressão que
um Signo está apto a produzir, não diz respeito a qualquer reação de fato” (CP 8.315).
O Interpretante Dinâmico, ou segundo nível de interpretante tem a ver com o efeito
objetivo sentido pelo intérprete sob sua influência, obviamente todo esse processo se dá
no nível de secundidade, pois o efeito causado no intérprete está no nível do
psicológico, refere-se a uma entidade particular, singular.
O Interpretante Dinâmico é qualquer interpretação que qualquer mente realmente faz do Signo. Este Interpretante deriva seu caráter da categoria diádica, a categoria da ação [...] O significado de qualquer Signo sobre alguém consiste no modo como esse alguém reage ao Signo (CP 8.315).
O interpretante dinâmico possui uma subdivisão em três níveis, de acordo com
as categorias já mencionadas (primeiridade, secundidade e terceiridade).
É agora necessário apontar para o fato de que há três tipos de interpretantes. Nossas categorias os sugerem, e a sugestão é confirmada por exame cuidadoso. Eu os chamo de interpretante emocional, energético e lógico. Estes consistem respectivamente em sentimentos, esforços e mudanças de hábitos (MS 318, p. 244).
O primeiro efeito de significado de efeito de um signo é uma simples qualidade
de sentimento (SANTAELLA, 2002, p. 40). Peirce denominou esse primeiro estágio de
Interpretante Emocional, que são aqueles [signos] interpretáveis na forma de qualidades
de sentimento ou aparência; o segundo estágio, o Interpretante Energético são aqueles
signos que são interpretáveis através da experiência concreta e o Interpretante Lógico
que são aqueles interpretáveis através de pensamentos ou outros signos da mesma
espécie numa série infinita (CP 8.339). O terceiro nível de interpretante é chamado de
Interpretante Final. As definições de interpretante final ainda estavam sendo
elaboradas: “Finalmente, há o que provisoriamente eu chamo de Interpretante Final,
que se refere à maneira pelo qual o Signo tende a se representar como estando
relacionado ao seu Objeto” (CP 4.536). Há de se ter bastante cuidado ao se pensar a
expressão “final”. A tendência seria pensar em algo como acabado, o fim de algo que
começou; entretanto, final nesse contexto relaciona-se com a ideia de final enquanto
meio, objetivo, meta. A questão parece ser paradoxal porque esse fim nunca chega, é
44
idealizado, é uma busca inatingível a qual os objetos dinâmicos procuram chegar, porém
sem nunca alcançá-los.
1.3. Semiótica das Imagens
A Semiótica, vista como a Teoria Geral dos Signos, tem sido utilizada em áreas
específicas. Por exemplo, é possível falar a respeito da semiótica da cultura, semiótica
da canção, semiótica da cultura, biossemiótica (semiótica aplicada à biologia) etc. A
partir daí, seria possível falar de uma semiótica da imagem, disciplina que trataria das
relações signicas referentes a sistemas onde a imagem seria compreendida como uma
linguagem.
Assim como os conceitos de representação, a imagem também foi definida
historicamente de formas bastante diferenciadas, sendo mesmo a ser identificada como
um tipo de representação. Santaella afirma que as imagens fazem parte de dois
domínios, o visual e o mental e, em qualquer um deles a imagem necessariamente tem a
condição de representar ou querer representar algo:
O mundo das imagens se divide em dois domínios. O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais: desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e infográficas pertencem a esse domínio. Imagens, nesse sentido, são objetos materiais, signos que representam o nosso meio ambiente visual. O segundo é o domínio imaterial das imagens em nossa mente. Neste domínio, imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos ou, em geral, como representações mentais. (SANTAELLA e NÖTH, 2007, p. 15).
Os dois domínios, o visual, material ou físico, por assim dizer e o mental ou
imaterial estão inexoravelmente ligados, não podendo um existir sem o outro, pois para
uma imagem existir, primeiro precisou existir no nível mental. Para Peirce, a noção de
imagem passa necessariamente pela compreensão de suas categorias; dessa forma, uma
imagem teria todo o potencial em si para ser entendida como um signo, pois um signo
na visão peirceana, pode ser qualquer fenômeno presente que se apropria do lugar de
um ausente. O relacionamento dos signos com os seus objetos de representação tem a
sua dinâmica própria, além disso, o processo de significação do signo peirceano passa
por uma série de sucessivas interpretações ad infinitum, em um encadeamento
compreendido como semiose. Tendo em vista a tricotomia de Peirce: ícone, índice,
símbolo; uma imagem poderia estar mais ou menos identificada com algum desses
45
elementos. Como é possível aplicar os conceitos da semiótica peirceana nas imagens? A
partir da figura abaixo “pegadas na areia”, introduzo alguns conceitos semióticos e
procurarei dar uma visão panorâmica da aplicação das classes de signos.
Figura 3 - Pegadas na Areia
Fonte: “Pegadas na areia”-http://www.oocities.org/br/veve1109/pegadas/pegadas.html.
O primeiro elemento da tricotomia a ser mencionado será o índice. De acordo
com Peirce, um índice é um signo que se refere ao objeto em virtude de ser afetado pelo
mesmo (CP 2.247). Existe, portanto, certa materialidade nessa relação. Na figura acima,
as marcas deixadas na areia indicam que alguém passou por aquele local. Percebe-se,
então, que existe certo grau de conexão física do signo como o seu objeto. Na figura
acima, as pegadas representadas são um gesto estritamente físico.
Em relação ao próximo elemento da tricotomia a ser comentado, não existe uma
conexão física em sua natureza. O ícone, segundo Peirce, é um tipo de signo que
mantém uma relação com o seu objeto em virtude de sua aparência, ou seja, relação por
semelhança: as qualidades formais do signo a qual o ícone se refere assemelham-se às
qualidades formais do objeto. De acordo com Peirce,
46
“Um ícone é um signo que se refere ao objeto que denota apenas em virtude dos seus caracteres próprios, caracteres que ele realmente possui, quer um tal objeto realmente exista ou não. Um índice é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de ser realmente afetado por esse objeto. Um símbolo é um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de uma lei”. (CP 2.247: 248-249)
Figura 4 – imagem da obra Natureza-Morta com maçãs e laranjas, 1895-1900, de Paul Cézanne. Óleo sobre tela, 74 x 93 cm. Musée d’Orsay, Paris – França.
Fonte: “Musée d’Orsay”- www.musee-orsay.fr (padronização)
Inevitável não fazer uma associação quase que imediata dos objetos
representados na pintura de Cézanne com os objetos reais. As maçãs e laranjas nessa
pintura podem ser entendidas como ícones ou hipoícones, pois cumprem com o conceito
de representar por semelhança. Peirce fala a respeito de três níveis de iconicidade, para
ele hipoícones. Segundo Chiachiri (2010), pesquisador com vários trabalhos publicados
na área de semiótica e professor da Faculdade Cásper Líbero:
Hipoícone-imagético – de primeiro nível (ou ícone-imagem): é um signo que representa um objeto porque possui um conjunto de qualidades aparentes, similares à de seu objeto [...] Hipoícone-diagramático – de segundo nível (ou ícone-diagrama): é um signo que representa seu objeto porque apresenta semelhança com as relações internas dele [...] Hipoícone-metafórico – de terceiro nível (ou ícone-metáfora): é um signo que apresenta uma relação de semelhança de significado, conceitual. (CHIACHIRI, 2010, p. 39-40).
47
No primeiro nível, ou seja, o signo como hipoícone-imagético, a semelhança se
dá por causa da representação das frutas, os traços, as cores; desenhos e pinturas
figurativas por si só, já são imagens. As relações internas da pintura caracterizam o
segundo nível, ou hipoícone-diagramático, os gráficos em geral são tidos como
diagramas. O segundo nível é o nível do existente, nesse caso são as relações internas da
pintura que se relacionam com as relações internas do objeto representado. O terceiro
nível, ou hipoícone-metafórico, referem-se às questões do significado ou conceitos,
comparações, metáforas ou analogias.
O terceiro elemento da tricotomia em questão é o símbolo. O símbolo na
concepção peirceana é um signo que carrega em si o caráter do convencional, que
significa por pura convenção, traz o aspecto da lei, não representa por semelhança ou
possui conexões físicas com o objeto.
Figura 5 - Trecho de uma Partitura de Beethoven
Fonte: “Sem corpo nenhum” - http://semcorponenhum.blogspot.com.br/2011_02_01_archive.html
A figura acima mostra um sistema de notação musical tradicional. Trata-se de
um símbolo no mais estrito conceito peirceano. Uma das características do símbolo é
que este tipo de signo precisa ser uma convenção cultural, precisa ser aprendido, aceito
e reconhecido. A partitura mostrada acima, não só pode ser entendida como um
símbolo ela mesma, como carrega em si uma série de outros símbolos: clave, armadura,
acidentes, figuras musicais, sinais de dinâmica e outros símbolos que caracterizam um
sistema musical tradicional (pentagrama ou uma pauta musical).
48
1.4. A Semiótica atualmente
Com o passar do tempo e devido a questões interdisciplinares de extrema
relevância, a semiótica passou a despertar o interesse de pesquisadores de diversas áreas
do conhecimento, desde as humanidades até as exatas. Hoje, sabe-se de disciplinas e
áreas científicas que possuem um viés semiótico, como por exemplo, a Biossemiótica,
Semiótica Psicanalítica, Antropossemiótica, Zoosemiótica, Microbiossemiótica,
Cartosemiótica, Semiótica da Computação, Engenharia Semiótica, Teoria Semiótica da
Complexidade (teoria de âmbito ontológico que estuda e aplica conceitos semióticos na
análise dos sinais obtidos nos domínios das ciências exatas, principalmente a
Astrofísica) entre outras.
Geralmente essas ciências ou linhas de pesquisas seguem a semiótica de linha
peirceana, por ter um caráter mais geral. Alguns utilizam a semiótica como uma teoria
geral aplicada á diferentes áreas, como por exemplo: Semiótica da Música, Semiótica
das Imagens, Semiótica aplicada aos Games, Semiótica da Fotografia etc. Difícil inferir
o futuro relativo à Semiótica enquanto ciência. Entretanto, percebe-se um interesse
maior por ela nos últimos anos. Para Iasbeck,
Os avanços relativamente recentes da semiótica - hoje percorrendo um vasto e disperso caminho que vai da semiótica geral à microbiosemiótica - têm permitido que essa ciência comece a experimentar, ela mesma, a necessidade da qual surgiu como solução provisória: o advento de uma ciência que forneça explicações sistemáticas sobre os mecanismos que operam na/a mente humana para gerar a produção de sentido na comunicação (LASBECK, 2010, p. 1).
A semiótica, enquanto ciência, está destinada a se expandir, se desenvolver e até
mesmo ampliar o (s) seu(s) objeto(s) de estudo, principalmente por seu caráter
transdisciplinar. “[...] é característica fundamental da ciência viva estar continuamente
rompendo fronteiras, do que decorre não poder haver pré-determinação imposta de
fora sobre seus limites”. (SANTAELLA, 2004, p. 71). A Semiótica preocupa-se com o
estudo de todas as espécies de signos, seus modos de significação, denotação e
informação; dessa forma abra-se um leque para a investigação em praticamente todas as
áreas do conhecimento humano; pois, em qualquer lugar que haja um processo de
comunicação intermediado por signos, haverá a possibilidade de uma contribuição por
parte da semiótica.
49
Esse trabalho se propõe a aplicar os conceitos semióticos de linha peirceana
através das representações imagéticas na elaboração-construção de sites institucionais.
As imagens, entendidas como signos visuais, desempenham um papel extremamente
relevante na construção de significados e na construção da imagem da própria
instituição. Esse capítulo teve a intenção de introduzir conceitos semióticos que serão
base para os estudos, principalmente o capítulo III, que se refere às análises dos sites
propriamente ditos.
O próximo capítulo trata das questões relativas à Hipermídia. É uma ponte entre
o primeiro capítulo e o terceiro, pois estabelece uma conexão entre a semiótica e
conceitos de hipermídia e introduz questões importantes para o desenvolvimento do
trabalho.
50
CAPÍTULO II - NOS INTERSTÍCIOS DA HIPERMÍDIA
A complexidade dos sistemas de comunicação é visível nos nossos dias. Definir
coisas nunca foi uma tarefa muito fácil. De qualquer forma, como definir Hipermídia?
O termo hipermídia designa um tipo de escritura complexa, na qual diferentes blocos de informações estão interconectados. Devido a características do meio digital é possível realizar trabalhos com uma quantidade enorme de informações vinculadas, criando uma rede multidimensional de dados. Esta rede, que constitui o sistema hipermidiático propriamente dito, possibilita ao leitor diferentes percursos de leitura. O processo de desenvolvimento de um sistema hipermidiático envolve uma série de questões que se avolumam e fazem emergir uma complexidade. (LEÃO, 1999, p.10-11)16
As ideias e os conceitos de hipermídia tiveram a sua gênese há algumas décadas
atrás. O filósofo e sociólogo americano Ted Nelson foi um dos primeiros a utilizar pela
primeira vez o conceito hipermídia, juntamente com hipertexto. Pode-se afirmar que ele
foi um pioneiro da Tecnologia da Informação. O conceito de hipermídia foi concebido a
partir de sua experiência pessoal com o computador. Ted Nelson foi um dos primeiros a
vislumbrar o impacto da máquina computacional nas atividades humanas. Outros nomes
merecem destaque, como George Landow e Gregory Ulmer. Pesquisadores e
pensadores da hipermídia e hipertexto têm procurado definições para as duas
expressões. No decorrer deste capítulo serão apresentadas algumas. Para Landow
(2012)17, entretanto, não existiria distinção conceitual entre hipertexto e hipermídia,
Os textos de computador -sejam eles hipertextos ou não- podem facilmente incluir imagens e textos alfanuméricos, já que, em computadores, é possível armazenar tanto palavras como imagens na forma de códigos. A interconexão destes textos ou de combinações de textos e imagens já é o hipertexto (e a hipermídia). Não vejo como faria sentido distinguir entre os dois. Por outro lado, deveríamos fazer uma distinção entre o hipertexto e o texto animado, como os criados com (os softwares) Flash ou Director (SILVA, 2012, p. 1)
Nos dias atuais tornou-se praticamente algo inconcebível um mundo sem
tecnologias nascentes do universo da tecnologia da informação ou ciência da
computação. Alguns especialistas chegam a afirmar que o que se vive hoje,
16 O Labirinto da hipermídia - arquitetura e navegação no ciberespaço. São Paulo: Iluminuras, 1999.
17 Entrevista publicada na revista eletrônica Trópico - Novo mundo, redes – depois do hiper. Subtítulo: Especialista em hipertextualidade, George Landow, fala sobre a escrita na era da internet. Autor: Cícero Inácio da Silva (professor da PUC – SP, responsável pela disciplina Hipermídia e Interatividade na Pós-graduação em Comunicação, Arte e Tecnologia da Faculdade de Belas Artes de São Paulo).
51
historicamente falando, pode e deve ser entendido como mais uma fase ou período da
história humana, comparado até mesmo à revolução neolítica (Santaella, 2001: 389).
Os processos de digitalização, o sistema binário, a biometria, a nanotecnologia,
as pesquisas voltadas à criação do computador quântico, os estudos cada vez mais
aprofundados de sistemas relacionados à inteligência artificial entre outras coisas
revelam a dependência tecnológica humana nos níveis social, cultural, político e
econômico. Segundo Negroponte,
Na base dessa revolução está o processo digital. Via digitalização, quaisquer fontes de informação podem ser homogeneizadas em cadeias sequenciais de 0 e 1. Essas cadeias são chamadas bits. Um bit não tem cor, tamanho ou peso e é capaz de viajar à velocidade da luz. É o menor elemento atômico do DNA da informação. É um estado: ligado ou desligado. Os bits sempre foram a partícula subjacente à computação digital, mas, ao longo das últimas décadas, o vocabulário binário foi muito expandido, como o áudio e o vídeo, passaram a ser digitalizados, reduzindo-se também a uns e zeros. (NEGROPONTE, 1995, p. 18-19)
Figura 6 – Interface – Arte Digital
Fonte: CAVI_Digital Experience – Virtuo Digital Palette- http://digitalexperience.cavi.dk/?p=684
Para as gerações mais jovens não é muito simples pensar em um mundo que não
esteja de alguma forma vinculado ou próximo das regras da virtualidade, das imersões
dos games, uma realidade que não considere a internet, as redes sociais, mídias digitais,
iPads, iPods, iPhones, tablets, laptops etc. O desenvolvimento da hipermídia, os
avanços da internet, os novos recursos tecnológicos nas áreas relacionadas à informática
sinalizam uma nova era, um novo ciclo que a humanidade já está vivenciando. Santaella
(2001) acredita que estamos vivendo uma revolução tecnológica.
52
Propiciada, entre outros fatores, pelas mídias digitais, a revolução tecnológica que estamos atravessando é psíquica, cultural e socialmente muito mais profunda do que foi a invenção do alfabeto, do que foi também a revolução provocada pela invenção de Gutenberg. É ainda mais profunda do que foi a explosão da cultura de massas, com os seus meios técnicos mecânico-eletrônicos de produção e transmissão de mensagens (SANTAELLA, 2001, p. 390)
Para se chegar à era digital, foi necessário todo um percurso evolutivo. Santaella
(2003: 77) divide esse percurso em eras: “(...) tenho trabalhado com uma distinção de
seis eras culturais: oral, escrita, impressa, de massas, das mídias e digital”. Os
diferentes suportes em épocas passadas estavam separados irremediavelmente de forma
intransponível, pois não havia a possibilidade de mixá-las por questões técnicas e
mesmo físicas.
Antes da era digital, os suportes estavam separados por serem incompatíveis: o desenho, a pintura e a gravura nas telas, o texto e as imagens gráficas no papel, a fotografia e o filme na película química, o som e o vídeo na fita magnética. Depois de passarem pela digitalização, todos esses campos tradicionais de produção de linguagem e processos de comunicação humanos juntaram-se na constituição da hipermídia. (SANTAELLA, 2001, p. 390).
Percebe-se que os processos de digitalização propiciaram todo um encadeamento
de eventos que culminaram em uma hibridização de linguagens. Para Santaella (2003),
“estamos, sem dúvida, entrando numa revolução da informação e da comunicação sem
precedentes que vem sendo chamada de revolução digital”. Ainda, de acordo com ela:
O aspecto mais espetacular da era digital está no poder dos dígitos para tratar toda informação, som, imagem, vídeo, texto, programas informáticos, com a mesma linguagem universal, uma espécie de esperanto das máquinas. Graças à digitalização e compressão dos dados, todo e qualquer tipo de signo pode ser recebido, estocado, tratado e difundido, via computador (SANTAELLA, 2003, p. 71).
A capacidade de tratamento de informações e dados é um dos aspectos mais
relevantes dentro do processo de digitalização. A compressão de dados, correção de
erros e a rapidez com que esses mesmos dados são processados propiciam realizações
impensáveis há algumas décadas atrás. Uma consequência imediata disso é a
possibilidade de uma melhor gestão do tempo, novas formas de se pensar os conceitos
de espaço e maior mobilidade de ações.
53
2.1. Multimídia e Hipermídia
O termo Multimídia sugere a interação de diversas mídias em um único suporte.
A expressão mídia tem a sua origem etimológica no latim; deriva da palavra media,
plural de medium, cujo significado pode ser compreendido por meio. A partir dai, pode-
se entender multimídia como uma referência a tecnologias com suporte digital que
permitam a manipulação, o armazenamento e a pesquisa de conteúdos. A multimídia é
formada por alguns elementos. Para Santaella, multimídia é: “[...] uma forma de mídia
que utiliza o poder do computador para arquivar, recuperar e distribuir informação na
forma de figuras gráficas, texto, animação, áudio, vídeo e mesmo mundos virtuais
dinâmicos” (SANTAELLA, 2003, p. 93). Inicialmente, o trabalho em multimídia dava-
se com o suporte do CD-ROM. Com a propagação da internet, os usuários passaram a
se utilizar da hipermídia e de seus recursos por meio de webpages. Voltemos um pouco
no tempo para entendermos os primórdios da multimídia e da hipermídia.
O ano de 1945 é de suma importância para a história da tecnologia digital. Nesse
ano Vannevar Bush, publica um artigo chamado "As we May Think". O texto faz
referência à ideia de seleção por associação em lugar de seleção por indexação, baseado
no mecanismo da inteligência humana. Para ele "A mente humana não trabalha por
indexação, e sim por associação" (BUSH, 1945). O artigo desenvolve a ideia da mistura
de diferentes meios para representar o conhecimento humano e a habilidade de operar à
distância.
A mente humana não trabalha dessa forma. Ela opera por associação. Com um item ao seu alcance, ela se encaixa instantaneamente para o próximo que é sugerido pela associação de pensamentos, de acordo com alguma intrincada teia de trilhas realizadas pelas células do cérebro. Existem outras características, naturalmente; trilhas que não são frequentemente seguidas estão propensas a desaparecer, os itens não são totalmente permanentes, a memória é transitória. No entanto, a velocidade de ação, a complexidade das trilhas, o detalhe das imagens mentais, é inspirador para além de tudo na natureza” – tradução nossa (BUSH, 1945, tradução nossa)18.
18 “The human mind does not work that way. It operates by association. With one item in its grasp, it snaps instantly to the next that is suggested by the association of thoughts, in accordance with some intricate web of trails carried by the cells of the brain. It has other characteristics, of course; trails that are not frequently followed are prone to fade, items are not fully permanent, memory is transitory. Yet the speed of action, the intricacy of trails, the detail of mental pictures, is awe-inspiring beyond all else in nature”.
54
Bush faz menção em seu artigo a uma máquina capaz de montar e catalogar
notas num sistema de textos on-line e de gráficos. A máquina foi chamada de MEMEX.
Do que a máquina era composta? A máquina continha uma vasta biblioteca com notas
pessoais, fotografias e projetos. Possuía inúmeras telas e uma facilidade para estabelecer
uma ligação entre dois pontos quaisquer na biblioteca; era composta de microfilmes e
fotocélulas. Com isso, Bush trabalhava no sentido de ampliar o desenvolvimento de
suas ideias para estabelecer mais formas naturais de apoio na recuperação de
informação. Sabe-se que o MEMEX nunca chegou a ser criado de fato, devido à
tecnologia da época; apenas protótipos foram projetados. Entretanto, os conceitos e as
ideias por trás da máquina mostraram-se de extrema importância para o
desenvolvimento de pesquisas posteriores.
Figura 7 - Esboço do dispositivo MEMEX proposto por Vannevar Bush em 1945
Fonte: “Arte”- http://arte-harte.blogspot.com.br/2010/04/vannevar-bush-memex-vannevar-bush.html
As ideias de Bush se proliferaram e, duas décadas mais tarde, mais precisamente
em 1963, no Stanford Research Institute, um cientista chamado Douglas Engelbart
pretende dar continuidades aos trabalhos de seu colega. Publica, então, o trabalho "A
Conceptual Framework for the Augmentation of Man’s Intellect", onde explica as
possibilidades de se desenvolver uma máquina que possa substituir os processos
mentais naturais por um sistema mais eficaz de armazenamento de informação,
dispensando assim, os cartões em uso na época. Segundo Engelbart:
55
Se meus processos mentais fossem mais poderosos, eu poderia dispensar os cartões, e manter todas as estruturas do tamanho de cartões de conceito na minha memória, onde também seriam realizadas as ligações de categorização que evoluíram como eu trabalhei (com os meus pés sobre os artefatos e os meus olhos fechados). Como é, e como ele provavelmente sempre será, não importa como desenvolver ou treinar nossas capacidades mentais, eu quero trabalhar em áreas problemáticas onde o número e a complexidade de inter-relação dos fatores individuais envolvidos são demais para mim para segurar e manipular dentro da mente 19 (ENGELBART, 1963, tradução nossa).
Observa-se pela citação acima que Engelbart desejava solucionar problemas
relacionados à capacidade de armazenamentos em memória, arquivamento de dados etc.
Propôs, então um sistema, o H-LAM/T (Human Using Language , Artfacts and
Methodology).
Nossa cultura evoluiu meios para organizarmos as pequenas coisas que podemos fazer com nossos recursos básicos para que possamos obter a compreensão de situações realmente complexas, e realizar os processos de derivação e implementação de soluções de problemas 20 (ibidem).
Engelbart compreendia que o processo de reconhecimento e interpretação dos
signos (mesmo que não usasse essa terminologia) que envolve o mundo depende dos
sentidos humanos ou “capacidades básicas” e da cultura a qual estamos inseridos. Ele
continua o seu pensamento e expõe o seu objetivo principal em sua pesquisa: “As
maneiras pelas quais as capacidades humanas são assim alargadas são aqui chamadas
meios de argumentação, e nós definimos quatro classes básicas delas”.
1. Artefatos – objetos físicos destinados a fornecer o conforto humano, para a manipulação de coisas ou materiais e a manipulação de símbolos. 2. Idioma – a maneira pela qual as parcelas individuais fora da imagem do mundo, dentro dos conceitos que sua mente usa como modelo do mundo através dos símbolos que ele atribui aos conceitos e usos para manipular conscientemente os conceitos (“pensamentos”). 3. Metodologia – os métodos, procedimentos, estratégias etc., com os quais um indivíduo organiza sua atividade centrado em um objetivo (solução de problemas).
19 “ If my mental processes were more powerful, I could dispense with the cards, and hold all of the card-sized concept structures in my memory, where also would be held the categorization linkages that evolved as I worked (with my feet up on the artifacts and my eyes closed). As it is, and as it probably always will be no matter how we develop or train our mental capabilities, I want to work in problem areas where the number and interrelationship complexity of the individual factors involved are too much for me to hold and manipulate within my mind”.
20 “Our culture has evolved means for us to organize the little things we can do with our basic capabilities so that we can derive comprehension from truly complex situations, and accomplish the processes of deriving and implementing problem solutions”.
56
4. Treinamento – o condicionamento necessário para o ser humano desenvolver as suas capacidades na utilização dos procedimentos 1, 2 e 3 conduzindo para o ponto onde eles são operacionalmente eficazes. 21
Percebe-se que o objetivo principal dessas pesquisas, era justamente tentar
ampliar a capacidade de memória do homem em conexão com mecanismos de interface
tecnológicas. Engelbart denomina os meios pelos quais as capacidades humanas
poderiam ser “estendidas” de “meios de argumentação”.
O sistema que quer melhorar, assim, pode ser visualizado como um ser humano treinado para estar junto com seus artefatos, linguagem e metodologia. O novo sistema explícito que contemplamos envolverá artefatos como computadores, computador controlado, armazenamento de informações e tratamento da informação, e dispositivos de exibição de informação. Os aspectos do quadro conceitual que são discutidos aqui são principalmente os relativas à capacidade do ser humano de fazer uso significativo de tais equipamentos em um sistema integrado22 (ENGELBART, 1962, tradução nossa).
