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Sala Ambiente Realidade Escolar e Trabalho Pedagógico
Apresentação
Prezado(a) cursista,
Com a abertura da Sala Ambiente Realidade Escolar e Trabalho Pedagógico, damos
início aos conteúdos específicos do nosso curso de especialização. Seja bem-vindo(a)!
Nesta sala pretendemos problematizar a função de coordenação pedagógica porque
queremos que você construa um olhar analítico e crítico da realidade educacional
brasileira, articulando-o a uma reflexão sobre o seus fazeres profissionais no cotidiano
escolar.
Essa reflexão será muito favorecida porque, paralelamente, você também estará
desenvolvendo estudos específicos na Sala Ambiente Projeto Político-Pedagógico e
Organização do Ensino cujo foco de atenção será o fazer pedagógico-institucional,
orientado pelo Projeto Político-Pedagógico da escola.
De modo específico, pretendemos que ao finalizar os estudos desta sala você possa:
• compreender os aspectos históricos, sociais, culturais, políticos e econômicos
que norteiam o trabalho pedagógico, e considerá-los em suas análises;
• interpretar os dados oficiais sobre os programas para educação nos âmbitos
dos sistemas educacionais;
• identificar as políticas implantados nas escolas;
• organizar o trabalho pedagógico, fortalecendo a gestão democrática da
escola;
• analisar questões como violência e indisciplina existentes na escola e formas
de autonomia e liberdade possíveis, tendo em vista a formação de sujeitos
emancipados política e intelectualmente.
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Nosso estudo ganhará um sentido ainda maior quando você dirigir sua análise para a
realidade da escola em que atua. Para isso, será preciso relacionar as temáticas, as
questões e as atividades propostas nesta Sala Ambiente com o cotidiano escolar, de
modo a evidenciar os problemas que ali precisam ser enfrentados.
Esperamos que você realize reflexões que sirvam de base para transformações reais no
trabalho de coordenação pedagógica que desenvolve, fortalecendo-o no interior da
escola. Por esta razão, nosso esforço será o de ajudá-lo(a) a problematizar essa
realidade.
Com a carga horária de 30 horas, consideramos necessário fazer uma discussão geral
dos temas propostos que deverá ser ampliada a partir de leituras e estudos realizados
nas referências indicadas. E, certamente, os seus estudos, que não se encerrarão nesta
sala, deverão ser aprofundados à medida que o curso se desenvolve e outras Salas
Ambiente também contribuirão.
Esta Sala Ambiente foi planejada para ser desenvolvida em três unidades, conforme o
quadro apresentado abaixo:
UNIDADES CONTEÚDO
Unidade I
A Educação Básica e a coordenação
pedagógica
• A organização da instituição de
ensino após a LDB/1996 e as condições
do trabalho pedagógico.
• O papel da coordenação pedagógica
na escola.
• Os programas para a educação
escolar e a organização do trabalho
pedagógico.
Unidade II
A gestão educacional e a organização do
trabalho pedagógico
• A coordenação pedagógica e a
gestão educacional: identidade e
trabalho coletivo.
• A divisão do trabalho e as relações
de poder na gestão escolar.
Unidade III • Poder e violência na sociedade
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Desafios da escola: disciplina, violência,
autonomia e liberdade
contemporânea: o que fazem as escolas?
• Poder e disciplina na escola:
liberdade e autonomia.
• O espaço da cidadania e suas
contradições sociais.
Em cada unidade, elaboramos atividades obrigatórias e complementares para fins de
contribuir com sua práxis educacional. Entendemos que a realização de atividades de
caráter analítico sobre a prática tem grandes chances de promover a reflexão
teórica/prática e abre uma possibilidade de intervenção na organização do trabalho
pedagógico da escola com o objetivo de superar os problemas identificados de forma
coletiva e comprometida com o ideal de uma escola cidadã.
Ao final de cada unidade, você encontrará as atividades que compõem a avaliação da
sala, assim como indicações de filmes e referências quando pertinentes. Esperamos que
você aproveite este momento para discutir articuladamente com seus colegas a
organização curricular da sua instituição! Boa leitura!
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A Educação Básica e a Coordenação Pedagógica
A organização da instituição de ensino após a LDB/1996 e as condições do trabalho pedagógico
Caro(a) cursista,
O que é a coordenação pedagógica no contexto de uma escola?
Quem é o profissional que assume a coordenação pedagógica na escola de Educação
Básica no Brasil?
Iniciar os nossos estudos com perguntas indica, dentre outras coisas, que estamos
tratando de um tema complexo, mas, sobretudo, que estamos nos referindo a uma
função que apresenta um grau elevado de diversidade de situações e que se encontra
em processo de construção.
Como você pode ver, tal afirmativa considera a historicidade do cargo e da função de
coordenação pedagógica no contexto educacional do Brasil. Isto é, levamos em conta a
existência de um movimento na construção de uma identidade dos profissionais que
exercem essa função nas escolas brasileiras e também de uma diversidade de modos e
de formas como a coordenação pedagógica vem sendo desenvolvida em nossos sistemas
educativos.
Entendemos que pelo fato de a escola ser uma instituição que se modifica no processo,
o trabalho dos profissionais que nela atuam, também sofre alterações provocadas pelos
diversos fenômenos sociais, pelas políticas educacionais, pelas condições de
organização e trabalho e pelas influências das diferentes gerações que passam pela
escola. Portanto, o debate sobre o tema da coordenação pedagógica que conduziremos
nesta sala, procurará resgatar resumidamente essa historicidade, sobretudo, porque
desde o final do século XX profundas mudanças políticas, econômicas e sociais
impactam na organização do trabalho pedagógico da escola pública.
Na década de 1990, um conjunto de reformas implantadas na educação brasileira
resultou na reestruturação do ensino no Brasil nos seus aspectos relativos à organização
escolar, à redefinição dos currículos, à gestão, à avaliação e ao seu financiamento.
