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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS DA CULTURA AFRICANA NAS AULAS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA
Valdecir Centena Lopes1
Profº Dr. Miguel A. de Freitas Junior.2
RESUMO
O presente artigo apresenta algumas reflexões sobre a utilização de Brinquedos e Brincadeiras da Cultura Africana nas aulas de Educação Física. Para além do cumprimento da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira na Educação Básica, utilizar estas atividades foi algo fundamental para melhorar a conscientização dos alunos sobre a importância do respeito a diversidade, bem como aproximar os alunos da riqueza cultural afro-brasileira, elevando a autoestima do aluno negro e o sentimento de pertencimento, privilegiando a questão de identidade, do respeito e da auto-aceitação. Foram estabelecidas ações para que os alunos pudessem entender o contexto histórico e a herança deixada pelo povo africano e de como influenciou a nossa vida cotidiana e sobre a Implementação da Lei 10.639/03. Posteriormente foram realizados trabalhos em grupos e atividades práticas sobre alguns jogos e brincadeiras de origem africana com os alunos. Verificou-se que a educação das relações étnico-raciais vem se efetivando de forma lenta e parcial na escola e que a utilização de brinquedos e brincadeiras de origem africana, são ferramentas eficazes para auxiliar na legitimação desta temática nas aulas de Educação Física. Palavras-chaves: Brincadeiras; Brinquedos ; Educação física e afro.
1 Professor da Rede Estadual do Paraná. Graduado em Educação Física. Atua no Colégio Estadual
Anita Canet – EFM – Jaguariaíva – Paraná. Docente participante do Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE). 2 Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG). Doutor em História. Orientador do PDE.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados mais relevantes
obtidos no Projeto de Intervenção Pedagógica realizado no ano de 2015, à partir do
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da
Educação do Paraná (SEED).
Para isto, partiu-se de algumas reflexões sobre a Lei 10.639/2003, que alterou
a Lei 9394/1996, tornando obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
na educação básica. Tal mudança nos motivou a tentar compreender se e como está
sendo tratada à questão racial no espaço escolar, fundamente nas aulas de
Educação Física. A partir disto, buscou-se perceber de que forma as atividades
lúdicas poderiam colaborar para a melhoria da convivência entre os alunos.
As atividades foram elaboradas e desenvolvidas durante as aulas Educação
Física, com os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental, servindo de
“laboratório” para análise desta pesquisa. Inicialmente foi elaborada uma Unidade
Didática, cujo material forneceu subsídios para a criação de atividades recreativas
acerca do tema Brinquedos e Brincadeiras da Cultura Africana nas aulas de
Educação Física.
Em relação aos jogos e brinquedos africanos, Câmara Cascudo (1958), em
"Superstições e Costumes", afirma ser difícil detectá-los pelo desconhecimento dos
brinquedos dos negros anteriores ao século XIX. Com centenas de anos de contato
com o europeu, o menino africano sofreu a influência de Paris e Londres. Além do
mais, há brinquedos universais presentes em qualquer cultura e situação social
como as bolas, as pequenas armas para simular caçadas e pescarias, ossos
imitando animais, danças de roda, criação de animais e aves, insetos amarrados e
obrigados a locomover-se, corridas, lutas de corpo, saltos de altura, distância, etc.,
os quais parecem, segundo o autor, estar presente desde tempos imemoriais em
todos os países.
Diante disto, organizou-se atividades que foram estruturadas em nove momentos
interdependentes, cujo objetivo foi inicial foi tentar identificar alguns brinquedos e
brincadeiras africanas que foram incorporados a cultura brasileira. Para isto, em um primeiro
momento, realizou-se um levantamento junto aos alunos e seus familiares.
No segundo momento, desenvolveu-se uma intervenção junto ao grupo de
alunos do 6º ano do ensino fundamental, com o intuito de desenvolver atividades
educativas que auxiliassem e apoiassem práticas anti-racistas e a valorização da
identidade cultural negra, pois nessa turma percebeu-se diversas ações e atitudes
discriminatórias no ambiente escolar.
2 O NEGRO E A EDUCAÇÃO
A educação é peça chave na construção do conhecimento da cultura afro-
brasileira, pois é na escola que se dão os primeiros passos no estudo da história;
aprende-se que não é possível refletir sobre a história brasileira. É fundamental que
tanto a história do Brasil como a da África sejam respeitadas em sua veracidade. As
raízes que foram plantadas pelos afrodescendentes são enriquecedoras, jamais
poderão ser esquecidas ou maquiadas (MOURA, 2005).
