Robert Ludlum - O Mosaico Parsifal

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O MOSAICO PARSIFAL RBERT LUdiUM O MOSAICO PARSIFAL CRCULO de Leitores PRIMEIRA PARTE Captulo primeiro O claro frio do luar projectava-se do cu nocturno e reflectia-se na rebentao, que se convertia em jactos brancos pulverizados onde as ondas isoladas se desfaziam na s rochas da costa. A faixa de praia entre os elevados penhascos da Costa Brava e ra o campo de execuo. Tinha de ser. Que Deus amaldioasse este mundo maldito - tinha de ser! Ele podia v-Ia, agora. E ouvi-Ia, por entre os sons do mar e da rebentao. Corria lo ucamente, ao mesmo tempo que gritava com histerismo: " Pro boha zivho! Proc! Co t o dels! Prestan! Proc! Proc!@> Os cabelos louros destacavam-se ao luar e a sua silhueta veloz adquiria substncia em virtude do foco de urna potente lanterna elctrica, cinquenta metros atrs. Ela caiu , o espao que a separava dos perseguidores reduziu-se e o ar da noite foi cortado abruptamente por uma rajada seca de tiros, enquanto balas explodiam na areia e nas plantas silvestres sua volta. Estaria morta dentro de poucos segundos. O amor dele desapareceria. Encontravam-se no topo da colina sobranceira ao Moldau, enquanto as embarcaes no rio sulcavam a gua a norte e sul, deixando esteiras Profundas. O fumo espiralado das fbricas em baixo difundia-se no sol brilhante da tarde, obscurecendo as m ontanhas distncia, e Michael observava o cenrio, enquanto se perguntava se os vent os sobre Praga se aproximariam e dissipariam o fumo, para que as montanhas torna ssem a ser visveis. Pousava a cabea no regao de Jenna, as longas pernas estendidas em contacto com a cesta de verga em que ela colocara sanduches e vinho gelado. Je nna sentava-se na relva, as costas apoiadas ao tronco suave de um vidoeiro, ao mesmo tempo que aca riciava os cabelos dele e os dedos lhe circundavam o rosto, deslizando-lhe com t ernura ao longo dos lbios e malares. - Estive a pensar, Mikhail querido. Os casacos de tweed e calas escuras que usas e o ingls irrepreensvel em que te exprimes e deve provir da tua no menos irrepreensv el universidade, nunca removero o Havlicek do Havelock. - No creio que tenham essa finalidade. Uma das coisas uma espcie de uniforme e a o utra aprende-se como autodefesa. -Ele sorriu e tocou a mo dela. -De resto, essa u niversidade foi h muito tempo. - Tanta coisa foi h muito tempo, hem? Tudo aquilo. - Aconteceu. - Estavas l, pobre querido.

- A Histria assim. Sobrevivi. - Mas muitos no. A loura levantou-se, rodopiando na areia, agarrando-se relva silvestre e desvian do-se para a direita, com o que conseguiu esquivar-se ao foco da lanterna por un s segundos. Precipitou-se na direco da estrada de terra batida sobranceira praia, conservando-se na escurido, agachada, enquanto aproveitava a proteco da noite e pores de plantas altas para se encobrir. "No lhe servir de nada", reflectiu o homem alto de camisola preta, no seu posto de observao entre duas rvores perto da estrada, a um nvel mais elevado, afastado da te rrvel violncia que se desenrolava l em baixo e da mulher em pnico que estaria morta dentro de momentos. Conseguira olh-la uma vez, pouco antes. Nessa altura, no se ac hava dominada pelo pnico; tinha, ao invs, um aspecto admirvel. Ele desviou a cortina com lentido e prudncia, no gabinete s escuras, as costas cola das parede. Podia v-Ia em baixo, cruzando o ptio iluminado, enquanto o batimento rt mico dos saltos altos nos paralelippedos ecoava marcialmente entre os edifcios em volta. Os guardas postavam-se na sombra, como silhuetas de marionetas taciturnas nos seus umiformes soviticos. Viravam-se cabeas, que exibiam expresses apreciativa s nos olhares dirigidos ao vulto que avanava, com confiana, em direco ao porto de ferro no centro da vedao metlica que circundava o aglomerado que constitua o ncleo da polcia se creta de Praga. Os pensamentos por detrs dos olhares eram bvios: no se tratava de u ma simples secretria que fazia horas extraordinrias, mas de uma kurva privilegiada que anotava minutas no sof de um comissrio, a altas horas da noite. No entanto, havia outros que tambm observavam - de janelas imersas na escurido. Um a falha no caminhar confiante, um instante de hesitao, e algum pegaria no telefone, afim de transmitir ordens para a sua deteno entrada. Deviam evitar-se embaraos, qu ando havia comissrios envolvidos, claro, mas no se se baseavam em suspeitas. Era t udo uma questo de aparncia. No se registou a mnima falha ou hesitao. Ela desempenhava o seu papel com aprumo. Eles tinham vencido! De sbito, ele experimentou uma sensao de dor no peito e compreendeu a causa. Medo. Medo puro, cru e nauseabundo. Recordava-se - recordaes dentro de recordaes. Enquanto a observava, o seu esprito retrocedeu para uma cidade em runas, aos sons horrveis de execues macias. Lidice. E uma criana - unta das muitas - arrastava-se por entre o ondulante fumo cinzento dos destroos ardentes, transp ortando mensagens e as algibeiras cheias de explosivos de plstico. Uma falha, uma hesitao e. .. Histria. Ela alcanou o porto. Um guarda solitrio permitiu-se um leve sorriso. Era magnfica. C omo ele a amava! Ela alcanara a berma da estrada, enquanto as pernas e os braos se moviam furiosame nte, afundando-se na areia e no cascalho, em luta pela sobrevivncia. Sem as plant as silvestres para a dissimular, v-la-iam; o foco da lanterna localiz-la-ia, e o f im surgiria rapidamente. Ele no a perdia de vista, suspendendo a emoo e eliminando a dor, um tomassol humano que aceitava as impresses sem comentrios. Tinha de reagir assim - profissionalmen

te. Inteirara-se da verdade, e a faixa de praia na Costa Brava confirmava a culp abilidade dela, provava os seus crimes. A mulher histrica l em baixo era uma assas sina, uma agente da infame Voennaya Kontra Razvedka, ramo selvagem do KGB sovitic o, que semeava o terrorismo em toda a parte. Era essa a verdade, indiscutvel. Ele assistira a tudo e falara com Washington de Madrid. O encontro daquela noite fo ra determinado por Moscovo, com a finalidade de um agente da VKR, Jenna Karas, e ntregar uma relao de assassnios a uma faco do Baader-Meinhof, numa praia solitria deno minada Montebello, a norte da cidade de Blanes. Era essa a verdade. Isso no o libertava. Pelo contrrio, ligava-o a outra verdade, um dever para com a sua profisso. Quem traa os vivos e negociava com a morte tinha de morrer. No import ava de quem se tratava... Michael Havelock tomara a deciso, que era irrevogvel. El e prprio preparara a fase final da armadilha, para a morte de uma mulher que, por um breve lapso de tempo, lhe proporcionara mais felicidade que qualquer outro s er na Terra. O seu amor era uma assassina, e permitir que continuasse a viver re presentaria a morte de centenas, porventura milhares de pessoas. O que Moscovo no sabia era que Langley descobrira a chave rprio enviara a ltima transmisso para um barco ao largo KGB. Agente contacto comprometido com Servios Secretos E. Os cdigos figuravam entre os mais difceis de decifrar e dos cdigos da VKR. Ele p da Costa Brava. Confirmao do U. Relao falsa. Eliminar. garantiriam a eliminao.

Ela comeava a endireitar-se. O corpo esbelto destacou-se da berma da estrada. Aco nteceria a seguir! A mulher prestes a morrer era o amor dele: haviam-se abraado e tinham trocado longas confidncias sobre uma vida inteira juntos, filhos, paz e c onforto inefvel, sobre a possibilidade de se tornarem uma nica pessoa -juntos. Ele chegara a acreditar na hiptese de tudo aquilo se concretizar, porm o Destino deci dira outra coisa. Estavam na cama, a cabea dela pousada no peito dele, cabelos louros dispersos sob re o rosto. Ele afastou-se, levantando as madeixas que lhe encobriam os olhos, e sorriu. - Ests a esconder-te. - Parece que passamos a vida a esconder-nos - replicou ela, comprimindo os lbios num sorriso de amargura. - Excepto quando queremos ser vistos por pessoas que no s devem ver. No fazemos nada do que nos apetece. tudo calculado, Mikhail. Regimen tado. Vivemos numa priso mvel.

- No h muito tempo que isso acontece e no durar eternamente. - possvel. Um dia, descobriro que no precisam de ns, que j no nos querem. Achas que n s deixaro afastar? Ou desapareceremos? . - Washington no Praga. Ou Moscovo. Abandonaremos a nossa priso mvel, eu com um relgi o de ouro e tu com uma condecorao silenciosa entre os teus documentos.

- Tens a certeza? Sabemos muita coisa. Talvez em excesso. - A nossa proteco reside precisamente no que sabemos. No que sei. Eles pensaro sempre: @Ter deixado tudo e scrito, algures? Convm usar de prudncia, vigi-lo e trat-lo bem ... " No uma situao i lgar. No nos incomodaro, podes crer. - Sempre a proteco - murmurou ela, movendo um dedo pelas sobrancelhas dele. Nunca conseguimos esquecer. Os primeiros dias, os tempos terrveis. Histria. J os esqueci. Que faremos? Viveremos. Amo-te. Pensas que teremos filhos? V-los-emos partir para a escola, poderemos acarinh-lo

s, ralhar-lhes, lev-los a desafios de hoquebol. - Futebol ou basebol. No existe nenhum desporto chamado hoquebol. Sim, espero que isso acontea. - Que fars, Mikhail? - Talvez me dedique ao ensino. Num liceu qualquer. Tenho um par de diplomas que garantem a minha qualificao para o efeito. Seremos felizes. Conto com isso. - Que ensinars? Ele olhou-a, tocando-lhe no rosto, e em seguida desviou a vista p ara o tecto do modesto quarto de hotel em que se encontravam, - Histria - respondeu por fim, e apertou-a nos braos. O foco da lanterna varreu as trevas e acabou por se fixar nela - uma ave em fuga , que tentava levantar voo, mas estava imobilizada pela luz que constitua a sua e scurido. As detonaes ecoaram imediatamente - tiros de terroristas para uma terroris ta. A mulher inclinou-se para trs, quando as primeiras balas lhe penetraram na ba se da coluna vertebral, os cabelos louros tombando em cascata atrs dela. Seguiram -se trs disparos separadamente, de aco, terminantes - a pontaria infalvel de um atir ador coroando a sua obra -, que lhe atingiram a nuca e o crnio, obrigando-a a cai r para a frente num monte de terra e areia, dedos cravados no cho e rosto sulcado de sangue misericordiosamente encoberto. Um derradeiro espasmo, e todo o movime nto se extinguiu. O amor dele morrera - pois uma parte do amor constitua uma fraco do que eles eram. nic uzera o que aevia, tal como ela. Ambos tinham razo e, ao mesmo tempo, estavam errados, horrivelmente errados. Por fim, fechou os olhos e sentiu os vestgios de lgrimas que no desejava. " Por que teve mos. Os homens to ou errado m est fora da de ser assim? Somos loucos. Pior, somos estpidos. No falamos, morre de lnguas fluidas e mentes simples podem explicar-nos o que est cer geopoliticamente, claro -, o que significa que tudo o que dissere nossa pueril compreenso."

