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Revista da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege). p.29-58, V.10, n.13, jan-jun.2014. 29 QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA GEOGRAFIA BRASILEIRA: UM DEBATE INTRODUTÓRIO SOBRE A PRODUÇÃO ACADÊMICA NAS PÓS-GRADUAÇÕES 1 Ethnic-racial issue in brazilian geography: an introductiory debate about the academic production in the post-graduations in geography La question étnico-racial en la geografía brasileña: un debate introductorio acerca de la produción académica en los posgrados Diogo Marçal Cirqueira Diogo Marçal Cirqueira – Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail: [email protected] Gabriel Siqueira Corrêa Gabriel Siqueira Corrêa – Doutorando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor Assistente vinculado ao Departamento de Geografia da FFP/UERJ. E-mail: [email protected] Resumo O debate referente à questão étnico-racial, muito influenciado pelo movimento negro, se dinamiza nos últimos anos no Brasil. Há diante disso uma intensificação das pesquisas na academia, buscando compreender essa problemática que, por sinal, envolve a Geografia institucional. Assim, este artigo consiste no levantamento e análise das dissertações e teses produzidas nos programas de Pós-graduações em Geografia no Brasil até o ano de 2012, sobre a questão étnico-racial, em especial sobre a população negra. Com isso, pretende-se compreender como a Geografia acadêmica se insere nesse debate. Foram levantados ao todo cinquenta e quatro (54) trabalhos, dentre teses (13) e dissertações (41). Entre esses trabalhos, estabelecemos quatro tendências teórico- metodológicas de abordagem acerca do tema. São elas: Espaço e relações étnico-raciais; identidades e territorialidades negras; geopolítica dos países africanos; e, território e lugar nas manifestações culturais negras. Palavras-chave: Geografia, pós-graduação, relações étnico-raciais. 1 Agradecemos encarecidamente as críticas e sugestões realizadas pelos professores Dr. Adrelino de Oliveira Campos e Dr. De- nilson Araújo de Oliveira, bem como, os profícuos comentários dos pareceristas anônimos da Revista. Também agradecemos a competente revisão realizada pela profa. Carlianne Paiva Gonçalves. Uma versão preliminar desse artigo foi apresentada no XII Colóquio Internacional de Geocrítica, realizado em Bogotá entre os dias 7 e 11 de maio de 2012. DOI 10.5418/RA2014.1013.0002

QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA GEOGRAFIA BRASILEIRA: UM DEBATE INTRODUTÓRIO SOBRE A PRODUÇÃO ACADÊMICA NAS PÓS-GRADUAÇÕES

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QUESTÃO ÉTNICO-RACIAL NA GEOGRAFIA BRASILEIRA: UM DEBATE INTRODUTÓRIO SOBRE A PRODUÇÃOACADÊMICA NAS PÓS-GRADUAÇÕES

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  • Revista da Associao Nacional de Ps-graduao e Pesquisa em Geogra a (Anpege).p.29-58, V.10, n.13, jan-jun.2014.

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    QUESTO TNICO-RACIAL NA GEOGRAFIA BRASILEIRA: UM DEBATE INTRODUTRIO SOBRE A PRODUO

    ACADMICA NAS PS-GRADUAES1

    Ethnic-racial issue in brazilian geography: an introductiory debate about the academic

    production in the post-graduations in geography

    La question tnico-racial en la geografa brasilea: un debate introductorio acerca de la producin

    acadmica en los posgrados

    Diogo Maral CirqueiraDiogo Maral Cirqueira Doutor em Geogra a pela Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail: [email protected]

    Gabriel Siqueira CorraGabriel Siqueira Corra Doutorando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor Assistente vinculado ao Departamento de Geografia da FFP/UERJ. E-mail: [email protected]

    Resumo

    O debate referente questo tnico-racial, muito influenciado pelo movimento negro, se dinamiza nos ltimos anos no Brasil. H diante disso uma intensi cao das pesquisas na academia, buscando compreender essa problemtica que, por sinal, envolve a Geogra a institucional. Assim, este artigo consiste no levantamento e anlise das dissertaes e teses produzidas nos programas de Ps-graduaes em Geogra a no Brasil at o ano de 2012, sobre a questo tnico-racial, em especial sobre a populao negra. Com isso, pretende-se compreender como a Geogra a acadmica se insere nesse debate. Foram levantados ao todo cinquenta e quatro (54) trabalhos, dentre teses (13) e dissertaes (41). Entre esses trabalhos, estabelecemos quatro tendncias terico-metodolgicas de abordagem acerca do tema. So elas: Espao e relaes tnico-raciais; identidades e territorialidades negras; geopoltica dos pases africanos; e, territrio e lugar nas manifestaes culturais negras.

    Palavras-chave: Geogra a, ps-graduao, relaes tnico-raciais.

    1 Agradecemos encarecidamente as crticas e sugestes realizadas pelos professores Dr. Adrelino de Oliveira Campos e Dr. De-nilson Arajo de Oliveira, bem como, os profcuos comentrios dos pareceristas annimos da Revista. Tambm agradecemos a competente reviso realizada pela profa. Carlianne Paiva Gonalves. Uma verso preliminar desse artigo foi apresentada no XII Colquio Internacional de Geocrtica, realizado em Bogot entre os dias 7 e 11 de maio de 2012.

    DOI 10.5418/RA2014.1013.0002

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    AbstractIn uenced by the black movement, the debate concerning ethnic-racial issues has become dynamic in recent years in Brazil. Consequently, it is possible to see an increase in research in di erent areas of study in Brazilian Universities, including institutional geography. is article aims to catalog and analyse dissertations and theses about the ethnic-racial relations, especially in the black population, which were produced in Graduate Geography programs in Brazil. We studied y four (54) research works, thirteen (13) of which were doctoral theses and fourty one (41) of which were masters dissertations. We also established four categories on the subjects theoretical-methodological approaches. ey are: Space and ethnic-racial relations; black identity and territoriality; geopolitics of African countries; and territory and place in black cultural manifestations.

    Keywords: Geography, graduation, ethnic-racial relations

    ResumenEl debate acerca de la cuestin tnico-racial, muy in uido por el movimiento negro, se ampla en los ltimos aos en Brasil. Hay una intensificacin tanbien en las universidades que intentan a comprender el problema en el pas. As, este estudio consiste en el levantamiento y el analisis de disertaciones y tesis acerca de la cuestin tnico-racial producidas en los programas de Posgrado en el Geografa de Brasil. Hemos recaudado un total de cincuenta y cuatro (54) obras, entre las tesis (13) y disertaciones (41). Entre este cuantitativo, fue de nido cuatro tendencias terico-metodolgico sobre el tema. Ellos son: El espacio y las relaciones tnico-raciales; la identidad y territorialidad negro; la geopoltica de los pases africanos; y el territorio y el lugar de las manifestaciones culturales negras.