Especialmente na Educação Básica, as mudanças realizadas redefiniram sua estrutura,
ficando organizada em três etapas: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino
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Médio. As alterações na legislação educacional brasileira consumaram essa nova
reconfiguração, tendo como expressão maior a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB 9394/96.
Após a promulgação da Lei nº 9.394/1996, os profissionais da educação assumiram
maiores responsabilidades com a elevação das atribuições concernentes à gestão
pedagógica, financeira e administrativa da escola. Mudanças essas que vieram na
esteira da crise social e econômica que dominou o cenário do país na década de 1990 e
que foram visualizadas pelos altos índices de desemprego, da pobreza e da
marginalidade social.
Paralelamente ao aumento do volume do trabalho escolar, a escola passou a conviver
com a expansão do acesso, sendo a permanência e o sucesso escolar os desafios mais
difíceis de enfrentar. Nesse processo, emergiram questões sobre avaliação institucional
e avaliação da aprendizagem; gestão democrática; diversidade e inclusão;
(in)disciplina; violência e também inúmeras outras questões relativas ao currículo e
seus valores e à formação docente foram projetadas. Questões essas que se apresentam
hoje sob novas perguntas ou, simplesmente, são reeditadas haja vista a dinamicidade
social.
O que queremos evidenciar para você é que nesse contexto a organização do trabalho
pedagógico tornou-se ainda mais complexa, pois embora os problemas da Educação
Básica tenham se ampliado, na maioria das redes de ensino no país, o quadro de
funcionários praticamente permaneceu o mesmo e o trabalho escolar manteve-se
fragmentado e hierarquizado.
Reforma Educacional: termo que caracteriza o conjunto de transformações iniciado
na década de 1990 na educação brasileira em consonância com as reformas políticas
e econômicas desenvolvidas para a inserção do país no contexto da globalização.
Suas principais características são a descentralização (também interpretada como
desresponsabilização), o financiamento per capta, a avaliação em larga escala e a
privatização.
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Tendo isso em conta, queremos que você reflita sobre essa situação em sua escola e
que considere a importância do seu trabalho de coordenação pedagógica como capaz
de mediar as relações profissionais de maneira que elas possam se solidarizar na
efetivação de um trabalho coletivo.
Isto é, queremos que você reflita e leve para o interior da escola a compreensão de que
as reformas educativas, materializadas nos programas e projetos alçados para a escola,
é uma responsabilidade de todos os profissionais, e que cabe à coordenação pedagógica
o papel de articular esse trabalho conjunto, inclusive, o trabalho docente, para que
todos participem ativamente na condução das políticas educacionais que visam à
promoção da melhoria da qualidade do ensino.
São vários os programas encaminhados pelo Governo Federal (MEC) e pelos sistemas
estadual e municipal para a sua escola. Você consegue identificá-los? Há uma discussão
em sua escola sobre esses programas? Procure conhecer todos os programas, seus
objetivos e metas, estratégias de implantação e resultados.
Acesse o site do MEC (www.mec.gov.br) e aprofunde seus conhecimentos. Lá você vai
encontrar uma série de programas, tais como: Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE); Ensino Fundamental 9 anos; Plano de Ações Articuladas (PAR); Mais Educação;
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE); Pró-Letramento; Plano de Desenvolvimento
da Escola (PDE-Escola); Ensino Médio Inovador; Programa Nacional do Livro Didático
para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA); Política de Educação Inclusiva; Brasil
Profissionalizado; Prova Brasil etc.
A educação escolar passa por um período de grande efervescência de programas que,
geralmente, são transferidos para os profissionais da escola executarem como medida
de melhoria dos padrões de qualidade do ensino brasileiro. Muitas vezes, alguns
programas não correspondem às reais necessidades da escola ou, quando
correspondem, os profissionais se vêem impossibilitados de executá-los devido à carga
excessiva de trabalho.
Além disso, observamos que a realidade cotidiana da escola está ameaçada pelos
problemas sociais, exigindo dos profissionais um planejamento que atenda de forma
mais direta as questões da diversidade, da indisciplina, da violência que afetam a
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maioria da população do país. Muitas vezes, os programas não atendem a essa realidade
que está para além dos muros da escola.
Você concorda com essa análise? Como a sua escola vem enfrentando os problemas
sociais e pedagógicos? Aprofunde os debates com seus colegas no sentido de
problematizar a questão escola x sociedade. Quais caminhos poderemos trilhar?
Certamente essa travessia não deverá ser feita sozinha pelo coordenador pedagógico, o
que faz do trabalho coletivo a estratégia mais bem elaborada para o encontro de
soluções.
Em coletânea, organizada pela Editora Loyola, que coloca em debate o trabalho do
coordenador pedagógico, Orsolon (2009) destaca o coordenador pedagógico como um
dos agentes de transformação da escola. A autora afirma que o coordenador, quando
planeja suas ações, atribui sentido a seu trabalho (dimensão ética) e destina-lhe uma
finalidade (dimensão política) e, nesse processo de planejamento, explicita seus
valores, organiza seus saberes para realizar suas intenções político-educacionais.
Desse debate participam também Marli André e Marili Vieira (2007) que nos levam a
pensar um pouco mais sobre os saberes dos coordenadores pedagógicos. As autoras
discutem de forma crítica a concepção de professor como mero técnico e nos conduzem
à valorização das dimensões reflexiva, crítica, ética e política da formação docente.
O debate é iniciado com as perguntas: “que saberes são mobilizados pelos
coordenadores pedagógicos no exercício de seu trabalho cotidiano? Como eles os
utilizam nas diferentes situações que enfrentam diariamente? Quais são as relações
desses saberes com o contexto de trabalho?”
