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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA A IMPORTÂNCIA DA ARGILA COMO ADSORVENTE NO TRATAMENTO DE QUEROSENE DE AVIAÇÃO JURANDIR GOMES DA SILVA JÚNIOR ORIENTADOR: PROF. DR. HUMBERTO NEVES MAIA DE OLIVEIRA NATAL-RN, 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

A IMPORTÂNCIA DA ARGILA COMO ADSORVENTE NO TRATAMENTO

DE QUEROSENE DE AVIAÇÃO

JURANDIR GOMES DA SILVA JÚNIOR

ORIENTADOR: PROF. DR. HUMBERTO NEVES MAIA DE OLIVEIRA

NATAL-RN, 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

A IMPORTÂNCIA DA ARGILA COMO ADSORVENTE NO TRATAMENTO

DE QUEROSENE DE AVIAÇÃO

JURANDIR GOMES DA SILVA JÚNIOR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

curso de Engenharia Química da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como parte dos

requisitos para a obtenção do título de Engenheiro

Químico, orientado pelo Prof. Dr. Humberto Neves

Maia de Oliveira.

NATAL - RN, 2018

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AGRADECIMENTOS

À Deus por mais esta conquista e por ter me ajudado em todos os momentos,

me dando Força, Sabedoria para superar todas as dificuldades que se apresentaram

durante esta grande caminhada.

Aos meus pais pelo amor, carinho, compreensão, ensinamentos e

principalmente incentivos para conseguir minha formação.

À minha esposa Adrijane pelo incentivo, dedicação, carinho e compreensão.

À Petrobras, por proporcionar um excelente estágio e contribuir para minha

formação.

Aos meus orientadores Cristian Crispim, Pedro Márcio e ao professor

orientador Dr. Humberto.

Aos meus irmãos e amigos pelo apoio e incentivo.

Aos colegas da UFRN e da Petrobras, pelo apoio e incentivo.

Aos professores da UFRN, em especial aos professores do Departamento de

Engenharia Química, pelos conhecimentos transmitidos, atenção e compreensão

dada, que contribuíram para o meu desenvolvimento acadêmico.

À todos meus sinceros agradecimentos.

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RESUMO

O querosene de aviação (QAV-1) é um combustível que exige um grande

acompanhamento nos seus processos de produção, tratamento, até a sua expedição

ao mercado consumidor. O estudo de caso deste trabalho foi baseado na produção e

tratamento merox de querosene de aviação do AIG, Ativo Industrial de Guamaré que

está localizado na cidade de Guamaré-RN. A pesquisa tem como objetivo principal

estudar a importância da argila como adsorvente no tratamento do QAV-1, bem como

saber como funciona o controle de qualidade do QAV-1. Constatou-se através deste

estudo no AIG a importância de um bom controle operacional da unidade de

tratamento de QAV-1. Um melhor acompanhamento de processo contribui para

garantir a qualidade do QAV-1, reduz os custos da produção, bem como reduz o

volume dos resíduos gerados no processo.

Palavras-chave: Querosene de aviação. Destilação atmosférica. Tratamento Merox.

Adsorção. Argila.

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ABSTRACT

Aviation kerosene (QAV-1) is a fuel that requires a great accompaniment in its

processes of production, treatment, until its dispatch to the consumer market. The case

study of this work was based on the production and treatment merox of aviation

kerosene of AIG, Industrial Asset of Guamaré, located in the city of Guamaré-RN. The

main objective of this research is to study the importance of clay as adsorbent in the

treatment of QAV-1, as well as to know how QAV-1 quality control works. The

importance of good operational control of the QAV-1 treatment unit was found in the

AIG study. Better process monitoring contributes to QAV-1 quality, reduces production

costs and reduces the volume of waste generated in the process.

Keywords: Aviation querosene. Atmospheric distillation. Merox treatment. Adsorption.

Clay.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10

2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 12

2.1 Objetivo geral ............................................................................................. 12

2.2 Objetivos específicos ................................................................................ 12

3 METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................... 13

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 14

4.1 Querosene de aviação (QAV-1) ................................................................. 14

4.1.1 Histórico da produção de querosene no RN ..................................... 14

4.1.2 Definição e uso .................................................................................... 14

4.1.3 Contaminantes indesejáveis do QAV-1 ............................................. 15

4.1.3.1 Compostos nitrogenados ................................................................ 15

4.1.3.2 Compostos sulfurados .................................................................... 16

4.1.3.3 Compostos oxigenados ................................................................... 17

4.1.4 Requisitos de Qualidade ..................................................................... 17

4.1.5 Especificação ....................................................................................... 18

4.1.6 Ensaios e finalidades .......................................................................... 18

4.1.6.1 Destilação ......................................................................................... 19

4.1.6.2 Massa específica .............................................................................. 19

4.1.6.3 Ponto de fulgor ................................................................................. 19

4.1.6.4 Ponto de Congelamento .................................................................. 19

4.1.6.5 Viscosidade ...................................................................................... 20

4.1.6.6 Enxofre mercaptídico (RSH) ............................................................ 20

4.1.6.7 WSIM e tolerância à água ................................................................ 20

4.1.6.8 JFTOT ................................................................................................ 20

4.1.6.9 Partículas contaminantes ................................................................ 21

4.1.6.10 Cor .................................................................................................. 21

4.1.6.11 Delta cor ......................................................................................... 21

4.2 Produção de QAV ....................................................................................... 22

4.2.1 Descrição da produção de querosene numa unidade de Destilação

Atmosférica ....................................................................................................... 22

4.2.1.1 Pré-aquecimento da carga ............................................................... 22

4.2.1.2 Dessalgação ..................................................................................... 23

4.2.1.3 Aquecimento da carga para a torre atmosférica ........................... 24

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4.2.1.4 Torre Atmosférica............................................................................. 25

4.2.1.5 Torre retificadora .............................................................................. 26

4.3 O processo de Tratamento Merox ............................................................ 26

4.3.1 Descrição do processo de uma unidade de Tratamento Merox ...... 27

4.4 Adsorção ..................................................................................................... 30

4.4.1 Tipos de adsorção ............................................................................... 30

4.4.2 Aplicações industriais da adsorção ................................................... 30

4.4.3 Adsorventes ......................................................................................... 31

4.4.4 Adsorção em leito fixo ........................................................................ 31

5 Estudo de caso: a importância da argila no processo de tratamento do

querosene de aviação do Ativo Industrial de Guamaré ....................................... 33

