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OS VENCEDORES DO PRÊMIO CONRADO WESSEL DE ARTE, CIÊNCIA E CULTURA 2005 ~ ~~~ __ ~~~,.L- ~~

Prêmio FCW 2005

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Prêmio Fundação Conrado Wessel 2005

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OS VENCEDORES

DO PRÊMIO

CONRADO WESSEL

DE ARTE, CIÊNCIA E

CULTURA 2005

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INDICE

4FCW distribui prêmiospara arte, ciênciae cultura e faz filantropia

10Fundação dá a maiorpremiação do país paravencedores, R$ 100 mil

12A grande festa na SalaSão Paulo, com recitalde Arnaldo Cohen

34~ej~ q~a~s são as ~eteínstítuíçoes parceirasda fundação

17JOSéGalizia Tundisi éespecialista na análisede recursos hídricos

2 60 pesquisador,cardiologista e homempúblico Adib jatene

J

60perfil do inventor,empresário e benfeitorConrado Wessel

2 OAS contribuiçõesde Luiz Carlos Fazuolipara a cafeicultura

29FábiO Lucas critica as.ubs,e~viência a m?delosliterários estrangeiros

Capa Mayumi Okuyama . Foto da capa: M iguel Boyayan

14Trabalho de Wanderleyde Souza é referência noestudo sobre parasitas

23A luta de AzizAb'Sáberpara que a ciência nãose descole da realidade

32AS fotos publicitáriasque ganharamo prêmio de Arte

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o IDEAL DE UMPESQUISADOR

Fundação Conrado Wesselrealiza o sonho de seu idealizadorao premiar a arte, a ciênciae a cultura, e ao fazer filantropia

.undação Conrado Wessel(flCW), ao promover, por meiod .uma gestão dinâmica e rea-liza, ora, os maiores prêmios

ací \nais e grandes doações--~a'-uaí , evidencia a dimensão

social .inigualável de UbaldoGQI1radb.AugustoWessel, que acriou pretendendo uma insti-tuição com "objetivos filantró-picos, beneficentes, educati-vos, culturais e científicos".

No segmento das doações,o orçamento vem crescendo:em 2003, R$ 480 mil; em2004,R$ 640 mil; em 200S,R$720 mil; em 2006, R$ 840 mil.Entre as entidades beneficia-das, por ser oportuno, cabe ci-tar o Corpo de Bombeiros daPolícia Militar do Estado deSão Paulo.

Anualmente, sob o patrocí-nio da FCW, são enviados pa-ra o exterior, como neste anopara Hong Kong, na China,mais de 40 integrantes de todasas suas unidades. Lá eles com-partilham com outros paísesdas últimas técnicas e equipa-mentos mais avançados; tra-zem tais conhecimentos eaparelhos para São Paulo; aquios aplicam, desenvolvem e,em vários casos, aperfeiçoam.Daí a maravilhosa destreza de

4 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

nossos bombeiros com o aten-dimento cada vez mais eficaz.

Além dessa permanenteatuação de amplo espectrosocial, a FCW também benefi-cia mais de 2.600 jovens, crian-ças carentes e adultos, com asdoações sistemáticas àsAldeiasInfantis SOS do Brasil, ao Co-légio Benjamin Constant, aoHospital do Câncer da Funda-ção Antônio Prudente, à Pro-moção Social do Exército daSalvação e a outras institui-ções escolhidas anualmentepela diretoria.

Entretanto, o que traduz oideal de Conrado Wessel é oincremento à arte, à ciência eà cultura, que a fundação con-cretiza anualmente com a ou-torga do Prêmio FCW, desde2002. Trata-se do maior prê-mio destinado à arte, à ciênciae à cultura no Brasil.

Nesta quarta edição o prê-mio à Fotografia Publicitária,na categoria Arte, foi distribuí-do a três fotógrafos, no totalde R$ 140 mil líquidos; às res-pectivas agências foi concedi-do um diploma de honra aomérito. Foi realizada ainda, naSala São Paulo, uma exposiçãocom as cem melhores fotosconcorrentes, numa homena-

gem a 64 fotógrafos finalistas .Em Ciência e Cultura, os pre-miados foram pesquisadoresem ciência e tecnologia e umcrítico literário. Cada qual ga-nhou um troféu e R$ 100 millíquidos - o maior valor paraescolhas do gênero no país.

Para Ciência e Cultura, osistema de seleção dos ganha-dores contribui significativa-mente para sua credibilidadeentre a comunidade científica.Os nomes provêm de indica-ções de 140 universidades fe-derais e estaduais, academias,institutos e outras entidadesde produção científica e tradi-ção cultural reconhecida.

Ao confrontar os grandesnomes enaltecidos pela ava-liação de júris formados porrepresentantes do CNPq, Ca-pes, FAPESp'SBPC,ABC, ABL,CTA e FCW, o diagnósticoimediato é de uma contribui-ção inestimável para o país. Es-ta edição destina-se a divulgaras ações da fundação para opúblico interessado - nocaso, prováveis candidatosaos prêmios no futuro -, con-tar a história de Conrado Wes-sel e apresentar os ganhado-res do Prêmio FCW de 2005,conhecidos este ano. •

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Crianças durante atividades em umadas unidades das Aldeias Infantis SOS Brasil,em São Paulo: benefícios a jovens carentes

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o INVENTORWESSEL EM FOCO

Conrado Wessel criou aprimeira fábrica brasileirade papel fotográfico

onrado Wessel era apaixona-do pe a ciência e pela arte. In-ventor ato e empreendedorobstinado, criou a primeira fá-brica brasileira de papel foto-gráfico em 1921, utilizandotecno agia e patente próprias.

entou sérios concorren-tes estrangeiros, mas conquis-tou o mercado e formou umpatrimônio imobiliário que,obedecendo ao desejo expres-so em seu testamento, foi uti-lizado como lastro para criaruma fundação que apoiasseatividades educativas, culturaise científicas de seis entidades

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e incentivasse a arte, a ciênciae a cultura por meio de prê-mios.A fundação foi instituídaem 1994, um ano depois dasua morte, aos 102 anos.

Nasceu em Buenos Aires,em 1891, filho de família tra-dicional de fabricantes dechapéus, em Hamburgo, naAlemanha, que imigrara paraaArgentina, em meados do sé-culo XIX. No ano seguinte aoseu nascimento, o pai, Gui-lherme Wessel, migrou paraSorocaba e, posteriormente,para São Paulo, onde se tor-nou comerciante, além de

professor de Matemática noSeminário Episcopal, no bair-ro da Luz.

Guilherme era um apaixo-nado pela fotografia e previaum grande futuro para o se-tor, inclusive no segmentodos clichês. Conrado Wesselherdou do pai essa paixão.Ainda jovem, ganhou doisprêmios em concursos pro-movidos pela Secretaria daAgricultura. Paralelamente àsaulas, seu pai adquiriu umaloja de material fotográficoonde instalou um ateliê de fo-tografia e clicheria, na rua Di-

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reita n° 20. Conrado o auxiliouna gerência da loja.

Entretanto, por interessedo pai e seu foi estudar quími-ca em 1911, em Viena, na Áus-tria. Lá aprendeu fotoquimi-ca na K.K. Lehr und VersuchsAntstalt, renomada escola defotografia, especializando-seem clichês para jornais e re-vistas. Voltou ao Brasil doisanos depois. Seu projeto eraambicioso: sonhava com a cria-ção de uma fábrica de papelfotográfico nacional.

Na época, os fotógrafos doJardim da Luz, um dos príncí-

pais locais de lazer da cidade,trabalhavam com uma câme-ra-laboratório: uma caixa demadeira com uma objetiva so-bre um tripé.A câmera era di-vidida em duas partes. A infe-rior continha os banhos de re-velado r e fixador utilizadospara o processamento quími-co de filmes e papéis. O papelutilizado era importado de fa-bricantes como a Kodak,Agfae Gevaert.

Continuando suas pesqui-sas para descobrir uma fór-mula inovadora de banho aopapel e gerar um novo papel

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Conrado Wessel com aparelhofotográfico, em foto restaurada:experiências e inovação

fotográfico, querendo mais"desenvolvimento técnico ecomercial", como ele mesmoobservou em uma página au-tobiográfica, tornou-se alunoouvinte da Escola Politécnica.

"Durante quatro anos fizde tudo ali", contou. "Desde apreparação do nitrato de pra-ta até os estudos das diferen-tes qualidades de gelatinas.Da ação dos halogênios comoo bromo, o cloro e o iodo so-bre o nitrato de prata. Fiz inú-meras experiências misturan-do o nitrato de prata ao bro-meto de potássio, ao cloretode sódio e ao iodeto de potás-sio. Cheguei à conclusão deque a mistura de uma peque-na dose de iodo ao bromodava muito melhor resultado,assim como a adição do bro-mo ao cloro."

Depois de muitas expe-riências, Conrado Wessel che-gou a uma fórmula satísfató-ria para o papel, cujas provas,como ele sublinhou, agrada-ram muito ao seu pai.

A patente de sua inven-ção, obteve-a em 1921, assina-da pelo presidente EpitácioPessoa. (Veja cópia do docu-mento na página 8.)

