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Arte Poética de Boileau
BOILEAU-DESPRÉAXU, Nicolas. A Arte Poética. Trad. Célia Berrettini. São Paulo:
Perspectva, 1979.
Prefácio
Nicolas Boileau-Despréaux (1636-1711) faz parte de um grupo nobre de
escritores que se ajuntaram em torno de Luís XIV, o Rei Sol, na época áurea do
absolutismo francês. Junto a escritores como Racine e Molière ajudou a definir o
classicismo francês. Assim como a Poética de Aristóteles, a de Boileau é uma reflexão
acerca de obras-primas anteriores e não um código com leis a serem seguidas. O autor,
aliás, seguiu de perto algumas ideias da Poética de Aristóteles, assim como da Epístola
aos Pisões de Horácio.
No Canto I o autor trata do métier do poeta, com os seus princípios gerais. Este
deve:
-sentir autêntica inspiração (1-26);
-ter elevado apreço a razão (27-38), evitando excessos, como o preciosismo (39-48), a
prolixidade (49-63), o desequilíbrio no verso (64-68), a monotonia no tom (69-78), o
burlesco (79-97) e a ênfase (98-102);
-cultivar o aspecto formal, os ritmos e os sons (103-112);
-primar pelo bom uso da língua e pela clareza (141-154), pela correção (155-174), pelo
rigor na composição em cada obra (175-182);
Além disso, cada obra deve ser submetida a uma crítica imparcial e fria. (182-
232)
No Canto II o autor trata do que chama pequenos gêneros, ou gêneros
secundários. São: idílio, elegia, ode, soneto, epigrama, rondó, balada, madrigal, sátira,
vaudeville e canção.
No Canto III, Boileau trata dos grandes gêneros literários: a tragédia (1-159), a
comédia (335-428) e a epopeia (160-334).
A tragédia deve: agradar ao público, despertar o terror e a compaixão, obedecer
às regras (exposição concisa e clara) e ser submetida às três unidades (verossimilhança,
conveniência e progressão dramática). Ele apresenta um histórico da poesia e então
aponta defeitos a serem evitados: o romanesco excessivo e a presença de heróis
perfeitos. As qualidades a serem cultivadas são: a verdade psicológica e histórica, a
emoção sincera, e a pureza da forma
Ao tratar da epopeia, dedica especial atenção ao marveilleaux, mas condenando
o marveilleaux cristão. Termina com elogios a Homero, assinalando as regras do gênero
épico: escolha do heroi; ausência de complicação; cuidado com relatos e descrições;
naturalidade do começo; e multiplicidade de ficções que devem ser agradáveis.
Por fim, trata da comédia. Seu grande fim seria imitação da natureza, exigindo a
verdade na pintura dos caracteres, das fases da vida, e dos costumes. Faz uma referência
a Molliere, e ao seu uso indevido de elementos farsescos, indicando as regras da
comédia: a existência de um tom que lhe é próprio; a necessidade de bem desenvolver a
ação, segundo o modelo de Terêncio; e a proibição da comicidade grosseira.
No Canto IV, Boileau apresenta seus conselhos de bom senso e de moralidade
aos que cultivam a poesia: a necessidade de autêntica vocação; de bem aceitar críticas e
não só elogios; de proporcionar prazer e utilidade ao leitor; e de ser o autor um homem
agradável, virtuoso e desinteressado. Passa então a um elogio a Luis XIV.
Canto I
Palavras-chave: Dom; Razão; Clareza; Crítica Sincera.
1-6: O poeta deve possuir a vocação para tal. A poesia é um dom natural.
7-12: O poeta não é aquele que faz apenas versos.
13-26: É preciso que cada poeta conheça a sua natureza e aptidão, a fim de não se meter
com o que não conseguirá fazer.
27-38: O bom senso deve concordar sempre com a rima. A rima é aliada da razão.
39-48: Elogio do bom senso.
