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Revista Sísifo v. 1, nº 2, dezembro. Ano 2015 - ISSN: 2359-3121 - www.revistasisifo.com 2ª EDIÇÃO/ANO 2015 www.revistasisifo.com

O Ocidente e seus orientes

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2ª EDIÇÃO/ANO 2015 www.revistasisifo.com

Revista Sísifo – v. 1, nº 2, dezembro. Ano 2015 - ISSN: 2359-3121 - www.revistasisifo.com

Endereço para correspondência / Adress for correspondence: Revista Sísifo Site: www.revistasisifo.com / E-mail: [email protected] Feira de Santana — Bahia —

Brasil

Revista Sísifo – Feira de Santana – v. 1, n. 2 (2015)

Nº 2 – Dezembro 2015 – Ano 2015.

Filosofia – Periódico

Feira de Santana – BA – Brasil

ISSN: 2359-3121

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REVISTA SÍSIFO ANO 2015

www.revistasisifo.com ISSN:2359-3121

EDITORES

Marcelo Vinicius

Yves São Paulo

CONSELHO EDITORIAL

Eduardo Pellejero

Rodrigo Araújo

Rodrigo Ornelas

COLABORADORES

Arturo Fatturi (Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS)

Bruna Torlay (Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS)

Diego Solci Toloy (Faculdade Nobre de Feira de Santana - FAN)

Jaciara Carneiro Rios Almeida (Faculdade Nobre de Feira de Santana – FAN)

José Feres Sabino (Universidade de São Paulo – USP)

Laurenio Sombra (Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS)

Nilo Henrique Neves dos Reis (Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS)

Suany Lima Carneiro Alves (Faculdade Nobre de Feira de Santana – FAN)

Os artigos e demais textos publicados nesta revista (online, PDF ou qualquer outro

meio) são de inteira responsabilidade de seus autores. A reprodução, parcial ou

total, é permitida, desde que seja citada a fonte.

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SUMÁRIO

EDITORIAL

Marcelo Vinicius e Yves São Paulo................................................................................. 3

AINDA SOMOS VULNERÁVEIS

José Feres Sabino............................................................................................................. 5

DA SOCIEDADE DISCIPLINAR À SOCIEDADE DE CONTROLE: a produção

de subjetividade e os novos tipos de servidão

Jaciara Carneiro Rios Almeida, Suany Lima Carneiro Alves e Diego Solci Toloy............................................................................................................................... 10 VINHO, GARRAFAS, SEGREDOS

Nilo Henrique Neves dos Reis........................................................................................ 19

PALAVRAS: as Investigações Lógicas de Ludwig Wittgenstein

Arturo Fatturi.................................................................................................................. 27 ROSNADOS, UIVOS E LATIDOS Bruna Torlay................................................................................................................... 42 O OCIDENTE E SEUS ORIENTES Laurenio Sombra............................................................................................................ 56 SUBMISSÃO................................................................................................................. 64

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ARTIGOS/ENSAIOS

O OCIDENTE E SEUS ORIENTES

Laurenio Sombra*

Texto produzido originalmente a partir de participação no debate “Políticas,

refugiados e religião: Paris está por toda parte”, na Faculdade de Educação da UFBA,

sob a coordenação do professor Nelson Pretto, em 23 de Novembro de 2015.

O ataque do Estado Islâmico na França (Novembro/2015) acentua confronto

cada vez mais frequente de grupos fundamentalistas contra o mundo ocidental. Embora

muitos ataques como esses também tenham ocorrido contra países não ocidentais, o

acontecimento deles (ou a sua mera ameaça) em locais como Estados Unidos, França,

Alemanha, Inglaterra, Itália e outros propiciam repercussão bem maior. Sempre que tais

coisas acontecem, é quase inevitável lembrar do ensaio produzido pelo neoconservador

norte-americano Samuel Huntington, que defendia, já em 1993, que as grandes guerras

contemporâneas tomarão cada vez mais a forma de um “choque de civilizações”

(HUNTINGTON, 1993), especialmente entre o Ocidente e civilizações não ocidentais.

Visões como essas, que acentuam um grande confronto de valores entre Ocidente e não-

Ocidente, podem ser reforçadas de diversos modos. Em coluna de Contardo Calligaris

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na Folha de São Paulo (2015), o psicanalista via o ataque dos terroristas movido por um

grande ressentimento contra o que mais os seduziria: nosso hedonismo, nossa vida cada

vez mais voltada para “esse mundo” e não para um mundo transcendente.