    Palabras-clave: Geografa, posgrado, relaciones tnico-raciales

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    INTRODUO

    Sem dvida, quando se procura analisar os fatores que compem a formao da nao brasileira, a questo tnico-racial um dos assuntos mais importantes, bem como, um dos mais polmicos. Ao observar a literatura que analisa esse tema, notamos que as discusses vigoram desde o sculo XIX, marcadas profundamente por interesses polticos e ideolgicos (cf. SEYFERTH, 1996; SKIDMORE, 1976; SCHWARCZ, 1993). Constituindo-se, assim, como um tema delicado e comple-xo, nunca houve consenso em torno das teorias que buscaram responder quem o povo brasileiro?, consequentemente, o que faz do Brasil, Brasil?. Um pensa-mento comum, talvez, seja que toda problemtica que compe a questo tnico-ra-cial gire em torno da ideia de miscigenao. Mesmo assim, as respostas mais co-nhecidas a respeito dos questionamentos acima que buscaram de nir a identidade e a nao brasileira, movimentando por dentro da ideia de miscigenao, ou a r-mam que aqui vivenciamos um paraso racial, produto da mistura entre trs ra-as (europeus, africanos e indgenas), ou, pontuam que, apesar da miscigenao, temos uma brutal desigualdade tnico-racial2.

    Por outro lado, apesar da questo tnico-racial estar to presente no cotidiano das relaes sociais brasileiras (como discurso, prtica ou performance), confor-mou-se por um longo perodo como um tabu. Na verdade, por muito tempo a ideia de que no Brasil se vivia uma Democracia Racial foi hegemnica, e, na medida em que essa perspectiva pregava a no existncia de con itos tnicos ou raciais no pa-s, foi vedada qualquer discusso, debate ou crtica sobre o tema. Algo inconcebvel se pensada a partir da realidade brasileira, marcada pelo racismo e por uma histria de escravizao, expropriao e violncia racializadas (MUNANGA, 2004). O que deveria gurar como tema frequente em debates (polticos) no Brasil, restringiu--se a locais e grupos muito espec cos da sociedade sem contarmos, obviamen-te, os contextos em que esse tema aparece de maneira jocosa ou descomprometida.

    Apesar disso, nos ltimos vinte anos, por conta da atuao do movimento ne-gro, o debate referente questo tnico-racial especi camente acerca da popula-o negra se ampliou consideravelmente e tomou outros contornos no pas. Pa-ra alm das aes e repercusses na sociedade civil, protagonizadas pelos movi-mentos sociais, Bernardino (2004) sugere trs fatos histricos como in uenciado-res na atual visibilidade dessas discusses: primeiramente, o reconhecimento p-2 Os dois autores e obras que personi cam essas vertentes no debate so, consecutivamente, Gilberto Freyre (Casa Grande e

    Senzala, 1934) e Florestan Fernandes (A integrao do Negro na Sociedade de Classes, 1964).

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    blico e o cial em 1995 por parte do Estado brasileiro no perodo do governo de Fernando Henrique Cardoso da existncia do racismo na sociedade brasileira. O segundo, o fato de em 2001 o governo brasileiro ter se tornado signatrio do do-cumento elaborado em Durban, frica do Sul, durante a III Conferncia Mundial Contra o Racismo, Discriminao Racial, Xenofobia e Formas Conexas de Into-lerncia, comprometendo-se a elaborar polticas de combate ao racismo e a dis-criminao. E, o ltimo, a implementao de polticas de Aes A rmativas, prin-cipalmente em sua modalidade cotas para estudantes negros/as nas universidades UNEB e UERJ no ano de 2003.

    Complementando o autor, ressaltamos que a intensi cao dessas discusses ocorreu tambm devido emergncia e visibilizao de pesquisas quantitativas de rgos institucionais brasileiros e de alguns grupos de pesquisa sobre as desigual-dades tnico-raciais no Brasil. Estas pesquisas revelavam (e revelam) uma desi-gualdade gritante entre negros/as e brancos/as na maioria dos indicadores sociais, o que deu maior amplitude problemtica (HASENBALG & VALLE SILVA,1988; IPEA, 1999; PNUD, 2005; PAIXO, CARVANO, MONTOVANELE, et al, 2010).

    Por conta desse cenrio, esse debate passou a gurar intensamente no cotidia-no brasileiro. Com efeito, essas controvrsias tomaram grandes propores justa-mente porque feriram ideologias-discursos que perpassam o corpo da nao (ter-ritrio, histria nacional e povo), em outras palavras, objetivaram desconstruir os mitos da democracia racial e do paraso racial brasileiro (ORTIZ, 2003; GUI-MARES, 1999; MUNANGA, 2004). A pergunta o que faz do Brasil, Brasil? foi agregada a pergunta somos ou no somos racistas?.

    Essa intricada trama in uenciou nos processos de produo de conhecimento nas universidades brasileiras, pois, as questes gestadas nesse debate foram toma-das como pauta de pesquisa nas cincias humanas em geral e, at mesmo nas ci-ncias biolgicas , seja para refutar ou para atestar a existncia de um problema de natureza tnico-racial no pas. Isso pode ser tambm visualizado na Geogra a acadmica brasileira.

    Podemos encontrar abordagens mesmo que com um contedo colonialista e racista acerca da questo tnico-racial no discurso geogr co brasileiro produ-zido, principalmente, mas no apenas, entre o m do sculo XIX e incio do XX (MORAES, 1991a, 1991b, OSRIO, 2009). Contudo, ao tempo em que a Geo-gra a se institucionaliza nas universidades brasileiras na dcada de 1930, notamos

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    que o tema se torna rarefeito como objeto de anlise. Algo que carece de investi-gaes mais aprofundadas. Ainda assim, debates em torno dessa temtica presen-te na Antropogeografia de Ratzel (1882), nos escritos de lise Reclus sobre Es-cravido nos Estados Unidos (1860) e mesmo em La Blache (1954 [1922]) no so apropriados pela intelligentsia geogr ca, a no ser em obras pouco trabalha-das e sem repercusso3.

    Essas discusses, contudo, esto sendo retomadas, nos ltimos anos, muito in- uenciadas pelos debates j apresentados nos pargrafos anteriores. H um esforo de um grupo de autores que esto buscando abordar a temtica a partir de uma pers-pectiva geogr ca (SANTOS, 2007, 2010; RATTS, 2003, 2010; CAMPOS, 2005; CARRIL, 2006; ANJOS, 2001, 2005; ALMEIDA, 2010). No que tange produo das ps-graduaes em Geogra a, notamos que a produo de teses e dissertaes aumenta exponencialmente de 2002 a 2011, acompanhando o perodo da intensi- cao dos debates polticos sobre a questo tnico-racial, como apontado acima. Mesmo assim, somos ainda carentes de uma real sistematizao do que vem sendo produzido sobre esse assunto na Geogra a brasileira.

