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30 Key words: Communication technologies, terabytes, cloud computing, social networks, Web 3.0, the Internet of things. Descriptores: Information and communications tech- nologies, Online social networks, Communication and technology. Recibido: August 28 th , 2011. Aceptado: October 5 th , 2011. A tecnocultura atual e suas tendências futuras Tem sido freqüentemente lembrado que o último quarto do século 20 não teve precedentes na escala, finalidade e velocidade de sua transformação histórica, de modo que a única certeza para o futuro é que ele será bem dife- rente do que é hoje, e que assim será de maneira muito mais rápida do que nunca. A razão disso tudo está na revolução tecnológica, uma idéia que se tornou rotineira e lugar comum, nestes tempos de tecnocultura. É, de fato, impressionante a aceleração das transformações dos meios tecnológicos de produção de linguagens e de comunicação. Desde a invenção da fotografia, já alcan- çamos a quinta geração de tecnologias comunicacionais. Este trabalho tem por objetivo apresentar brevemente essas cinco gerações tecnológicas, a saber, as Tecno- logias do reprodutível, trazidas pela revolução eletro- eletrônica, as Tecnologias da difusão, introduzidas pela revolução eletro-eletrônica, as Tecnologias do disponível, próprias da cultura das mídias, as Tecnologias do acesso a partir da revolução digital, e, mais recentemente, as Tecnologias da conexão contínua potencializadas pelos dispositivos móveis. Depois da apresentação de cada uma dessas tecnologias comunicacionais e do modo como elas se misturam na contemporaneidade, este trabalho estará voltado para a discussão das principais linhas de frente das mídias digitais. Current Affairs and Future Trends in Technoculture We often remember the last quarter of the 20th cen- tury as a period of unprecedented changes in terms of the extent, purpose and pace of historical transforma- tion. Thus, the only certainty we have about the future is that it will be very different from our present and that it will run faster than ever. The reason behind all of this is technological revolution, an idea that has become commonplace in the so-called technoculture era. In fact, the transformation speed experienced by technological means of language and communication production is impressive. Since the invention of pho- tography, we have already achieved the 5th generation of communication technologies. This paper aims at introducing briefly the five technological generations we know so far: replay and webcasting technologies, both made possible by the electric-electronic revolu- tion; the make-available technologies that characterize media culture; access technologies developed from the digital revolution; and more recently, the permanent connection technologies made possible by mobile devices. After discussing these and the way they are combined today, the article goes on to discuss main research lines in digital media. Palavras-chave: Tecnologias comunicacionais, tera- bytes, computação em nuvem, redes sociais, Web 3.0, internet das coisas. Search Tags: Informação e tecnologias de comunica- ção, redes sociais online, Comunicação e tecnologia. Recebido: Agosto 28, 2011. Aceito Date: Outubro 5, 2011.

SANTAELLA, Lucia - Tecnocultura

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Livro sobre as tendências atuais da Tecnocultura

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    Key words: Communication technologies, terabytes, cloud computing, social networks, Web 3.0, the Internet of things.Descriptores: Information and communications tech-nologies, Online social networks, Communication and technology.Recibido: August 28th, 2011.Aceptado: October 5th, 2011.

    A tecnocultura atuale suas tendncias futuras

    Tem sido freqentemente lembrado que o ltimo quarto do sculo 20 no teve precedentes na escala, finalidade e velocidade de sua transformao histrica, de modo que a nica certeza para o futuro que ele ser bem dife-rente do que hoje, e que assim ser de maneira muito mais rpida do que nunca. A razo disso tudo est na revoluo tecnolgica, uma idia que se tornou rotineira e lugar comum, nestes tempos de tecnocultura. , de fato, impressionante a acelerao das transformaes dos meios tecnolgicos de produo de linguagens e de comunicao. Desde a inveno da fotografia, j alcan-amos a quinta gerao de tecnologias comunicacionais. Este trabalho tem por objetivo apresentar brevemente essas cinco geraes tecnolgicas, a saber, as Tecno-logias do reprodutvel, trazidas pela revoluo eletro-eletrnica, as Tecnologias da difuso, introduzidas pela revoluo eletro-eletrnica, as Tecnologias do disponvel, prprias da cultura das mdias, as Tecnologias do acesso a partir da revoluo digital, e, mais recentemente, as Tecnologias da conexo contnua potencializadas pelos dispositivos mveis. Depois da apresentao de cada uma dessas tecnologias comunicacionais e do modo como elas se misturam na contemporaneidade, este trabalho estar voltado para a discusso das principais linhas de frente das mdias digitais.

    Current Affairs and Future Trends in Technoculture

    We often remember the last quarter of the 20th cen-tury as a period of unprecedented changes in terms of the extent, purpose and pace of historical transforma-tion. Thus, the only certainty we have about the future is that it will be very different from our present and that it will run faster than ever. The reason behind all of this is technological revolution, an idea that has become commonplace in the so-called technoculture era. In fact, the transformation speed experienced by technological means of language and communication production is impressive. Since the invention of pho-tography, we have already achieved the 5th generation of communication technologies. This paper aims at introducing briefly the five technological generations we know so far: replay and webcasting technologies, both made possible by the electric-electronic revolu-tion; the make-available technologies that characterize media culture; access technologies developed from the digital revolution; and more recently, the permanent connection technologies made possible by mobile devices. After discussing these and the way they are combined today, the article goes on to discuss main research lines in digital media.

