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Prêmio FCW 2014

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Prêmio Fundação Conrado Wessel 2014

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Page 1: Prêmio FCW 2014

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Os vencedores do Prêmio Conrado Wessel

de Arte, Ciência e Cultura 2014

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DIRETORIA EXECUTIVA

diretor-presidente Dr. Américo Fialdini Júnior

diretor vice-presidente Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese

su perintendente

José M. Caricati

coordenador científico Dr. Erney Plessmann de Camargo

coordenador cultu r al

Dr. Carlos Vogt

su pervisor administr ativo

José Álvaro Fioravanti

assistente de diretoria Sérgio Kosuge

CONSELHO CURADOR

presidente Dr. Jorge Márcio Arantes Cardoso

membros Dr. Antonio Augusto Orcesi da Costa

Dr. Erli dos Reis Rodrigues

Dr. Nelson Miyoshi Tanaka

equipe administr ativa

Brenda Krishina

Carla Guimarães

Érika de Souza Takaki

Márcia Lopes

Maria Francinete de Sousa

Samuel Veríssimo

Tania de Oliveira

Vanderlei Souza de Lima

coordenação desta edição

José M. Caricati

FUNDAÇÃO CONRADO WESSEL

Rua Groenlândia, 1.120

Jardim América - CEP 01434-100

São Paulo - SP – Brasil

tel./fax +55 11 3237-2590 / 3150-4550

www.fcw.org.br

Page 3: Prêmio FCW 2014

Índice4 Fundação Conrado Wessel colabora com outras instituições que apoiam a pesquisa científica

8Categoria Arte foi a que mais sofreu modificações até o formato atual

14A física, a educação e o meio ambiente do Brasil se beneficiaram do conhecimento e das habilidades de José Goldemberg  

20Protásio Lemos da Luz, cardiologista do InCor, foi um dos pioneiros da transferência de conhecimento da área básica para a prática clínica

26Sempre inquieta, a atriz Fernanda Montenegro segue atuando na TV, em filmes e no teatro

32Veja os ensaios fotográficos dos ganhadores da categoria Arte

48Conheça os parceiros da Fundação Conrado Wessel

49Saiba quem escolheu os ganhadores da edição 2014 do prêmio FCW

50Cronograma da premiação 2015

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Fundação Conrado Wessel colabora com outras instituições que apoiam a pesquisa científica

Muito além dos 100

Prêmios FCW

m 1988, Ubaldo Augusto Conrado Wessel gravou em testamento seu desejo de legar recursos para o incentivo à arte, à ciência e à cultura. Para tanto, o empresário e fo-tógrafo amador cogitava que poderiam ser construídos alguns prédios residenciais em terrenos deixados por ele à rua Veiga Filho e à avenida Higienópolis, ambas no bairro de Higienópolis, em São Paulo. O objetivo era direcionar a renda a ser obtida dos fu-turos edifícios para a concessão de prêmios nessas três áreas.

O plano de Wessel (1891-1993) surtiu o efeito desejado, embora ele talvez não pu-desse imaginar o quão seria bem-sucedido. Naquela região da zona oeste de São Paulo foi erguido o shopping Pátio Higienópolis, hoje um empreendimento de ponta no mer-a

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conrado Wessel gostava de cães e teve vários durante sua longa vida. esta foto é da década de 1940

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cado paulistano. Foi por meio dele e de ou-tros imóveis que a administração da Funda-ção Conrado Wessel (FCW), instituída em 1994, transformou e triplicou o patrimônio recebido e passou a oferecer a cada ano prê-mios em dinheiro nas categorias Ciência, Medicina, Cultura e Arte no Brasil a partir de 2002. Em 2015 é celebrado o 13º evento de outorga do Prêmio FCW.

E ste ano, os seis prêmios da fundação farão a lista atingir 100 agraciados.

No total, são 43 na categoria Arte, 30 em Ciência, 12 em Medicina e 15 em Cultura. O número é um indicador de que a FCW é a entidade particular que mais laureia perso-nalidades desses setores no Brasil. Mas não é só. Há os convênios efetuados em 2006 com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coor-denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Com o CNPq, a FCW patrocina o prêmio Almirante Álvaro Alberto (AAA); com a Capes, são dadas três bolsas anuais de pós-doutorado aos ganhadores das Grandes Teses Capes. Por meio dessas iniciativas, a fundação pode ar-rolar, entre seus agraciados, outros nove pes-

quisadores de ponta, ganhadores do prêmio AAA em Física, Química, Medicina, Sociolo-gia, Economia, Engenharia e Letras, e mais 27 doutores premiados com a bolsa da Capes.

Para entender as parcerias entre as duas instituições federais de apoio à pesquisa e ao ensino e a FCW, é preciso lembrar como elas surgiram. O CNPq foi criado em 1951 por um grupo de cientistas liderados pelo almirante Álvaro Alberto (1889-1976), ele mesmo pro-fessor do Departamento de Físico-Química da Escola Naval do Rio de Janeiro, pesqui-sador na área de explosivos e de energia nu-clear e primeiro presidente da instituição. O prêmio que leva seu nome foi criado apenas 30 anos depois, em 1981. A escolha anual do ganhador é feita por uma comissão designa-da pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) da qual a FCW, a Marinha e o próprio CNPq fazem parte.

Em 2000, a premiação foi temporaria-mente suspensa. Voltou a ser atribuída em 2006, quando a FCW e o CNPq celebraram convênio para reeditá-la. A nova série che-ga em 2015 à sua nona edição tendo lau-reado Fernando Galembeck (2006), Sérgio Henrique Ferreira (2007), José Murilo de Carvalho (2008), Luiz Davidovich (2009), Iván Izquierdo (2010), Maria da Conceição

Testamento de conrado Wessel, de 1988: instruções para destinar prêmios em favor da cultura, ciência e artes

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valores em dinheiroTavares (2011), Edgar Dutra Zanotto (2012), Walter Colli (2013) e Magda Becker Soares (em 2014, premiada este ano).

Após o convênio com o CNPq, em 2003 foi celebrado outro, com a Capes, para apoiar o Prêmio FCW. Em 2006, por idealização de Jorge Guimarães, então presidente da insti-tuição federal, foram criados o Prêmio Capes de Tese e o Grandes Teses Capes. A FCW passou a patrocinar este último, um extraor-dinário trabalho de incentivo à pesquisa no Brasil. A Capes analisa anualmente um total aproximado de 9 mil teses de doutorado do ano anterior, escolhe as melhores de cada subárea do conhecimento e concede a seus autores recém-doutorados um pós-douto-rado no país. Ao mesmo tempo, reúne esse conjunto em três grandes áreas do conhe-cimento e escolhe as três melhores, que são as Grandes Teses. A FCW é parceira nessa premiação: a Capes concede uma bolsa de pós-doutorado no exterior e a fundação dá uma bolsa auxiliar de US$ 15 mil para cada premiado. Até agora, a soma contabilizada atinge US$ 405 mil, distribuídos a 27 ganha-dores. Em 2015, a FCW destinará mais de R$ 1,5 milhão apenas em prêmios para pesqui-sadores (ver tabela ao lado).

O utro patrocínio ligado à pesqui-sa vai para as revistas científicas

Anais da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Brasileira de Ciências, JATM/Journal of Aerospace Technology and Mana-gement, do Departamento de Ciência e Tec-nologia Aeroespacial (vinculado ao Comando da Aeronáutica), Pesquisa Naval (Marinha) e esta edição com os ganhadores do Prêmio FCW, que circula com Pesquisa FAPESP.

Em seu testamento, Conrado Wessel não se preocupou apenas com arte, ciência e cul-tura. Pensou também em filantropia e defi-niu doações anuais a serem repassadas pela FCW a algumas entidades escolhidas por ele: Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Fundação Antonio Prudente, Serviço de Promoção Social do Exército da Salvação, Aldeias Infantis SOS do Brasil e Escola Benjamin Constant.