49-63: O autor não deve se entregar à insensatez da abundância, do excesso. Deve
saber-se moderado.
64-68: O medo do mal leva a um mal ainda pior.
69-74: Deve-se variar o estilo. Deve-se fugir do monotonismo.
75-79: idem.
80-97: Deve-se evitar as palavras baixas. Sem o juízo do bom senso, o burlesco caiu em
um excesso fatal. É preferível a elegante graça ao burlesco farsista.
100-113: É preciso ser simples com a arte. Sublime (inspirar sentimentos nobres) sem
orgulho, e ser agradável sem artifício. E a lei maior para os versos é aquela do
agradável.
114-146: História da poesia francesa (elogio final ao bom metro e à clareza).
147-154: Antes de escrever, deve-se saber pensar.
155-163: O mau uso da língua faz um mau escritor.
164-174: É preciso não ter pressa, pois ela é inimiga do bom senso. É preciso polir
repetidas vezes o trabalho.
175-184: A obra de arte precisa ser um todo de diversas partes harmonizadas.
185-193: É preciso procurar críticas de amigos que o censurem.
194-199: A verdade não tem o caráter fechado da bajulação.
200-208: O verdadeiro amigo faz as objeções necessárias.
209-232: É necessária a crítica sincera.
Canto II
1-10: O idílio não deve tentar concorrer com a nobreza dos outros gêneros. Deve ter um
ar amável e um estilo simples. Deve agradar evitando versos presunçosos.
11-24: Não se deve dar à égloga versos épicos, nem se satisfazer com versos por demais
rústicos.
25-36: Para evitar os excessos dos extremos, é necessário seguir os clássicos. Para o
poeta idílico, Virgílio e Teócrito.
37-56: A elegia possui o tom um pouco mais elevado que o idílio, mas sem audácia. Ela
deve ser lutuosa e pintar a alegria e a tristeza dos apaixonados. Para escrevê-la não basta
ser poeta: é preciso estar apaixonado. Não se deve ser frívolo: só o coração fala na
elegia.
57-72: A ode possui mais brilho e energia, e mantém relações com os deuses. Seu estilo
impetuoso, às vezes um pouco desordeiro, louva o que precisa ser louvado nos feitos
dos homens.
73-81: Não se deve ser temerário na ode.
82-102: O soneto possui relações, em suas rígidas estruturas, com Apolo. Deve ter dois
quartetos de medida semelhante, rimando dois sons, seguidos de dois tercetos. A licença
poética está banida deste poema. Um bom soneto é difícil de ser alcançado.
103-124: O epigrama, a um só tempo mais livre e mais limitado, muitas vezes é apenas
um dito espirituoso com duas rimas. O uso do engenhoso pointe foi um valioso adendo
para a literatura.
124-139: A razão baniu o pointe para sempre dos discursos sérios. Ele é permitido
apenas no epigrama e com uma condição: de que o jogo esteja mais no pensamento que
nas palavras.
140-144: Todo poema é bonito por suas qualidades particulares. O rondó pela
simplicidade. A balada pelo capricho das rimas. O madrigal pela sua ternura e sua
doçura.
145-180: A sátira não deve difamar: ela deve mostrar a Verdade.
O artista:
-Deve possuir o dom natural;
-Não é simplesmente aquele que faz versos;
-Precisa conhecer a sua própria medida;
-Deve ter bom senso (a rima é aliada da razão);
-Deve ser moderado, e evitar os excessos;
-Deve saber pensar;
-Deve sentir o que compõe;
-
A obra de arte:
-Deve variar o estilo, a fim de não ser monótona;
-Deve evitar as palavras baixas;
-Deve ser polida diversas vezes;
-Deve fazer bom uso da língua;
-Precisa ser um todo de diversas partes harmonizadas;
-
A crítica:
-É necessária uma crítica sincera;
-A verdade não tem o caráter fechado da bajulação – a crítica não pode apenas louvar;
-As objeções necessárias devem ser levantadas;
-
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