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Introdução metodológica
Com três visitas ao vão do MASP, foram utilizadas neste estudo
observações, conversas e fotos para retratar ao máximo as tribos que ocupam
o vão do MASP.
O MASP
O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), é situado
na Avenida Paulista, um dos lugares mais importantes da cidade de São Paulo.
O museu foi inaugurado em 1947, em outra localização, se transferindo para o
local atual em 7 de setembro de 1968.
O prédio, que tem como uma de suas principais características os quatro
pilares de sustentação vermelhos, é tombado pelos três governos executivos –
federal, estadual e municipal, sendo, também, considerado um cartão postal da
cidade.
O MASP foi idealizado pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand
e por Pietro Bardi. A arquiteta do museu foi Lina Bo Bardi e Jose Carlos
Figueiredo Ferraz o engenheiro. Durante a construção, um empecilho dificultou
o trabalho: o prédio não poderia fechar o amplo panorama.
Existiam duas soluções para este empasse; construir de forma suspensa
ou no subsolo. A alternativa encontrada foi unir as duas opções. Desta forma,
surgiu o famoso vão do MASP. Tendo 74 metros, foi considerado o maior vão
livre na época.
Atualmente, Adriano Pedrosa e Heitor Martin são o curador e diretor,
respectivamente. Não tendo fins lucrativos, o museu conta com mais de oito mil
peças, principalmente formado por pinturas francesas e italianas. Grande parte
do acervo é composto por pintura ocidental, no entanto não nega artistas
africanos e latino-americanos. Esculturas também fazem parte das obras
expostas.
Dentro do prédio do MASP não existe apenas a exposição. O ponto
turístico paulistano presta diversos serviços como cursos de temas variados,
diversas palestras, espetáculos e aulas relacionadas à arte, além de biblioteca,
loja de lembranças e, no subsolo, um restaurante.
O Vão do MASP
No vão se concentram diversos grupos, que vão desde vendedores,
estudantes, grupos de excursões, pessoas que querem descansar a moradores
de rua e usuários de droga, entre outros.
Além disso, o ponto turístico da capital do estado de São Paulo é um
foco de concentração de manifestantes e também de ações diferenciadas,
como postos emergenciais de atendimento à saúde, ações promocionais –
tendo como exemplo a bancada da estação de rádio Band News sendo
transferida por um dia ao vão, realizando sua programação diária em meio ao
público - entre outros. Em geral, o lugar é muito bem policiado.
Localização
O vão do MASP se encontra na Avenida Paulista, no bairro Bela Vista. A
localização foi analisada também a partir de seus redores, como a praça
localizada na descida da Alameda Casa Branca.
Estruturas
O MASP possui a seguinte estrutura: um bloco, no qual há várias
instalações, sustentado por quatro pilares principais, além do apoio dado pela
parte da recepção e bilheteria. Entre o bloco e o solo há um espaço aberto de
mais de 70 metros: esse é o vão. Ali, há uma mureta em formato de banco, que
é muito utilizado para se sentar. Na calçada da Av. Paulista, uma em cada
extremidade da construção, há duas fontes relativamente pequenas com água
muito poluída. Ela é frequentemente utilizada por moradores de rua para se
banharem.
Divisão do local
O vão do MASP não tem uma divisão bem definida, as pessoas se ocupam do
local e vão se adequando conforme a utilização do local por outras pessoas. A
praça próxima é utilizada por estudantes para consumirem álcool.
O outro lado da calçada e a parte coberta do vão do MASP é utilizado por
vendedores em barraquinhas. A calçada é utilizada principalmente por pessoas
em deslocamento e vendedores que não se utilizam de uma barraca e que,
geralmente, não ocupam sempre o mesmo lugar.
Policiais também utilizam muito a calçada do lado oposto do museu. Lá,
sempre tem uma base móvel da polícia militar, e no final de semana e
manifestação é um local de referência e com grande contingente.
Durante o dia, os moradores de rua buscam ocupar os lugares cobertos
e com menor circulação de pessoas, entretanto raramente ficam do lado da
entrada do museu. Olhando da paulista para o MASP, no lado direito, ficam os
seguranças, a entrada e a venda de ingresso para o museu.
A parte descoberta é muito utilizado durante o dia para as pessoas
interessadas em se afastar um pouco da cidade, pois ela passa uma sensação
diferenciada, com menos barulho, uma paisagem aberta, bastante vento, e a
possibilidade de tomar sol.
Durante o período noturno, jovens ocupam o local para festejar,
consumir bebidas alcoólicas, e socializar. Alguns usam drogas ilícitas. O local
pode ser considerado de risco, pois existem histórias de pessoas que, bêbadas
ou drogadas, caíram e sofreram diversas lesões ou vieram a falecer.
