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Maringá Management: Revista de Ciências Empresariais, v. 10, n.1, - p. 07-17, jan./jun. 2013. 7 MARINGA MANAGEMENT ISSN 1807-6467 “A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR”: um estudo acerca da importância da logística reversa para as organizações RESUMO Este artigo tem como objetivo abordar os dois canais reversos (Pós- Consumo e Pós Venda) da Logística Reversa. Foi desenvolvida pesquisa bibliográfica se chegou a algumas conclusões. A Logística Reversa tem sido uma ferramenta importante, considerando a competitividade a nível global tem exigido atenção sobre os custos e a necessidade de planejamento dos movimentos dos produtos. A logística reversa funciona como um canal de retorno, que começa a partir do momento em que a operação de logística termina, ou seja, a partir do cliente final voltando para a organização. Focando em reduzir o impacto negativo sobre o meio ambiente, cada um dos componentes dos produtos finais é usado até que ele não tenha condições de ser reutilizado novamente. Isso gera benefícios sociais e ecológicos, assim como redução de custos de produção. A logística reversa é um desafio para as empresas que pretendem acompanhar as demandas de uma nova era nos negócios.. Palavras Chave: Logística reversa; canais reversos; benefícios ecológicos. Anderson Katsumi Miyatake Unicesumar Dalton Matsumura CREA-PR Juliana Marangoni Amarante Unicesumar Unifamma E-mail: [email protected] [email protected] [email protected]

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR um estudo acerca da importância da logística reversa para as organizações

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“A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR”: um estudo acerca da importância da

logística reversa para as organizações

RESUMO Este artigo tem como objetivo abordar os dois canais reversos (Pós-Consumo e Pós Venda) da Logística Reversa. Foi desenvolvida pesquisa bibliográfica se chegou a algumas conclusões. A Logística Reversa tem sido uma ferramenta importante, considerando a competitividade a nível global tem exigido atenção sobre os custos e a necessidade de planejamento dos movimentos dos produtos. A logística reversa funciona como um canal de retorno, que começa a partir do momento em que a operação de logística termina, ou seja, a partir do cliente final voltando para a organização. Focando em reduzir o impacto negativo sobre o meio ambiente, cada um dos componentes dos produtos finais é usado até que ele não tenha condições de ser reutilizado novamente. Isso gera benefícios sociais e ecológicos, assim como redução de custos de produção. A logística reversa é um desafio para as empresas que pretendem acompanhar as demandas de uma nova era nos negócios.. Palavras Chave: Logística reversa; canais reversos; benefícios ecológicos.

Anderson Katsumi Miyatake – Unicesumar Dalton Matsumura CREA-PR Juliana Marangoni Amarante – Unicesumar – Unifamma E-mail:

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INTRODUÇÃO A competitividade no mundo organizacional exige, por parte das empresas, cada vez mais investimentos que vão além da mera eficiência produtiva e da excelência no atendimento ao consumidor. Nesse sentido, organizações que buscam diferenciar-se frente à concorrência, têm investido fortemente em práticas que as tornem social e ambientalmente aceitas frente ao público-alvo. A denominada logística reversa revela-se como uma importante estratégia organizacional que atende ao mesmo tempo uma série de demandas, tais como: demandas impostas pela legislação pertinente no que diz respeito à destinação correta de resíduos, ou mesmo no que diz respeito ao recolhimento de mercadorias que apresentarem algum defeito após compradas; demandas financeiras da própria organização, uma vez que muito do que se recolhe pode ser reincorporado ao processo produtivo; demandas de mercado geradas pelo próprio público-alvo cada vez mais ciente dos problemas ambientais causados pelo aumento no consumo e; demandas ambientais propriamente ditas. O problema de pesquisa a ser respondido pelo estudo é: De que forma a logística reversa pode ser importante para as organizações frente as demandas e necessidades do mercado e também de preservação do meio em que vivemos? O presente estudo objetiva, por meio de pesquisa bibliográfica, apresentar a importância da logística reversa para as organizações frente às demandas atuais a pouco mencionadas. A fim de cumprir o objetivo proposto, o texto está estruturado da seguinte forma: no item 2 tem-se a apresentação dos procedimentos metodológicos adotados. No item 3, são apresentados conceitos de logística e logística reversa para ser possível compreender no tópico 4 os dois tipos de canais reversos da logística reversa, seguidos pelo item 5 no qual se discute a importância da logística