5.1 Composição química da argila ................................................................. 33

5.2 Objetivo do vaso de argila ......................................................................... 34

5.3 Ações operacionais aumentar o tempo de campanha do vaso de argila ... 35

5.4 Controle das variáveis operacionais da unidade de tratamento ........... 35

5.5 Problemas que levam a degradação de cor do querosene .................... 36

6 CONCLUSÃO E SUGESTÕES DE NOVOS PROJETOS .................................. 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 38

ANEXOS ................................................................................................................... 40

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Exemplos de compostos nitrogenados presentes no petróleo e seus

derivados....................................................................................................................16

Figura 02: Exemplos de compostos de enxofre.........................................................17

Figura 03: Exemplos de compostos oxigenados........................................................17

Figura 04: Bateria de pré-aquecimento e dessalgadoras............................................23

Figura 05: Fluxograma processo de uma unidade destilação atmosférica.................25

Figura 06: Vista da Unidade Tratamento Merox do QAV – U-280...............................27

Figura 07: Esquema de uma Unidade de Tratamento Merox do QAV........................28

Figura 08: Adsorvedor de leito fixo: curva de ruptura..................................................32

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Composição química da argila..................................................................33

Tabela 02: Consequências da não utilização do filtro de argila...................................34

Tabela 03: Causas de degradação de cor do querosene...........................................36

Tabela 04: Especificações do Querosene de Aviação................................................40

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LISTA DE SIGLAS

AIG – Ativo Industrial de Guamaré

ANP – Agência Nacional de Petróleo

ASTM – American Society for Testing and Materials

ETA – Estação de tratamento de água

ETE – Estação de tratamento de efluentes

JFTOT – Jet Fuel Termal Oxidation Tester

PFE – Ponto Final de Ebulição

QAV-1 – Querosene de Aviação

RAT – Resíduo atmosférico

RSH – Enxofre Mercapitídico

UTCR – Unidade de Tratamento Cáustica Regenerativo

WSIM – Water separation index modified

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1 INTRODUÇÃO

O Estado do Rio Grande do Norte possui no Ativo Industrial de Guamaré, duas

unidades de refino de petróleo por destilação atmosférica, que produzem querosene

de aviação (QAV-1). A produção de QAV pelo Ativo Industrial de Guamaré (AIG) é

hoje responsável pelo abastecimento do aeroporto de São Gonçalo do Amarante,

base aérea de Natal, no Rio Grande do Norte, como também parte da demanda dos

aeroportos de Fortaleza e Juazeiro, no Estado do Ceará.

Em 1987, a Petrobras desenvolveu o sistema de Garantia da Qualidade do

QAV-1, com a finalidade de garantir a qualidade do produto até a entrega ao

consumidor final. O sistema compreende toda a cadeia de distribuição, ou seja, desde

a refinaria, passando por terminais marítimos e terrestres, bases, depósitos de

aeroportos, até o abastecimento das aeronaves (Petrobras, 2000).

A realização do estágio supervisionado nas unidades de refino no AIG

proporcionou a realização deste trabalho. Foi possível conhecer o processo de

tratamento Merox, tratamento de QAV utilizado pelo ativo, saber como funciona o

controle de qualidade do QAV, e por fim estudar a importância da argila no tratamento

do QAV, assim como as consequências de sua não utilização.

Este trabalho está dividido em quatro capítulos, que permitem o estudo sobre

o processamento de petróleo em uma unidade de destilação atmosférica, produção e

tratamento de querosene de aviação.

No primeiro capítulo, são apresentados conceitos, requisitos de qualidade,

contaminantes e especificação do QAV.

No segundo capítulo, é feito um breve relato da história das unidades de

produção de querosene de aviação do AIG, descreve o processo de produção e

tratamento de querosene de aviação, com destaque ao tratamento merox.

No terceiro capítulo, são abordados conceitos de adsorção, tipos de adsorção,

as características dos adsorventes, as principais aplicações dos adsorventes na

indústria, bem como o a adsorção em leito fixo.

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No quarto capítulo, é dada ênfase ao estudo de caso em identificar “a

importância da argila no processo de adsorção em leito fixo utilizado no tratamento de

querosene de aviação”.

Por fim, fundamentado no desenvolvimento de cada um dos objetivos

específicos, foi possível confirmar a importância da argila no tratamento do querosene

de aviação. Assim sendo, o objetivo geral do trabalho foi alcançado e o problema de

pesquisa devidamente respondido.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O presente estudo tem como objetivo geral identificar a importância da argila

como adsorvente no processo de tratamento do querosene de aviação.

2.2 Objetivos específicos

A seguir, os principais objetivos da realização deste trabalho são enumerados:

Conceituar querosene de aviação;

Descrever o processo de produção e tratamento do querosene de aviação;

Conceituar adsorção;

Analisar a aplicação da argila natural como adsorvente no processo de

adsorção em leito fixo no tratamento de querosene de aviação.

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3 METODOLOGIA DE PESQUISA

O presente trabalho consiste em pesquisa aplicada de caráter exploratório e

descritivo, que visa apresentar subsídios de informação que possam servir como

referências para auxiliar na produção e tratamento de QAV.

Para este trabalho os resultados serão apresentados sobre forma qualitativa, a

partir de pesquisas realizadas em teses, livros, artigos científicos e sites da internet.

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4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 Querosene de aviação (QAV-1)

No Brasil, são produzidos dois tipos de QAV: QAV-1, querosene de aviação de

uso geral; e querosene de aviação especial para a Marinha do Brasil. (Brasil, 2012).

O QAV-1 é produzido por fracionamento do petróleo nas unidades de destilação

atmosférica seguido de tratamentos e acabamentos que visam eliminar os efeitos

indesejáveis dos compostos sulfurados, nitrogenados e oxigenados.

O processo de refino básico utilizado para produção de QAV-1 é o de destilação

seguido de tratamento cáustico regenerativo (tratamento merox).

4.1.1 Histórico da produção de querosene no RN

A produção de querosene no Estado Rio Grande do Norte foi iniciada em 2005

com a implantação das unidades de destilação atmosférica U-270, e Tratamento

Cáustico Regenerativo U-280. Em 2011, após algumas melhorias que foram

implementadas, a unidade de destilação U-260 também passou a produzir querosene.

Em 2016, várias melhorias foram introduzidas ao processo da U-280: um terceiro

reator em paralelo, mais um filtro de areia, mais um filtro de sal, mais um filtro de

argila, levando a um aumento de capacidade de tratamento de QAV-1 para 800m³/dia

(ANP, 2016).