As autoras utilizam o trabalho de Maurice Tardif (2002) para o desenvolvimento da
reflexão sobre os saberes. Tardif é um sociólogo canadense que tem como fio condutor
de seu pensamento a ideia da necessidade de relacionar os saberes docentes com o
trabalho que os professores realizam. Ele mostra que tais saberes são plurais,
compósitos e heterogêneos, que têm origem social e evoluem ao longo da carreira
docente. São saberes humanos sobre seres humanos.
Assim, baseadas em Tardif, as autoras defendem o trabalho do coordenador pedagógico
como o de um profissional que, além de refletir constantemente sobre as mudanças na
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sociedade e na escola, seja um instigador para o crescimento e o desenvolvimento do
professor, por meio do estudo e da crítica às teorias e práticas pedagógicas. Tal como
as autoras, defendemos que o coordenador pedagógico seja um articulador do projeto
político-pedagógico da escola, num processo contínuo de formação de professores.
A organização do trabalho pedagógico é, pois, função da coordenação pedagógica da
escola o que implica a articulação de diversos saberes construídos pela formação
profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais, sob a perspectiva
do trabalho coletivo.
As leituras de textos que indicamos abaixo servirão para o aprofundamento de seus
estudos. Portanto, faça o exercício de sistematizar as idéias dos autores, utilizando-se
do roteiro abaixo.
A função primeira do coordenador pedagógico é a de planejar e acompanhar a
execução de todo o processo didático-pedagógico da instituição, tarefa de
importância primordial e de inegável responsabilidade e que encerra todas as
possibilidades como também os limites da atuação desse profissional. Quanto mais
esse profissional se voltar para as ações que justificam e configuram a sua
especificidade, maior também será o seu espaço de atuação. Em contrapartida, o
distanciamento dessas atribuições seja por qual motivo for, irá aumentar a
discordância e desconhecimento quanto às suas funções e ao seu papel na
instituição escolar.
(PIRES, 2004, p. 182 In SANTOS e OLIVEIRA, s/d)
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LEITURA OBRIGATÓRIA
SANTOS, L. L. de C. P. e OLIVEIRA, N. H.. O coordenador pedagógico no contexto
de gestão democrática da escola. s/d(on line)
FERNANDES, M. J. S. O professor coordenador pedagógico, a articulação do
coletivo e as condições de trabalho docente nas escolas públicas estaduais
paulistas. Afinal, o que resta a essa função? s/d (on line)
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ATIVIDADE 1 - OBRIGATÓRIA
Leia os textos “O coordenador pedagógico no contexto
de gestão democrática da escola” e “O professor
coordenador pedagógico, a articulação do coletivo e as
condições de trabalho docente nas escolas públicas
estaduais paulistas. Afinal, o que resta a essa
função?”, indicados nos links disponíveis
na “Biblioteca”.
Utilizando-se do roteiro abaixo, faça o exercício de
sistematizar as ideias dos autores.
1. Objetivo do texto
2. Metodologia utilizada e campo de investigação
(se o texto apresentar)
3. Argumentação teórica (autores utilizados) e
argumentação empírica
4. Resultados
Envie essa produção para a Base de Dados “Atividade
1”.
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ATIVIDADE 2 - OBRIGATÓRIA
A Tarefa Online vem sendo utilizada como instrumento
de avaliação, registro de uma trajetória, construção da
memória do processo de aprendizagem em constante
revisão, compartilhamento do cotidiano, conquistas e
desafios.
Considerando a leitura do trecho de ANDRÉ e VIEIRA,
2007, p. 16-17, disponível na Biblioteca, que retrata
uma manhã de trabalho de uma coordenadora
pedagógica que atua há dez anos, descreva você
também um dia de trabalho, buscando evidenciar as
diferentes situações do cotidiano escolar e procure
identificar os diversos saberes que precisou mobilizar
para o exercício da função.
Escreva suas reflexões sobre essa vivência e as envie
para a Tarefa “Atividade 2”.
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A Educação Básica e a Coordenação Pedagógica
O papel da coordenação pedagógica
A proposta de implantação de um curso de formação continuada para os profissionais
que atuam na área da coordenação pedagógica de uma instituição educacional nasceu
do reconhecimento da importância deste profissional para a melhoria da qualidade do
ensino brasileiro.
No Brasil, a função de coordenação pedagógica nasceu na década de 1920, conforme
atesta Roman (2001), com a tarefa de homogeneizar propostas pedagógicas,
hierarquizar competências e catalogar as práticas pedagógicas. No decorrer do século
XX e, sobretudo, no auge do tecnicismo da década de 1970, a dicotomização do
trabalho pedagógico tornou-se potencializada com a estruturação da divisão entre
planejamento e execução. A figura do coordenador pedagógico, revestida dos cargos de
supervisão, orientação e inspeção escolar simbolizava o controle e a hierarquização do
poder.
Contudo, no confronto desse processo, ocorreram experiências que favoreceram o
trabalho coletivo e o fortalecimento de relações democráticas no processo educacional,
conforme Fernandes (2005) revela em seu estudo sobre a realidade do sistema
educacional paulista. Segundo a autora, os coordenadores pedagógicos, no cotidiano de
algumas escolas, assumiram uma prática mais participativa, na qual novas experiências
pedagógicas foram desenvolvidas.
Entendemos que o coordenador pedagógico é aquele profissional que tem por
atribuição, no âmbito escolar, articular, coordenar, acompanhar, supervisionar,
orientar, subsidiar o desenvolvimento do trabalho pedagógico que se desenvolve no
interior da escola, na perspectiva da realização de um ambiente escolar que
favoreça o desenvolvimento da aprendizagem, da ética, da cidadania, a partir do
fortalecimento da gestão democrática e do trabalho coletivo.
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Com a redemocratização da sociedade, na década de 1980, e a conquista dos
movimentos dos trabalhadores da educação pelo principio da democratização da gestão
escolar, foram intensificadas as experiências e as funções dos coordenadores
pedagógicos em face aos novos projetos educativos implantados pelos sistemas.
