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UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Pós Graduação “Lato Sensu” em Treinamento Personalizado e Musculação
Carolina Santos Medeiros Pereira
SÍNDROME DO OVERTRAINING
LINS-SP
2011
CAROLINA SANTOS MEDEIROS PEREIRA
SÍNDROME DO OVERTRAINING
Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial Para obtenção do título de Especialista em Treinamento Personalizado e Musculação sob a Orientação dos Professores M. Sc. Wonder Passoni Higino e M. Sc. Heloísa Helena Rovery da Silva
Lins- SP
2011
Pereira, Carolina Santos Medeiros
Sindrome do Overtraining / Carolina Santos Medeiros Pereira; – – Lins, 2011.
40p. il. 31cm.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins, SP para Pós-Graduação “Lato Sensu” em Treinamento Personalizado e Musculação, 2011.
Orientadores: Wonder Passoni Higino; Heloisa Helena Rovery da Silva
1. Overtraining. 2. Queda do desempenho. 3. Marcadores de overtraining. I Título.
P49s
CAROLINA SANTOS MEDEIROS PEREIRA
SÍNDROME DO OVERTRAINING
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,
para obtenção do título de especialista em Treinamento Personalizado e
Musculação
Aprovada em:____/____/______
Banca Examinadora:
Prof. Ms. Wonder Passoni Higino
Mestre em Motricidade Humana pela UNESP- Rio Claro
_______________________________________________________________
Prof. Ms. Heloísa Helena Rovery da Silva
Mestre em Administração pela CNEC/FACEC-MG
_______________________________________________________________
Lins –SP
2011
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por todas as bênçãos concedidas.
Aos meus queridos pais, pelas oportunidades e pela educação que me deram.
Aos meus irmãos, por estarem sempre presentes.
Ao meu esposo Lúcio, por tudo. Pelo companheirismo, paciência, amor e
compreensão.
Ao professor Wonder, que escolheu ser educador e abraçar a carreira com
tanta dedicação.
Aos meus amigos da pós - graduação e aos meus colegas de trabalho, por
fazerem parte dessa história.
RESUMO
A Síndrome do overtraining pode ser resultado de um conjunto de sintomas que tem como conseqüência uma queda prolongada no desempenho do atleta. Fases de recuperação inadequadas podem ser as principais causadoras da síndrome, que pode apresentar sintomas que vão desde fadiga crônica, alterações de humor, aumento da freqüência cardíaca de repouso, alterações hormonais e aumento da vulnerabilidade a lesões até infecções freqüentes do trato respiratório superior. O objetivo principal deste trabalho é definir a Síndrome do Overtraining e também seus principais marcadores. Para isso foi feita uma revisão bibliográfica pautada em livros sobre treinamento esportivo e artigos sobre overtraining. A revisão se deteve a um período de estudos que vão de 1999 a 2009. Para evitar o aparecimento de qualquer sintoma da síndrome, os preparadores físicos devem estar atentos aos princípios do treinamento esportivo e respeitar os limites individuais de cada atleta. Um bom planejamento dos períodos de carga e descanso é imprescindível para o um bom desenvolvimento e sucesso do trabalho, além de poupar os atletas de lesões graves que podem afastá-los das competições. A identificação dos principais marcadores de overtraining pode ajudar técnicos e preparadores físicos a avaliar o nível do trabalho imposto ao atleta e, com isso, induzí-los a reestruturar o treinamento, buscando o aperfeiçoamento das bases do treinamento e a melhoria de desempenho de seus atletas.
Palavras–chave: Overtraining. Queda do desempenho. Marcadores de overtraining.
ABSTRACT
The Overtraining Syndrome can be resulted of a group of symptoms that has as consequence a lingering fall in the athlete's acting. Inadequate recovery phases can be the main causer of the syndrome, that can present symptoms that are going from chronic fatigue, humor alterations, increase of the heart frequency of rest, hormonal alteration and increase of the vulnerability to lesions to frequent infections of the superior breathing treatment. The main objective of this work is to define the Overtraining Syndrome and also its principal markers. For that was made a ruled bibliographical revision in books on sporting training and articles about overtraining. The revision got a period of studies from 1999 to 2009. Avoiding the emergence of any symptom of the syndrome, the physical coaches should be attentive to the beginnings of the sporting training and respect the individual limits of each athlete. A good planning of the charge and rest periods is indispensable for a good development and success of the work, besides avoiding the athletes of serious lesions that can move away them of the competitions. The identification of the principal overtraining markers can help technicians and physical coaches to evaluate the level of the work imposed to the athlete and, with that, to induce them to restructure the training, looking for the improvement of the bases of the training and the improvement of the athletes performance . Keyword : Overtraining. Fall of the performance. Overtraining markers.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 : Fases da alteração da capacidade de desempenho após uma
dada estimulação.......................................................................................
17
Figura 2: Melhoria do desempenho esportivo através do
estabelecimento de estímulos ideais........................................................
18
Figura 3: Retrocesso do desempenho esportivo por
estímulos de alta freqüência......................................................................
18
Figura 4: Tabela de Percepção Subjetiva de Esforço de Borg.................. 26
Figura 5: Escala CR10 de Borg................................................................. 27
LISTA DE SIGLAS
AA – Aminoácidos
ATP – Adenosina Trifosfato
BCAA – Aminoácidos de Cadeia Ramificada
CP – Creatina Fosfato
CK – Creatina Quinase
DALDA – Daily Analisys of Life Demands in Athletes
GH – Hormônio de Crescimento
LAn – Limiar Anaeróbico
POMS – Perfil dos Estados de Humor
RESTQ- Sport – Questionário de estresse e recuperação para atletas
RPE – Percepção Subjetiva do Esforço
WURSS-21 – Wisconsim Upper Respiratory Survey
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................
10
CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO ESPORTIVO... .............. 12
1 Princípio da Individualidade Biológica................................................. 12
2 Princípio da Reversibilidade................................................................ 13
3 Princípio da Especificidade.................................................................. 13
4 Princípio da Sobrecarga Progressiva.................................................. 15
5 Princípio da Ondulação das Cargas.................................................... 15
6 Princípio da Adaptação........................................................................ 16
7 Princípio da Continuidade.................................................................... 16
8 Princípio da Interdependência Volume- Intensidade........................... 17
9 Princípio da Supercompensação.........................................................
17
CAPÍTULO II – A SÍNDROME DO OVERTRAINING
20
CAPITULO III - MARCADORES DE OVERTRAINING........................ 29
1 Relação Testosterona/Cortisol............................................................ 30
2 Glutamina............................................................................................ 32
3 Depleção de Glicogênio....................................................................... 33
4 Creatina Quinase................................................................................. 33
5 Citocinas..............................................................................................
35
CONCLUSÃO.............................................................................................
36
REFERÊNCIAS.......................................................................................... 38
10
INTRODUÇÃO
Cada vez mais, atletas profissionais e amadores têm investido em
treinamentos periodizados, deixando para traz o período da arte que até nos
dias de hoje ainda persiste, para se pautar em bases científicas sólidas
relacionadas a busca do melhor desempenho.