O próximo desafio era ini-ciar a produção. Faltavam-lhemáquinas e papel. As máqui-nas, ele adquiriu "por 8 con-tos e 500" de um estudante defotoquímica que, tal comoele, tentara fundar uma fábri-ca de papel fotográfico. O ne-gócio hão tinha dado certo eo equipamento estava dispo-nível. As máquinas foram ins-taladas num pequeno prédio

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de propriedade do pai, na Bar-ra Funda, em 1921. "Asfórmu-las que eu havia elaborado pa-reciam boas, mas não poderiaassegurar que seriam boastambém na fabricação", eleregistrou, preocupado.

O papel necessário paraos testes foi mais difícil, já queno Brasil não havia nenhumafábrica para fornecer o papelbaritado. O material tinha queser comprado na França, fa-bricado pela Rivers, ou naAle-manha, pela Scholler. Conra-do Wessel saiu à cata de umimportador. "Enquanto a en-comenda não chegava, estu-dei como pendurar o papelemulsionado para secar nopequeno espaço de que dis-punha", disse.

O acaso, ele reconheceu,ajudou-o a encontrar a solu-ção. Conrado Wessel estava naTapeçaria Schultz, para a qualrealizava um serviço de pro-paganda, quando lhe chamoua atenção o sistema de corti-nas que se moviam por cordi-nhas usadas pelos tapeceiros.Fez um croqui do sistema uti-lizado na Schultz e imaginouque, empregando método se-melhante, poderia secar maisde 100 metros de papel.

O papel chegou e a peque-na fábrica iniciou sua produ-ção. "Foi um desastre", resu-miu Conrado Wessel. Não seaproveitaram mais do que 10centímetros dos 10 metros depapel emulsionados. Novatentativa, nova frustração. Opapel, ele descreveu, estavaquase todo "eivado de peque-nas bolhas e outras partículasindesejáveis" .

Enquanto "matutava" so-bre o problema, mais uma vezo acaso - e o olhar arguto -trouxe a solução. ConradoWessel foi chamado à fábricadas Linhas Correntes, no Ipi-ranga, para executar um servi-

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OIRHCTORIA GERAl.DA

PROPItIEOADR INDUSTRIAL

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PATENTJ!S DE INVENcAo

IIlnllteno di Agricull1lra,Indnstrla e ~mmel'Cio

Certidão de archivamento e inscripcâc de documentos de uso effectivo

Em tU{;1(f6c de despatlllJ Il'lJJ(.J1t1clIa Ptlif8t; tlt..........L&.. ..•••.••••7'~

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Documento sobre novo processode produção de papel fotográfico.A patente foi conseguida porConrado Wessel em 1921

ço de clichés. Sozinho no sa-lão de espera, reparou numapequena máquina utilizadapara passar goma no versodas etiquetas. Ele descreveuesse equipamento: "Havia umacuba e um rolo imerso dentrodela. Com a máquina em mo-vimento, o rolo passava umacerta quantidade da solução,deixando estrias sobre o pa-pel, que também seguia seucurso. Eureca, pensei, meuproblema está resolvido".Mais uma vez fez um croqui eadaptou a máquina de emul-sionagem ao modelo daquela

utilizada para gomar etique-tas. E detalhou os resultados:"A máquina se resumia no se-guinte: uma cuba de barro vi-drado (naquela época nãoexistia o aço inoxidável)cheia de emulsão e um rolode ebonite que mergulhavanela. O papel passava entreum outro eixo fixo, reguladocomo o rolo. Dessa maneira,as bolhas ficavam todas na cu-ba. Mais tarde esse sistema foimelhorado, com mais de umrolo de ebonite, tornando im-possível o surgimento de bo-lhas sobre o papel. Fizemos

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Fábrica de papelfotográfico Kodak-Wessele placa explicativa. Abaixo,folheto com preços

NOVA LISTA DE PREÇOSDE 100M AS lWItAS DOS jlAPfIS "WESSEL"

CARTOES POSTAESo.n.Rs.2Sa1O-E-obr •• deloo,b.Im»· f_<*I.nidt' I~R.o. ISIOOO

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novas experiências com ple-no êxito. Vamos fabricar evender", comemorou. Nasceuassim a Fábrica Privilegiada dePapéis Photograficos Wessel.

Conrado Wessel não imagi-nava, no entanto, que teriaque enfrentar ainda a resis-tência dos fotógrafos, seus po-tenciais clientes. "Eles experi-mentaram o material, acharambons os resultados, mas julga-ram melhor continuar com opostal da Ridax, da Gevaert,apesar do preço do meu serbem menor:' Foi nessa épocaque ele forjou o lema que o

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.acompanharia por toda avida: "Insista, não desista".

Os negócios iam mal atéque a sorte - ou talvez a his-tória - reverteu o risco dofracasso. No dia 5 de julho de1924, Isidoro Dias Lopes de-flagrou o movimento conhe-cido como a Revolução dosTenentes. São Paulo ficou si-tiada, isolada do resto do país.Aos fotógrafos da Luz faltoupapel importado. "Numa ma-nhã de um dos primeiros diasde revolução apareceu umdeles em minha casa e per-guntou se eu tinha postais

para vender", contou Conra-do Wessel. A revolução abriu-lhe o mercado. Ao fim de 29dias de cerco, os rebeldes serenderam. O fluxo de papelimportado foi restabelecido,mas a fábrica de papéis criadapor Conrado Wessel já tinha,definitivamente, conquistadoa clientela que lhe permane-ceu fiel.

Os grandes fabricantes es-trangeiros, como a Gevaert,tentaram ainda recuperar omercado oferecendo produ-tos mais baratos. ConradoWessel também baixou ospreços. "Por incrível que pare-ça, estes postais mais baratosnão foram aceitos pelos am-bulantes. Nem os meus, nemos da Gevaert." A produçãobrasileira cresceu, ConradoWessel comprou um prédiomaior e consolidou sua posi-ção no mercado. Não faltarampropostas de empresas es-trangeiras interessadas emparceria com a agora próspe-ra fábrica brasileira de papéis,até que Conrado Wessel fir-masse um contrato com a Ko-dak, garantindo para ela prati-camente toda a sua produção.Ficou acertado que a empresanorte-americana construiriauma fábrica nova em SantoAmaro, com maquinário mo-derno e chamada Kodak-Wes-sel, administrada por ConradoWessel.Isso ocorreu em 1949e durou até 1954.A partir des-sa data a patente passou defi-nitivamente à Kodak e o no-me da fábrica deixou de serKodak-Wessel.

Ao longo desse período,com o lucro dos negóciosbem administrados, ConradoWessel comprou imóveis nosbairros de Campos Elíseos,Barra Funda, -Santa Cecília eHígíenópolis, que, no futuro,se tornariam o patrimônio daFundação Conrado Wessel. •

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MArOJ3. PREMIAÇÃODO PAIS----------------------------------------------------------------------------------------~r_

FCW dá R$ 100 millíquidos aos vencedoresde cada categoria

cada edição do Prêmio FCWe Arte, Ciência e Cultura, a

fuadação vem aperfeiçoandoseu ormato para torná-lo maisinteressante e cobrir eventuais

cunas. Na quarta edição, de2' 5, <mjacerimônia de entre-gados prêmíos ocorreu em 12de junho de 2006, na categoriaArte, repetiu-se a homenagemda FCW ao fotógrafo publici-tário e às agências de publici-dade às quais as fotos se vin-cularam - um diploma dehonra ao mérito às três agên-cias vinculadas aos três pri-meiros colocados. O Prêmiode Ciência, nas suas cinco mo-dalidades, foi conferido ape-nas a pessoas naturais, reser-vando-se para outro exercícioa avaliação dos nomes de pes-soas jurídicas eventuais indi-cadas. Nesse sentido não serepetiu o fenômeno de 2004,quando duas instituições re-ceberam prêmio.

Na galeria de laureadospelo Prêmio FCW observa-seuma profusão de talentos bra-sileiros. Na primeira edição,em 2002, os prêmios na áreade ciência foram distribuídos

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por meio de concurso nas es-colas da rede pública de SãoPaulo. A FCW distribuiu 18computadores e R$ 150 milentre as escolas, professores ealunos premiados. Na área deliteratura foram premiadostrês autores inéditos, selecio-nados por críticos literáriosentre 94 concorrentes: Noê-mia Sartori Ponzeto, Maria Fi-lomena Bouissou Lepecki eSantiago Nazarian. O prêmiofoi a edição do livro inédiiode cada um, com tiragem de 2mil exemplares, com noite deautógrafo no Museu da CasaBrasileira, em São Paulo. Oprêmio de Arte foi conferidoaos fotógrafos Klaus WernerMitteldorf, Maurício SalomãoNahas Filho, Allard WillenMeindert van Wielink.

Na segunda edição, em2003, a premiação adquiriunovo formato para destacar otrabalho de pesquisadoresvinculados a universidades einstitutos de pesquisa. O prê-mio foi dividido em seis cate-gorias: Ciência Geral (CarlosHenrique de Brito Cruz foi oganhador), Ciência Aplicada

ao Meio Ambiente (PhilipMartin Fearnside), ao CampoQairo Vidal Vieira), ao Mar(Dieter Carl Ernst Heino Mue-he), Medicina (Maria InêsSchmidt) e Literatura (LiaLuft). Na categoria Arte ga-nharam os fotógrafos BobWolfenson, Leonardo MartinsVilela e Márcia Ramalho.

