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TOSA NIKKI土佐日記

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Ki no Tsurayuki 紀 貫之 (872-945)◦ Poeta da corte representante do waka no século IX.

Participou na organização de Kokinshû, sendo autor do Kanajo (prefácio em kana). Contribuiu, no total, com 451 poemas para as antologias imperiais de waka. Influenciou consideravelmente a poesia de gerações subsequentes.

◦ Proveniente de uma família de grande influência política no Período Nara (cujo alcance foi rapidamente perdido com a ascensão do clã Fujiwara). Recuperou relativamente sua relevância através de vários de seus membros que trilharam seus caminhos na academia ou nas artes.

◦ Foi governador da província de Tosa (931-934). O retorno à Quioto no término de seu mandato culminou na composição do Diário de Tosa – ou Tosa Nikki 土佐日記 Ki no Tsurayuki por Kikuchi Yôsai

(1781-1878)

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O gênero Diário: precedentes◦ As obras anteriores à de Ki no Tsurayuki tratavam o gênero diário enquanto

compilação de registros oficiais escritos em língua e escrita chinesa e calcados em uma perspectiva objetiva e detalhista de eventos, locais e costumes.

◦ Nagae (2007) - "O desenvolvimento dessa nova forma literária clássica só se tornou possível dentro de um contexto específico: o desabrochar de uma cultura autóctone japonesa, após 894, com o encerramento das dispendiosas expedições culturais japonesas ao continente chinês mantidas desde 607 pela iniciativa de Shôtoku Taishi, Príncipe Regente da Imperatriz Suiko, para desenvolver o Japão por meio da importação intencional da cultura chinesa. Com o distanciamento do Continente, surge uma literatura japonesa propriamente dita desencadeada pela invenção da nova escrita em fonogramas (kana), que gera um aumento e uma diversidade na produção literária na qual se inserem os Diários Literários".

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O gênero Diário: precedentes◦ Na Era Clássica: Nittō Guhō Junrei Kōki

入唐求法巡礼行記 , de Ennin 圓仁 (Jikaku Daishi 慈覺大師 ) (793-864): relato da peregrinação do monge à China de T’ang e a Coreia de Silla junto às missões diplomáticas japonesas.

◦ Anterior em cem anos à composição do Diário de Tosa, a obra é caracterizada pelo uso da escrita e língua chinesa e por um conteúdo imparcial, contido, preciso e detalhista no registro de cenários e costumes. Narrador masculino.

◦ Prof. Jesse Palmer: apreciação da obra como fonte descritiva do budismo no período Heian: http://dissertationreviews.org/archives/810

◦ Tradução para o inglês pelo Prof. Edwin O. Reischauer (1955)

Itinerário

Estátua de Ennin

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A obra◦ A narrativa, composta em um período posterior à viagem, tem início com término

do mandato de Ki no Tsurayuki como governador de Tosa e seu retorno, junto de sua comitiva, para a Capital, Quioto.

◦ O diário tem início no dia 21 de dezembro de 934, data em que ele deixa o palácio do governo após a recepção do novo governador e a cerimônia de posse, e termina com a chegada a sua residência em 16 de fevereiro de 935, cinquenta e cinco dias depois.

◦ Relato subjetivo, em que se expressa a nostalgia e a ansiedade pela chegada à Capital, a crítica irônica aos interesseiros e levianos encontrados durante o trajeto e uma perspectiva subjetiva em relação às tradições culturais, ora vindas à tona na dimensão da composição poética suscitada pela lembrança, ora na tentativa de prática da comitiva, apesar das condições adversas presentes durante toda a viagem.

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Itinerário de Tosa a Quioto

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Aspectos formais◦ <Felipe>

Excerto de cópia fiel do Diário de Tosa por Fujiwara no Teika (1162-1241)

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Humor e ironia◦ Ritual e contexto

“No dia vinte e dois, rezamos aos deuses tranquilamente, desejando chegar até Izumi no Kimi. Fujiwara no Tokizane, apesar de ser uma viagem de barco, fez um Muma no Hamamuke”.

(Muma no Hamamuke = festa de despedida. Vem do ritual de virar o focinho do cavalo na direção correta, desejando que a pessoa fizesse uma viagem tranquila e segura)

◦ Bebedeira

“Todos, ricos e pobres e até crianças ficaram embriagadas e aqueles que não sabiam nem mesmo uma palavra, seus pés, enquanto brincavam, formavam o kanji de número dez, como pegadas de uma ave”.