Além dessas, outras 27 organizações que atendem crianças carentes recebem dinhei-ro. Há o apoio relacionado à educação: como o Núcleo Fundações, por meio do Projeto de Inserção Digital, que já formou mais de

2.400 estudantes, e a Fundação Escola Aber-ta do Terceiro Setor, entidade com milhares de alunos formados via educação a distância com cursos para monitores administrati-vos para o terceiro setor. Também merece referência a parceria entre a FCW e o Mi-nistério Público, que desde 2005 garante a distribuição de grandes cestas natalinas a famílias com poucos recursos.

As ações assistenciais e patrocínio às revistas científicas e à educação ocorrem durante todo o ano. Já o Prêmio FCW é en-tregue em uma concorrida cerimônia, tradi-cionalmente realizada na Sala São Paulo, na capital paulista, em junho. Esta edição traz os perfis dos vencedores de 2014, premiados este ano: José Goldemberg, ganhador na ca-tegoria Ciência (página 14), Protásio Lemos da Luz, em Medicina (página 20), e Fernanda Montenegro, em Cultura (página 26), além dos três ensaios fotográficos premiados em Arte (página 32). E uma galeria de todos os laureados de anos anteriores (página 10). n

Distribuição geral

Quanto a FCW destina todos os anos a cada prêmio

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Prêmio FCW

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Número e porcentagem de ganhadores de 2002 a 2014

n Prêmio FcW de arte 43

n Prêmio FcW de ciência 30

n Prêmio FcW de medicina 12

n Prêmio FcW de cultura 15

n Prêmio almirante Álvaro alberto 9

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Categoria Arte foi a que mais sofreu modificações até o formato atual

Mudar para melhorar

e tempos em tempos, a Fundação Conrado Wessel modifica as normas do Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura para aprimorar sua qualidade. Foi assim com a categoria Ciência, que era dividida em quatro subcategorias – Ciência Geral e três Ciências Aplicadas – no início da série de grandes no-mes, em 2003, e hoje se limita a uma. Em Cultura, apenas a literatura foi contemplada nas quatro primeiras edições e só depois a música, a dança e as artes cênicas entraram na mira dos jurados. A mudança mais radical ocorreu na categoria Arte, que leva em conta os trabalhos fotográficos.

Conrado Wessel era fotógrafo profissional, publicitá-rio, cinegrafista e foi o industrial pioneiro da fotografia na América Latina. Nascido em Buenos Aires, mas radicado em São Paulo desde o primeiro ano de vida, o empresário desenvolveu e patenteou uma nova fórmula para papel fo-tográfico no começo do século passado. Na década de 1920 fundou uma empresa para fabricar o papel, que em 1930 começou a produzir para a Kodak o papel Wessel, 100% de

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sua produção. O papel Kodak-Wessel passou, desde en-tão, a ser utilizado em todo o mundo e a partir de 1954 perdeu o nome Wessel para se tornar apenas Kodak. Quando criou o Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura no início deste século, a fundação decidiu homenagear seu instituidor ao determinar que a categoria Arte pre-miasse fotógrafos.

Nos primeiros anos do prêmio apenas as fotos feitas para campanhas publicitárias eram contempladas. Na sua primeira edição, o período de produção dos traba-lhos abrangia de janeiro de 2000 a dezembro de 2002. Do segundo em diante a produção dos trabalhos se restrin-giu ao ano da edição do prêmio. O Prêmio FCW de Arte de 2003, por exemplo, analisou apenas as fotos daquele ano. A partir de 2006, a direção da fundação conside-rou que também os ensaios fotográficos, jornalísticos ou não, poderiam se inscrever para concorrer. A categoria foi dividida em duas: Fotografia Publicitária e Ensaios Fotográficos Temáticos.

Nova modificação ocorreu em 2008. Premiou-se Fo-tografia Publicitária (um ganhador), Ensaio Fotográfico Publicado (primeiro e segundo lugar) e Ensaio Fotográ-fico Inédito (um ganhador). A gradativa alteração no enfoque do prêmio terminou por favorecer os ensaios. A partir da edição de 2010, a FCW passou a premiar apenas os três primeiros lugares de Ensaio Fotográfico, sem a divisão de Inédito e Publicado. O crescente interesse e número de inscrições desse tipo de trabalho justificam a decisão. Nos dois primeiros anos do prêmio menos de 100 fotógrafos se inscreveram. Em 2014, houve 801 ensaios enviados por igual número de fotógrafos pro-fissionais de todo o país.

Quem julga os trabalhos são outros fotógrafos e publi-citários experientes com atuação no mercado e na acade-mia. A comissão julgadora tem seus integrantes vincula-dos à Associação dos Profissionais de Propaganda, revista About, Biblioteca Nacional, Fundação Armando Álvares Penteado, Fotosite, Museu da Imagem e do Som e Uni-versidade de São Paulo (ver o júri de Arte na página 49). Os três ganhadores em Arte dividem o prêmio de R$ 200 mil.

O valor do prêmio para Ciência, Medicina e Cultura é de R$ 300 mil para cada um, além de uma escultura do artista plástico Vlavianos e um certificado, também recebido pelos fotógrafos. No caso dessas três categorias, é importante observar que os laureados são reconheci-dos por sua contribuição científica, médica ou artística, mas também pelos benefícios à sociedade (ver perfis a partir da página 14). Eles são escolhidos por especialistas indicados pelas 10 instituições parceiras da FCW, entre elas a FAPESP e a Academia Brasileira de Ciências (ver relação completa na página 48). Nas páginas seguintes, há a galeria de todas as personalidades e instituições con-templadas até 2014. Tradicionalmente, no fim do ano, a fundação lança um livro com todas as fotos dos três en-saios premiados e dos 12 finalistas. n

CiênCia

Luiz Hildebrando *Parasitologista

MeDiCina

José Rodrigues CouraParasitologista

Cultura

Niède GuidonArqueóloga

2013* Laureados falecidos

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MeDiCina

Ricardo PasquiniHematologista

2009

CiênCia Geral

Jerson Lima da SilvaBioquímico

CiênCia apliCaDa

João Gomes de OliveiraEngenheiro mecânico

Cultura

Antonio NóbregaMúsico e dançarino

CiênCia

Jorge KalilImunologista

MeDiCina

Miguel SrougiUrologista

Cultura

Paulo Vanzolini *Compositor e

Zoólogo

2011

Cultura

Nelson Pereira dos SantosCineasta

CiênCia Geral

Jairton DupontQuímico

MeDiCina

Angelita Habr-GamaColoproctologista

2010

CiênCia

Sérgio RezendeFísico

MeDiCina

Marcos MoraesOncologista

Cultura

João Carlos MartinsMaestro

2012

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Cultura

Ruth RochaEscritora

MeDiCina

Ricardo Brentani *Oncologista

CiênCia apliCaDa ao CaMpo

Magno RamalhoGeneticista de plantas

CiênCia Geral

Sérgio MascarenhasFísico

CiênCia apliCaDa ao Meio aMbiente

Carlos NobreClimatologista

2006

CiênCia apliCaDa à ÁGua

Aldo Rebouças *Geólogo

CiênCia apliCaDa ao Meio aMbiente

Aziz Ab’Sáber *Geógrafo

CiênCia apliCaDa à ÁGua

José Galizia tundisiBiólogo

CiênCia Geral

Wanderley de SouzaParasitologista

2005

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CiênCia Geral

iván izquierdoNeurocientista

Cultura

Affonso ávila *Poeta e ensaísta

2007

MeDiCina

ivo PitanguyCirurgião plástico

CiênCia apliCaDa

Hisako HigashiBioquímica

CiênCia Geral

Leopoldo de Meis*Bioquímico

Cultura

Ariano Suassuna*Dramaturgo

2008

MeDiCina

fulvio PileggiCardiologista

CiênCia apliCaDa

ernesto Paterniani *Geneticista de plantas

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CiênCia apliCaDa ao CaMpo

Luiz C. fazuoliAgrônomo

Cultura

fábio LucasCrítico e ensaísta

MeDiCina

Adib Jatene *Cardiologista

CiênCia apliCaDa ao CaMpo

instituto Agronômico de Campinas

Cultura

ferreira GullarPoeta

MeDiCina

Cesar VictoraEpidemiologista

MeDiCina

Maria inês SchmidtEpidemiologista

Cultura

Lya LuftEscritora

CiênCia apliCaDa ao CaMpo

Jairo VieiraAgrônomo

CiênCia Geral

Carlos Henrique de Brito CruzFísico

CiênCia apliCaDa ao Mar

Dieter MueheGeógrafo

CiênCia apliCaDa ao Meio aMbiente

Philip fearnsideBiólogo

2003

CiênCia Geral

isaias RawBioquímico

CiênCia apliCaDa à ÁGua

Alberto franco *Oceanógrafo

CiênCia apliCaDa ao Meio aMbiente

Museu Paraense emílio Goeldi

2004

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A física, a educação e o meio ambiente do Brasil se beneficiaram do conhecimento e das habilidades de José Goldemberg  