Que fars, Mikhail? Talvez me dedique ao ensino. Num liceu qualquer... Que ensinars ? Histria... Agora, era tudo Histria. Recordaes de coisas demasiado penosas. Que fos se Histria fria, como os primeiros tempos. "J no podem fazer parte de mim. Ela no po de fazer parte de mim, se que fez alguma vez, mesmo na sua simulao. Apesar de tudo , manterei uma promessa, no a ela mas a mim prprio. Estou arrumado. Desaparecerei noutra vida, numa vida nova. Partirei para algures e leccionarei. Iluminarei as lies de futilidade. Ele ouviu as vozes e abriu os olhos. Em baixo, os assassinos do Baader-Meinhof e ncontravam-se junto da condenada, imobilizada pela morte, dedos ainda cravados n a terra que constitua o seu campo de execuo - geopoliticamente predeterminada. Teri a sido na verdade uma mentirosa extraordinria? Sim, fora, porque ele descortinara a verdade. At nos seus prprios olhos a vira. Os dois executores agacharam-se para pegar no cadver e lev-lo, a fim de lanarem o o utrora gracioso corpo a uma fogueira ou ao fundo do mar. Ele no interferiria. A s ituao tinha de ser sentida, tocada, ponderada mais tarde, quando a armadilha fosse revelada e mais uma lio aprendida. Futilidade - geopoliticamente exigida. Uma rajada de vento varreu subitamente a praia exposta, e os assassinos empertig aram-se, os ps afundando-se na areia. O homem do lado esquerdo ergueu a mo direita numa tentativa infrutfera para conservar o bon de pescador na cabea, que rolou pel

a duna que ladeava a estrada. Acto contnuo, largou o cadver e correu para o recupe rar. Havelock observou-o com curiosidade, medida que se aproximava. Havia qualqu er coisa nele... No rosto? No, era o cabelo, agora exposto ao luar. Apresentava u rna madeixa branca junto da fronte, que contrastava com a tonalidade escura do r esto. Ele vira aquela cabeleira, aquele semblante, algures. Mas onde? Havia tant as recordaes... Arquivos analisados, fotografias estudadas - contactos, fontes de informao, inimigos. De onde viera aquele homem? Do KGB? Da terrvel Voennaya? Uma pe quena faco financiada por Moscovo, quando no obtinha fundos suplementares do chefe de uma delegao da CIA em Lisboa? No fundo, no interessava. As marionetas letais e os pees vulnerveis j no preocupavam Michael Havelock - ou Mikhail Havlicek. Faria seguir um telegrama para Washingto n atravs da embaixada em Madrid, na manh seguinte. Estava liquidado e nada mais ti nha para oferecer. Permitiria tudo o que os superiores exigissem no captulo do si gilo a observar. At concordaria em ser internado numa clnica. Era-lhe indiferente. No entanto, eles no obteriam nem mais um fragmento da sua vida. Aquilo era Histria. Terminara numa praia solitria chamada Montebello, na Costa Bra va. Captulo segundo O tempo era o melhor narctico para a dor. Ou desaparecia aps um certo perodo ou a pessoa habituava-se a viver com ela. Havelock estava ciente disso, compreenden do que, no momento actual, se podia aplicar um pouco de ambas as alternativas. A dor no se extinguira, mas era menos intensa: havia ocasies em que as recordaes se a tenuavam e o tecido da cicatriz s se tomava sensvel quando lhe tocava. E as viagen s ajudavam - ele esquecera-se do que representava ter de enfrentar as complexida des que assolam o turista. - Se reparar, ver que est indicado no seu bilhete. "Sujeito a alterao sem aviso prvio . " - Onde? - Na parte inferior. - No consigo ler. - Pois, eu, consigo. - Porque o sabe de cor. - Estou familiarizado com isto. E as longas filas na seco de imigrao. Seguidas das i nspeces alfandegrias. O intolervel precedido do impossvel: homens e mulheres que reagiam ao tdio aplicand o carimbos com violncia e atacando fechos de correr indefesos, cujos fabricantes acreditavam na obsolescncia planeada. No subsistiam dvidas; ele estava incapacitado para enfrentar as agruras da vida. A sua existncia anterior continha dificuldades e riscos prprios, mas no inclua os per igos que se deparavam a todo o momento ao turista. Na sua vida anterior, por out ro lado, aonde quer que se deslocasse, havia a priso mvel. No, no era exactamente is so. Havia encontros a cumprir, fontes a contactar e informaes que deviam ser pagas . Na maioria dos casos noite, na sombra, longe de lugares em que podiam ser vist os. Agora, nada existia daquilo. Pelo menos, nas ltimas oito semanas. Ele percorria a s ruas em pleno dia, como naquele momento ao longo da Danirak, em Amesterdo, em d ireco aos escritrios da American Express. Se tivesse l um telegrama sua espera, isso significaria o incio de alguma coisa. Um comeo concreto. Um emprego. Um emprego. Era curioso como o imprevisto se achava frequentemente ligado rotina

. Tinham decorrido trs meses desde aquela noite na Costa Brava, dois meses e cinc o dias desde a sua separao formal do Governo. Da clnica na Virgnia, onde passara doz e dias sujeito a terapia, seguira para Washington. (0 que esperavam descobrir no se achava presente, como, alis, ele prprio lhes podia ter revelado antecipadamente . Por que no compreenderiam que tudo aquilo deixara de lhe interessar?) Emergiu d as portas do Departamento de Estado s quatro da tarde, convertido num homem livre - mas tambm em desempregado, um cidado sem penso de reforma, possuidor de recursos longe do valor de urna anuidade. Enquanto permanecia imvel no passeio, naquela t arde, acudira-lhe ao esprito a convico de que necessitava de encontrar uma ocupao, nu m futuro mais ou menos prximo, em que pudesse iluminar as lies de... As lies. Mas no p ara j. De momento, faria o mnimo exigido para o funcionamento de um ' ser humano. Viajaria, voltaria a visitar todos aqueles lugares que na verdade nunca visitara - ao sol. Leria - na realidade, releria -, no cdigos, horrios e processos, mas tod os os livros em que no pousara os olhos desde que se formara. Se ia iluminar tudo a todos, precisava de tomar a aprender muita coisa que esquecera. No entanto, se algo se lhe insinuava no esprito, s quatro horas daquela tarde, era uma boa refeio. Aps doze dias de terapia, com vrios produtos qumicos e uma dieta rig orosa, ansiava por satisfazer o estmago com iguarias suculentas. Preparava-se par a regressar ao hotel, a fim de tomar banho e mudar de roupa, quando um txi surgiu oportunamente na C Street, os raios solares incidindo nas janelas e obscurecend o os ocupantes, e parou junto do passeio, sua frente, em resposta ao seu sinal, segundo Michael sups. Ao invs, apeou-se apressadamente um passageiro munido de um attach case, um indivduo atrasado para um encontro, que puxou da carteira. A princp io, no se reconheceram: o pensamento de Havelock concentrava-se num restaurante e o do outro em pagar ao motorista. - Michael? - proferiu o passageiro subitamente, ajeitando os culos no nariz. s tu, Havelock? - Hany? HarTy Lewis? - Exacto. Como vai isso, M. H.? Lewis era uma das poucas pessoas que ele via - e raramente o encontrava - que o tratavam pelas iniciais. Tratava-se de um pequen o legado da universidade, onde haviam sido finalistas, em Princeton. Michael ing ressara num emprego governamental e Lewis na academia. Na realidade, o dr. Harry Lewis era director do Departamento de Cincias Polticas de uma pequena, porm presti giosa, universidade da Nova Inglaterra, que se deslocava de vez em quando capita l em misso de consulta, e os dois homens tinham-se encontrado em vrias ocasies, qua ndo se achavam em Washington. - Bem. Continuas procura de per diems? - Muito menos que dantes. Algum lhes ensinou a ler relatrios de avaliao das nossas f aculdades mais esotricas. - Fui substitudo por um barbudo de jeans azuis, que fuma tabaco suspeito. - No me digas! - O professor parecia surpreendido. - Largaste aquilo? Julgava que era uma ocupao para toda a vida! - Pelo contrrio. A vida, para mim, principiou h uns sete minutos, quando inscrevi a minha ltima assinatura. E, dentro de um par de horas, vo apresentar-me a primeir a conta de restaurante que no poderei incluir na relao de despesas. Que pensas fazer, Michael? Ainda no decidi. Nem quero, nos tempos mais prximos. O catedrtico aceitou o troco do motorista de txi e replicou apressadamente. - Ouve, estou atrasado para um encontro, mas passo a noite na cidade. Corno vim com ajudas de custo, deixa-me oferecer-te o jantar. Onde te instalaste? Talvez t

enha uma proposta que te interesse. Nenhuma verba consagrada a ajudas de custo governamentais poderia custear o jant ar daquela noite, h dois meses e cinco dias, todavia Lewis tinha de facto uma pro posta em mente. Haviam sido amigos e voltavam a s-lo, alm do que Havelock verifica va que era mais fcil conversar com urna pessoa que estava pelo menos vagamente co nsciente do seu trabalho anterior para o Governo do que com algum que o ignorasse por completo. Resultava sempre difcil explicar uma coisa que no tinha explicao, e L ewis compreendia. Assim, de um assunto passaram a outro e desembocaram na propos ta. - Alguma vez pensaste na possibilidade de regressar ao ensino? - "Constantemente" serve-te como resposta? - replicou Michael, com um sorriso. - Sim, eu sei - volveu Lewis, depreendendo que se tratava de uma tirada sarcstica . - Vocs, "fantasmas" (creio ser este o termo que lhes aplicam), recebem ofertas de toda a espcie das multinacionais, acompanhadas da aluso a quantias tentadoras. Estou ciente disso. Mas tu eras um dos melhores. A tua dissertao foi reproduzida p or uma dezena de publicaes universitrias. At realizaste seminrios. O teu passado acadm ico, aliado aos anos em que trabalhaste para o Estado (a maioria dos quais decer to no se pode ventilar), toma-te muito atraente para a administrao de uma universid ade. Estamos sempre a dizer: " Procuremos algum que passou por l e no apenas um teri co. " Que diabo, M. H., acho que s a pessoa indicada. Posso assegurar-te que o di nheiro no representa... - No me compreendeste, Harry. verdade. Penso constantemente em voltar. - Ento, tenho outra ideia - declarou Lewis, sorrindo, por sua vez. Uma semana mai s tarde, Havelock deslocou-se a Boston de avio, de onde foi conduzido de automvel ao recinto universitrio nos arrabaldes de Concord, Nova Hampshire. Passou a quatro dias com Harry Lewis e a mulher deste, entretendo-se a percorrer as instalaes, a assistir a vrias conferncias e seminrios e a contactar os membros da faculdade e da administrao, cujo apoio o amigo considerava potencialmente til. As opinies de Micha el haviam sido pedidas "casualmente", diante de cafs, bebidas alcolicas ou refeies, e homens e mulheres, indistintamente, olhavam-no como se o considerassem um cand idato prometedor. Lewis realizara a sua aco missionria de forma satisfatria e, no fi nal do quarto dia, anunciou: - Eles gostam de ti! - Porque no? - interps a esposa. muito simptico. - Na verdade, esto muito entusiasmados. o que eu disse o outro dia, M. H., estive ste l. Os dezasseis anos no Departamento de Estado tomam-te especial. - E?... - Dentro de oito semanas, realiza-se a conferncia anual do conselho de administrao. nessa altura que se estudam os quocientes da procura e oferta. Palpita-me que t e oferecero um lugar. Onde posso contactar contigo? - Devo andar em viagem. Eu telefono-te. Agora, havia dois dias que telefonara a Harry. A conferncia ainda no terminara, porm ele esperava ter algo para lhe comunic ar a todo o momento. - Telegrafa para AX, Amesterdo - indicou Michael. - E obrigado, Harry. Viu as por tas de vidro dos escritrios da American Express abrirem-se, para dar passagem a u m casal, cujo elemento masculino procurava conservar a tiracolo as correias de d uas mquinas fotogrficas, ao mesmo tempo que contava dinheiro. Havelock deteve-se e perguntou-se se desejava na verdade entrar. Se o telegrama tivesse chegado, con teria a rejeio ou a oferta. Na primeira hiptese, ele continuaria a vaguear, o que e nvolvia um

