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ADAPTAÇÃO DE LOCOMOTIVAS SD 40 PARA BITOLA MÉTRICA Menção Honrosa no III Prêmio Amsted Maxion de Tecnologia Ferroviária; trabalho apresentado no seminário técnico no Negócios nos Trilhos – Encontrem 2005, outubro de 2005, São Paulo. Autor: Amélio Luiz Mandelli, CVRD. E-mail: [email protected] RESUMO Desenvolvemos este trabalho com o intuito de documentar as soluções utilizadas na adaptação de bitola standard para bitola métrica das locomotivas GM SD 40. Descrevemos inicialmente as modificações básicas desenvolvidas nos truques, no chassi das locomotivas. Devido à dificuldade de obedecer ao gabarito estabelecido para as ferrovias se fez necessária a modificação das cabines, o que também está documentado. A inscrição da locomotiva em curvas de raio da ordem de 60 m, obrigou o desenvolvimento de uma solução para seus engates. A solução é completada com as alterações introduzidas nos sistemas elétricos para garantir um desempenho altamente satisfatório. Finalmente, através da análise dos resultados dos testes de carga e de via realizados podemos mostrar que as adaptações produziram uma locomotiva de alta capacidade de esforço de tração capaz de trafegar em linhas de bitola métrica com curvas de raio fechado e gabarito bastante restrito. Introdução Desde o início das privatizações no Brasil, a crescente necessidade de transporte da demanda de cargas, intensificou a busca por melhores resultados econômicos em toda a área de transportes, principalmente no transporte ferroviário.

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ADAPTAO DE LOCOMOTIVAS SD 40 PARA BITOLA MTRICAMeno Honrosa no III Prmio Amsted Maxion de Tecnologia Ferroviria; trabalho apresentado no seminrio tcnico no Negcios nos Trilhos Encontrem 2005, outubro de 2005, So Paulo.Autor:Amlio Luiz Mandelli, CVRD.E-mail:[email protected] este trabalho com o intuito de documentar as solues utilizadas na adaptao de bitola standard para bitola mtrica das locomotivas GM SD 40.Descrevemos inicialmente as modificaes bsicas desenvolvidas nos truques, no chassi das locomotivas.Devido dificuldade de obedecer ao gabarito estabelecido para as ferrovias se fez necessria a modificao das cabines, o que tambm est documentado.A inscrio da locomotiva em curvas de raio da ordem de 60 m, obrigou o desenvolvimento de uma soluo para seus engates.A soluo completada com as alteraes introduzidas nos sistemas eltricos para garantir um desempenho altamente satisfatrio.Finalmente, atravs da anlise dos resultados dos testes de carga e de via realizados podemos mostrar que as adaptaes produziram uma locomotiva de alta capacidade de esforo de trao capaz de trafegar em linhas de bitola mtrica com curvas de raio fechado e gabarito bastante restrito.IntroduoDesde o incio das privatizaes no Brasil, a crescente necessidade de transporte da demanda de cargas, intensificou a busca por melhores resultados econmicos em toda a rea de transportes, principalmente no transporte ferrovirio.Nas ferrovias que movimentam basicamente carga em grandes volumes, o direcionamento no sentido do total aproveitamento da sua capacidade, formando trens longos que se deslocam a velocidades comerciais elevadas, o que tem levado ao uso de trens cada vez maiores e mais pesados. A opo pelo trem maior demanda por locomotivas de potncia elevada (superior a 3.000hp).Devido legislao americana que obrigou as operadoras locais a substiturem suas frotas por locomotivas mais modernas, at bem recentemente, havia disponibilidade de uma quantidade bastante significativa de locomotivas usadas de potncia elevada, com aproximadamente 20 anos de uso, em territrio americano e canadense.Os escassos recursos financeiros de muitas concessionrias brasileiras, somados as dificuldades para aquisio de locomotivas novas, tais como: no disponibilidade no mercado nacional, custo elevado, longo prazo para fornecimento e definies de projeto (bitola mtrica, gabarito da ferrovia), determinaram que algumas ferrovias brasileiras tomassem a deciso de adquirir parte da frota dessas locomotivas usadas disponveis nos Estados Unidos e Canad.J foram trazidos e adaptados no Brasil os seguintes modelos de locomotivas: B 36, C 30, C 36, SF 30, SD 45 e SD 40, mas somente a SD 40 receber um destaque especial neste artigo.O projeto de adaptao executado nos dois modelos de locomotivas SD 40 (SD40-2 e SD40-2T) requer uma grande interferncia em sua estrutura para acomodao do novo modelo de truques e a observncia do gabarito da ferrovia.Descrio da adaptao da locomotivaAs locomotivas SD 40 trazidas para o Brasil foram fabricadas pela Electro Motive Division da General Motors (EMD - GM) nos Estados Unidos na dcada de 60, em duas verses SD 40-2 e SD 40-2T.Fig. 1 - Locomotiva SD40-2Fig. 2 - Locomotiva SD40-2T