4.1.2 Definição e uso

O querosene de aviação, conhecido como QAV, é um combustível utilizado em

turbinas de aviões. Conforme Brasil (2012), “o QAV é uma mistura de hidrocarbonetos

parafínicos, naftênicos e aromáticos, com predominância de hidrocarbonetos

parafínicos e naftênicos com tamanhos de cadeia de 9 a 15 átomos de carbono” e

faixa de ebulição compreendida entre 150°C e 300°C (Farah, 2012). O QAV tem uma

temperatura máxima de destilação de 205°C no ponto de recuperação de 10%, um

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ponto de ebulição final de 300°C e um ponto de fulgor no mínimo de 40°C (Fahim,

2012).

4.1.3 Contaminantes indesejáveis do QAV-1

Segundo Farah (2012) além dos hidrocarbonetos, compostos considerados

contaminantes, como compostos de enxofre, de nitrogênio e de oxigênio, podem estar

presentes no QAV. A presença desses compostos causa danos ao sistema de

combustível e à turbina. A seguir são apresentados mais detalhes desses compostos.

4.1.3.1 Compostos nitrogenados

Conforme Gauto (2016), “os compostos de nitrogênio são compostos

termicamente estáveis, aumentam a capacidade do querosene de reter água em

emulsão além de provocar o envenenamento de catalizadores”, e, segundo Farah

(2016), provocam instabilidade no combustível, por reações de degradação (formando

goma e alterando sua coloração). Na figura 01 são apresentados alguns exemplos de

compostos nitrogenados presentes no petróleo e seus derivados.

Os compostos nitrogenados presentes no petróleo e em seus derivados podem

ser divididos em:

básicos: piridinas e quinolinas e pirróis

não básicos: indóis e carbazóis.

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Figura 01: Exemplos de compostos nitrogenados no petróleo e seus derivados

Fonte: FARAH, 2012

4.1.3.2 Compostos sulfurados

Segundo Gauto (2016), os compostos sulfurosos “são indesejáveis porque

aumentam a instabilidade das emulsões, provocam problemas associados à corrosão

e à contaminação de catalisadores e alteram a qualidade ambiental por conta da

emissão do gás SOx para a atmosfera”.

A presença de compostos de enxofre no querosene de aviação pode afetar as

câmaras de combustão e as pás das turbinas causando corrosão. Os mercaptanos,

em particular, além do aroma desagradável, têm ação sobre os elastômeros, podendo

provocar dilatação e intumescimento de juntas e gaxetas, causando vazamentos.

(Farah, 2016). A figura 02 apresenta alguns exemplos de compostos sulfurados. Os

compostos de enxofre variam de mercaptans simples (tióis) a sulfetos e sulfetos

policíclicos (Fahim, 2012). A seguir apresentam-se exemplos de mercaptans e

sulfetos.

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Figura 02: Exemplos de compostos de enxofre.

Fonte: FAHIM, 2012

4.1.3.3 Compostos oxigenados

Os compostos oxigenados são funções orgânicas que contêm oxigênio, além

de carbono e hidrogênio. Nos derivados de petróleo podem ser encontrados álcoois,

fenóis, éteres, ácidos carboxílicos e cetonas.

Segundo Brasil (2012) “os compostos de oxigênio são responsáveis pela

degradação da cor, odor e formação de goma das frações de petróleo, além da

corrosividade”. A figura 03 mostra alguns exemplos de compostos oxigenados.

Figura 03: Exemplos de compostos oxigenados.

Fonte: GAUTO, 2016

4.1.4 Requisitos de Qualidade

De acordo com FARAH (2012), as exigências de qualidade do QAV para uso

em turbinas aeronáuticas são as seguintes:

- proporcionar máxima autonomia de voo;

- vaporizar-se adequadamente no interior da câmara de combustão da turbina,

proporcionando chama limpa”, minimizando assim a formação de fuligem;

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- proporcionar partidas fáceis e seguras, e ter a facilidade de reacendimento;

- minimizar a formação de resíduos e cinzas de combustão;

- escoar facilmente em baixa temperatura;

- ser estável química e termicamente;

- não ser corrosivo aos materiais da turbina;

- minimizar a tendência à solubilização de água;

- ter aspecto límpido, indicando ausência de sedimentos e de alteração de cor;

- não apresentar água livre, evitando o desenvolvimento de microrganismos e

obstrução de filtro;

- oferecer segurança no manuseio e na estocagem.

Tais exigências são atendidas através do controle de diversas propriedades,

dentro de seus respectivos limites. As especificações do QAV visam garantir a sua

comercialização, dentro de um padrão de qualidade mínima.

4.1.5 Especificação

No Brasil, o órgão regulador responsável pela especificação do QAV-1 é a

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A especificação

do querosene de aviação no Brasil é determinada pela Resolução ANP nº 37/2009. A

especificação do QAV-1 é apresentada na tabela 04 do ANEXO (Brasil - ANP, 2009).

4.1.6 Ensaios e finalidades

As propriedades do QAV que são caracterizadas antes do tratamento são:

destilação, massa específica, ponto de fulgor, ponto de congelamento e viscosidade.

Todas as propriedades citadas anteriormente são especificadas ainda na coluna de

destilação, o ponto de fulgor ainda pode ser corrigido na torre de retificação de

querosene (CAMOLESI, 2009).

A seguir apresenta-se alguns conceitos dos ensaios constantes das

especificações e a descrição de suas finalidades:

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4.1.6.1 Destilação

A destilação é a análise que determina a capacidade de vaporização e a

volatilidade do querosene de aviação à diferentes temperaturas (CAMOLESI, 2009).

Alguns pontos da curva de destilação são especificados para garantir que o QAV-1

seja produzido com proporções adequadas de leves e pesadas, de modo a obter-se

bom desempenho na combustão. Segundo FAHIM (2012), a destilação é executada

em pressão atmosférica sob teste ASTM D86. Conforme FARAH (2012), o PFE é a

temperatura que corresponde a 100% do recuperados na destilação e que influi na

formação de depósitos de carbono decorrentes da combustão incompleta.

4.1.6.2 Massa específica

A massa específica assegura o fornecimento da quantidade adequada do

combustível para combustão. Brasil (2012) cita que “a massa especifica e o poder

calorífico são as propriedades que asseguram a autonomia do vôo”.

4.1.6.3 Ponto de fulgor

Segundo FARAH (2012), “o ponto de fulgor está relacionado ao limite inferior

de explosividade, que representa a quantidade mínima de combustível em uma

mistura com o ar capaz de formar uma mistura que inflama quando sobre ela incide

uma centelha”. A análise de ponto de fulgor está diretamente associada à segurança

no transporte de combustíveis inflamáveis. Ela especifica o limite de risco de

inflamabilidade do combustível (teor de leves) assegurando o manuseio e a

estocagem do produto.

