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Copyright© Ricardo Henrique dos Reis6267 – 500 – 132 – 2012
Índices para catálogo sistemático:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
O conteúdo desta obra é de responsabilidade do(s) Autor(es),proprietário(s) do Direito Autoral.
Scortecci EditoraCaixa Postal 11481 - São Paulo - SP - CEP 05422-970
Telefone: (11) 3032-1179 e (11) 3815-1177www.scortecci.com.br
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www.asabeca.com.br
GRUPO EDITORIAL SCORTECCI
Correia, Ricardo O colecionador de vulvas / Ricardo Correia. - -São Paulo : Scortecci, 2012.
ISBN 978-85-366-2576-8
1. Contos - Literatura brasileira I. Título.
12-05750 CDD-869.93
1. Contos : Literatura brasileira 869.93
AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos
Não pretendo citar nomes, tenho medo de cometer in-justiças. Espero que todas as pessoas envolvidas neste proje-to compreendam e reconheçam os meus sinceros agradeci-mentos em cada página escrita.
Obrigado a todos!
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Nota do AutorNota do AutorNota do AutorNota do AutorNota do Autor
Entrei no teatro após assistir ao espetáculo As Raposas
do Café, do Grupo Tapa, achando que o teatro de alguma for-ma poderia me ajudar na escrita; mesmo assim demorei quaseum ano para ter coragem de me inscrever no curso. Foi entãoque começou uma reviravolta em minha vida. Primeiro, umaconstatação horrível: os anos em que estudei em escola públi-ca, com as constantes greves dos professores, haviam me trans-formado em um semianalfabeto formado. O que fazer? Eunão sabia escrever e descobri isso da pior maneira, ao apre-sentar dois trabalhos: a peça infantil A Palavra Mágica e o livrode poesias Lobos. Dois desastres, que só não foram piores por-que apontaram para mim um novo caminho a seguir. E foi oque fiz. Fui para a faculdade estudar Letras (desisti no primei-ro ano) e passei a ler com regularidade para preencher essevazio. Mais tarde entrei para o curso de Comunicação Socialda Faculdade Cásper Líbero (meu melhor investimento).
Por outro lado, descobri no teatro uma vocação. Eraum dos alunos mais elogiados do curso. Minha vida, porém,era incompatível com os compromissos da segunda arte. Tra-balhava de segunda a sábado durante o dia e estudava à noitedurante a semana. Aos domingos fazia aulas de teatro noAliança Francesa. Não podia largar o trabalho ou a escola.Fui recusando um trabalho após o outro até minha estrela seapagar, não por completo.
Tive minha primeira oportunidade como ator profis-sional em 1996, na peça Long Play. Tive muita dificuldadenos ensaios por se tratar de meu primeiro trabalho. Foi difícilatender as exigências do diretor. Mas havia uma mulher, cha-mada Theodora Ribeiro, que acreditava muito em meu traba-lho e me deu alento. Durante a temporada fui convidado parafazer um filme com o diretor Hector Babenco, mas o filme
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não conseguiu financiamento. Achei que a vida de ator nãoera para mim e acabei me afastando do teatro.
Muitas vezes (nesse meio-tempo) senti vontade de vol-tar para o teatro, mas depois de casado abdiquei um poucodos sonhos. Não sei que mania é esta que temos de deixartudo de lado em troca de alguns abraços e beijos... Mas issopertence ao passado e, já que tomei posse de minha vida no-vamente, estou pouco a pouco retomando os sonhos que fi-caram para trás. Primeiro foi o teatro, em 2009. E agora revi-ro as gavetas e o computador em busca de frases quase perdi-das. Com muito esforço consegui reunir algumas poesias, queescrevo desde 1985.
Pretendo assumir o nome artístico de Esmeraldo Reis,homenagem ao meu pai, e porque seria loucura insistir emmeu nome de registro, o qual foi imortalizado pelo poetaFernando Pessoa. Mas não é apenas por isso, é também por-que minha vida foi se confundindo com a de meu pai, desdeque ele morreu em 1986, vítima de câncer na coluna, e me viobrigado a assumir a família, com minha mãe e meus três ir-mãos. A partir de então sinto-me mais Esmeraldo que Ricardo,com a diferença de que meu pai era um homem mais simples,baiano de Sátiro Dias, que veio para São Paulo e se estabele-ceu como carpinteiro em obra de construção civil, buscou amãe e os irmãos e iniciou nova vida. Casou, virou comercian-te e depois de se envolver com outras mulheres perdeu tudo:casa, mulher e filhos. História muito comum. Eu, diferente demeu pai, pude criar minhas oportunidades, estudar em boasfaculdades e escolher uma profissão melhor. Tudo isso frutodo trabalho que iniciei em 1984, aos 10 anos de idade.
Espero traçar um novo caminho com este livro – afi-nal, quem nasce sem nada só tem a ganhar com a vida.
Eis o meu livro, eis a minha vida, eis o meu sonho!
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PrefácioPrefácioPrefácioPrefácioPrefácio
Conheci Esmeraldo Reis no Teatro Augusta, declaman-do o Sermão de Quarta-Feira de Cinza, pregado pelo autor Pa-dre Antônio Vieira na Igreja de Santo Antônio dos Portugue-ses no ano de 1672. Preparei-me para assistir à representa-ção. Li o Sermão, dividi-o em partes, consultei as expressõeslatinas que desconhecia, decorei alguns trechos e disse a mimque estava pronto para assistir ao monólogo.
Tão pronto que talvez não mais precisasse assistir aele. Mas qual! Reis deu ao texto a alma do Padre Vieira. Nãoera só a voz que o interpretava. Reis falava com os olhos,com expressivas manifestações na face e no rosto. O corpofalava. Naquele momento, a vida dos espectadores resumia-senos ouvidos e olhos. Antes de a plateia arrebentar-se em aplau-sos, fez-se, no teatro, um silêncio gélido, não mais que quinzesegundos. Silêncio tão profundo que se poderiam ouvir até aspulsações do coração do artista.
Assim conheci Esmeraldo Reis. Fiquei seu admirador eamigo. Agora recebo o convite de prefaciar seu livro Todas as
manhãs de março. Li os poemas e os reli. A emoção foi a mesmade vê-lo artista, dominando o tempo e o espaço. Percebe-seque escreve, não no momento da emoção mas, como querFernando Pessoa, no momento da recordação da emoção. Sãoversos que, como diz o autor, conseguiu reunir desde 1985.Em 1985 o poeta tinha apenas onze anos. Sua poesia tomacorpo e alma na folha, antes em branco, no momento da re-cordação da emoção. Assim entendo os versos de Reis.
“A despedida ao teatro” recorda o dia em que quis serator. O poeta, em “Minha Musa Adormecida”, pede à amadaque ignore os seus sonhos, que durma tranquila na noite fria,mas que sua alma passeie com ele. “A Bela Priscila” sabe quea beleza é inimiga dos amantes – Priscila cuja alma faz invejaàs flores. A “Travessa da Saudade” não lhe deixa saudade.Dela sobrou a emoção. Em “Consciência da Vida” o poeta
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confessa só entender a vida depois da vida consumida. Opassado em “Sentimento Antigo” são lágrimas e saudades deum tempo que passou. Tudo respira o momento da recorda-ção da emoção.
Lê-se também em Esmeraldo Reis a poesia dita con-creta – o Concretismo. O movimento leva às últimasconsequências o processo estrutural estabelecido peloDadaísmo, Futurismo e até Surrealismo. Leva às últimasconsequências o poema que resulta da linguagem, objeto porsi só do poema: “O Poema Concreto é uma realidade em si,não um poema sobre”. Leitor, observe cuidadosamente ospoemas “Shopping”, “Sem Pressa”, “Aguarde um Instante”,“Ladeira”, “Onde o Amor Repousa”, “A Noite Passa... Fria eCalma”. Nestes poemas, a comunicação apela para oideograma (sinal que exprime as ideias e não os sons). O poe-ma concreto de Reis rompe com a sintaxe tradicional. Seuspoemas concretos são elaborados com substratos concretos,com abolição do verso e a ausência de sinais de pontuação.