Interpretando a nomenclatura convencionada pela EMD para as locomotivas SD 40, temos: SD - Trabalhos Especiais (SpecialDuty); 40 - 3.000hpde potncia de trao; 2 - controle de excitao e potncia utilizando cartes eletrnicos; 2T - especiais para operao em tneis.Antes de entrarem em operao nas ferrovias brasileiras de bitola mtrica, as locomotivas SD 40 usadas, que estavam operando na bitola standard das ferrovias americanas e canadenses, demandam o conjunto de alteraes/modificaes descritas a seguir.Por atenderem com eficincia as adaptaes propostas, os seguintes equipamentos do projeto original da locomotivo permanecem inalterados: Motor diesel Dispositivos de proteo do motor diesel Gerador de trao Soprador de arrefecimento dos motores de trao e alternador de trao Gerador auxiliar Compressor Distncia entre os dois centro de pioMotores de traoEm funo da bitola mtrica, se fez necessrio substituio dos motores de trao.Os motores de trao GM D77/D87 originais foram substitudos por motores de trao GM D31. de vital importncia utilizao dos 3.000hpdisponveis para trao, que podem ser completamente aproveitados com a utilizao de somente 6 motores de trao do tipo GM D31, no entanto, devido s limitaes: carga por eixo da ferrovia (25ton), carga por eixo do rodeiro utilizado (22,5ton) e peso total da locomotiva (180ton), foi necessria a utilizao de 8 motores de trao, o que produz uma carga por eixo de 22,5ton/eixo.A relao de engrenagem foi adequada para o motor GM D31 (64:13), de modo que o esforo de trao produzido se mantivesse o mais prximo do apresentado pela locomotiva original.TruquesA utilizao de 8 motores de trao GM D31 obriga a substituio dos truques C-C por truques do tipo Bo-Bo.Fig. 3 - Truques C-CFig. 4 - Truques Bo-Bo

Os truques do tipo Bo-Bo so constitudos por dois truques do tipo B articulados por uma travessa, denominada porSpan Bolster.

Fig. 5 -Vista do SpanBolster instalado sobre os truques

O desenvolvimento dos truques Bo-Bo para aplicao de motores de trao GM D31 foi baseado na adaptao dos truques Bo-Bo das locomotivas GE Dash 9. Como os motores de trao GM D31 tm dimenses externas maiores que as dos motores GE 761 empregados nas locomotivas GE Dash 9, foi necessrio aumentar em aproximadamente 200mmo comprimento dos truques B.Por serem articulados, os truques Bo-Bo permitem a inscrio da locomotiva em trechos com raio de curvatura de at 70m, comuns nos traados das centenrias ferrovias brasileiras.Sendo os truques Bo-Bo das locomotivas Dash 9 desenvolvidos para motores GE 761 com rodas de 36, se fez necessria modificaes noSpan Bolsterpara permitir que rodas de 40, utilizadas pelos motores GM D31, fossem utilizadas sem que pegassem na estrutura doSpan Bolsternas condies de curvas fechadas.Componentes do sistema de freio nos truquesO novo modelo de truques requer o desenvolvimento de equipamentos do sistema de freio instalados nos truques como: cilindros de freio, timonerias, ajustadores e rotas das canalizaes.

Fig. 6 - Sistema de freio instalado nos truques

Dutos de ar de refrigerao dos motores de traoAs sadas de ar de refrigerao dos motores de trao na chapa de fundo da plataforma devem ser acrescidas e reposicionadas em funo do nmero de motores de trao e do novo modelo de truque.