É verdade, por outro lado, que diversos intelectuais, como o palestino Edward

Said (2005), atacaram e argumentaram com veemência e argúcia contra o mito do

“choque de civilizações” e o que há de simplificador em visões como essas. De todo

modo, ele acaba ganhando um efeito descrito na filosofia como performativo[1], isto é,

o que eventualmente parece ser uma inocente constatação da realidade, em muitos casos

se torna uma criação da realidade. Assim, ao tempo em que pensadores como

Huntington descrevem o grande “choque de civilizações”, dão ensejo ideológico e

justificativa a processos bem mais profundos de enfrentamento a adversários dos

grandes líderes ocidentais. Processos que ganham adicional “poder de prova” sempre

que reforçados por ataques bárbaros, como os ocorridos com algum grau de recorrência

ao menos desde o 11 de Setembro.

Mas o que é mesmo o “Ocidente” tão propalado nessas discussões,

especialmente em contraposição aos seus adversários? É claro que termo tão amplo

como esse carrega uma série de imprecisões. Mais do que isso, é claro que há algo de

construído, convencionado e até mesmo imaginário em torno do que se chama tão

vagamente de mundo ocidental. Mas não é disso que se trata em boa parte da nossa vida

cultural? Não há algo de puramente convencional em olharmos, no computador ou no

caixa eletrônico, o saldo das nossas contas e acreditarmos que temos esse “valor” em

caixa? Ou acreditarmos que somos brasileiros e vivermos sob a égide de uma série de

relações políticas e econômicas disso decorrente? Do mesmo modo, pensar em um

imaginário ocidental não significa descartarmos esse imaginário, mas tentarmos

compreender como ele se consolidou e, mais uma vez, qual o significado pragmático

dessa consolidação.

Na “mitologia” do imaginário ocidental[2], ele tem suas raízes no alvorecer do

mundo clássico grego, em seu desdobramento romano e no advento do cristianismo.

Teria começado a se consolidar a partir do Renascimento, com certa retomada dos

valores clássicos, e ganhado impulso com o que chamamos de modernidade, com vários

aspectos fundamentais, como a reforma protestante, a revolução científica, o

desenvolvimento de políticas liberais, a universalização formal do conceito de direitos

humanos, a ideia de democracia, o fortalecimento dos Estados-nação... Foi inerente ao

desenvolvimento dessa ideia de Ocidente o avanço desse monstro de mil faces que é o

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capitalismo, com seu furor produtivista e necessidade, inerente à sua própria condição,

de avanço permanente para novos mercados, novas tecnologias, novas fontes de energia,

novos territórios, novos consumidores.[3] Esse furor, aliás, impõe transformação em

todos os aspectos anteriormente citados. A nossa religiosidade é transformada em

função do capitalismo; com ele, a cada vez nos transformamos mais em consumidores

que em cidadãos e a noção de liberdade está, quase sempre, associada à nossa

capacidade de consumir e trabalhar; a igualdade tende a tornar-se, cada vez mais, uma

igualdade formal que não pode ser suplantada pela desigualdade inerente à própria

lógica de competitividade capitalista, que impõe, sempre, vencedores e vencidos. O

desenvolvimento do Estado-nação, por sua vez, se deu, pari passu com o avanço do

capitalismo. Finalmente, a própria ciência tornou-se, cada vez mais, uma parteira da

tecnologia, ferramenta indispensável para a “destruição criadora” que o capitalismo

impulsiona[4].

Todo esse processo, supostamente, forjou alguns dos “atributos” essenciais ao

sujeito moderno ocidental. Atributos embasados, certamente, por uma hierarquia

valorativa segundo a qual o homem ganhava, progressivamente, a primazia em relação a