À medida que Engelbart avançava em suas pesquisas, evidenciava sua intenção
de estabelecer uma interação homem-máquina, uma espécie de cooperação que ele
chamou de “Two-Domain System”.
O ser humano e os artefatos são os únicos componentes físicos no sistema de H-LAM / T. É sobre as suas capacidades que a capacidade final do sistema vai depender. Isso estava implícito na afirmação anterior de que todo o processo de composição do sistema se decompõe em última instância em processos de artefato humanos e explícitos. Existem, portanto, dois domínios separados de actividade dentro do sistema de H-LAM / T: aquele representado pelo homem, em que todos os processos humanos explícito ocorrer, e aquele representado pelos artefatos, em que todos os processos de artefato-explícito ocorrem 23 (ENGELBART, 1962, tradução nossa).
21 1. Artifacts - physical objects designed to provide for human comfort, for the manipulation of things or materials, and for the manipulation of symbols; 2. Language – the way in which the individual parcels out the picture of his world into the concepts that his mind uses to model that world, and the symbols that he attaches to those concepts and uses in consciously manipulating the concepts (“thinking”); 3. Methodology – the methods, procedures, strategies etc., with which an individual organizes his goal-centered (problem-solving) activity; 4. Training - the conditioning needed by the human being to bring his skills in using Means 1, 2, and 3 to the point where they are operationally effective.
22 “The system we want to improve can thus be visualized as a trained human being together with his artifacts, language, and methodology. The explicit new system we contemplate will involve as artifacts computers, and computer-controlled information-storage, information-handling, and information-display devices. The aspects of the conceptual framework that are discussed here are primarily those relating to the human being's ability to make significant use of such equipment in an integrated system”.
23 “The human and the artifacts are the only physical components in the H-LAM/T system. It is upon their capabilities that the ultimate capability of the system will depend. This was implied in the earlier statement that every composite process of the system decomposes ultimately into explicit-human and explicit-artifact processes. There are thus two separate domains of activity within the H-LAM/T system:
57
Figura 8 - Esquema do H-LAM/T
Fonte: “The source of intelligence”. Disponível em: http://www.liquidinformation.org/ohs/62_hlam_frset.html A figura acima ilustra a cooperação entre os “dois domínios” (homem-máquina).
Para Engelbart, “em qualquer processo composto, ocorre interação cooperativa entre
os dois domínios, exigindo trocas de energia (em grande parte apenas para fins de
intercâmbio de informações”24 (ENGELBART, 1962).
Em 1968, Engelbart implementou o NLS (ON Line System)25. Nesse modelo o
computador realiza um trabalho de armazenamento das especificações, planos,
desenhos, programas, documentos, reportagens, memorandos, etc. janelas múltiplas
foram elaboradas, a partir de consoles bastante sofisticados nunca vistos até então.
Nesse projeto estavam inclusos imagens de televisão, uma variedade de tipos de entrada
e algo que revolucionaria a tecnologia: o mouse. Outra inovação importante foi o
conceito multipessoas, ou seja, pessoas conversando/escrevendo distribuídas com uma
interface de uso comum - UIS (User Interface System). O conceito de usuário surge
that represented by the human, in which all explicit-human processes occur; and that represented by the artifacts, in which all explicit-artifact processes occur”. 24 “in any composite process, there is cooperative interaction between the two domains, requiring interchange of energy (much of it for information exchange purposes only)”.
25 Hipermídia e Multimídia – Histórico e tendências: um resumo da história de hipertexto. Fonte: http://www.pcs.usp.br/~pcs722/97/page2.htm
58
nesse momento. Comentários podiam ser distribuídos para outros através da
especificação de uma lista de colegas para a distribuição; distribuição essa recebida
através de e-mail com informações adicionais, como: data, autor, assunto etc. Esses
dados seriam usados para montar a trajetória da história do documento.
As pesquisas estavam avançando gradualmente. Dentro desse contexto histórico
surge a figura de Theodor Holm Nelson, mais conhecido como Ted Nelson, que
comenta: “Eu construo paradigmas. Eu trabalho com ideias complexas e invento
palavras para elas. É a única maneira. (Sem palavras novas, é quase impossível pensar
novos pensamentos - só andar em círculos)”26 (Nelson)27
Nelson criou um sistema chamado “Projeto Xanadu”. Considerado o primeiro
hipertexto, o projeto era uma espécie de “biblioteca universal” (LEÃO, 1999, p. 21). Na
versão inicial desse sistema, de 1960, pessoas diferentes podiam compartilhar
documentos, imagens e sons. Para Nelson, a interconexão de documentos (hipertexto) é
a ideia central do Projeto Xanadu e, nesse sentido, o projeto é distinto do conceito de
WWW. Atualmente, o projeto está disponível em http://www.xanadu.net/. Segundo a
proposta do site:
"PROJETO MISSÃO XANADU. PROFUNDA INTERCONEXÃO E REUTILIZAÇÃO. Desde 1960 lutamos por um mundo de profundos documentos eletrônicos - com intercomparação integrada e sem atrito, reutilização de material com direitos autorais. Temos uma estrutura exata e simples. O modelo Xanadu trata do gerenciamento de versão automática e gerenciamento de direitos através de uma conexão profunda. O Software popular de hoje simula o papel. A World Wide Web (outra imitação de papel) trivializa nosso modelo de hipertexto original com uma maneira de sempre, quebrando as ligações e não de gestão de versão ou conteúdo pelo qual lutamos”.28
Ao escrever sobre sua trajetória criativa, em “POSSIPLEX: Movies, Intellect,
Creative Control, My Computer Life and the Fight for Civilization”, livro
26 “I build paradigms. I work on complex ideas and make up words for them. It is the only way. (Without new words, it is almost impossible to think new thoughts-- we just go around in circles)”.
27 Vide http://ted.hyperland.com/whatIdo - Home Page de Ted Nelson. 28 “PROJECT XANADU MISSION STATEMENT. DEEP INTERCONNECTION, INTERCOMPARISON AND RE-USE. Since 1960 we have fought for a world of deep electronic documents – with side-by-side intercomparison and frictionless re-use of copyrighted material. We have an exact and simple structure. The Xanadu model handles automatic version management and rights management through deep connection. Today’s popular software simulates paper. The World Wide Web (another imitation of paper) trivializes our original hypertext model with one-way ever-breaking links and no management of version or contents WE FIGHT ON”
59
autobiográfico publicado em 2011, Nelson discorre sobre os percalços que
acompanharam as várias fases do Projeto Xanadu, suas transformações e situação
contemporânea.
Figura 9 – Modelo de documento do Xanadu
Fonte: “Deep Hypertext: The Xanadu Model”/ http://xanadu.com/xuTheModel/
Em sua tese de doutorado, Randall Trigg29 descreve seu projeto, o sistema
Textnet, caracterizado por aceitar como entrada textos não-lineares. O objetivo seria
formar redes, que criaram uma espécie de rede semântica.
Em partes das conversas nas "Recollections", Eu discuto sobre vários sentidos de integração que têm surgido no trabalho de nos últimos 15 anos desenvolvimento de sistemas hipermídia. TextNet, o sistema que eu desenvolvi durante o meu trabalho de tese tentou integrar o puro trabalho de rede baseado em hipermídia à semelhança do Xanadu de Nelson com tipos de estruturas hierarquizadas baseadas no sistema de Doug Engelbart. Isso foi acompanhado distinguindo três funções de ligação: representação transversa, estruturada e argumentativa30 (TRIGG, 1996, tradução nossa)
29 As citações de Randal Trigg neste trabalho fazem parte da Conferência proferida em Washington no ano de 1996 – Hypermedia as Integration: Recollections, Reflections and Exhortations - Keynote Address, Hypertext ’96 Conference Washington DC, March 20, 1996.
30“In the "Recollections" part of the talk, I discuss several senses of integration that have arisen in my hypermedia system development work over the last 15 years. TextNet, the system I developed during my thesis work, attempted to integrate pure network-based hypermedia ala Ted Nelson's Xanadu with the sorts of hierarchical structuring supported by Doug Engelbart's Augment system. It accomplished this by distinguishing three functions of linking: traversal, structuring, and argument representation”.
60
Como toda descoberta, os novos dispositivos traziam consigo problemas
associados à manipulação e resultados práticos. No caso de Engelbart o desafio de seu
sistema de hipertexto era ser um suporte de ajuda. A ideia era expandir o modelo local
que tinham para um nível de rede de multicomputadores. O hipertexto, assim como a
hipermídia referem-se, de acordo com Trigg à noção de informação estruturada em
cadeia e de forma integrada. Para ele:
Hipermídia e sua forma anterior, hipertexto, referem-se à noção de informação estruturadas como redes vinculadas, bem como a construção, armazenamento, navegação e busca de tais estruturas. A conversa começa com a observação de que a integração sempre foi uma meta dos desenvolvedores de hipermídia 31(TRIGG, 1996, tradução nossa ).
O objetivo principal dos desenvolvedores da hipermídia, segundo Trigg, seria a
interação. A ideia original da hipermídia seria o suporte para editoração de textos,
engenharia de software e projeto de gerenciamento entre aplicativos. Entretanto,
algumas mudanças ocorreram após essa primeira fase, por assim dizer; isso devido aos
sistemas abertos e o significado de integração em hipermídia, que passou a conectar os
aplicativos existentes. De acordo com Trigg (1996):
Inicialmente, assumiu-se a forma de grandes ambientes monolíticos de ligação avançada que incluía suporte para edição de texto, correio eletrônico, CSCW, engenharia de software e gerenciamento de projetos, entre outras aplicações. Mais tarde, o movimento dos "sistemas abertos" chegou e o significado da integração hipermídia foi deslocado para conectar aplicações existentes (ibidem).32
A criação de links baseados em suportes para editoração de textos, email
eletrônicos, engenharia de software e outros aplicativos já faziam parte dos projetos de
Trigg. Posteriormente, o movimento dos “sistemas abertos” permitiria a reutilização dos
significados de hipermídia. A próxima imagem apresenta um fluxograma baseado em
um sistema de hipermídia aberta.
31 “Hypermedia and its earlier form, hypertext, refer to the notion of information structured as linked networks, as well as to the building, storing, navigating, and searching of such structures. The talk starts with the observation that integration has always been a goal of hypermedia developers”.
32 “At first, this took the form of large monolithic link-enhanced environments that included support for text editing, electronic mail, CSCW, software engineering, and project management among other applications. Later, the "open systems" movement arrived and the meaning of hypermedia integration shifted to connecting existing applications”.
61
Figura 10 - modelo básico de dados de hipermídia aberta
Fonte: “Open Hypermedia as user controlled meta data for the web” - Grønbæk: proceedings of OHS Workshop 4.0 held at Hypertext ’98 in Pittsburgh, June 20-24, 1998.
Sistemas abertos hoje propiciam uma maior colaboração entre as pessoas que se
interessam por desenvolvimento de aplicativos. Um exemplo disso é o sistema
operacional Linux, que permite colaboração nos seus sistemas, a partir do Unix. É um
sistema operacional gratuito, com código aberto.
Os conceitos de hipermídia aberta já remontam alguns anos. Para Rodrigues
(1998),
Recentemente, vários sistemas de hipermídia aberta (OHS) propuseram soluções para a integração com a World Wide Web (WWW). O objetivo é superar as limitações WWW usando modelos mais poderosos e sofisticados de dados hipermídia e explorar a grande distribuição e padronização da Web e as normas que permitem a interoperabilidade e facilidade de uso [...] A integração permite: a interoperabilidade e facilidade de uso [...] A integração permite: a separação de links e informações de apresentação de conteúdo de dados, a definição de composições (a fim de estruturar documentos, além de permitir a definição de elos contextuais e reutilização de estruturas
62
hipermídia); visualização da estrutura do documento, a navegação do usuário através de visualizações gráficas e navegação através de visitas guiadas e histórico das trilhas [...]Com base na estrutura do sistema de arquivos de servidores web, a ferramenta gera automaticamente composições de documentos, a navegação do usuário através de visualizações gráficas e navegação através de visitas guiadas e histórico das trilhas [...]Com base na estrutura do sistema de arquivos de servidores web, a ferramenta gera automaticamente composições de documentos HTML que, através do uso de visualizações gráficas, ajudar a navegação do usuário e busca de informações em web-sites (RODRIGUES, 1998, p. 1)33.
A primeira geração da web é conhecida como Web 1.0, a segunda, Web 2.0. De
acordo com Primo, “Se na primeira geração da Web os sites eram trabalhados como
unidades isoladas, passa-se agora para uma estrutura integrada de funcionalidades e
conteúdo” (PRIMO, 2007, p. 2).
A Web 2.0 é a segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo. A Web 2.0 refere-se não apenas a uma combinação de técnicas informáticas (serviços Web, linguagem Ajax, Web syndication, etc.), mas também a um determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias mercadológicas e a processos de comunicação mediados pelo computador (PRIMO, 2007, p. 1)
A Web 2.0 propicia o livre compartilhamento de informações, recuperação de
arquivos e faz com que haja uma maior interação dos envolvidos nos processos
decorrentes de sua utilização. E quanto à chamada Web semântica ou Web 3.0? A web
semântica, ou Web 3.0 é considerada a terceira geração tecnológica da internet. A Web
semântica tem sido chamada também de Web inteligente. Para Herman (2009) “A Web
Semântica é uma Web de dados”34. Isso significa que o que se busca é trabalhar não
apenas com documentos, mas dados. A partir daí, outros formatos de documentos serão
necessários. Para os sistemas de hipermídia aberta utiliza-se um formato padrão baseado
em dados XML (Extensible Markup Language), chamado OHIF (Open Hypermedia
33Recently, several open hypermedia systems (OHS) have proposed solutions for integrating with the World-Wide Web (WWW). The goal is to overcome WWW limitations using more powerful and sophisticated hypermedia data models while exploring the Web large distribution and standards, that permit interoperability and easy-of-use […] The integration allows: separation of links and presentation information from data content; definition of compositions (in order to structure documents, besides allowing the definition of contextual links and reuse of hypermedia structures); visualization of document structure; user navigation through graphical views; and navigation through guided tours and history trails […] Based on the file system structure of web servers, the tool automatically generates compositions of HTML documents that, through the use of graphical views, help user navigation and information search on web-site.
34The Semantic Web is a Web of data”.
63
Interchange Format). Outro formato utilizado é o RDF (Resource Description
Framework). De acordo com Grønbæk35,
RDF é uma recomendação de consórcio da World Wide Web de meta dados relativo a dados encontrados na Web [...] RDF e hipermídia (aberta) são ambos meios de descrever relações entre entidades. Ambos são externamente armazenados fora dos documentos, eles refletem sobre si e ambos abastecem um leitor com um "valor acrescentado" ou um mecanismo de estruturação [...] RDF e hipermídia aberta podem trabalhar bem em conjunto, pois eles remetem à diferentes necessidades. RDF é bastante apropriado para desempenhar proposições gerais sobre documentos e suas relacões com outros. Hipermídia aberta por outro lado, é um mecanismo geral estruturado e pode ser usado para expressar relações explícitas entre múltiplas proposições em documentos de tipos arbitrários (GRØNBÆK, 2000, p. 2, tradução nossa).
A busca por padrões para uma distribuição mais apropriada de dados, o uso de
navegadores através da visualização de gráficos e trilhas, uso de servidores,
composições HTML são vias possíveis para soluções de problemas. Os sistemas
abertos de hipermídia propiciam um caminho que permite o desenvolvimento da
chamada “web semântica”, que se fundamenta na ideia de metadados. Para Grønbæk,
Recentemente a noção de meta dados tem recebido muita atenção em relação à WWW, através da introdução de padrões tais como XML e RDF. Os meta dados são vistos como um meio de criar a “Web Semântica, como chamou Tim Berners-Lee no seu www8 keynote [...] Esses serviços de meta dados são principalmes baseados em autor fornecido meta dados gerados de forma automática36 (GRØNBÆK, 2000, p. 1).
Observa-se que o processamento de informação e dados nos sistemas de
hipermídia seguem padrões bastante criteriosos; são filtrados, modificados, ajustados
antes de chegar ao usuário final. A preocupação em adaptar e aperfeiçoar a hipermídia
e o hipertexto vêm sendo uma constante, desde o seu surgimento. Dentre os tópicos
35 RDF is a World Wide Web Consortium Recommendation for the description of meta data relating to data found on the Web […] RDF and (open) hypermedia are both ways of describing relations between entities. Both are externally stored outside the documents, they reflect upon, and both provide a reader with an 'added value' or a structuring mechanism […]RDF and open hypermedia can work well in conjunction with each other, as they address different needs. RDF is very well-suited for making general statements about documents and their relationship to other documents. Open hypermedia on the other hand is a general structuring mechanism, and can be used to express explicit relationships between multiple statements in documents of arbitrary types.
36 Recently the notion of meta data has received a lot of attention in relation to the WWW, through the introduction of standards such as XML and RDF. Meta data is seen as a potential means to create the "Semantic Web" as called for by Tim Berners-Lee in his WWW8 keynote […] These meta data services are mainly based on author supplied or automatic generated meta data.
64
discutidos, dois merecem destaque: A hipermídia aberta (open hypermedia) e a web
semântica. Os processos que se relacionam com a evolução da hipermídia e do
hipertexto têm avançado bastante. Recentemente várias discussões estão em pauta no
que se refere aos caminhos trilhados pela hipermídia e aos seus passos rumo ao futuro.
De acordo com Freyne e Berkovsky (2012)37,
Nos modernos sistemas Web de hipertexto e hipermídia as estruturas e o conteúdo são gerados cada vez mais, processados, filtrados, ajustado ou personalizado antes que eles atinjam seus usuários. O percurso do Hipertexto e da Hipermídia Adaptativa atinge o estudo formal dos modelos e sistemas que suportam estes processos, as interações subsequentes com os usuários, e as consequências mais amplas para as organizações e a sociedade. Ele abrange a Hipermídia aberta, a Hipermídia Adaptativa, Personalização, Narrativa Computacional, e todas as formas de sistemas de informações baseadas na Web. Saudamos também o trabalho que explora a forma como esses sistemas podem ser aplicados em diversos domínios (como a educação, saúde, jornalismo, governo, mídia, etc) e que impulsiona o estado da arte em aplicações clássicas e avançadas – tradução nossa. (FREYNE & BERKOVSKY, 2012, p. 1)38.
2.2. Os nós da hipermídia
A universalização da WWW e o sonho da integração expandiu-se para sites,
sistemas de rede, diversos formatos de media e plataformas de hardware. A não-
linearidade, segundo os autores Freyne & Berkovsky (2012) e Lucia Leão (1999), é uma
característica dos sistemas de hipermídia.
Com o surgimento da World Wide Web, o primeiro sistema alargado de hipermídia, o sonho de integração agora se estende através de sites, redes de formatos, meios e plataformas de hardware”. Usando um exemplo atual (estendendo-se o navegador Netscape para apoiar a gestão de e-mail),
37 Extraído da apresentação da mesa 3 (Track 3): Adaptive Hypertext and Hypermedia (Linking resources). Palestrantes: Jill Freyne, CSIRO, Australia e Shlomo Berkovsky, CSIRO, Australia, conferência anual de hipermídia: Hypertext 2012, 23rd ACM Conference on Hypertext and Social Media, Milwaukee, WI. USA. June. 25-28, 2012.
38 In modern hypertext and Web systems hypermedia structure and content is increasingly generated, processed, filtered, adjusted or personalised before it reaches its users. The Adaptive Hypertext and Hypermedia Track targets formal study of models and systems that support these processes, the subsequent interactions with users, and the broader consequences for organisations and society. It covers Open Hypermedia, Adaptive Hypermedia, Personalization, Computational Narrative, and all forms of Web-Based Information Systems. We also welcome work that explores how these systems can be applied in diverse domains (such as Education, Health, Journalism, Government, Media, etc) and that pushes forward the state of the art in classical and advanced applications.
65
defendo que esta história não é tão linear como parece, na verdade, as antigas agendas monolíticas parecem ainda estar conosco (ibidem).39
Ainda sobre a os conceitos de não-linearidade, como uma característica
marcante da hipermídia:
O conceito de não-linearidade deriva da matemática e tem sido empregado de uma forma bastante freqüente, quando se fala de sistemas complexos dinâmicos. Hoje está totalmente fora de contexto alguém pensar que o todo é uma simples soma de suas partes. A ecologia e várias outras ciências já provaram que esse tipo de raciocínio linear não coaduna com a complexidade das relações dos sistemas envolvidos. Mesmo no caso da nossa mente, sabe-se que ela é governada por dinâmicas não-lineares de um complexo sistema que forma a rede neuronal e que percorre o nosso cérebro e o corpo como um todo (LEÃO, 1999, p.57).
Trigg afirma que a hipermídia contribui no sentido de produzir integrações
colaborativas. A web passaria a ser um ambiente fecundo para as trocas envolvendo
pessoas coletivamente:
Finalmente, eu sugiro que a hipermídia tem uma contribuição importante integradora para agregar à atividades como colaboração, mobilização e de voluntariado que compõem a obra, o trabalho subestimado de construção da comunidade a ter lugar na web. Eu uso um exemplo de um projeto habitacional de baixa renda na Carolina do Norte destinado à destruição pela autoridade local de habitação. Em sua luta para poder ser pronunciar sobre a concepção de sua morada futuro, uma força-tarefa composta por moradoras foi capaz de mobilizar o apoio e participação ativa de vários arquitetos pela internet40 (TRIGG, 1996, tradução nossa).
Por questões metodológicas fez-se necessário antecipar algumas colocações a
respeito da multimídia e dos seus diversos conceitos, antes das questões referentes à
Hipermídia. No entanto, para o bom desenvolvimento do trabalho, é importante
conhecer mais alguns conceitos de Hipermídia. Para Piscitelli (2002: 26) a Hipermídia
“trata-se de conglomerados de informação multimídia de acesso não sequencial,
39 With the emergence of the World-Wide Web, the world's first broad-based hypermedia system, the dream of integration now extends across sites, networks, media formats, and hardware platforms. Using a current example (extending the Netscape browser to support email management), I argue that this history is not as linear as it seems, in fact the old monolithic agendas seem still to be with us.
40 Finally, I suggest that hypermedia has an important integrative contribution to make to activities like collaboration, mobilization and volunteering that comprise the under-valued work of community-building taking place on the web. I use an example of a low-income housing project in North Carolina slated for destruction by the local housing authority. In their struggles to gain a say in the design of their future abode, a task force of women residents were able to enlist the support and active engagement of several architects on the internet.
66
navegáveis através de palavras-chave semialeatórias. São assim um paradigma para a
construção coletiva do sentido, novos guias para a compreensão individual e grupal”.
A não-sequencialidade é uma das características principais dos sistemas hipermídia. O
acesso a novos links se dá através de palavras-chave. São caminhos entrecruzados que
levam a outros caminhos, em uma cadeia infinita de possibilidades. O espaço
hipermidiático é labiríntico, randômico, são multiuniversos que se entrecruzam.
De acordo com Negroponte,
a hipermídia é um desenvolvimento do hipertexto, designando a narrativa com alto grau de interconexão, a informação vinculada (...) Pense na hipermídia como uma coletânea de mensagens elásticas que podem ser esticadas ou encolhidas de acordo com as ações do leitor. As idéias podem ser abertas ou analisadas com múltiplos niveis de detalhamento.” (NEGROPONTE, 1995, p.66)
As conexões hipermidiáticas são complexas, não-lineares e propiciam inúmeras
possibilidades de acesso a informações através de interconexões. O hipertexto possui
um potencial educativo devido seu potencial de explorar inesgotavelmente temas
diversos. Na visão de Pierre Lévy:
O hipertexto ou a multimídia interativa adequam-se particularmente aos usos educativos (...) Ora, a multimídia interativa, graças à sua dimensão reticular ou não linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo lúdica, face ao material a ser assimilado. É, portanto, um instrumento bem adaptado a uma pedagogia ativa (LÉVY, 1993. p. 24).
A não-linearidade basicamente refere-se a um rompimento, mesmo que não
definitivo, com estruturas lineares de menor complexidade. É interessante observar que
essa geração de sistemas baseia-se nos mesmos conceitos da primeira geração.
Entretanto, a tecnologia da estação de trabalho permite muito mais interações com o
usuário com suporte para gráficos e nós de animação. Faz também em grande
quantidade o uso de rotinas gráficas da estrutura de rede para auxiliar na navegação.
Com o desenvolvimento e o uso cada vez maior da hipermídia, problemas
começam a ser percebidos. O que alguns especialistas afirmam a respeito? “Enquanto a
hipermídia se tornou mais popular e os sistemas hipermídia entram em um uso mais
generalizado, as limitações e deficiências da atual hipermídia estão se tornando cada
67
vez mais evidentes” (Halasz, 1988)41. Outros que apontam mais alguns problemas: “O
simples modelo hipermídia básico não é rico o suficiente para suportar a organização,
estruturação e acessar tarefas exigidas por muitas aplicações”. (Hammond, 1993)42.
“Problemas como desorientação do usuário, desenvolvimento de suspensão cognitiva
de usuário e construção manual de rede de informação dominam o atual sistema
hipermídia” (Ramaiah, 1992)43.
Apesar desses problemas terem sido apontados há algum tempo, percebe-se que
ainda não foram satisfatoriamente solucionados. O modelo básico de hipermídia segue o
esquema abaixo:
Figura 11 - Esquema de hipermídia mostrado por Rivinl, 1994
Fonte: “Hypermedia – Introduction”- http://aetos.it.teithe.gr/~cs1msa/hyp0.html
No esquema acima, observa-se a estrutura básica do modelo de hipermídia. Dois
submodelos distintos e independentes. O primeiro submodelo é responsável pelos
dados, onde os nós interconectados com links distintos formam e compõem a estrutura.
O segundo submodelo contem os mecanismos de processamento e informação. O
primeiro é o submodelo de dados. Sua função é proporcionar a interconexão dos nós
com links diretos, formando a estrutura de um gráfico. O submodelo de processo é o
segundo elemento do modelo básico de hipermídia. Ele é responsável pelos mecanismos
que possibilitam acesso às informações (Parunak, 1991). Para se compreender a
41 “While hypermedia has become more popular and hypermedia systems come into more widespread use, limitations and shortcomings of current hypermedia are becoming increasingly apparent”. 42 “The simple basic hypermedia model is not rich enough to support the organising, structuring and accessing tasks required by many applications”.
43 “Problems like user Disorientation, development of user Cognitive Overhead and manual construction of information network dominate current hypermedia systems”. “Problemas como desorientação do usuário, desenvolvimento de suspensão cognitiva de usuário e construção manual de rede de informação dominam o atual sistema hipermídia.”