A periodização do treinamento permite definir com precisão as fases de
maior e menor carga de treinamento, bem como os períodos de descanso
imprescindíveis ao atleta que quer melhorar seu desempenho e alcançar êxito
em uma competição. Então, periodizar o treinamento nada mais é que
determinar o volume e a intensidade dos treinos, bem como e não menos
importante, os períodos de descanso necessários à recuperação da sobrecarga
do treino imposta ao atleta.
O problema é que muitas vezes estes períodos de recuperação são
insuficientes e, aliado a fatores externos como problemas de ordem pessoal,
por exemplo, podem levar o atleta a um estado de overtraining.
Na literatura podem ser encontradas algumas definições para a
síndrome do overtraining, como por exemplo, a de Costa; Samulsky (2005,
p.124) descrevendo-a “como um desequilíbrio entre treinamento e
recuperação”. Esses autores alertam que o aumento do risco dos atletas
desenvolverem a síndrome do overtraining pode estar aliado a “fatores sociais,
educacionais, viagens, tempo e monotonia do treinamento”.
Hackney (apud COSTA; SAMULSKY, 2005, p.125) define overtraining
como sendo uma “extensão anormal do processo de treinamento que resulta
culminando num estado de estafa (staleness)”. Nesta fase o atleta apresenta
queda no desempenho em longo prazo.
Um dos alertas mais claros do provável aparecimento de um quadro de
overtraining é, na verdade, a queda persistente no desempenho que pode
durar semanas ou meses. Associado a essa queda alguns outros fatores
podem reforçar as suspeitas sobre o aparecimento da síndrome, tais como
fadiga crônica, enfermidades freqüentes e, até mesmo, transtornos
psicológicos (ARAÚJO et al., 2008, p.275).
11
Para a detecção da síndrome do overtraining existem vários indicadores
fisiológicos e não fisiológicos encontrados na literatura, mas de acordo com
Cunha; Ribeiro; Oliveira (2006, p.298) “a queda prolongada no desempenho”
ainda seria o melhor indicador do surgimento do overtraining.
Alterações hormonais como, por exemplo, a diminuição dos hormônios
anabólicos (testosterona, tiroxina e GH) paralelo ao aumento dos hormônios
catabólicos (cortisol, adrenalina e noroadrenalina); o aumento nos níveis
séricos da enzima Creatina Quinase (CK) podendo indicar a ocorrência de
lesão muscular e o aparecimento de citocinas, substâncias relacionadas a
processos inflamatórios também podem ser considerados sinais indicativos do
overtraining.
O surgimento de qualquer um destes fatores, associados ou isolados,
deve ser considerado pelos treinadores e preparadores físicos, pois podem
estar relacionados ao surgimento da síndrome do overtraining.
E enfim, depois de identificados os sintomas da Síndrome do
Overtraining, seria possível uma rápida recuperação dos atletas afetados?
Os objetivos desta revisão bibliográfica foram definir e caracterizar a
síndrome do overtraining, verificar os principais indicadores fisiológicos e não
fisiológicos relacionados e identificar quais são as respostas do organismo a
síndrome.
Para um melhor entendimento da síndrome serão revistos os princípios
que regem o treinamento esportivo que, se respeitados, podem impedir o
surgimento do overtraining.
Além disso, será caracterizada a síndrome do overtraining e sua
diferença com os processos de overreaching funcional e overreaching não
funcional, além das principais formas de diagnosticar a síndrome.
Em um último momento, serão tratados os principais marcadores da
síndrome do overtraining e as principais alterações fisiológicas decorrentes de
um treinamento físico normal e/ou excessivo.
12
CAPITULO I
PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO
Para se entender claramente a Síndrome do Overtraining, deve-se
esclarecer alguns pontos importantes e indispensáveis ao ótimo
desenvolvimento de um programa de treinamento e entender os princípios que
regem o treinamento esportivo e o quanto o respeito a esses princípios é
importante para o não surgimento dessa síndrome.
Platonov (2008, p.342) preconiza que
a ampliação das bases científicas e metodológicas de preparação dos desportistas, as alterações orgânicas na esfera do desporto de alto nível exigem o constante aperfeiçoamento dos princípios específicos da preparação tanto em relação à maior precisão dos princípios existentes quanto à elaboração de princípios novos.
Ele ainda afirma que “a experiência mostra que a utilização constante
desses princípios nas orientações afins pode garantir a obtenção de resultados
no melhor nível atual ou em competições mais difíceis.” (p.342)
De acordo com Denadai; Greco (2005, p. 28), para que os objetivos do
treinamento sejam alcançados “é necessário que estes princípios sejam
seguidos, a fim de garantir uma melhora progressiva ou uma manutenção do
condicionamento ou do rendimento esportivo”.
Em função do que foi exposto, conclui-se ser de extrema importância
que os preparadores físicos considerem sempre os princípios básicos do
treinamento esportivo, evitando ao máximo o surgimento da síndrome do
overtraining.
Diante disso, torna-se necessário abordar de forma separada cada um
dos princípios básicos do treinamento esportivo.
1 Princípio da Individualidade Biológica
Como o próprio nome diz, o princípio da individualidade biológica
entende cada indivíduo como um ser único, e por isso seu organismo
apresenta respostas únicas a cada estímulo dado.
13
Tubino (apud LUSSAC, 2008, p.1) chama de individualidade biológica “o
fenômeno que explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o
que faz com que não existam pessoas iguais entre si”
Denadai; Greco (2005, p.28) determinam que o princípio da
individualidade biológica “propõe que cada indivíduo responde de uma forma
própria ao treinamento”.
Weineck (1999, p.28) reforça que uma “sobrecarga individualizada
compreende a demanda de estímulos que correspondam à aceitação individual
e às necessidades de cada atleta”.
“A carga de treinamento deve ser individualizada, mesmo em indivíduos
com o mesmo nível de treinamento” (DENADAI; GRECO, 2005, p.28). De
acordo com os autores “uma carga com características semelhantes pode
proporcionar respostas em proporções diferentes” em diferentes indivíduos.
Um mesmo treinamento não pode, então, ser aplicado a dois indivíduos
diferentes. A forma mais correta de se respeitar este princípio é levar em
consideração que cada indivíduo possui uma estrutura física, biológica e
psicológica diferente e, para isso, estruturar um treinamento individualizado
para cada atleta é de fundamental importância.
.
2 Princípio da Reversibilidade
O princípio da reversibilidade, segundo Denadai;Greco (2005, p. 29),
“propõe que ao interromper ou reduzir os estímulos, as adaptações serão
parcial ou totalmente perdidas”.
Os autores ainda esclarecem que
estas perdas ocorrem em velocidades e dimensões que podem ser semelhantes ou maiores do que as velocidades de ganho, dependendo principalmente do estado de condicionamento, do nível de atividade física realizada e do tipo de adaptação analisada. (p.29)
3 Princípio da Especificidade
O princípio da especificidade preconiza que os treinamentos devem ser
sempre o mais próximo possível da realidade do atleta. Os gestos motores e o
14
sistema energético predominantes devem ser especificamente treinados para a
obtenção dos melhores resultados.
Platonov (2008, p.343) determina o princípio da especificidade como “a
impossibilidade de alcançar, simultaneamente, resultados elevados em várias
modalidades ou em várias disciplinas de uma mesma modalidade. Por isso, no
treinamento, é imprescindível o aprofundamento da especialização”.
Denadai; Greco (2005, p. 29) determinam que “para a melhora de um
parâmetro, o estímulo deve ser direcionado de uma forma a gerar as
adaptações esperadas”.