Fig. 7 - Vista da sada de ar de refrigerao na chapa de fundo da plataforma

PlataformaA locomotiva tem a plataforma como seu elemento principal, que basicamente constituda de duas vigas longitudinais tipo I e de duas vigas transversais, onde esto localizados os pontos de apoio dos truques (centro de pio). Nas duas extremidades da plataforma so fixados os engates, que transmitem os esforos de trao para os vages. As vigas so unidas na sua parte superior e inferior por chapas, formando uma galeria que utilizada para o transporte do fluxo de ar de arrefecimento dos armrios eltricos e dos equipamentos rotativos eltricos, alternador e motores de trao.Fig. 8 - Montagem das duas vigas longitudinaisFig. 9 - Detalhes da plataforma

A instalao dos truques Bo-Bo sob a locomotiva demanda o alongamento de sua plataforma, tanto na parte dianteira como na parte traseira (em torno de 1.200mm).

Fig. 10 - Esquemtico do alongamento da plataforma

Os alongamentos so realizados com chapas e vigas metlicas, e em seguida as testeiras so retornadas.Fig. 11 - Vista do alongamento da traseiraFig. 12 - Vista do alongamento da dianteira com a testeira

Tanque de combustvelA instalao dos truques Bo-Bo sob a locomotiva e a manuteno da distncia entre os centro de pio, demandam uma reduo no comprimento do tanque de combustvel (em torno de 600mm), atravs de um corte realizado no seu centro.

Fig. 13 - Vista da regio de corte do tanque de combustvel

LastroA troca dos truques e o aumento do comprimento da locomotiva fazem com que seu peso seja aumentado. Para manter o peso original da locomotiva necessrio que parte do lastro instalado durante a fabricao da mesma seja retirada. A retirada do lastro deve ser realizada tendo em conta que a contra-flecha da plataforma deve ser mantida.Aparelho de choque e traoO aparelho de choque e trao da locomotiva original no permite a inscrio da locomotiva em curvas de raio fechado, sendo necessria a sua substituio por um aparelho semelhante ao utilizado na locomotiva DDM 45.Fig. 14 - Aparelho de choque trao originalFig. 15 - Aparelho de choque e trao da DDM 45

A altura do centro dos engates corrigida para a bitola mtrica (750mm), o que exige tambm o reposicionamento da bolsa do engate.

Fig. 16 - Alterao da altura do engateFig. 17 - Reposicionamento da bolsa do engate

Sistema de areeirosCom a substituio dos truques da locomotiva, o sistema de areeiros tambm precisa ser adaptado. Foram instalados novos bicos e canalizaes.

Fig. 18 - Vista dos bicos dos areeiros

CarroariaSobre a plataforma so inseridos os equipamentos protegidos pelas cabines.A carroaria da locomotiva formada pelas cabines. A cabine do operador soldada diretamente na estrutura e as demais removveis para facilitar a retirada dos equipamentos que elas protegem.Em funo do gabarito centenrio das ferrovias, verificou-se que algumas obras de arte determinam que o ponto mximo da altura da locomotiva no pode ultrapassar a 4,70m.Aps a instalao dos truques Bo-Bo foi verificada a necessidade de: Deslocamento da buzina instalada sobre a cabine do maquinista; Deslocamento da antena de radiocomunicao instalada sobre a cabine do maquinista; Retirada do equipamento de ar condicionado instalado sobre a cabine do maquinista; Rebaixamento da tampa superior do compartimento do filtro de inrcia; Deslocamento dos resistores de freio dinmico; Deslocamento e rebaixamento da cabine do radiador de resfriamento do motor diesel;

Fig. 19 - Esquemtico do rebaixamento da locomotiva SD 40-2

Cabine dos radiadores de resfriamentoNas locomotivas SD 40-2, para realizao do rebaixamento da altura dos ventiladores do sistema de resfriamento do motor diesel, necessrio que a cabine dos radiadores de resfriamento seja deslocada para a parte posterior da plataforma em 1.600mme ao mesmo tempo rebaixada em aproximadamente 150mm.Fig. 20 - Vista do deslocamento da cabine dos radiadores de resfriamento da SD 40-2

O rebaixamento da cabine dos radiadores de resfriamento do motor diesel exigiu a modificao do reservatrio traseiro do sistema de areeiros da locomotiva.