Para ampliar a participa-ção dos cientistas, a FCW fir-mou acordo com entidadesde fomento à ciência e tecno-logia, entre elas a FAPESp,quepassou a integrar a comissãode organização e avaliaçãodas candidaturas. Os vencedo-res de cada categoria recebemum prêmio no valor de R$100 mil líquidos - o maior jáconferido por uma instituiçãobrasileira - e uma esculturade Vlavianos. A lista com onome dos indicados foi sub-metida à avaliação de um júriformado por entidades par-ceiras da FCW. A partir doapoio da FAPESp, formou-seuma Comissão ]ulgadora cons-tituída por oito entidades par-ceiras:ABC,ABL,Capes, CNPq,CTA, FAPESP, FCW e SBPC.

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(Veja o final desta edição,com a lista dosjurados e o 10-gotipo das parceiras.)

Em 2004, na terceira edi-ção, ampliou-se para um totalde 140 o universo das entida-des convidadas a apresentarnomes-candidatos ao prêmio.

Foram vencedores: o bío-químico Isaias Raw, presiden-te da Fundação Butantan, emCiência Geral. César GomesVictora, professor da Faculda-de de Medicina da Universida-de Federal de Pelotas (UFPel),em Medicina. Na categoriaCiência Aplicada à Água ga-nhou o almirante Alberto dosSantos Franco, especialista naanálise e previsão das ma-rés.Em Ciência Aplicada aoCampo, o escolhido foi o Ins-tituto Agronômico, de Campi-nas (IAC). O Museu ParaenseEmílio Goeldi, de Belém, foi opremiado em Ciência Aplica-da ao Meio Ambiente. FerreiraGullar, poeta maranhense ra-dicado no Rio de Janeiro, foi olaureado em Literatura. Porfim, os premiados na catego-ria Arte (Foto Publicitária) fo-ram os fotógrafos Ricardo Cu-

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nha, em primeiro lugar, PauloVainer, em segundo, e FelipeHellmeister, em terceiro.

Em 2005, na quarta ediçãoapresentada nas páginas destarevista, o médico e cientistaWanderley de Souza, da UFRJ,recebeu o Prêmio FCW deCiência Geral. Adib jatene, doHospital do Coração, foi opremiado em Medicina. Nacategoria Ciência Aplicada àÁgua ganhou José Galizia Tun-disi, do Instituto Internacio-nal de Ecologia e Gerencia-mento Ambiental de São Car-los. Em Ciência Aplicada aoCampo, o escolhido foi LuizCarlos Fazuoli, pesquisadordo café do IAC. Azíz NacibAb'Sáber, da USp'foi o premia-do na categoria Ciência Apli-cada ao Meio Ambiente. FábioLucas, crítico literário da Aca-demia Mineira de Letras, foi olaureado em Literatura. Ospremiados na categoria Arte(Foto Publicitária) foram osfotógrafos Maurício Nahas,em primeiro lugar, AndréasHeiniger, em segundo, e Gus-tavo Rodrigues de Lacerda,em terceiro. •

A escultura de Vlavianosé dada aos vencedoresem Ciência Geral, Medicina,Ciência Aplicadaao Campo, Ciência Aplicadaao Meio Ambiente,Ciência Aplicada à Água,Literatura e Arte

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Page 12: Prêmio FCW 2005

1. Vencedores em cada categoria;2. Presidentes das instituições quefizeram as indicações; 3. Américo FialdiniJúnior, diretor presidente da FCW;4. Ospremiados Fábio Lucas (esq.), Aziz Ab'Sábere Antonio Bias Bueno Guillon, presidente doConselho Curador da FCW;S.lsaac Roitman,do Ministério da Ciência e Tecnologia (esq.),e Ricardo Brentani, diretor presidentedo Conselho Técnico-Administrativo daFAPESP;6. Os fotógrafos Maurício Nahas(esq.), Andreas Heiniger e Gustavo Lacerda;7. Rubens Fernandes Junior, presidentedo júri de Fotografia Publicitária (esq.),o pianista Arnaldo Cohen e sua esposa, Ann.

12 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL PESQUISA FAPESP

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A FESTA DOS GANHADORES

um recital do pianista ArnaldoCohen, que tocou peças deBach,Alberto Nepomuceno,Radamés Gnattali, Luis Levy,Francisco Braga, ErnestoNazareth e Chopin. No localocorreu também a Mostrade Fotografia Publicitária,com os melhores trabalhosdos fotógrafos do setor,que concorreram ao prêmiode Arte da FCW Confiraalguns flashes da festa.

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Page 14: Prêmio FCW 2005

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No ENCALÇODO PARASITA

Radicado no Rio de Janeiro, o baiano Wanderleyde Souza é referência internacional no estudode protozoários que atacam o homem

ua CiQ cursava o colegial, hojechama de ensino médio, opara ítoíegísta Wanderley deSouza já pensava em ser cien-tista. as havia um obstáculogeog /fi o a separá-lo de suaaspi ão.Nascido em 1951 nom ícípío baiano de Iguaí, Sou-za sabia que, naquele tempo, te-

deixar a terra natal paraperseguir seu objetivo. "Na Ba-hia, não havia então condiçõesde ser pesquisador", relembra."Eu teria de ir a São Paulo ouao Rio de Janeiro." Escolheu acapital fluminense, onde en-trou no curso de medicina daUniversidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ) em 1968."Antigamente, quem queria vi-rar pesquisador (nas áreas bio-lógicas) fazia medicina", conta."Hoje o caminho mais tradicio-nal é cursar biologia."

14 ESPECIAL PRÊMIO CONRADO WESSEL

Desde o primeiro ano dafaculdade, já na condição debolsista de iniciação científi-ca pelo Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), o jovemWanderley abraçou a áreaque seria o centro de seus es-tudos, as doenças causadaspor protozoários (seres vivoscom apenas uma célula),como os parasitas da malária,da toxoplasmose e da leísh-maniose. Fez seus primeirostrabalhos sob orientação deHertha Meyer, alemã emigra-da para o Brasil na década de1940, que foi uma das pionei-ras na área de cultivo celular,e Cezar Antonio Elias, especia-lista em radiobiologia. For-mou-se em 1974 e logo em se-guida fez mestrado e doutora-do no Instituto de Biofísica da

UFRJ, analisando em detalhesa biologia do Trypanosomacruzi, protozoário causadorda doença de Chagas, até hojeum de seus principais objetosde estudo.

"No curso de medicina, oque mais me interessou foi oestudo dos parasitas", contaSouza. "Sempre quis entendercomo eles penetravam nas cé-lulas humanas." Desde então,Souza desenvolve uma bem-sucedida carreira de pesqui-sador, ocupando hoje o cargode chefe do Laboratório deUltra-estrutura Celular HerthaMeyer do Instituto de BiofíscaCarlos Chagas Filho da UFR].Ele passou pequenas tempo-radas no exterior (México, Es-tados Unidos e Escócia), sem,no entanto, fazer um pós-dou-torado formal fora do país.

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Wanderley de Souza: descrição detalhada de duas organelasdo Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas

De forma esquemática, ostrabalhos conduzidos em seulaboratório podem ser agru-pados em três grandes linhas:o estudo da organização es-trutural de parasitas que pro-vocam doenças no homem;sua interação com células dohospedeiro; e o desenvolvi-mento de novas drogas quepossam ser utilizadas em qui-mioterapia. "Nos últimos oitoanos, estamos intensificandoa procura de novas drogas

para combater os parasitas",diz Souza. Um dos alvos prio-ritários dos cientistas é desen-volver fármacos que atuemsobre a síntese do ergosterol,um tipo de composto solúvelem gorduras que é essencialpara a sobrevivência e replí-cação de alguns parasitas. Defunção semelhante ao coles-terol, o ergosterol controla afluidez das membranas decertos protozoários. Além depesquisar os parasitas uníce-

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lulares, o laboratório tambémse dedica, com menor ênfase,ao estudo de estruturas de ne-matóides (vermes), tendocomo modelo experimental oLitomosoídes chagasjilhoí,agente causador da filarioseem roedores.

Em alguns momentos davida profissional o parasitolo-gista exerceu, ao lado de seutrabalho de investigação cien-tífica, cargos na administraçãopública, sempre na área deeducação ou pesquisa. Na dé-cada de 1990 foi o primeiroreitor da Universidade Esta-dual do Norte Fluminense(Uenf) , em Campos dos Goy-tacazes, um projeto de institui-ção de ensino idealizado peloantropólogo Darcy Ribeiro.Entre janeiro de 2003 e janei-ro de 2004, foi secretário exe-cutivo do Ministério da Ciên-cia e Tecnologia.

Atualmente é secretárioestadual de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação no Rio de Ja-neiro, posto que ocupa pelasegunda vez. "Um dos maioresdesafios do Brasil é transfor-mar o nosso conhecimentobásico em produtos com va-lor econômico", afirma Souza."Também precisamos atrairmais empresas privadas paraa pesquisa científica."

Autor de mais de 400 arti-gos científicos publicadosem revistas internacionais,sem contar o meio milhar decomunicados apresentadosem congressos e os sete li-vros editados, Souza é um dosmaiores especialistas na ana-tomia dos protozoários e nosmecanismos de invasão utili-zados por esses parasitas parapenetrar nas células huma-nas. Nesse campo de estudos,seus trabalhos de maior rele-vância talvez sejam as descri-ções pormenorizadas de duasimportantes organelas do

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Trypanosoma cruzi, o acido-calcissoma e o reservossoma,esta segunda descoberta pelaprópria equipe de Souza. Se-gundo o parasitologista, queserá o presidente do 13° Sim-pósio Internacional de Proto-zoologia a ser realizado noBrasil em 2009, seus escritoscientíficos já foram citadoscerca de 7 mil vezes em arti-gos de outros pesquisadores."O Brasil é líder nos estudosde protozoários", comenta.