Entretanto, como consequência da reforma educacional dos anos de 1990, observa-se
um acirramento das condições precárias das escolas em meio às profundas
transformações sociais e econômicas. Em tempos de globalização, como demonstrado
por diversos estudos (OLIVEIRA, 2001; SHIROMA, 1999) a educação figura com uma
dupla dimensão: primeira, ela é considerada como fator de desenvolvimento
econômico; segunda, a educação escolar tem sido associada a mecanismos de
contenção da pobreza. Como agravante, os trabalhadores da educação são considerados
os principais responsáveis pelo desempenho dos alunos, da escola e do sistema e, dessa
forma, precisam assumir funções de assistente social, psicólogo etc.
Em face desses desafios, o marco legal regulatório da educação escolar brasileira, a Lei
nº 9.394/96, define um elenco de tarefas a serem executadas pela instituição e seus
profissionais. Nessa medida, os docentes passam a se envolver de forma mais direta na
gestão democrática da escola articulados à família e à comunidade. A materialização
da gestão democrática, pelo que se pode ler na lei, se configura pela autonomia
financeira, pedagógica e administrativa, devendo o profissional acompanhar e
classificar o aluno de acordo com o seu desempenho, controlar a freqüência, organizar
o projeto pedagógico e o calendário da escola entre outras tarefas, como a gestão
financeira, que passou a ocupar lugar central do trabalho do diretor escolar.
Essas mudanças repercutiem sobre a organização do trabalho pedagógico, pois
passaram a exigir mais tempo de trabalho ou uma intensificação das atividades
docentes e de gestão. Consequentemente surge uma nova dinâmica hierárquica no
interior da escola e uma ênfase no trabalho coletivo, o que leva muitos profissionais a
buscarem novos saberes que possam orientá-los em face das novas demandas.
A divisão do trabalho escolar foi, assim, progressivamente alterada e a função de
coordenação pedagógica figura com um grau de importância elevado para o
cumprimento dos objetivos educacionais, haja vista o aumento dos problemas sociais
que afetam a vida escolar no quadro de redução do número de profissionais e de
aumento de alunos por sala de aula.
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Como exemplo das mudanças, podemos observar que continua precária, em muitos
sistemas educacionais do país, a condição do coordenador pedagógico – se esse
profissional tem um cargo ou somente uma função. Como consequência, há
diversificação do perfil do coordenador pedagógico (licenciado ou pedagogo); sobre
quem tem a responsabilidade na formação continuada do quadro de professores e o
atendimento à família nos casos de indisciplina, violência ou dificuldade de
aprendizagem. Ademais, questionamentos são feitos sobre o papel do coordenador
pedagógico para que vá além apaziguar conflitos, apagar focos de incêndio ou ficar
sujeito às contingências imediatas do cotidiano escolar.
A realidade educacional mostra que o coordenador pedagógico tem um importante
papel de articulador e integrador dos processos educativos que se constroem no interior
da escola. Sua atuação e seu trabalho podem contribuir de maneira significativa para
que se realize na escola um ambiente educativo que favoreça ao desenvolvimento da
aprendizagem, do conhecimento, do trabalho coletivo e interdisciplinar, da ética, da
cidadania, na perspectiva de uma educação, de uma escola, de uma sociedade cada vez
mais inclusiva.
Por sua vez, os processos educativos escolares implicam diferentes e múltiplas
dimensões do fazer pedagógico na escola. Por um lado, têm-se as relações que os
indivíduos estabelecem entre si no cotidiano da escola, definidoras do ambiente
escolar, nos diferentes espaços e momentos que ali se constroem e reconstroem. Com
efeito, as relações profissionais, afetivas e sociais que se desenvolvem no interior da
escola são elementos estruturantes do trabalho educativo escolar, na medida em que,
também nessas relações, homens e mulheres se humanizam e se educam. Nessas
relações, saberes, práticas, visões de mundo e de sociedade se encontram e interagem
mutuamente, a partir da relação entre alunos, professores e toda comunidade escolar.
Por outro lado, têm-se os processos didáticos que se realizam no processo de ensino-
aprendizagem e na interação professor-aluno. Por certo, é preciso reconhecer que uma
das especificidades da escola refere-se ao tratamento do conhecimento e sua difusão, a
partir de campos de saber e metodologias específicas, orientado por determinadas
concepções de aprendizagem, de cognição, de planejamento, de avaliação, de cultura
e do próprio conhecimento.
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Ao lado dessas duas dimensões é fundamental apreender e compreender a relação da
escola e seus sujeitos com o contexto mais amplo em que se situam. A escola e os
processos educativos que se desenvolvem no seu interior são engendrados por esse
contexto, mediados pelos condicionantes sociais, políticos, culturais, econômicos e
étnicos. Com efeito, alunos e suas famílias, professores e demais profissionais que
atuam na escola são, antes de tudo, sujeitos sociais, que vivem em sociedade e, dessa
forma, trazem consigo as marcas dessa sociedade e sua história.
Ressalte-se, ainda, a importância de se trabalhar a dimensão da inclusão na e da
escola. Por certo, é preciso que a escola seja capaz de trabalhar com a diferença e
diversidade de modo a se romper com práticas e estruturas que tendam a reforçar
preconceitos e relações excludentes de diferentes matizes, étnicas, raciais, religiosas,
físicas, dentre outras.
Portanto, o coordenador pedagógico, enquanto elemento fundamental na articulação e
coordenação dos processos educativos escolares deve ser capaz de compreender e
atuar nessas dimensões que estruturam e definem a escola, de modo a se garantir o
direito de aprender como componente do direito à educação. Além disso, essa
capacidade é requisito imprescindível, também, para se construir na escola um
ambiente educativo que favoreça ao desenvolvimento da ética, da cidadania, da
solidariedade, da inclusão, orientado por um projeto pedagógico que tenha como
horizonte a gestão democrática da educação e da escola.