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físico José Goldemberg, de 87 anos, divide a sua trajetória científica em duas fases. A primeira começou em 1948 quando, ainda estudante de graduação na Universidade de São Paulo (USP), se tornou bolsista do profes-sor Marcello Damy de Souza Santos, a quem ajudou na instalação do Betatron, primeiro acelerador de partículas do Brasil. Essa etapa durou até o fim dos anos 1970, época em que Goldemberg presidiu a Sociedade Brasileira de Física (SBF) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ao longo desse período, Goldemberg produziu contribuições originais em temas da física nuclear, como os efeitos do bombardeio de radiação eletromag-nética sobre o núcleo atômico, e se tornou uma das vozes da sociedade civil que criticavam a política nuclear do governo militar.

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Goldemberg com o chanceler alemão Helmut Kohl, durante o governo collor (alto à esq.), com o ex-secretário de Estado dos EUa, Henry Kissinger (ao lado), e ao assumir a reitoria da UsP, em 1986

Um ponto de inflexão na carreira foi um artigo publicado na revista Science que quan-tificou as vantagens ambientais do etanol de cana brasileiro. Nesse trabalho, de 1978, Gol-demberg descreveu cálculos mostrando que, para cada litro de etanol produzido, gastava--se apenas um décimo de litro de combus-tível fóssil. O desempenho era superior ao do etanol norte-americano, obtido a partir do milho, não tão eficiente quanto a cana. “Veja só que ironia: o artigo da Science me dá reconhecimento até hoje. Mas o que fiz ali foi uma conta de aritmética, algo muito mais simples do que as equações de mecâ-nica quântica com que trabalhava na minha vida de físico nuclear”, afirma. Depois do artigo da Science, sua produção científica foi tomando um novo rumo e Goldemberg tornou-se uma referência internacional em energias renováveis.

O reconhecimento se acentuou nos úl-timos anos. Em dezembro de 2007, a revis-ta Time incluiu seu nome numa lista de 13 “heróis mundiais do meio ambiente”, clas-sificando de profético o artigo da Science. No ano seguinte, a Asahi Glass Foundation, do Japão, concedeu ao professor o Prêmio Planeta Azul, com direito a 50 milhões de ienes (o equivalente a R$ 800 mil), por “ter dado grandes contribuições na formulação e implementação de diversas políticas asso-ciadas a melhoras no uso e na conservação de energia”, com destaque para o conceito proposto por ele segundo o qual, para se desenvolver, os países pobres não precisam repetir paradigmas tecnológicos trilhados no passado pelos ricos, mas podem pular etapas. Em janeiro de 2013, o pesquisador estava nos Emirados Árabes recebendo o Prêmio Zayed de Energia do Futuro na ca-

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do governo militar de importar tecnologia nuclear sem transferência de conhecimento. Defendia que os físicos brasileiros tinham um papel a desempenhar na política nu-clear do país. Em 1972, escreveu artigos na imprensa bastante críticos à compra de rea-tores nucleares dos Estados Unidos. Apesar da censura na época, nunca teve problema em publicá-los. “Minha militância não era política, mas em defesa dos cientistas”, diz. “Também considerava que havia um grande potencial hidrelétrico a ser desenvolvido e que o investimento em usinas nucleares podia comprometer essa estratégia”, diz.

José Goldemberg nasceu na cidade gaú-cha de Santo Ângelo em 1928. Era o caçula de quatro filhos de um casal de judeus russos que migrou para o Brasil no início do século passado para trabalhar na agricultura. Per-deu a mãe aos 5 anos e foi criado pelo pai e as três irmãs mais velhas. Em 1935, a família transferiu-se para Porto Alegre, onde Gol-demberg fez sua formação no ensino funda-mental e médio no Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Ali, a vocação para as ciências exatas ficou clara. Com o insucesso do pai como comerciante e as dificuldades que a família enfrentava, o jovem estudante era pressionado a canalizar seus talentos para a engenharia, profissão associada à prospe-ridade. Mas ele trilhou outro caminho. Em 1946, foi para São Paulo fazer vestibular para

tegoria Life Achievement, concedido a per-sonalidades que se destacam no campo de energia renovável. “Foi curioso receber um prêmio num país cuja riqueza se baseia no petróleo. No meu discurso, eu disse que o sheik Zayed, que instituiu o prêmio, era um homem sábio e estava mesmo olhando para o futuro”, diz Goldemberg, que desde 2006 é copresidente do Global Energy Assessment, projeto sediado em Viena que envolve cerca de uma centena de pesquisadores de vários países, analisa a situação da produção e uso da energia e faz projeções para o futuro.

S eu trabalho pioneiro sobre a susten-tabilidade do etanol teve impacto

também no Brasil porque deu credibilidade científica ao Programa Nacional do Álcool, criado pelo governo militar nos anos 1970. A inspiração do Proálcool não era ambiental. O objetivo era diminuir o impacto na balança de pagamentos das importações de petróleo e dar uma opção para as usinas de açúcar, commodity obtida da cana cujos preços es-tavam em queda. “O etanol é energia solar liquefeita. O sol bate, a cana cresce e do seu caldo se produz etanol, combustível que é renovável e pouco contribui para o efeito estufa”, explica. As opiniões de Goldemberg reverberavam naquela época. No início dos anos 1970, opôs-se abertamente à estratégia

na conferência Rio -92, com o então vice-presidente itamar Franco

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o curso de química da USP, depois de ouvir que lá havia professores muito bons e por acreditar que na química poderia estudar o assunto que mais lhe interessava, a estrutu-ra da matéria. Entrou na USP, mas não gos-tou do curso, pois os professores de origem alemã adotavam uma abordagem defasada. Prestou novo vestibular no ano seguinte. No curso de física, teve aulas, em 1947, com o ítalo-ucraniano Gleb Wataghin, formador de uma geração de físicos brasileiros.

Para se sustentar, foi procurar empre-go. Primeiro, trabalhou como datilógrafo de um cartório. “Foi uma das experiências interessantes que tive na vida, porque me tornei um excelente datilógrafo”, contou Goldemberg em depoimento concedido em 1976 ao sociólogo Simon Schwartzman. Em 1950, foi contratado pela USP para trabalhar com o Betatron e casou-se. Dois anos depois, aceitou um convite para passar uma tempo-rada na Universidade de Saskatchewan, no Canadá, que tinha um acelerador idêntico ao Betatron. Lá, realizou experiências que permitiram uma análise sistemática de rea-ções fotonucleares. “Constatamos que ocorre uma ressonância gigante quando a radiação eletromagnética bate no núcleo atômico e

faz oscilar os prótons contra os nêutrons”, lembra. Foi então para a Universidade de Illinois, onde trabalhou com Donald Kerst, inventor do Betatron. Voltou ao Brasil, em 1954, e obteve o grau de doutor pela USP e, em seguida, a livre-docência. Em 1962, re-gressou aos Estados Unidos para trabalhar na Universidade Stanford com um acelerador linear, desenvolvendo uma técnica pioneira de medir momentos magnéticos dos núcleos.