certo conforto, pois a passividade flutuante de no ter de traar planos tomara-se-l he uma espcie de valor. Na eventualidade de uma oferta, que faria? Estava preparado para a aceitar? Achava-se em condies de tomar uma deciso? No era como as que necessitara de encarar na profisso anterior, em que predominava o instinto para sobreviver, mas para se comprometer. Possuiria capacidade para assumir um compromisso? Onde est avam os do passado? Por fim, encheu os pulmes de ar, principiou a mover-se com lentido e aproximou-se das portas de vidro. LUGAR DISPONVEL PROFESSOR VISITADOR DO GOVERNO POR PERODO DOIS ANOS. NOMEAO DEFINITI VA DEPENDENTE ACORDO MTUO NO FINAL DESSE LAPSO. SALRIO INICIAL VINTE E SETE CINCO. NECESSITO RESPOSTA DENTRO DEZ DIAS. NO ME FAAS MORRER DE ANSIEDADE. CORDIALMENTE, HARRY Michael dobrou o telegrama e guardou-o na algibeira, mas no se aproximou do para enviar a resposta a Harry Lewis, Concord, Nova Hampshire, EUA. F-lo-ia tarde. Para j, bastava-lhe saber que o admitiriam, que existia uma hiptese meo de vida. Necessitava de vrios dias para absorver o conhecimento da sua egitimidade e balco mais de reco prpria l

porventura mais alguns para se familiarizar com ela. Na verdade, a legitimidade arrastava a possibilidade de compromisso. No havia um recomeo real sem ele. Entrou na Damrak, inspirando o ar frio de Amesterdo e notando a humidade provenie nte do canal. O Sol aproximava-se do Ocaso - bloqueado momentaneamente por uma n uvem baixa, no tardou a reaparecer: um globo alaranjado que emitia os seus raios atravs dos vapores que os interceptavam. A cena recordou a Havelock uma alvorada no oc eano, no litoral espanhol - na Costa Brava. Permanecera l toda a noite, at que o S ol despontara no horizonte e dispersara a neblina sobre a gua. Depois, descera a encosta em direco estrada de terra batida... Pra! No penses nisso. Aconteceu noutra vida. Dois meses e cinco dias antes, por me ra casualidade, Harry Lewis descera de um txi e principiara a modificar o mundo p ara um velho amigo. Agora, transcorridos dois meses e cinco dias, a modificao esta va ao seu alcance. Michael sabia que aceitaria a oferta, mas faltava alguma cois a: a modificao devia ser partilhada e no havia ningum com quem faz-lo, ningum para lhe perguntar: "Que ensinars?" O empregado de smoking do Dikker en Thijs afundou o bordo do clice de brande no r eceptculo de prata que continha acar, e seguir-se-iam os ingredientes do caf Jamique . Tratava-se de um prazer ridculo e provavelmente de um desperdcio de bom brande, mas Harry Lewis insistira em que saboreassem a bebida, naquela noite em Washingt on. Havelock dir-lhe-ia que repetira o ritual de Amesterdo, embora talvez o no fiz esse, se adivinhasse a intensidade das chamas e o grau de ateno que concentrariam na sua mesa. "Obrigado, Harry", agradeceu intimamente, quando o empregado se afastou, erguend o o clice a uns centmetros da mesa ao seu companheiro invisvel. No fundo, era melho r no estar completamente s.

Pressentiu a presena do homem que se aproximava, ao mesmo tempo que via uma sombr a alargar-se pelo canto do olho. Um indivduo de fato escuro com ar conservador en caminhava-se para o "reservado" em que ele se encontrava. Havelock imprimiu um c erto ngulo ao clice e ergueu os olhos para o rosto do outro. Chamava-se George e e ra o chefe da delegao da CIA em Amesterdo. Haviam trabalhado juntos algumas vezes, nem sempre de forma agradvel, mas profissionalmente. - uma maneira de anunciar a chegada aqui - disse o recm-chegado, com uma olhadela ao carrinho de rodas do emp regado, no qual ainda se achava o receptculo de prata. - Posso sentar-me? Tenho muito prazer nisso. Como est, George? J estive melhor - admitiu o outro, deslizando para o assento em frente. Lastimo. Quer uma bebida? Depende. De qu? De me demorar o suficiente. Que enigmtico - observou Havelock. - Mas provavelmente ainda est de servio.

- Nunca me apercebi de que as horas de trabalho se medissem com um nnio. - Claro que no. Sou eu o motivo? - De momento, talvez. Surpreende-me v-lo aqui. Constou-me que abandonara a activi dade. - E verdade. - Ento, que faz aqui? - Porque no? Ando a viajar e gosto de Amesterdo. Digamos que gasto uma parte subst ancial dos meus ltimos honorrios para visitar os lugares que raramente consegui ve r durante o dia. - Pode diz-lo, mas isso no significa que eu acredite. - Pode acreditar sem reservas. - Palavra? - Os olhos do membro da CIA esquadrinharam o rosto do interlocutor. Posso averiguar, como sabe. - Sa, cortei com tudo, estou temporariamente desempregado. Se averiguar, no apurar outra coisa, mas no creio que precise de fazer perder tempo a Langley. Estou cert o de que os cdigos da centrex foram alterados na parte em que eu intervinha e tod as as fontes e os informadores de Amesterdo prevenidos da minha situao. Fiquei fora do vosso raio de aco. Quem contactar comigo arrisca-se a ver o nome riscado da fo lha de salrios e, muito possivelmente, a um obscuro funeral. - Isso so os factos superficiais. - So os nicos. No se preocupe em procurar outra coisa, porque no a encontrar. - Bem, admitamos que acredito. Entretm-se a viajar e a gastar os ltimos honorrios q ue lhe pagaram. - Fez uma pausa e inclinou-se para a frente. - H-de esgotar-se. - O qu? - O dinheiro. - inevitvel. Nessa altura, espero encontrar uma ocupao remunerada. Por sinal, ainda esta tarde... - Porque h-de esperar? Posso ajud-lo. - Engana-se. No tenho nada para vender. - Tem, sim. Experincia. O salrio de um consultor pago pela verba destinada a despe sas eventuais. No h nomes, nem registos. tudo impossvel de detectar, mais tarde. - Se est a pr em prtica um teste, no se pode dizer que o faz da melhor maneira. - No se trata disso. Estou disposto a pagar para melhorar a minha imagem. Se foss

e um teste, no lhe confessava isto. - Talvez o fizesse, mas seria uma imprudncia. uma armadilha de terceira ordem, po uco convincente. Nenhum de ns quer as despesas eventuais examinadas muito profund amente, hem? - Posso no estar ao seu nvel, mas no perteno s terceiras categorias. Preciso de ajuda . Precisamos de ajuda. - Isso j outra coisa. Apele para o seu ego. muito melhor. - Que diz, Michael? O KGB anda por todos os lados, na Haia. No sabemos quem compr aram ou at que ponto iro. A OTAN est comprometida. - Comprometidos estamos ns todos, George, e no posso valer-lhes. Porque no creio qu e faa a mnima diferena. Chegamos estaca cinco, empurramo-los para a quatro e eles s altam por cima de ns para a sete. Depois, compramos a maneira de alcanar a oito, e les bloqueiam-nos na nove e ningum alcana a dez. Todos inclinam as cabeas pensativa mente e recomeam do princpio. Entretanto, lamentamos as nossas baixas e procedemos contagem dos corpos, nunca admitindo que no faz a mnima diferena. - Balelas! No consentiremos que ningum nos enterre. - Isso que consentimos. Todos ns. Por " filhos ainda no nascidos nem concebidos". A menos que sejam mais espertos que ns, o que pode muito bem acontecer. Oxal que s im. - De que est para a a falar? - Do "purpreo testamento atmico da guerra sangrenta". - O qu?! - Histria, George. Tomemos uma bebida. - No, obrigado. - O agente da CIA comeou a levantar-se. - E acho que voc j bebeu de mais. - Ainda no. - V para o diabo, Havelock - resmungou, principiando a afastar-se. - George. - O qu? - Precipitou-se. Eu ia dizer uma coisa acerca desta tarde, mas interrompeu-me. - E da? - Da, j sabia o que me preparava para dizer. Quando interceptou o telegrama? Por v olta do meio-dia? - V para o diabo. Michael acompanhou-o com a vista, enquanto regressava sua mesa, do outro lado da sala. Estivera a jantar s, porm ele sabia que se encontrava acom panhado. Transcorridos trs minutos, a suposio confirmou-se. George assinou a conta - um pequeno deslize e dirigiu-se apressadamente para o vestbulo. Quarenta e cinc o segundos depois, um jovem de uma mesa direita da sala levantou-se para sair, l evando uma mulher surpreendida pelo brao. Escoou-se mais um minuto e os dois ocup antes de um "reservado", esquerda, ergueram-se quase simultaneamente e seguiram para a sada. Apesar da iluminao difusa, Michael observou que deixavam os pratos che ios. Outro deslize. Tinham-no seguido, vigiado e empregado o sistema rotativo para no darem nas vista s. Porqu? Porque no o deixariam em paz? * sua estada em Amesterdo terminara. * sol do meio-dia emitia raios amarelados que se reflectiam no rio Seria, sob a ponte. Havelock alcanou a rea intermdia de Pont Royal, com o seu pequeno hotel a po ucos quarteires de distncia, na Rue du Bac, seguindo pelo caminho mais lgico desde o Louvie. Sabia ser importante que no se desviasse, para que a pessoa que vinha n

o seu encalo no se apercebesse de que suspeitava da sua presena. Descortinara o txi, o mesmo, quando efectuara uma manobra arriscada no trnsito intenso, a fim de no o perder de vista. Quem transmitia instrues ao motorista era perito na matria. O vecu lo detivera-se apenas dois ou trs segundos numa esquina e partira no sentido opos to. Isso significava que quem o seguia se encontrava agora na concorrida ponte. Se o objectivo era o contacto, a multido resultava conveniente, e a ponte ainda m ais. Com efeito, as pessoas costumavam parar sobre o Sena para contemplar a gua d istraidamente, em obedincia a um hbito de sculos. Podiam, portanto, manter conversa s sem despertar a ateno. Se o objectivo era o contacto e no unicamente a vigilncia. Michael deteve-se, encostou-se parede de pedra que servia de parapeito e acendeu um cigano, conservando o olhar fixo num bateau mouche que deslizava sob a ponte . Se algum o observasse, suporia que contemplava o barco cheio de turistas, aos q uais acenava num gesto natural em semelhantes circunstncias. No entanto, simuland o que protegia os olhos do sol, concentrava-se no indivduo alto que se aproximava do seu lado direito. Conseguia distinguir o chapu cinzento, sobretudo de gola de veludo e sapatos de p olimento, o que bastava para sua elucidao. O homem simbolizava o luxo e a elegncia parisienses que predominavam por toda a Europa e frequentava os sales dos abastad os. Chamava-se Gravet e era considerado o crtico de arte clssica mais competente d e Paris - o que equivalia a dizer do continente -, e apenas um grupo restrito sabia que no era essa a sua nica actividade lucrativa. Imobilizou-se junto do parapeito, a c erca de dois metros de Havelock, e, enquanto ajeitava a gola de veludo, proferiu com naturalidade: - Bem me parecia que era voc. Venho a segui-lo desde a Rue Bemard. - Eu sei. Que pretende? - A pergunta antes "Que pretende voc?". Que faz em Paris? Comunicaram-nos que aba ndonara a actividade. Para ser franco, recomendaram-nos que o evitssemos. - E informassem as esferas superiores se eu estabelecesse contacto, hem? - Naturalmente. - Mas voc est a inverter o processo. Contactou comigo. No lhe parece uma imprudncia? - Um pequeno risco, que merece a pena - considerou Gravet, olhando em volta. Conhecemo-nos h muito, Michael. No acredito que viesse a Paris para actualizar a s ua cultura. - Nem eu. Quem disse isso? - Esteve no Louvre vinte e sete minutos exactos. Lapso de tempo insuficiente par a absorver coisa alguma e excessivo para satisfazer uma necessidade fisiolgica. M as bastante para se encontrar com algum numa sala concorrida e pouco iluminada, c omo, por exemplo, no terceiro piso. - Escute, Gravet. '. - comeou Havelock, rindo. - No olhe para mim, por favor! Conserve a vista voltada para a gua. - Fui admirar a coleco romana, na sobreloja, mas como estava cheia de excursionist as retirei-me. - Nunca lhe falta uma resposta na ponta da lngua. uma caracterstica que sempre lhe admirei. Confesso que fiquei surpreendido, quando surgiu o alarme: " Abandonou a actividade. Evitem-no. " - Corresponde verdade. - Para que esse seu novo disfarce se revele to radical, deve estar envolvido com gente muito distinta - prosseguiu Gravet, sacudindo gros de poeira imaginrios da m anga. -

