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SISTEMA DE CONTROLE DE MODO COMUM COM
ALTA LINEARIDADE PARA AMPLIFICADORES
OPERACIONAIS TOTALMENTE DIFERENCIAIS
Renato D’Angello Gonçalves dos Santos
Projeto de Graduação apresentado ao Curso de
Engenharia Eletrônica e de Computação da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Engenheiro.
Orientador: Carlos Fernando Teodósio Soares
Rio de Janeiro
Abril de 2016
ii
SISTEMA DE CONTROLE DE MODO COMUM COM
ALTA LINEARIDADE PARA AMPLIFICADORES
OPERACIONAIS TOTALMENTE DIFERENCIAIS
Renato D’Angello Gonçalves dos Santos
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO
DE ENGENHARIA ELETRÔNICA E DE COMPUTAÇÃO DA ESCOLA
POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO
PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
ENGENHEIRO ELETRÔNICO E DE COMPUTAÇÃO
Autor:
_________________________________________________
Renato D’Angello Gonçalves dos Santos
Orientador:
_________________________________________________
Prof. Carlos Fernando Teodósio Soares, D.Sc.
Examinador:
_________________________________________________
Prof. Joarez Bastos Monteiro, D.Sc.
Examinador:
_________________________________________________
Prof. José Gabriel Rodriguez Carneiro Gomes, Ph.D.
Rio de Janeiro – RJ, Brasil
Abril de 2016
iii
Santos, Renato D’Angello Gonçalves dos
Sistema de Controle de Modo Comum com Alta Linearidade para Amplificadores Operacionais Totalmente Diferenciais/ Renato D’Angello Gonçalves dos Santos. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016. VI, 51 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Carlos Fernando Teodósio Soares
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Eletrônica e de Computação, 2016. Referencias Bibliográficas: p. 51.
1. Controle Realimentado. 2. Modo Comum. 3. Amplificadores Operacionais. 4. Alta Linearidade. 5.Transcondutância. I. Teodósio Soares, Carlos Fernando. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Eletrônica e de Computação. III. Sistema de Controle de Modo Comum com Alta Linearidade para Amplificadores Operacionais Totalmente Diferenciais.
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Escola Politécnica – Departamento de Eletrônica e de Computação
Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-217, Cidade Universitária
Rio de Janeiro – RJ CEP 21949-900
Este exemplar é de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que
poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar
qualquer forma de arquivamento.
É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre
bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja
ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem
finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es).
v
AGRADECIMENTO
Agradeço aos meus pais pelos anos de cuidados, paciência e apoio. Agradeço à
minha mãe pelos valores que fundamentam meu espírito e ao meu pai pelos
ensinamentos que levarei para a vida toda.
Agradeço também aos meus amigos mais próximos que convivem comigo
desde os anos de colégio. São muitos anos de amizade construída com amor, perdão,
paciência e momentos felizes. Mesmo que alguns estejam ausentes, as memórias sempre
estarão presentes.
Agradeço também aos meus novos amigos que conquistei na faculdade não só
pelo apoio e companheirismo dentro e fora dessa trajetória acadêmica.
Agradeço aos meus professores do colégio e da faculdade. Em especial ao
professor Carlos Fernando Teodósio Soares por aceitar ser meu orientador neste projeto
de graduação. Não posso esquecer também do professor José Gabriel Rodriguez
Carneiro Gomes que aceitou fazer parte da banca de examinadores deste projeto. Mais
especialmente ainda quero agradecer a dois professores que foram exemplos para mim e,
mesmo sem saber da gravidade, me ajudaram de forma determinante na minha vida
acadêmica. Refiro-me ao professor Joarez Bastos Monteiro, também examinador da
banca do meu projeto de graduação, e ao professor Antônio Cláudio Gómez de Souza.
Não poderia esquecer também do professor Ramon Romankevicus Costa, meu
orientador de estágio, pela oportunidade.
Agradeço também às mulheres que passaram pela minha vida. Se não fosse por
elas eu não seria a pessoa que sou hoje. Aprendi coisas realmente valiosas com todas
elas. Considero-me sortudo por ter conhecido pessoas tão especiais que me ajudaram
tanto a amadurecer.
vi
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletrônico.
Sistema de Controle de Modo Comum com Alta Linearidade para Amplificadores
Operacionais Totalmente Diferenciais
Renato D’Angello Gonçalves dos Santos
Abril/2016
Orientador: Carlos Fernando Teodósio Soares
Curso: Engenharia Eletrônica e de Computação
O problema da parcela constante de tensão modo comum na saída de amplificadores
totalmente diferenciais surge dos descasamentos entre os transistores de canal P e de
canal N que formam o amplificador. Faz-se necessário um circuito de controle
realimentado de modo comum para levar essa parcela de tensão a uma tensão de
referência de projeto. A literatura revela muitos tipos diferentes de circuitos cujas
desvantagens inviabilizam seu uso neste trabalho. O controle realimentado de modo
comum proposto mostrou-se bem sucedido ao ser aplicado em amplificadores
operacionais de transcondutância, ou OTA’s, para que este consiga operar em uma
ampla faixa linear de tensão diferencial. O sistema de controle proposto tem, por objeto,
ser aplicado a OTA’s que compõem um filtro Gm-C contínuo no tempo. Portanto, este
trabalho consiste, inicialmente, no projeto do filtro, extraído de seu protótipo de rede
ladder. Depois, foram projetados os OTA’s que o compõem, para, então, ser projetado o
circuito de controle. Por último, foram feitas simulações de desempenho para esses três
sistemas.
Palavras-chave: Controle Realimentado, Modo Comum, Amplificadores Operacionais,
Alta Linearidade.
vii
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment
of the requirements for the degree of Engineer.
Commom Mode Feedback System with High Linearity for Fully Differential Amplifiers
Renato D’Angello Gonçalves dos Santos
April/2016
Advisor: Carlos Fernando Teodósio Soares
Course: Electronics and Computer Engineering
The problem of the DC portion of common mode voltage at the output of fully
differential amplifiers arises from mismatches between the P and N channel transistors
used to implement the amplifier. A common mode feedback control circuit must be
used to bring the DC common mode voltage to a reference value. There are many
different types of common-mode control circuits in the literature, whose disadvantages
are mainly related with nonlinearities. The common mode feedback control proposed in
this work has successfully been applied to an operational transconductance amplifier
(OTA), which presents a fairly linear behavior over a wide range of the differential
input voltage. This OTA, with the proposed common-mode control circuit, has also
been used in the design of a continuous-time Gm-C filter. Hence, this work is initially
concerned with the Gm-C filter design, taken from his passive ladder prototype. Then
the OTA's are designed to meet the filter specifications. Finally, numerical simulations
were carried out to verify the performance of the proposed common-mode control
system, the designed OTA and the whole Gm-C filter.
Keywords: Feedback Control, Commom Mode, Operational Amplifiers, High Linearity.
viii
Sumário
1. Introdução 1
1.1. O Problema da Tensão de Modo Comum na Saída de Amplificadores
Totalmente Diferenciais. 1
1.2. O Controle Realimentado de Modo Comum 1
1.3. Revisão bibliográfica de sistemas de CMFB em tecnologia CMOS 2
1.4. Objetivo deste trabalho: Propor uma nova topologia de CMFB 5
1.5. Metodologia e organização do trabalho 5
2. Projeto do Filtro 6
2.1. Obtenção do filtro normalizado a partir do protótipo ladder. 6
2.2. Escalamentos 7
2.3 Simulação com OTA Ideal 8
3. Projeto do OTA Real 10
3.1. Circuito do OTA 10
3.2. Projeto dos atenuadores 13
3.3. Projeto dos principais transistores do OTA 14
3.4. Projeto do circuito de polarização 17
3.5. Simulação do filtro com OTA Real e CMFB Ideal 19
4. Projeto do CMFB real 23
4.1. Apresentação do CMFB Proposto 23
4.2. Projeto dos transistores 27
4.3. Simulação do filtro com OTA e CMFB Reais 29
5. Simulações de Desempenho Pós-Projeto 33
5.1. Simulações do OTA 33
5.2. Simulações do sistema de CMFB 43
5.3. Simulações do Filtro 45
6. Conclusões 49
6.1. O Filtro Gm-C Contínuo no Tempo 49
6.2. O Circuito do OTA 49
6.3. O Controle Realimentado de Modo Comum Proposto 50
Referências bibliográficas 51
1
1. Introdução
1.1. O Problema da Tensão de Modo Comum na Saída de Amplificadores
Totalmente Diferenciais.
Amplificadores totalmente diferenciais, ou Fully Differencial Amplifiers (FDA) têm
um problema inerente ao processo de fabricação de seus componentes: transistores nMOS e
pMOS são fabricados de forma diferente, resultando em propriedades físicas diferentes entre
esses tipos de transistores, que são frequentemente usados em conjunto no projeto de
amplificadores com carga ativa. Isso provoca um descasamento entre as correntes de dreno
de transistores nMOS e pMOS que, por sua vez, produz uma indesejada parcela constante
de modo comum na saída do FDA, onde a tensão de modo comum é a média aritmética das
tensões nos terminais de saída. Essa tensão de modo comum é indesejada porque pode levar
a tensão na saída do FDA à saturação, além da tensão DC de modo comum na saída afetar
diretamente a excursão de sinal do amplificador.
Quando o objetivo é resolver o problema da tensão de modo comum, a principal
diferença entre o FDA e amplificadores operacionais com saída simples é a necessidade de
uma realimentação própria para controlar a parcela de modo comum da tensão de saída [1].
Em amplificadores com saída simples, a tensão de offset produzida na saída em virtude de
descasamentos entre as fontes de corrente nMOS e pMOS pode ser compensada através da
realimentação negativa. Entretanto, em amplificadores totalmente diferenciais isso não
funciona para a parcela DC da tensão de modo comum na saída. Isso acontece, porque o par
diferencial de entrada do amplificador rejeita a parcela de modo comum, amplificando apenas
a parcela diferencial. Assim, não adianta realimentar negativamente a tensão de modo comum,
porque o amplificador diferencial irá simplesmente rejeitá-la na entrada. O controle deve ser,
então, realizado por um circuito adicional de controle realimentado, conhecido como
Common-Mode Feedback (CMFB) ou Controle Realimentado de Modo Comum.
1.2. O Controle Realimentado de Modo Comum
As exigências principais de funcionamento e implementação para a maioria dos tipos
de CMFB são [2,3]:
2
posicionar a parcela D C de modo comum em um nível de tensão de
referência que permita a máxima excursão de sinal na saída;
processar a parcela de modo comum com a mesma velocidade e acurácia
com que a parcela diferencial é processada pelo circuito do FDA;
minimizar a interação das parcelas diferencial e de modo comum entre si, isto
é, a mútua sensibilidade entre as parcelas de tensão.
O controle é implementado com o objetivo de estabilizar a tensão de modo comum
em um valor de referência, compensando os descasamentos nas fontes de corrente nMOS e
pMOS que polarizam o circuito. Isso é feito medindo-se a tensão de modo comum na saída
do amplificador e usando essa medida para ajustar as correntes de polarização
automaticamente. Portanto, o CMFB pode ser entendido como o conjunto de dois circuitos:
um sensor para detectar a parcela de modo comum da tensão na saída e um atuador para
aplicar um sinal de correção às fontes de corrente de polarização do amplificador.
1.3. Revisão bibliográfica de sistemas de CMFB em tecnologia CMOS
Diferentes tipos de blocos sensores e de blocos atuadores podem ser encontrados na
literatura. A seguir, são listados alguns circuitos de blocos sensores, juntamente com uma
breve discussão sobre o desempenho de cada um [2], onde Vcm é a saída do sensor e os seus
terminais de entrada estão conectados à saída do FDA, Vo+ e Vo-.
O primeiro sensor de modo comum pode ser observado na Figura 1.1. Sendo uma
simples associação em série de resistores, sua linearidade é intrínseca. As desvantagens estão
na necessidade de um buffer na saída do amplificador para impedir a passagem de corrente
e a grande redução do ganho de tensão diferencial [2]. Para que isso não ocorra, o valor
dos resistores teria que ser muito alto, o que acarretaria em um grande consumo de área,
além de um grande efeito parasita do substrato [1].
vcm
R1 R2
vovo
Figura 1.1: Sensor de resistores em série.
3
Uma alternativa seria o circuito da Figura 1.2. Como amplificadores de
transcondutância possuem saída em corrente, a impedância de saída deve ser bem alta. Esse
sensor resolve o problema da redução da impedância de saída que os resistores causam no
amplificador [1] através da inserção de seguidores de fonte entre cada terminal de saída e seu
correspondente resistor. Entretanto, esses seguidores de fonte geram outro problema: eles
limitam a excursão de sinal diferencial na saída do amplificador. Admitindo um nível mínimo
de tensão permitida em qualquer um dos terminais de saída, essa tensão será a mínima exigida
sobre a fonte de corrente, somada à tensão entre porta e fonte do respectivo transistor. Isso
equivale a duas tensões de overdrive somadas à tensão de limiar do transistor. Ou seja, a
excursão de sinal na saída é reduzida o que representa uma limitação bastante significativa
em projetos de circuitos de baixa tensão.
