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Sou Leonardo di ser Piero da Vinci, nasci em 15 de Abril de 1452, "na terceira hora da noite", de um sábado, na cidade de Vinci, na Toscana, situada no vale do rio Arno, dentro do território dominado à época por Florença. Eu era filho ilegítimo de Messer Piero Fruosino di Antonio da Vinci, um notário florentino, e Catarina, uma camponesa que pode ter sido uma escrava oriunda do Oriente Médio. Eu não tinha um sobrenome no sentido actual; "da Vinci" significa simplesmente "de Vinci": o meu nome completo de baptismo era "Leonardo di ser Piero da Vinci", que significava "Leonardo, (filho) de (Mes) ser Piero de Vinci". Assinava os meus próprios trabalhos simplesmente como Leonardo ou Io Leonardo ("Eu, Leonardo"); eu não usava o nome do meu pai por causa do estado ilegítimo. Fui um poli mato italiano, uma das figuras mais importantes do alto renascimento que me destaquei como cientista , matemático , engenheiro , inventor , anatomista , pintor , escultor , arquitecto , botânico , poeta e músico. E ainda conhecido como o precursor da aviação e da balística. Eu frequentemente fui descrito como o arquétipo do homem do Renascimento , alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela minha capacidade de invenção. E fui considerado um dos maiores pintores de todos os tempos, e como possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido segundo a historiadora de arte Helen Gardner, a profundidade e o alcance de meu interesses não tiveram precedentes e minha mente e personalidade parecem sobre-humanos para nós, e o homem em si [nos parece] misterioso e distante. Fui educado no ateliê do renomado pintor florentino, Verrocchio . Passei a maior parte do início da minha vida profissional a serviço de Ludovico Sforza (Ludovico il Moro), em Milão ; trabalhei posteriormente em Roma , Bolonha e Veneza , e passei os meus últimos dias em França , numa casa que me foi presenteada pelo rei Francisco I . Eu era, em meu tempo, como até hoje, conhecido principalmente como pintor. Duas das minhas obras, a Mona Lisa e A Última Ceia , estão entre as pinturas mais famosas, mais reproduzidas e mais parodiadas de todos os tempos, da minha fama se compara apenas à Criação de Adão , de Michelangelo . O desenho do Homem Vitruviano , feito por mim, também é tido como um ícone cultural, e foi reproduzido por todas as partes, desde o euro até camisetas . Cerca de quinze das minhas pinturas sobreviveram até os dias de hoje; o número pequeno se deve às minhas experiências constantes - e frequentemente Pedro Mendes Página 1

Sou Leonardo Di Ser Piero Da Vinci

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Sou Leonardo di ser Piero da Vinci, nasci em 15 de Abril de 1452, "na terceira hora da noite", de um sábado, na cidade de Vinci, na Toscana, situada no vale do rio Arno, dentro do território dominado à época por Florença. Eu era filho ilegítimo de Messer Piero Fruosino di Antonio da Vinci, um notário florentino, e Catarina, uma camponesa que pode ter sido uma escrava oriunda do Oriente Médio. Eu não tinha um sobrenome no sentido actual; "da Vinci" significa simplesmente "de Vinci": o meu nome completo de baptismo era "Leonardo di ser Piero da Vinci", que significava "Leonardo, (filho) de (Mes) ser Piero de Vinci". Assinava os meus próprios trabalhos simplesmente como Leonardo ou Io Leonardo ("Eu, Leonardo"); eu não usava o nome do meu pai por causa do estado ilegítimo. Fui um poli mato italiano, uma das figuras mais importantes do alto renascimento que me destaquei como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquitecto, botânico, poeta e músico. E ainda conhecido como o precursor da aviação e da balística. Eu frequentemente fui descrito como o arquétipo do homem do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela minha capacidade de invenção. E fui considerado um dos maiores pintores de todos os tempos, e como possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido segundo a historiadora de arte Helen Gardner, a profundidade e o alcance de meu interesses não tiveram precedentes e minha mente e personalidade parecem sobre-humanos para