reversa para as organizações. Por fim, as considerações finais e as referências. METODOLOGIA A pesquisa se trata de pesquisa bibliográfica. Para Marconi e Lakatos (2010) a pesquisa bibliográfica proporciona ao pesquisador contato direto com o que já foi documentado (escrito, dito ou filmado) sobre determinada temática. Gil (2010) destaca que esse tipo de pesquisa fornece ao trabalho fundamentação teórica. A principal vantagem, ainda conforme o autor, proporciona ao pesquisador o contato com ampla gama de fenômenos dos quais muitas vezes não seria possível pesquisá-los diretamente. Além disso, tal modalidade de pesquisa se mostra bastante eficiente quando se necessita de dados que se encontram dispersos no espaço. CONSIDERAÇÕES SOBRE LOGÍSTICA E LOGÍSTICA REVERSA Antes de partir para o foco do presente estudo, que é a logística reversa, faz-se necessário apresentar alguns conceitos básicos sobre logística. Segundo Ballou (2001, p. 21) “a logística é um conjunto de atividades funcionais que é repetido muitas vezes ao longo do canal de suprimentos através do qual as matérias-primas são convertidas em produtos acabados e o valor é adicionado aos olhos dos consumidores”. Martins (2004) considera que a logística se inicia no momento que o cliente decide realizar um desejo. As atividades logísticas estão ligadas ao planejamento, implementação e controle do fluxo de matérias-primas, como também estoque em processo e produtos acabados. Novaes (2001) acrescenta que a logística busca, de um lado, aperfeiçoar as atividades da empresa, de forma a gerar retorno por meio de uma melhoria no nível de serviço a ser oferecido ao cliente e, de outro lado, prover a empresa de condições para competir no mercado, por exemplo, por meio da redução dos custos.

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Entretanto, Moura (2005) salienta que a logística não é somente uma questão de técnica de armazenagem e de movimentação de embalagens e transportes, mas é também um método de direção e gestão que co-determina o grau de utilização das instalações fabris, o volume de estoque, a disponibilidade de fornecimento, além do serviço ao cliente. A logística, ao contrário do que é conhecido popularmente, não é apenas a atividade de deslocar um produto de um local para outro. Essa é uma das atividades, mas possui uma abrangência muito maior, pois envolve um processo de planejamento e controle das matérias-primas e/ou produtos que passam pela organização, de forma que se possa obter ganhos em relação à diminuição de recursos e uso mais eficiente dos recursos, que é conseguida com o melhor uso das informações que circulam no ambiente que envolve a organização. Entretanto, como é possível notar, se trata de processos que terminam no cliente final, ou seja, quando várias etapas foram atingidas e culmina na compra do produto/serviço pelo consumidor. No seio do conceito de logística desenvolveu-se o conceito de logística reversa que busca ampliar o escopo da logística. De acordo com Souza e Fonseca (2009, p. 30), pode-se definir logística reversa como:

[...] aquele segmento da cadeia de suprimentos que trata dos processos logísticos de produtos que já foram vendidos em duas frentes. A primeira refere-se ao fluxo de retorno de produtos que foram entregues com algum tipo de problema (qualidade, quantidade etc.), produtos que necessitam reparos (recall), e produtos que o produtor assume a responsabilidade sobre o mesmo, após sua vida útil. A segunda frente se refere ao fluxo de retorno de produtos que se destinarão basicamente a venda ou reciclagem, produtos que tenham sido originários do comércio, indústria, ou residências.