A Lei 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro brasileira e
Africana são um caminho institucionalizado para a reparação, pela educação
escolar, de anos de folclorização e apagamento da história e cultura afro-brasileira e
africana em nossos currículos (explícitos, implícitos, ocultos).
Fernandes (1964), em “A integração do negro à sociedade de classes”,
destaca duas posturas da família negra frente à educação. Logo após a Abolição,
quando, segundo o autor, a família negra enfrentava um estado de “desorganização
sociopática”, não havia condições para uma valorização da educação. “Os pais
ignoravam a existência da escola pressupunha pré-condições, como a existência de
recursos, de uma vida organizada, pré-condições estas que eram raras, dadas a
situação enfrentada pela família negra na época”. Também, o tipo de trabalho
exercido – em geral ocupações manuais que permitiam a aquisição de habilidades
específicas através da própria prática não favorecia o desenvolvimento de uma
consciência sobre a importância e necessidade da escolarização.
Nos estudos de autores que abordaram o significado da educação no âmbito
familiar, percebem-se estas duas faces em questão. De um lado, a consciência do
valor da educação (Azevedo, 1953).
Pereira (1967), para a qual são enviados todos os sacrifícios, que ás vezes se
estende a toda família que se mobiliza em torno daquele que tem mais possibilidade
a prosseguir nos estudos. De outro lado, a consciência das dificuldades que o negro
terá de enfrentar para sair-se bem (Azevedo, 1953) e que, em determinados
momentos, pode resultar numa postura contrária à educação.
De acordo com Kanbele Munanga:
O racismo no Brasil mantém os negros em péssimas condições socioeconômicas e dificulta seu acesso à educação de boa qualidade e ao mercado de trabalho, entre outros prejuízos. A consequência disso é que as crianças, já maltratadas pelo baixo poder aquisitivo dos pais, também sofrem ao entrar no ensino público. O sistema foi construído com base na realidade da minoria abastecida, ou seja, da classe, da classe média brasileira. Assim, além de serem excluídas das escolas particulares, não recebe, nas unidades públicas, tratamento adequado ao seu desenvolvimento intelectual e emocional. (2007, p.1)
Pode-se dizer que o desconhecimento sobre o continente africano e os
pensamentos racistas e discriminatórios são oriundos de omissões seculares na
história, que, ainda hoje, refletem no imaginário coletivo da sociedade brasileira.
Esse pensamento estigmatizado perpassa pelos seus descendentes tanto na
autopercepção do grupo negro, quanto na percepção de outras pessoas que não
compõem esse grupo.
Diante desta constatação, buscou-se perceber como os documentos oficiais
tratam a questão da formação da identidade cultural negra.
2.1 DOCUMENTOS OFICIAIS
A Educação Física escolar é uma área de conhecimento que trabalha o
movimento como partes da cultura humana. Assim, não se devem associar seus
benefícios somente a propósito das questões fisiológicas dos seres humanos, mas,
sobretudo, ao autoconhecimento corporal, melhoria da autoestima, do autoconceito,
entre outros. Ainda, a educação física deve ser “um espaço educativo privilegiado
para promover as relações interpessoais, a autoestima e a autoconfiança,
valorizando-se aquilo que cada indivíduo é capaz de fazer em função de suas
possibilidades e limitações pessoais”. (DE MARCO, 1995, p.77).
De acordo com as Diretrizes Curriculares de Educação Física:
É no lúdico que também se reconhecem e se valorizam as formas particulares que os brinquedos e as brincadeiras tomam em distintos contextos e em diferentes momentos históricos, nas variadas comunidades e grupos sociais. (PARANÁ, 2008, p.54).
Sabe-se que a diversidade cultural do Brasil está fortemente ligada à cultura
africana. Influenciaram de maneira significativa as crianças, sendo que os filhos de
escravos era acompanhar o “sinhozinho’ e a “sinhazinha” na hora da diversão, o que
acabou sendo conhecida no país, brincadeira de origem africana”.
Baseado nas Diretrizes Curriculares da Rede Pública da Educação Básica do
Estado do Paraná:
Várias situações que podem emergir durante a construção de brinquedos ou
na participação em brincadeiras, sejam elas, estimuladas pelo professor ou, então
geradas de forma espontânea pelas próprias crianças:
A construção individual ou coletiva de brincadeiras; Os materiais –
lembremos que o corpo é o primeiro brinquedo das crianças; O caráter tradicional ou contemporâneo dos brinquedos e brincadeiras, etc. (PARANÁ, 2006, p.11).