R1 R2
I 1 I 2
VDD
VSS
vo vo
vcm
Figura 1.2: Sensor de resistores com seguidores de fonte.
A detecção da parcela de modo comum na saída também pode ser realizada através do
sensor da Figura 1.3. Entretanto, seu comportamento é altamente não linear, em virtude
das características quadráticas dos MOSFET's [2].
I I
VDD
VSS
vo vovcm
2I
Figura 1.3: Sensor com não linearidades de grau 2.
4
A Figura 1.4 revela um sensor cujos transistores operam na região de triodo, como
resistores controlados por tensão. A corrente Iin é a estimativa do modo comum. Entretanto,
efeitos de canal curto causam o aparecimento de não linearidades [3]. Além disso, o ganho
oferecido pelos transistores em triodo é muito baixo, fazendo com que a parcela DC da tensão
de modo comum na saída seja regulada em um valor bem diferente do desejado.
vovvo
I in
VSS
Figura 1.4: Transistores em triodo funcionam como resistores controlados pala tensão V.
E, por fim, a Figura 1.5 revela um sensor com um ganho bastante alto [4].
Porém, o comportamento do circuito ainda é bastante não linear e a corrente de saída Iin,
proporcional à parcela de modo comum, é consideravelmente afetada pela parcela de tensão
diferencial na saída do amplificador.
VRef
I 1 I 2
VSS
VDD
VDD
I in
vovo
Figura 1.5: Sensor de modo comum com par diferencial duplo.
5
1.4. Objetivo deste trabalho: Propor uma nova topologia de CMFB
O presente trabalho propõe uma nova topologia de CMFB, visando uma linearidade
maior do sensor de modo comum e uma menor sensibilidade à parcela diferencial da
tensão de saída do amplificador. O CMFB proposto é aplicado a um amplificador FDA
que compõe um filtro passa-baixas contínuo no tempo, realizado com técnica OTA-C.
1.5. Metodologia e organização do trabalho
Num primeiro momento, é realizado o projeto do filtro ideal, com compontentes
normalizados, a partir de um protótipo passivo ladder e, então, escalado em impedância
e frequência. Sendo ideal, seu desempenho é simulado com amplificadores FDA do tipo
OTA (Operational Transconductance Amplifier) ideais. O objetivo desse filtro é o seu
emprego como aplicação para o OTA totalmente diferencial que utiliza o sistema de CMFB
proposto neste trabalho.
Num segundo momento, o trabalho segue para o projeto do OTA real, ao nível de
transistores. Para a simulação, o filtro tem seus OTA’s ideais substituídos pelos OTA’s reais,
mantendo ainda CMFB's ideais.
Num terceiro momento, o trabalho chega na etapa principal: o projeto do CMFB real.
Seguindo uma lógica semelhante à da etapa anterior, o trabalho começa com o projeto dos
principais transistores do CMFB, partindo, então, para o circuito de polarização. Por fim, o
filtro é simulado não somente com os OTA’s reais, mas também com seus sistemas de CMFB
reais.
Por último, são feitas simulações de desempenho do OTA, do CMFB e do filtro passa-
baixas real contínuo no tempo. A tecnologia usada para a implementação do circuito foi a
CMOS 0.35µm da Austria Microsystems. A ferramenta de simulação foi o simulador Spectre
do pacote de ferramentas de projeto da Cadence.
6
2. Projeto do Filtro Ideal
2.1. Obtenção do Filtro Normalizado a partir do Protótipo Ladder
O filtro escolhido para a implementação do projeto é um filtro passa-baixas de
terceira ordem, com aproximação de Chebyshev, contínuo no tempo, do tipo Gm-C [5]. Esse
nome é devido ao fato de ser composto somente por transcondutores e capacitores. O
motivo de escolher esse tipo de filtro vem da possibilidade de empregar o transcondutor
(OTA) desenvolvido neste trabalho em uma aplicação prática.
Seu protótipo passivo foi obtido com o programa ELETSIM do professor Antônio
Carlos Moreirão de Queiroz (POLI/Coppe/UFRJ). O programa está disponível no endereço
http://www.coe.ufrj.br/~acmq/programs/. O ELETSIM gerou um protótipo passivo do tipo
ladder normalizado do filtro, utilizando-se de alguns poucos parâmetros inseridos pelo
usuário, como a ordem do filtro (foi escolhido um filtro de terceira ordem para esse projeto)
e o tamanho do ripple na banda passante (foi escolhido 1,0 db). A Figura 2.1 mostra o circuito
da rede ladder do filtro. O protótipo normalizado foi dimensionado para uma frequência de
corte de 1,0 rad/s e os valores gerados pelo programa para cada componente da rede ladder
podem ser observados na Tabela 2.1.
Tabela 2.1: Valores normalizados dos componentes da rede ladder.
Componente Valor normalizado
𝑅𝑆 1.000000000000000000
𝐶1 2.023592641890543960
𝐿2 0.994102444323563542
𝐶3 2.023592641890543960
𝑅𝐿 1.000000000000000000
RS
RLC1 C3
L 2
vin vo
Figura 2.1: Rede ladder do filtro Gm-C.
7
2.2. Obtenção do Filtro OTA-C a partir do Protótipo Ladder
O próximo passo foi a obtenção do filtro Gm-C a partir da rede ladder. Primeiro,
foi feita a substituição do ramo de entrada, composto por Vin e Rs pelo seu equivalente
de Norton. Depois, a fonte de corrente do equivalente de Norton foi implementada por
um único OTA cuja transcondutância é 1 𝑅𝑆⁄ .
Os resistores 𝑅𝑆 e 𝑅𝐿 foram implementados por dois OTA's com 𝐺𝑚= 1𝑅⁄ ,
conforme a Figura 2.2, uma vez que, fontes de corrente controladas pela tensão sobre elas
mesmas se comportam como resistores.
Iv
v v
I Gm vR s
R s
Figura 2.2: Implementação de cada um dos resistores da rede ladder por um transcondutor.
A Figura 2.3 mostra a implementação do indutor L2. O método consiste em
simular uma impedância indutiva usando um capacitor e um circuito girador, que foi
implementado com dois transcondutores. Assim, a rede enxerga uma impedância de
𝑠𝐶2𝐺𝑚
2⁄ , onde Gm = 1. O valor de C2 é numericamente igual ao valor de L2 normalizado.
Gmv2v2Gmv1
v1
1
sC2
Figura 2.3: Implementação do indutor por dois transcondutores e um capacitor.
Por fim, a Figura 2.4 ilustra o filtro Gm-C ideal final, o qual emprega uma estrutura
totalmente diferencial e é composto apenas por OTA's e capacitores, como deve ser. Os
capacitores que aparecem na figura estão com seus valores dobrados, porque foi decidido
8
usar dois capacitores para cada terminal diferencial. O motivo foi aterrar a placa inferior
(bottom plate) de cada capacitor, para diminuir efeitos parasitas associados a essas placas.
vin
vin
vo
vo
2C1
2C2
2C3
2C1
2C2
2C3
Figura 2.4: Filtro Gm-C composto por OTA’s e capacitores
2.3. Escalamentos
Os valores dos componentes da Tabela 2.1 foram obtidos para um filtro normalizado
com a frequência de corte em 1 rad/s. O próximo passo foi escalar os componentes em
impedância e em frequência. Como parâmetro, foi escolhida a frequência de corte do filtro
𝑓0 = 100 kHz. Os capacitores devem ser pequenos para implementação em circuitos
integrados. O valor de 1 pF [5] pode ser usado para OTA's com transcondutância na ordem
de nA/V. Igualando C1 = C3 = 2 pF, os capacitores de maior valor foram assim escolhidos
numa primeira tentativa. O fator de escala de impedância não pode ser muito pequeno devido
à impedância de saída do OTA em um filtro Gm-C, que deve ser muito maior que a dos
capacitores do filtro na faixa de frequência de interesse. Considerando que:
Transcondutância Gm = 1 𝑅𝑆⁄ para todos os OTA’s do filtro;
Fator de escalamento em impedância: α ;
Fator de escalamento em frequência: Ω= 2𝜋𝑓0 ;
𝑅𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜 = α𝑅𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜 ;
𝐶𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜 =C𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜
α Ω⁄ .
Então, para obtermos, então, 𝐶1,𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜 = 2 ∙ 10−12 =𝐶1
𝛼2𝜋𝑓0⁄ devemos ter um
fator de escala de impedância 𝛼 = 1,61 ∙ 106. Logo, para os dois resistores teremos
𝑅𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜 = α𝑅𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜 = 1,61 ∙ 106(1,000) = 1,61 ∙ 106. Como 𝐺𝑚 = 1𝑅𝑆
⁄ =
1𝑅𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜
⁄ = 11,61 ∙ 106⁄ → 𝐺𝑚 = 622 nA⁄V. E, lembrando que o valor de 𝐶2 é
numericamente igual ao valor de 𝐿2 temos, 𝐶2,𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑎𝑑𝑜 = 0,991,61 ∙ 106(2𝜋)𝑓0
⁄ = 0,98 pF.
9
Assim, os valores escalados dos componentes do filtro Gm-C ficaram conforme o
que está apresentado na Tabela 2.2.
Tabela 2.2: Valores escalados dos componentes da rede ladder.
Componente Valor Escalado
Gm 622 nA⁄V
C1 2 pF
C2 0.98 pF
C3 2 pF
2.4. Simulação com OTA ideal
Antes do projeto do OTA, foi feita uma simulação do filtro com OTA's ideais para
observar o resultado da escolha dos parâmetros e para posterior comparação com o resultado
do filtro com os OTA's projetados. A Figura 2.5 mostra dois gráficos: um com a resposta
em frequência para o ganho do filtro e o outro com destaque para o ganho na frequência
de corte. O ganho é de -6.02 dB em DC e de -6.972 dB para a frequência de 100 kHz. Os
resultados se mostram satisfatórios, pois o filtro foi dimendionado para apresentar 1 dB de
ripple na banda passante.
Figura 2.5: Resposta em frequência do filtro Gm-C com OTA's ideais.
102
103
104
105
106
107
108
109
-300
-250
-200
-150
-100
-50
0
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
104
105
-25
-20
-15
-10
-5
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
10
3. Projeto do OTA Real
3.1. O Circuito Proposto
Uma das questões mais importantes ao se tratar de um projeto de um amplificador
operacional de transcondutância para filtros Gm-C é a linearidade da relação entre corrente
de saída e tensão diferencial de entrada. Por essa razão, métodos de linearização devem ser
aplicados para a obtenção de uma boa faixa de operação linear, evitando distorções. O circuito
proposto para o OTA real utilizado neste trabalho está mostrado na Figura 3.1. O presente
projeto utiliza em sua topologia de entrada a técnica de realimentação negativa por
degeneração de fonte com transistor MOS (Mc), aplicada ao par diferencial (ME1 e ME2) para
melhorar a linearidade do transcondutor.
vb2
vb1
vin
VDD
VSS
VDD
VSS
vin
vo
vctrl
vb2
vb1
VDD VDDVDD VDD
VSS VSS
vb3
vb4
MB1
M C
MB3
MB2
MB4
MB5
MB7
MB6
MB8
M A1
M A2
M A3
M A4
MD1
MD3
MD2
MD4
M E1 M E2
Figura 3.1: Circuito do OTA.
O transistor Mc opera na região de triodo, funcionando como um resistor controlado
pela tensão Vctrl . Com essa técnica, a tensão que é de fato convertida em corrente é a diferença
entre a tensão diferencial de entrada e a tensão que a própria corrente de saída produz sobre o
transistor Mc, causando o efeito de realimentação negativa.
Além da linearidade, este projeto envolve baixas frequências e requer baixa
transcondutância. Sendo assim, foram escolhidos transistores pMOS para formar o par
11
diferencial de entrada devido ao fato da mobilidade dos buracos ser aproximadamente um
terço da mobilidade dos elétrons, fazendo com que a transcondutância de transistores de canal
P seja menor em relação aos de canal N.
Um método para reduzir ainda mais a transcondutância é a aplicação de atenuadores
de tensão (MA1 – MA4) entre os terminais do sinal de entrada e os terminais do par diferencial.
Além de reduzir a transcondutância do OTA, os atenuadores melhoram seu comportamento
linear. A Figura 3.2 ilustra a topologia que é usada neste projeto para cada um dos
atenuadores.
vin
VDD
VSS
M 1
M 2
vo
Figura 3.2: modelo do atenuador MOS.
Pela Figura 3.2, para o transistor M1, tem-se
𝑉𝐷𝑆1 = 𝑉𝐷𝐷 − 𝑣𝑜, (3.1)
𝑉𝐺𝑆1 = 𝑣𝑖𝑛 − 𝑣𝑜, (3.2)
𝑣𝑖𝑛 ≤ 𝑉𝐷𝐷. (3.3)
Logo, 𝑉𝐷𝑆1 > 𝑉𝐺𝑆1 − 𝑉𝑡ℎ, ou seja, M1 está na região de saturação.