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O parasitologistabrasileiro é autor de maisde 400 artigospublicados em revistascientíficas internacionais

Além da expressiva pro-dução acadêmica, Souza tam-bém se orgulha de formarnovas levas de pesquisado-res. Já orientou cerca de 80pós-graduados e contribuiupara a formação de núcleosde estudos em parasitologiaem universidades de váriosestados. "Temos de passar oconhecimento adiante, paraoutros grupos", diz. Somenteem seu grupo na UFRJ tra-balham cerca de 50 pessoas.

Por sua atuação de desta-que na ciência fluminense,Wanderley Souza, que é mem-bro da Academia Brasileira deCiências desde 1987 e daAca-demia de Ciências do Terceiro~undo desde 1990, recebeuo título honorífico de cidadãodo estado do Rio de Janeiro.Esse baiano radicado há qua-se quatro décadas no Rio deJaneiro é casado e pai de trêsfilhos - dois dos quais alunosde pós-graduação da Uenf. •

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CONHECIINTEGRAD

Trajetória de JoséGalizia Tundisiinclui a criaçãode dois programasde pós-graduação

apr ndizado de história natu-ral o olégio mexeu com aimagi ação e o rumo profissio-nal de José Galizia Tundisi, 68anos,qu em seu currículo re-gistra q se cinco décadas deestu o e projetos dedicados aE ursos hídricos e meio am-biente, Era o [mal da década de1950.Tundisi estudava em laú,no interior de São Paulo, cida-de vizinha a Bariri, onde nas-ceu e ainda morava, e se en-cantou com as aulas dadas pe-lo professor Antonio TherezioMendes Peixoto, a ponto dese lembrar, tantos anos depois,da importância desse mestrepara as suas escolhas futuras.

A primeira dessas escolhasfoi o curso de história naturalna Universidade de São Paulo(USP), vinculado à Faculdadede Filosofia. Naquele temponão existia ainda o curso deciências biológicas. "O cursode história natural tinha umpouco a tradição da velha es-cola alemã de naturalistas, in-fluência do professor ErnestMarcus e outros fundadoresda USP", diz Tundisi. As disci-plinas contemplavam várias

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áreas, como zoologia, botâni-ca, geologia, mineralogia, físi-ca, química e matemática. Ocurso, com duração de cincoanos, foi concluído em 1962.

"A grande escola que eutive relacionada com água eecologia de águas foi no Insti-tuto Oceanográfico da USP",diz o pesquisador. Foi lá queele fez a iniciação científica,orientado pela professoraMarta Vanucci, que trabalhavaem um circuito internacionalmuito amplo e, com isso, tra-zia sempre idéias novas. "Fi-quei muito interessado poressa nova dimensão da ciên-cia a que fui apresentado, quenão se limitava a descrever os

organismos, mas tinha comoobjetivo conhecer melhor asinter-relações entre os organis-mos e o ambiente, a base daecologia", diz. A etapa seguin-te foi o mestrado em oceano-grafia biológica pela Univer-sidade de Southampton, naGrã-Bretanha, encerrado em1966 com a dissertação "Al-guns aspectos da produçãode substâncias extracelularespelas algas marinhas".

Na volta ao Brasil fez o dou-torado em ciências biológicasna USp,orientado por Francis-co Lara, com a defesa da tese"Produção primária, standingstock do fitoplâncton e fato-res ecológicos da região lagu-

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nar de Cananéia", em 1969. Opesquisador trabalhou no Ins-tituto Oceanográfico da USPaté 1971, quando foi para SãoCarlos, no interior de São Pau-lo, onde mora até hoje, fundaro curso de graduação em ciên-cias biológicas da Universida-de Federal de São Carlos (UFS-Car). No ano seguinte criou ocurso de graduação em biolo-gia e mais tarde o programade pós-graduação (mestradoe doutorado) de ecologia erecursos naturais, que em ou-tubro completou 30 anos. "Oprograma de pós-graduaçãoteve um papel importante naformação dos primeiros qua-dros profissionais no Brasilem ecologia, com uma visãomais sistêmica, e não apenasdescritiva", diz Tundísí.

Em 1984 ele voltou às ori-gens acadêmicas. Foi nova-mente para a USP de São Car-

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los, desta vez no Departamen-to de Hidráulica e Saneamen-to. Lá, em 1989, criou outrocurso de pós-graduação, cha-mado ciências da engenhariaambiental. "Foi uma evoluçãodo processo, porque o cursode ecologia da UFSCar eramais básico,formava profissio-nais voltados para o problemada água, enquanto o curso daUSP tinha fundamentalmenteuma aplicação em água", rela-ta. Após criar um curso de gra-duação e dois de pós-gradua-ção na mesma cidade, em duasuniversidades diferentes, Tun-disi foi convidado a presidir oConselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecno-lógico (CNPq), onde ficou de1995 a 1998, quando se apo-sentou da carreira acadêmica.

Outros projetos estavam acaminho. A experiência e oconhecimento de Tundisi e de

sua mulher, a pesquisadora Ta-kako Matsumura-Tundisi, es-pecialista em ecologia de sis-temas, resultaram na criaçãodo Instituto Internacional deEcologia, em São Carlos, em-presa que desenvolve pesqui-sas em planejamento e gestãode recursos hídricos e ofereceserviços de consultoria naárea. Entre os clientes estão vá-rias empresas interessadas emresolver o problema da gestãodas águas, grandes hidrelétri-cas e empresas de mineração.

Tundisi também coordenaum projeto, chamado Progra-ma de Águas (Water Program-me), parte de um programamundial que reúne 96 acade-mias de ciências e sob a res-ponsabilidade da AcademiaBrasileira de Ciências. "A fina-lidade é estender essas idéiasque desenvolvi no Brasil emtermos de pós-graduação, pes-

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quisa e formação de recursoshumanos para criar centrosde pesquisa, inovação e capa-citação", diz. Brasil, Polônia,China,]ordânia, Casaquistão eÁfrica do Sul integram a redepara itnplementar esses cen-tros. "O grande gargalo que te-mos é formar gerentes qualifi-cados que trabalhem na gestãodas águas do ponto de vistada inovação", diz Tundisi. Issosignifica ter uma visão maisampla do processo de gestão,que não se limite apenas aotratamento da água, mas sim oseu papel na economia local,regional e na saúde humana.

Entre os planos atuais dopesquisador está a criação deum terceiro curso de pós-gra-duação, de recursos hídricos edesenvolvimento sustentável,no Centro Universitário Metro-politano de São Paulo (Uni-mesp) , em Guarulhos. "É um

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José Galizia Tundisi:cinco décadasdedicadas ao estudodos recursos hídricos

terceiro momento, em que y teresse de Tundisi por histó-mos trabalhar muito m 1S r a tural cinco décadas atrásquestão da água na RegCo result u em 300 trabalhos pu-tropolitana de São Paulo''; djz bllcad s, 24 livros lançados e aTundisi, que prevê um cênârío fo maêão de 60 mestres e dou-não muito alentador pata da- totes espalhados por estadosqui a duas décadas. "Em 4oi~ como Paraná, Santa Catarina,poucos países serão capaze~Afnazonas, Minas Gerais, Paraí-de produzir e exportar alimen- ba, Mato Grosso e países vizi-tos a partir da água que pos- nhos. "Muitos mestres e douto-suem." E lembra que para pro- res que formei estão hoje lide-duzir um boi são necessários rando cursos e programas de4.500 metros cúbicos de água pós-graduação na América Ia-e outros milhares de litros para tina", diz. Muitos gerentes deum único quilo de arroz. A empresas de saneamento e in-América do Sul, com o aqüífe- dústrias também foram forma-ro Guarani, é um dos contínen- dos porTundisi, em cursos rea-tes privilegiados nesse cenário lizados na América Latina e naque se desenha para o futuro África e em cursos ministra-próximo. "O Brasil tem um pa- dos para gerentes de recursospel estratégico para a produ- hídricos de países do Mediter-ção de alimentos não só para a râneo. Todos formados comnossa população, mas para o uma visão integrada dos pro-mundo", diz o pesquisador. A cessos que englobam água,água disponível será a grande meio ambiente, saúde humanadiferença entre os países. e economia. •

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Clf:NCIA APLICADA AO CAMPO

ENTUSIASMO./

PELO CAPE

As contribuiçõesdo pesquisador LuizCarlos Fazuoli paraa cafeicultura nacional

me o fruto e a mesma plan-ta de c é que o pesquisadorLuiz Car1~s Fazuoli, do Institu-to ro ômico (lAC) emCamfina, se dedica a estu-dar, Fiá mais de 35 anos, tra-zen io uitas contribuiçõesflarn o melhoramento genéti-co da cultura cafeeira do país,são os mesmos com os quaisseu pai, Guido Fazuoli, come-çou a trabalhar como meeiro,ainda na adolescência, depoisde chegar ao Brasil, vindo daItália, em 1923. Instalado ini-cialmente na cidade de DoisCórregos e posteriormente]aborandi, duas cidades do in-terior paulista, o velho Fazuo-li plantou e abanou café, e viudepois o filho se tornar enge-nheiro agrônomo, em 1969,na Escola Superior de Agricul-tura Luiz de Queiroz (Esalq)da Universidade de São Paulo,já em sua própria fazenda nomesmo município de ]aboran-di. "O fato de eu vir a estudarcafé foi uma simples coinci-

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dência", diz Luiz Fazuoli. Maso café logo apareceria em suavida. "Fiz estágio na Esalq, noperíodo de 1967 a 1968, coma orientação do professor Eu-rípedes Malavolta, sobre nutri-ção do cafeeiro, e publiquei omeu primeiro trabalho cientí-fico em 1968", conta.