Ainda afirmam que:
esta especificidade pode ser em relação ao objetivo principal do treinamento (emagrecimento, melhora ou manutenção do condicionamento aeróbio), tipo de contração muscular, grupo muscular, duração da prova e a variável física treinada. (p.29)
Lussac (2008, p.1) diz que o princípio da especificidade impõe que,
“para a melhora da performance, deve-se treinar a qualidade física, o sistema
energético predominante, o segmento corporal e as coordenações
psicomotoras utilizadas na modalidade em questão”.
Dantas (apud LUSSAC, 2008, p.1) dá uma clara explicação sobre a
memorização do gesto motor, o que justificaria o princípio da especificidade.
Ele diz que a psicologia da aprendizagem preconiza que o movimento
uma vez aprendido fica armazenado no neocórtex sob a forma de engrama, que consiste num determinado padrão de ligação entre os neurônios. O engrama que é utilizado fica cada vez mais “nítido” e “forte” ao passo que aquele que não é utilizado se enfraquece e pode até se extinguir.
A repetição do gesto motor faria, então, que ele fosse realizado de forma
reflexa.
Por isso, os atletas de alto nível devem ser treinados na própria
modalidade para que as condições reais do esporte em questão sejam mais
fielmente reproduzidas.
De acordo com Bompa (2001, p. 43) “a especificidade do treinamento é
também o mecanismo mais importante para a adaptação neural específica ao
esporte”. Relatando ainda que o sistema de energia predominante no esporte
também deve ser considerado e treinado de forma bem específica, assim como
15
os grupos musculares envolvidos e os padrões de movimento próprios do
esporte.
4 Princípio da Sobrecarga Progressiva
Segundo Fleck; Kraemer (1999, p.23) o princípio da sobrecarga
progressiva refere-se “à prática de aumentar continuamente o nível de
exigência sobre o músculo à medida que ele se torna capaz de produzir mais
força ou tenha mais resistência”.
Denadai; Greco (2005, p.30) completam “que os estímulos devem ser
crescentes para garantir um aumento na capacidade funcional, evitando-se
estabilização ou perda das adaptações”.
Platonov (2008, p.345) pressupõe que “em cada nova etapa do
aperfeiçoamento, que o organismo seja submetido a demandas próximas ao
limite máximo de suas capacidades funcionais”.
Os autores concordam em afirmar que estes aumentos de carga podem
ser feitos tanto no volume (número de séries, repetições, distância percorrida
ou tempo de permanência) quanto na intensidade (quantidade de peso,
velocidade média, intervalos entre estímulos, etc.), frequência e até na
complexidade dos exercícios utilizados.
A aplicação de cargas crescentes é de extrema importância tanto para a
melhora na performance do atleta quanto para evitar problemas decorrentes de
cargas inadequadas como, por exemplo, lesões musculares.
Para atletas “a precisão dos estímulos e a sua distribuição, bem como as
informações que o indivíduo fornece a respeito do treinamento, como o nível de
cansaço, dor, rendimento no treino e estado de recuperação, devem ser
constantemente acompanhadas e registradas” (DENADAI; GRECO, 2005,
p.30). Esse acompanhamento permite aos treinadores ou preparadores físicos
evitar a instalação de quadros como o do overtraining.
5 Princípio da Ondulação das cargas
A variabilidade das cargas do treinamento permite equilibrar, de forma
bem adequada, o volume e a intensidade do treinamento, permitindo também
16
que os períodos de descanso sejam eficazes para recuperar os atletas de
fortes cargas de trabalho.
A ondulação de cargas permite revelar, nas diversas unidades estruturais no processo de treinamento, a relação entre volume e a intensidade do trabalho, entre trabalhos de orientações diferentes, entre períodos de treinamento intenso e a recuperação entre cargas de diferentes valores e orientação nas respectivas tarefas do treinamento. (PLATONOV, 2008 p.346)
6 Princípio da Adaptação
Adaptação ou adaptabilidade “é o nome que se dá à diferente
assimilação dos estímulos, frente à mesma qualidade e quantidade de
exercícios ou carga de treinamento. Ela pode ser atribuída à correlação
organismo/ambiente, sob o ponto de vista da predisposição hereditária e sua
expressão genética”. (GÜTLER apud LUSSAC, 2008, p.1)
Israel (apud LUSSAC, 2008, p.1) refere-se à adaptação como “uma
reorganização orgânica e funcional do organismo frente a exigências internas e
externas”.
Conclui-se então que a adaptação é sempre conseqüência da quebra da
homeostase que segundo Dantas (apud LUSSAC, 2008, p.1) “é o estado de
equilíbrio instável mantido entre os sistemas constitutivos do organismo vivo, e
o existente entre este e o meio ambiente”. Toda vez que este equilíbrio for
quebrado uma nova adaptação será necessária.
7 Princípio da Continuidade
A continuidade do treinamento é o que permite que as adaptações
fisiológicas ocorram no decorrer do tempo. Lussac (2008, p.1) diz que a
continuidade “está intimamente ligada ao princípio da adaptação, pois a
continuidade ao longo do tempo é primordial para o organismo,
progressivamente se adaptar”.
De acordo com Tubino (apud LUSSAC, 2008, p.1) “o princípio da
continuidade é aquela diretriz que não permite interrupções durante o trabalho”.
17
8 Princípio da Interdependência Volume-Intensidade
Para Tubino (apud LUSSAC, 2008, p.1) pode-se afirmar que “os êxitos
dos atletas de alto rendimento, independente da especialização esportiva,
estão referenciados a uma grande quantidade (volume) e uma alta qualificação
(intensidade) no trabalho, sendo que, estas duas variáveis (volume e
intensidade) deverão estar sempre adequadas às fases de treinamento,
seguindo uma orientação de interdependência entre si”.
Normalmente, o aumento do volume do trabalho será sempre
acompanhado de uma diminuição da intensidade e vice-versa. A qualidade do
treinamento e a obtenção de bons resultados, bem como a prevenção de
lesões e até mesmo o aparecimento de sinais de fadiga extrema ou excesso de
treinamento, depende da correta relação entre o volume e a intensidade dos
treinamentos.
9 Princípio da Supercompensação
O que se espera como resultado de uma periodização ideal que respeita
os períodos de sobrecarga e descanso é uma recuperação acima do nível
usual chamada de “supercompensação”.
Weineck (1999, p.32) esclarece que
à sobrecarga sucede-se um decréscimo transitório de desempenho esportivo (queda do potencial energético) e finalmente uma recuperação do nível de partida (fase de recuperação). A recuperação é seguida por um estado de elevada capacidade de desempenho (recuperação energética) denominada de supercompensação. (figura 1)
1= fase de retrocesso da capacidade esportiva
2=fase de aumento da capacidade esportiva
3=fase de supercompensação, ou seja, de
elevada capacidade esportiva.
Fonte: ( Weineck, 1999, p. 32)
Figura 1. Fases das alterações da capacidade de desempenho após uma dada
estimulação:
18
Weineck (1999, p.32) ainda determina que “se novos estímulos forem
aplicados de maneira ideal, então há um aumento progressivo de desempenho
esportivo”. (figura 2)
Fonte: ( Weineck, 1999, p. 32)
Figura 2. Melhoria do desempenho esportivo através do estabelecimento de
estímulos ideais.