nós, e o homem em si [nos parece] misterioso e distante. Fui educado no ateliê do renomado pintor florentino, Verrocchio. Passei a maior parte do início da minha vida profissional a serviço de Ludovico Sforza (Ludovico il Moro), em Milão; trabalhei posteriormente em Roma, Bolonha e Veneza, e passei os meus últimos dias em França, numa casa que me foi presenteada pelo rei Francisco I. Eu era, em meu tempo, como até hoje, conhecido principalmente como pintor. Duas das minhas obras, a Mona Lisa e A Última Ceia, estão entre as pinturas mais famosas, mais reproduzidas e mais parodiadas de todos os tempos, da minha fama se compara apenas à Criação de Adão, de Michelangelo. O desenho do Homem Vitruviano, feito por mim, também é tido como um ícone cultural, e foi reproduzido por todas as partes, desde o euro até camisetas. Cerca de quinze das minhas pinturas sobreviveram até os dias de hoje; o número pequeno se deve às minhas experiências constantes - e frequentemente desastrosas - com novas técnicas, além de sua procrastinação crónica. Ainda assim, estas poucas obras, juntamente com meus cadernos de anotações - que contêm desenhos, diagramas científicos, e meus pensamentos sobre a natureza da pintura - formam uma contribuição às futuras gerações de artistas que só pode ser rivalizada à de seu contemporâneo, Michelangelo. Eu era reverenciado por sua engenhosidade tecnológica concebi ideias muito à frente do meu tempo, como um helicóptero, um tanque de guerra, o uso da energia solar, uma calculadora, o casco duplo nas embarcações, e uma teoria rudimentar das placas tectônicas. Um número relativamente pequeno do meu projecto chegou a ser construído, durante a minha vida (muitos nem mesmo eram factíveis), mas algumas das minhas invenções menores, como uma bobina automática, e um aparelho que testa a resistência à tração de um fio, entraram sem crédito algum para o mundo da indústria Como cientista, foi responsável por grande avanço do conhecimento nos campos da anatomia, da engenharia civil, da óptica e da hidrodinâmica. Fui considerado por vários o maior génio da história, devido à minha multiplicidade de talentos para ciências e artes, a minha engenhosidade e criatividade, além das minhas obras polémicas. Num estudo realizado em 1926 seu QI foi estimado em cerca de 180.

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Na minha adolescência, fui fortemente influenciado por duas grandes personalidades da época, Lourenço de Médici e o grande artista Andrea del Verrocchio.

Em 1466, com catorze anos, passei a ser aprendiz de um dos mais bem-sucedidos artistas de meu tempo, Andrea di Cione, conhecido como Verrocchio. O ateliê de Verrocchio estava no centro das correntes intelectuais de Florença, o que garantiu a mim uma educação nas ciências humanas. Outros pintores famosos que passaram por um aprendizado neste mesmo ateliê foram Ghirlandaio, Perugino, Botticelli e Lorenzo di Credi. Fui exposto desde cedo a uma vasta gama de técnicas, e tive a oportunidade de aprender desenho técnico, química, metalurgia, mecânica, carpintaria, a trabalhar com materiais como couro e metal, fazer moldes, além das técnicas artísticas de desenho, pintura, escultura e modelagem.

Boa parte da produção de pinturas do ateliê de Verrocchio era feita pelo meu funcionário. De acordo com Vasarisi. Colaborei com Verrocchio em seu O Baptismo de Cristo, pintando o jovem anjo da esquerda, que segura a túnica de Jesus de maneira tão superior ao seu próprio mestre que Verrocchio teria decidido nunca mais pintar. Isto provavelmente é um exagero; mas um exame atento da pintura mostra que existem diversos retoques feitos sobre a têmpera utilizado a nova técnica de pintura a óleo, como o cenário, as rochas que podem ser vistas ao fundo e boa parte da figura do próprio Jesus, todas testemunhas das minhas mãos.

Eu podia ter sido o modelo para duas obras de Verrocchio, incluindo a estátua de bronze de David, no Bargello, e o Arcanjo em Tobias e o Anjo.