É importante expor que a Paulista está elevada em relação a Avenida 9
de Julho, que liga a Alameda Casa Branca com a Praça Arquiteto Rodrigo
Lefevre, a rua Carlos Comenale, entre outras.
Visitantes
O Museu do MASP e as outras atividades do complexo contam com
diversos tipos de visitantes. Existem excursões escolares, curiosos, pessoas
que vão comer, pessoas que vão a debates, pessoas que vão fazer cursos,
interessados nas exposições e alunos em busca de horas complementares.
- Excursões escolares:
Em sua maioria é de crianças ou adolescentes, muitos que vão para
conseguir nota e outros que realmente gostam de arte. Sempre acompanhados
de professores e monitores, se deslocam ao local de ônibus fretado.
Geralmente estão uniformizados e em grupos grandes. Para os
educadores existe a atenção redobrada, por ser um espaço livre, em que os
alunos podem vir a se perder ou sair correndo em uma brincadeira e acabarem
se perdendo. A contagem de alunos sempre é feita.
Entre as crianças ou adolescentes existem grupos divididos, ou seja, são
grupos dentro de um grupo. A partir desse momento existe muita variedade,
tem rodas somente de moças, assim como de meninos, e também grupos
mistos.
- Interessados no restaurante:
Em sua grande maioria são pessoas com mais de 28 anos, que
trabalham perto da região e disponibilizam de dinheiro para ir ao local, já que
os preços podem ser considerados altos. Também tem turistas, que aproveitam
que estão em um dos monumentos da cidade de São Paulo ou que visitaram o
museu e fazem sua refeição no local.
- Debates, cursos e biblioteca:
O público, em geral, é para pessoas mais interessadas em arte e em
cultura. A grande maioria é maior de 18 anos. Essas pessoas podem ser ou de
faculdades em busca de mais conhecimento ou adultos com mais de 30 anos.
- Alunos em busca de horas complementares:
Este grupo é constituído principalmente por universitários, em uma
média de 18 até uns 28 anos. Em geral, como relataram, não ficam muito no
museu, gostam de ir no dia em que a visitação é gratuita e estão lá pelo fato de
precisarem cumprir as horas complementares exigidas pela faculdade.
“Você vai lá na terça-feira, que a entrada é gratuita, fica uns 30 minutos
e vai embora. Você só precisa pegar o ingresso e fazer um relatório”, disse
Matheus.
Como se pode ver, nesse caso, a visitação não é por um interesse
cultural nas obras ou na arte e sim em uma atividade requisitada pela
instituição de ensino.
Ações Sociais
Há postos de saúde com serviço absolutamente gratuito, fazendo
medição de pressão e dando alguma orientação aos interessados, por
exemplo. As ações geralmente são pontuais.
Descanso e tempo livre
Este público utiliza principalmente o espaço externo, a céu aberto, para
tentar fugir da cidade. Os horários, geralmente, são a pausa para o almoço ou
um descanso durante a tarde. Também há a ampla utilização durante o final de
semana, quando a experiência pode se expandir para o parque Trianon MASP,
em frente ao Museu.
Com as novas ciclovias e ciclofaixas, mais pessoas estão indo para o
vão do MASP de bicicleta, apesar de que o metrô ainda é muito utilizado,
principalmente para quem vem de outras zonas da cidade.
Segundo pessoas entrevistadas, a grande vantagem do vão do MASP é
que ele está em uma área centralizada, o que permite a pessoa fazer várias
coisas, como ir ao parque (Trianon MASP e o Ibirapuera são perto), fazer
compras, comer e visitar o cartão postal da cidade de São Paulo.
Vendedores
Durante a semana, os vendedores ficam no outro lado da calçada e
alguns montam as suas pequenas vendinhas na própria calçada, ficando
sentados no chão. No final de semana, o vão livre do MASP é ocupado por
barraquinhas.
Para quem fica sentado no chão, os principais produtos são missangas,
pulseirinhas ou arte própria. Já nas barraquinhas a variedade é maior e roupas,
panos e produtos “mais sofisticados” são vendidos.
Segundo os relatos de alguns vendedores de barracas, eles variam de
localidades para buscar um público maior. Locais movimentados são as
localidades que eles buscam ficar.
Um vendedor de rua indicou que começou pedindo dinheiro para fazer
um pequeno investimento para iniciar e começar a fazer os seus colares, que,
conforme ele informou, dão o sustento básico de comida e bebida (água).
A maioria não pertence a própria Paulista. Em grande maioria, eles vêm de
cidades periféricas, como Osasco e Guarulhos e também da Zona Leste. Metrô
e ônibus são os transportes utilizados para chegar aos pontos de venda.
Moradores de Rua
Como se situa em uma região centralizada, o vão abriga moradores de
rua. De dia, eles ficam nos cantos das instalações e tentam dormir. Um deles
informou que a região é boa para pedir dinheiro, já que é movimentada, mas
que nunca é o suficiente. “A pessoa nem olha”, afirma.
