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* TAMO LÁ! * 1 MAR E ABR/2014 MARÇO E ABRIL DE 2014 Nº2 ANO 1 GRATUITO OS PRÓXIMOS DA RESTINGA NO LISTÃO DA UFRGS DE 2015 COMUNIDADE Carolina Silva de Paula tem 22 anos, mora na Restinga e foi aprovada no curso de Farmácia da Uni- versidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFC- SPA). Essa conquista pode parecer sim- ples e fácil, mas não foi. Nas páginas cen- DICAS Você sabe como começou a vida na Terra? Os edu- cadores de Biolo- gia do Esperança Bruno Barbosa e Breno Costa nos levam ao princípio de toda a vida no planeta Terra. PÁGINA 6 trais desta edição do Tamo Lá, Carol nos conta que batalhou bastante para al- cançar este objetivo tão importante. Ela relata o dia a dia de quem muito estudou em busca de alcançar um sonho. OPINIÃO O árbitro Márcio Chagas e o jogador de futebol Daniel Alves possuem uma triste semelhança: ambos foram vítimas recentes de casos de racismo. Alves foi alvo de uma banana atirada por um torce- dor durante partida do Campeonato Es- panhol. O jogador optou simplesmente por comê-la. Já Cha- gas teve o seu carro danificado e encon- trou uma banana no escapamento do veiculo após a arbi- tragem de uma par- tida na Serra Gaúcha. Ainda era final do mês de fevereiro quando os novos educandos do Cursi- nho Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga foram rece- bidos na Escola Mu- nicipal Alberto Pas- qualini, na Restinga Nova. Para atender à demanda da comu- nidade, o Esperan- ça abriu mais uma turma de alunos, permitindo o acesso de todos os inscritos no processo de se- leção. Dos educan- dos deste ano, dois transmitiram - cada um a sua forma - suas impressões e expec- tativas para 2014. PÁGINA 3 PÁGINAS 4 E 5 CONTRACAPA

TAMO LÁ - MAR/ABR

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2ª edição do "Tamo Lá", jornal do cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga

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* TAMO LÁ! * 1MAR E ABR/2014

MARÇO E ABRIL DE 2014Nº2 ANO 1 GRATUITO

OS PRÓXIMOS DA RESTINGA NO LISTÃO DA UFRGS DE 2015

COMUNIDADECarolina Silva de

Paula tem 22 anos, mora na Restinga e foi aprovada no curso de Farmácia da Uni-versidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFC-SPA). Essa conquista pode parecer sim-ples e fácil, mas não foi. Nas páginas cen-

DICASVocê sabe como

começou a vida na Terra? Os edu-cadores de Biolo-gia do Esperança Bruno Barbosa e Breno Costa nos levam ao princípio de toda a vida no planeta Terra.

PÁGINA 6

trais desta edição do Tamo Lá, Carol nos conta que batalhou bastante para al-cançar este objetivo tão importante. Ela relata o dia a dia de quem muito estudou em busca de alcançar um sonho.

OPINIÃOO árbitro Márcio

Chagas e o jogador de futebol Daniel Alves possuem uma triste semelhança: ambos foram vítimas recentes de casos de racismo. Alves foi alvo de uma banana atirada por um torce-dor durante partida do Campeonato Es-

panhol. O jogador optou simplesmente por comê-la. Já Cha-gas teve o seu carro danificado e encon-trou uma banana no escapamento do veiculo após a arbi-tragem de uma par-tida na Serra Gaúcha.

Ainda era final do mês de fevereiro quando os novos educandos do Cursi-nho Pré-Vestibular

Esperança Popular Restinga foram rece-bidos na Escola Mu-nicipal Alberto Pas-qualini, na Restinga

Nova. Para atender à demanda da comu-nidade, o Esperan-ça abriu mais uma turma de alunos,

permitindo o acesso de todos os inscritos no processo de se-leção. Dos educan-dos deste ano, dois

transmitiram - cada um a sua forma - suas impressões e expec-tativas para 2014.