    Palavras-chave: Tecnologias comunicacionais, tera-bytes, computao em nuvem, redes sociais, Web 3.0, internet das coisas.Search Tags: Informao e tecnologias de comunica-o, redes sociais online, Comunicao e tecnologia.Recebido: Agosto 28, 2011.Aceito Date: Outubro 5, 2011.

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    Palabras clave: Tecnologas comunicacionales, tera-bytes, computacin en nube, redes sociales, Web 3.0, Internet de las cosas.Descriptores: Tecnologas de la informacin y la comunicacin, Redes sociales en lnea, Comunicacin y tecnologa.Recibido: Agosto 28 de 2011.Aceptado: Octubre 5 de 2011.

    La tecnocultura actualy sus tendencias futuras

    Los ltimos 25 aos del Siglo XX fueron un perodo sin precedentes en cuanto a la magnitud, finalidad y velocidad de transformacin histrica. As, nuestra nica certeza es que nuestro futuro ser muy distinto de nuestro presente y que todo cambio ser aun ms rpido. La razn es la revolucin tecnolgica, una idea que se ha vuelto comn en esta era de la tecnocultura. La aceleracin de las transformaciones experimen-tadas por los medios tecnolgicos de produccin de lenguajes y de comunicacin es impresionante. Desde la invencin de la fotografa, ya hemos alcanzado la quinta generacin de tecnologas comunicacionales. Este trabajo tiene como objetivo presentar brevemente esas cinco generaciones tecnolgicas: las tecnologas de lo reproducible, marcadas por la revolucin elctrico-electrnica; las tecnologas de la difusin, introducidas por ese mismo elemento revolucionario; las tecnologas de lo disponible, propias de la cultura de los medios; las tecnologas del acceso, desarrolladas a partir de la revolucin digital; y ms recientemente las tecnologas de la conectividad permanente, potencializadas por los dispositivos mviles. Despus de presentar las tecnolo-gas comunicacionales y la manera como se combinan en la contemporaneidad, el artculo pasa a discutir las principales lneas de investigacin en medios digitales.

    Origen del artculoLa investigacin que sustenta la discusin sobre el estado del arte de los medios digitales se desarrolla actualmente en el seno del proyecto de productividad en investigacin, patrocinado por el CNPq (2010-2015), So Paulo, Brasil.

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    Lucia Santaella*

    * Lucia Santaella. Brasilea. Profesora titular de la PUCSP. Doctora en Teora Literaria graduada de la misma universidad en 1973; recibi el ttulo de Doctora en Libre Docencia en Ciencias de la Comunicacin de la ECA/USP en 1993. Coordi-nadora del Posgrado en Tecnologas de la Inteligencia y Diseo Digital. Directora del CIMID (Centro de Investigacin en Medios Digitales) y Coordinadora del Centro de Estudios Peirceanos en la PUCSP. Presidenta honoraria de la Federacin Latinoamericana de Semitica y miembro correspondiente de la Academia Argentina de Bellas Artes. Vice-Presidenta (1089-1999) de la Asociacin Internacional de Semitica y Presidenta (2007) de la Charles S. Peirce Society, E.U.A. Re-cibi los premios Jabuti (2002, 2009 y 2011), Sergio Motta (Lber, 2005) y Luiz Beltro (2010). Ha editado 11 libros y, de su autora, ha publicado 35 libros y cerca de 300 artculos en libros y revistas especializadas en Brasil y en el exterior. Correo electrnico: [email protected]

    A histria, a economia, a poltica, a cultura, a percepo, a memria, a identidade e a experincia esto todas elas hoje mediadas pelas tecnologias digitais. Estas penetram em nosso presente no s como um modo de participao, mas como um

    A tecnocultura atuale suas tendncias futuras

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    Lucia Santaella | A tecnocultura atual e suas tendncias futuras

    princpio operativo assimilado produo humana em todas as suas reas.

    Para se ter uma idia da assombrosa acele-rao do ritmo de transformaes tecnolgicas, hoje voltadas intensamente para a produo de linguagens, de cultura e de expanso da intelign-cia coletiva, tenho repetidamente chamado ateno para o fato de que, desde a crise da hegemonia da era de Gutenberg, no incio do sculo XIX, estamos agora, em menos de dois sculos, em plena travessia da quinta gerao de tecnologias de linguagem, conforme ser visto a seguir1.

    Cinco geraes de tecnologias de linguagem

    Tecnologias do reprodutvel

    Produzidas com o auxlio de tecnologias eletro-mecnicas, as linguagens da era da reprodutibili-dade tcnica -- jornal, foto e cinema -- lanaram as sementes da cultura de massas cujo pblico receptor aflorava nas metrpoles que despontavam como frutos da exploso demogrfica.