E para o transistor M2, tem-se
𝑉𝐷𝑆2 = 𝑣𝑜 − 𝑉𝑆𝑆, (3.4)
𝑣𝑜 = 𝑣𝑖𝑛 − 𝑉𝐺𝑆1, (3.5)
𝑉𝐺𝑆2 = 𝑣𝑖𝑛 − 𝑉𝑆𝑆. (3.6)
Como 𝑉𝐺𝑆 > 𝑉𝑡ℎ para ambos os transistores, teremos 𝑉𝐷𝑆2 < 𝑉𝐺𝑆2 − 𝑉𝑡ℎ, ou seja, M2
está na região de triodo.
12
Analisando agora as corrente de dreno dos transistores, que serão iguais devido ao fato
de estarems ligados em série no circuito, teremos
𝐼𝐷1 =1
2𝑘𝑛
𝑊1
𝐿1(𝑉𝐺𝑆1 − 𝑉𝑡ℎ)2, (3.7)
𝐼𝐷2 = 𝑘𝑛𝑊2
𝐿2[(𝑉𝐺𝑆2 − 𝑉𝑡ℎ)𝑉𝐷𝑆2 −
1
2𝑉𝐷𝑆2
2], (3.8)
𝐼𝐷1 = 𝐼𝐷2. (3.9)
Logo, 𝑣𝑜 = (𝑣𝑖𝑛 − 𝑉𝑆𝑆 − 𝑉𝑡ℎ) (1 − √𝑅
𝑅+1) + 𝑉𝑆𝑆, onde R =
𝑊2𝐿2
⁄
𝑊1𝐿1
⁄. Uma vez que R
depende apenas dos parâmetros dos transistores, nota-se que a relação entre tensão de saída e
de entrada é linear, cujo fator de atenuação é 𝜕𝑣𝑜
𝜕𝑣𝑖𝑛= 1 − √
𝑅
𝑅+1. Além disso, o atenuador
apresenta uma elevada impedância de entrada e uma baixa impedância de saída. Essa baixa
impedância de saída contribui para diminuir o ruído na saída do atenuador.
Um problema inerente ao uso desse atenuadores é a presença de uma tensão de offset
na saída dos mesmos que é dada por 𝑣𝑜|𝑣𝑖𝑛=0 = −(𝑉𝑆𝑆 + 𝑉𝑡ℎ) (1 − √𝑅
𝑅+1) + 𝑉𝑆𝑆. Observa-se
que quanto menor o ganho, mais próximo o valor da tensão de offset estará do valor de 𝑉𝑆𝑆.
Sendo assim, decidiu-se para este projeto uma topologia de saída em cascode dobrado
(MB5 – MB8 e MD1 – MD4). Essa topologia permite que a tensão de modo comum nos terminais
de porta dos transistores do par diferencial atinja 𝑉𝑆𝑆 sem que estes transistores entrem na
região de triodo, fazendo com que o problema de offset se transforme em duas vantagens.
A primeira vantagem é uma ampla faixa de ajuste de transcondutância do OTA. Uma
vez que a tensão de modo comum na entrada do par diferencial será próxima a 𝑉𝑆𝑆, a tensão
DC no dreno e na fonte do transistor de degeneração Mc será baixa. Como esse transistor é de
canal N, isso permite uma ampla faixa de valores para a tensão Vctrl tal que 𝑉𝐺𝑆 > 𝑉𝑡ℎ,
permitindo por sua vez, uma ampla faixa de ajuste para a trascondutância do OTA.
A segunda vantagem é o uso da estrutura de cascode para a implementação das fontes
de corrente que polarizam o par diferencial. Isso é permitido devido novamente à baixa tensão
de modo comum na entrada do par diferencial, pois há tensão suficiente para manter na
saturação os transistores MB1 – MB4. A configuração cascode permite que a impedância da
fonte de corrente seja alta. Logo, a rejeição a tensões de modo comum do OTA também será
alta. Esse fato é de extrema importância para essa topologia, já que a tensão de offset dos
13
atenuadores depende de 𝑉𝑡ℎ que, por sua vez sofre alterações com as variações dos parâmetros
de processo e com o efeito de corpo.
O uso do cascode dobrado na saída do OTA proporciona ainda uma outra vantagem:
essa topologia faz com que os nós de saída do OTA sejam os únicos com alta impedância. Isso
garante a estabilidade do OTA em malha fechada, sem a necessidade de circuitos de
compensação, uma vez que a resposta em frequência do OTA em malha aberta terá, então, seu
pólo dominante determinado pela impedância de saída do OTA e pelos capacitores do filtro.
As tensões de polarização Vb1 – Vb4 são provenientes do circuito de polarização do
OTA que será apresentado na Seção 3.4.
3.2. O Projeto dos atenuadores
O dimensionamento de todos os transistores que compõem os circuitos deste trabalho
foram realizados utilizando simulações que aplicam o modelo BSIM3v3 para todos os
MOSFET’s, o que claramente produz resultados mais acurados se comparados com modelos
matemáticos simples que podem ser resolvidos manualmente.
O OTA proposto para implementar o filtro neste trabalho [5] será alimentado por uma
tensão 𝑉𝐷𝐷 = −𝑉𝑆𝑆 = 1,5 V. Os atenuadores foram inicialmente simulados em um modelo
como o da Figura 3.2, com essas tensões de alimentação e ainda com 𝑉𝑖𝑛 = 1,5 V, fazendo
com que o atenuador funcione no seu pior caso de consumo de potência. O transistor M2 foi
implementado com dois transistores MOSFET’s iguais ao transistor M1 em paralelo. Assim,
o fator de atenuação fica um pouco maior que 5 vezes. Foram, então, obtidos por simulação
os valores de L e W do transistor unitário a ser implementado em M1 e M2 de modo a produzir
uma corrente 𝐼𝐷 máxima de 10 μA. A razão de escolha dessa corrente é para garantir um
consumo de potência adequado ao projeto e, ao mesmo tempo, evitar que os transistores M1
e M2 tenham que ser implementados com um comprimento muito grande. Os resultados estão
listados na Tabela 3.1, com as referência aos transistores finais do atenuador da Figura 3.1,
ou seja, M1 = MA1 ou MA3 e M2 = MA2 ou MA4.
Tabela 3.1: Valores dos parâmetros dos transistores dos atenuadores.
Transistores W L
MA1, MA3 1 𝜇𝑚 10 𝜇𝑚
MA2, MA4 2 𝜇𝑚 10 𝜇𝑚
14
3.3 Projeto dos Principais Transistores do OTA
Para facilitar o projeto dos demais transistores [5], com exceção do transistor de
degeneração Mc, todos foram dimensionados com o mesmo valor para o comprimento de canal,
ou seja, 𝐿𝑝 = 𝐿𝑁 = 5 μm. Esse comprimento, além de melhorar o casamento entre os
transistores após a suas fabricação em silício, também ajuda a minimizar os efeitos de canal
curto nos MOSFET’s, proporcionando uma impedância de saída elevada aos espelhos de
corrente.
Para o dimensionamento dos transistores do tipo pMOS MB1 – MB8 na Figura 3.1, foi
adotado um circuito de simulação semelhante ao mostrado na Figura 3.3. Para o modelo foi
aplicada a ligação entre fonte e substrato fazendo 𝑉𝑆 = 𝑉𝐵 = 1,5 V.
VS
VB
VDVG
Figura 3.3: Modelo adotado para simulação dos transistors de canal P.
Para encontrar com boa precisão o valor da tensão de limiar 𝑉𝑡ℎ do modelo, foi feita
inicialmente uma simulação com 𝑉𝐺 = 𝑉𝐷 = 0,5 V e 𝑉𝑆 = 𝑉𝐵 = 1,5 V. Esse valores foram
assim arbitrados para garantir a condição de saturação do transistor. Foi, então, obtido o valor
de aproximadamente 𝑉𝑡ℎ = −0,71 V que, por sua vez, foi substituido na equação que modela
a relação entre as tensões nos terminais do transistor da Figura 3.3, que é dada por 𝑉𝐺 = 𝑉𝑆 −
(𝑉𝑂𝑉 + |𝑉𝑡ℎ|), onde 𝑉𝑂𝑉 é a tensão de overdrive do transistor. O valor de 𝑉𝑂𝑉 foi fixado em
0,2 V pois esse valor é o mínimo para garantir que o transistor opere na região de inversão
forte. Como resultado, 𝑉𝐺 = 0,59 V.
Considerando apenas os transistores ligados à fonte 𝑉𝐷𝐷 no circuito da Figura 3.1,
adotaremos 𝑉𝐷 = 1,2 V, fixando |𝑉𝐷𝑆| = 0,3 V. Esse valor foi assim escolhido para garantir
que o transistor opere na região de saturação, com uma folga de 0,1 V e ainda permita uma boa
excursão de sinal na saída do OTA.
15
Com todos os valores fixos para as fontes de tensão do modelo do transistor, pode-se
fazer, finalmente, o seu dimensionamento. Foi realizada uma simulação de varredura DC para
gerar a curva da corrente de dreno 𝐼𝐷 em função da largura W do transistor. O W foi escolhido
de modo a produzir um valor de 𝐼𝐷 que garantisse a máxima excursão de sinal de corrente na
saída do OTA. Como a alimentação do circuito do OTA é de ± 1,5 V, então a máxima tensão
diferencial possível na entrada será 𝑉𝑑,𝑚𝑎𝑥 = 1,5 − (−1,5) = 3,0 V. Consequentemente, a
máxima corrente que se espera obter na saída do OTA será 𝐼𝑜𝑢𝑡,𝑚𝑎𝑥 = 𝐺𝑚 ∙ 𝑉𝑑,𝑚𝑎𝑥 =
1,866 μA, que é a corrente mínima que devemos garantir na polarização do cascode dobrado.
Para garantir uma boa folga e, consequentemente, uma boa linearidade da transcondutância,
foi, então, determinado para o projeto o valor 𝐼𝐷 = 3 μA para a corrente de polarização. Como
resultado temos 𝑊 = 12,5 μm. A Figura 3.4 mostra a curva da varredura DC extraída para
determinar a largura W do transistor.
Figura 3.4: Corrente de polarização em função da largura do transistor.
Para os transistores do tipo nMOS MD1 – MD4 do cascode dobrado, foi realizado um
procedimento análogo ao descrito para os transisores pMOS, com um modelo adequado para
transistores de canal N, onde agora, 𝑉𝑆 = 𝑉𝐵 = −1,5 V, 𝑉𝐷 = −1.2 V e 𝑉𝐺 = 𝑉𝑆 + (𝑉𝑂𝑉 +
𝑉𝑡ℎ). Os valores da tensão de overdrive e |𝑉𝐷𝑆| foram mantidos, visando uma simetria na
polarização das fontes de corrente do OTA. Consequentemente, foi adotado o mesmo valor de
𝐼𝐷, obtendo-se 𝑊 = 3,6 μm.
Os transisores MD3 e MD4 porém, como pode ser visto no circuito do OTA na Figura
3.1, recebem uma corrente de dreno 𝐼𝐷 = 3 μA proveniente das fontes de corrente ligadas ao
par diferencial de entrada e uma corrente de dreno de mesmo valor proveniente das fontes de
corrente ligadas aos terminais de saída do OTA, totalizando 6 μA para cada um desses
0 0.5 1 1.5 2 2.5
x 10-5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
5x 10
-6
Largura (m)
Corr
ente
de p
ola
rização (
A)
16
transistores. Logo, os transisores MD3 e MD4 devem ter uma largura igual ao dobro da largura
dos transistores MD1 e MD2. Assim, para MD3 e MD4, temos 𝑊 = 7,2 μm.
Para o par diferencial ME1 – ME2, a preocupação principal foi pensar em como a
corrente de saída pode ficar menos dependente do 𝑉𝐺𝑆 dos transistores do par e,
consequentemente, a transcondutância do OTA fique mais dependente do transistor de
degeneração, sem prejudicar a linearidade, pois a corrente de dreno varia quadraticamente com
𝑉𝐺𝑆. Assim, foi feita uma simulação de varredura DC para encontrar uma largura W
correspondente a uma transcondutância com uma boa faixa linear. Como resultado, foi obtido
um 𝑊 = 10 μm, o que faz sentido, já que com um valor grande de W, a variação de 𝐼𝐷 afeta
menos o valor de 𝑉𝐺𝑆.
Por fim, resta dimensionar o transistor de degeneração MC. Nessa etapa, foi feita mais
uma simulação com varredura, mas agora a largura de canal foi fixada em 1 μm e o
comprimento L foi o parâmetro variado. Isso foi feito para garantir uma transcondutância
pequena. O valor de L será, então, aquele em que o OTA exibirá a transcondutância
especificada para o filtro de 622 nA/V. Entretanto, no circuito real, esse valor não será
verificado, pois o circuito integrado sofrerá com os desvios dos parâmetros de fabricação.
Como solução, é incluída a tensão 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙 para permitir o ajuste da transcondutância no OTA
fabricado, seja para um valor maior ou menor do que 622 nA/V, que vai depender do valor de
ajuste de 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙. Para o presente projeto, o valor padrão é 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙 = 1 V. Esse valor foi especificado
pois espera-se que essa tensão fique no meio da faixa de valores que ela pode assumir sem
cortar o transistor de degeneração. O resultado da simulação mostra que o valor do
comprimento deve ser 𝐿 = 10 μm. A Tabela 3.3 lista os valores finais dos principais
transistores do OTA.
Tabela 3.3: Dimensionamento dos principais transistores do OTA.