Deus ou aos deuses e em relação ao mundo, ainda que, em diversos momentos, tentando

alguma conciliação com valores cristãos[5]. Essa primazia, me parece, foi a mãe da

moderna relação sujeito-objeto, relação que transformava praticamente tudo o que pode

ser pensado em objeto de conhecimento do sujeito. E, como tal, manipulável por esse

mesmo sujeito, preferencialmente a partir de um controle e uma previsibilidade só

possível a partir do embasamento na matemática e em experiências empíricas

fortemente intervencionistas[6]. Nesse sentido, do planeta à mente humana, tudo passou

a ser alvo possível da intervenção tecnológica. O aparente contraponto a essa visão foi o

fortalecimento cada vez maior da noção de indivíduo, mas que deve ser pensada como

um resultado natural da própria relação sujeito-objeto: a sociedade, a comunidade ou

a polis devem ser pensadas não como uma matriz que possibilita os indivíduos, mas

como objeto de interesse deles. Assim, invertendo o modelo aristotélico, primeiro vem o

indivíduo; este, por sua vez, decide por contrato, porque lhe é conveniente, construir

uma sociedade civil para os seus interesses[7]. Se casarmos esse processo com um

capitalismo ascendente, vemos que o indivíduo deve receber todos os atributos

concernentes ao self made man, àquele que é capaz de resolver por conta própria os seus

problemas, e agir com eficácia, produtividade e agilidade, como talvez seu modelo mais

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acabado, que foi o personagem Robinson Crusoé, capaz de recriar um mundo

“funcional” perdido numa ilha[8].

Mas falta ressaltar aspecto essencial, onde, depois dessa volta, talvez cheguemos

ao cerne da questão. Se a modernidade ocidental foi forjada a partir de certo tipo de

relação sujeito-objeto, é fundamental compreender que esse sujeito que ela coloca na

relação é, naturalmente, o sujeito ocidental, inicialmente o europeu ocidental. Mas como

o europeu se arvorou a esse papel, o sujeito por excelência da modernidade? Arrisco a

dizer que uma série de eventos possibilitaram isso, mas a Conquista da América a partir

do final do século XV, foi fundamental. Antes dela, já havia, certamente, um princípio

de autoidentificação da Europa católica, mas ainda não estava colocado um aspecto

fundamental, que era a sensação de superioridade desenvolvida pelo povo europeu.

Durante a Idade Média, os europeus tiveram várias constatações até contrárias a isso: a

descoberta de um mundo islâmico e um mundo chinês extremamente sofisticados, a

convivência com derrotas bélicas, como para o império mongol, entre outros

aspectos.[9]

A conquista da América gerou um imaginário novo nesse sentido (QUIJANO,

1992 e 2005). Primeiro, o mundo europeu discutiu com fascínio a presença, no Novo

Mundo, de “selvagens” que não conheciam Jesus Cristo, mas que também supostamente

teriam um grau de civilização inferior. Essa mesma noção foi reforçada pelo crescente

tráfico de escravos africanos, também tratados como inferiores. Esses dois contatos

iniciaram a constituição do que posteriormente seria cada vez mais nomeado

como raça: os diversos povos do Novo Mundo, categorizados como indígenas, e os

diversos povos africanos, como negros, cada um deles, recebendo dos europeus

determinados atributos essencialistas acerca de sua inteligência, sensualidade,

capacidade de trabalho e assim por diante..., ambos frequentemente reduzidos em sua

humanidade, condição que, afinal, era altamente conveniente para o processo de

exploração mercantilista desenvolvido. Ambos, posteriormente, alvos do racismo

científico desenvolvido a partir do século XIX (BANTON, 1979), que só foi minorado

quando atingiu os próprios europeus, com o advento do nazismo[10].

Mas a identidade se constrói a partir de relações diferenciais (SOMBRA, 2015).

E a concepção de negros e indígenas também possibilitou a nomeação do “homem

branco”. Em contraposição às outras “raças”, cada vez mais o homem branco europeu

assumiu a identidade de sujeito por excelência do mundo ocidental. Esse ponto é

fundamental, pois se dissemos que a modernidade se instaurou a partir de certa primazia

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do homem, é preciso ter clareza que essa primazia sempre foi seletiva e,

consequentemente, acompanhada de profundos mecanismos excludentes. No caso da

relação com negros e indígenas, com os processos já bastante conhecidos de opressão e

extermínio, atingindo dezenas de milhões de indivíduos.

Mas essa lógica, cada vez mais consolidada, se estendeu a povos asiáticos e

povos muçulmanos. Nesse último caso, se o conflito com o cristianismo remonta à

Idade Média, só a consolidação moderna do homem branco europeu pôde trazer-lhe

uma justificação, pretendida científica, de superioridade. Quando o império otomano foi

finalmente vencido, no século XX, a Europa Ocidental (e depois os Estados Unidos) se

sentiu habilitada para negociar a sua partilha, por meio de protetorados ou por tutela a

países supostamente independentes. Com o crescimento da indústria petrolífera, cada

vez mais o “Ocidente” interessou-se, estrategicamente, pelo Oriente Médio. As

tentativas de criação de governos autônomos e nacionalistas foram debeladas sempre

que pareceram ameaçar interesses ocidentais, e nunca houve receio ao apoio aos

fundamentalistas, quando eles poderiam representar interesses favoráveis, como na

Arábia Saudita, ou com Bin Laden, no Afeganistão pré-11 de Setembro[11].