Os jogos estão inseridos nos costumes de todas as culturas do planeta. Essa
característica, no entanto, não garante o mesmo grau de prestígio para com a
representatividade nas diferentes sociedades humanas. As variações que podemos
encontrar dependem do funcionamento das instituições, políticas e de como os
jogos, brincadeiras, danças, e práticas esportivas participam da cultura e da
existência coletiva (MIRANDA, 2006).
Em 9 de janeiro de 2003, foi aprovada a Lei Federal nº 10.639/03, que torna
obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de
Ensino Fundamental e Médio. Essa lei altera a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e tem
o objetivo de promover uma educação que reconhece e valoriza a diversidade
comprometida com as origens do povo brasileiro.
A escola é o lugar de construção, não só do conhecimento, mas também da
identidade, de valores de afetos, enfim, é onde o ser humano, sem deixar de ser o
que é se molda de acordo com sua sociedade. O Brasil, formado a partir das
heranças culturais européias e africanas, não contempla, de maneira equilibrada,
essas três contribuições no sistema educacional. Por isso, ter como meta a efetiva
realização das prerrogativas dessa lei é essencial para a construção de uma
sociedade igualitária.
A lei 10.639/03, foi elaborada no sentido de uma prática de inclusão e ação
afirmativa e ao mesmo tempo, resultado de um intenso movimento de luta anti-
racista no Brasil (SANTOS, 2005), destacando-se por sua capacidade
multiplicadora, na medida em que pode gerar uma série de iniciativas voltadas para
a valorização da cultura afro-brasileira, bem como servindo de estímulo à
reconstrução de identidade afrodescendente.
Entendeu-se que essa lei, foi criada pelo ex-presidente Lula no sentido de
reparação de uma dívida até então contraída em relação aos negros. E é nesse
momento que a escola assume mais esse papel de conscientização e valorização
dos afrodescendentes, nesse caso brinquedos e brincadeiras africanas fazem parte
desse contexto e onde o aluno tem a possibilidade de aprender de forma lúdica a
cultura africana de maneira prazerosa.
Conforme alertam os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL,
1997), a Educação Física e, seu surgimento e evolução estiveram estritamente
ligados a instituições militares e à classe médica, o que em muito a influenciou e
determinou:
Visando melhorar a condição de vida, muitos médicos assumiram uma função higienista e buscaram modificar os hábitos de saúde e higiene da população. A Educação Física, então, favorecia a educação do corpo, tendo como meta à constituição de um físico saudável e equilibrado organicamente, menos susceptível às doenças. Além disso, havia no pensamento político e intelectual brasileiro da época uma forte preocupação com a eugenia. Como o contingente de escravos negros era muito grande, havia um temor de uma “mistura” que “desqualificasse” a raça branca. Dessa forma, a educação sexual associada à Educação Física deveria incutir nos homens e mulheres a responsabilidade de manter a “pureza” e a “qualidade” da raça branca. (BRASIL, 1997, p.19).
No âmbito da área de Educação Física, poucas produções que reconhecem,
enaltecem, valorizam e, de certa forma, contribuem para uma educação anti-racista.
Mesmo a prática corporal de raiz africana mais conhecida, a capoeira, raramente é
desenvolvida como conteúdo da Educação Física Escolar e, mesmo quando isto
ocorre, dificilmente vai além da repetição de movimentos descontextualizados, ou
seja, que apresentem e valorizem sua relação com a cultura em que foi gerada e,
assim, favoreçam a construção de uma identidade negra positiva.
Encontrou-se nos PCNs, a seguinte afirmação:
Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sócio cultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-
se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais ou sociais (BRASIL, 1997, p.6).
Entendeu-se, portanto, propiciar momentos reflexivos levando assim, os
alunos a conhecerem a diversidade cultural para poder posicionar-se nas diversas
situações que possam deparar-se, respeitando sempre de maneira afirmativa.
2.2 Desenvolvimento das Ações
As intervenções foram realizadas através de nove momentos com alunos
dos anos finais do Ensino Fundamental. Os brinquedos e brincadeiras de origem
africana fazem parte do cotidiano de várias gerações de crianças, mas que
infelizmente estão desaparecendo, por isso há necessidade de resgatá-lo explicando
sua origem e ao mesmo tempo exaltando a influência dos africanos.