Tambm sou um corretor com uma larga gama de informao. Quanto mais distintos os meus clientes, mais contente fico. - Lamento, mas no quero comprar nada. Evite-me. - No diga disparates. Ainda no sabe o que tenho para oferecer. Acontecem coisas in crveis em toda aparte. Aliados tomam-se inimigos e vice-versa. O Golfo Prsico est e m chamas e toda a frica se move em crculos contraditrios. O bloco de Varsvia tem lac eraes que voc desconhece por completo e Washington pe em prtica uma dezena de estratgi as contraproducentes, que s se podem comparar estupidez incrvel dos soviticos. Eu p odia descrever-lhe minuciosamente as suas loucuras mais recentes. No me volte as costas, Michael. Pague-me e ainda subir mais alto. Porque havia de subir mais alto, se abandonei a competio? Mais um disparate. relativamente jovem e eles no o deixavam sair. Podem vigiar-me, mas no segurar. Limitei-me a prescindir da penso de reforma. Isso demasiado simplista. Todos vocs possuem contas bancrias em lugares remotos, mas acessveis. do conhecimento geral, de resto. Verbas especiais, pagamentos sec retos a fontes inexistentes, quantias avultadas para obter documentos repentinam ente necessrios, etc. Tinha a sua reforma garantida aos trinta e cinco anos... - Exagera os meus talentos e a minha segurana financeira - afirmou Havelock, com um sorriso. - Ou porventura um longo documento, com pormenores sobre determinadas maneiras d e proceder (solues o termo mais apropriado) acerca de acontecimentos e pessoas esp ecficos - continuou o francs, como se no tivesse sido interrompido. - Colocado fora do alcance dos indivduos mais interessados. - Fez uma pausa, ao mesmo tempo que Havelock parava de sorrir. - Isso no segurana financeira, claro, mas contribui par a uma sensao de bem-estar. - Perde o seu tempo. No estou envolvido no mercado. Se possui alguma coisa para v ender, obter o preo que pedir. Sabe com quem deve negociar. - So insignificantes aterrorizados. Nenhum deles dispe de acessos directos a, diga mos, centros de deciso, como voc. - J no esto minha disposio. - No acredito. a nica pessoa na Europa que contacta directamente com Anthony Matth ias. - No se meta com ele. E, para sua informao, h meses que no o vejo nem oio. - De sbito, Havelock endireitou-se e virou-se abertamente para o outro. - Procure mos um txi, para visitarmos a embaixada, onde tenho alguns conhecimentos. Apresen to-o a um adido importante e digo-lhe que voc tem material para vender, mas no possuo recurs os nem interesse para me envolver. De acordo? - Sabe perfeitamente que no posso fazer isso! E, por favor... - Gravet no necessit ou de completar a frase. - Est bem. - Michael voltou a encostar-se ao parapeito. - Ento, d-me um nmero ou loc al de contacto. Ligarei para l e voc poder ouvir. - Porque procede assim? Para qu a charada? - Porque no se trata de uma charada. Como referiu h momentos, conhecemo-nos h muito tempo. Fao-lhe um favor, que talvez o convena. possvel que voc convena outros, se lh e pedirem. Mesmo que no peam. Que diz?

O francs rodou um pouco a cabea, sem se desencostar da parede, e fitou o interlocu tor. - No, obrigado. Prefiro um insignificante que j conheo a um figuro que nunca vi. No fundo, acho que acredito em si. No revelaria uma fonte como eu, nem a um adido im portante. Sou demasiado respeitvel e pode vir a necessitar de mim. Sim, acredito. - Tome-me a vida mais fcil. No guarde segredo do assunto. - E os seus homlogos do KGB? Parece-lhe que ficam convencidos? - Sem dvida. As suas toupeiras devem ter enviado a informao para a Praa Dzerzhinsky antes de eu assinar os documentos de separao. - Podem suspeitar de um ardil, - Mais urna razo para me deixarem em paz. Porque haviam de morder um isco envenen ado? - Possuem produtos qumicos. Todos vocs os possuem. - No lhes posso revelar nada que no saibam, e o que eu sei j foi alterado. Essa a p arte mais curiosa: os meus inimigos nada tm a recear de mim. Os poucos nomes de q ue se poderiam inteirar no valem o preo. Haveria represlias.

- Voc infligiu-lhes muitos ferimentos. H o amor-prprio, a vingana... a condio humana. - No se aplica a este caso. Nessas reas, estamos quites e, mais uma vez, no merece o trabalho porque no existe qualquer resultado prtico. Ningum mata sem motivo. Nenh um de ns quer assumir a responsabilidade do combate final. uma situao bizarra, no lh e parece? Quase vitoriana. Quando a nossa actividade terminou, ficamos de fora. Talvez nos reunamos todos numa larga sala de estratgia, no inferno, para tomarmos umas bebidas, mas, enquanto permanecermos neste mundo, ficamos de fora. a ironi a, a futilidade da situao. Quando samos, deixamos de nos preocupar. Desaparece o mo tivo para odiar. Ou matar. - Muito bem raciocinado, meu amigo. V-se que ponderou longamente tudo isso. - Dispus de muito tempo livre, ultimamente. - E h aqueles que esto extremamente interessados nas suas observaes recentes, nas su as concluses... na sua funo na vida, por assim dizer. Mas, no fundo, era de esperar . So pessoas manacas depressivas. Taciturnas ou jubilosas, umas vezes cheias de vi olncia, mansas como cordeiros noutras. E, com frequncia, assaz paranicas, em obedinc ia aos aspectos mais sombrios do classicismo, julgo eu. As diagonais cortantes d e Delacroix numa psique nacional multirracial muito ampla e contraditria. Muito s uspeita... muito sovitica. - Porque o fez? - inquiriu Havelock, contendo subitamente o alento. - No tinha nada de mal. Se me inteirasse do contrrio, quem sabe o que lhe diria. M as como acredito em si, explico por que necessitei de o submeter a um teste. - Moscovo pensa que continuo no activo? - Comunicarei que tal no acontece. No posso garantir que eles acreditem. - Porqu? - perguntou, voltando a fixar os olhos no rio. - No fao a menor ideia... Terei saudades suas, Michael. Foi sempre civilizado. Difcil, mas civilizado. No entanto, h que considerar que no um americano de gema. N a realidade, europeu. - Sou americano - afirmou a meia voz. - Realmente. - Pelo menos, a Amrica deve-lhe favores. Bem, se mudar de ideias... ou o obrigare m a mudar... contacte comigo. H sempre uma possibilidade de fazermos negcio. pouco provvel, mas obrigado. No uma rejeio terminante. Limito-me a ser delicado. Civ ilizado. Au revoir, Mikhail... Prefiro o nome com que nasceu. Havelock volveu a cabea com lentido e viu Gravet afastar-se em passos bem medidos. Se o francs aceita

ra um interrogatrio cego de pessoas que detestava, decerto fora bem remunerado. M as para qu? A CIA encontrava-se em Amesterdo e no acreditava nele. O KGB estava em Paris e pen sava do mesmo modo. Porqu? Terminara a estada em Paris. Durante quanto tempo continuariam a observ-lo ao mic roscpio? O Aretinisa Delphi era um daqueles pequenos hotis peito da Praa Syntagma, em Atena s, que nunca permitiam que o viajante se esquecesse de que se encontrava na Grcia . Os quartos apresentavam uma brancura imaculada e as paredes achavam-se cheias de telas que representavam as antiguidades: templos, goras e orculos romantizados por artistas populares. Cada aposento continha um par de portas estreitas que se abriam para uma pequena varanda, com capacidade para duas cadeiras e uma mesa l iliputianas, onde os hspedes podiam tomar o pequeno-almoo. No trio e nos elevadores ecoavam permanentemente os acordes rtmicos de msica grega, em que se destacavam o s instrumentos de corda e os cmbalos. Havelock e a mulher de pele cor de azeitona abandonaram o elevador e, quando a p orta deste se fechou, conservaram-se imveis por um momento, no sem uma ponta de an siedade. No entanto, a msica extinguira-se e eles respiraram fundo. - Zorba fez um breve intervalo - comentou Michael, gesticulando para a esquerda, na direco do seu quarto. - O resto do mundo deve pensar que somos uns farrapos nervosos - disse ela, com uma risada, ajeitando os cabelos com as pontas dos dedos e alisando o longo vest ido branco que lhe completava a pele e realava os seios e o corpo esbelto. Exprim ia-se em ingls com forte sotaque, cultivado nas ilhas mediterrnicas, que constitue m os ptios de recreio dos ricos daquela regio do Globo. Era uma cortes de preo eleva do, cujos favores mereciam a procura dos prncipes do comrcio, uma prostituta conde scendente, possuidora de algum humorismo e riso fcil, uma mulher que sabia que o seu perodo proporcionador de prazer na Terra era limitado. - Voc salvou-me - acres centou, apertando o brao de Havelock, enquanto avanavam no corredor. - Raptei-a. - Por vezes, so sinnimos - redarguiu, voltando a rir. Na realidade, fora um pouco de ambas as coisas. Michael encontrara na Maratona um homem com o qual trabalhar a no sector de Thermaikos, cinco anos atrs. Realizava-se um jantar-festa, num caf da Praa Syntagma, naquela noite, e como no tinha nada de melhor para se entreter, Havelock aceitara o convite. A mulher achava-se l, em companhia de um homem de ne gcios consideravelvemente mais velho, e a ouzo e oprestissinio greco produziram e stragos inevitveis. Havelock e a mulher haviam ficado instalados ao lado um do ou tro, com as pernas e as mos em contacto; trocaram olhares e as comparaes foram bvias . Na primeira oportunidade, ele e a cortes das ilhas retiraram-se. - Desconfio de que vou enfrentar um ateniense fulo, amanh - disse Havelock, abrin do a porta do quarto e desviando-se para que a companheira entrasse. - No pense nisso. No se trata de um cavalheiro, que coisa que no existe em Epidauro , de onde ele veio. um campons a caminho da senilidade que fez fortuna na poca dos coronis. Uma das consequncias mais desagradveis do seu regime. - Em. Atenas, convm evitar os epidauranos, se este o termo exacto - sentenciou, e ncaminhando-se para a mesinha, onde havia urna garrafa de scotch e copos. - Costuma frequentar a cidade com assiduidade? - Estive c vrias vezes, de facto. - Com que finalidade? A que actividade se dedica?

- Compro coisas. Vendo coisas. Quando se voltou, com as bebidas na mo, viu aquilo que lhe interessava, embora no esperasse que acontecesse to cedo. A mulher pousar a a estola de seda numa cadeira e principiava a desabotoar o vestido pela parte de cima, o que tomava os seios mais visveis e convidativos. - Voc no me comprou - declarou, pegando no copo com a mo livre. - Vim de livre vont ade. Eflwristou, Michael Havelock. Pronunciei bem o seu nome? - Perfeitamente. Os copos tocaram-se e ela pousou as pontas dos dedos nos lbios d ele, depois na face e por ltimo na nuca, a fim de lhe aproximar o rosto. Beijaram -se, e a lngua da mulher demonstrou que no servia apenas para falar, o que princip iou a excit-lo. Em seguida, os corpos colaram-se e ela puxou a mo esquerda de Have lock para o seio sob o vestido parcialmente desabotoado, aps o que se inclinou pa ra trs, respirando profundamente. u Onde a casa de banho? Vou vestir uma coisa... menos. Aquela porta. Porque no faz o mesmo? Vista uma coisa... menos... Encontramo-nos na cama. Esto ansiosssima. Voc muito, mas mesmo muito atraente e morro de... nsias.