Observe, Leitor, atento, o poema concreto “Shopping”.Nele o autor aponta dois polos antitéticos. Primeiro o lucro eo negócio, que se revelam nas palavras “bem-vindo”, “ticket”,“compras”, “cartão” e no “Volte sempre”. Depois a indife-rença e a perda da individualidade que se revelam nas expres-sões “Elevador em manutenção”, “não aceitamos trocas” e“escada rolante quebrada”. Infere-se que Reis proclama em“Shopping” que a poesia concreta ajusta-se bem às exigênciasmodernas; que a comunicação visual momentânea se coadu-na mais com a época da televisão, com a propaganda e a téc-nica dos anúncios luminosos.
Em seu concretismo, o poeta apela para o som, letra,página, figura, linha e forma. Mallarmé (1897) é o precursor domovimento, com seu poema “Un Coup de Dés” (“Um Lancede Dados”). Ainda como precursores do concretismo são cita-dos os futuristas e autores como Fernando Pessoa, CarlosDrummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Oswaldde Andrade. O movimento ganha expressão na década de 50,
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em São Paulo, com Décio Pignatari, Haroldo de Campos eAugusto de Campos, reunidos em torno da Revista Noigandres.Hoje, em São Paulo, Esmeraldo Reis faz ecoar o movimentodo Concretismo – esta consciência de simultaneidade da co-municação verbal e não-verbal, verdadeira metacomunicação.
Ricardo Reis, autor desta obra, assume o nome artísticode Esmeraldo Reis. Quer modestamente fugir do heterônimode Fernando Pessoa. Ricardo Reis é o heterônimo de FernandoPessoa. Esmeraldo Reis é o pseudônimo de Ricardo Reis.Heterônimo não deve ser confundido com pseudônimo. Opseudônimo escreve sob outro nome, mas conserva o seu es-tilo, preserva os mesmos temas e a mesma linguagem. Oheterônimo não só escreve sob outro nome como tambémescreve como se fosse outra pessoa, assim outro personagem,outro tema, outro estilo. O pseudônimo faz de outro nomeapenas a máscara em que se oculta o escritor. O heterônimo,sob outro nome, revela um outro ser, atormentado por confli-tos subjetivos e sentimentais. O pseudônimo, ao tirar a más-cara, pode dizer “Esmeraldo Reis sou eu”. O heterônimo, aotirar a máscara, pode dizer “Ricardo Reis é outro eu”.
Fernando Pessoa é um dos maiores poetas não só dePortugal mas de toda a Europa; não só do século XX mas detodos os tempos. Esmeraldo Reis é nosso poeta, poeta de nos-sa comunidade, poeta de muitos amigos; meigo, doce,humanista e amante da liberdade. Mas os fatos fizeram quenosso poeta tivesse, no registro civil, o mesmo nome doheterônimo de Fernando Pessoa. Haveria algum ponto emcomum entre ambos? Se é legítimo comparar o monstro daliteratura universal com o meigo poeta de nossa comunidade,não posso deixar de estabelecer alguns pontos comuns.
A crítica aponta, nas poesias de Ricardo Reis, sete ca-racterísticas:
I. Epicurismo: o prazer do momento em que se vive; omomento “carpe diem” horaciano.
“Quando, Lídia, vier o nosso outono
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Com o inverno, que há nele, reservemosUm pensamento,Não para a futuraPrimavera, que é de outrem,Nem para o Estio de quem somos mortos,Senão para o que fica do que passa –O amarelo atual que as folhas vivemE as torna diferentes”
Ricardo Reis
“Quando chegarem os secos dias de outonoQuando não teremos floresTerei mais do que sempre imagineiPorque tenho noite e dia”
Esmeraldo Reis
II. Estoicismo: aceitação das leis inexoráveis do desti-no; indiferença ao sofrimento e à desgraça.
“Segue o teu destino,Rega tuas plantasAma as tuas rosas”
Ricardo Reis
“Lá fora o vento sopraComo se fosse em despedidaMas dentro de mim há um suspiroPorque o amor é como a vida”
Esmeraldo Reis
III. Ataraxia, tranquilidade, serenidade, indiferença,aceitação.
“Aos que a felicidadeÉ sol, virá a noite.Mas ao que nada espera
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Tudo que vem é grato”Ricardo Reis
“A vida era um sonhoQue eu pintava com minhas coresNão havia este mundo todo pichado que o tempodesgastou...Ainda assim, espero a hora que amanheça o diaPara matar a saudade do amor que me espera”
Esmeraldo Reis
IV. Paganismo.
“Esse momento em que sossegadamente não cremosem nada,Pagãos inocentes da decadência”
Ricardo Reis
“Minha escultura gregaAfrodite de PraxitelesHei de te esculpir novamenteAlisando teu corpo eternamente”
Esmeraldo Reis
V. O elogio da vida rústica; “a aurea mediocritas” deHorácio.
“Colhamos floresMolhemos levesAs nossas mãosNos rios calmosPara aprendermosCalma também”
Ricardo Reis
“Gosto e odor
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Por imagens
EnxergarPor imagens
OuvirPor imagens
ViverPor imagens
AmarPor imagens”
Esmeraldo Reis
VI. A aceitação de que o tempo é efêmero.
“O tempo passa,Não nos diz nada.Envelhecemos.Saibamos, quaseMaliciosos,Sentir-nos ir.”
Ricardo Reis
“Deixa, luaA noite aguardar mais um poucoJá que é tarde para o amor
Se é tarde, não importa”Esmeraldo Reis
VII. A aceitação calma da ordem das coisas; modera-ção dos desejos.
“Não queiramos mais vida
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Que a das árvores verdes”Ricardo Reis
“Quando chegarem os dias de sua ausência, estarei[pronto
Tão pronto quanto as flores do dia dos namoradosQue são entregues murchasE desesperadamente são colocadas na águaPra ver se duram algum momento de amor”
Esmeraldo Reis
Deixo com os leitores os versos do poeta. Antes umconselho de Ricardo Reis e Esmeraldo Reis, respectivamente:
“Segue teu destinoRega as tuas plantasAma as tuas rosasO resto é sombraDe árvores alheias”
“Seus pés pisam o assoalho de mosaico multicorSem encostar nas emendas dos desenhos simétricosPara não perder a aposta que inventou...”
Jorge MiguelProcurador da Secretaria dos Transportes
do Governo do Estado – DAESPDiretor Acadêmico do Processo Seletivo da FAAP
Verso da página – Branca
SumárioSumárioSumárioSumárioSumário
A despedida ao teatro...