Moura (2005, p. 59) destaca: “a logística reversa é um conceito recentemente introduzido, que

está ganhando aceitação”. E ainda afirma que a logística reversa está preocupada com a responsabilidade pelos produtos, equipamentos e outros materiais no final da cadeia de abastecimento. Luttwak (1971, apud GIACOBO; CERETTA; ESTRADA, 2004) define a logística reversa como o processo inverso da logística. Esse raciocínio é complementado por Ballou (2001, p. 22) afirmando que “o canal de logística reversa pode utilizar todo ou apenas uma parte do canal logístico, ou pode precisar de um projeto separado”. Conforme Leite (2003, p. 16-17) a logística reversa é a

[...] área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.

A agregação de valor ocorre no planejamento das redes reversas e as respectivas informações e na operacionalização do fluxo desde a coleta dos bens, por meio dos processamentos logísticos de consolidação, separação e seleção, até a reintegrar-se ao ciclo produtivo (LEITE, 2003). A logística está presente desde a fabricação do produto, passando pelo deslocamento até chegar ao consumidor final. Já a logística reversa se inicia a partir do momento que o consumidor, por algum motivo, não mais utilizará o produto, seja por fim da vida útil ou por devolução. A figura 1 explica através de um esquema, as diferenças entre um e outro. Essa figura pode ser explicada segundo Mueller (2005, p. 1-2) que diferencia a Logística convencional da Logística Reversa, nos seguintes aspectos:

Na Cadeia Logística convencional os produtos são puxados pelo sistema, enquanto que na Logística Reversa existe uma combinação entre puxar e

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empurrar os produtos pela cadeia de suprimentos. Isto acontece, pois há, em muitos casos, uma legislação que aumenta a responsabilidade do produtor. Quantidades de descarte já são limitadas em muitos países.

Os Fluxos Logísticos Reversos não se dispõem de forma divergente, como os fluxos convencionais, mas sim podendo ser divergentes e convergentes ao mesmo tempo.

O processo produtivo ultrapassa os limites das unidades de produção no sistema de Logística Reversa. Os fluxos de retorno seguem um diagrama de processamento pré-definido, no qual os produtos (descartados) são transformados em produtos secundários, componentes e materiais. Os processos de produção aparecem incorporados à rede de distribuição.

Ao contrário do processo convencional, a Logística Reversa possui um nível de incerteza muito alto. Questões como qualidade e demanda tornam-se difíceis de controlar.

Ou seja, podemos compreender que o fluxo da logística reversa é justamente o inverso da logística convencional. Enquanto nessa última o suprimento vai para a fábrica, depois para o atacadista/distribuidor e termina no cliente, a logística reversa está direcionada no início para o cliente até chegar no suprimento que é a base dos produtos.

Figura 1 – Esquema de logística e logística reversa na cadeia de suprimento Fonte: Giacobo; Ceretta; Estrada (2004, p. 54)

Dessa forma, se considera que a logística reversa funciona como um complemento a logística convencional, e que vem sendo adotada pelas organizações como forma de obter vantagem competitiva e uma necessidade visando o futuro, pois há uma preocupação em realizar um processo inverso na cadeia para dar o devido fim aos suprimentos, aproveitando-os ao máximo. A logística termina com o cliente e é a base para a atuação da logística reversa, que vai refazer o processo até chegar à fonte de suprimentos, ou seja, a logística fechava o ciclo no cliente e o processo tinha fim, mas atualmente isso vem mudando, com a logística reversa que retorna e fecha o ciclo na fonte de suprimentos.