A situação destes é precária. Geralmente, eles têm cobertores, com
muita sorte colchões, e papelão, que utilizam para tentar buscar algum
conforto. Alguns chegam a ter um cão.
Sem poder tomar banho aquecido e em um chuveiro, alguns utilizam as
laterais do lago, onde existem duas áreas com água para buscar se limpar. A
ação acontece em pleno dia.
Protestos
Situado em uma região importante na cidade e sendo um dos destaques
da Avenida Paulista, o MASP é um dos pontos de encontro para diversas
manifestações.
Na terça-feira, dia 15 de setembro, a CUT (Central única dos
Trabalhadores) fez um protesto e o ponto de encontro foi o metrô e, após o
protesto, muitos se encaminharam para o MASP.
Algumas pessoas que participaram do protesto informaram que como a
Paulista é uma localização importante da cidade, chama atenção. Além disso,
eles estavam protestando contra uma instituição que tem salas na avenida.
Além disso, foi relatado que o MASP é um local muito bom para se
encontrar, por ser espaçoso, ficar próximo ao metrô.
Como os arredores do museu estão em obra. Por exemplo as pilastras
vermelhas que sustentam o prédio, alguns manifestantes aproveitaram os
tapumes para escreverem o que pensam.
Conclusão
Segundo o texto “Quando o Campo é a Cidade. Fazendo antropologia
na metrópole”, de TAL PESSOA, podemos aplicar ao espaço urbano três
conceitos, dentre outros. O primeiro é denominado “pedaço”, zona entre o
privado e o público de um determinado grupo, baseado na força das relações
sociais sob uma mesma identidade. O segundo é o chamado “mancha”, que se
refere ao local em que estão diversos estabelecimentos de lazer, os chamados
equipamentos, acolhendo amplamente diversos grupos ou tribos de diversos
pedaços; é um local mais estável, um ponto de referência para a cidade. E, por
fim, o terceiro conceito: “trajeto”, que pode ser tanto considerado como o
caminho de ampliação do pedaço à mancha quanto o roteiro aplicado pelos
grupos, segundo seus interesses.
Em termos práticos, podemos identificar inúmeros pedaços pela cidade,
pois há diversas tribos; se uma tribo ocupa uma praça, por exemplo, e a utiliza
para cultivar relações sociais entre aqueles que estão inseridos nos mesmos
hábitos e na mesma cultura – além de, como é de costume, morarem e
atuarem a maior parte do tempo pela região – esta praça se torna o seu
pedaço, inserido em um bairro em comum.
A ida destas tribos para pontos turísticos comuns, de socialização
propiciada pelo comércio e lazer, faz com que encontremos as manchas; a
Avenida Paulista e até mesmo a Rua Augusta são exemplos deste conceito.
Inúmeras tribos vão se divertir nestes lugares. É de uma amplidão maior
quando comparada ao pedaço.
O trajeto é o caminho que certa tribo percorrerá na mancha, de acordo
com seus interesses. Tendo a Avenida Paulista mais uma vez como exemplo,
podemos ter tribos indo da FNAC até a Livraria Cultura, no Conjunto Nacional,
aproveitando para irem ao MASP, no caminho, se a busca por entretenimento
cultural fizer parte de seu lazer. Em contra partida, outras tribos podem ir
passeando pelas barraquinhas na rua e pararem em um bar qualquer para
socializarem; outras, ainda, podem seguir paralelamente à Paulista, na
Alameda Santos, se quiserem uma refeição mais sofisticada, por exemplo.
O vão do MASP abriga várias tribos; esse é o seu pedaço. O pedaço dos
mendigos, dos vendedores, dos estudantes, entre outros. Todos se aproveitam
do ponto turístico, estável, que é a Avenida Paulista, a Consolação, a Augusta,
a Alameda Santos, por exemplo, que são as manchas. O roteiro, dentre esta
mistura social, para que as tribos usufruam deste lazer e cultivem seus laços
de comunicação, tendo estes laços tanto como causa e consequência da
movimentação pela mancha, é o trajeto.
Os três conceitos sistematizam, digamos, a movimentação destas
espécimes sociais tão distintas e, ao mesmo tempo, integradas. O olhar
antropológico, micro e macro, une com isso o fragmento a sua totalidade.
Nomes:
André Fonseca e Garda
Caio Bitencourt
Gustavo Zaraya
Professora/disciplina: Sandra Goulart/ Antropologia
MASP: Micro e Macro
Sala: 1º jornalismo A
Ano 2015
Bibliografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_de_Arte_de_S%C3%A3o_Paulo
http://masp.art.br/masp2010/sobre_masp_historico.php
Texto “Quando a cidade é o campo”, de José Guilherme Magnanni
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