A despedida ao teatro ..............................................................23
Insignificância ...........................................................................24
Três sinais ..................................................................................25
Por um momento me vi em Verona .......................................26
Ando nu......................................................................................27
É cedo para amarmos ..............................................................28
Todas as manhãs de março
Tenho somente noite e dia ......................................................31
O vão do amor ..........................................................................32
Nunca tive amor que me desse flores ...................................33
Dormindo sonho com você ....................................................34
Breve é somente o dia .............................................................35
Amorparaquedas .......................................................................36
Ainda hoje a tenho ...................................................................37
Minha musa adormecida .........................................................38
Deserto .......................................................................................39
Amo enquanto sofro ................................................................40
Pensamento distante ................................................................41
Um degrau ..................................................................................42
Parodiando Garcia Lorca ........................................................43
Minh’alma gêmea ......................................................................44
A divina comédia ......................................................................45
Os desagregados do amor .......................................................46
A bela Priscila ...........................................................................47
Travessa da Saudade ................................................................48
Brisa ............................................................................................49
Amar verbo ................................................................................50
Pedra lambida ............................................................................51
Shopping ....................................................................................52
Bar da Virada ............................................................................53
O amor é como o vento ..........................................................54
Doceira .......................................................................................55
É tarde para o amor .................................................................56
Náufrago ....................................................................................57
As horas perdidas de amor ......................................................58
Sem pressa .................................................................................59
Aguarde um instante ................................................................60
Os carros namoram à noite .....................................................61
Penso no bom do amor ............................................................62
O amor caminha .......................................................................63
Teu sono .....................................................................................64
Saudade do futuro ....................................................................65
O Bem-te-vi ..............................................................................66
O ideal existe ............................................................................67
O amor não me consulta .........................................................68
Meu amor é como nota de cem ..............................................69
Corpo ..........................................................................................70
Vou abrir minha janela para o mundo ...................................71
O teu sorriso vaga pela noite ..................................................72
São Paulo nunca fecha .............................................................73
Meus olhos .................................................................................74
Tenho vontade de ficar em teus braços ................................75
Flor de tecido ............................................................................76
Ladeira ........................................................................................77
Que sua plenitude .....................................................................78
Condenado aos sonhos ............................................................79
Flor que seca .............................................................................80
Onde ...........................................................................................81
O meio do caminho e o caminho do meio ...........................82
Minhas preces ............................................................................83
Juventude ...................................................................................84
Incógnito ....................................................................................85
A noite passa... ..........................................................................86
As amarras de seu leito ............................................................87
Sei que acabo na morte............................................................88
Meus cães ...................................................................................89
Amor é invólucro ......................................................................90
Cansei .........................................................................................91
Agarro as flores de teu jardim ................................................92
Sou vela acesa! ..........................................................................93
O que o amor diz ......................................................................94
Passo um café amargo .............................................................95
Seus pés pisam o assoalho de mosaico multicor .................96
Não tenho livros! ......................................................................97
Consciência da vida .................................................................98
Bolsa ...........................................................................................99
Poesia suburbana ................................................................... 100
Queria ...................................................................................... 101
Mostrei ..................................................................................... 102
Nada ........................................................................................ 103
Hoje já me cansei da poesia ................................................. 104
A vida ...................................................................................... 105
Imagens ................................................................................... 106
Que .......................................................................................... 107
Avenidas... ............................................................................... 108
Que faz o mundo em minha casa........................................ 109
Dizem que a Rua Augusta é moderna ................................ 110
Desista! .................................................................................... 111
Se eu faltar no trabalho......................................................... 112
O fruto na árvore é bom ...................................................... 113
SP1 ........................................................................................... 114
SP2 ........................................................................................... 115
Se teu amor ainda está vivo ................................................. 117
Pequenos lobos (1985-1994)
Já é tarde! ................................................................................ 121
Sentimento antigo.................................................................. 122
Existe um gesto seu .............................................................. 123
Por um momento ................................................................... 124
Estamos juntos ...................................................................... 125
Quando te vi menina ............................................................ 126
É tudo tão pouco... ................................................................ 127
Pita, menina bonita ............................................................... 128
De repente... ........................................................................... 129
Tentativa de um verso .......................................................... 130
A despedida
ao teatro...
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A despedida ao teatroA despedida ao teatroA despedida ao teatroA despedida ao teatroA despedida ao teatro
(Para o ator Guilherme Sant’Anna)
Um dia, quis ser ator de teatroE voar tão altoOnde não se pode enxergarQuis ser filho pródigo da arteQuis subir ao palcoE subestimar o mundoComo criança infameA concepção pecadora de enlear tal arteMe valeu sorrisos irônicosDe cruéis comediantesQue se esquivam em virtudes ensaiadasHoje o teatro vaia minhas pretensõesE eu, tão pouco mudadoTenho apenas altos os meus sonhosInterpreto na vida o trágico sentidoQue exaspera o pensamentoNo porvir que é motejante encalço do silêncioE deixa tolas as vaidades incessantesPara remediar meus costumes inconscientes
Ah! minh’alma teatral e desonesta...Quer ser arte e não ser artistaQuer ser fonte e não ser nascente
Ah! minh’alma teatral e desonesta...Já me priva meu anseioE padeço estupidamenteNuma cidade sem sonhos
Teatro Aliança Francesa
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InsignificânciaInsignificânciaInsignificânciaInsignificânciaInsignificância
(Para Antunes Filho)
O frio me espalma o rostoE o deixa com a cor de nácarA sinusite me dói a fronteA ausência de amigos me faz sozinhoAo amparo próximo que retém o equilíbrio inócuoCarpir lágrimas me faz feliz no relento paulistanoAinda sentado na escadaria do Teatro Anchieta
O frio inóspito...A tosse árida...
Descanse em paz, amigo!
O anelante andejo propicia a faltaQue me faz cismar n’endecha...Eu conheço este filho AntunesE por que ele não há de me conhecer?O frio me espalma o rosto novamenteA insignificância é humilhante avaroDe quem não faz por merecer
Teatro Anchieta
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Três sinaisO público silenciaO coração do ator bateForteNa plateia, esperaNa coxia, ansiedadeMinuto eternoCatarseEmoção desmedidaMENTIRA MENTIRAO teatro é uma mentiraMas ninguém se importaO fosso vazioA cortina cerradaA luz na ribaltaO pano na rotundaA solidão no proscênioABANDONO ABANDONOAs cadeiras cheias de abandonoMas ninguém se importaO teatro é mesmo uma mentira
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Por um momento me vi em VeronaMas não!Eu me encontrava entrevado na poltrona de um teatroEm que época não seiEsqueci-me do tempoPetruchio agitava Catarina pelos braçosGrúmio corria cansadoE eu descobria ShakespeareMal podia piscar os olhos, engolir a saliva ou levantar oqueixoTambém eu me apaixonei por BiancaTambém eu quis disputar seu amor com LucêncioTambém eu quis subir no palcoE trocar de vida...Só dei por mim nos aplausosBoquiaberto, irrequietoSem querer sair do teatro
Me deixei enganar, penseiMe deixei enganar!
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Ando nu(Quando estou em casa)Queria andar nu pelo mundoSem medo de mostrar o meu sexoSem medo de levarUm TAPA de verdadeOu um beijo de mentira
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É cedo para amarmosNão sabemos nada sobre o amorAinda...
Todas as manhãs
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Tenho somente noite e diaTenho somente noite e diaTenho somente noite e diaTenho somente noite e diaTenho somente noite e dia
Tenho somente noite e diaE nada me faltará, espero
AssimQuando chegarem os dias de sua ausência, estarei prontoTão pronto quanto as flores do dia dos namoradosQue são entregues murchasE desesperadamente são colocadas na águaPra ver se duram algum momento de amor
Não precisaremos de flores, espero
Mas se algum dia eu lhe der floresDeixe-as murchar, sem águaE observe como é curta a vida de um verdadeiro amor
Não precisaremos de flores, espero
AssimQuando chegarem os secos dias de outonoQuando não teremos floresTerei mais do que sempre imagineiPorque tenho noite e dia
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eraldo Reis
O vO vO vO vO vããããão do amoro do amoro do amoro do amoro do amor
Vejo seus olhos encontrarem os meusÉ que eles estão perdidos no vão do amorNas janelas abertas que mostram o seu rostoNas portas cerradas em que encosta o seu corpoE pelas ruas onde brotam seus amores
Em seus olhos estão escritos os segredos do amor(E quem me dera soubesse desvendá-los)Nas palavras doces que emanam de seus lábiosNo silêncio incômodo que encanta o seu sonoE em seu sorriso, que engana meus sentimentos
Corre em seus olhos a eternidade do amorNas flores esquecidas da primaveraE na brisa leve que afaga as estaçõesPois tudo está perdido no vão do amor
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Nunca tive amor que me desse floresSinceramente, nunca tive amor de verdadeEntão, como desejar flores?Não amo floresNão me apraz amar flores que não tenho
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Dormindo sonho com vocêAcordado, penso
Somente...
Tento entenderPor que é tão permissiva em sonho
E tão indiferente em pensamento
Mas acordado não encontro respostasE dormindo é preciso sonhar
Somente...
A cada dia me desfaço de um sonhoAinda com sono sinto você bem pertoE tudo que penso é que não quero acordar
Somente...
Durmo sempre com vocêEm pensamento...
Acordo sempre com vocêEm sonho...
E na verdade nunca seiSe estou acordado ou sonhando
Somente...