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LEITURA COMPLEMENTAR
ALMEIDA, L.R. e PLACCO, V.M.N.S. O coordenador pedagógico e o espaço de
mudança. São Paulo: Loyola, 2009.
NóVOA, A. Os professores e o “novo” espaço público da educação. In: TARDIF, M. e
LESSARD, C. (Orgs.). O Ofício de Professor: histórias, perspectivas e desafios
internacionais. Petrópolis: Vozes, 2008.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
LEITURA OBRIGATÓRIA
Para aprofundar as questões deste debate, leia os seguintes textos:
DOURADO, L. F. Políticas e Gestão da Educação Básica no Brasil: limites e
perspectivas. In: Educação & Sociedade: revista de ciência da educação. Campinas:
Cortez/CEDES. V. 28, Nº 100, 2007.
Este artigo irá contribuir no aprofundamento das questões que perpassam a
organização do trabalho pedagógico, pois aborda o cenário político e pedagógico em
que se realizam as políticas direcionadas à gestão da Educação Básica e o impacto
dos programas implantados na qualidade da educação e na gestão democrática. é
sabido que os programas e projetos educacionais impactam diretamente e/ou
indiretamente no trabalho da coordenação pedagógica.
PIMENTA, S. G. Questões sobre a organização do trabalho na escola. Idéias, São
Paulo, v. 16, p. 78-83, 1993.
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_16_p078-083_c.pdf
Neste artigo a autora focaliza a importância da escola elaborar coletivamente o seu
Projeto Pedagógico. Refletir sobre suas finalidades educativas. Identificar
dificuldades, necessidades, bem como formas de superá-las.
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ATIVIDADE 3 - OBRIGATÓRIA
Após estabelecer uma reflexão teórica sobre o seu
trabalho, participe do Fórum de debates para troca de
experiências.
Utilize o Fórum “Atividade 3”, tópico “A rotina
escolar do Coordenador Pedagógico” para postar sua
contribuição.
Participe!
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ATIVIDADE 4 - OBRIGATÓRIA
Após a leitura do texto de DOURADO, L. F. Políticas e
Gestão da Educação Básica no Brasil: limites e
perspectivas. In: Educação e Sociedade: revista de
ciência da educação. Campinas: Cortez/CEDES. V. 28,
Nº 100, disponibilizado na Biblioteca, faça a
sistematização de suas principais contribuições, a partir
do roteiro abaixo:
1. Concepção de gestão educacional;
2. Características das políticas educacionais
implantadas nos últimos anos;
3. Descrever os programas federais de Educação
Básica citados pelo autor e relacionar com
experiências vivenciadas por você no âmbito de
sua escola com alguns desses programas.
4.
Envie essa produção para a Tarefa “Atividade 4”.
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ATIVIDADE 5 - COMPLEMENTAR
Após a leitura do texto de AUGUSTO, Silvana. Desafios
do coordenador pedagógico. Nova Escola. São Paulo, n.
192, maio 2006,disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br
Reflita acerca das seguintes questões:
1. O que a autora quer dizer com “é preciso
construir histórias institucionais”
2. O que a autora quer dizer com “é do
estranhamento que surgem bons problemas”
3. Você concorda com as atividades que a autora
dispõe para a coordenação pedagógica? Você
colocaria outras?
Utilize a ferramenta Tarefa “Atividade 5”para enviar
suas respostas.
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A gestão educacional e a organização do trabalho pedagógico
A coordenação pedagógica e a gestão educacional: identidade e trabalho coletivo
Prezado(a) cursista,
Você sabe que a gestão democrática é um princípio constitucional que organiza a escola
pública e que você compõe o coletivo da escola. Portanto, compreende que o seu
trabalho não se desenvolve isoladamente, muito pelo contrário, a coordenação
pedagógica ocupa um espaço estratégico de mediação do coletivo no sentido da
construção do projeto político-pedagógico. A ação da coordenação pedagógica deve
buscar a articulação dos diversos saberes e experiências existentes na escola na direção
de sua transformação para um projeto pedagógico emancipatório, pois cumprirá com o
sucesso da dimensão cognitiva e política dos estudantes.
A organização do trabalho pedagógico se delineia no processo da gestão escolar por
meio da promoção do sujeito coletivo que pensa e executa ações definidoras do papel
social da educação. Para a organização de um trabalho pedagógico que vá ao encontro
da construção de um projeto emancipador, a definição de uma concepção de educação
se revigora, principalmente, quando conferimos que a prática educacional vem se
dando de forma cada vez mais fragmentada, descolada de um projeto para a
sociedade.
A mediação da coordenação pedagógica torna-se fundamental porque pode articular os
profissionais e os seus saberes, tendo em vista o planejamento coletivo e a
interdisciplinaridade. Além disso, a integração das práticas e dos saberes dos
profissionais possibilita uma escuta mais acurada das experiências dos estudantes,
fazendo com que a interação social da escola seja aprofundada de forma mais
reflexiva, porque é capaz de estabelecer e analisar as inúmeras relações perpassadas
no cotidiano da comunidade.
Para que a gestão democrática seja vivenciada no cotidiano escolar, as relações de
poder precisam ser explicitadas e enfrentadas com o fim de superar a rigidez da
hierarquização e torná-las mais bem distribuídas entre a comunidade escolar.
Geralmente, a instituição educacional reproduz as formas de controle presentes na
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sociedade, naturalizando-as, sem refletir sobre elas e nem mesmo questionar se tais
formas combinam com a natureza do papel social da escola.
