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851 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(4):851-862, jul-ago, 2001 ARTIGO ARTICLE A construção da AIDS-notícia The making of AIDS news 1 Núcleo de Pesquisa em Psicologia Social e Saúde, Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Rua Monte Alegre 984, São Paulo, SP 05014-091, Brasil. [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] Mary Jane P. Spink 1 Benedito Medrado 1 Vera M. Menegon 1 Jorge Lyra 1 Helena Lima 1 Abstract This study is part of the overall research effort on the role of the media in making sense of events in late modernity. The main objective is to investigate the context in which news about AIDS is produced at the interface between norms for producing news (as expressed by pro- fessional journalists) and an analysis of news stories published in four mainstream Brazilian newspapers. The results are organized in three broad topics: (a) the construction of news about AIDS; (b) the visibility of AIDS news during the study period; and (c) factors that facilitate or hinder the production of AIDS news. Important factors include exclusiveness of the story and/or novelty of the content, the notion of hot (or cold) news, and the specific contents. The authors al- so emphasize the inevitable chance elements associated with organizational characteristics and daily journalism. They conclude by pointing to recent changes in both the shape of the AIDS epi- demic and the communications dynamics resulting from recent developments in the electronic media. Key words Acquired Immunodeficiency Syndrome; Jornalism; Newspapers Resumo O presente estudo alinha-se às pesquisas que focam a mídia como elemento impres- cindível da produção de sentidos na modernidade tardia. Tendo por temática a AIDS, busca en- tender o contexto de produção das notícias sobre a epidemia, a partir do cruzamento das regras de construção de notícias expressas por profissionais envolvidos nesse processo e da análise das matérias publicadas em quatro jornais de maior tiragem nacional, no período de junho a dezembro de 1996. A apresentação dos resultados foi estruturada em três tópicos: (a) o fluxo de construção das matérias; (b) a visibilidade das notícias sobre AIDS nos jornais analisados; e (c) os fatores facilitadores da produção da AIDS-notícia. O estudo permite arrolar aspectos rele- vantes da produção da AIDS-notícia, incluindo aí: a exclusividade e ineditismo, a noção de pau- ta quente ou fria e o conteúdo específico das matérias. Destaca ainda o inevitável grau de aleato- riedade decorrente de características organizacionais e do cotidiano jornalístico. Conclui apon- tando o impacto das transformações recentes nos contornos da epidemia, assim como na dinâmica da comunicação, à luz dos desenvolvimentos da mídia eletrônica. Palavras-chave Síndrome de Imunodeficiência Adquirida; Jornalismo; Jornais

A construção da AIDS-notícia

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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 17(4):851-862, jul-ago, 2001

ARTIGO ARTICLE

A construção da AIDS-notícia

The making of AIDS news

1 Núcleo de Pesquisa emPsicologia Social e Saúde,Programa de Estudos Pós-graduados em PsicologiaSocial, Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo.Rua Monte Alegre 984,São Paulo, SP 05014-091, [email protected]@[email protected]@[email protected]

Mary Jane P. Spink 1

Benedito Medrado 1

Vera M. Menegon 1

Jorge Lyra 1

Helena Lima 1

Abstract This study is part of the overall research effort on the role of the media in makingsense of events in late modernity. The main objective is to investigate the context in which newsabout AIDS is produced at the interface between norms for producing news (as expressed by pro-fessional journalists) and an analysis of news stories published in four mainstream Braziliannewspapers. The results are organized in three broad topics: (a) the construction of news aboutAIDS; (b) the visibility of AIDS news during the study period; and (c) factors that facilitate orhinder the production of AIDS news. Important factors include exclusiveness of the story and/ornovelty of the content, the notion of hot (or cold) news, and the specific contents. The authors al-so emphasize the inevitable chance elements associated with organizational characteristics anddaily journalism. They conclude by pointing to recent changes in both the shape of the AIDS epi-demic and the communications dynamics resulting from recent developments in the electronicmedia.Key words Acquired Immunodeficiency Syndrome; Jornalism; Newspapers

Resumo O presente estudo alinha-se às pesquisas que focam a mídia como elemento impres-cindível da produção de sentidos na modernidade tardia. Tendo por temática a AIDS, busca en-tender o contexto de produção das notícias sobre a epidemia, a partir do cruzamento das regrasde construção de notícias expressas por profissionais envolvidos nesse processo e da análise dasmatérias publicadas em quatro jornais de maior tiragem nacional, no período de junho adezembro de 1996. A apresentação dos resultados foi estruturada em três tópicos: (a) o fluxo deconstrução das matérias; (b) a visibilidade das notícias sobre AIDS nos jornais analisados; e (c)os fatores facilitadores da produção da AIDS-notícia. O estudo permite arrolar aspectos rele-vantes da produção da AIDS-notícia, incluindo aí: a exclusividade e ineditismo, a noção de pau-ta quente ou fria e o conteúdo específico das matérias. Destaca ainda o inevitável grau de aleato-riedade decorrente de características organizacionais e do cotidiano jornalístico. Conclui apon-tando o impacto das transformações recentes nos contornos da epidemia, assim como nadinâmica da comunicação, à luz dos desenvolvimentos da mídia eletrônica.Palavras-chave Síndrome de Imunodeficiência Adquirida; Jornalismo; Jornais

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A dimensão midiática da AIDS

“A AIDS é a primeira doença da mídia”. Comessa frase, em 30 de outubro de 1985, o jornalfrancês Le Figaro destacava um dos aspectosmais marcantes da epidemia da AIDS – sua am-pla difusão no mundo pelos meios de comuni-cação de massa – e a construção de um novofenômeno social: a AIDS-notícia. Para além deuma doença e de uma epidemia, a AIDS tor-nou-se um fenômeno social marcado por tec-nologias modernas no campo das pesquisasmédicas, pelo ativismo social e pela impressio-nante dimensão midiática que assumiu.

Essa dimensão midiática vem sendo objetode atenção por parte de diversos pesquisado-res, destacando-se aí, no exterior, os estudos deMárkova & Wilkie (1987), Wellings (1988), Herz-lich & Pierret (1992), Beharrell (1993) e Kitzin-ger (1993, 1995), e no Brasil os de Galvão (1992),Biancarelli (1997) e Fausto Neto (1999).

É possível expressar essa dimensão midiáti-ca em termos do número de matérias e conse-qüente destaque dado à AIDS na pauta de dife-rentes veículos. Por exemplo, segundo Aurelia-no Biancarelli (1997), de setembro de 1987 adezembro de 1996, a Folha de São Paulo publi-cou 7.074 matérias que, de alguma forma, fa-ziam referência à AIDS; ou seja, ao longo de no-ve anos, foi publicada uma média de duas ma-térias por dia. Afirma esse autor que “o desta-que dado ao HIV continua sendo unanimidadeem quase toda a mídia. Enfermidades centená-rias, como a tuberculose, ou que continuammatando mais, como a malária, nunca ganha-ram uma pequena parte dessa atenção” (Bian-carelli, 1997:144).