    Assim, pretendemos apresentar, panoramicamente, como a Geogra a brasilei-ra se situa nesse debate. Para tal, realizamos um levantamento das teses e disserta-es concludas nos programas de ps-graduao no pas, buscando quanti car e sistematizar o que vem sendo produzido no tocante as relaes tnico-raciais - com foco na populao negra - na Geogra a. Cremos, dessa forma, que as teses e dis-sertaes expressam o estado da arte da produo do discurso geogr co no Bra-sil, bem como, evidencie a dimenso e intensidade de alguns debates realizados na Geogra a brasileira institucionalizada ou universitria. Em outros termos, tradu-zidos pelas teses e dissertaes, entendemos que os programas de ps-graduaes so um termmetro que indica a aceitao de um tema e como ele abordado teo-ricamente pela intelligentsia geogr ca. De antemo, ressaltamos que os objetivos que intentamos cumprir aqui so: quanti car as teses e dissertaes que abordem a questo tnico-racial nos programas de ps-graduao em Geogra a do Brasil; mapear e espacializar essas abordagens; sistematizar as tendncias tericas utiliza-das para tratar a temtica; e, tentar, ainda que de forma super cial, pontuar as prin-cipais referncias utilizadas pelos autores/as e veri car as principais lacunas pre-sentes nas abordagens.

    3 Trabalhamos com a hiptese de que as obras que correlacionavam a questo tnico-racial e a Geogra a enquanto campo acadmico no Brasil podem ter sido invisibilizadas e excludas dos debates. Isso as levou a no alcanar visibilidade dentro do cenrio nacional. Esta hiptese, contudo, tambm necessita de investigaes mais aprofundadas.

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    Deixamos claro desde j que nosso propsito no realizar uma abordagem sobre a epistemologia da Geogra a e sua relao com a questo racial, mas apre-sentar um panorama que crie condies para integrarmos abordagens de trabalhos que tratem esse tema na Geogra a. Esperamos, desta forma, que esse levantamen-to contribua para o entendimento da construo e consolidao de linhas de pes-quisa na Geogra a e permita projetar caminhos a serem trilhados para uma amplia-o do foco analtico de nosso campo cient co.

    O artigo, desta forma, est organizado na seguinte estrutura: a primeira parte apresenta a metodologia adotada, bem como, os problemas encontrados no proces-so de levantamento dos trabalhos; a segunda se concentra em abordar a espacializa-o da temtica e a cronologia com que ela vem sendo produzida; na terceira ser apresentada uma classi cao, agrupamento e anlise das teses e dissertaes con-forme as anlises centrais encontradas; e, por m, teceremos um breve coment-rio acerca das lacunas e sugestes em torno da questo tnico-racial na Geogra a.

    Notas sobre os procedimentos metodolgicos e seus percalosA realizao dessa pesquisa tem como sustentao o levantamento de dissertaes e

    teses produzidas nos programas de ps-graduao em Geogra a. Para isso, tomamos co-mo referncia a metodologia de pesquisa bibliogr ca proposta por Ruiz (1978). Assim, no primeiro momento, empreendemos uma observao nas listas de trabalhos conclu-dos e disponibilizados pelos programas nos stios das ps-graduaes existentes na in-ternet, entre os meses de maro e junho de 20124. O critrio utilizado para a seleo dos trabalhos foi a presena de contedos que remetiam e/ou abordavam (direta ou indireta-mente) aspectos relativos populao negra nos resumos, palavras chaves, ttulos e ndi-ces dos trabalhos. Alm disso, esquadrinhamos as principais referncias, abordagens e ca-tegorias utilizadas pelos autores/as das teses e dissertaes.

    Tendo em vista que no foi realizada pesquisa em loco, somente por meio da inter-net, encontramos alguns problemas que interferiram em nossa amostragem, os quais se-guem destacados abaixo:

    i) O stio de alguns programas pesquisados encontravam-se o -line ou no existiam (tambm no descartamos a hiptese de no termos encontrado o stio no momento em que realiz-vamos a pesquisa)5. Esse o caso do programa de Ps-Graduao em Geogra a da Univer-

    4 A Capes exige que todos os programas de ps-graduao no Brasil tenham um stio, onde devem disponibilizar informaes sobre o programa e divulgar a produo realizada pelos discentes e docentes vinculados ao programa.

    5 Todos os stios visitados constavam na lista de avaliao de 2012 realizada pela CAPES dos cursos de ps-graduao em Geo-gra a.

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    sidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Quanto ao stio da Universidade Federal de Rondnia (UNIR), a pgina encontrava-se em construo no perodo da visita.

    ii) Uma parte considervel do banco de dados dos stios no estava atualizado no perodo em que realizamos a pesquisa, faltando a disponibilizao de dissertaes e teses dos anos mais recentes, 2010 e 2011.

    iii) Algumas teses e dissertaes produzidas anteriores ao ano de 2000 no esto disponibiliza-das nos stios. Este no um problema propriamente dos Programas, mas tem a ver com o perodo em que o uso de ferramentas ligadas a internet se popularizam no Brasil e tornam--se um meio efetivo de divulgao e circulao do conhecimento cient co. Assim, o total de sete obras, dentre dissertaes e teses, produzidas em universidades que possuem pro-gramas de ps-graduao antigos no puderam ser analisados efetivamente, a no ser pe-las referncias contidas no ttulo das obras. Universidade de So Paulo (USP) e a Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) exempli cam esse problema.

    iv) Dois programas, o da Universidade Federal Fluminense (UFF) e o da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ), no apresentam uma sesso na pgina onde estejam dispon-veis as teses e dissertaes produzidas pelos discentes. Isso no permite que visualizemos, no conjunto geral, o que o Programa produziu e est produzindo sobre a questo tnico-ra-cial, pois, somente se pode acessar suas produes por meio do portal Capes, onde se en-contram disponveis dissertaes e teses de todos os programas de ps-graduao do Brasil.

    v) Infelizmente, no podemos operar com a comparao entre o quantitativo geral de traba-lhos produzidos na Geogra a e os que fazem referncia questo tnico-racial. A produ-o total no est disponibilizada em nenhum documento cient co ou institucional de r-gos que acompanham e regulam as Ps-Graduaes. Realizar tal empreitada seria um tra-balho que demandaria muitos recursos, tempo e investimento, o que no nos permite o atu-al momento da investigao.

    Acreditamos que apesar da internet ter se popularizado nas universidades, ainda de forma geral uma ferramenta utilizada parcialmente pelos programas de Ps-Graduao em Geogra a como instrumento efetivo de difuso, trocas e circulao de conhecimento produzido. Alm disso, constatamos a falta de integrao entre os programas de ps-gra-duao em Geogra a no Brasil, especialmente no que toca circulao de suas produes. Um banco de dados nacional voltado especi camente para a Geogra a, no s descon-centraria a circulao e difuso de produes de programas localizados na regio Sudeste que so os mais antigos e, em partes, mais bem estruturados, como facilitaria um levan-tamento ou pesquisa bibliogr ca comparativa da ordem da qual estamos apresentando aqui. Consideramos essa descentralizao urgente, em vista das di culdades encontradas nesse levantamento, o que certamente se repete em pesquisas semelhantes.

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    Apesar disso, devemos ressaltar que frente aos nmeros encontrados por ns, os pro-blemas metodolgicos acima citados no interferiram profundamente nos dados nais do levantamento. Da mesma forma, ainda que existam tais problemas, deixar de realizar es-ta investigao baseada na metodologia aqui explicitada, abrir mo de uma ferramen-ta importante para pensarmos a produo em Geogra a no Brasil. Pois, apesar das falhas, a internet facilita a realizao e desenvolvimento de pesquisas, haja vista que possibilita acessar diferentes trabalhos sem deslocamentos.