Depois de formado, Pazuo-li ganhou uma bolsa do Con-selho Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnoló-gico (CNPq) para trabalharcom genética e melhoramen-to do milho no IAC."Eu haviame entusiasmado pelo melho-ramento de plantas já noquinto ano da faculdade como professor Ernesto Paternia-ni."Nessa prática agronômica,o pesquisador busca obternovas variedades para umadeterminada cultura, normal-mente levando o pólen deuma flor de uma planta maisresistente a uma doença paraos órgãos femininos da florde uma outra planta igual-

mente resistente ou mais pro-dutiva, por exemplo, num lon-go e demorado processo pararesultar em uma linhagem di-ferente das existentes.

"No melhoramento, é pre-ciso acumular uma grande ba-gagem de conhecimento embotânica, nutrição, pragas edoenças", explica. No IAC, otrabalho inicial com milho ti-nha uma relação com seu pas-sado. "Meu pai plantava milhonaquela época e desde pe-queno acompanhei a planta-ção, embora eu ajudasse maisno armazém dele em ]aboran-di."Foi nessa cidade, na regiãode Ribeirão Preto, que Fazuo-li nasceu, em 1940, e conhe-ceu sua esposa.

O conhecimento maior ea especialização no café, elesó iniciaria com o término desua bolsa em 1970. "Acabou abolsa e não havia vaga paramim. Aí recebi um convitepara dar aula na UniversidadeEstadual Paulista (Unesp) de

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]aboticabal, mas, quase aomesmo tempo, surge no Bra-sil a ferrugem, uma doençaperigosa para o cafeeiro." Pro-vocada por um fungo, a ferru-gem ataca principalmente asfolhas, deixando-as amarelase os ramos secos, prejudican-do, com o tempo, toda a plan-ta. Originária da África, a doen-ça atingiu primeiro as planta-ções de café próximas aos ca-caueiros, na Bahia. "Com esseperigo iminente para SãoPaulo, o instituto resolveucontratar mais dois pesquisa-dores para trabalhar com ocafé diretamente com o dou-tor Alcides." O "doutor Alei-des" citado por Fazuoli é oengenheiro agrônomo Alei-des de Carvalho, reconhecidocomo a maior liderança cien-tífica da cafeicultura mundial.Ele trabalhou no IAC de 1935a 1993 e foi o principal res-ponsável por grande partedas variedades de café e pes-quisas para entender e con-

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trolar as doenças da planta.Fazuoli trabalhou por 23anos sob a coordenação deCarvalho e é considerado seudiscípulo e herdeiro diretonos estudos dos cafeeiros.

"No IAC queriam alguémdisposto a sair pelo estado pa-ra testar e estudar as novas va-riedades resistentes à ferru-gem que chegou em São Paulologo em seguida, em 1971",diz. Naquele tempo, Carvalhojá tinha variedades imunes aofungo. Ele começou a se pre-parar contra a ferrugem em1950, com sementes colhidasnos experimentos em Campi-nas e outras enviadas peloCentro de Investigação das Fer-rugens do Cafeeiro (CIFC) dePortugal, país que lutava con-tra a doença nos cafezais emsuas então colônias africanas,como Angola e Moçambique.

"Passamos a testar as varie-dades não só em relação àdoença, mas também em rela-ção aos tipos de grãos, produ-

tividade e demais característi-cas agronômicas." Muitas des-sas variedades foram cruzadascom outras desenvolvidasaqui no Brasil e resultaramem terceiras linhagens maisresistentes. Daí para frente,Fazuoli colaborou ou foi oprincipal artífice de muitasvariedades de café, cada umaprópria para uma região cli-mática do estado e do país,com porte alto ou baixo, co-res de fruto e qualidade da be-bida. São cultivares mais anti-gas e disseminadas por todoo país, como a Mundo Novo, aAcaiá, a Icatu, até as mais re-centes lançadas em 2000,como a Tupi IAC 1669-33, aObatã IAC 1669-20 e a OuroVerde IAC H501O-5, além deoutras em fase final de sele-ção, como a Catuaí e uma va-riedade da Mundo Novo, re-sistentes à ferrugem.As atuaiscultivares do IAC no Brasil re-presentam 90% do café arábi-ca (Coffea arabica) plantado

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no país, relativos a dois ter-ços dos 6 bilhões de pés decafé brasileiros. O restante éde café robusta (Coffea cane-phora), predominante no es-tado do Espírito Santo, espé-cie de que o IAC também de-senvolve novas variedades edones.

Muito das cultivares de-senvolvidas no IAC tambémsão produtivas em outros paí-ses. "Na Colômbia, 60% doscafeeiros são da variedadeCaturra, do IAC. Desde a dé-cada de 1970, o instituto re-cebe muitos pesquisadoresdesse país (segundo produ-tor mundial atrás do Brasil).Na Costa Rica, 55% da planta-ção é da cultivar Catuaí e oscafeeiros restantes, de Catur-ra." Fazuoli também foi con-sultor do Instituto Interame-ricano de Cooperação para a

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Luiz Carlos Fazuoli:durante 35 anosmantém a tradição doIAC em produzir novasvariedades de café

Agricultura (nCA) em paísescentro-americanos e africa-nos. Na trajetória acadêmica,ele fez o mestrado entre 1974e 1977, na Esalq, mas o douto-rado demorou um pouco. "ES"-tava envolvido com o traba-lho no IAC e não havia tem-po", lembra Fazuoli. Iniciadoem 1986, ele defendeu sua te-se em 1991, na UniversidadeEstadual de Campinas, quan-do completou 51 anos de ida-de. Como professor, dá aulasna pós-graduação da Esalq eno IAC sobre melhoramentode café.

Embora com tempo detrabalho para se aposentar,Fazuoli diz que vai esperarmais um pouco e continuaacompanhando, como dire-tor do Centro de Café AlcidesCarvalho do IAC,as pesquisasposteriores ao recém-finaliza-

do Genoma do Café, em quese verificam, por exemplo,genes específicos, relaciona-dos à qualidade da bebida.Ele também acompanha no-vidades como uma linhagemde cafeeiro com grãos desca-feinados, em colaboração coma pesquisadora Maria Berna-dete Silvarolla, e até uma va-riedade formada pelos cafésarábica e robusta, já chamadade arabusta.

Casado e com três filhosque não seguiram a tradiçãofamiliar e se voltaram para odireito, Fazuoli mantém umapropriedade agrícola herda-da do pai. "Ela está arrendadacom cana e soja. Café eu nãoplanto porque a região (Ia-borandi, Barretos) é muitoquente e não permite o plan-tio de café arábica." Palavrade quem conhece. •

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ClI::\CI:\ APLICADA AO .\IEIO A.\IBII·:l\TE

OGEÓGRAFODA FOME

Aziz Ab'Sáber lutapara que a ciêncianão se distancie darealidade humana

rbi7~""da mais a um cien-tista derno do que falarem detêrrninismo geográfico,ma no caso do geógrafo Azizb' a r, a controversa teoria

parece er pregado uma peçaem eu destino, como que olevan 0 a sua opção pelobem-estar do homem comume pela preservação da nature-za. Filho de um libanês (cujabandeira traz uma folha de ce-dro, árvore típica da região,símbolo de força e eternida-de) e de uma brasileira do ser-tão florestal, o pesquisador,que acaba de completar 82anos, nasceu em São Luiz doParaitinga, cidadezinha do in-terior paulista que tambémfoi berço de outro mestre daciência nacional, OswaldoCruz, cuja casa era cuidadapelo padrinho de Aziz. Isso dáo que pensar. "Ningúern esco-lhe o lugar, o ventre, a condi-ção socioeconômica e cultu-

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o geógrafo foge do estereótipo de homemde ciências centrado em livros e teorias

ral para nascer. Nasce onde oacaso determinar. Por isso so-mos responsáveis por todosaqueles que estão agora nasfavelas, na periferia", analisao professor.

Ab'Sáber, como se podever, foge do estereótipo- dohomem de ciências centradoem livros e teorias. "Parto doprincípio de que as pessoasprecisam, em primeiro lugar,entender o que é cultura pa-ra, depois, entender o que éciência. A cultura é um con-junto de valores do homem.Apesquisa agrega conhecimen-to à cultura, alimenta a ciên-cia e acelera os processosevolutivos das sociedades",observa. Para ele, a ciência,em si, é inocente e para queseja útil à sociedade precisase combinar com as outrasciências, para que surjam des-cobertas novas. "As ciênciastêm que se dirigir à socieda-

de, à comunidade humana.Isso faz as ciências do homemfundamentais em todo o cor-po geral das ciências, a fim deque o progresso científiconão fique por demais distan-ciado da realidade das comu-nidades humanas às quaisserá aplicado." A junção docientífico e o social é a basedo pensamento e, mais im-portante, da ação do geógra-fo, filho de um imigrante ile-trado que se preocupava coma educação de seus filhos e semudou de São Luiz para Caça-pava pensando em dar melho-res chances a todos eles.