Entretanto, o que parece ter cativado ospesquisadores nessa área são as funções da mí-dia como elemento imprescindível da produ-ção de sentidos na sociedade contemporânea,frente a eventos que se configuram como no-vos e/ou ameaçadores. A mídia, nessa perspec-tiva, cumpre dois papéis importantes: por umlado, a imprensa anunciou o aparecimento deum novo fenômeno no campo da patologia; e,por outro, desenhou progressivamente seuscontornos e, sobretudo, operou a passagemdas informações sobre a doença do domíniomédico e científico para o registro social. Naspalavras de Claudine Herzlich & Janine Pierret(1992:9): “(...) a imprensa fez com que a AIDScirculasse entre diversos grupos sociais que pou-co a pouco se consideraram afetados e se mobi-lizaram; ela polarizou as relações que se teciama seu respeito. Através dela, a doença tornou-seobjeto de tomadas de posição, de enfrentamen-tos, de clivagens coletivas”.

Segundo o enfoque tríplice (tripartite ap-proach) de John Thompson (1990), a interpre-tação do caráter ideológico das mensagens mi-diáticas deveria compreender três dimensões:(1) o estudo da produção e difusão das formassimbólicas, que remete à investigação das ins-tituições, campos de saber e formações discur-sivas que têm interface com a comunicaçãomidiática, em uma perspectiva sócio-históricaou numa abordagem etnográfica; (2) o estudoda construção das mensagens, cujo processode análise formal ou discursiva considera amensagem comunicativa como uma constru-ção simbólica complexa; e (3) a pesquisa sobrea recepção e apropriação dessas pelo público,de modo a identificar e examinar as circuns-tâncias e as condições socialmente diferencia-das em que as mensagens são recebidas emcontextos sociais específicos.

No caso da AIDS, é o segundo aspecto quetem concentrado o esforço dos pesquisadores,embora o estudo de Jenny Kitzinger (1993, 1995)sobre as percepções de diferentes grupos po-pulacionais sobre as campanhas da AIDS cons-titua honrosa exceção. Dentre os estudos cen-trados na construção da mensagem destacam-se, por sua abrangência e enfoque, o de Claudi-ne Herzlich & Janine Pierret (1992) e o de Antô-nio Fausto Neto (1999).

Herzlich & Pierret, em pesquisa concluídaem 1988 e publicada em 1992, focalizaram es-pecificamente a construção do fenômeno so-cial AIDS, com base em matérias publicadasentre janeiro de 1982 e julho de 1986 em seisjornais franceses. Abrangendo o período entrea publicação da primeira notícia sobre a AIDSnos jornais franceses e a cobertura da II Confe-rência Internacional sobre a AIDS (realizada emParis, em 1986), consideram ter efetivamentecoberto o período crucial da construção dessefenômeno. Afirmam que, “a partir do verão de1986, a AIDS é um dos elementos da vida social,cujos contornos estão fixados, sejam quais fo-rem os desenvolvimentos posteriores” (Herzlich& Pierret, 1992:10). Buscaram, dessa forma, ana-lisar, numa perspectiva temporal, as etapas eos mecanismos de construção, demarcando asposturas enunciativas e as mobilizações coleti-vas a elas associadas, de modo a entender asestratégias de localização (física e social) dadoença, seus números, a incorporação paulati-na dos saberes emergentes sobre causas e tra-tamentos e a associação metafórica com outrasdoenças, entre elas o câncer, a sífilis e a peste.

Fausto Neto (1999), focalizando a mídiabrasileira (quatro jornais, dois de circulaçãonacional e dois regionais), analisou as matériaspublicadas entre 1983 e 1995, buscando “des-

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crever as condições de comunicabilidade daAIDS através dos processos midiáticos” (FaustoNeto, 1999:145), com especial atenção à funçãode “mediatização” das mídias. Tomando-a co-mo um dos discursos possíveis que atua emsintonia ou tensão com outros campos discur-sivos, aborda as estratégias utilizadas na tarefade comunicabilidade, entendendo-as como“(...) agendas, tematizações, estratégias de trata-mentos, hierarquizações de outros discursos apartir de diferentes modalidades de políticaseditoriais” (Fausto Neto, 1999:146).

O presente artigo, resultante de estudo de-senvolvido no âmbito do Núcleo de Pesquisaem Psicologia Social e Saúde da Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo (PUC/SP), comapoio da Coordenação Nacional de DST e AIDS(CNDST/ AIDS) do Ministério da Saúde (MS),volta-se igualmente à compreensão dos pro-cessos de construção da AIDS-notícia. Busca,mais especificamente, entendê-los, valendo-sedo contexto de produção das matérias da mí-dia jornalística, focalizando tanto sua materia-lidade (a visibilidade em função do número dematérias, localização no jornal e espaço ocu-pado), como as regras de construção expressaspor profissionais diretamente envolvidos nes-se processo.

A expressão AIDS-notícia – título deste arti-go – foi utilizada partindo do pressuposto deque a mídia contribui significativamente naconstrução (e eventual circulação) de repertó-rios acerca da AIDS, um fenômeno biomédicocuja rede de sentidos não se limitou à dimen-são médica, constituindo-se em objeto especí-fico e independente: um produto da mídia. AAIDS-notícia antecede a epidemiologia pro-priamente dita, assumindo papel fundamentalna emergência do chamado fenômeno social daAIDS. Segundo Herzlich & Pierret (1992), foi aimprensa que, de certo modo, fez existir a AIDSpara o conjunto da sociedade. Ela passou a fa-zer parte do cotidiano das pessoas.

A mídia como prática discursiva

A noção de mídia como prática discursiva, de-senvolvida no âmbito do Núcleo de Pesquisaem Psicologia Social e Saúde da PUC/SP, decor-re de inúmeras experiências de pesquisa – pro-jetos coletivos, dissertações de mestrado e te-ses de doutorado –, produzidas ao longo dosúltimos anos sobre temas diversos, envolvendoanálises de produtos e processos midiáticos. Éfruto também do desenvolvimento de umaabordagem centrada na produção de sentidos epráticas discursivas no cotidiano (Spink, 1999a,

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1999b), embasada no construcionismo social(Gergen, 1985; Ibáñez, 1993; Potter, 1996; Spink,1999c).

