4
Ironia – reforça a crí.ca que é feita aos moradores do Maranhão, que não ouviam nem acatavam a palavra do pregador. O facto dos peixes não se converterem não é representa.vo, já que do mesmo mal sofrem os homens. Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera desconsolar ao pregador, que é serem gente os peixes que se não háde converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje em Céu nem Inferno; e assim será menos triste este sermão, do que os meus parecem aos homens, pelos encaminhar sempre à lembrança destes dois fins. Qualidades e defeitos dos peixes: ouvem e não falam. Ironia – Padre António Vieira pretende demonstrar a ideia que os homens têm da igreja e dos sermões, assim como a inconsciência destes face à vida, pois para eles o encaminhamento que o pregador lhes proporciona é “triste”. Por oposição, o pregador afirma que não fará um sermão “triste”, por que não falará de “Céu” nem de “Inferno”, quando na realidade esses dois conceitos estão subjacentes. Crí.ca aos homens que não servem a Cristo e não vivem segundo os princípios cristãos, aliás, os homens não têm qualquer interesse em ouvir a palavra de Deus. Interrogação retórica Sermão de Santo António aos Peixes – Padre António Vieira (capítulo II) – Leitura a.va Ironia – Os homens são um auditório ainda “pior” que este. Conjunção coordena.va adversa.va

Cap.ii sermão leitura_ativa

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Ironia  –  reforça  a  crí.ca  que  é  

feita  aos  moradores  do  Maranhão,  que  não  ouviam  

nem  acatavam  a  palavra  do  pregador.  

O  facto  dos  peixes  não  se  converterem  não  é  

representa.vo,  já  que  do  mesmo  mal  sofrem  os  homens.    

Enfim,  que  havemos  de  pregar  hoje  aos  peixes?  Nunca  pior  auditório.  Ao  menos  têm  os  peixes  duas  boas  qualidades  de  ouvintes:  ouvem  e  não  falam.  Uma  só  cousa  pudera  desconsolar  ao  pregador,  que  é  serem  gente  os  peixes  que  se  não  há-­‐de  converter.  Mas  esta  dor  é  tão  ordinária,  que  já  pelo  costume  quase  se  não  sente.  Por  esta  causa  não  falarei  hoje  em  Céu  nem  Inferno;  e  assim  será  menos  triste  este  sermão,  do  que  os  meus  parecem  aos  homens,  pelos  encaminhar  sempre  à  lembrança  destes  dois  fins.  

Qualidades  e  defeitos    dos  peixes:  ouvem  e  não  falam.  

Ironia  –  Padre  António  Vieira  pretende  demonstrar  a  ideia  que  os  homens  têm  da  igreja  e  dos  sermões,  assim  como  a  inconsciência  destes  face  à  vida,  pois  para  eles  o  encaminhamento  que  

o  pregador  lhes  proporciona  é  “triste”.  Por  oposição,  o  pregador  afirma  que  não  fará  um  

sermão  “triste”,  por  que  não  falará  de  “Céu”  nem  de  “Inferno”,  quando  na  realidade  esses  dois  

conceitos  estão  subjacentes.    

Crí.ca  aos  homens  que  não  servem  a  Cristo  e  não  vivem  segundo  os  

princípios  cristãos,  aliás,  os  homens  não  têm  qualquer  interesse  em  ouvir  a  

palavra  de  Deus.  

Interrogação  retórica    

Sermão  de  Santo  António  aos  Peixes  –  Padre  António  Vieira  (capítulo  II)  –  Leitura  a.va  

Ironia  –  Os  homens  são  um  auditório  ainda  “pior”  que  

este.    

Conjunção  coordena.va  adversa.va  

Vos  es&s  sal  terrae.  Haveis  de  saber,  irmãos  peixes,  que  o  sal,  filho  do  mar  como  vós,  tem  duas  propriedades,  as  quais  em  vós  mesmos  se  experimentam:  conservar  o  são  e  preservá-­‐lo  para  que  se  não  corrompa.  Estas  mesmas  propriedades  .nham  as  pregações  do  vosso  pregador  Santo  António,  como  também  as  devem  ter  as  de  todos  os  pregadores.  Uma  é  louvar  o  bem,  outra  repreender  o  mal:  louvar  o  bem  para  o  conservar  e  repreender  o  mal  para  preservar  dele.  Nem  cuideis  que  isto  pertence  só  aos  homens,  porque  também  nos  peixes  tem  seu  lugar.    