Ainda assim, seus professo-res de geografia, confessa, nãoforam os melhores.A carênciade livros e revistas, que a fa-mília não podia comprar, elesupriu, gosta de dizer, "lendoa paisagem". Ingressou naUniversidade de São Pauloem 1941, disposto a estudar

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história e geografia, discipli-nas integradas até o segundoano. A opção pela última foinatural. Teve a sorte de tercomo mestres alguns dos pro-fessores da famosa MissãoFrancesa, grupo de intelectuaisda França que lecionaram naUSP entre 1935 e 1946. Seufavorito foi o geomorfologis-ta Pierre Monbeig, que, me-xendo com sua vaidade, lheensinou o caminho da verda-deira pesquisa geográfica.Num trabalho de faculdadearriscou um pequeno avançono terreno da teoria. O fran-cês fez bico. "Aziz, gostei doseu trabalho, mas o aconselhoa primeiro fazer análises paraum dia chegar à teoria quevocê merece." O insigbt foiimediato. Ab'Sáber percebeuque livros e revistas acadêmi-cas, pelo menos as de seutempo, não o levariam a lugarnenhum se não fosse a cam-po. "Mergulhei em uma sériede pesquisas regionais: pes-quisei o domínio dos morrosflorestados, seu processo depovoamento, o domínio doscerrados, as chapadas e che-guei à Amazônia e ao RioGrande do SuL"Revirando opaís, começou, aos poucos, atentar entendê-lo,

ge' grafo nunca mais se es-,quece das lições de Mon-beig e e como o professor oensinou que toda teorizaçãopre oce ermina por ser repe-titiva e estéril e que, antes deconhe er na prática as rela-@'(~ entre o homem e a terra,

é impossível teorizar. Foi comesse pensamento que criou asua celebrada Teoria dos Re-dutos. Em 1957, cicerone dogeógrafo francês jean Trin-cart, numa expedição ao inte-rior de São Paulo, mais especi-ficamente na região entre Sal-to e Jundiaí, foi numa conver-

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sa com o companheiro de via-gem que teve a iluminaçãopara sua tão esperada teoria.Observaram linhas de pedra(stone tines) no meio de vá-rios barrancos, em encostasde morros ou a cerca de 1metro abaixo da superfíéie.Ao observar o chão pedrego-so,Trincart intuiu que no pas-sado havia, naqueles lugares,um clima mais seco, com umaflora de caatingas e cerrados."Você conhece o Nordeste se-co, sabe que tem chão pedre-goso e que as raízes dos ar-bustos penetram pelo meiodas pedras e se fixam. Então,essa linha de pedras represen-ta outro ambiente, outro cli-ma, outra combinação de fato-res fisiográficos e ecológicosque existiram em outra épo-ca", avaliou o francês, aguçan-do a curiosidade de Ab'Sáber,que passou a mapear as linhasde pedra do país.

Segundo a Teoria dos Re-dutos, durante o quaternárioantigo, há cerca de 500 milanos, o nível do mar desceu100 metros do seu nível nor-mal. O clima ficou mais frio eseco, reduzindo a tropicalida-de e suas florestas. Os espa-ços deixados por elas foramocupados por caatingas, vege-tação característica de climassecos. Com o retorno do cli-ma quente, o mar subiu nova-mente e a alta da umidade fezcom que as florestas se ex-pandissem novamente. Haviaum porém: durante o tempoem que se mantiveram sepa-radas, as vegetações se desen-volveram de forma diferencia-da e, quando se emendaram,houve a reunião de várias flo-restas diversificadas. Ab'Sáberimediatamente se lembroudas observações de CharlesDarwin, para o qual quandouma espécie é isolada em um

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ambiente, acumula tantas mu-tações que, depois de certotempo, acaba se constituindonuma espécie diferente, iso-lada. "Ele foi genial. Mesmosem saber da mudança dosoceanos, quando esteve emGalápagos, descobriu os 're-fúgios insulares'." No caso bra-sileiro, os refúgios estavamem áreas continentais, e nãoem ilhas.

"Compreendi que, no mo-mento em que a semi-aridezpredominou, as florestas re-cuaram para pontos maisúmidos. No processo de retro-picalização, as caatingas fo-ram abafadas, cedendo espa-ço para florestas densas, úmi-das, com grande biodiversida-de. Ora, nada se cria do nada.Não se cria uma biodiversida-de fantástica onde não houverefúgios nem redutos", expli-ca. O colega e amigo PauloVanzolini aproveitou a desco-

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berta do amigo e a aplicou emseu campo de estudos, crian-do o conceito de "refúgios",ou seja, o contraponto do queteria acontecido aos animaissubmetidos a essas condições:para ele, a fauna teria se con-centrado nesses locais de flo-restas, os refúgios. A mesmaespécie teria ficado divididaem vários refúgios separadospor barreiras ecológicas, sub-metidas a diferentes condi-ções de sobrevivência. Cadauma teria sofrido especiação,fator que poderia explicar agrande biodiversidade daAmérica do Sul.

Mas o trabalho de AzizAb'Sáber não parou com essateoria importante. Foi diretor,entre 1969 e 1982, do extintoInstituto de Geografia, atuan-do também no Conselho deDefesa do Patrimônio Históri-co, Artístico, Arqueológico eTurístico do Estado de São

Paulo (Condephaat), onde ini-ciou o processo de tomba-mento da serra do Mar e foi ogrande responsável pelos tom-bamentos da serra do japí, emJundiaí, e da Pedra Grande,emAtibaia. O geógrafo foi pre-sidente da Sociedade Brasilei-ra para o Progresso da Ciência(SBPC) entre 1993 e 1995 eparticipou ativamente da ela-boração do Projeto Floram(Reflorestamento da Amazô-nia), que visava integrar de for-ma ecologicamente sustentá-vel a região ao resto do país,impedindo a destruição siste-mática do ecossistema emnome de ganhos de capital.Seus estudos sobre o Nordes-te e a Amazônia são referên-cias acadêmicas fundamen-tais, o que não impede o geó-grafo, mesmo octogenário, demanter a energia e a combati-vidade política de sempre.

Suas críticas à falta de pre-paro dos governantes brasilei-ros em lidar com o meio am-biente e a nossa geografia sãosempre ouvidas com respei-to, embora quase não sejamimplementadas pelos manda-tários da nação. "O Brasil dehoje precisa cuidar do Brasilde amanhã" ,costuma esbrave-jar, deixando claro a sua preo-cupação em pesquisar formasde manter o desenvolvimentodo país sem que isso impli-que a destruição de suas re-servas naturais. Mesmo a situa-ção das cidades está na suapauta de estudos, tendo cria-do projetos para a periferiadas metrópoles que ajudariama combater a influência dotráfico e da criminalidade so-bre as crianças dessas áreas."Quem não tem ética com ofuturo e capacidade de pen-sar o futuro em diferentes ní-veis e profundidades de tem-po deixa que a devastaçãoaconteça", avisa. •

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\IEDICI'\A.

CORAÇÕES,INVENTaS E RECURSOS

Adib Jatene tornou -sereferência como cirurgião,pesquisador e homem público

s 77 anos de idade o cirur-~o cardiovascular Adib jate-n segue fazendo o que gosta.Há ete anos ele deixou a ca-eira de professor titular da Fa-

culdà e de Medicina da USp,aposentando-se também docargo diretor científico doInstituto do Coração (InCor).Mas suas mãos continuam aconsertar corações pratica-mente todos os dias no Hospi-tal do Coração, em São Paulo,instituição privada fundadapor um grupo de senhoras daAssociação Sanatório Sírio em1976 e dirigida por jatene atéhoje. Em pelo menos um as-pecto a rotina do cirurgiãotornou-se mais amena que nopassado. Antigamente ele nãodava conta de atender a mul-tidão de pacientes que faziaquestão de operar-se com elee com mais ninguém. Hojeessa demanda já não é tão for-te - mas: e cirurgião enxergana mudança o coroamento deseu trabalho de professor. "A

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vida inteira eu lutei para quehouvesse equipes de excelên-cia espalhadas por todo o Bra-sil e hoje isso é uma realida-de. E muitas dessas equipestêm grandes cirurgiões queeu ajudei a formar", afirma.

Vinte e três anos atrás jate-ne já defendia essa tese comtodas as letras, quando o en-:tão presidente da República,o general João Figueiredo, so-freu um enfarte e resolveuoperar-se em Cleveland, nosEstados Unidos. "Na época, eudisse que qualquer pacientetinha direito de se operar on-de quisesse, mas o desafio doBrasil era permitir que qual-quer cidadão brasileiro tives-se acesso a equipes de cirur-giões de nível internacionalem todo o território do país.Afinal, a rapidez no socorromédico é essencial para o su-cesso do tratamento."

Embora jatene tenha feitocom as próprias mãos ou che-fiado cerca de 100 mil opera-

ções cardíacas, seus interes-ses nunca se limitaram ao bis-turi. Secretário da Saúde doestado de São Paulo no iníciodos anos 1980, ele criou, naépoca, um plano estratégicopara garantir um patamar mí-nimo de atendimento à popu-lação de baixa renda em to-das as regiões da cidade. Boaparte dos hospitais construí-dos na periferia paulistananos últimos anos é resultadodesse plano, ainda que a ca-rência de leitos persista.