A produção de sentido, nessa perspectiva, éuma prática social, dialógica, que implica a lin-guagem em uso. Desse modo, o estudo da pro-dução de sentidos compreende a análise daspráticas discursivas que atravessam o cotidia-no, entendidas como as maneiras pelas quaisas pessoas produzem sentidos e se posicionamem relações sociais. Essas práticas discursivasse desenvolvem pelo uso de repertórios inter-pretativos, o conjunto de termos, descrições,lugares-comuns e figuras de linguagem que de-marcam o rol de possibilidades de construçõesdiscursivas, tendo por parâmetros o contextoem que essas práticas são produzidas e os esti-los gramaticais específicos empregados (Spink& Medrado, 1999).

Em linhas gerais, percebe-se que, na socie-dade contemporânea, a mídia assumiu um pa-pel fundamental nos processos de produção desentidos, introduzindo transformações subs-tantivas nas práticas discursivas cotidianas. Amídia constitui um meio poderoso de criar e fa-zer circular repertórios, e tem o poder de criarespaços de interação, propiciando novas confi-gurações aos esforços de produção de sentido.

O espaço fluido – sem fronteiras espaciais etemporais – propiciado pela mídia permite-nosreconceituar da divisão estabelecida na mo-dernidade clássica entre público e privado, im-pondo uma reflexão inevitável sobre as dimen-sões éticas dos modernos processos de infor-mação e comunicação. Se a mídia tem o poten-cial de circular todo e qualquer repertório, e segrande parte do esforço de produção de senti-do nos dias atuais está a ela associado, o quedeve e o que não deve se tornar visível? A quemcompete o papel da seleção?

Formal ou informalmente, mecanismos decontenção ou moralização vêm sendo conti-nuamente desenvolvidos. Na arena da AIDS, noBrasil, esses esforços ficam patentes na orien-tação fornecida aos jornalistas por organismosgovernamentais e não governamentais, reco-mendando atenção especial ao uso de termosque podem apresentar conotações discrimina-tórias ou preconceituosas. Como afirmamMann et al. (1996:173): “A escolha de palavras éimportante porque está associada, por um lado,à luta entre os esforços de prevenção e assistên-cia ao HIV e AIDS e, por outro lado, ao statusquo do pensamento da comunidade. As pala-vras têm muitos significados ou códigos diferen-tes. Dentre os exemplos da evolução da lingua-gem da AIDS estão: prostitutas – hoje ampla-mente designadas profissionais do sexo; pacien-

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te/vítima da AIDS = pessoa com AIDS; viciado =usuário de drogas; hemofílicos = pessoas comhemofilia; pessoa promíscua = pessoa com vá-rios parceiros sexuais; grupo-alvo = comporta-mento alvo”.

No início, como destaca Biancarelli (1997),a imprensa imprimiu um caráter sensaciona-lista à epidemia, chegando a chamá-la de pestegay. Mas, segundo ele, “(...) a maioria da im-prensa evoluiu, aprendeu e adotou atitudes po-liticamente corretas, como se diz. Por exemplo,com exceção do uso em títulos, a palavra ‘aidéti-co’ foi substituída por doentes de AIDS ou por-tador do HIV. Grupos de risco passaram a sergrupos mais expostos a risco. E drogados vira-ram dependentes ou usuários de drogas” (Bian-carelli, 1997:143).

Entretanto, o crescimento da ameaça glo-bal da epidemia de AIDS registrou ainda sinaisde aumento da complacência, de persistênciada negação e de ressurgimento da discrimina-ção. A mídia assume, dessa forma, um papel deamplo espectro, tornando possível a divulga-ção das informações mais atualizadas à popu-lação e, ao mesmo tempo, atuando como forteinstrumento de transformação e fortalecimen-to de ordens morais locais. Cumpre, portanto,uma função múltipla dentro dos processos dedifusão: ao mesmo tempo que divulga, infor-ma, forma e se auto mantém.

Conceituamos mídia, em consonância comas reflexões de Thompson (1990), como um sis-tema cultural complexo que envolve uma di-mensão simbólica e uma dimensão contextual.A dimensão simbólica – um constante jogo en-tre signos e sentidos – compreende (re)cons-trução, armazenamento, reprodução e circula-ção de produtos repletos de sentidos, tanto pa-ra quem os produziu (os media) como paraquem os consome (leitores, espectadores, te-lespectadores etc.). A mídia compreende tam-bém uma dimensão contextual – temporal eespacial –, na medida em que esses produtossão fenômenos sociais, situados em contextos,que têm aspectos técnicos e comunicativos epropriedades estruturadas e estruturantes.

Embora reconhecendo a complexidade queenvolve a análise de produções midiáticas e apertinência da proposta de Thompson (1990)de uma metodologia que combine as três di-mensões – a produção e transmissão ou difu-são das formas simbólicas; a construção damensagem dos meios de comunicação e a re-cepção e apropriação –, elegemos como foco aconstrução da mensagem dos meios de comuni-cação, privilegiando o contexto de produçãodas mensagens jornalísticas. Buscando umaaproximação com a primeira e segunda dimen-

sões propostas por Thompson, definimos con-texto como a interface entre a materialidade danotícia e as operações sui generis dos proces-sos de comunicabilidade da imprensa jorna-lística.

Metodologia

Foram escolhidas como fontes representativasda imprensa jornalística brasileira quatro agên-cias de notícia: Folha de São Paulo (FSP), O Es-tado de São Paulo (OESP), Jornal do Brasil (JB)e O Globo (GLB). Essas quatro agências, alémde produzirem os jornais diários de maior tira-gem em âmbito nacional, funcionam como fon-te de notícias, subsidiando a produção de ma-térias para outros veículos. Foram realizadasentrevistas com jornalistas vinculados a essasagências e clipping dos quatro jornais, confor-me descrito a seguir.

O fluxo de construção da notícia: entrevistando especialistas

Foram realizadas quinze entrevistas semidiri-gidas com repórteres e editores que, na época,eram identificados, nos jornais analisados, co-mo mais diretamente ligados à produção dematérias sobre o tema AIDS. Esses quinze en-trevistados foram indicados por profissionaisdos próprios jornais, a partir de visita direta àagência. Foram incluídos tanto profissionaisdas sucursais em Brasília como das sedes dosjornais em São Paulo e Rio de Janeiro, confor-me mostra a Tabela 1.

As entrevistas foram orientadas por um ro-teiro simples, cujas questões buscavam explo-rar o fluxo da produção de notícias sobre saú-de, de modo geral, e sobre AIDS de maneira es-pecífica, incluindo desde a indicação da fontee a elaboração da pauta à impressão da maté-ria e distribuição dos exemplares. Todas as en-trevistas foram gravadas e transcritas. Procu-rou-se, com a análise das entrevistas, identifi-car aspectos da estrutura organizacional dosjornais e do fluxo de produção das matérias,possibilitando uma compreensão mais amplados elementos que fazem da AIDS uma notícia.