    A segunda fase do trabalho investigativo refere-se espacializao dessa produo, o que nos diz, um pouco, onde e com que frequncia a temtica tnico-racial est sen-do debatida/produzida, mostrando tendncias expressas nos programas de ps-gradua-o e, propriamente, na Geogra a produzida nas vrias localidades e regies brasileiras.

    No que diz respeito terceira fase, devemos ressaltar que, o principal objetivo dessa pesquisa bibliogr ca, alm de tentar compreender o atual contexto de produo cient- ca acerca da questo tnico-racial na Geogra a, apontar novos aportes tericos e evi-denciar lacunas. Tambm, no nossa inteno impor uma viso sobre a temtica como a mais coerente, mas sim, visualizar a geogra a e seus conceitos dentro dos trabalhos en-contrados, possibilitando tencionar questes, vislumbrar desa os e apontar caminhos. Para isso buscamos: reunir ideias comuns, conectar assuntos complementares entre si e comparar perspectivas divergentes ou opostas. Assim, a partir do levantamento e tentan-do cumprir tais objetivos, dividimos em quatro eixos temticos as teses e dissertaes en-contradas e as analisamos: i) espao e relaes tnico-raciais, ii) identidades e territoria-lidades negras, iii) geopoltica dos pases africanos iv) e territrio e lugar nas manifesta-es culturais negras (tpico 3).

    2. Espacializao e quanti cao de tendnciasComo mencionado, realizamos uma espacializao e quanti cao da produo dos

    trabalhos sobre a temtica racial na Geogra a. Buscamos, desta forma, identi car o locus de tais produes e a frequncia temporal com que ela vem sendo realizada.

    De acordo com o levantamento, temos cinquenta e quatro (54) trabalhos, dentre teses (13) e dissertaes (41). Destes, dezesseis (16) dizem respeito tendncia espa-o e relaes tnico-raciais; dezoito (18) identidades e territorialidades negras; dez (10) geopoltica dos pases africanos e dez (10) territrio e lugar das manifesta-es culturais negras.

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    Gr co I Produes sobre a questo racial por temtica

    Com base nos dados recolhidos, (ver mapa I), h um predomnio da produo na re-gio sudeste, correspondendo a quase 60% dos trabalhos realizados. Este alto nmero se deve principalmente a dois fatores: a regio possui o maior nmero de ps-graduaes (um total de quinze), sendo que estas so as mais antigas do pas principalmente os progra-mas localizados no Rio de Janeiro (UFRJ) e em So Paulo (USP)6, que juntos apresentam dezesseis (16) trabalhos produzidos. Adjacente a esta constatao, levantamos a hiptese de que por serem centrais e consideradas de maior proeminncia, elas atraem estudantes de vrias partes do Brasil, abarcando uma multiplicidade de assuntos que acabam por au-mentar as possibilidades de projetos que abordem a temtica racial. Porm, devemos aler-tar que na Geogra a este fato no representa uma total aceitao no que diz respeito a es-sa temtica, pois se pararmos para analisar, veri caremos que ela ainda ocupa pouco es-pao na produo tanto dessas instituies quanto em escala nacional.

    As regies Nordeste e Centro-Oeste juntas possuem quinze (15) programas de ps--graduao, que surgiram no nal da dcada de 1990 e meados dos anos 2000. Ambas apre-sentam uma quantidade signi cativa de trabalhos quando tomados como referncia ou-tras regies brasileiras; ao todo estas duas somam vinte (20) trabalhos. Destacamos aqui a UFG como a universidade de onde provm a maior parte dos trabalhos da regio Cen-tro-Oeste, oito (08) ao todo. H um grupo nessa instituio que se dedicou durante os l-6 A ps-graduao da Universidade de So Paulo (USP) existe desde 1944 e a ps-graduao da UFRJ existe desde 1975. As duas

    so as mais antigas instituies com Ps-Graduao, bem como, so as universidades que possuem o maior conceito, de acordo com a avaliao da Capes.

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    timos dez anos a pesquisar as relaes tnico-raciais com um vis geogr co, projeto que foi ampliado com a formao em 2008 do Laboratrio de Estudos Gnero, tnico-raciais e Espacialidades - LaGENTE.

    Veri camos na regio Norte a inexistncia de produo voltada para essa temtica, enquanto na Sul existem apenas dois trabalhos. A ausncia de qualquer produo na pri-meira decorre principalmente do fato de que s recentemente se constituram progra-mas de ps-graduao em Geogra a. J na regio Sul, apenas dois (02) trabalhos foram encontrados, fato que deve ser problematizado um pouco mais a fundo, pois h nessa regio um considervel nmero de ps-graduaes existentes desde a dcada de 1990. Apesar de existirem Programas que tenham surgido recentemente, ela representa o se-gundo maior polo de ps-graduaes em Geogra a do Brasil. Destacamos que no es-tamos querendo atribuir juzo de valor ao falar que em determinada regio as universi-dades pouco debatem este tema, este fato patente em todas as regies do Brasil, mas, o pequeno nmero de produes indica sim a pouca ateno (ou aceitao) dada a ques-to racial nessa regio. importante frisar que a invisibilizao da populao negra no Sul7, principalmente nos processos de produo de conhecimento cient co que di-fundem ideologias geogr cas sobre esse espao legitimam e perpetuam prticas de racismo, violncia e expropriao. Pois, a teoria no se restringe ao abstrato (SOUZA--SANTOS, 2003), afetando o cotidiano e existncia de indivduos e comunidades intei-ras (como as quilombolas). Souza Santos (idem), por exemplo, fala em produo da no existncia para problematizar os grupos ou sujeitos que so invisibilizados dentro de determinado espao (epistmico, fsico ou simblico). Entendemos que, especialmen-te na regio Sul, mas no se limitando a ela, essa ausncia de produo sobre a questo tnico-racial conforma uma situao de produo de no existncia, que re ete, por exemplo, no ensino dessa disciplina, j que quando falamos do Sul, di cilmente desta-camos a existncia da populao negra nesse espao8.

    7 Segundo dados do censo do IBGE de 2010, 23% da populao da regio sul composta por negros.8 O tema dos quilombos urbanos poderia ser facilmente abordado quando falamos da regio Sul. A comunidade quilombola da

    famlia Silva, por exemplo, foi a primeira comunidade a ganhar o ttulo, estando em uma rea urbana valorizada, localizada no centro de Porto Alegre. Ademais, essa regio concentra um alto nmero de comunidades negras que buscam ser reconhecidas como Quilombos. O Incra aponta 126 comunidades com processos abertos.

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    MAPA I Produes Acadmicas sobre Questo Raciais em Ps-Graduaes de Geogra a no Brasil

    Quanto cronologia da produo nacional, podemos perceber (de acordo com o gr co II) que antes de 2000 poucos trabalhos se propunham a debater a questo tnico--racial. Porm, na virada do sculo, no s h o aumento no nmero de ps-graduaes no Brasil, como tambm h uma maior disposio de trabalhos acerca dessa temtica, o que resultou consequentemente em um aumento signi cativo de dissertaes e teses. So-mente entre os anos de 2006 e 2011, trinta e cinco (35) trabalhos foram produzidos nes-sas ps-graduaes brasileiras.