    Tais tecnologias introduziram o automatismo e a mecanizao da vida, tanto nas fbricas em que respondiam com eficincia acelerao da produo de mercadorias, quanto nas cidades cujo ritmo, sob a luz das redes de eletricidade recm inauguradas, anunciava os novos tempos em que os espetculos da novidade, da publicidade, da moda, da sofisticao e do luxo passariam a alimentar os prazeres fugazes do consumo.

    Bem distintos so os modos de produo, transmisso e recepo das linguagens que foram introduzidas pelas tecnologias eletro-eletrnicas.

    Tecnologias da difuso

    Assim que entraram no mercado da indstria cul-tural, o rdio e a televiso comearam a se alastrar a passos largos. O gigantismo de sua penetrao adveio no apenas da sua expanso no espao, mas, sobretudo, do seu poder de difuso, que respon-svel pela ascenso da cultura de massas e que se tornou mais agudo com a transmisso via satlite.

    Tecnologias do disponvel

    As tecnologias do disponvel, que fizeram emergir o que tenho chamado de cultura das mdias, so tecnologias de pequeno porte, ou mesmo gadgets, feitas para atender a pblicos especficos e at mesmo para escolhas individuais, como nas redes de televiso a cabo, no vdeo cassete, nas mquinas de xrox etc. Por isso, elas fazem germinar uma ecologia cultural que se distingue da lgica que comanda a comunicao de massa, assim como se distingue da cultura digital atual.

    Tecnologias do acesso

    A histria da evoluo do computador envolve projeto, memria, linguagem, circuito lgico, programas e alguns dispositivos, entre os quais se destacam os que permitiram a convergncia dos computadores com as telecomunicaes. O que caracteriza as tecnologias do acesso o advento da internet, um universo de informao que cresce ao infinito a passos largos e se coloca ao alcance da ponta dos dedos. Acesso o trao mais marcante desse espao virtual que nos traz um fluxo de linguagem multimdia incessante, cujas principais caractersticas so a mutao e a multiplicidade.

    Os sistemas da internet esto em constante mutao devido constante atualizao dos dados. So, por isso, tecnologias da inteligncia que alteram completamente as formas tradicionais de armazenamento, manipulao e dilogo com as informaes.

    Tecnologias da conexo contnua

    Na medida em que a comunicao entre as pessoas e o acesso internet comearam a se desprender dos filamentos de suas ncoras geogrficas modems,

    1. Uma verso mais detalhada dessas geraes tecnolgi-cas e processos de comunicao que instauram pode ser encontrada em Linguagens lquidas na era da mobilida-de, Santaella, Lucia, So Paulo: Ed. Paulus, 2007.

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    Signo y Pensamiento 60 Eje Temtico | pp 30 - 43 volumen XXX enero - junio 2012

    cabos e desktops espaos pblicos, ruas, parques e todo o ambiente urbano foram adquirindo um novo desenho que resulta da conexo internet enquanto a vida vai acontecendo. Assim, essa quinta gerao de tecnologias comunicacionais, a da conexo contnua, constituda por uma rede mvel de pessoas e de tecnologias nmades que operam em espaos fsicos no contguos.

    Importante lembrar que nenhuma tecnologia da comunicao borra ou elimina as tecnologias anteriores. Elas se juntam na composio intrin-cadssima de uma cultura hiperhbrida. A cultura, que caracteriza o nosso tempo, nasce da mistura de todas as formas de cultura, inclusive das formaes culturais (oral e escrita) anteriores ao aparecimento dessas geraes tecnolgicas, de modo que todas elas esto hoje interconectadas.

    Tendo essa introduo como pano de fundo, o propsito deste artigo colocar nfase no ponto de mutao em que a revoluo digital encontra-se hoje para, ao final do artigo, apresentar algumas tendncias que apontam para um futuro prximo.

    Linhas de frente das mdias digitais

    No estado atual da arte, so vrias as linhas de frente das mdias digitais: o estgio dos terabytes e petabytes, a computao em nuvem, a Web 3.0, a era da conexo onipresente e da mobilidade con-tnua, a computao ubqua, pervasiva, sensiente.

    O estgio dos petabytes

    O crescimento do volume informacional das redes desmedido. Estamos decididamente na era dos petabytes que, em grego, quer dizer monstro.

    At o final dos anos 1980, os computadores domsticos tinham um nico disco rgido com uma capacidade de 20 megabytes (cada megabyte tem um milho de bytes). Cinco anos depois, essa medida subiu para 80. Poucos anos depois, s o sis-tema operacional j exigia essa medida. Em 2005, a capacidade do computador j alcanava centenas de gigabytes, composto por mil megabytes. Com a chegada dos grficos, videos, msicas, programas

    para tratamento de imagens e aplicaes para editorao, visando aumentar o desempenho da mquina ou para back up etc., usurios comearam a instalar conjuntos de discos independentes, que trabalham juntos como uma nica unidade de armazenamento. Esse conjunto pode facilmente superar a capacidade de um terabyte. A quantidade astronmica e tende a aumentar.