68
estrutura básica da hipermídia, alguns elementos precisam ser conceituados, como por
exemplo, o conceito de nós.
Os Nós são a unidade primitiva de organização da informação em rede de hipermídia. Os nós funcionam como coleções de dadis primitivos não estruturados, que são o elo de ligação a fim de criar uma entidade lógica. O objetivo desta entidade lógica deve ser o de fornecer uma abstração de informação coerente para o espaço da informação existente. Por exemplo, em um sistema hipermídia sobre a vida de Aristóteles, um nó pode combinar uma descrição de texto, uma informação de som, uma imagem gráfica e vídeo digital sobre o local de nascimento de Aristóteles, Stagyra44 (HALASZ, 1994, tradução nossa).
O nó, como esclarecido, é a unidade primitiva e serve para organizar as
informações na rede hipermídia. Trata-se de uma entidade lógica. Prover informações
coerentes e destiná-las a um lugar no espaço (virtual) seria o papel fundamental dos nós.
Outro elemento fundamental da estrutura hipermídia são os links.
Os Links são as outras unidades fundamentais de submodelo de dados. Os links implementam as interconexões dirigidas entre osnós. Eles estão ancorados a um nó de partida e fornecem ao usuário da hipermídia a capacidade para ativá-lo e passar para o nó de destino. Os links são associadas com as peças de nós de partida mais do que com o nó como um todo. Esta é a menor freqüência para as associações entre os links e nós de destino. Uma variação simples deste modelo pode ser alcançada, em relação a links como interconexões indiretas entre nós como prescritos” – tradução nossa45 (HALASZ, 1994).
Os links são responsáveis pelas interconexões entre os nós. A próxima figura
mostra uma representação gráfica contendo uma simples informação hipermídia em
rede, consistindo apenas de cinco nós. Entretanto, existem vários links direcionados
entre os nós.
44 Nodes are the primitive unit for organizing information in hypermedia network. Nodes function as collections of primitive unstructured data which are bind together in order to create one logical entity. The purpose of this logical entity should be to provide a coherent information abstraction to existing information space. For example, in a hypermedia system about the Aristotle's life, a node can combine a text description, a sound information, a graphics picture and a digital video about the Aristotle's birthplace, Stagyra.
45 Links are the other fundamental units of data submodel. Links implement the directed interconnections between nodes. They are Anchored to a departure node and provide the hypermedia user the ability to activate them and move to the destination node. Links are associated with parts of departure nodes rather than with the node as a whole. This is less frequently for associations between links and destination nodes. A simple variation of this model can be achieved, regarding links as undirected interconnections between nodes than directed.
69
Figura 12 – Gráfico Modelo de Hipermídia
Fonte: “Hypermedia – Introduction” - http://aetos.it.teithe.gr/~cs1msa/hyp0.html
A metáfora da navegação faz parte do segundo submodelo (fig. 12). Segundo a
visão de Nielsen:
O conceito de hipermídia não se refere apenas à organização de dados multimídia interligados com links. Navegação, através do qual o usuário se move através da rede hipermídia ativando e seguindo os links de um nó para outro, é outra característica marcante da hipermídi (NIELSEN, 1990b, tradução nossa)46.
Sendo assim, para Nielsen navegar é o primeiro meio para se ter acesso a
informações em ambiente hipermídia e compõe o aspecto mais essencial do processo
básico da hipermídia em seu segundo submodelo. Ainda segundo Nielsen:
A característica básica do acesso navegacional é que os usuários navegam pela automotivação, sem qualquer ajuda externa de navegação. Algumas funcionalidades primárias de navegação como a capacidade de recuar para o nó visitado anterior, ou para mover o nó que foi primeiro visitado, poderiam ser consideradas como parte do processo básico de submodelo (ibidem)47.
Para Halasz (1988:836-852) ainda há muita coisa para se alcançar em se tratando
de hipermídia. Segue uma lista de problemas e sugestões a serem solucionados:
46 Hypermedia concept is not only organised multimedia data interconnected with links. Navigation, whereby the user moves through the hypermedia network by activating and following links from one node to another, is another defining feature of hypermedia.
47 The basic characteristic of navigational access is that users navigate by self motivation without having any external navigational aid. Some primary navigational functionality like the ability to backtrack to previous visited node, or to move the very first visited node, could be regarded as part of basic process submodel.
70
Criação de um guia universal;
Problemas de edição em sistemas de abertura de hipermídia;
Qual é o futuro: sistemas de abertura ou fechamento de hipermídia?
Sistema de fusão para version control;
Redes rápidas para fazer trabalho cooperativo mais viável;
Maneiras fáceis de criar links: É conceitual a possibilidade de
recuperação de solução?
Criação de padrões;
Melhores suportes para trabalho cooperativo.
Dos problemas citados acima talvez os mais urgentes sejam a criação de padrões
e o aperfeiçoamento dos bancos de dados. Hoje, a maior parte dos sistemas de banco de
dados opera com os chamados scripts que possibilitam a construção em uma base de
dados. De acordo com Alves (2004),
devido à diversidade de linguagens e de base de dados existentes, a maneira de comunicar entre umas e outras seria realmente complicado de providenciar, a não ser pela existência de padrões que nos permite realizar as operações básicas de uma forma universal. É justamente disso que se trata o Structured Query Language que não é mais do que uma linguagem padrão de comunicação com base de dados. Falamos portanto, de uma linguagem normalizada que nos permite trabalhar com qualquer tipo de linguagem (ASP ou PHP) em combinação com qualquer tipo de base de dados (MS Access, SQL Server, MySQL...). (ALVES, 2004, p. 1)
A padronização não significa que todos os bancos de dados trabalham da mesma
forma. O SQL pode operar em conexão com o Oracle, por exemplo, ou seja, alguns
comandos podem ser comuns aos dois sistemas. Entretanto, não é possível que todos os
bancos de dados operem e utilizem os mesmos comandos. Após a menção de problemas
por serem resolvidos a respeito da hipermídia, segue um pouco do que se pode fazer
atualmente com os recursos disponíveis.
71
Figura 13 - Quadro proposto pelo professor Daniel Schwabe (Dep. de Informática, PUC-Rio)
Fonte: “Autoria de aplicações hipermídia” - java.icmc.usp.br/books/hypermedia/ppt/OOHDM-aula1.ppt
As aplicações hipermídia se estendem desde os usos comerciais até as áreas
técnicas e de engenharia de software, por exemplo. Isso demonstra o grau de
importância da linguagem hipermídia e o seu potencial para agregar diversos usos.
Interessante também observar a relação dos produtos com o tipo de mídia e o suporte
tecnológico. Para esse trabalho a ênfase será dada aos estudos diretamente ligados á
Interface Humano-Computador. Em relação às definições de multimídia, segue uma de
acordo com a natureza dessa pesquisa.
Pela observação dos bits no tempo, no espaço ou em ambos, pode-se remover as repetições, comprimindo desse modo a forma básica do som e da imagem, inclusive comprimindo e descomprimindo, codificando e descodificando mensagens em vídeo. Essa mistura de áudio, vídeo e dados é chamada de multimídia. (SANTAELLA, 2003, p. 83)
O computador multimídia tem a capacidade de manipular diversas mídias.
Observa-se que as mídias estão distribuídas em três categorias: verbal, visual e sonoro;
entretanto, existem basicamente cinco itens básicos: texto, som (áudio), imagem,
animação e vídeo.
Texto: provavelmente, essa é a modalidade que aparece com mais frequência.
Um texto em um computador pode estar em dois tipos de formatos: ASCII (o texto não
possui nenhum tipo de formatação) ou, por exemplo, Word, Wordperfect, HTML.
(Nesses formatos é possível apresentar os textos formatados).
72
Hipertexto: a hipermídia costuma apresentar-se através desse recurso. No
hipertexto os “links” surgem para que o usuário possa navegar entre pedaços de textos
relacionados. A complexidade dos processos de navegação ampliam as possibilidades e o
potencial do uso do computador. Para Lucia Leão,
As páginas da WWW muitas vezes são compostas por diversos itens de hiperlinks, formando uma espécie de "menu de links". [por exemplo, links para outras páginas]. Isto é muito simpático pois, com o aumento do potencial de conexões, a navegação tende a se ornar mais complexa, mais rica. (LEÃO, 1999, p. 28).
A complexidade dos sistemas de hipermídia é possível por causa do potencial de
conexões, como Leão esclarece na citação acima. Esse potencial é infinito, pois um link,
por exemplo, direciona a outro e mais outro e assim sucessivamente numa cadeia
incomensurável de possibilidades. Além dos elementos textuais os sistemas hipermídia
operam com outros recursos como o áudio e vídeo, por exemplo:
Gráfico: os recursos gráficos são utilizados com a intenção de se representar
dados. Percebe-se a frequência na utilização e no armazenamento de dois tipos de
imagens: na forma de mapa de bits ou imagens vetoriais.
Audio: recurso bastante difundido. O som apresenta uma característica que o
distingue do texto e das imagens: o caráter temporal, ou o tempo. Os formatos de som
podem ser: WAV, AIFF, SND. Através desses formatos torna-se possível o
armazenamento da informação sonora na forma de sua respectiva onda. Um formato
bastante difundido é o MIDI (Musical Instrument Digital Interface), mais indicado para
armazenar informações sonoras provenientes de instrumentos musicais. A figura abaixo
mostra o software Sound Forge, versão 9.0. Este software é um programa bastante
utilizado na edição de áudio profissional. O programa pode importar ou exportar vários
formatos de áudio como o MP3, o Wave e o MIDI.
73
Figura 14 - Sound Forge 10.0 - Software de edição de áudio
Fonte: “soft-best-net” - http://soft-best.net/software/mp3_audio/53461-sony-sound-forge-pro-v100d-build-503.html
Não resta dúvida de que o áudio dentro do computador multimídia é um recurso
bastante rico. Porém, a associação do áudio com as imagens em movimento, ou vídeo,
torna ainda mais atraente e potencializam grandemente os recursos e possibilidades de
criação dentro do universo computacional.
Vídeo Digital: A tecnologia digital impulsionou grandemente as possibilidades
de se trabalhar com vídeo, independente de ser apenas um usuário ou um profissional da
área. Em um computador, o vídeo é armazenado de forma muito parecida com a de um
rolo de filme, ou seja, uma sequência de frames (quadros).
Figura 15 - IRIDAS FrameCycler - Software para Edição de Vídeos
Fonte: NMR[(Digital solutions for Creative Professionals] - http://www.nmr.com/products/Stereo-3D/iridas-framecycler%20copy.html
74
Existem inúmeros softwares de edição de vídeo. Esses programas também
trabalham geralmente com edição de áudio, pois o vídeo e o áudio estão relacionados
diretamente. Existem desde os profissionais até aqueles que já vêm no sistema
operacional do computador doméstico, tais como o Nero e o Roxio Creator que
acompanham o sistema operacional da Microsoft, o Windows; VoiceOver, do Quick
Time X e sistema MIDI dos iMac, da Apple, nos sistemas MAC-OS.48
Figura 16 - Quick Time X, da Apple
Fonte: Utilities Softwares for Mac - http://store.apple.com/us
Figura 17 - Utilitário de Configuração de áudio MIDI
Fonte: Utilities Softwares for Mac - http://store.apple.com/us
48 Imagens retiradas do site da Apple Store, sessão aplicativos. A web page da Apple Store será um dos objetos de estudo no capítulo 3.
75
Devido ao código aberto, é possível a execução de várias tarefas em conexão
com sistemas operacionais diversos, como o sistema operacional da Windows e da
Apple, respectivamente. Isso se deve e só é possível por causa da base UNIX. Isso pode
ser visto a partir do aplicativo X11 da Apple.
Figura 18 - X 11 - Dispositivo para acesso a ferramentas em ambiente UNIX
Fonte: Utilities Softwares for Mac - http://store.apple.com/us
Outra tecnologia importante é o sistema Bluetooth, que permite a troca de
arquivos via sistema wireless.
Figura 19 - Aplicativo Bluetooth da Apple
Fonte: Utilities Softwares for Mac - http://store.apple.com/us
Muitas outras coisas poderiam ser mencionadas a respeito das novas tecnologias
que envolvem as interfaces dos principais sistemas operacionais. Entretanto, isso só não
é possível (devido à dinâmica do mundo da engenharia de software e hardware) como
também não faz parte do tema proposto por essa dissertação.
76
2.3. Mídias e Hipermídia
Diversas mídias podem ser utilizadas em suportes multimídia. A multimídia
possui uma natureza espaço-temporal, assim como a hipermídia. Tomando-se como
exemplo o hipertexto: trata-se de um texto no espaço virtual, quer dizer, existência
temporal e espacial, podendo esse espaço um existente on line, através de um software
ou mesmo de uma mídia externa, por exemplo, um CD, DVD, pen-drive etc. De acordo
com Ribeiro (2004), os tipos de media49 podem ser divididos assim:
Estáticos – Os elementos de informação são agrupados independentes do tempo,
altera-se apenas a sua dimensão no espaço. Exemplo: imagens, textos e gráficos.
Figura 20 - Synfig Studio - Software de edição de Imagens
Fonte: synfig studio 2D software Windows, Macintosh, other freeware, MediaWiki and YAML CSS Software D - http://freeartsoftware.com/survey3d2d-downloads/download-info.php?sid=755
49 Alguns autores preferem o uso do termo media ao invés de mídia. Muitas vezes, inclusive sendo usado no gênero masculino e plural. É o caso do professor Nuno Magalhães Ribeiro, no livro Multimédia e Tecnologias interativas. Logo na apresentação do livro, escreve: “(...)O desenvolvimento de sistemas e aplicações multimédia que tirem partido das tecnologias de integração dos media torna-se pois essencial para comunicar com mais eficácia no contexto da Sociedade da informação”.
77
Dinâmicos – De forma inversa aos estáticos, nesse grupo, os elementos de
informação dependem do tempo. Exemplo: o vídeo, o áudio digital, animação, música
sintetizada. Nestes casos, o fator tempo é determinante, pois uma alteração temporal, da
ordem de apresentação dos conteúdos conduz a alterações na informação associada ao
respectivo tipo de mídia dinâmico. Por exemplo: acione-se o recurso slow-motion e
obter-se-á uma alteração em termos de percepção do conteúdo exibido em um vídeo
qualquer. O movimento das imagens não corresponde ao tempo “original”. As imagens
em movimento, como no caso do cinema, devem durar certo tempo para que possam
transmitir a mensagem ou as mensagens propostas.
Figura 21 - Free Video - Editor de Video
Fonte: free video Flip and Rotate video, flip video - http://www.dvdvideosoft.com/products/dvd/Free-Video-Flip-and-Rotate.htm
Quanto à natureza da mídia, há de se acrescentar outro tipo, a mídia imersiva,
que agrupa elementos de informação interativa em ambientes 3D. Antes de se comentar
algo sobre mídia imersiva, é necessário compreender o conceito de imersão dentro de
contextos que envolvam a tecnologia digital. A imersão, segundo a opinião de Koettker
(2005), é um fenômeno produzido quando não é registrada em nossa consciência a
atuação dos aparatos imagéticos como intermediários da experiência sensorial. Isso
pode ocorrer quando “a percepção consciente se transforma numa inconsciência
ilusória”, como comenta Florence Green Koettker, a propósito da palestra proferida por
Oliver Grau (GRAU, 2005) - “Remember the Phantasmagoria!”. O referencial
78
imagético seria o meio pelo qual a mente se apropriaria para se apropriar de uma
percepção consciente. Para que haja imersão, necessário seria o não registro consciente
das imagens. Santaella (2003) estabelece a existência de três tipos de imersão:
1. Imersão por conexão
2. Imersão através de avatares
3. Imersão híbrida
A imersão por conexão se dá quando existe uma espécie de conexão entre o
corpo e um dispositivo físico (computador, por exemplo). Paralelo a isso, os sentidos
são acionados enquanto “a mente navega através de conexões hipertextuais e
hipermidiáticas, tanto nos interiores dos CD-Roms quanto nas redes” (Santaella, 2003:
203). Imersão por meio de avatares. Para Domingues, um avatar é como uma máscara
digital que se pode vestir para se identificar a uma vida no ciberespaço. (Domingues,
2002a: 119). Acrescenta Santaella, “Nesse nível, a imersão avança a um passo, pois,
quando o internauta incorpora um avatar, produz-se uma duplicação na sua
identidade, uma hesitação entre presença e ausência, estar e não estar, certeza e
fingimento, aqui e lá”. Finalmente, o terceiro tipo, a imersão híbrida. Para Santaella,
esse tipo de imersão vem sendo bastante explorada:
Chamo de imersão híbrida aquela que vem sendo intensamente explorada nas performances e danças performáticas, quando os movimentos do(a) dançarino(a) encontra-se com designs de interface, sistemas interativos, visualizações 3D ou ambientes imersivos, mundos virtuais ou outros sistemas gerativos de design. A imersão híbrida também se aplica aos casos de mistura de paisagens geográficas com ciberpaisagens, misturas entre campos presenciais e virtuais. (ibidem).
A tecnologia 3D se faz presente não só na indústria cinematográfica, como nos
games. Um exemplo disso é o jogo Tekken 3D Prime Edition.
79
Figura 22 - Game Tekken 3D Prime Edition
Fonte: Tekken 3D Prime Editon – Nintendo 3DS/http://www.3d-h.de/
2.4. Um estudo sobre as interfaces
Como visto anteriormente, desde a década de 60, cientistas da área da
computação preocupavam-se com a questão do armazenamento de informações e
recuperação de dados. Os estudos levaram alguns desses cientistas à necessidade de se
pensar em mecanismos que possibilitassem esse feito. A ideia de que a mente humana
trabalha por associação e não por indexação, tese, proposta por Vannevar Bush (1945),
encontra amparo e contém certa semelhança no que foi proposto por Freud, na sua
teoria da associação livre. De acordo com Berlinck,
A associação livre possibilita articulações que desencobrem aquilo que estava obscuro e implícito na repetição. A verdade é, assim, evanescente. Não possui um caráter permanente. Revelando o obscuro, a verdade é um convite à livre associação e ao reencontro com a repetição. Uma vez revelada, a verdade dá início à repetição e se constitui, assim, numa fonte para a resistência à livre associação. É essa dinâmica contraditória que permite o interminável processo de pensamento no humano. A livre associação como modelo para o pensamento está, portanto, presente tanto em Vannevar Bush quanto em Freud. O que é diferente é a suposição a respeito da possibilidade da associação (BERLINCK, 2011, p. 220-221)50.
50 Citação retirada da Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 14, n. 2, p. 219-221, junho 2011.
80
O pressuposto básico nas ideias de Bush era fazer com que a memória humana
fosse “estendida”, dessa vez através de mecanismos de conexão, envolvendo
computadores, numa espécie de sistema integrado. Os conceitos de Interface já estão ai,
pois, uma das suas muitas definições, segundo o dicionário Aurélio (2004), é:
Interface é o conjunto de meios planejadamente dispostos sejam eles físicos ou lógicos com vista a fazer a adaptação entre dois sistemas para se obter um certo fim cujo resultado possui partes comuns aos dois sistemas, ou seja, o objeto final possui características dos dois sistemas51
Para os pesquisadores Rocha & Baranauskas, o conceito de interface se amplia e
tende a ter mais significados e aplicações:
Interface tornou-se uma tendência (ou moda, como nomeiam os mais incrédulos) como um importante conceito a ser explorado nos últimos anos, e isso é largamente atribuído à introdução dos computadores Macintosh da Apple. Certamente, quando se pensa hoje em dia em Interfaces Humano-Computador (IHC) imediatamente se visualiza ícones, menus, barras de rolagem ou talvez, linhas de comando e cursores piscando. Mas certamente interface não é só isso. (ROCHA & BARANAUSKAS, 2003, p. 9)
Algumas áreas trabalham com sistemas de interface. Cada uma define de forma
diferenciada o seu conceito. Isso é inevitável, pois as abordagens diferem por se tratar
necessariamente de áreas distintas. Na ciência da computação interface pode se tratar
de um circuito eletrônico com a função de controlar a interligação entre dois
dispositivos de hardware. O objetivo é ajudar na troca de dados, e assim, garantir
confiabilidade no processo. Para Santaella (2003)
o termo “interface” surgiu com os adaptadores de plugue usados para conectar circuitos eletrônicos. Então, passou a ser usado para o equipamento de vídeo empregado para examinar o sistema. Finalmente, refere-se à conexão humana com as máquinas e mesmo à entrada humana em um ciberespaço que se autocontém. De uma lado, interface indica os periféricos de computador e telas de monitores; de outro, indica a atividade humana conectada aos dados através da tela. Mas os sentidos em uso vão além disso e abrangem desde cabos de computadores até encontros pessoais e a fusão de corporações financeiras. (SANTAELLA, 2003, p. 91).
Hoje, quando se usa a terminologia interface, pode-se entender essa expressão
(devido aos avanços tecnológicos) como uma referência á conexão humana com as
51 Definição de interface - Buarque de Holanda Ferreira, Aurélio. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Revista e atualizada do Aurélio Século XXI. 3ª Edição. Brasil: Editora Positivo. 2004.
81
maquinas, mais apropriadamente, o que não impede outros usos e aplicações, pois é um
campo de estudos relativamente novo. Johnson também discute o conceito subjacente à
palavra interface. Vejam-se seus comentários.
Mas, afinal, que é exatamente uma interface? Em seu sentido mais simples, a palavra se refere a softwares que dão forma à interação entre usuário e computador. A interface atua como uma espécie de tradutor, mediando entre as duas partes, tornando uma sensível para a outra. Em outras palavras, a relação governada pela interface é uma relação semântica, caracterizada por significado e expressão, não por força física.Os computadores digitais são "máquinas literárias", como os chama o guru do hipertexto Ted Nelson. Trabalham com sinais e símbolos, embora seja quase impossível compreender essa linguagem em sua forma mais elementar. Um computador pensa — se pensar é a palavra correta no caso através de minúsculos pulsos de eletricidade, que representam um estado"ligado" ou um estado "desligado", um O ou um l (JOHNSON, 2001, p. 23).
Na Informática, o termo interface é comumente entendido como um objeto que
possibilita qualquer tipo de interconexão entre dois equipamentos, mesmo que esses
equipamentos possuam funções distintas. Para esses aparelhos seria impossível algum
tipo de conexão direta. Um exemplo familiar disso é o modem. Na área da
Comunicação compreende-se interface como um meio pelo qual pode haver alguma
possibilidade de comunicação ou interação entre grupos. Uma interface está entre o
humano e o maquínico, uma espécie de membrana, dividindo e ao mesmo tempo
conectando dois mundos que estão alheios, mas também dependentes um do outro
(Poster, 1995). A interação homem-máquina está cada vez mais presente no cotidiano
em praticamente todas as culturas. Para Santaella:
De um lado, interface indica os periféricos de computador e telas dos monitores; de outro indica a atividade humana conectada aos dados através das telas. Mas os sentidos em uso vão além disso e abrangem desde cabos de computadores até encontros pessoais e a fusão de corporações financeiras. (SANTAELLA, 2003, p. 91).
Mesmo com abordagens e fins diferentes, o conceito de interface tende a se
ampliar e se expandir para outras áreas, principalmente aquelas que trabalham com
processos comunicativos.
O termo Interação Humano-Computador (IHC) foi adotado em meados dos anos 80 como um meio de descrever esse novo campo de estudo. E como já dissemos, o termo emerge da necessidade de mostrar que o foco de interesse é mais amplo que somente o design de interfaces e abrange todos os aspectos relacionados com a interação entre usuários e computadores. (ROCHA & BARANAUSKAS, 2003, p. 14)
82
O campo de estudos denominado IHC (Interface Humano-Computador) inicia-
se com Engelbart (como visto anteriormente). Na sua época a noção de interface e
ambiente de resposta começava a tomar forma. A IHC pode ser entendida hoje como
uma área voltada basicamente para o design, avaliação e implementação de sistemas
computacionais interativos para o uso humano e preocupa-se também com os estudos
dos principais fenômenos ao redor deles (Rocha & Baranauskas 2003).
Concluindo, IHC trata do design de sistemas computacionais que auxiliem as pessoas de forma a que possam executar suas atividades produtivamente e com segurança. IHC tem, portanto, papel no desenvolvimento de todo tipo de sistema, variando dos sistemas de controle de tráfego aéreo onde segurança é extremamente importante, até sistemas de escritório onde produtividade e satisfação são os parâmetros mais relevantes, até jogos, onde o envolvimento dos usuários é o requisito básico (ROCHA & BARANAUSKAS, 2003, p. 15).
Para Santaella, a interação humano-máquina se dá por intermédio de um
programa que cria uma interface:
Para precisar melhor um campo tão extenso, uma interface ocorre quando duas ou mais fontes de informação se encontram face a face, mesmo que seja o encontro da face de uma pessoa com a face de uma tela. Um usuário humano conecta-se com o sistema e o computador se torna interativo (...) é um ponto de contato no qual programas ligam o usuário humano aos processadores do computador e estes intensificam e modificam nosso poder de pensamento. É nossa interação com o programa que cria uma interface. Para isso, o ser humano precisa estar plugado. Por seu lado, a tecnologia nos incorpora. (SANTAELLA, 2003, p.91)
Figura 23 - G-Speak – ambiente operacional espacial – MIT’s media laboratory – homem interagindo com interface. Fonte: G-Speak: o futuro se torna cada vez mais minority report - http://www.faberludens.com.br/pt-br/popular_posts?page=15
83
2.4.1. Interfaces e suas aplicações
Na primeira parte deste capítulo foram apresentados conceitos de interface e o
seu uso em algumas áreas. A grande tendência das pessoas hoje é relacionar o termo
interface quase que imediatamente a algo que tenha relação, mesmo que indireta a
algum ramo da informática. Entretanto, o termo interface sugere algo bem mais
complexo.
Tomemos como exemplo uma área específica, a ciência da computação. Dentro
dessa área do conhecimento o termo interface pode ser utilizado, por exemplo, como
interface em programação de computadores, interface do usuário, interface gráfica do
usuário e interface de rede. Na interface em programação de computadores, a
comunicação entre dois componentes de software é definida, mantendo os seus limites
de fronteira. Neste caso, programas são escritos em uma das muitas linguagens de
programação (Java, C, C++, Visual Basic, Pascal, Assembly, PHP, C#, entre outras).
Figura 24 - Configuração de variáveis em ambiente Windows para instalação do Java
Fonte: instale o Java ...Pplware - http://pplware.sapo.pt/tutoriais/instale-o-java/
84
A interface do usuário corresponde á um conjunto de características pelas quais
o usuário mantém uma relação ou interagem com programas, dispositivos, máquinas ou
outros sistemas. Essa interação se dá através de duas formas: INPUT-OUTPUT (ou
métodos de entrada e saída). Há dois tipos de processo nessa relação, levando em conta
o usuário. No método de entrada o usuário manipula o sistema, enquanto que no método
de saída é permitido ao sistema (re) produzir os efeitos ou respostas das ações do
usuário.