4.1.6.4 Ponto de Congelamento

É a menor temperatura na qual se inicia a formação de cristais de parafinas em

pressão atmosférica é chamado de ponto de congelamento (Fahim, 2012). O objetivo

da análise é garantir o escoamento contínuo do QAV-1 quando submetido à baixas

temperaturas. Num vôo em altas altitudes a temperatura externa pode chegar à -50°C.

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4.1.6.5 Viscosidade

A resistência do combustível à capacidade para ser bombeado é indicada pela

viscosidade (Fahim,2012). A viscosidade pode influenciar a propriedade de

lubricidade do combustível, a qual tem influência no tempo de vida útil da bomba de

combustível da aeronave. Com isso, limita-se a viscosidade em (- 20°C) garantindo

que a pressão e o escoamento do QAV-1 sejam mantidos sob quaisquer condições

de operação.

4.1.6.6 Enxofre mercaptídico (RSH)

O teor de enxofre mercaptídico representa o teor de enxofre proveniente de

mercaptanos, que são compostos sulfurados que apresentam o radical RSH. A

presença de compostos mercaptídicos, acima de determinados níveis, no QAV-1,

pode provocar ataque a certos elastômeros utilizados no sistema de combustível das

turbinas, corrosão em algumas peças metálicas, odor desagradável e instabilidade

térmica do produto (FARAH, 2012).

4.1.6.7 WSIM e tolerância à água

Tem a finalidade de avaliar o poder de retenção da água pelo combustível. Por

causa de sua densidade de viscosidade, e também da presença de compostos

surfactantes, o querosene de aviação tende a reter material particulado e gotas de

água em suspensão.

4.1.6.8 JFTOT

Avalia a estabilidade química do combustível quando sujeito a temperaturas

elevadas. Segundo Brasil (2012), “a estabilidade termo-oxidativa do QAV (JFTOT),

simula as condições de pressão e temperatura a que se submete o combustível nas

turbinas das aeronaves”. Quando o combustível é sujeito à oxidação à altas

temperaturas (260°C), avaliada pela queda de pressão em um filtro padronizado em

um dado intervalo de tempo e pelas análises de depósitos formados (FARAH, 2012).

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4.1.6.9 Partículas contaminantes

O ensaio de partículas contaminantes é também conhecido por Millipore.

Segundo FARAH (2012), “os depósitos que podem estar presentes no QAV-1 são

determinados por filtração em película Millipore”. Também fornece a medida

gravimétrica e calorimétrica do material particulado, presente no QAV-1. É uma

análise importante para avaliar contaminações do QAV-1 durantes sua

movimentação.

4.1.6.10 Cor

Segundo PASSOS (2003), a Cor Saybolt é um parâmetro de qualidade de

derivados de petróleo tais como gasolinas automotivas não-coradas, gasolinas de

aviação, combustíveis de jato, naftas e querosenes, óleos brancos farmacêuticos e

parafinas. O ensaio é baseado no ASTM D-156-00. Para a leitura da cor pode-se

utilizar um equipamento automático Colorímetro Saybolt ou pode-se realizar a leitura

visual com o Cronômetro Saybolt. A cor é classificada numa escala de -16 (mais

escuro) a +30 (mais claro), sendo +30 a melhor qualidade, ou seja, transparente.

4.1.6.11 Delta cor

O ensaio de Delta Cor determina a variação na cor de querosene através do

envelhecimento acelerado (Passos 2003). Visa prever a tendência do QAV-1 em se

degradar quimicamente, em função de reações de oxidação ocorridas com

determinados compostos nitrogenados e sulfurados quando em presença de oxigênio

e temperatura. A amostra após ser filtrada é aquecida a 100°C em presença de

oxigênio (100lb/in) por 2h. Mede-se a cor da amostra antes e após o período para fins

comparativos. Chama-se de cor inicial a cor antes do ensaio, e cor final, a cor após o

ensaio.

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4.2 Produção de QAV

O querosene é produzido através de um processo de refino básico de

destilação atmosférica seguido de tratamentos para eliminar os efeitos dos compostos

indesejáveis (FARAH, 2012).

4.2.1 Descrição da produção de querosene numa unidade de Destilação

Atmosférica

A destilação é um processo físico de separação, baseado na diferença de

temperaturas de ebulição entre compostos numa mistura líquida (Brasil, 2012). As

temperaturas de ebulição de hidrocarbonetos aumentam com o crescimento de suas

massas molares. Desta forma variando-se as condições de aquecimento de um

petróleo, é possível vaporizar os compostos leves, intermediários e pesados, que ao

se condensarem, podem ser fracionados. Paralelamente, ocorre a formação de um

resíduo bastante pesado, constituído de hidrocarbonetos de elevadas massas

molares, que, às condições de temperatura e pressão em que a destilação é realizada,

não se vaporizam.

A partir de agora será detalhado cada etapa de uma unidade de destilação

atmosférica.

4.2.1.1 Pré-aquecimento da carga

Após o óleo ser tratado, é encaminhado por oleoduto para processamento nas

unidades de destilação. Ao entrar na unidade o óleo passa inicialmente pela primeira

bateria de pré-aquecimento, composta por trocadores de calor do tipo casco e tubos,

que têm como objetivo promover um pré-aquecimento da carga de cru antes de entrar

nas dessalgadoras. Os trocadores de calor são equipamentos usados para

aproveitamento do calor do fluido quente pelo fluido frio e/ou resfriamento do fluido

quente.

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4.2.1.2 Dessalgação

Após a primeira bateria de pré-aquecimento o petróleo é enviado às

dessalgadoras. O processo de dessalgação é constituído por duas dessalgadoras

trabalhando em paralelo.

Figura 04: Bateria de pré-aquecimento e dessalgadoras.

Fonte: Autor

Dessalgador é o equipamento destinado à remoção de sais inorgânicos, água e sedimentos que estão dissolvidos no petróleo. Essas substâncias derivam do processo de produção e estocagem do óleo e causam incrustações que obstruem e corroem trocadores de calor, fornos, condensadores e qualquer outro tipo de equipamento envolvido no processamento do óleo (GAUTO, 2016).