No entanto, Weineck (1999, p.32) afirma que “no caso de estímulos
dispostos entre longas pausas, ou seja, numa série de treinamento forçado
dividido em diversas sessões de treinamento pode-se obter um overtraining ou
uma redução do desempenho esportivo”. (Figura 3)
Fonte: ( Weineck, 1999, p. 32)
Figura 3. Retrocesso do desempenho esportivo por estímulos de alta
frequência.
19
Denadai; Greco (2005, p. 39) defendem que “o melhor período para se
aplicar um novo estímulo é o período de supercompensação, no qual o
organismo está em melhor condição do que antes do estímulo”.
“Imediatamente após a aplicação de uma carga de trabalho, há uma
recuperação do organismo, visando restabelecer a homeostase” (DANTAS
apud LUSSAC, 2008, p.1). É nesta idéia que se baseia o princípio da
supercompensação. Após o restabelecimento da homeostase, isto é, do
equilíbrio do organismo e de uma possível melhora do estado inicial é
necessário que a nova carga aplicada seja maior que a carga inicial, para que
haja uma nova necessidade de reorganização do equilíbrio interno do
organismo.
Depois de esclarecidos todos os princípios do treinamento
separadamente verifica-se que se todos eles forem respeitados e se houver
uma interdependência entre eles, o êxito nos resultados será uma
conseqüência quase natural e o risco do aparecimento de problemas como o
overtraining é quase nulo.
20
CAPITULO II
A SÍNDROME DO OVERTRAINING
Cada vez mais, atletas profissionais e amadores têm investido em
treinamentos organizados e periodizados.
Para Freitas, Miranda, Bara (2009, p.458) “o treinamento desportivo é
um processo orientado para a melhoria do desempenho do atleta que tem por
objetivo romper o equilíbrio interno do organismo humano por meio de aumento
progressivo das cargas de treinamento”.
A periodização do treinamento traz benefícios a esses atletas uma vez
que determina, além do volume e da intensidade dos treinos, os períodos de
intervalo necessários à recuperação da sobrecarga de treino imposta ao atleta.
Para a obtenção dos resultados propostos, o equilíbrio entre estresse
(sobrecarga) e recuperação é fundamental. Freitas, Miranda, Bara (2009, p.
458) determina a recuperação como essencial “para a ocorrência da
supercompensação”.
A fase de supercompensação deve ser entendida como o final de um
processo onde, após a aplicação de uma carga, há uma queda transitória no
desempenho seguida de uma recuperação ao nível inicial em que o atleta se
encontrava. A supercompensação seria a próxima etapa, onde o desempenho
passa a ser maior do que o registrado inicialmente pelo atleta.
Atingir a fase de supercompensação seria o objetivo principal do
treinamento, pois é o que possibilita os ganhos desejados na performance do
atleta. Mas, a fase de supercompensação está diretamente relacionada aos
adequados períodos de descanso dados aos atletas, e esses períodos de
descanso, por sua vez, intimamente ligados aos processos de overraching e
overtraining.
Muitas vezes este período de recuperação é insuficiente e “em
temporadas de competições longas e com aumento extensivo do treinamento,
muitos atletas ficam expostos aos problemas de desempenho devido à
síndrome do overtraining”. (COSTA; SAMULSKY, 2005)
Freitas, Miranda, Bara (2009) assumem que uma recuperação
inadequada pode ser o principal fator causador da síndrome do overtraining.
21
Isto, associado aos intervalos curtos entre as competições, tende a piorar a
condição do atleta.
“O entendimento sobre recuperação é fundamental na medida em que
este aproveitamento de modo positivo torna-se uma ferramenta poderosa na
prevenção e tratamento da síndrome do overtraining ou supertreinamento”
(COSTA; SAMULSKY, 2005, p.124)
Segundo Costa; Samulsky (2005, p.124), a síndrome do overtraining
pode ser descrita “como um desequilíbrio entre treinamento e recuperação, ou
seja, uma carga excessiva de estresse combinada com insuficiente
regeneração”.
Quando as cargas de treinamento são inadequadas reações negativas
podem aparecer nos atletas. Essas alterações podem ser fisiológicas,
bioquímicas e psicológicas que podem provocar danos à saúde do atleta, tal
como a síndrome do overtraining.
De acordo com Halson; Jeukendrup (apud ARAÚJO et al., 2008, p.276)
“o overtraining é definido como o acúmulo de cargas intensas de treinamento
com recuperação inadequada que resulta em queda na performance por um
longo período”.
O overtraining pode ser caracterizado como uma desordem fisiológica que acomete principalmente atletas, causando redução no desempenho competitivo, incapacidade de manutenção das cargas de treinamento, fadiga crônica, desequilíbrios na homeostasia e enfermidades freqüentes e transtornos psicológicos. (ARAÚJO et al., 2008, p.275)
Costa; Samulsky (2005, p. 124) alertam que o aumento do risco dos
atletas desenvolverem a síndrome do overtraining ou supertreinamento pode
estar aliado a “fatores sociais, educacionais, viagens, tempo e monotonia do
treinamento”. Araújo et al (2008, p.276) ainda reforçam que fatores não
inerentes ao treinamento como “balanço energético negativo, dieta inadequada,
sono inadequado e distúrbios emocionais podem prolongar ou antecipar o
estado do overtrarining”.
Hackney (apud COSTA; SAMULSKY, 2005; p. 125) define overtraining
como sendo uma “extensão anormal do processo de treinamento que resulta
culminando num estado de estafa (staleness)”. Neste estado de estafa o atleta
teria queda no desempenho a longo prazo.
22
Dentro das definições citadas para a síndrome do overtraining
encontramos termos que seriam usados como sinônimos como, por exemplo,
overreaching funcional e overreaching não funcional. Mas, na verdade, eles
não são exatamente sinônimos.
O overreaching funcional pode ser entendido como uma acumulação de
estresse de treinamento e não treinamento, resultando num decréscimo do
desempenho a curto prazo com ou sem sinais e sintomas psicológicos e
fisiológicos do overtraining e que a restauração das capacidades normais se dá
de alguns dias a algumas semanas. Para o overtraining esta restauração das
capacidades normais pode levar de semanas a meses. (KREIDER et al. apud
COSTA; SAMULSKY, 2005, p.125)
Costa; Samulsky (2005, p.125) defendem “o overreaching como uma
parte comum do treinamento atlético [...] e é caracterizado por um desempenho
inferior transitório que será revertido em um período de uma a duas semanas e
pode ser levado a um estado de supercompensação”.
Moreira (2008, p.241) reforça que “este estado, relacionado a sintomas
posteriores a períodos de intensificação de treinamento, com reversão após
alguns dias de recuperação, tem sido denominado como overreaching
funcional”.
Parece existir um consenso entre os autores sobre overreaching
funcional. Freitas, Miranda, Bara (2009, p.458) também afirmam que o
overreaching “ocorre devido a um acúmulo do estresse de treinamento e de
outros fatores que resultam em uma diminuição da capacidade de rendimento,
a qual é restaurada de alguns dias a duas semanas”. Segundo o autor o
overreaching deve ser entendido como parte do processo de
supercompensação.