Figura 25 – Gravação de áudio por meio do software Pro Tools
Fonte: HowStuffWorks – Como funciona o software e hardware Pro Tools - http://lazer.hsw.uol.com.br/pro-tools.htm
Sistemas de gravação de áudio ou mesmo vídeo são um bom exemplo de
interface. Na figura acima, observa-se um engenheiro de som manipulando um
sintetizador, utilizando-se do software de gravação de áudio Pro-Tools. Os mecanismos
de entrada e saída são primordiais para que o processo de gravação seja realizado. Nesse
exemplo há diversas interfaces interagindo efetivamente. O sintetizador interage com o
engenheiro, assim como há diversas conexões, através do computador.
A Interface Gráfica do Usuário ou GUI (Acrônimo em inglês para Graphical
User Interface) corresponde à interação do usuário (geralmente através do mouse ou de
um teclado) com dispositivos digitais através de recursos gráficos como ícones, por
exemplo. Para isso, utiliza-se de ambientes gráficos padrão, como os vistos em sistemas
operacionais Windows, Linux ou Leopard, por exemplo. Uma interface gráfica
85
necessita de uma combinação de tecnologias aliados a dispositivos para gerar uma
plataforma onde o usuário possa interagir com o sistema. Segue abaixo a interface dos
principais sistemas operacionais vigentes no mercado.
Figura 26 – Interface do OXS Lion, da Apple
Fonte: Itech – tecnologia na primeira pessoa - http://www.i-tech.com.pt/wwdc-2011/
Figura 27 – Interface do Windows 8 (2011)
Fonte: Steve Ballmer confirma lançamento do Windows 8 em 2012 - http://catitosnews.blogspot.com.br/2011/05/steve-ballmer-confirma-lancamento-do.html
86
Figura 28 - Interface do Ubuntu 11.04 “Natty Narwhal”
Fonte:Ubuntu 11.04 “Natty Narwhal” final é publicado - http://www.hardware.com.br/noticias/2011-04/ubuntu-natty-final.html
As definições e conceitos de interface não se encerram através dos exemplos que
foram dados até o momento. Compreende-se interface, resumidamente, como um
conjunto de meios físicos ou lógicos dispostos sob um planejamento, tendo como
objetivo fazer a adaptação entre dois sistemas. Essa adaptação tem como objetivo obter
certo resultado. Porém, para chegar a esse resultado deverá haver um compartilhamento
de partes dos dois sistemas e o resultado final deverá possuir características dos
sistemas envolvidos. É importante lembrar que sempre haverá a necessidade da
existência de uma ou mais ferramentas para o uso ou movimentação de qualquer
sistema de informações, sendo esse sistema material ou virtual.
Figura 29 - Dispositivo programado para explodir (Dinamite)
Fonte: Project Lab - http://nootropicdesign.com/projectlab/2011/09/05/defusable-clock/
87
A figura “Dispositivo programado para explodir”, mostra um exemplo de
interface. Há, a princípio, dois sistemas envolvidos no processo. Um dos sistemas é um
relógio, cujo fim é contar um determinado período de tempo. O segundo sistema é uma
dinamite, cujo fim é causar uma explosão. Esses dois sistemas integrados formam uma
bomba-relógio. Entretanto, para se criar uma bomba relógio faz-se necessário haver
uma interface entre estes dois elementos ou sistemas; isso ocorrerá após uma adaptação
dos sistemas. O resultado final será um mecanismo ou sistema conjugado,
“interfaceados”, que terá como objetivo final causar uma explosão num tempo
determinado. Há ainda a chamada Interface de Rede (Placa de Rede, conhecida
também por Pen Gigante). A interface de rede trata-se na verdade de um dispositivo
eletrônico existente em alguns equipamentos de rede, por exemplo, routers (roteadores)
e em computadores.
Figura 30 – Linksys (Cisco) Wired Router
Fonte: wired and wireless routers-http://www.geekswhoknow.com/articles/wired_and_wireless_routers.htm
A imagem acima mostra um roteador wired, ou seja, o sistema é organizado com
a tecnologia que envolve cabeamento de rede.
88
Figura 31 - Belkin - Dlink/broadband wireless router
Fonte: guide to buying a wireless router for your home - http://www.shinyshiny.tv/2010/08/guide_to_buying_home_wireless_router.html
A imagem acima representa um roteador com uma tecnologia mais avançada, o
sistema wireless, ou seja, sistema que não exige cabeamento. A tendência
mercadológica é que esse tipo de equipamento tome o lugar do outro sistema, o sistema
wired.
A função da interface de rede é permitir a interligação em rede com velocidades
de 10Mbps, 100Mbps ou 1Gbps em redes com fio (cabeadas ou wired). Nas redes sem
fio (vias ondas de rádio ou wireless) as velocidades podem chegar a 11Mbps ou mais.
Mbps significa megabit por segundo; é a mesma coisa que Mbit/s, trata-se de uma
unidade de transmissão de dados correspondente a 1.000 Kilobits por segundo, igual a
1.000.000 de bits por segundo. As medições de grande parte das aplicações de vídeo se
dão nessa unidade. Deve-se ter cuidado para não confundir Mbps com MBps (Mbytes/s).
MBps significa Megabyte por segundo. Essa unidade é oito vezes maior que o Mbps.
Portanto, 8 megabit/s = 1 megabyte/s.
Neste capítulo foram trabalhados os conceitos de hipermídia e interface. O
próximo capítulo tratará das questões referentes ao papel das imagens nos sites
institucionais através de uma abordagem semiótica de linha peirceana. Uma das noções
que vem a mente de muitas pessoas quando se fala de interface e interatividade é aquela
de que os ícones são aquelas imagens ou figuras responsáveis por esse tipo de conexão.
Para Marcus (1992) Os ícones são importantes porque constituem um conjunto de
elementos de interação no design de interfaces. Quase sempre estão associados às
funções num programa ou às mudanças de tela ou de mídia, num ambiente hipermídia.
89
Os ícones podem estar representados simplesmente como figuras ou sobre botões.
Entretanto o aspecto icônico não resolve por completo essas questões. Ele é apenas um
aspecto dentro dos problemas relacionados à interatividade. O próximo capítulo
procurará responder algumas dessas questões através de análises de projetos de interface
para WWW em sites institucionais.
90
CAPÍTULO III – SITES INSTITUCIONAIS: O DISCURSO DAS IMAGENS
O surgimento da internet e da rede ou web proporcionou ao homem uma série de
meios para diminuir a distância entre os seus iguais. Segundo a visão do editor da
revista Wired, Chris Anderson:
A Internet é a verdadeira revolução, tão importante quanto à eletricidade, o que fazemos com ela ainda está evoluindo. Como ela se mudou de sua área de trabalho para o seu bolso, a natureza da rede mudou. O caos delirante da Web aberta era uma fase da adolescência subsidiada por gigantes industriais tateando seu caminho em um mundo novo. Agora eles estão fazendo o que os industriais fazem de melhor - encontrar pontos de estrangulamento. E pelos olhares deles, estamos adorando (ANDERSON, 2010, p. 1, tradução nossa)52.
Quem hoje se imagina escrevendo uma carta para alguém que mora em um país
distante? As relações humanas e sociais passaram por mudanças significativas. No
campo institucional, ou melhor, dizendo, no mundo das corporações, empresas,
indústrias e as diversas formas de comercialização, muitos paradigmas precisaram ser
rompidos também. A WWW é vista por muitos como uma grande revolução.
Entretanto, Chris Anderson mostra mudanças no modo de acessar a informação da
Internet:
Você tem passado o dia na Internet – mas não na Web. E você não está sozinho. Essa não é uma distinção trivial. Ao longo dos últimos anos, uma das mudanças mais importantes no mundo digital tem sido o movimento da www aberta para plataformas semifechadas que usam a internet para o transporte, mas não o navegador para exibição. Isso é impulsionado principalmente pelo crescimento do modelo de computação móvel iPhone, e é um mundo que o Google não pode rastejar, onde o HTML não governa. E é o mundo que os consumidores estão cada vez mais optando, não porque eles estão rejeitando a ideia da Web, mas porque essas plataformas dedicadas muitas vezes apenas trabalham melhor ou se encaixam melhor em suas vidas (a tela vem até eles, eles não tem que ir até a tela). O fato de que é mais fácil para as empresas ganhar dinheiro com essas plataformas só consolida a tendência. Produtores e consumidores concordam: A Web não é o ponto culminante da revolução digital (ANDERSON, 2012, tradução nossa)53.
52 The Internet is the real revolution, as important as electricity; what we do with it is still evolving. As it moved from your desktop to your pocket, the nature of the Net changed. The delirious chaos of the open Web was an adolescent phase subsidized by industrial giants groping their way in a new world. Now they’re doing what industrialists do best — finding choke points. And by the looks of it, we’re loving it.
53 You’ve spent the day on the Internet — but not on the Web. And you are not alone. This is not a trivial distinction. Over the past few years, one of the most important shifts in the digital world has been the move from the wide-open Web to semiclosed platforms that use the Internet for transport but not the browser for display. It’s driven primarily by the rise of the iPhone model of mobile computing, and it’s a world Google can’t crawl, one where HTML doesn’t rule. And it’s the world that consumers are
91
A opinião de Anderson é bastante polêmica. Tim Berners-Lee, o fundador da
WWW, não compartilha do mesmo pensamento de Anderson. Para ele,
Acredito que o sistema (WWW) é o melhor que temos, por isso, se é certo, as pessoas se vão ganhar dinheiro. As pessoas vão ganhar dinheiro com a construção de software, venda de informações, e mais importante fazer todos os tipos de negócios "reais", pode-se trabalhar muito melhor, porque a Web está lá para facilitar o seu trabalho. A web é como papel. Ela não restringe seus usos: você tem que ser capaz de usá-la para todo o fluxo de informação da vida normal. Minha prioridade é vê-la desenvolver e evoluir em um caminho que vai nos manter em boa posição para um futuro a longo prazo – tradução nossa54 (BERNERS-LEE, 2012, tradução nossa).
Para Anderson, a Web está morta. Quando ele vaticina a morte da web,
compreende-se que existe uma colocação que não deve ser desconsiderada: A morte não
é definitiva, ou seja, a web continua a existir, entretanto, o que ocorre é uma migração
para plataformas semifechadas, principalmente por causa do modelo de computação
móvel. Anderson exemplifica para isso o iPhone. Para ele, o mundo corporativo tem
uma propensão a esse modelo de navegação por causa da praticidade. Para Berners-
Lee, entretanto, a Web continua bastante viva. Essa forma de navegação, por assim
dizer, é a melhor, inclusive no que se refere às possibilidades das empresas obterem
lucro. Berners-Lee acredita que a WWW está em evolução e que existe muito exagero
na afirmação de Anderson. Berners-Lee concedeu entrevista ao redator da revista
Wired, Rupert Turnbull55: “(...) E eu tenho que descobrir o que Sir Tim Berners-Lee,
pai da World Wide Web e, fiquei muito feliz por descobrir, o que um leitor antenado,
pensava sobre "The Web is Dead" artigo: "Não é assim", ele me disse, "os rumores da
morte da Web são muito exageradas" (ou palavras nesse sentido).
increasingly choosing, not because they’re rejecting the idea of the Web but because these dedicated platforms often just work better or fit better into their lives (the screen comes to them, they don’t have to go to the screen). The fact that it’s easier for companies to make money on these platforms only cements the trend. Producers and consumers agree: The Web is not the culmination of the digital revolution. 54 I believe that system is the best one we have, so if it's right, sure people are going to make money. People will make money building software, selling information, and more importantly doing all kinds of "real" business, which happens to work much better because the Web is there to make their work easier. The web is like paper. It doesn't constrain what you use it for: you have to be able to use it for all of the information flow of normal life. My priority is to see it develop and evolve in a way which will hold us in good stead for a long future. 55(…) And I got to find out what Sir Tim Berners-Lee, father of the World Wide Web and, I was delighted to discover, a Wired reader, thought of Wired's “The Web is Dead” article: “Not so,” he told me, “rumours of the demise of the Web are very much exaggerated” (or words to that effect).
92
As tabelas abaixo comprovam o crescimento significativo de pessoas conectadas
a Web no Brasil nos últimos anos:56
Tabela 1 – Quantidade de pessoas conectadas à Web no Brasil entre julho de 1997 e junho de 2011
Quantidade de pessoas conectadas a Web no Brasil
Data da Pesquisa
População total IBGE
Internautas (milhões)
% da População Brasileira
Fontes de pesquisa Internautas
2011 /jun 203,4 75,98 37,4 InternetWorldStats
2008 / dez 196,3 67,51 34,3% InternetWorldStats
2007 / dez 188,6 42,60 22,8% InternetWorldStats
2006 / dez 186,7 30,01 17,2% InternetWorldStats
2005 / jan 185,6 25,90 13,9% InternetWorldStats
2004 / jan 178,4 20,05 11,5% Nielsen NetRatings
2003 / jan 176,0 14,32 8,1% Nielsen NetRatings
2002 / ago 175,0 13,98 7.9% Nielsen NetRatings
2001 / set 172,3 12,04 7.0% Nielsen NetRatings
2000 / nov 169,7 9,84 5.8% Nielsen NetRatings
1999 / dez 166,4 6,79 7.1% Computer Ind. Almanac
1998 / dez 163,2 2,35 1.4% IDC
1997 / dez 160,1 1,30 0.8% Brazilian ISC
1997 / jul 160,1 1,15 0.7% Brazilian ISC
56 Compilado por www.e-commerce.org.br / fonte: pesquisas diversas / população: variações anuais estimadas. / Internautas refere-se à quantidade de pessoas que tem acesso à Internet nas residências, no trabalho ou locais públicos.
93
Tabela 2 – Acesso a Internet no Brasil – Indicadores Gerais57
Janeiro – 2012 Brasil
Pessoas >16 anos c/ acesso a Internet – (milhões) 79,9 mi
Usuários Ativos (milhões) 47,5 mi
Tempo de navegação no mês (hs) 49:06 hs
Tempo médio gasto em cada página visualizada (seg) 00:47 seg
Fonte: http://www.internetworldstats.com e institutos diversos
Quando observamos os dados acima percebemos que cada vez mais brasileiros
têm acesso à Internet. Trago esses dados e essas reflexões sobre a Internet porque não
dá para analisar sites institucionais sem mencionar o papel da Internet nesse processo.
As informações hoje em boa parte são veiculadas por esse meio, o mundo dos negócios
está dependente da Internet também, a possibilidade de conexões e interconexões com
empresas e pessoas no mundo todo é uma realidade atualmente.
Para reforçar as afirmações do crescimento vertiginoso de acessos a Web no
Brasil, apresento alguns dados referentes ao ano de 201258. Segundo a Telebrasil
(Associação Brasileira de Telecomunicações), os acessos de internet banda larga fixa e
móvel totalizaram 77,5 milhões no fim do primeiro semestre de 2012, um crescimento
de 73% em relação a junho de 2011.
Ainda, de acordo com o balanço da associação, 32,8 milhões de novos acessos
foram adicionados à base total de clientes no último ano. Do total de acessos em junho,
18,7 milhões eram em banda larga fixa, e 58,8 milhões em móvel. A banda larga fixa
ampliou sua base de clientes em quase 2 milhões de acessos no último ano, com
crescimento de 11,3% na comparação com junho de 2011. Um dado bastante
interessante: o número de acessos em banda larga móvel mais que dobrou no mesmo
período, com acréscimo de 30,9 milhões de novas conexões.
57 Fonte: NielsenNetratings / Compilação www.e-commerce.org.br. Internautas refere-se a quantidade de pessoas, com mais de 16 anos, que têm acesso à Internet nas residências, trabalho ou lan-house. Usuários ativos: que tiveram pelo menos um acesso à Internet no mês anterior.
58 Dispositivos móveis – Projetos Web - Estatística 2012. Internet no Brasil 2012 (dados e fontes). Fonte: http://avellareduarte.com.br/projeto/conceituacao1/conceituacao14_internetBrasil2012.htm. Atualizado em 28/06/20012. Sobre os tipos de canais e mídias, dados fornecidos pela Convergência digital, dados Interactive Advertising Bureau.
94
Do total de acessos móveis, 12,3 milhões são de terminais de dados, como os
modems de acesso à internet, e 46,5 milhões de celulares 3G, incluindo os smartphones.
O segmento de celulares de terceira geração cresceu 118% desde junho de 2011. A
cobertura das redes de 3G já está presente em 2.960 mil municípios. Segundo o balanço
da associação, 310 novas cidades receberam redes 3G em 2012, o que representa a
conexão de dois municípios por dia.
Em pesquisa realizada pelo Interactive Advertising Bureau, mais de 40% dos
entrevistados afirmaram passar ao menos duas horas/dia navegando na internet por
vários dispositivos, enquanto só 25% passaram o mesmo tempo assistindo TV. A
internet foi a atividade preferida por todas as faixas etárias (62%), de renda, gênero e
região em caso de pouco tempo livre. Além de ter sido considerado o meio mais
importante para 82% dos entrevistados (85% mulheres e 79% homens).
Sobre os tipos de canais que a internet foi acessada, o desktop liderou com 77%,
seguido pelo notebook ou laptop (59%), smartphone (40%), tablets (16%), iPad (15%),
console de videogame (12%), iPod (10%) e outros dispositivos (2%). Jovens preferiram
utilizar os smartphones, tablets e videogames. A maior parte (62%) da audiência
brasileira online acessou a internet por dois ou mais canais. Destacou-se a faixa etária
de jovens adultos (entre 25 e 34 anos) – 23% acessaram por quatro ou mais canais.
Além disso, 61% dos brasileiros usaram frequentemente o computador enquanto viam
TV, tendo sido as mulheres mais propensas que os homens neste uso paralelo (32%).
Dentre os que usaram os dois tipos de mídia simultaneamente, 92% prestaram igual ou
mais atenção na internet.
Através dos dados apresentados acima, é possível inferir que os acessos a Web
tendem a crescer cada vez mais, o que leva a crer que as empresas usarão cada vez mais
a WWW e os sites precisarão atrair a atenção do usuário utilizando-se de recursos,
principalmente visuais. Neste capítulo será analisado o papel das imagens,
compreendidas como signos visuais nos projetos de design de interfaces para WWW de
caráter institucional. Como instrumental de análise, utilizo-me de conceitos semióticos,
principalmente aqueles desenvolvidos por Charles Sanders Peirce, ou seja, a semiótica
de linha peirceana. Como os signos visuais dialogam com o design de interface
constituindo possíveis significações a um potencial intérprete? Será que elas
determinam de certa forma a “imagem” que essas instituições desejam? Qual o papel da
hipermídia nesse contexto? Inicialmente, este capítulo apresenta um estudo sobre as
imagens.
95
3.1. Imagem – Conceitos
As definições de imagem são bastante variadas, afinal de contas, definir
qualquer conceito depende da visão filosófica de cada autor, além da cultura ao qual
está inserido e o seu momento histórico. Geralmente, defini-se imagem como a
representação visual de um objeto. A palavra tem origem latina: imago. Os gregos
antigos chamavam de eidos, cuja raiz etimológica deriva de idea ou eidea. De acordo
com Porto (2011),
O termo imagem vem do latim “imago”, que significa “máscara mortuária”. As civilizações antigas delegavam às imagens uma ligação direta com a presença de um ser humano na Terra, daí vieram as máscaras mortuárias, que tinham por intenção manter viva a memória do falecido entre os vivos. A imagem é a representação visual de um objeto. Platão e Aristóteles teorizaram acerca do assunto. Do ponto de vista platônico, a imagem seria uma projeção da mente, uma projeção da ideia, à luz de sua teoria do idealismo. Já Aristóteles, controversamente, à luz da teoria do realismo, acreditava que a imagem era a representação mental do objeto real, sendo aquisitada através dos sentidos59.
O conceito de imagem proposto por Platão relaciona-se com o conceito de ideia.
De acordo com sua doutrina, o idealismo, a ideia da coisa era considerada a sua própria
imagem, sendo essa ideia uma projeção mental. Aristóteles considerava a imagem como
uma aquisição dos sentidos; e sua doutrina ficou conhecida como realismo. A imagem,
para Aristóteles, era a representação mental de um objeto real.
A divisão entre a imagem física (representação visual) ou mental (imaginação
mental) existe desde a antiguidade, ou seja, é possível pensar a imagem enquanto
percepção e a imagem como fenômeno da imaginação. O quadro abaixo, adaptado do
livro “Imagem – Cognição, semiótica, mídia” (SANTAELLA e NÖTH, 2007) procura
apresentar uma visão geral das ideias sobre imagens fazendo um contraponto entre os
gregos e o ocidente atual.
59 fonte: infoescola, por Gabriela Porto: http://www.infoescola.com/comunicacao/teoria-da-imagem/#
96
Quadro 3 – Síntese da tipologia da imagem para os gregos e o ocidente atual
Gregos Ocidente atual
Eikon (Ε�κ�ν) Tipologia da imagem
*Todo tipo de imagem *Imagens naturais – imagens artificiais *Imagem verbal – imagem mental *Imagem – modelo *Imagem – objeto de referência *Ser – parecer
*Imagens gráficas – desenhadas, pintadas, escultura *Imagens óticas – espelhos, projeções *Imagens perceptíveis – dados de idéias, fenômenos *Imagens mentais – sonhos, lembranças, idéias, fantasias *Imagens verbais – metáforas, descrições
A partir do quadro acima, compreende-se que os estudos referentes às imagens
são bastante antigos. Às vezes, a imagem é associada à ideia de ícone, ou iconologia. De
acordo com Mitchell60:
“Eu sempre uso o termo “iconologia” para conectar esse estudo a uma longa tradição de reflexão teórica e histórica sobre a noção de imagem, uma tradição que, em seu sentido mais restrito, provavelmente começa com os manuais do Renascimento de imagens simbólicas [...] Em um sentido mais amplo, o estudo crítico do ícone começa com a idéia de que os seres humanos são criados à "imagem e semelhança" de seu criador e culmina, com muito menos grandiosidade, na ciência moderna do "produzir imagem" em publicidade e propaganda. Eu me referirei aqui ao que importa e que se posiciona em algum lugar entre o sentido amplo e restrito da iconologia, com as formas que as imagens em sentido estrito ou literal (fotos, estátuas, obras de arte) estão relacionadas à noções como imagem mental, verbal ou imagens literárias, e do conceito de homem como imagem e criador de imagens”. (MITCHELL, 1986, p.3).
A ideia da imagem como representação de algo como substituto de algo, refere-se
a um tipo de representação por semelhança. Nesse sentido, o conceito de imagem está
próximo à ideia peirceana de hipoícone, o que será abordado posteriormente. Outros
conceitos de imagem são pertinentes a essa pesquisa. Lucia Leão (2011) discute a
proliferação de imagens e banco de dados que permeia os processos comunicacionais
digitais em rede a partir da abordagem antropológica do conceito de imagem proposta
por Hans Belting. Segundo a autora, Belting:
60 I also use the term “iconology” to connect this study to a long tradition of theoretical and historical reflection on the notion of imagery, a tradition which in its narrow sense probably begins with Renaissance handbooks of symbolic imagery […] In a broader sense, the critical study of the icon begins with the idea that human beings are created “in the image and likeness” of their creator and culminates, rather less grandly, in the modern science of “imagemaking” in advertising and propaganda. I will be concerned here with matters that lie somewhere between the broad and narrow sense of iconology, with the ways that images in the strict or literal sense (pictures, statues, works of art) are related to notions such as mental imagery, verbal or literary imagery, and the concept of man as an image and maker of images.
97
articula imagem, meio (medium) e corpo. Para compreender o pensamento de Belting, o “meio” deve ser visto como o agente através dos qual as imagens são transmitidas. Em outras palavras, para Belting, os meios são intermediários. Por “corpo”, Belting entende tanto o corpo percebido quanto o corpo que percebe. Além disso, é importante enfatizar que, para Belting, as imagens dependem tanto dos meios como dos corpos, à medida que as imagens “acontecem” via transmissão (meios) e percepção (corpos). (LEÃO, 2011, p.2).
Associando essa reflexão ao estudo do papel das imagens nas interfaces
institucionais, pode-se dizer que os meios digitais e, mais especificamente, a Internet,
favorece a produção e distribuição de imagens. Para essa dissertação, a imagem é vista
como um signo visual, materializada nos sites institucionais.
3.2. A imagem na semiótica peirceana
Vejamos agora como a semiótica peirceana pode nos ajudar a compreender a
imagem. De acordo com os estudos de Santaella e Nöth (1997), é possível investigar a
imagem como signo: “As imagens podem ser observadas tanto na qualidade de signos
que representam aspectos do mundo visível quanto em si mesmas, como figuras puras e
abstratas ou formas coloridas”. (SANTAELLA e NÖTH, 1997, p. 37). Nessa reflexão,
Santaella e Nöth propõem duas possíveis categorias: imagem como signo icônico e
imagem como signo plástico. A distinção já havia sido proposta por Sonneson e
Edeline. (SANTAELLA e NÖTH, 1997, p. 37).
As imagens, muitas vezes representam os signos por semelhança. Dentro desse
contexto esses signos são reconhecidos como signos icônicos. Entretanto, para Peirce, o
ícone também pode compreender formas não visuais, acústicas, táteis, olfativas ou
formas conceituais de semelhança sígnica. Quando isso ocorre, esse fenômeno é
chamado de polissemia, ou seja, a condição de um signo possuir vários valores
semânticos. Para Santaella:
É curioso observar que o conceito polissêmico extensivo de imagem, englobando imagens mentais, óticas, acústicas, etc. está mais perto do conceito peirceano de ícone do que a concepção mais restrita de imagem como um signo que representa algo por semelhança” (Santaella, 2001, p. 188).
98
O próximo tópico aborda o papel das imagens nos projetos de interface para
WWW. O potencial comunicativo ou semântico das imagens será discutido nas análises
propriamente ditas, que ocorrerão na parte final desse trabalho.
3.3. O papel das imagens nos Sites Institucionais
Imagens estão presentes em propagandas, publicidades, no mundo corporativo
etc. A parte final desse trabalho procura demonstrar ou mostrar como as imagens
funcionam enquanto participantes no processo de criação em sites institucionais. Como
as imagens traduzem a ideologia dessas empresas? Como a imagem dessas empresas foi
ou é constituída a partir das imagens escolhidas para compor o site?
Os sites escolhidos para esse trabalho foram os seguintes: o site do Bradesco, da
Coca-Cola e da Apple Store. O critério para a escolha dos sites partiu do pressuposto de
que diferentes instituições utilizam imagens com diferentes perspectivas.