Para a eficiência da dessalgação figura 04, injeta-se água nas correntes de

petróleo, com o objetivo de melhorar na coalescência da água, ou seja, aumentar o

tamanho das gotículas da água salgada formadas no interior do equipamento. A

dessalgadora atua por um campo elétrico de alta tensão que promove a coalescência

e sedimentação das gotículas dispersas no óleo, fazendo com que decantem no fundo

da dessalgadora. A água rica em impurezas (sais e sedimentos) do petróleo é enviada

para ser tratada na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE).

Após ser pré-aquecido, o petróleo segue para o processo de dessalgação, que

é realizado por duas dessalgadoras que trabalham em paralelo. Antes de entrar nas

dessalgadoras a corrente de óleo recebe a injeção de água abrandada proveniente

da ETA, com o objetivo de promover uma pré-dissolução dos sais contidos na carga

de cru. O fluxo da carga de cru na dessalgadora flui através de um campo eletrostático

de alta voltagem, mantido entre eletrodos metálicos. As gotículas de água coalescem

e decantam, indo para o fundo da dessalgadora, formando o lastro d’água (da

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lavagem), sendo continuamente drenada para estação de tratamento de efluentes

ETE.

O processo de dessalgação visa remover sais (cloretos de sódio, magnésio e

cálcio) e outras impurezas encontradas na carga da unidade, bem como reduzir ainda

mais o teor de água na corrente de petróleo (Brasil, 2012).

Os contaminantes com sais, água e sólidos causam sérios danos à unidade, se

não forem removidos do óleo cru, diminuirá o tempo de campanha e provocará uma

operação ineficiente da unidade. Segue abaixo alguns dos efeitos de uma

dessalgação pobre:

Depósitos de sal no interior dos tubos de fornos e nos feixes de tubos de

trocadores de calor, e a criação de incrustações, reduzindo assim, a eficiência

de transferência de calor, como também aumentando o número de

intervenções nos trocadores de calor;

A corrosão dos equipamentos de topo. Os sais são transformados a ácido

clorídrico, o que pode causar corrosão acentuada nas torres e tubulações;

O sal atua como catalisador para a deposição de coque no interior dos tubos

dos fornos da unidade e tubulações;

Sais e sólidos concentrados nos resíduos do óleo resultam em um teor de

cinzas muito alto, causando a desvalorização do produto.

Após ser dessalgado, o óleo segue para a segunda bateria de aquecimento,

figura 04. Em seguida, o óleo é encaminhado ao forno para aquecimento.

4.2.1.3 Aquecimento da carga para a torre atmosférica

Após deixar o último trocador de calor da bateria de pré-aquecimento, o

petróleo pré-vaporizado ainda está com a temperatura abaixo da necessária para que

ocorra um fracionamento eficaz. Com o objetivo de elevar mais a temperatura para

que as condições ideais de fracionamento sejam atingidas, a carga é introduzida em

fornos tubulares, onde recebe energia térmica produzida pela queima de gás

combustível.

O cru pré-vaporizado é aquecido no forno até uma temperatura de 375°C.

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4.2.1.4 Torre Atmosférica

A fase líquida, rica em compostos mais pesados, segue em direção ao fundo

da torre de destilação, enquanto a fase vapor gerada, mais leve e rica em compostos

mais voláteis, segue para o topo. Nesta torre ocorre novo fracionamento, fornecendo

nafta pesada como produto de topo, resíduo atmosférico como produto de fundo e

querosene e diesel como produtos laterais. Na figura 05 existe a representação de

uma torre de destilação atmosférica.

As torres atmosféricas operam com condensador de topo, cujo objetivo é

promover a condensação do vapor de topo e, posteriormente a esta etapa, o

condensado é enviado para um vaso separador, que irá separar a nafta (produto de

topo) e a água.

Parte da nafta separada retorna para a coluna como refluxo interno (ou de

topo), como pode ser vista na figura 05. Além disso, utilizam-se pump-around (refluxo

circulante) nas laterais das colunas, com a finalidade de remover carga térmica ao

longo da torre e aumentar a recuperação de energia da unidade resfriando as

correntes líquidas que irão retornar em estágios acima das retiradas (Brasil, 2005).

Figura 05: Fluxograma processo de uma unidade de destilação atmosférica.

Fonte: Autor

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A torre é constituída por pratos valvulados para troca de calor, panelas para a

retirada de produtos e apresenta refluxos.

O fracionamento e o balanço de calor da torre de destilação atmosférica são

controlados normalmente através de dois refluxos circulantes: refluxo circulante de

querosene e refluxo circulante de diesel.

4.2.1.5 Torre retificadora

A torre de retificação é um equipamento que tem a finalidade de remover os

hidrocarbonetos mais leves do destilado pelo uso de vapor, permitindo o ajuste no

ponto de fulgor.

4.3 O processo de Tratamento Merox

Os processos de tratamento têm a finalidade de eliminar os efeitos indesejáveis

de compostos nitrogenados, sulfurados e oxigenados, para adequar os derivados à

qualidade exigida pelo mercado (CAMOLESI, 2009). Os principais tratamentos usados

são Bender, Merox e Hidrotratamento (HDT).

No AIG, a U-280 é a unidade de Tratamento Merox responsável pelo tratamento

do querosene. Quando a refinaria está em campanha de QAV é realizado o tratamento

Merox com a finalidade de promover o adoçamento do querosene proveniente das

unidades de destilação atmosférica, através da conversão de mercaptans a

dissufetos. O tratamento de adoçamento transforma os compostos de enxofre em

compostos menos nocivos (SZKLO, 2012). A figura 06 mostra a unidade de

tratamento merox U-280 do AIG.

É um processo de tratamento mais moderno, aplicável a frações leves, tais

como GLP e nafta, e intermediárias tais como querosene e diesel (MARIANO, 2005).

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Figura 06: Unidade de Tratamento Merox do QAV. Fonte: Petrobras, AIG

4.3.1 Descrição do processo de uma unidade de Tratamento Merox

O querosene produzido nas unidades de destilação atmosférica é bombeado

como carga para o vaso de pré-lavagem cáustica. Nesse vaso o querosene entra em

contato com a solução cáustica diluída (3,3 °Bé ou 2,2% em peso). O objetivo desta

lavagem é remover qualquer traço de H2S presente, que tem um efeito prejudicial no

processo de oxidação que converte as mercaptanas em dissulfetos, permitindo que o

produto passe no teste de corrosão. Outra função da soda é a redução do teor de

acidez total do querosene através da neutralização dos ácidos naftênicos (FAHIM,

2012), carboxílicos, graxos e fenóis presentes na alimentação. Estes compostos são

prejudiciais à qualidade do produto, pois aumentam a corrosividade, interferem na

estabilidade térmica e afetam a eficiência dos reatores, no processo de oxidação das

mercaptanas. Pela reação de oxidação nos reatores, consequentemente, o processo

de realcalinação dos reatores seria mais frequente. Um outro fator importante é que

tanto a presença de H2S, como também dos outros ácidos no reator, podem causar a

formação de espuma (sabão) no reator, prejudicando assim a eficiência dos mesmos.