PÁGINA 3

PÁGINAS 4 E 5 CONTRACAPA

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* TAMO LÁ! *2 MAR E ABR/2014

AGENDAEDITORIALMesmo o TCE (Tri-

bunal de Contas do Estado) compro-vando que o valor justo da passagem era R$ 2,60, mes-mo com a onda de manifestações no ano passado pe-dindo, entre diver-sas coisas, a estati-zação do transporte público, o prefeito José Fortunati tra-tou de favorecer os empresários de ônibus de Porto Alegre. Os mesmos empresários que estão “trabalhando no limite”, mas que de maneira nenhu-ma abrem mão das suas concessões. Concessões essas que são ilegais, já que trabalham, até o momento, sem licitação. Todo ano é a mesma peça em cartaz. Os ro-doviários entram em greve exigindo que se cumpra o reajuste salarial, um justo. Os empresári-os usam as greves como bode expi-atório para estipu-lar um aumento de R$0,30 (aproxima-damente) na tarifa de ônibus. O pre-feito aparece como um super-herói “conseguindo” um aumento de R$0,15.

O TCE apontou que o faturamento das empresas de ônibus está em tor-no de 20%. Em 2011, os empresários lu-craram quase R$ 481 milhões, sendo que o acordo seria de, no máximo, uns 6%. Desse dinheiro, a maior parte vai pro bolso do patrão, afi-nal, é consenso a sit-uação precária dos ônibus de Porto A, a má administração gerando atrasos e superlotação e o não pagamento de salários justos para os trabalhadores. Tudo isso por um preço abusivo. Mas esse ano foi algo único. Mesmo com a licitação em an-damento, o prefeito confirmou o au-mento da passagem sem fechar a legis-lação. Como disse o Juremir Machado em sua coluna: “eu não entendo muito dessas coisas, mas o óbvio não é esperar a licitação para de-pois tomar qualquer procedimento so-bre o transporte público?”. Acho que a maracutaia fica mais fácil sem re-gras, mas isso sou eu especulando coi-sas. Na verdade, pra

Te liga nessas dicas do Cursinho Pré-Ves-tibular Esperança Popular Restinga. Não esquece dessas datas! Anota, memoriza, co-pia, recorta, circula, mas não perde!

TÁ SABENDO DE ALGUM EVENTO LEGAL? COMPARTILHA! Envie um e-mail para o Cursinho Esperança: [email protected]

eles deve ser fácil de qualquer jeito. No meio de tudo isso, quem merece nossos aplausos de pé é o Bloco de Lu-tas pelo Transporte Público. Sempre puxando passeatas contra o aumento. No ano passado foi o principal respon-sável pelas mani-festações gigantes-cas em Porto Alegre. Mesmo sofrendo com a perseguição da Brigada, que vem prestando um desserviço aos ci-dadãos agindo com truculência quase desumana para proteger o bem pri-vado, manteve vivo o protesto de rua. Hoje membros do Bloco acampam em frente à Prefeitura e estão recolhendo assinaturas para um projeto popular de municipalização do transporte pú-blico em Porto Ale-gre. Independente das posições sobre o projeto, a ação do grupo é louvá-vel, merece nosso reconhecimento e nossa ajuda. Já pas-sou da hora de Por-to Alegre deixar de ser uma província.

GABRIEL GONZAGAEducador de História

VESTIBULAR DE INVERNO - PUCRSEstão abertas até 23 de maio

as inscrições para o vestibular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Os interessados devem se ins-

crever através do site da univer-sidade. As provas ocorrerão nos dias 7 e 8 de junho, das 14h às

18h, no próprio campus.

SEMANA DA ÁFRICA

Em maio acontece a 2ª Sema-na da África na UFRGS. Mesas de

discussão e o Ciclo de Cinema Africano compõem o evento. A

programação completa pode ser conferida no site:

http://www.ufrgs.br/deds

CONVIVÊNCIAS 2014

Uma troca entre o saber acadêmico e o popular possibi-litando que todos participem da construção e das transformações da universidade e da sociedade.

A edição de 2014 do Convivên-cias vai ocorrer no final do mês de julho com atividades na comuni-dade e na universidade.

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* TAMO LÁ! * 3MAR E ABR/2014

L’ORDERMÖRDER (pseudômino de educando[a] do cursinho

Pré-vestibular Esperança Popular Restinga)

Por mais que não amemosPor mais que não sejamos amigosPor mais que não nos falemosPor mais que não nos vejamosPor mais que não nos olhemosPor mais que nos odiemosPor mais que não nos visitemosPor mais que não nos gostemosPor mais que briguemos

Por mais que haja distância entre nósPor mais que não seja dita:Uma palavra amigaPor mais que haja diferença:Entre nossas crenças

Por mais que sejamos conhecidosPor mais que sejamos opostos, Yin-yangPor mais que sejamos o bem e o malPor mais que sejamos a luz e as trevasPor mais que sejamos a morte e a vidaPor mais que sejamos a mentira e a verdadePor mais que sejamos o corpo e a alma

Por mais que tenhamos opiniões opostasPor mais que tenhamos gostos diferentesPor mais que tenhamos os favoritosE os desfavoráveisPor mais que tenhamos olhos e ouvidos...