Nova  explicitação  do  conceito  predicável  –  citação  biblíca  que  confere  autoridade  e  verdade  ao  que  é  dito.  

Apóstrofe  –  dirige-­‐se  aos  peixes,  ao  seu  auditório.  U.lização  de  “irmãos”  

revela  proximidade.   Comparação  entre  os  peixes  e  o  próprio  sal.  

Paralelismo  metafórico  entre  o  sal  e  o  sermão:  -­‐  Sal:  

-­‐  Conservar  o  são  e  preservar  da  corrupção;  -­‐  Sermão:  

-­‐  Louvar  o  bem  para  o  conservar  e  repreender  o  mal  para  o  precaver.  

Crí.ca  velada  aos  outros  

pregadores    

U.lização  expressiva  do  verbo  

modalizador  “dever”  +  verbo  principal  

“ter”  =  probabilidade  e  não  certeza  

“As  redes  foram  lançadas  ao  

mar.”  (Mateus,  13,  47).  

Em  qualquer  realidade  há  bons  e  maus.  

Há  que  repreender,  mas  também  louvar  e  até  imitar  os  peixes.  

Assim  o  diz  o  grande  Doutor  da  Igreja  S.  Basílio:  Non  carpere  solum,  reprehendereque  possumus  pisces,  sed  sunt  in  illis,  et  quae  prosequenda  sunt  imita&one:  «Não  só  há  que  notar,  diz  o  Santo,  e  que  repreender  nos  peixes,  senão  também  que  imitar  e  louvar.»  Quando  Cristo  comparou  a  sua  Igreja  à  rede  de  pescar,  Sagenae  missae  in  mare,  diz  que  os  pescadores  «recolheram  os  peixes  bons  e  lançaram  fora  os  maus»:  Elegerunt  bonos  in  vasa,  malos  autem  foras  miserunt.  E  onde  há  bons  e  maus,  há  que  louvar  e  que  repreender.    

S.  Basílio,  bispo  e  doutor  da  Igreja,  nasceu  na  

Capadócia  (Turquia),  no  ano  330  

Estrutura  do  sermão:  2  partes  •  Louvores   /   qualidades   (cap.  

I I   –   gera l ;   cap.   I I I   –  par.cular);  

•  Vícios   /defeitos   (cap.   IV   –  geral;  cap.  V  –  par.cular)  

Suposto  isto,  para  que  procedamos  com  clareza,  dividirei,  peixes,  o  vosso  sermão  em  dois  pontos:  no  primeiro  louvar-­‐vos-­‐ei  as  vossas  virtudes,  no  segundo  repreender-­‐vos-­‐ei  os  vossos  vícios.  E  desta  maneira  sa.sfaremos  às  obrigações  do  sal,  que  melhor  vos  está  ouvi-­‐las  vivos,  que  experimentá-­‐las  depois  de  mortos.  Começando  pois,  pelos  vossos  louvores,  irmãos  peixes,  bem  vos  pudera  eu  dizer  que  entre  todas  as  criaturas  viventes  e  sensi.vas,  vós  fostes  as  primeiras  que  Deus  criou.    

Paradoxo  –  através  desta  atribuição  de  termos  contrários  à   mesma   realidade,   Padre   António   Vieira   pretende  alertar  os  ouvintes  para  a  necessidade  e   importância  da  palavra   de   Deus,   que   deve   ser   ouvida     em   vida   e   não  experimentada    só  na  morte  através  do  Juízo  Final.  

Os   peixes   foram   a  primeira   criatura   a  ser   criada   por   Deus  (sendo  “os  mais  e  os  maiores”).  

As  virtudes  que  serão  apresentadas  são,  por  contraste,  a  metáfora  dos  defeitos  dos  homens  e  os  vícios  são  diretamente  a  metáfora  dos  

vícios  dos  homens.  

Expressão   que  e nun c i a   uma  c o n c l u s ã o  p e r a n t e   o  exposto.