Fluxo de informações

Logística

reversa

Logística Fluxo de

informações

Fonte de

suprimen

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Cliente

Fábrica

Legenda

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TIPOS DE LOGÍSTICA REVERSA: PÓS-CONSUMO E PÓS-VENDA Pós-consumo De acordo com Giacobo, Ceretta e Estrada (2004, p. 51) “muito se fala sob o prisma de uma crescente conscientização ecológica relativa aos impactos que o resíduo dos produtos originados a partir do descarte do pós-consumo pode causar no meio ambiente”. Mesmo porque, segundo Mueller (2005, p. 2): “o perfil do novo consumidor é de preocupação com o meio-ambiente, pois ele tem consciência dos danos que dejetos podem causar em um futuro próximo”. Assim, a autora continua afirmando que a afirma que: “Logística Reversa de pós-consumo vem trazendo o conceito de se administrar não somente a entrega do produto ao cliente, mas também o seu retorno, direcionando-o para ser descartado ou reutilizado” (MUELLER, 2005, p. 2-3). Para Leite (2003, p. 18), logística reversa de pós-consumo é

a área de atuação da logística reversa que equaciona e operacionaliza igualmente o fluxo físico e as informações correspondentes de bens de pós-consumo descartados pela sociedade em geral que retornam ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo por meio dos canais de distribuição reversos específicos. Constituem bens de pós-consumo os produtos em fim de vida útil ou usados com possibilidade de reutilização e os resíduos industriais em geral. Seu objetivo estratégico é agregar valor a um produto logístico constituído por bens inservíveis ao proprietário original ou que ainda possuam condições de utilização, por produtos descartados pelo fato de terem atingido o fim de vida útil e por resíduos industriais. Esses produtos de pós-consumo poderão se originar de bens duráveis ou descartáveis e fluir por canais reversos de reuso, desmanche, reciclagem até a destinação final.”

Após chegar ao consumidor final o produto pode seguir em três destinos diferentes: ir para

um local seguro de descarte, como aterros sanitários e depósitos específicos; um destino não seguro, sendo descartado na natureza, poluindo o ambiente; ou por fim, voltar a uma cadeia de distribuição reversa. Há bastante tempo, fabricantes de bebidas utilizam este fluxo reverso para retornar suas embalagens, a fim de reutilizá-las. Siderúrgicas já usam parte da sucata produzida por seus clientes como insumo de produção. Outro canal de logística reversa de pós-consumo tem se tornado necessário, o retorno de produtos altamente nocivos ao meio ambiente. Embalagens de agrotóxicos, pilhas, baterias assim como produtos utilizados em pesquisas laboratoriais. Estes produtos contêm compostos químicos tóxicos e até compostos químicos radioativos, e nestes casos o perigo, a falta de uma cadeia reversa de recolhimento, é urgente. Já o retorno de equipamentos tecnológicos tem se mostrado um novo e lucrativo setor. Peças e equipamentos podem ser reutilizados, dentre outras coisas se encontram minérios de alto valor agregado, como cobre, prata e ouro. Os produtos que passam pelo processo de logística, chegam até o consumidor e são descartados em um segundo momento são os produtos pós-consumo. Quando o produto ainda pode ser utilizado, vai para o mercado de segunda mão, que o repassa a outra pessoa que vai utilizá-lo até o fim da vida útil. É o denominado canal reverso de reuso (CLM, 1993 apud LEITE, 2003). Chegada a essa etapa, o fluxo reverso pode ser revalorizado de duas formas: em forma de desmanche, isto é, o produto é desmontado e as peças que ainda podem ser reutilizadas são encaminhadas para o mercado de peças usadas e as outras que não podem mais ser reutilizadas são destinadas aos aterros sanitários ou incinerados. A outra forma é pela reciclagem, ou seja, há a coleta, a separação e a reciclagem, que permitem a volta ao processo produtivo como matéria-prima (LEITE, 2003).

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A logística reversa de pós-consumo é responsável pelo “planejamento, operação e controle do fluxo de retorno dos produtos de pós-consumo ou de materiais constituintes, classificados, de acordo com o estado de vida e origem, como: condições em uso, fim de vida útil e resíduos industriais” (LEITE, 2003, p. 19-20). Pós-venda Segundo Ferreira (2004, p. 606) pós-venda é a “etapa posterior à efetivação da venda, que pesquisa, junto ao cliente, a qualidade dos serviços prestados, a satisfação com produto ou serviço adquirido, etc”. A logística reversa de pós-venda trata do retorno do produto do consumidor ou cliente para o fabricante, sendo que esse retorno pode ocorrer devido a uma série de motivos distintos (GIACOBO et al, 2004). Segundo Leite (2003, p. 17-18), logística reversa de pós-venda é a