Não vemos e não ouvimos,Cremos no que queremos.E nos enganamos...Por mais que julguemos uns aos outros

Por mais que...Por mais que tudo isso aconteça,Não deixemos de ser amigos!

ALUNO

ALEXANDRE RODRIGUESEducando do Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga

VOU PASSAR MUITO CERTO (PONTO)!

P r i m e i r a m e n t e , pra mim, este era o meu ano de já estar cursando a minha linda educação física, porque, em 2013, estudei muito, ou melhor, nunca tinha estudado tanto para algo como para o vestibular da UFRGS.

Meu ano de 2013 começou todo para ser um ano de con-quistas. Infelizmente, no meio do ano até o final do mesmo, a minha vida deu uma baita reviravolta. Pri-meiro com a desco-berta do câncer da minha mãe, trazendo junto o estresse, a falta de tempo (o que eu tinha de sobra até julho), a pressão dos parentes(quer iam que eu largasse o cursinho e fosse tra-balhar, menospre-zando o meu sonho. Eu decidi que não ia fazer isso, é claro. E o principal: a própria pressão em mim mesmo de tentar botar tudo isso nas costas e ir até o fim.

Só que no final de novembro as coisas já estavam ficando mais

difíceis. Os médicos já tinham dado um ultimato pra mim so-bre a minha mãe, dei-xando claro que seria muito difícil dela ter uma recuperação.

Ela não conseguiu lidar bem (creio que ninguém lida), e en-trou em depressão muito rápido, facil-itando a evolução da doença, e, com certeza, afetando a mim também. Mas eu enfrentei tudo isso, por isso eu achei que merecia ser bixo em 2014. Ainda mais quando minha mãe não resistiu ao câncer e veio a falecer logo no primeiro dia de 2014 - o tão desejado ano novo (pra mim, já em contagem regres-siva pro vestibular).

Enfim, fracassei na UFRGS, ironica-mente, nas matérias que eu mais estu-dei: as de peso três para Educação Física (Biologia, Redação e Português).

Às vezes, por mais que nos esforçamos para algo, quando não é para dar, não vai dar. Eu sou um cara

que aceito: perdeu, fracassou, começa de novo porque, que-rendo ou não, lhe dá muita experiên-cia a derrota. Não é a melhor coisa de se vivenciar, mas aju-da no crescimento.

Para este ano tá muito mais difícil: morar sozinho, fa-zer comida, limpar a casa, trabalhar, pagar as contas, alimentar os bichos... Tudo que é básico, hoje em dia, me come tempo. E, pra mim, tempo é fundamental pra conseguir estudar. No entanto, agora eu tenho experiência, sei como funciona, posso ir por atalhos. Tenho anotado re-sumos no caderno, também folhinhas que me deram ajuda anteriormente. As-sim, vou usar todos os recursos usados outrora pra me au-xiliar no “vestiba”.

Neste ano, estou com mais dúvida em relação aos cursos. Estou pensando a-gora em fazer Letras Por tuguês- I nglês, até porque, no ves-

tibular 2014, fiz uma ótima pontuação na língua inglesa.

Mas é isso aí! Tenho certeza que 2015 é bixo! A fase turbu-lenta vai dar lugar

à glória! Este 2014 vai ser um excelente ano de aprendi-zado para futuras novas experiências que me aguardam. #partiu #ufrgs2015

POR MAIS QUE

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* TAMO LÁ! *4 MAR E ABR/2014

“Sou Carolina Silva de Paula, moro na Restinga desde que nasci, há 22 anos. Me sinto segura moran-do aqui, pois nunca fui assaltada, mesmo chegando em casa pela madrugada. O único fato que me in-comoda na Restinga é a distância ao Cen-tro e a demora dos ônibus.

Fiz o Ensino Fun-damental na Escola Municipal Alberto Pasqualini (Restinga) e o Ensino Médio na Escola Téc-nica Esta-dual Sen. E r n e s t o Dornelles (Ce nt ro) . Fiz três v e s t i b u -lares para os cursos de Toxi-c o l o g i a A n a l í t i -ca (tec-n ó l o g o ) , B i o l o g i a e Farmácia. Fiz o ENEM/SISU e passei em Farmácia na UFC-SPA – Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

As dificuldades que en-c o n t r e i f o r a m falta de d i n h e i -ro para poder fazer o cur-sinho antes, falta de

A FUTURA FARMACÊUTICACAROLINA SILVA DE PAULA

tempo porque eu precisava trabalhar e só tinha os finais de semana livre, o que é muito pouco pra quem quer passar em uma Federal.