Ela pegou na estola e moveu-se com lentido e sensualismo para a porta direita da cama. Antes de a transpor, voltou-se e os olhos emitiram revelaes que provavelment e no correspondiam verdade, embora resultassem excitantes para uma noite. A prost ituta experiente, independentemente das razes que a animavam, actuaria com eficinc ia, e ele desejava, necessitava dos efeitos daquela actuao. Michael despiu-se at ficar em cuecas, levou a bebida para a cairia e afastou a co lcha e o cobertor. A seguir, enfiou-se entre os lenis, puxou de um cigarro e virou -se de costas para a parede. - Dobriy vyehchyer, priyatel. Ao ouvir a voz grave masculina, voltou-se e estend eu instintivamente a mo para a arma.. . que no se encontrava no lugar habitual. Ap oiando-se na ombreira da porta da casa de banho achava-se um homem quase calvo, cujo rosto Michael reconheceu de dezenas de fotografias do passado. Era de Mosco vo, um dos membros mais poderosos do KGB. Empunhava uma arma - uma Graz-Burya au tomtica - e registou-se o estalido indicativo de que acabava de ser engatilhada. Captulo terceiro - Podes ir-te embora - indicou o russo mulher oculta atrs dele, que deslizou para a sada, com um leve olhar apreensivo a Havelock. - Voc Rostov. Pyotr Rostov, director das Estratgias Externas do KGB. - O seu rosto e o seu nome tambm so do meu conhecimento. Assim como o seu processo . - Deu-se a um grande incmodo, priyatel - volveu Michael, empregando o adjectivo q ue significa "amigo", embora a inflexo ftiacomqueo articulara o desmentisse. Sacu ditia cabea, numa tentativa para dissipar a neblina mental ocasionada pela mistur a de ouzo e scotch. - Podia ter-me abordado na rua e convidado para tomar uma be bida. No ficava a saber mais nem menos, e muito pouco de valioso. A no ser que se trate de uma kazn gariah. No uma execuo, Havlicek. Havelock. Filho de Haviicek. Agradecia que no mo recordasse. A arma encontra-se na minha mo e no na sua. - Rostov recolocou o co da automtica n

a posio de descanso, conquanto a apontasse cabea de Michael. - Mas isso situa-se nu m passado remoto, sem qualquer relao comigo. Por outro lado, as suas recentes acti vidades dizem-me directamente respeito. Dizem-nos, se prefere. - Nesse caso, as suas toupeiras no justificam o que lhes pagam. - Enviam relatrios com frequncia irritante, ainda que seja apenas para o justifica r. A questo reside em saber se correspondem realidade. - Se revelam que passei inactividade, pode aceit-los como exactos. - Inactividade? Um termo veemente, mas algo subjectivo, no concorda? Abandonou ur na actividade para enveredar por outra? - Abandonei todas as actividades que lhe possam interessar. - Compulsivamente? - Encostou-se parede junto da porta da casa de banho e a Graz -Burya passou a visar a garganta de Havelock. - J no trabalha para o seu Governo e m nenhuma actividade? difcil de aceitar. Deve ter sido um forte abalo para o seu caro amigo Anthony Matthias. - Um francs referiu-se a Matthias, um dia destes. - Michael observou a expresso do sovitico e baixou os olhos para a automtica. - Vou dizer-lhe o mesmo que a ele, e mbora no veja porque o deva fazer. Voc pagou-lhe para que mencionasse o nome. - Gravet? Despreza-nos. S se mostra civilizado connosco quando transpe as galerias do Kretrilin ou do Eremitrio, em Leninegrado. Podia revelar-nos a primeira coisa que lhe viesse cabea. - Nesse caso, porque o utilizaram? - Porque simpatiza consigo. mais fcil detectar uma mentira quando o mentiroso se refere a algum da sua simpatia. - Portanto, acreditaram. - Ou voc convenceu-o e no tivemos outro remdio. Mas explique-me. Como reagiu o bril hante e carismtico secretrio de Estado americano demisso do seu krajan? - Ignoro-o, mas suponho que compreendeu. Foi exactamente o que disse a Gravet. H meses que no vejo nem falo com Manhias. Tem muitos problemas e no existe motivo al gum para que os de um antigo discpulo o preocupem. - Voc no era um simples discpulo. A famlia dele conheceu a sua, em Praga. Tomou-se n o que ... Era - corrigiu Havelock. ... graas a Anton Matthias. Tempos que j l vo. Rostov conse rvou-se silencioso por um momento e baixou ligeiramente a arma antes de aquiesce r. - Admitamos que j passou muito tempo. E actualmente? Ningum insubstituvel, mas voc p ode considerar-se uma pessoa de valor. Experiente, produtivo. - O valor e a produtividade costumam associar-se ao compromisso, coisa de que me libertei. Ou digamos que o perdi. - Devo inferir que pode deixar-se tentar? - A arma baixou mais um pouco. - No se ntido de outro compromisso? - Sabe perfeitamente que no. parte a repulsa pessoal que remonta a um par de dcada s, temos uma toupeira ou duas implantadas na Praa Dzerzhinsky. No me interessa nad a ser rotulado de "irrecupervel". - Uma expresso hipcrita, que implica compaixo por parte dos seus executores. - Di-lo claramente. - No tanto como pensa. - O russo voltou a erguer a automtica, fazendo-a avanar com

lentido. - No temos esses problemas de semntica. Um traidor um traidor. Eu podia en treg-lo, sabe. - Com dificuldade. - Michael permanecia imvel, olhos colados aos de Rostov. H corredores, elevadores, trios e ruas para percorrer. Voc podia ver os projectos f rustrados. Sobretudo, porque no tenho nada a perder, parte uma cela em Lubyanka. - Uma cela, no. Um quarto. No somos brbaros. - Desculpe. Um quarto. Do mesmo gnero do que temos reservado na Virgnia para algum como voc... e estamos ambos a perder tempo. Quando pessoas como ns se safam com a cabea ainda colada aos ombros, tudo se altera. O 4rnytal e o Pentotal no passam de convites para armadilhas.

Restam as toupeiras. No fao a mnima ideia de quem so, como voc tambm no sabia quando s dedicava a operaes de campanha... pelas mesmas razes, por esses mesmos quartos. Ne nhum de ns sabe, em qualquer dos lados. Conhecemos apenas os cdigos correntes, pal avras que nos conduzem aonde temos de ir. As que eu utilizava perderam agora tod o o valor. - Pretende sinceramente convencer-me de que um homem com a sua experincia no nos p ode servir para nada? - Eu no disse isso. Limito-me a sugerir que pondere os riscos. Alm de outra coisa, que, francamente, vocs levaram a cabo com razovel xito, h dois anos. Capturmos um vo sso agente que estava liquidado, candidato a uma herdade em Grasnov. Retirmo-lo, atravs de Riga, para a Finlndia e fizemo-lo seguir de avio para um quarto em Fairfa x, Virgnia. Injectmos-lhe de tudo, da escopolamina at ao Amytal triplo, e inteirmo-n os de muitas coisas. Houve estratgias que abortaram, redes reestruturadas por com pleto e a confuso estava na ordem do dia. Depois, apurmos um pormenor curioso: tud o o que ele nos revelara era mentira. A cabea achava-se programada como um comput ador, e homens valiosos tomaram-se inteis, alm de que se perdeu tempo precioso. Su pondo que conseguia levar-me para Lubyanka (do que duvido seriamente), quem lhe garante que no sou a nossa rplica partida que nos pregaram? - Se fosse esse o caso, voc no ventilaria a possibilidade - alegou Rostov, fazendo retroceder a arma, mas sem a baixar. - Acha? Parece-me uma cortina de fumo muito satisfatria. De qualquer modo, nunca teriam a certeza. Por outro lado, desenvolvemos um soro (acerca do qual nada sei , alm de que se injecta na base do crnio) que elimina uma programao. Relaciona-se co m a neutralizao do lbulo occipital, embora eu no faa a mnima ideia do que isso signifi ca. Doravante, podemos efectuar uma determinao. - Uma confisso dessa natureza no deixa de me surpreender. - Porqu? Talvez esteja a poupar aborrecimentos aos nossos respectivos directores. Pode ser o meu objectivo. Ou talvez seja tudo mentira. Pode no haver soro algum, nem proteco, e tratar-se de mera inveno minha. Tambm uma possibilidade. - Khvatit! - O russo sorriu. - Diverte-nos com uma lgica que pode aplicar-se-lhe. Est em condies de ingressar na vossa herdade de Grasnov. o que tenho estado a dizer -lhe. Pensa que mereo o risco? Vamos certificar-nos. De sbito, pegou na automtica p elo cano, colocou-a na palma da outra mo e atirou-a a Havelock, que a recolheu e perguntou: - Que quer que faa com isto? - Que deseja fazer? - Nada. Admitindo que as trs primeiras cargas so cpsulas de borracha cheias de tint a, s conseguiria manchar-lhe o fato. - Michael premiu uma mola e o carregador pou

sou na cama. - Alis, no um teste muito concludente. Se o percutor funciona e este brinquedo produzisse algum rudo, podiam acudir vinte khruschei e transformar-me n um passador. - O percutor funciona e no h ningum emboscado no corredor. O Aretinisa Delphi mais ou menos do estilo da rea de Washington. Vigiam-no, e no sou estpido ao ponto de ma ndar o meu pessoal desfilar pelas instalaes. Creio que est ao corrente disso. E a r azo pela qual me encontra aqui. - Que pretende provar? - No sei bem. - Rostov voltou a sorrir, com um leve encolher de ombros. - Talvez um leve claro elucidativo nos olhos. Quando um homem se v diante de uma arma hosti l, e ela de repente lhe vai parar s mos, surge o impulso instantneo para eliminar a ameaa... admitindo que a hostilidade retribuda. Aparece nos olhos, e nenhuma espci e de autodomnio o pode dissimular... se a inimizade for activa. - Que leu nos meus? - Indiferena absoluta. Cansao, se quiser. - No sei se tem razo, mas admiro-lhe a coragem. Lamento no poder dizer o mesmo a meu respeito. O percutor funciona mesmo? . Exacto. No h cpsulas? Nenhuma. - Abanou a cabea e deixou transparecer uma expresso levemente divertida - Nem balas. Ou melhor, no h plvora nos cartuchos. - Ergueu o brao esquerdo e, com a mo direita, puxou a manga do sobretudo. Preso ao pulso por meio de correias e prolongando-se at ao cotovelo, havia um cano de seco reduzida, cujo mecanismo de disparo era aparentemente activado dobrando o brao. - Snotvornoye - escl areceu, pousando os dedos nos arames tensos em forma de espiral. - Aquilo a que vocs chamam dardos narcotizantes. Voc dormiria calmamente at amanh tarde, enquanto u m mdico insistiria em que a sua febre inexplicvel fosse estudada num hospital. A seg uir, lev-lo-amos de avio para Salnica e da, sobre os Dardanelos, para Sebastopol. - C om estas palavras, desprendeu uma fivela acima do pulso e retirou a arma. - Podia, de facto, ter-me dominado - admitiu Havelock, olhando-o com admirao. - Antes de efectuar a tentativa, nunca se pode prever o resultado. Talvez errass e o alvo no primeiro disparo e voc, mais jovem e forte do que eu, aproveitaria a oportunidade para me atacar. Em todo o caso, as possibilidades inclinavam-se par a o meu lado. - Totalmente, quanto a mim. Porque no o fez? - Porque voc tem razo. Ns no o queremos. Os riscos so demasiado elevados... no aqueles que mencionou, mas outros. Eu precisava de conhecer a verdade e agora considero -me convencido. De facto, j no trabalha para o seu Governo. - Quais riscos? - No os conhecemos, mas existem. Tudo o que no se consegue compreender nestas anda nas representa um risco, embora no necessite de lho dizer. - Explique-me urna coisa. Acabo de ser indultado. Porqu? - Muito bem. - O russo hesitou e aproximou-se das portas de acesso varanda, que entreabriu uns centmetros. Em seguida, satisfeito, tomou a fech-las e virou-se de novo para Havelock. - Devo comear por referir que no me encontro aqui em obedincia a ordens da Praa Dzerzhinsky, nem mesmo com a sua bno. Para ser franco, os meus idos os superiores do KGB julgam-me em Atenas no cumprimento de uma misso diferente. P ode acreditar ou no, como lhe aprouver:

- Fornea-me um motivo para optar por uma das alternativas. Algum deve estar ao cor rente. Vocs, jedratele, no costumam actuar a solo. - Especificamente, mais dois. Um colega ntimo em Moscovo e um homem dedicado (uma toupeira, sem dvida) na rea de Washington. - Langley? Meneou a cabea com lentido e replicou num murmrio: - Na Casa Branca. - Estou impressionado. Por conseguinte, dois kontrolyorya do KGB e uma toupeira sovitica a curta distncia do Gabinete Oval decidiram que queriam conversar comigo, mas no lhes interessava levar-me. Podem conduzir-me de avio para Sebastopol e da p ara um quarto em Lubyanka, onde o dilogo resultaria muito mais produtivo, do seu ponto de vista, porm no lhes interessa faz-lo. Em vez disso, o porta-voz do trio (u m homem que apenas conheo de fotografias e reputao) explica-me que h riscos associad os minha pessoa que no pode definir, embora saiba existirem, e em virtude deles c oncede-me a opo de falar ou no... acerca de um assunto que desconheo por completo. C onsidera isto uma leitura aceitvel da situao? - Tem a propenso eslava de atingir directamente o fulcro de uma questo. - No vislumbro qualquer relao ancestral. No passa de senso comum. Voc falou e eu escu tei. o que disse ou se prepara para dizer. Lgica bsica e nada mais. _ Receio que seja esse o factor que falta. - Rostov afastou-se das portas da varanda, exibind o uma expresso pensativa. - A lgica. - Agora, estamos a falar de outra coisa. - Pois estamos. - De qu? - De si. Da Costa Brava. - Continue. - Os olhos de Havelock exibiram um claro de clera, mas conseguiu domin ar-se. - Refiro-me mulher. Suponho que a causa da sua aposentao prematura. - Terminou a conversa - declarou com brusquido. - Saia. - Um momento, por favor. - O russo ergueu as mos, num gesto conciliador, porventu ra mesmo de splica. - Penso que me deve escutar. - No acho. No pode dizer coisa alguma capaz de me interessar, ainda que remotament e. A Voennaya merece felicitaes. Foi um trabalho executado com brilho. Eles ganhar am e ela tambm. Depois, perdeu. O assunto est encerrado e no quero ouvir nem mais u ma palavra. - Garanto-lhe que no est. - Pelo menos, para mim. - Os fulanos da VKR so manacos - articulou a meia-voz. - No preciso de lho salienta r. Voc e eu somos inimigos, e nenhum dos dois pretende afirmar o contrrio, mas obe decemos a determinadas regras. Consideramo-nos profissionais e no ces salivantes. Existe um respeito mtuo fundamental, talvez baseado no medo, embora no forosamente. Reconhea ao menos isto, priyatel. Os dois homens olharam-se em silncio por um momento, at que Havelock inclinou a ca bea. - Conheo-o dos ficheiros como voc a mim. No participou na execuo. - Uma morte intil no deixa de ser uma morte, uma perda. Desnecessria e provocatria, o que a torna ainda mais perigosa. Pode repercutir-se, com fria redobrada, no ins tigador. - V dizer isso Voennaya. No houve nada de intil, pela parte que lhe toca. Apenas ne cessidade.

- Carniceiros! - vociferou Rostov, em inflexo gutural. - Ningum lhes pode dizer na da. So descendentes dos antigos matadouros da OGPU, herdeiros do assassino louco Yagoda. Afundam-se at ao pescoo em fantasias paranicas que remontam a mais de meio sculo, quando ele abateu os homens mais razoveis, devido sua falta de fanatismo, q ue considerava uma traio revoluo. Conhece a VKR? - O suficiente para me manter distncia e acalentar a esperana de que vocs consigam domin-la. - Gostava de poder responder afirmativamente. como se um grupo dos vossos alucin ados direitistas recebesse poderes oficiais como uma subdiviso da Central Intelli gence Agency. - Ns temos convulses... s vezes. Se surgisse uma subdiviso desse tipo (e podia acont ecer), seria criticada abertamente. Investigar-se-iam as verbas concedidas e os mtodos empregados, at que acabaria por ser varrida do poder. - Vocs tiveram alguns lapsos memorveis: McCarthys, planos Buston, depuraes na Impren sa irresponsvel. Alm disso, foram destrudas carreiras e degradadas vidas. Sim, laps os no lhes tm faltado. - Sempre de curta durao. No temos gulags ou programas de "reabilitao" numa Lubyanka. E a Imprensa irresponsvel consegue tomar-se responsvel, de vez em quando. Derrubou um regime de mandes arrogantes, enquanto os mais irredutveis do Kretrilin conserv am de pedra e cal os seus lugares. - Digamos que houve lapsos em ambos os lados. No entanto, somos muito mais joven s, e a juventude tem o direito de cometer erros. - E no h nada que se compare operao paminyatchik da VKR - retorquiu Havelock. - Isso no seria tolerado pelo pior Congresso ou Administrao da Histria. - Mais uma fantasia de paranicos! - bradou o oficial do KG13, que acrescentou em tom de desdm: - A paminyatchik! O prprio termo uma corrupo destituda de significado! Uma estratgia desacreditada montada h dcadas! Decerto no acredita que ainda floresce . - Talvez menos que a Voennaya. Obviamente mais do que voc pensa... se no mente. - Deixe-se disso, Havelock! Garotos russos enviados para os Estados Unidos, a fi m de crescerem ao lado de marxistas da velha linha, sem dvida pateticamente senis , para se converterem em agentes soviticos ferrenhos? Impensvel! Seja razovel. psic ologicamente inconcebvel, seno desastroso, para no falar das inevitveis comparaes. Aca baramos por perder a maior parte deles, em favor dos blue jeans, da msica rock e d os automveis velozes. Faramos figura de idiotas. - Agora, no restam dvidas de que mente. Essa fatina existe. Sabe-o to bem como eu. - Nesse caso, trata-se de uma questo de nmeros - concedeu com um encolher de ombro s. - E de valor, permita-me que acrescente. Quantos podem restar? Cinquenta, cem , duzentos, quando muito? Criaturas conspiradoras de um amadorismo atroz dispers as por meia dzia de cidades, reunindo-se em celeiros para trocarem disparates, in decisos quanto aos seus prprios valores, aos motivos por que se encontram a. Creia que os chamados viajantes merecem pouco crdito. - Mas no os mandaram recolher base. - Onde os colocaramos? Poucos falam russo e s serviriam para nos embaraar. O melhor no pensar neles. - Mas a Voennaya pensa.

- J lhe expliquei que os agentes da VKR perseguem fantasias erradas. - Duvido que voc acredite nisso - proferiu Michael, observando o sovitico atentame nte. - Nem todas essas famlias eram patticas e senis ou viajantes amadores. - Se h actualmente, ou num passado recente, algum movimento coerente por parte do s paminyatchiki, no temos conhecimento - declarou Rostov, com firmeza. - E se h e no tm conhecimento, pode revestir-se de coerncia, no acha? - A VKR incrivelmente reservada - murmurou, aps uma pausa. - De facto, seria algo de coerente. - Ento, talvez eu lhe tenha fornecido material para reflexo. Chame-lhe uma prenda de despedida de um inimigo aposentado. - No procuro prendas desse tipo - asseverou, friamente. - So to gratuitas como a sua presena aqui, em Atenas. - Se no aprova, regresse a Moscovo e combata as suas guerras. As vossas infra-est ruturas j no me interessam. E a menos que tenha mais alguma arma de banda desenhad a na outra manga, sugiro que se retire. - precisamente isso, pyehshkah. Sim, pyehshkah. Peo. Trata-se, como diz, de urna infra-estrutura. Seces separadas, com efeito, mas uma nica entidade. H, em primeiro lugar, o KG13. O resto segue com naturalidade. Um homem (ou uma mulher) pode gr avitar em tomo da Voennaya e at exceder~se nas suas operaes mais profundas, mas pre cisa de provir do KG13. Como mnimo, tem de haver uma ficha Dzerzhinsky algures. N o caso de recrutas estrangeiros, , como voc diria, um duplo imperativo. Proteco inte rna, claro. - Diga o que tem em mente e depressa. - Havelock soergueu-se na cama, a confuso j untando-se clera no olhar. - Comea a emitir um certo cheiro, priyatel! - Desconfio de que todos ns o emitimos, Mikhail Havlicek. As nossas narinas nunca se acostumam, hem? De outro modo, perverso, tornam-se sensveis a variaes desse odo r bsico. Como nos animais. - Desembuche, de uma vez. - No existe a menor aluso a Jerina Karasova, ou a Karas, inglesa, nas listas dos d iferentes ramos ou divises do KG13. Havelock fitou o interlocutor em silncio, por um momento, e, de sbito, puxou o leno l, ergueu-o, para obscurecer o campo visual do russo, e saltou para a frente, en costando-o violentamente parede. Em seguida, f-lo rodar sobre si prprio, puxando-l he o pulso, e apoiou-lhe transversalmente o brao na garganta. - Podia mat-lo pelo que acaba de dizer - articulou, ofegante. - Pois podia - retorquiu Rostov, expriniindo-se com dificuldade. - Mas depois li quidavam-no. Neste quarto ou na rua.

- Julgava que no tinha ningum no hotel! - Menti. H trs homens: dois disfarados de empregados, ao fundo do corredor, junto d os elevadores, e outro na escada. No conte com qualquer espcie de proteco, em Atenas . H tambm gente l fora, de guarda a todas as sadas. As minhas instrues so claras: devo surgir de uma porta determinada a uma hora prevista. Qualquer desvio do que foi planeado redundar na sua morte. O quarto ser invadido, alm de que o cordo l fora intr ansponvel. No sou um imbecil. - Talvez, mas , como admitiu, um animal! - Havelock soltou-o e impeliu-o brutalme

nte para o outro lado do quarto. - Volte para Moscovo e diga aos seus superiores que o engodo demasiado bvio e o fedor pestilento. No o mordo, priyatel. Saia!