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(Para o amigo
Josias de Souza Dantas)
Breve é somente o diaNão a vida
Em que um dia não faz faltaPodemos dormir
E acordar outra vezAté que a vida nos pareça eterna
Temos o que nos dá a vidaPerdemos o que nunca foi nosso
O tempo é ingratoE ingrata é também nossa sorte
Pois somos escravosNão do tempo
Mas do próprio pensamento
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AmorparaquedasAmorparaquedasAmorparaquedasAmorparaquedasAmorparaquedas
Os prisioneiros estão à soltaNos campos as flores livresSão recolhidas ao léu pelo ventoE jogadas ao céu como pássarosO bailado lento das pétalas que voamAtinge terras distantes, e rios, e mares...Mas fora o palco florido que veem os olhosOutras vidas podem nos ensinar a amarE o amor pode ser algo tão simplesComo um beijo nos olhos
O céu é mesmo imenso aos paraquedas!Talvez, por isso, corram entre as floresQuerem fugir do amorMas o amor está em tudoQuanto se pode imaginar
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Ainda hoje a tenhoNum lugar em que não se encontraEm minha mente a sua ausência é o que permaneceFria e cálida, à sombra de nadaPorque nada existe
Somente eu amo o que está ausenteE tranquilamente sofroNum lugar em que não se encontra
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Minha musa adormecidaMinha musa adormecidaMinha musa adormecidaMinha musa adormecidaMinha musa adormecida
Ignora, meu bem, os meus sonhosDorme tranquila na noite friaMas sua alma passeia comigoE dormindo você sorri, apenas
Beijo sua boca molhada em meu sonhoBeijo seus olhos cerrados de sonoE molho com meu desejo o seu corpoEnquanto você sorri, apenas
Ignora, meu bem, o meu sofrimentoCega como a noite estáMas seus olhos nos guiam no amor
E eu me perco e me encontroE me esqueço em seu coloJá que você sorri, apenas
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DesertoDesertoDesertoDesertoDeserto
Em direção ao desertoPenso que a solidão me escreveE todavia escrever é como carpir sentimentosEntre lágrimas inconfessáveis que serão rasgadas...Já não escrevo!
Tento recolher os pedaços que ficaram pelo caminhoViver o que está por virE que não será rasgado
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Amo enquanto sofroNão choro de felicidadeMas rio do meu amorCerto seria eu não rir nem chorarMas quem há de compreender o meu amor?
AmoEnquanto é possível amar
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Pensamento distantePensamento distantePensamento distantePensamento distantePensamento distante
Muitas vezes à distânciaMe parece um pensamento em vocêCreio que sim, que não há distânciaÉ uma pena este pensamento me levar tão longeÀ procura de alguém tão pertoSeria mais fácil abrir os olhosE esquecer tudo o que sintoE por que eu faria istoSe a realidade é tão dura?Se preciso de ilusõesPara continuar amando?Vejo que ainda sofro demaisPor não saber dosar a dorPor querer guardar no peitoTudo que pertence aos olhosMas deixarei tudo como estáPara amenizar a saudadeQue ainda não tenho
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Um degrauUm tombo...
A idade avançadaO orgulho ferido
A repulsa por qualquer tipo de ajuda
A lágrima efêmeraIntrusa...
O desfazimento dos sonhosDas esperançasDas vontades
O choro...
Nada nos braços!Nada nas mãos!
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Parodiando Garcia LorcaParodiando Garcia LorcaParodiando Garcia LorcaParodiando Garcia LorcaParodiando Garcia Lorca
Eu não sou beloE você não me amaPorque não sou belo
Se eu fosse beloVocê não me amaria
Porque sou poeta
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Minh’alma gêmeaMinh’alma gêmeaMinh’alma gêmeaMinh’alma gêmeaMinh’alma gêmea
Quisera meu amor atraído fossePor minh’alma gêmea... Que corresseEntre as multidões, mas encontrasseSempre os mesmos braços...
Quisera meu amor um abraço fosseQue prendesse meu corpo ao teu corpoE invadisse teus lábios róseos, te tateandoSem nunca encontrar o que procura
Quisera meu amor um pensamento fosseTalvez um suspiro involuntárioQue ecoa madrugada afora à esperaDe um milagre que ninguém vê
Quisera meu amor um sorriso fosseE não lágrimas confusas na escuridãoQue não me deixam entenderO que espero encontrar um dia
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A divina comédiaA divina comédiaA divina comédiaA divina comédiaA divina comédia
“E como o amor o bem somente estude
Do seu sujeito, quando o amor domina,
Não pode ser que em ódio a si se mude.”*
Dante Alighieri
Amo-te!Não como te amam os amantesMas antes como estes eis-me amando
Sei que te idolatro sendo um falso amigoE me vejo constrangido em doente controvérsia
Afinal, para que servem os amigosSe não para serem amados?
Falso como ninguém é este amigo verdadeiroQue ora é chamado falsoNão como te chamam os amantes!
Porque os amantes são amantes falsosE eu somente um falso amigo
Amo-te!Não o bastante para rejeitar amor-próprioMas eis-me só, a pensar no amor...
* Texto original: “Or, perchè intender non si puó dalla salute / amor del suosubietto volger viso, / dall’odio proprio son le cose tute...” (tradução deJosé Pedro Xavier Pinheiro.)
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Esm
eraldo Reis
Os desagregados do amorOs desagregados do amorOs desagregados do amorOs desagregados do amorOs desagregados do amor
Quando eu emanar um sorriso prementeSerá apenas uma forma de não sucumbir à minha dorJunto à sua alcova vaziaHoje é sempre véspera de qualquer diaPara os desagregados do amor
A noite se finda tão somenteE, com ela, pessoas inverossímeisSimplesmente apagam suas luzes...
– Tu és amor, inexplicávelÉ tão falso o teu sorrisoQue emana também minha dor
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A bela PriscilaA bela PriscilaA bela PriscilaA bela PriscilaA bela Priscila
Já viste o espelho refletir teu rostoE sabes que a beleza é inimiga dos amantes
Pois quem há de te espiar o âmagoQuando teu rosto faz inveja às flores?
Talvez a beleza não combine contigo(E isto é de todo um mal, querida!)
Pois onde encontrarás um amorQue ignore teu rosto sem a deixar ferida?
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Esm
eraldo Reis
Travessa da SaudadeTravessa da SaudadeTravessa da SaudadeTravessa da SaudadeTravessa da Saudade
Jamais saberei explicarComo foi ter morado um diaNa Travessa da Saudade(Da qual não tenho saudade alguma!)
Lembro-me, como se fosse hojeDo córrego que transbordavaEnchendo nossa casa de desesperoDeixando marcas na parede de meu humilde larLevando consigo os sonhos de uma vida melhor...
Juro que não tenho saudadeDe minha humilde Travessa da SaudadeLugar onde cresci e onde me conheciPor gente tão desafortunadaLugar onde me apaixoneiE onde me abandonei sem saber explicarComo foi ter morado um diaNa Travessa da Saudade
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BrisaBrisaBrisaBrisaBrisa
Os ramos que envergam, mas não quebramSão diferentes de nósTão soltos à brisa sãoE nós aos sentimentosBalançam, balançam...Balançam porque sentem a brisaE nós, os sentimentos
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Esm
eraldo Reis
Amar verboAmar verboAmar verboAmar verboAmar verbo
Não sei o que é amar, o que é amar verboAmar, que habita o dicionário...Conheci o amar que habita em peito abertoO amar oportuno que olha de soslaio
Amar é legado de coexistênciaAmar faz o que o dever não consegueAmar não tem garbo, nem malíciaAmar é alvo e não persegue
Não, não pode ser amar o que sintoAo menos não o amar verbo transitivoO meu amar é sentimento excessivo...
Amar é algo que se faz no leito!Não, não pode ser amar o que sintoPois o que sinto não me sai do peito
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Pedra lambidaPedra lambidaPedra lambidaPedra lambidaPedra lambida
Ah! meu aljôfar que de tão pequeno perdeu-seMinha pedra lambida, sem valor algumA ilha mais deserta em que se escondeÉ o canto de uma sala escura
Ah! meu aljôfar, de rosado encantoQue em ostras modernas tem vividoMinha escultura gregaAfrodite de PraxitelesHei de te esculpir novamenteAlisando teu corpo eternamente
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Esm
eraldo Reis
ShoppingShoppingShoppingShoppingShopping
Bem-vindoNão se esqueça de retirar o seu ticket
Boas compras!!!
ACEITAMOS CARTÃO
Elevador em manutenção
Experimente o novoExperimente de novo
Não aceitamos trocas
Escada rolante quebrada
Tá barato pra caramba!