Conciliava os estu-dos e o trabalho as-

sim: eu ia para o cur-sinho de manhã, de lá ia trabalhar até às 19h, quando chega-va em casa às 20h30, comia alguma coisa rapidamente, tomava um banho e pegava

meus livros pra fazer testes, ficava lendo

até 0h30. Não ren-dia muito, mas era o que eu podia fazer. Como trabalhava aos sábados até às 13h, chegava em casa às 14h30, dormia um pouco de tarde e fi-cava estudando das

17h até à 1h da m a n h ã . No do-m i n g o , n e m a b r i a as jane-las do q u a r t o pra não dar von-tade de sair as-sim con-s e g u i a estudar m a i s .

Nem sempre esse plano dava certo. Tinha dias que eu saía para ver meus amigos e me sentia culpada, pois deve-ria estar estudando. Teve vezes que eu até

tomei remédio pra dormir só pra passar

essa agonia, mas no fim deu tudo certo.

Meus planos futuros são me formar na fa-culdade de Farmácia, entrar em pesquisas de mestrado e dou-torado. Vou estudar muito para entrar na perícia criminal e um dia pretendo ser pro-fessora universitária também. Não des-cartei a possibilidade de continuar fazendo vestibular, dessa vez vou ficar tentando Medicina, se eu pas-sar aí cursarei. De qualquer forma, es-tou muito feliz na Farmácia, é um curso fantástico e que nos abre muitas portas.

O que mais me aju-dou em todo este processo e não me deixou desistir foi o fato da minha mãe ter me ajudado financei-ramente. Isso contou muito pra eu poder fazer o cursinho pré-vestibular, porque se não fosse assim pro-

vavelmente eu não teria conseguido a

nota suficiente. A perspectiva de melhorar minha condição financei-ra e ter uma boa posição profissio-nal também foram decisivas em minha persistência.

O meu processo de ingres-so na Uni-versidade todo foi a t r a v é s do ENEM. Como eu passei so-mente na lista de e s p e r a , q u a n d o saíram a primeira e s e g u n d a c h a m a -da meu nome não estava em nenhuma dessas lis-tas. Eu já havia parti-cipado de outros dois vestibulares e sabia

mais ou m e n o s em que posição m e u n o m e

estaria da lista de espera. No dia que

Carolina, moradora da Restinga, está no 1º semestre do curso de Farmácia da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre)

“Domingo nem abria as janelas do quarto pra não dar vontade de sair pra rua, assim conseguia estudar mais...”

COMUNIDADE

“No dia que compareci à faculdade para assinar os documentos foi muito

emocionante, quando chamaram meu nome tive certeza que minha busca havia terminado e a vaga

era minha!”

produzidapor

DAIANE MORAES

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* TAMO LÁ! * 5MAR E ABR/2014

A FUTURA FARMACÊUTICACAROLINA SILVA DE PAULA

Carolina, moradora da Restinga, está no 1º semestre do curso de Farmácia da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre)

COMUNIDADE

compareci à facul-dade para assinar os documentos foi muito emocion-ante. Quando cha-maram meu nome tive certeza que

mi-nha busca havia terminado e a vaga

era minha! Foi tudo muito rápi-do. Come-m o r a ç ã o com fes-ta não tive, pois as aulas c o m e ç a -ram em s e g u i -da e não tive mais tempo pra isso, mas a come-m o r a ç ã o maior está dentro de mim, pois sei que consegui a-

tingir meu objetivo, pois toda minha vida dependia disso.

Agora que estou na UFCSPA me sinto di-ferente, melhor por que, apesar de morar num bairro mais carente e afastado do centro da cidade, ter conseguido atingir

meu objetivo, muito diferente do que nor-malmente se vê por aqui. Muita gente larga os estudos ou tem filhos cedo. Eu me sinto feliz por não fazer parte dessa es-tatística e estar em um curso superior de uma universidade federal pelo meu próprio esforço.