O site do Bradesco foi escolhido por ser uma instituição bancária e possuir
“carga” simbólica associada às questões financeiras e investimentos. O site seguinte
corresponde a uma empresa multinacional do ramo de bebidas, a Coca-Cola, uma marca
consolidada na sociedade e mesmo presente no inconsciente coletivo. O site da Apple
Store foi escolhido por ser uma das maiores empresas do mundo nos dias atuais e por
ser reconhecida como umas das empresas que mais investem em tecnologia e na sua
imagem pessoal.
Observa-se com frequência a presença de imagens na internet. Para alguns
autores as imagens podem tornar os sites mais atraentes visualmente. O objetivo dessa
pesquisa é investigar o poder de comunicabilidade das imagens escolhidas para serem
utilizadas em sites institucionais. Para Gustave Le Bom no seu livro “Psicologia das
massas” (1895), as imagens teriam o poder de manipular as mentes da massa primitiva:
as massas...só podem pensar e ser influenciadas através de imagens, somente as imagens podem amedrontá-las ou persuadi-las, tornando-se as causas de suas ações [...] para elas, o irreal é quase tão importante quanto o real [...] elas possuem uma clara tendência para não fazer quaisquer distinções. (LE BON (1895) Apud SANTAELLA. (2001, p.195).
Para Le Bon, as massas precisam de representações para se conduzir tanto no
mundo dito real como no mundo irreal. O autor vai mais além, quando diz que as
imagens são “as causas de suas ações”, pois, a partir delas (as imagens), as massas
podem ser amedrontadas ou persuadidas. As pessoas em geral seriam “influenciáveis”
99
pelas representações em forma de imagens, pois haveria pouca distinção entre o mundo
real e o mundo da fantasia. Obviamente, muitos discordam dessa afirmação. Entretanto,
é interessante sob o ponto de vista de abrir uma discussão a respeito do uso das
imagens. Em relação aos estudos das imagens, tem-se observado o potencial
investigativo da semiótica. Para esse trabalho o procedimento metodológico a respeito
da análise semiótica estará fundamentado em três pilares: 1 Análise da interface e dos
recursos hipermídia do site ; 2 Visão geral das categorias peirceanas e 3 Análise do site,
enfatizando o grau de iconicidade, ou seja, o referencial icônico-imagético.
Peirce divide o ícone em seis subníveis (SANTAELLA e NÖTH, 1997, p. 60). O
primeiro nível é o ícone puro, simples qualidade de sentimento e analisável, “apenas
um flash de incandescência mental, quase-imagem interior, luz primeira de todos os
insights” (SANTAELLA e NÖTH, 1997, p. 60). O segundo nível é o ícone atual e
aponta para as diversas funções que o ícone assume no processo de percepção. Esse
nível se divide em dois: o passivo e o ativo. Para Peirce, os hipoícones se dividem em
imagens, diagramas e metáforas. A respeito dos hipoícones-imagéticos, o pesquisador
Roberto Chiachiri, professor da Faculdade Casper Líbero, fala:
Hipoícone-imagético – de primeiro nível (ou ícone-imagem): é um signo que representa um objeto porque possui um conjunto de qualidades aparentes, similares às de seu objeto. Um ícone-imagem não é necessariamente um ícone visual. Sendo a imitação de uma aparência seu modo privilegiado de realização, mas não se restringe a ela (CHIACHIRI, 2010, p.39).
A imagem pode ser observada, como sugere a citação, por sua relação de
semelhança com o objeto referencial, quando age como um signo icônico. A condição
da imagem de mimetizar um objeto qualquer já era vista pelos gregos antigos,
especialmente por Platão e Aristóteles. Segundo o pesquisador James Bastos Arêas
(2002), professor do Departamento de Filosofia da UERJ:
A mimesis se apresenta como uma demiurgia das imagens, uma atividade que fabrica ou produz imagens, mais ou menos semelhantes às coisas. O produtor de imagens (eidolou poietes) é, também, um fabricante de imagens (eidolou demiourgos); ambos podem ser denominados imitadores, mimetes. A mimética é pois concebida no interior das técnicas produtivas, análoga à demiurgia divina, como atividade humana própria aos artistas produtores de imagens e aos sofistas produtores de discursos. As imagens que a arte divina produz estão refletidas na natureza como os reflexos nas águas, as figuras nos espelhos, as sombras e as visões oníricas; a arte humana reproduz tanto quanto pode imagens de imagens, sua inferioridade só se atesta, contudo,
100
quando ela pretende fazer passar a imagem, a “representação”, qualquer que seja, pela própria coisa (ARÊAS, 2002)61
A segunda subdivisão dos hipoícones para Peirce comporta os diagramas. Na
leitura de Chiachiri: “Hipoícone-diagramático – de segundo nível (ou ícone-diagrama):
é um signo que representa seu objeto porque apresenta semelhança com as relações
internas deste [...] Gráficos de qualquer espécie são diagramas” (CHIACHIRI, 2010,
p.39).
O terceiro modo de manifestação dos hipoícones refere-se a conceitos e
significados. As metáforas são signos representativos. Na leitura de Chiachiri:
“Hipoícone-metafórico – de terceiro nível (ou ícone-metáfora): é um signo que apresenta uma relação de semelhança de significado, conceitual; são as metáforas verbais, por exemplo, “Iracema, a virgem dos lábios de mel [...]” (José de Alencar). “[...] e deixou ver os peitos virgens – dois botões puríssimos d magnólia onde havia pousado um casal de abelhas rubras [...]” (Coelho Neto, in Rapsódias). (CHIACHIRI, 2010, p.40)”.
3.3.1. Interface do Website do Bradesco
O planejamento de interfaces deve levar em conta a comunicabilidade
desejada pela empresa. A interface precisa transmitir de forma eficaz a sua mensagem,
além de permitir que aja uma interação entre a ela e o seu destinatário. Segundo Batista
e Ulbricht,
durante o planejamento de interfaces interativas, a Semiótica traz grandes contribuições para melhor trabalhar as informações visuais. Um processo semiótico muito comum, atualmente, é a utilização de metáforas, sendo que a construção do significado pelo usuário, está embasada em seu repertório de conhecimento, em sua experiência e em seu contexto cultural. (BATISTA e ULBRICHT, 2002)62
O resultado da utilização de metáforas será proporcional ao nível de
conhecimento do público-alvo. Vejamos então a tipologia proposta no estudo que aplica
a semiótica à análise de sistemas computacionais desenvolvidas por Peter Bøgh
61O estatuto ontológico da imagem no Sofista de Platão – James Arêas http://www.pgfil.uerj.br/publi/jamesareas/artigo2n1.pdf.
62 XIV Congreso Internacional de Ingeniería Gráfica, Santander, España – 5-7 junio de 2002. BATISTA, Claudia Regina (1), ULBRICHT, Vânia Ribas (2) / (1)Universidad Federal de Santa Catarina, Brasil, Mestranda em Engenharia de Produção, (2) Universidad Federal de Santa Catarina, Brasil, Drª. Eng, Docente no Departamento de Comunicação e Expressão Visual.
101
Andersen (1990). Para o professor da Aarhus University, na Dinamarca, os tipos de
signos que podem surgir em uma interface são: interativos, atores, controladores,
objetos, layout e fantasma.
Assim, computadores estão, cada vez mais, mediando nossas ações. Andersen propõe uma mudança de paradigma para o conceito de interface que envolve nosso entendimento da própria ciência da computação: do sistema computacional visto como um objeto matemático auto-suficiente, o foco é gradualmente deslocado para as relações entre o sistema e o contexto de trabalho. Nesse sentido, o papel do computador é basicamente o de um medium – uma substância na qual signos podem ser manifestados para uso em comunicação (ANDERSEN, 1990, p. 333).
De acordo com a síntese elaborada por Baranauskas,
“Andersen classifica os signos baseados em computador em seis diferentes tipos, com base em suas características transientes, permanentes e de manuseio. Um signo possui características de manuseio quando ele permite uma ação do usuário sobre si e esta ação tem algum significado para a interface. Um signo possui características transientes quando apresenta propriedades que podem ser alteradas. Um signo possui características permanentes quando uma ou mais de suas propriedades não se alteram ao longo da vida do signo. Para exemplificar podemos observar estas características em um signo como um botão, que pode ser pressionado (característica de manuseio), possui uma forma e um texto explicativo (características permanentes) e a propriedade cor que muda identificando se o mesmo está pressionado ou não (característica transiente)” (BARANAUSKAS, 1998, p.3).
Para Andersen (1990), interface é uma coleção de signos baseados em
computador, ou seja, para ele todas as partes do sistema que são vistas ou ouvidas,
usadas e interpretadas por uma comunidade de usuários. Esta definição apresenta uma
relação entre as partes perceptíveis de um sistema de computador e seus usuários. Eis o
esquema proposto por Andersen (apud Baranauskas, 1998, p.3):63
Quadro 4 – Tipologia sígnica de Andersen
Tipologia Sígnica Conceito Exemplificação
Signos Interativos São manipulados diretamente pelo usuário. Características: manuseio, transiência e permanência. Dispara ações em resposta à interação do usuário. Transformam-se em outros signos.
Botões em interfaces.
Signos Atores Podem modificar a sua posição e/ou forma na tela e influenciar outros signos. Não podem ser influenciados diretamente pelo usuário. Podem
Barras indicativas de progresso (progress bar), presentes na maioria das interfaces desktop.
63 Quadro adaptado da tipologia sígnica de Andersen, edição revisada de 1990: “A Theory of Computer Semiotics” – Cambridge University.
102
adaptar seus comportamentos de acordo com a maneira com que o usuário manipula os signos interativos; suas características transientes de forma e cor ilustram a evolução da execução do programa.
Signos Controladores Mudam propriedades de outros signos, mas não mudam as suas próprias. Seus aspectos permanentes podem ser vistos, mas as ações associadas a eles somente são percebidas através de aspectos transientes de outros signos.
Bordas de janelas (quando o cursor atinge as bordas, sua forma é alterada).
Signos Objetos Possuem aspectos transientes e permanentes, mas não aspectos de manuseio. Não exercem influência, mas podem ser influenciados por outros signos.
Texto em editor de texto (pode ter suas características alteradas (fonte, cor), mas não dispara ações que refletem em outros signos.
Signos Layout Não possuem aspectos transientes de manuseio. Servem como decoração, uma vez que só possuem aspectos permanentes.
Figura de fundo na tela.
Signos Fantasmas Não possuem aspectos permanentes, transientes e de manipulação. No entanto, exercem influência no comportamento de outros signos.
Em jogos, armadilhas invisíveis têm sua existência reconhecida pelo comportamento de outros signos.
Em outras palavras, o que o quadro da tipologia signica de Andersen nos mostra
é a possibilidade de uma abordagem diferenciada e com terminologias próprias. As
definições do signo são propostas e aplicadas às interfaces digitais. Trata-se de uma
semiótica computacional. Analisemos agora a web page de uma instituição do ramo
financeiro do setor bancário, uma das mais consolidadas no mercado, o Bradesco.
103
Figura 32 - Página Inicial do Site Oficial do Bradesco
Fonte: Bradesco - http://www.bradesco.com.br/
A interface da web page do Bradesco mantém uma distribuição equilibrada dos
elementos que a compõem. No canto superior esquerdo encontra-se a logomarca da
empresa. Logo acima temos uma espécie de barra de menus, onde o cliente pode acessar
o internet banking para consultar, por exemplo, o seu saldo. Abaixo da logomarca da
empresa, encontra-se uma propaganda veiculada em flash. Todos os serviços e produtos
oferecidos pelo banco aparecem na página inicial e podem ser acessados clicando nas
frases correspondentes aos produtos/serviços procurados ou através de uma imagem ou
um ícone. O link com o youtube e as redes sociais como o facebook, e o twitter podem
ser feitos através dos ícones que estão localizados logo abaixo da propaganda.
Uma interface é planejada visando o processo de interatividade e comunicação
entre o usuário e a máquina. De acordo com Batista e Ulbricht:
104
De um lado, o emissor (software) e de outro, o receptor (usuário), comunicação entre ambos dá-se através da Interface Homem-Computador. Deste modo, verifica-se a importância em disponibilizar uma interface bem planejada, para que o usuário sinta-se bem, tenha facilidade ao usá-la e execute as tarefas com rapidez e eficiência (BATISTA e ULBRICH, 2002, p.2).
Neste momento do trabalho a ênfase maior será no poder de comunicabilidade e
interatividade da interface do Bradesco e as operações relativas aos recursos hipermídia.
No que se refere às questões da IHC, não há novidade alguma, pois a arquitetura
do site não foi pensada no sentido de romper com a forma clássica de interação homem-
máquina, ou seja, aquela a qual o usuário está em contato direto com a interface por
intermédio de um hardware ou algum dispositivo externo, como um mouse. Não existe
nada que tenha alguma relação, por exemplo, com jogos interativos ou algum tipo de
mecanismo de imersão onde o usuário possa interagir de forma mais dinâmica com o
site.
Dentro dos recursos da hipermídia, verifica-se (o que é comum aos sites
institucionais quase que em geral), a existência dos links e hiperlinks que direcionam o
cliente-usuário aos locais de maior interesse no site. Um recurso bastante utilizado são
os links em forma de ícones que têm a mesma função, ou seja, remeter ou direcionar o
usuário aos locais de seu interesse. Aplicando os princípios de análise da tipologia
sígnica proposta por Andersen, os únicos tipos de signos que não surgem são os signos
fantasmas, por serem mais propensos a aparecerem em jogos interativos.
O site é composto primordialmente pelas cores vermelho e branco, o que remete
às cores da marca. Recurso usado como uma estratégia baseada na associação para fixar
na mente do cliente-usuário de forma consciente ou inconsciente a marca Bradesco.
Obviamente, não faria sentido o uso de outras cores, pois não seriam as “cores do
Bradesco” e isso não estaria de acordo com a lógica das estratégias de marketing.
3.3.1.1. Visão geral das categorias peirceanas no site do Bradesco
Dentro de uma perspectiva da semiótica qualquer coisa pode exercer o papel de
um signo. Sendo assim, o site em si do Bradesco poderia ser entendido como tal.
Alguns elementos que compõem o site serão retratados durante esse trabalho, pois o
potencial signo do objeto de estudo em questão é infinito. Inicialmente, observemos a
105
propaganda do Bradesco Internet Banking, localizada na página principal no canto
inferior esquerdo.
Figura 33 - Página Inicial do Site Oficial do Bradesco: “Novo Bradesco Internet Banking”.
Fonte: Bradesco - http://www.bradesco.com.br/
Este componente do site é formado por um personagem que se assemelha a um
robô. O fundo ao qual a imagem está posta é formado pela cor azul em tonalidade
escura nas extremidades dos cantos superior e inferior, tornando-se mais claro e
aproximando-se da cor branca à medida que se aproxima do personagem mencionado.
O elemento textual aparece em três momentos. O primeiro texto funciona como um
título, “Novo Bradesco Internet Banking”, está localizado na parte superior, não
centralizado, disposto à esquerda, com fonte de tamanho grande, maiúsculo, em
vermelho com nuances de branco. O segundo texto, “Conheça a tecla de acesso
rápido”, desempenha função de subtítulo; está escrito com uma fonte de caracteres
minúsculos em cor branca com uma fonte menor, comparada ao texto-título. O terceiro
texto, “Saiba mais”, contém um fundo vermelho, está escrito em caracteres maiúsculos
e em branco; o fundo sugere uma forma em alto-relevo.
Esse recorte do site contém uma característica típica de sistemas comunicativos,
o hibridismo de linguagens. Nele encontramos a imagem (robô) em sintonia com os
elementos textuais, ou seja, linguagem visual pictórica e linguagem verbal. Algo que
deve ser esclarecido nesse instante é que o estudo ou visão geral das categorias
peirceanas que serão abordadas nesse trabalho prioriza as questões referentes aos
aspectos de iconicidade, portanto, os fenômenos analisados não estarão sujeitos aos
106
outros dois níveis ou categorias propriamente ditas restantes: secundidade e
terceiridade. Sejam elas, em termos peirceanos, compreendidos da seguinte forma:
signo em relação ao objeto - ícone, índice e símbolo; signo em relação ao seu
interpretante – rema, dicente e argumento; como foi explicado no capítulo anterior.
Partindo de uma abordagem da semiótica peirceana, o primeiro elemento a ser
mencionado agora são os quali-signos, que são “[...] mera apreensão sensória”
(SANTAELLA, 2002, p.89). Os quali-signos dão fundamento à primeiridade e são
aqueles aspectos do signo que trazem intrinsecamente as qualidades do objeto em forma
de aparência: cores, traços, formas etc. Os sin-signos são um existente singular de
primeiridade. Neste caso, a figura que representa o robô. Os legi-signos são os aspectos
de lei, norma, arbitrariedade em caráter de primeiridade. Nesse recorte, pode-se
compreender como o logo da marca e as imagens-texto.
A propaganda em destaque sugere ao cliente-usuário do site do Bradesco que
utilize os serviços do Internet Banking. Neste caso, o Internet Banking e as imagens-
texto constituem o Objeto Dinâmico, o objeto em si próprio. A partir do objeto
dinâmico chegamos ao Objeto Imediato, que é aquilo que o signo pretende representar
através do objeto dinâmico; é [...] “o objeto tal como o signo permite que o
conheçamos” (SANTAELLA, 2000, p. 40). É, assim, o aspecto recortado pelo signo,
aquilo que ele procura representar.
Chega-se então ao terceiro componente dentro dessa tríade: O Interpretante, ou
seja, um intérprete ou uma mente interpretadora. O interpretante nesse caso é o público-
alvo - os clientes. A esse interpretante denomina-se Interpretante Dinâmico. O segundo
nível de interpretante é chamado de Interpretante Imediato. Dentro desse contexto seria
o público em potencial, aqueles que poderiam consumir os serviços dessa empresa. O
interpretante imediato é aquele que sugere uma interpretabilidade mesmo antes da
existência de um intérprete.
3.3.1.2. Referencial icônico-imagético no site do Bradesco
A partir desse momento alguns elementos que compõe o site serão analisados. A
abordagem inicial levará em consideração o referencial icônico-imagético.
107
Figura 34 - Página Inicial do Site Oficial do Bradesco: Internet Banking
Fonte: Bradesco - http://www.bradesco.com.br/
Tomando-se como objeto de análise a figura acima, temos: o princípio é o
mesmo em se tratando de uma abordagem peirceana. Trata-se de um signo. De acordo
com Santaella, (2002, p. 69) “[...] para se explorar o potencial comunicativo em uma
análise semiótica são necessários três pontos de vista: o ponto de vista qualitativo-
icônico, o singular-indicativo e o convencional-simbólico”. Como já exposto nesse
capítulo, no ponto de vista qualitativo icônico, são analisados as qualidades do signo,
tais como as cores, o material que é composto, forma, composição etc.; é a primeira
impressão causada pelo objeto. Nessa fase são os quali-signos que devem ser
observados. Do ponto de vista singular indicativo, o objeto de análise é entendido como
algo que é um existente, ou seja, existe no tempo e no espaço. Para Santaella:
De um lado, o produto é analisado na sua relação com o contexto a que pertence. Que índices apresenta de sua origem? De seu ambiente de uso? Que indicações contém da faixa de usuário ou consumidor a que se destina? De outro lado, é analisado de acordo com as funções que desempenha, as finalidades a que se presta. A adequação do aspecto qualitativo-icônico com este segundo aspecto contextual, utilitário, deve ser analisado (SANTAELLA, 2002, p. 71)
Do ponto de vista convencional-simbólico, como visto anteriormente, são
analisados os aspectos normativos, de lei, arbitrariedade. Sendo assim, o produto é visto
como um tipo e não como algo existente em sua singularidade:
108
Analisam-se aqui, primeiramente, os padrões de design e os padrões de gosto a que esses designs atendem. Que horizontes de expectativas culturais eles preenchem? Em segundo lugar, analisa-se o poder representativo do produto. O que ele representa? Que valores lhe foram agregados culturalmente? Qual o status cultural da marca? Como esse status foi construído? Em que medida o produto está contribuindo ou não para a construção ou consolidação da marca? Em terceiro lugar, é analisado o tipo de usuário ou consumidor que o produto visa atender e que significados os valores que o produto carrega podem ter para esse tipo de consumidor. (SANTAELLA, 2002, p. 71).
A primeira coisa a se fazer um relação à figura recortada do site do Bradesco é
analisar o aspecto qualitativo-icônico, ou os quali-signos. Como antecipado
anteriormente, a figura, um hipoícone-imagético é composta por um personagem que se
assemelha a um robô. O fundo ao qual a imagem está posta é formado pela cor azul em
tonalidade escura nas extremidades dos cantos superior e inferior, tornando-se mais
claro e aproximando-se da cor branca à medida que se aproxima do personagem
mencionado.
A partir dessa descrição, já é possível identificar os quali-signos: as cores, as
formas, as qualidades que causam a primeira impressão. A cor azul pode ser uma
referência às cores usadas pelo Bradesco: vermelho, azul e branco (embora a cor azul
não apareça com frequência e não faça parte da logomarca da empresa). Entretanto, a
cor azul pode sugerir leveza, calma e tranquilidade. Um detalhe interessante á a nuance
de tonalidades de azul que aparecem sutilmente até chegar à cor branca, que assume um
aspecto de “aura”. Esse tipo de artifício envolve não só a figura do “robô”, como está
envolta no título ou imagem-texto. Essa “aura” pode sugerir algo “superior”, confiável,
admirável, entre outros qualificativos positivos. O gestual do “robô” parece indicar
tranquilidade, movimentos suaves, mas firmes, pois trata-se, afinal de contas, de uma
máquina. No nível do inconsciente essa pode ser a mensagem sugerida: o cliente
Bradesco é decidido, seguro, tranquilo e pode confiar na marca Bradesco.
Do ponto de vista singular-indicativo, analisa-se os aspectos indiciários, as
pistas, os indícios tendo como ponto de partida um existente. O produto em análise é um
existente. A figura em forma de robô parece indicar firmeza e confiança. As mãos
parecem indicar um sinal de positivo, caso se observe o dedo polegar da mão direita,
parecendo fazer esse gesto. O sorriso exposto evidencia essas características A
satisfação por fazer parte de uma empresa “sólida” no mercado; o rosto percebido pelos
desenhos dos olhos e da boca em cor azul por ser uma cor mais forte que o branco, mas
ainda possuir uma leveza podem indicar sobriedade e alegria.
109
O terceiro ponto de vista, o convencional-simbólico tem a ver com o caráter
normativo, de lei, convenção. Como o produto ou a marca é vista pelo usuário? Que
nível ou status possui? O elemento textual aparece em três momentos. O primeiro texto
funciona como um título, “Novo Bradesco Internet Banking”. O Internet Banking é um
serviço oferecido pelo Bradesco que está disponibilizado no site. O título aparece em
maiúsculo para chamar a atenção do usuário. A marca Bradesco está no título
adjetivado, com o qualificativo “Novo” associado à marca que, por oposição, é “velha”,
no sentido de ser antiga e consolidada no mercado, isso gera credibilidade, aceitação. O
segundo texto, “Conheça a tecla de acesso rápido”, desempenha função de subtítulo; o
verbo escolhido foi o verbo “conhecer”. Isso denota a ideia de algo novo que deve ser
visto e apreciado. A vantagem dessa nova tecnologia é a rapidez, pois o tempo é um
fator determinante no mundo dos negócios. O terceiro texto, “Saiba mais”, contém um
fundo vermelho, está escrito em caracteres maiúsculos e em branco; o fundo sugere uma
forma em alto-relevo. Observa-se certo destaque a essa informação: “Saiba mais”, ou
seja, mais novidades além de tudo o que o cliente Bradesco usufrui. O destaque em
relevo junto à cor vermelha é proposital, dá a impressão de que algo especial está por
vir.
O próximo fragmento, parte do site do Bradesco, trata-se de uma propaganda de
financiamento ou parcelamento de um carro.
Figura 33 – Imagem referente ao item financiamento de veículos Bradesco
Fonte: Bradesco - http://www.bradesco.com.br/
Partindo do ponto de vista qualitativo-icônico, procura-se analisar as qualidades,
as cores, as formas, não no sentido de existente ainda, caso contrário já estaríamos na
esfera de um existente, e assim estaríamos invadindo os aspectos indiciários, nível de
secundidade; mas procurando sentir as primeiras impressões. Para Santaella,
em um primeiro momento, pelo menos, temos de dar aos signos o tempo que eles precisam para se mostrarem. Sem isso, estamos destinados a perder a sensibilidade para seus aspectos qualitativos, para seu caráter de quali-signo. Aquilo que apela para a nossa sensibilidade e sensorialidade são qualidades.
110
O signo diz o que diz, antes de tudo, através do modo como aparece, tão somente através de suas qualidades. Nesse nível, portanto, o signo é considerado como pura possibilidade qualitativa. Para isso é preciso ter porosidade para suas qualidades sem a pressa das interpretações já prontas. A capacidade para apreender quali-signos deve ser apreendida. Ela só parece natural ao artista porque qualidades de linhas, cores, formas, volumes, texturas, sons, movimentos, temporalidade etc. se constituem no material mesmo com que os artistas trabalham. Para desenvolver essa capacidade , temos de expor pacientemente nossos sentidos às qualidades dos fenômenos, deixá-los aparecerem tão só e apenas como quali-signos (SANTAELLA, 2007, p. 30-31).
Realmente, a categoria da primeiridade exige certo grau de sensibilidade para
que possa ser percebida. A nossa tendência seria ir direto para os índices,
principalmente no seu caráter de iconicidade, ou seja, isso assemelha-se a tal coisa, a tal
objeto e assim por diante. Na realidade, é preciso entender que para que o processo de
semiose ocorra, ou seja, a ação do signo, os três elementos precisam estar interagindo,
coabitando, pois não é possível o signo ser signo sem ter o seu aspecto triádico em ação.
Desmembrar o signo e analisá-lo requer habilidade e treino.
Quais são as qualidades, os quali-signos nessa peça, recorte do site do Bradesco?