    A computao em nuvem (cloud computing)

    O princpio da Cloud Computing deriva da Computao em Grade (Grid Computing), cuja proposta nos anos 90, estava alicerada na utili-zao de recursos computacionais disponveis e no utilizados que participavam de uma rede. No incio, para usufruir desses recursos da rede, o ser-vidor precisava ser cadastrado para fazer parte do grupo que, por sua vez, fazia parte da grade. Para isso, muitas informaes deviam ser fornecidas e comprometidas com diversas regras e protocolos. Isso tornava a utilizao desses recursos bastante trabalhosa para os usurios domsticos. Embora algumas grandes corporaes tivessem tentado impulsionar a Grid Computing, as tentativas no foram amplamente aceitas.

    Para alavancar a Grid Computing, algumas grandes empresas de tecnologia tais como Google, IBM e Microsoft mudaram a forma de utilizao

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    Lucia Santaella | A tecnocultura atual e suas tendncias futuras

    da Grid, oferecendo servio de computao que pago apenas por aquilo que se usa. Esse tipo de servio foi rapidamente aceito pelos usurios domsticos e corporativos, uma iniciativa que transformou a Grid Computing em Cloud Com-puting. Esta baseada na utilizao de memria, armazenamento e clculos computacionais nos servidores por meio do compartilhamento e da interligao da internet, acessvel atravs de servi-os oferecidos na Web (Koo, 2011).

    Assim, a expresso computao em nuvem indica que a computao, voltada para servios prestados ao usurio, est mudando de rumo devido possibilidade de utilizao de compu-tadores menos potentes que podem se conectar Web e utilizar todas as ferramentas online, como por exemplo, o Google Docs, Gmail e o Photoshop da Adobe na verso Web. Com isso, o computa-dor passa a ser simplesmente uma plataforma de acesso s aplicaes, que estariam em uma grande nuvem a Internet.

    O mundo empresarial j est migrando para a computao em nuvem, pois esta permite o des-locamento da computao e do armazenamento, de fora de uma empresa para dentro da nuvem. O usurio define os requisitos de recurso (como necessidades de computao e rede de longa distncia, ou WAN, ou de largura de banda), e o provedor de nuvem monta virtualmente esses

    componentes dentro de sua infraestrutura. No vai demorar muito para que, das empresas, a computao em nuvem venha a fazer parte do cotidiano de qualquer usurio.

    Da Web 1.0 3.0

    De acordo com Koo (2011), as caractersticas da Web 1.0 podem ser resumidas nos seguintes itens:

    a. O computador pessoal torna-se popular.b. Os aplicativos de produtividade de usurios

    so ferramentas de uso dirio.c. O Windows se firma como sistema amigvel

    para o usurio final.d. A computao grfica utilizada por leigos.e. As redes de comunicao deixam de ser de

    uso exclusivo de governos e empresas e o seu uso estende-se a pessoas fsicas.

    f. Inicia-se a migrao do analgico para o digital.

    g. O comrcio eletrnico toma o primeiro impulso.

    h. O comrcio eletrnico sofre um revs com o estouro da bolha do e-Commerce.

    i. A telefonia mvel ganha momentum.

    Desse modo, a Web 1.0 caracterizava-se pela conexo das informaes, cuja implementao tecno-lgica mais representativa era indicada pelos portais corporativos, portais de contedo, mecanismos de busca, websites, PIM (Personal Information Manager), PDAs, bases de dados e servidores de arquivos.

    Ainda segundo Koo (ibid.), enquanto a Web 1.0 centrou-se no contedo fornecido por uma pequena populao que dominava as tcnicas das pginas estticas, a Web 2.0 passou a ter o foco no usurio. Por isso, suas aplicaes tm democrati-zado a web por meio da priorizao dos contedos gerados e mantidos pela conectividade social. As inovaes tecnolgicas e fatos que acompanharam e/ou viabilizaram a Web 2.0 so:

    a. Tecnolgicas de conexo Banda Larga Popular.

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    Signo y Pensamiento 60 Eje Temtico | pp 30 - 43 volumen XXX enero - junio 2012

    b. Redes sociais.c. Aparelhos mveis Always On Conexo

    Permanente.d. Convergncia digital.e. Decolagem do Comrcio Eletrnico.f. Outras tecnologias agregadoras da Web,

    enriquecedoras da experincia do usurio.g. cloud computing - computao em nuvens.h. Aprendizagem digital.

    a conectividade entre pessoas que carac-teriza a Web 2.0 cujas tecnologias bsicas so o groupware, as Wikis, os Weblogs, os portais de comunidades, o leilo eletrnico, a instant messaging e, certamente, as redes sociais que so as meninas dos olhos da Web 2.0. Enquanto os verbos caractersticos da Web 1.0 eram disponibi-lizar, buscar, ter acesso e ler, na Web 2.0, as novas palavras de ordem so expor-se, trocar, colaborar em atividades de interao que encontram suas bases em princpios de confiana e de compar-tilhamento. Esses princpios expandiram-se

    remarcavelmente com o desenvolvimento das redes sociais na internet (ver Santaella, 2010; Santaella e Lemos, 2010). Estas so uma categoria de softwares sociais com aplicao direta para a comunicao mediada por computador. So elas: fotologs (Flickr e Fotolog), ferramentas de micromessaging (Twitter e Plurk), sistemas como o Orkut e o Facebook e outras menos populares.