Minha dica para as pessoas que querem entrar na universi-dade é que não ten-ham preguiça de acordar cedo, que não escutem a opi-niões aleatórias de pessoas desmoti-vadas, que saibam filtrar as informações que recebem e cor-ram atrás do que

realmente querem. Muita gente du-

rante esse caminho

do ves-t i b u l a r t e n t a nos fazer desistir e seja por inveja ou qualquer o u t r a r a z ã o , não faz s e nt i d o a l g u m . Por mais d i f í c i l q u e p a r e ç a no final a gente para e p e n s a : ‘Era só isso’? E sim, era só isso. Um ano sem sair pra festa, sem tomar chimarrão no parque.

Mas agora estou em uma Federal onde não pago nada e ain-

“O que mais me ajudou em todo este

processo e não me deixou desistir foi o fato da minha mãe

ter me ajudado”

“Agora que estou na UFCSPA me sinto diferente,

melhor por apesar de morar num bairro mais carente e afastado do

Centro da cidade, consegui buscar meu objetivo,

muito diferente do que normalmente se

vê por aqui.”

EDUCADORES DO CURSINHOBreno CostaBruno AffeldtCamila DemirofClayton dos ReisDaniel BomqueirozDenise SantosFilipe de ZanettiGabriel GonzagaGabriel PegoraroIgor BortolottiJulio BaldassoLucas EbbesenPedro CladeraRodrigo dos SantosSaul Bastos

CURSINHO PRÉ-VESTIBULAR ESPERANÇA POPULAR

RESTINGA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL (DEDS)Daiane MoraesLuciane Bello Rita Camisolão

da tenho várias opor-tunidades de bolsas estudantis que auxili-am financeiramente. Se tenho vontade de desistir da facul-dade? Sim! Todos os dias quando chego cansada em casa. Mas

não vou d e s i s t i r p o r q u e meu fu-turo de-pende dis-so, noites sem dor-mir, tra-b a l h o s i n t e r -mináveis, c o l e g a s cobrando p r a z o s , mas a vida é assim e no final vale muito a pena. A dica é não d e s i s t i r

por mais cansaço que se tenha.”

JORNAL TAMO LÁDIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICOGregory Benes RaabeLucas EbbesenMarília Bandeira

produzidapor

DAIANE MORAES

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* TAMO LÁ! *6 MAR E ABR/2014

Certamente, você já deve ter para-do pra pensar em como foi que tudo que começou?

Como surgiu a vida na terra? Se o cria-dor criou a criatura, então, quem foi o criador daquele que criou a criatura? Se alguém ou alguma coisa criou o pri-meiro ser vivo, então este não deve ter sido o primeiro. É, essa parece ser uma questão que a bio-logia ainda não con-seguiu decifrar por completo. Bom, os in-finitos debates sobre as teorias de nossa existência parecem não ter fim e nem é esse o nosso foco no momento. Vamos apresentar aqui al-gumas teorias que tem sido levantadas sobre o assunto, mas vale lembrar que cada um deve crer naquilo que achar necessário, então nós não defenderemos nenhum ponto de vista, e tentaremos ser os mais imparciais possíveis.

Existem algumas teorias científicas e outras nem tanto de como surgiu a vida no nosso planeta, qual é a certa ou não vai depender dos argumentos apre-sentados e do ponto de vista de cada um. Feito isso, vamos aos fatos!

Segundo o de-terminismo biológi-co, a vida deve surgir quando ocorrer con-dições que lhe são favoráveis, logo, as condições encontra-

Experimento de Pasteur

DICASBIOLOGIABreno Costa e Bruno Barbosa

E FOI ASSIM QUE TUDO COMEÇOU...das nos primórdios da terra permitiram que ocorresse , em algum dado momen-to (estima-se entre 3,5 a 3,8 bilhões de anos atrás) o sur-gimento da vida no nosso planeta. A vida como se apresenta hoje é bem distinta dos primeiros seres, a grande dificuldade de compreensão está associada à escassez de registros fósseis da época e, apesar d i s s o , d u a s g r a n d e s f r e n t e s levanta-das sobre a origem da vida f o r a m d e f e n -didas por cientistas e pen-s a d o r e s em dife-r e n t e s épocas.