Inicialmente, as cores se repetem, os temas são em vermelho, azul e branco porque
fazem parte, são elementos associados à marca. A predominância da cor azul, o aspecto
de “azulidade” prevalece na propaganda. O tom de azul é mais suave do que na peça
anterior. Talvez a ideia seja associar a cor à claridade, ao celestial, à calma e
tranquilidade. Observa-se o brilho em torno do casal que aparece dentro do retrovisor,
que também está envolto em claridade, um brilho que transborda em feixes de luz. A
mensagem por trás é a de que a escolha pelos serviços do Bradesco traz em si a certeza
da escolha certa, porque a consequência disso é calma, tranquilidade, segurança,
despreocupação e felicidade. O recorte de um carro que aparece apenas parcialmente é
um detalhe a ser observado. O carro não aparece na sua totalidade, talvez para gerar
certa curiosidade e desejo de se adquirir o veículo. Em relação ao aspecto singular-
indicativo chega-se ao segundo nível. Já temos então um existente:
O segundo tipo de olhar que devemos dirigir para os fenômenos é o olhar observacional. Nesse nível, é a nossa capacidade perceptiva que deve entrar em ação. Estar em alerta para a existência singular do fenômeno, saber discriminar os limites que o diferenciam do contexto ao qual pertence, conseguir distinguir partes do todo. Aqui, trata-se de estar atento para a dimensão de sin-signo do fenômeno, para o modo como sua singularidade se delineia no seu aqui e agora (SANTAELLA, 2007, p. 31)
111
Nesse nível temos um existente singular, que, para ser entendido, precisa ser
contextualizado, fenômeno de secundidade. Geralmente a dificuldade em compreender
os sin-signos são menores, comparando-se os quali-signos; porém isso não significa que
não haja certo grau de complexidade, pois a percepção deve estar apurada,
principalmente se o objetivo é a análise signica. Levando em consideração o ponto de
vista singular-indicativo, a propaganda em si é um sin-signo. Alguns elementos podem
ser observados: o carro, o retrovisor, o casal. O carro aparece parcialmente, como
descrito anteriormente. O retrovisor reflete um casal feliz, sorridente, aparentemente
realizado com a conquista de um objeto que ainda pode representar status, conquista.
Ao fundo é possível ver a agência bancária, responsável pelas conquistas do casal. O
gestual do casal com as mãos também indica felicidade, realizações. Em relação ao
aspecto convencional simbólico, chega-se ao terceiro nível. As normas, as convenções,
as leis, a arbitrariedade, a generalização, fazem parte desse nível:
Nesse ponto, entramos na dimensão do terceiro tipo de olhar que devemos dirigir aos fenômenos, isto é, aquele que brota do desenvolvimento da capacidade de generalização que os matemáticos levam ao ponto máximo. Trata-se aqui de conseguir abstrair o geral do particular, extrair de um dado fenômeno aquilo que ele tem em comum com todos os outros com que compõe uma classe geral [...] Essas generalizações são próprias do aspecto de lei do fundamento do signo. Em suma, para se detectar as funções desempenhadas pelos legi-signos, deve-se dirigir a atenção para as regularidades, as leis, ou seja, para os aspectos mais abstratos do fenômeno, responsáveis por sua localização numa classe de fenômenos (SANTAELLA, 2007, p. 32).
Como visto, de acordo com a citação acima, o fundamento do signo no caráter
da terceiridade, ou seja, os legi-signos nesse contexto são caracterizados pelo aspecto da
lei, da generalização, das categorias, partindo-se do particular para o geral.
Do ponto de vista convencional-simbólico, vejamos alguns elementos da
propaganda em questão: a marca Bradesco, a agência, o texto-imagem em forma de
propaganda. Já foi comentado anteriormente a respeito da marca Bradesco, que já está
incorporada na sociedade brasileira como uma instituição financeira do ramo bancário,
uma das maiores do Brasil. Na propaganda tanto a marca como a agência desempenham
a mesma função, ou seja, marcar, demarcar, assegurar que a marca, o nome Bradesco
deve ser sempre lembrado. Certamente, as empresas em geral precisam deixar as suas
marcas em destaque nos veículos de comunicação. O tema da propaganda está dividido
em três termos: “Financiamento de veículos Bradesco: lado a lado para acelerar suas
conquistas”. Desmembremos a frase. O primeiro termo, “Financiamento de veículos
112
Bradesco”, é meramente informativo, descritivo. Tem a sua importância porque
determina o tipo de serviço que se está oferecendo. Sem isso, a propaganda perde o seu
sentido. Entretanto, o segundo e o terceiro termos da propaganda respectivamente:
“lado a lado” e “para acelerar suas conquistas”, são bastante significativos, pois eles
sintetizam tudo o que a imagem procura mostrar. A mensagem veiculada pode ter três
significados:
1º - O Bradesco sempre está ao lado dos clientes, o Bradesco realiza os seus
sonhos;
2º - O Bradesco não apenas pensa em oferecer os seus serviços, mas é um
parceiro junto aos seus clientes (o casal está “lado a lado”, na foto, ou seja, juntos com
o banco, a instituição).
3º - O Bradesco “acelera” as suas conquistas. O verbo acelerar é empregado em
sentido duplo. Quais as mensagens implícitas? O Bradesco é ágil, os seus funcionários
são competentes, pois têm pressa em auxiliar os seus clientes, e assim deixá-los
satisfeitos com os seus serviços. O segundo sentido do verbo é uma referência ao
veículo que foi adquirido, que possui a característica de ser um carro veloz, assim como
comprar um carro financiado é acelerar o processo de aquisição de um bem.
A terceira peça publicitária destacada do site do Bradesco mostra outros serviços
que o Banco oferece:
113
Figura 34 - Serviços Bradesco
Fonte: Bradesco - http://www.bradesco.com.br/
Esse fragmento de parte do site do Bradesco apresenta outros serviços que o
banco oferece. São os tópicos: segurança, dicas, novidades, facilidades e SAC Bancos.
Todos esses produtos ou serviços são acompanhados dos seus respectivos ícones, para
facilitar a leitura ou entendimento de quem acessa o site. A função da imagem aqui é a
de representar o serviço, função de hipoícone, pois representa por semelhança. As
conclusões referentes ao papel das imagens, sua funcionalidade, o porquê do seu uso, ou
seja, a intenção por trás delas nos sites analisados, a eficácia comunicacional, todas
essas questões serão desenvolvidas posteriormente na conclusão final desse trabalho.
114
3.3.2. Interface do Website da Coca-Cola
O próximo ítem a ser analisado é o projeto de interface da Coca-Cola Brasil. A
Coca-Cola é uma marca internacional, conhecida do público já há várias décadas;
diferentemente do Bradesco, não faz parte da área financeira nem do ramo dos bancos.
Será que por ser de uma área diferente, o uso das imagens nesse site segue outros
parâmetros daqueles usados pelo Bradesco? Verifiquemos isso a partir da análise que se
segue.
A metodologia seguida para a análise é a mesma que foi utilizada na análise
anterior, ou seja, estará fundamentada em três partes: Análise da interface do site, visão
geral das categorias e o estudo do referencial icônico-imagético.
Figura 35 - Web Page oficial da Coca-Cola Brasil
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
No primeiro nível da análise, veremos os elementos que constituem a interface
da web page da Coca-Cola. No canto superior esquerdo, como no caso do site do
Bradesco, encontra-se a logomarca da empresa. Essa é a tendência de boa parte das
marcas e empresas, dispor a marca no canto superior esquerdo, ou centralizá-la. A barra
115
de menus localiza-se logo acima, como ocorre nos programas e sites em geral, por uma
questão de arquitetura e design, seguem a forma de organização do Windows e dos
outros sistemas operacionais. Na realidade, assemelha-se a função de uma barra de
menus tradicional. As informações contidas nessa barra funcionam como links, pois
remetem a outras páginas. Eis as opções: Coca -Cola Brasil, The Coca-Cola company,
marcas, imprensa, boatos e mitos, fabricantes regionais, fale conosco, trabalhe
conosco, plant bottle.
Figura 36 - 1º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
No canto superior direito temos outros links em forma de texto: Home, mapa do
site, links; logo abaixo existe um sistema de busca, e busca exata.
Figura 37 - 2º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
Mais uma vez, nessa parte do trabalho a ênfase maior será no poder de
comunicabilidade e interatividade da interface da web page, nesse caso, da Coca-Cola
e as operações relativas intrínsecas aos recursos hipermídia. No que se refere às
questões da IHC e interatividade, o site segue os padrões tradicionais de sites em geral.
Dentro dos recursos da hipermídia, verifica-se a existência dos links e hiperlinks que
direcionam o cliente-usuário aos locais de maior interesse no site.
O diferencial deste site em relação ao do Bradesco é que, talvez por se tratar de
um tipo diferente de negócio, ramo de bebidas, parece não existir aquela atmosfera do
mundo financeiro, ou seja, o site da coca cola é mais “suave”, possui mais leveza. Um
recurso oferecido pelo site é a ampliação de imagens que mostram pessoas em
atividades esportivas e que estão em clima de descontração. Existe uma frase logo
abaixo das fotos: Como você quer viver positivamente? Clique sobre as fotos.
116
Figura 38 - 3º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
Também é possível visualizar alguns produtos da marca, como refrigerantes, por
exemplo, dispostos no canto inferior, centralizado. O recurso consiste em clicar nas
extremidades opostas, esquerda ou direita, no ícone que se assemelha ao play dos
softwares que operam com sistemas de áudio. Caso se faça isso, os produtos vão sendo
apresentados em flash. Um detalhe sobre a imagem: o recurso visual do reflexo ou
espelho formado pelas imagens refletidas dos produtos, como se os produtos estivessem
“flutuando” sobre as águas. A intenção pode ter sido apenas visual ou mesmo a de
remeter à “naturalidade” dos produtos, pois a empresa trabalha com sustentabilidade, ou
pelo menos procura demonstrar essa política ou filosofia.
Figura 39 - 4º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
117
O site é composto basicamente pelas cores vermelho e branco, o que remete às
cores da marca Coca-Cola. Observa-se no canto inferior direito a presença de três
figuras ou imagens que se assemelham a folhas, na realidade, duas imagens. Essas
imagens foram construídas com as tonalidades vermelho, verde e amarelo. O vermelho
simboliza a marca da empresa, o verde e o amarelo é uma referência explícita às cores
da bandeira brasileira, pois este é o site oficial da Coca Cola Brasil.
Figura 40 - 5º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
Percebe-se que o site trabalha constantemente a temática da sustentabilidade e da
questão ecológica: as imagens em forma de folhas, pessoas em contato com a natureza,
práticas esportivas em ambientes naturais, incentivo à prática da reciclagem (observa-se
uma mensagem acompanhada de um ícone que procura representar uma garrafa de coca
cola: um ano da política nacional dos resíduos sólidos. Regras da nova lei já fazem
parte das práticas da Coca-Cola Brasil). A Coca-Cola divulgou em seu site o mega
evento musical internacional chamado Rock in Rio 2011. O site patrocina uma
campanha de incentivo à reutilização das garrafas pet. A frase da campanha: “conheça o
catálogo de produtos feitos de PET por grupos de artesãs selecionadas pela parceria”.
Figura 41 - 6º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
Figura 42 - 7º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
Figura 43 - 8º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
Como visto no capítulo 1 (sobre a semiótica de Andersen (1997)), a semiótica a
partir da Teoria Geral dos Signos, tornou-se uma ciência de caráter investigativo e
aplicação geral. A especificidade dos estudos de cada área é que determinam as
possíveis abordagens semióticas. Recortes do site da Coca-Cola serão analisados a
seguir, tendo como apoio as ideias de Andersen (1990).
Andersen classifica os signos baseados em computador em seis diferentes tipos, com base em suas características transientes, permanentes e de manuseio. Um signo possui características de manuseio quando ele permite uma ação do usuário sobre si e esta ação tem algum significado para a interface. Um signo possui características transientes quando apresenta propriedades que podem ser alteradas. Um signo possui características permanentes quando uma ou mais de suas propriedades não se alteram ao longo da vida do signo. Para exemplificar podemos observar estas características em um signo como um botão, que pode ser pressionado (característica de manuseio), possui uma forma e um texto explicativo (características permanentes) e a propriedade cor que muda identificando se o mesmo está pressionado ou não (caracterísitca transiente). Com base nas características dos signos, a tipologia sugerida por Andersen é composta de signos dos tipos: interativo, ator, controlador, objeto, layout e fantasma (BARANAUSKAS, 1999, p. 3)64
Segundo a leitura de Baranauskas, a partir da tipologia de Andersen (1990),
numa abordagem da semiótica computacional, ou seja, a semiótica utilizada para as
análises dos fenômenos dentro das interfaces via computador. De acordo com a
tipologia sígnica de Andersen (1990) temos:
64 Citação retirada do artigo “Uma abordagem semiótica à análise de interfaces: um estudo de caso”, pag. 3. Trabalho apresentado no Instituto de Computação da Unicamp no ano de 1999. Participantes: Maria Cecília C. Baranauskas, Flavia Rossler e Osvaldo Luiz de Oliveira. Disponível em: http://www.unicamp.br/~ihc99/Ihc99/AtasIHC99/AtasIHC98.html.
119
1- Signos Interativos
2- Signos Atores
3- Signos Layout
4- Signos Objetos
5- Signos Controladores
6- Signos Fantasmas (não existente nos recortes selecionados)
Próximo recorte:
120
A ideia de ter apresentado um pouco dos estudos do signo em Andersen foi a
proximidade de sua abordagem com o objeto de estudo dessa dissertação (sites
institucionais). Sendo o computador o meio pelo qual é possível a existência de uma
ação signica muito especifica através de interfaces considerei bastante oportuno a
referência a essa visão dos signos.
3.3.2.1. Visão geral das categorias peirceanas no projeto de interface para
WWW da Coca-Cola
Continuemos agora com uma visão panorâmica das categorias da semiótica
peirceana. Para isso, selecionei este recorte:
Figura 44 - 9º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
Este recorte do site da Coca-Cola é composto por quatro imagens. As quatro
imagens estão relacionadas com a mesma temática, a prática esportiva em ambiente
natural. As imagens sugerem movimento, um tempo transcorrido em uma dinâmica
acelerada. Mas, para que ter pressa, se a ideia é justamente a oposta: aproveitar o dia em
contato com a natureza? O clima é agradável, o dia está propenso para as atividades
físicas ou práticas esportivas. O elemento textual é composto de dois termos: Como
você quer viver positivamente? e Clique sobre as fotos. O primeiro texto funciona como
um tipo de chamada, um questionamento, que pressupõe uma solução ou uma resposta
121
ao que está sendo indagado ou sugerido. O segundo funciona como a resposta para o
questionamento do texto anterior. O tipo de fonte escolhido para os dois textos é o
mesmo. Entretanto, no primeiro texto a cor escolhida é a cor cinza; no segundo, o
vermelho.
Partindo de uma abordagem da semiótica peirceana, é necessário verificar os
níveis de iconicidade do signo. Nesse estágio, estamos lidando com o que, na semiótica
peirceana é chamado de ícone-imagem ou hipoícone-imagético de primeiro nível
(CHIACHIRI, 2010). Segundo o pesquisador, o hipoícone-imagético
é um signo que representa um objeto porque possui um conjunto de qualidades aparentes, similares às de seu objeto. Um ícone-imagem não é necessariamente um ícone visual. Sendo a imitação de uma aparência encontra na visualidade seu modo privilegiado de realização, mas não se restringe a ela. Exemplos: desenhos e pinturas figurativas são imagens, como também o são aquelas que se cria na mente: uma criança, ao brincar de motorista de um veículo qualquer, coloca suas mãos na forma de um volante (um ícone visual) e emite um som que é um ícone-imagem sonoro de um motor em marcha. (CHIACHIRI, 2010, p. 39).
Compreende-se, a partir das definições de ícone-imagem, que se trata de um
fundamento signo de primeiridade. Na semiótica peirceana, como visto no capítulo 1,
qualquer análise semiótica parte do princípio que qualquer fenômeno pode ser
observável, analisado. Porém, para tal, a análise precisa partir da aplicação da
fenomenologia, ciência de primeiridade. Os quali-signos dão fundamento à primeiridade
e são aqueles aspectos do signo que trazem interiormente as qualidades do objeto em
forma de aparência: cores, traços, formas etc.
O próximo passo é identificar os hipoícones de segundo nível. De acordo com
Chiachiri (2010), fundamentado na semiótica de Peirce, eles são chamados de ícones-
diagrama ou hipoícones-diagramáticos. A representação do objeto se dá por semelhança
com as relações internas dele. Os sin-signos são hipoícones-diagramáticos ou ícones-
diagramas, de segundo nível.
O terceiro passo é identificar os hipoícones-metafóricos ou ícones-metáfora.
Ainda de acordo com Chiachiri:
Hipoícone-metafórico – de terceiro nível (ou ícone-metáfora): é um signo que apresenta uma relação de semelhança de significado, conceitual; são as metáforas verbais, por exemplo, “Iracema, a virgem dos lábios de mel [...]” (José de Alencar). “[...] e deixou ver os peitos virgens – dois botões puríssimos de magnólia onde havia pousado um casal de abelhas rubras [...]” (Coelho Neto, in Rapsódias). (CHIACHIRI, 2010, p. 40).
122
O legi-signo funciona como hipoícone-metafórico. São os aspectos de lei,
norma, arbitrariedade em nível de primeiridade.
A imagem em destaque e os textos, retirados do site da Coca-Cola constituem o
Objeto Dinâmico, o objeto em si próprio. A partir do objeto dinâmico chegamos ao
Objeto Imediato, que é aquilo que o signo pretende representar através do objeto é,
assim, o aspecto recortado pelo signo, é aquilo que ele procura representar
(SANTAELLA, 2000, p. 39). O interpretante dinâmico é o consumidor dos produtos
comercializados pela empresa. O interpretante imediato aqui seria o público em
potencial, aqueles que poderiam consumir os serviços dessa empresa, mesmo antes que
esses produtos fossem comercializados.
3.3.2.2. Referencial icônico-imagético no projeto de interface da Coca-Cola
A análise se dará nesse instante levando em consideração o referencial icônico-
imagético no site da Coca-Cola. Alguns elementos do site serão analisados.
Figura 45 - 10º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
A semiótica de linha peirceana traz em si os arcabouços necessários para a
análise de qualquer fenômeno que se coloque a ponto de ser interpretado. Para Santaella
(2007), a gramática especulativa (um dos ramos da semiótica, os outros são, de acordo
com Peirce, a Lógica Crítica, a Metodêutica ou Retórica Especulativa):
123
[...] fornece as definições e classificações para a análise de todos os tipos de linguagens, signos, sinais, códigos etc., de qualquer espécie e de tudo que está neles implicado: a representação e os três aspectos que ela engloba, a significação, a objetivação e a interpretação. Isso se dá porque, na definição de Peirce, o signo tem uma natureza triádica, quer dizer, ele pode ser analisado: em si mesmo, nas suas propriedades internas, ou seja, no seu poder de significar; na sua referência àquilo que ele indica, se refere ou representa e nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus receptores, isto é, nos tipos de interpretação que ele tem o potencial de despertar nos seus usuários. (SANTAELLA, 2007, p. 5).
Assim, compreende-se que a teoria semiótica é aplicável a qualquer situação
onde algum fenômeno, alguma mensagem ou algum processo comunicativo se efetive.
Retomando a análise, a figura recortada do site da Coca-Cola, uma jovem praticando
uma atividade esportiva, será analisada levando em consideração os seus aspectos
qualitativo-icônicos ou de hipoícone-imagético. Como mencionado anteriormente, nesse
momento deve-se ter a percepção apurada para apreender os aspectos qualitativos, pois,
nesse nível, o signo é considerado como mera possibilidade qualitativa (SANTAELLA,
2007, p. 12). É preciso ter cautela para que esses aspectos não se materializem em um
existente, porque, caso isso ocorra, já estaríamos invadindo a linha tênue que separa
uma categoria da outra. Qual a primeira impressão tida a partir do objeto analisado? O
que as cores, traços, composição, harmonia, brilho, procuram apresentar ou representar?
Na imagem acima os aspectos qualitativos são o brilho do dia, em um azul que parece
mostrar um dia ensolarado, próprio para uma caminhada; o gestual, indicando os
movimentos, a expressão da jovem que causa uma impressão de que a prática esportiva
está sendo benéfica, a música que está sendo ouvida etc.
Em um segundo momento, deve-se compreender ou entender o nível indiciário,
o aspecto singular-indicativo, o ícone-diagrama ou hipoícone-diagramático. Quais são
os índices que remetem ao existente? A imagem é um existente. Essa imagem, mesmo
podendo ser acessada em qualquer computador, não é a mesma imagem que cada pessoa
individualmente pode acessar, ou seja, essa é a imagem mostrada na tela de um
computador específico, por exemplo, agora no momento em que escrevo este trabalho.
Essa imagem é única e possui uma identidade, uma individualidade ímpar. Isso está de
acordo com Santaella:
Quando analisamos o modo de existência de um determinado fenômeno, estamos analisando-o no seu caráter de sin-signo. Por exemplo: o relógio digital particular que tenho em frente de mim. Fabricado industrialmente, ele vem do mesmo protótipo de uma infinidade de relógios iguais a ele. Mas este
124
tem uma história própria. Por tomar sol quase todos os dias perto da janela, adquiriu uma certa descoloração e perdeu um pouco do brilho devido ao envelhecimento do material de que é feito. É certo que esses aspectos de descoloração e perda de brilho são claramente aspectos qualitativos, mas o modo como essas qualidades estão encarnadas nesse corpo particular com um tempo histórico que lhe é próprio diz respeito ao seu aspecto de sin-signo. (SANTAELLA, 2007, p. 31).
Alguém pode questionar: a imagem é a mesma em qualquer computador. Isso
necessariamente não constitui uma verdade. Por exemplo: partamos da seguinte
hipótese: João acessou o site da Coca-Cola e tem essa imagem em seu computador.
Rafaela acessa a mesma página e está diante da mesma imagem. Detalhe: o computador
da Rafaela possui uma configuração diferente, o monitor está desregulado e apresenta
falhas que acarretam uma visualização deficiente. Seria essa a mesma imagem,
sabendo-se que as tonalidades cromáticas variam por causa de um problema técnico?
Bem, a imagem em destaque é um sin-signo, um existente. O que a imagem indica?
Quais são as pistas? Quais são os indícios? Uma leitura provável: as práticas de
atividades físicas, particularmente em contato com a natureza, são salutares.
A escolha dessa imagem para analisar o terceiro nível, ou seja, o ponto de vista
convencional-simbólico, o legi-signo, o aspecto de hipoícone-metafórico, ou ícone-
metáfora foi criterioso. Até então as imagens vinham acompanhadas de dois elementos:
a marcar da empresa e o elemento textual, ou imagem-texto. Com a ausência desses dois
elementos a análise fica a mercê das metáforas que porventura possam ser sugeridas a
partir da imagem. Quais são as leituras possíveis ou sugestionadas? A imagem da jovem
exercendo uma prática esportiva se relaciona com a política do site no sentido de
estimular as pessoas a terem uma vida mais saudável. As políticas de sustentabilidade,
reciclagem etc. Entretanto, o que está implícito na ideia de praticar esportes em geral?
Vamos à lógica: quem pratica esporte, faz esforço físico. O esforço físico gera cansaço,
o cansaço, a partir do esforço físico, gera sede. Tendo sede, qual a primeira coisa que
pode vir à mente? A ingestão de líquidos. Que tipo de bebida está sendo sugerida?
Resposta: Coca-Cola! As iniciativas positivas da empresa nas questões referentes ao
estímulo das práticas esportivas entre outras coisas fazem com que o consumidor
interprete ou leia isso como uma atitude positiva por parte da Coca-Cola, o que leva
esse mesmo consumidor a comprar os produtos da Coca-Cola. Obviamente, não se
questiona aqui a intencionalidade da empresa, pois essa não é a questão a ser discutida,
mesmo porque invade outras esferas, como a da ética corporativa. Já se comentou
bastante a respeito da comunicação humana ser mediada por signos: “De fato, uma
125
mensagem pode ser (e quase sempre é) a organização complexa de muitos signos”
(ECO, 1973, p. 26). Mas, a comunicação se daria exclusivamente dentro da cultura
simbólica humana? Caso contrário, qual a distinção em relação à comunicação fora da
esfera humana? Para Eco a chave estaria no sentido. A mensagem humana é repleta de
sentido, enquanto que a comunicação através de máquinas, por exemplo, estaria eximida
dessa questão. Para Eco, “quando se passa da comunicação por máquinas para a
comunicação humana, passa-se do universo dos sinais ao universo do sentido” (ECO,
1968, p. 19). Essa questão é pertinente nesse trabalho porque o processo de interação
em níveis simbólicos passa pela intermediação da máquina, nesse contexto, o
computador; por isso é necessário compreender como essa interação é possível. Esse
pensamento é corroborado por Peirce. Para ele: um signo é comumente entendido como
uma implementação para a intercomunicação (MS 283:106). O aspecto triádico deve
estar sempre em mente para que a ação plena do signo se opere. Para Colapietro:
A comunicação não nos fornece os meios para explicar a ação do signo, mas, ao contrário, indica um fenômeno ou espectro de fenômenos a serem explicados por meio de outras concepções mais básicas, tais como semiose, objeto, interpretantes, e os vários tipos de interpretantes (COLAPIETRO, 1993, p. 34).
Assim, por mais abstratas que sejam, as categorias estão aptas a participarem do
processo de semiose, independente desse processo ocorre no mundo biológico humano,
dos animais ou até mesmo no mundo das máquinas.
Ainda sobre o ponto de vista convencional-simbólico, toma-se como imagem a
ser analisada o seguinte fragmento do site da Coca-Cola:
Figura 46 - 11º Recorte do site da Coca-Cola
Fonte: Coca-Cola Brasil - www.cocacolabrasil.com.br/
Nesse recorte a marca da empresa não aparece, entretanto, existe uma
mensagem: cada garrafa tem uma história. Analisemos o aspecto normativo, de lei,
simbólico. Qual seria o interpretante lógico para essa proposição? Se cada garrafa da
Coca-Cola tem uma história, isso sugere que essa empresa já está há muito tempo no
mercado, ou seja, é confiável. A história é formada por pessoas, lugares, objetos e
126
coisas que existem num determinado espaço e tempo. Você existe dentro da história. Se
você existe dentro da história e “cada garrafa tem uma história”, significa que você faz
parte da história e do sucesso da Coca-Cola. Quem não gostaria de fazer parte de uma
história de sucesso? Como interpretante final, a Coca-Cola espera que o consumidor se
sinta “parte da história” e, consequentemente, faça parte ativa consumindo os produtos
da empresa.
3.3.3. Projeto de Interface da Apple Store
O terceiro e último site a ser analisado é o site americano da Apple. O critério de
escolha desse site foi a não relação direta com os ramos ou áreas dos sites anteriores.
Procuro então retomar a questão (que será abordada na conclusão dessa dissertação)
seguinte: empresas ou instituições de diferentes áreas utilizam-se das imagens, que
compõem os seus sites. Haveria elementos em comum (recorrências) na composição ou
escolha dessas imagens. Por outro lado, haveria muita diferença por se tratarem de
empresas de ramos diferentes? Espero responder esses questionamentos no decorrer do
trabalho e no final ter contribuído positivamente para pesquisas posteriores. Seguindo a
mesma metodologia das análises anteriores, inicio pelo trabalho sobre a interface do
site.