Como fundo de tudo isso, uma percepção ao mesmo tempo difusa e concreta.

A diferença que o Ocidente estabeleceu com os outros povos, seja pela cor da pele, seja

por seus “valores”, produziu uma máquina quase perpétua de tratamento excludente e

políticas que admitem, na prática, que uma vida não ocidental não vale o mesmo que

uma vida ocidental; que a autodeterminação dos povos não-ocidentais não tem a mesma

importância que a dos povos ocidentais. Dentre os povos atingidos diariamente por esse

discurso e essa prática, as reações são muito complexas para caberem nesse espaço de

discussão, envolvendo diversas e híbridas possibilidades.[12] Obviamente, só uma

pequena parte cai no canto da sereia das ações terroristas e dos homens-bomba. Mas

justamente essa pequena parte, numa espécie de pacto sinistro com os mecanismos

ocidentais mais excludentes, reforça a tese da diferença e do choque das civilizações,

reforça os mecanismos de segregação, reforça a vigilância diferenciada pela cor da pele

e pelos costumes...

“Paris está em toda parte” porque o imaginário do homem branco ocidental está

em toda parte. Ele também é replicado, diariamente, no modo com o qual a maior parte

da população negra brasileira é submetida a políticas excludentes pelo Estado. Está

replicado, também, porque, aqui como lá, nós somos atravessados por meios de

comunicação e por uma indústria cultural que nos educa a sensibilidade de modo a nos

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sentirmos atingidos mais com as dores de determinados grupos que com as dores de

outros.[13]

Aqui como lá, há espaços de revolta e, também, a ultrapassagem para zonas de

violência que alimentam e reforçam o ciclo iniciado. Aqui como lá, se fala de guerra

(guerra ao tráfico, guerra ao terror), mas enquanto não houver a convicção de que a raiz

dos males é muito mais política do que bélica, estaremos distantes de alguma paz.

AUTOR * Laurenio Leite Sombra é professor Assistente da Universidade Estadual de Feira de

Santana (UEFS). Doutor em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e

Mestre em filosofia pela Universidade de Brasília (UNB). Particularmente interessado

na constituição humana de sentidos e sujeitos, e nas relações de poder e aliança entre os

sujeitos no seio da constituição de sentido. E-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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e 2005). Por outro lado, a problematização que me permitiu buscar estas questões foi amadurecida pelo desenvolvimento conceitual recente que fiz, em torno do conceito de rede de

sentidos (SOMBRA, 2015), que articula em sua constituição certas hierarquizações de atributos e de sujeitos. [3] Mesmo tendo decorrido mais de 150 anos da sua publicação, provavelmente ainda não há descrição mais contundente desse processo que a realizada por Marx e Engels no Manifesto do

Partido Comunista (MARX e ENGELS, 2014). [4] Termo popularizado pelo economista austro-americano Joseph Schumpeter (1952). [5] O filósofo espanhol Juan Estrada desenvolve um interessante histórico da cosmovisão ocidental (2003a e 2003b), estruturado a partir das noções, com clara inspiração kantiana, de mundo, Deus e homem. De certo modo, o período grego foi estruturado hierarquicamente a

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partir do kósmos, o período medieval a partir da noção de Deus e a modernidade, a partir da primazia do homem, culminando discursivamente com a “morte de Deus” nietzschiana. [6] Praticamente toda a obra de Heidegger abordou essa questão, de um ou de outro modo. Alguns trabalhos podem ser ressaltados, contudo, como “O tempo da imagem do mundo”

(HEIDEGGER, 2002), ou conferências dos anos 50, como “A questão da técnica”, “Ciência e

Pensamento do sentido” ou “A superação da metafísica”, abrigadas no livro Ensaios e