Fig. 21 - Vista da modificao do reservatrio traseiro do sistema de areeiros

Resistores de freio dinmicoA dificuldade de rebaixar o compartimento do freio dinmico demandou o deslocamento do conjunto dos resistores de freio dinmico com seus respectivos ventiladores de resfriamento para a parte inferior da cabine dos radiadores de resfriamento do motor diesel.

Fig. 22 - Esquemtico do deslocamento dos resistores de freio dinmico na locomotiva SD 40-2T

Operao em traoO projeto original possui dispositivos para acionamento de apenas seis motores de trao, com ligao do tipo Srie-Paralela e transio para ligao Paralela.Fig. 23 - Ligao Srie-ParalelelaFig. 24 - Ligao Paralela

Com a modificao de seis para oito motores de trao, passou-se a usar somente a ligao do tipo Paralela, todavia, as chaves de transio para a ligao Srie-Paralela no foram eliminadas.

Fig. 25 - Esquemtico da ligao dos oito motores de trao D 31

Aps a definio do tipo de operao (trao ou frenagem dinmica) e o sentido de deslocamento (frente ou r) pelas chaves BKT (Breaking Switch) e reversoras necessrio completar o circuito de modo a conect-lo ao barramento do alternador de trao.Fig. 26 - Contator PFig. 27 - Chave BKT

Os motores de trao so acoplados ao alternador de trao pelos contatores de potncia (P), necessrio para um melhor controle dos motores de trao que seja utilizado um contator de potncia para cada motor, como a quantidade de motor de trao foi alterada, logo foi necessrio alterar a quantidade de contatores de potncia.Com a adio de dois novos motores de trao foi necessrio adicionar dois novos contatores de potncia (P) e fazer alterao nos circuitos complementares desses dispositivos, alm de demandar um aumento e a criao de novas rotas dos cabos que os alimentam.

Fig. 28 - Novas rotas de cabos de alimentao dos motores de trao

A utilizao de oito motores exigiu um aumento da corrente de sada do gerador de trao, sendo necessria modificao do circuito de controle da excitao.Operao em frenagem dinmicaCom a finalidade de no se aumentar o custo da transformao, foi feita opo de no alterar o nmero de resistores de freio dinmico, isto , o nmero foi mantido, mas a configurao foi modificada.

Fig. 29 - Esquemtico da ligao dos oito motores de trao D 31

Em funo da reconfigurao dos resistores do freio dinmico, os circuitos de controle e proteo da frenagem dinmica tambm foram revistos e modificados.AutocargaPor ser muito utilizada pelo pessoal da manuteno para ajuste dos parmetros funcionais da locomotiva, a funo autocarga preservada, mas tambm com modificaes.Fig. 30 - Ligao com seis motoresFig. 31 - Ligao com oito motores

Sistema de controle de patinaoEm funo da reconfigurao dos motores de trao, os circuitos de controle de patinao de rodas tambm foram revistos e modificados.SimulaesAtravs de mtodos computacionais de Elementos Finitos foram realizados estudos para determinao e correo de comportamentos indesejveis da estrutura modificada pelo projeto.

Fig. 33 - Modelamento da estrutura para estudo de Elementos Finitos

Para comprovao da facilidade de inscrio da locomotiva em curvas de raio fechado foram feitas simulaes computacionais e testes de campo.

Fig. 34 - Testes de campo nas condies de curvas fechadas

ConclusesDependendo do tipo da ferrovia, uma anlise do LCC (LifeCostCicle) demonstra que as locomotivas SD 40, mesmo que seja necessria a sua adaptao para a bitola mtrica, se mostra uma soluo competitiva com a aquisio de locomotivas novas de prateleira existente no mercado americano.Curva de esforo de traoO esforo de trao apresentado pela locomotiva modificada semelhante ao desenvolvido pela locomotiva original.

Fig. 35 Curvas de Esforo de Trao x Velocidade

Curva de esforo de frenagem dinmicaO esforo de frenagem apresentado pela locomotiva modificada menor que o desenvolvido pela locomotiva original, mas suficiente para a categoria de servio da ferrovia.

Fig. 36 Curvas de Esforo de Frenagem x Velocidade