área de atuação que se ocupa do equacionamento e operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes de bens de pós-venda, sem uso ou com pouco uso, os quais, por diferentes motivos, retornam aos diferentes elos da cadeia de distribuição direta, que se constituem de uma parte dos canais reversos pelos quais fluem esses produtos. Seu objetivo estratégico é agregar valor a um produto logístico que é devolvido por razões comerciais, erros no processamento dos pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento, avarias no transporte, entre outros motivos. Esse fluxo de retorno se estabelecerá entre os diversos elos da cadeia de distribuição direta, dependendo do objetivo estratégico ou do motivo do retorno. (LEITE, 2003, p. 17-18)

Mueller (2005) afirma que a logística reversa de pós-venda segue o propósito da criação de determinado setor, agregando valor ao produto e garantindo um diferencial competitivo. A confiança entre os dois extremos da cadeia de

distribuição pode se tornar o fator principal para a próxima venda. Erros de expedição, produtos consignados, excesso de estoque, giro baixo, produtos sazonais, defeituosos, recall de produtos, validade expirada e danificação de trânsito são fatores que levam as empresas a optarem pela logística reversa do pós-venda. Um exemplo bastante comum são as empresas de bebidas que trabalham com consignação de produtos. Uma vez não vendidos ou consumidos, estes são retornados para tais empresas que, posteriormente, podem disponibiliza-los novamente ao mercado ou então, dar outra destinação. Fabricantes de Eletroeletrônicos utilizam o fornecimento de garantias como forma de propaganda, garantindo a confiança do cliente em seus produtos e também em seus serviços pós-venda. Evidentemente que com o fortalecimento dos Procons do país e do Código de Defesa do Consumidor as empresas passaram a ficar mais atentas ao cumprimento das leis concernentes à relação de compra e venda no varejo, até mesmo porque o consumidor está mais exigente nesse sentido, pois atualmente ele tem mais conhecimentos a respeito. O canal de distribuição reverso de pós-venda é diferente do pós-consumo, pois ocorre a devolução do produto, seja por validade vencida, estoques excessivos, estarem em consignação, falta de qualidade ou defeituosos, danos durante o processo de transporte ou defeitos ocorridos dentro da garantia. Os produtos podem ser reformulados, destinados a desmanche a reciclagem ou serem completamente descartados (LEITE, 2003). Para melhor explicar as diferenças, a figura 2 ilustra as áreas de atuação da logística reversa e as características da logística do pós-consumo e de pós-venda.

Logística reversa de

pós-venda

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Figura 2 – Áreas de atuação da logística reversa Fonte: Leite (2003, p. 17).

IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA REVERSA NAS ORGANIZAÇÕES Segundo Santos (2007), os fabricantes, tradicionalmente, não se sentem responsáveis por seus produtos após o consumo. Assim, a maioria dos produtos usados são incinerados ou descartados com consideráveis danos ao meio ambiente. Recentemente, legislações mais severas e a maior consciência do consumidor/administrador sobre danos ao meio ambiente estão levando as organizações a repensarem sua responsabilidade sobre o descarte de produtos consumidos. No país, de acordo com Brasil (2013, online) temos o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que defere a responsabilidade compartilhada em 3 aspectos (ciclo de vida dos produtos, logística reversa e acordo setorial). Atualmente temos sistemas implantados para embalagens de agrotóxicos, óleo lubrificante usado ou contaminado, pilhas e baterias e pneus. Os sistemas em implantação são para embalagens plásticas de óleos lubrificantes, lâmpadas, embalagens em geral, eletrônicos e equipamentos. Há um comitê composto por 5