    Algumas delas tm caractersticas mais tpicas do que outras, no entanto, todas tm um mesmo atributo: membros que so participantes cadastra-dos por meio de um processo de fornecimento de informaes pessoais, sendo que umas requerem aprovao para ingresso e outras no. Em junho de 2011, o Google lanou a verso beta do Google+que uma rede social com caractersticas bastante peculiares as quais sero mencionadas mais frente.

    Embora todas as redes sociais sejam programas que existem para facilitar e mesmo encorajar a participao dos usurios, por meio de interfaces dialogveis, podendo inclusive ser mantidos pelo sistema e no necessariamente pelas interaes, o que preciso levar em conta que as redes so constitudas pelos participantes que delas se utili-zam, pois, sem eles, as redes no poderiam existir. Recuero (2009) dividiu os sites de redes sociais em sistemas que permitem:

    a. a construo de uma persona atravs de um perfil ou pgina pessoal,

    b. a interao atravs de comentrios e c. a exposio pblica da rede social de cada ator.

    Essa diviso no excludente, pois h sites que incorporam mais do que uma dessas propriedades. Quando aplicou o conceito de capital social aos sites de redes sociais, Recuero (ibid., p. 109) explicitou os valores que so construdos nesses ambientes. No que diz respeito ao capital social relacional, esses sites constroem, mantm e amplificam a visibilidade social das conexes e mais do que a confiana, a reputao como valor implica no fato de que h informaes sobre quem somos e o que pensamos, que auxiliam outros a construir, por

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    Lucia Santaella | A tecnocultura atual e suas tendncias futuras

    sua vez, suas impresses sobre ns. Outro valor o da popularidade. No Twitter, por exemplo, ela pode ser medida pelo nmero de seguidores. Nos Weblogs, ela se relaciona ao nmero de comentrios e quantidade das visitas. Alm da popularidade, existe tambm o valor da autoridade, relacionado reputao e ao capital social conector.

    O fervilhamento das redes sociais vem sendo acompanhado por uma multiplicidade de dispositivos oferecidos ao mercado que tm acesso internet, o que marginalizou a plataforma PC como o nico e principal meio de navegar na Web. Os smartphones, tablets, TV s inteligentes, automveis etc. tm conexes com o mundo Web por meio de plugin ou driver (suporte especfico) para vrios tipos de dispositivos. Os respons-veis pela substituio paulatina dos desktops so tambm os navegadores atuais. Graas a eles, podemos redigir um documento e compartilh-lo imediatamente com nossa comunidade virtual, assim como podemos, em seguida ou simulta-neamente, assistir a um vdeo para, logo depois, sem fechar o navegador, acessar os e-mails e bater um papo na pgina da rede social que est aberta ao lado. A convergncia dos dispositivos no est apenas nas conexes entre si que eles estabelecem, como tambm nas funcionalidades. Notebooks, tablets, smarphones e TV s digitais passam a apresentar funes semelhantes: acesso Web, capacidade de armazenamento, tratamento de imagens, aplicaes de conexo a rede sociais etc. (Koo, 2011).

    Em plena exploso das redes sociais, acom-panhada de todas essas novidades que no cessam de aparecer, a Web 2.0 j comea a se imiscuir com a 3.0, a Web semntica aliada inteligncia artificial por meio da qual a rede deve organizar e fazer uso ainda mais inteligente do conhecimento j disponibilizado online.

    As pessoas no precisaro mais refinar os termos da pesquisa. A Web 3.0 poder fazer isso sozinha, ou seja, o motor de busca ir estreitar a pesquisa at o ponto de oferecer ao usurio o que ele realmente quer. So motores de busca que no se limitam a recolher e apresentar os

    dados que andam dispersos pela Internet, mas antes so capazes de processar essa informao, filtrando e interpretando os resultados para produzir respostas concretas. Isso nos afastar das pesquisas por palavras-chave, pois a Internet deixar de ser um mundo de documentos para ser um mundo de dados que descrevem dados. Extrados da Web, os dados sero apresentados de modo estruturado. Alm disso, as pginas podero ser lidas no s por pessoas, mas tam-bm por mquinas. Outro aspecto da Web 3.0 o uso de grficos animados, udio e vdeos de alta definio, 3D, e muito mais, tudo isso dentro do browser. Enfim, a Web 3.0 no uma mera promessa. J est batendo porta.

    O conceito de Web 3.0 formulado, por exemplo, por OReilly (2007) Spivack (2007, 2009) e Wheeler (2010). As Webs 1.0 e 2.0 so Webs sintticas, ou seja, as pginas so acessadas apenas pelo mecanismo de que a linguagem dispe. Para achar a informao que buscamos, so usadas apenas as palavras que constam nas pginas procuradas, sem se recorrer a descries adicionais (por exemplo, tags2) que interpretam os significados das palavras. J a Web 3.0 semntica porque as pginas na Web so acessadas a partir do seu significado e no apenas pelas palavras literais (Koo, 2011).