Porém, se este período de recuperação não for suficiente para a
reversão do estado de overreaching, denomina-se o fenômeno como um
overreaching não funcional. “Somente em casos de alteração severa e
prolongada (meses, anos) é utilizado o termo síndrome do overtraining”.
(COUTTS et al. apud MOREIRA, 2008, p.242)
Com isso pode-se entender o overreaching funcional como uma parte
integrante e até necessária ao treinamento, uma vez que, bem conduzida
23
poderia levar o atleta a um estado de supercompensação. Já a síndrome do
overtraining seria a conseqüência indesejável do treinamento.
Dentre os principais sintomas encontrados na literatura para a síndrome
do overtraining citam-se: fadiga crônica, perda de apetite, diminuição da
performance, aumento da freqüência cardíaca de repouso, infecções
freqüentes, distúrbios de sono, alterações de humor e desinteresse geral do
atleta pelo treino (MACKINNOM, 2000; NOAKES, 1991 apud SIMÕES et al.,
2004). E ainda aumento da suscetibilidade a infecções, sugerindo algum tipo
de resposta imunológica negativa, depressão, apatia geral, decréscimo da
auto-estima, instabilidade emocional, perda da capacidade de
supercompensação, irritabilidade, aumento na vulnerabilidade a lesões e
alterações hormonais (COSTA; SAMULSKY, 2005).
Ainda vale citar que atletas com overtraining podem apresentar
freqüentes infecções no trato respiratório superior, aumento na percepção
subjetiva do esforço e disfunções do sistema nervoso autônomo. (FREITAS;
MIRANDA; BARA, 2009)
O diagnóstico da síndrome do overtraining não é fácil. Segundo Cunha;
Ribeiro; Oliveira (2006) os sintomas mais comuns do overtraining podem ser
confundidos com o do overreaching e até mesmo com os do treinamento
normal.
Um dos sintomas mais importantes da síndrome do overtraining, a
fadiga, que é definida como a inabilidade de manter determinada intensidade
de treinamento, pode ser considerada como um sinal de alarme do organismo
em resposta ao estresse excessivo. Por outro lado, a fadiga tem um papel
importante no treinamento esportivo, pois é o primeiro passo para o processo
de adaptação do treinamento, que estimula um incremento das funções
orgânicas do atleta, sendo que o balanço entre o estresse e a recuperação
define a qualidade do programa de treinamento (CUNHA; RIBEIRO; OLIVEIRA,
2006).
Para detectar o overtraining, Araújo et al (2008, p.276) defende que
dentre as “principais alterações fisiológicas geradas estão as variáveis
cardiorrespiratórias, hormonais, imunológicas e hematológicas”.
Segundo Denadai; Greco (2005, p.39)
24
o overtraining é caracterizado por uma queda na performance com queda o manutenção do LAn (limiar anaeróbio), fadiga prematura, dor e rigidez muscular, redução na sensibilidade às catecolaminas, mudanças no humor, instabilidade emocional, queda na motivação, percepção, coordenação, concentração e redução na tolerância ao estresse.
Além do que já foi citado como meio de detecção para o overtraining,
mais alguns sinais podem ajudar na mensuração. Alguns hormônios, por
exemplo, podem indicar a adequação ou inadequação das cargas de treino.
O aumento do nível de hormônios catabólicos (cortisol, adrenalina e noroadrenalina) e a redução de alguns hormônios anabólicos (testosterona, tiroxina e GH) geram um estado predominantemente catabólico no organismo, podendo comprometer a adaptação e melhora no rendimento, pois podem levar a uma perda da massa muscular. (DENADAI; GRECO, 2005, p.40)
Além disso, os mesmos autores reforçam que outro indicativo do
surgimento do overtraining pode ser uma queda nos níveis de ferro, ferritina,
hemoglobina, glicose, lactato, amônia, ácidos graxos livres e albumina.
A diminuição da quantidade de linfócitos e anticorpos decorrentes de
altas cargas de treinos aumenta a incidência de infecções do trato respiratório
superior.
A presença de Creatina Quinase (CK) e lactato desidrogenase na
corrente sanguínea também podem levar ao diagnóstico do overtraining, pois
de acordo com Denadai e Greco (2005), refletem dano celular.
Alguns autores remetem à fragilidade dos indicadores bioquímicos para
a detecção do overtraining. Não pela consistência dos resultados, mas pela
demora dos exames, que podem levar dias ou até semanas. Por isso, já tem
sido utilizados exames psicológicos ou psicométricos como forma de detectar
mais precocemente o overtraining.
“O monitoramento regular das variáveis imunes e hormomais poderia
prover ótimo diagnóstico para a avaliação do impacto do exercício agudo e
crônico na saúde e identificar atletas com maior risco para desenvolverem
infecções ou inflamações” (MOREIRA et al.,2009, p.356). Mas avaliar essas
variáveis através de exames clínicos pode representar um alto custo
operacional e tornar-se inviável. Portanto, neste contexto, os questionários
25
assumem importante papel para o monitoramento das respostas fisiológicas
durante o processo de treinamento.
De acordo com Moreira et al. (2009, p.356) alterações no estado de
humor e estresse crônico tem sido associadas com a supressão imunológica.
Por isso, questionários e inventários vem sendo frequentemente utilzados em
estudos que buscam estabelecer relações entre estresse de diferente natureza
(psicológica ou fisiológica), respostas imunológicas, desempenho e saúde.
Dois questionários têm sido amplamente utilizados com este fim: o
DALDA ou Daily Analisys of Life Demands in Athletes, utilizado em diferentes
investigações sobre o treinamento esportivo, mostrando-se sensível as
manipulações da carga de treinamento (MOREIRA; CAVAZZONI, 2009, p.109)
e o WURSS-21 ou Winconsin Upper Respiratory Survey, que “pode extrair
informações relacionadas a sintomas de infecções ou inflamações no trato
respiratório superior, decorrentes, possivelmente, da diminuição da função
imune, resultante de diferentes fontes de estresse”. (MOREIRA et al., 2009,
p.356)
Costa; Samulsky (2005, p.127) afirmam que a “grande vantagem de
instrumentos psicométricos é a rápida avaliação das informações”. Os autores
citam como bons instrumentos psicométricos o POMS (Perfil dos estados de
Humor), o RPE (Percepção Subjetiva ao Esforço) e o RESTQ- Sport, sendo
este último já adotado pelo Comitê Olímpico Brasileiro.
O POMS avalia o perfil de humor, analisando parâmetros tensão-
ansiedade, depressão, raiva, vigor, fadiga, confusão e humor total.
(NAKAMOTO, 2005)
O POMS “é um instrumento de avaliação de humor auto-aplicável, com
65 palavras que descrevem sentimento, as quais devem ser pontuadas
segundo uma escala de 5 pontos: “nada”, “um pouco”, “mais ou menos”,
“bastante” ou “ extremamente”. É dividido em seis escalas: “tensão” (9itens);
“depressão” (15 itens); “raiva” (12 itens); “vigor” (8 itens); “fadiga” (7 itens); e
“confusão” (7 itens). Os 7 itens restantes faziam parte, originalmente de um
sétimo fator (amabilidade), o qual acabou por ser abandonado por não
apresentar validade e confiabilidade adequadas, mas os itens formam mantidos
para não modificar o inventário”. (PELUSO, 2003, P.21)
26
De acordo com Nakamoto (2005, p.5) “o POMS não serve como
diagnóstico da síndrome do overtraining, mas é um método para a detecção de
mudanças do estado de humor consistente com a condição do overtraining”.