E m 1964, tornou-se professor visi-tante da Universidade de Paris, mas

um drama pessoal abreviou a temporada. Ele perdeu a mulher, vítima de câncer, e deci-diu retornar ao Brasil com os três filhos. Na época, ganhou de presente da Universidade Stanford, como doação, o acelerador com o qual havia trabalhado nos Estados Unidos. O instrumento, no valor de cerca de US$ 1 milhão na época, ajudou a modernizar as ins-talações de física nuclear da USP. Em 1968, fez concurso na Escola Politécnica, da qual se tornou catedrático de Física Experimen-tal. Com a reforma universitária, em 1970, foi para o Instituto de Física, que reuniu todos os docentes da área antes espalhados pela universidade. Logo se tornaria diretor do instituto, cargo no qual permaneceu até 1978. “O professor Goldemberg teve um papel im-portante para o crescimento do Instituto de Física”, diz o físico e professor da USP Ernst Hamburger, que também destaca o trabalho de Goldemberg na criação da Sociedade Bra-sileira de Física, cuja presidência assumiu em 1975. “Em 1969, houve as cassações, que atingiram entre outros o físico José Leite Lopes, então presidente da SBF.” Goldem-berg respondeu pelo cargo interinamente e organizou novas eleições, mas, naquele mo-mento, não quis se candidatar. “Ele se retraiu um pouco. Não sabíamos onde as cassações iam parar”, lembra Hamburger.

Seguiu-se seu engajamento como presi-dente da SBPC, entre 1979 e 1981, momento em que se ensaiava a transição para a demo-cracia. Goldemberg era vice-presidente da entidade, mas foi alçado ao comando com a renúncia de José Reis. Encerrado o ciclo autoritário, Goldemberg assumiu diversos cargos públicos. Foi presidente da Compa-nhia Energética de São Paulo (1983-1985) e reitor da Universidade de São Paulo (1986-1990). Nessa época, acentuou seu interesse

Em 1990, com o presidente collor, enterrando simbolicamente o túnel para testes nucleares na serra do cachimbo (mt); e, em 1994, homenageado pela Universidade de tel aviv

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por questões ambientais, escrevendo sobre temas como as mudanças climáticas, a bio-diversidade e o buraco na camada de ozô-nio. “Ele levou esses temas extremamente a sério. Na USP, inspirou a criação de um programa de ciência ambiental, o Procam”, observa o astrogeofísico Luiz Gylvan Meira Filho, ex-presidente da Agência Espacial Brasileira e pesquisador visitante do Insti-tuto de Estudos Avançados da USP. Gylvan, que fez carreira no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), era um interlo-cutor frequente de Goldemberg sobre temas ligados à energia e ao meio ambiente. “Um dia, ele apareceu lá no Inpe e disse, em tom de brincadeira: ‘Meus amigos, não sou mais o colega com quem vocês conversavam. Agora eu sou o chefe. Vocês vão ter que fazer o que eu venho dizendo’.” Goldemberg se torna-ra secretário de Ciência e Tecnologia, com status de ministro, no governo Collor, e fez de Gylvan seu assessor. Mais tarde, Goldem-berg assumiu temporariamente a Secretaria do Meio Ambiente, também com status de ministro, na época da Conferência Rio-92, e depois se tornou ministro da Educação.

“Mesmo no MEC, continuou colaborando informalmente com a Secretaria da Ciência e Tecnologia. Como o novo secretário, Hélio Jaguaribe, não tinha o mesmo interesse por temas ligados à energia, de vez em quando eu ia até o MEC consultá-lo”, lembra Gylvan.

D a experiência como homem pú-blico, costuma ser lembrado pe-

lo protagonismo na Rio-92, o que acha um exagero. “Eu apenas era o ministro e não atrapalhei. O mérito é do canadense Mau-rice Strong, secretário-geral da conferência. Foi um acerto do governo Collor, que trouxe a conferência para o Rio.” De sua trajetória em cargos de governo, tem carinho especial pelo período como reitor. “A reitoria foi um período importante, porque conquistamos autonomia financeira para as universidades estaduais paulistas. Também dão mérito disso a mim, mas o Paulo Renato Souza, que era reitor da Unicamp, foi uma figura fun-damental nesse processo”, diz Goldemberg. “Depois, como ministro da Educação, tentei garantir autonomia financeira às universida-des federais, mas os reitores não quiseram. A autonomia implicava mais responsabilidade e eles não estavam interessados.”

Entre 2002 e 2006, assumiu a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, escolhido pelo governador Geraldo Alckmin, quando im-plantou no estado a colheita mecanizada da cana, missão de que se orgulha. “Foi um tre-mendo avanço do ponto de vista ambiental e tecnológico. Acabou com os boias-frias. O sindicato da categoria não gostou, por medo do desemprego. Isso não aconteceu, porque o etanol se expandia e podia se trabalhar em outras atividades no setor. Hoje, 80% da co-lheita em São Paulo é mecanizada”, afirma.

Depois da aposentadoria como professor da USP, Goldemberg vinculou-se ao Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, onde dá expediente até hoje. “Ele segue muito ativo e suas opiniões continuam tendo pe-so. Tanto a pesquisa como o ensino da física aproveitaram muito da personalidade, do conhecimento e da habilidade do professor Goldemberg”, diz Ernst Hamburger. Casado pela segunda vez, teve uma filha e netos de várias idades. A neta mais nova tem 3 anos. “Tive netos dos meus filhos há 20 ou 30 anos e achei que a fase tinha passado. É uma ale-gria voltar a ter uma neta agora”, diz. n

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Protásio Lemos da Luz, cardiologista do InCor, foi um dos pioneiros da transferência de conhecimento da área básica para a prática clínica

Da bancada ao paciente

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ascido em 1940, em um sítio no interior do município gaúcho de Vacaria, Protásio Le-mos da Luz veio ao mundo pelas mãos de uma parteira. Foi o segundo dos seis filhos de Suely Lemos da Luz e Salvador Nery da Luz. A mãe criou-o praticamente sozinha. O pai morreu quando o menino tinha 4 anos. A infância foi em meio à natureza, no con-vívio diário com gente do campo, animais e plantações, ao sabor do passar das estações, inclusive geadas e nevascas, como é comum naquelas latitudes do Rio Grande do Sul. “Fiz de tudo no sítio”, relembra o cardiologista Protásio, ex-professor titular de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e hoje pesquisador sênior do Instituto do Coração (InCor). Com recortes de jornal, a mãe, que reforçava o l

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orçamento familiar costurando para fora, ensinou-o a ler – o sítio ficava longe das es-colas da área urbana. Dona Suely precisava mandar os filhos para a casa de um parente na cidade quando chegasse a hora de eles receberem uma educação formal. Foi o que se passou com Protásio, que frequentou dois ginásios, um no município de Lagoa Verme-lha e outro em Vacaria.

O endereço de outro parente, o avô Teó-philo, em Curitiba, foi sua próxima residên-cia. Ele se mudou para a capital do Paraná, na segunda metade de década de 1950, para cursar o científico (hoje ensino médio), di-recionado para quem queria seguir carreira nas áreas de exatas ou biológicas. Protásio havia pensado em algumas profissões que poderia exercer, como padre, médico, fazen-deiro, professor, militar, engenheiro ou ad-vogado. “Por diferentes motivos, fui descar-

tando uma a uma, até sobrar a de médico”, diz. Chegou a cogitar a vida de homem do campo. Gostava da natureza, de andar a ca-valo e tinha boas lembranças da infância em Vacaria. Mas também se recordava de que a lida no sítio era realmente pesada, de sol a sol, e desgastante do ponto de vista físico.

D urante o científico, tomou gosto por três disciplinas: química, bio-

logia e português. Fascinava-o pensar como o organismo humano funcionava. Fez um teste vocacional e o resultado também apontou a área biológica como a mais indicada para sua atuação profissional. Antes de decidir o cur-so no qual tentaria uma vaga no vestibular, Protásio teve a chance de observar de perto a atuação de médicos. Durante o período em que trabalhou em uma farmácia como

Formatura em medicina na UFPR: orador da turma de 1965

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A oferta, considerada muito precoce, foi ini-cialmente recusada, mas logo depois aceita. Apesar do desencanto com o ambiente que circundava o movimento estudantil, Protá-sio ainda nutria certo gosto pela atividade política. Artigas deu-lhe um ultimato – “ou faz política ou faz medicina” – e o que ainda restava do dirigente estudantil em Protásio cedeu lugar ao futuro médico. Seu interesse inicial foi pela cirurgia, mas logo mudou seu foco para a clínica médica, sob supervisão do professor Lysandro dos Santos Lima, grande influência em sua trajetória profissional. “Ele me mostrou os caminhos a seguir e revelou a essência do cuidado médico”, afirma. For-mou-se em 1965 e terminou a residência em clínica médica dois anos mais tarde.