Como fonte complementar de informaçõesforam também realizadas entrevistas com técni-cos da CNDST/AIDS. Para maiores informaçõessobre organização dos jornais em cadernos, edi-torias e subeditorias, foram feitas consultas di-retas aos sites das agências, incluindo solicita-ções via e-mail. Como subsídio técnico utilizou-se ainda o Manual Geral de Redação da Folhade São Paulo – 1998 (Folha de São Paulo, 1998).

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A visibilidade da AIDS nos jornais: analisando o corpus

Para analisar a visibilidade do tema AIDS noconjunto dos quatro veículos escolhidos, fo-ram selecionados os meses de junho a dezem-bro de 1996, período que marcou, no Brasil, aimplantação da Assessoria de Imprensa daCNDST/AIDS. O procedimento de coleta dasmatérias foi realizado em duas etapas: (1) clip-ping das matérias publicadas nos quatro jor-nais e (2) organização e armazenamento domaterial coletado em um banco de dados.

Como teste-piloto foi realizado um exercí-cio de clipping pelo grupo de pesquisadores,analisando-se as matérias publicadas na FSPno período de uma semana (16 a 22 de março de1997). Esse procedimento possibilitou estimara freqüência com que matérias sobre AIDS eramveiculadas pelos jornais em estudo e o temponecessário para realização do levantamento.Possibilitou também uma primeira aproxima-ção com os dados, de modo a definir as catego-rias analíticas e o formato do banco de dados.

Em seguida, foram exploradas as alternati-vas disponíveis para o levantamento e recortedas matérias, dentre elas: o clipping da CNDST/AIDS, dois serviços de clipping de São Paulo eduas pesquisas então em andamento que abor-davam temas e metodologias similares.

Ainda que a CNDST/AIDS dispusesse declipping de diversos jornais do país, realizadopor uma empresa contratada exclusivamentepara esse fim, ele se mostrou, para nossa pes-quisa, insuficiente por dois motivos: (1) na fo-lha de registro não constava a localização espa-cial da matéria no veículo e (2) o levantamento

só incluía matérias nas quais o tema AIDS fos-se o tema principal. Foram então consultadasduas empresas de clipping em São Paulo: Lei-tor Recortes, que realiza diversos trabalhos declipping por tema em 173 jornais do país, e De-partamento de Documentação da Abril S/A(DEDOC), empresa vinculada à Abril Cultural,que efetua clipping por temas e veículos. Oprincipal obstáculo encontrado nesses servi-ços foi a falta de disponibilidade de clipping re-troativo (referente a período passado), ou seja,em seus serviços só estava previsto clipping dejornais publicados a partir da data em que fos-se feito o contrato.

Foram identificadas também duas pesqui-sas que, naquele período, efetuavam clippingde matérias em jornal. A assistente técnica daComissão de Cidadania e Reprodução em SãoPaulo, Maria Teresa Citeli, coordenava umapesquisa intitulada Olhar Sobre a Mídia, cujoobjetivo era realizar a cobertura sistemática dematérias publicadas em diferentes veículos so-bre saúde reprodutiva e sexual. No Rio de Ja-neiro, o Prof. Dr. Antonio Fausto Neto, da Esco-la de Comunicação da Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ), coordenava a pesquisa AConstrução da AIDS nos Media Brasileiros: Lei-tura e Avaliação das Estratégias Discursivas.Ambas as pesquisas não abarcavam o períodoe os quatro veículos selecionados, mas o con-tato com esses profissionais corroborou nossaconstatação de que a realização de pesquisasobre material impresso, no Brasil, referente aoperíodo retroativo, não é uma tarefa fácil.

Levando em consideração os objetivos des-ta pesquisa, a análise desenvolvida no teste-pi-loto e o contato com agências de serviços e

Tabela 1

Relação dos profissionais entrevistados.

Jornal Sucursal Sede

Folha de São Paulo 1 repórter da área de Saúde e Educação 2 repórteres da editoria Cotidiano

1 redator da editoria Ciência

O Estado de São Paulo 1 repórter da Editoria Geral O editor de Ciência1 repórter da editoria Geral que cobre a área de Saúde

O Globo O coordenador da Editoria Nacional O editor de Ciência e Vida

O editor de Nacional

O subeditor de Rio

Jornal do Brasil O chefe de redação O editor de Ciência

1 repórter de Ciência

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pesquisas que utilizam clipping, decidiu-se pe-la formulação de metodologia própria de clip-ping. Para isso, foi necessário elaborar uma fo-lha de registro e treinar a equipe de assistentesde pesquisa.

A folha de registro incluiu os dados básicospara identificação da matéria, bem como cam-pos para classificação da notícia e sua localiza-ção. Considerou-se como diretas as matériasque tinham AIDS como tema principal e comoindiretas as que tratavam de outros temas, em-bora fazendo referência à AIDS.

O treinamento das assistentes de pesquisafoi realizado de modo a desenvolver habilida-des para selecionar as matérias sobre AIDS eregistrar adequadamente as informações nocabeçalho da folha de registro. Enfatizou-se anecessidade de: (a) procurar minuciosamentenos cadernos dos jornais (com exceção dosClassificados e dos cadernos regionais) maté-rias que se referissem direta ou indiretamenteà AIDS; (b) fotocopiar matérias; (c) preenchercuidadosamente o cabeçalho e (d) organizar ascópias por ordem cronológica.

O levantamento das matérias foi realizadovalendo-se de consultas a bibliotecas públicase de universidades de São Paulo e do Rio de Ja-neiro, e da compra de exemplares para supriras lacunas nos acervos visitados. Em São Paulo,foram consultados os acervos da BibliotecaMunicipal Mário de Andrade, do Centro Cultu-ral, do Arquivo Público do Estado, da Bibliote-ca da Escola de Comunicações e Artes da Uni-versidade de São Paulo (USP) e da Bibliotecada PUC/SP. Foram também consultados osacervos dos jornais sediados nessa cidade. Oconjunto de estratégias que tiveram de ser uti-lizadas para localizar os exemplares desejadosevidencia a carência, no Brasil, de fontes depesquisa na área de estudos sobre mídia im-pressa.

Todos as informações foram armazenadasem um banco de dados, formato Access. A aná-lise do corpus englobou os seguintes aspectos:número de matérias por veículo e mês, espaçoocupado pelas matérias – medido em cm/colu-na –, forma discursiva, relação entre matériasdiretas e indiretas e alguns indicadores de con-teúdo (a população-alvo da notícia, o tema e oassunto abordado, por exemplo).