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    Gr co II Quantidade total de trabalhos produzidos

    Acreditamos que esse aumento parte da maior visibilidade da problemtica tnico--racial na sociedade brasileira perante as realidades espaciais que a atravessam. Nesse au-mento, destacamos a grande quantidade de trabalhos voltados a discutir territorialidades negras, em que, a maioria diz respeito aos processos de territorializao das comunida-des remanescentes de quilombo.

    Outro fator que deve ser destacado a contnua e crescente produo de teses, que, apesar de ainda gurar com um nmero restrito quando comparada produo de dis-sertaes, tem se tornado frequente desde o ano de 2002.Gr co III Nmero de teses e dissertaes produzidas por ano

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    Porm, no devemos imaginar que a Geogra a apenas passou a trabalhar a questo racial nos ltimos anos. O tema da raa e sua relao com o territrio brasileiro foi am-plamente explorado sob um vis geogr co por no gegrafos no incio do sculo XX, ten-do impactado nas polticas de imigrao formuladas pelo Estado em busca do branquea-mento da populao9. Na prpria Geogra a temos produes sobre a temtica racial, con-tudo, estas parecem ter sido invisibilizadas ou desconsideradas no interior dessa cincia. Um exemplo a produo de Milton Santos sobre esse assunto. Sua contribuio ao pensa-mento geogr co e suas teorias sobre o espao so bastante recordadas, mas pouco se dis-cute a problematizao sobre a questo tnico-racial que este fez ao longo de sua trajetria intelectual cujos trabalhos da dcada de 50 j tratavam desse tema (CIRQUEIRA, 2010).

    Tendncias e abordagens Geogr cas sobre a questo tnico-racialDe forma geral, como j assinalado, de nimos quatro tendncias que compem as

    discusses geogr cas acerca da questo tnico-racial, a partir das quais tambm estru-turamos as anlises que se seguem. So elas: Espao e relaes tnico-raciais; identidades e territorialidades negras; geopoltica dos pases africanos; e, territrio e lugar nas mani-festaes culturais negras. Na escolha e de nio de nossos critrios de agrupamento h perdas como em toda generalizao, contudo, em nossa concepo, mesmo que tenha-mos o prejuzo de perdermos de vista as particularidades dos trabalhos, esses conjuntos nos possibilitam enxergar eixos e agendas mais amplos que envolvem o campo (ou os cam-pos) da disciplina Geogra a. Alm disso, uma maneira didtica de organizarmos e apre-sentarmos o conjunto das teses e dissertaes, ainda que, aqui, no seja possvel aprofun-darmos tais anlises.

    Espao e relaes tnico-raciaisNessa tendncia, ao todo, temos 16 trabalhos. A maioria dos trabalhos foi produzi-

    do em universidades da regio Sudeste do pas, especi camente na USP (uma tese e uma dissertao), na UNESP (duas dissertaes), na UFRJ (duas dissertaes e uma tese) e na UFF (duas teses). Contudo, h uma considervel produo no Centro-Oeste, especi ca-mente nos programas de ps-graduao em Geogra a da UFG (trs dissertaes) e da UnB (uma dissertao). Na regio Nordeste h produo na UFBA (duas dissertaes) e

    9 Um desses trabalhos foi o de Joo Batista Lacerda, Sur le mtis au Brsil, traduzido para o portugus como Sobre os mestios no Brasil (1911). Na condio de diretor do Museu Nacional ele representou o Brasil no Congresso Universal das Raas em Londres apresentando esse documento em que estipulava que dentro de 100 anos que segundo ele corresponderia a trs geraes a populao brasileira seria totalmente branca. Outro famoso exemplo do escritor brasileiro Monteiro Lobato, que recentemente teve cartas de 1938 reveladas. Estas cartas tinham mensagens e contedos explicitamente racistas que repudiavam a mestiagem e lamentavam a no existncia de uma Kun Klux Klan no Brasil. Trechos dessas cartas podem ser encontrados no stio .

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    na UFC (uma dissertao). Quanto temporalidade dessa produo, dois trabalhos foram elaborados na dcada de 80 e o restante nos anos 2000.

    Direta ou indiretamente essas pesquisas so in uenciadas pelo contexto de discusses da dcada de 1980, perodo em que surge uma srie de investigaes que desagregaram desigualdade socioeconmica e desigualdade racial, demonstrando que havia disparida-des entre ambos (cf. HASENBALG, 2005 [1979]; HASENBALG & VALLE SILVA, 1988). Diante disso, a maioria dos trabalhos estabelece uma abordagem sociolgica da espacia-lidade que compe as relaes tnico-raciais brasileiras e/ou como as categorias geogr -cas podem ser utilizadas para o entendimento desse assunto. Os temas mais tratados so a segregao racial e a maneira como as desigualdades tnico-raciais presentes no pas se arranjam espacialmente (MALACHIAS, 2006; CARRIL, 2003; OLIVEIRA, 2011; OLIVEI-RA, 2005). O foco ou o terreno analtico em praticamente todos esses trabalhos se cen-tra no meio urbano, da a compreenso da predominncia de trabalhos que tratam da se-gregao de base racial (CAMPOS, 1998, 2006; ONEILL, 1983; POMPILIO, 1982; DIAS, 2002; FREITAS, 2010). Contudo, partindo tambm do pressuposto de que a desigualdade racial se inscreve no espao de forma complexa e com incessante transformao, h tra-balhos que intentam compreender os deslocamentos e trajetrias coletivos e individu-ais de pessoas negras; em alguns casos essa dimenso relacionada com a questo de gnero e do trabalho (SOUZA, 2007; LOPES, 2008; CIRQUEIRA, 2010). Deve ser men-cionada tambm a existncia de trabalhos que abordam a atuao e a espacialidade de or-ganizaes do movimento negro, ao evidenciar como este movimento estabelece estrat-gias de atuao que tem como objeto de ao o espao, ou que ao menos estabelece rever-beraes polticas neste (SANTOS, 2006; GARCIA, 2001).

    Os/as autores/as, as categorias e os conceitos utilizados nas teses e dissertaes anali-sadas compem um quadro bastante amplo e variado de referenciais tanto da cincia ge-ogr ca, quanto de outras reas do conhecimento, o que no nos permite traar um per l exato desse conjunto, mas sim fazer alguns apontamentos de regularidades comuns. Por exemplo, espacidalidade e territrio (e territorialidade) so categorias bastante utilizadas nos trabalhos. Dois autores frequentemente citados e utilizados para discutir e conceitu--las so Rogrio Haesbaert (2004) e Milton Santos (2004). Igualmente, so utilizadas as noes de raa e etnia para tratar das relaes tnico-raciais, e mesmo que em muitos dos trabalhos no haja um aprofundamento conceitual em torno de tais categorias, um autor recorrente para discutir tais noes o antroplogo Kabengele Munanga (2010). Frente a isso, uma grave falta que se nota o no aprofundamento sobre as teorias da etnicidade

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    e da prpria construo social da raa (POUTIGNAT & STREIFF-FENART, 1998; GUI-MARES, 1999; MUNANGA, 2004, 2010; QUIJANO, 2005), algo que esteve ausente em todos os trabalhos e que poderia ter ampli cado algumas anlises.