A figura 07 representa o esquema de uma unidade de tratamento merox.

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Figura 07: Esquema de uma unidade tratamento Merox.

Fonte: Petrobras

A corrente de querosene do vaso de pré-lavagem cáustica é encaminhada para

o Filtro de Areia. Essa filtração tem como objetivo reter a solução de soda cáustica

arrastada pelo querosene bem como reter compostos surfactantes (naftenatos e

fenolatos) da corrente de QAV oriundo do vaso de pré-lavagem cáustica por meio da

coalescência e retenção destes compostos por filtragem no leito de areia.

O querosene que deixa o filtro de areia é enviado para os reatores para que

ocorra a reação de oxidação das mercaptanas a dissulfeto. Para que as mercaptanas

presentes sejam oxidadas, o querosene isento de soda cáustica é misturado com ar

comprimido em excesso proveniente de um compressor. A vazão de ar é manipulada

com a mudança da vazão de querosene, de acordo com o ajuste do controle da razão

querosene/ ar. Ou seja, qualquer variação na vazão de alimentação de querosene, o

ar necessário para oxidação das mercaptanas é regulado automaticamente, conforme

a relação vazão de querosene/ ar (constante).

Portanto:

Vazão necessária para oxidação (kg/h) = Q/ constante, sendo: Q = vazão de

querosene medida em kg/h

𝐶𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = 𝐹 =𝑄𝑄𝑈𝐸𝑅𝑂𝑆𝐸𝑁𝐸

𝑄𝐴𝑅

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O querosene com ar dissolvido flui então através do leito de carvão ativado dos

reatores (operação em paralelo) impregnado com catalisador (ftalocianina de cobalto)

e saturado com soda cáustica. Nos reatores acontecem as seguintes reações:

𝑁𝑎𝑂𝐻 + 𝑅 − 𝑆𝐻 𝑁𝑎𝑆𝑅 + 𝐻2𝑂

2𝑁𝑎𝑆𝑅 + ½ 𝑂2 + 𝐻2𝑂 2𝑁𝑎𝑂𝐻 + 𝑅𝑆𝑆𝑅

Para que as mercaptanas sejam oxidadas é necessário que o leito dos reatores

esteja saturado com solução cáustica, para que a reação possa ocorrer. Assim na

primeira equação temos a reação da soda com a mercaptana (R-SH) formando-se um

mercaptídio de sódio (NaSR). Na segunda reação, o mercaptídio de sódio em solução

aquosa e em formando o dissulfeto (RSSR). Desta forma as mercaptanas são

oxidadas e o dissulfeto (RSSH) formado fica dissolvido na fase aquosa (solução de

soda cáustica). É necessário assegurar que todo o ar injetado estará disponível para

o processo de oxidação. Em outras palavras, o ar deve estar totalmente dissolvido na

fase líquida, o que é conseguido utilizando-se uma pressão de operação apropriada.

A saída dos reatores é enviada para o vaso decantador de soda cáustica, que

separa a fase aquosa do querosene. A finalidade deste vaso é reter soda gasta rica

em compostos surfactantes (naftenatos e fenolatos) da corrente de QAV oriundo dos

reatores por meio de decantação. Esta soda contaminada se passar para os filtros de

argila tira o QAV de especificação com relação a estabilidade oxidativa.

O querosene que deixa esse vaso é enviado para o vaso de lavagem de

querosene, onde o querosene é lavado com água desmineralizada. O objetivo da

lavagem aquosa no QAV é de retirar as impurezas indesejáveis (agentes

surfactantes), principalmente a soda que deixou de decantar no vaso decantador de

soda (FAHIM, 2012). Essa lavagem é essencial para ajudar na especificação do

produto quanto a estabilidade térmica e a tolerância a água.

Ao deixar o vaso de lavagem o QAV é enviado para o filtro de sal. O filtro de

sal tem a finalidade de proteger o filtro de argila, com a retirada da água arrastada do

vaso de lavagem e de 30% da água dissolvida no QAV. Em seguida, o querosene é

enviado para o filtro de argila, onde compostos surfactantes e traços de outros

compostos solúveis em óleo são removidos.

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O QAV tratado e especificado que deixa o filtro de argila é então enviado para

estocagem. A especificação do QAV pode ser consultada na tabela do 04 do anexo

01.

4.4 Adsorção

Segundo Gomide, 1988 “a adsorção é uma operação de transferência de

massa do tipo sólido-fluido na qual se explora a qualidade de certos sólidos em

concentrar em sua superfície determinadas substâncias existentes em soluções

líquidas ou gasosas”.

4.4.1 Tipos de adsorção

A classificação da adsorção se dá de acordo com os tipos de interações que

ocorrem durante o processo de atração entre o adsorvato e o adsorvente. Existem

dois tipos de adsorção: a adsorção física (fisissorção ou van Der Waals) e a adsorção

química (quimissorção ou ativada).

A adsorção física é um processo rápido, reversível, que se caracteriza por uma

baixa interação entre o fluido e o sólido, que decorre da ação de forças de atração

inter-molecular fracas (forças de van Der Waals) entre o adsorvente e as moléculas

adsorvidas (GOMIDE, 1988).

A adsorção química ocorre quando há uma interação muito mais intensa entre

a substância adsorvida e o sólido adsorvente. Sendo as forças de ligação de natureza

iônica ou até covalente (SEADER 1998).

4.4.2 Aplicações industriais da adsorção

Na indústria existem diversos tipos de aplicações onde a etapa fundamental é

a adsorção, dos quais podemos destacar: conforme Gomide, 1988, a desumidificação

de gases, a remoção da umidade da gasolina, o branqueamento das soluções de

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açúcar, dos óleos vegetais, minerais e de produtos de petróleo, e Foust, 1982, cita

também a purificação de rejeitos líquidos para o controle da poluição das águas.

4.4.3 Adsorventes

Adsorventes são partículas sólidas porosas utilizadas em processos de

adsorção, que a depender da função de sua aplicação deve possuir uma série de

propriedades específicas “para promover a separação desejada e de maneira

econômica” (Ruthven, 1984). Em geral, os adsorventes devem: ser materiais com

pequena queda de pressão e boa resistência mecânica (Foust,1982); ter seletividade,

possuir elevada área interfacial e ter eficiência, ou seja, possuir alta capacidade

adsortiva (Gomide, 1988).