Se tomarmos como princípio que a educação escolar constitui o processo formativo por
excelência, à qual a maioria da população proveniente das classes populares tem
acesso ao saber sistematizado e aos valores democráticos, muitas vezes ausentes em
outros campos de formação, entendemos que devemos constituir uma escola que
desenvolva, de forma plena, o conhecimento cientifico e a prática democrática;
entendemos que esse papel social da escola está associado ao desenvolvimento de
práticas participativas e solidárias entre os sujeitos escolares.
A organização do trabalho pedagógico exige da coordenação pedagógica uma
capacidade de participação na gestão com vistas a garantir que o projeto político-
pedagógico seja uma estratégia de planejamento democrático e que configure um
processo de formação de todos os sujeitos escolares. Para tanto, a ação da
coordenação pedagógica deve buscar romper com as tradicionais hierarquias de poder e
constituir práticas mais flexíveis no sentido de incentivar a liberdade de expressão e a
disciplina do estudo tanto dos professores quanto dos estudantes.
Para aprofundamento do debate, indicamos as seguintes leituras:
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LEITURA COMPLEMENTAR
FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Repensando e ressignificando a gestão
democrática da educação na “cultura globalizada”. Educação e Sociedade, Dez
2004, vol.25, no.89, p.1227-1249.
LEITURA OBRIGATÓRIA
TRAGTENBERG, Mauricio. Relações de poder na escola. In Revista Espaço
Acadêmico, Ano I, nº 7, dezembro de 2001.
http://www.espacoacademico.com.br/007/07trag_escola.htm
Neste pequeno texto, o autor defende que a possibilidade de desvincular saber de
poder, no plano escolar, reside na criação de estruturas horizontais onde
professores, alunos e funcionários formem uma comunidade real. é um resultado
que só pode provir de muitas lutas, de vitórias setoriais, e de derrotas, também. A
autogestão da escola pelos trabalhadores da educação – incluindo os alunos – é a
condição de democratização escolar. Sem escola democrática não há regime
democrático; portanto, a democratização da escola é fundamental e urgente, pois
ela forma o homem, o futuro cidadão
CASTRO, Magali de. Um estudo das relações de poder na escola pública de ensino
fundamental à luz de Weber e Bourdieu: do poder formal, impessoal e simbólico ao
poder explícito. In Revista da Faculdade de Educação. São Paulo, 1998.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
25551998000100002&script=sci_arttext
O artigo parte da abordagem teórica de Weber e Bourdieu e analisa as relações de
poder em duas escolas públicas de periferia de Belo Horizonte, em dois momentos:
na interação rotineira do dia-a-dia, quando é exercido o poder simbólico e, em
determinados momentos, quando a luta por posições de poder ou pela imposição de
idéias desvenda o poder, tornando-o manifesto e revelado.
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ATIVIDADE 6 - OBRIGATÓRIA
Após leitura dos textos indicados como bibliografia
obrigatória, disponíveis na Biblioteca, você deve fazer
uma reflexão sistematizada sobre:
1. Como percebe os alunos;
2. Qual o grau de poder que você vem exercitando
sobre os professores;
3. Sugestões para a superação da desigualdade de
poder entre colegas e alunos para fins de
concretização de um trabalho coletivo e
solidário.
Leia, reflita, debata acerca dessas questões no Fórum
“Atividade 6”, tópico “As relações de poder na escola
pública”.
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ATIVIDADE 7 - OBRIGATÓRIA
Com os estudos desenvolvidos nesta Sala Ambiente e na
Sala “Projeto Político-Pedagógico e Organização do
Ensino”, responda as questões abaixo a partir de sua
experiência profissional na escola em que trabalha
atualmente. Mas não se esqueça de analisar e registrar
criticamente as suas respostas, tendo como parâmetro
as leituras dos textos realizadas nas duas salas.
1. Forma de provimento do cargo de dirigente de
sua escola
2. Existência de órgãos colegiados e formas de
organização e participação da comunidade
escolar
3. Relação entre a gestão administrativa e a gestão
pedagógica em sua escola.
4. Descrição de como foi elaborado o Projeto
Político-Pedagógico em sua escola e o período
de sua elaboração
5. Registro do interesse de professores e alunos
pela gestão administrativa e pedagógica da
escola
Envie essa produção para a Tarefa “Atividade 7”.
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Desafios da escola: disciplina, violência, autonomia e liberdade
Como já vimos argumentando nas unidades anteriores, a educação escolar vem
sofrendo alterações profundas nos últimos tempos, fazendo surgir novos arranjos
institucionais que configuram uma nova organização do trabalho pedagógico. Nesse
quadro, os desafios que a escola enfrenta se tornaram mais complexos, pois a
sociedade do século XXI apresenta problemas novos em meio à persistente desigualdade
econômica e social e à diversidade cultural.
Dentre os desafios que a escola enfrenta neste momento histórico, focalizamos aqui
dois deles: a disciplina e a violência e suas relações com os princípios de autonomia e
liberdade, tão caros entre nós educadores. Mas, sobretudo, tratamos aqui do estreito
vínculo existente entre a escola e a sociedade, muitas vezes negligenciado pelas
políticas educacionais e pelos próprios trabalhadores docentes.
Podemos observar que a literatura científica vem progressivamente desenvolvendo
estudos e pesquisas que cercam os dilemas da violência e da disciplina escolar, isso é
um sintoma de que fatos vêm acontecendo nas escolas que merecem investigação.
Afinal, a pesquisa cientifica busca conhecer os fenômenos em sua prática social.
Arroyo (2007) em seu artigo intitulado Quando a violência infato-juvenil indaga a
pedagogiarefere-se ao fato de que a violência infanto-juvenil vem merecendo uma
especial atenção, seja devido às diferentes formas de violentar as crianças,
As violências infanto-juvenis e, sobretudo, os embates que vêm
provocando podem destruir as crenças que justificaram por séculos
a Pedagogia: acreditar nas possibilidades de todo ser humano,
desde a infância, se tornar humano, acreditar que toda criança-
adolescente é perfectível. Quando essa crença inerente ou
constituinte da Pedagogia se perde, o pensar e fazer pedagógicos
perdem seu sentido histórico, social e cultural
(ARROYO, 2007).