(hipótese = o kanji para “bêbado” 酔 - スイ ▪ よ – apresenta como componentes, além do saquê, os números nove e dez. “Bebeu nove ou dez doses de saquê e ficou bêbado” )

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Humor e ironia◦ Bebedeira

“Todos, sem distinção de hierarquia, ficaram bastante bêbados, e é muito estranho o fato de brincarem à beira-mar”.

(trocadilho com o verbo azaru, que pode significar brincar ou estragar. O sal tem a característica de preservar os alimentos, mas as pessoas ficaram tão embriagadas que dava a impressão de que tinham lançado peixes podres)

◦ Exagero poético vs tempo hostil

“Eu, que fui deixada, meu choro é maior

que o som das ondas brancas

que se levantam à frente.

Deve ser um choro bem alto.”

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Temas da obra, espaço material e espaço psicológico. “Arte era claramente concebida como um transbordar espontâneo de forte sentimento” (MINER: 1968)

“Não há aventuras emocionantes ou situações românticas; nenhuma máxima de sabedoria ou informações novelísticas; seu único mérito é que ele descreve, em linguagem simples, porém elegante, e com uma veia de humor brincalhão, a vida comum de um viajante no Japão na época em que foi escrito.” (ASTON: 1972)

“A ênfase, desse modo, recai no conteúdo do poema, melhor dizendo, sobre as comparações ou símiles como a espuma da onda do mar com a neve ou flores brancas e das próprias ondas como os ramos do salgueiro verde. Nota-se que em todos os poemas utilizados como exemplo, há uma valorização da imagem visual da qual decorrem as inspirações poéticas que retratam a beleza da natureza e os devaneios das emoções humanas em ricas associações.” (NAGAE: 2007)

“A narradora desenvolve os dois temas principais: a centralidade da arte na vida e a tragédia da existência, embora haja também momentos de humor, celebração e fruição da vida” (CORDARO: 2015)

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Comparações e MetáforasVeja, a costa está molhada Com a torrente de lágrimas que derrama das mangas de Quem em cima da praia deve ficar, Ou de quem segue seu caminho (19)

Rápido minhas lágrimas caem, Mas torcer um fio de seda Certamente seria em vão; Quem poderia juntar pérolas tão frágeis? Toda a minha habilidade seria inútil. (42)

Aqui não mais vamos desviar Buscando por wasure-gai; Mas uma pérola delicada Pura e branco pode servir para falar Da criança que nós amamos tanto.(43)

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Tosa Nikki: um utaawase ◦ Utaawase 歌合せ – encontro poético caracterizado pela execução de uma espécie

de jogo literário no qual os cortesãos submetem suas produções à avaliação de um juiz.

◦ Nagae (2007) – Tosa Nikki enquanto um manual prático para jovens iniciantes do waka ao arrolar 61 poemas como modelos poéticos para serem ou não seguidos. Abordagem prescritiva. Toyohara Chikanobu 豊原周延

(1838–1912). Ilustração (ukiyo-e) de um utaawase (1895).

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Crítica literária: preceitos poéticos◦ Ki no Tsurayuki, no prefácio de Kokinshû:

“Henjô se supera na forma, mas a essência deixa a desejar. A emoção profunda por essa poesia se esvanece, e pode ser comparada com aquilo que vivenciamos à vista de uma bela mulher em uma pintura. Narihira transborda em sentimento, mas sua linguagem é deficiente. Seu universo é como uma flor a qual, mesmo murcha e sem brotos, ainda retém sua fragrância. Yasuhide é habilidoso no uso das palavras, mas elas se associam de forma débil com sua matéria, como se um comerciante fosse vestir a si mesmo com finas sedas. Kisen é intenso, mas a conexão entre o início e o fim é indistinta. Ele pode ser comparado com a Lua de outono, a qual, ao nos fixarmos nela, é obscurecida pelas nuvens da madrugada...” (apud ASTON, 1972:67)

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Crítica literária: preceitos poéticos“O homem é tomado por numerosas atividades; entre elas, a poesia é aquela que consiste em

expressar os sentimentos de seus corações através de metáforas tomadas do que eles veem ou escutam.