O RESTQ- Sport foi desenvolvido para medir a frequência do estado de
estresse atual em conjunto com a frequência de atividades de recuperação
associadas (COSTA; SAMULSKY, 2005).
A PSE ou RPE (Percepção Subjetiva do Esforço) é feita normalmente
utilizando a Escala de Borg. Segundo Nakamura et al (2005, p.2) a escala de
Borg deve ser apresentada aos atletas durante o teste, e estes “atribuem um
valor numérico na escala correspondente à sua percepção geral do esforço
naquele instante. A escala possui atributos verbais ao lado do números para
facilitar a escolha”.
Tradicionalmente, a PSE é entendida como a integração de sinais
periféricos (músculos e articulações) e centrais (ventilação) que, interpretados
pelo córtex sensorial, produzem a percepção geral ou local do empenho para a
realização de uma determinada tarefa (Borg, 1982 apud NAKAMURA et al.,
2010, p. 2.)
Segundo Raso, Matsudo e Matsudo (2000,p.28) a PSE foi determinada
através de uma escala arbitrária de 0 a 10, com intervalos iguais, partindo de
uma escala percentual proporcional à sobrecarga de esforço, ou seja, se o
sujeito aponta um escore 6 na PSE, é esperado que a intensidade de trabaho
seja 60% aquela da capacidade máxima de produção de força muscular”.
(figura 4)
0 Extremamente leve
1 Muito leve
2
3 Leve
4
5 Pesado
6
7 Muito pesado
8
9 Extremamente Pesado
Fonte: (Raso;Matsudo; Matsudo, 2000)
27
Segundo os mesmos autores, a percepção subjetiva do esforço pode
adotar uma posição importante nos programas de treinamento com pesos,
como parâmetro para a prescrição e monitorização da intensidade em
exercícios de endurance muscular localizada e força muscular, independente
do volume. O procedimento metodológico da escala de Borg “é constituído de
fatores como a simplicidade, baixo custo operacional, pouco conhecimento
específico, mínima instrução para a sua aplicação, assim como pode evitar o
risco de lesão músculo-esquelética presente em outras medidas”.
Segundo Costa et al. (2009, p. 306) a PSE destaca-se por ser ágil e de
fácil aplicabilidade na prescrição, principalmente para modalidades de exercício
aeróbio. Estas assumem importante papel na prevenção, controle e reabilitação
de doenças e na redução da morbidade. Tal fato sustenta-se nos excelentes
resultados obtidos através da sua correlação com o consumo de oxigênio
(QO2), a captação de oxigênio (VO2) e a FC (freqüência cardíaca).
Moreira et al. (2010, p.346) citam que trabalhos mais recentes tem
utilizado uma adaptação da PSE, com o objetivo de monitorar a carga interna
de treinamento, que seriam, de acordo com Nakamura et al (2010, p.2), as
alterações fisiológicas e bioquímicas decorrentes do treinamento.
Após 30 minutos do término da sessão de treinamento solicita-se ao
atleta que responda: “Como foi sua sessão de treinamento?” A resposta deve
ser fornecida a partir de uma escala adaptada da CR10 de Borg conforme o
ilustrado na figura 2.
Figura 5: Escala CR10 de Borg (1982) modificada por Foster et al. (1990)
Classificação Descritor
0 Repouso
1 Muito, muito Fácil
2 Fácil
3 Moderado
4 Um Pouco Difícil
5 Difícil
6 _
7 Muito Difícil
8 _
9 _
10 Máximo
Fonte: (Nakamura; Moreira, Aoki; 2010)
28
Essa medida deve refletir uma avaliação global da intensidade de toda a
sessão e o intervalo de cerca de 30 minutos deve ser adotado para que
atividades leves ou pesadas, realizadas ao final da sessão, não influenciem a
avaliação. O produto do escore da PSE (intensidade) pela duração da sessão
em minutos (volume) reflete a magnitude da carga em unidades arbitrárias.
(MOREIRA et al.;2010, p.346)
Os mesmos autores ainda reforçam que este método tem sido aceito
como um indicador da magnitude da carga de treinamento, sendo utilizado
como instrumento complementar para o monitoramento do overreaching ou
overtraining.
Todos esses métodos são muito úteis para auxiliar técnicos e
preparadores físicos a detectar a possível instalação de quadros de estresse
agudo como o overtraining. Vale lembrar também que a sensibilidade dos
profissionais que trabalham diretamente com os atletas pode ser valiosa para
que os sinais do overtraining sejam rapidamente percebidos e revertidos a
tempo.
29
CAPÍTULO III
MARCADORES DE OVERTRAINING
Antes de citar os principais marcadores do overtraining, vale a pena falar
sobre a diferença entre carga interna e carga externa de treinamento. O
controle da carga interna de treinamento pode ajudar na prevenção da
síndrome do overtraining.
Moreira et al. (2010, p. 288) define a carga interna como as principais
alterações fisiológicas e bioquímicas decorrentes do treinamento físico
sistematizado. Já a carga externa seriam os principais ganhos no desempenho
do atleta como, por exemplo, a melhora no tempo em uma corrida ou na
quantidade de saltos realizados após o treinamento. Historicamente, a
avaliação na melhora do desempenho do atleta é feita tão somente levando-se
em consideração a carga externa. A carga interna, porém não pode ser
deixada de lado, pois pode indicar, além de ganhos em termos metabólicos,
alterações metabólicas compatíveis com a síndrome do overtraining.
De acordo com Nakamura, Moreira, Aoki (2010, p.2) o sucesso do
processo de treinamento depende do monitoramento preciso da carga interna.
Para isso, diversos parâmetros podem ser utilizados para avaliá-la como, por
exemplo, a relação Testosterona/Cortisol, a concentração de metabólitos
(lactato e amônia), o comportamento da FC e a percepção subjetiva do esforço
(PSE).
Como já foi citado anteriormente, treinamentos bem planejados buscam
a supercompensação, que nada mais é que o momento, após uma queda
planejada de desempenho, onde este desempenho aparece superior ao nível
inicial. Nakamura et al. (2010, p. 2) afirmam que o mecanismo de
supercompensação é dependente do controle preciso do nível de estresse
aplicado (carga interna de treinamento). Portanto, segundo o autor, torna-se
inquestionável a importância do acompanhamento das respostas bioquímicas,
fisiológicas e/ou perceptuais (carga interna) durante o treinamento.
Nakamoto (2005, p. 1) diz que “a síndrome do overtraining é uma
condição complexa, caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas em
resposta a um planejamento inadequado do treinamento desportivo”.
30
Como já foi citado anteriormente, o overtraining aparece com uma série
de sintomas característicos, mas o sintoma mais comum da síndrome do
overtraining é a queda persistente do desempenho. Cunha, Ribeiro, Oliveira.
(2006, p.298) confirmam que “a avaliação da diminuição do desempenho
específico ainda representa o padrão-ouro no diagnóstico do overtraining”, ou
seja, a queda do desempenho ainda seria a melhor forma de diagnosticar a
síndrome.