Transistor W L
MB1 - MB8 12,5 μm 5 μm
MD1 – MD2 3,6 μm 5 μm
MD3 – MD4 7,2 μm 5 μm
ME1 – ME2 10 μm 5 μm
MC 1 μm 10 μm
17
3.4 Projeto do Circuito de Polarização
Para consolidar o projeto do OTA resta ainda o projeto do circuito que fornecerá as
suas tensões de polarização 𝑉𝑏1 − 𝑉𝑏4, mencionadas ao final da Seção 3.1 e mostradas no
circuito do OTA da Figura 3.1. O circuito de polarização foi projetado com espelhos de
corrente do tipo cascode de alta compliância [5], que permitem uma excursão de sinal maior
do que espelhos cascode comuns. As Figuras 3.4 (a) e (b) mostram circuitos usados para a
polarização do OTA.
vb1
vb2
VDD VDD
VSS VSS
IB IB
MA1
MA3
VDD VDD
vb3
vb4
MB1
MB2
MB3
VSS VSS
IB IB
MA2
(a) (b)
Figura 3.5: Modelos de espelho cascode de alta compliância usando transistores pMOS (a) e nMOS (b).
Numa primeira etapa, foram feitos dois procedimentos com o circuito da Figura 3.5
(a). Primeiro, foi feito um modelo de simulação com o transistor unitário MA1. O procedimento
de simulação foi semelhante ao da Figura 3.3 para o transistor unitário MB1 do OTA.
Novamente foi fixado o valor de 𝑉𝑂𝑉 = 0,2 V para a tensão de overdrive e o valor da tensão
|𝑉𝐷𝑆| = 0,3 V para todos os transistores, para mantê-los na saturação com 0,1 V de folga. Essas
tensões também são aplicadas aos transistores que irão implementar as fontes de corrente.
Também foi adotado como comprimento de canal 𝐿𝑝 = 𝐿𝑁 = 5 μm. A corrente 𝐼𝐵 será 3 μA,
já que essa é a corrente de polarização do circuito do OTA. Como 𝑉𝐷𝐷 = 1,5 V, para o
transistor MA1 temos, então, 𝑉𝑆 = 1,2 V, 𝑉𝐺 = 𝑉𝐷𝐷 − (𝑉𝑂𝑉 + |𝑉𝑡ℎ|), 𝑉𝐷 = 𝑉𝐷𝐷 − |𝑉𝐷𝑆| e
𝑉𝐵 = 𝑉𝐷𝐷. Para descobrir a tensão de limiar, novamente foi imposta a região de saturação para
o transistor, dando como resultado 𝑉𝑡ℎ = −0,780 V. Então, o dimensionamento pode ser feito
com simulação de varredura DC para encontrar o valor da largura W para os transistores MA1
e MA2 pois, como formam o espelho de alta compliância, eles serão iguais. Como resultado,
temos 𝑊 = 12,5 μm. Agora a tensão de porta do transistor MA3 também é conhecida e é dada
por 𝑉𝑏2 = 𝑉𝐷𝐷 − (|𝑉𝐷𝑆| + 𝑉𝑂𝑉 + |𝑉𝑡ℎ|) = 0,22 V.
18
O segundo procedimento foi feito com o transistor MA3. Agora, com o valor de 𝑉𝑡ℎ
conhecido para os transistores de canal P, temos 𝑉𝐵 = 𝑉𝑆 = 𝑉𝐷𝐷, 𝑉𝐺 = 𝑉𝐷 = 𝑉𝑏2. Finalmente,
pode ser feito o dimensionamento dos transistores, fazendo uma simulação de varredura DC
para encontrar a lagura W para o ponto de 𝐼𝐵 = 3 μA. Como resultado, temos 𝑊 = 2 μm.
A segunda etapa consiste em fazer um procedimento análogo com o circuito mostrado
na Figura 3.5 (b). Para MB2, 𝑉𝑆 = 𝑉𝑆𝑆, 𝑉𝐵 = 𝑉𝑆𝑆, 𝑉𝐺 = 𝑉𝑆𝑆 + 𝑉𝑂𝑉 + 𝑉𝑡ℎ e 𝑉𝐷 = 𝑉𝑆𝑆 + 𝑉𝐷𝑆. A
tensão de limiar para os transistores nMOS é 𝑉𝑡ℎ = 0,6 V. Finalmente, para o transistor MB3
temos 𝑉𝑆 = 𝑉𝐵 = 𝑉𝑆𝑆 e 𝑉𝐺 = 𝑉𝐷 = 𝑉𝑆𝑆 + 𝑉𝐷𝑆 + 𝑉𝑂𝑉 + 𝑉𝑡ℎ. Para os transistores MB1 e MB2 uma
largura 𝑊 = 3,6 μm e, por fim, para o transistor MB3, temos 𝑊 = 0,75 μm.
O próximo passo foi implementar as fontes de corrente. Todas foram implementadas
em topologia cascode. Na Figura 3.5 (a) as fontes foram implementadas com transistores
nMOS e, na Figura 3.5 (b), com transistores pMOS. Novamente, foram feitas mais simulações
de varredura. Para as fontes de corrente de canal N temos 𝑊 = 5,3 μm e, para as fontes de
corrente de canal P, temos 𝑊 = 13,3 μm.
Por fim, foi incluido mais um circuito que envolve uma fonte de corrente que é externa
a este projeto. Essa fonte 𝐼𝐸𝑥𝑡 = 3 μA irá fornecer a corrente para o circuito de polarização. Os
transistores de canal N e canal P desse circuito foram dimensionados de forma idêntica aos
seus respectivos transistores que implementam as fontes de corrente dos circuitos exibidos na
Figura 3.4 e, consequentemente, são idênticos a estes. A Tabela 3.4 lista os valores finais para
todos os transistores do circuito de polarização do OTA que é mostrado na Figura 3.6.
Tabela 3.4: Valores finais dos transistores do circuito de polarização do OTA.
Transistor W L
MP15 – MP16 12,5 μm 5 μm
MP17 2 μm 5 μm
MP18 – MP19 3,6 μm 5 μm
MP20 0,75 μm 5 μm
MP1 – MP4, MP11 – MP14 5,3 μm 5 μm
MP5 – MP10 13,3 μm 5 μm
19
vb1
vb2
VDD VDD
VSS VSS
VDD VDD
vb4
VSS VSS
vb5
vb6
vb7
vb3
vb8
vb8
vb7
VDD VDD
VSS VSS
vb5
vb6
IExt
MP11 MP1
MP2
M P3
M P4
M P5
M P6
M P7
M P8
M P9
MP10
MP18
MP19
MP20
MP12
MP13
MP14
MP15
MP16 MP17
Figura 3.6: Circuito de polarização do OTA.
O circuito funciona da seguinte forma: a fonte externa de corrente 𝐼𝐸𝑥𝑡 fornece a
corrente para o circuito de polarização. Essa corrente é espelhada para MP3 – MP4 e MP11 – MP14
através do espelho formado por esses transistores. Essa corrente é ainda espelhada através de
MP5 – MP6 para MP7 – MP10. Assim, graças aos espelhos de alta compliância MP15 – MP17 e MP18
– MP20, a corrente é espelhada para o circuito do OTA fornecendo as tensões de polarização
𝑉𝑏1 − 𝑉𝑏4. Como as tensões 𝑉𝑏5 − 𝑉𝑏8 são localizadas dentro do circuito de polarização
apenas, bastou usar espelhos cascodes comuns já que, é no circuito do OTA que é necessária
uma ampla excursão de sinal.
3.5 Simulação do Filtro com OTA Real e CMFB Ideal.
Neste momento serão mostrados os resultados de simulação obtidos para o filtro com
o OTA real projetado e o CMFB ideal. Demais simulações de desempenho e resultados para o
OTA e CMFB reias serão mostrados no Capítulo 5. O modelo para o CMFB ideal que foi
usado nas simulações está ilustrado na Figura 3.7, onde 𝑅 = 10 kΩ e 𝐾1 = 1.
vo
vo
R
R
CMFBvcm
vB
K 2
K 1
K 1
Figura 3.7: Modelo ideal de CMFB.
20
O ganho 𝐾2 = 50 foi escolhido com esse valor para que seja suficientemente pequeno
para não causar problemas de convergência de simulação e grande o suficiente para minimizar
o erro de tensão de modo comum na saída em regime permanente. A tensão 𝑉𝐵 = 0,59 V faz
o papel da tensão 𝑉𝑏1 de porta dos transistores MB5,6 do circuito do OTA, cujo cálculo foi
mostrado na Seção 3.3 (𝑉𝐺 = 0,59 V).
Primeiro, através de uma simulação DC, foi obtida a tensão DC nos terminais de saída
do OTA com o CMFB ideal, para se ter uma idéia do que esperar para o desempenho do
CMFB. O resultado foi 𝑉𝑜𝑢𝑡 = 13,83 μV, o que revela um desempenho bastante satisfatório
para este projeto.
Em seguida, foi feita a varredura DC da tensão diferencial de entrada para valores de
Vctrl que vão de 0,8 V até 1,5 V com passo de 0,1 V. Como mostra a Figura 3.8, foram geradas
duas curvas em função dessa tensão: a (a) corrrente na saída do OTA e (b) sua
transcondutância.
A corrente de saída mostra um comportamento bastante linear na faixa de tensão
diferencial de ±2,5 V. Além disso, a corrente chega a um máximo de ± 1,16 μA para ±1,5 V
com 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙 = 1 V, e o valor de corrente é nulo para uma tensão nula.
(a)
-3 -2 -1 0 1 2 3-3
-2
-1
0
1
2
3x 10
-6
Tensão diferencial de entrada (V)
Corr
ente
de s
aíd
a (
uA
)
Vctrl = 0,8 V
Vctrl = 0,9 V
Vctrl = 1,0 V
Vctrl = 1,1 V
Vctrl = 1,2 V
Vctrl = 1,3 V
Vctrl = 1,4 V
Vctrl = 1,5 V
21
(b)
Figura 3.8: Varredura DC para diferentes valores de Vctrl. Em (a) tem-se a curva da corrente de saída
do OTA e em (b) a curva da transcondutância do OTA em função da tensão diferencial de entrada.
Como 𝐺𝑚 =𝑑𝑖𝑜𝑢𝑡
𝑑𝑣𝑑, pode-se observar que o valor da transcondutância aumenta com o
aumento da inclinação da curva de corrente, variando de 406,8 nA/V para 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙 = 0,8 V até
1099 nA/V para 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙 = 1,5 V. Para 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙 = 1,0 V, 𝐺𝑚 = 784,9 nA/V.
Outro parâmetro importante a ser medido nesse momento é a distorção harmônica
produzida pelo transcondutor. A Figura 3.9 mostra o gráfico do THD (Total Harmonic
Distortion) da corrente na saída do OTA em função da amplitude da tensão diferencial de
entrada. Para que seus principais harmônicos pentençam à banda passante do filtro, foi usado
um sinal de entrada com frequência de 1,0 kHz para a simulação. Pode-se observar que há duas
taxas diferentes de crescimento, uma antes e uma depois de aproximadamente 1,5 V. Logo
depois desse limiar, a distorção atinge 1% para uma tensão de aproximadamente 1,9 V.
Figura 3.9: THD da corrente na saída em função da tensão diferencial de entrada do OTA.
-2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5
2
4
6
8
10
12
x 10-7
Tensão diferencial de entrada (V)
Tra
nscondutâ
ncia
(nA
/V)
Vctrl = 0,8 V
Vctrl = 0,9 V
Vctrl = 1,0 V
Vctrl = 1,1 V
Vctrl = 1,2 V
Vctrl = 1,3 V
Vctrl = 1,4 V
Vctrl = 1,5 V
0 0.5 1 1.5 2 2.50
1
2
3
4
5
6
Tensão diferencial de entrada (V)
TH
D (
%)
22
Por último, verificou-se a resposta em frequência do filtro com o OTA projetado. A
Figura 3.10 (a) mostra a curva do ganho em dB para valores diferentes de 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙, variando entre
0,8 V e 1,5 V em um passo de 0,1 V. Pode-se observar, com a Figura 3.10 (b), que a frequência
de corte do filtro passa-baixas aumenta com o aumento de 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙, deslocando a curva para a
direita, de 59 kHz até aproximadamente 160 kHz. Mudando o valor de 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙 muda-se a
transcondutância dos OTA’s provocando uma ligeira variação no ganho. Esse efeito se deve
ao fato de que os trancondutores possuem uma impedância de saída finita que permanece fixa
perante o ajuste da transcondutância, isso afeta o fator de qualidade dos pólos, que não fica
inalterado com o ajuste de 𝑉𝑐𝑡𝑟𝑙.
(a)
(b)
Figura 3.10: Resposta em frequência do filtro Gm-C com OTA’s reais e CMFB’s ideais.