"Ao escutar o rouxinol cantando entre as flores ou o coaxar lamentoso do sapo que vive na água, nós reconhecemos a verdade que, entre todos os seres vivos, não há um que não exprima uma canção”. (ibidem, p. 64)

“Quando seus corações transbordaram de prazer, quando eles [os poetas da corte] sentiram seu amor ser eternizado como a fumaça que paira sobre o Monte Fuji, quando eles procuraram pelo amigo com a pungência do choro do matsumichi, quando o suspiro do par de coníferas de Takasago e Suminoye sugestionou um marido e uma esposa envelhecendo juntos, quando eles pensaram em seus dias pretéritos de vigor viril, ou ressentidos por passada a única vez de uma flor em botão, isso foi com a poesia que eles confortaram os seus corações. Novamente, quando eles olharam por cima das flores separadas de seus caules em uma manhã de primavera, ou escutaram as folhas caindo às vésperas do outono, ou todo ano lamentaram a neve e as cãs refletidas em um espelho; ou, vendo o orvalho sobre a grama ou a espuma sobre a água, foram incitados a reconhecer neles emblemas de suas próprias vidas...” (idem, p. 65-66)

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Crítica literária: avaliação◦ Em Tosa Nikki:

“Vendo esta imagem, vem à lembrança o poema de Narihira que diz: 'que a borda da montanha fuja e não deixe a lua se esconder'. Se fosse composto à beira do mar, seria dessa maneira: 'que as ondas se levantem e não permitam que a lua mergulhe no mar'. Agora, lembrando esse poema, certa pessoa compôs o seguinte:

Vendo o feixe do brilho da lua mergulhando no mar,

a voz da Via-Láctea

deve ser o mar”.

“A impressão que se tem ao se ver o pinheiral

é de que a cegonha pensa

que os pinheiros são amigos milenares.

Este poema não consegue superar a beleza da paisagem”.

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Crítica literária: avaliação“Por ser Ano-novo, alguém se referiu ao dia da criança da Capital assim: 'oh, como desejo

um pinheiro'. Mas, como estamos no mar, isto se torna um desejo difícil de ser atendido. Eis o poema que uma mulher escreveu:

Como estou ansiosa pelo dia do ne.

Sendo um pescador,

dever-se-ia colher um umimatsu.

Como é possível recitar um poema do dia do ne em pleno mar?”

“Acabei passando quarenta,

cinquenta longos dias de primavera

com a corda que reboca o barco.

As pessoas que o ouviram certamente devem estar pensando: ‘Por que será que é um poema tão trivial?’. ‘É um poema que o chefe do barco fez com muita dificuldade e pensa que ficou bom. Teremos um problema sério se ele nos ouvir e ficar ressentido’.”

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Repercussão◦ Obra precursora do Diário enquanto

gênero literário (Diário Poético), modalidade a ser desenvolvida posteriormente pelas mulheres - sobretudo pelas damas da corte - que também atuariam em outras esferas da literatura japonesa, criando, na época, um universo literário feminino inédito no Japão e no mundo.

◦ Izumi Shikibu Nikki 和泉式部日記 , obra de caráter semi-autobiográfico em 3ª pessoa em que Izumi Shikibu assume a alcunha de ukareme 浮かれ女 para falar de suas paixões e affairs

◦ Sarashina Nikki 更級日記 , de Sugawara no Takasue no musume 菅原孝標女 (nome real desconhecido).

Ilustração de Izumi Shikibu (aprox. 1765)

Cópia da cópia de excerto do Diário de Sarashina por Fujiwara no Teika

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Referências◦ ASTON, W. G. The “Kokinshû” Preface. A History of Japanese Literature.

Tóquio: Charles E. Tuttle Company, 1972. p. 63-67. 

◦ ___________. “Tosa Nikki”. A History Of Japanese Literature. Tóquio: Charles E. Tuttle Company, 1972. p. 67-76.

◦ KI NO TSURAYUKI. Tosa Nikki. Tradução de uso interno do Curso de Graduação em Língua e Literatura Japonesa da Universidade de São Paulo. São Paulo: s/d.

◦ NAGAE, N. H. A voz narrativa e os poemas nos diários literários japoneses – Tosa Nikki e Izumi Shikibu Nikki. In: Revista de Estudos Japoneses (USP), v. 27. p. 145-160, 2007.