Em 1472, com vinte anos de idade, me qualifiquei para o cargo de mestre na Guilda de São Lucas, uma guilda de artistas e doutores em medicina, porém mesmo depois do meu pai ter montado seu próprio ateliê, a minha ligação com Verrocchio permaneceu tanta que continuei a colaborar com ele. Aos poucos, as pessoas da corte passam a fazer encomendas directamente a mim. A minha obra mais antiga a ser datada é um desenho em pena e tinta do vale do Armo, feito em 5 de Agosto de 1473.

Em 1476, eu, juntamente com mais três alunos do ateliê de Verrocchio, fomos acusados de sodomia, segundo a acusação referente a mim, que eu teria tido relações homossexuais com um modelo de Florença muito popular à época. Diante, no entanto, da falta de provas concretas que confirmassem semelhante acusação, fui absolvido. A partir desta data até 1478 não existem registos nem de obras minhas nem do meu paradeiro embora se costuma presumir que tenha estado no ateliê, em Florença, entre 1476 e 1481. Em 1478 foi-me encomendada a pintura de um retábulo para a Capela de São Bernardo, e a Adoração dos Magos, em 1481, para os monges de San Donato a Scopeto. Esta importante comissão foi interrompida com a minha ida para Milão.

Em 1482 de acordo com Vasari era um músico muito talentoso, criei uma lira de prata, com a forma da cabeça de um cavalo. Lourenço de Médici, dito "il Magnifico", grande humanista, enviou-me, a portar a lira como um presente, a Milão, para selar a paz com Ludovico Sforza

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(dito il Moro, "o Mouro"), Duque de Milão. Foi nesta época que escrevi uma carta a Ludovico, citada frequentemente, na qual descrevi as coisas diversas e maravilhosas que eu conseguia realizar no campo da engenharia, e informando o seu senhor que eu também podia pintar. Continuei a trabalhar em Milão, entre 1482 e 1499. Recebi a encomenda de pintar a Virgem dos Rochedos para a Confraria da Imaculada Conceição, e a Última Ceia para o mosteiro de Santa Maria delle Grazie. Enquanto vivia em Milão, entre 1493 e 1495, listei uma mulher, chamada Caterina, entre seus dependentes, nas suas declarações de imposto de renda. Quando ela morreu, em 1495, a lista dos gastos com o funeral sugere que ela pode ter sido sua mãe. Trabalhei em diversos projectos para Ludovico, incluindo o preparo de carros alegóricos e desfiles para ocasiões especiais, o projeto de uma cúpula para a Catedral de Milão, e um modelo de um imenso monumento equestre para Francesco Sforza, o antecessor de Ludovico. Setenta toneladas de bronze foram separadas para a minha confecção; o monumento permaneceu interminado por diversos anos, o que não foi comum na minha carreira. Em 1492 um modelo de argila foi terminado; ele era maior, em tamanho, que as duas únicas estátuas equestres do Renascimento, a estátua de Gattemelata, em Pádua, e a de Bartolomeo Colleoni, de Verrocchio, em Veneza, e ficou conhecido como o "Gran Cavallo". Estudo de um cavalo, dos meus diários – Royal Library, Castelo de Windsor. Comecei a fazer os projetos detalhados para a minha fundição; Michelangelo, no entanto, sugeriu, de maneira indelicada, que eu seria incapaz de fazê-lo. Em novembro de 1494 Ludovico usou o bronze para fabricar canhões, visando defender a cidade da invasão de Carlos VIII da França. No início da Segunda Guerra Italiana, em 1499, as tropas invasoras francesas utilizaram-se do modelo de argila do Gran Cavallo como alvo para praticar tiro. Com a deposição de Ludovico Sforza, juntamente com o meu assistente, Salai, e meu amigo, o matemático Luca Pacioli, abandonei Milão e fugi para Veneza, onde foi empregado como arquiteto e engenheiro militar, planejando métodos de defender a cidade de um ataque naval.