Existe uma busca concentrada em desenvolver um método ou descobrir
um marcador que seja absolutamente fidedigno e que possa diagnosticar o
overtraining com precisão. “Apesar de bem descritos e estabelecidos os sinais
e sintomas do overtraining ainda não são suficientes para o estabelecimento de
um diagnóstico padrão para a detecção da síndrome”. (NAKAMOTO, 2005)
A maioria dos autores que estudam o overtraining sugerem alguns tipos
principais de marcadores para esta síndrome. Dentre eles, marcadores
hormonais, imunológicos, fisiológicos, hematológicos, psicológicos e
bioquímicos. Neste capítulo serão tratados alguns destes marcadores.
1 Relação Testosterona/Cortisol (T/C)
Dentre os marcadores hormonais, o mais utilizado é a relação
testosterona/cortisol. A lógica da utilização deste marcador está no fato de a
testosterona ser um hormônio anabólico, enquanto o cortisol um hormônio
catabólico. Se a razão entre eles sugerir maior concentração de cortisol que de
testosterona, pode-se considerar um possível quadro de overtraining.
Uchida et al. (2004, p.167) afirma que “a redução na concentração de
testosterona, em conjunto com o aumento na concentração de cortisol, ocorre
em períodos de treinamento extenuante”.
A testosterona e o cortisol são dois hormônios com funções antagônicas.
“No músculo esquelético, a testosterona atua como hormônio anabólico
aumentando a síntese protéica [...] já o cortisol apresenta uma ação catabólica,
prevenindo a reesterificação (oxidação) de ácidos graxos e induzindo a lipólise”
(ARAÚJO et al, 2008, p. 279).
Em fases de treinamento onde todas as variáveis (volume, intensidade,
descanso, alimentação, entre outros) estiverem controladas, espera-se
31
encontrar alta atividade da testosterona. Flynn et al (apud ARAÚJO et al., 2008,
p. 279) observaram um decréscimo nas concentrações deste hormônio num
período onde houve queda na performance dos atletas, ou seja, em período de
overtraining.
Por outro lado, de acordo com Araújo et al. (2008, p. 279), o cortisol não
permite a formação de ácidos graxos e ainda induz a lipólise (quebra da
gordura). Hoffman et al. (apud SIMÕES et al., 2004, p. 32) reforçam que o
“aumento do cortisol está relacionado com o catabolismo dos tecidos muscular,
esquelético e adiposo”.
O cortisol é comumente conhecido como o hormônio do estresse,
portanto, é muito comum encontrar indivíduos com possível quadro de
overtraining com níveis sanguíneos de cortisol muito aumentados.
Simões et al. (2004, p.41) relatam que
em situações de estresse (exercício físico intenso e prolongado, dor, calor entre outros) ocorre um aumento nos níveis cerebrais de dopamina e noroepinefrina, desencadeando um aumento na secreção hipotalâmica de fatores de liberação hormonal. Esses fatores promovem por sua vez um aumento na secreção de hormônios como o ACTH (adenocorticotropina), resultando em maior secreção de cortisol pelo córtex das glândulas adrenais.
A literatura cita algumas funções específicas do cortisol como, por
exemplo, estimular o fracionamento das proteínas em aminoácidos (AA) em
todas as células do corpo, exceto o fígado (onde estes AA são sintetizados em
glicose); facilita a ação do glucagon e GH, no processo de gliconeogênese
(formação da glicose); funciona como antagonista da insulina, por inibir a
captação e oxidação da glicose (McARDLE; KATCH; KATCH, 1998, p. 350)
Estes autores relatam que “altas concentrações séricas de cortisol, por
períodos prolongados, acabam resultando em fracionamento excessivo das
proteínas, desgaste tecidual e um balanço nitrogenado negativo”.
(McARDLE;KATCH; KATCH, 1998, p. 350)
Como a secreção de cortisol estimula a mobilização das gorduras para a
obtenção de energia, o fígado fraciona essas gorduras em seus componentes
cetoácidos mais simples. As concentrações de cetoácidos muito elevadas
podem levar o indivíduo a uma condição de acidose, conhecida como Cetose,
32
que é “comum em indivíduos que consomem dietas pobres em carboidratos e
calorias.” (McARDLE; KATCH; KATCH, 1998, p. 350)
A relação Testosterona/Cortisol (T/C) tem sido muito empregada no
controle do treinamento físico/desportivo.
Quando a razão T/C é aumentada, ou seja, a concentração de testosterona é maior que a concentração de cortisol, isso indica um resultado positivo em relação ao treinamento; já o decréscimo sugere que o método de treinamento utilizado representa um estímulo estressor intenso para o organismo” (ARAÚJO et al., 2008, p.270).
Para atletas com overtraining, estes autores sugerem que “um
decréscimo na razão T/C de aproximadamente 30% é considerado relevante
como indicativo de uma resposta estressante ao treinamento” (p.270).
2 Glutamina
Araújo et al. (2008, p. 282) conferem à glutamina o status de
principal substrato energético para as células do sistema imunológico, principalmente para os linfócitos e macrófagos, exercendo importantes funções na manutenção do sistema imunológico, na regulação da síntese e degradação de proteínas, no controle do volume celular, na desintoxicação corporal do nitrogênio e da amônia.
De acordo com eles, a falta ou deficiência de glutamina deprime o
sistema imunológico, expondo o atleta a frequentes infecções, principalmente
do trato respiratório superior.
Rogero; Mendes; Tirapegui (2005, p. 363) defendem a teoria de Eric
Newsholme que diz que “a reduzida concentração plasmática de glutamina
observada em atividades físicas prolongadas seria responsável pela supressão
da resposta imune associada ao aumento da taxa de infecções observadas na
síndrome do overtraining”
Em condições fisiológicas normais, a glutamina é distribuída a vários
tecidos, principalmente, às células do sistema imune (os eritrócitos). Porém,
durante os exercícios intensos e prolongados, pode haver uma redistribuição
da glutamina, sendo ela direcionada às células dos rins e fígado. De acordo
com Rogero; Mendes; Tirapegui (2005, p. 363) nestes órgãos a glutamina
desempenha funções vitais ao exercício “como a síntese de glicose através da
33
neoglicogênese (fígado) e regulação da acidose instalada (rins)”. Sendo assim,
a pequena disponibilidade de glutamina para as células do sistema
imunológico, aumenta a chance dos atletas desenvolverem infecções,
principalmente do trato respiratório superior.
3 Depleção de glicogênio
“O glicogênio é um nutriente que participa ativamente do processo de
geração de energia, tanto em condições aeróbias quanto anaeróbias”
(ROGERO; MENDES; TIRAPEGUI, 2005, p. 363). A diminuição dos estoques
de glicogênio pode desencadear quadros de fadiga periférica em atletas de alto
rendimento. E a diminuição dos estoques de glicogênio muscular e hepático
pode estar relacionada ao alto volume de treinamento imposto ao atleta.
Kreider (apud ROGERO; MENDES; TIRAPEGUI, 2005, p. 363) diz que:
“a redução do conteúdo de glicogênio muscular, e conseqüente depleção dos estoques de energia pode estimular a oxidação intramuscular de aminoácidos de cadeia ramificada, também conhecidos como BCAA (leucina, isoleucina e valina).
Ocorrendo a diminuição plasmática desses aminoácidos facilitaria a
captação hipotalâmica de triptofano livre e, consequentemente, “promoveria
uma maior síntese de serotonina a partir do triptofano, desencadeando a fadiga
central e, possivelmente, a síndrome do overtraining”.