N os anos de faculdade, Protásio resolvera investir em um curso

de inglês. Não era uma preocupação muito comum para médicos em formação naquele tempo, mas o jovem universitário achava que dominar esse idioma lhe seria útil na profis-são. Em pouco tempo, a aposta se mostraria certeira. Terminada a residência na UFPR, resolveu buscar uma especialização. Depois de eliminar a maior parte das especialidades, ficou entre nefrologia e cardiologia. Como julgava que os avanços científicos pareciam

atendente de balcão, além de lavar vidros, viu como as famílias depositavam toda sua esperança de curar um doente nas mãos dos médicos. A medicina lhe parecia a ocupação ideal: reunia o gosto por estudar as doenças e o organismo humano com a real possibili-dade de ajudar as pessoas.

Em paralelo, naqueles anos de juventude, Protásio cultivava outra paixão, que, com o tempo, acabaria sendo abandonada: a polí-tica. Era de esquerda, tinha uma queda por história e política e acompanhava a trajetória de líderes de distintos matizes ideológicos, como John F. Kennedy, Winston Churchill, Fidel Castro, Getúlio Vargas, Juscelino Ku-bitschek e Carlos Lacerda. Bom de oratória, com 18 para 19 anos, Protásio tornou-se pre-sidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas. Como dirigente estudantil, frequentou muitos gabinetes oficiais e teve contato com o então governador do Para-ná, Moisés Lupion. “Fiz uma gestão muito boa, mas encurtei meu mandato para fazer o vestibular”, conta Protásio. “Vi também que havia muita vaidade e fingimento nes-sa atividade.”

Em 1960, entrou na Faculdade de Me-dicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Já no primeiro ano do curso ofere-ceu-se para trabalhar com o professor Gio-condo Villanova Artigas, na parte de cirurgia.

Como presidente da União Paranaense dos Estudantes secundaristas, Protásio visitou em 1959 o então governador do estado, Moisés lupion, durante congresso estudantil

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ocorrer em um ritmo mais acelerado na se-gunda área, decidiu dedicar-se ao estudo dos problemas do coração. Para perseguir esse objetivo, tinha de se mudar para São Paulo, onde a cardiologia era mais avançada graças ao grupo de professores e pesquisadores que se aglutinava na FM-USP. Em 1968, conseguiu vaga no disputado curso de especialização em cardiologia de Luiz Venere Décourt, profes-sor titular de Clínica Médica da faculdade, que seria um dos idealizadores do InCor.

P ouco depois de ter concluído o cur-so em 1969, surgiu uma oportuni-

dade que iria moldar o perfil da carreira de Protásio. O InCor, ainda em fase de plane-jamento, queria enviar aos Estados Unidos um cardiologista para aprender a fazer pes-quisa experimental, com modelos animais, além de estudos clínicos, especialmente com pacientes sob cuidados intensivos. A ideia era, em poucos anos, ter um profissional com esse perfil nos quadros do InCor, um médico pesquisador que pudesse implantar um setor de pesquisa experimental quan-do fosse criado um instituto dedicado às doenças do coração. “Era o único da minha turma que falava bem inglês e tinha todas as credenciais para me candidatar ao está-gio nos Estados Unidos”, conta. Com bolsa da FAPESP, passou dois anos (1971-1973) no

Hollywood Presbiterian Medical Center, ligado à Universidade do Sul da Califórnia (USC), em Los Angeles. Ficou no setor de medicina intensiva, na unidade de choque chefiada pelo professor Max Harry Weil, uma autoridade no trato de pacientes em estado crítico. Voltou por um breve período a São Paulo para defender a tese de doutora-do na FM-USP e retornou novamente para uma temporada de mais três anos nos Es-tados Unidos, dessa vez como pesquisador do setor de cardiologia do Cedars-Sinai Me-dical Center, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla).

Nesse hospital, trabalhou com dois mé-dicos-pesquisadores que se tornaram refe-rência para a cardiologia internacional, Wil-liam Ganz e Harold Jeremy Charles Swan. A dupla entrou para a história da cardiologia por ter inventado, na primeira metade dos anos 1970, o chamado cateter de Swan-Ganz, um dispositivo flexível instalado, através da artéria pulmonar, em pacientes que sofre-ram infarto do miocárdio para monitorar as funções cardíacas e avaliar os efeitos da ad-ministração de drogas. “Naquela época não se sabia por quanto tempo depois do infarto ainda era possível tratar o paciente”, lembra Protásio. Havia quem acreditasse que 20 minutos depois de o músculo cardíaco ter sofrido uma parada não era mais possível reverter o quadro. Durante os três anos no

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Cedars-Sinai, o pesquisador brasileiro se orgulha de ter participado, decisivamente, de estudos que ajudaram a estabelecer as bases do tratamento moderno do infarto do miocárdio, inclusive dos trabalhos que mos-traram a viabilidade de se intervir sobre o músculo cardíaco em um prazo máximo de até três horas após a sua parada.

E m julho de 1976, estava de volta ao Brasil. Tornou-se professor livre-

-docente da Faculdade de Medicina e co-meçou a instalação de um laboratório de pesquisa experimental com modelos animais no InCor, cujo prédio havia sido terminado no ano anterior. Em São Paulo, direcionou seus estudos para o infarto do miocárdio e a compreensão da aterosclerose, a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos, um processo que pode levar ao infarto. Em seus trabalhos científicos com animais e pa-cientes, privilegiou a busca por métodos não invasivos de detecção da aterosclerose. Mais recentemente, passou também a se dedicar a estudos sobre o consumo moderado de vinho tinto como forma de minimizar a formação de placas de gordura nas artérias, tanto em animais como no homem. Essas últimas pes-quisas tiveram considerável repercussão no meio científico e entre os leigos. Concomi-tantemente aos trabalhos científicos, nunca deixou de exercer a medicina e cuidar de seus pacientes. “Protásio fez o que chama-mos hoje de pesquisa translacional, abran-gendo desde a parte de ciência básica até a prática clínica”, diz o cardiologista Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da FAPESP e ex-diretor da Unidade de Hipertensão do InCor. “Ele sempre teve essa dupla atuação, de pesquisador e clínico, e procurou manter uma relação humana com os pacientes”, afir-ma a cirurgiã Angelita Habr-Gama, amiga e professora aposentada da FM-USP.

Desde 2010, Protásio está formalmente aposentado da FM-USP, onde atingiu o to-po da carreira universitária como professor titular. Mas continua na ativa, como médico e pesquisador. De forma voluntária compa-rece diariamente ao InCor para tocar seus estudos. As tardes são dedicadas ao seu con-sultório particular, onde realizou mais de 25 mil atendimentos ao longo de quase quatro décadas. Do currículo de Protásio, que foi presidente da Sociedade de Cardiologia do

Estado de São Paulo e da Sociedade Brasilei-ra de Investigação Clínica, constam mais de 420 trabalhos científicos, dos quais 150 arti-gos em revistas internacionais e mais de 50 capítulos escritos para livros técnicos, fora os trabalhos em congressos e apresentações de palestras. Em 2004, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Endotélio e doenças cardiovascula-res, escrito com Francisco R. M. Laurindo e Antonio C. P. Chagas. Recentemente passou a escrever livros menos técnicos, orientados a um público mais amplo, como Nem só de ciência se faz a cura, de 2004, e As novas faces da medicina, de 2014. Para Protásio, a maior contribuição de sua carreira à cardiologia não foram os trabalhos científicos, embora esses tenham sido também importantes. “Acho que a formação de pessoal, de ou-tros médicos, é o meu maior legado”, afirma. “Sua determinação científica e honestidade ímpar sempre foram uma referência”, diz o cardiologista Antonio C. P. Chagas, que foi orientado por Protásio no doutorado, faz parte de seu grupo de pesquisa e hoje é pro-fessor livre-docente da FM-USP e titular da Faculdade de Medicina do ABC. n