A seguir temos a Web Page da Apple Store. Alguns elementos serão destacados
para os estudos relacionados à interface dessa empresa.
127
Figura 47 – Web Page oficial da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
128
A análise inicia-se por um fragmento da primeira página do site da Apple Store,
na sessão “Mac”. Algo interessante sobre as interfaces da Apple: devido à visão genial e
sempre inovadora do criador da Macintosh, Steve Jobs, sempre houve uma preocupação
pelas questões artísticas que, segundo Jobs, deveriam fazer parte dos produtos da
empresa, desde os softwares e principalmente toda a parte de hardware. Unir a
tecnologia à Arte sempre fez parte da filosofia de Steve Jobs. Para Jobs era importante
quebrar paradigmas, mesmo que para isso se esteja envolvido em coisas aparentemente
irreconciliáveis. Ele seguiu a risca a sua intuição. Por exemplo, é sabido que Jobs
abandonou o seu curso universitário (assim como Bill Gates), mas enquanto esteve
estudando, decidiu fazer um curso de Caligrafia, mesmo que esse curso, aparentemente,
não tivesse nenhuma relação com a Eletrônica.
Jobs fez o curso de caligrafia por um único motivo: ele o considerou fascinante. Ele não sabia como os pontos se ligariam em sua vida, mas se ligaram. Os pontos não se ligam olhando para frente, Jobs diria. Os pontos se ligam só quando olhamos para trás. Devemos confiar que, ao seguir nossa curiosidade, as peças, no fim, se encaixarão. (GALLO, 2011, p. 17)
O insight de Steve Jobs refletiu anos adiante, cerca de 10 anos a frente ele
desenvolveu o seu primeiro Macintosh. A interface dos sistemas operacionais dos
MAC-OS (Lion, Leopard, por exemplo) sempre chamaram muito a atenção pelo seu
aspecto artístico, inovador atrelados a uma visão futurista. A partir do Windows Vista,
passando pelo Windows 7 e mais recentemente o Windows 8, a empresa fundada por
Bill Gates, a Microsoft, aproximou-se bastante dos conceitos já há muito tempo
desenvolvidos pela Apple; a semelhança das interfaces é inegável (ver capítulo
anterior). O primeiro elemento extraído do site da Apple Store é a barra de menus.
Figura 48 - 1º Recorte do site da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
129
A barra de menus localiza-se na parte superior da página de forma horizontal.
No canto esquerdo encontra-se a logomarca da empresa, os itens seguintes: Store, Mac,
iPod, iPhone, iPad, iTunes, Support. Logo abaixo aparecem os produtos: MacBook Air,
MacBook Pro, Mac mini, iMac, Mac Pro, OS X Lion (sistema operacional mais recente
da Apple). Na parte inferior encontra-se uma continuidade da barra de menus com os
itens: Mac, Applications, Accessories, Server. Essa configuração é um pouco diferente
da maioria dos sites de lojas e serviços, pois entre as barras de menus alguns produtos
da Apple Store são apresentados. O que se observa é que a arquitetura da informação
foge de uma padronização típica e mescla itens de setores diferentes. A tendência mais
aplicada é que haja uma única barra de menus, sendo os produtos apresentados logo
após.
O próximo recorte do site localiza-se logo abaixo da barra de menus:
Figura 49 - 2º Recorte do site da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
Nesse recorte do site temos a propaganda do novo sistema operacional Lion, que
é simbolizado pela imagem de um leão. Abaixo da imagem encontra-se a referência ao
sistema e a propaganda: Coming this Summer. Get a sneak peek. A propaganda pode ser
traduzida assim: Em breve nesse verão. Aguarde a estreia. Como se fosse um filme
aguardado há muito tempo, a Apple procura atrair os seus clientes. Do lado direito,
encontram-se dois produtos da empresa com destaque para a interface do novo sistema
operacional. As cores predominantes no site são o azul, o branco e a cor cinza. O fundo
do site traz uma imagem de um céu estrelado à noite. A imagem na área de trabalho e
130
que acompanha o novo sistema operacional é uma foto do universo, destacando-se uma
galáxia.
Os próximos recortes do site apresentam ícones acompanhados de elementos
textuais, como se segue
Figura 50 - 3º Recorte do site da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
As imagens-ícones por si só já sugerem as ações desejadas da empresa em
relação aos seus clientes:
Try a Mac: expressão de caráter geral. Convida o cliente a experimentar o
produto. É reforçada pelos ícones. Os verbos Click, call, come estão representados pelas
imagens, ou ícones. Esses mesmos ícones reaparecem, dessa vez separadamente. A
sugestão parte do geral (logo acima) para o particular (logo abaixo).
Figura 51 - 4º Recorte do site da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
Do lado esquerdo do recorte acima, dois produtos da Apple estão em destaque,
um Mac Book Pro e um iMac. Na área de trabalho do primeiro produto aparece uma
família sorrindo aparentemente de férias. No segundo produto existe uma imagem de
um casal sorrindo, descontraídos, como se estivessem em momento de lazer.
Certamente a escolha dessas imagens foi debatida e foi intencional, pois o que se
pretende sugerir com essas imagens é a felicidade que os produtos da Apple podem
proporcional aos seus clientes.
131
Analisemos o próximo recorte:
Figura 52 - 5º Recorte do site da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
Nesse recorte temos a figura de uma jovem, provavelmente uma estudante. O
público-alvo em potencial é determinado: professores e estudantes. Os links Mac in
Education, Mac for Students e Shop online to get education pricing direcionam o cliente
para serviços e produtos relacionados à educação. No próximo recorte, encontram-se
outros serviços propostos pelo site:
Figura 53 - 6º Recorte do site da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
Outros links são sugeridos na parte inferior da web page. Esses links direcionam
o internauta para locais específicos, como: applications, support, education, accessories
developers entre outros. Uma barra de menus inferior, assemelhando-se a uma barra de
tarefas com os itens: Apple info, site map, hot news, RSS Feeds, Contact Us e um ícone
da bandeira americana localizam-se logo abaixo dos links de serviços. Logo abaixo do
lado esquerdo, os direitos autorais e a data da página, terms of use e privacy policy
também são apresenteados. Do lado direito, uma propaganda: “Up 2x faster compared
with previous generation Mac mini”.
132
3.3.3.1. Visão geral das categorias peirceanas no site da Apple Store
Continuemos agora com uma visão panorâmica das categorias da semiótica
peirceana. Para isso, selecionei esta imagem:
Figura 54 - 7º Recorte do site da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
Este recorte é composto por três temas em forma de quatro imagens: o céu ao
fundo, o leão e os dois produtos. Quanto ao aspecto cromático, o domínio da cor azul
reforça a relação entre a cor e a marca, pois tradicionalmente a Apple sempre se utilizou
dessa cor em suas propagandas. As várias tonalidades de azul que vão se tornando mais
claras até chegarem à cor branca é um detalhe importante na composição desse
fragmento do site. A escolha pela representação do universo pode sugerir que a Apple
tem uma penetração de âmbito mundial dos seus produtos, que são conhecidos em todo
o globo terrestre ou pelo menos deseja que isso ocorra ou se perpetue. A figura do leão
representa o sistema operacional: Lion. Os dois produtos: Mac Book Pro e o iMac
aparecem porque são os produtos que o site procura por em destaque para que o
usuário-cliente possa conhecê-los melhor. O elemento textual é composto de dois
termos: Coming this Summer e Get a sneak peak. O primeiro texto funciona como um
tipo de chamada e está diretamente relacionado com o segundo. O segundo texto
funciona como a resposta para a chamada do texto anterior. Na realidade, funciona com
uma metáfora ao mundo do cinema, quando um filme é aguardado ansiosamente pelo
público. O tipo de fonte escolhido para os dois textos é o mesmo. Um detalhe
133
interessante á o jogo com as cores: a cor branca vai se aproximando aos poucos da cor
cinza, uma variação cromática com uma mudança de tonalidade.
O recorte em si constitui o Objeto Dinâmico, o objeto em si próprio. A partir do
objeto dinâmico chegamos ao Objeto Imediato, que é aquilo que o signo pretende
representar através do objeto É, assim, o aspecto recortado pelo signo, é aquilo que ele
procura representar (Santaella, 2000). O interpretante dinâmico é o consumidor dos
produtos comercializados pela empresa. O interpretante imediato aqui seria o público
em potencial, aqueles que poderiam consumir os serviços dessa empresa, mesmo antes
que esses produtos fossem comercializados.
3.3.3.2. Referencial icônico-imagético no site da Apple Store
A análise dar-se-á nesse instante levando em consideração o referencial icônico-
imagético no site da Apple Store. Alguns elementos do site serão analisados.
Figura 55 - 8º Recorte do site da Apple Store
Fonte: Official Apple Store - http://store.apple.com/us
A figura recortada do site da Apple Store é constituída por dois notebooks - Mac
Book Air dispostos lado a lado e uma frase: MacBook Air: Everyone should have a
notebook this advanced. Para procedermos com uma análise semiótica de linha
peirceana, como visto nas análises anteriores, os aspectos de quali-signo devem ser
estudados nessa fase. Qual a primeira impressão tida a partir do objeto analisado? O que
as cores, traços, composição, harmonia, brilho, procuram apresentar ou representar? Na
imagem acima os aspectos qualitativos são a disposição dos dois objetos, a relação
espacial, o brilho, os contornos.
134
Em um segundo momento, deve-se compreender ou entender o nível indiciário,
o aspecto singular-indicativo, o ícone-diagrama ou hipoícone-diagramático. Quais são
os índices que remetem ao existente? A imagem é um existente. Os dois notebooks são
os sin-signos. O que a imagem indica? Quais são as pistas? Quais são os indícios? Uma
leitura provável: os dois notebooks fabricados dentro dos padrões de uma das empresas
mais importantes do mundo estão lado a lado esperando para serem consumidos. O
aspecto textual reforça isso a partir do verbo should. Ou seja, é uma “obrigação”, não
uma opção, a compra dos notebooks.
A escolha dessa imagem para analisar o terceiro nível, ou seja, o ponto de vista
convencional-simbólico, o legi-signo, o aspecto de hipoícone-metafórico, ou ícone-
metáfora foi criterioso. Quais são as leituras possíveis ou sugestionadas? A marca Apple
é um legi-signo. O aspecto textual é muito importante nessa propaganda. Voltemos ao
texto: MacBook Air: Todos deveriam ter um notebook avançado deste tipo65.
Desmembremos os dois termos: o primeiro é meramente a referência da marca:
MacBook Air. O segundo avoluma o produto de uma forma impressionante: Todos
deveriam ter um notebook avançado deste tipo. Analisemos isso a partir do interpretante
lógico:
Premissa maior: Todos (todo mundo) deveriam ter um notebook avançado
deste tipo
Premissa menor: Eu faço parte de “todo mundo”
Conclusão: Eu devo ter esse tipo de notebook avançado.
Como interpretante final, a Apple na figura do Notebook Air espera que o
consumidor compreenda a necessidade de se adquirir o produto.
Ao final das análises, observa-se que as imagens desempenham um papel de
extrema relevância dentro dos sites que foram escolhidos. Os resultados e as
considerações finais serão apresentados logo mais adiante a título de conclusão.
65 MacBook Air: Everyone should have a notebook this advanced.
135
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final desse trabalho algumas considerações merecem a menção. Inúmeras
abordagens no tocante aos estudos que envolvem as imagens são possíveis, devido ao
espectro e a gama de possibilidades. Para Santaella,
as investigações das imagens se distribuem por várias disciplinas de pesquisa, tais como a história da arte, as teorias antropológicas, sociológicas, psicológicas, da arte, a crítica da arte, os estudos das mídias, a semiótica visual, as teorias da cognição. O estudo da imagem é, assim, um empreendimento interdisciplinar (SANTAELLA, 2008, p. 13).
Por ser de âmbito interdisciplinar, os estudos das imagens podem ser realizados
dentro de diversas áreas, como observado na citação acima. Este trabalho que agora
finalizo também possui essa característica, a interdisciplinaridade. As áreas envolvidas
nessa pesquisa são a semiótica, com ênfase na semiótica de linha peirceana, os estudos
associados à interface e hipermídia. O objeto de estudo são as imagens. Como suporte
às imagens (pois elas precisam de um meio ou veículo para se materializarem, mesmo
as visualizações mentais), analisei alguns projetos de interface para WWW. As imagens
são compreendidas nesse trabalho como signos visuais. Algumas questões até então
não respondidas justificaram a escolha por esse tema como dissertação de mestrado, por
exemplo: Qual o papel ou função das imagens em sites institucionais? Que critérios são
usados para a escolha de determinadas imagens? Sites institucionais de áreas diversas
utilizam as imagens da mesma forma? Existiria um padrão metodológico quanto à
escolha das imagens que vão compor um site? As imagens realmente comunicam ou
significam aquilo que se espera delas? A imagem da instituição está relacionada com o
tipo de imagem veiculada nos sites em geral? Questões como essas permearam toda a
minha pesquisa. Espero ter chegado a resultados satisfatórios. São esses resultados que
agora apresento.
Inicialmente gostaria de retomar pontos que foram apresentados no capítulo I.
“Caminhos Semióticos” foi o título escolhido para esse capítulo. Procurei traçar um
esboço histórico da semiótica, pois, se a pesquisa deveria ser fundamentada na
semiótica, considerei importante falar um pouco sobre essa ciência. Apesar de a
abordagem semiótica predominantemente ser peirceana, a pesquisa menciona outras
linhas semióticas. Por quê? Ora, a semiótica em geral possui um elemento que fará parte
136
de qualquer abordagem: o signo. Diferentes semiólogos, semioticistas ou pesquisadores
naturalmente terão visões diferentes a respeito do signo. Essas diferenças filosóficas ou
doutrinárias não se autoinvalidam, pelo contrário, elas enriquecem umas às outras.
Algumas similaridades ocorrem, mesmo quando essas correntes semióticas parecem
irreconciliáveis. Por exemplo:
Um signo não é uma entidade semiótica fixa, mas antes o local de encontro de elementos mutuamente independentes, oriundos de dois sistemas diferentes e associados por uma correlação codificante. (...) Assim, os signos são o resultado provisório de regras de codificação que estabelecem correlações transitórias em que cada elemento é, por assim dizer, autorizado a associar-se com outro elemento e a formar um signo somente em certas circunstâncias previstas pelo código (ECO, 1991a, p. 40).
A partir dessa citação percebemos uma aproximação filosófica entre Eco e
Peirce. A concordância se dá na compreensão de que um signo gera outro signo, o que é
chamado de ação sígnica ou processo de semiose. Em outro momento Eco corrobora a
ideia peirceana da semiose infinita: “A semiose se explica por si mesma: esta
circularidade contínua é a condição normal da significação e permite, inclusive, que os
processos comunicativos utilizem signos para mencionar coisas e estados do mundo”
(ECO, 1995, p. 198). Para Peirce, qualquer coisa pode assumir o lugar de um signo, ou
seja, existe um potencial signo nas coisas em geral. Entretanto, as semelhanças não
significam uma aceitação de todos os princípios que fundamentam as duas “escolas”
semióticas. Vimos, no capítulo I, que Eco baseia-se na semiótica peirceana, mas
desenvolveu uma taxonomia própria. Eco faz uma distinção em relação ao caráter do
signo, pois para ele, para que algo tenha um potencial signo, deve estar inserido na
cultura através de um código. De acordo com Nöth (1998):
Signos estabelecidos pela cultura e convenção são primariamente símbolos, segundo Peirce, mas esses se distinguem dos ícones e índices, que não dependem primariamente de codificação. O índice é interpretado como um signo tendo por base a causalidade ou conexão espaço-temporal entre o signo e seu objeto, enquanto que o ícone é interpretado como um signo devido a qualidades ou traços que ele tem em comum com seu objeto. Nossa investigação do limiar semiótico de Eco voltou-se principalmente para a visão de Eco dos índices naturais que são signos devido à sua secundidade. Tornou-se assim aparente que a culturalização de Eco dos signos naturais é realmente um resultado de sua tentativa de considerar os signos apenas sob o critério da terceiridade e não sob o critério que focaliza a secundidade (NÖTH, 1998)66
66 “O limiar semiótico de Umberto Eco. Artigo publicado na revista eletrônica FACE, do COS-PUC, São Paulo em 1998.
137
Percebe-se na citação acima que, mesmo fundamentando-se na semiótica
peirceana, Eco diverge de Peirce em algumas questões. Essas divergências não são
apenas quanto à natureza do signo. Condicionar o potencial de significação do signo a
um sistema codificado e culturalizado o coloca diretamente dentro daquilo que Peirce
identifica como símbolo. Para Eco o signo se manifesta plenamente dentro da
terceiridade e perde um pouco da sua identidade nos níveis de secundidade. É verdade
que para algo funcionar como signo precisa ter em si a participação dos níveis que
constituem a tricotomia clássica peirceana (ícone, índice e símbolo), mas isso não
significa que aspectos do signo não funcionem como signos ou quase-signos. A
semiótica peirceana compreende que o signo pode abarcar uma amplitude maior dentro
do campo de ação próprio a ele. Eco, de certa forma, delimita as suas possibilidades de
atuação:
O fato de que o campo semiótico peirceano é mais vasto não é um argumento contra a teoria semiótica de Eco, mas, por outro lado, os semioticistas estão livres para escolher entre o campo mais amplo de Peirce ou mais estreito de Eco para trabalhar no campo dos estudos semióticos. (NÖTH, 1998).
Divergências sempre existirão em qualquer campo. O importante é que os
debates e as pesquisas no campo semiótico estejam sempre avançando para que os
estudos semióticos cada vez mais contribuam e tragam mais luz aos estudos referentes a
seu campo de atuação.
A semiótica é uma ciência de caráter geral, ciência heurística, da investigação.
Essa ciência pode, a partir da Teoria Geral dos Signos, ser aplicada a qualquer área onde
haja algum processo comunicativo, onde a semiose esteja em ação; portanto, pode ser
aplicada praticamente a todas as áreas. Como visto no capítulo I, a semiótica tem sido
aplicada às artes, aos estudos relacionados às diversas mídias, fotografia, informática,
astrofísica e assim por diante. As ciências vão se entrelaçando por causa do caráter de
interdisciplinaridade peculiar à semiótica. Portanto, pode-se falar de uma semiótica da
música, da fotografia, das imagens, como já é possível falar a respeito da Biossemiótica,
da Semiótica Psicanalítica, Semiótica Computacional, Zoosemiótica, Antropossemiótica
e assim por diante. A aplicação dos fundamentos semióticos em relação ao papel das
imagens na análise dos sites institucionais foi vista mais precisamente no capítulo III.
Mais adiante falarei como os fundamentos e conceitos da semiótica contribuíram para
os resultados finais dessa pesquisa.
138
No capítulo II procurei inicialmente fazer um percurso histórico sobre
multimídia e hipermídia. Para tal, alguns autores foram mencionados, como Primo e
Rodrigues. Depois, com o objetivo de compreender melhor o percurso traçado, decidi
acrescentar ao trabalho pesquisadores como Vannevar Bush, Engelbar e Triggs, que
foram mencionados devido às grandes contribuições dadas por eles aos estudos
referentes à multimídia, hipermídia e particularmente o hipertexto. Não seria possível
termos avançado na ciência da computação e na tecnologia relacionada a essa área sem
o trabalho desses precursores. Alguns problemas foram apresentados, como o conceito
de “nó”, sua aplicação no universo da hipermídia e sua complexidade. Os nós são
vistos como unidades de conteúdo que compõem um dado hipertexto ou, no caso da
web, os domínios, sites e páginas. Os links são as ligações entre esses nós (FRAGOSO,
2011). De acordo com Fragoso (2011), “um nó tem uma centralidade de autovetor alta
quando está conectado com muitos nós que, por sua vez, estão conectados a muitos
outros” (FRAGOSO, 2011: 155).
A complexidade da hipermídia verifica-se a partir de todos esses conceitos
estudados nesse trabalho. O mundo está globalizado, “plugado” e interconectado. Cada
vez mais as pessoas estão dependentes da internet e necessitam “navegar” para poder
estar inseridas no mundo simbólico da cultura cibernética. Mundo esse não apenas
virtual, pois a sua materialidade é sentida no mundo concreto, por exemplo, quando
pagamos as nossas contas via sistema on line.
A boa fase da economia brasileira faz com que a população consuma mais e
tenha acesso a mais serviços. A ascensão da classe C, a nova classe média brasileira,
faz com que o mercado se adapte a essa nova realidade, ou seja, hoje o Brasil é um país
majoritariamente de classe média. Segundo Manuel Castells (2003), professor de
sociologia e planejamento regional na Universidade da Califórnia em Berkeley,
considerado o principal analista da Era da Informação e Sociedade de Rede, ex-membro
do Conselho Consultivo sobre Tecnologias da Informação, no Secretariado das Nações
Unidas:
a divisão digital fundamental não é medida pelo número de conexões com a internet, mas pelas consequências tanto da conexão quanto da falta de conexão. Porque a Internet [...] é a ferramenta tecnológica e a forma organizacional que distribui informação, poder, geração de conhecimento e capacidade de interconexão em todas as esferas de atividade. (CASTELLS, 2003, p. 220)
139
De acordo com Castells (2010), a questão essencial não é o acesso à Internet e
sim, as consequências desse ato. Consequências medidas pelas conexões e pela falta de
conexões. Não é possível pensar em um mundo hoje sem essa rede de conexões a nível
mundial.
O acesso a Internet só é possível se os brasileiros conseguirem adquirir meios
para isso (não apenas no que se refere à questão financeira). Isso só é possível através
da aquisição de suportes ou periféricos na forma de hardware, ou seja, computadores
domésticos, laptops, celulares, e assim por diante. O governo também exerce um papel
importante, pois o avanço tecnológico nacional também passa pela esfera política, por
exemplo, através de políticas direcionadas e das chamadas parcerias-público-privadas,
ou PPPs.
As empresas em geral precisam se adaptar a esse momento histórico, ou seja, o
mundo corporativo não deve estar alheio às inovações tecnológicas, às culturas
hipermidiáticas e aos fenômenos que envolvem o ciberespaço. As corporações que
estiverem atentas a essas mudanças ganharão espaço e visibilidade.
Os sites analisados fazem parte do mundo corporativo. Os resultados podem ser
mensurados. A eficácia comunicacional tem uma importância imensa, pois, refletem nos
negócios. De acordo com Schwabe67 (2011), os sites são excelentes meios de veiculação
de serviços e produtos, pois, pode-se acessá-los em qualquer lugar, ganha-se assim
tempo e agiliza-se tarefas. Existe uma redução em cerca de 30% no tempo necessário
para a absorção do conteúdo e são caracterizados por terem um poder maior de fixação:
as pessoas lembram 20% do que veem, 40% do que veem e escutam e 70% do que
veem, escutam e fazem. A conclusão sobre esses dados: quanto mais recursos
multimídia o site tiver, mas eficaz pode ser o seu poder de comunicação.
Segundo Schwabe (2011), os sites institucionais têm a oportunidade de estar em
conexão com os clientes-usuários-internautas e não devem desperdiçar isso. As
possibilidades de retorno comercial são imensas, por causa da divulgação da imagem
institucional e da própria comercialização feita pelo site. É bom levar em consideração o
perfil de clientes em potencial. Estratégias devem ser desenvolvidas e essas estratégias
devem fazer parte de um planejamento da interface, pois essa interface estará disponível
67 “Autoria de aplicações Hiperimídia, parte 1”. Aula ministrada por Daniel Schwabe, professor do Departamento de Informática da PUC-Rio.
140
a um público desconhecido e heterogêneo. Múltiplas estruturas de acesso e navegação e
uso de mídias devem fazer parte da interface para cativar a atenção do usuário.
A facilidade de acesso à Internet propiciou o crescimento de um segmento do
mercado, o comércio feito pela Internet. No mundo todo esse tipo de negócio já
movimenta milhões de dólares. A lógica é que o Brasil também siga a tendência
mundial e acabe desenvolvendo ou ampliando as oportunidades de comercialização
através desse veículo. Uma observação importante: o potencial comunicacional e o
nível de imersão são fatores que devem ser levados em consideração. A geração
tecnológica que participa e vivencia ativamente experiências em redes sócias, sites de
relacionamento e compartilhamento de arquivos (You Tube, por exemplo) é chamada
hoje de Geração Net. Essa geração tem um peso imenso na divulgação de produtos e
não só isso, muitos participam ativamente como construtores no desenvolvimento e até
mesmo são coautores na programação de sites. Para Castells:
É claro, a Geração Net está em toda parte, e muitos dos seus integrantes usam o YouTube para compartilhar seus vídeos caseiros com amigos (ou com qualquer pessoa interessada). Os acordos que estão brotando com Hollywood podem tornar o serviço ainda mais popular e transformar o youtube em uma importante plataforma de distribuição. Com mais de 100 milhões de vídeos assistidos diariamente (e esse número está crescendo), é provável que esse seja uma força que teremos de enfrentar. (CASTELLS, 2003, p. 179).
A Geração Net não deve ser desconsidera hoje em dia quando se pensar em
elaboração de sites, hipermídia e interfaces. Na realidade, deve ser pensada em primeiro
lugar, pois, a Internet utilizada como meio para a divulgação de produtos e serviços
tornou-se uma tendência e esse caminho parece ser irreversível. Castells (2003) usa a
terminologia Prosumers para denominar aquelas pessoas que participam ativamente não
só como consumidores, mas como produtores da construção de plataformas e sites:
Todos os jogadores do Second Life, não são apenas consumidores de conteúdo do jogo; são ao mesmo tempo programadores, membros da comunidade e empreendedores [...] isso significa que o Second Life não é um produto nem um videogame típicos. Ele foi criado quase que totalmente por seus clientes – poderíamos dizer que os consumidores também são os produtores, ou seja, eles são prosumers. (CASTELLS, 2003, p. 158).
Algumas comunidades de usuários já há algum tempo ultrapassaram a barreira
da passividade e hoje são participantes, parceiros e aliados de suas empresas favoritas:
141
As comunidades nos sites da Apple, do eBay e da Amazon também se expandem para associar lojas: sites que vendem seus próprios objetos usando a interface e o processamento de pagamentos da Amazon, ou que vendem os livros da Amazon e os downloads de música da Apple. Os fornecedores que se integram a uma grande empresa dessa maneira se tornam importantes partes interessadas. Meg Whitman, CEO do eBay, diz: “Temos um parceiro nesse negócio, que é a comunidade de usuários. (CASTELLS, 2003, p. 239)
Cabe às empresas (no caso dessa pesquisa, os sites institucionais) estarem
atentas não só às tendências mercadológicas, mas às tecnológicas. Para isso precisarão
ter um bom planejamento de suas interfaces e também necessitarão ampliar os recursos
multimídia e hipermídia para não ficarem para trás ou isoladas e assim, perderem
excelentes oportunidades de ganho.