104
105
106
107
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
X: 1230
Y: -6.041
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
Vctrl = 0.8 V
Vctrl = 0.9 V
Vctrl = 1.0 V
Vctrl = 1.1 V
Vctrl = 1.2 V
Vctrl = 1.3 V
Vctrl = 1.4 V
Vctrl = 1.5 V
105
-9.5
-9
-8.5
-8
-7.5
-7
-6.5
-6
-5.5
-5
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
Vctrl = 0.8 V
Vctrl = 0.9 V
Vctrl = 1.0 V
Vctrl = 1.1 V
Vctrl = 1.2 V
Vctrl = 1.3 V
Vctrl = 1.4 V
Vctrl = 1.5 V
23
4. Projeto do CMFB Real
4.1. O Circuito do CMFB
Como foi explicado no Capítulo 1, este projeto requer um controle realimentado de
modo comum para controlar a tensão de saída do OTA, já que uma realimentação simples não
funcionaria, pois a entrada do OTA rejeita a parcela de modo comum da tensão de saída. Foi
também explicado que a parcela DC de modo comum na saída dos FDA’s é causada pelos
descasamentos entre transistores de canal N e os de canal P nas fontes de corrente de saída do
amplificador, pois o processo de fabricação de transistores do tipo N é diferente do empregado
para os transistores do tipo P.
O circuito do CMFB proposto para este projeto pode ser entendido como possuindo
três partes. A primeira está ilustrada na Figura 4.1. Pode-se observar na figura um sensor de
modo comum, formado pelos transistores M11 – M16, que se conecta com os terminais de saída
do OTA Vo+ e Vo- , e também se conecta com uma fonte de corrente (M17 – M18) e espelhos
de corrente (M19 – M20) que levam a corrente de controle para um espelho de alta compliância
(M21 – M22) ligados à saída do CMFB (porta de M21).
‘
vb9
vo vo
vo vo
VSS VSSVSS VSS
VDD VDD VDD VDD VDD
VSS
CMFBM11 M12
M15 M16
M13
M14
M17
M18
M19
M20
M21
M22
M23
M24
M26
M27
M25
vb10 vb11
vb12
vb13
vb14
vb2
Figura 4.1: Diagrama esquemático mostrando do sensor de modo comum à saída do CMFB real.
Apesar de transistores de um mesmo tipo serem bem casados entre si, sejam do tipo
P ou do tipo N, transistores de tipos diferentes entre si não o são. Uma consequência, que é o
motivo principal do surgimento da tensão de modo comum na saída do OTA, é o descasamento
entre as correntes de dreno desses transistores, 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 ≠ 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑁, na Figura 4.2.
24
Como hipótese, pode-se supor que o descasamento entre transistores do tipo P e do
tipo N no cascode dobrado do circuito do OTA na Figura 4.2, resultou em 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 > 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑁 ∴
𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 − 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑁 = ∆𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠 > 0. Existe ainda uma impedância de saída do cascode dobrado,
formado por MB5 e MB7 que é dada por 𝑅𝑜𝑃 = 𝑟𝑜7 + 𝑟𝑜5 + 𝑔𝑚7𝑟𝑜7𝑟𝑜5 em paralelo com a
impedância formada por MD1 e MD3 dada por 𝑅𝑜𝑁 = 𝑟𝑜1 + 𝑟𝑜3 + 𝑔𝑚1𝑟𝑜1𝑟𝑜3, formando, então,
𝑅𝑜 = 𝑅𝑜𝑃//𝑅𝑜𝑁. O mesmo valor de impedância existe quando são analisados os transistores
do ramo da direita do cascode dobrado. Consequentemente, quando o excedente de corrente
∆𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠 circula pela impedância de saída 𝑅𝑜 surge uma tensão DC positiva nas saídas Vo+ e Vo-
do OTA, igual a (∆𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠) 𝑅𝑜. Como a tensão DC é a mesma nas duas saídas, caracteriza-se
como uma componente DC de modo comum nas saídas diferenciais do OTA.
vo
vb2
CMFBVDD VDD
VSS VSS
vb3
vb4
MB5
MB7
MB6
MB8
MD1
MD3
MD2
MD4
vo
Par diferencial Par diferencial
I BiasP I BiasP
I BiasN
I Bias
I BiasN
I Bias
Figura 4.2: Saída do OTA em cascade dobrado. A diferença de corrente afeta a tensão DC nos
terminais de saída do OTA. Esses terminais são ligados ao circuito do CMFB através do circuito sensor de
modo comum da Figura 4.1. O terminal de saída denominado “CMFB” no circuito do CMFB se liga ao cascode
dobrado pelas portas dos transistores MB5 e MB7.
Essa parcela DC da tensão de modo comum na saída do OTA será comparada com a
tensão de referência para a parcela de modo comum requerida para o projeto, que é 0 V. Isso
pode ser observado na segunda parte do circuto do CMFB que é ilustrada na Figura 4.3, onde
os transistores M1 e M2 têm suas portas ligadas ao terra e os transistores M13 e M3 têm suas
portas ligadas entre si e polarizadas em 𝑉𝑏9, assim como M9 e M10 têm suas portas ligadas ao
terra e os transistores M8 e M14 têm suas portas conectadas entre si e polarizadas em 𝑉𝑏10. Isso
se trata de um espelho de corrente, onde a corrente em M1 – M3 é espelhada para M11 – M13 e a
corrente em M8 – M10 é espelhada para M14 – M16. Assim, se o modo comum em Vo+ e Vo- for
25
diferente de zero, haverá uma diferença na corrente do sensor de modo comum em relação à
referência dada pelo espelho. Aqui, os transistores M4 – M7 exercem o papel de fontes de
corrente de polarização DC, que fornecem a corrente de referência dos espelhos.
M1
vb9
vb10
vo vo
vo vo
VSS VSS VSS VSSVSS
VDD VDD VDD VDD VDD
vb9
M2
M3
M4
M5
M6
M7
M8
M9 M10
M11 M12
M15 M16
M13
M14vb10vb11
vb12
vb13
vb14
Figura 4.3: Transistor de canal P do circuito de polarização se liga ao de canal P do sensor (M3 e M13).
Analogamente, o de canal N do circuito de polarização se liga ao de canal N do sensor (M4 e M14).
Observando agora a Figura 4.4, inicialmente teríamos uma corrente nula ∆𝐼 = 𝐼𝑃 −
𝐼𝑁 = 0 no ramo que liga os drenos dos transistores M13 e M18 e 𝐼𝑃 = 𝐼𝑁. Porém, a tensão DC
de modo comum que surge na saída do OTA faz elevar o nível de tensão nas portas dos
transistores M11, M12, M15 e M16, fazendo com que a tensão 𝑉𝐺𝑆 desses quatro transistores
mude: a tensão nos de canal P diminui, enquanto que nos de canal N aumenta. Como
consequência, a corrente 𝐼𝑃 no transistor M13 diminui e a corrente 𝐼𝑁 no transistor M14 aumenta,
fazendo com que surja uma corrente ∆𝐼 > 0.
IIP
IN
I x I
‘
vb9
vo vo
vo vo
VSS VSSVSS VSS
VDD VDD VDD VDD VDD
VSS
CMFBM11 M12
M15 M16
M13
M14
M17
M18
M19
M20
M21
M22
M23
M24
M26
M27
M25
vb10 vb11
vb12
vb13
vb14
I x II x vb2
Figura 4.4: caminho da corrente desde o circuito sensor até a saída do CMFB.
Tem-se ainda uma corrente constante 𝐼𝑋 devido à fonte de corrente de polarização
formada por M17 e M18. Com ∆𝐼 > 0, a corrente nos transistores M19 e M20 diminui de 𝐼𝑋 para
26
𝐼𝑋 − ∆𝐼. Essa diminuição se propaga, então, até os transistores M21 – M24. Como as portas de
M21 e M22 estão ligadas à saída do CMFB, essa corrente é espelhada até o circuito do OTA
através do terminal “CMFB” no circuito da Figura 4.2. Finalmente, a corrente 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃, que
inicialmente ficara maior devido ao descasamento entre os transistores de canal N e P, é
corrigida, sendo diminuída até que se tenha 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 = 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑁 e ∆𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠 = 0, levando a tensão DC
de modo comum na saída do OTA ao valor de referência de 0 V.
Uma segunda hipótese é que se tenha 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 < 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑁 ∴ 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 − 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑁 = ∆𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠 < 0.
O caso aqui é totalmente análogo à primeira hipótese, onde ∆𝐼 < 0 e 𝐼𝑃 > 𝐼𝑁, fazendo com
que 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 seja aumentada até compensar o erro de descasamento inicial.
A Figura 4.5 mostra a terceira parte do circuito do CMFB. A fonte de corrente é
externa ao circuito e seu projeto foge ao escopo deste trabalho. Essa fonte fornece a polarização
do circuito do CMFB. A corrente 𝐼𝐸𝑥𝑡 é copiada pelo espelho formado pelos transistores M28
e M29 até os transistores M30 – M33 fixando as tensões 𝑉𝑏11 − 𝑉𝑏14. A corrente é, então,
espelhada de M28 e M29 para M26 e M27 na Figura 4.4, e para M4 e M5 na Figura 4.3, e também
espelhada de M30 e M31 para M17 e M18 e para M5 e M6 na Figura 4.3.
VDD
‘
VSS VSS
VDD
M28
M29
M32
M33
M31
M30
IExt
vb11
vb12
vb13
vb14
Figura 4.5: fonte de corrente externa ao projeto polariza o circuito do CMFB.
Por fim, a Figura 4.6 mostra o circuito do CMFB completo (a) e o circuito do OTA
(b) para ilustrar as conexões entre os dois circuitos.
27
M1
‘
vb9
vb10
vo vo
vo vo
VSS VSS VSS VSSVSS VSSVSS
VDD VDD VDD VDD VDD VDD
vb9
VDD VDD
VSS
VDD
‘
VSS VSS
VDD
CMFBM2
M3
M4
M5
M6
M7
M8
M9 M10
M11 M12
M15 M16
M13
M14
M17
M18
M19
M20
M21
M22
M23
M24
M26
M27
M28
M29
M25
M32
M33
M31
M30
IExt
vb10vb11 vb11
vb11
vb12
vb12vb12
vb13vb13vb13
vb14 vb14 vb14
vb2
(a)
vb2
vb1
vin
VDD
VSS
VDD
VSS
vin
vo
vctrl
vb2
CMFBVDD VDDVDD VDD
VSS VSS
vb3
vb4
MB1
M C
MB3
MB2
MB4
MB5
MB7
MB6
MB8
M A1
M A2
M A3
M A4
MD1
MD3
MD2
MD4
M E1 M E2
(b)
Figura 4.6: Circuitos do CMFB (a) e do OTA (b).
4.2. Projeto dos Transistores
A topologia que envolve os transistores M11, M12, M15 e M16 foi determinada para que
as correntes 𝐼𝑃 e 𝐼𝑁 sejam dependentes apenas da parcela de modo comum na tensão de saída
do OTA. Logo, estes transistores devem operar na região de triodo. Para ilustrar essa relação
entre a corrente produzida por esses transistores e a parcela de modo comu na saída, tenha-se
como exemplo a corrente 𝐼𝑁 que passa pelo par de transistores M15 e M16 na Figura 4.6 (a):
𝐼𝑁 = 𝐼𝐷15 + 𝐼𝐷16. (4.1)
28
Com M15 e M16 operando na região de triodo, teremos que:
𝐼𝐷15 = 𝑘𝑛𝑊
𝐿[(𝑉𝐺𝑆15 − 𝑉𝑡ℎ)𝑉𝐷𝑆 −
1
2𝑉𝐷𝑆
2], (4.2)
𝐼𝐷16 = 𝑘𝑛𝑊
𝐿[(𝑉𝐺𝑆16 − 𝑉𝑡ℎ)𝑉𝐷𝑆 −
1
2𝑉𝐷𝑆
2]. (4.3)
Temos, então,
𝐼𝑁 = 𝑘𝑛
𝑊
𝐿[(𝑉𝐺𝑆15 + 𝑉𝐺𝑆16 − 2𝑉𝑡ℎ)𝑉𝐷𝑆 − 𝑉𝐷𝑆
2]
= 𝑘𝑛
𝑊
𝐿[(𝑉𝑜+ − 𝑉𝑆𝑆 + 𝑉𝑜− − 𝑉𝑆𝑆 − 2𝑉𝑡ℎ)𝑉𝐷𝑆 − 𝑉𝐷𝑆
2]
= 2𝑘𝑛
𝑊
𝐿[(
𝑉𝑜+ + 𝑉𝑜−
2− 𝑉𝑆𝑆 − 𝑉𝑡ℎ) 𝑉𝐷𝑆 − 𝑉𝐷𝑆
2]
= 2𝑘𝑛
𝑊
𝐿[(𝑉𝑜,𝐶𝑀 − 𝑉𝑆𝑆 − 𝑉𝑡ℎ)𝑉𝐷𝑆 −
1
2𝑉𝐷𝑆
2].
Consequentemente, temos que 𝐼𝑁 depende exclusivamente da parcela de modo
comum da tensão na saída do OTA 𝑉𝑜,𝐶𝑀, desde que 𝑉𝐷𝑆 seja mantida contante pelo transistor
M14 da Figura 4.6.
A transcondutância do par M15 e M16 é, então, dada por 𝐺𝑚,𝑁 = 2𝑘𝑛𝑊
𝐿𝑉𝐷𝑆.