Resultados: o processo de construçãoda AIDS-notícia

A publicação de uma matéria no jornal é resul-tado da inter-relação de vários fatores. Nesseprocesso, incluem-se a estrutura organizacio-

nal (operacional e administrativa) de cada veí-culo, a rede de inter-relações estabelecidas in-terna e externamente e os aspectos técnicosque são definidos pela linha editorial do jornal.A fim de dar visibilidade a esse processo e seusresultados em termos da apresentação das no-tícias sobre AIDS, os resultados foram organi-zados em três tópicos: (a) o fluxo de construçãodas matérias; (b) as notícias sobre AIDS nosjornais analisados e (c) os fatores consideradospelos jornalistas entrevistados como facilita-dores (ou que geram dificuldades) na produçãodas informações sobre a AIDS.

O fluxo de construção das matérias

Em geral, a dinâmica do processo de produçãode uma notícia, por mais que tumultuada pe-las ocorrências do cotidiano, inclui os seguin-tes aspectos: a reunião de pauta, a elaboraçãoda notícia e o fechamento da edição do jornal.

Na reunião de pauta, realizada diariamen-te, cada editoria decide sobre as matérias queserão publicadas naquele dia/semana, além deprogramar pautas futuras, como, por exemplo,matérias especiais para as edições do fim desemana. Alguns jornalistas têm a possibilidadede sugerir suas próprias pautas, mas em geralos repórteres as recebem prontas. Mesmo quehaja alguns repórteres que se especializam emdeterminados temas, não existe uma delimita-ção rígida quanto a esse aspecto, nem mesmono contexto da saúde, conforme pode ser ob-servado no trecho abaixo: “(...) em princípio...os seis repórteres escrevem sobre tudo, mas sem-pre tem um que gosta mais de uma coisa do quede outra, então acaba fazendo... uma repórteradora saúde, então por que você vai dar saúdepara o outro que não gosta?!” (editor, Ciência,sede do OESP)”.

Na elaboração da notícia propriamente di-ta, destacam-se dois aspectos: as fontes referi-das pelos repórteres e o lide da notícia. No casoespecífico das notícias sobre AIDS, as informa-ções têm origem em diferentes fontes: órgãosoficiais, como o MS (CNDST/ AIDS) e as Secre-tarias Estaduais e Municipais da Saúde; univer-sidades e hospitais voltados à pesquisa ouatendimento a portadores de HIV/ AIDS; orga-nizações não governamentais; instituições na-cionais e internacionais de pesquisa; congres-sos; revistas especializadas; agências interna-cionais de notícia e os sites da Internet – parti-cularmente aqueles de jornais do exterior –;além da população em geral. Diante dessa di-versidade de fontes, alguns repórteres, paratrabalhar determinado tema, investem na cons-trução de “minipesquisas”.

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O lide, aportuguesamento da palavra ingle-sa lead, que em jornalismo significa o início dequalquer texto, é responsabilidade do repórterque produz a matéria, embora haja possibili-dade de os redatores influírem diretamente noconteúdo e seqüência das matérias, inverten-do inclusive a ordem lide-pé (o fim do texto jor-nalístico). Um exemplo de como o lide pode serposicionado: “Você pode abrir a matéria con-tando o caso, que o senhor José da Silva não en-controu AZT num lugar e tal, depois mostrarque isto acontece com 20 mil João José da Silvapelo Brasil (...) Aliás fica muito mais bonito... Émuito mais bonito que você abrir que no anopassado o Brasil registrou 747 mil casos de AIDSe, destes, 385 foram de homens, 310 de mulhe-res, 5 de crianças, dentre os quais João José daSilva. Essa é uma matéria que interessa menosao leitor, é menos chamativa” (editor, Ciência eVida, sede do GLB).

O fechamento da edição do jornal é o últi-mo passo do fluxo de construção de uma ma-téria a ser publicada, envolvendo decisões co-mo o espaço disponível para publicação de tex-tos jornalísticos e o título a ser dado à matéria.

A influência direta que uma decisão admi-nistrativa exerce na produção final de um jor-nal reflete-se na distribuição de material publi-citário e na diagramação do veículo. Essa dis-tribuição está ligada ao interesse econômicoda empresa. Mas a porcentagem entre textosjornalísticos e publicitários é extremamente va-riável: “você tem às vezes duas páginas, às vezesuma página e meia, três páginas. É muito variá-vel: ou por uma questão de anúncio ou por ques-tões industriais de disponibilidade de... enfim, oque convém ao jornal” (repórter, Editoria Geral,sede do OESP).

Além dos anúncios, a inclusão de um cader-no especial ou de um assunto que esteja des-pertando maior interesse podem reduzir os es-paços das editorias: “vai depender do dia – o queé que tem de mais importante. Por exemplo, mor-reram tantas pessoas em Eldorado de Carajás,assassinadas, é matéria principal do dia, vai de-dicar mais espaço a isto, aí a gente vai tirar al-guma coisa de AIDS” (editor, Ciência, sede doOESP).

Nessa etapa, a sede de um jornal pode servista como a central produtora de uma maté-ria, fazendo alterações na forma e no conteúdodas matérias enviadas pela sucursal de Brasí-lia. Nas palavras de um dos entrevistados: “Nãosó podemos como devemos. (...) É o seguinte: otexto bruto é igual a um diamante, ele vem umpedrão deste tamanho, e você tem que cortar,botar no espaço, cercar o texto e tirar as gordu-ras, fazer uma matéria bonitinha, pro leitor

abrir o jornal no dia seguinte e estar lá cheio dediamantes e não aquele, sei lá, a pedra bruta”(editor, Nacional, sede do GLB).

Contudo, não existem regras fixas: a nego-ciação ao longo da estrutura hierárquica é umprocesso permanente e intrínseco da etapa defechamento de um jornal. Já o título, em geraldado na sede do jornal, obedece não somente acritérios estilísticos e de conteúdo como daprópria adequação à disponibilidade de espaçopara publicação: “quem manda no título é a pes-soa que diagrama a página (...) quem desenha apágina. É ele quem diz o tamanho do título (…)toda matéria que vai para o alto tem o mesmotamanho de título. O subtítulo é sempre do mes-mo tamanho” (repórter, Ciência, sede da FSP).

As notícias sobre AIDS nos jornais analisados

Os dados sobre a visibilidade das matérias so-bre AIDS foram obtidos considerando o núme-ro absoluto de matérias publicadas em cadaum dos jornais analisados e o espaço (cm/col)ocupado por essas matérias.