No capítulo III escolhi para análise três sites institucionais: o site do Bradesco,
da Coca-Cola e da Apple Store. Os aspectos metodológicos levaram em consideração:
1- A Interface do site; 2 – A visão geral das categorias peirceanas e 3 – O
referencial icônico-imagético.
Em relação às interfaces, de modo geral, conclui que elas seguem um modelo ou
padrão. As logomarcas das três empresas aparecem no canto superior esquerdo, existe
uma sequência lógica na disposição dos elementos que constituem as interfaces, uma
arquitetura padronizada, por assim dizer. A exceção é o site da Apple Store, que varia
um pouco, pois a barra de menus foi dividida no meio para veicular no espaço entre
elas os produtos considerados de maior apelação comercial. As cores predominantes nos
três sites analisados são as cores que representam as respectivas empresas. No caso do
Bradesco, por ser uma instituição financeira, a interface parece ser mais “sóbria”, com
cada elemento posto em seu “devido lugar”. É um site que não rompe com nenhum
padrão organizacional, é tradicional, por assim dizer.
Em termos de imersão não há nada que sugira esse tipo de tentativa por parte dos
sites analisados. Links que reacionam às redes sociais como Twitter, Facebook e
Myspace são encontrados nos sites da Coca-Cola e Apple Store. A interatividade se dá
por meio dessas redes sociais e dos Chats. O site da Coca-Cola é mais “alegre”, “vivo”.
Isso é natural, pois, o site tem um caráter de jovialidade, existem muitas referências a
questões como sustentabilidade, reciclagem e campanhas desenvolvidas pela empresa.
De modo geral, as interfaces dessas empresas são bem construídas e servem bem
aos objetivos almejados. O Bradesco, por ser uma instituição financeira do segmento
dos bancos, tem a sua interface mais leve e reflete certo pragmaticismo, ou seja, as
informações são mais curtas, as chamadas e propagandas mais diretas. A Coca-Cola
142
procura associar a sua interface a questões que estão em voga, como a sustentabilidade,
o seu site mantém um esforço para mostra-la como uma empresa “antenada” com as
discussões mais relevantes do momento. A interface da Apple Store funciona como uma
espécie de intermezzo entre as outras duas: é uma interface harmônica, equilibrada, mas,
ao mesmo tempo mantém certa proximidade com a arquitetura e interface da Coca-
Cola, sempre mostrando pessoas em situações de entretenimento.
O segundo item metodológico, visão geral das categorias, apresentou de forma
panorâmica os conceitos semióticos das categorias peirceanas aplicados aos sites através
de fragmentos e recortes de imagens. Nesse momento as análises em si não eram o
objetivo principal e sim, a manifestação fenomenológica das categorias: a ação dos
quali-signos, sin-signos e legi-signos no aspecto de primeiridade; a identificação dos
objetos dinâmicos e imediatos e as considerações em relação aos interpretantes
dinâmicos, imediatos, finais e lógicos. A terceira via metodológica analisou o
referencial icônico-imagético nos sites através de recortes de imagens. Gostaria de
concluir essa dissertação tratando dessas questões.
Parto do princípio de que as imagens estimulam uma cadeia de associações
através da sugestão, da referencialidade e da representatividade. Acredito haver alguns
meios pelos quais as imagens operam. Como hipótese, defendo que essa operação se dá
em três níveis que se relacionam de alguma forma com as categorias de primeiridade,
secundidade e terceiridade.
Destaco três aspectos:
1- O poder sugestivo das imagens;
2- O potencial comunicativo das imagens e
3- Os níveis de significação das imagens.
O poder de sugestão das imagens tem a ver com o seu referencial icônico-
imagético. As imagens sugerem aquilo que o observador está propenso a ver. As
técnicas de sugestão estão por toda parte nas propagandas. O pesquisador Roberto
Chiachiri Filho tem uma pesquisa vasta onde relaciona marcas e semiótica. Segundo
ele,
143
Algumas marcas de cerveja no Brasil, em suas peças publicitárias têm como protagonistas lindas mulheres e, o próprio produto, a cerveja, como coadjuvante. Ora, o intuito é vender cerveja, então, por que é a mulher a protagonista? Estaria a mulher se apresentando como um ícone que captura o desejo, associando-se com o agradável em um pensamento primário? (CHIACHIRI, 2011, p. 14-15).
O signo icônico tem sido usado extensivamente nos meios publicitários. Nos
sites analisados não é difícil observar esse aspecto da imagem: sugerir, sugestionar,
induzir muitas vezes é a intenção que está por trás de uma imagem que foi pensada,
selecionada, discutida às vezes exaustivamente por profissionais da área de marketing e
propaganda. A intencionalidade é algo a ser pensado. As imagens não foram escolhidas
por acaso. Essas três empresas escolhidas são empresas fortes e bem estruturadas. Os
profissionais que trabalharam na elaboração dos sites analisados são os melhores do
mercado, então, espera-se que haja um grau de intencionalidade em cada peça
publicitária, em cada imagem selecionada, muitas vezes entre centenas. As melhores são
escolhidas para compor os sites. As técnicas de montagem, de edição, de composição,
auxiliam até que se chegue ao produto final. Portanto, tudo é pensado e discutido antes
de ser veiculado e entregue ao público final.
O potencial comunicativo é a predisposição intrínseca à imagem de comunicar.
Potencial comunicativo, a princípio, qualquer imagem possui. A questão é saber se a
imagem efetivamente, e dentro de um contexto específico, está habilitada a comunicar
aquilo que o designer ou o cliente deseja que ela comunique. A imagem pode indicar,
dar pistas do que ela pode ser, mas a sua existência não pode determinar precisamente o
que ela é. Pensemos na seguinte hipótese: um site de uma concessionária utiliza a
imagem de várias marcas de carro e entre elas ao acaso encontra-se a imagem de um
sabonete. Que potencial comunicativo essa imagem teria nesse contexto? O potencial
comunicativo das imagens só pode ser explorado ao máximo se a imagem estiver
inserida em um contexto adequado. Daí, a escolha das imagens que irão compor um
site, por exemplo, pode não ser uma tarefa muito fácil. Uma escolha inadequada de uma
imagem interferirá diretamente no seu potencial comunicativo. A imagem indica, dá
pistas do que pode vir a ser. Dentro dos sites analisados, acredito que as imagens
escolhidas cumpriram o papel esperado a que elas se destinaram.
Os níveis de significação são as possibilidades interpretativas das imagens. De
certa forma esse aspecto está interligado e é uma continuidade dos dois aspectos
anteriores. Nesse nível deve-se pensar em uma cadeia de associações de significados
144
que uma imagem pode estar propensa a transmitir. Acredito que esse aspecto esteja
ligado à categoria da terceiridade, é o signo materializado em seu interpretante
(imediato, dinâmico, lógico e final).
As imagens podem estar presentes dentro das diversas formas de linguagem, não
importando o meio onde se materializam. A tabela abaixo apresenta os tipos de imagem
que predominam nos projetos de interface para WWW analisados e fornece alguns
dados68.
Tabela 3 – Tipos de imagens nos sites
Site Bradesco Coca-Cola Apple Store
Imagem Visual 25 7 21
Imagem Sonora 0 1 0
Imagem em movimento 1 5 0
O que os dados da tabela acima indicam? A presença majoritária das imagens
visuais. No site do Bradesco, das 26 imagens, 25 são imagens visuais, ou seja, 96,15%.
As imagens sonoras inexistem, enquanto foi encontrado apenas 1 imagem em
movimento (em flash), o que corresponde a 0,26%. Acredito que pela natureza da
instituição explica-se a predominância das imagens visuais em detrimento das outras
duas modalidades. A “sobriedade” é uma marca do site do Bradesco. A existência de
muitas imagens em movimento ou sonoras não refletiriam a intencionalidade do banco.
No site da Coca-Cola, as imagens aparecem em menor número. Entretanto, percebe-se
que elas (as imagens) são mais destacadas e de maior tamanho. Ainda assim, as imagens
visuais prevalecem. Das 13 imagens, 7 (53,85%) são visuais, 5 (38,46%) são imagens
em movimento e 1 (0,13%) é uma imagem sonora.
Dos sites analisados, apenas o site da Coca-Cola apresenta uma imagem sonora
(trilha sonora) que acompanha a primeira página do site. As imagens em movimento
correspondem aos produtos da empresa que são comercializados (1 imagem) e às
imagens de pessoas em algum tipo de prática esportiva (4). São imagens que ao se
passar o cursor do mouse sobre elas, movimentam-se, aparecem em destaque e
aumentam o tamanho. Interessante observar a ocorrência em número considerável das
imagens em movimento. A explicação disso é devido ao perfil do site. A Coca-Cola
pretende usar de recursos que proporcionem mais interatividade com o cliente-
68 Imagens presentes na primeira página dos projetos de interface para WWW analisados.
145
consumidor. É um site alegre e jovial. As imagens desempenham uma função
importante dentro desse contexto.
O site da Apple Store só apresenta imagens visuais, ou seja, das 21 imagens,
100% são imagens visuais. Acredito que a ênfase seja a comercialização dos produtos
através basicamente da apresentação deles através das imagens, assim como a exposição
dos serviços atrelados aos produtos.
Os três sites analisados utilizam as imagens de acordo com o perfil e a
intencionalidade dessas empresas. A partir dos dados expostos acima o que se explicita
é a ênfase no apelo pela visualidade.
Conclui-se que as imagens têm uma participação efetiva e um grau de
importância bastante elevado no conjunto e na finalização dos sites analisados, por
dedução, isso deve ocorrer nos sites em geral. Os resultados obtidos na pesquisa são: as
imagens participam efetivamente do processo de elaboração-construção de significados
nos sites analisados, desempenhando funções estéticas, visuais, de composição etc.
A eloquência com que as imagens se manifestam faz com que eu chegue a
conclusão final de que não existe a possibilidade de se pensar em um mundo sem que
não haja a participação das imagens. Imagens sentidas, visualizadas, materializadas; não
só no mundo das coisas concretas, como no mundo da abstração, dos sonhos, da
concretude e da fantasia. É importante ressaltar que as imagens podem ser não apenas
visuais, pois um som pode ter alguma relação com as imagens, por exemplo. Existem
níveis de representação e de percepções.
Os sites analisados são compostos basicamente por sons, textos, diagramação e
imagens visuais. Entretanto, as imagens visuais não estão desvinculadas das imagens
mentais, pois, antes de existirem impressas, digitalizadas ou por outro meio, existiram
inicialmente na mente de quem as criou ou projetou. Mesmo o discurso verbal está
impregnado de imagens: “Na realidade, o código verbal não pode se desenvolver sem
imagens. O nosso discurso verbal está permeado de imagens, ou, como Peirce diria, de
iconicidade” (SANTAELLA, 2008, p. 14). Os diversos tipos de imagem nos cercam,
pois elas (as imagens) estão presentes na nossa cultura de forma bastante marcante. As
pesquisas que têm a imagem como objeto de estudo, embora não componham um
campo de investigação sistematizado, representam, de forma enfática, pontos cruciais da
discussão cultural contemporânea. Para Mitchell (2005, p.77), as relações entre imagem
e valor são questões centrais na crítica das mídias contemporâneas e têm como
pioneiros nomes como Walter Benjamin, Marshall McLuhan e Jean Boudrillard.
146
Entretanto, as imagens ainda necessitam de uma área específica, onde os seus estudos
possam ser aprofundados. Segundo Santaella e Nöth,
Uma ciência da imagem, uma imagologia ou iconologia ainda está por existir. As investigações das imagens se distribuem por várias disciplinas de pesquisa, tais como a história da arte, as teorias antropológicas, sociológicas, psicológicas, da arte, a crítica da arte, os estudos das mídias, a semiótica visual, as teorias da cognição. O estudo da imagem é, assim, um empreendimento interdisciplinar [...] seus objetos de estudo são tanto os gêneros imagéticos tradicionais, a pintura ou a fotografia, quanto as novas mídias imagéticas, como a holo e infografia, incluindo a fotografia computacional (SANTAELLA e NÖTH, 2007, p. 13).
Esta dissertação de mestrado se propôs a analisar o papel ou função das imagens
em sites institucionais a partir de uma abordagem semiótica. Esta tarefa não é muito
simples, pois os estudos da imagem não dispõem de uma ciência específica, ou seja,
esses estudos se diluem através de inúmeras disciplinas e dentro de um caráter
interdisciplinar. Há muito que se pesquisar a respeito do assunto. Espero que essa
aplicação analítica contribua para futuras pesquisas sobre imagem e interface para
Internet.
147
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS
ANDERSEN, Peter Bøgh. A Theory of Computer Semiotics: Semiotic Approaches to
Construction and Assessment of Computer Systems. Cambridge: Cambridge
University Press, 1990.
ANDERSON, Chris. The web is dead. Long live the internet. Agosto, 17, Wired
Magazine, 2010. Disponível em:
http://www.wired.com/magazine/2010/08/ff_webrip/all/1. Acesso em:
30/06/2012.
ANDERSON, Douglas R. Strands of system: the philosophy of Charles Peirce. West
Lafayette, Indiana: Purdue University Press, 1995.
APEL, Karl-Otto. Charles Sanders Peirce: from pragmatism to pragmaticism. New
Jersey: Humanities Press, 1995.
ALVES, Rubens. O que é SQL. Disponível em:
http://www.criarweb.com/artigos/210.php. Acesso em: 01/06/2012.
ARÊAS, James Bastos (2002). O estatuto ontológico da imagem no Sofista de Platão.
Disponível em: http://www.pgfil.uerj.br/publi/jamesareas/artigo2n1.pdf. Acesso
em: 08/07/2012.
BARANAUSKAS, M. Cecília C., ROSSLER, Flávia e OLIVEIRA, Osvaldo Luiz de.
Uma abordagem semiótica à análise de interfaces: um estudo de caso. Trabalho
apresentado no Instituto de Computação da Unicamp, 1999, 3.
BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. São Paulo: Cultrix, 1972.
BATISTA, Claudia Regia e ULBRICHT, Vânia Ribas. Abordagem semiótica no
desenvolvimento de interfaces interativas para ambiente hipermídia de
aprendizagem. XIV Congreso Internacional de Ingeniería Gráfica, Santander,
España – 5-7 junio de 2002. Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.
BERLINCK, Manoel Tosta. Ainda podemos pensar? Rev. Latinoam. Psicopat. Fund. v.
14, n. 2, São Paulo, junho 2011. p. 219-221.
148
BERNERS-LEE, Tim. Biography. Disponível em: http://www.w3.org/People/Berners-
Lee/Overview.html#Talks. Acesso em: 15/08/2012.
BUCZINSKA-GAREWICZ, H. The reality of signs. Semiótica. São Paulo: Ática, 45
(3/4): 315-30, 1983.
BUSH, Vannevar. As we may think. The Atlantic Monthly - Magazine. 176(1), 101-108,
1945.
CHAHLUB, Samira. Funções da linguagem. São Paulo: Ática, 1990. Série Princípios.
CHIACHIRI, Roberto. O poder sugestivo da publicidade: uma análise semiótica. São
Paulo: Cengage Learning, 2010.
COELHO NETO, José Teixeira. Semiótica, informação e comunicação: diagrama da
teoria do signo. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1996.
DEELY, J. Semiótica básica. São Paulo: Ática, 1990.
ECO, Umberto (1968). La struttura assente. – Traduzido por P. de Carvalho. A
estrutura ausente: introdução à pesquisa semiológica. São Paulo: Perspectiva,
1971.
______ (1973). Il Segno. Traduzido por Francisco Serra Cantarell. O signo. Lisboa:
Presença, 1977.
______ (1976). Trattado di semiótica generale. – Traduzido por A. de Pádua Danesi.
Tratado geral de semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1980.
______. O signo. Lisboa: Presença, 1990.
______. A theory of semiotics. Bloomington: Indiana University Press, 1976.
______. Semiótica e filosofia da linguagem. São Paulo: Editora Ática, 1991. p. 20-21.
EDDINGS, Joshua. Como funciona a internet. São Paulo: Zift-Davis Quark, São
Paulo: 1994.
149
ENGELBART, Douglas. Early formulations of the project to augment human intellect -
the augmented human intellect: seach for a framework. Stanford: Stanford
University Special Collections, 1960.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa, Revista e atualizada do Aurélio Século XXI. 3ª ed. Brasil: Editora
Positivo, 2004.
FIDALGO, Antônio. Semiótica geral. Covilhã, 1999. Disponível em:
www.bocc.ubi.pt/pag/fidalgo-antonio-semiotica-geral.pdf. Acesso em:
30/05/2010.
FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa
para internet. Porto Alegre: Sulinas, 2011.
FREYNE, Jill; BERKOVSKY, Shlomo. Adaptive hypertext and hypermedia (Linking
resources). Hypertext 2012, 23rd ACM Conference on Hypertext and Social
Media, Milwaukee, WI. USA. June. 25-28, 2012.
GALLO, Carmine. Resenha: Inovação: A arte de Steve Jobs. Disponível em:
http://www.valoresreais.com/2011/09/08/resenha-inovacao-a-arte-de-steve-jobs/.
Acesso em: 30/08/2012.
GREIMAS, Algirdas Julien. Semântica estrutural, São Paulo: Cultrix, 1973.
GUIRAUD, Pierre. A semântica. 3ª ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 1980.
GRAU, Oliver. Remember Phantasmagoria! Ceart, UDESC, 2005.
GRØNBÆK, Kaj. Open hypermedia as user controlled meta data for the web.
Disponível em: http://www9.org/w9cdrom/183/183.html. Acesso em:
27/06/2012.
HALASZ. Frank. Reflections on NoteCards: Seven Issues for the Next generation of
Hypermedia systems. Artigo publicado em Magazine Communications of the
ACM, 31(7), 836-852, New York, NY, USA. 1988.
150
HALASZ, Frank; SCHWARTZ, M. The Dexter hypertext reference model.
Communications of the ACM, 37(2), New York, NY, USA. 1994.
HAMMOND, N. Learning with hypertext: Problems, Principles, and Prospects, in
McKnight, C., Dillon, A., et Richardson, J. éds. Hypertext: a Psychological
Perspective, New York, Ellis Horwood. 1993
HARDWICK, Charles S. Semiotics and significs. The correspondence between C.S.
Peirce and Victoria Lady Welby. Bloomington: Indiana University Press, 1977
IASBEK, Luiz Carlos Assis. A semiótica atomizada (unidades semióticas). In:
Comunicologia: Revista de Comunicação e Epistemologia da Universidade
Católica de Brasília. Vol. 1, nº 6, p. 27-54, 2010.
JAKOBSON, Roman. A linguística e suas relações com outras ciências. In:
JAKOBSON, Roman. Linguística; poética; cinema. São Paulo: Perspectiva,
1970a, p. 11-74.
______. Linguística; poética; cinema. São Paulo: Perspectiva, 1970. p. 11- 64.
______. On linguistic aspects of translation, in language in literature. Massachusetts:
Harvard University Press, 1987. p. 428-435.
JOHNSON, Steven. A cultura da interface. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Traduzido por Marina Appenzeller.
Campinas: Papirus, 1996.
LALOR, Brendan. The classification of Peirce’s interpretants. Oklahoma: University of
Central Oklahoma, 1997.
LEÃO, Lucia. Reflexões sobre imagem e imaginário nos processos de criação em
mídias digitais. In: Grupo de Trabalho Imagem e Imaginários Midiáticos. XX
Encontro da Compós. Porto Alegre, RS: UFRGS, 2011. Disponível em:
<http://www.compos.org.br/data/biblioteca_1699.pdf>. Acesso em: 22 ago.
2012.
151
______. O labirinto da hipermídia - arquitetura e navegação no ciberespaço. São
Paulo: Iluminuras, 1999.
LEÃO, Lucia Apontamentos a respeito da arquitetura da hipermídia poética da
navegação e poéticas da construção. São Paulo: Centro de Estudos Peirceanos,
COS-PUC, 1997.
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Traduzido por Marina Appenzeller.
Campinas: Papirus, 1996.
LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da
informática. Rio de Janeiro: 34, 1993. p.143.
MARCUS, A. Graphic design for electronic documents and users interfaces. New
York: ACM Press and Addison-Wesley Publishing Company, 1992.
MITCHELL, W. J. T. (1986). Iconology: image, text, ideology. Chicago, University of Chicago Press.
MITCHELL, W. J. T. What do pictures want?: the lives and loves
of images. Chicago: University of Chicago Press, 2005.
MONTENEGRO, Maria Aparecida de Paiva. Linguagem e conhecimento no Crátilo de
Platão. Kriterion, Belo Horizonte, V. 48, nº 116, Dec. 2007. Disponível em
:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100512X2007000200006&script=sci_ar
ttext. Acesso em: 28/06/2012.
MORRIS, Charles W., 1946. «Signs, Language, and Behavior», Writings on the
General Theory of Signs (C. W. Morris), 73-398, The Hague, Mouton
NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
NELSON, Ted. – What I do. Disponível em: http://ted.hyperland.com/whatId. Acesso
em: 27/06/2012.
NELSON, T. H. POSSIPLEX: Movies, Intellect, Creative Control, My Computer Life
and the Fight for Civilization : an autobiography of Ted Nelson. Hackettstown,
New Jersey, Mindful Press, 2010.
152
NIELSEN, Jakob. Hypertext/hypermedia. Technical University of Denmark,
Copenhagen: Academic Press, 1990.
NÖTH, Winfried. O limiar semiótico de Umberto Eco. Artigos, Revista eletrônica Face,
2º semestre de 1998. Disponível em: http://www.pucsp.br/pos/cos/face/eco.htm.
Acesso: 27/06/2012.
______. Handbook of semiotics. Bloomington: Indiana University Press, 1995.
______.Panorama da Semiótica: de Platão a Peirce. 1998
______.Semiótica e semiologia: os conceitos e as tradições. Com Ciência 74, 2006.
Disponível em
http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=11&id=82. Acesso:
28/06/2012.
PARUNAK, H. Van Dyke. Don't link me in: set based hypermedia for taxonomic
reasoning. In: Proceedings of the ACM Conference in Hypermedia, Dec. 15-18,
San Antonio, TX, pages 233-242, 1991.
PEIRCE, Charles S. Collected Papers, vols. 1-8, C. Hartshorne, P. Weiss y A. W. Burks
(eds). Cambridge, MA: Harvard University Press. Electronic Edition of J.
Deely, Charlottesville, VA: inteLex, 1931-1958.
______. Semiótica e filosofia. São Paulo: Cultrix, 1972.
______. Semiótica. São Paulo: Perspectica, 1995.
PISCITELLI, Alejandro. Ciberculturas 2.0. En la era de las máquinas inteligentes.
Buenos Aires: Paidós, 2002.
POLSANI, P. R. Signs and objects: modeling learning objects on Peirce’s theory of
signs”. Disponível em: http://Itc.arizona.edu/pdf/Polsani-LOmodel.pdf. Acesso:
27/06/2012.
PORTO, Gabriela. Teoria da imagem. Disponível em:
http://www.infoescola.com/comunicacao/teoria-da-imagem/#. Acesso:
27/06/2012.
153
PRIMO, Alex . O aspecto relacional das interações na web 2.0. v. 9. Brasília: 2007. p.
1-21. Disponível em: http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/web2.pdf. Acesso em:
27/06/2012.
PUGA, S. Uma Análise semiótica da interface do word for windows: estudo dos seus
padrões visuais e funcionais. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica, 2002.
RAMAIAH, C. K., An overview of hypertext and hypermedia. In: International
Information, Communication and Education 11, No.1, 1992.
RIBEIRO, Nuno Magahães. Multimédia e tecnologias interativas. São Paulo: FCA –
Editora de informática, 2004. Coleção Tecnologias de Informação.
RODRIGUES, Cassiano Terra. Lógica como ciência: apontamentos sobre o
pensamento de Peirce. In: Revista eletrônica de jornalismo científico “Com
Ciência”, Edição de 10 de abril de 2006. Disponível em:
http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=11&id=85. Acesso
em: 21/08/2012.
RODRIGUES, Rogério Ferreira. Composite Nodes, contextual links and graphical
structural views on the WWW. Journal of the Brazilian Computer Society, 1998.
Disponível em: http://en.scientificcommons.org/20931796. Acesso em:
27/06/2012.
SANTAELLA, Lúcia. Estética: de Platão a Peirce. São Paulo: Experimento, 1994.
______. A assinatura das coisas: Peirce e a literatura. Rio de Janeiro: Imago, 1992.
______. Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado. 2ª ed. São José
do Rio Preto: Bluecom Comunicação, 2010.
______. A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas. São Paulo:
Pioneira, 2000.
______. Matrizes da linguagem e pensamento, sonoro, visual, verbal: aplicações na
hipermídia. São Paulo: Iluminuras, 2001.
154
______. O Método anti-cartesiano de C. S. Peirce. São Paulo: Editora Unesp, 2004.
______. O que é semiótica? São Paulo: Brasiliense, 1983.
______. Semiótica aplicada. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
_______.Semiótica aplicada, São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002, p.8.
______. Cultura das mídias. São Paulo: Experimento, 1996.
______. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São
Paulo: Paulus, 2003.
______. Produção de linguagem e ideologia. São Paulo: Cortez, 1996.
SANTAELLA, Lúcia e NÖTH, Winfried. Comunicação e semiótica. São Paulo: Hacker
Editores, 2004.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006.
SCHWABE, Daniel. Autoria de Aplicações Hipermídia. Disponível em:
Java.icmc.usp.br/books/hypermedia/ppt/OOHDM-aula1.ppt. Acesso em:
21/08/2012.
SHILLUM, Marc. Brands as patterns. In: Contagious, Magazine articles, 21/05/2012.
Disponível em:
http://www.contagiousmagazine.com/2012/05/brands_as_patterns.php. Acesso
em: 28/06/2012.
SILVA, Cícero Inácio da. Especialista em hipertextualidade, George Landow, fala
sobre a escrita na era da internet. In: Revista Trópico - Novo mundo, redes –
depois do hiper, 2001. Disponível em:
http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2471,1.shl. Acesso em: 27/06/2012.
TAPSCOTT, Don & WILLIAMS, Anthony D. Wikinomics: como a colaboração em
massa pode mudar o seu negócio. São Paulo: Nova Fronteira, 2007.
TRIG, Randal. Hypermedia as Integration: Recollections, Reflections and Exhortations
- Keynote Address, Hypertext ’96 Conference Washington DC, March 20, 1996.
155
Disponível em: http://www.workpractice.com/trigg/HT96-keynote/. Acesso:
21/08/2012.