    De forma geral, algo que podemos notar que a teoria geogr ca e as abordagens so-bre as relaes raciais, na maneira como so tratadas nos trabalhos, no so devidamente imbricadas. Duas tendncias podem ser encontradas na forma como tal tema abordado pelos gegrafos: ou o foco analtico se concentra nas relaes tnico-raciais, fundamenta-do em referncias da Antropologia e Sociologia, e se conforma uma espaciologia das re-laes tnico-raciais; ou, o foco se concentra na teoria geogr ca, e as relaes tnico-ra-ciais so um apndice para a aplicao de categorias e conceitos da disciplina. Em outras palavras, poucas vezes nos trabalhos se encontram de fato conceitos e teorias da Geogra- a e das relaes tnico-raciais.

    Outro apontamento que pode ser feito que, apesar da existncia de poucos traba-lhos na Geogra a que tratam desse tema, eles possuem uma extenso temporal que vai at a dcada de 1980 sem contar a literatura geogr ca estrangeira, principalmente an-glo-saxnica, que envolve esse tema (JACKSON, 1987), ainda assim, sempre que se busca teorizar as relaes tnico-raciais nas teses e dissertaes se recorre em todos os casos s referncias presentes em outras reas do conhecimento. Os autores e autoras da Ge-ogra a, com raras excees, no se citam, o que no permite a conformao de dilogos e controvrsias que poderiam desenvolver um campo de anlise e discusses sobre essa te-mtica no interior da Geogra a. Esse fato, cremos, tambm corrobora para que ocorra o que mencionamos acima, isto , para que as teorias geogr cas no se encontrem de fato com as teorias das relaes raciais, j que as referncias so buscadas fora da instituciona-lidade terica da disciplina.

    Identidades e territorialidades negrasNeste eixo foi possvel encontrar dezoito (18) trabalhos, dos quais mais da metade

    se concentra na regio Sudeste, totalizando dez trabalhos: cinco na USP (duas teses e trs dissertaes), um na UNESP-PP (dissertao), um na UFF (tese) e dois na UFMG (uma tese e uma dissertao). A outra metade est divida entre Centro-Oeste, com dois traba-lhos na UnB (ambas dissertaes) e um na UFG (dissertao) e cinco na regio Nordes-te (todas dissertaes) com uma na UFPB e duas na UFBA e na UFPE. A produo que envolve essa temtica segue o padro geral, com apenas quatro trabalhos defendidos at 2005. Posterior a esse perodo 14 trabalhos se voltaram para a temtica.

    Os trabalhos classi cados neste eixo tratam principalmente da formao, organiza-

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    o e con itos que perpassam a constituio de territrios negros ao longo dos sculos. Observamos neste aspecto uma abordagem que integra as comunidades remanescentes de quilombo e os territrios construdos com base nas identidades negras; o que envolve tanto a luta pela terra inclusive institucional, com a luta para se obter a titulao das ter-ras, quanto s resistncias que estes grupos conformam.

    Desses 18 trabalhos, apenas um no aborda diretamente a questo quilombola, mas, ain-da assim, esse assunto aparece como tema em todos os trabalhos, seja os centrados nos pro-cessos de territorializao e resistncia ou nas formas de produo e modos de vida (LIMA, 2010, ARAUJO, 2011) e a migrao dos seus habitantes (JESUS, 2007). Essa quantidade sig-ni cativa de trabalhos nas ps-graduaes quando comparada aos outros eixos tem re-lao direta com a ecloso de con itos engendrados ao processo de reconhecimento dessas comunidades. O aumento dessa produo com exceo da dissertao de Ratts (1994) de-fendida no programa de ps-graduao da USP s acontece 17 anos aps a promulgao do artigo 68 do ato das disposies transitrias de 1988, que reconhece o direito proprieda-de para as comunidades remanescentes de quilombos que estejam ocupando as suas terras.

    Praticamente todos os trabalhos partiram de uma perspectiva metodolgica emp-rica; com o levantamento histrico da rea e entrevista com moradores (fundamentados em metodologias da histria oral), principalmente moradores mais antigos, como ex-plicitado. Junto a isso, so utilizados documentos, laudos territoriais e levantamentos so-bre as condies da rea de estudo. Em alguns trabalhos os pesquisadores vo ainda mais longe e fazem uma leitura sobre as origens histrico-geogr cas dos moradores. O tema da preservao ambiental tambm est presente em relao coexistncia desses grupos com reas preservadas, incluindo uma parte da Mata Atlntica (SILVA, 2004, 2008). So retratadas ainda as di culdades em se manter no territrio, no s devido a disputas com latifundirios, empresrios ligados ao agronegcio (FERREIRO, 2002, 2009) ou outros agentes, mas tambm, pela di culdade nanceira que os quilombolas atravessam, j que, algumas dessas reas foram incorporadas ao urbano, devido ao avano das cidades sobre antigas reas agrcolas. Dentro dessa diversidade de problemticas referentes s comuni-dades quilombolas tem-se ainda o debate em torno dos saberes produzidos nas comuni-dades, inclusive com ns medicinais (GOMES, 2009).

    Entre as referncias comuns mais utilizadas de autores da geogra a, encontramos Rogrio Haesbaert (1999, 2002, 2004), Marcelo Lopes de Souza (2001), Claude Ra estin (1993) e Milton Santos (2004). Estes autores so empregados para conceituar o territrio, estando esta categoria presente em praticamente todos os trabalhos, cujos quilombos so apreendidos como territrios construdos cultural e politicamente principalmente no

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    que dizem respeito aos seus direitos de propriedade. Porm, alguns desses trabalhos s abordam o conceito de territrio em um momento muito espec co da anlise, o que ge-ra uma perda do potencial analtico em torno do conceito.

    Muitos usam Milton Santos (2004) tambm para elucidar questes sobre o espao geogr co. Antnio Robert Moraes (2000, 2002) e Bertha Becker (1990) tambm apare-cem na discusso sobre a formao do Estado e a geopoltica brasileira, e o gegrafo in-gls David Harvey (1992) aparece quando h alguma abordagem sobre as cidades. Nas ex-plicaes sobre as comunidades remanescentes de quilombo, o gegrafo Rafael dos Anjos Sanzio (2001, 2005a, 2005b) tambm citado de forma constante, principalmente as suas produes cartogr cas. Entre os autores de outras reas do conhecimento, tm-se prin-cipalmente sobre a temtica quilombola, autores como Alfredo Wagner (2006), Ilka Bo-aventura (2004), e Flvio Gomes (2004). J Lilian Schwarcz (1993) aparece quando o as-sunto so as relaes raciais no Brasil.

    possvel enxergar uma constante tentativa em correlacionar as teorias geogr cas com as perspectivas que tratam das relaes raciais no Brasil, e em que essas relaes im-plicam no reconhecimento das comunidades quilombolas. Porm, em alguns casos, es-tas abordagens aparecem dissociadas umas das outras. Nesses casos h uma anlise muito mais antropolgica, que no se atenta para as dimenses espaciais que envolvem ou im-plicam relaes de poder e desigualdade. Assim, deixado de fora uma observao mais apurada sobre os micro-processos territoriais da comunidade e o modelo de ordenamen-to territorial excludente, implementado em escala nacional (e transnacional) nos ltimos anos, discutidos na geogra a (PORTO-GONAVES, 2001). Mas destaquemos que temas como segregao, migrao, desterritorializao, produo agrcola e con itos territoriais esto presentes, ainda que eles no ocupem uma parte signi cativa dos trabalhos.