1º Momento: Dinâmicas/Roda de conversa sobre a África: diferenças,
preconceitos e discriminação;
2º Momento: Pesquisa de ascendências com a família, construção da árvore
genealógica;
3º Momento: Filme/contar a história de pegador e após realização da
brincadeira do pegador;
4º Momento: Apresentação de vídeos, fotos, gravuras, origem dos brinquedos
e brincadeiras e lendas africanas;
5º Momento: Dramatização de lendas africanas em pequenos grupos;
6º Momento: Análise de brinquedos que ressaltam ou que maculam a figura
do negro;
7º Momento: Debate e confecção de cartazes sobre os brinquedos e
brincadeiras de origem afro;
8º Momento: Construção de alguns brinquedos de origem afro. Após brincar
com os alunos;
9º Momento: Expor os trabalhos no pátio da escola.
As atividades tiveram início na Semana Pedagógica, onde a primeira
proposta foi motivacional cujo público alvo foi a comunidade escolar, para que os
mesmos pudessem conhecer e ficar sensibilizados com o Projeto de Intervenção a
ser desenvolvido na escola.
Houve também uma roda de conversa, para realização do conhecimento
prévio dos alunos sobre os brinquedos e brincadeiras que seus pais brincavam
quando eram crianças, foi solicitado aos alunos que fizessem uma pesquisa com
seus pais e avós em casa.
Num segundo momento, os alunos foram divididos em grupos e foram até o
Laboratório de Informática para pesquisarem sobre a origem dos brinquedos e
brincadeiras de origem africana, percebeu-se nesse momento o envolvimento dos
alunos durante a pesquisa.
Terceiro momento os alunos mobilizou os alunos sobre a Implementação da
Lei 10.639/03, onde houve alguns questionamentos, foi passado alguns vídeos
sobre a Exposição de brinquedos e brincadeiras no mundo e sobre a Lei 10.639/03,,
onde ficaram encantados.
Quarto momento foi de apresentação de algumas brincadeiras tais como:
Terra-mar – Moçambique, Chicotinho Queimado, Capitão-de-campo-amarranegro,
Brincadeiras como Pião e Papagaio, YOTÉ, Boneca de Jornal, Cama de gato, Os
Escravos de Jó e Mancala.
Quinto Momento e Sexto Momento foram solicitados aos alunos que tragam
os materiais para ser confeccionado no próximo encontro, após a confecção dos
brinquedos e realizado as brincadeiras, instigou-se os alunos sobre qual a
importância da origem dos brinquedos e brincadeiras de origem africana. As
intervenções foram realizadas através de nove momentos com alunos dos anos
finais do Ensino Fundamental.
Houve também contribuições dos professores participantes do Grupo de
Trabalho em Rede (GTR) 2015 foram necessárias e pertinentes sobre a Produção
Didática Pedagógica onde foram postados alguns comentários aos quais foram
relevantes.
Ao ler seu projeto de intervenção e o relato da implementação, verifiquei total
conexão entre os elementos pontuados, muitas ideias me veio para novos trabalhos.
Trabalhar com a coordenação da Diversidade neste NRE, mais especificamente com a
Semana da Consciência Negra através do acompanhamento dos trabalhos
executados pelas equipes multidisciplinares das escolas destes NREs te, sido muito
gratificante, onde através do GTR, agregou-se novas ideias para as escolas.
Desenvolveu-se várias atividades em nossa escola sobre a história e cultura
africana. A escola reflete o que ocorre na sociedade. Apesar disso, é justamente esse
espaço que pode trazer mudanças reais E como formadores de opinião devemos
estimular o debate em sala de aula sobre essas questões e apresentar a diversidade
das visões de mundo.
O trabalho do professor, apresentou as diversas possibilidades que o
professor de educação física pode fazer, mas também os demais professores de
fazer projetos e aplicar em suas escolas para dar continuidade no processo
de implementação da lei 10.639/03 e 11645/08 até que seja um conteúdo de
domínio comum para nós professores aplicarmos sem causar estranheza.
Penso que no âmbito da área de Educação Física, poucas produções que
reconhecem, enaltecem, valorizam e, de certa forma, contribuem para uma educação
antiracista. Mesmo a prática corporal de raiz africana mais conhecida, a capoeira,
raramente é desenvolvida como conteúdo da Educação Física Escolar e, mesmo
quando isto ocorre, dificilmente vai além da repetição de movimentos
descontextualizados, ou seja, que apresentem e valorizem sua relação com a cultura
em que foi gerada e, assim, favoreçam a construção de a identidade negra positiva.