    Segundo Morais e Soares (2006, p. 5), a arquitetura da Web semntica estruturada em trs principais componentes: Esquema, Ontolo-gia e Lgica. O componente Esquema define e estrutura os dados e tem tambm a funo de descrev-los para expressar o seu significado. Isso requer linguagens e tcnicas padronizadas para que a descrio e o contedo sejam inteligveis para os outros componentes. O componente

    2. So marcaes nas palavras, figuras que adicionam sig-nificado ou as categorizam.

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    Signo y Pensamiento 60 Eje Temtico | pp 30 - 43 volumen XXX enero - junio 2012

    Ontologia tem a funo de definir formalmente termos e conceitos, sendo semelhante s fun-es de um tesauro. As ontologias permitem expressar regras permitindo a um programa deduzir significados da informao guardados no documento, ou seja, permitem manipular os termos de uma maneira mais til e eficiente. No componente Lgica, realizada a inferncia do significado da informao a partir dos docu-mentos e o mundo real em que foi feita a busca, tomando como base os termos j consolidados no componente Ontologia.

    Os estudiosos do tema convergem na consi-derao da Web 3.0 como:

    a. Web semntica, b. crowdsourcing ou produo colaborativa

    mediada pela Web, c. plataformas de redes sociais mais sofisticadas, d. tecnologias de mobilidade e Cloud Computing e e. Web como espao de mediao de servios.

    Nessa medida, a Web semntica pode ser vista sob quatro perspectivas diferentes:

    a. um avano da internet de hoje (2.0), b. uma tecnologia de metadados para software

    de negcios,c. um movimento social pr dados open-source,d. uma nova gerao de inteligncia artificial.

    Para tornar essas abstraes mais palpveis, pensemos em uma plataforma como o Google. Ela capaz de rastrear redes em cooperao com servios de Cloud Computing, incluindo reconhe-cimento de voz, aplicao de localizao (geo-posi-cionamento como GPS3) e os subsistemas que so aperfeioados medida que so usados. Trata-se, sem dvida, de uma rede que nitidamente ganhou inteligncia. Seu ltimo lanamento, o Google+, pode ser usado como um exemplar da Web 3.0. Seno, vejamos.

    O Google coletou as experincias das redes sociais (incluindo o seu produto Orkut) e projetou uma nova plataforma de rede social, o Google+,

    que, segundo a avaliao inicial dos analistas, est um degrau acima das plataformas existentes (Facebook, Twitter, MySpace, Orkut, dentre outras). Isso se d especialmente em funo da otimizao dos mecanismos de busca, o que aproxima o Google+ da Web semntica. Por ser um agregador de todos os servios debaixo do seu guarda-chuva, Google Search, Google Docs, Google Maps, Google Books, Gmail, Orkut, o Google enriquece em muito o perfil do usurio, o Google Profile. Conforme Koo (2011), isso define, claramente, a linha divisria entre a Web 2.0 e a Web 3.0, fazendo do Google+ um produto 3.0, com um conjunto de funcionalidades mais rico e, ao mesmo tempo, dotado de capacidade para criar as bases slidas para serem usadas pelos agentes inteligentes da camada Lgica da arquitetura da Web Semntica.

    3. O sistema de posicionamento global (GPS) foi autori-zado pelo Congresso dos Estados Unidos em 1973 e operado pelo departamento de defesa dos Estados Uni-dos. Os instrumentos envolvidos nesse sistema so um anel de 24 satlites que circundam a Terra de modo tal que, pelo menos quatro deles, so visveis de qualquer ponto no globo em qualquer momento. O sistema tem sido usado para a navegao de veculos, mas encon-trou seu caminho tambm na internet mvel, quando o grupo de satlites usado para localizar a posio de um usurio.

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    Lucia Santaella | A tecnocultura atual e suas tendncias futuras

    Mdias mveis e a internet de lugares e coisas

    Alm da Web 2.0 e 3.0, a cultura da mobilidade, baseada nos dispositivos mveis, aliados ao sis-tema de posicionamento global (GPS), j comea a render frutos. Antes mesmo da exploso dos dispositivos mveis, Castells (1996, ver tambm 2003) j argumentava que o universo digital parte integrante da organizao material, econ-mica, poltica das sociedades, sendo inclusive determinante nessa organizao e significativa de sua real existncia. Essa integrao vem rece-bendo um novo impulso recentemente com os aparelhos mveis que permitem encontros com a tecnologia em situaes sociais distintas, que criam a necessidade de entender os contextos e que nos do a habilidade de transformar o espao pela introduo da tecnologia. Essas questes vm sendo incrementadas pelos projetos variados de mdias locativas. Andr Lemos (2011, p. 130) nos fornece uma definio clara de mdias locativas:

    Um conjunto de processos e tecnologias [que]

    se caracteriza por emisso de informao digital a

    partir de lugares/objetos. Esta informao pro-

    cessada por artefatos sem fio, como GPS, telefones

    celulares, palms e laptops em redes Wi-Fi ou Wi-Max,

    Bluetooth, ou etiquetas de identificao por meio de

    rdio freqncia (RFID4). As mdias locativas so

    utilizadas para agregar contedo digital a uma loca-

    lidade, servindo para funes de monitoramento,

    vigilncia, mapeamento, geoprocessamento (GIS),

    localizao, anotao ou jogos. Dessa forma, os

    lugares e objetos passam a dialogar com dispositivos

    informacionais, enviando, coletando e processando

    dados a partir de uma relao estreita entre infor-

    mao digital, localizao e artefatos digitais mveis.