Tipo assim...
Volte sempre!
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Bar da ViradaBar da ViradaBar da ViradaBar da ViradaBar da Virada
Pessoas comem, comendo riemTudo é tranquilo, no Bar da ViradaVira daqui, vira daliNão vou cantar, não vou sorrir
Um canto escuro, a noite friaTudo é motivo pra dar risadasRiem daqui, riem daliRiem de tudo, não perdem nada
Pessoas comem, comendo riemComo é gostoso, no Bar da ViradaVira daqui, vira daliQuem demorou, não comeu nada
A noite é bela, uma criançaComo lembrança de uma noitadaRiem daqui, riem daliRiem de tudo, até de desgraça
Bar da Virada, Pinheiros
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Esm
eraldo Reis
O amor é como o ventoO amor é como o ventoO amor é como o ventoO amor é como o ventoO amor é como o vento
(Em homenagem a Iraí)
Lá fora o vento sopraComo se fosse o senhor do tempoE dentro de mim é igualPorque o amor é como o vento
Lá fora o vento sopraComo o beijo que o amor precisaEngraçado, dentro de mim é igualPorque o amor é a brisa
Lá fora o vento sopraSem que eu possa imaginarE dentro de mim, eu seiO amor é como o ar
Lá fora o vento sopraComo se fosse em despedidaMas dentro de mim há um suspiroPorque o amor é como a vida
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DoceiraDoceiraDoceiraDoceiraDoceira
Ah! DoceiraFizeste um doce que não posso provarMe molha a boca e tu não sabesQue é teu beijinho o que quero roubar
Meu desejo pede, doceiraQue me atire em teus braçosQuero roubar um beijinhoAntes que os outros vejam
Ah! DoceiraComo é difícil arrebatar teus beijinhos!Será por causa de tua doçura?Será por causa de teus segredinhos?
Minha vontade aumenta, doceiraSem qu’eu prove teus docinhosSem saber o gosto que temA receita de teus beijinhos
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Esm
eraldo Reis
É tarde para o amorÉ tarde para o amorÉ tarde para o amorÉ tarde para o amorÉ tarde para o amor
Deixa, luaA noite aguardar mais um poucoJá que é tarde para o amor
Se é tarde, não importaNa manhã não haverá nada para amar...
Então deixa, luaA noite aguardar mais um poucoNão apresses os namoradosDeixa o amor na escuridão
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NáufragoNáufragoNáufragoNáufragoNáufrago
Eu quero ver o mar, queridaQuero estar perto de seus beijosQuero sentir as ondas batendo em meu peitoE me empurrando para os seus braços
Eu quero tocar em seu corpo, queridaQuero tê-la em minhas mãosE apertá-la com toda a força que o amor permiteMesmo que me escorra como a areia da praia
Eu quero mergulhar em seus seios, queridaQuero me bater em seu coloQuero abraçá-la como um náufragoNo meio do oceano, perdidoQuero deitar ao seu lado e lhe entregar minha vidaPois todos os meus sonhos correm para o mar, querida
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Esm
eraldo Reis
As horas perdidas de amorAs horas perdidas de amorAs horas perdidas de amorAs horas perdidas de amorAs horas perdidas de amor
(Para Juninho)
Doem em seu peitoAs horas perdidas de amor
E cada minuto é uma eternidade em chamaQueimando o corpo
Que enlouqueceQue esmoreceQue apeteceQue ama...
Vai longe o diaEm que teremos paz no pensamento
Mas é preciso ser fortePara aguentar cada segundo perdido de amor
Sem entregar-se ao ódio ou à tristezaDe quem não ama...
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Sem pressaOs apressados
ApressamSeu sorriso
Que apressadamenteSe desfaz
Na velocidade dos carrosQue cruzam em
çççççDIREÇÕESOPOSTASèèèèè
Onde fica o sorrisoEsquecido
Sem pressa...
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Esm
eraldo Reis
Aguarde um instante.
Carregando poesia...
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Os carros namoram à noiteBuzinam para outros carrosAtravessam faróis fechadosInvadem as ruasAs calçadas...
Os carros conversam à noite(Janela com janela)Trocam beijosEscutam música no último volumeDerrapam na pistaAbraçam-se em alta velocidade...
Os carros iluminam a noiteDe olhos acesos na escuridãoTrocam olhares, pistasVidas, amores...
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Esm
eraldo Reis
Penso no bom do amorO resto esqueço...
Não interessa!
Amo as mulheres que passam pela ruaO jardim dos ricos
E as atrizes da televisão...
Esqueço o resto!
O resto não é amor,É a vida real
E a vidaNão
Interessa!
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O amor caminhaE caminhando vão-se mais amores
O amor não paraO amor enganaO amor não esperaO amor não chega...
Maldito seja o amor que caminha!Que me deixa esperarO amor que não chega...
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eraldo Reis
Teu sonoTeu sonoTeu sonoTeu sonoTeu sono
(Para Lorena)
Meus braços abrigam teu sono, teu sorriso, teu amanhã...Enquanto a noite silencia e me entrega ao abandono
Não é de amor que tu precisasNem de palavras ou beijos na tezTeus olhos fechados escondem os sonhos, as esperançasQue a brisa espalhou pela casa
Ao sono me nego, recusoEnquanto a madrugada avançaSem que chegue a manhãE fico a pensar no que reserva o futuroOriundo de amorQue se encontra em meus braçosE que só precisa despertar...
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Saudade do futuroSaudade do futuroSaudade do futuroSaudade do futuroSaudade do futuro
(Para o compositor e amigo Amauri Rodrigues)
Espero a hora em que amanheça o diaTenho saudade do futuro, do amor que me esperaQuando era criança queria meu amor adultoHoje sinto falta do meu amor infantil...
Lembro qu’eu pegava floresPara colocar no cabelo das meninasMas hoje meu dinheiro não compra floresNem presilhas...
Quando era criança meu amor era puroAs meninas não tinham os vícios de agoraNão havia tantos desencantosNinguém se apaixonava por carrosOu contas bancárias...
Antigamente meu amor não precisavaDe carona para frequentar baresAcontecia por cima dos murosNas frestas das janelasNo intervalo da escola...
A vida era um sonhoQue eu pintava com minhas coresNão havia este mundo todo pichado que o tempo desgastou...Ainda assim, espero a hora que amanheça o diaPara matar a saudade do amor que me espera
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Esm
eraldo Reis
O Bem-te-viO Bem-te-viO Bem-te-viO Bem-te-viO Bem-te-vi
Ah! Bem-te-vi...Não cantes por aquiNão despertes meu amor, Bem-te-viDeixa-o dormir, deixa-o dormir...
Hoje as nuvens estão carregadasLogo há de chover por aquiÉ melhor que não cantes, Bem-te-viDeixa-o dormir, deixa-o dormir...
Ah! Bem-te-vi...Abre tuas asas e foge daquiNão perturbes meu amor, Bem-te-viDeixa-o dormir, deixa-o dormir...
O silêncio, Bem-te-vi, também ecoaGuarda teu canto e voaMas não despertes meu amor, Bem-te-viDeixa-o dormir, deixa-o dormir...
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O ideal existeO ideal viveNinguém se sujeita a um pensamento vazio(Ao menos não deveria)O Homem idealiza!Pensa e é o que o pensamento inventa
Pobre, fraco, doente...
PensaPensamentoPensa...
O pensamento quando se distrai: fogeQuando tem asas: voaQuando silencia: morre
O ideal resiste
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Esm
eraldo Reis
O amor não me consultaNão se importa com minha opiniãoNão pergunta se eu gostoOu não gosto de senti-loCumpre-me aceitá-loTal como éE consequentementeTudo o que dele resulta
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Meu amor é como nota de cemEm bairro de periferiaNão posso gastarPorque ninguém tem troco
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eraldo Reis
CorpoCorpoCorpoCorpoCorpo
Toca neste corpo imundo uma peleEstranha, que me deseja e não amaE toda noite me invade, me tomaAlimentando este meu vício que fere
Meu corpo é somente leito ríspidoQue a madrugada gentilmente apontaRefúgio maltratado e insípidoOnde o doce pecado se amedronta
É mancha suja em lençol branco de camaGota de veneno em copo transparenteÉ encontro marcado com quem não me ama
Meu corpo é paixão servida de esmolaPedaço de pão que a fome devoraIndício de amor que o tempo assola
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Vou abrir minha janela para o mundoSe alguém jogar pedra vou fechá-laE nunca mais abrirei novamente
Que mania os outros têmDe jogar pedra na gente!