Analogamente, a transcondutância do par M11 e M12 é dada por 𝐺𝑚,𝑃 = 2𝑘𝑝𝑊
𝐿𝑉𝐷𝑆. Assim, para
o CMFB teremos𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵 = 𝐺𝑚,𝑁 + 𝐺𝑚,𝑃. Como o par deve ser mantido operando na região
de triodo, 𝑉𝐷𝑆 < 𝑉𝐺𝑆 − 𝑉𝑡ℎ. Logo, 𝑉𝐷𝑆 não pode ser muito grande, fazendo com que 𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵
seja pequeno. Essa é uma desvantagem deste método: a transcondutância de transistores em
triodo é menor se comparada com a transcondutância que seria obtida com os mesmos
transistores em saturação.
Por outro lado, a tensão DC de modo comum é dada, em regime permanente, por
𝑉𝑜,𝐶𝑀 = −𝑅𝑜𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵(𝑉𝑜,𝐶𝑀 − 𝑉𝐶𝑀,𝑅𝑒𝑓), onde 𝑉𝐶𝑀,𝑅𝑒𝑓 é a tensão de referência para a qual o
CMFB irá posicionar a parcela de modo comum 𝑉𝑜,𝐶𝑀 e 𝑅𝑜 = 𝑅𝑜𝑃//𝑅𝑜𝑁 é a impedância de
saída do cascode dobrado da Figura 4.2. Desenvolvendo a expressão para 𝑉𝑜,𝐶𝑀 teremos
𝑉𝑜,𝐶𝑀 =𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵𝑅𝑜
𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵𝑅𝑜+1𝑉𝐶𝑀,𝑅𝑒𝑓, indicando que o controle proposto é do tipo proporcional com
fator de ganho 𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵𝑅𝑜
𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵𝑅𝑜+1. Apesar de 𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵 ser pequeno, o ganho de transcondutância
𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵𝑅𝑜 é compensado por ser 𝑅𝑜 alto. Para 𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵𝑅𝑜 ≫ 1 teremos como resultado
29
𝑉𝑜,𝐶𝑀 ≈ 𝑉𝐶𝑀,𝑅𝑒𝑓, mostrando que o método funciona para a correção da parcela de modo
comum na saída do OTA. Um problema que pode surgir é a instabilidade gerada pelo alto
ganho 𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵𝑅𝑜. Sendo assim, 𝑅𝑜 não pode ser alto demais.
Com base nessas características, os transistores foram dimensionados através de
simulações de varredura DC para fazer o ajuste da largura W para a corrente de 3 μA da
primeira parte do circuito, mostrado na Figura 4.1, que inclui o sensor e a saída para o OTA.
A corrente de polarização de 3 μA foi escolhida por ser igual à polarização do OTA. Assim, só
será necessária uma única corrente de referência externa 𝐼𝐸𝑥𝑡, facilitando a implementação
integrada, e por ser capaz de proporcionar um ganho 𝐺𝑚,𝐶𝑀𝐹𝐵 adequado para este projeto.
Depois, foram dimensionados os circuitos de polarização com base nos mesmos critérios. A
Tabela 4.1 mostra os valores finais para o circuito do CMFB.
Tabela 4.1: Dimensionamento do circuito do CMFB.
Transistor W (μm) L (μm)
M1 – M2, M9 – M12 4,95 13
M3, M8, M13 4,4 7,5
M4, M5 7 5
M6, M7 17,8 5
M14 1 7,5
M15, M16 1 13
M17, M18 26,7 5
M19, M20 10,6 5
M21, M22 12,5 5
M23, M24 5,3 5
M25 2 5
M26 – M29, M32, M33 5,75 5
M30, M31 13,35 5
4.3. Implementação do filtro com OTA e CMFB reais
O circuito do CMFB deve, como característica obrigatória, ser sensível apenas à
parcela de modo comum da tensão na saída do OTA. Foram feitas, então, simulações para o
filtro com o OTA e o CMFB projetados. Com o objetivo de estimar a corrente de saída nos
30
terminais do OTA em resposta às parcelas diferencial e de modo comum na tensão de saída do
mesmo, foram geradas as curvas mostradas na Figura 4.7. Pode-se observar em (a) que a
corrente 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 permanece em 3,00 μA para uma faixa de tensão diferencial de entrada entre
±1 V e varia até no máximo 3,03 μA para ±1,5 V, mostrando que o circuito sensor de modo
comum apresenta uma boa independência da corrente em relação à tensão diferencial de
entrada no sensor de modo comum. Em contrapartida, em (b) observa-se a forte sensibilidade
da mesma corrente 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 em relação à parcela de modo comum na tensão na saída do OTA.
Nota-se também que o ajuste de 3,00 μA está correto, pois corresponde à corrente desejada
para a tensão de referência 𝑉𝐶𝑀,𝑅𝑒𝑓 desejada.
(a)
(b)
Figura 4.7: Corrente de saída 𝐼𝐵𝑖𝑎𝑠𝑃 do OTA em resposta às parcelas de tensão (a) diferencial e (b) de
modo comum na saída do próprio amplificador.
Por fim, é importante citar que o projeto de sistemas de controle realimentados deve
sempre levar em consideração a possibilidade do sistema se tornar instável devido às variações
nos valores nominais de seus componentes. Sendo assim, o filtro foi analisado à luz do Critério
de Estabilidade de Barkhausen, para a definição das margens de ganho e fase do sistema. A
Figura 4.8 mostra como o critério foi aplicado ao sistema do CMFB.
-3 -2 -1 0 1 2 32.98
3
3.02
3.04
3.06
3.08
3.1
3.12
3.14
3.16x 10
-6
Tensão diferencial na saída do OTA (V)
Corr
ente
de s
aíd
a (
uA
)
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.50
1
2
3
4
5
6x 10
-6
Tensão de modo comum na saída do OTA (V)
Corr
ente
de s
aíd
a (
uA
)
31
Para a Figura 4.8, Seja 𝐿(𝑠) =𝑉𝑜
𝑉𝑡= 𝐵(𝑠)𝐴(𝑠) a função de transferência de malha do
sistema, onde 𝐴(𝑠) é o ganho do OTA e 𝐵(𝑠) é o ganho do CMFB. Sejam ainda |𝐿(𝑗𝜔𝑜)| e
Φ{𝐿(𝑗𝜔𝑜)}, respectivamente, o ganho e a fase de 𝐿(𝑠). E, finalmente, seja 𝜔𝑜 a frequência em
que o desvio de fase da resposta de malha Φ{𝐿(𝑗𝜔𝑜)} = 0°.
CMFB
OTAvovCM,Ref
(a)
CMFB
OTA vo
vCM
(b)
Figura 4.8: Diagrama de blocos de sistema de controle de modo comum em malha fechada (a) e em malha
aberta (b) para a obtenção da transferência de malha L(s).
Segundo o critério de Barkhausen, temos:
|𝐿(𝑗𝜔𝑜)| < 1 → sistema estável;
|𝐿(𝑗𝜔𝑜)| = 1 → sistema oscilante;
|𝐿(𝑗𝜔𝑜)| > 1 → sistema instável.
Baseado neste critério, as margens de ganho e fase podem ser medidas diretamente a
partir dos gráficos de Bode da reposta em frequência de malha do amplificador. A Figura 4.9
32
mostra as simulações para a resposta em frequência de malha aberta da Figura 4.8. Verifica-se
que o ganho de malha aberta é de 63,27 dB e a frequência de corte é de 95 Hz.
Figura 4.9: Simulações da resposta em frequência de malha do CMFB para análise da estabilidade.
A margem de ganho MG é a diferença entre 0 dB e o ganho da resposta em frequência
de malha |𝐿(𝑗𝜔𝑜)| na frequência 𝜔𝑜. Observando a Figura 4.8, temos MG = 26,67 dB.
A margem de fase MF é o valor em graus da diferença entre 0° e o valor da fase da
resposta de malha numa frequência 𝜔𝑇, tal que |𝐿(𝑗𝜔𝑇)| = 0 dB. Observando a Figura 4.8, o
valor de MF = 85,83°, que corresponde à máxima variação que a fase pode sofrer sem que o
amplificador de desestabilize.
100
101
102
103
104
105
106
107
-40
-20
0
20
40
60
80
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
100
101
102
103
104
105
106
107
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
Frequência (Hz)
Fase (
gra
us)
33
5. Simulações de Desempenho Pós-Projeto
Este capítulo se dedica à listagem de todas as análises ainda não citadas neste trabalho.
Foram realizados testes e simulações exclusivos para cada um dos circuitos que compõem o
filtro, ou seja, o OTA e o CMFB. Por último, foram feitas as simulações do filtro final projetado.
5.1. Simulações do OTA
Com o projeto do OTA finalizado, foi, então, medida a polarização DC do circuito. A
Tabela 5.1 mostra os valores de corrente e das principais tensões dos transistores. Observa-se
que a corrente 𝐼𝐷 foi devidamente projetada para 3,00 μA com a desejada exceção para: os
transistores MD3 e MD4 − onde se espera precisamente o dobro desse valor − os transistores
dos atenuadores e, para MC, a corrente é nula. O valor de |𝑉𝐷𝑆| é próximo de 0,3 V para os
transistores que devem operar na região de saturação e menor que 0,2 V para aqueles que
devem operar em triodo. Os valores de 𝑉𝐺𝑆 e 𝑉𝑡ℎ estão iguais nos casos onde os transistores
devem, além de serem idênticos, possuírem a mesma corrente de polarização (por exemplo,
𝑉𝐺𝑆,𝐵1 = 𝑉𝐺𝑆,𝐵5, assim como 𝑉𝑡ℎ,𝐵1 = 𝑉𝑡ℎ,𝐵5). Portanto, a análise da tabela mostra que o
resultado está dentro do esperado para o projeto do OTA.
Tabela 5.1: Polarização do circuito do OTA da Figura 3.1.
Transistor 𝐼𝐷 (μA) 𝑉𝐷𝑆 (V) 𝑉𝐺𝑆 (V) 𝑉𝑡ℎ (V)
MB1, MB2 3,000 -0,316 -0,909 -0,706
MB3, MB4 3,000 -1,321 -0,983 -0,784
ME1, ME2 3,000 -1,077 -1,233 -1,008
MB5, MB6 3,001 -0,315 -0,909 -0,706
MB7, MB8 3,001 -1,185 -0,983 -0,784
MD1, MD2 3,001 1,214 0,823 0,586
MD3, MD4 6,001 0,286 0,749 0,505
MA1, MA3 3,897 2,870 1,370 0,534
MA2, MA4 3,897 0,130 1,500 0,499
MC 0 0 1,137 0,834
34
Num primeiro momento, a resposta em frequência da transcondutância do OTA foi
simulada e pode ser vista na Figura 5.1. As curvas de ganho e fase foram extraídas considerando
Vctrl = 1,0 V. O circuito usado para a simulação foi o mesmo usado para a simulação de
varredura DC da tensão diferencial de entrada para a transcondutância do OTA mostrado na
Figura 3.8. Para a frequência de corte de interesse de 100 kHz, o ganho é de 785,24 nA/V e a
fase é de 0,06°.
Figura 5.1: Resposta em frequência da transcondutância do OTA para Vctrl = 1 V.
Num segundo momento, foram obtidas as curvas de distorção harmônica total para a
forma de onda da corrente de saída do OTA, a fim de medir o nível de distorção produzida na
saída em função da tensão diferencial de entrada. A Figura 5.2 mostra os gráficos de THD
obtidos para três valores diferentes de Vctrl. Nota-se o aumento do THD com o aumento da
tensão de controle para até, aproximadamente, 1,9 V de tensão diferencial de entrada. Isso
ocorre porque, quanto maior Vctrl, maior será o ganho do OTA e maior será a amplitude do sinal
de corrente na saída, aumentando a distorção. Para essa tensão diferencial, tem-se 0,97 % de
THD para Vctrl = 0,8 V ou Vctrl = 1 V e 1,88 % para Vctrl = 1,5 V. Depois desse ponto, a tendência
101
102
103
104
105
106
107
108
109
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2x 10
-6
Frequência (Hz)
Ganho d
e tra
nscondutâ
ncia
(A
/V)
101
102
103
104
105
106
107
108
109
-160
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
20
Frequência (Hz)
Fase (
gra
us)
35
muda: a curva para Vctrl = 0,8 V cresce significativamente mais rápido se comparada com as
demais curvas. Para a tensão de interesse Vctrl = 1,0 V, a distorção chegou a menos de 0,36 %
para a tensão diferencial de entrada de 1,5 V.
Figura 5.2: Distorção harmônica produzida pela corrente de saída do OTA em função da tensão
diferencial de entrada para diferentes ajustes de Vctrl.
Um dos maiores problemas verificados em OTA’s de baixa transcondutância é o erro
de espelhamento de corrente de polarização que surge pelo descasamento de transistores que
formam o transcondutor. Esses descasamentos nas correntes de polarização, combinados com
a elevada impedância de saída do OTA podem produzir na saída do amplificador tensões DC
elevadas o suficiente para saturar o dispositivo. Uma forma de se evitar esse problema é
realimentando o OTA negativamente, de modo que uma tensão diferencial na saída resulte em
uma tensão proporcional a esta aplicada na entrada do amplificador. Assim, a tensão diferencial
aplicada na entrada do OTA produzirá na saída um desequilíbrio de corrente com sinal contrário
daquele causado pelos descasamentos dos transistores do circuito de polarização, compensando
os erros de descasamento. Mesmo assim, ainda restará na saída do OTA uma tensão DC
responsável por compensar os descasamentos do amplificador. Essa tensão DC é denominada
offset diferencial (𝑉𝑜𝑓𝑓,𝑑𝑖𝑓). Esse offset depende diretamente do erro de descasamento nas
correntes de polarização, que é diretamente proporcional a essa corrente. Além disso, o offset
diferencial é inversamente proporcional à transcondutância do OTA, pois quanto maior o 𝐺𝑚,
menor será a tensão diferencial necessária para compensar os mesmos erros de descasamento
de corrente na saída. Por essa razão, o offset diferencial constitui um grande problema em
OTA’s de baixa transcondutância.