Ao retornar para Florença, em 1500, fui recebido, juntamente com a minha família e criadagem, pelos monges servitas do mosteiro de Santissima Annunziata, onde tinha à minha disposição um ateliê. Foi ali que, de acordo com Vasari, eu criei o desenho da Virgem, o Menino, Sant’ana e São João Batista - uma obra que conquistou tanta admiração que homens e mulheres, jovens e velhos vinham vê-la, em massa, como se estivessem frequentando um grande festival Em 1502 passei a trabalhar para César Bórgia, filho do Papa Alexandre VI, actuando como arquiteto e engenheiro militar, e viajando por toda a Itália com meu patrão; é nessa viagem que conhece Nicolau Maquiavel. Retornei à Florença, onde voltei a fazer parte da Guilda de São Lucas, em 18 de Outubro de 1503; recebi a encomenda de um retrato: a Mona Lisa, e passei os meus dois anos seguintes desenhando e pintando um grande mural da Batalha de Anghirii para a Signoria, enquanto Michelangelo foi responsável pela peça que a acompanhava, A Batalha de Cascina. Ainda em Florença, em 1504, fiz parte de um comitê formado para transferir, contra a vontade do próprio autor, Michelangelo, a célebre estátua do Davi.

Em 1506 retornei a Milão. Muitos dos meus pupilos e seguidores mais importantes, no campo da pintura, ou que conheciam ou trabalhavam comigo naquela cidade, incluindo Bernardino Luini, Giovanni Antonio Boltraffio e Marco D'Oggione. Meu pai morreu em 1504, e como resultado, em 1507 tive de voltar à Florença para resolver com os meus irmãos os problemas decorrentes da herança e das propriedades paternas. No ano seguinte retornei para Milão,

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então nas mãos de Massimiliano Sforza depois de mercenários suíços expulsarem os franceses, onde passei a viver na própria casa, na região da Porta Orientale, na paróquia de Santa Babila

De Setembro de 1513 a 1516 passei a maior parte do meu tempo vivendo no Belvedere, no Vaticano, em Roma, período durante o qual Rafael e Michelangelo também estavam em atividade. Em Outubro de 1515, Francisco I da França reconquistou Milão; estive presente no encontro entre Francisco I e o Papa Leão X, em 19 de Dezembro, ocorrido em Bolonha.

Foi de Francisco que recebi a encomenda de construir um leão mecânico, que pudesse caminhar para a frente, e abrir seu peito, revelando um ramalhete de lírios. Em 1516 passei a trabalhar directamente a serviço de Francisco, e foi-me concedido o solar de Clos Lucé, próximo à residência do rei, no Castelo de Amboise. Foi aqui que passei os meus três últimos anos da minha vida, acompanhado pelo meu amigo e aprendiz, o conde Francesco Melzi, e sustentado por uma pensão de totalizado 10.000 escudos.

Morri em Clos Lucé, em 2 de Maio de 1519. Francisco havia se tornado um grande amigo; e Vasari relata que o rei segurava a minha cabeça em seus braços quando eu morri - embora a história, amada pelos franceses e retratada em pinturas românticas de artistas como Ingres e Angelica Kauffmann, podem ser mais lenda do que realidade. Vasari também conta que, em meus últimos dias, teria pedido que um padre lhe fosse trazido, para que me confessasse e recebesse a extrema-unção. De acordo com o que pediu em meu testamento, sessenta mendigos seguiram o meu cortejo. Fui enterrado na Capela de Saint-Hubert, no Castelo de Amboise. Melzi foi o principal herdeiro e inventariante, e recebeu, além de todo o meu dinheiro, todos os meus cadernos, ferramentas, a minha biblioteca e meus objectos pessoais. Também me lembrei do meu antigo pupilo e companheiro, Salai, e do meu criado, Battista di Vilussis; cada um recebeu uma metade das minhas vinhas, sendo que de Salai tornaram-se posses as pinturas que acompanhavam o mestre desde então. Meus irmãos também receberam terras, e a minha criada recebeu um manto negro de bom material, com as bordas de pele. Cerca de vinte anos após a minha morte, o rei Francisco teria falado, segundo o escultor Benvenuto Cellini: "Nunca nasceu no mundo outro homem que soubesse tanto quanto Leonardo, nem tanto [por seus conhecimentos de] pintura, escultura e arquitectura, mas por ele ter sido um grande filósofo.

Se tivesse sido Leonardo da Vinci, tinha agido da mesma maneira, porque essa época dava para isso. Era época de renascimento!

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