    Ademais preciso evidenciar que 18 trabalhos produzidos neste tema um nmero ao mesmo tempo importante, pois mostra que os gegrafos tm comeado a tratar o tema, mas ainda assim de maneira irrisria, frente a quantidades de comunidades que vm lutan-do pelo seu direito, utilizando suas referncias territoriais como um dos principais meca-nismos de defesa frente s presses de mltiplos agentes. Para termos uma ideia, apesar do INCRA listar um nmero pouco superior a mil comunidades remanescentes de quilombo exigindo direito a terra e a Fundao Cultural Palmares apontar mil e oitocentas comuni-dades certi cadas, outras leituras chegam a indicar a presena de mais de trs mil comuni-dades com possibilidade de lutar pela titulao do territrio, como ilustra o mapa abaixo:

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    Mapa II - Comunidades e territrios quilombolas Auto-Identi cados no Brasil.

    Fontes - FCP, UNB, SEPRIR, INCRA, UFAP, Programa Razes, CEDENPA, NAEA (levantamento realizado por TRECCANI 2006)

    Geopoltica dos pases africanosAo todo, relativo a essa temtica, foram encontrados 10 trabalhos produzidos na sua

    maior parte no eixo Rio-So Paulo; na UFRJ (trs dissertaes e uma tese) e USP (duas dis-sertaes e duas teses). Os outros dois trabalhos, ambos dissertaes, foram defendidos na UFSC e UEPG. Uma anlise temporal mostra que metade desses trabalhos foi gerado en-tre os anos de 2009 e 2012, a outra parte da dcada de 90 e o mais antigo de 1977 na USP.

    Os debates encontrados versam sobre aspectos econmicos, polticos e culturais de pases da frica. H, no entanto, uma maior concentrao nas questes sobre geopolti-ca dos pases localizados no continente, no que tange tanto s relaes intra-continentais como tambm nas relaes econmicas e diplomticas dos pases africanos com o Brasil

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    (WILKEN, 2009, PENHA, 1998, SCHUTZER, 2009, SALACHE, 2009 SOR, 1977). H ainda abordagens que contemplam o modo de vida de comunidades africanas e os con i-tos e disputas existentes em algumas localidades do continente (FERNANDES, s/d), prin-cipalmente em torno da urbanizao e segregao presente em alguns pases como Zimb-bue e Moambique (SILVA, 2011, BAIA, 2009, BARBOSA, 1994). A experincia e conse-quncia do perodo colonial e do momento posterior a Guerra Fria, tambm marca gran-de parte dos trabalhos.

    Alguns autores apontam uma ligao entre Brasil e o continente africano, a partir da grande imigrao de africanos escravizados para o Brasil entre os sculos XVI e XIX, po-rm, no dado um foco a essa questo, estando presente mais como uma rpida obser-vao na maioria dos trabalhos. Ainda que isso no seja um problema, j que no foco dos autores, esse seria um ponto importante a se recuperar e tratar na Geogra a, j que esta relao marca toda a trajetria poltica, social e econmica do processo de formao e consolidao do territrio brasileiro.

    H uma forte presena de autores da Geogra a e, dentre os mais citados, esto Ber-tha Becker (1993), Manuel Corra de Andrade (1989), Milton Santos (2000) e Willian Ve-sentini (1987) sempre nas abordagens sobre o contexto geopoltico entre os pases. Po-rm, nota-se uma ausncia de pesquisadores oriundos de pases africanos na bibliogra a, recorrendo-se sempre, mesmo nos trabalhos sobre o contexto de pases espec cos, a au-tores europeus ou brasileiros. Ainda assim, preciso destacar que ao abordar a geopol-tica dos pases africanos, esses trabalhos trazem uma contribuio essencial, alm de su-prir uma das principais lacunas da Geogra a brasileira, que por vezes desconsidera a di-nmica econmica e poltica desses pases.

    A principal ausncia sentida nos temas sobre frica os que abordam as represen-taes sobre o continente construdas e reproduzidas no Brasil. Isso grave e tem um re-batimento no mbito do ensino de Geogra a tanto bsico como superior --, que aca-ba perpetuando leituras em que a frica aparece unicamente representada como um es-pao de misria, pobreza e con itos. Ademais, os africanos quase sempre so representa-dos por imagens de fome, clandestinidade e doenas principalmente referentes ao vrus HIV. Essas imagens, repetidamente construdas, transmitem ideologias geogr cas nega-tivas sobre o continente. Um passo para desconstruir essas geogra as imaginativas re-alizado por Hernandez (2005) no livro A frica na sala de aula, porm, no campo da Ge-ogra a, como podemos ver, pouco esforo se tem feito e a produo realizada at o mo-mento parece no contemplar o campo das representaes.

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    Territrio e lugar nas manifestaes culturais negrasDez trabalhos perfazem essa tendncia. De acordo com o levantamento realizado, os

    mesmos foram produzidos nos ltimos dez anos, sendo o primeiro elaborado no ano de 2003 e o ltimo no ano de 2011. Destes, trs (03) dissertaes e uma (01) tese foram pro-duzidos no programa da UFG e uma (01) dissertao na UFBA. O restante dos trabalhos foi elaborado em universidades da Regio Sudeste: na UFRJ (uma tese), na UFF (uma te-se e uma dissertao), na USP (uma dissertao) e na UFMG (uma dissertao).

    Os trabalhos que compem o tpico territrio e lugar nas manifestaes culturais ne-gras realizam abordagens acerca dos aspectos culturais que compem as permanncias e performances culturas relativas populao negra ou com marcante in uncia africana. Todos os trabalhos dessa tendncia abordam temas relacionados religiosidade, sejam elas referentes ao catolicismo popular como as Congadas e as Irmandades dos Homens Pretos (SOUSA, 2011; RODRIGUES, 2008; PAULA, 2010), ou, efetivamente, as religies de matriz africana, como a Umbanda e o Candombl (MELLO, 2004; KINN, 2006; CAR-NEIRO, 2009; TEIXEIRA, 2009; DIAS, 2003). H abordagens que tentam compreender a cultura negra na contempornea, lanando olhar especi camente sobre territorialidades do Hip-hop na metrpole (OLIVEIRA, 2006).