Sobre sua mesa de traba-lho, no Hospital do Coração,há um mapa da capital paulis-ta, dividido em sub-regiões,cada qual pintada com umacor que revela o índice de lei-tos. Jatene segue no combatea esse flanco vulnerável. Ele li-dera o Programa de Saúde daFamília, coordenado pela Fun-dação Zerbini, responsável pe-la gestão do InCor, que cons-truiu módulos de saúde nosbairros de Sapopemba e Vila

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Nova Cachoeirinha. "Temosequipes de saúde da família egrupos de especialistas paradar cobertura a elas", diz.

No Instituto de Cardiolo-gia Dante Pazzanese, em SãoPaulo,]atene exercita outra desuas paixões, a bioengenharia,que ao longo de sua carreiraresultou no desenvolvimentode próteses, equipamentos ci-rúrgicos e de diagnósticospara suporte a operações car-díacas. Tais inventos substituí-ram similares importados epermitiram ampliar o acessodos pacientes brasileiros a tra-tamentos. A inovação mais re-cente em que tem partici-pação é um ventrículo cardía-co implantável eletromecâni-co destinado a pacientes nama de espera por um trans-plante cardíaco. E, como setais atividades não fossem su-ficientemente absorventes, ja-tene é membro de 32 socieda-des científicas, preside o Con-selho Deliberativo do Museu

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de Arte de São Paulo, o Masp,e supervisiona suas fazendasde gado no interior paulista.

Adib Domingos Jatene nas-ceu em Xapuri, no Acre, nodia 4 de junho de 1929. Per-deu o pai, um comerciante li-banês, vítima de febre amare-la, quando tinha apenas 2anos de idade. A adolescência"foi passada em Uberlândia,onde a mãe viúva instalou-se,abrindo um armarinho. Maistarde, trocou Minas Geraispor São Paulo para fazer o en-sino médio. E se graduou, aos23 anos, pela Faculdade deMedicina da USP.Lá tambémfaria sua pós-graduação, orien-tado pelo cirurgião Eurycli-des de Jesus Zerbini, comquem começou a trabalharem 1951. Em 1955 foi lecio-nar numa faculdade de medi-cina em Uberaba, mas voltoua São Paulo dois anos mais tar-de, como cirurgião do Hospi-tal das Clínicas de São Paulo edo Instituto Dante Pazzanese.

Nessa época organizou noHC um laboratório - no qualdesenvolveu o primeiro apa-relho coração-pulmão artifi-cial -, semente do futuro De-partamento de Bioengenha-ria. Em 1961 deixou o HC econcentrou-se no Dante Paz-zanese (que hoje é adminis-trado por uma fundação queleva o nome do cirurgião). Láorganizou a Oficina de Bioen-genharia, onde foram desen-volvidos instrumentos e apa-relhos, hoje produzidos in-dustrialmente e utilizados noBrasil e no exterior.

Em 1983 sucedeu a Eury-clides Zerbini na cadeira deprofessor titular de cirurgiacardiovascular da FMUSP eajudou a desenvolver o Insti-tuto do Coração, que se torna-ria uma referência internacio-nal de atendimento e pesqui-sa, inaugurando um modeloinovador de gestão hospitalar.Nele, o atendimento a parti-culares e convênios hospitala-

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res ajuda a financiar os leitosdestinados aos pacientes doSistema Único de Saúde. Osmédicos do InCor, em vez detrabalhar em vários lugares,são estimulados a atuar exclu-sivamente lá dentro, receben-do salários maiores. E aindapodem, em determinados pe-ríodos, atender pacientes par-ticulares em consultórios dohospital. "Até 1982, as verbaseram insuficientes para per-mitir um funcionamento ade-quado. Quando começamos acaptar os recursos, não só co-locamos o hospital para fun-cionar com capacidade plenacomo passamos a suplemen-tar o salário dos funcionáriose estimular fortemente apesquisa" , lembra ]atene.

Autor de cerca de 700 tra-balhos científicos, ]atene deucontribuições no campo dacirurgia de revascularizaçãodo miocárdio e da cirurgia decardiopatias congênitas. Des-creveu a técnica de correçãode transposição dos grandesvasos da base, conhecida hojecomo Operação de ]atene.Em meados dos anos 1980 foium dos principais artífices darealização de transplantes decoração, depois das experiên-cias feitas pelo professorEuryclides Zerbini, no finaldos anos 1960. Os transplan-tes tornaram-se viáveis como surgimento de drogas imu-nossupressoras que conse-guiram driblar o efeito da re-jeição de órgãos.

Nunca largou o bisturimas, na década de 1990, deuvazão a seus talentos de ho-mem público. Foi ministro daSaúde em dois governos. ComFernando Collor, ficou ape-nas oito meses no cargo. Em1995, com Fernando Henri-que Cardoso, tornou-se céle-bre na batalha pela criação doimposto da saúde, que se

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Em 1985, Jatene liderou a retomada dos transplantes de coração no Brasil. Issofoi possível graças ao advento de medicamentos contra a rejeição de órgãos

Jatene (esq.) com o cirurgião Euryclides Zerbini, o professor que, nos anos 1950,o ensinou a operar corações e o levou a rever os planos de voltar para o Acre

transformaria na atual CPMF.Repetia um mantra segundo oqual a saúde necessita maisdo que outras áreas de recur-sos vinculados do orçamento."Quando você constrói umahidrelétrica, é preciso esperarela ficar pronta para começara ter receita. Mas quando vo-cê entrega um hospital públi-co, gasta-se por ano com suamanutenção duas vezes o quefoi destinado à obra. Por issoé preciso ter dinheiro vincu-lado", diz ]atene. Deixou o go-

vemo 18 dias após a aprova-ção da CPMF,que no entantonão se vinculou apenas à saú-de, tampouco multiplicou osrecursos do setor como eledesejava. ]atene diz que nãoguarda mágoas. Frustraçãomesmo, ele brinca, só a denão ter voltado para o Acrepara trabalhar como médicono meio da selva, como plane-jara nos tempos de faculdade."Mas aí eu conheci o profes-sor Zerbini e acabei me des-viando do projeto original." •

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o PATRIOTADAS LE1RAS

o crítico FábioLucas ataca asubserviência amodelos estrangeiros

rndo acompanhou com in-cre ulidade os atentados de11 de setembro, nos EstadosUnidos, preferindo se conven-cer do seu caráter único, inu-sitado, barbaro, em vez de seconcentrar na banalidade dom ue ele representava. NoBrasil, um artigo de um críticoliterário mineiro, Fábio Lucas,revelou justamente essa face-ta: "O inimigo não está fora domundo. O inimigo não é umestranho, não é um ser bizar-ro ou desconhecido. Para co-nhecer o inimigo, basta co-nhecer o mundo e reconhe-cer o homem". Aquele não era.o momento de falar em solu-ções, mas o trabalho de todauma vida de Lucas trouxe oaprendizado do valor da lite-ratura nesses instantes vitais,capaz de fazer do crítico umvisionário mais preciso doque qualquer analista interna-cional: "A literatura é uma dasmúltiplas faces, através dasquais o homem tenta rompera terrível consciência da mor-te. Há uma esperança de so-breviver além da sua capaci-dade física. Assim, a obra lite-rária exerce uma função so-

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uma arma potente capaz demudar a triste realidade dopaís, atrasado e corrompidopelo capital e pelo descaso.Para Lucas, os novos escrito-res só olham para o seu umbi-go e só falam do próprio, inca-pazes de citar colegas ou de-fender pontos de vista sobreliteratura. A mídia é, em boaparte, responsável por esse es-tado de coisas, para além dasidiossincrasias pessoais.

"Está havendo uma inver-são: em vez de o jornalismo irbuscar na universidade assuas informações, muitos se-tores da pós-graduação é queestão se alimentando da infor-mação jornalística", observa.Lucas lembra o caso das listas

Mineiro de Esmeralda, Lucas defendeu Jorge Amado ao mostrarque o baiano foi um dos poucos a furar o bloqueio internacional

cial, porque traduz a conti-nuidade do espírito huma-no", analisa Lucas.

Com ele a boutade rodri-guiana, de que o mineiro só ésolidário no câncer, não fun-ciona. Uma de suas maiorespreocupações como crítico li-terário é justamente o narci-sismo, o isolamento nocivo àconfiguração do gênero hu-mano, que teria tomado contado cenário das letras. Lucas la-menta o fim das escolas literá-rias do passado, o grupo de es-critores que se uniam por afi-nidades eletivas, por projetosliterários comuns, por uma vi-são de Brasil semelhante e, emmuitos casos, pelo desejo defazer com que um livro fosse

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de livros escolhidos pelos ves-tibulares, em que o que se vêé uma repetição das obras jávitoriosas nos formadores deopinião literária. Também amídia se encarregaria de fim-cionar como caixa de resso-nância da tendência da litera-tura de se deixar influenciarpela campeã de vendas da in-dústria cultural: a música po-pular. "Quando se fala em poe-sia, por exemplo, buscam-seprincipalmente os letristasque, no grande mercado lite-rário brasileiro, tomaram o lu-gar dos escritores", avisa. FábioLucas provocou uma saudá-vel polêmica pela coragem deescrever o artigo "A angústiada dependência", em que ata-cava a subserviência a mode-los estrangeiros, que impediriao Brasil de formar um cânonenacional, incluindo, na sua críti-ca,um ataque ao culto a Borges.

rr e jejunos de nossa cul-tura, c()~o Borges e seu ami-go Bioy Casares, recebem im-

sado apoio da mídia, quelhe oferece todos os canais,ge Imeã te interditos aos es-critore rasileiros" , escreveu.