- No h engodo nenhum - protestou Rostov, recuperando o equilbrio e levando a mo garg anta. - Que poderia realmente revelar-nos merecedor dos riscos ou porventura das represlias? Ou das incertezas? Est arrumado . Sem programao, podia conduzir-nos a u ma centena de armadilhas... teoria que nos cruzou os espritos, diga-se de passage m. Voc fala livremente e ns actuamos em conformidade com o que diz, mas o que prof ere j no operativo. Por seu intermdio, perseguimos estratgias (no apenas cdigos e cif as, mas aparentemente estratgias vitais a longo prazo) que Washington ps de parte sem o informar. E, de caminho, expomos o nosso pessoal. Decerto est ao corrente d isto. Fala de lgica? Mea as suas palavras. Havelock cravava os olhos no interlocutor, respirando pesadamente, enquanto a cle ra e o assombro dominavam a tenso emocional. A prpria sombra da possibilidade de u m erro cometido na Costa Brava era algo que se encontrava acima do que se lhe af igurava capaz de suportar. Mas no houvera erro algum. Um desertor do Baader-Meinh of desencadeara a srie de acontecimentos reveladores. As provas tinham sido envia das para Madrid e ele examinara-as, em busca de um minsculo fragmento que as desm entisse . Mas no havia nada, havia tudo. Anthony Matthias - Anton Matthias, amigo , mentor, pai substituto exigira uma verificao profunda, e a resposta surgira sem margem para dvidas: positi va. - No! A prova era irrefutvel! Ela estava l! Assisti a tudo! Insisti em me certifica r pessoalmente e eles concordaram. - "Eles@>? Quem? - Sabe-o to bem como eu! Homens como voc! A concha interior: estrategos! No investi garam o suficiente?! Esto errados?! - No nego que a possibilidade existe (como referi, a VKR incrivelmente reservada, sobretudo em Moscovo), mas pode considerar-se remota. - O russo movia a cabea co m lentido, em crculos, enquanto aplicava massagens na garganta com os dedos. - Ficm os surpresos. Uma agente invulgarmente produtiva conduzida a uma armadilha de te rroristas pelos seus prprios companheiros, que em seguida responsabilizam o KGB p ela sua morte, alegando que pertencia s nossas fileiras. O resultado da manipulao c onsiste na neutralizao do companheiro constante da mulher, seu amante, um agente m ultilingue de talento excepcional. A desiluso e o desgosto acabrunham-no e abando na a actividade. Surpresos, esquadrinhamos os ficheiros, incluindo os mais inace ssveis, e o nome dela no figura em nenhum. Jemia Karas nunca pertenceu aos nossos quadros. - Fez uma pausa, consciente do perigo que o espreitava: Michael Haveloc k era um tigre perigosamente provocado, que podia atacar a todo o momento. - Est amos gratos, pois lucrmos com o seu afastamento, embora no possamos deixar de nos interrogar sobre o motivo. Por que procederam assim? Tratar-se- de um ardil? Ness e caso, com que finalidade? Quem lucra? primeira vista, ns. No entanto, toma a su rgir a interrogao: porqu? Como? - Perguntem VKR! - rugiu Michael, em tom desdenhoso. - No o planearam assim, mas foi como aconteceu. Sou o bnus. Perguntem-lhes! - J o fizemos. Um director da seco, mais sensato que a maioria dos colegas, est assu stadssimo. Revelou-nos que no se achava pessoalmente familiarizado com Jenna Karas ou os pormenores da Costa Brava, mas como o pessoal do servio exterior no fez per guntas, depreendeu que no convinha remexer no assunto. Como ele prprio salientou, os resultados foram favorveis: dois condores abatidos, ambos talentosos, um dos q uais excepcional. Assim, a Voennaya aceitou os louros com satisfao.

- No admira. Eu ficava afastado de vez e o desaparecimento dela podia ser justifi cado. Um sacrifcio no muda de nome, qualquer que seja o aspecto de que se reveste. Ele disse-o e reconheceu-o. - No o reconheceu e disse uma coisa muito diferente. Estava assustado, como refer i, e s a minha patente superior conseguiu obrig-lo a revelar tanto. - Palpita-me que est a fantasiar. - Limitei-me a escutar, como voc me escutou, h pouco. Garantiu-nos que no fazia a m ais remota ideia do que acontecera ou porqu. - No sabia, pessoalmente! - contraps Havelock, irritado. - Mas o pessoal exterior estava ao corrente. Ela sabia! Uma racionalizao tnue . O seu departamento responsvel por todas as actividades no se ctor do Sudoeste do Mediterrneo, territrio que inclui a Costa Brava. Um encontro d e emergncia, sobretudo se envolvesse o Baader-Meinhof, necessitaria da sua aprovao. Rostov calou-se por uns instantes e acrescentou apressadamente: - Em circunstncia s normais. - Isso uma racionalizao menos tnue? - Admito apenas uma reduzidssima margem de erro. Uma possibilidade extremamente r emota. - a nica que aceito! - exclamou Michael, subitamente perturbado com a sua prpria e xploso. - Quer aceit-la. Talvez seja forado a isso. - frequente a VKR receber ordens directamente dos gabinetes do Kremlin. No segred o, de resto. Portanto, se voc no mente, passaram-lhe por cima. - Decerto, e a ideia aterroriza-me mais do que possa supor. Mas por muito que re conhea a sua experincia e os seus cometimentos profissionais, priyatel, no creio qu e os gabinetes do Kretrilin se preocupem com personagens como eu ou voc. Concentr am-se em assuntos de mbito mais geral. E, de qualquer modo, no possuem prtica do ca mpo em que nos movemos. - Isso no se aplica ao Baader-Meinhof? E OLP e s Brigadas Vermelhas e a duas dezen as de "exreitos vermelhos" que provocam focos de violncia por todo o mundo! &o polt ica! - S para manacos. - Que precisamente do que estamos a falar! Manacos! - Fez uma pausa, assolado por aquilo que se lhe apresentava como bvio. - Decifrmos os cdigos da VKR. Eram autntic os. Vi demasiadas variaes para que subsistissem dvidas. Fui eu que preparei o conta cto. Ela respondeu. Enviei a transmisso final aos homens que se encontravam no ba rco ao largo. Tambm responderam! Explique isto! - No posso. - Nesse caso, saia. - Tenho de ir, de qualquer maneira - disse Rostov, consultando o relgio. - Est na hora. - Ento, desaparea. - Chegmos a um beco sem sada. - Eu, no.

- Pois no, e isso constitui um risco a seu respeito. Voc sabe o que sabe e eu sei o que sei. Um beco sem sada, agrade-lhe ou no. - No se esquea de que est na hora. - No esqueci. Estou pouco interessado em ser apanhado no meio de fogo cruzado. Sa io j. - Aproximou-se da porta e, com a mo pousada no puxador, virou-se para trs. H momentos, voc afirmou que o engodo era demasiado bvio e cheirava mal, ou algo do gnero. Diga isso a Washington, priyatel. - Saia! O russo desapareceu e Havelock conservou-se imvel durante cerca de um minuto, rec ordando a expresso do olhar do outro. De facto, continha uma elevada percentagem de verdade. Ao longo dos anos, aprendera a discerni-la, especialmente nos inimig os. Rostov no mentira: dissera a verdade como a supunha. O que significava que o poderoso estratego do KGB era manipulado pelos seus prprios colegas de Moscovo. P yotr Rostov era unia sonda cega - um oficial dos servios secretos influente envia do com informaes que julgava no se acharem na posse dos superiores, a fim de estabe lecer contacto com o adversrio e recrutar um agente americano para as fileiras do s soviticos. Quanto mais elevada a patente do oficial, mais credvel a sua verso - d esde que dissesse a verdade como a concebia e era encarada como tal pelo inimigo . Michael acercou-se da mesa-de-cabeceira, onde deixara o copo de usqui, meia hora antes, levou-o aos lbios e fixou o olhar na cama com ar pensativo. Esboou um sorri so ao ponderar as cambiantes que o sero sofrera nos ltimos trinta minutos. A prost ituta actuara, embora no da maneira que ele previra. A cortes sensual fornecedora de prazeres aos ricos no passara de um engodo . Quando terminariam os engodos? Am esterdo, Paris, Atenas... Talvez nunca terminassem, enquanto ele existisse. Era possvel que, enquanto se ac hasse em movimento, o acompanhassem, vigiando-o, na expectativa de que cometesse os crimes de que, no seu frtil imaginrio, o julgavam capaz. Era no movimento em s i que encontravam a ominosa substncia para as suas suspeitas. Nenhum homem vaguea va sem rumo definido, aps uma vida inteira de deambulaes em obedincia a ordens. Se o fazia, sign ificava que obedecia a outras ordens, de contrrio criaria razes num lugar. Algures . Talvez tivesse chegado o momento de parar. Talvez a sua odisseia de recuperao houv esse atingido o fim: existia um telegrama para enviar, um compromisso a assumir. Um comeo. Um amigo quase esquecido voltara a tomar-se um amigo actual e oferecer a-lhe uma vida nova, onde a antiga poderia ser sepultada, onde havia razes para c ultivar, relaes para criar, coisas para ensinar. Que ensinars Mikhail? Deixa-me em paz! No fazes parte de mim... nunca fizeste! De manh, enviaria o telegrama a Hatry Lewis, aps o que alugaria um carro e seguiria p ara noroeste, em direco aoferryboat destinado ao porto de Krkira, no Adritico, onde tomaria o barco para Brindisi, Itlia. Fizera-o antes, s Deus sabia com que nome ou com que finalidade, e f-lo-ia agora como Michael Havelock, professor visitador d o Governo. Em Brindisi, embarcaria no comboio para Roma, cidade que lhe agradava sobremaneira e onde permaneceria cerca de duas semanas. Constituiria o derradei ro ponto de escala da sua odisseia, o lugar em que deixaria repousar para sempre todos os pensamentos de uma vida que terminara.

Havia assuntos a tratar em Concord, Nova Hampshire, E. U. A. Assumiria as funes de professor visitador dentro de menos de trs meses, mas entretanto necessitava de se concentrar em pormenores prticos: preparao de preleces sob a orientao de colegas ex erientes e currculos para estudar e avaliar, a fim de determinar o melhor rumo da sua actuao futura. Talvez uma breve visita a Matthias, o qual decerto teria eleme

ntos para lhe fornecer. Por muito ocupado que estivesse, o amigo encontraria sem pre algum tempo para lhe consagrar, pois, de entre todos, seria ele quem se sent iria mais contente com a situao: o seu antigo aluno regressara universidade. Fora a que tudo principiara. Na verdade, havia muitas coisas para fazer. Necessitava de um lugar para viver: uma casa, moblia, panelas, caarolas, livros, urna poltrona para repousar, uma cama para dormir. Escolhas. Anteriormente, nunca pensara nisso, e agora, ao faz-lo, s entia a excitao ntima acentuar-se. Dirigiu-se mesinha, desrolhou a garrafa e verteu um pouco mais de scotch no copo . "Prteli", murmurou para consigo, sem qualquer motivo especial, ao contemplar o rosto no espelho. De repente, reparou nos seus prprios olhos e, aterrorizado, pou sou o copo to bruscamente que o fragmentou, ao mesmo tempo que lhe brotava sangue dos dedos. Os olhos no o deixavam libertar-se por completo! E compreendia porqu. Teriam visto a verdade, naquela noite na Costa Brava? Para com isso! - balbuciou, inconscientemente. - Terminou tudo! O dr. Harry Lewis sentava-se secretria no gabinete rodeado de livros, com o teleg rama na mo, aguardando que a voz da esposa lhe chegasse aos ouvidos, como no tardo u a acontecer. - At logo, querido! - despediu-se ela do vestbulo. Em seguida, a porta de entrada foi aberta e fechada. Ela partira. Uwis levantou o auscultador e marcou o cdigo da rea 202. Washington, D. C. Os sete dgitos que se seguiram achavam-se gravados na memria e nunca haviam sido escritos Nem figurariam na conta, pois evitariam o computador electronicamente. Estou - proferiu a voz masculina, do outro lado do fio. Vidoeiro. Siga, Vidoeiro. O gravador est ligado. Ele aceitou. Chegou o telegrama de Atenas. H alguma alterao na data? No. Chega um ms antes do incio do trimestre. Diz para onde vai, de Atenas? No.