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eraldo Reis
O teu sorriso vaga pela noiteEm busca de um amor, que não é o meu
Segue o caminho inverso da virtudeGrita por amor na janela dos automóveis
Entrega seu amor aos falsosAbandona seus dias, suas horas...
Tudo tem seu preço!
Satisfaz os ricosAbandona os pobres
Inspira os poetasAngariando versos, que não são meus
Perturba o silêncio da noite com sua vida fácilApaga a luz
Fecha a cortina do quartoE deita tranquila na cama
Em busca um amor, que não é o meu
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São Paulo nunca fecha
São Paulo não tem portas nem muros altos
São Paulo não é fortaleza
São Paulo não tem praia
São Paulo não dorme
São Paulo não ama
São Paulo não é santo
E nunca será!
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Esm
eraldo Reis
Meus olhosMeus olhosMeus olhosMeus olhosMeus olhos
Meus olhos atravessam ruas sem pressaAtrás de um sorriso breve e discretoQue insisto em perseguir... Não interessaO caminho, porque meu amor é secreto
Meus olhos a acompanham lentamenteSem ignorar sua beleza inconfundívelSem deixar rastos equivocadamenteSem ter orgulho desse amor ilegível
São meus olhos que a perseguem loucamenteNão eu! Meus desejos continuam reclusosNum canto do olhar em espera pungente
E quando puder se revela inocenteCom as frases de amor que irei escreverSe um dia o silêncio quiser se atrever
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Tenho vontade de ficar em teus braços
De amarrar-me no cadarço do tênisDe repetir de anoDe não ir embora
De estacionar o carro...
Tenho vontade de ficar!De sentar no sofá
De cruzar as pernasDe assistir a um filme
De ficar preso...
Somente em teus braços
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Esm
eraldo Reis
Flor de tecidoFlor de tecidoFlor de tecidoFlor de tecidoFlor de tecido
Tenho uma flor de tecido que enfeita meu quartoUma flor que não precisa de água
Que não precisa de terraQue não precisa de trato
Que não precisa de amores...
Por isso não exala perfume
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LadeiraLadeiraLadeiraLadeiraLadeira
A ladeiraOlhos
Meus Miram
Que de tão íngreme cansa meu entusiasmoPenso em descansar(Sem me jogar em teus braços)
Mas não...Pé ante pé vou indo
Ladeira acima, atrás de teus beijos...
78
Esm
eraldo Reis
Que sua plenitudeNão invada minha futilidade...
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Condenado aos sonhosCondenado aos sonhosCondenado aos sonhosCondenado aos sonhosCondenado aos sonhos
(Para quem me proibiu de escrever poesia durante o trabalho)
Deixo meu corpo prostrado num canto da mesaComo um enfeite para os dias inúteisEm que meu pensamento foge
Ah!Se Deus não houvesse me condenado aos sonhosComo seriam difíceis esses dias
Tão difíceis quanto os dias daquelesQue se recusam a sonhar livremente
Por isso paro, pego papel e canetaFecho os olhos e ponho-me a escrever(Mesmo que não possa)
80
Esm
eraldo Reis
Flor que secaFlor que secaFlor que secaFlor que secaFlor que seca
(Para o amigo Luvercy Armond)
O vento balança a pequenina flor que seca no jardimTenho pena dela!
Tenho pena das flores!!!
Não porque secam à míngua de nossos olharesMas porque são flores em um jardimQue não retém águaQue não retém amores
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ONDEO
AMORREPOUSA
OMAR
DERRAMA
.
SEMQU’EUPOSSA
CONTERSUA
ÁGUA
.
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Esm
eraldo Reis
O meio do caminhoO meio do caminhoO meio do caminhoO meio do caminhoO meio do caminho
e o caminho do meioe o caminho do meioe o caminho do meioe o caminho do meioe o caminho do meio
Quem já começou e não terminouEstá no meio!Quem passou do meio e não terminouEstá quase no fim!Quem está antes do meio e já começouEstá no começo do meio!Quem quer terminar logoEstá no meio-fio!Quem quer começar logoEstá no caminho do meio!Quem ficar paradoEstá no meio do caminho!
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Minhas precesMinhas precesMinhas precesMinhas precesMinhas preces
Em minhas preces não peço pão aos que morrem de fomeNem saúde aos pobres enfermosQue sofrem no leito em busca de amorEu peço beijos apaixonados nas precesEu peço abraços demorados em teu seioPeço carinhos bobos e mãos atrevidasQue deslizam pelo corpo que anseio
Em minhas preces eu peço paz(Ao teu lado)Para curtir teu sorrisoAfagar sua tezE sentir o teu rosto suado grudado ao meuSem dar direito ao revésE confesso que é por pura vaidadeDeus há de entenderNão é crueldadeDesejar esse corpo com tanto prazer
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Esm
eraldo Reis
JuventudeJuventudeJuventudeJuventudeJuventude
Beijo, beijo...O coração de ladoCada raça uma cor
Cão de raça?A mão naquiloAquilo na mão
Bebo, bêbado, bebedeira...Tudo misturado, saideira?
Bala, balada, baladeira...Sair de quatro rodasCom Johnnie Walker, Ballantine’s...Antes dos dezoito?
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IncógnitoIncógnitoIncógnitoIncógnitoIncógnito
Querida, acredito que lá no fundoDe seu peito entenda o quanto amoEmbora seja suficientementeIncógnito tudo isso ao mundo
Eu simplesmente negaria a vocêQue amo para continuar amandoSem que ninguém compreendesse a razãoSem que ninguém me visse à sua mercê
Jogado aos cantos de tanto suspirarDe tanto dizer palavras ao léu e negarQue é amor o qu’estou sentindo agora
Porque amo incondicionalmenteA tudo, talvez... E dificilmenteMe expressaria de outra maneira
86
Esm
eraldo Reis
A noite passa...Fria e calma
Assim comoPassam
As nuvensQue o vento lentamente sopra
As nuvens que não passamD i s s i p a m - s e
T |R|A|N|S|F|O|R|M|A|M|-|S|E|
Unem-se...
Mas eu não sou nuvem, nem noite, nem ventoSou apenas
HomemE
Pensamento!
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Tod
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As amarras de seu leitoAs amarras de seu leitoAs amarras de seu leitoAs amarras de seu leitoAs amarras de seu leito
Onde estão as correntes, queridaQue me prendem deste jeito?Pois não consigo livrar-meDas amarras de seu leito
Onde estão, queridaAs chaves da prisão?Não me deixe sucumbirEntrevado na escravidão
Venha, querida, dizer-meO que se passa em meu peitoJá que não vou desatar-meDe um laço tão perfeito
Diga, querida, onde estãoAs correntes do coração?São de ferro? São de aço?Ou são garras do amor?
Ah! Querida, entenda-meNão me prenda deste jeitoPois não consigo livrar-meDas amarras de seu leito
88
Esm
eraldo Reis
Sei que acabo na morteEmbora a morte não acabe em mim
O falecimento do corpoO esquecimento do sonhoO silêncio da alma
Tudo acaba com a morteMas a morte não acaba em mim
89
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Meus cãesMeus cãesMeus cãesMeus cãesMeus cães
Meus cães bradam de amorUivam no cio em noite escuraEm suas narinas: o cheiro do amorEm seus olhos: o brilho da lua
Ah! Cães selvagens que perturbam meu sonoQue não me deixam dormirQue se degolam dentro mimQuerendo resistir ao amor
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Esm
eraldo Reis
Amor é invólucroQue não se pode dar
Não que amor seja egoísta!
É que amor envolveAmor embrulha
Amor protege...
Não que amor seja presente!
Porque não se pode entregar amorMuito menos deixar de amar
91
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CanseiOs
OlhosÀ beira
De teus seiosCom os
Desejos represadosEm minh’alma
Adocicada...
A sede é grandeMas seu mar é imenso
...