Conferências (HEIDEGGER, 2006). [7] Quijano (1992) defende essa subordinação da noção de indivíduo à relação sujeito-objeto moderna. Possivelmente, Heidegger também subscreveria isso, naturalmente sem a mesma perspectiva política de Quijano. [8] O professor de literatura italiano Franco Moretti produziu interessante livro (2014), que mostra como a literatura ocidental, especialmente nos séculos XVIII e XIX, forjou o ideário do indivíduo burguês. Nesse processo, certamente Robinson Crusoé é figura exemplar. [9] Aqui, foi fundamental a discussão do sociólogo Oliver Cox (1959), que já mostra, antes de Quijano, o ineditismo do preconceito racial europeu e a concomitante formulação de uma autoimagem de superioridade, vindos apenas com a modernidade. [10] Seguindo afirmação do pensador martinicano Aimé Césaire, em seu libelo contra o colonialismo (CÉSAIRE, 2010). [11] Muitas referências devem ser pertinentes. Para esse artigo, me baseei principalmente em textos do intelectual libanês Gilbert Achcar, especialmente no capítulo que aborda os fatores políticos regionais do mundo islâmico em livro produzido a partir da “primavera árabe”

(ACHCAR, 2013). [12] Esses aspectos foram pensados, repito, a partir do meu conceito de rede de

sentidos (SOMBRA, 2015), que não caberá detalhar aqui. Basta dizer que a nossa produção de sentidos tem sempre natureza valorativa e é, frequentemente, hierárquica, inclusive no que diz respeito à classificação de sujeitos (homem-mulher, ocidental-não ocidental, branco-negro, cristão-muçulmano, para ficar com algumas dualidades possíveis). O encontro de grupos sociais diferentes com redes de sentidos incompatíveis propicia relações de antagonismo, que exigem diversos modos possíveis de negociação de sentidos. É nesse contexto que se inserem diversas possibilidades híbridas resultantes desses processos de negociação. O termo (negociação) não deve sugerir que as “soluções” encontradas sejam sempre dialogadas. Fazem parte das

“negociações” mecanismos violentos de dominação, submissão e resistência, até porque os

sujeitos coletivos são frequentemente assimétricos em seus mecanismos de poder. [13] Em artigo a ser publicado em breve (SOMBRA, s/d), discuto essas implicações na realidade brasileira. Mas essa perspectiva, com algumas diferenças de fundamento, já aparece no modo com Jessé Souza aponta o desprezo pela “ralé” brasileira, tratada como uma

subcidadania (SOUZA, 2012).

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bibliográficas ao final - seguindo as normas básicas da ABNT, a saber: os trabalhos

devem ser encaminhados em versão Word, editados com fonte Times New Roman,

tamanho 12, espaçamento entre linhas 1.5. As citações com mais de 3 linhas são

destacadas do corpo do texto, com recuo esquerdo de 4.0 cm, espaçamento entre linhas

simples, fonte: Times New Roman, tamanho 11.

A primeira menção de uma obra no texto deve vir seguida do ano da edição utilizada, tal

como constará nas referências. As referências de citações devem ser apresentadas no

corpo do texto e seguir o modelo “AUTOR, data, página”. As notas de rodapé, inseridas

no corpo do texto, devem ser exclusivamente explicativas, e não de referências, e seu

uso deve ser evitado ao máximo. Quando houver citação em nota de rodapé, ela também

deve seguir o modelo “AUTOR, data, página”, e a citação em nota de rodapé deve estar

inserida no final do texto com a descriminação "NOTAS", antes das referências. O uso

do itálico deve se restringir a nomes de obras e palavras estrangeiras e, muito

excepcionalmente, ser usado para ênfase. As referências finais, dispostas em ordem

alfabética pelo sobrenome do primeiro autor, editadas sem parágrafo, com espaçamento

simples na mesma referência e duplo entre referências, devem obedecer à seqüência a

seguir, conforme o caso:

- Livros

SOBRENOME, Iniciais dos primeiros nomes. Título. Cidade: Editora, Ano da edição

utilizada.

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- Artigos em Periódicos

SOBRENOME, Iniciais dos primeiros nomes. Título. In: Título do Periódico. Cidade,

volume, número, período e ano, páginas.

- Coletâneas e capítulos de livros

SOBRENOME, Iniciais dos primeiros nomes (do autor). Título. In: SOBRENOME(S) e

NOME(S) ABREVIADO(S) DO(S) ORGANIZADOR(ES). Título do Livro. Cidade:

Editora, Ano da edição utilizada, páginas.