Na página ao lado, com o

cardiologista William Ganz em

Chicago, em 2003, uma das

influências na sua formação

profissional. Abaixo, Protásio (esq.) em torneio

de laço beneficente

realizado no município gaúcho

de Esmeralda, no início dos anos

1980: gosto pela vida do campo

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Sempre inquieta, a atriz Fernanda Montenegro segue atuando na TV, em filmes e no teatro

Domínio da arte de viver

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ernanda Montenegro estrelou todos os nai-pes que se espera de uma infatigável atriz de sucesso: foi artista, aviadora, cafetina, mãe, madame, miserável, milionária, prostituta, samaritana. Foi heroína, vilã e até Virgem Ma-ria. Já há bastante tempo é considerada pela crítica especializada uma das grandes atrizes brasileiras de todos os tempos. Esteve em mais de 50 peças, 30 novelas e minisséries e 15 fil-mes. Laureada com mais de 35 prêmios nos seus 70 anos de carreira, a atriz nunca parou. E nem pretende. “Ficar parada não é da mi-nha natureza”, declarou a artista nas diversas entrevistas na época da estreia do monólogo Viver sem tempos mortos (2010), inspirado na vida da escritora francesa Simone de Beauvoir.

Senhora de olhos expressivos, lábios finos e marcas de expressão que ganhou ao longo l

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de seus 85 anos, Fernanda já recebeu diver-sas designações – de old lady from Ipanema a “dama da dramaturgia”, definição da qual não gosta. “É ridículo. É como se me tirassem de uma pessoa e me transformassem em uma personagem”, afirmou em outra entrevista.

Entre atos e cenas, a busca por uma iden-tidade sempre inquietou a atriz, que tan-tas vezes se transformou e assumiu outras personalidades, como nos versos adorados, atribuídos a Clarice Lispector: “Esta mulher que é minha mãe / Esta mulher que é minha avó / Esta mulher que é minha filha / Esta é a mulher que sou / Sou todas elas, ainda mais algumas / E nenhuma delas, nenhu-ma, / Nenhuma delas é a mulher que sou”.

Inquietação identitária talvez amenizada com o passar do tempo, pois a artista certa vez dissera num já distante 1995: “Eu não sei quem eu sou. A gente acha que a gente é alguém. A gente acha que a gente pode ser alguém. Às vezes, a gente é até alguém, mas definir? Não há definição de nada. Muito menos de mim mesma, pois inclusive nem sei realmente em que zona eu me apresento ou me escondo. Vou vivendo. Só isso”.

C arioca do bairro de Campinho, des-cendente de imigrantes italianos,

Fernanda Montenegro – batizada como Arlet-te Pinheiro Esteves da Silva – tinha 15 anos e fazia o curso técnico de secretariado. Também já trabalhava na Rádio MEC como locutora e adaptando peças literárias para roteiros de radionovelas, de acordo com O exercício da paixão (1990), biografia da atriz escrita pela jornalista Lúcia Rito. Ao lado da rádio esta-va a Faculdade Nacional de Direito, depois vinculada à atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ponto de encontro de uma trupe de teatro amador, onde Fernanda daria os primeiros passos rumo aos palcos. Estreou em 1950 com Alegres canções nas montanhas, de Julien Luchaire, com tradução de Mi roel Silveira, ao lado do ator Fernando Torres (1927-2008), com quem se casaria não muito tempo depois, aos 23 anos. Da união, nasceram o cineasta Cláudio Torres, em 1962, e a atriz Fernanda Torres, em 1965.

acima, Paulo autran e Fernanda na novela Guerra dos sexos, de 1983. ao lado, com Fernando torres, seu companheiro por 60 anos, na peça Dias felizes, dirigida por Jacqueline laurence, em 1995

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a Beckett. Quando há debates após a apre-sentação, esses espectadores nunca deixam de se posicionar”, contou a atriz.

N a década de 1960, Fernanda es-treou nas novelas. A “estrela

Montenegro”, como a homenageou o ami-go Milton Nascimento na música Mulher da vida, tornou-se, principalmente a partir da década de 1980, o nome preferido de di-retores e roteiristas como Cassiano Gabus Mendes, Gilberto Braga, Guel Arraes, Ma-noel Carlos e Sílvio de Abreu, marcando presença em numerosas produções da TV Globo – muitas vezes interpretando papéis escritos especialmente para ela. Um dos grandes sucessos televisivos ocorreu com a novela Guerra dos sexos (1983), de Sílvio de Abreu, em que atuou com Paulo Autran, outro grande ator e amigo.

Entre tantas atua ções no país, um filme foi o responsável por catapultar seu nome no exterior: Central do Brasil, de Walter Salles, em 1998. Fernanda Montenegro deu vida à personagem Dora, que trabalhava na estação Central do Brasil, no Rio, escrevendo cartas a pedido de analfabetos. Cruzou-lhe o cami-nho um menino, Josué, vivido por Vinícius de Oliveira, que ficou órfão nos primeiros minutos do drama. Dora decide levar o garo-

Desde a década de 1950, a atriz cultivou grandes amizades no palco e nos bastido-res. No cinema, debutou em 1964 com A falecida, filme inspirado na tragédia escrita pelo amigo Nelson Rodrigues e dirigido por Leon Hirszman. Do mesmo diretor, filma-ria o clássico Eles não usam black-tie (1981), com Gianfrancesco Guarnieri, autor da peça (1958) que inspirou a fita. No eixo Rio-São Paulo, atuou na TV Tupi, na Companhia Maria Della Costa e no Teatro Brasileiro de Comédia. Em 1959, Fernanda e Fernan-do fundaram a própria companhia: o Tea-tro dos Sete, com Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto de Almeida.

“Juntamente com Fernando Torres, meu companheiro por 60 anos, produzimos uma dramaturgia respeitável e responsável: Cer-vantes, Molière, Racine, Goldini, Henri Bec-que, O’Neill, Pirandello, Harold Pinter, Peter Weiss, Simone de Beauvoir, Fassbinder, Bec-kett, entre tantos. Além de tantos brasilei-ros: de Martins Penna a Nelson Rodrigues”, lembrou Fernanda em depoimento para este perfil. “Para mim, o importante dessa trajetó-ria é que sempre levamos nossas produções às periferias, aos teatros populares. Sempre houve grande interesse dessas plateias pelo que lhes trazíamos ou lhes trazemos. Essas plateias nunca nos abandonaram. De Racine

Fernanda e vinícius de Oliveira no filme Central do Brasil, de 1998: atuação rendeu a indicação de melhor atriz ao oscar de 1999

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el to ao encontro do pai, cruzando o país para

enveredar pelo sertão nordestino. Dora rendeu a Fernanda uma indicação

inédita ao Oscar em 1999 – a única brasileira indicada ao prêmio até hoje. Quem ganhou, no entanto, foi a atriz norte-americana Gwy-neth Paltrow por Shakespeare apaixonado. À época, Fernanda se definiu no talk-show de David Letterman como “azarão” na disputa e como old lady from Ipanema, referência à música de Tom Jobim e Vinicius de Mo-raes. O diretor Walter Salles atribui à atriz os méritos do trabalho: “O filme inteiro foi construído em torno de Fernanda. Ela levou cada um de nós a fazer o melhor. Central do Brasil não existiria sem ela”, afirmou o ci-neasta para esta edição.

O filme foi um marco não só na car-reira da atriz, mas na história do

cinema nacional. Salles a define como a atriz “mais extraordinária” com quem trabalhou. “Ela é uma das raras pessoas que fazem o Brasil melhor. Pela excelência e o rigor de seu trabalho, pela extrema inteligência e sen-sibilidade, pela capacidade de pensar o país

onde vivemos com uma grande coragem e pertinência. A Fernanda artista e a Fernanda cidadã são inseparáveis. Uma se prolonga na outra, para nossa sorte”, diz o diretor.