4 Creatina quinase (ck)
“A Creatina Quinase (CK) é o indicador bioquímico mais utilizado na
literatura como indicador da ocorrência de lesão muscular” (BARBOSA et al.,
2003, p.8).
As concentrações sanguíneas de CK tendem a se alterar na medida em
que se manipulam o volume e/ou a intensidade dos treinamentos. De acordo
com Katirji & Jaberi e Gleeson (apud FREITAS; MIRANDA; BARA, 2008, p.
462) o exercício físico prolongado e extenuante aumentam os níveis de CK,
sendo que a magnitude desta elevação está diretamente relacionada à
intensidade e duração da atividade.
34
Barbosa et al. (2003, p.8) preconizam que “a sua presença acentuada no
plasma sugere a existência de uma elevada agressão sobre as fibras
musculares com lesão nos miofilamentos e, também, do sarcolema”.
A CK é utilizada como marcador de dano no tecido muscular esquelético
devido ao fato de, juntamente com outras enzimas, ser citoplasmática e, assim,
impermeável na membrana plasmática. Dessa forma, o aumento nos níveis
dessa enzima no líquido extracelular “pode indicar uma alteração na
permeabilidade da membrana ou o rompimento da mesma” (FREITAS;
MIRANDA; BARA, 2009, p.462)
Araújo et al. (2008, p. 278) afirmam que a elevação nos níveis
sanguíneos da CK pode refletir dano tecidual, “podendo resultar em aumento
da permeabilidade da membrana celular, devido à perioxidação lipídica”.
“O efeito de várias sessões sucessivas de exercício prolongado pode
desencadear mecanismos que induzem o extravasamento da CK na corrente
sanguínea” (FREITAS; MIRANDA; BARA, 2009, p.462). Talvez por este motivo
encontram-se níveis elevados de CK em atletas com overtraining. Além disso,
os níveis plasmáticos de CK aumentam após uma lesão esquelética e/ou
lesões cerebrais.
Segundo Freitas; Miranda; Bara (2009, p. 462) a “CK tem um papel
chave na formação de energia nas células musculares, visto que é uma enzima
intramuscular responsável por manter níveis adequados de ATP durante a
contração muscular”.
A função da CK é “quebrar” ou hidrolisar a molécula de creatina fosfato
ou fosfato de creatina (CP). A energia liberada da quebra da CP é utilizada
para a ressíntese de ATP. A quebra da CP é um meio rápido e eficaz para
fornecer energia para a ressíntese de ATP sem a presença de oxigênio.
(McARDLE; KATCH; KATCH, 1998, p.99)
Segundo Araújo et al. (2008, p. 278) “a creatina quinase é um metabólito
produzido constantemente em repouso por diversos tecidos do corpo como
intestinos, fígado, hemácias e músculos”. Além disso, é uma enzima
amplamente utilizada como biomarcador de estresse e alteração na atividade
muscular.
5 Citocinas
35
De acordo com Araújo et al. (2008, p.282) “ as citocinas são pequenas
proteínas ou peptídeos que compreendem um grupo muito extenso de
moléculas envolvidas na emissão de sinais entre as células, através de um
processo análogo ao dos hormônios, durante o desencadeamento das
respostas imunes”.
As citocinas IL-6 (interleucina 6) e TNFα (fator de necrose tumoral α) são
as que estão diretamente relacionadas ao exercício físico e a processos
inflamatórios decorrentes do exercício.
Smith citado por Araújo et al. (2008, p. 283) explica que o TNFα “está
envolvido em inflamações orgânicas e durante o overtraining tem sua resposta
inflamatória a uma lesão muscular e supressão do sistema imunológico
aumentadas”.
As microlesões musculares causadas pelo treinamento com alto volume
e intensidade, associado a períodos de descanso insuficientes, podem gerar
respostas inflamatórias e consequente aumento na produção de citocinas.
Rogero; Mendes; Tirapegui (2005, p. 361) ressaltam que os
microtraumas provocados por treinamentos intensos “resultam em uma
resposta inflamatória moderada, que tem como finalidade o processo de
cicatrização, com conseqüente adaptação muscular e/ou óssea e/ou do tecido
conectivo”.
Na maioria dos casos esses microtraumas são facilmente recuperados,
mas em atletas com overtraining ou que estejam realizando treinamentos com
alto volume e/ou intensidade, os microtraumas podem evoluir para uma
inflamação aguda e local, podendo evoluir para uma inflamação crônica
seguida de inflamação sistêmica. Neste quadro surgem altas concentrações de
citocinas pró-inflamatórias. (ROGERO; MENDES; TIRAPEGUI, 2005, p.361)
36
CONCLUSÃO
O esporte de alto rendimento além de estar cada vez mais competitivo,
também se rende cada vez mais à tecnologia. Grandes equipes estão apoiadas
por equipamentos capazes de mapear o corpo dos atletas, permitindo
informações precisas e rápidas sobre sua saúde. São informações sobre
desenvolvimento da massa magra, percentual de gordura, massa óssea e até
mesmo sobre qualquer desequilíbrio muscular resultante do treinamento físico.
Mas mesmo com tanta tecnologia a favor do esporte, ainda são
registrados casos de queda de desempenho decorrente de treinamentos
excessivos ou mal conduzidos.
Para evitar a síndrome do overtraining é importante que os treinadores
ou preparadores físicos conheçam profundamente os princípios que regem o
treinamento esportivo e que estejam atentos aos sinais de desgaste que os
atletas apresentam durante a preparação física ou, até mesmo, durante a
competição.
A síndrome do overtraining pode incidir com mais freqüência em atletas
com treinamentos mal planejados, que não respeitam principalmente, os
períodos de recuperação indispensáveis ao bom desempenho do atleta.
O trabalho de uma equipe multidisciplinar junto aos atletas também pode
ajudar a evitar a síndrome do overtraining. As informações passadas por
médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos podem ajudar muito em
uma possível reestruturação no treinamento a fim de evitar quaisquer
problemas decorrentes de desequilíbrios nutricionais, emocionais ou físicos.
A verdade é que os sinais da síndrome do overtraining podem ser
previstos pela tecnologia, mas a sensibilidade dos treinadores e preparadores
físicos também é significativa nesse sentido. Como já foi dito anteriormente,
eles precisam estar atentos a qualquer sinal de cansaço extremo e às quedas
prolongadas no desempenho do atleta.
A detecção da síndrome do overtraining não é fácil. Para grandes
equipes investir em exames clínicos e equipamentos cada vez mais detalhados
e sofisticados e em equipes multidisciplinares à disposição dos atletas não é
nenhum problema. Mas para equipes menores e com pouco dinheiro para
37
investir, a competência e a sensibilidade dos treinadores pode ser a ferramenta
mais importante para a prevenção e tratamento dos sintomas da síndrome do
overtraining.
A busca permanente por resultados mais expressivos e records quase
sobre-humanos pode expor os atletas, com mais freqüência, à síndrome do
overtraining. Respeitar os limites individuais e cuidar do planejamento do
treinamento para a obtenção desses resultados pode fazer toda a diferença
para a saúde do atleta e garantir o sucesso de toda equipe.
38
REFERÊNCIAS
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