Aristóteles, o grande filósofo grego, dis-cípulo de Platão e professor de Alexan-dre “O Grande” de-fendia, há mais de 2 mil anos atrás, uma teoria chamada de Geração Espontânea. Ele supôs haver a ex-istência de um princí-pio vital capaz de gerar vida da matéria inerte (do barro), ou seja, de algo que não fosse vivo. Tam-bém defendida por cientistas do final de século XIX a Abiogê-nese, trata de defend-er a ideia de que a vida surgiu a partir da evolução de matéria não viva. Nos primór-

dios do pla-neta, a constituição de nos-sa atmosfera era bem diferente do que se encontra hoje, exis-tiam alguns gases em abundância, como Amônia, Metano, Hidrogênio e vapor d’água, que, junta-mente com oceanos quentes e descargas elétricas geradas por raios, foram ca-pazes de romper as ligações desses gases e gerar as primeiras

moléculas orgânicas do planeta que fo-ram, principalmente, Aminoácidos e Car-boidratos. A partir de então, molécu-las inorgânicas con-stituíram molécu-las orgânicas que organizaram-se em protocélulas chama-das de coa-cervados, que não foram os primeiros seres vivos, mas sim uma das fo-rmas mais primitivas de organização. At-ualmente, essa teo-ria também recebe o nome de Teoria da evolução gradual dos sistemas químicos ou

teoria da evolução moder-na é uma das mais aceitas na atual-idade. A teoria da Bi-ogênese, defendida por Redi e Pasteur diz que a vida deve vir de necessariamente de outro ser vivo preexistente, o que de fato serve muito bem para explicar a vida apresentada hoje, mas não para os primeiros habitantes terrestres.Além disso, apresentam-se tam-

bém ou-tras teo-rias que propõem u m a o r i g e m extrater-r e s t r e para o i n í c i o da vida, denomi-n a d a a n s p e r -mia. Ela diz que a vida teria se origi-n a d o

fora do nosso planeta e teria “aterrissa-do” em nosso planeta trazida por cometas e asteroides que se chocaram com a ter-ra contendo no seu interior compostos orgânicos comple-xos. O interior des-ses corpos celestes teria protegido esses compostos do atrito com a atmosfera, mas o grande proble-ma é a quantidade de matéria orgânica necessária para que isso pudesse sus-tentar a evolução da vida na terra até o aparecimento dos autótrofos. Existe ainda uma teoria que

tenta explicar a vida de uma maneira não científica, mas sim filosófica e religiosa chamada de teoria do criacionismo. O criacionismo é a teo-ria religiosa que de-fende a criação do universo e tudo que há nele - incluindo o planeta terra e todas as formas de vida que o habitam – feita por um criador so-brenatural e divino. Dependendo da re-ligião se atribui um nome específico para esse criador, mas no geral, todas defen-dem a ideia de que uma entidade divina arquitetou a vida in-teligente como co-nhecemos hoje.

Contudo, as teo-rias criadas para ex-plicar como surgiu a vida na terra não dão conta de todos os fatos, por mais que se tente classificar as coisas para que haja uma melhor com-preensão, nem tudo depende exclusiva-mente da razão para o entendimento, existem inúmeros assuntos que a hu-manidade ainda não é capaz de explicar, e a ciência se esforça para esclarecer os fa-tos e compreender os fenômenos des-critos. O tamanho do desafio deve ser encarado como uma fonte de estímulo para a busca do co-nhecimento, e dentro de suas limitações, a ciência busca sempre a verdade!

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* TAMO LÁ! * 7MAR E ABR/2014

Queridos colegas,Eu poderia dizer

inúmeras coisas a respeito da minha passagem pelo cur-sinho e o quanto ele significou para mim. Trabalhar nesse pro-jeto foi uma exper-iência maravilho-sa! Mas além disso, foi algo libertador na minha vida. Através do cursinho eu real-mente tive a certeza de que meu lugar no mundo é dentro de uma sala de aula. Aprendi muito com todos os educadores e educandos com os quais tive o privilégio de trabalhar nesses três anos. Há algum tempo eu tenho uma “filosofia de vida”, por assim dizer, de que nós estamos aqui pura e simplesmente para aprender com o outro e levar conosco um pouquinho das pessoas que encon-tramos na vida. E com o cursinho não foi diferente para mim. Por isso, ao invés de me despedir com pa-lavras melancólicas, vou dizer um pouco o que aprendi com cada um de vocês. Com o Bruno apren-di que é possível,