Os adsorventes industriais incluem a bentonita, a bauxita, a alumina, o carvão

de ossos, a terra fuller, o carvão e a sílica gel (Foust,1982).

4.4.4 Adsorção em leito fixo

Nos processos de adsorção em leito fixo, nos sistemas líquidos – percolação,

as colunas são recheadas com material sólido poroso (adsorvente), mantido

estacionário, por onde o líquido percola continuamente em fluxo ascendente ou

descendente (Gomide, 1988). À medida em que a solução permeia o adsorvente, os

contaminantes são removidos, diminuindo a concentração dos mesmos na solução,

até que ocorra a saturação do adsorvente (SEADER,1998). O momento que acontece

a saturação é chamado de ponto de saturação. Na prática este ponto é percebido

quando a concentração final da solução começa a aumentar.

De acordo com GOMIDE (1988) “a figura 08 representa bem como ocorre a

adsorção em um leito fixo”.

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Figura 08: Adsorvedor de leito fixo: curva de ruptura.

Fonte: Gomide, 1988

Considerando uma solução líquida ou gasosa de concentração C0

atravessando em regime contínuo de cima para baixo um leito poroso (adsorvente)

inicialmente isento de adsorbato. Ao penetrar no leito o soluto é adsorvido

rapidamente, e muito antes de sair todo o soluto já terá sido removido pelo adsorvente

que se encontra mais abaixo. A solução saíra do leito sem soluto. O gráfico da parte

inferior da figura 08 representa a variação da concentração c de saída em cada

instante durante a operação. No instante ƟQ a zona de adsorção atinge o fundo do

leito e a concentração de saída cQ já tem um valor apreciável. Esse instante é

caracterizado como ponto de quebra. A partir daí a concentração aumenta

rapidamente, até que no instante ƟR, a solução sai com praticamente a mesma

concentração da entrada. A parte da curva de adsorção entre ƟQ e ƟR representa a

curva de ruptura.

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5 Estudo de caso: a importância da argila no processo de tratamento do

querosene de aviação do Ativo Industrial de Guamaré

O sistema de percolação utilizado pelo AIG no processo de produção de

querosene de aviação (QAV-1) permite ao produto final a especificação do parâmetro

cor e uma maior estabilidade térmica. Este tratamento, por adsorção em colunas de

leito fixo, remove compostos coloridos e outros contaminantes polares encontrados

em derivados de petróleo, reduzindo-os a teores da ordem de ppb (parte por bilhão).

5.1 Composição química da argila

O adsorvente que vem sendo utilizado pelo AIG é uma argila natural, ativada

termicamente. Abaixo seguem os dados da composição química de um tipo de argila

utilizada no tratamento do QAV. A tabela 01 apresenta a composição química da

argila. Após extração, a argila pode passar por um tratamento específico a depender

de sua aplicação. O adsorvente que sofreu tratamento térmico é específico para

remoção de compostos surfactantes, metais e sólidos em suspensão. Já o adsorvente

que sofreu tratamento ácido é específico para remoção de compostos nitrogenados.

Tabela 01: Composição química da argila

Composto % wt

SiO2 70,85

Al2O3 14,06

MgO 5,71

Fe2O3 5,34

CaO 1,62

K2O 1,30

P2O5 0,84

Na2O 0,25

SO3 0,03

Total 100,00

Fonte: Oil Dri Corporation of America

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5.2 Objetivo do vaso de argila

O filtro de argila é um equipamento que contém um recheio de argila, com a

finalidade de reter compostos surfactantes, metais e precursores de reações de

oxidação do QAV-1. Conforme PASSOS (2003) “a fase de percolação pode ser

considerada a etapa fundamental para a obtenção da qualidade, traduzida pelos

ensaios de cor e Delta Cor”. Abaixo segue as principais vantagens da utilização da

argila como adsorvente no tratamento do QAV-1.

Remoção de compostos surfactantes solúveis no QAV-1, melhorando WSIM;

Remoção de material particulado melhorando o Millipore colorimétrico e

gravimétrico;

Remoção de compostos nitrogenados, melhorando JFTOT, Cor e Delta Cor.

Remoção de quelatos orgânicos,

Os compostos surfactantes são compostos que tem a característica de reter

água, que reduz o WSIM e aumentam a Tolerância à água, consequências não

desejadas.

Os metais, Na, Fe, Cu, Zn e Pb, que são retidos no filtro de argila são reduzidos

a teores da ordem de ppb (parte por bilhão).

A tabela 02, resume as consequências da não utilização do filtro de argila no

tratamento de QAV-1.

Tabela 02 – Consequências da não utilização do filtro de argila

Possível Causa Consequência

Presença de compostos nitrogenados

básicos

Estabilidade térmica prejudicada

Presença de compostos surfactantes Reduz o WSIM e favorece a Tolerância à

água

Presença de material particulado Formação de depósitos

Presença de compostos nitrogenados Formação de goma e degradação da cor

Fonte: Elaboração própria do autor

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5.3 Ações operacionais para aumentar o tempo de campanha do vaso de argila

Acompanhamento do teor de acidez do leito de soda do vaso de lavagem

cáustica. Quando necessário, realizar a troca do leito de soda;

Acompanhamento da razão QAV/ar na entrada dos reatores. A manutenção da

razão ideal de QAV/ar nos reatores é para uma melhor conversão de

mercaptans em dissulfeto.

Acompanhamento da concentração de mercaptans na saída dos reatores.

Quando necessário, realizar alcalinização dos leitos dos reatores;

Acompanhamento do pH do leito de água do vaso de lavagem. Quando

necessário realizar a troca do inventário de água desminarilizada;

Acompanhamento do nível do inventário de sal do filtro de sal, através da

análise do teor de água e densidade da salmoura (efluente). Quando

necessário realizar a reposição de sal.

5.4 Controle das variáveis operacionais da unidade de tratamento

É importante manter a estabilidade operacional da unidade de tratamento, pois

a oscilação das variáveis operacionais influencia diretamente na eficiência da

adsorção, o que pode diminuir o tempo de campanha do leito de argila. Podemos citar

como variáveis operacionais a vazão de carga, a temperatura, a concentração da

carga, o pH do vaso de lavagem, entre outros.