Para medir 𝑉𝑜𝑓𝑓,𝑑𝑖𝑓, foi utilizado o circuito da Figura 5.3. Nessa topologia, a alta
impedância de saída do OTA, combinada com um desbalanço de corrente, gera uma tensão
0.5 1 1.5 2 2.50
1
2
3
4
5
Tensão diferencial de entrada (V)
TH
D (
%)
Vctrl = 0.8 V
Vctrl = 1.0 V
Vctrl = 1.5 V
36
suficientemente alta na saída. Como a tensão de saída está sendo aplicada negativamente na
entrada, o circuito se estabiliza com a tensão que corresponde à 𝑉𝑜𝑓𝑓,𝑑𝑖𝑓.
vout
Figura 5.3: Circuito para medir a tensão de offset diferencial.
A medida foi, então, feita com 500 simulações de Monte Carlo, considerando
variações de parâmetros de fabricação e descasamento de componentes. Foi gerado, então, o
histograma da Figura 5.4 (a).
Também não se pode deixar de medir a tensão de modo comum, que surge na saída do
OTA, causada pelo descasamento entre os transistores de canal N e de canal P do cascode
dobrado do circuito do OTA. Assim, será possível avaliar se essa tensão está, de fato, sendo
compensada pelo CMFB. A fim de avaliar como os descasamentos e variações nos parâmetros
dos transistores afetam a tensão de modo comum na saída do OTA, foram realizadas outras 500
simulações com os mesmos parâmetros de variação de Monte Carlo. O circuito usado para
medir foi o mesmo da Figura 5.3, onde a tensão medida será a média das tensões nos terminais
de saída. A Figura 5.4 (b) mostra o resultado também em histograma.
(a)
-0.2 -0.15 -0.1 -0.05 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.30
10
20
30
40
50
60
Tensão de offset diferencial (mV)
Núm
ero
de o
corr
ência
s
37
(b)
Figura 5.4: Histogramas contendo a distribuição da tensão de offset diferencial (a)
e a tensão de modo comum (b) na saída do OTA.
Para a tensão de offset diferencial, o valor médio é de −89,6 μV e o desvio padrão
ficou em 6,29 mV. A média não é zero devido ao número finito de simulações de Monte Carlo.
Para a tensão de modo comum, o valor médio ficou em 45,35 μV e o desvio padrão ficou em
89,95 mV. Esses resultados mostram que os valores estão aceitáveis se comparados com a
excursão de sinal na saída do OTA.
Para a medição da resposta em frequência 𝑉𝑜
𝑉𝑖𝑛⁄ do OTA, foi utilizado o circuito da
Figura 5.5. O objetivo é verificar para qual faixa de frequència o circuito opera adequadamente
como um integrador. Por esse motivo, o circuito consiste em um integrador Gm-C, cujo valor
da capacitância C foi ajustado em dois valores diferentes: 𝐶 = 𝐶2 = 0,98 pF, que é o valor da
menor capacitância do filtro, e 𝐶 = 𝐶3 = 2 pF, que é o valor da maior capacitância do filtro,
conforme mostrado no Capítulo 2, na Tabela 2.2.
vin vo
2C
2C
Figura 5.5: Integrador Gm-C usado para a simulação da resposta em frequência do OTA.
Pelo gráfico da Figura 5.6, tem-se que, nos dois casos, o ganho na banda passante é
igual a 61 dB (1122,02 V/V) e a fase inicial é igual a 0°. Observa-se a presença de um pólo de
-0.4 -0.3 -0.2 -0.1 0 0.1 0.2 0.30
5
10
15
20
25
30
35
40
Tensão de modo comum na saída (V)
Núm
ero
de o
corr
ência
s
38
baixa frequência em, aproximadamente, 51,28 Hz para a curva de Cmax e outro em,
aproximadamente, 91,50 Hz para a curva de Cmin, mostrando que a função de transferência do
integrador não é ideal, justamente devido à impedância de saída finita do OTA real. Essa função
de transferência é, então, dada por 𝐻(𝑠) =𝐺𝑚𝑅𝑜
1+𝑠𝑅𝑜𝐶 , onde 𝑅𝑜 é a impedância de saída do OTA.
Como o ganho DC 𝐴𝑜 é dado por 𝐴𝑜 = 𝐺𝑚𝑅𝑜 e, como mostrado no Capítulo 3, na Seção 3.5,
𝐺𝑚 = 784,9 nA/V, temos 𝑅𝑜 =𝐴𝑜
𝐺𝑚=
1122,02
784,9∙10−9→ 𝑅𝑜 = 1,43 GΩ.
Para que a resposta em frequência do integrador seja o mais próximo possível do ideal
para a frequência de interesse deste projeto, essa impedância de saída deve ser alta. Nota-se
que, para a frequência de 100 kHz, o circuito se comporta como um integrador, com o ganho
caindo a uma taxa de 20 dB/déc e a fase fica em - 89,9°, mostrando um comportamento
satisfatoriamente próximo do ideal.
Figura 5.6: Resposta em frequência do circuito integrador da Figura 5.5. Aqui, Cmax refere-
se ao valor da maior capacitância do filtro e, Cmin, ao valor da menor.
Com o mesmo circuito da Figura 5.5, foi simulado o espectro de ruído na entrada do
OTA. A Figura 5.7 mostra o espectro de ruído para os dois valores de capacitância. Observa-se
100
101
102
103
104
105
106
107
108
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
C = Cmin
C = Cmax
100
101
102
103
104
105
106
107
108
-180
-160
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
Frequência (Hz)
Fase (
gra
us)
C = Cmin
C = Cmax
39
que são rigorosamente iguais, mostrando que a densidade de ruído é independente da
capacitância do filtro. Esse tipo de curva é característico da densidade espectral de potência
predominantemente do tipo flicker, que é mais alta em baixas frequências. Essa característica
se mantém até algumas poucas centenas de kHz. Na frequência de 100 kHz, predomina um
ruído com densidade espectral constante do tipo térmico de aproximadamente 1 μV2/Hz.
Figura 5.7: Densidade espectral de ruído na entrada do OTA. Curvas sobrepostas para
as duas capacitâncias mostra a independência entre ruído e estes capacitâncias.
É também igual a medida de Total Input Referred Noise (TIRN) para as duas
capacitâncias (1,371 ∙ 10−7𝑉2). A Tabela 5.2 mostra o percentual de contribuição de ruído
gerado pelos principais transistores do circuito do OTA da Figura 3.1. Os transistores que
contribuem com menos de 0,29 % de ruído não foram listados. Comparando esta tabela com a
Tabela 5.1, vê-se que, os transistores que mais contribuem com o percentual de ruído
equivalente na entrada, são aqueles cuja corrente 𝐼𝐷 é maior. Isso se deve ao fato de que a
contribuição de ruído por um transistor é proporcional à sua transcondutância que, por sua vez,
é proporcional à corrente de dreno que passa por ele e inversamente proporcinal à sua tensão
de overdrive [1]. Nota-se que, para as o transistores com maior contribuição, a diferença de
percentual é pouco significativa.
100
101
102
103
104
105
0
1
2
3
4
5
6x 10
-5
Frequência (Hz)
De
nsid
ad
e d
e P
otê
ncia
de
Ru
ído
(V
²/H
z)
C = Cmin
C = Cmax
40
Tabela 5.2: Percentual de contribuição de ruído equivalente na entrada dos transistores para os dois
valores de capacitância.
Transistores Contribuição (%)
Cmax Cmin
MD3, MD4 44,33 44,13
MA1, MA3 3,52 3,50
MB5, MB6 0,87 0,87
MA2, MA4 0,42 0,42
ME1, ME2 0,29 0,29
As demais simulações do OTA foram realizadas com o método de Monte Carlo, para
analisar como o projeto é influenciado pelas variações de parâmetros de processo e
descasamentos entre transistores.
Uma característica importante a ser analisada é a tendência do OTA de rejeitar a tensão
de modo comum em seus terminais de entrada, tendência essa denominada Commom Mode
Rejection Ratio (CMRR) [6]. O CMRR de um amplificador diferencial é definida como a razão
entre o ganho diferencial pelo módulo do ganho de modo comum, ou seja, 𝐶𝑀𝑅𝑅 (dB) = 20 ∙
log (|𝐴𝑑
𝐴𝐶𝑀|).
Outra característica a ser analisada é a tendência do OTA a rejeitar a fonte de
alimentação, denominada Power Supply Rejection Ratio (PSRR). Essa tendência é definida
como 𝑃𝑆𝑅𝑅 (dB) = 20log (𝐴𝑑
∆𝑉𝑜∆𝑉𝐷𝐷
⁄), onde
∆𝑉𝑜
∆𝑉𝐷𝐷 é a razão de ganho de pequenos sinais entre
a fonte ∆𝑉𝐷𝐷 e a saída ∆𝑉𝑜 do OTA.
Para a simulação do CMRR e do PSRR, foi usado o circuito da Figura 5.8, que consiste
em dois estágios de amplificação, onde K1 = 1 e K2 = 100, intercalados por um filtro passa-
baixas, onde R1 = 10 kΩ e C1 = 1 F. A saída do segundo estágio de amplificação do modelo
ideal de CMFB é conectada na entrada pela fonte de tensão diferencial. O modelo foi assim
montado para que o filtro passa-baixas RC da figura mantenha baixo o nível de tensão de offset
diferencial 𝑉𝑜𝑓𝑓,𝑑𝑖𝑓, levando ao segundo estágio de amplificação apenas a parcela DC da tensão
diferencial na saída do OTA. Assim, a parcela DC é realimentada na entrada, evitando que a
tensão de saída no OTA sature quando os descasamentos entre os transistores forem
considerados nas simulações de Monte Carlo. Foram rodadas 100 simulações de Monte Carlo
41
para cada um, considerando ao mesmo tempo variações dos parâmetros de processo e
descasamento entre transistores.
2C
2C
K 1
R1
C1
K 2vd
vcm
vd
vd
Figura 5.8: Circuito utilizado para a simulação de Monte Carlo do CMRR e PSRR do OTA.
O resultado pode ser conferido nas famílias de curvas exibidas na Figura 5.9. O menor
ganho de CMRR ficou em 27,74 dB, represenstando o pior caso, e a maior parte das curvas
ficou entre esse valor e 72,37 dB, e o máximo valor chega em 104,5 dB. Para o PSRR, o menor
valor ficou em 23,82 dB e a maior parte das curvas ficou entre esse valor e 62,44 dB, com uns
poucos desvios até 84,28 dB.
(a)
(b)
Figura 5.9: Simulações de Monte Carlo para o CMRR (a) e PSRR (b).
101
102
103
104
105
106
107
108
109
0
20
40
60
80
100
120
Frequência (Hz)
CM
RR
(dB
)
101
102
103
104
105
106
107
108
109
-20
0
20
40
60
80
100
Frequência (Hz)
PS
RR
(dB
)
42
Em se tratando da transcondutância do OTA, as variações dos parâmetros de processo
de fabricação podem afetar muito mais o seu comportamento se comparado com o
descasamento dos transistores. Isso se deve ao fato de que a transcondutância do OTA se deve
principalmente ao projeto do transistor MC, cuja resistência equivalente é afetada diretamente
pelos parâmetros de processo. As Figuras 5.10 (a) e (b) ilustram essa propriedade. A tensão de
controle foi ajustada em Vctrl = 1 V para todas as simulações a partir deste ponto do trabalho.
Enquanto em (a) a transcondutância pode variar numa faixa de 418 a 1066 nA/V
aproximadamente, em (b) a variação não passa da faixa de, aproximadamente, 782 a 822 nA/V.
(a)
(b)
Figura 5.10: Comportamento da trancondutância do OTA frente às variações de parâmetro de
processo (a) e ao descasamento de transistores (b).
5.2. Simulações do Sistema de CMFB
As simulações desta seção visam avaliar o desempenho do controle de modo comum.
Inicialmente, foi avaliado o comportamento da corrente no cascode de saída do OTA perante
-2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5
-5
0
5
10
15
x 10-7
Tensão diferencial de entrada (V)
Tra
nscondutâ
ncia
(nA
/V)
-2.5 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
12
x 10-7
Tensão diferencial de entrada (V)
Tra
nscondutâ
ncia
(nA
/V)
43
a tensão de modo comum. Foram feitas 100 simulações de Monte Carlo, considerando, como
mostrado na Figura 5.11, variações de parâmetros de processo, descasamento de transistores
e considerando os dois casos simultaneamente.