ministérios Ministério do Meio Ambiente (MMA) que preside a comissão, além do Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC); Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA); Ministério da Fazenda (MF); e Ministério da Saúde (MS). A legislação ambiental que pressiona as organizações a retornarem seus produtos e cuidar do tratamento necessário; os benefícios econômicos do uso de produtos que retornarem ao processo de produção; a crescente conscientização ambiental do mercado consumidor; razões competitivas, sobretudo pela diferenciação por serviço; limpeza do canal de distribuição; proteção da margem de lucro e a recaptura de valor e recuperação de artigos são as principais razões que levam as empresas a empregarem a Logística Reversa, de acordo com Mueller (2005) e pesquisadores de várias universidades em todo mundo coordenados pela Erasmus University Rotterdam na Holanda. De acordo com Souza e Fonseca (2009, p. 31)

Nas últimas décadas, a atenção dada à logística reversa cresceu bastante pelos mais variados motivos. Inicialmente a atenção a ela provinha de preocupações com meio ambiente e reciclagem, e com o passar do tempo, razões econômicas expressas pela competição e pelo marketing tornaram-se grandes responsáveis pelo desenvolvimento da logística reversa. O aumento de retornos pode ser facilmente notado em indústrias, processos de recall, termos de garantia, serviços de retorno, descarte adequado ao final da vida útil, e assim por diante.

Segundo Santos (2007) existem dois desafios para a logística reversa. O primeiro é localizar os motivos estratégicos e de custos para as empresas adotarem e o segundo é mostrar os possíveis ganhos que podem ter caso implantem nas organizações. A dinâmica da logística reversa é o reaproveitamento de materiais, e é dessa forma que se agrega valor no processo inverso. A reciclagem é o primeiro canal de

Logística

reversa de

pós-consumo

Reciclagem

industrial

Desmanche

industrial

Reuso

Consolidação

Coletas

Logística

reversa de pós-

venda

Seleção/destino

Consolidação

Coletas

Consumidor

Bens de pós-

venda

Bens de pós-

consumo

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distribuição reversa, que além do impacto ambiental e social, viabiliza uma atividade econômica importante para aqueles que trabalham e obtém renda a partir da separação de materiais recicláveis, aumentando a vida útil dos aterros e trazendo enorme contribuição a saúde e ao futuro das pessoas (SANTOS, 2007). Ainda, de acordo com a mesma autora, as empresas que forem mais rápidas na implantação da logística reversa do pós-consumo terão uma maior vantagem competitiva sobre as que demorarem na implementação do gerenciamento do fluxo reverso, vantagem que pode ser traduzida em custos menores ou ainda a melhora no serviço ao consumidor. De acordo com Santos (2007, p. 91-92) “o crescimento da posição da logística reversa do pós-consumo na empresa é recente. A implementação deste sistema reflete em vantagens competitivas para as empresas, ao nível de menores custos e melhoria de serviço ao consumidor. Juntamente às vantagens competitivas está a questão ecológica da logística reversa do pós-consumo. Quando a empresa investe neste setor ela garante bons resultados para o futuro, tanto para si como para todos.” A logística reversa de pós-venda é responsável pelo planejamento, operação e controle do fluxo de retorno dos produtos de pós-venda, classificados: “garantia/qualidade, comerciais e substituição de componentes” (LEITE, 2003, p. 18). Este tipo de logística também tem a preocupação com o descarte de materiais, porém aqueles que ocorrem pós-venda, seja por defeito de fabricação ou por devolução. Uma forma de saber os fatores críticos de sucesso para a logística reversa é utilizar os elementos classificados por Lacerda (2002 apud OLIVEIRA; GAMBÔA; SANTOS, 2003). Através dos critérios: Bons controles de entrada, Processos padronizados e mapeados; Tempo de ciclo reduzido, Sistemas de informação, Rede logística planejada e Relações colaborativas

entre clientes e fornecedores. Isso porque os critérios se atentam a planejamento e controle, que são fundamentais na gestão convencional e não seria diferente para lidar com canais reversos. O desenvolvimento de estratégias de logística reversa podem ser pensados conforme o modelo de Giacobo, Ceretta e Estrada (2003, p. 12) que utilizam 7 etapas, conforme figura 3. Casos de exemplos de Logística Reversa podem ser encontrados em Oliveira, Gambôa e Santos (2003) que realizaram estudo em uma indústria de especialidades químicas, Rezende, Slomski e Dalmácio que estudaram a distribuição de matérias-primas farmacêuticas. Outro exemplo estudado é de La Fuente e Robles (2005) que estudaram sobre latas de alumínio e garrafas PET. Empresas como os Correios e a UPS também realizam ações visando a logística reversa. Isso porque o foco de atuação da logística reversa é bastante amplo, conforme figura 4.