No período de junho a dezembro de 1996,nos quatro jornais, foram registradas 1.663 ma-térias cujos conteúdos tratavam direta ou indi-retamente do assunto AIDS. Dada a expressivaquantidade de matérias (n = 1.220) que abor-davam o tema AIDS de forma direta, optou-sepor excluir do corpus de análise aquelas que oabordavam de maneira indireta. Dessa forma,trabalhou-se com 1.220 matérias distribuídasda seguinte maneira: Folha de São Paulo, n =467; O Globo, n = 321; O Estado de São Paulo, n =262 e Jornal do Brasil, n = 170.

No entanto, conforme ilustrado na Figura1, ao se considerar o espaço em cm/col. ocupa-do por essas matérias como um dos elementosque traduz a relevância dada ao tema pelos jor-nais analisados, obteve-se uma outra distribui-ção: a Folha de São Paulo fez a maior coberturade todos os jornais, apresentando 47% do es-paço destinado ao tema AIDS, o que correspon-de a 10.196,0cm/col. Em segundo lugar ficou oEstado de São Paulo, com 8.053,5cm/col, e emterceiro e quarto, O Globo e o Jornal do Brasil,com 5.041,6cm/col e 3.326,2cm/col, respecti-vamente.

Assim, comparando as duas distribuições –número de matérias e espaço em cm/col –, ficaevidente a necessidade de considerar tambémo espaço destinado à matéria para detectar avisibilidade de um determinado tema.

Apesar da variedade de assuntos abordadosnas matérias analisadas, observou-se, confor-me pode ser visto na Figura 2, uma maior por-centagem (em cm/col.) de matérias sobre tera-

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pêutica da AIDS, além do destaque dado à pre-venção e transmissão.

A distribuição das matérias sobre AIDS nosdiferentes cadernos e editorias, nos quatro jor-nais pesquisados, também fornece elementospara a compreensão da construção da AIDS-notícia. Embora possa acontecer a migraçãodas matérias sobre AIDS para diferentes cader-nos, as ocorrências concentram-se mais fre-qüentemente numa determinada editoria. Porexemplo: no jornal Folha de São Paulo, as ma-térias sobre AIDS aparecem com maior fre-qüência no caderno São Paulo e, mais especifi-camente, na editoria Cotidiano; em O Estado deSão Paulo, estão no primeiro caderno, na edito-ria Geral, que, entre outras áreas, engloba Ciên-cia e Saúde Geral; em O Globo as matérias so-bre AIDS estão concentradas na editoria Na-cional e, no Jornal do Brasil, são mais freqüen-tes na editoria de Ciência.

O caminho percorrido pela notícia depen-de do “ponto de partida”, ou seja, da editoria edo(a) repórter que elabora a matéria, das fon-tes utilizadas, das características da matéria edos elementos que serão destacados, uma vezque variam em função do contexto de produ-ção e assumem tônicas distintas em decorrên-cia dessa inserção. As editorias de Ciência, porexemplo, estão mais interessadas em publicardados gerados por pesquisas científicas: “(...) oque diferencia a nossa abordagem da deles [edi-toria Cotidiano], é que nosso gancho é, funda-mentalmente, científico. Para que algo seja deinteresse da nossa editoria, é importante quehaja um novo assunto científico, uma nova des-coberta. Ou, pelo menos, a perspectiva de algu-ma novidade, mas muito bem fundamentada,que seja relevante para um grande número depessoas. Não só AIDS, como doenças sexual-

mente transmissíveis etc.” (redator, Ciência, se-de da FSP).

Mas, em alguns jornais, o espaço da edito-ria Ciência é bastante reduzido, como no casode O Globo: “Ciência tem no máximo meia pá-gina, e vem junto da Internacional, já é umacoisa lá no finalzinho do jornal, quase chegan-do em Esporte. Então ... é legal quando sai emNacional, porque lá dá um destaque maior”(editor, Ciência e Vida, sede do GLB).

Quando o assunto está ligado a notícias einformes oficiais, em alguns jornais a publica-ção pode ter endereço certo: “a nossa aborda-gem é a seguinte: normalmente nós [editoriaNacional] divulgamos as campanhas que sãolançadas etc., ou do Ministério da Saúde, ou deuma organização não governamental, divulga-mos resultados tanto aqui do Brasil como lá defora” (editor, Ciência e Vida, sede do GLB).

Algumas editorias privilegiam matérias so-bre comportamento ou histórias de vida: “Euparticularmente até prefiro essas matérias quetrabalham em cima de depoimentos, quer dizer,não tem uma abordagem científica, é claro queacaba tendo muito número. Para você embasaraquilo que está falando tem que mostrar porque cresceu, quais são os números de mulheresinfectadas e tal. Mas é muito mais baseada nu-ma coisa pessoal, no depoimento das mulheres,como é que elas estão agora, e como é que foi adescoberta do vírus, e o que aconteceu com omarido, e com o casamento (...) É mais em cimade historinhas, um pouco mais de depoimento”(editor, Ciência e Vida, sede do GLB).

O que define a inclusão de uma matéria so-bre AIDS em um ou outro caderno, e mesmo oconteúdo das informações noticiadas, não pos-sui limites rígidos. “(...) A AIDS só aparece quan-do é notícia, como foi agora domingo... a genteabriu o material da Rio [editoria], dizendo queaqui no Estado do Rio triplicou o número dedoentes que usam drogas injetáveis e que pega-ram AIDS (...) A Rio dá o que mexe a cidade. No-tícia é violência, crime, roubo, estupro. Apesarde a AIDS estar nesse rol, com o poder da morte,nem sempre é notícia, entende?. A gente tem quepuxar, então puxa daqui, puxa dali, dá certo”(subeditor, Rio, sede do GLB).

Os limites, portanto, são antes de tudo umaquestão de ênfase e de prática. Segundo os(as)jornalistas, há uma evidente tendência dos jor-nais de construir matérias mesclando informa-ções de diferentes planos, proporcionando umaleitura mais agradável, sem abrir mão da quali-dade técnica da informação. Por exemplo: “(...)saiu uma informação do Centro de Controle deDoenças (o CDC de Atlanta) dizendo que foicomprovado o primeiro caso de transmissão de

Figura 1

Distribuição das matérias por jornal em cm/col.

JB 15%

GLB 2%

FSP 47%

OESP 36%

FSP = Folha de São Paulo; GLB = O Globo; JB = Jornal do Brasil; OESP = O Estado de São Paulo.

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AIDS pelo beijo e nem nos disseram, saiu lá noCiência. [Então] a gente fez uma matéria comopiniões de profissionais do Brasil para que agente pudesse ouvir peritos daqui. No dia se-guinte, nós fizemos uma matéria no cadernoSão Paulo – com o Ministério da Saúde” (repór-ter, Cotidiano, sede da FSP).