- Vigiaremos os aeroportos. Obrigado, Vidoeiro. A Roma que Havelock viera visitar no correspondia quela em que lhe interessava fic ar. Greves sucessivas, o caos intensificado pelos volteis temperamentos italianos que irrompiam em todas as esquinas, nas manifestaes, nos parques e em volta das f ontes. A correspondncia fora dispersa pelas sarjetas e juntara-se ao lixo por rec olher, os txis escasseavam, praticamente inexistentes, e a maior parte dos restau rantes encerrara as portas por falta de gneros. Os poliziotti, depois de longa di stribuio indiscriminada de bastonadas, efectuavam uma pausa para recompor as energ ias e contribuam para avolumar a anarquia do trfego citadino, e como os telefones pertenciam ao servio postal do Governo, funcionavam a um nvel inferior ao normal, o que tomava a sua utilizao virtualmente impossvel. A cidade encontrava-se dominada por uma espcie de histeria, agravada por mais uma severa determinao papal - de um estrangeiro, um polacco! -, que desafiava todas as aberturas progressistas desde o Vaticano 11. Giovanni Ventitreesimo! Dove sei! Era a sua segunda noite em Roma e Michael, que sara dapensione, na Via Due Macell i, cerca de duas horas atrs, percorria agora os dois quilmetros at Via Flaminia Vec cha, esperanado em descobrir um restaurante aberto. Tal no acontecia, porm, e por ma is pacincia de que se revestisse, no surgia um txi para o reconduzir Praa de Espanha .

Depois de alcanar a extremidade norte da Via Veneto, encaminhava-se para a rua tr ansversal que eliminaria a multido da ruidosa feira em funcionamento naquela artri a, quando avistou um cartaz na montra iluminada de uma agncia de viagens que enal tecia as glrias de Veneza. Porque no? Sim, por que no aceitar a sugesto? A passividade flutuante da ausncia de planeamento inclua a alterao sbita de projectos. Consultou o relgio: eram cerca de oi to e meia, provavelmente demasiado tarde para se dirigir ao aeroporto e consegui r lugar num avio, mas, se a memria no o atraioava, continuavam a partir comboios da capital at meia-noite. Por que no aquele meio de transporte? Podia fazer a sua nica mala em poucos minutos e chegar estao, a p, em vinte. O dinheiro que estava na dis posio de pagar decerto lhe proporcionaria um lugar, de contrrio regressaria Via Due Macell, onde deixara depsito suficiente para uma semana de permanncia. Quarenta e cinco minutos mais tarde, Havelock transpunha a vasta arcada da impon ente estao de Ostia, mandada construir por Mussolini, nos dias agitados de trombet as e tambores, botas pesadas nas ruas e comboios que circulavam tabela. Embora o italiano no fosse o idioma que dominava melhor, lia-o sem dificuldade: B iglietto per Venezia. Prima classe, A bicha era pequena e a sorte no lhe voltou a s costas. O famoso Freccia della Laguna partia dentro de oito minutos, e se o signore dese jasse pagar a taxa adicional, disporia das melhores acomodaes do comboio. Michael respondeu afirmativamente e o empregado, enquanto carimbava a passagem, reveloulhe que o Freccia partia do binario trentasei, com plataforma dupla a algumas, l ongas, dezenas de metros da bilheteira. - Fate presto, signore! Non perdete tempo! Fate in fretta! Ele avanou apressadame nte por entre a massa de seres humanos, fazendo, tanto quanto possvel, pontaria L inha 36. Como sempre, e semelhana do que as recordaes do passado lhe asseguravam, o local achava-se superlotado. Exclamaes de despedida e gritos de boas-vindas cortavam a atmosfera em contraponto, enquanto eptetos contu ndentes se sobrepunham ocasionalmente confuso, porque os moos tambm se achavam em g reve. Havelock necessitou de cerca de cinco cansativos minutos para desembocar n a platafrma de embarque, onde, se possvel, o caos era ainda mais completo que nos outros lugares. Um comboio apinhado acabava de chegar do Norte, quando o Freccia se preparava para partir, e as colises de passageiros ocorriam a um ritmo indesc ritvel. Era uma cena digna de um crculo inferior de Dante, um pandemnio tumultuoso. De repente, do outro lado da platafrma, por entre a multido excitada, descortinou as costas de uma mulher, cujo chapu dissimulava o rosto . Acabava de descer do co mboio que chegara do Norte e voltara-se para falar com um revisor. O facto regis tara-se mais de uma vez, no passado: a mesma cor ou corte do cabelo, a configurao do pescoo. Um leno, chapu ou impermevel como os que ela usara. Sim, acontecera mais de uma vez. Com demasiada frequncia. Por fim, a mulher virou-se, e uma dor aguda flagelou os olhos e tmporas de Havelo ck, prolongando-se para baixo, como punhais que se lhe cravavam no peito. O rost o do outro lado da plataforma, vislumbrado esporadicamente por entre a multido ag itada, no constitua uma iluso. Era ela. Os seus olhares cruzaram-se. Os olhos dela arregalaram-se de medo e as faces ass umiram uma rigidez grantica. Em seguida, desviou a vista e imergiu na multido. Michael comprimiu as plpebras e tomou a descerr-las, tentando libertar-se da dor, do choque e do tremor irresistvel que o paralisavam. Largou a mala, decidindo que necessitava de se mover, correr atrs daquele cadver vivo da Costa Brava! Ela esta va viva! A mulher que amara, aquela apario, que trara o seu amor e morrera por ele, estava viva!

Como um animal enlouquecido, afastou os corpos no seu caminho, ao mesmo tempo qu e gritava o seu nome, ordenando-lhe que parasse e intimando a multido a det-la. Pr ecipitou-se para a frente, indiferente aos protestos que provocava e a alguns so cos dispersos que o atingiam de passagem. No entanto, no conseguiu localiz-la. Que acontecera, em nome de Deus? Jenna Karas estava viva! Captulo quarto Com o impacto aterrorizador de um relmpago, a viso de Jerma Karas fizera-o regress ar quele mundo de sombras que julgava ter deixado para trs. Ela estava viva! Ele t inha de continuar em movimento, precisava de a encontrar. Corria cegamente por e ntre a multido, separando braos, mos gesticuladoras e ombros protestantes. Primeiro em direco a uma sada, depois a outra, e a uma terceira e uma quarta. Detinha-se oc asionalmente para interrogar os poucos polcias que via, recorrendo s palavras disp ersas que se recordava de ter lido num vocabulrio italiano. Gritava a descrio dela e conclua cada frase distorcida com "Aiuto!", para obter como resposta apenas um encolher de ombros ou expresses de incompreenso. Continuou a correr. Uma escada, uma porta, um elevador. Depositou duas mil liras na mo de uma mulher que se encaminhava para o lavabo das senhoras e cinco mil na de um moo. Suplicou a trs revisores que abandonavam a estao de pasta na mo, o que indica va que seguiam para casa. Nada. Ela no se encontrava em parte alguma. Havelock encostou-se a um receptculo d o lixo, enquanto a transpirao lhe deslizava pelas faces e o pescoo. Por um momento, receou vomitar, uma vez transposto o limiar da histeria. Tinha de se recompor, dominar. E a nica maneira de o conseguir consistia em prosseguir em movimento, em bora com lentido, para que o forte palpitar no peito se desacelerasse e recuperas se parte do esprito para reflectir. Lembrou-se vagamente da mala. A possibilidade de continuar onde a deixara era remota, porm a busca entret-lo-ia. Retrocedeu pro gredindo atravs da multido, remotamente consciente das pessoas que se moviam em vo lta, como se no passassem de sombras. No fazia a mnima ideia do tempo que tardou a regressar plataforma, agora quase deserta. O Freccia partira e as brigadas de li mpeza invadiam as carruagens do comboio que chegara do Norte... em que Jerina Ka ras viajara. Afinal, a mala continuava onde a largara, e intacta, entalada num pequeno espao e ntre a periferia da plataforma e uma das carruagens. Estendeu a mo para a pega e puxou. Deparou-se-lhe maior resistncia do que previra e, de sbito, conseguiu desal ej-la, mas desequilibrou-se e caiu de costas. Um homem de fato-macaco acudiu, solc ito, porm Michael levantou-se com prontido, apercebendo-se, pela expresso do outro, de que o julgava embriagado. Verificou que um dos lados da pega se soltara, pelo que colocou a mala debaixo d o brao e principiou a afastar-se, consciente de que a forma incerta como se movia serviria para confirmar as suspeitas do homem. Por fim, achou-se na rua e afastou-se lentamente da estao, apercebendo-se de que a s pessoas o olhavam, no s em virtude da forma como levava a mala, mas tambm dos vrio s rasges no fato, resultantes da prolongada refrega, nos dois sentidos, com a mul tido. Impunha-se que recuperasse a sensatez e a serenidade de esprito, concentrand o-se nos pequenos pormenores: lavaria o rosto, mudaria de roupa, fumaria um ciga rro e trataria de comprar uma mala nova.

F. MARTINELLI - Valigeria. O letreiro de non destacava-se acima da ampla montra c heia de acessrios de viagem. Era um daqueles estabelecimentos perto da estao de Ost ia que contam entre a sua clientela estrangeiros endinheirados e italianos capri chosos. A mercadoria exposta compunha-se de rplicas dispendiosas de objectos vulg ares, convertidos em artigos de luxo por meio da aplicao de metais prateados e bem polidos. Havelock hesitou por um momento, respirando pesadamente e segurando a mala com a mbos os braos, como se fosse a nica tbua de salvao num mar encapelado. Por ltimo, entr ou e verificou com alvio que eram quase horas de encerrar e no havia um nico client e visvel. O empregado emergiu do pequeno balco com uma expresso alarmada, fez uma pausa e re trocedeu um passo, como se pretendesse retirar-se. Todavia, Havelock apressou-se a explicar, em italiano razovel: - Fui arrastado por uma multido alucinada, na plataforma da estao, e ca. Preciso de comprar algumas coisas... vrias, mesmo. Esperam-me no HassIer, dentro de poucos m inutos. aluso ao hotel mais requintado de Roma, o homem mudou imediatamente de ideias e e xibiu um sorriso de simpatia, quase de condescendncia. - Animali! - exclamou, gesticulando na direco do seu Deus. - Que maada para si, sig nore! Estou s suas ordens. - Queria uma mala de bom cabedal, macio e... - Naturalmente. - Desculpe o incmodo, mas tem algum stio onde me possa lavar? No me agradava nada t er de aparecer condessa nesta figura. - Queira seguir-me, signore! Peo-lhe mil desculpas, em nome de toda a cidade! Enq uanto se lavava e mudava de roupa nas traseiras da loja, Michael focava os pensa mentos, medida que lhe acudiam, nas breves visitas que ele e Jerina haviam efect uado a Roma. Tinham sido duas. Na primeira, a permanncia no fora alm de uma noite, todavia a segunda prolongara-se por ts ou quatro dias e revestira-se de carcter oficial. Aguardavam ordens de Washington, depois de atravessarem os pases dos Balcs como um casal jugoslavo, a fim de obterem elementos acerca da sbita expanso das defesas n as fronteiras. Havia um homem, membro dos servios secretos do Exrcito, e agente de ligao de Haveloc k, de quem se lembrava perfeitamente, por ser o nico adido negro de nvel elevado na embaixada. O seu primeiro encontro no fora destitudo de certo humor - humor negro. Michael e Jerina deviam procur-lo num restaurante perto do Palatino. Quando chegaram, decid iram esperar no concorrido bar, preferindo que o "contacto" escolhesse a mesa, q uando se apresentasse, sem no entanto repararem no militar negro de estatura elevada que tomava um martini de vodka, sua direita. Transcorridos alguns minutos, este ltimo sorriu e anunciou: - Sou apenas Rastus na catasta di legna, patro Havelock. No acha boa ideia irmos p ara uma mesa?

Chamava-se Lawrence Brown, tenente-coronel Lawrence B. Brown, e a inicial intermd ia representava o seu verdadeiro nome, Baylor. - Os rapazes do G-dois consideraram que haveria mais "associao concreta" (foi como lhe chamaram) se me chamasse Brown, neste gnero de trabalhos - explicou, quando tomavam bebidas, aps o jantar. - Enfim, sempre prefervel a adido Cara de Caf. Havelock estava convencido de que poderia conversar com ele... se concordasse em receb-lo? E onde? No podia ser nas proximidades da embaixada. O Governo dos Estad os Unidos tinha vrias cois