PONTO DE PARTIDAEXPERIÊNCIA

MISAEL BESKOWEx-educador do Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga

apenas com uma conversa de poucos minutos, confiar in-teiramente em uma pessoa; e que um sorriso, uma piada ou uma “bobagem” qualquer dita por al-guém pode ser tudo o que precisamos para tornar o dia mais feliz. A Stéphani me ensinou que nun-ca devemos parar de perguntar, de ques-tionar, e que a in-quietação por saber mais é uma das coi-sas mais fascinantes na nossa profissão. Com a Alessandra - com quem vivi os momentos mais in-tensos no cursinho - eu aprendi que nunca devemos de-sistir de alcançar nos-sos objetivos, e que não devemos deixar de acreditar nos nos-sos ideais, mesmo que isso às vezes nos faça chorar. O Clayton me ensinou que a opinião mais sensata nem sempre é aquela dita com veemência a todo instante, mas sim aquela que é exposta no momento certo. Com o Lucas aprendi que uma pessoa ta-lentosa pode surgir e

fazer as coisas darem certo de uma forma muito melhor do que nós, às vezes preten-sos detentores do saber, achamos que podemos fazer. O Gabriel - que, como eu, acha que comer é uma ótima maneira de passar o tempo - me ensinou que uma pessoa jovem defendendo com paixão seu ponto de vista, seja ele qual for, é uma das coisas mais bonitas de se ver. Com o Pedro aprendi que a sinceridade e a inexperiência (no melhor sentido) po-dem ser fundamen-tais para trazer um novo frescor a um ambiente saturado de ideias “caducas”. Já o Daniel me ensi-nou que às vezes a melhor coisa é dizer o que se pensa, sem frescura, mesmo que isso seja pouco orto-doxo, pois pode fazer com os que pensam da mesma maneira se sintam motiva-dos a expressar seus reais sentimentos. Com o Saul - com quem tive uma das melhores conver-sas por telefone em anos - aprendi que

às vezes o mais im-portante não é falar, mas sim ouvir; que ouvir com atenção, mostrar-se disposto a ajudar e refletir junto com o outro não tem preço. A Denise me ensinou o quanto so-mos felizes quando fazemos algo que realmente quere-mos na vida. Com o Filipe aprendi que a felicidade depende exclusivamente das nossas escolhas, e de como é importante seguir firme nas de-cisões que tomamos para a nossa vida, mesmo que isso de-sagrade às pessoas mais próximas a nós. A Luiene me ensi-nou, em uma carona de poucos quilômet-ros, que nem sem-pre as pessoas vão concordar, mas que é importante ouvir o outro lado, tentar compreender as mo-tivações do outro. Com o Rodrigo - a primeira pessoa que falei quando entrei no cursinho, e tam-bém a última que me despedi depois da minha última aula - aprendi que a paciên-cia é realmente uma das maiores virtudes do ser humano (e por isso mesmo uma das mais difíceis!), e que muitas vezes manter-se equilibrado talvez seja a única forma de nos salvar do caos. A Rita, a Daiane, a

Luciane e a Marga me ensinaram, entre outras coisas, que a experiência de vida é uma coisa extrema-mente valiosa e que pode nos ajudar nas ocasiões mais ad-versas, mesmo que talvez achemos que não. Aos que es-tão chegando, Igor, Júlio, Breno, Gabriel e Camila, deixo as mi-nhas calorosas boas-vindas e desejos de boa sorte! Saibam que esse projeto real-mente transforma vidas, e que é um trabalho por vezes difícil mas extrema-mente recompensa-dor. Muito obrigado a todos pelo com-panheirismo e pelo apoio durante essa caminhada. Foi uma honra trabalhar com vocês! Não vou me despedir com um adeus, mas sim com um “até breve”. E fa-rei isso com trilha sonora: pela primeira vez em três anos - e olha que isso é difícil de acontecer comi-go - vou deixar uma música da minha banda preferida, The Rasmus. Quem me conhece bem sabe o quanto a música deles significa para mim. Se quiserem mais informações so-bre a banda, podem cessar www.theras-musbrasil.com (meu site, só para constar).Um abraço enorme!

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* TAMO LÁ! *8 MAR E ABR/2014

OS CRIMES QUE NÃO CONFESSAMOS

GABRIEL GONZAGAEducador do Esperança Popular Restinga

Há pouco mais de um mês, repercutiu nacionalmente e in-ternacionalmente a notícia do caso de racismo sofrido pelo jogador do Cruzeiro, apelidado de Tinga, no Peru, durante a derrota do Cruzeiro terminada com o placar de 2x1 para o rival, Real Garcilaso. O comportamento criminoso dos torce-dores do time pe-ruano foi brutal. A qualquer domínio de bola do jogador, a multidão repetia sons que aludiam a um macaco. Antes que pudéssemos est-ufar nossos peitos e nos orgulharmos de não ter ocorrido no Brasil, casos seme-lhantes acontece-ram com o jogador Arouca, do Santos, e com o arbitro gaú-cho de futebol Már-cio Chagas.