Os facilitadores da produção da AIDS-notícia

Os repórteres referiram-se a alguns fatores co-mo facilitadores ou obstáculos à construção daAIDS-notícia. Dentre os facilitadores ressaltam-se o impacto e o interesse que o tema AIDS des-perta na população, garantindo um espaço pri-vilegiado de publicação nos jornais.

“Porque AIDS tem um material muito...sim... tem um potencial. Tem histórias huma-nas também muito importantes. Agora... porexemplo, você tem a geração que nasceu comHIV e está chegando na adolescência.... que éum desafio agora, no caso, como lidar com a se-xualidade dessa garotada?” (repórter, Geral, su-cursal do OESP).

“(...) Você sempre tem novas descobertas, temmuita polêmica. AIDS para os jornais semprefoi uma coisa atrativa, falar qualquer coisa deAIDS você conseguia espaço, você vendia” (re-pórter, Ciência, sede do JB).

Outro aspecto apontado pelos(as) jornalis-tas como facilitador da produção da AIDS-no-

tícia é a diversidade das fontes e o acesso aelas, ressaltando-se a importância das relaçõesestabelecidas entre repórteres e órgãos oficiais,organizações não governamentais, profissio-nais da saúde, institutos de pesquisas, entreoutros: [sobre a relação com a CNDST/AIDS]“Tranqüilo, tranqüilo. Geralmente esses grandesjornais ajudam a ser bem recebido, sem maioresdelongas. Claro que, se você já é um profissionalconhecido, ajuda. Mas é claro que todos eles têminteresse em participar da grande imprensa”(repórter, Ciência, sede do JB).

“(...) pessoas que são referências [profissio-nais da saúde], com as quais eu desenvolvi umaboa relação de confiança nesse tempo todo eelas também. Quer dizer, eu tenho credibilidadeperante elas, então cria-se uma boa relação. Euestou num fechamento, eu ligo e ela me dá umainformação em dois tempos, ou me atende emcasa num... num feriado” (repórter, Geral, sededo OESP).

Em relação aos obstáculos, alguns jornalis-tas, particularmente dos jornais cariocas, ci-tam a dificuldade de acesso ao conhecimentocientífico e a falta de interesse de alguns pes-quisadores brasileiros em divulgar conheci-mentos em veículos de massa: “Não tem muitapesquisa aqui no Brasil, ou se tem não é divul-gado. Deve ter, muitas até, mas é porque tam-bém a gente não consegue ter acesso a tudo, àsvezes as pessoas das instituições não entram emcontato. A FIOCRUZ, eu tenho um contato mui-to estreito porque é aqui no Rio, o cara está sem-

Figura 2

Distribuição matérias por assunto, em função do jornal (cm/col).

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500FSP

GLB

JB

OESP

vacinatransmissãotesteterapêuticaprevençãocomportamentoavanço de pesquisa

vários

FSP = Folha de São Paulo; GLB = O Globo; JB = Jornal do Brasil; OESP = O Estado de São Paulo.

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pre ligando da assessoria de imprensa para pas-sar coisas. Mas tem muita instituição pelo Bra-sil afora. São Paulo tem muito mais do que oRio e a gente acaba não sabendo de tudo, aí temque se basear no material que vem de fora mes-mo” (subeditor, Rio, sede do GLB).

Apontou-se também que as fontes oficiais,em geral vistas como facilitadoras, em deter-minadas situações atuam como obstáculo pordificultarem o acesso a informações ou devidoà repetição de notícias: “O Ministério da Saúde,a Assessoria de AIDS, a cada semana convoca aimprensa para dar a mesma informação sobre,digamos, o coquetel de drogas. Por exemplo, nu-ma situação recente, primeiro foi o Pedro Che-quer, depois foi o próprio Ministro da Saúde, pa-ra dar informações sobre o Ministério da Saúdeestar disponibilizando testes de AIDS gratuita-mente na rede pública” (subeditor, Rio, sede doGLB).

Os aspectos técnicos ligados ao fluxo deconstrução das matérias também são enfatiza-dos como obstáculos. O fato de nem todos osrepórteres poderem dar título à matéria queproduziram, é visto como um fator que dificul-ta a construção da AIDS-notícia (algo que, ob-viamente, não se restringe ao tema AIDS).

“(...) você não pode puxar o título do rodapéda matéria, mas, às vezes, acontece, pode acon-tecer por falha de comunicação (...) Isso é umabriga constante... É uma briga diária, você pre-cisa ver a rotina da redação, é o tempo todo re-clamação de título, eles erram muito, errammuito... É porque isso deveria estar na posse dequem fez a matéria, mas ainda não evoluímospara esse nível de produção jornalística, mas euacho que o futuro é esse” (redator, Ciência, sededa FSP).

Levantou-se ainda a questão da relação en-tre a matriz e a sucursal de Brasília. Algumassucursais apresentam uma equipe de jornalis-tas reduzida, o que determina uma não-espe-cificidade para o tema saúde ou AIDS. Disso de-corre uma sobrecarga de trabalho e a conse-qüente impossibilidade de aprofundamento naconstrução da AIDS-notícia.

“(...) no caso de Brasília (...) é uma loucura,existe muita coisa para fazer. Geralmente repór-ter de sucursal trabalha muito mais do que re-pórter da base, da sede do jornal” (repórter, Ge-ral, sede do OESP).

“(...) tem pouca gente, não tem um repórterda área de saúde, não tem. Eu tenho no casouma repórter que está viajando, inclusive estáfazendo uma reportagem sobre mortalidade in-fantil no Nordeste, uma coisa assim, ela cobreSaúde, cobre Previdência e, eventualmente, entraem outras áreas” (subeditor, Rio, sede do GLB).

A falta de campanhas mais agressivas juntoà sociedade, que favoreçam e estimulem maiorcobertura da mídia, também foi apontada co-mo obstáculo à AIDS-notícia: “(...) a campanhatem que gerar algum tipo de polêmica, você nãopode falar sobre AIDS sem gerar polêmica. Achoque o problema é a falta de agressividade dascampanhas. Não acho que as campanhas te-nham que continuar vindo nessa rota de bomhumor, como foi o caso do Bráulio, do peru (...)Acho que tinham que botar pessoas portadorasdo vírus na TV, você tinha que pegar o público...desse público... grupo de risco, e mostrar a essaspessoas; tem que aproximar a AIDS das pessoas,que é aquela coisa, você sempre acha que conti-go não vai acontecer” (repórter, Ciência, sededo JB).

Considerações finais: afinal, o que faz da AIDS uma notícia?