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adolescentes e jovens (exploração sexual, tráfico, trabalho infantil, desemprego,
sobrevivência, fome, desproteção, maus-tratos, mortes) ou por causa do próprio
envolvimento da infância, adolescência e juventude nas redes de tráfico, agressão,
roubos, assaltos, mortes. Qualquer que seja a perspectiva, o fato é que hoje são
muitas as reflexões teóricas que se dedicam ao estudo da violência na escola, porque
esta temática vem indagando a pedagogia.
Segundo o autor supracitado, o termo violência passou a unificar condutas
diversificadas. Um exemplo são as condutas indisciplinadas que sempre existiram nas
escolas e que passaram a ser interpretadas e classificadas como violência, segregando
alunos antes vistos como indisciplinados, na categoria de violentos.
A problemática salientada por Arroyo deve ser situada, sobretudo, na necessidade de
compreensão dos sujeitos sociais que buscam a escola, ou seja, as crianças, jovens e
adultos. Os textos auxiliares que compõem esta unidade foram selecionados com a
intenção de aprofundar essa discussão e importa apenas destacar que estamos falando e
tratando, na escola, com seres de relações sociais, sujeitos históricos, produtores e
produzidos no/pelo contexto social.
A cultura escolar opera tradicionalmente com parâmetros classificatórios
dos educandos. A introdução da categoriaalunos violentos introduz um
novo parâmetro, que toca em dimensões humanas mais segregadoras,
com impactos não apenas nos processos tradicionais de enturmação,
avaliação, aprovação-reprovação e gestão dos percursos individuais de
ensino-aprendizagem, mas com impactos nos processos de
desenvolvimento humano, ético, cultural, identitário de coletivos
segregados como violentos. Como uma criança-adolescente ou um
coletivo de crianças, adolescentes ou jovens elabora o fato de ser
catalogado como violentos, infratores, bárbaros em seus processos de
conformação de identidades? Como os profissionais desses delicados
processos serão capazes de acompanhá-los? São questões trazidas pelas
novas formas de segregação que indagam as pesquisas e a reflexão
pedagógica
(ARROYO, 2007, p.2).
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A partir dessa premissa, temos que entender que as condições em que se encontram a
escola e seus sujeitos sofrem determinações do quadro mais amplo das transformações
sócio-culturais ocorridas no mundo ocidental nas últimas décadas, fruto do processo de
globalização do capital. Nessa medida, o papel da escola vem sendo questionado no
quadro de desemprego estrutural que assola a sociedade, fazendo com que ela vá
perdendo seu significado histórico de inserção do sujeito no mundo do trabalho. Ao
mesmo tempo, o sentido da cidadania assume contornos diversos, subsumido que está
aos desígnios do mercado, com o caráter de consumidor enfatizado.
A expansão quantitativa do número de alunos observada na última década faz a escola
estampar as contradições da sociedade por meio da presença acentuada da pobreza, da
cultura de massas, do individualismo, do hedonismo e da própria falta de sentido e de
valor da instituição.
A rigor, a escola é um dos únicos espaços (senão o único) no qual grande parte da
população tem acesso à alimentação, cuidados de higiene, saúde e, minimamente, ao
conhecimento sistematizado. Na medida em que a pobreza aumenta e os conflitos
sociais se afiguram em sua complexidade maior, as políticas educativas buscam
fortalecer a escola como a instituição responsável pela manutenção da ordem social. A
convivência diária com as tensões sociais faz da educação escolar, no quadro de
massificação do ensino, o espaço da incerteza, do tempo presente marcado por eventos
(JAMESON, 2002). Paradoxalmente, quando o direito à educação no Brasil torna-se uma
bandeira da sociedade civil e política, a infância e a juventude que vão para a escola
não têm assegurado (nem ideologicamente) os laços de confiança com o poder da
instituição em atender ao ideal de mobilidade social (FERREIRA; OLIVEIRA, 2009).
A contemporaneidade desses problemas faz surgir muitos estudos que se voltam para a
preocupação com a condição da infância e da juventude. Um exemplo é o estudo
sugerido por Dayrell (2007) quando analisa as perspectivas dos jovens e verifica que
eles estão em trânsito constante entre os espaços e tempos institucionais, da
obrigação, da norma e da prescrição e aqueles intersticiais, nos quais predominam a
sociabilidade, os ritos e símbolos próprios, o prazer.
Segundo o autor, nesse contexto, é cada vez mais difícil definir modelos na transição
para a vida adulta. As trajetórias tendem a ser individualizadas, conformando os mais
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diferentes percursos nessa passagem. Podemos dizer que, no Brasil, o princípio da
incerteza domina o cotidiano dos jovens, que se deparam com verdadeiras
encruzilhadas de vida, nas quais as transições tendem a ser ziguezagueantes, sem rumo
fixo ou predeterminado. Se essa é uma realidade comum à juventude, no caso dos
jovens pobres os desafios são ainda maiores, uma vez que contam com menos recursos
e margens de escolhas, imersos que estão em constrangimentos estruturais. Para a
grande maioria desses jovens, a transição aparece como um labirinto, obrigando-os a
uma busca constante de articular os princípios de realidade (que posso fazer?), do
dever (que devo fazer?) e do querer (o que quero fazer?), colocando-os diante de
encruzilhadas onde jogam a vida e o futuro (PAIS, 2003).
Na fluidez em que se encontram as trajetórias dos jovens, a disciplina do estudo não
faz parte da vida escolar e nem familiar dando margem para a recorrente indisciplina,
reconhecida agora como violência (ARROYO, 2007). Em nome da democracia nas
relações institucionais, os parâmetros disciplinares se tornaram confusos. Todavia, a
instituição educacional precisa da disciplina para se desenvolver, mas qual disciplina?