    Territrio e lugar so categorias bastante utilizadas nos trabalhos mencionados. Por meio destas categorias se busca enfatizar os aspectos simblicos ou os geosmbolos que se inscrevem no espao. Do ponto de vista terico, as teses e dissertaes tm um leque amplo de in uncias, das quais observamos com maior incidncia abordagens re-lacionadas Geogra a cultural, Antropologia e aos Estudos Culturais. Autores muito citados para fundamentar as leituras de uma grande parte dos trabalhos tendo em vista que os mesmos focam a religiosidade so Roger Bastide (1985) e Muniz Sodr (1983), dois clssicos das leituras que analisam referncias e resignifacaes de in uncias africa-nas na cultura brasileira. O principal objeto da abordagem desses autores justamente as religies de matriz africana, onde se encontram mais pulsantes uma africanidade, o que de alguma forma justi ca a presena constate dos autores nas discusses realizadas nos tra-balhos analisados. No que tange Geogra a, autores como Claude Ra estin (1993) e Ro-grio Haesbaert (1999, 2004) so empregados na maior parte dos trabalhos para concei-tuar a categoria territrio, enquanto Paul Claval (2001) aparece para fundamentar e jus-ti car uma abordagem cultural no interior da disciplina. Essas referncias, e outras, so utilizadas muitas das vezes em contraposio a leituras marxistas ou da economia po-ltica na Geogra a. Contudo, enfatizando em demasiado uma posio em defesa de uma abordagem cultural, so descartados aspectos importantes dessas correntes tericas que

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    poderiam complexi car algumas leituras que envolvem desigualdades relacionadas s ma-nifestaes culturais.

    Diante disso, uma das crticas que podemos levantar acerca de alguns trabalhos o pouco investimento em anlises que tratam das relaes de poder e desigualdades nas manifestaes culturais, sendo religiosas ou de outras ordens. Muitas das abordagens se reduzem, quase que unicamente, aos aspectos simblicos. Isso problemtico, pois, em si essas manifestaes j trazem, implcita ou explicitamente, discursos e performances que evidenciam uma situao, passada ou presente, de violncia; que envolve um grupo que historicamente subalternizado. Por outro lado, estas mesmas manifestaes esto situadas em condies precrias, tanto econmicas, quanto espaciais, ou seja, na maio-ria dos casos, os grupos que realizam essas prticas so de origem pobre e esto situa-dos em lugares degradados. Por outro lado, ainda que sejam discutidas relaes de po-der do ponto de vista espacial ou territorial, como processos de segregao e desterri-torializao, olvidado em algumas anlises relaes de poder que implicam a raciali-dade. Obviamente em muito dos trabalhos esse no o foco, contudo, muitas das per-formances, ritos e liturgias dessas manifestaes esto calcadas nos horrores e na vio-lncia da escravido, bem como, nas experincias contemporneas desses sujeitos, cuja a corporeidade ainda rememora e impe uma condio de subalterno divido ao racis-mo (GILROY, 2001; HALL, 2006; SODR, 1988; MARTINS, 1997). Assim, ao negar es-sa dimenso perde-se de vista parte do entendimento das prticas, rituais e performan-ces desses grupos e da prpria manifestao, bem como, dos processos que o inferiori-zam e estigmatizam ambos sujeitos e manifestaes culturais.

    CONSIDERAES FINAIS

    O principal objetivo aqui foi sistematizar a produo acerca das relaes tnico-ra-ciais nos programas de ps-graduao em Geogra a, contudo, de alguma maneira, tam-bm caram expressas algumas tendncias e ausncias acerca desse tema. Com base no levantamento, ao compararmos a produo entre o perodo anterior e posterior ao ano 2000, ca ntido mesmo que timidamente - que a temtica racial comea a se mostrar presente nas abordagens geogr cas. Porm, devemos enfatizar que o nmero ainda ir-risrio ante a ampla dimenso em que o debate insurge atualmente na sociedade brasilei-ra, no qual a Geogra a pode contribuir.

    A quantidade de agendas que relaciona a Geogra a com estes estudos multiplica-se.

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    Para nos atermos a apenas alguns trabalhos encontrados no levantamento, podemos fa-lar de: manifestaes culturais materializadas em expresses polticas; o nmero cada vez maior de comunidades remanescentes de quilombos exigindo direito ao territrio; a se-gregao nas cidades, em que o recorte racial explcito; e o estudo da Geogra a dos pa-ses africanos, no que tange os aspectos econmicos, polticos e jurdicos.

    Uma das lacunas mais graves que encontramos a falta de produo sobre a questo tnico-racial e educao. Nos ltimos anos, tem havido um debate intenso em torno da lei 10.639/03, que obriga a implementao no ensino bsico de contedos sobre a hist-ria da frica e dos afrodescentes no Brasil; suas lutas e importncia na formao cultural, econmica e poltica do territrio brasileiro. Este dispositivo jurdico, mais que obrigar a insero de uma gama de contedos no currculo, nos d a possibilidade de formular ou-tras leituras sobre a formao do territrio brasileiro, questionando o papel subalterniza-do do negro na organizao do espao e abrindo uma ampla agenda de estudos fora dos moldes eurocntricos. Contudo, pelo que notamos, as Ps-Graduaes tm passado ao largo desse importante debate. Apesar de a Geogra a ser uma disciplina presente no en-sino bsico, nenhum trabalho encontrado problematizou essa temtica e a lei, ou, ao me-nos, dedicou um mnimo espao para a discusso do ensino de Geogra a.

    Frente a esta lacuna, aliada muitas vezes a falta de um aporte terico que possibilite a problematizao da temtica racial, observamos alguns caminhos pouco trilhados na te-oria geogr ca e que podem render bons estudos.

    Um desses caminhos que podemos seguir ao tratar desses debates aquele que auto-res da teoria do giro decolonial vm traando, ao buscar a superao do eurocentrismo im-pregnado nas Cincias Sociais e totalitarismo epistmico que visa a indicar o que ou no digno de estudo. Nesses tericos o pensamento da diferena de classes no o nico a ser considerado, devendo atentar para a colonialidade presente no padro mundial do poder capitalista moderno.10 Dessa forma, conceitos como sistema-mundo moderno-co-lonial, colonialidade do poder, do ser e do saber, bem como a compreenso da raa co-mo construo social e elemento ordenador do territrio passam a ser fundamentais pa-ra o estudo de uma Geogra a comprometida com os sujeitos. Entender que as classi ca-es sociais impregnam nosso imaginrio e constituem hierarquias que se materializam no espao deve ser outro importante ponto de partida.

    10 A colonialidade um dos elementos constitutivos e espec cos do padro mundial do poder capitalista. Sustenta-se na impo-sio de uma classi cao racial/tnica da populao do mundo como pedra angular do referido padro de poder e opera em cada um dos planos, meios e dimenses, materiais e subjetivos, da existncia social quotidiana e da escala societal. Origina-se e mundializa-se a partir da Amrica. (QUIJANO, 2010, pg. 84)

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    Com essa breve artigo sobre a produo nas ps-graduaes referentes as questo t-nico-racial na Geogra a, esperamos no s demonstrar que a Geogra a ainda pouco tra-balha a temtica, mas, tambm, estimular as produes, especialmente nas lacunas veri -cadas, contribuindo para a queda das barreiras sociais que so impostas ao/ negro/a no cotidiano da sociedade brasileira.

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