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Esm
eraldo Reis
Agarro as flores de teu jardim
Quem sabe as flores gostem de mim
Quem sabe não se abram em sorrisos
Enquanto te vejo, mundo
Caçoar de mim
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Sou vela acesa!Mas não sou chama nem cordãoSou antes a cera que derrete com a chamaSem nunca tocá-la
A chama é que me faz arderO mesmo calor que me aquece, me consomeO mesmo cordão que me sustenta, me abandona
E o que me entristece é saberQue um dia serei cera derretidaSem chama nem cordãoSerei vela fria, sem calor, sem paixão...
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Esm
eraldo Reis
O que o amor dizNão se esvai com o tempoComo o supérfluoA que estamos acostumadosA ouvir em nosso dia a dia
Habita nossa menteComo uma névoaQue se pode verNo cumeDe qualquerMontanha
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Passo um café amargoCafé expresso!Espero o beijo da mulher que não faz o jantar
Que não limpa a casaQue não lava a louçaQue não faz filhos...
Mulher modernaGosta de trabalhar fora
De jantar em restauranteDe chegar tardeDe joias finas
De ficar cansada de suas rotinasDe sua televisãoDe suas aventurasDe suas literaturasDe suas novelas...
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Esm
eraldo Reis
Seus pés pisam o assoalho de mosaico multicorSem encostar nas emendas dos desenhos simétricosPara não perder a aposta que inventou...
Aposta inocente de entregar um beijoAo primeiro que pisar no assoalho(Desde que não pise de qualquer jeito)
Que tolice seria envelhecer sem entregar um beijo(Seja lá por qual motivo for)Mas por que beijar quem não respeita o mosaico?
Quem desbota as linhasQuem embranquece os cabelosQuem desmente a idade
Seus pés pisam o assoalho...Mas ninguém ganha essa aposta que inventou
97
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Não tenho livros!E um homem sem livros não presta
Eu não presto!
Folheio o livro dos outrosE acho isso vilPor isso o faço!
Eu sou vil!
Vou à biblioteca apenas pegar os livros públicosOs livros que são de todosTiro-os da estanteLeio quantas páginas quiserE depois os jogo na mesa
Eu sou pegador de livros!
Mas não tenho livrosApenas os leioMuitas vezes por cima dos ombrosDe quem os carrega
Eu não presto!Eu sou vil!Sou pegador de livros!
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Esm
eraldo Reis
Consciência da vidaConsciência da vidaConsciência da vidaConsciência da vidaConsciência da vida
Como tudo enche a cabeçaToma a paciênciaNão sei como vivoNão sei estar vivoNão consigo pegar a vida pelas mãosOnde ela está? Não sei...Não a vejo na prateleiraNão a vejo à venda...Entendo mais da morte que da vidaSei quando a morte se aproximaE a vida? Não sei...Tenho medo da morte!E da vida? Não sei...Não sei nada sobre a vida!Só hei de entender a vidaDepois de consumida
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BolsaBolsaBolsaBolsaBolsa
Admiro quem me dá dinheiro!
Pode ser arroganteGrosseiroBarbudoSujo
Ser burro feito uma portaEsperto feito uma janela
Pode ser mentirosoProfanoDemagogoInsano...
Se me garantir um prato de comida
100
Esm
eraldo Reis
Poesia suburbanaPoesia suburbanaPoesia suburbanaPoesia suburbanaPoesia suburbana
aíaí véi é o siguinte piscô eu atiru se bobea nóis pega
arrasta as cachorra pra dá um sal é treta, manoé droga na veia pou pou pouse bobea nóis ,, pegapra vê as , minavirá os zói - - - pou pouvirá os zóivirá os zói
De minha parte espero que isso não seja poesia
101
Tod
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QUERIAAMAR
...MASEU
NÃOTENHOCAMA
102
Esm
eraldo Reis
MOSTREIMINHAPOESIAAUMSUJEITOBRUTOQUEMEDISSE:
– Foda-se o amor!
EEULHEDISSE:
– É disso que estou falando.
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NADAem si tem fim
se persistir
a
lembrança
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Esm
eraldo Reis
HOJE JÁ ME CANSEI da poesiaJá me cansei dos livrosJá me cansei do amor
Amanhã lerei mais poesia nos livrosAMOR NO PAPEL!
Já que não o tenho em meus braços
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AAAVIDAÉ OQUESOU
NÃO NÃO NÃOOOOQUE
TENHO TENHO TENHOEEE
SENDOOOOQUE
SOU SOU SOUÉÉÉ
POUCOMAISQUE
NADA NADA NADAQUÉ QUÉ QUÉ
NADA! NADA! NADA!QUÊ QUÊ QUÊ
NADA? NADA? NADA?
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Esm
eraldo Reis
ImagensImagensImagensImagensImagens
Gosto e odorPor imagens
EnxergarPor imagens
OuvirPor imagens
ViverPor imagens
AmarPor imagens
VERENXERGAR
ASSISTIRPor imagens
...IMAGEM
CópiaFiguraRetratoVisão
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QueQueQueQueQue
A fila que andaO pelo que ouriça(Inverno, preguiça...)O instante que demoraO amanhã que é hojeO verbo que rasgaO olho que piscaO lóbulo que brincaA língua que prendeO mar que é genteO coração que parteO tempo que liberta(Desperta, conserta...)A vida que traspassaA máquina que voaA casa que caiuO amor que partiu
108
Esm
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Avenidas...Vogais engarrafadas
Do leito do rio de pedraDo rio paulista
Que corre negro no chão
Prédios...Consoantes do rio
Que margeiam a imaginação do poeta de pedraDo poeta concretoDo poeta urbanoDe linhas geraisRessignificado
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Que faz o mundo em minha casaSe acabei de chegar do mundo?
Se encostei a porta e o deixei lá fora?
Entre furacões, terremotos e tsunamis...
Desliga este mundo, mulher!Ele que invada outra casaEu preciso descansar dele
Tira esses olhos do mundo, mulher!Este mundo não nos pertence
110
Esm
eraldo Reis
Dizem que a Rua Augusta é modernaQue é ninho de tribosQue é ponto de encontroÉ rua de meretrício
Dizem que lá existe de tudoMas não tem amorLá não tem juízo
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Desista!Desista!Desista!Desista!Desista!
Quer saber... Desista!A vida não vale a penaNinguém reconhece seu esforçoDesista!
Se não dá dinheiroAcaba com a saúdeSe vai matar vocêDesista!
Se é perigosoE você não tem coragemNão é pra vocêFaça algo de útilDesista!
Você não precisa se humilharJá tem sua família, seus amigosAfaste-se do perigoArrume um novo empregoDesista!
Tenha uma vida normalBeba uma cervejaVeja televisãoDesista!
Você tem potencialÉ inteligenteGosta de novos desafiosPode ter algo melhorDesista!
Faça a coisa certaDesista!
– Quer saber?Eu não desisto nunca!
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Esm
eraldo Reis
Se eu faltar no trabalhoAlguém perde esse dia?
Esse dia é de quem?
A empresa para?Eu serei demitido?
E se for o diaQue guardei pra alguém?
Um dia de encontro...
Esse dia será descontado?Será descontado de quem?
Eu terei um abono?Ganharei sobrevida?Perderei os direitos?Os diretos de quem?
E se eu salvar a vida de alguém?Ainda assim perderei esse diaOu esse dia será de alguém?
E se eu mudar de ideia?Ainda assim perderei esse dia
Ou esse dia não será de ninguém?
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O fruto na árvore é bomDá trabalho escolherMas tem carne macia
No ponto certo
Só que ninguém sobe no pé pra pegá-lo
É o fruto cairEstourar no chão
Se arrebentarAí experimentam o fruto
E ainda dizem que não é bom
Experimente subir no pé!