~~)~ia ízam-se os alunos emnotícias de jornal bafejadaspela aura de modernizaçãoou de 'pós-modernidade'. Rei-tera-se que as letras perderama sua aura em nosso tempo eque o escritor, na era da mas-sificação, sofre um processode hibernação. Revistas e jor-nais de larga circulação pare-cem sucursais de equivalen-tes norte-americanos. Pratica-mente excluíram os autoresbrasileiros dos destaques doscadernos culturais", afirma.Assim, Lucas defende umanova missão para o escritor:reconquistar o seu lugar nogrande curso da cultura, jáque a formação de um câno-ne brasileiro dependerá da

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Fábio Lucas é autorde mais de 40 obras,entre críticas,ensaísticas e romance

disposição de eles adotaremum processo brasileiro de lite-ratura."Isso significa: primeiro,conhecimento do nosso pas-sado literário, pois é na conti-nuidade que o cânone se cris-taliza; segundo, prática de in-tercâmbio cultural com ou-tras nações, de modo que asagremiações externas sejamenriquecimento, e não servi-dão; terceiro, despojamentoda consciência ingênua, quese deslumbra com a presençado estrangeiro, a ponto deatribuir qualidade àquilo quenão passa de diferença."

Esse pensamento vem sem-pre acompanhado pela ação.Lucas teve a "ousadia" de de-fender Jorge Amado, hoje exe-crado como produto exóticopor uma parcela da crítica, ao

mostrar que (na contramãode nossa visão colonialistaque vê na imitação de mode-los importados uma forma deproduzir boa literatura) o es-critor baiano foi um dos pou-cos a furar o bloqueio inter-nacional aos nossos escrito-res, levando ao mundo umestilo de contar vivências bra-sileiras. Efetivamente, este mi-neiro não é solidário só nocâncer. Nascido em 1931, emEsmeralda, foi um leitor pre-coce, graças ao orgulho que afamília votava a quem se dedi-cava às letras. A opção pelacrítica, conta, veio por inibi-ção de criar. "Apreciava maiscomentar a obra dos outros."Mas criou coragem e, em1996, exibiu sua veia criativacom o romance A mais bela

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história do mundo, nada me-nos do que um livro sobre oamor. O pai o levou a fazer di-reito e, em 1953, ele se for-mou pela Faculdade de Direi-to da Universidade Federalde Minas Gerais. Inusitada-mente, em 1963, o futurogrande crítico doutorou-se,na UFMG,em economia e his-tória das doutrinas econômi-cas pela Faculdade de Filoso-fia e Ciências Humanas. "Erao lado racional da minha ati-vidade intelectual, mas nãodeixei a literatura."

É verdade. Em Belo Hori-zonte, escreveu sobre livrospara vários jornais, aprenden-do muito nesse exercício crí-tico a ponto de, mais tarde,ser convidado por Otto MariaCarpeaux para ser seu suces-

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sor no rodapé literário do jor-nal Correio da Manhã. Trans-feriu-se para São Paulo em1966. Quem interrompeú suapaixão literária foi o golpe mi-litar de 1964. Em 1969, dan-do cursos na Universidade deBrasília, teve os direitos demagistério cassados. Exilou-see optou de vez pela literatura,já que, lembra, era mais fácildar aulas dessa área no exte-rior. Ajudou nisso a experiên-cia adquirida na especializa-ção feita na UFMG em teorialiterária. Foi para os EstadosUnidos. No exterior, lecionouem seis universidades norte-americanas e uma portugue-sa. No Brasil, deu aula em cin-co universidades, dirigiu oInstituto Nacional do Livro,em Brasília, a Faculdade Pau-

listana de Letras e a UniãoBrasileira de Escritores de SãoPaulo. Desde 1960 é membroda Academia Mineira de Le-tras e, no ano em que chegoua São Paulo, foi eleito para aAcademia Paulista de Letras. Éautor de mais de 40 obras, crí-ticas e ensaísticas.

Entre essas: Vanguarda,história e ideologia da lite-ratura (1985), O caráter so-cial da ficção no Brasil(1987),Do barro ao moderno(1989), Mineiranças (1990),Fontes literárias portugue-sas (1991), Luzes e trevas(1998), Murilo Mendes, poe-ta e prosador (2001), Litera-tura e comunicação na erada eletrônica (2001), Expres-sões da identidade brasileira(2002). Sobre a questão da in-ternet, tem grandes ressalvas,vendo a tecnologia de infor-mação como um instrumen-to, e não como uma fínalida-de.Aborda no texto de 2001 aquestão da "estética da ilusão"ou o abandono do sujeito emdetrimento do objeto. ParaLucas, está em voga um prin-cípio de estetização da vida,da ideologia, do êxito semnenhuma motivação filosófí-ca, política ou artística. O re-sultado é essa "estética da ilu-são", em que se percebe oembelezamento da depen-dência e da injustiça.

"Os cadernos culturais setornaram ancilares da indús-tria do espetáculo, preferindoveicular o press release, bara-to e comercializador da obra aestabelecer um reduto da crí-tica. Toda vez que, por econo-mia, elimina-se da mídia umacoluna de crítica literária, es-tá-se fazendo para a saúde doespírito o mesmo que fecharpostos de atendimento médi-co, para a saúde pública." Efe-tivamente, conhecer o inimi-go é reconhecer o homem. •

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-MELHORES FOTOS

nos e R$ 80 mil. Em segundolugar ficou Andreas Heiniger,também daAlmap BBDO,como trabalho Gol. Sempre fiel avocê ... e ganhou R$ 40 mil. °terceiro lugar e R$ 20 mil fo-ram para Gustavo Lacerda, daagência Lew Lara, com a cam-panha Lonas Alpargatas: o su-perpoder do caminhoneiro. •

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1° lugar:Existem chancesde cura ..., deMaurício Nahas

2° lugar:Gol. Semprefiel a você..., deAndreas Heiniger

3° lugar:Lonas Alpargatas:o superpoder docaminhoneiro, deGustavo Lacerda

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INSTITUIÇÕES PARCEIRAS DA FCW

#tJAPESP

C A P E 5

Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de São Paulo - FAPESPLigada à Secretaria de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, éuma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica do país. Des-de 1962 a FAPESP concede auxílio à pesquisa e bolsas em todas as áreas do conheci-mento, financiando outras atividades de apoio à investigação, ao intercâmbio e à divul-gação da ciência e tecnologia em São Paulo.

Coordenação de Aperfeiçoamentode Pessoal de Nível Superior - Capes

Fundação vinculada ao Ministério da Educação, tem como missão promover o desen-volvimento da pós-graduação nacional e a formação de pessoal de alto nível, no Brasile no exterior. Subsidia a formação de recursos humanos altamente qualificados para adecência de grau superior, a pesquisa e o atendimento da demanda dos setores públi-co e privado.

8CNPq~1iM:itItItIII.~~.T~

Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico - CNPq

Fundação vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCn, para apoio à pesqui-sa brasileira, que contribui diretamente para a formação de pesquisadores (mestres,doutores e especialistas em várias áreas do conhecimento). Desde sua criação, é umadas mais sólidas estruturas públicas de apoio à ciência, tecnologia e inovação dos paí-ses em desenvolvimento.

SOCIEDADE BRASILEIRA PARA oPROGRESSO DA CIÊNCIA

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPCFundada há mais de 50 anos, é uma entidade civil, sem fins lucrativos, voltada principal-mente para a defesa do avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educa-cional e cultural do Brasil.

Academia Brasileira de Ciências - ABC--''ACADEMIA~~BRASJLEIRA0E CIENCIAS Sociedade civil sem fins lucrativos, fundada em 3 de maio de 1916, tem por objetivo

contribuir para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, da educação e do bem-estarsocial do país. Atualmente reúne seus membros em dez áreas: Ciências Matemáticas, Ciên-cias Físicas, Ciências Químicas, Ciências da Terra, Ciências Biológicas, Ciências Biomédi-cas, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências da Engenharia e Ciências Humanas.

Academia Brasileira de Letras - ABL

Fundada em 20 de julho de 1897 por Machado de Assis, com sede no Rio de Janeiro,tem por fim a cultura da língua nacional. É composta por 40 membros efetivos e per-pétuos e 20 membros correspondentes estrangeiros.

Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial - CTA

Criado na década de 1950, é uma organização do Comando da Aeronáutica que temcomo missão o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronáuticas, espa-ciais e de defesa, nos setores da ciência e da tecnologia.

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CRO OGRAMA DA PREMIAÇÃO 2006

Prazo para recebimentodas indicações pela FCW

28 de fevereiro de 2007

Preparação dos dossiêsdos indicados

Fevereiro a março de 2007

Julgamento e escolha dos premiados Março e abril de 2007

Divulgação dos trabalhos Abril de 2007

Premiação 4 de junho de 2007

FUNDAÇÃO CONRADO WESSELwww.fcw.org.br