    A computao mvel e pervasiva (compu-tadores em todos os lugares) a chave para a compreenso das mdias locativas. No processo, o uso de sistemas de informao geogrfica (GIS) espalhou-se das corporaes e escritrios para as ruas e os campos, da administrao pblica e ambiental para um largo espectro de usos sociais. Desse modo, um dos mais profundos desafios das mdias locativas est em transmitir informao geogrfica no mais nas tradicionais e pesadas janelas dos desktops, mas nas tecnologias finas e leves dos sistemas mveis e embarcados.

    Alm dos sistemas de informao geogr-fica (GIS) e das tags de identificao de rdio freqncia (RFID), a linguagem de marcao de geografia (GML-geographic markup language5), e o sensoriamento ambiental distribudo podem ser utilizados nas estratgias das mdias locativas, tambm conhecidas como mdias tticas, na medida em que tratam o contexto como meio dinmico de produo de atividades engajadas e no meramente como um arranjo preexistente de

    4. RFID um mtodo automtico identificador de rdio fre-qncia que se baseia no arquivamento e recuperao de dados remotos utilizando os recursos das tags. Uma tag de RFID uma etiqueta que pode ser incorporada a um produto, animal ou pessoa.

    5. Definida pelo Consrcio Geoespacial Livre, a GML utiliza XML para exprimir caractersticas geogrficas. Pode servir de linguagem de modelao para sistemas geogrficos e como um formato aberto para troca de informao geogrfica. A marcao de dados um conceito recente e envolve a codificao simples de seqncias de dados em um arquivo de computador no formato texto-puro, ou seja, capaz de ser lido tanto por pessoas quanto por mquinas. Para esse fim, a linguagem mais utilizada atu-almente a XML e suas variantes.

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    destinaes. So tticas porque buscam a produo do sentido, mesmo quando uma posio estrat-gica negada.

    De fato, as mdias locativas esto criando opor-tunidades para se repensar e re-imaginar o espao cotidiano. Embora conectados imaterialidade das redes virtuais de informao, no poderia haver nada mais fsico do que GPS e sinais de Wi-Fi que trazem consigo outras maneiras de pensar o espao e o que se pode fazer nele. Uma nova espaciali-dade de acesso, presena e interao se anuncia: espacialidades alternativas em que as extenses, as fronteiras, as capacidades do espao se tornam legveis, compreensveis, prticas e navegveis, possibilitando, sobretudo, prticas coletivas que reconstituem os modos como nossos encontros com lugares especficos, suas bordas e nossas respostas a eles esto fundadas social e culturalmente.

    Tanto quanto espao e lugar, outro conceito que as mdias locativas esto trazendo para o topo das consideraes o conceito de objeto que, na linguagem corrente, chamamos de coisas.

    Em 2004, o relatrio da internet da Unio de Telecomunicao Internacional6, com o ttulo de Internet das coisas e com toda a seriedade, detectava um futuro para a internet que cada vez mais est se consumando. O documento cita as palavras de Mark Weiser, falecido ex-cientista chefe do Centro de Pesquisa da Xrox em Palo Alto: as tecnologias mais profundas so aquelas que desaparecem. Elas se entretecem no tecido da vida cotidiana at se tornarem indistinguveis dele. Weiser estava ser refe-rindo a disponibilizao crescente e visibilidade decrescente do poder de processamento. Por meio de dispositivos dedicados, os computadores vo gradati-vamente sumir da nossa vista, enquanto as habilida-

    des de processamento de informao vo emergir por todo o ambiente circundante. Com a capacidade de processamento de informao integrada, os produtos vo possuir habilidades de inteligncia. Eles podero tambm adquirir identidades eletrnicas que podem ser pesquisadas remotamente ou serem equipados com sensores para detectar mudanas fsicas no seu entorno. Objetos estticos e mudos tornar-se-o seres dinmicos e comunicantes, incrustando inteligncia nos ambientes. No momento em que os objetos se tornarem inteligentes, o mundo das coisas e o mundo humano estaro se comunicando sob condies inditas.