Os jornalistas entrevistados parecem concor-dar que a AIDS é um assunto. Com base nessaafirmação, pergunta-se: existe uma especifici-dade nas notícias sobre AIDS? Há certamente oreconhecimento de que o jornal, diferente datelevisão, ainda é um produto de elite, destina-do a uma parcela mínima da sociedade brasi-leira. Entretanto, os entrevistados ressaltamque essa parcela mínima é constituída por for-madores de opinião que, na maioria dos casos,ocupam espaços de decisão. Todavia, as notí-cias, sejam elas no âmbito da saúde, ou não,passam por um mesmo crivo jornalístico. Osprincipais critérios para a inserção de uma ma-téria e seu destaque numa determinada linhaeditorial são a exclusividade e o ineditismo.

Nesse sentido, a inclusão de uma matéria épermeada pela noção de pauta quente ou fria.A pauta quente está sempre ligada ao fato no-vo, ao furo jornalístico – foi descoberto ontem! –,normalmente acompanhado de porcentagensque expressam impacto e urgência: aumentoutantos por cento. Precisa, portanto, ser publica-da naquele mesmo dia.

Já a pauta fria pressupõe um aprofunda-mento do tema, mostrando, no caso da saúde, aevolução, o surgimento, os tratamentos e os so-frimentos. Esse tipo de matéria fica reservadoaos cadernos especiais. As matérias sobre com-portamento, normalmente, enquadram-se nes-se perfil.

O que “faz notícia” passa também pelo quese pretende publicar: por exemplo, avançoscientíficos, informes institucionais, reporta-gens sobre o comportamento da população ounotícia geral sobre o tema AIDS. Quando a tô-

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nica da matéria é científica, os resultados depesquisas geram notícias. Ao jornal cabe tornaro discurso científico interessante e acessível aomaior número de leitores, “adequá-lo a umprocesso de inteligibilidade compatível com asexpectativas do leitor comum”, conforme afir-ma Fausto Neto (1999:124). Ou, segundo um dosjornalistas entrevistados: “(...) acho que o segre-do de fazer matéria de ciência é você torná-lainteligível para todo leitor, do turista ao espe-cialista, e você só consegue torná-la inteligívelpara todo mundo se tem comunicação, se tememoção, se tem apelo, e acho que isso funcionapara qualquer coisa (...) a gente não está preo-cupado com o termo técnico, somos jornalistas”(editor, Ciência, sede do OESP).

Em caso de informes institucionais, apesarda necessidade de informar a população sobreum fato específico, o que o transforma em no-tícia são os artifícios utilizados pelo jornal nasua publicação. Por exemplo, um dos argumen-tos empregados para defender a idéia de quenem sempre o título precisa refletir o conteúdoda matéria é o que chamam de matéria esquen-tada: “Uma matéria que fala que o Ministro daSaúde afirmou ontem que poderá estudar al-gum dia a possibilidade de distribuir camisi-nhas em escolas públicas, vai ter um título as-sim: O Ministro da Saúde vai distribuir camisi-nhas em escolas públicas. (...) É esquentadamesmo que a gente chama. A gente esquenta.Mas esquentar é uma coisa, errar é outra histó-ria. Usar termo preconceituoso no título, isso agente não faz” (repórter, Geral, sede do OESP).

Mas, em geral, a tônica que prevalece pare-ce ser dada pelos relatos de vivências da doen-ça. Embora haja a divulgação de dados estatís-ticos e serviços, as matérias mais vendidas sãoaquelas que tratam de comportamento. “A AIDS,portanto”, como afirmou um jornalista, “cons-titui-se num tema forte dentro do jornal, pois,além de apresentar um grande volume de infor-mações (“esse lado estatístico da doença, quesempre chama a atenção”), é um fenômeno denatureza trágica”.

Além desses fatores, é interessante apontarpara o inevitável grau de aleatoriedade queperpassa a produção jornalística, na qual a no-tícia é parte do corre-corre diário dos jornalis-tas: “você vê o que tem no dia, vai correndo, temesta notícia, mais esta. Você também tenta darum pouco de ordem na desordem, mas nemsempre há uma explicação [para uma determi-nada ênfase]”, disse o editor de Ciência de OESP.

No tempo decorrido desde a realização des-ta pesquisa, ocorreram mudanças importantestanto no que se refere aos contornos da epide-mia da AIDS como nas estratégias de comuni-

cabilidade da informação à luz dos desenvolvi-mentos da mídia eletrônica. Tais mudanças pos-sivelmente afetaram os processos de constru-ção da AIDS-notícia.

Do ponto de vista da epidemia, são dois osaspectos a ressaltar. Primeiramente, as mudan-ças no perfil epidemiológico, caracterizadoatualmente pela progressiva pauperização, in-teriorização, feminilização, heterossexualiza-ção e juvenilização da epidemia (CNDST/AIDS,1998). Assim, já em 1996 os jornalistas entrevis-tados eram unânimes em reconhecer que ha-veria uma tendência à setorização da AIDS-no-tícia em grupos específicos, como mulheres emgeral, gestantes, adolescentes etc. Em segundolugar, os avanços terapêuticos possibilitaram amelhoria na qualidade de vida dos portadoresdo HIV, aumentando sua expectativa de vida.Dessa forma, é possível que a AIDS tenha per-dido a natureza trágica, que lhe dava um cará-ter especial, e o ineditismo, que lhe conferia oestatuto de pauta quente, a não ser nos rarosmomentos em que o tema assume um teor po-lêmico, como nas recentes querelas sobre a po-sição da Igreja Católica quanto ao uso da cami-sinha, a origem do vírus ou, ainda, sua funçãono desencadeamento da doença.

Tomando a Folha de São Paulo como parâ-metro – jornal que, na presente pesquisa, apre-sentou a maior cobertura em termos de núme-ro e espaço em cm/col –, constata-se uma di-minuição paulatina de matérias sobre a AIDS,passando da média diária de 3,87 matérias comas palavras AIDS ou “aidético” ou HIV (sem re-petições), em 1994, para 2,27 em 1999 (Folhade São Paulo, 2000).

Quanto ao desenvolvimento da mídia ele-trônica, é necessário apontar a recente expan-são do uso da Internet, especialmente com apossibilidade de acesso gratuito à rede, e os re-flexos do surgimento de portais associados àsagências de notícia. Inevitavelmente, essas al-terações irão introduzir novos hábitos de con-sumo de notícias, assim como novas estraté-gias de comunicabilidade compatíveis com asnovas tecnologias de informação.

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Agradecimentos

Agradecemos a participação da equipe de assistentesde pesquisa, composta por Roberta Edo, Cláudia Stel-la, Isabel Amaral, alunas do curso de Mestrado emPsicologia Social da Pontifícia Universidade Católicade São Paulo, e Fernanda Ribeiro, principalmente pe-lo excelente trabalho de clipping das matérias nos jor-nais pesquisados.