Tais atos ganharam destaque na mídia e levaram diversos gru-pos a repensarem ou reforçarem atitudes a respeito do que se costuma chamar de “racismo velado”. No Rio Grande do Sul a utilização da palavra “macaco” (ou “macacada”) em músicas de torcida tornou-se o centro

da polêmica. Logo a “comissão de caça ao politicamente cor-reto” se manifestou com o velho discurso que diz ser “só uma brincadeira”, e que garante não ter mo-tivação racista, como se fosse realmente esse o centro da dis-cussão. Antes do úl-timo grenal (30/04), a Geral do Grêmio divulgou uma nota afirmando que a pa-lavra não tem cono-tação racista e muito menos origem racis-ta. Por pura ironia, mesmo que perver-sa, no mesmo jogo, o zagueiro do Inter-nacional Paulão, foi vítima de torcedores racistas do Grêmio que utilizaram da mesma palavra que a nota da Geral julgou não ter conotação racista.

A torcida organi-zada tenta passar a ideia de que a uti-lização do termo “macaco” não é ra-cismo, pois não tem a intenção de sê-lo. As-sim também são ou-tros tipos horrorosos de preconceito como a expressão “filho da puta” ou “puto”, que não tem a intenção de ser machista ou homofóbico, mas as-sim são e também

são usados em músi-cas de torcida. Se pensarmos que o es-tádio de futebol é o espaço de lazer onde o torcedor libera suas emoções contidas culturalmente pelo que Norbert Elias chamou de “pro-cesso civilizatório”, podemos entender com clareza que tais acontecimentos, que não são em hipótese alguma novidade no mundo espor-tivo, representam os sintomas de uma doença muito maior. E dessa maneira a discussão supera o argumento vazio do “tudo virou racismo agora” ou “ninguém leva mais na brinca-deira”, para tratar do que por muito tempo foi e continua sendo uma questão estru-tural no Brasil.

A escravidão tra-tou-se de uma es-trutura social hie-rárquica. Tornou o negro a base da sociedade, onde os “homens livres” não tiveram cautela na hora de pisar e es-fregar seus pés. Com mãos negras cons-truíram um país, aos custos da liberdade e exploração de um povo. Na hora de se tornarem modernos, os tupiniquins não perderam seu tapete. Trouxeram dos tem-

pos da chibata o ódio no olhar e na fala em referência a quem de fato sujou os dedos pra fundar o país que não os faria cidadãos. O negro foi dado como o elo entre o homem e o macaco, todas as suas ex-pressões culturais foram desprezadas. A luta dos negros su-perou as barreiras so-ciais para combater o racismo e conseguiu reparações históricas no abismo que por muito tempo separa brancos de negros.

Porém, o racismo permaneceu de for-ma velada, por trás das brincadeiras, das músicas de torcida, dentro dos lugares do “não dito” da so-ciedade brasileira. Mesmo assim, está bem visível nas fave-las do nosso Brasil varonil, de onde transborda a cor ne-gra. No país que não existe racismo, 87,7% dos 10% mais pobres do país são negros (de acordo com o IBGE). Qualquer um que não veja ligação entre os números e o vivíssimo racismo presente na socie-dade precisa urgen-temente tomar o popular “semancol”. A cultura desse povo não deixou de ser desvalorizada, o funk e o rap continuam

sendo marginaliza-dos e com cada vez menos espaços, as-sim como era o sam-ba, só que agora aco-bertado pelo “gosto musical”. Diante dis-so, preciso dizer que o racismo torna-se uma ferramenta da manutenção da or-dem hierárquica e da base social da so-ciedade, conseguido através da identifi-cação com a cor?

O que talvez os es-critores da nota, di-vulgada pela Geral do Grêmio, não en-tendam é que não se trata daquilo que os motivam a cantar músicas de cono-tação racista, mas sim da representação que aquilo toma ao ser proferido em uma sociedade onde o racismo é algo tão presente, mesmo que escondido. Den-tro desse conjunto de questões os pre-conceitos velados, sejam eles machis-tas, homofóbicos ou racistas, tornam-se o principal inimigo a ser combatido. Na-quilo que “não é pre-conceito” vive aquilo que torna toda dis-cussão democrática uma discussão tam-bém de igualdade entre os gêneros, de liberdade de opção sexual e, sobretudo, uma discussão racial.

OPINIÃO

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