(a)
(b)
(c)
Figura 5.11: Comportamento da corrente de saída do OTA como função da tensão de modo
comum frente (a) às variações de parâmetros de processo, (b) descasamento de transistores e (c) esses dois
efeitos ocorrendo simultaneamente.
Observa-se que, em (a), a variação de corrente aumenta com o módulo da tensão de
modo comum mas, depois de ± 1V, a variação diminui um pouco. A corrente se mantém em
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.50
1
2
3
4
5
6x 10
-6
Tensão de modo comum (V)
Corr
ente
de s
aíd
a (
uA
)
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.50
1
2
3
4
5
6x 10
-6
Tensão de modo comum (V)
Corr
ente
de s
aíd
a (
uA
)
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.50
1
2
3
4
5
6
7x 10
-6
Tensão de modo comum (V)
Corr
ente
de s
aíd
a (
uA
)
44
3 μA para tensão nula de modo comum, que é exatamente a corrente de polarização na saída
do OTA. Além disso, a família de curvas é simétrica em relação ao eixo vertical. Isso acontece
pois os parâmetros de processo são variados igualmente para transistores do mesmo tipo.
Essa simetria já não é vista em (b), precisamente devido ao descasamento entre
transistores. As variações nas curvas aumentam junto com a corrente. Em (c), têm-se o
resultado considerando esses dois efeitos simultaneamente.
Na Figura 5.12, temos os resultados do mesmo tipo de estudo, mas agora, a corrente
de saída do OTA é função da tensão diferencial na saída. Observa-se que, no caso (a), a
variação é mínima para a faixa de tensão entre, aproximadamente, ±1 V, enquanto em (b) a
variação é bastante expressiva. Isso se deve ao fato de que o descasamento entre transistores
do tipo N e do tipo P no circuito do CMFB causa desbalanço de corrente na saída do OTA,
afetando diretamente o ganho, causando o deslocamento da curva vista na figura. Apesar
dessas variações em (a) ou em (b), para cada curva a corrente de polarização na saída do OTA
se mostra praticamente constante e independente da tensão diferencial na saída, que é o que se
espera de um sistema de CMFB. A Figura 5.12 (c) mostra o resultado combinado dos dois
efeitos que foram simulados em (a) e (b).
(a)
(b)
-3 -2 -1 0 1 2 32.9
2.95
3
3.05
3.1
3.15
3.2
3.25
3.3x 10
-6
Tensão diferencial na saída do OTA (V)
Corr
ente
na s
aíd
a d
o O
TA
(uA
)
-3 -2 -1 0 1 2 32.8
2.85
2.9
2.95
3
3.05
3.1
3.15
3.2
3.25x 10
-6
Tensão diferencial na saída do OTA (V)
Corr
ente
na s
aíd
a d
o O
TA
(uA
)
45
(c)
Figura 5.12: Comportamento da corrente de saída do OTA como função da tensão diferencial de saída
frente (a) às variações de parâmetros de processo, (b) descasamento de transistores e (c) esses dois efeitos
ocorrendo simultaneamente.
5.3 Simulações do Filtro
Finalmente para o filtro Gm-C, foi analisada sua sensibilidade quanto às variações de
processo, descasamento de componentes e depois esses dois efeitos simultaneamente. Foram
feitas 100 simulações de Monte Carlo em cada um dos três casos. A Figura 5.13 mostra a
resposta em frequência do filtro considerando as variações de processo. Nota-se que o ganho
não é afetado, mas sim, a frequência de corte. Isso se deve ao fato de que a transcondutância do
OTA é afetada diretamente pelos parâmetros de processo, como já foi mostrado na Figura 5.10.
(a)
-3 -2 -1 0 1 2 32.8
2.9
3
3.1
3.2
3.3
3.4
3.5x 10
-6
Tensão diferencial na saída do OTA (V)
Corr
ente
na s
aíd
a d
o O
TA
(uA
)
102
103
104
105
106
107
-150
-100
-50
0
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
46
(b)
Figura 5.13: Simulações de Monte Carlo para a resposta em frequência do filtro considerando
variações dos parâmeros de processo.
Já na Figura 5.14, onde se considera o descasamento entre os transistores, apenas o
ganho é afetado em toda a banda passante, pois este depende das transcondutâncias e das
impedâncias de saída dos transistores, que são diretamente afetados pelos descasamentos entre
eles.
Figura 5.14: Simulações de Monte Carlo para a resposta em frequência do filtro considerando
descasamento de transistores.
104
105
-9.5
-9
-8.5
-8
-7.5
-7
-6.5
-6
-5.5
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
102
103
104
105
106
107
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
104
105
-8
-7.5
-7
-6.5
-6
-5.5
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
47
Considerando a Figura 5.13, pode-se compará-la com a Figura 3.9 (b). Nota-se que a
variação da frequência de corte devido às variações dos parâmetros de processo de fabricação
é menor do que a faixa de valores para a qual o filtro Gm-C pode ser ajustada. Isso significa que
o projeto do filtro compensa perfeitamente os efeitos de variação de parâmetros de processo,
bastando, para isso, sintonizar a tensão Vctrl até que se consiga a frequência de corte
especificada. A Figura 5.15 mostra os efeitos combinados de variação de parâmetros de
processo de fabricação e descasamento de componentes.
Figura 5.15: Efeitos combinado de variação de parâmetros de processo e descasamento
de componentes.
Sobre a análise de ruído para o filtro Gm-C, foi medida a TIRN em 1,163 ∙ 10−6V2 e,
na saída, 2,683 ∙ 10−7V2. A Figura 5.16 mostra a curva de densidade espectral de potência para
o ruído na saída do filtro. Assim como foi mostrado para o OTA na Figura 5.7, o ruído é
predominantemente do tipo flicker para até algumas dezenas de quilohertz, para depois
predominar o ruído térmico. Aqui, porém, observa-se uma particularidade: chegando na
frequência de 100 kHz, o gráfico mostra uma tendência do ruído de aumentar, pasando por um
mínimo de aproximadamente 2,85 μV2/Hz.
102
103
104
105
106
107
-140
-120
-100
-80
-60
-40
-20
0
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
104
105
-8.5
-8
-7.5
-7
-6.5
-6
-5.5
-5
Frequência (Hz)
Ganho (
dB
)
48
Figura 5.16: Densidade espectral de ruído na saída do filtro Gm-C.
Para medir a tensão de modo comum na saída do filtro, foram feitas 500 simulações
de Monte Carlo, considerando variação nos parâmetros de processo de fabricação e
descasamento de componentes. A Figura 5.17 mostra os resultados em histogramas. O valor da
média foi de -7,07 mV e do desvio padrão foi de 66,76 mV. Pode-se, então, concluir que o
CMFB proposto foi bem sucedido em ajustar a tensão modo comum dos OTA’s.
Figura 5.17: Número de ocorrências para valores de tensão de modo comum na saída
do filtro Gm-C.
Por último, foi obtida, por simulação, a potência dissipada na polarização do filtro,
que ficou em 1,06 mW.
100
101
102
103
104
105
0
0.5
1
1.5x 10
-4
Frequência (Hz)
Densid
ade d
e P
otê
ncia
de R
uíd
o (
V²/
Hz)
-0.3 -0.25 -0.2 -0.15 -0.1 -0.05 0 0.05 0.1 0.15 0.20
10
20
30
40
50
60
70
Tensão de modo comum
Núm
ero
de o
corr
ência
s
49
6. Conclusão
No decorrer dos capítulos anteriores deste trabalho, foram mostrados os métodos de
desenvolvimento e seus respectivos resultados para o projeto do Controle Realimentado de
Modo Comum proposto, o amplificador de transcondutância OTA onde será aplicado o CMFB
e o filtro utilizado como aplicação para esses sistemas.
Neste último capítulo, serão apresentadas algumas comparações de resultado ainda não
mostradas, além de um análise geral dos resultados e da importância deste trabalho, assim como
ideias para desenvolvimentos futuros de projetos relacionados.
6.1. O Filtro Gm-C Contínuo no Tempo
O filtro Gm-C contínuo no tempo projetado mostrou resultados satisfatórios se
comparado com o filtro ideal. Na Figura 5.15, onde é mostrada a reposta em frequência do filtro
projetado, o ganho se encontra na faixa de -6,34 dB até -5,47 dB devido às variações dos
parâmetros de processo de fabricação e descasamento entre componentes do filtro. Já na Figura
2.5, onde é mostrada a reposta em frequência do filtro ideal, nota-se um ganho DC de -6,02 dB
com 1 dB de ripple na banda passante. Esse valor está quase localizado no meio da faixa de
valores do filtro projetado. Sobre a frequência de corte, a tensão de controle Vctrl sintoniza
perfeitamente dentro da faixa de valores possíveis como mostrado na Figura 5.13, comparada
com a Figura 3.9 (b).
É importante lembrar que o filtro foi projetado a partir de seu protótipo ladder. Esse
tipo de filtro possui baixa sensibilidade aos parâmetros considerados nas simulações de Monte
Carlo, já que a sensibilidade do filtro Gm-C projetado foi herdada do seu protótipo.
6.2. O Circuito do OTA
Com relação ao OTA, os resultados foram bem sucedidos: a transcondutância ficou
baixa e com um bom escopo de valores para a sua sintonia, como mostrado na Figura 3.7 (b),
onde a transcondutância é obtida em função da tensão diferencial de entrada no OTA. Além
disso, a operação é linear para uma faixa ampla de tensão diferencial de entrada, como mostrado
na Figura 3.7 (a), onde a corrente de saída é função da tensão diferencial de entrada no OTA.
50
A maior desvantagem sobre a topologia do OTA proposto é a tensão de offset
diferencial devido aos descasamentos entre os transistores, mas os resultados mostrados no
histograma da simulações de Monte Carlo da Figura 5.4 (a) revelam um nível aceitável de
tensão para o circuito do filtro.
Sobre o ruído produzido pelo OTA, constatou-se que os transistores MD3 e MD4 do
cascode dobrado da Figura 3.1 são os principais contribuidores, seguidos dos transistores MA1
e MA3 que compõem os atenuadores e operam na região de saturação. Isso se deve à alta corrente
de dreno que passa por estes transistores, aumentando a transcondutância. Um desafio para
trabalhos futuros, pode ser tentar diminuir essa contribuição de ruído sem diminuir a excursão
de sinal na saída do OTA. Como a contribuição de ruído por um transistor aumenta com o
aumento da sua transcondutância e a corrente de polarização para o OTA é fixada pela
transcondutância deste, sobraria pensar em aumentar a tensão de overdrive desses transistores,
mas isso afetaria diretamente a excursão de sinal na saída do OTA.
6.3. O Controle Realimentado de Modo Comum Proposto
Finalmente, sobre o CMFB proposto por este trabalho, mostrou-se a importância do
uso de um controle deste tipo para atuar na parcela DC da tensão de saída de amplificadores
totalmente diferenciais. Como mostrado no Capítulo 1, os tipos anteriormente aplicados de
sensor de modo comum possuem problemas de linearidade que o sensor CMFB projetado neste
trabalho não tem. O CMFB mostrou-se bastante independente da tensão diferencial na saída do
OTA, como mostrado na Figura 4.7 (a) que exibe a corrente de saída em função dessa tensão.
Por outro lado, o circuito do CMFB responde com uma sensibilidade satisfatória à
parcela DC de modo comum na saída do OTA, como mostrado na Figura 4.7 (b), onde vê-se o
comportamento da corrente na saída do OTA em função dessa tensão. Pode-se ver ainda, a
compensação bem sucedida da tensão de modo comum por parte do CMFB nas saídas do OTA
e do filtro Gm-C, respectivamente, nas Figuras 5.4 (b) e 5.17. Concluíndo, o circuito CMFB
proposto foi projetado com sucesso.
51
Referências Bibliográficas
[1] RAZAVI, B., Design of analog CMOS integrated circuits. McGraw-Hill, 2001.
[2] Duque-Carrillo , J.F. “Control of the common mode component in CMOS continuous-time
fully differential signal processing”, Analog Integrated Circuits and Signal Processing, 4 , pp-
131-140, Nov 1993.
[3] Parsh, T.; Kleine, U.; Klinke, R.. “A low voltage differential opamp with novel commom mode
feedback”, Proceeding of the IEEE International Conference on Eletronic Circuits Systems,
vol.2, pp-345-348, 1998.
[4] Choy, T.; Kaneshiro, R.T.; Brodersen, R.W.; Gray, P.R.; Jett, W.B.; Wilcox, M. “High-
frequency CMOS switched-capacitor filters for communications application”. IEEE J. Solid-
State Circuits, Vol.18, pp. 652-664, 1983.
[5] R.A. Whatly, "Fully differencial operational amplifier with DC common-mode feedback",
U.S. Patent 4 573 020, Feb 25, 1986.
[6] Soares, C. F. T. Métodos para aprimorar o projeto e o layout de filtros analógicos em
circuitos integrados CMOS. Tese de D. Sc. – UFRJ/COPPE/Programa de Engenharia Elétrica,
Rio de Janeiro, Brasil, 2009.
[7] Carlos F.T. Soares, Gustavo S. de Moraes, Antonio Petraglia, “A low-transconductance
OTA with improved linearity suitable for low-frequency Gm-C filters”. Microeletronic Journal,
45, 1499-1507, 2014.