    O documento preconiza que tecnologias como RFID e computadores inteligentes prometem um mundo de dispositivos interconectados em rede que fornecero contedo relevante e informao para qualquer lugar em que o usurio esteja. Qualquer coisa, da escova de dentes ao pneu do carro, entrar em faixas comunicacionais, anun-ciando o alvorecer de uma era em que a internet de hoje, de dados e de pessoas, conviver com a internet das coisas. Essa ser uma sociedade de redes ubquas cujos dispositivos sero onipresentes. Germens dessa sociedade j se fazem sentir nas aplicaes da terceira gerao de telefones mveis que vem trazendo servios de internet para o bolso dos usurios. O que dizer, entretanto, se muito mais do que isso fosse conectado s redes: um carro, uma frigideira, uma xcara de ch? conexo de pessoas em qualquer tempo e em qualquer lugar, somar-se- a conexo de objetos

    6. Ver http://www.itu.int/osg/spu/publications/internetof-things/

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    inanimados s redes de comunicao. O uso de tags eletrnicas (por exemplo, RFID) e sensores serviro para estender o potencial comunicacional e de monitoramento da rede das redes, assim como a introduo de poder computacional em coisas cotidianas, como lminas, sapatos e sacolas avisando, por exemplo, que a chave da casa foi esquecida. Avanos na nanotecnologia (manipu-lao da matria em nvel molecular) iro acelerar esses desenvolvimentos. Estes so os prenncios do documento. Embora soe ficcional, o mundo que nele se apresenta j comea a se insinuar nos projetos de mdias locativas.

    Colocar geotags nos objetos, de modo que esses objetos nos contem suas histrias, leva-nos a conhecer sua genealogia, seu enraizamento na matriz de produo. Estamos entrando, portanto, em um mundo em que, por estarem ligados a chips inteligentes, os objetos vo se tornar sen-cientes, quer dizer, conscientes das impresses dos sentidos, o que nos trar a possibilidade de um engajamento mais ativo entre o corpo, a cidade, os lugares e as coisas.

    Evidentemente no se trata de proclamar aqui, sobre as tecnologias mveis, uma segunda verso do evangelho salvacionista do ciberespao que dominou nos anos 1990. Os projetos de mdias locativas devem ser avaliados luz de contextos mais vastos da vida cotidiana, dos espaos pblicos urbanos e, sobretudo, dos sistemas de controle e vigilncia de que essas mdias fazem uso. De todo modo, uma coisa certa. Vivemos em um mundo que nos coloca diante do desafio e mesmo da obrigao de distendermos o arco da reflexo analtica e crtica com ateno no olhar e muita energia mental.

    Tendncias para um futuro prximo

    A excelente prospeco elaborada por Koo (2011) ser aqui tomada como base para o apontamento das tendncias futuras apresentadas a seguir.

    O territrio Web ver crescer cada vez mais a MetaWeb, rede de inteligncias, sejam estas inteli-gncias humanas, artificiais, pessoais, coletivas ou hbridas. Segundo Steve Wheeler, a rede ter as seguintes caractersticas:

    a. comunidades descentralizadasb. mercado inteligentec. mente corporativad. mente grupale. rede de conhecimentof. Web de relacionamentog. Lifelogsh. Weblogs semnticosi. crebro global

    A essa lista, Koo (ibid.) acrescenta: (j) inte-ligncia aumentada e (h) servios inteligentes, considerando tambm que, da Web semntica, caminhamos para uma Web pragmtica. Nesta, as pginas no sero acessadas somente por seu signi-ficado, mas tambm por sua utilizao, como, por exemplo, pelas caractersticas dos grupos sociais e polticos de que o usurio participa, ou pelo perfil de pesquisa acadmica a que pertence etc. Alm disso, em uma perspectiva de cinco anos, para Koo (ibid.) podem-se esperar as seguintes tendncias:

    A rede social ganhar um impulso maior com a adeso crescente de todas as faixas sociais e et-rias. Com isso se discutiro muito mais os aspectos ticos e os sistemas de controle. Os problemas de privacidade e a liberdade de expresso ganharo destaques cada vez maiores e os legisladores sero os protagonistas nesse cenrio.

    Os dispositivos sero cada vez mais poderosos nos aspectos de usabilidade (com aumento expo-nencial dos aplicativos). Em especial, os aparelhos mveis sero ainda mais sofisticados do que hoje. A convergncia das mdias estar presente na maioria dos aparelhos celulares que, por sua vez, deixaro

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    definitivamente de ser um mero telefone mvel para assumir o papel de principal conector do indivduo com a sociedade. A tela sensvel ao toque ser um item obrigatrio para os smartphones e os aplicativos de rede social sempre estaro presentes.

    A banda larga passar a ser uma das princi-pais mtricas da qualidade de infraestrutura de um pas, porque, por meio dela, sero viabilizadas as principais atividades da sociedade, como, edu-cao, lazer, cultura, comrcio etc.

    A tecno-sustentabilidade ser um dos temas mais exigidos tanto para as empresas, setores publicos, como para as organizaes no gover-namentais. O uso das tecnologias verdes ser pr-requisito dos fabricantes assim como das compras pblicas.

    A conscincia da necessidade de se usar a tec-nologia, estar conectado, porm com desconexo consciente, passar a ser um item obrigatrio para a garantia do equilbrio psquico e mesmo fsico.

    Previses so sempre arriscadas no universo movedio das sociedades lquidas (Bauman, 2000) em que vivemos. Alis, a imponderabilidade uma das caractersticas mais marcantes da cultura miditica digital. Seja qual for o impondervel, uma concluso parece estar bem prxima da certeza: as tecnologias da inteligncia vieram para ficar, crescer e se multiplicar, pois a inteligncia, como a vida, no pode parar de crescer.

    Referncias

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