Entendemos que uma disciplina que passa pelo reconhecimento do papel social da
educação, cujo desenvolvimento deve favorecer as relações democráticas, a liberdade
e o controle do trabalho pedagógico.
Para
Gramsci, portanto, não é a existência de uma disciplina que compromete a liberdade,
mas o tipo de poder que a ordena. A explicitação das relações de poder dominantes na
escola e a desigualdade na sua distribuição é uma tarefa que cabe aos trabalhadores
docentes, especialmente, aos coordenadores pedagógicos, pois ocupam um espaço e
tempo privilegiado na instituição escolar. Explicitar as relações de poder é um meio
A disciplina, portanto, não anula a personalidade e a liberdade; a questão da
‘personalidade e liberdade’ não deve ser examinada tendo como referência a
disciplina, mas a ‘origem do poder que ordena a disciplina’. Se essa origem é
democrática, isto é, se a autoridade é uma função técnica especializada e não um
‘arbítrio’ ou uma imposição extrínseca e exterior, a disciplina é um elemento
necessário de ordem democrática, de liberdade
(MANACORDA, 1990, p.257).
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para se alcançar a superação do conservadorismo e da heteronomia dos sujeitos que
vivem e precisam dos serviços educacionais.
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LEITURA OBRIGATÓRIA
1- ARROYO, M.. Quando a Violência Infanto-Juvenil Indaga a
Pedagogia. In: Educação e Sociedade: revista de ciência da educação. Campinas:
Cortez/CEDES. V. 28, Nº 100, 2007.
Neste texto o autor se propõe a levantar algumas indagações que vêm de um dos
traços mais inquietantes da contemporaneidade: a violência, e de maneira
particular, a violência infanto-juvenil. Esta incomoda e indaga a sociedade e a
pedagogia, as pesquisas, a reflexão teórica e o fazer educativos. Focaliza alguns
pontos: a categoria violentos estaria se impondo como um novo parâmetro
segregador na sociedade e nas escolas? Estariam em questão os avanços havidos na
conformação do público e da escola como espaço público? As reações à violência
estariam mostrando a fragilidade da proclamação da educação como direito de
todos? E a fragilidade do reconhecimento da infância-adolescência como sujeito de
direitos? Arroyo destaca que as reações à violência infanto-juvenil repõem a
tradicional disputa pelo imaginário sobre o povo e sobre a infância-adolescência
populares. De cada um desses traços chegam indagações para a pedagogia.
2- VASCONCELLOS, C. S. Os desafios da disciplina em sala de aula e na escola.
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/amb_a.php?t=014
Nesse texto, o autor expõe aspectos importantes para pensarmos a questão da
disciplina na escola. Segundo ele, será a partir da reflexão do professor sobre a sua
prática, e uma possível mudança na sua forma de atuar, que se poderão transformar
os comportamentos na escola. O autor apresenta uma série de sugestões e caminhos
interessantes que podem orientar esse percurso de reflexão e mudança.
3- SILVA, A. M. M. A violência na escola: a percepção dos alunos e
professores.
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/amc_a.php?t=001
Este artigo possibilita elaborar algumas reflexões sobre a escola que temos e a
escola que queremos, em termos do atendimento à maioria da população brasileira.
A autora apresenta uma pesquisa realizada em escolas no estado de São Paulo sobre
a questão da violência, buscando identificar a percepção do problema pelo ponto de
vista dos professores, diretores, alunos e coordenadores pedagógicos.
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LEITURA COMPLEMENTAR
DAYRELL, J. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização
juvenil. In: Educação e Sociedade. Campinas, v. 28, n. 100 – Especial, p. 1105-1128,
out. 2007.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302007000300022&lng=pt&nrm=iso.
KRAMER, Sonia. Autoria e autorização: questões éticas na pesquisa com crianças.
In Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 116, jul 2002.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
15742002000200003&lng=pt&nrm=iso
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ATIVIDADE 8 - OBRIGATÓRIA
1- ARROYO, M. Quando a Violência Infanto-Juvenil
Indaga a Pedagogia. In: Educação e Sociedade: revista
de ciência da educação. Campinas: Cortez/CEDES. V.
28, Nº 100, 2007.
2- VASCONCELLOS, C. S. Os desafios da disciplina em
sala de aula e na escola.
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/amb_a.php?t=014
3- SILVA, A. M. M. A violência na escola: a percepção
dos alunos e professores.
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/amc_a.php?t=001
Desenvolva uma reflexão, destacando os seguintes
elementos:
1. Questões que norteiam a relação escola x
violência x disciplina
2. Determinantes dos problemas da violência e da
disciplina na escola
3. Relação entre a necessidade de disciplina e de
liberdade do aluno
4. Sugestões para a gestão pedagógica da disciplina
e da violência na escola
Envie essa produção para a Base de Dados “Atividade
8”
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ATIVIDADE 10 - COMPLEMENTAR
Assista ao vídeo “Indisciplina: o professor e a ética”
disponível no “Acervo de Vídeos”, da entrevista da
Professora Terezinha Rios sobre a disciplina na escola.
Ao assisti-lo, escreva suas reflexões a respeito de como
se constitui a sua atitude filosófica e a de seus colegas
em face às questões disciplinares na escola.
Utilize o Fórum “Atividade 10”, tópico “Disciplina na
escola” para postar sua contribuição.
Participe!
ATIVIDADE 9 - COMPLEMENTAR
Assista ao filme “A violência na escola. (Convívio
escolar)”, disponível no “Acervo de Vídeos”, refletindo
sobre os aspectos lá abordados e discuta no fórum com
seus colegas sobre as condições sociais e escolares em
que estão submetidos os alunos de sua escola.
Utilize o Fórum “Atividade 9”, tópico “Condições
sociais e escolares dos alunos”, para postar sua
contribuição.
Participe!