Fernanda artista e Fernanda cidadã se en-contram em inúmeros momentos. No prefá-cio de O exercício da paixão, Caetano Veloso arriscou impressões sobre as diversas faces da atriz: “Há artistas que nos abalam com a potência do seu gênio; muitos, na tentativa desesperada de salvar o mundo, dele se afas-tam, às vezes virando as coisas à própria arte, à vida mesmo. Fernanda, artista de gênio, em nenhum dos três itens foge ao centro: no meio do mundo, no meio da arte, no meio da vida”.

Tal imersão persistiu nos últimos tem-pos. Em 2012, Fernanda levou aos palcos paulistanos o monólogo Viver sem tempos mortos, dirigido por Felipe Hirsch. Inspi-rada na escritora francesa Simone de Beau-voir (1908-1986), a peça teve sessões gratui-tas em 21 Centros Educacionais Unificados (CEUs), como parte do projeto CEU é Show, que levou mais de 800 espetáculos de mú-sica e teatro aclamados pela crítica para a periferia de São Paulo. “Foram dias intensos, mas felizes”, declarou a atriz, admirada ao

Fernanda no monólogo Viver sem tempos mortos, dirigida por Felipe hirsch. em 2012, a atriz se apresentou em 21 ceus na periferia de são Paulo, com sessões gratuitas. na página ao lado, o trabalho atual, com nathália timberg na novela Babilônia, da tv globo

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encontrar “teatros exemplares e extraordi-nariamente cuidados”.

“Cresci com meus pais fazendo turnês nas periferias de São Paulo e do Rio, parti-cipando de leituras dramáticas, encontros e debates. Cresci aprendendo que isso é im-portantíssimo para não se criar uma cidade partida”, lembra a filha Fernanda Torres. “Ter a presença de uma artista da dimensão da mamãe dentro de um centro cultural na periferia é importante para os dois lados, o artista e o público. Minha mãe ficou fascina-da com o público do CEU, que estava muito preparado para melhor usufruir da expe-riência”, comentou a atriz, entre gravações da série Tapas e beijos, da TV Globo. “Houve quem dissesse: ‘Ah, Simone de Beauvoir, um projeto elitista’. E aconteceu o contrário, as mulheres assistiam e diziam: isso é a minha vida. Não existe a cultura da elite e a cultura do povo. O grande lance da cultura é fazer essa ponte, de A a Z.”

A mãe complementa as palavras da filha: “O artista deve ir com o seu melhor e acredi-tar naquele ser humano que está diante de si na plateia. Essa diversificação de repertório, essa democratização é a função do teatro. A minha geração fez e faz essa trajetória. Vivi e vivo o impacto desse encontro emocional, dialético, redentor, que só o teatro dá. E es-sas plateias populares estão sedentas dessa fé. O melhor e eterno teatro hoje vive nas catacumbas, nos pequenos espaços, nas pe-riferias, nas favelas, nas comunidades. Falo sem demagogia”, afirmou Fernanda em de-poimento a esta edição, entre gravações da novela Babilônia, de Gilberto Braga.

Nessa trama de 2015, a atriz interpreta Teresa, que vive um relacionamento amo-roso de décadas com Estela (Nathália Tim-berg). No primeiro capítulo, as atrizes de-ram um beijo apaixonado que despertou conservadorismos adormecidos. “Não posso acreditar que ainda se espantem com a ho-mossexualidade. Não acredito que, depois de tantas novelas com essa temática, ainda tenha esse escândalo”, lamentou Fernanda, à época, em entrevista à imprensa.

F ernanda Montenegro recebeu reco-nhecimento de diversas instituições,

artísticas e políticas, com prêmios em festi-vais nacionais e internacionais – Imprensa, Molière, Shell, Urso de Prata no Festival de Berlim, Festival de Havana, entre muitos ou-tros, além do FCW de Cultura 2014. Em 2013, tornou-se a primeira atriz latino-americana a vencer o Emmy Internacional, por sua atua-ção no especial Doce de mãe, da TV Globo.

O reconhecimento à contribuição da atriz não ficou restrito às confrarias artísticas. Con-vidada para ser ministra da Cultura nos go-vernos de José Sarney e Itamar Franco, Fer-nanda gentilmente recusou. Em 1999, foi con-decorada com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito por Fernando Henrique Cardoso. “Se estivéssemos na Inglaterra, você seria da-me, seria lady. Não vale a pena. É melhor ser o que você é [...], com essa espontaneidade, com essa força extraordinária, com talento incrível e com simplicidade”, disse o presi-dente, ao entregar a comenda civil à atriz.

Senhora de seu tempo, Fernanda parece dominar a arte de viver sem tempos mortos. E recita Simone de Beauvoir para expressar essa arte: “A impressão é de não ter envelhe-cido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa pa-ra a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. (...) Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos”. n

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ensaio

fotográfico

1º lugar

Tropa de elite,

de Gabriel Monteiro

As pessoas retratadas no ensaio são moradores da antiga comunidade de Pinheirinho, em São José dos Campos, que entraram em confronto com a polícia em 2012. Gabriel Monteiro reuniu alguns deles em estúdio e refez as fotos dos “combatentes” com roupas normais e com suas armaduras improvisadas

Page 33: Prêmio FCW 2014

Luta pela moradia

Ar

te

s embates entre a Polícia Militar e o grupo de moradores da comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), sugeriram ao fotógrafo Gabriel Monteiro o ensaio que ganhou o pri-meiro lugar do Prêmio FCW de Arte 2014. Ele retratou homens e mulheres que transformaram objetos comuns em equipamento de defesa para resistir à ordem de despejo de uma área invadi-da em 2012. O enfrentamento dos sem--teto tornou-se emblemático da luta por moradia no país. Monteiro, que faz parte do coletivo de fotógrafos Trëma, baseado em São Paulo, reuniu alguns daqueles antigos moradores em estúdio dois anos depois e os retratou em suas armaduras improvisadas. Os “comba-

tentes” se referiam a eles mesmos como “tropa de elite”, que inspirou o nome do ensaio agora premiado.

O segundo lugar foi para André Hauck, de Belo Horizonte, com Som-bras, e o terceiro para João Teixeira Castilho, também de Minas Gerais, com Zoo. Os três dividirão R$ 200 mil (R$ 114,3 mil para o primeiro lugar e R$ 42,3 mil para os demais), além de re-ceber uma escultura do artista plástico Vlavianos. As fotos de Monteiro, Hauck e Castilho e dos 12 finalistas foram ex-postas na Sala São Paulo, na capital pau-lista, no dia 15 de junho, mesma data da entrega do Prêmio FCW 2014. Nas páginas seguintes é possível conhecer os três ensaios ganhadores.

finaListas e ensaios

Paula Huven AlmeidaDevastação

Felipe Barata russoCentro

thiago Santos FacinaEscadas

Nair BenedictoO desafio da alteridade

Luciana BerleseRelicário

Iatã CannabravaMiamização de Fortaleza

Marlos de Almeida Bakker05007- 002 05005- 060

Pedro David360 metros quadrados

Barbara WagnerCrentes e pregadores

Bruno Veiga ribeiroPolípticos

Brunno CovelloO Haiti é aqui

Fernando CohenPinheiros

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2º lugar

Sombras,

de André Hauck

A série de fotos foi feita na região de Lagoinha, em Belo Horizonte, local de consumo de crack. Os dependentes se abrigam embaixo de viadutos e acendem fogueiras muito próximas dos pilares de concreto. Os registros fotográficos mostram essa situação social extrema de modo indireto, por meio dos vestígios do fogo

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3º lugar

Zoo,

de João Castilho

Neste ensaio, animais silvestres são mostrados em ambientes domésticos. A maioria dos lugares fotografados é de Minas Gerais. “A maior dificuldade foi encontrar um animal que fosse possível deslocar para uma locação e pudesse ser fotografado com segurança”, diz Castilho