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Figura 3 – Etapas para desenvolvimento de estratégias de logística reversa Fonte: GIACOBO, CERETTA, ESTRADA (2003, p. 12)

Casos de exemplos de Logística Reversa podem ser encontrados em Oliveira, Gambôa e Santos (2003) que realizaram estudo em uma indústria de especialidades químicas, Rezende, Slomski e Dalmácio que estudaram a distribuição de matérias-primas farmacêuticas. Outro exemplo estudado é de La Fuente e Robles (2005) que estudaram sobre latas de alumínio e garrafas PET. Empresas como os Correios e a UPS também realizam ações visando a logística

reversa. Isso porque o foco de atuação da logística reversa é bastante amplo, conforme figura 4. Na figura é possível notar a logística reversa se atenta aos aspectos do retorno, reuso e reciclagem, princípios fundamentais nos dias atuais.

Figura 4 – Foco de atuação da Logística Reversa Fonte: Leite (2002, p. 3).

CONSIDERAÇÕES FINAIS A logística surgiu da necessidade das organizações de planejamento e deslocamento do fluxo de mercadorias, desde o fornecedor até o consumidor final, para fornecerem o produto/serviço da maneira mais eficiente possível em termos de custos e velocidade das transações. Porém, na atualidade uma crescente preocupação com a destinação dos materiais depois que se tornam obsoletos, estragam ou danificam-se tem emergido devido a forte discussão no momento sobre aquecimento global e a preservação do meio ambiente. As organizações, como reação a esses fatos, está criando canais de logística reversa, que utilizam o próprio canal da logística que possuem para o descarte do produto de maneira adequada e ecologicamente correta. Práticas como a Logística Reversa de Pós-Consumo, que é o retorno dos produtos usados

1 - Coletar informações

processos reversos da empresa

2 - Identificar necessidades de

clientes

3 - Identificar ações da

concorrência

4 - Verificar viabilidade do

serviço

6 - Desenvolver estratégias de

logística reversa

7 - Implementar as estratégias de

logística reversa

F

E

E

D

B

A

C

K

5 - Posicionar administração

sobre o serviço

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em condições de uso ou em fim de vida útil, e de Pós-Venda, que é o retorno dos produtos com pouco uso ou nenhum uso, são fluxos reversos que colaboram para minimizar os problemas ambientais, podendo ser rentáveis aos empresários e também benéficos aos clientes e para toda a sociedade. A Logística Reversa vem ganhando atenção tanto em estudos acadêmicos quanto nas empresas pela necessidade de preocupação com o meio ambiente, a reciclagem e o marketing organizacional. Entretanto, é necessário planejar e padronizar estratégias para que os canais reversos funcionem nas empresas e possa ser aplicada para que as empresas promovam o retorno, o reuso e a reciclagem nas atividades cotidianas. Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. tradução: Elias Pereira. 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. BRASIL. Logística Reversa. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-perigosos/logistica-reversa>. Acesso em: 12 ago. 2013. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo, 2004. GIACOBO, F.; CERETTA, P. S.; ESTRADA, R. J. S. Logística Reversa: A satisfação do cliente no pós-venda. Revista Veja. Maringá: Corpore, v.1 n.1 julho-agosto, 2004. GIACOBO, F.; CERETTA, P. S.; ESTRADA, R. J. S. Logística Reversa: Logística Reversa: a satisfação do cliente no pós-venda. Anais... Enanpad, 2003.

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