114
Esm
eraldo Reis
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Ainda sobre as nuvens do céuAquele manto branco infindável
Que destaca o pôr do solPela minúscula janela do avião
Pude sentir uma pequena alegriaParece-me loucura preferir o caosQuerer pousar entre a balbúrdiaDe uma cidade como São Paulo
Mas esse é meu destinoE desço das nuvensFeito gota de chuva
Os defeitos da urbanizaçãoSão os que menos importamEstou em colo de mãe agora
E tenho um dia inteiro de saudadePara matar aos poucos
Pelas ruas e baresOnde o desejo é como sereno na noite
Ou garoa finaEu vi as luzes acenderem-se ao entardecer
E as avenidas correrem como um rio amareloQue deságua por todas as partes
E vi tudo do céuComo se eu fosse um deus no Olimpo
Mas que nada!Eu sou apenas passageiro
Meu tempo é curtoPara uma cidade como esta
Amanhã serei póE a vida continuará por esses labirintos
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Tod
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Hoje pensei em caminhar pela cidadeAproveitar que ainda é inverno
E percorrer algum parqueOs ipês estão bem floridos nesta época do ano
E reinam absolutos também pelas calçadasEu quase não percebo os pássaros
Ou estão escondidos no meio das copasPor causa do vento frio das monçõesOu não se arriscam a voar por aqui
Mas espero que eles estejam felizes como euCom todas essas cores que nos enfeitam
Não é a cidade que me cercaSou eu quem cerca a cidade por todos os lados
Quem anda por todos os caminhos a ladear os prédiosCom papel e lápis em punho a fingir-me poetaEsses dias sem chuva então, fazem-me delirar
Deixam-me o espírito obtusoComo se eu cavalgasse na relva
Nos antigos prados de São Paulo de PiratiningaE não sobre o concreto seco das avenidasOnde um sol fraco desenha minha silhuetaMeu corpo irrequieto à procura de espaço
Ou sou percebido, ou sou pisoteado pelos transeuntes!Por isso, deixo minha individualidade soltaComo os ritidomas das tabebuias adultas
Descascado, sulcado, fissurado...
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Esm
eraldo Reis
Ainda hoje desejo ver o sol queimar no horizonteE o alaranjado se alastrar pelo céu no poente
As nuvens turvas, o azul alvejado...É uma pena eu não ter asas
Mesmo as de Ícaro seriam úteis neste momentoDesde que eu contemple essa beleza efêmera
Esses segundos em que o sol beija o chãoE depois desaparece na noite incógnita
A poesia é alcoviteira, denuncia-me!Não me deixa ocultar os sonhos
Ainda que eu escrevesse somente uma palavraUma única sílaba desdenhada
Ela revelar-me-ia por inteiro, deixar-me-ia nuEu nu, a cidade nua, os ipês floridos...
Todos revelados, poetizados, deflagrados
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Se teu amor ainda está vivoE tens coragem, mostra-o!
Declara-o agora!Para que no dia a dia
A razão não te mate aos poucos
Já pensou como seria estranho um amor morto?Declarar-se numa lápide ou beijar fotos desbotadas?
Então não mates teu amor!
Não esperes que o tempo te encha de argumentos tolosPara ter com que se desculpar
Pelo resto da vida
Declara-te!Antes que a vida se ausente
Antes que a hora chegue
Guarda a razão para outras ocasiõesPara trabalhos acadêmicosOu para tribunais de justiça
Porque no amor não existe verdadeO amor é sentimento
E não há quem possa julgá-lo
Verso da página – Branca
Pequenos lobos
(1985-1994)
Já pensei em rejeitar essas poesias por vergonha
e isso seria como esquecer a minha adolescência.
Verso da página – Branca
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Já é tarde!É preciso que eu vá emboraE comece a pensar em você
Antes que você pense em mim
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eraldo Reis
Sentimento antigoSentimento antigoSentimento antigoSentimento antigoSentimento antigo
(Para meu primeiro amor)
Sentimento...Por que perturba este olhar cansadoDe já tanto pensar no passadoDe já tanto sentir saudades?...Saudade?Sim, saudade!Saudade de ti, sentimentoQue angustia minhas lágrimas de agoraLágrimas que confessoQueria que também fossem antigasAntigas como aquele sentimento
Mas o passado, presente que digoSão lágrimas e saudadesDe um tempo que passouE que não volta maisUm sentimento antigo
EEPG Edméa AttabSão Paulo, dezembro de 1985
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Existe um gesto seuQue dói mais dentro do peito
Que na pele
Existe uma expressão sua, só suaQue fica mais na mente
Que nos olhos
Existe um perfume seu, só seuQue sinto mais de longe
E menos de perto
Existe algo seu em mim
Existe em mimO que falta em você
Existe em mimO que é verdadeiro e falso
Existe em mimO que é nosso
E de mais ninguém
Existe algo entre nós...Existe amor!
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Esm
eraldo Reis
Por um momentoPor um momentoPor um momentoPor um momentoPor um momento
Por um momentoDeixei de te encontrarDeixei de te beijarDeixei de te amar...
Por um momentoA luz apagou-seE não pude ver mais nada
Por um momentoArrependi-me de tudo
Por um momentoSenti-me outra pessoa
Por um momento!Um momento qualquerEm que fiquei esquecidoEm teu pensamento
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Estamos juntosSem nada pra falarMas algo pra sentirEstamos juntos!
Às vezes trocamos olhares expressivosOutras vezes conversamos através de toquesAlgumas vezes nos separamos, mas continuamos juntosSem as bocas se tocarem e os corpos se abraçaremContinuamos juntos
Às vezes sinto ciúmes, mas não preciso dizer nadaEstamos juntos!Sem você saber e eu sofrerContinuamos juntos!
Às vezes somos como animaisGuiados pelo instintoOutras vezes somos como homensGuiados pelo pensamento
Estamos juntosSem o mundo saber o porquêEstamos juntos!
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eraldo Reis
Quando te vi meninaTão alegre, tão femininaPensei em ti mulherE me apaixonei...
Senti vontade de te matarPara que não fosses de mais ninguémMas precisava te verSem que perdesses a formosura
Ah!Quando te vi meninaNão pensei em mais ninguémE fui contigoPara os piores melhores lugares
Eu fui contigoPorque sozinho seria ruim demais
Quando te vi meninaMulher perfeitaNão quis me separarE não pude entenderQue a lembrançaÉ ainda maior que o sonho
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É tudo tão pouco...É tudo tão pouco...É tudo tão pouco...É tudo tão pouco...É tudo tão pouco...
Tudo o que é meu é seuEmbora eu tenha tão poucoMas é seu!E se você não tinha nadaAgora tem, é seuMeu coração é seu!
Não quero escrever nada sobre amorNem quero falar sobre amorMas quero que saiba que te amoEu quero que saibaQue tudo o que é meu é seuEmbora eu tenha tão pouco
Você diz que me ligaE não liga, eu ligo!Você diz que me amaE não ama, eu amo!Eu lhe disse que acreditavaMas eu não acredito, acredite!
Tudo o que é meu é seuMas não use isto contra mimPois se já tenho tão poucoPerto de você não tenho nadaPois tudo o que é meu é seuEmbora eu tenha tão pouco
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eraldo Reis
Pita, menina bonitaPita, menina bonitaPita, menina bonitaPita, menina bonitaPita, menina bonita
Tu és PitaMenina bonitaCom teu sorriso tão claro...
Tu és PitaBandida!A que roubou meu coração
Ah! PitaPatrícia, bonitaTu és tão formosaFoste tu que sempre desenhei em minha menteE podes ter certeza que fui o primeiro a te amar
Ah! PitaAinda me lembro de teus olhos castanhosE de meus sentimentos estranhos
Ah! PitaMeu coração palpitaE tu não sabes o que quero te dizer
Ah! PitaMenina bonitaÉ tão difícil chegar perto de tiE é tudo que quero desde que te conheci
Ah! PitaQuando te vejo meu corpo grita:– Tu és Pita, menina bonita!
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De repente...Uma piscada de luz
Uma piscada de olhosE a perda momentânea de teu semblante
Por que, vidaÉs tão egoísta
E não me deixas ficar neste tempo?
Mas...De repente
Uma piscada de luzUma piscada de olhos
E estás ausente
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Esm
eraldo Reis
Tentativa de um versoTentativa de um versoTentativa de um versoTentativa de um versoTentativa de um verso
Se teu destino é ser assimIsso pra mim será o fimJá que não há amor tão puroQuanto este que te juro
Mas se eu nasci pra sofrerO que será que posso fazer?Devo manter a jactânciaDesse amor sem importância?
Verso da página – Branca