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2011ensaio

fotográfico

1º lugar

Albinos,

de Gustavo Lacerda

2º lugar

Negros paroxismos,

de Lucio Adeodato

3º lugar

Panoramas,

de Cassio Vasconcellos

2010

ensaio

fotográfico

1º lugar

TV P&B,

de Tadeu Vilani

2º lugar

Drom,

o caminho cigano,

de Gui Mohallem

3º lugar

Índios contemporâneos,

de Kenji Arimura

2009fotografia

publicitária

1º lugar

Ousadia ímpar,

de Denise Wichmann

ensaio

fotográfico

publicado

1º lugar

O sol no céu

de nossa casa,

de Marcio Rodrigues e

Marco Mendes

2º lugar

Imagens humanas,

de João Roberto Ripper

ensaio

fotográfico

inédito

1º lugar

Sem título,

de Ricardo Barcellos

fotografia

publicitária

1º lugar

Cantora de ópera,

de José Luiz

Pederneiras

ensaio

fotográfico

publicado

1º lugar

A curva e o caminho,

de André François

2º lugar

Vie las,

de Francilins Castilho

Leal

ensaio

fotográfico

inédito

1º lugar

Cidadão X,

de Julio Bittencourt

2008

2012ensaio

fotográfico

1º lugar

Sufocamento,

de Pedro David

2º lugar

Planos de fuga,

de Mauro Restiffe

3º lugar

Belvedere,

de Bob Wolfenson

2013ensaio

fotográfico

1º lugar

O livro do Sol,

de Gilvan Barreto

2º lugar

Belo Monte - Os impactos

de uma megaobra,

de Lalo de Almeida

3º lugar

Parque aquático,

de Roberta Sant’Anna

Page 47: Prêmio FCW 2014

2007fotografia

publicitária

1º lugar

Caminhos do coração,

de Alexandre Salgado

2º lugar

120 razões para ser

cliente completo,

de Gustavo Lacerda

ensaio

fotográfico

1º lugar

Redemunho,

de João Castilho

2º lugar

O homem e a terra,

de Lalo de Almeida 2006

fotografia

publicitária

1º lugar

Tim: viver sem

fronteiras,

de Gustavo Lacerda

2º lugar

Abraço,

de Ricardo de Vicq

ensaio

fotográfico

1º lugar

O chão

de Graciliano,

de Tiago Santana

2º lugar

Numa janela

do edifício

Prestes Maia, 911 ,

de Julio Bittencourt

fotografia

publicitária

1º lugar

Existem chances

de cura...,

de Maurício Nahas

2º lugar

Gol. Sempre fiel a você...,

de Andreas Heiniger

3º lugar

Lonas Alpargatas:

o superpoder do

caminhoneiro,

de Gustavo Lacerda

fotografia

publicitária

1º lugar

Irado,

de Ricardo Cunha

2º lugar

Borboleta,

de Paulo Vainer

3º lugar

Gordinha,

de Felipe Hellmeister

fotografia

publicitária

1º lugar

Campanha do

produto giz,

de Bob Wolfenson

2º lugar

Píer,

de Leonardo Martins

Vilela, para G’Staff

3º lugar

Menino com bola,

de Márcia Ramalho

fotografia

publicitária

1º lugar

Colorama,

de Klaus Mitteldorf

2º lugar

AXE,

de Maurício Nahas

3º lugar

ISA - Projeto Água Viva,

de Allard

2005

2004

2003

2002

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Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESPLigada à Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, é uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica. Desde 1962 concede auxílio à pesquisa e bolsas em todas as áreas do conhecimento, financiando atividades de apoio à investigação, ao intercâmbio e à divulgação da ciência e tecnologia em São Paulo.

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CapesVinculada ao Ministério da Educação, promove o desenvolvimento da pós-graduação nacional e a formação de pessoal de alto nível, no Brasil e no exterior. Subsidia a formação de recursos humanos altamente qualificados para a docência de grau superior, a pesquisa e o atendimento da demanda dos setores públicos e privados.

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPqFundação vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para apoio à pesquisa brasileira, que contribui diretamente para a formação de pesquisadores (mestres, doutores e especialistas em várias áreas do conhecimento). É uma das mais sólidas estruturas públicas de apoio à ciência, tecnologia e inovação dos países em desenvolvimento.

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPCFundada há mais de 60 anos, é uma entidade civil, sem fins lucrativos, voltada principalmente para a defesa do avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil.

Academia Brasileira de Ciências – ABCSociedade civil sem fins lucrativos, tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, da educação e do bem-estar social do país. Reúne seus membros em 10 áreas das ciências: Matemática, Física, Química, da Terra, Biológica, Biomédica, da Saúde, Agrária, da Engenharia e Humanas.

Academia Brasileira de Letras – ABLFundada em 20 de julho de 1897 por Machado de Assis, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da língua nacional. É composta por 40 membros efetivos e perpétuos e 20 membros correspondentes estrangeiros.

Departamento de Ciência e Tecnologia AeroespacialCriado na década de 1950, é uma organização do Comando da Aeronáutica que tem como missão o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronáuticas, espaciais e de defesa, nos setores da ciência e da tecnologia.

Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à PesquisaOrganização sem fins lucrativos que tem por objetivo maior articular os interesses das agências estaduais de fomento à pesquisa em todo o país. Criado oficialmente em 2007, o conselho já agrega fundações de 22 estados, mais o Distrito Federal.

Marinha do BrasilIntegrante do Ministério da Defesa. Contribui para a defesa do país e atua na garantia dos poderes constitucionais e em apoio à política externa do país.

Academia Nacional de Medicina – ANMFundada em 1829, contribui para o estudo, a discussão e o desenvolvimento das práticas da medicina, cirurgia, saúde pública e ciências afins, além de servir como órgão de consulta do governo brasileiro sobre questões de saúde e educação médica.

InstItuIções Pa rceIr as da FcW

Page 49: Prêmio FCW 2014

ciência parceira que indicouJacob Palis Jr. / Presidente abccarlos a. Vogt fcwErney Plessmann de camargo fcwIvan Marques de Toledo camargo fcwJerson Lima da Silva SbPcJorge almeida Guimarães capesJosé Roberto Drugowich de felício fcwMarcello andré barcinski capesMarco antonio Sala Minucci fcwMario Neto borges confapMaurício Pozzobon Martins DcTaPaulo Sérgio Lacerda beirão cNPqSergio Roberto fernandes dos Santos Marinha do brasilwanderley de Souza fcw

cultura carlos a. Vogt / Presidente fcwana Mae Tavares bastos barbosa SbPcDomício Proença filho abLGlaucius Oliva cNPqJorge almeida Guimarães capesJosé de Souza Martins faPESPJosé Murilo de carvalho abcMaria Zaira Turchi confap

medicina Renata caruso fialdini / Presidente fcwangelita Habr-Gama fcwEliete bouskela confapErney Plessmann de camargo fcwGuilherme Suarez Kurtz capesJosé Osmar Medina Pestana SbPcMarcelo Marcos Morales cNPqMarco antonio Zago fcwMário José abdalla Saad faPESPPietro Novellino aNM

arte / ensaio fotográfico Rubens fernandes Junior / Presidente facom-faapcláudia Guilmar Linhares Sanz Unbchristian cruz O Estado de S.PauloDaigo Oliveira Suzuki Folha de S.PauloEugênio Sávio Lessa baptista PUc-MGGilvan barreto Vencedor do prêmio fcw de arte 2013Joaquim Marçal ferreira de andrade PUc-Rio José afonso da Silva Junior UfPEJuan Esteves Revista Fotografe MelhorRicardo de Leone chaves Zero HoraRonaldo Entler facom-faap

Jú ri dos pr êmios fcW de 2014

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Cronograma da premiação 2015

Prazo para recebimento das indicações (CiênCia e Cultura)

13 de novembro de 2015

Preparação dos dossiês dos indicados (CiênCia e Cultura)

16 a 24 de novembro de 2015

Julgamento e escolha dos premiados (CiênCia e Cultura)

26 e 27 de novembro de 2015

Prazo para recebimento das inscrições (arte)

14 de dezembro de 2015 a 11 de março de 2016

escolha dos premiados (arte)

24 a 28 de março de 2016

Cerimônia de premiação 13 de junho de 2016

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