Vazão de carga – um aumento da vazão é acompanhado pela diminuição da

capacidade de retenção da coluna, devido ao fato do tempo de residência do QAV no

leito ser menor, e por formar caminhos preferenciais diminuindo a ação do adsorvente.

O aumento da vazão também pode causar arraste de partículas da argila aumentando

a concentração de partículas no QAV. Observa-se na prática que quando se tem

maiores vazões de operação, têm-se menores tempos de ruptura uma saturação mais

rápida do leito de adsorvente.

Temperatura – a adsorção é acompanhada pela evolução do calor, o aumento da

temperatura afeta as relações de equilíbrio de adsorção, e pode aumentar a presença

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de compostos surfactantes no QAV que diminui a tolerância à agua diminuindo a vida

útil do leito argila.

Concentração da carga – outro fator importante é o controle da concentração de

mercaptanas (RSH) no QAV. Pode-se observar que o aumento da concentração de

RSH de entrada do QAV, pode causar uma saturação mais rápida do leito de argila.

Controle do pH da água – deve-se ter um acompanhamento do pH da água para

evitar a presença de compostos surfactantes na corrente de QAV-1.

Nível do vaso de sal – deve-se ter um acompanhamento do consumo do inventário

do filtro de sal que antecede o vaso de argila, pois um nível baixo de sal pode aumentar

a presença de água na corrente de QAV vindo a acelerar a degradação do vaso de

argila.

5.5 Problemas que levam a degradação de cor do querosene

Na tabela 03, são apresentadas as principais causas que levam à degradação

da cor no querosene.

Tabela 03 – Causas de degradação de cor do querosene

Possível causa Como

Contaminação por outra corrente Furos em trocadores de calor, passagem

indevida de válvula

Oxidação do produto Presença de ar no tanque, alta acidez no

produto

Cor baixa na entrada Característica do petróleo

Saturação da argila 1. Saturação normal

2. Saturação prematura: qualidade da

argila, passagem de água do filtro de sal,

qualidade da carga

Presença de contaminante que não é tratado

na percolação

Processamento de petróleo desconhecido

Fonte: PASSOS, 2003. Petrobras

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6 CONCLUSÃO E SUGESTÕES DE NOVOS PROJETOS

Em resumo, de acordo com a pesquisa, é possível dizer que a argila contribue

para garantir a qualidade do QAV-1. Pois auxilia no tratamento de QAV, removendo

contaminantes indesejáveis.

Com esse trabalho também pode-se observar o quanto é importante o

acompanhamento adequado da unidade de tratamento merox, pois o bom controle

operacional propicia a maximização de produção, redução de custos e qualidade

adequada do QAV-1 produzido. Também pode-se observar que os aspectos práticos

da adsorção sobre como conduzir a operação, efetuar o contato entre as fases com

um máximo de eficiência e um mínimo de perda de carga, fatores econômicos e

segurança são mais importantes para o engenheiro.

Acredita-se que a realização deste trabalho contribuirá para disseminar

conhecimentos, melhorando a capacitação de profissionais na área de produção,

tratamento do querosene de aviação, contribuindo para garantia de qualidade do

querosene de aviação.

A percolação com argila apresenta a desvantagem da necessidade de troca do

inventário de argila elevando consideravelmente o custo do processo. Com isso,

podemos citar como sugestões de novos projetos:

Adequação de uma etapa de secagem no processo para aumento do

desempenho da argila, aumentando assim os tempos de campanha;

Realizar estimativa de consumo de sal para prever intervenção para

reposição do inventário;

Projeto de regeneração da argila.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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01/12/2009 (DOU 01/12/2009). Brasília, 2009.

Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Aut 220

-2016. Autorização ANP n°220, de 25/04/2016 (DOU 26/04/2016). Brasília,

2016.

BRASIL, N. I. do; Destilação de petróleo. Rio de Janeiro: Petrobras, 2005.

BRASIL, N. I. do; ARAÚJO, M. A. S.; SOUZA E. C. M. P.; QUELHAS, A. D.

Processamento de petróleo e gás: petróleo e seus derivados, processamento

primário, processos de refino, petroquímica, meio ambiente. Rio de Janeiro:

LTC, 2012.

CAMOLESI, V. J.; Caracterização do querosene através da espectroscopia de

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ANEXOS

Tabela 04 – Especificação querosene de aviação - QAV-1

CARACTERÍSTICA UNIDADE VOLUME

Aspecto - claro, límpido e isento de água não dissolvida

e material sólido à temperatura ambiente

Cor - Anotar

Partículas contaminantes, máx. mg/L 1,0

Acidez total, máx mg KOH/g 0,015

Aromáticos, máx. ou % volume 25,0

Enxofre total, máx. % massa 0,30

Enxofre mercaptídico, máx % massa 0,0030

Fração hidroprocessada % volume Anotar

Fração severamente hidroprocessada % volume Anotar

Destilação

P.I.E. (Ponto Inicial de Ebulição), máx. °C Anotar

10% vol, recuperados, máx °C 205

50% vol, recuperados °C Anotar

90% vol, recuperados °C Anotar

P.F.E. (Ponto Inicial de Ebulição), máx. °C 300

Resíduo, máx. % volume 1,5

Perda, máx % volume 1,5

Ponto de fulgor, mín. °C 40

Massa específica a 20°C kg/m³ 771,3 – 836,6

Ponto de congelamento, máx °C -47

Viscosidade mm²/s 8,0

Poder calorífico inferior, mín. MJ/kg 42,80

Ponto de fuligem, mín. mm 25,0

Ponto de fuligem, mín. e mm 19,0

Naftalenos, máx. % volume 3,00

Corrosividade ao cobre (2h a 100°C), máx. 1

Estabilidade térmica a 260°C

queda de pressão no filtro, máx. mmHg 25,0

depósito no tubo (visual) - <3 (não poderá ter cor anormal ou de pavão)

Goma atual, máx. mg/100mL 7

Índice de separação de água

com dissipador de cargas estáticas, mín. - 70

sem dissipador de cargas estáticas, mín. - 85

Condutividade elétrica µS/m 50-600

Lubricidade, máx. mm 0,85

Antioxidante mg/L 17,0 - 24,0

Desativador de metal, máx. mg/L 5,7

Dissipador de cargas elétricas, máx. mg/L 5,0

Inibidor de formação de gelo % volume 0,10 - 0,15

Detector de vazamentos, máx. mg/kg 1,0

Melhorador de Lubricidade Acordada entre consumidor e fornecedor

Fonte: http://www.anp.gov.br/- Resolução N°38, de 28.07.2011 – DOU 29.07.2011.