As brincadeiras negras dos índios e dos portugueses, os negros foram os
habitantes que tiveram menos influência nos brinquedos. Dentre os poucos objetos que
possuíam para brincar, estavam algumas bonecas feitas de diferentes materiais mas,
principalmente, de barro, de madeira e de tecido e alguns instrumentos musicais. Em
relação às bonecas sabe-se que elas foram utilizadas, inicialmente, com caráter
religioso em diversos grupos africanos. Com o tempo elas serviram para representar
cenas da vida adulta, especialmente os bonecos, que em sua representação
demonstravam as inúmeras habilidades, como por exemplo, montar em camelos.
Segundo Altmann (1999) como as famílias brancas aristocratas, adotaram
para seus filhos amas africanas, as chamadas “yayás” que foram responsáveis pelo
aparecimento de algumas personagens do folclore como a mula- sem-cabeça, o saci-
pererê, o caipora, o zumbi o lobisomen e tantas outras. Ainda de influência africana
estão alguns instrumentos musicais encontrados, ainda hoje, entre as crianças as
maracas.
De acordo com Cavalleiro (2000) “O silêncio que atravessa os conflitos
étnicos na sociedade é o mesmo que sustenta o preconceito e a discriminação no
interior da escola”. Percebeu-se no trabalho, que o desconhecimento sobre a África e
os pensamentos racistas e discriminatórios, são oriundos de omissões seculares na
história que ainda hoje, reflete no imaginário coletivo da sociedade brasileira.
Precisamos no nosso trabalho cotidiano, incorporar o discurso da diferença não como um desvio, mas como algo que enriquece nossas práticas e as relações entre as crianças, possibilitando, desde cedo, o enfrentamento de praticas de racismo, a construção de posturas mais abertas às diferenças e, consequentemente, a construção de uma sociedade mais plural. (ABRAMOWICZ et al, 2006, p.74).
Neste estudo os alunos passaram a ter outra percepção de África e
consequentemente outra percepção de negro(a) e cultura negra. Esta mudança de
percepção reflete na formação da identidade do aluno, e embora não possamos
afirmar que no breve período da intervenção tenhamos modificado a identidade das
pessoas envolvidas, certamente registrou-se contribuições para um despertar, um
novo olhar de si e do outro.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo buscou investigar a contribuição dos brinquedos e
brincadeiras de origem africana, através dos documentos oficiais, no que diz
respeito à formação de uma identidade cultural negra de maneira afirmativa”.
Percebeu-se que as atitudes entre os alunos e seus pares estão relacionadas
a diferentes contextos, principalmente quanto às diferenças étnico-raciais.
Constatou-se que os brinquedos e brincadeiras de origem africana, até então
eram desconhecidas, talvez por questões culturais e certo estigma. Durante as
atividades realizadas, os alunos demonstraram visões estereotipadas, reproduzindo
preconceitos historicamente construídos.
Observou-se também que nas brincadeiras, os gestos, ações, falas eram
determinadas por suas escolhas em relação a aparência física, cor da pele forma do
corpo, tipo de cabelo, ficando claramente a preferência pelo padrão de beleza
socialmente determinado naquele momento, não contemplando assim a diversidade
e consequentemente o respeito ao próximo.
Ao que se refere à identidade dos alunos negros, percebeu-se que eles estão
acostumados a conviver cotidianamente com atitudes preconceituosas, sentindo-se
impotentes, devido sua autoimagem historicamente pautada em fatos em
acontecimentos negativos.
Diante desta realidade iniciou-se um trabalho, no qual através dos brinquedos
e brincadeiras de origem africana buscou-se descontruir as visões estereotipadas
em relação à diversidade étnico-racial, além disto tentou-se auxiliar para a
construção da autoimagem positiva e o desejo de pertencimento por parte da
população negra. Observou-se também, que os brinquedos de origem africana
houve algumas modificações devido ao mundo globalizado, porém no decorrer da
implementação percebeu-se uma boa receptividade por parte dos alunos, pois
participaram ativamente durante o processo.
Considerou-se que as práticas preconceituosas existem e provocam danos
irreparáveis, por isso há necessidade de trabalhar a Lei 10.639/2003 no ambiente
escolar para poder amenizar um pouco essa invisibilidade, através de denúncias
com possibilidade de ações públicas contra a discriminação, Percebeu-se que as
atividades lúdicas serviram para minimizar essa situação, além do contexto histórico
dos africanos.
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